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Ao início desta sessão, registro a aposentadoria do Exmo. Ministro
Horácio Raymundo de Senna Pires, publicada segunda-feira, e que nos
surpreendeu a todos, que contávamos ainda com a possibilidade de estar
com Sua Excelência nesta oportunidade e de lhe dirigir nossas palavras, a
nossa homenagem, o nosso respeito.
Trata-se de um momento que me leva a grandes contradições e,
assim, a imensa dificuldade. O dilema está em homenagear Sua Excelência
- tarefa fácil, por um lado, diante de todas as qualidades que encantam
em sua personalidade; penosa, por outro, ao ter de fazê-lo em momento
que corresponde à sua aposentadoria.
Mereceria Sua Excelência melhor e maior orador. Já se disse que a
honra se robustece na medida daquele que a confere. Eu não poderia
honrar o Ministro Horácio com a grandeza que traz consigo; não a possuo
sequer em escala próxima. Ainda assumo a responsabilidade de me referir
a quem, por todos estes últimos anos, nos brindou, Tribunal, ministros,
servidores, advogados, partes, a Justiça do Trabalho em digna carreira,
com a magnitude de um magistrado na mais alta, segura e profunda
compreensão que se possa dar a essa palavra.
Tive as imensas felicidade e sorte de ascender ao Tribunal Superior
do Trabalho na companhia de Sua Excelência, da Ministra Rosa Maria
Weber, do Ministro Vieira de Mello Filho, em fevereiro de 2006. Desde
então, o Ministro Horácio de Senna Pires trouxe a esta Corte o seu
valoroso exemplo, a sua vasta cultura, a sua sensibilidade destacada,
extrema cortesia, o seu invejável equilíbrio e, para intensificar tantas e
outras qualidades, a sua humildade. Não acentuava Cervantes que “a
humildade é a base e o fundamento de todas as virtudes” e que, “sem ela,
não há nenhuma que o seja”?
A humildade dos verdadeiramente grandes é um valor a ser
replicado. Não tem a ver com a modéstia encenada ou com a crueza do
espírito. O Ministro Horácio sabe e soube levar, com leveza e
oportunidade, a sua palavra sábia a toda e qualquer situação. Sabe e
soube ser firme quando necessário; dar cores aos momentos de alegria.
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Nunca é ou foi rude ou se entregou ao destempero. Sou testemunha
disto.
A Corte sentirá falta, não tenho a menor dúvida, de suas
intervenções, da solidez de seus conselhos – intervenções e conselhos que
brotam da segurança e que jamais percebi imbuídos do oportunismo ou
da arrogância; intervenções que conhecem seus momentos e que também
são amigas do silêncio, essa árvore que, na figura de Schopenhauer,
frutifica com a paz. Vale também lembrar La Rochefoucauld quando
assevera que “a verdadeira eloquência consiste em dizer tudo o que é
preciso e em só dizer o que é preciso”. Assim é Sua Excelência.
Estas palavras não são vãs, não estão destinadas aos floreios da
literatura ou ao cumprimento do protocolo. São genuínas e buscam
ressaltar a minha ventura e o meu orgulho, a ventura e o orgulho de todos
nós que partilhamos momentos com Sua Excelência e que nos
beneficiamos desse convívio tão rico de aprendizado.
Sempre ressaltamos, eu, a Ministra Rosa Maria Weber, o Ministro
Maurício Godinho Delgado, o valor de poder contar com a sua presidência
equilibrada, sóbria, atenta e imparcial, qualidades não por acaso
atribuídas por Sócrates ao bom juiz. As sessões desta Terceira Turma
sempre foram momentos de alegria para nós, certos embora da
responsabilidade que nos sobrecarrega e que nunca abandonou a sua
liderança. Diante desse universo de processos e causas que nos são
submetidos não é coisa pouca. É coisa muita. É razão para agradecer!
Mas o tempo, diria ao Ministro Horácio, o tempo, quem
compreende seus caprichos? O poeta Carlos Machado, baiano como Sua
Excelência, afirma: “o tempo tem punhos/ de renda// e toda a cerimônia/
dos carrascos”. O tempo flui como seda; não estanca sua marcha. Aqui, a
nossa (não a sua) dificuldade: sabemos dos momentos felizes que lhe
estão reservados, mas já lamentamos a distância geográfica.
Mas sempre há tempo para plantar, tempo para colher – por
repetida que seja, a expressão é sábia. Sua Excelência plantou, insisto, o
seu exemplo de homem, pai de família, magistrado, em tudo bom,
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honesto, sábio, justo. Esse exemplo está com os que podem identificar as
verdadeiras qualidades (tão distantes que são dos monumentos
passageiros e de alicerces frágeis). Plantou a sua generosidade, uma
carreira sólida. Colhe, agora, o reconhecimento à toga honrada; a
admiração e o respeito de seus pares, advogados, jurisdicionados. Colhe a
nossa amizade, a nossa estima, o nosso desejo de que o retorno à sua
Bahia – histórica, mágica, bela, musical e poética - seja motivo de muitas
alegrias ao lado de Dona Gliméa, a esposa sempre lembrada por Sua
Excelência com amor e reconhecimento, dos filhos que lhe dão tanto
orgulho, Michaela, Horácio II e Alice, sua nora Mila e seu genro Rui, e dos
netos, nosso ministrinho e orador Pedro e a bela Júlia.
O exemplo do Ministro Horácio Raymundo de Senna Pires é sólido.
A nossa amizade também! Estão escritos em aço. É ainda como na poesia
de Carlos Machado: “eis a caixa:/ aço firme/ sem mácula// represa/ para o
córrego/ das horas// em cofre de aço/ a essência do/ que nunca passa”!
Seja feliz, amigo, eminente Ministro Horácio! Sentimos a sua falta!
Alberto Bresciani
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Discurso para o Ministro Horácio