Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia CONTECC’ 2015 Centro de Eventos do Ceará - Fortaleza - CE 15 a 18 de setembro de 2015 ÍNDICES BIOCLIMÁTICOS E SIMULAÇÃO FUZZY NA CRIAÇÃO DE OVINOS SANTA INÊS COM E SEM COBERTURA JOSÉ PINHEIRO LOPES NETO1*, JOSÉ HENRIQUE SOUZA COSTA2, DERMEVAL ARAÚJO FURTADO3, JOSÉ WALLACE BARBOSA DO NASCIMENTO3, FERNANDA FERNANDES DE MELO LOPES4 1 Dr. Prof. Engenharia Agrícola, UFCG, Campina Grande-PB. Fone: (83) 2101-1490, [email protected] 2 Doutorando em Engenharia agrícola, UFCG, [email protected] 3 Titular, Professor Engenharia Agrícola, UFCG, Campina Grande-PB, [email protected], [email protected] 4 Dra. Professora Agronomia, UFPB, Areia-PB. [email protected] Apresentado no Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia – CONTECC’ 2015 15 a 18 de setembro de 2015 - Fortaleza-CE, Brasil RESUMO: A criação de ovinos deve ser balizada pela máxima produção com mínimo consumo de alimentos o que, para a região nordestina brasileira, esta premissa esbarra nas adversidades climáticas regionais. A presente pesquisa teve como objetivo caracterizar dois ambientes térmicos, sendo um com cobertura e outro sem cobertura. Para tal, foram mantidos 5 ovinos Santa Inês em dois piquetes cada, um com cobertura e outro sem. Foram avaliados o Índice de Temperatura de Globo e Umidade (ITGU) e Carga Térmica Radiante (CTR). Foi criado um modelo simulador com base na lógica Fuzzy tomando-se com dados de entrada as variáveis temperatura e umidade. Pode-se concluir que nos períodos críticos, 12 às 14h, a cobertura foi insuficiente para diferenciar o estresse entre os ambientes. Nos demais horários foram encontradas diferenças indicando que o ambiente descoberto é o mais estressor. O modelo criado reproduzir com exatidão os dados experimentais. PALAVRAS–CHAVE: Estresse térmico, abrigo, conforto térmico BIOCLIMATIC INDEXES AND FUZZY SIMULATION TO SANTA INÊS SHEEP BRED WITH AND WITHOUT SHADING ABSTRACT: The sheep should be buoyed by the maximum production with minimum consumption of foods which, for the Brazilian Northeast, this premise bumps on regional climatic adversities. This study aimed to characterize two thermal environments, one with and one without coverage coverage. To this end, they were kept 5 Santa Ines sheep in two pickets each, one with and one without coverage. The Globe and Humidity Temperature Index (WBGT) and Radiant Thermal Load (CTR) were evaluated. A model simulator based on fuzzy logic taking with input data variables temperature and humidity was created. It can be concluded that the critical periods, 12 to 14h, coverage was insufficient to differentiate between stress environments. At other times differences were found indicating that the outdoor environment is the most stressor. The model created to exactly reproduce the experimental data. KEYWORDS: heat stress, shelter, thermal confort INTRODUÇÃO A ovinocultura no nordeste brasileiro representa para pequenas propriedades rurais, fonte de geração de recursos (Ribeiro et al., 2008) sendo explorada com baixo nível tecnológico. Santos et al. (2011) citam que nesta região a maior parte dos ovinos é criada em pastagens com pouca ou nenhuma sombra e analisando o efeito do sombreamento no conforto de ovinos Santa Inês, concluíram que a sombra proporcionada pelas árvores reduziu a carga térmica radiante em até 44,7%, propiciando um melhor ambiente térmico para os animais. Relativo ao conforto de ovinos Santa Inês, Neves et al. (2009) encontraram temperatura máxima (35°C) acima da zona de conforto térmico (30°C) preconizada para ovinos, com valores de índice de temperatura de globo negro e umidade caracterizando situação de desconforto térmico; valores elevados de ITGU na região semiárida também são citados por Leitão et al. (2013). Neste sentido, a pesquisa teve como objetivo analisar os índices bioclimáticos de ovinos Santa Inês criados com e sem cobertura na tentativa de verificar possíveis condições de estresse térmico. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi executado à campo, no qual foram confinados 10 ovinos machos da raça Santa Inês, média de 24 meses de idade, em dois piquetes de área igual de 24 m² cada, um descoberto e outro provido de cobertura de telhas fibrocimento com pé-direito de 3 m. Esta etapa foi executada em Caturité-PB (7º25’12’’ S e 36º1’3’’ O) com características climáticas de Köppen de clima semiárido, temperaturas máximas de 37º e mínimas de 16º C e precipitação pluviométrica anual de 500 mm. Foi executado nos meses de abril e maio de 2012, com período pré-experimental de 77 dias destinados a adaptação dos animais às condições de teste e 46 dias a coleta. Os animais foram confinados, recebendo ração composta de silagem de sorgo e concentrado balanceado, a base de farelo de soja e milho, fornecida duas vezes ao dia, às 7 e 16 h. A água foi fornecida à vontade. Para coleta da temperatura de globo negro (TGN) utilizou-se globos negros calibrados com o modelo padrão, posicionados nos dois ambientes, à altura correspondente ao centro de massa dos animais. Os dados de temperatura do ar (TA) e umidade relativa do ar (UR) foram obtidos por meio de sensores eletrônicos. A velocidade do vento (vv) foi coletada por meio de termohigroanemômetro digital. Assim foi possível calcular o índice de temperatura de globo negro e umidade (ITGU) para os ambientes, calculado pela formula proposta por Buffington et al. (1981). A Carga Térmica Radiante (CTR) foi calculada aplicando-se a metodologia de Esmay (1969). Os dados climáticos foram coletados a cada 60 min durante as 24h de cada dia de experimento, e analisou-se os valores no intervalo de 7 às 17h, uma vez que tinha-se por objetivo avaliar o efeito dos dois ambientes sobre os parâmetros bioclimáticos e fisiológicos, optando-se, também, basear a construção do modelo computacional nos dados experimentais com intervalos de 120min. Na segunda etapa da pesquisa, foi idealizado um modelo computacional baseado na teoria dos conjuntos Fuzzy, tendo como variáveis de entrada os valores de TA e UR e como dados de saída as variáveis bioclimáticas ITGU e CTR para o ambiente coberto e descoberto. RESULTADOS E DISCUSSÃO As maiores médias observadas para ITGU foram no ambiente descoberto às 13 e 14h iguais a 90,8 e 90,4, respectivamente. Para o ambiente coberto, os maiores valores foram registrados das 12 às 14h sendo igual a 81,7 (Figura 1). Figura 1. Índice de Temperatura Globo e Umidade nos dois ambientes Leitão et al. (2013) encontraram valores de ITGU acima de 94 ao manter ovinos Santa Inês em piquetes desprovidos de cobertura em Juazeiro do Norte – Ba no período seco concluindo que a existência de uma cobertura pode apresentar efeito significativo na redução da condição estressora para ovinos criados no semiárido, fato este corroborado pela presente pesquisa uma vez que foi encontrada uma redução de até 10% no valor do ITGU entre os dois ambientes. Contudo, segundo Oliveira et al. (2013), apesar da cobertura ter reduzido significativamente os valores de ITGU quando comparados com o ambiente descoberto, os autores não observaram reflexo desta nos parâmetros de comportamento como atividade de alimentação, de ruminação ou ócio, quando comparado com o tratamento sem sombreamento para ovinos Santa Inês. Na presente pesquisa, o maior valor de temperatura do ar foi encontrado para o ambiente descoberto às 12h (34,2º C) ficando próxima à temperatura preconizada como estressora de 35º C encontrada por Neves et al. (2009) para ovinos Santa Inês criados nos agreste pernambucano, o que confirma uma situação de alerta, independente do ambiente estudado. Na Figura 2 observam-se as curvas de simulação para a variável ITGU para os dois ambientes. Para o ambiente coberto a equação de correlação obtida entre as variáveis experimentais e simuladas foi com R² = 0,99. Para o ambiente descoberto, a equação encontrada foi com R² = 0,99. Essa elevada correlação também foi obtida em estudos realizados por Pandorfi et al. (2007) e Nascimento et al. (2011) na tentativa bem sucedida de se estimar valores para os índices de conforto, em especial para as condições mais críticas. Figura 2. Superfícies de simulação do ITGU via Lógica Fuzzy. A. Ambiente coberto; B. Ambiente descoberto Os máximos valores de Carga Térmica Radiante observados foram de 956,2 e 887,3 W.m-2 para os ambientes descoberto e coberto, respectivamente, ambos no horário das 12h (Figura 3). Ribeiro et al. (2008) avaliaram a CTR em ambientes cobertos com telha cerâmica no confinamento de ovinos nativos em São João do Cariri - PB e encontraram às 15h o maior valor igual à 543,5 W m-2. Isto significa que mesmo considerando a telha de fibrocimento com maiores valores de absortividade e transmitância térmica do que a telha cerâmica, os valores de CTR da presente pesquisa ainda apresentam-se estressores, sobretudo para o ambiente descoberto. Figura 3. Carga Térmica Radiante nos dois ambientes Ao estudar variação da CTR entre o ambiente interno e externo em modelos reduzidos com diferentes coberturas, Cardoso et al. (2011) concluíram que a existência de cobertura pode amortecer em até 40% a energia térmica radiante nos horários mais quentes do dia, o que não é corroborado pela presente pesquisa uma vez que a redução da CTR para o ambiente interno foi de apenas 8%. Isto pode ser explicado pela existência de paredes laterais no ambiente coberto que podem ter atuado como barreira para a ventilação, resultando em maior estocagem de energia térmica ao longo do dia e conseguinte aumento da temperatura de globo negro. Outro fator que é importante destacar era a existência de cobertura vegetal no solo no experimento executado por Cardoso et al. (2011) e a falta deste na atual pesquisa, o que certamente contribuiu para maiores valores de CTR e menores diferenças entre os ambientes analisados. Na Figura 4 observa-se as curvas de simulação para a variável CTR para os dois ambientes. Para o ambiente coberto a equação de correlação obtida entre as variáveis experimentais e simuladas foi com R² = 0,99. Para o ambiente descoberto, a equação encontrada foi com R² = 0,98. Figura 4. Superfícies de simulação da CTR via Lógica Fuzzy. A. Ambiente coberto; B. Ambiente descoberto CONCLUSÕES Nos horários críticos entre 12 e 14 h, o ambiente térmico foi considerado como situação de alerta para ambos os ambientes e a existência da cobertura de fibrocimento em um dos ambientes foi insuficiente para o amortecimento da Carga Térmica Radiante. Os modelos de simulação reproduziram com fidelidade os valores experimentais com coeficientes de determinação, em geral, superiores à 0,98. REFERÊNCIAS Buffington, C. S.; Collazo-Arocho, A.; Canton, G. H.; Pitt, D.; Thatcher, W. W.; Collier, R. J. Black globe humidity index (BGHI) as comfort equation for dairy cows. Transactions of the ASAE, v.24, n.3, p.711-714, 1981. Cardoso, A. S.; Baeta, F. C.; Tinôco, I. F. F., Cardoso, V. A. S. Coberturas com materiais alternativos de instalações de produção animal com vistas ao conforto térmico. Engenharia na agricultura, v.19 n.5, p.404-421, 2011. Esmay, M. L. Principles of animal environment. 2.ed. West Port: AVI, 1969. 325p. Leitão, M. V. B. R.; Oliveira, G. M.; Almeida, A. C.; Sousa, P. H. F. Conforto e estresse térmico em ovinos no Norte da Bahia. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.17, n.12, p.1355– 1360, 2013. Nascimento, G. R.; Pereira, D. F.; Nääs, I. A.; Rodrigues, L. H. A. Índice Fuzzy de conforto térmico para frangos de corte. Engenharia Agrícola, v.31, n.2, p.219-229, 2011. Neves, M. L. M. W.; Azevedo, M.; Costa, L. A. B.; Guim, A.; Leite, A. M.; Chagas, J. C. Níveis críticos do Índice de Conforto Térmico para ovinos da raça Santa Inês criados a pasto no agreste do Estado de Pernambuco. Acta Scientiarum. 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