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CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, terça-feira, 15 de fevereiro de 2011 • Cidades • 37
São Sebastiãopr
Varejo tira as drogas de cena
Embora a violência e o tráfico de entorpecentes não sejam equações resolvidas, a chegada de redes populares de comércio colaborou
para mudar o perfil da cidade. Agora, a população reivindica casas de diversão, espaços de lazer, restaurantes e agências bancárias
» DIEGO AMORIM
Fotos: Zuleika de Souza/CB/D.A Press - 22/12/10
A
s mais importantes lojas populares de eletrodomésticos e calçados
do país ocuparam o espaço de bocas de fumo em São
Sebastião. A avenida que até
cinco anos atrás era ponto de
encontro de usuários e traficantes de drogas hoje reúne magazines lado a lado. A movimentação no centro comercial mais
badalado da cidade agora é à
luz do dia, ao longo da semana.
O tráfico e a violência não são
problemas resolvidos, mas o dinamismo da economia local
ajudou os moradores a conquistar a liberdade de sair às ruas e
consumir bens e serviços.
São Sebastião nasceu antes
mesmo da capital federal. Naquela região, a 26km do centro
de Brasília, foram instaladas as
olarias que forneciam os tijolos
usados para erguer os monumentos de Oscar Niemeyer. A tímida agrovila ganhou a condição de região administrativa em
1993 e, desde então, passou a
crescer ainda mais rápido. Novos bairros surgiram e trouxeram asfalto para as ruelas empoeiradas. O governo criou linhas de ônibus e levou água,
esgoto e energia elétrica para as
áreas desabastecidas. A infraestrutura atraiu mais gente e a
população atingiu a marca de
100 mil pessoas.
O adensamento populacional forçou o desenvolvimento
do comércio. Hoje são cerca de
1,2 mil empresas espalhadas pela cidade, com destaque para
supermercados, madeireiras e
lojas de material de construção.
O presidente da Associação Comercial e Industrial de São Sebastião, José Carvalho Pereira
Júnior, acredita que, apesar do
avanço, há muito espaço para
investimentos, principalmente
nas áreas de lazer e gastronomia. “Não temos churrascaria,
por exemplo. Os moradores passam o fim de semana com dinheiro no bolso, mas não têm
onde gastar”, comenta.
A expectativa é que, nos próximos anos, a região se consolide como importante centro econômico do Distrito Federal.
Com o lançamento da primeira
etapa do Setor Habitacional
Mangueiral, até 2014 são esperados 20 mil novos habitantes.
“Toda essa gente vai consumir
em São Sebastião”, prevê Júnior. O sócio-diretor da Valorum
Agora a gente pode
comprar de tudo aqui.
Quando eu era
pequena, precisava
descer para o Plano
(Piloto)”
Francisco Santos, dono da rede de supermercados que emprega 200 pessoas, foi tachado de louco por investir na cidade : “Resolvi apostar e deu certo”
Novo bairro
Quando for concluído, o Setor
Habitacional Mangueiral terá
8 mil casas e apartamentos e
abrigará cerca de 30 mil
moradores. O novo complexo
possui 200 hectares e se estende
ao longo da DF-463, em direção
a São Sebastião. Os imóveis
serão destinados a pessoas que
ganham até 12 salários
mínimos, preferencialmente
inscritas na Companhia de
Desenvolvimento Habitacional
do DF (Codhab).
Consultoria em Gestão Estratégica, Marcos André Melo, lembra ainda o potencial consumidor de moradores de condomínios de luxo, como o AlphaVille, que está sendo erguido naquela direção. “Isso também
vai mexer com a economia da
cidade”, aposta.
Reivindicações
O desenvolvimento fez surgir
prédios de até quatro andares, o
que era improvável na opinião
dos mais antigos. Em geral, a população mostra-se satisfeita com
as mudanças ocorridas na última
década. “Agora a gente pode
comprar de tudo aqui. Quando
eu era pequena, precisava descer
para o Plano (Piloto)”, compara a
professora Elizete Rodrigues, 32
anos, filha do fundador da cidade, o conhecido Tião Areia. “Só
que a gente sempre quer mais.
Faltam bancos e o atendimento
no comércio precisa melhorar”,
reclama Elizete, nascida e criada
em São Sebastião.
Nos supermercados da cidade, os clientes exigem produtos
de primeira linha. “Se colocar
marcas ‘tipo dois’ nas prateleiras, não vende”, conta Francisco Guilherme dos Santos, 44
anos, dono da rede que mais
Elizete Rodrigues,
32 anos, filha do fundador da
cidade, Tião Areia
cria empregos na região administrativa. Somam-se 200 funcionários nas duas lojas. “Quando
abri a segunda unidade, em 2007,
muita gente me chamou de louco. Resolvi apostar e deu certo”,
comenta ele, filho de pioneiro,
que chegou ao DF aos 5 anos.
“Vendemos uma fazenda para
abrir o comércio na cidade”, conta Santos. O faturamento da empresa cresce a cada ano.
Até outubro, a primeira unidade da rede de supermercados,
inaugurada em 1990 como açougue e sacolão, será transferida
para um espaço duas vezes
maior, de 2 mil metros quadrados. O investimento será de
R$ 2,5 milhões. “Acredito nisso
aqui”, reforça Santos. “Com o
Mangueiral pronto, tenho certeza de que o movimento ficará
ainda melhor”, completa. Além
dos moradores da cidade, o comércio de São Sebastião atende a
demanda dos condomínios do
Jardim Botânico e mesmo do Lago Sul. A feira permanente é uma
das tradições que atrai centenas
de pessoas durante a semana.
Agropecuária é o forte da economia
O Programa de Assentamento
Dirigido do Distrito Federal
(PAD-DF) começou a ser
executado em 1977, com o
objetivo de incorporar as terras
inexploradas ao processo
produtivo. O programa, situado
no km 5 da BR-251 —
Brasília/Unaí (MG) —, abrange
uma área de
61 mil hectares para o plantio
de cereais, hortifrutigranjeiros,
bovinocultura e avicultura.
O local é considerado
referência em tecnologia.
mil pessoas espalhadas pelas
agrovilas Capão Seco, Lamarão,
Cariru, Riacho Frio, Quebrada
dos Neris, Café Sem Troco, Jardim I e II, Sussurana, Buriti Vermelho, São Bernardo e Itapeti.
Os produtores respondem por
mais de R$ 100 mil em impostos por mês, segundo a Cooperativa Agropecuária da Região
do DF (Coopa-DF).
O paraibano Francisco Pereira
de Souza, 61 anos, conhecido como Chaguinha, chegou à zona
rural de São Sebastião em 1980.
Começou como vaqueiro em
uma chácara e hoje é dono de
uma propriedade de 23 mil metros quadrados onde planta e colhe o sustento da família: são seis
filhos e 17 netos. “Mas comigo
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Agricultura
Rodeada por fazendas e no
caminho do município mineiro
de Unaí — importante polo agrícola do Centro-Oeste —, São Sebastião tem uma agricultura
forte, que movimenta o mercado de produtos agropecuários.
Apesar de pertencer oficialmente à região administrativa do Paranoá, a área do Programa de
Assentamento Dirigido do DF,
conhecida como PAD-DF, também impulsiona o consumo de
bens e serviços em São Sebastião, por conta da proximidade
com a cidade.
O PAD-DF se destaca pelas
plantações de soja (uma das
maiores do país), milho, feijão,
trigo e sorgo. A área possui cerca de 88 mil hectares e abriga 6
moram só umas 10 pessoas”,
conta. Com financiamento de
R$ 18 mil, ele se prepara para, em
2011, deixar prontas cinco estufas. Ali serão produzidos pepino,
alface, tomate, pimentão, pimenta-de-cheiro, milho e abóbora.
A colheita continuará sendo
vendida nas Centrais de Abastecimento do DF (Ceasa) duas vezes
por semana e, aos sábados e aos
domingos, na Feira de Planaltina.
“Parece que está dando certo, né?
Comecei no regador e, com o tempo, a gente foi se ajeitando”, comenta Chaguinha. Ele mal sabe
escrever o nome, mas não deixa
de fazer planos. “Este ano, ainda
vou comprar um caminhão para
transportar melhor os produtos.
O Opala já ficou velho.”
Francisco produz legumes e verduras que são vendidos na Ceasa
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Agropecuária é o forte da economia