ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE O SISTEMA ORGÂNICO
E CONVENCIONAL DE BATATA COMUM
Moacir Darolt 1
Anibal Rodrigues 1
Nilceu Nazareno 1
Airton Brisolla 1
Osvaldo Rüppel 2
RESUMO
Este trabalho faz uma análise comparativa entre o sistema de cultivo
convencional e orgânico de batata comum na região metropolitana de Curitiba,
observando
as
principais
dificuldades
técnicas,
desempenho
econômico
e
potencialidades do sistema orgânico. Para tanto, foram acompanhados quatro
estabelecimentos orgânicos e levantados indicadores técnicos e econômicos para
uma análise comparativa com valores médios regionalizados da agricultura
convencional. Observou-se que a principal dificuldade técnica do sistema de batata
orgânica está na falta de variedades com maior rusticidade e resistência a patógenos.
Um ponto de estrangulamento para o futuro da atividade é a produção de batatasemente de origem orgânica. Os resultados mostraram que no sistema convencional a
produtividade média (400 sacas/hectare) foi superior ao sistema orgânico (206
sacas/hectare). Os gastos com insumos foram, em média, 81% maiores no sistema
convencional. Os custos variáveis percentuais foram pouco maiores (75,42%) no
convencional que no sistema orgânico (70,27%). No sistema orgânico o custo da
mão-de-obra (5% do custo total) e dos serviços (29%) foi superior ao convencional
(3,8% e 24%, respectivamente). Os preços pagos ao produtor orgânico pela batata
comum foram em média 90% superiores ao similar convencional. Apesar de menor
produtividade, a relação benefício/custo = 3,11 (B/C) no sistema orgânico foi superior
ao convencional (B/C = 2,03), o que gerou uma renda líquida de aproximadamente R$
2 mil/ hectare a mais no sistema orgânico. No estágio atual, existe maior eficiência de
mercado do que eficiência técnica para a batata orgânica. Trata-se de investir em
pesquisa para melhorar a eficiência produtiva do sistema.
INTRODUÇÃO
Pesquisadores do Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR, Curitiba, Fone: (41) 551-1036, E-mail:
[email protected]
2
Estagiário do Curso de Agronomia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
1
Nos últimos 30 anos, a produção brasileira de batata cresceu 70%, o que
representa uma disponibilidade anual de aproximadamente 15 kg por habitante
(LOPES & REIFSCHNEIDER, 1999). Este valor pode ser considerado modesto
quando comparado com alguns países europeus, em que a disponibilidade é dez
vezes maior. Mesmo assim, a batata é um item importante da dieta alimentar
brasileira, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, onde a produção se concentra.
No cultivo de batata normalmente utilizam-se grandes quantidades de fertilizantes
químicos e agrotóxicos, o que pode gerar elevada concentração de resíduos no
produto final e no ambiente (IAPAR, 2000). Segundo a SEAB/DERAL (2003), os
agroquímicos representam a maior parte dos gastos com insumos na cultura da
batata. O cultivo orgânico, em que se substituem fertilizantes químicos e agrotóxicos
por adubação orgânica e manejo diferenciado, tem surgido como uma alternativa de
manejo sustentável.
O objetivo deste artigo é verificar as possibilidades de se produzir batata em
sistemas orgânicos, observando os principais entraves técnicos, desempenho
econômico e potencialidades do sistema orgânico. Neste sentido, foram levantados
alguns indicadores técnicos e econômicos que
permitem a comparação entre o
sistema orgânico e o convencional.
METODOLOGIA
Para este estudo foram selecionadas quatro propriedades que estão trabalhando
com batata orgânica em dois municípios (Araucária e Campo Largo) da Região
Metropolitana de Curitiba (RMC), Paraná. A partir de um diagnóstico de campo de caráter
qualitativo e quantitativo foram obtidos indicadores de produção física e econômica.
Optou-se por selecionar alguns indicadores que pudessem ser comparados com valores
médios regionalizados da agricultura convencional. Os dados referentes à produção
orgânica foram obtidos junto a agricultores certificados pelo Instituto Biodinâmico (IBD) e
Rede Ecovida de Certificação Participativa que estão trabalhando no sistema orgânico há
cerca de quatro anos. Os dados obtidos nas propriedades orgânicas foram transformados
em médias ponderadas para a composição dos custos.
Para a análise econômica, optou-se pela Análise de Benefício Custo, por ser
uma das mais usadas na análise de atividades em que se quer apresentar/comparar o
valor presente/atual de diferentes atividades. Trata-se de avaliar a razão entre o valor
presente dos benefícios e o valor presente dos custos. Obviamente, a atividade que
tiver a maior relação benefício custo (B/C), será a apropriada, do ponto de vista
econômico.
Consideraram-se como custos, apenas os variáveis: gastos com insumos,
mão-de-obra, serviços e transporte; como benefícios, as receitas brutas. Neste estudo
não se consideraram os custos fixos por assumir que a estrutura de produção é
semelhante, entre as propriedades em que se coletaram os dados.
No caso da agricultura convencional os dados foram obtidos com o
Departamento de Economia Rural (DERAL) da Secretaria de Agricultura e
Abastecimento do Estado do Paraná (SEAB). Utilizou-se um estudo de campo para
atualização de coeficientes e composição de preços da produção de batata comum3
na RMC, realizado em maio de 2003. Os preços de insumos, de serviços e mão-deobra e demais itens necessários à composição dos custos para os dois sistemas,
foram tomados da tabela de “Preços pagos pelos produtores no Estado do Paraná” da
SEAB, referente ao mês de março de 2003. Os preços pagos ao produtor de batata
comum foram obtidos no CEASA de Curitiba, durante o mês de junho de 2003.
DIFERENÇAS E PARTICULARIDADES ENTRE O SISTEMA DE PRODUÇÃO DE
BATATA ORGÂNICA E CONVENCIONAL
A tabela 1, mostra algumas diferenças entre o sistema orgânico e
convencional de batata. Em termos de preparo de solo praticamente não existe
diferença entre os dois sistemas, sendo que no sistema orgânico recomenda-se o uso
de implementos que movimentem o mínimo possível o solo, o que ainda não se
conseguiu implementar com eficiência.
Em relação ao processo de fertilização, além de diferenças técnicas, existem
abordagens distintas. No caso do sistema orgânico o que se busca não é
simplesmente a nutrição da planta mas, sobretudo, a melhoria da fertilidade do solo e
do sistema como um todo. A fertilização orgânica é baseada na matéria orgânica e em
fertilizantes minerais naturais pouco solúveis. O aporte de elementos fundamentais (N,
3
O sistema de produção da batata comum envolve produtores familiares com poucos recursos financeiros e
tecnológicos; utilizam menores quantidades de insumos e batata-semente com características mais rústicas. O
sistema de produção da batata lisa caracteriza-se por utilizar altos volumes de insumos, produção empresarial em
grande escala, com variedades de pele lisa e brilhante, com maior valor de mercado.
P, K, Ca, Mg) é feito com o uso de esterco, adubos verdes, húmus, torta de mamona,
farinha de ossos, rochas moídas semi-solubilizadas ou tratadas termicamente
(fosfatos naturais, termofosfatos, sulfato potássio etc.), sendo estimulado o uso de
calcário. No caso dos principais microelementos (Bo, Fe, Zn, Cu, Mn), a utilização
ocorre principalmente na forma quelatizada, por meio da fermentação da matériaprima em solução de água, esterco e aditivos energéticos, conhecidos como
biofertilizantes (p. ex. supermagro, biogel etc).
TABELA 1 - PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE O SISTEMA DE PRODUÇÃO DE BATATA
CONVENCIONAL E ORGÂNICA
CARACTERÍSTICAS
SISTEMA DE CULTIVO
CONVENCIONAL
ORGÂNICO
Preparo de Solo
Aração, gradagem, abertura de
sulco
Aração, gradagem, abertura de
sulco
Fertilização
Uso de adubos químicos
altamente solúveis (Uréia, Super
simples, Cloreto K, NPK, etc.)
Uso de adubos orgânicos (esterco,
biofertilizantes, compostos, adubos
verdes, rochas naturais moídas,
biofertilizantes)
A base de medidas preventivas e
produtos naturais pouco tóxicos
(Caldas Bordaleza, Sulfocálcica,
Extrato de Nim, iscas, armadilhas)
Controle mecânico na fase de
amontoa, seguido de capinas
manuais
Controle de pragas e doenças
Controle de invasoras
Variedades
utilizadas
Uso de produtos químicos
(inseticidas, fungicidas,
nematicidas)
Uso de herbicidas ou controle
integrado (incluindo químico)
normalmente Tipo Lisa (Monalisa, Bintje, Vivaldi)
Produtividade
Particularidades
Tipo
Comum
(Araucária,
Contenda, Asterix, Elvira, Itararé)
400 sacas / hectare *


Não exige certificação
Grandes áreas (>
hectares)
206 sacas/hectare**

Exige certificação para
receber o selo orgânico
 Pequenas áreas (0,5-2
hectares)
NOTA: * Dados da SEAB/DERAL (2003); **Média das propriedades acompanhadas
5
De uma maneira geral, os métodos empregados para o manejo de pragas e
doenças no sistema orgânico de batata podem ser sintetizados em três grandes pontos:
1) aumento da resistência das plantas (manejo adequado, espécies adaptadas e
biofertilizantes); 2) controle biológico e uso de feromônios; 3) repelentes e tratamentos
curativos à base de produtos naturais.
O controle de insetos com hábitos subterrâneos pode causar danos em
lavouras de batata, ao perfurar, escarificar e abrir galerias nos tubérculos,
depreciando-os comercialmente. O seu controle torna-se mais complexo nas lavouras
conduzidas em sistema orgânico, nas quais os produtores não tendo a opção do uso
de agroquímicos, necessitam adotar outras medidas de controle, no sentido de tentar
reduzir os prejuízos diretos e indiretos provocados por este grupo de pragas.
De acordo com BRISOLLA et. al. (2002), dentre as pragas de maior
importância para a cultura da batata encontram-se as larvas de solo como a larva
alfinete (Diabrotica speciosa), que causa danos na superfície do tubérculo e cujo
adulto, um pequeno coleóptero, danifica a parte aérea, porém de menor relevância. A
larva arame (Conoderus spp.) também causa danos nos tubérculos, normalmente em
nível maior que a larva alfinete, sendo que sua forma adulta (Coleóptero) não causa
danos à cultura. Os “Corós”, escaravelhos e/ou besouros de diversas espécies,
atacam a cultura na sua fase larval, destacando-se as espécies: Euteola humilis,
Diloboderus
abderus,
Coleópteros.
A
Phytalus
“Pulga
do
sanctipauli
fumo”
(Epitrix
e
Phyllophaga
fasciatus),
um
cuyabana,
pequeno
todos
besouro
(Coleópteoro), mais comum em lavouras orgânicas e atualmente nas convencionais,
causa danos no tubérculo na sua fase larval e quando adultos na parte aérea. De
forma geral, a larva arame e a larva alfinete
são as que causam maior dano ao
tubérculo, seja pelo seu consumo depreciando-o e/ou por estar presentes desde a
instalação da cultura.
Nas lavouras orgânicas tem-se observado uma incidência de pragas maior nos
primeiros anos (DAROLT,2002). Neste caso, como medidas curativas utilizam-se
preparados como o extrato de Nim, o ácido pirolenhoso, a calda de fumo, além de
medidas preventivas como a rotação de culturas, época de semeadura com base na
biologia e ecologia dos insetos, culturas armadilha e a instalação de lavouras próximas
a áreas de mata, o que potencializa o controle por inimigos naturais, além de medidas
de controle antes e após o plantio, conforme citado por BRISOLLA et al. (2002) e
NAZARENO et. al. (2001).
De modo geral, a experiência prática tem mostrado que é possível conviver
com as pragas dentro de um ambiente “orgânico” equilibrado, onde as pragas são
controladas naturalmente, inviabilizando sua permanência e/ou reduzindo suas
populações.
Atualmente, o principal entrave técnico para a produção da batata orgânica é o
controle de doenças. Segundo LOPES & BUSO (1997) mais de uma centena de
doenças causadas por fungos, bactérias, vírus e nematóides foram registradas na
cultura da batata, muitas delas tão devastadoras que se não adequadamente
controladas, causam perda total da produção. As principais doenças da batata são
transmitidas por meio de batatas-semente infectadas. Por isso, torna-se necessário
implementar um conjunto de medidas preventivas de controle antes e após o plantio,
conforme citadas por NAZARENO et. al. (2001).
Vale lembrar que a produção de batata-semente de origem orgânica ainda
não existe em escala comercial no Brasil. Dessa forma, os materiais utilizados são
provenientes do sistema convencional o que pode ser um entrave técnico para o
futuro da bataticultura orgânica. De outro lado, pode ser considerado como uma boa
oportunidade de mercado para os produtores/fornecedores de insumos da cadeia
produtiva orgânica.
Em relação a doenças importantes no sistema orgânico pode-se destacar
duas: a requeima (Phytophthora infestans) e a pinta preta (Alternaria solani), ambas
causadas por fungos. Segundo SOUZA et al. (2003), a requeima da batata tem sido o
principal fator limitante ao desenvolvimento da cultura em sistemas orgânicos de
produção, visto que reduz a área foliar e o ciclo vegetativo, comprometendo a
produtividade de tubérculos. Além de tratamentos preventivos, utilizam-se métodos
curativos à base de caldas como bordaleza, sulfocálcica e biofertilizantes.
O manejo de invasoras não chega ser considerado problema para produção de
batata orgânica, pois o controle é realizado no momento da amontoa. Segundo HAYASHI
& STONTEMBORG (2001) antecipar este tipo de manejo evita perdas por competição
com ervas e lesões nos tubérculos, o que pode ser uma porta de entrada de bactérias.
Ademais, procura-se seguir um conjunto de medidas preventivas. Assim, recomenda-se o
uso de práticas que evitem a ressemeadura de invasoras, o uso de plantas com efeito
alelopático, o plantio em época adequada (antecipado para ganhar a concorrência com
as invasoras), além do controle mecânico em época e condições de solo adequadas.
Voltando a tabela 1 pode-se observar que a batata orgânica é usualmente
produzida, em pequenas propriedades, utilizando-se basicamente de mão-de-obra
familiar. Em função da própria filosofia da produção orgânica de alimentos, a batata
não é a única ou principal cultura das propriedades fazendo parte de um sistema mais
complexo de rotação, sempre consorciada com outras culturas e muitas vezes com
produção
pecuária
de
pequeno
porte.
Sendo
caracterizada
por
pequenas
propriedades, com diversidade de produtos e sem a prática da monocultura, as áreas
cultivadas com batata orgânica raramente ultrapassam dois hectares.
Segundo PEREIRA et al. (2002), para que se encontre produto no mercado
durante todo o ano, a batata orgânica é cultivada de maneira parcelada dentro da
propriedade a fim de dispor do produto ao longo do período, para comercialização nas
feiras de produtores orgânicos.
Para finalizar a análise da tabela 1 pode-se observar que a produtividade
média do sistema orgânico foi de baixa eficiência física (206 sacas/hectare) quando
comparado ao convencional (400 sacas/hectare). Contudo, este tipo de avaliação
deve ser ponderado, pois exige incorporar a questão dos impactos ambientais devidos
ao uso desses insumos, o que obriga a considerar os custos sociais que o seu uso
provoca e que a rigor são custos econômicos assumidos pela sociedade, chamados
de externalidades e não computados nos custos diretos.
É sabido que a cultura da batata apresenta elevado potencial de impacto ao
ambiente, em função do uso elevado de agroquímicos e do potencial erosivo marcante
pela intensa movimentação de solo no plantio e na colheita. Agregando-se o fato de
que é uma lavoura de elevado risco quanto à viabilidade econômica, pode-se concluir
que o modo convencional de produção de batata tem apresentado um baixo grau de
sustentabilidade, fato que pode ser constatado numa visita de campo à região
Metropolitana de Curitiba que já foi uma das maiores produtoras nacionais do produto.
ANÁLISE ECONÔMICA COMPARADA DA PRODUÇÃO DE BATATA ORGÂNICA E
CONVENCIONAL
A análise econômica foi realizada a partir da composição dos custos variáveis
dos dois sistemas de produção considerados. As tabelas 2 e 3 apresentam uma
síntese dos resultados. Os indicadores físicos e econômicos, as quantidades de
insumos e de trabalho aplicadas, bem como os custos destes para os dois sistemas
podem ser observados nas tabelas A.1 e A.3 em anexo.
TABELA 2 – SÍNTESE COMPARATIVA DOS GASTOS MONETÁRIOS COM INSUMOS E SERVIÇOS,
MÃO-DE-OBRA E PRODUTIVIDADE DA BATATA NOS SISTEMAS ORGÂNICO E
CONVENCIONAL
SISTEMA DE CULTIVO
ORGÂNICO
INSUMOS
R$
%
Sementes
2.246,75
53,3
Fertilizantes/Corretivos
560,24
13,3
Inseticidas
–
–
Fungicidas
16,28
0,4
Sacos
138,72
3,3
Herbicidas
–
–
Total Insumos
2.961,97
70,3
Total Serviços
1.252,94
29,7
Total Geral
4 214,91
–
Mão-de-Obra (horas)
35,03
Produtividade (sc/ha de 50
206
kg)
FONTE: Levantamento Campo; SEAB/DERAL (2003)
CONVENCIONAL
R$
%
2.184,00
30,7
1.714,70
24,1
566,08
8,0
563,04
7,9
272,00
3,8
58,48
0,8
5.358,30
75,4
1.746,00
24,6
7 104,30
–
19,50
400
Na tabela 2 observa-se que na lavoura de batata convencional, os gastos
com insumos (fertilizantes, inseticidas e fungicidas) representam a maior parte dos
custos variáveis de produção (75,4%). No caso do sistema orgânico, verificou-se
tendência percentual similar, representando cerca de 70% do custo total. Contudo, em
termos monetários, no sistema convencional gastou-se significativamente mais (81%)
com insumos que no orgânico (R$ 2.396,33 a mais por hectare). Esse diferencial
econômico que onera o sistema convencional permitiu alcançar maior produtividade
física (94% a mais) quando comparado ao orgânico.
Analisando os gastos com insumos no sistema orgânico, percebe-se que a
compra de batata-semente representa mais da metade (53,30%) dos custos totais. A
produção deste insumo é uma boa oportunidade para produtores que queiram se
especializar neste tipo de serviço o que pode baratear ainda mais os custos de
produção e aumentar a eficiência produtiva. Vale lembrar que num futuro próximo,
como já ocorre na Europa, a produção de sementes de origem orgânica será uma
exigência das certificadoras.
O custo maior do item serviços no sistema convencional, deve-se ao maior
gasto com a colheita (maior volume a colher) e com as pulverizações. Nas tabelas A.2
e A.4 anexas, observa-se que o tempo gasto em serviços no sistema orgânico foi
maior (35 horas/ha) quando comparado ao sistema de batata convencional (19,5
horas de trabalho/ha).
O estudo confirma que nos sistemas orgânicos o uso de mão-de-obra o
tende a ser maior a necessidade do trabalho aplicado à produção – preparação de
insumos na propriedade, aplicação dos insumos, práticas culturais, colheita e
armazenamento mais meticulosos –, fato que torna a gestão mais complexa e, em
alguns casos, onera mais os custos monetários. Por ser esse um fator relevante na
comparação entre sistemas de produção convencionais e orgânicos, apresenta-se em
anexo as tabelas de composição da mão-de-obra para os dois sistemas. Os
resultados evidenciaram que no sistema orgânico o uso de mão-de-obra (5%) e
serviços
(29%)
foi
ligeiramente
superior
ao
convencional
(3,8%
e
24%,
respectivamente).
A tabela 3 apresenta um resumo complementar dos principais indicadores
econômicos para a análise comparativa dos sistemas em estudo. No anexo pode-se
observar a composição detalhada dos custos dos insumos e dos serviços.
TABELA 3 – SÍNTESE COMPARATIVA DE INDICADORES ECONÔMICOS PARA OS SISTEMAS
ORGÂNICO E CONVENCIONAL DE PRODUÇÃO DE BATATA
INSUMOS
SISTEMA DE CULTIVO
ORGÂNICO
R$
%/Custo Total
Custo dos insumos
2.961,97
70,3
Custo dos serviços
1.252,94
29,7
Custo da mão-de-obra1
213,26
5,1
Custo total de produção
4 214,91
Renda bruta
13 132,50
Renda líquida
8 917,59
Relação B/C
3,11
Custo produção/sc
20,50
Preço recebido/sc
63,75
(1) Já computado em “Custo dos Serviços”.
CONVENCIONAL
R$
%/Custo Total
5.358,30
75,4
1.746,00
24,6
276,25
3,9
7 104,30
14 000,00
6 895,70
2,03
17,76
35,00
Como visto, o diferencial dos dois sistemas é dado pelo uso intensivo de
insumos industriais e pela produtividade da batata. A produtividade mais elevada do
sistema convencional compensa os custos mais elevados e o menor preço recebido
pelo produto, o que permitiu obter renda bruta pouco diferente, entre os dois sistemas
(Tabela 3).
Contudo, o custo de produção de R$ 2.889,39 a mais por hectare no sistema
convencional redundou em renda líquida significativamente menor – menos R$
2.021,89/ha que no orgânico. O fato é relevante tanto pela diminuição real da renda
líquida, quanto pelo potencial de risco próprio da atividade, sempre afeta a condições
ambientais e de mercado bastante adversas.
Analisando a viabilidade econômica – para os dois sistemas – podemos
dizer que isso ocorrerá desde que haja a possibilidade de venda dessa batata a um
preço razoável, o que não é assegurado em uma série anual mais ou menos longa,
destacadamente para a batata convencional. Observe-se que, nas condições deste
estudo, a batata orgânica foi vendida a R$ 63,75/sc, 82 % a mais que a convencional.
É preciso destacar que para haver benefício custo favorável, a batata orgânica não
pode ser vendida a menos de R$ 25,00/sc (R$ 20,50 referente aos custos variáveis
mais R$ 4,50 estimados - 20% a mais para os custos fixos), nas condições dadas.
Nesse aspecto, para a batata convencional a “margem de manobra” é um pouco
maior, pois o limite de preço de venda ficaria em torno dos R$ 21,00/sc.
Finalmente, é preciso analisar a relação Benefício Custo (B/C) que avalia a
razão entre o valor presente dos benefícios e o valor presente dos custos. Neste caso,
notou-se superioridade para o sistema orgânico (B/C = 3,11) em comparação com o
sistema convencional (B/C = 2,03). Os resultados mostraram que do ponto de vista da
viabilidade econômica e adequação ambiental, o sistema de produção de batata
orgânica foi o mais eficiente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Do ponto de vista técnico, o cultivo orgânico de batata depende,
prioritariamente, da geração de clones com maior grau de rusticidade e resistência
varietal a doenças e pragas para obtenção de melhores produtividades. Um ponto de
estrangulamento técnico para o desenvolvimento do sistema é a produção de batatasemente orgânica. No futuro, o uso de sementes de origem orgânica deverá ser uma
exigência das certificadoras. Além disso, este item representa mais da metade do
custo de produção, o que pode ser uma excelente oportunidade de mercado futuro.
De forma geral, os indicadores técnicos demonstram que a produtividade do
sistema orgânico atinge apenas metade da eficiência física do sistema convencional.
O diferencial de eficiência produtiva somada a baixa escala de produção, tornam a
atividade orgânica pouco representativa para atender a demanda de mercado. Desta
forma, é preciso maior organização da cadeia produtiva e, sobretudo, investimento na
pesquisa de variedades adaptadas ao sistema orgânico.
Os resultados econômicos do sistema de produção de batata orgânica não deixam
dúvida quanto à sua viabilidade. Ficou demonstrado que a viabilidade econômica do
sistema orgânico está relacionada à venda de produtos em mercados diferenciados.
Assim, os preços recebidos pelo produtor orgânico são praticamente o dobro do
convencional, associado a menor variação e a maior estabilidade no tempo. Além
disso, a demanda de mercado pela batata orgânica é crescente.
Neste contexto, assegurado a eficiência econômica e ecológica do sistema
orgânico, resta aperfeiçoar sua eficiência técnica para que atenda aos aspectos
sociais de segurança alimentar. Além disso, é desejável fortalecer a organização da
cadeia produtiva da batata orgânica para aumentar a representatividade de mercado.
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Batata, Ano 3, n. 7, p. 24. 2001.
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Preços
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www.cnph.embrapa.br/novidade/eventos/organica/trabalhos.html.
Acesso
em
14/10/2003.
ANEXOS
Na Tabela A.1 apresenta-se a composição dos custos dos insumos4 e dos
serviços aplicados ao sistema de produção de batata orgânica e as variáveis para a
avaliação econômica desse sistema. O dados referem-se à média de quatro
propriedades representativas da Região Metropolitana de Curitiba.
TABELA A.1 – COMPOSIÇÃO DOS CUSTOS E INDICADORES PARA A ANÁLISE ECONÔMICA DO
SISTEMA DE PRODUÇÃO DE BATATA ORGÂNICA
COMPONENTES DO CUSTO
UNID.
Sementes de batata
Esterco
Sacos
Calcário dolomítico
Calda bordaleza
Adubo foliar
Sub-Total Insumos
kg
ton.
unid.
ton.
kg
litro
QTIDADE/
ha
Nº de
AÇÕES
INSUMOS
2 150
6 37
204
3 425
0,64
2,0
1,0
1,0
1,0
0,2
6,0
2,5
CUSTO
UNID. (R$)
1,04
80,88
0,68
56,00
4,24
1,25
SERVIÇOS (Horas-máquina + M. O.)
Colheita
hora
11,5
1,0
35,86
Plantio
hora
10,25
1,0
33,84
Pulverizações
hora
1,25
7,2
33,46
Preparo de solo
hora
3,37
1,0
30,37
Transporte
ton.
11,5
1,0
5,00
Aterramento
diária
0,5
1,5
30,00
Calagem
hora
1,62
0,2
31,50
Sub-Total Serviços
Total Custos
Renda Bruta (R$/ha)
Renda Líquida (R$/ha)
Relaçâo B/C
Produção (kg.ha-1/sc. ha-1)
CUSTO
R$/ha
2246,75
515,61
138,72
38,36
16,28
6,25
2 961,97
PART.
%
53,30
12,23
3,29
0,91
0,39
0,15
70,27
412,39
346,86
301,14
102,35
57,50
22,50
10,20
1.252,94
4.214,91
9,79
8,23
7,15
2,43
1,36
0,53
0,24
29,73
100,00
13.132,50
8.917,59
3,11
10.300/206sc
FONTE: Pesquisa de campo
NOTA: Preço médio recebido pelos agricultores: R$ 63,75/saca 50 kg (US$ 1,00/R$ 2,90 em maio de
2003).
Na Tabela A.2 apresenta-se de forma discriminada, a composição e o custo
da mão-de-obra aplicada aos serviços no sistema de produção de batata orgânica.
Deve-se frisar que estes custos foram computados nos custos dos serviços.
TABELA A.2. – COMPOSIÇÃO E CUSTO DA MÃO-DE-OBRA NO SISTEMA DE BATATA ORGÂNICA
Uso de corretivo de solo realizado a cada cinco anos, preço corrigido para um ano. Adubação foliar na
forma de “supermagro” na proporção de 2 a 4%, pulverizado em cobertura, na maioria das propriedades,
sendo também utilizado o “preparado 500 Biodinâmico” e micro nutrientes (cálcio e boro) na proporção
de 1 e 0,5% respectivamente, em algumas propriedades. Sulfato de cobre mais cal hidratada, nas
proporções de 1 a 2%. Calda sulfocálcica utilizada a 1%.
4
SERVIÇO
Calagem
Preparo de solo
Plantio
Aterramento
Pulverizações
Colheita
Total
UNID.
QTIDADE
CUSTO
R$ / hectare
PARTIC.
%
hora
hora
hora
hora
hora
hora
1,63
2,20
8,29
7,50
1,37
14,04
35,03
1,14
7,69
53,87
11,25
48,06
91,25
213,26
0,03
0,18
1,28
0,27
1,14
2,16
5,06
FONTE: Dados do levantamento de campo.
NOTA: Com exceção do aterramento, feito com tração animal na maioria das propriedades, as outras
operações foram realizadas com trator e trabalho humano.
A composição dos custos e as variáveis para análise econômica do sistema
convencional são apresentadas na Tabela A.3.
TABELA A.3 – COMPOSIÇÃO DOS CUSTOS E VARIÁVEIS PARA A ANÁLISE ECONÔMICA DO
SISTEMA DE PRODUÇÃO DE BATATA CONVENCIONAL
COMPONENTES DO CUSTO
UNID
QTD/ HECT
Nº DE
AÇÕES
INSUMOS
Sementes
kg
2.100
1,0
Adubo (4-14-8)
ton.
2,5
1,0
Inseticidas
litro
1,65
11,0
Fungicidas
litro
2,0
12,0
Sacos
unid.
400
1,0
Uréia
ton.
0,3
1,0
Herbicidas
litro
2,0
1,0
Calcário dolomítico¹
ton.
2,0
0,5
Sub-Total Insumos
SERVIÇOS (Horas-máquina + M. O.)
Colheita
hora
10,0
1,0
Pulverizações
hora
1,0
13,0
Preparo de solo
hora
1,5
5,0
Transporte
ton.
10,0
2,0
Plantio
hora
4,5
1,0
Aterramento
hora
1,5
1,0
Calagem
hora
1,0
0,5
Sub-Total Serviços
Total Custos
Renda Bruta (R$/ha)
Renda Líquida (R$/ha)
Relaçâo B/C
Produção (kg.ha-1/sc.ha-1)
PREÇO
UNIT(R$)
VALOR
R$ / HA
1,04
567,30
31,19
23,46
0,68
801,50
29,24
56,00
2.184,00
1.418,25
566,08
563,04
272,00
240,45
58,48
56,00
5.358,30
65,00
36,00
31,50
9,00
33,00
31,50
31,50
650,00
468,00
236,25
180,00
148,50
47,50
15,75
1.746,00
7.104,30
FONTE: Pesquisa de Campo / SEAB/DERAL (2003)
NOTA: Preço médio recebido pelos agricultores: R$ 35,00/sc 50 kg.
¹ Correção realizada a cada dois anos, preço corrigido par um ano;
² Pulverizações feitas em conjunto, inseticidas mais fungicidas, incluindo dessecação.
PART.
%
30,74
19,96
7,97
7,93
3,83
3,39
0,82
0,79
75,43
9,15
6,59
3,30
2,53
2,09
0,68
0,23
24,57
100,00
14.000,00
6.895,70
2,03
20.000/400 sc
Na Tabela A.4 apresenta-se de forma discriminada, a composição e o custo
da mão-de-obra aplicada aos serviços no sistema de produção de batata
convencional. Da mesma forma que a tabela A.2 estes custos foram computados nos
custos dos serviços.
TABELA A.4 – COMPOSIÇÃO E CUSTO DA MÃO-DE-OBRA NO SISTEMA CONVENCIONAL DE
BATATA COMUM
SERVIÇO
UNID.
QTID.
VALOR
PARTIC %
(R$) / HA
Calagem
Preparo de solo
Plantio
Aterramento
Pulverizações
Colheita
Total
FONTE: SEAB/DERAL (2003)
horas
horas
horas
horas
horas
horas
1,0
1,5
4,5
1,5
1,0
10,0
19,5
1,75
26,25
22,50
5,25
45,50
175,00
276,25
0,02
0,37
0,32
0,07
0,64
2,47
3,89
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Análise comparativa entre o sistema orgânico e