AVALIAÇÃO DE TEMPERATURA E UMIDADE RELATIVA DO AR EM ESTUFA COM COBERTURA DE POLIETILENO Marcelo Augusto de Aguiar e Silva, João Francisco Escobedo, Emerson Galvani, Antonio Ribeiro da Cunha Departamento de Recursos Naturais – FCA/UNESP, Botucatu-SP e-mail: [email protected] ABSTRACT In the present work it was evaluated the temperature and the relative humidity of the air in greenhouse and external conditions being both soil nude. Larger influence of the greenhouse was observed in the values of maximum temperature and in the minimum relative humidity of the air. Among the medium and minimum temperatures of the air between inside and outside greenhouse and the relative humidity of the air average and maximum significant difference was not observed. INTRODUÇÃO No Brasil a superfície coberta por casas de vegetação (casas de vidro e polietileno), é de aproximadamente 1000 ha, as quais são utilizadas para cultivos e produção de plantas ornamentais, hortaliças e mudas das mais variadas espécies de plantas. Na área científica, a utilização de casas de vegetação ocupa um espaço de, aproximadamente, 40 ha (Oliveira, 1995). As vantagens de utilização desses ambientes fechados ou semi-fechados são muitas, dentre elas: maior proteção contra fenômenos climáticos, geadas, granizo, excesso de chuva, “sol forte” durante o dia e queda de temperatura à noite; proteção do solo contra lixiviação; redução dos custos com fertilizantes e defensivos, e, ainda melhor controle de pragas e doenças. O cultivo de plantas ornamentais e hortaliças em casas de vegetação cobertas com polietileno está expandindo-se, com o objetivo de se obter maior produtividade, melhor qualidade, e barateamento do produto durante a entressafra. As colheitas nesses ambientes excedem sensivelmente as que se obtém a céu aberto. Esse aumento de produção é duas a três vezes maior, já que as culturas não sofrem influência dos fatores negativos quando a céu aberto (Oliveira et al., 1992). Porém, nem tudo são vantagens, ainda esses autores destacam algumas desvantagens do uso de casas de vegetação, dentre elas: manutenção e conserto das casas de vegetação são muito onerosos; o interior das casas de vegetação podem atingir valores de temperatura muito elevados durante o dia; nos meses mais quentes (dezembro, janeiro e fevereiro) altas temperaturas associado a altas valores de umidade podem levar a formação de verrugas sobre as folhas, necrosando o tecido; doenças no solo e foliares são mais agressivas e difíceis de serem tratadas, em alguns casos é necessário a mudança do local da casa de vegetação a cada intervalo de 2 anos; pragas atacam plantas que normalmente são hospedeiras no campo; explosão de pragas, insetos e ácaros o ano todo; falta de inimigos naturais para o controle; resistência por parte das pragas ao controle químico; dificulta a presença de agentes polinizadores, entre outras. Segundo Villele (1983) e Alpi & Tognoni (1984) as temperaturas mínimas do ar são em média de 1 a 3 oC superiores em estufas de polietileno, no entanto, constatou-se a ocorrência de dias em que a temperatura mínima do ar foi inferior a condição de campo, um efeito contrário ao desejado. Esse fenômeno é conhecido como “inversão térmica” ocasionado pela alta permeabilidade do polietileno de baixa densidade (PEBD) à radiação de ondas longa. Camacho et al. (1995) observaram nas condições climáticas de Capão do Leão-RS, que o maior efeito da cobertura de polietileno (100 micras) sobre a temperatura do ar ocorreu em seus valores máximos, verificando valores superiores em condição interna. Sobre a temperatura mínima encontraram valores inferiores em condição interna, entre os meses de junho e outubro, denotando a incapacidade do abrigo em proporcionar um adequado armazenamento de energia, o que foi atribuído a grande transparência do material de cobertura às radiações de ondas longa. Em estruturas semelhantes Buriol et al. (1993), constataram diferenças significativas entre as temperaturas mínimas entre os ambientes externo e interno, com 1,2 oC superiores em ambiente interno. Faria Jr. (1997) em Ilha Solteira-SP, durante o período de verão verificou que os valores de temperatura máxima foram mais elevados nas estufas que em condição de campo (entre 3 e 5 oC). Em relação às temperaturas mínimas, as diferenças foram muito pequenas (0,3 oC) entre as estufas e a testemunha sem proteção plástica. Observaram ainda que os valores de umidade relativa foram superiores em condição interna. Herter & Reisser Jr. (1987), estudando o microclima formado no interior de estufas modelo capela, na região de Pelotas, RS, constataram que a variação da temperatura noturna apresentou valores muito próximos, interna e externamente, com pequena diferença maior no interior (0,1 a 0,8 oC). Com relação as temperaturas 31 máximas encontraram diferenças da ordem de 4,0 a 4,3 oC superiores no ambiente interno. Estudando perfis horizontais de temperatura verificaram valores decrescentes da parte central para as laterais, enquanto que, os perfis verticais os menores valores foram encontrados junto ao solo. Martins (1992), encontrou em estufa modelo capela, durante o verão, em Jaboticabal, SP, maiores valores de temperatura máxima no interior da estufa, porém houve pequeno efeito da cobertura na temperatura mínima e na umidade relativa do ar. A amplitude térmica foi menor na estufa, quando comparada àquela obtida em campo aberto. De acordo com observações de Farias et al. (1993), os valores de temperatura e umidade relativa do ar, verificados no interior de uma estufa capela, localizada em Capão do Leão, RS, e aqueles do ambiente externo, ficaram bastante próximos. Os maiores efeitos da cobertura plástica ocorreu sobre as temperaturas máximas, resultando em valores médios decendiais superiores em 1,2 a 4,4 oC que aqueles obtidos em condição de campo. Para os valores médios, internos e externos, de temperatura mínima do ar estes apresentaram-se muito próximos. O objetivo do presente trabalho foi avaliar o comportamento da temperatura e da umidade relativa do ar em estufas de polietileno de baixa densidade nas condições climáticas de Botucatu-SP, dentro e fora de estufa de polietileno na ausência de cobertura de solo. MATERIAL E MÉTODOS 1. Construção da estufa O experimento foi conduzido junto a área experimental do Departamento de Recursos Naturais da FCA/UNESP, campus de Botucatu, SP, situado na latitude de 22o 51’ S, longitude 48o 26’ W e, altitude de 786 metros. A estufa construída foi do modelo PLANTPROTEC 700, tipo túnel, com área de 140 m2, sendo 7,0m de largura, por 20,0 m de comprimento, com laterais a 2,2 m acima do nível do solo e arco central de 4,0 m. O polietileno utilizado foi de 120 µm de espessura na cobertura e as laterais de sombrite a 50% (figura 1). A estufa foi orientada no sentido leste-oeste geográfico. Figura 1: Esquema representativo da estufa. 2. Instrumental e técnica utilizadas A temperatura e umidade do ar foram monitoradas com auxílio de sensores da Campbell Scientific, Inc. modelo HMP35C-U VAISALA. Os sensores foram instalados em micro-abrigos de PVC (polivinilclorídrico) e dispostos a uma altura de 2,0 m da superfície do solo. As medidas de temperatura e umidade relativa do ar foram obtidas instantaneamente em intervalos de cinco segundos com médias geradas a cada cinco minutos. Os sensores foram conectados a um coletor de dados automatizados micrologger 21X Campbell Scientific, Inc.. Durante todo o período (11/06/99 a 11/02/2000) do experimento o solo foi mantido sem nenhuma cobertura. Os valores de temperatura e umidade média, máxima e mínima do ar (média diária) entre os ambientes foram testados através de teste de Tukey ao nível de 95% de probabilidade. 32 RESULTADOS E DISCUSSÃO 1. Curva diária de temperatura do ar A figura 2 (a) mostra a curva diária de temperatura do ar em condições interna e externa. Observa-se variação semelhante entre os dois ambientes com valores médios não diferindo estatisticamente entre os ambientes, com médias de 13,67 e 13,45 oC para o ambiente interno e externo, respectivamente. A figura 2 (b) apresenta curva diária de umidade relativa do ar com valores significativamente diferentes entre os dois ambientes, com média de 81,2% no ambiente interno e 83,8% no externo. 100 24 95 22 90 Umidade relativa do ar (%) Temperatura do ar o(C) 20 18 interno 16 14 externo 12 85 externo 80 75 70 65 interno 60 10 55 50 8 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 0 24 2 4 31/07/99 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 31/07/99 (a) (b) Figura 2: Curvas diária de temperatura do ar (a) e umidade relativa do ar (b) em condições de ambiente interno e externo a estufa de polietileno na data de 31/07/99 (dia com céu limpo). 2. Temperatura máxima, mínima e média do ar A figura 3 mostra a variação da temperatura média do ar ao longo do período do experimento. A temperatura do ar média para todo o período do experimento foi de 20,84 e 20,37 oC, para as condições interna e externa, respectivamente. 35 25 o Temperatura Media ( C) 30 20 15 TARINmed TAREXmed 10 5 01/06/1999 20/07/1999 07/09/1999 26/10/1999 14/12/1999 01/02/2000 Figura 3: Valores médios de temperatura do ar em ambiente interno (TARINmed) e externo (TAREXmed) ao longo do experimento para as condições climáticas de Botucatu-SP. No quadro 1 observamos não existir diferença significativa entre os valores médios e mínimos de temperatura do ar. Para os valores máximos observa-se diferença significativa concordando com os resultados obtidos por Vilelle (1983), Herter & Heisser Jr. (1987), Buriol et al. (1993), Farias et al. (1993), Camacho et al. (1995) e Faria Jr. (1997). A temperatura mínima não apresentou diferença significativa entre os ambientes, fato que está associado a ausência de camada de condensação e a alta transmissividade do polietileno de baixa densidade a radiação de ondas longa (Tapia, 1981; Robledo de Pedro & Martin, 1988). 33 Quadro 1: Análise estatística através do teste de Tukey dos valores médios, máximos e mínimos de temperatura do ar em condição interna e externa a estufa ao longo do experimento. Temperatura do ar (oC) Valores médios Valores máximos Valores mínimos Interno Externo Interno Externo Interno Externo 20,84 a 20,37 a 28,63 a 26,38 b 15,18 a 15,38 a Valores seguidos de mesma letra na coluna não diferem significativamente em nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey. 2. Umidade relativa do ar máxima, mínima e media A figura 4 apresenta a variação da umidade relativa do ar nos dois ambientes. A curva de umidade relativa média diária do ar para o período do experimento apresenta curva inversa a da temperatura média do ar para o mesmo período. Tal fato ocorre em função do ar apresentar maior capacidade de retenção de vapor d’água com o aumento da temperatura, o ar funciona, então, como um reservatório que se expande/contrai com o aumento/decréscimo da temperatura (Pereira et al. 1997). 100 Umidade relativa do ar (%) 80 60 40 UARINmed UAREXmed 20 01/06/1999 20/07/1999 07/09/1999 26/10/1999 14/12/1999 01/02/2000 Figura 4: Valores médios de umidade relativa do ar em ambiente interno (UARINmed) e externo (UAREXmed) ao longo do experimento para as condições climáticas de Botucatu-SP. Quadro 2: Análise estatística através do teste de Tukey dos valores médios, máximos e mínimos de umidade relativa do ar em condição interna e externa a estufa ao longo do experimento. Umidade relativa do ar (%) Valores médios Valores máximos Valores mínimos Interno Externo Interno Externo Interno Externo 67,36 a 69,24 a 88,58 a 89,22 a 41,60 a 46,26 b Valores seguidos de mesma letra na coluna não diferem significativamente em nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey. O quadro 2 apresenta diferença significativa entre os valores mínimos de umidade relativa do ar, fato que corrobora com os valores máximos de temperatura do ar (quadro 1), mostrando existir uma relação inversa entre temperatura e umidade relativa do ar (Pereira et al. 1997). CONCLUSÕES - Considerando os resultados obtidos e as condições experimentais do período, conclui-se que: Não houve diferença significativa entre as temperaturas médias e mínimas do ar entre os ambientes. A umidade relativa do ar média e máxima não apresentou diferença significativa entre os ambientes. A maior influência da estufa foi observado na temperatura máxima e na umidade relativa mínima do ar. 34 AGRADECIMENTOS O primeiro autor agradece a FAPESP (Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo) por intermédio dos processos de número 99/06770-3). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALPI, A.; TOGNONI, F. El cultivo en invernadero. Lisboa: Presença, 1984. 196p. BURIOL, G.A.; SCHNEIDER, F.M.; STEFANEL, V.; ANDRIOLO, J.L.; MEDEIROS, S.L.P. Modificação na temperatura mínima do ar causada por estufas de polietileno transparente de baixa densidade. Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, v.1, n.1, p.43-49, 1993. CAMACHO, M. J., ASSIS, F.N. de., MARTINS, S.R., MENDEZ, M.E.G. Avaliação de elementos meteorológicos em estufa plástica em Pelotas, RS. Revista Brasileira de Agrometeorologia, v.3, p.19-24, 1995. FARIAS, J.R.B.; BERGAMASCHI, H.; MARTINS, S.R.; BERLATO, M.A.; OLIVEIRA, A.C.B. Alterações na temperatura e umidade relativa doar provocadas pelo uso de estufa plástica. 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