8 Especial Macaé de Cima: suas águas, florestas e gente: Macaé de Cima, por sua biodiversidade e beleza, é um grande diferencial para Nova Friburgo. Nós, friburguenses, somos responsáveis pela preservação daquele magnífico Refúgio de Vida Silvestre. Os moradores de Macaé de Cima tem nos ajudado bastante a proteger a natureza daquele lugar. Por este exemplo, devemos acreditar que o ser humano é capaz de conviver harmonicamente com a floresta e com os animais que vivem nela. Vez por outra encomendas para Macaé de Cima vão parar bem longe de seus destinos. Quem entra em Macaé de Cima logo vê o nome do lugar sumir bem debaixo de seus pés – a região passa a se chamar Mirandelo, Cabeceiras, Rio das Flores, Santiago, Córrego do Macuco, Juir, Fazenda S.João, Galdinópolis, Toca da Onça, e tantas outras localidades – todas elas chamadas, pelo costume local, “Macaé de Cima” – para confusão até de quem já é familiar com o peculiar sabor local. hoje, segundo declaram os pesquisadores, uma das mais ricas amostras de toda a flora da Mata Atlântica remanescente. Com a floresta recuperada, a fauna voltou a comparecer. Visitas de campo recentes de pesquisadores da Fundação Brasileira de Conservação da Natureza registraram uma presença de pássaros e mamíferos ameaçados de extinção superior a qualquer outra região vizinha. Recentemente, Macaé de Cima ganhou ainda mais um tempero: Trata-se da proposta de criação de um Refúgio de Vida Silvestre, uma unidade de proteção integral para uma área florestal com uma comunidade tradicional moradora. Mas desta vez a unidade vem proposta pela própria comunidade: os moradores, por iniciativa própria, promoveram o estudo técnico exigido por lei, e depois, com apoio da Prefeitura, realizaram uma consulta pública como manda o figurino: edital, folhetos explicativos, e divulgação clara e aberta. Isto, há quem arrisque, pode ser inédito no Brasil Verdade é que os novos proprietários iniciaram o replantio. Mas certo é também que o clima de neblina da região e uma floresta pujante, que teimou em sobreviver, também ajudaram bastante. “Mas Macaé de Cima é onde?”, perguntarão os mais experientes. “Por onde se entra? Como se chega lá?” O Refúgio proposto é Macaé de Cima na região das Cabeceiras, as florestas perto das nascentes do Rio Macaé e das Flores. Entra-se pela Estrada do Garlipp, em Debossan, Mury, e chega-se após 15 km de estrada de chão, seguindo sempre pela parte alta. Mudança na cultura do lugar Outrora uma região bastante desmatada, a região das Cabeceiras ficou famosa por tornar-se novamente uma floresta. O fenômeno ocorreu desde que a economia local transformou-se, há quarenta anos, com a chegada de uma geração de proprietários conservacionistas. Pouco a pouco os moradores Moradores iniciaram o replantio da mata Macaé de Cima é um ótimo exemplo de uma comunidade que convive respeitosamente com o meio ambiente. A presença dos moradores é um dos principais fatores de proteção daquele ecossistema. tradicionais foram deixando de lado suas roças e achando empregos na pousada e no hotel que foi criado para acomodar os recém chegados. Os sítios de conservação começaram a surgir. A natureza do trabalho mudou, e com ele a fisionomia do lugar. Ao invés de roças de feijão e inhame e criação de animais, passou-se à plantação de árvores e jardins, recepção de visitantes, e passeios guiados pelos mateiros locais, para clientes com sotaque “alemão” de várias nacionalidades. “Isto foi trabalho de muito tempo”, comenta Claudionor Ouverney. Descendente da primeira leva de imigrantes suíços franceses em 1819, “Seu Cláudio” fala com a vivência de seus bonachões 56 anos de vida – todos eles em Macaé de Cima. Traz a face corada e a limpidez dos olhos azuis, típicos de uma região que guarda as origens de Nova Friburgo. Ouverney começou a trabalhar na região como aprendiz de pedreiro, ainda criança. Ao contrário de muitos dos descendentes dos pioneiros, nunca abriu mão da antiga gleba da família. A propriedade trans- formou-se na Pousada Amantes da Natureza, operada pelos Ouverney. O recanto, com um punhado de pequenos chalés de hospedagem e um remanso de água límpida, é um brinco de lugar. Os jardins juntaram plantas nativas, orquídeas e bromélias às fruteiras centenárias plantadas pelos antepassados. “Muito da nossa vida está aqui, no renascimento dessa floresta. “Ali mesmo”, exemplifica, apontando com orgulho o bosque fechado, “ tudo aquilo ali era pasto e descampado. Mais para lá havia a fábrica de seda, que foi incendiada ainda no tempo de D. João. Ainda existem algumas amoreiras perdidas na mata, sem os casulos do bicho-daseda, mas com muitos passarinhos que vem para comer as amoras.” Segundo o SNUC, a lei federal que define as unidades de conservação, o objetivo da modalidade “Refúgio de Vida Silvestre”, é funcionar como um santuário para a proteção de animais silvestres da fauna local e migratória. E isto é manter a floresta em que habitam. Com a recuperação da floresta, a Região das Cabeceiras é (22) 2523-0001 “A mata original resistiu no topo dos morros e nas encostas, no tempo das roças de sub-existência, lavouras de milho, da carvoaria e da serraria, e depois das criações e dos pastos.”, explica Ouverney, mostrando fotos aéreas de 1959, tiradas dos aviões da extinta companhia aérea Cruzeiro do Sul, com grandes áreas desmatadas. “Com a mudança da atividade, a floresta foi despejando as sementes vale abaixo.” A vista que se tem da Pousada não deixa dúvida que as sementes prosperaram. Dalí se vê uma área florestal de rara beleza, bem parecida com a floresta original, com árvores de até trinta metros projetando-se do dossel fechado. Já abriga um bosque suspenso de bromélias e orquídeas, que se debruçam sobre os jardins e recantos. A região tornou-se um dos pontos de visitação mais belos do município, entrecortada de rios e riachos, pontilhada de belas cachoeiras. Tem-se uma vista de picos e cristas monumentais, como a Pedra Bicuda e o “Pão de Açúcar de Friburgo”, o pico do Faraó, o ponto alto, com 1750 mts.