UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE AQUIDAUANA PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA COMPATIBILIDADE ENTRE A INOCULAÇÃO DE Rhizobium tropici E A APLICAÇÃO DE FUNGICIDAS, COBALTO E MOLIBDÊNIO EM SEMENTES DE FEIJOEIRO Maurício Rocha Kintschev Aquidauana – MS Abril/2013 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE AQUIDAUANA PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA COMPATIBILIDADE ENTRE A INOCULAÇÃO DE Rhizobium tropici E A APLICAÇÃO DE FUNGICIDAS, COBALTO E MOLIBDÊNIO EM SEMENTES DE FEIJOEIRO Acadêmico: Maurício Rocha Kintschev Orientador: Dr. Fábio Martins Mercante “Dissertação apresentada ao programa de pós-graduação em Agronomia, área de concentração em Produção Vegetal da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Agronomia (Produção Vegetal)”. Aquidauana – MS Abril/2013 K64c Kintschev, Maurício Rocha Compatibilidade entre a inoculação de Rhizobium tropici e a aplicação de fungicidas, cobaldo e molibdênio em sementes de feijoeiro/Maurício Rocha Kintschev. Aquidauana, MS: UEMS, 2013. 62p.; 30cm. Dissertação (Mestrado) – Agronomia – Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul, 2013. Orientador: Prof. Dr. Fábio Martins Mercante. 1.Fixação biológica de nitrogênio 2. Princípio ativo 3. Micronutrientes I. Título. CDD 20.ed. 631.8 EPÍGRAFE “Entrega o teu caminho ao senhor, confie nele, e ele tudo fará.” Salmos 37:5 DEDICATÓRIA Dedico Aos meus pais, Aparecida Shirley Rocha Kintschev e Mauro Kintschev, pela educação, apoio, incentivo e amor incondicional durante toda minha vida. À minha Irmã, Marília Rocha Kintschev, pelo carinho. À minha namorada Danieli Nogueira da Silva, pelo amor, companheirismo e incentivo durante este ano. Aos meus avôs José de Souza Rocha e João Kintschev Filho, pelo exemplo de vida. AGRADECIMENTOS À Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UEMS, pela oportunidade da realização do curso de graduação e pós-graduação em Agronomia. À Fundação de Desenvolvimento de Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul – FUNDECT, pela concessão da bolsa de estudos. Ao Prof. Dr. Fábio Martins Mercante, pela amizade, paciência, conselhos, sugestões bibliográficas, conhecimento compartilhado e dedicação na orientação deste trabalho. À Embrapa Agropecuária Oeste – CPAO, por disponibilizar todo o apoio necessário para a condução dos experimentos, e, em especial, à equipe do Laboratório de Microbiologia do Solo, pelo auxílio na realização das análises. Ao Gabriel José Carneiro por todo apoio. A todos os professores e funcionários do curso de pós-graduação em Agronomia da UEMS, pela oportunidade de convívio e pelos ensinamentos. Aos colegas do curso de Mestrado, por todo apoio, auxílio, amizade e companheirismo durante esta jornada. À Thays Nogueira da Silva e família, por todo apoio, auxílio e companheirismo durante esta jornada. A todos os meus amigos, simplesmente por existirem. A todos aqueles que, de forma direta e indireta, contribuíram para a realização deste trabalho. SUMÁRIO PÁG RESUMO .....................................................................................................................ix CAPÍTULO 1 - CONSIDERAÇÕES GERAIS 1 Introdução. ................................................................................................................. 1 2 Objetivo Geral. ........................................................................................................... 3 2 Objetivos Específicos. ................................................................................................ 3 4 Revisão de literatura ................................................................................................... 4 4.1 A cultura do feijoeiro no Brasil ................................................................................ 4 4.2 Fixação biológica de nitrogênio em feijoeiro............................................................ 5 4.2.1 Fatores limitantes (bióticos e abióticos). ............................................................... 8 4.3 Tratamento de sementes de feijoeiro com fungicidas. ............................................ 11 5 Referências. .............................................................................................................. 13 CAPÍTULO 2 - COMPATIBILIDADE ENTRE A INOCULAÇÃO DE Rhizobium tropici E FUNGICIDAS APLICADOS EM SEMENTES DE FEIJOEIRO-COMUM Resumo ........................................................................................................................ix 1 Introdução. ............................................................................................................... 24 2 Material e Métodos. .................................................................................................. 26 3 Resultados e Discussão. ............................................................................................ 30 4 Conclusões ............................................................................................................... 41 5 Referências ............................................................................................................... 42 CAPÍTULO 3 - APLICAÇÃO DE MICRONUTRIENTES COBALTO E MOLIBDÊNIO EM SEMENTES DE FEIJOEIRO E SEUS EFEITOS NA SOBREVIVÊNCIA DE RIZÓBIOS E NA NODULAÇÃO DAS PLANTAS Resumo ........................................................................................................................ix 1 Introdução. ............................................................................................................... 49 2 Material e Métodos. .................................................................................................. 51 3 Resultados e Discussão. ............................................................................................ 53 4 Conclusões ............................................................................................................... 59 5 Referências ............................................................................................................... 59 RESUMO O presente trabalho está focado no estudo da compatibilidade entre a inoculação de Rhizobium tropici e a aplicação de fungicidas, cobalto e molibdênio em sementes de feijoeiro. Frente a isto, foram realizados experimentos em laboratório, sob condições de casa de vegetação e no campo experimental da Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados, MS, em um Latossolo Vermelho distroférrico típico. Em dois ensaios conduzidos em substrato esterilizado, sob condições de casa de vegetação, e um ensaio no campo experimental, foram avaliados os efeitos do tratamento de sementes de feijoeiro com diferentes fungicidas na sobrevivência de estirpes de R. tropici (SEMIA 4077 + SEMIA 4080), na nodulação (número e matéria seca de nódulos), matéria seca e teores de nitrogênio total da parte aérea, e na produtividade da cultura. Os resultados demonstraram que a sobrevivência das estirpes de R. tropici inoculadas nas sementes de feijoeiro foi afetada pela aplicação dos fungicidas. A sobrevivência dos rizóbios foi avaliada, utilizando-se dois métodos baseados no número mais provável-NMP: (1) Diluição e contagem direta em placas (método de espalhamento) e (2) Diluição e infecção em plantas (processo indireto). Em outro ensaio conduzido sob condições de casa de vegetação, utilizando substrato esterilizado, avaliou-se o efeito da aplicação de micronutrientes (cobalto e molibdênio) em semente de feijoeiro e seus efeitos sobre a sobrevivência dos rizóbios, nodulação (número e matéria seca de nódulos), matéria seca da parte aérea e teores de nitrogênio total da parte aérea. Os resultados demonstraram que a sobrevivência das estirpes de rizóbios inoculados foi prejudicada pela aplicação dos fungicidas e pela adição de Co e Mo nas sementes de feijoeiro. Nas duas frentes de estudo, houve redução significativa na nodulação das plantas de feijoeiro. Palavras-Chave: fixação biológica de nitrogênio, princípio ativo, micronutrientes. 1 CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS 1 Introdução A cultura do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) fornece um dos alimentos básicos da população brasileira, constituindo-se numa das principais fontes de proteína na dieta alimentar dos estratos sociais economicamente menos favorecidos (BORÉM & CARNEIRO, 2006). O feijão está presente na maioria dos sistemas de produção no Brasil, sendo utilizado por diversas categorias de agricultores, desde a agricultura de subsistência, com escasso ou sem nenhum uso de tecnologia, até o grande empresário agrícola, com utilização da mais moderna tecnologia de produção (MELO et al., 2007). Considerando que o nitrogênio é um dos nutrientes requeridos em maiores quantidades pelo feijoeiro e os solos tropicais são, em geral, pobres neste nutriente, o seu suprimento adequado torna-se de fundamental importância para a obtenção de maiores rendimentos nesta cultura (MALAVOLTA, 1989). Neste contexto, a fixação biológica de nitrogênio (FBN) representa uma alternativa viável, que pode substituir, total ou parcialmente, a adubação nitrogenada, resultando em benefícios para a produtividade da cultura (BELLAVER & FAGUNDES, 2009). Tem sido verificado que o fornecimento de nitrogênio através do processo de FBN pode aumentar consideravelmente a produtividade média nacional de feijoeiro, sem o uso de adubos nitrogenados, alcançando patamares de produtividade acima de 2.500 kg ha -1 (HUNGRIA et al., 2000; PELEGRIN et al., 2009). Além disso, a FBN influencia positivamente a qualidade do solo, por evitar todos os problemas relacionados à poluição causada pelos adubos nitrogenados (HUNGRIA et al., 1997). Contudo, diversos fatores podem afetar a associação simbiótica rizóbiofeijoeiro, como a acidez do solo, pH baixo, concentrações elevadas de Al tóxico e temperaturas elevadas (MARTÍNEZ-ROMERO et al., 1991; MERCANTE, 1993). Do mesmo modo, a aplicação de fungicidas e de micronutrientes (cobalto e molibdênio) diretamente nas sementes junto ao inoculante pode afetar drasticamente a sobrevivência das bactérias fixadoras de N2, a nodulação das plantas, a eficiência simbiótica e, consequentemente, os rendimentos de grãos da cultura (EMBRAPA, 2010). O tratamento de sementes com fungicidas é uma técnica para evitar a incidência de doenças que afetam o feijoeiro, sendo uma das medidas mais simples, de custo relativamente baixo e que pode resultar em reflexos altamente positivos para o 2 aumento da produtividade da cultura (SARTORATO & RAVA, 1994; BARROS, et al., 2001). Porém, para que a utilização dos fungicidas quando aplicados nas sementes de feijoeiro junto com o inoculante seja eficiente faz-se necessária a compatibilização destas práticas, uma vez que muito destes produtos são prejudiciais a sobrevivência do rizóbio, a nodulação e a FBN (MERCANTE et al., 1992). Segundo De-Polli et al. (1986), de modo geral, os fungicidas são os produtos que mais frequentemente apresentam problemas de compatibilidade com a inoculação com bactérias fixadoras de nitrogênio, seguidos dos herbicidas e inseticidas. Resultados experimentais obtidos por Araújo & Araújo (2006) demonstraram que a sobrevivência do rizóbio inoculado nas sementes de feijoeiro foi prejudicada pela aplicação de fungicidas e, consequentemente, a nodulação foi reduzida. O mesmo foi constatado por Ramos & Ribeiro Jr. (1993), que observaram, 24 horas após a inoculação do rizóbio nas sementes de feijoeiro, efeitos deletérios de todos os fungicidas avaliados sobre a sobrevivência do rizóbio, em comparação com o controle sem fungicida. Do mesmo modo, os micronutrientes Cobalto (Co) e Molibdênio (Mo) têm importante papel no processo de FBN. O molibdênio é um dos componentes da nitrogenase, que é a enzima capaz de reduzir o N2 para amônia, e o cobalto é um dos constituintes da coenzima cobamida, catalizadora das reações bioquímicas de Rhizobium e Bradyrhizobium (CAMPO & LANTMANN, 1998). O cobalto também influencia a absorção de nitrogênio por via biológica porque faz parte da estrutura das vitaminas B12, necessárias à síntese de leghemoglobina, que determina a atividade dos nódulos (MENGEL & KIRKBY, 2001). No entanto, vários problemas têm sido detectados com a aplicação diretamente nas sementes de produtos contendo Co e Mo junto com o inoculante, devido a formulações salinas ou com pH baixo, afetando drasticamente a sobrevivência da bactéria, a nodulação e a eficiência do processo de FBN (MERCANTE et al., 2011; HUNGRIA et al., 2007). Com a utilização de inoculantes microbianos juntamente com a adoção do tratamento de sementes de feijoeiro com fungicidas e a aplicação de Co e Mo, torna-se indispensável à avaliação da compatibilidade destas práticas, de modo a garantir os patamares mais elevados de FBN, sanidade das sementes e produtividade mais elevada do feijoeiro. 3 2 Objetivo Geral Os estudos visam otimizar a FBN na cultura do feijoeiro, através da compatibilidade da inoculação com a aplicação de fungicidas, cobalto e molibdênio nas sementes, com o objetivo de reduzir os custos de produção e o impacto dos fertilizantes nitrogenados ao meio ambiente. 3 Objetivos Específicos 1- Avaliar a compatibilidade entre a inoculação de Rhizobium tropici e os fungicidas recomendados para o tratamento de sementes, seus efeitos na sobrevivência das bactérias fixadoras de N2, na nodulação das plantas e na produtividade de feijoeiro. 2- Avaliar o efeito da aplicação dos micronutrientes cobalto e molibdênio em sementes de feijoeiro sobre a sobrevivência dos rizóbios, nodulação e fixação biológica do nitrogênio na cultura do feijoeiro. 4 4 Revisão de literatura 4.1 A cultura do feijoeiro no Brasil A cultura do feijoeiro é originária das Américas, com centros de origem e domesticação na Mesoamérica (México-Guatemala) e na zona Leste dos Andes. Seu cultivo foi traçado há mais de 7000 anos entre os nativos do Peru, sugerindo seleção da espécie para agricultura (GEPTS, 1988, 1990; DEBOUCHE & THOME, 1989). No entanto, as formas silvestres, sejam da América do Sul ou do México, apresentam alta compatibilidade com as variedades modernas de Phaseolus vulgaris L. (VIEIRA, 1983). O gênero Phaseolus contém mais de uma centena de espécies, mas apenas P. vulgaris L., P. coccineus L., P. acutifolius Gray var. latifolius freeman e P. lunatus var. lunatus são cultivadas comercialmente (ZIMMERMANN & TEIXEIRA, 1988). Hoje, o feijoeiro comum, P. vulgaris L., é a espécie de maior importância econômica, contribuindo com cerca de 95% da produção mundial de Phaseolus (MARIOT, 1989). O feijão (P. vulgaris L.) é a leguminosa mais importante para o consumo humano, principalmente nos países em desenvolvimento (FAGERIA, 2002). É cultivado principalmente em climas tropical e subtropical. Em escala mundial, a maior produção está nas Américas do Sul e Central, no Caribe, na Ásia e na África (FAGERIA, 1989). O Brasil é o maior produtor e consumidor mundial de feijão (P. vulgaris L.), com uma produção total estimada em 2,97 milhões de toneladas para a safra 2011/12 (CONAB, 2012). O brasileiro consome em média 16,5 quilos de feijão ao ano (MAPA, 2012). Portanto, esta leguminosa é uma das culturas de elevada relevância socioeconômica para o Brasil, sendo cultivada em praticamente todos os Estados brasileiros, com maior ou menor expressão de área colhida e com os mais variados níveis tecnológicos e sistemas de produção (BORÉM & CARNEIRO, 2006). Por conseguinte, os principais Estados produtores de feijão comum são Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Goiás e Bahia, os quais respondem por mais de 65% da produção nacional (RICHETTI et al., 2011). Segundo a Conab (2012), o total de área cultivada com feijão no Brasil na safra 2011/12 deve ficar em 3,4 milhões de hectares, e a produtividade média da safra nacional está projetada em 873 kg/ha. O feijoeiro é cultivado em três épocas, a primeira, conhecida como safra das águas, é assim chamada porque o plantio e a colheita são beneficiados pelo alto índice 5 de chuvas, e o plantio na região Centro-Sul vai de agosto a dezembro e no Nordeste, de outubro a fevereiro; a segunda safra é chamada de safra da seca, feita no período com o menor índice de chuva no país e o plantio acontece de dezembro a março; já a terceira, denominada safra irrigada, é assim conhecida por se referir à colheita do feijão irrigado, que têm a concentração do plantio na região Centro-Sul, de abril a junho (MAPA, 2012). Entre as tecnologias empregadas na cultura do feijoeiro a aplicação de produtos vias sementes ou foliar tem se tornado uma prática agrícola rotineira, destacando-se o uso de fungicidas, inseticidas, antibióticos, micronutrientes, dentre outros. Muito embora, as finalidades destes produtos sejam as mais diversas, de modo geral, os objetivos são de proporcionar algum nível de melhoria na cultura, tanto em relação à produção, como no desenvolvimento vegetativo das plantas (DELAVALE et al., 1999). O feijoeiro apresenta características que o fazem um material de alta qualidade nos estudos de controle do desenvolvimento vegetal e da absorção de nutrientes. Devido a sua relevância, têm sido realizados numerosos estudos visando seus aspectos culturais, melhoramento genético, tratamento com defensivos e outros. 4.2 Fixação biológica de nitrogênio em feijoeiro O feijoeiro, assim como outras leguminosas, apresenta a vantagem de poder beneficiar-se da associação com bactérias do gênero Rhizobium, sendo capaz de formar uma estrutura especializada (nódulo) nas raízes, onde as bactérias captam o nitrogênio atmosférico (N2), que também ocupa os espaços porosos do solo e que, após a sua redução em amônia (NH3), intermediado pela enzima dinitrogenase, poderá então ser utilizado pela planta (MERCANTE et al., 1992). Em troca, a planta fornece à bactéria energia obtida através da fotossíntese. Assim, forma-se uma perfeita associação, sendo planta e bactéria mutuamente favorecidas. As bactérias diazotróficas capazes de se associarem simbioticamente com plantas da família Leguminosae são chamadas, popularmente, de “rizóbios”. Inicialmente, os rizóbios foram classificados em uma única família, a Rhizobiaceae. Posteriormente, os rizóbios foram subdivididos nas famílias Rhizobiaceae (gêneros Rhizobium, Sinorhizobium), Mesorhizobium], Phillobacteriaceae Bradyrhizobiaceae [Allorhizobium (Bradyrhizobium) e (=Rhizobium), Hiphomicrobiaceae (Azorhizobium), todos na ordem Rhizobiales que, por sua vez, pertence à classe alfa(α)- 6 Proteobacteria, com mais de 50 espécies descritas (GARRITY & HOLT, 2001; WILLEMS, 2006). Posteriormente, outras α-proteobactérias pertencentes a gêneros nunca descritos anteriormente foram isoladas de nódulos de leguminosas, incluindo estirpes dos gêneros Methylobacterium, Devosia, Ochrobactrum e Phyllobacterium (MENNA et al., 2006; RIBEIRO et al., 2009; WILLEMS, 2006). Quanto às bactérias pertencentes à espécie Blastobacter denitrificans, foi sugerida a sua reclassificação como Bradyrhizobium denitrificans. Finalmente, outra descoberta surgiu com a descrição de membros da classe beta(β)-Proteobacteria, que também poderiam nodular e fixar N2 com leguminosas, e essas bactérias passaram a ser conhecidas como “βrizóbios”. Dentre essas bactérias estão estirpes dos gêneros Burkholderia e Cupriavidus (neste último caso, previamente classificados nos gêneros Ralstonia e Wautersia) (MOULIN et al., 2001; WILLEMS, 2006). Logo, a taxonomia do rizóbio de feijoeiro apresentou uma grande evolução nos últimos anos, sendo que atualmente pelo menos seis espécies distintas são reconhecidas como simbiontes desta planta, Rhizobium leguminosarum bv. phaseoli (JORDAN, 1984); R. tropici (MARTÍNEZ-ROMERO et al., 1991); R. etli (SEGOVIA et al., 1993); R. gallicum, R. giardinii e R. leucaenae. Com o estudo de isolados de bactérias fixadoras de N 2 e o avanço nas técnicas de biologia molecular, em um curto período de tempo foi constatado que as bactérias que nodulavam o feijoeiro apresentavam, claramente, características fisiológicas e genéticas distintas (HUNGRIA et al., 1997). A partir de 1985, foi publicada uma série de estudos sobre simbiontes de feijoeiro isolados nas Américas, incluindo os provenientes das regiões do Cerrado brasileiro, resultando na descrição da espécie Rhizobium tropici (MARTÍNEZ-ROMERO et al., 1991). Todavia, estirpes desta espécie são capazes de nodular o feijoeiro, a leucena e diversas outras leguminosas, apresentando maior estabilidade nas suas características culturais e de nodulação após prolongados períodos de estocagem, além de demonstrarem boa adaptação a solos ácidos e maior tolerância a temperaturas elevadas (STRALIOTTO et al., 2002). Segundo Mercante & Franco (2000), a associação simbiótica entre estirpes de rizóbio e espécies de leguminosas, como o feijoeiro, resulta de um processo complexo, que envolve a expressão de genes simbióticos de ambos os parceiros, para então formar estruturas altamente especializadas, os nódulos radiculares. Nos estádios iniciais de formação dos nódulos radiculares, a espécie hospedeira libera sinais na sua rizosfera, como compostos fenólicos (exsudatos), e outras substâncias liberadas pelas sementes 7 e/ou raízes das plantas, que são percebidos pela bactéria, desencadeando a expressão coordenada de uma série de genes da nodulação (MARTÍNEZ et al., 1990; MERCANTE et al., 2002). Entretanto, o tipo de nódulo, sua ontogenia, morfologia, anatomia e tipo de desenvolvimento é característico de cada hospedeira, como pode ser observada, a espécie R. tropici forma nódulos arredondados em feijoeiro e alongados, na forma de dedos, em leucena (Leucaena leucocephala) (STRALIOTTO et al., 2002). Ainda para este mesmo autor, no interior destes nódulos, localiza-se o sítio de atividade da nitrogenase, que utiliza os produtos da fotossíntese da planta hospedeira como fonte de energia; sua coloração interna rósea indica que o processo de fixação biológica está ocorrendo plenamente, devendo-se tal coloração à presença de um composto chamado de leghemoglobina, responsável pelo transporte do oxigênio necessário para a atividade respiratória do rizóbio. Entre os fatores mais limitantes da produtividade da cultura do feijoeiro, destaca-se a baixa fertilidade dos solos tropicais, que limitam a nutrição das plantas (SUHET et al., 1986; ARAUJO, 1994). Considerando que o nitrogênio é um dos nutrientes requeridos em maiores quantidades pelo feijoeiro, propiciando bom desenvolvimento e maior produtividade de grãos, e os solos tropicais são, em geral, pobres neste nutriente, o seu suprimento adequado torna-se de fundamental importância para a obtenção de maiores rendimentos nesta cultura. As principais fontes de fornecimento de N à cultura são os fertilizantes nitrogenados e o processo de fixação biológica de nitrogênio atmosférico. Neste contexto, tem sido verificado que a aplicação de adubo mineral nitrogenado nos solos tropicais tem resultado, muitas vezes, em baixa frequência de resposta pela cultura do feijoeiro (VIEIRA, 1998). Experimentos conduzidos por Souza et al. (2011), demonstraram pequena resposta ou a ausência desta à adubação mineral nitrogenada, quanto à produtividade de grãos de feijoeiro. O mesmo resultado foi verificado por Crusciol et al. (2003), mostrando que o fornecimento da maior dose de N mineral (25 kg ha-1), na semeadura causou o aumento dos componentes da produção, mas sem proporcionar a elevação da produtividade. No entanto, resultados experimentais obtidos por Araújo et al. (2007) demonstraram que a adição de nitrogênio na forma mineral tem a mesma capacidade de resposta da planta, quando comparado com a inoculação das estirpes de Rhizobium tropici nas sementes de feijoeiro. 8 Esta falta de resposta à adubação nitrogenada tem sido atribuída à sua baixa eficiência de utilização (inferior a 50%) pelas plantas, decorrente das perdas por lixiviação, volatilização e desnitrificação (DUQUE et al., 1985; HUNGRIA et al., 2007). Além disso, deve-se considerar o elevado custo econômico dos adubos nitrogenados e os problemas ambientais que podem ocorrer com estas perdas, como o acúmulo de formas nitrogenadas, particularmente nitrato (NO-3), nas águas de rios, lagos e aquíferos subterrâneos, atingindo níveis tóxicos aos peixes e ao homem, e a degradação da camada de ozônio, agravando o efeito estufa, pela liberação de formas gasosas, como N2O (óxido nitroso) e NO (óxido nítrico). Por outro lado, o feijoeiro, a exemplo de outras leguminosas, apresenta a propriedade de fixar o nitrogênio da atmosfera quando em simbiose com bactérias do gênero Rhizobium, sendo esta uma tecnologia barata e muito eficiente. Estudos realizados por Hungria et al. (2000) e Pelegrin et al. (2009) demonstraram que o fornecimento de nitrogênio através do processo de fixação biológica de N2 pode aumentar a produtividade média nacional de feijoeiro sem o uso de adubos nitrogenados, alcançando patamares de produtividade acima de 2.500 kg ha -1. De acordo com Mercante et al. (1992), o feijoeiro, quando bem nodulado e em condições favoráveis, pode apresentar taxas de fixação biológica superiores a 40 kg N/ha. Desta forma, o fornecimento de nitrogênio via simbiose seria suficiente para duplicar a produtividade média nacional. Além disso, a fixação biológica de N 2 influencia positivamente a qualidade do solo, por evitar todos os problemas relacionados à poluição causada pelos adubos nitrogenados (HUNGRIA et al., 1997). 4.2.1 Fatores limitantes (bióticos e abióticos) Existem diversos fatores bióticos e abióticos que podem limitar a simbiose entre estirpes de rizóbio e o feijoeiro. Com relação aos fatores bióticos, estão incluídos o tipo de inóculo e a via de inoculação (BROCKWELL et al., 1988), a seleção de cultivares apropriados que influencia decisivamente sobre as entradas de nitrogênio nos sistemas agrícolas (WANI et al., 1995), o controle de patógenos e enfermidades que afetam o vigor da planta e o seu potencial de crescimento (JOHNSTONE & BARBETTI, 1987), competitividade, sobrevivência antagonistas, entre outros (SINGH et al., 1995). saprofítica, presença de 9 A presença de uma grande diversidade de antagonistas, bacteriófagos, predadores de nódulos e, principalmente, alta densidade populacional e competitividade de rizóbios nativos, constitui uma verdadeira barreira no estabelecimento da inoculação, uma vez que competem pela ocupação dos sítios de infecção nas raízes das plantas hospedeiras (FRANCO & NEVES, 1992). Desta forma, quanto maior a população nativa de rizóbio no solo, mais difícil é a introdução com sucesso da estirpe inoculante (MELO, 2009). Em condições de clima tropical, os principais fatores abióticos que afetam a FBN são: acidez do solo, toxidez de alumínio, salinidade e baixa fertilidade do solo, disponibilidade de N mineral, deficiência de nutrientes, altas temperaturas no solo, luminosidade e baixa precipitação pluviométrica (HUNGRIA & VARGAS, 2000), metais pesados (MOREIRA & SIQUEIRA, 2006), tipo de solo, textura e composição (BENIZRI et al., 2001). O solo com temperatura elevada tem, frequentemente, representado um dos principais fatores climáticos limitantes à FBN em regiões tropicais, uma vez que afetam praticamente todas as etapas de crescimento do rizóbio e das plantas hospedeiras, sendo os efeitos ainda mais drásticos na simbiose (HUNGRIA & VARGAS, 2000). Desta forma, os solos tropicais atingem, temperaturas médias superiores a 40 °C nas camadas mais superficiais, podendo chegar a 60 °C (DENNET, 1984). Considera-se que, para o feijoeiro nodulado, os limites de tolerância térmica se situam entre 28 °C e 33 °C (HUNGRIA & FRANCO, 1993). A região dos Cerrados apresenta uma boa precipitação anual, mas a distribuição não é uniforme, existindo um período seco que oscila entre cinco e seis meses do ano, e como as leguminosas noduladas são bastante sensíveis, pode representar um fator limitante à simbiose (HUNGRIA & VARGAS, 1997). De acordo com estes autores, a deficiência hídrica afeta os estágios de infecção das raízes através da ausência de pelos radiculares normais, e diversas outras etapas da formação e desenvolvimento dos nódulos. Os solos da região dos cerrados são caracterizados pela acidez elevada e o quadro característico resultante, com toxicidade por certos elementos e deficiência de diversos nutrientes, e como o processo de FBN resulta em excreção de H +, os problemas relacionados à acidez podem ser agravados na rizosfera das leguminosas noduladas (MUNNS & FRANCO, 1982; BORDELEAU & PRÉVOST, 1994; RAVEN et al., 1990). A acidez, além de prejudicar o crescimento da planta, afeta o rizóbio em termos 10 de sobrevivência, taxa de crescimento, morfologia, perda da infectividade e da eficiência simbiótica (HUNGRIA & VARGAS, 1997). O fósforo (P), presente em baixo teor na maioria dos solos do cerrado, potencializa a FBN por estimular o crescimento de plantas hospedeiras, além de influenciar diretamente a formação do rizóbio e dos nódulos. Como a FBN é um processo que demanda uma grande quantidade de energia e como o P tem um papel chave no metabolismo energético das células, sua deficiência tem um papel negativo no status energético dos nódulos (CHAUDHARY & FUJITA, 1998). Fatores nutricionais (Micronutrientes) – Cobalto e molibdênio O aumento na produtividade, por consequência, a diminuição do custo no que se refere ao uso de micronutrientes nos últimos anos, tem motivado produtores a utilizar micronutrientes como cobalto (Co) e molibdênio (Mo), pela sua influência na nutrição de plantas (EMBRAPA, 2006; GUERRA et al., 2006). Visto que, o molibdênio é um micronutriente que desempenha papel fundamental na nutrição das plantas, sendo transportado pelo xilema das plantas, e absorvido como molibdato (Mo O4-2). A maioria das plantas não necessita de grandes quantidades de Mo, portanto, com relação aos outros micronutrientes, o Mo é tolerado em altas concentrações nas plantas (FONSECA, 2006). O Mo tem importante papel no processo de fixação biológica de N2, devido a sua função estar relacionada com o metabolismo do nitrogênio, fazendo parte de duas metaloenzimas: a nitrogenase, que participa na fixação simbiótica do nitrogênio e a redutase do nitrato, que atua na redução do nitrato à amônia na planta (ARAÚJO et al., 2008). Da mesma forma, o cobalto é necessário para a síntese da cobalamina (Vitamina B12), que participa dos passos metabólicos para a formação da leghemoglobina e regula sua concentração nos nódulos, impedindo a inativação da enzima nitrogenase (MENGEL & KIRKBY, 2001). Contudo, a importância do Co e Mo aumentam a capacidade do feijoeiro, de estabelecer simbiose com microrganismos fixadores de N2 pertencentes à família Rhizobiaceae. Resultados experimentais obtidos por Barbosa filho et al. (1979) demonstraram que a aplicação de Mo, isolado ou em combinação com outros nutrientes, tem aumentado a produção, o número de nódulos e os teores de N em feijoeiro. De acordo com Oliveira et al. (1996), o Co é indispensável à produção do feijoeiro quando a necessidade em nitrogênio está sendo suprida através da associação simbiótica feijoeiro- 11 bactéria, já que esta depende do Co para seus mecanismos de fixação. Há evidências de respostas positivas da aplicação de cobalto na fixação biológica do N 2 e na produtividade da soja quando a planta está bem suprida de molibdênio (CAMPO & HUNGRIA, 2002). Meschede et al. (2004) consideram a adubação com Co e Mo importantes para a fixação biológica do N2, mostrando que a partir do momento que foram adicionados estes micronutrientes na semente a planta de soja apresentou grãos com maior teor de proteína. Entretanto, estes autores salientam que deve-se ter cautela na aplicação de molibdênio na semente, principalmente na forma de molibdato (MoO), o qual tende a reduzir a sobrevivência do rizóbio. A aplicação direta nas sementes de produtos contendo Co e Mo, devido a formulações salinas, ou com pH baixo, podem afetar drasticamente a sobrevivência da bactéria, a nodulação e a eficiência do processo de fixação biológica de nitrogênio (MERCANTE et al., 2011; EMBRAPA, 2010). Os resultados experimentais obtidos por Hungria et al. (2007) demonstraram, na cultura da soja, que a aplicação de CoMo nas sementes, por se tratar de formulações salinas ou com pH baixo, afeta drasticamente a sobrevivência da bactéria, a nodulação e a fixação biológica de N2. 4.3 Tratamento de sementes de feijoeiro com fungicidas O feijoeiro comum pode sofrer o ataque de doenças, ocasionando perdas na produção antes e após a colheita (YOKOYAMA, 1998). Isso se deve, em parte, pelo fato do feijoeiro ser suscetível a vários organismos fitopatogênicos, responsáveis por perdas significativas nas lavouras, chegando a inviabilizar a cultura em determinadas regiões e épocas de plantio (MELO et al., 2005). Cerca de 60 doenças atacam a cultura do feijão, sendo 31 causadas por fungos (DALLA-PRIA et al., 1999). Desta forma, o tratamento de sementes com fungicidas é uma técnica para evitar a incidência de doenças que afetam o feijoeiro, que consiste em uma das medidas mais simples, de custo relativamente baixo e que pode resultar em reflexos altamente positivos pelo aumento da produtividade da cultura (SARTORATO & RAVA, 1994; BARROS, et al., 2001). No entanto, para que o tratamento de sementes seja bem sucedido é necessário que ele seja baseado em informações sobre o produto, no que se refere a espectro de ação, toxicologia, efeitos fitotóxicos e compatibilidade com outros produtos (TOLEDO & MARCOS FILHO, 1977). 12 Para que a utilização dos fungicidas aplicados nas sementes de feijoeiro junto com o inoculante seja eficiente, faz-se necessário a compatibilidade destas práticas, uma vez que muito destes produtos são prejudiciais a sobrevivência do rizóbio, nodulação e fixação biológica de nitrogênio (MERCANTE et al., 1992). Desta forma, com a aplicação de fungicidas nas sementes de feijoeiro, os rizóbios presentes no inoculante são colocados em contato com estes produtos que podem ser prejudiais à sobrevivência do rizóbio, afetando a nodulação e a fixação biológica de nitrogênio (OLIVEIRA et al., 1999). Segundo De-Polli et al. (1986), de modo geral, os fungicidas são os que mais frequentemente apresentam problemas de compatibilidade com a inoculação, seguidos dos herbicidas e inseticidas. Resultados experimentais obtidos por Araújo & Araújo (2006) demonstraram que a sobrevivência do rizóbio inoculado nas sementes de feijoeiro foi prejudicada pela aplicação de fungicidas, e consequentemente, a nodulação foi reduzida. O mesmo foi constatado por Ramos & Ribeiro Jr. (1993), que observaram, 24 horas após a inoculação do rizóbio nas sementes de feijoeiro, efeitos deletérios de todos os fungicidas avaliados sobre a sobrevivência do rizóbio, em comparação com o controle sem fungicida. 13 5 Referências ARAUJO, R. S. Fixação biológica do nitrogênio em feijão. In: ARAUJO, R.S.; HUNGRIA, M. Microrganismos de importância agrícola. (ed). Brasília: EmbrapaSPI, 1994. p.91-120. ARAÚJO, A. S. F.; ARAÚJO, R. S. Sobrevivência e nodulação do Rhizobium tropici em sementes de feijão tratadas com fungicidas. 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Os fungicidas (princípios ativos) utilizados nos ensaios foram: (1) carbendazim + thiram (Produto A); (2) carbendazim + thiram (Produto B); (3) carboxin + thiram; (4) fludioxonil + metalaxyl-M; (5) fludioxonil + metalaxyl-M + thiabendazole; (6) fluazinam + tiofanato metílico; (7) fipronil + tiofanato metílico + piraclostrobina; (8) clorotalonil + tiofanato metílico. A sobrevivência das estirpes de R. tropici inoculadas nas sementes de feijoeiro foi afetada pela aplicação dos fungicidas, principalmente por aqueles com modo de ação de contato. Observou-se ainda, com a aplicação dos fungicidas, redução na nodulação das plantas de feijoeiro, especialmente da massa nodular, tanto nos ensaios conduzidos em substrato esterilizado, sob condições de casa de vegetação, quanto no experimento a campo, onde também observou-se redução na produtividade do feijoeiro pela aplicação da maioria dos fungicidas avaliados. Os fungicidas que mais afetaram o rendimento de grãos foram carbendazim + thiram (Produto B) e carboxin + thiram. Os produtos fipronil + tiofanato metílico + piraclostrobina, fludioxonil + metalaxyl-M + thiabendazole e fludioxonil + metalaxyl-M não afetaram a produtividade da cultura, embora a massa seca de nódulos tenha sido reduzida em todos os ensaios. Palavras-chave: fixação biológica de nitrogênio, nodulação, princípio ativo. 24 1 Introdução O feijoeiro-comum (Phaseolus vulgaris L.) é uma leguminosa cultivada em todas as regiões brasileiras e, na safra 2011/12, obteve rendimento médio de 894 kg ha 1 . No Estado de Mato Grosso do Sul, nesta mesma safra, o rendimento médio foi de 1.262 kg ha-1 (CONAB, 2012). A sua grande importância social e econômica no País é evidenciada por representar a principal fonte proteica na dieta alimentar da população mais pobre e pelo contingente de pequenos agricultores envolvidos na sua produção, geralmente, utilizando baixo nível tecnológico. Contudo, nas últimas décadas, tem sido verificado um crescente interesse de produtores de outros segmentos do agronegócio que adotam níveis tecnológicos mais elevados, incluindo a irrigação e a colheita mecanizada (YOKOYAMA, 2002). Entre os fatores mais limitantes da produtividade da cultura do feijoeiro, destaca-se a baixa fertilidade dos solos tropicais, que limita a nutrição das plantas (SUHET et al., 1986; ARAUJO, 1994). Considerando que o nitrogênio é um dos nutrientes requeridos em maiores quantidades pelo feijoeiro e os solos tropicais são, em geral, pobres neste nutriente, o seu suprimento adequado torna-se de fundamental importância para a obtenção de maiores rendimentos nesta cultura. Tem sido verificado que os teores máximos de nitrogênio nos solos tropicais estão em torno de 0,3%, sendo rapidamente esgotado após poucos ciclos de cultivo, caso não haja reposição (STRALIOTTO et al., 2002). As principais fontes de fornecimento de N à cultura são os fertilizantes nitrogenados e o processo de fixação biológica de nitrogênio atmosférico (FBN), por meio da simbiose do feijoeiro com bactérias do grupo dos rizóbios. Neste contexto, tem sido verificado que a aplicação de adubo mineral nitrogenado nos solos tropicais tem resultado, muitas vezes, em baixa frequência de resposta pela cultura do feijoeiro (VIEIRA, 1998). Esta falta de resposta à adubação nitrogenada tem sido atribuída à sua baixa eficiência de utilização (inferior a 50%) pelas plantas, decorrente das perdas por lixiviação, volatilização e desnitrificação (DUQUE et al., 1985, HUNGRIA et al., 2007). Além disso, deve-se considerar o elevado custo econômico dos adubos nitrogenados e os problemas ambientais que podem ocorrer com estas perdas, como o acúmulo de formas nitrogenadas, particularmente nitrato (NO-3), nas águas de rios, lagos e aquíferos subterrâneos, atingindo níveis tóxicos aos peixes e ao homem, e a 25 degradação da camada de ozônio, agravando o efeito estufa, pela liberação de formas gasosas, como N2O (óxido nitroso) e NO (óxido nítrico). Por outro lado, tem sido verificado que o fornecimento de nitrogênio, por meio do processo de FBN, pode aumentar a produtividade média nacional de feijoeiro sem o uso de adubos nitrogenados, alcançando patamares de produtividade acima de 2.500 kg ha-1 (HUNGRIA et al., 2000, PELEGRIN et al., 2009). Além disso, a FBN influencia positivamente a qualidade do solo, por evitar todos os problemas relacionados à poluição causada pelos adubos nitrogenados (HUNGRIA et al., 1997). Entretanto, diversos fatores podem limitar a simbiose entre estirpes de rizóbio e o feijoeiro, destacando-se a acidez do solo, pH baixo, concentrações elevadas de Al tóxico e temperaturas elevadas (MARTÍNEZ-ROMERO et al., 1991, MERCANTE, 1993). Dentre os outros fatores limitantes à produção do feijoeiro, as doenças contribuem com uma parcela significativa para o insucesso da cultura, diminuindo o rendimento e depreciando a qualidade do produto (GOULART, 1988; SARTORATO, 1988). A maioria das doenças de importância econômica que ocorre no feijoeiro é causada por patógenos que são transmitidos pelas sementes (NEERGAARD, 1977, RICHARDSON, 1979, GOULART, 1992). Isso implica na introdução de doenças em áreas novas ou mesmo a reintrodução em áreas cultivadas nas quais a doença já tenha ocorrido e, em função da adoção de práticas eficientes de controle, como, por exemplo, a rotação de culturas, ficaram livres da mesma. A maneira mais econômica e eficaz de controlar estes fungos transmitidos pelas sementes, bem como os de solo, é por meio do tratamento das sementes de feijoeiro com fungicidas (CANTERI et al., 1999, MACHADO et al., 2002, GOULART, 1992). Dentre patógenos alvo do tratamento de sementes com fungicidas, destacam-se Rhizoctonia solani, Sclerotinia sclerotiorum, Fusarium spp., Aspergillus flavus e Colletotrichum lindemuthianum (GOULART, 1992). Contudo, tem sido mencionado que a aplicação de determinados fungicidas no tratamento de sementes de leguminosas, como feijoeiro (ARAÚJO & ARAÚJO, 2006), soja (CAMPO et al., 2009) e alfafa (OLIVEIRA et al., 1999), podem ocasionar uma redução na população de bactérias diazotróficas utilizadas nos inoculantes microbianos. Resultados experimentais obtidos por Araújo & Araújo (2006) demonstraram que a sobrevivência do rizóbio inoculado nas sementes de feijoeiro foi prejudicada pela aplicação de fungicidas (Benlate, Captan, Vitavax, Rhodiauran, Terraclor e VitavaxThiram), e consequentemente, a nodulação das plantas foi reduzida. O mesmo foi 26 constatado por Ramos & Ribeiro Jr. (1993), que observaram, duas horas após o contato com os fungicidas, as estirpes CIAT 652 e CPAC 1135 de rizóbio tiveram uma significativa redução no número de células do que o tratamento sem fungicida. Nestes estudos, os fungicidas Benlate (benomil) e Banrot (etridiazol, tiofanato-metil) tiveram os maiores efeitos na sobrevivência das estirpes de rizóbio. Contudo, os efeitos de toxicidade dos fungicidas são variáveis, dependendo do produto e da estirpe de rizóbio inoculada, tornando-se indispensável a avaliação da compatibilidade dos fungicidas atualmente recomendados comercialmente para tratamento de sementes e das estirpes de rizóbio recomendadas para inoculação, de modo a garantir os patamares mais elevados de FBN, a sanidade das semente e, consequentemente, incrementos na produtividade de grãos do feijoeiro. O objetivo deste trabalho foi avaliar a compatibilidade entre a inoculação de estirpes de R. tropici e os fungicidas recomendados para o tratamento de sementes de feijoeiro, seus efeitos na sobrevivência do rizóbio, na nodulação e na produtividade da cultura. 2 Material e Métodos Os estudos foram conduzidos em laboratório, sob condições controladas de casa de vegetação e no campo experimental da Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados, MS. Em todos os ensaios, utilizaram-se sementes de feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.), cultivar Pérola, pertencente ao grupo comercial Carioca, com ciclo de 90 a 100 dias, de porte semi-ereto. Foi utilizado inoculante turfoso contendo a mistura das estirpes SEMIA 4077 (= CIAT 899) e SEMIA 4080 (= PRF 81) de Rhizobium tropici, recomendadas comercialmente no Brasil. O inoculante foi produzido na Embrapa Cerrados, na concentração de 6x109 células g-1 de inoculante turfoso, sendo aplicado na dose de 1 kg 50 kg-1 de sementes, utilizando como adesivo, solução açucarada, a 10%. A inoculação dos rizóbios nas sementes foi realizada após a aplicação dos fungicidas, conforme a recomendação técnica. Os fungicidas utilizados nos ensaios correspondem aos seguintes princípios ativos: 1) carbendazim + thiram (produto A); 2) carbendazim +thiram (produto B); 3) carboxin + thiram; 4) fludioxonil + metalaxyl-M; 5) fludioxonil + metalaxyl-M + thiabendazole; 6) fluazinam + tiofanato metílico; 7) fipronil + tiofanato metílico + 27 piraclostrobina; 8) clorotalonil + tiofanato metílico. As doses dos produtos utilizados e os respectivos ingredientes ativos estão relacionados na Tabela 1. Três tratamentos adicionais foram incluídos nas avaliações, para comparação, sendo um com a mistura das estirpes SEMIA 4077 (= CIAT 899) e SEMIA 4080 (= PRF 81) de R. tropici e dois sem adição de inoculante (com e sem adubação mineral nitrogenada). Tabela 1. Doses dos produtos utilizados, respectivos ingredientes ativos e modo de ação dos fungicidas. Nome comum 1 2 3 4 5 6 7 8 Dose (mL/50kg de sementes) Carbendazim + Thiram (Produto A) Carbendazim + Thiram (Produto B) Carboxin + Thiram Fludioxonil + Metalaxyl-M Fludioxonil + Metalaxyl-M + Thiabendazole Fluazinam + Tiofanato metílico Fipronil + Tiofanato metílico + Piraclostrobina Clorotalonil + Tiofanato metílico Ingrediente ativo (g) Modo de ação 200 15 + 35 Contato/ sistêmico 200 15 + 35 Contato/ sistêmico 250 20 + 20 Contato/ sistêmico 100 2,5 + 1 Contato/ sistêmico 100 2,5 + 2 + 15 Contato/ sistêmico 180 5,25 + 35 Contato/ sistêmico 200 25 + 22,5 + 2,5 Contato/ sistêmico 300 50 + 20 Contato/ sistêmico Sobrevivência de rizóbios em sementes de feijoeiro As avaliações da estimativa do número de células de rizóbio nas sementes de feijoeiro tratadas com os fungicidas e inoculadas com a mistura das estirpes SEMIA 4077 e SEMIA 4080 foram realizadas pelo método do número mais provável-NMP, diluição e infecção em plantas (processo indireto), utilizando-se a tabela adaptada de Andrade & Hamakawa (1994). Inicialmente, retirou-se uma amostra de 10 g das sementes de feijoeiro, previamente tratadas com os diferentes fungicidas (Tabela 1), e inoculadas com a mistura das estirpes SEMIA 4077 + SEMIA 4080. Em seguida, as sementes foram colocadas em erlenmeyers contendo 90 mL de água destilada esterilizada, sendo 28 adicionados 300 μL de Tween 80, sob agitação (200 rpm), por 30 minutos. Após a agitação, foram realizadas diluições decimais, sendo utilizadas as concentrações 10-3, 10-4 e 10-5 nas avaliações realizadas em casa de vegetação. Neste ensaio, foram utilizados vasos de 500 mL contendo substrato (areia + vermiculita, 1:1 - v:v) esterilizado, onde cada semente de feijoeiro recebeu a inoculação com 0,5 mL das mesmas diluições utilizadas na contagem de células (10 -3, 10-4 e 10-5). Inicialmente, foram utilizadas quatro sementes por vaso e, aos 15 dias após a emergência das plantas, realizou-se o desbaste, deixando-se duas plantas em cada vaso. As avaliações de presença e ausência de nódulos nas plantas inoculadas foram realizadas aos 21 dias após a semeadura, e cada planta foi referida como positiva (sucesso), com ocorrência de um ou mais nódulos, e negativa (insucesso), quando nenhum nódulo foi formado. A partir dos resultados positivos ou negativos em cada uma das diluições das suspensões inoculadas, foi estimado, na acepção matemática, o número de células viáveis de rizóbio na amostra (HUNGRIA & ARAÚJO, 1994). Esses valores foram encontrados na tabela adaptada de Andrade e Hamakawa (1994). O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados, com três repetições para cada diluição. Ensaios em casa de vegetação Foram conduzidos dois ensaios sob condições controladas de casa de vegetação, sendo utilizados vasos de Leonard (VINCENT, 1970) e vasos de 500 mL, contendo substrato (areia + vermiculita, 1:1 – v:v) esterilizado, onde foram semeadas quatro sementes de feijoeiro, cv. Pérola, por vaso. Aos 15 dias após a emergência das plantas, foi realizado o desbaste, deixando-se duas plantas por vaso. As sementes foram previamente tratadas com diferentes fungicidas (Tabela 1) e inoculadas com rizóbio (CIAT 899 e PRF 81). Nos tratamentos utilizados como controle (testemunhas absoluta e nitrogenada, com aplicação de 20 mg de N planta -1 semanalmente), sem aplicação de fungicidas e inoculante, as sementes foram previamente esterilizadas superficialmente, sendo tratadas com álcool absoluto por 30 segundos e, em seguida, imersas em hipoclorito de sódio (10%), por 3 minutos, e lavadas dez vezes com água destilada esterilizada (VINCENT, 1970). Durante o período de crescimento, as plantas foram supridas com solução nutritiva sem nitrogênio (NORRIS & T`MANNETJE, 1964). A coleta das plantas foi realizada aos 45 dias após a emergência das plantas (DAE), separando-se a parte aérea do sistema radicular. Foram realizadas as seguintes 29 avaliações: número de nódulos, matéria seca de nódulos e da parte aérea, com secagem em estufa à 60°C, até atingirem peso constante, além do teores de nitrogênio total da parte aérea, determinados pelo método de Kjeldahl (semi-micro), segundo Malavolta et al. (1997). Em ambos ensaios, o delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados, com cinco repetições. Os dados coletados foram submetidos à análise de variância, a 5% de probabilidade (P < 0,05) e, quando significativas, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey (P < 0,01). Essas análises foram realizadas com o auxílio do aplicativo estatístico ASSISTAT (SILVA & AZEVEDO, 2002). Ensaio conduzido à campo O experimento foi conduzido no campo experimental da Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados, MS, num Latossolo Vermelho distroférrico típico, localizado na latitude 22º14` S e longitude de 54º49` W, com altitude de 450 m, no período de março a junho de 2012. O clima da região é classificado como Cwa, mesotérmico úmido, com verão quente e inverno seco (AMARAL et al., 2000). A análise química do solo mostrou os seguintes valores: pH (CaCl2) = 5,3; M.O. = 31,45 g kg-1; P-mehlich = 25,9 mg dm-3 ; K+ = 0,65 cmolc dm-3 ; Ca++ = 5,1 cmolc dm-3 ; Mg++ = 1,8 cmolc dm-3; H+Al = 4,9 cmolc dm-3 ; CTC = 12,5 cmolc dm-3 e os micronutrientes Fe = 24,9 mg dm-3; Cu = 11,2 mg dm-3; Mn = 53,0 mg dm-3; e Zn = 2,2 mg dm-3. O ensaio consistiu dos mesmos tratamentos utilizados nos ensaios em casa de vegetação, sendo realizadas avaliações da nodulação (número e matéria seca de nódulos), matéria seca da parte aérea, teores de nitrogênio total da parte aérea e rendimento de grãos do feijoeiro. Para a avaliação de produtividade, os grãos colhidos na área útil de cada parcela foram beneficiados e a umidade corrigida para 13%. Os demais parâmetros foram avaliados conforme descrito nos ensaios realizados em casa de vegetação. Cada parcela experimental foi constituída por quatro linhas com quatro metros de comprimento, espaçadas com 0,50 m, perfazendo 8 m2 (2 m x 4 m) de área total, ajustando a população final para 15 plantas/ metro. A área útil da parcela foi constituída pelas duas linhas centrais, descartando 0,50 m de cada extremidade. A adubação básica de plantio constou da aplicação de 300 kg ha -1 da formulação 00-18-18 (N-P-K). A adubação nitrogenada nas parcelas correspondentes ao controle nitrogenado foi de 80 kg ha-1, sendo 50% aplicados na semeadura e 50% em cobertura, aos 38 DAE. A 30 semeadura foi realizada no dia 13/03/2012, manualmente, e a avaliação da nodulação foi efetuada aos 38 DAE. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, com cinco repetições. Os dados coletados foram submetidos à análise de variância, a 5% de probabilidade, e, quando significativas, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 1% de probabilidade. Essas análises foram realizadas com o auxílio do aplicativo estatístico ASSISTAT (SILVA & AZEVEDO, 2002). 3 Resultados e Discussão Sobrevivência de rizóbios em sementes de feijoeiro Os resultados de infectividade dos rizóbios inoculados em plantas de feijoeiro, utilizando-se as diluições 10-3, 10-4 e 10-5, demonstraram que os fungicidas avaliados afetaram a sobrevivência das bactérias fixadoras de nitrogênio até a diluição 10 -5, uma vez que a concentração de células de R. tropici mL-1 diminuíram em comparação ao tratamento com a inoculação padrão (IP), sem uso de fungicida. Os fungicidas contendo os princípios ativos fipronil + tiofanato metílico + piraclostrobina e clorotalonil + tiofanato metílico foram os que menos afetaram a sobrevivência dos rizóbios, propiciando uma concentração de células maior que os demais tratamentos que receberam aplicação de fungicidas (Tabela 2). Por outro lado, o tratamento com aplicação do fungicida com os princípios ativos fluazinam + tiofanato metílico foi o mais prejudicial à sobrevivência das bactérias inoculadas nas sementes, proporcionando a maior redução no número de células, em comparação aos demais tratamentos com fungicidas (Tabela 2). Contudo, salienta-se que os fungicidas com os princípios ativos de contato, quando em maior proporção que os sistêmicos, foram os que propiciaram a maior redução de células de R. tropici quando aplicados nas sementes; a exceção foi verificada com a aplicação do fungicida com os princípios ativos fluazinam + tiofanato metílico, que possui um modo de ação predominantemente sistêmico, e foi o produto mais prejudicial à sobrevivência das bactérias inoculadas (Tabela 2). Deve-se destacar ainda que dois produtos comerciais com os mesmos princípios ativos (carbendazim + thiram) afetaram, em intensidade diferente, a sobrevivência das bactérias nas sementes de feijoeiro, indicando que o efeito de 31 fitotoxicidade pode não estar relacionado exclusivamente aos princípios ativos dos fungicidas, mas a algum componente do veículo do produto. Estudos realizados por Araújo & Araújo (2006), em laboratório, utilizando o método de diluição e contagem direta em placas (método de espalhamento), demonstraram que a sobrevivência da estirpe CIAT 899 de R. tropici inoculada foi afetada negativamente por todos os fungicidas utilizados no tratamento das sementes, sendo que os fungicidas mais prejudiciais ao rizóbio inoculado nas sementes foram carboxin + thiram e benomyl. Ramos & Ribeiro Jr. (1993) verificaram que os fungicidas Benlate (benomil) e Banrot (truban) tiveram os maiores efeitos na sobrevivência das estirpes de rizóbio inoculadas em sementes de feijoeiro. Resultados obtidos por Mercante et al. (2007) demonstraram que a sobrevivência das estirpes SEMIA 5079 e SEMIA 5080 de Bradyrhizobium japonicum, inoculadas em sementes de soja, foi afetada negativamente pela aplicação dos fungicidas carboxin + thiram, carbendazin + thiram (Produto A), carbendazin + thiram (Produto B), fludioxonil + metalaxyl-M, após 48 horas de contato com o inoculante. Estudos realizados por Campo et al. (2009), com a cultura da soja, demonstraram, em condições laboratoriais, que os fungicidas podem causar até 62% de mortalidade das bactérias inoculadas, duas horas após o tratamento das sementes, atingindo 95% após 24 horas. Tabela 2. Efeito da aplicação de fungicidas sobre a nodulação em sementes de feijoeiro, realizado em condições de casa de vegetação, utilizando-se estirpes de R. tropici em três concentrações distintas (10-3, 10-4 e 10-5), por meio do método de diluição e infecção em plantas (processo indireto). Tratamentos Carbendazim + Thiram (Produto A) + IP* Carbendazim +Thiram (Produto B) + IP Carboxin + Thiram + IP Fludioxonil + Metalaxyl-M + IP Fludioxonil + Metalaxyl-M + Thiabendazole + IP Fluazinam + Tiofanato metílico + IP Fipronil + Tiofanato metílico + Piraclostrobina + IP Clorotalonil + Tiofanato metílico + IP IP Controle sem N Controle com N Fator NMP 0,620 1,568 1,118 1,098 2,046 0,357 4,272 4,272 9,324 - N° de células de R. tropici mL-1 0,77 x 105 1,72 x 105 1,07 x 105 1,09 x 105 2,13 x 105 0,25 x 105 4,27 x 105 4,27 x 105 4,83 x 105 0 0 *IP= inoculação padrão. Inoculante turfoso, contendo 109 células de R. tropici/g de inoculante, aplicado na dose de 1 kg 50 kg-1 de sementes, utilizando solução açucarada a 10% como adesivo. NMP= número mais provável. 32 Ensaios conduzidos em casa de vegetação No primeiro experimento em casa de vegetação, conduzido em vasos de Leonard, os resultados mostraram que todos os fungicidas utilizados no tratamento de sementes de feijoeiro associado à inoculação das estirpes R. tropici diferiram significativamente do tratamento onde houve apenas a inoculação, promovendo uma redução na nodulação (número e matéria seca de nódulos). As reduções ocasionadas pela utilização dos fungicidas no tratamento de sementes chegaram a 45%, para o número de nódulos, quando as plantas de feijoeiro foram tratadas com carbendazim + thiram (Produto A). Já o tratamento com o fungicida carboxin + thiram chegou a reduzir em 46% a produção de matéria seca de nódulos (Tabela 3). Costa et al. (2006), avaliando a sobrevivência de Bradyrhizobium japonicum em sementes de soja tratadas com fungicidas, verificou uma redução no número de nódulos de 48%, quando as sementes foram tratadas com o fungicida carbendazin + thiram (Produto A) em plantas de soja, em comparação com as plantas apenas inoculadas. Do mesmo modo, resultados obtidos por Campo & Hungria (2000), em experimento conduzido a campo, mostraram que dentre os fungicidas avaliados na cultura da soja, os menos tóxicos foram carboxin + thiram e difenoconazole + thiram, causando reduções de 39 e 43% no número e matéria seca de nódulos, respectivamente. Os fungicidas com os princípios ativos carbendazim + thiram (produtos A e B), carboxim + thiram e fludioxonil + metalaxyl-M + thiabendazole foram os que mais afetaram a produção de matéria seca da parte aérea, com reduções que variaram de 29% a 39%. Os fungicidas com os demais princípios ativos mostraram-se similares (p<0,01) ao tratamento que recebeu apenas a inoculação com rizóbio (Tabela 3). De modo geral, todos os fungicidas ocasionaram redução nos teores de N total da parte aérea das plantas de feijoeiro, variando entre 1% e 27%. As exceções foram verificadas com os fungicidas carbendazim + thiram (Produto B) e carboxin + thiram, que apresentaram teores de N total da parte aérea similares (p<0,01) aos verificados nas plantas que receberam apenas a inoculação de rizóbio, sem o tratamento de fungicidas nas sementes (Tabela 3). Os resultados foram similares aos encontrados por Cattelan et al. (1995), que avaliaram em cultura da soja, sob condições de casa de vegetação, os efeitos dos fungicidas carboxin + thiram e thiram + thiabendazole, sobre estirpes de Bradyrhizobium, e não observaram redução no número de nódulos, matéria seca de nódulos (nodulação) e teor de N, quando comparados ao inoculante padrão. Estes resultados contrastam com aqueles obtidos por Bigaton et al. (2006), na cultura da soja, 33 em experimento conduzido em casa de vegetação, que observou diferença significativa entre os tratamentos com inoculante padrão e carboxin + thiram + IP, quando comparados ao tratamento carbendazin + thiram + IP (Produto B), que apresentou maior teor de N. Do mesmo modo, Campo et al. (2009) observaram que, sob condições de casa de vegetação, a nodulação e o N total acumulado na parte aérea da soja no estádio R2 foram reduzidos em 27 e 19%, respectivamente. 34 TABELA 3. Efeito da inoculação e do tratamento de sementes de feijoeiro (cultivar Pérola) com fungicidas, sobre o número de nódulos, matéria seca de nódulos, matéria seca da parte aérea e nitrogênio total da parte aérea das plantas, em ensaio conduzido em casa de vegetação (vasos de Leonard). Tratamentos Número de nódulos Matéria seca de nódulos Matéria seca da parte aérea Nitrogênio total (n° planta-1) 248 a Redução (%) 0 (mg planta-1) 484 a Redução (%) 0 (g planta-1) 2,62 a Redução (%) 0 (g kg-1) 39,3 ab Carbendazim + Thiram (Produto A) + IP 137 d 45 303 cde 37 1,86 b 29 34,0 d Carbendazim + Thiram (Produto B) + IP 199 bc 20 376 bc 21 1,61 b 39 38,1 b Carboxin + Thiram + IP 185 bc 25 263 e 46 1,87 b 29 38,9 b 1 27 10 IP* Fludioxonil + Metalaxyl-M + IP 188 bc 24 365 bcd 23 2,52 a 4 28,8 e Fludioxonil + Metalaxyl-M + Thiabendazole + IP 200 bc 19 303 cde 37 1,71 b 35 35,3 c Fluazinam + Tiofanato metílico + IP 173 c 30 296 de 37 2,77 a - 35,4 c Fipronil + Tiofanato metílico + Piraclostrobina + IP 207 b 16 390 b 19 2,77 a - 33,3 d Clorotalonil + Tiofanato metílico + IP 196 bc 21 393 b 19 2,86 a - 33,8 d Controle sem N Controle com N 0e 0e - 0,30 f 0,62 f - 0,44 c 2,69 a 83 - 22,2 f 40,1 a Redução (%) 0 13 3 10 15 14 43 - C.V. (%) 8 12 11 2 Médias seguidas por letras distintas, na coluna, diferem entre si pelo teste de Tukey, a 1% de probabilidade. *IP= inoculação padrão. Inoculante turfoso, aplicado na dose de 1 kg 50 kg -1 de sementes, com solução açucarada a 10% como adesivo, e contendo 10 9 células de rizóbio g-1 de inoculante. 35 No segundo experimento conduzido sob condições controladas de casa de vegetação, utilizando-se vasos com substrato (areia e vermiculita) esterilizado, verificou-se que todos os tratamentos de sementes com fungicidas afetaram significativamente (p<0,01) o número e matéria seca de nódulos, em comparação com as plantas do feijoeiro apenas inoculadas com a mistura das estirpes de R. tropici. A redução no número de nódulos variou de 16% (fludioxonil + metalaxyl-M) até 50% (carbendazim + thiram - Produto B), quando comparadas com as plantas somente inoculadas (Tabela 4). Quanto à produção de matéria seca de nódulos, a redução variou de 15 a 40%, pela aplicação dos fungicidas com fludioxonil + metalaxyl-M e carbendazim + thiram (Produto B), respectivamente. Resultados similares foram observados por Mercante et al. (2010), onde o número e matéria seca de nódulos reduziram entre 77% e 96% com a aplicação dos fungicidas captan, carbendazim + thiram, thiram e carboxim + thiram. Quanto à produção de matéria seca da parte aérea das plantas, verificou-se um incremento pela aplicação dos fungicidas fludioxonil + metalaxyl-M e fludioxonil + metalaxyl-M + thiabendazole, quando comparado ao tratamento que recebeu apenas a inoculação de rizóbio, sem aplicação de fungicidas (Tabela 4). Os fungicidas carboxim + thiram e fluazinam + tiofanato metílico afetaram significativamente a produção de matéria seca da parte aérea do feijoeiro, enquanto os demais produtos foram similares (P < 0,01) à aplicação do inoculante, isento de fungicidas (Tabela 4). Experimentos conduzidos por Balardin et al. (2011), demonstraram que o efeito do tratamento de sementes favoreceu o crescimento radicular, influenciando a absorção de água, nutrientes e minimizando a redução de área foliar. Além disso, diversos trabalhos têm demonstrado a influência das estrobilurinas, neste caso a piraclostrobina, na melhoria do crescimento vegetal. Resultados obtidos por Balardin et al. (2011), demonstraram que o crescimento da parte aérea foi aumentado pelo tratamento de sementes com piraclostrobina + tiofanato metílico + fipronil. Os teores de N total da parte aérea dos feijoeiros não foram afetados pelo uso dos diferentes fungicidas no tratamento das sementes. Os teores de N da parte aérea mais elevados foram verificados no tratamento com N mineral, sem aplicação de fungicidas, não diferindo, contudo, da maioria dos tratamentos com aplicação de fungicidas e do tratamento onde houve somente a inoculação com rizóbio (Tabela 4). 36 TABELA 4. Efeito da inoculação e do tratamento de sementes de feijoeiro (cultivar Pérola) com fungicidas, sobre o número de nódulos, matéria seca de nódulos, matéria seca da parte aérea e nitrogênio total da parte aérea das plantas, em ensaio conduzido em casa de vegetação (vasos de 500 mL). (n° planta-1) Redução (%) (mg planta-1) Redução (%) Matéria seca da parte aérea (g planta-1) IP 150 a 0 203 a 0 1,72 bcd Carbendazim + Thiram (Produto A) + IP 96 cde 36 153 bc 25 1,65 de Carbendazim + Thiram (Produto B) + IP 75 e 50 118 e 40 1,67 cde Carboxin + Thiram + IP 114 bc 24 159 bc 20 1,62 e 6 30,9 ab 2 Fludioxonil + Metalaxyl-M + IP 126 b 16 170 b 15 1,85 a - 27,9 ab 11 Fludioxonil + Metalaxyl-M + Thiabendazole + IP 82 de 45 145 cd 25 1,85 a Fluazinam + Tiofanato metílico + IP 104 bcd 31 128 de 35 1,59 e Fipronil + Tiofanato metílico + Piraclostrobin + IP 117 bc 22 155 bc 20 1,80 ab Clorotalonil + Tiofanato metílico + IP 114 bc 24 162 bc 20 1,75 abc Controle sem N 0f - 0f - 1,34 f 22 25,6 b 18 Controle com N 0f - 0f - 1,82 ab - 34,3 a - C.V. (%) 12 Tratamentos Número de nódulos Matéria seca de nódulos Nitrogênio total Redução (%) (g kg-1) Redução (%) 0 31,3 ab 0 4 32,0 ab 3 3 30,5 ab - 14 26,88 ab 8 32,2 ab - 6 29,3 ab - 7 2 22 24,4 b 8 Médias seguidas por letras distintas, na coluna, diferem entre si pelo teste de Tukey, a 1% de probabilidade. *IP= inoculação padrão. Inoculante turfoso, aplicado na dose de 1 kg 50 kg -1 de sementes, com solução açucarada a 10% como adesivo, e contendo 10 9 células de rizóbio g-1 de inoculante. 37 Ensaio conduzido à campo De modo geral, verificou-se um efeito prejudicial dos fungicidas na nodulação (massa seca de nódulos) das plantas de feijoeiro, embora numericamente não tenha sido detectada diferença (p<0,01) em relação ao tratamento que recebeu inoculação com rizóbios, sem aplicação de fungicida, exceto para a aplicação de fipronil + tiofanato metílico + piraclostrobina. A redução do número de nódulos variou de 21% (fluazinam + tiofanato metílico) a 57% (fipronil + tiofanato metílico + piraclostrobina + IP), em comparação com as plantas apenas inoculadas com as estirpes de R. tropici, sem tratamento prévio das sementes com fungicidas (Tabela 5). Quanto à produção da matéria seca de nódulos, os tratamentos com aplicação dos fungicidas carboxin + thiram e fludioxonil + metalaxyl-M promoveram as reduções mais expressivas (83,6 e 84%, respectivamente), quando comparado com as plantas de feijoeiro apenas inoculadas com os rizóbios. Resultados experimentais obtidos por Araújo & Araújo (2006), em condições controladas de casa de vegetação, demonstraram que, nos tratamentos com a utilização de thiram, houve uma diminuição no número e na matéria seca de nódulos, enquanto os tratamentos com carboxin + thiram também apresentaram uma diminuição na matéria seca de nódulos, quando comparados ao tratamento somente com a inoculação de estirpes de R. tropici. Em estudos conduzidos a campo com a cultura da soja, Campo et al. (2009) verificaram que, em geral, todos os fungicidas testados (contato e/ou sistêmico) apresentaram algum grau de toxicidade para as bactérias inoculadas nodulantes da soja, refletindo numa redução da nodulação, quando comparado com o tratamento onde as sementes foram apenas inoculadas. Contudo, estes autores observaram que os efeitos são mais drásticos em áreas de primeiro cultivo de soja. Em outros estudos, foi observado que a inoculação de estirpes de Bradrhizobium japonicum, quando realizada em aplicação no sulco de semeadura, minimizou os efeitos negativos na nodulação da soja e na produtividade da cultura pelo tratamento das sementes com os fungicidas (CAMPO et al., 2010). A produção de matéria seca da parte aérea foi afetada negativamente com a aplicação dos fungicidas carbendazim + thiram (Produto B), fludioxonil + metalaxyl-M + thiabendazole, fluazinam + tiofanato metílico, fipronil + tiofanato metílico + piraclostrobina e clorotalonil + tiofanato metílico, associado a aplicação do inoculante, quando comparada com o tratamento que recebeu apenas a inoculação das estirpes de R. tropici. Estudos realizados por Araújo et al. (2007), em condições de campo, mostraram que não houve alteração significativa na produção de matéria seca da parte aérea das 38 plantas de feijoeiro, comparando as plantas tratadas com carbendazin + IP e aquelas somente inoculadas com rizóbio. Os teores de N na parte aérea das plantas situaram-se entre 38 e 45 g kg -1 , sendo estes valores considerados satisfatórios para o desempenho da cultura do feijoeiro (OLIVEIRA et al., 1988). No presente estudo, verificou-se que o tratamento correspondente à adubação mineral nitrogenada promoveu teores similares (p<0,01) de N total na parte aérea, quando comparado com as plantas que receberam apenas a inoculação (Tabela 5). Araújo et al. (2007) verificaram que a inoculação de sementes tem a mesma capacidade de incorporação de nitrogênio às plantas, quando comparado à adição de nitrogênio na forma mineral. Os fungicidas com os princípios ativos carboxin + thiram, fludioxonil + Metalaxyl-M, fipronil + tiofanato metílico + piraclostrobina e clorotalonil + tiofanato metílico foram os que mais reduziram o acúmulo de N na parte aérea das plantas de feijoeiro (Tabela 5). A maioria dos fungicidas avaliados afetaram a produtividade da cultura do feijoeiro. Contudo, os tratamentos com aplicação dos fungicidas com os princípios ativos fipronil + tiofanato metílico + piraciostrobina, fludioxonil + metalaxyl-M + thiabendazole e fludioxonil + metalaxyl-M proporcionaram rendimentos de grãos similares (p<0,01) ao tratamento que recebeu apenas a inoculação padrão com rizóbio (Tabela 5). O rendimento de grãos pela utilização do tratamento com fipronil + tiofanato metílico + piraclostrobina + IP foi superior aos demais tratamentos com aplicação de fungicidas. Os tratamentos com a aplicação de carbendazim + thiram (Produto B) e carboxin + thiram apresentaram menor produtividade, obtendo uma redução de 18,4% e 26,2% respectivamente, em comparação ao tratamento somente inoculado com rizóbio. Revellin et al. (1993), verificaram, em cultivo a campo de soja, que, embora a aplicação de carboxin + thiram + IP tenha reduzido significativamente o número e matéria seca de nódulos em relação a inoculação padrão, a produtividade da cultura não foi afetada. Estudos realizados por Balardin et al. (2011) mostraram que a utilização de piraclostrobina no tratamento de sementes de soja, propiciou aumento significativo na matéria seca de raízes e matéria seca da parte aérea das plantas. Estes autores verificaram que as plantas oriundas de sementes tratadas com fipronil + tiofanato metílico + piraclostrobina tiveram aumento no conteúdo de clorofila. Estas melhorias na fisiologia das plantas, proporcionadas pela utilização de piraclostrobina + fipronil + tiofanato metílico podem determinar melhorias nas condições da planta em expressar 39 maior capacidade produtiva. Neste contexto, Fagan et al. (2010) conduziram estudos à campo e verificaram que a aplicação de piraclostrobina ocasionou incremento na taxa fotossintética e as plantas tratadas com estrobilurina tiveram um acréscimo de 7 e 8% na massa de mil grãos e de 1080 e 468 kg ha-1 na produtividade, quando comparado à testemunha sem aplicação e o tratamento com triazol (tebuconazol), respectivamente. Neste mesmo estudo, os resultados indicaram que a piraclostrobina (estrobilurina) afetou a taxa de assimilação de carbono e de nitrogênio na cultura da soja, o que refletiu na produtividade de grãos. Contudo, deve-se salientar que os problemas fitossanitários estão entre os principais problemas que limitam a produtividade da cultura do feijoeiro, uma vez que as perdas anuais de produção são geralmente significativas (POSSE et al., 2010). Neste contexto, a adoção de medidas apropriadas para o controle de doenças, como a utilização de sementes certificadas e de cultivares resistentes, consiste na forma mais eficaz e econômica para evitar a maioria das doenças. Considerando que a maioria dos fungicidas avaliados no presente estudo apresentou, em algum grau de intensidade, um efeito de toxicidade sobre os rizóbios inoculados nas sementes, conduzindo a perdas no rendimento de grãos da cultura, a importância de tais medidas tornam-se ainda mais relevantes. 40 TABELA 5. Efeito da inoculação e do tratamento de sementes de feijoeiro (cultivar Pérola) com fungicidas, sobre o número de nódulos, matéria seca de nódulos, matéria seca da parte aérea, nitrogênio total da parte aérea das plantas e produtividade, em ensaio conduzido à campo. Dourados, março – junho, 2012. Tratamentos Número de nódulos IP (n° planta-1) 24 a Matéria seca de nódulos (mg planta-1) 22,0 a Matéria seca da parte aérea (g planta-1) 3,4 bc Carbendazim + Thiram (Produto A) + IP 12 abc 5,5 d 3,6 b 42 bc 945 c Carbendazim + Thiram (Produto B) + IP 13 abc 9,2 c 2,2 e 43 abc 854 d Carboxin + Thiram + IP Fludioxonil + Metalaxyl-M + IP 13 abc 12 abc 3,6 de 3,5 de 3,6 b 3,5 b 39 de 39 de 841 d 1095 b Fludioxonil + Metalaxyl-M + Thiabendazole + IP 15 ab 13,1 b 2,8 d 43 abc 1161 ab Fluazinam + Tiofanato metílico + IP 19 ab 13,6 b 2,7 d 42 bc 998 c Fipronil + Tiofanato metílico + Piraclostrobina + IP 10 bc 8,9 c 3,1 cd 41 cd 1247 a Clorotalonil + Tiofanato metílico + IP 14 abc 15,5 b 2,3 e 38 e 958 c Controle sem N Controle com N 3c 2c 1,9 e 1,2 e 2,8 d 5,3 a 41 cde 45 a 837 d 818 b C.V. (%) 47 13 5 2 4 Nitrogênio total Produtividade (g kg-1) 43 ab (kg ha-1) 1159 ab Médias seguidas por letras distintas, na coluna, diferem entre si pelo teste de Tukey, a 1% de probabilidade. *IP= inoculação padrão. Inoculante turfoso, aplicado na dose de 1 kg 50 kg -1 de sementes, com solução açucarada a 10% como adesivo, e contendo 109 células de Rhizobium g-1 de inoculante. 41 4 Conclusões 1- A sobrevivência das estirpes de R. tropici inoculadas nas sementes de feijoeiro foi afetada pela aplicação dos fungicidas avaliados, principalmente pelos produtos com modo de ação por contato. 2- De modo geral, a aplicação de fungicidas ocasionou uma redução na nodulação das plantas de feijoeiro, especialmente na massa nodular, tanto nos ensaios conduzidos em substrato esterilizado, sob condições de casa de vegetação, quanto no experimento a campo, onde também observou-se uma redução na produtividade da cultura pela aplicação da maioria dos fungicidas avaliados. 3- A aplicação dos fungicidas contendo os princípios ativos fipronil + tiofanato metílico + piraclostrobina, fludioxonil + metalaxyl-M + thiabendazole e fludioxonil + metalaxylM não afetaram a produtividade do feijoeiro, embora tenha afetado a nodulação (matéria seca de nódulos) das plantas. Por outro lado, os fungicidas que mais afetaram o rendimento de grãos da cultura foram carbendazim + thiram (Produto B) e carboxin + thiram. 42 5 Referências bibliográficas AMARAL, J.A.M.; MOTCHI, E.P.; OLIVEIRA, H.; CARVALHO FILHO, A.; NAIME, U.J.; SANTOS, R.D. Levantamento semidetalhado dos solos do campo experimental de Dourados, da Embrapa Agropecuária Oeste, Município de Dourados, MS. Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste; Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2000. 68p. (Embrapa Agropecuária Oeste. Documentos, 22; Embrapa Solos. Documentos, 15). ANDRADE, D.S.; HAMAKAWA, P.J. Estimativa do número de células viáveis de rizóbio no solo e em inoculantes por infecção em plantas. In: HUNGRIA, M.; ARAUJO, R.S. (Ed.). Manual de métodos empregados em estudos de microbiologia agrícola. Brasília, DF: Embrapa- SPI, 1994. p. 63-94. ARAÚJO, A. S. F.; ARAÚJO, R.S. Sobrevivência e nodulação do Rhizobium tropici em sementes de feijão tratadas com fungicidas. 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Em outro ensaio conduzido sob condições de casa de vegetação, utilizando-se substrato esterilizado, foram avaliados os efeitos da aplicação dos micronutrientes Co e Mo sobre a sobrevivência dos rizóbios, nodulação (número e matéria seca de nódulos), matéria seca da parte aérea e teores de nitrogênio total da parte aérea. Os tratamentos utilizados nos ensaios correspondem aos seguintes inoculantes: (1) CIAT 899 + PRF 81 Inoculante turfoso (IT); (2) CIAT 899 + PRF 81 Inoculante líquido (IL); (3) CPAO 12.5L2 Inoculante líquido (IL); (4) CPAO 2.11L Inoculante líquido (IL). Todos os tratamentos foram avaliados com e sem adição de cobalto e molibdênio (CoMo) nas sementes. A sobrevivência das estirpes e isolados de rizóbios inoculados foi prejudicada pela aplicação de CoMo nas sementes de feijoeiro, exceto o tratamento CIAT 899 + PRF 81 (IT) através do método de diluição e infecção em plantas (processo indireto). Observou-se ainda, que a aplicação de CoMo nas sementes de feijoeiro associado a inoculação dos rizóbios, reduziu o número e a matéria seca de nódulos, bem como o nitrogênio da parte aérea das plantas. Palavras-chave: fixação biológica de nitrogênio, inoculantes, compatibilidade. 49 1 Introdução A cultura do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) no Brasil está presente na maioria dos sistemas de produção e em todas as regiões brasileiras, sendo cultivada por pequenos e grandes produtores, revestindo-se de grande importância econômica e social (STRALIOTTO et al., 2002). Na safra 2011/2012, o Brasil apresentou a maior produção mundial de feijão, alcançando 2,9 milhões de toneladas (CONAB, 2012). A produtividade média nacional foi de 894 kg ha -1 nesta safra, enquanto que no Estado de Mato Grosso do Sul, a produtividade média foi de 1.262 kg ha -1 (CONAB, 2012). De modo geral, a cultura do feijoeiro apresenta baixa produtividade média, o que é atribuído, entre outros fatores, à baixa disponibilidade de nutrientes no solo, principalmente, de nitrogênio. Considerando que o N é um dos nutrientes requeridos em maiores quantidades pelo feijoeiro e os solos tropicais são, em geral, pobres neste nutriente, o seu suprimento adequado torna-se de fundamental importância para a obtenção de maiores rendimentos nesta cultura (MALAVOLTA, 1989). Entretanto, os solos da maioria das áreas produtoras de feijão, tal como os solos da região de Cerrados, são caracterizados pela deficiência de diversos nutrientes, podendo ser um fator crítico ao desempenho simbiótico das leguminosas e à sua produtividade (MUNNS & FRANCO, 1982). As principais formas de fornecimento de N à cultura são os fertilizantes nitrogenados e o processo de fixação biológica de nitrogênio atmosférico (FBN), através da simbiose do feijoeiro com bactérias do grupo dos rizóbios. No entanto, a aplicação de N mineral nos solos tropicais pode apresentar, às vezes, baixa frequência de resposta, com o aproveitamento do adubo nitrogenado normalmente inferior a 50%, devido às perdas de N por lixiviação, volatilização e desnitrificação (SORATTO et al., 2003). O N perdido nesse processo é altamente poluente e, uma vez carreado para o lençol freático, provoca a contaminação dos aquíferos subterrâneos, rios e lagos. Todavia, a adubação com N mineral tem gerado um maior custo de produção e questionamentos sobre qual a melhor fonte nutricional (BARBOSA FILHO, 2005). Por outro lado, o processo de FBN, como forma de suplementar o requerimento de nitrogênio pelo feijoeiro, pode aumentar a produtividade média nacional, sem o uso de adubos nitrogenados, alcançando patamares de produtividade acima de 2.500 kg ha -1, sendo um importante fator para a redução dos custos de produção (HUNGRIA et al., 2000; PELEGRIN et al., 2009). Além disso, a FBN influencia positivamente a 50 qualidade do solo, por evitar todos os problemas relacionados à poluição causada pelos adubos nitrogenados (HUNGRIA et al., 1997). No entanto, diversos fatores podem limitar a simbiose entre estirpes de rizóbio e o feijoeiro, destacando-se a acidez do solo, pH baixo, concentrações elevadas de Al tóxico e temperaturas elevadas (MARTINEZ-ROMERO et al., 1991; MERCANTE, 1993). Do mesmo modo, outros fatores prejudiciais têm sido detectados, como a aplicação diretamente nas sementes de produtos contendo cobalto e molibdênio, devido a formulações salinas, ou com pH baixo, podendo afetar drasticamente a sobrevivência da bactéria, a nodulação e a eficiência do processo de FBN (MERCANTE et al., 2011; EMBRAPA, 2010). Os resultados experimentais obtidos por Hungria et al. (2007) demonstraram, na cultura da soja, que a aplicação de Co e Mo nas sementes, por se tratar de formulações salinas ou com pH baixo, pode afetar drasticamente a sobrevivência da bactéria, a nodulação e a fixação biológica de N 2. Contudo, deve-se considerar a importância do Co e Mo para a nutrição das plantas. O molibdênio é um micronutriente que desempenha papel fundamental na nutrição das plantas, devido sua função estar relacionada com o metabolismo do nitrogênio e fazendo parte de duas metaloenzimas: a nitrogenase, que participa na fixação simbiótica do nitrogênio e a redutase do nitrato, que atua na redução do nitrato à amônia na planta (ARAÚJO et al., 2008). Da mesma forma, o cobalto tem importância no processo de FBN, sendo necessário para a síntese da cobalamina (Vitamina B12), que participa dos passos metabólicos para a formação da leghemoglobina, e regula sua concentração nos nódulos, impedindo a inativação da enzima nitrogenase (MENGEL & KIRKBY, 2001). Considerando a utilização de inoculantes microbianos, juntamente com a adoção da aplicação dos micronutrientes Co e Mo nas sementes de feijoeiro, torna-se indispensável à avaliação da compatibilidade destas práticas, de modo a garantir os patamares mais elevados de FBN e incrementos na produtividade do feijoeiro. Assim, o objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito da aplicação dos micronutrientes cobalto e molibdênio em semente de feijoeiro sobre a sobrevivência do rizóbio, a nodulação e crescimento das plantas. 51 2 Material e Métodos Os estudos foram conduzidos em laboratório e sob condições controladas de casa de vegetação. Em todos os ensaios, utilizou-se a cultivar Pérola, do grupo comercial Carioca, com ciclo de 90 a 100 dias, de porte semi-ereto. Foram avaliados os isolados de rizóbio pertencentes à Coleção de Culturas de Microrganismos Multifuncionais da Embrapa Agropecuária Oeste: CPAO 12.5L2 e CPAO 2.11L, para a produção dos inoculantes líquidos, contendo 109 células viáveis mL-1, sendo aplicado na dose de 6mL kg-1 de semente. A mistura das estirpes CIAT 899 (=SEMIA 4077) e PRF 81 (=SEMIA 4080) de Rhizobium tropici, recomendadas para a produção comercial de inoculantes no Brasil, foi utilizada em veículos líquido e turfoso (produzido na Embrapa Cerrados), com a concentração de células de 6x109 células de Rhizobium g-1 de inoculante e 6x109 células mL-1 respectivamente. Antes da aplicação do inoculante turfoso foi adicionada solução açucarada, a 10% (p:v), visando à melhoria de sua aderência às sementes. Os tratamentos utilizados nos ensaios correspondem aos seguintes inoculantes: (1) CIAT 899 + PRF 81 produto turfoso (IT); (2) CIAT 899 + PRF 81 - Inoculante líquido (IL); (3) CPAO 12.5L2 - Inoculante líquido (IL); (4) CPAO 2.11L - Inoculante líquido (IL). Adicionaram-se, ainda, dois tratamentos sem adição de inoculante (com e sem adubação mineral nitrogenada) nos ensaios conduzidos em condições controladas de casa de vegetação. Todos os tratamentos foram avaliados com e sem adição de cobalto e molibdênio (CoMo) nas sementes, utilizando-se um produto comercial, na dose de 200mL 100 kg -1 de sementes. Sobrevivência de rizóbios em sementes de feijoeiro As avaliações de estimativa do número de células de rizóbio em sementes de feijoeiro com a aplicação de CoMo e inoculadas com os rizóbios CIAT 899 e PRF 81, CPAO 12.5L2 e CPAO 2.11L foram realizadas por dois métodos baseados no número mais provável-NMP: (1) Diluição e contagem direta em placas (método de espalhamento) e (2) Diluição e infecção em plantas (processo indireto), utilizando-se a tabela adaptada de Andrade & Hamakawa (1994). No método do NMP por espalhamento, a sobrevivência dos rizóbios foi avaliada em dois momentos distintos: 0 (zero) e 24 horas após a aplicação dos inoculantes microbianos nas sementes de feijoeiro tratadas ou não com CoMo. 52 Inicialmente, retirou-se uma amostra de 10 g das sementes de feijoeiro, previamente tratadas com CoMo, e inoculadas com as diferentes estirpes de rizóbio. Em seguida, as sementes foram colocadas em erlenmeyers contendo 90 mL de água destilada esterilizada, sendo adicionados 300 μL de Tween 80. Após a agitação, foram realizadas três diluições sucessivas, sendo a contagem das bactérias avaliada nas concentrações 10 3 , 10-4 e 10-5, em placas contendo meio de cultura agar-levedura-manitol-YMA (VINCENT, 1970). As placas com as diluições foram incubadas em estufa a 28°C, pelo período de três dias. A contagem das bactérias foi efetuada nas placas que apresentaram de 30 a 300 UFC (unidades formadoras de colônias). No teste de infectividade dos rizóbios em feijoeiro, foram utilizadas as três diluições (10-3, 10-4 e 10-5) para inoculação no ensaio em casa de vegetação, preparado com vasos de 500 mL contendo substrato (areia + vermiculita, 1:1 - v:v) esterilizado. Foram utilizadas quatro sementes por vaso, sendo cada uma inoculada com 0,5 mL das diluições 10-3, 10-4 e 10-5. Aos 15 dias após a emergência das plantas, foi realizado o desbaste, deixando-se duas plantas por vaso. As avaliações de presença e ausência de nódulos nas plantas inoculadas foram realizadas aos 21 dias após a semeadura, e cada planta foi referida como positiva (sucesso), quando existentes um ou mais nódulos, e negativa (insucesso), quando nenhum nódulo havia sido formado. A partir dos resultados positivos ou negativos em cada uma das diluições das suspensões inoculadas foi estimado, na acepção matemática, o número de células viáveis de rizóbio na amostra (HUNGRIA & ARAUJO, 1994). Esses valores foram encontrados na tabela adaptada de Andrade e Hamakawa (1994). Ensaios conduzidos em casa de vegetação No ensaio sob condições controladas de casa de vegetação, utilizaram-se vasos de Leonard contendo substrato (areia + vermiculita, 1:1 – v:v) esterilizado, onde foram semeadas quatro sementes de feijoeiro, cv. Pérola, por vaso. Aos 15 dias após a emergência das plantas foi realizado o desbaste, deixando-se duas plantas por vaso. As sementes foram previamente tratadas com CoMo conforme a recomendação descrita anteriormente, e inoculadas com os diferentes rizóbios. No tratamento controle, em que as sementes não receberam a aplicação de CoMo e inoculante, as sementes foram previamente esterilizadas superficialmente, sendo tratadas com álcool absoluto por 30 segundos, em seguida, imersas em hipoclorito de sódio (10%), por 3 minutos, e lavadas dez vezes com água destilada esterilizada (VINCENT, 1970). 53 Durante o período de crescimento, as plantas foram supridas com solução nutritiva sem nitrogênio (NORRIS; T`MANNETJE, 1964, modificada). A coleta das plantas foi realizada aos 45 dias após a emergência das plantas (DAE), separando-se a parte aérea do sistema radicular. A parte aérea foi acondicionada em sacos de papel e levada para a secagem em estufa à 60°C. Os nódulos foram destacados das raízes para posterior contagem. Foram realizadas as seguintes avaliações: número de nódulos, matéria seca de nódulos (secagem em estufa à 60°C, até atingirem peso constante), matéria seca da parte aérea (secagem em estufa à 60°C, até atingirem peso constante) e teor de nitrogênio total da parte aérea. Na determinação do nitrogênio total da parte aérea, foi utilizado o método de Kjeldahl (semi-micro), segundo Malavolta et al. (1997). O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, num esquema fatorial 6 x 2, com seis repetições. Os dados coletados foram submetidos à análise de variância, a 5% de probabilidade (P < 0,05) e, quando significativas, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey (P < 0,01), ao nível de 1% de probabilidade. Essas análises foram realizadas através do programa estatístico ASSISTAT (SILVA & AZEVEDO, 2002). 3 Resultados e Discussão Sobrevivência de rizóbios em sementes de feijoeiro Os resultados das avaliações de sobrevivência “in vitro” das estirpes CIAT 899 + PRF 81 (IT) e CIAT 899 + PRF 81 (IL) de R. tropici e os isolados CPAO 12.5 L2 (IL) e CPAO 2.11 L (IL), com e sem a aplicação de CoMo estão apresentados na Tabela 1. Pode-se observar que, no primeiro momento (0 hora) após a inoculação dos rizóbios, os tratamentos CIAT 899 + PRF 81 (IT) e CPAO 12.5 L2 (IL) com a adição de CoMo obtiveram menor número de células dos rizóbios, quando comparados aos mesmos tratamentos sem adição de CoMo. Resultados semelhantes foram observados por Albino & Campo (2001), na cultura da soja, onde demonstraram que a adição de Mo na semente antes da inoculação reduziu o número de células viáveis de Bradyrhizobium, em relação ao tratamento somente inoculado, confirmando, assim, que este micronutriente aplicado na semente afeta a sobrevivência do rizóbio. Experimentos conduzidos por Tong & Sadowsky (1994) demonstraram que doses altas de Mo afetam a sobrevivência de estirpes de Bradyrhizobium, podendo diminuir o número de células, 54 prejudicando a nodulação e a FBN, refletindo negativamente na produtividade. Silva et al. (2011) relataram que a aplicação de CoMo nas sementes de soja poderá, em função de pH, da salinidade e da ação bactericida para os rizóbios de alguns produtos, reduzir a sobrevivência da bactéria. No período seguinte de contato dos inoculantes microbianos com o CoMo (24 horas), verificou-se que nas sementes de feijoeiro tratadas com CoMo o número de células diminui com o aumento do tempo de contato com todas as estirpes inoculadas. Ainda neste mesmo período, pode-se observar que os tratamentos CIAT 899 + PRF 81 (IT) e CPAO 12.5 L2 (IL) com a adição de CoMo obtiveram novamente o menor número de células, quando comparados com sementes sem a adição de CoMo. Com CoMo Sem CoMo Tabela 1. Quantificação de células de rizóbio em sementes de feijoeiro, com e sem aplicação de cobalto e molibdênio (CoMo), em dois momentos: logo após a aplicação de CoMo e 24 horas depois, utilizando-se o método de diluição e contagem direta em placas (método de espalhamento). Tratamentos CIAT 899 + PRF 81 (IT)* 0 hora 4,03 x 106 24 horas 5,5 x 105 CIAT 899 + PRF 81 (IL)* 3,06 x 106 3 x 105 CPAO 12.5 L2 (IL) 3,16 x 106 4,03 x 105 CPAO 2.11 L (IL) 3,46 x 106 3 x 105 CIAT 899 + PRF 81 (IT) 3 x 106 4 x 105 CIAT 899 + PRF 81 (IL) 3,2 x 106 3 x 105 CPAO 12.5 L2 (IL) 3 x 106 3 x 105 CPAO 2.11 L (IL) 3,7 x 106 3 x 105 *(IT)= Inoculante turfoso, aplicado na dose de 1 kg 50 kg-1 de sementes. *(IL)= Inoculante líquido, aplicado a dose 6mL kg-1 de semente. Foi utilizada como adesivo, solução açucarada, a 10%, nos tratamentos com inoculante turfoso. Entretanto, os resultados de infectividade das estirpes CIAT 899 e PRF 81 (IL) e dos isolados CPAO 12.5 L2 (IL) e CPAO 2.11 L (IL), inoculados em plantas de feijoeiro, utilizando-se as diluições 10 -3, 10-4 e 10-5, demonstraram que, quando houve a adição dos micronutrientes CoMo associados as bactérias fixadoras de nitrogênio, a sobrevivência dos rizóbios foi afetada mesmo na diluição 10-5, uma vez que a concentração de células de rizóbios mL-1 diminuíram em comparação aos tratamentos somente com a inoculação das bactérias, ou seja, sem aplicação de CoMo. 55 Contudo, o tratamento com as estirpes CIAT 899 + PRF 81 (IT) com aplicação de CoMo, não apresentou diminuição na concentração de células de rizóbios mL-1, quando comparou-se o mesmo tratamento sem adição de CoMo. Hungria et al. (2001) relataram que o inoculante à base de turfa é o veículo que mais auxilia na sobrevivência do rizóbio, visto que a turfa oferece uma boa proteção em condições de estresses hídrico, temperaturas elevadas, pH e salinidade, que podem ocorrer durante a semeadura. Dentre os tratamentos com a aplicação de CoMo, o tratamento com as estirpes CIAT 899 + PRF 81 (IT) apresentou maior concentração de células de rizóbios. Já o tratamento CPAO 2.11 L (IL) obteve menor concentração de células em comparação aos demais tratamentos com adição de CoMo (Tabela 2). Com CoMo Sem CoMo Tabela 2. Efeito da aplicação de CoMo sobre a nodulação em sementes de feijoeiro, realizado em condições de casa de vegetação, utilizando-se rizóbios selecionados em três concentrações distintas (10-3, 10-4 e 10-5), através do método de diluição e infecção em plantas (processo indireto). N° de células de Tratamentos Fator NMP rizóbios mL-1 CIAT 899 + PRF 81 (IT)* 2,106 2,10 x 10-5 CIAT 899 + PRF 81 (IL)* 109,849 109,84 x 10-5 CPAO 12.5 L2 (IL) 23,97 23,97 x 10-5 CPAO 2.11 L (IL) 2,758 2,75 x 10-5 Controle sem N 0 Controle com N 0 CIAT 899 + PRF 81 (IT) 29,17 29,17 x 10-5 CIAT 899 + PRF 81 (IL) 1,469 1,46 x 10-5 CPAO 12.5 L2 (IL) 7,488 7,48 x 10-5 CPAO 2.11 L (IL) 0,357 0,35 x 10-5 Controle sem N 0 Controle com N 0 *(IT)= Inoculante turfoso, aplicado na dose de 1 kg 50 kg-1 de sementes. *(IL)= Inoculante líquido, aplicado a dose 6mL kg-1 de semente. Foi utilizada, como adesivo, solução açucarada, a 10%, nos tratamentos com inoculante turfoso. Ensaios conduzidos em casa de vegetação No experimento em casa de vegetação, conduzido em vasos de Leonard, os resultados mostraram que todos os tratamentos com a aplicação de CoMo em sementes de feijoeiro associado à inoculação de diferentes rizóbios, diferiram significativamente dos tratamentos sem CoMo, ou seja, somente com a inoculação dos rizóbios, promovendo uma redução no número e matéria seca de nódulos (Tabela 3). As reduções 56 ocasionadas pela utilização dos micronutrientes CoMo no tratamento de sementes chegaram a 20,2% e 16,5%, respectivamente, para o número e matéria seca de nódulos, quando as plantas de feijoeiro foram tratadas com CoMo associado as estirpes CIAT 899 + PRF 81 (IT). Experimentos conduzidos em casa de vegetação por Albino & Campo (2001), demonstraram que a aplicação de Mo nas sementes de soja, em virtude de seu contato com o inoculante, reduziu a nodulação e a fixação biológica de N 2. Resultados obtidos por Campo & Lantmann (1998) demonstraram que a aplicação de Co (0,75 g ha-1) nas sementes de soja, de forma isolada ou junto com o molibdênio, afetou a nodulação. Resultados semelhantes foram obtidos por Marcondes & Caires (2005), onde a aplicação de molibdênio e cobalto na semente de soja cultivada em solo com pH (CaCl2 0,01 mol L-1) 5,2 não influenciou na nodulação das planta. Porém, nas avaliações realizadas por Dourado Neto et al. (2012), referentes à nodulação de plantas, observou-se resposta positiva da aplicação de cobalto e molibdênio, evidenciando-se um incremento no número de nódulos. Dentre os tratamentos com a aplicação de CoMo, os tratamentos CIAT 899 + PRF 81 (IL) e CPAO 2.11L (IL) apresentaram significativamente maior número de nódulos. Já para a matéria seca de nódulos, os tratamentos CIAT 899 + PRF 81 (IT) e CPAO 2.11L (IL) com CoMo demonstraram maiores pesos (Tabela 3). Os tratamentos CIAT 899 + PRF 81 (IT), CIAT 899 + PRF 81 (IL) e CPAO 2.11L (IL) com a utilização de CoMo, apresentaram redução a produção de matéria seca da parte aérea, quando comparado aos tratamentos sem a aplicação de CoMo. No entanto, os tratamentos CIAT 899 + PRF 81 (IT), Controle sem N e Controle com N apresentaram valores iguais de matéria seca da parte aérea, quando compados aos mesmos tratamentos, sem a aplicação de CoMo. Leite et al. (2009), em experimento realizado a campo com doses de Mo (0; 30; 60; 90 e 120 g ha -1), aplicadas em sementes feijoeiro, observaram que não houve efeito significativo do molibdênio sobre a matéria seca da parte aérea. Resultados obtidos por Dourado Neto et al. (2012) demonstraram que a matéria seca da parte aérea foi menor quando realizou-se aplicação de CoMo em sementes de soja, em relação aos tratamento sem aplicação em estágio V4. Portanto, todos os tratamentos com CoMo, exceto os controles, apresentaram menores teores de Nitrogênio da parte aérea, quando comparados aos tratamentos sem adição de CoMo. Resultados encontrados por Campo e Lantmann (1998) evidenciam que a aplicação de CoMo nas sementes de soja não melhorou a absorção de nitrogênio pela cultura. Experimentos conduzidos por Marcondes & Caires (2005), na cultura da 57 soja, mostraram que a aplicação de molibdênio nas sementes não influenciou a concentração de nitrogênio nas folhas de soja. Porém, Ahmed & Evans (1960) obtiveram efeito positivo da adição de cobalto na nodulação e na absorção de nitrogênio pela soja cultivada em solução nutritiva. 58 TABELA 3. Efeito da inoculação com diferentes rizóbios e da aplicação de CoMo em sementes de feijoeiro (cultivar Pérola), sobre o número de nódulos, matéria seca de nódulos, matéria seca da parte aérea e nitrogênio total da parte aérea num experimento conduzido em casa de vegetação (vasos de Leonard). Sem CoMo Tratamentos Matéria seca de nódulos Matéria seca da parte aérea Nitrogênio Total CIAT 899 + PRF 81 (IT)* (n° planta-1) 208 cA Redução (%) 0 (mg planta-1) 608,3 bA Redução (%) 0 (g planta-1) 3,6 aA (g kg-1) 26 bA CIAT 899 + PRF 81 (IL)* CPAO 12.5L2 (IL) 255 aA 179 dA 0 0 530,0 cA 600,0 bA 0 0 2,9 cA 3,5 aA 27 bA 31 aA CPAO 2.11L (IL) Controle sem N 242 bA 0 eA 0 - 624,5 aA 0 dA 0 - 3,2 bA 0,5 dA 30 aA 16 cA Controle com N Com CoMo Número de nódulos 0 eA - 0 dA - 2,9 cA 30 aB CIAT 899 + PRF 81 (IT) 166 bB 20,2 580,0 aB 16,5 3,3 aB 22 cB CIAT 899 + PRF 81 (IL) 210 aB 17,6 457,5 cB 13,6 2,9 bA 23 cB CPAO 12.5L2 (IL) 168 bB 6 560,0 bB 6,6 3,4 aB 27 bB CPAO 2.11L (IL) 200 aB 17,3 587,5 aB 6 2,9 bB 25 bB 0 cA - 0 dA - 0,5 cA 16 dA Controle sem N Controle com N 0 cA 0 dA 2,9 bA 34 dA *(IT)= Inoculante turfoso, aplicado na dose de 1 kg 50 kg-1 de sementes, contendo 6x109 células de Rhizobium g-1 de inoculante. *(IL)= Inoculante líquido, aplicado a dose de 6mL kg-1 de semente, contendo 6x109 células de Rhizobium mL-1 de inoculante. Utilizou-se como adesivo solução açucarada, a 10%. Médias seguidas por letras maiúsculas diferem estatisticamente entre os tratamentos com e sem CoMo, e as letras minúsculas diferem estatisticamente dentro dos tratamentos com e sem CoMo. Foi aplicado o Teste de Tukey ao nível de 1% de probabilidade. 59 4 Conclusões 1- A sobrevivência das estirpes e isolados de rizóbios inoculados foi prejudicada pela aplicação de CoMo nas sementes de feijoeiro, exceto o tratamento CIAT 899 + PRF 81 (IT). 2- A aplicação de CoMo nas sementes de feijoeiro associado a inoculação dos rizóbios, reduziu o número e a matéria seca de nódulos, bem como o nitrogênio da parte aérea das plantas. 5 Referências Bibliográficas AHMED, S.; EVANS, H. J. Cobalt: A micronutrient element or the growth of soybean plants under symbiotic conditions. Soil Science, Baltimore, v.90, p.205-210, 1960. ALBINO, U. B.; CAMPO, R. J. 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