Rilem –Seminário Novos Desenvolvimentos do Betão, Lisboa, Setembro 2003 “Betões de elevado desempenho arquitectónico” SUMÀRIO Pretende-se neste trabalho traçar uma panorâmica sobre estes novos betões de cimento cujas características técnicas associadas a acabamentos diversos permitem aplicações de grande interesse arquitectónico, com vantagens em termos de optimização de custos de construção, de manutenção e durabilidade das obras. ABSTRACT In this paper we would like to describe the benefits of this new concrete wish gives us the possibility of very interesting siteworks, with different surface finish, colours and textures, high performance in terms of durability, but with low construction and maintenance costs. _______________________________________________________________1/17 Rilem –Seminário Novos Desenvolvimentos do Betão, Lisboa, Setembro 2003 “Betões de elevado desempenho arquitectónico” 1 Introdução Entendemos por betões de elevado desempenho arquitectónico todos aqueles que associam a características técnicas de elevado desempenho a nível mecânico e de durabilidade, efeitos estéticos que permitem uma utilização para lá da aplicação estrutural. Isto é neles convergem efeitos interessantes do ponto de vista arquitectónico que permitem uma aplicação mista; estrutural, de revestimento e acabamento, durável e com baixos custos de manutenção. Neste trabalho apresentamos um resumo dos estudos que temos efectuado nesta área, procurando desenvolver alguns desses aspectos estéticos e simultaneamente proceder á caracterização técnica, quer sobre o ponto de vista mecânico, quer sob o da durabilidade física e de aparência, com vista á optimização do material, especificação de fabrico e recomendações de aplicação, tendo em conta os vários tipos de obras onde poderá ser utilizado. Com principal foco no interesse arquitectónico do material apontamos uma série de possibilidades quer ao nível da coloração, quer da forma, quer da textura, mas sempre sem perder de vista as necessidades acrescidas do desempenho funcional destes materiais. Para além do habitual desempenho físico e mecânico exigido, torna-se necessário garantir um excelente comportamento á intempérie e á poluição atmosférica, com a manutenção de todas as suas propriedades, nomeadamente as de vertente arquitectónica. Por outro lado, as possibilidades de aplicação destes materiais não são idênticas, pois acabamentos há que somente são compatíveis com a pré-fabricação, porquanto outros são susceptíveis de serem efectuados in situ com bons resultados e a custos baixos. 2 Potencial Estético A versatilidade dos betões de cimento portland; a sua capacidade plástica de adquirir a forma do molde onde é vertido, graças ao efeito de parede, e por reacções de hidratação vir a endurecer á temperatura ambiente, no ar ou na água, permite quando devidamente explorada permite atingir acabamentos até agora somente conseguidos com revestimentos á posteriori com pedra natural, cerâmicos e outros materiais. Este estudo tem-se debruçado sobre o desenvolvimento de três aspectos estéticos principais, isto é ao nível: • Coloração; com recurso a pigmentos inorgânicos á base de óxidos metálicos cujo comportamento perante os U.V. permanece inalterável e que, graças á gama já disponível no mercado permite produzir uma palete de cores muito diversificada, quer com cimentos brancos, quer cinzentos. A pigmentação do betão é hoje um processo acessível a betões produzidos em unidades de pré-fabricação ou em Central de betão, exigindo porém, especialmente nas tonalidades mais claras, alguns cuidados de limpeza do misturador, das linhas e dos moldes, de forma a evitar contaminações. _______________________________________________________________2/17 Rilem –Seminário Novos Desenvolvimentos do Betão, Lisboa, Setembro 2003 “Betões de elevado desempenho arquitectónico” • • Forma; com a produção de peças cada vez mais esbeltas e de formas mais ousadas; graças ao desenvolvimento dos sistemas de cofragem, nomeadamente com a introdução dos moldes de silicone/elastómeros, cofragens metálicas revestidas a chapas de aço-inox, a acrílicos, ou outros compósitos á base de fibras de vidro. Textura; recorrendo a moldagem com as cofragens anteriores até á desactivação, por aplicação de um retardador de superfície directamente sobre as superficíes (no caso de pavimentos), ou no molde (no caso de peças de desenvolvimento vertical). Estes produtos permitem várias profundidades de ataque e expõem os agregados até diversas espessuras (0,1 a 10mm). Outra possibilidade é o tratamento do betão idêntico ao da pedra, aliás trata-se de uma pedra artificial com características físicas e mecânicas perto de muitas pedras naturais. Por exemplo a bujarda mecânica, o polimento, o esponteirado e o flamejado são algumas destes acabamentos possíveis. De referir contudo a inviabilidade de aplicar estes acabamentos em grandes extensões, dado que normalmente tem de ser executados “in situ” de forma muito manual o que leva a custos incomportáveis. Em peças de dimensões compatíveis com os equipamentos da pedra estes custos diluiem-se de forma significativa, permitindo a aplicação em placagens de revestimento ou por exemplo painéis de fachada. A combinação destes três potenciais permite alargar a gama de possibilidades de forma considerável. Fig 1- Aspectos de coloração e textura em pormenor e em obra; molde de silicone com impressões _______________________________________________________________3/17 Rilem –Seminário Novos Desenvolvimentos do Betão, Lisboa, Setembro 2003 “Betões de elevado desempenho arquitectónico” Contudo, para a obtenção de um bom acabamento superficial, é necessário ter em conta a necessidade de produzir betões de superfície e coloração homogénea, sem manchas, de elevada compacidade, com boa opacidade e com uma distribuição granulométrica cuidada de forma a obter os efeitos de conjugação matriz-agregados pretendida. Relativamente á distribuição granulométrica é comum uma redução da máxima dimensão do inerte e portanto o estudo frequente de micro-betões, ou mesmo argamassas e pastas cimentícias, de forma a se obterem os aspectos superficiais pretendidos. Esta situação conduz á necessidade de ultrapassar uma série de problemas que normalmente surgem como sejam; a retracção/fissuração, a perda de resistência mecânica, nomeadamente a resistência á flexão, o surgimento de módulos de elastecidade por vezes muito elevados, libertação de elevadas quantidades de calor de hidratação e portanto uma tendência para fenómenos de fissuração de origem térmica-diferencial. Por outro lado a necessidade de responder ás exigências arquitectónicas de peças cada vez de maior vão e de pequena espessura, do tipo laminar ou cascas, portanto com índices de esbelteza importantes, implica consistências muito fluídas para um correcto preenchimento dos moldes e envolvimento das armaduras, o que á partida poderia ser incompatível com a ausência de manchas e marmoreados e uma elevada resistência mecânica e durabilidade. Assim no desenvolvimento destes novos tipos de betões houve que ultrapassar uma série de barreiras técnicas de forma a garantir uma resposta correcta e adequada ás exigências de funcionalidade referidas. O desenvolvimento das novas gerações de adjuvantes químicos de vários tipos permitiu, em parte, ultrapassar estas dificuldades, nomeadamente os superplastificantes de última geração, os retentores de água, os pigmentos e algumas famílias de polímeros que nos permitem efeitos pontuais como sejam baixar os módulos de elastecidade . Por outro lado os cimentos brancos e cinzentos apresentam características mais perfomantes, com desenvolvimentos de resistências mecânicas a idades jovens e a longo prazo cada vez maiores. Graças á optimização da composição dos clínqueres portland ou á introdução de adições activas, como as cinzas volantes, escórias e fumos de sílica é também possível produzir cimentos de elevada resistência química. Por outro lado a reciclagem de resíduos de pedreira permite aumentar a variedade de agregados utilizados, possibilitando uma gama de texturas e cores por simples variação dos inertes. É frequente o uso de calcários e granitos nos betões, mas neste caso as diversas variedades de granito existentes, por exemplo, proporcionam materiais de acabamento também diferentes e portanto resultados ao nível estético bem distintos. _______________________________________________________________4/17 Rilem –Seminário Novos Desenvolvimentos do Betão, Lisboa, Setembro 2003 “Betões de elevado desempenho arquitectónico” 3 Os materiais, o fabrico e a aplicação 3.1 – Os materiais Cimentos: Para o fabrico destes betões, habitualmente os cimentos brancos são os mais utilizados, contudo para a obtenção de betões de tonalidade escura ou mesmo negros é essencial partir de cimento cinzento corrente. Função da aplicação e das exigências da mesma, por exemplo em termos de cinética de hidratação e desenvolvimento de resistências, os cimentos utilizados podem ser de vários tipos e classes, desde os cimentos do tipo I aos cimentos compostos do tipo II. As classes de resistência deverão ser escolhidas em função dos ritmos de desmoldagem impostos ou de outras condicionantes como seja a aplicação de préesforço a curto prazo. As adições: Uma das formas mais eficientes de garantir a opacidade necessária e a homogeneização da cor é utilizar uma dosagem de finos elevada. Nestes betões são frequentes dosagens de finos da ordem dos 400 a 600 kg/m3, especialmente na presença de betões auto-compatctáveis. Tais dosagens de cimentos tornam-se incompatíveis quer sob o ponto de vista económico quer técnico, pois parâmetros como a retracção e fissuração tenderiam a agravar extraordináriamente. Assim a introdução de adições, como sejam os fíleres de origem calcária, em dosagens variáveis entre os 60 a 200 kg/m3, contribuiem, de forma significativa, para o abaixamento da dosagem de ligante, promovendo o aumento da opacidade do betão aparente. Por outro lado, graças á sua capacidade de absorção de água, reduzem á água em excesso libertada aquando da vibração, minimizando o efeito dos marmoreados e de outras manchas superficiais. Os agregados: Como referimos a diversidade de resíduos de pedra ornamental é enorme, quase todos susceptíveis de serem utilizados no fabrico destes betões. Tirar partido da cor do grão do agregado e combiná-la com as colorações da matriz só por si permite produzir uma gama variada de betões, sobretudo no caso de agregados expostos, como sejam os betões desactivados, ou acabados como pedra natural. A produção destes agregados deverá atender de forma mais cuidada á necessidade de garantir uma homogeneidade de fornecimentos, quer em termos dimensionais, quer de coloração e características físicas e mecânicas do material, sob pena de não ser possível, no produto final, obter-se uma homogeneidade de coloração e textura das peças betonadas. As exigências de limpeza, especialmente nos betões claros, são extremamente importantes sendo normal adoptar valores abaixo dos permitidos pela norma em parâmetros, como sejam os teores de argilas e materiais solúveis, em função dos danos que os mesmos possam causar no efeito final. Normalmente as exigêncais _______________________________________________________________5/17 Rilem –Seminário Novos Desenvolvimentos do Betão, Lisboa, Setembro 2003 “Betões de elevado desempenho arquitectónico” normativas abrangem as restantes necessidades, nomeadamente aquelas que possam por em causa a durabilidade do betão As granulometrias utilizadas são muito variadas, desde partículas dos 20 a 30 mm até a alguns microns de diâmetro, função do tipo de aspecto pretendido. Os micro-betões poderão, nalguns casos, desempenhar funções estruturais, desde que o material esteja estudado para esse fim, com um controlo preciso das propriedades essenciais; resistência mecânica, módulo de elastecidade, retracção, de entre outras. Em muitos casos a sua aplicação fica-se por placagens de revestimento, em substituição da pedra natural ou por aplicações em pavimentos, todavia mesmo nestas utilizações a necessidade de garantir uma correcta resistência ao desgaste, ao choque e uma boa durabilidade de aparência, exigem betões de elevada compacidade e elevado desempenho e portanto normalmente capazes de desempenhar igualmente funções estruturais. Os adjuvantes e as fibras: Os superplastificantes de última geração, com capacidade de modificar consideravelmente a reologia do betão fresco, permitem por um lado uma forte redução da quantidade de água de amassadura, mas por outro lado a fluidificação é tal que o betão reduz de forma considerável o atrito interno, tornado-se praticamente auto-nivelante e portanto capaz de sozinho se movimentar no interior do molde e envolver de forma absoluta as armaduras. Face a esta redução de água, o aumento da compacidade é notório e consequentemente todas as propriedades do material beneficiam; melhoria da resistência, diminuição da retracção plástica, redução da permeabilidade, absorção capilar, etc. Em situações onde a resistência á flexão obtida não satisfaça os requisitos de dimensionamento e a tendência para a fissuração ponha em risco a qualidade da aparência e a respectiva durabilidade é possível controlar este efeito recorrendo á utilização de baixas dosagens de polímeros como sejam os acetatos de vínil ou as metil-celuloses para controlo de retracção plástica e diminuição dos módulos de elastecidade, normalmente dosagens de 0,04 a 0,1 % do peso de cimento são suficientes para produzir resultados satisfatórios. Por outro lado o recurso a fibras de vidro ou polipropileno permitem uma redistribuição de tensões na matriz, igualmente com bons resultados nestas situações de risco de fissuração, porém só poderão ser utilizadas nos casos em que o acabamento final não seja afectado pela sua presença. Os pigmentos disponíveis no mercado á base de óxidos metálicos apresentam já uma diversidade de cores interessantes permitindo uma palete bastante completa. As dosagens utilizadas dependem da intensidade da cor pretendida e podem variar numa gama alargada, desde o 0,1% a 8% do peso de cimento. Por exemplo no caso do betão negro, de forma a conseguir-se um negro ardósia profundo é frequente atingir- _______________________________________________________________6/17 Rilem –Seminário Novos Desenvolvimentos do Betão, Lisboa, Setembro 2003 “Betões de elevado desempenho arquitectónico” se uma dosagem de 8% de pigmento negro numa dosagem de cimento cinzento corrente de pelo menos 380 kg/m3. 3.2 O Fabrico e a Betonagem Um dos pontos mais importantes no fabrico destes betões é garantir limpeza da instalação para evitar contaminações. É frequente haver necessidade de armazenar quantidades de alguns dos agregados utilizados de forma a ter-se homogeneidade de fornecimento e portanto garantir a uniformidade de cor nos paramentos da obra. Por outro lado a continuidade da produção é também importante. A necessidade de coordenação do fabrico com a betonagem em obra é fundamental, pois os ritmos impostos variam de caso para caso e tempos de paragem normalmente tem consequências graves como juntas de betonagem indesejáveis. De referir que especialmente os betões de consistência auto-compactável são extremamente sensíveis a este tipo de fenómeno, pois imediatamente após a imobilização inicia-se o processo de compactação, exclusivamente, por gravidade o que aumenta a probabilidade de formação de juntas. Lembramos que a vibração em betões desta consistência pode conduzir a fenómenos de segregação grave, pelo que ao tentarmos corrigir a situação anterior com um pouco de vibração, corre-se este risco. Todas as recomendações inerentes ao fabrico dos betões brancos mantém-se obviamente válidas nestes materiais, sendo fundamental que estas especificações surjam desde logo da fase de projecto. Nomeadamente, os cuidados na estanquidade e indeformabilidade das cofragens e o tratamento das armaduras com uma ligeira pintura a air-less de primário hidroepóxy, especialmente em betões claros e em peças de grandes dimensões, onde durante a montagem se corre o risco de formação de calamina que poderá vir a ocasionar manchas. Se no caso de betões desactivados ou com acabamento mecânico a qualidade das superfícies da cofragem não são de todo importantes, pois a pele superficial do betão será removida para expor os agregados, continuam neste caso pertinentes os requisitos de estanquicidade, pois a fuga de leitada promove sempre a existência de nichos que podem ficar perceptíveis. Nestes casos é também importante garantir um recobrimento suficiente, tendo-se que ter em conta a profundidade do ataque e o recobrimento conveniente para uma boa durabilidade, função do tipo de exposição da obra. A execução de peças protótipo é sempre aconselhável, de forma a despistar as dificuldades das condições de fabrico, havendo assim uma oportunidade de treino de equipas e correcção de deficiências. _______________________________________________________________7/17 Rilem –Seminário Novos Desenvolvimentos do Betão, Lisboa, Setembro 2003 “Betões de elevado desempenho arquitectónico” Sendo factor de grande importância a durabilidade de aparência e uma manutenção com custos baixos, quanto mais auto-lavável forem os paramentos tanto melhor, daí ser recomendável a aplicação de impermeabilizantes de superfície. Estes produtos normalmente, á base de silicones modificados; silanos ou siloxanos são incolores e imperceptíveis após a aplicação, migrando para o interior dos poros e capilares e selando-os. Mesmo nas superfícies de maior rugosidade é possível aplicar estes materiais, apesar de por vezes a sua eficácia diminuir ligeiramente. Outros impermabilizantes como os acrílicos, por formarem um filme superficial poderão conferir nestes casos maior protecção, contudo a sua durabilidade por estarem mais expostos aos U.V. é mais afectada. 4 Caracterização de dois tipos destes betões Passamos a descrever as características técnicas de dois destes betões, utilizados actualmente em obra e/ou pré-fabricação. Ambos com funções estruturais e decorativas, sendo um deles um micro-betão, isto é com máxima dimensão de 5mm; Betão Arenoso. 4.1 – Betão Branco; Moldado-Liso; Auto-Compactável Habitualmente somente se conseguem obter paramentos de betão á vista, de qualidade, com paredes de espessura de 30 a 35cm, onde existe um espaço físico compatível com os recobrimentos necessários e com a introdução do vibrador. Porém em muitos projectos de betão á vista surgem frequentemente situações onde tal não é possível por condicionalismos de dimensionamento, como seja a necessidade de redução de peso próprio, implicando diminuição da espessura das paredes, ou situações onde existam paredes inclinadas ou de formas curvilíneas, ou outras peças de grande esbelteza onde se pode correr o risco de segregações durante a betonagem, como sejam por exemplo pilares de grande altura. Estas situações levaram a que se procurasse o desenvolvimento desta nova consistência de betões, actualmente em grande divulgação a nível mundial, mas agora adaptados ao caso dos betões brancos e coloridos ou com outros tipos de efeitos, isto é á necessidade de ultrapassar as condicionantes impostas pelos cimentos brancos, normalmente mais reactivos e com maior perda de trabalhabilidade e pelas adições normalmente utilizadas, neste caso as cinzas volantes, por motivos óbvios não são passíveis de o serem neste caso. Antecedendo aplicações em obra, efectuaram-se diversos estudos laboratoriais, com vista á optimização destes betões e á verificação das suas características técnicas e estéticas de forma a assegurar bons resultados e a resolução dos desafios postos nalgumas obras. Assim partindo-se de uma composição de referência, préviamente optimizada sobre aspectos como fluidez e capacidade de auto-compactação, foram-se introduzindo _______________________________________________________________8/17 Rilem –Seminário Novos Desenvolvimentos do Betão, Lisboa, Setembro 2003 “Betões de elevado desempenho arquitectónico” variações ao nível da percentagem de adições e de adjuvantes de forma a avaliar o comportamento das mesmas. A adição utilizada neste estudo foi o fíler calcário bastante puro (teor de CaCO3 superior a 95% e uma finura inferior a 120 microns) e o adjuvante um superplastificante de 3ª geração o Chrysofluid Optima 200 a dosagens de 1% e 1,5% do peso de ligante. A máxima dimensão do inerte utilizado foi de 15mm, brita calcária. Na composição foram incluídas duas areias siliciosas para correcção granulométrica. A dosagem de finos (partículas abaixo de 0,075mm) foi limitada a 500 Kg/m3 no total. O cimento utilizado no estudo foi o CEM II/A-L 42,5R (br) da Cibra. A consistência de partida foi o espalhamento de 65+5cm. Fotografias 1 – Aspecto do betão autonivelante/autoCompactável No decorrer do estudo para além da verificação da qualidade do efeito de parede obtido, a partir da betonagem de paredes protótipo de espessura de 5cm, efectuaramse os seguintes ensaios: Ensaios em betão fresco • Razão A/C; • Consistência inicial e após 60 minutos. Ensaios em betão endurecido • • • • • Resistência à compressão, às idades de 2, 7, 28; Módulo Elastecidade Dinâmico, á idade de 28 dias; Retracção (LNEC E 398); Absorção de água por capilaridade (LNEC E 393); Permeabilidade a cloretos (ensaio AASHTO – ASTM C 1202-94). _______________________________________________________________9/17 Rilem –Seminário Novos Desenvolvimentos do Betão, Lisboa, Setembro 2003 “Betões de elevado desempenho arquitectónico” Fotografia 2 – Ensaio de espalhamento No quadro 1 resumimos as composições estudadas e os principais resultados obtidos. Quadro 1 – Resumo das Composições estudadas e principais resultados laboratoriais A B C D E Composição F Cem II /A-L 42,5R (br) Filer Calcário Areia fina siliciosa Areia média siliciosa Brita 1 calcária kg/m3 kg/m3 kg/m3 kg/m3 kg/m3 500 0 420 580 740 450 50 420 580 740 400 100 410 580 740 500 0 470 580 740 450 50 435 580 740 400 100 435 580 740 Optima 200 % p.c. 1 1 1 1,5 1,5 1,5 0,42 0,42 60 46 0,42 0,38 70 62 0,46 0,37 67 64 0,38 0,38 64 49 0,38 0,34 69 65 0,41 0,33 70 68 40,5 53,2 68,4 0,630 42,2 51,6 69,8 0,470 35,6 46,7 63,6 0,400 42,4 54,6 69,6 0,560 45,3 53,3 72,4 0,400 38,4 48,9 67,8 0,320 0,0031 0,0012 2620 0,0035 0,0015 3100 0,0042 0,0022 3250 0,0026 0,0008 2150 0,0030 0,0010 2350 0,0034 0,0016 2680 Betão Fresco: A/C A/teor finos Espalhamento inicial Espalhamento aos 60 min. cm cm Betão Endurecido: Resistência Compressão 2 dias 7dias 28 dias Retracção (28 dias) Absorção capilar (28 dias) provetes obtidos por moldagem provetes obtidos por corte Penetração cloretos (45 dias) MPa mm/m g/mm2 Coulomb Analisando em detalhe os resultados obtidos é possível concluir que apesar dos espalhamentos obtidos as relações A/C mantém-se dentro de limites aceitáveis, indiciando a obtenção de betões de boa compacidade. Contudo dosagens superiores a 450 kg/m3 de cimento tendem a necessitar de uma maior incorporação de água para a obtenção de igual espalhamento. Aliás nestas dosagens é extremamente difícil manter a reologia por mais de 30 minutos. Verificamos que efectivamente a dosagem de 1,5% de adjuvante conduz a uma maior redução deste parâmetro. _______________________________________________________________10/17 Rilem –Seminário Novos Desenvolvimentos do Betão, Lisboa, Setembro 2003 “Betões de elevado desempenho arquitectónico” Gráfico 1 – Variação da relação A/C e A/teor finos para diferentes dosagens de cimento e adjuvante 0,5 0,5 0,4 0,4 0,3 0,3 0,2 0,2 A/teor finos A/C Relacão A/C e A/Teor finos 1%0,1 Adjuv A/C 0,1 1,5% 0 Adjuv A/C 0 400 450 500 1% Adjuv A/finos Dosagem cimento (kg/m3) 1,5% Adjuv A/finos As resistências mecânicas obtidas são igualmente bastante satisfatórias e dentro das conseguidas habitualmente nos betões de elevadas prestações. De salientar os valores obtidos desde logo aos 2 dias de idade. Tal facto está correlacionado com o rápido desenvolvimento de resistências dos cimentos brancos, apesar de no estudo termos utilizado um cimento composto o Cem II/A-L 42,5R (br). Gráfico 2 – Desenvolvimento de resistência á Compressão para diferentes dosagens de cimento e adjuvante Resistência á Compressão para diferentes dosagens de cimento e adjuvante 75 70 65 MPa 60 55 1% Adjuv -400 kg/m3 50 1% Adjuv -450 kg/m3 45 1% Adjuv -500 kg/m3 1,5% Adjuv -400 kg/m3 40 1,5% Adjuv -450 kg/m3 35 1,5% Adjuv -500 kg/m3 30 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 Idade (dias) De forma a permitir avaliar o comportamento destes betões em termos de durabilidade e durabilidade de aparência analisamos a sua propensão para a fissuração através da retracção e as características ligadas com a permeabilidade, nomeadamente a absorção capilar e a penetração de cloretos. _______________________________________________________________11/17 Rilem –Seminário Novos Desenvolvimentos do Betão, Lisboa, Setembro 2003 “Betões de elevado desempenho arquitectónico” Gráfico 3 – Retracção aos 28 dias dos vários betões para diferentes dosagens de cimento e adjuvante Retracção em Prismas de betão 0,7 0,6 1% Adjuv mm/m 0,5 1,5% Adjuv 0,4 0,3 0,2 0,1 0 500 450 400 Dosagem cimento (kg/m3) Efectivamente os betões com uma dosagem de adjuvante com 1,5%, tendo beneficiado de uma redução nas relações A/C, atingem retracções bastante mais baixas. Gráfico 4 – Absorção capilar em provetes obtidos por moldagem e corte; várias dosagens de cimento e adjuvante Absorção Capilar (28 dias) 1% Adjuv - Moldagem g/mm2 1% Adjuv - Corte 1,5% Adjuv - Moldagem 0,0045 0,004 0,0035 0,003 0,0025 0,002 0,0015 0,001 0,0005 0 1,5% Adjuv - Corte 500 450 Dosagem cimento (kg/m3) 400 De notar que contrariamente ao sentimento generalizado que a microestrutura destes betões, vem afectada pelo facto de não sofrerem vibração, tal parece não se fazer sentir, pois os provetes obtidos por corte, portanto sem efeito de parede, apresentaram uma absorção consideravelmente inferior. Verificamos que apesar das relações A/C serem superiores nas dosagens de 500kg/m3, a absorção capilar apresentou o seu valor mínimo exactamente naqueles betões. A capacidade de absorção está pois muito interligada com a compacidade da micro-estrutura e portanto também com o número e intensidade das ligações da rede silicatada hidratada que, nesta dosagem, são obviamente superiores. _______________________________________________________________12/17 Rilem –Seminário Novos Desenvolvimentos do Betão, Lisboa, Setembro 2003 “Betões de elevado desempenho arquitectónico” Este efeito é igualmente sentido na permeabilidade aos iões cloreto, pois apesar de relações A/C não muito distintas (entre os 450 e os 500 kg/m3), os betões de 500 kg/m3 de ligante apresentam uma passagem de carga inferior. Gráfico 5 – Correlação entre a relação A/C e a permeabilidade aos cloretos; várias dosagens de cimento e adjuvante Correlação entre Penetração de Cloretos e a relação A/C 0,5 3500 Coulomb 2500 0,42 0,38 0,42 0,38 0,45 0,41 0,4 0,35 0,3 2000 0,25 1500 0,2 1000 0,15 A/C 3000 0,46 0,1 500 0,05 0 0 500 450 Dosagem de cimento (kg/m3) 400 1% Adjuv 1,5% Adjuv 1% Adjuv 1,5% Adjuv Em conclusão do estudo, seriamos conduzidos a optar por dosagens da ordem dos 450 kg/m3 de ligante e 50 kg/m3 de fíler com dosagens de superplastificante da ordem de 1,5% do peso de cimento, pois os resultados agora obtidos quer sob o ponto de vista de performances mecânicas, quer de durabilidade elegem esta dosagem. Todavia as restrições de caracter económico levam-nos a optar por betões de dosagem de 400 kg/m3 de cimento, obtendo-se performances, quer ao nível do acabamento e propriedades reológicas, quer ao nível da durabilidade, resultados ainda assim bastante interessantes. Existem no nosso país já algumas aplicações de betões deste tipo com composições dentro desta gama, mas ajustada aos materiais locais, utilizados tanto in situ com em pré-fabricação. Salientamos a última obra executada, a viga de coroamento da fachada do Edifício do AltoParque, executada pela Engil. As restrições baseavam-se na aposta arquitectónica duma extrema esbelteza de uma viga com um vão de 60m apoiada praticamente nos extremos. Por condicionantes de projecto o peso próprio admissível implicou espessuras do caixão de cerca de 10 cm, o que face aos recobrimentos necessários e á armadura, impedia a pervibração, daí a opção por este tipo de betão. Na foto 3 e 4 apresentamos algumas imagens da obra, onde é possível verificar a qualidade da pele do betão obtida, cumpridas que foram as regras de aplicação. _______________________________________________________________13/17 Rilem –Seminário Novos Desenvolvimentos do Betão, Lisboa, Setembro 2003 “Betões de elevado desempenho arquitectónico” Foto 3 – Alto Parque vista geral Foto 4 – Alto Parque vista de pormenor 4.2 – Betão Arenoso Pretendendo-se desenvolver um betão de cor e textura arenítica para aplicação em peças de placagem de dimensões confinadas, a peças monolíticas de grande desenvolvimento vertical e em extensão, procurou-se partindo de um micro-betão de origem siliciosa atingirem-se os efeitos pretendidos. A composição estudada encontra-se resumida no quadro 2, bem como as suas principais características técnicas. A técnica utilizada visava atingir-se o efeito do arenito natural quer em termos de coloração quer textura. Assim somente com recurso á pigmentação natural das areias e com cimento branco produziram-se diversas amostras onde foi aplicada a técnica da desactivação com várias profundidades de ataque; 0,2 a 0,8mm. Quadro 2 – Resumos das composições estudadas e respectivos resultados laboratoriais Composição A B Cem II /A-L 42,5R (br) Filer Calcário Areia fina siliciosa Areia média siliciosa kg/m3 kg/m3 kg/m3 kg/m3 390 100 651 1071 420 70 645 1071 Optima 200 % p.c. 1,5 1,5 0,43 0,34 22 18 0,41 0,33 23 17 26,2 35,8 42,9 51528 0,360 0,0038 28,9 39,4 48,7 52079 0,380 0,0032 Betão Fresco: A/C A/teor finos Slump inicial Slump após 60 min cm cm Betão Endurecido: Resistência Compressão 2 dias 7dias 28 dias Módulo Elastecidade Dinâmico (28 dias) Retracção (28 dias) Absorção capilar (28 dias) MPa MPa mm/m _______________________________________________________________14/17 Rilem –Seminário Novos Desenvolvimentos do Betão, Lisboa, Setembro 2003 “Betões de elevado desempenho arquitectónico” Seguiu-se um estudo das condições de aplicação do desactivante no molde, isto é a eficiência do princípio activo do produto com aplicação no molde e a sua vida útil até á betonagem. Para os produtos utilizados e face ás temperaturas correntes em período de verão verificou-se que o tempo de vida do desactivante no molde antes da betonagem variava consideravelmente e assim sendo havia que respeitar prazos ou alterar o tipo de produto, função da sua profundidade de ataque no caso de se pretender dilatar este prazo e manter a textura. Na gráfico 6 resumimos os resultados obtidos Gráfico 6 – Vida útil do desactivante no molde Profundidade de ataque (mm) Vida Útil do desactivante no molde 6 5 20º Lav 02 4 20º Lav 06 3 30º Lav 02 2 30º Lav 06 1 0 0 1 2 3 4 Tempo de espera no molde (horas) 5 Face aos resultados obtidos foi então possível definir o tipo de produto a aplicar em função da temperatura e da profundidade de ataque pretendida, perante a expectativa da preparação da betonagem. Outro factor condicionante, mas não tão sensível em relação á temperatura é a lavagem após endurecimento. Verificamos que este facto condiciona a desmoldagem logo após 24 horas, passado este período o custo da lavagem, em virtude da dificuldade da mesma, acresce significativamente. Este tipo de acabamento em obras de grande extensão resulta extraordinariamente sob o ponto de vista arquitectónico, contudo á que ter em conta que se trata de um betão sensível em termos de heterogeneidades de cor. Assim sendo é conveniente um controlo rigoroso do teor de finos e matérias-orgânicas das areias, sob pena de surgirem tonalidades diferentes face a face. Uma variação de 1% no máximo do teor de argila é o valor admissível para garantir uma coloração homogénea. No caso de utilização de areia britada de calcário, estes cuidados deverão ser acrescidos. Face aos resultados obtidos foi então possível estabelecer uma metodologia de aplicação deste material. Uma aplicação em extensão, com betão in situ está ainda a decorrer, efectuada pela IEC-Construções, nos arranjos exteriores da Faculdade de Ciências de Lisboa, sendo _______________________________________________________________15/17 Rilem –Seminário Novos Desenvolvimentos do Betão, Lisboa, Setembro 2003 “Betões de elevado desempenho arquitectónico” o betão fornecido pela Unibetão. Básicamente a metodologia aplicada em Obra foi a estudada em Laboratório com ligeiros ajustes da composição face aos materiais disponíveis na Central, nomeadamente houve necessidade de substituir parte da areia e do filer por uma areia britada de calcário, com idêntico teor, proporcionalmente, daqueles materiais. Nesta Obra pretendia-se sob o ponto de vista arquitectónico uma integração dos muros de suporte na envolvente com se de pedra monolítica se tratasse. Efectivamente os resultados obtidos até á data tem igualmente sido bastante satisfatórios. Fig. 2 – Vista geral de aplicação de betão arenítico, pormenor da textura, variações de coloração em virtude do teor argila da areia britada utilizada. 5 CONCLUSÕES: Resume-se neste trabalho alguns estudos que se tem efectuado com vista a desenvolver os betões de cimento na sua vertente estética, procurando-se com um único material desempenhar funções estruturais e de revestimento, até então conseguidas com recursos a capeamentos a pedra natural e/ou cerâmicos. _______________________________________________________________16/17 Rilem –Seminário Novos Desenvolvimentos do Betão, Lisboa, Setembro 2003 “Betões de elevado desempenho arquitectónico” Apresentamos resultados dos ensaios laboratoriais efectuados e dois exemplos de obra onde estas novas técnicas de fabrico e aplicação foram adoptadas com resultados bastante interessantes. Bibliografia: -Hunter, Richard; “Measurement of appearance” -Cimbéton;”Conception et execution du béton désactivé” -PCI Precast/Prestressed Concrete Institute; “Architectural precast concrete” -Minguela,D.Jesús Díaz;”reciclado in situ com cemento de firmes” V jornadas de pavimentos de hormigón -Esteves,Ana Maria-“A comparative study of the performance of white and grey cement concrete to environmental conditions”LNEC,1998 Nunes,Angela;”Verificação da Funcionalidade da Pedra de Cimento”;Materiais 97 -IVO Power,Skanska (Se) STABU(Nl) Brite-Euram BE 96-3016;”Concurrent Design and Engineering in Building and Civil Engineering” -Nero, Gaspar/Nunes,Angela- “Improvement of white concrete”ERMCO,Lisboa, 1998 -Nunes, Angela -“O futuro do betão; as potencialidades por descobrir”-1ºseminário Avançado de Arquitectura em Betão; ATIC, Nov.2002 _______________________________________________________________17/17