CENTRO DE ESTUDOS JOSÉ DE BARROS FALCÃO - O ensino da psiquiatria inspirado na trajetória do seu precursor
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“A sua longa experiência clínica, o
seu pensamento reflexivo e crítico
nas definições e na compreensão de
avanços na investigação científica, não
só no campo da psiquiatria, mas no
conhecimento em geral, estimulavam
no aluno um genuíno interesse pelo
estudo.”
Dr. Paulo Marocco
Médico Psiquiatra e
Aluno de José de Barros Falcão
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CENTRO DE ESTUDOS
JOSÉ DE BARROS FALCÃO
O ensino da psiquiatria inspirado na trajetória do seu precursor
2ª edição - revisada
CENTRO DE ESTUDOS JOSÉ DE BARROS FALCÃO - O ensino da psiquiatria inspirado na trajetória do seu precursor
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EXPEDIENTE
direção atual
Textos
Sérgio Rodrigues
Presidente
Theobaldo Oliveira Thomaz
Vice-Presidente
Bruno Mendonça Costa
Diretor Administrativo
Miguel Abib Adad
Diretor de Ensino
Luiz Antônio Saint Pastous Godoy
Diretor Científico
Giovani Zwetsch Gheno
Diretor de Comunicação
Rogério Rocha
Coordenador atividades práticas
Giovani Zwetsch Gheno
Coordenador disciplinas teóricas
Emerson Alves
Jornalista – Reg. MTB: 10.645
Elaine Barcellos De Araujo
Jornalista – Reg. MTB 10.569
Adriele Schtscherbyna
Revisão
Pesquisa
Sabrina Burck Beck
DIAGRAMAÇÃO
Beto Fagundes - Agência de Arte
Relação dos EX-presidentes do CEJBF
Dr. Bruno Mendonça Costa
Dr. Flavio Strohschoen Pinto
Dr. Miguel Abib Adad
Dr. Sérgio Rodrigues
Drª Sonia Elisabete Soares Kunzler
Dr. Theobaldo Oliveira Thomaz
Dr. Volnei Luiz Saccomori (in memoriam)
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SUMÁRIO
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APRESENTAÇÃO
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REVENDO A HISTÓRIA DO CENTRO DE ESTUDOS JOSÉ DE BARROS FALCÃO
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CAPÍTULO 1
DR. JOSÉ DE BARROS FALCÃO: DA ORIGEM À PSIQUIATRIA
21
CAPÍTULO 2
A CRIAÇÃO DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSIQUIATRIA
29
CAPÍTULO 3
DE INSTITUTO MÉDICO PSIQUIÁTRICO A CENTRO DE ESTUDOS
41
CAPÍTULO 4
OS DESAFIOS, AS NOVAS PARCERIAS E O FUTURO
CENTRO DE ESTUDOS JOSÉ DE BARROS FALCÃO - O ensino da psiquiatria inspirado na trajetória do seu precursor
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AGRADECIMENTOS
E
ste livro é resultado de uma iniciativa do psiquiatra Rogério Rocha, diretor executivo do Prontopsiquiatria/Cisame e da colaboração de muitos profissionais e instituições, que, de alguma forma, participaram
da construção histórica do Centro de Estudos José de Barros Falcão.
Para tanto agradecemos, inicialmente, a todos os colegas do CEJBF que contribuíram com sugestões e críticas
aos textos durante as nossas reuniões. Com relação à organização e publicação do livro, agradecemos particularmente ao Dr. Miguel Abib Adad.
Agradecemos também aos familiares do professor, especialmente a Rogério Falcão, filho do Dr. Barros Falcão,
pois sem eles não poderíamos, ao menos, iniciar este trabalho.
Outro grupo que também muito colaborou para a execução desta obra foram os funcionários da Biblioteca
da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre – UFCSPA. Somos especialmente gratos à Sra.
Ruth de Oliveira, pela gentileza e cordialidade no atendimento prestado e pela indicação de precioso material de
pesquisa bibliográfica especializada.
Outra valiosa contribuição que merece nossos agradecimentos é o historiador Edson Medeiros Cheuiche,
pesquisador do Memorial Cultural do Hospital Psiquiátrico São Pedro (HPSP).
Não obstante, merece ser ressaltada a importância daqueles que foram entrevistados no decorrer dos trabalhos, dedicando o seu precioso tempo para que pudéssemos enriquecer a presente obra com detalhes e curiosidades sobre nosso personagem central. Aos Drs. Bruno Mendonça Costa, Paulo Marocco e Miguel Abib Adad,
somos gratos pela gentileza e pelo saber transmitido, pois suas contribuições e seus comentários valorizaram
notavelmente esta criação.
À Irmã Paulina, memória viva e figura ilustre do Hospital Psiquiátrico São Pedro, agradecemos pela longa e
prazerosa conversa, que acrescentou detalhes lúdicos sobre uma bela e frutífera passagem de Barros Falcão pelo
HPSP.
E, finalmente, agradecemos aos depoimentos dos Drs. Carlos Alberto Crespo de Souza, Sérgio Rodrigues e
Luiz Antonio Saint Pastous Godoy e ao apoio do Prontopsiquiatria/Cisame e da Clinica São José.
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APRESENTAÇÃO
Dr. Rogério Rocha
A
Diretor Executivo do PRONTOPSIQUIATRIA/CISAME
psiquiatria gaúcha sedimenta-se como
especialidade médica na figura do Dr.
Jacintho Godoy. Os seus estudos no
Hospital Salpêtrière em Paris, no final
da década de 1910, refletiram na grande reforma do velho
Hospício São Pedro na década seguinte e na formação das
primeiras gerações de médicos psiquiatras em nosso estado. Foi um dos pioneiros da província nos tratamentos
biológicos mais avançados na época (malarioterapia, insulinoterapia e eletroconvulterapia) e na implementação de
princípios da escola hospitalar francesa de Philippe Pinel,
Jean-Étienne Dominique Esquirol, Jean Martin Charcot,
Joseph Jules Dejerine e Pierre Marie.
Mais tarde, com a proximidade de Buenos Aires, os
primeiros psiquiatras gaúchos, oriundos do Hospício São
Pedro vão buscar a formação psicanalítica e fundam uma
das principais escolas brasileiras de psicanálise até hoje
ativa em nosso estado.
O primeiro curso de especialização em psiquiatria no
Rio Grande do Sul e no Brasil nasce na Universidade do
Rio Grande do Sul, atual UFRGS, na Divisão Melanie Klein
do Hospital Psiquiátrico São Pedro, em 1957, organizadas
pelos professores David Zimermann e Paulo Luiz Viana
Guedes, com enfoque psicanalítico. Em 1960, o Dr. Marcelo Blaya, após estagiar na Clinica Menninger nos EUA,
inicia a primeira residência no Brasil, para médicos, assistentes sociais, enfermeiros, psicólogos e terapeutas ocupacionais com um modelo inovador e pioneiro no Brasil
de comunidade terapêutica. No final da década de 60, em
1968, Dr. José de Barros Falcão funda o curso de especialização em psiquiatria na antiga Faculdade Católica de
Medicina.
No momento histórico brasileiro de ditadura militar,
obscuro e repressor, e de encontro à psicanálise hegemônica local, o professor Falcão inaugura um curso com
formação teórica e prática não dogmática, permitindo a
influência de diferentes correntes, abordando teóricos
fundadores das diversas abordagens psicodinâmicas e,
estimulando o estudo de escolas filosóficas e humanistas
ampliando a visão dos novos psiquiatras em formação.
É sobre este olhar e esta visão de mundo, que segue
com seus 45 anos de vida, firme e forte, o Centro de Estudos José de Barros Falcão, que nasceu como curso de
especialização e permanece vigorado com novas parcerias,
além de manter a visão holística e interdisciplinar de seu
precursor.
Este livro é uma breve e singela homenagem a este centro de formação em psiquiatria, da figura de seu fundador
e sua trajetória, que já formou centenas de profissionais e
até hoje é uma referência nacional da especialização psiquiátrica.
É uma pequena viagem que busca resgatar figuras e fatos históricos, que construíram e mantém, ainda hoje, vivo
um sonho, onde a formação em psiquiatria como essência
é ampla e sem preconceitos, permitindo que a partir de
uma base teórica ampla e robusta o indivíduo em formação
trace também a sua história pessoal, única e intransferível.
CENTRO DE ESTUDOS JOSÉ DE BARROS FALCÃO - O ensino da psiquiatria inspirado na trajetória do seu precursor
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REVENDO A HISTÓRIA DO CENTRO DE
ESTUDOS JOSÉ DE BARROS FALCÃO
A
Dr. Carlos Alberto Crespo de Souza
Médico Psiquiatra e Professor do CEJBF
o revisar o passado da criação do
Centro de Estudos José de Barros
Falcão – intimamente relacionado ao
Curso de Especialização em Psiquiatria da outrora Faculdade Católica de Medicina de Porto
Alegre –, coube-me uma tarefa honrosa e um tanto delicada. Não apenas registros de memórias intelectuais invadiram meu ser, pois aspectos afetivos, ali, também, estiveram
presentes.
Antes desse período, os tratamentos hospitalares vigentes predominantes eram a eletroconvulsoterapia e o
coma insulínico, os quais possibilitavam tão somente uma
melhora clínica parcial, com freqüentes recidivas. Mesmo
assim já eram considerados avançados pela substituição
do “choque cardiazólico” (uso de cardiazol ou metrazol que
induzia ataques de pânico ou convulsões) e pelas injeções
intramusculares de óleo em crises de agressividade (que
causavam intensa dor).
Revendo o cenário dos acontecimentos que se desenvolveram entre os anos de 1960 e 1970, décadas de significativos avanços em psiquiatria, alguns registros merecem
consideração. Em termos terapêuticos farmacológicos, a
clorpromazina, um derivado da piperazina, foi introduzida na clínica em 1952, por Delay e Deniker, e seus efeitos
correram o mundo, propiciando, nos anos seguintes, uma
verdadeira revolução pela possibilidade de esvaziamento
dos hospitais psiquiátricos, até então superlotados por pacientes sem tratamento adequado. Por exemplo, o Hospital
São Pedro, em Porto Alegre, possuía em torno de 5.500
pacientes internados, enquanto o Juqueri, em São Paulo,
em torno de 16.000.
Com a progressão dos anos, outros compostos farmacológicos foram desenvolvidos, do grupo da fenotiazinas,
agora mais orientados à supressão dos sintomas psicóticos ideatórios e alucinatórios, além da sedação. Entre eles,
destacam-se a levomepromazina, a trifluoperazina, a flufenazina e a tioridazina.
8
Em 1967, o FDA, órgão regulador americano, acreditou
no haloperidol – um agente derivado da butirofenona –,
com efeitos antipsicóticos similares aos dos fenotiazínicos.
Ao lado de tudo isso, a imipramina foi lançada entre os
anos de 1956-57 como um agente farmacológico para o
tratamento das depressões. Em 1972, seu principal criador
– Roland Kuhn, psiquiatra suíço – propagou seu emprego
como coadjuvante em psicoterapia num Congresso de Psiquiatria Brasileiro, realizado em Belo Horizonte.
e bombardeou os preceitos da chamada Escola de Melanie
Klein, a qual não atribuiu nenhuma respeitabilidade científica.
Enquanto isso, no cenário ambulatorial ou psicoterápico, vivia-se a predominância das ideias psicanalíticas.
Nesse ideário predominante, somente quem se submetesse
aos seus preceitos é que seria beneficiado. Outros tipos de
psicoterapia – catalogadas na época como suportivas ou
de apoio –, eram consideradas como de “meia-sola”, ou
seja, não atingiam os fundamentos essenciais dos problemas das pessoas. Como os medicamentos ainda estavam
mais direcionados ao tratamento de pacientes internados,
tiveram pouca influência nessa fase.
Neste livro, Lemmertz menciona que “...muito contribuí
para que se estabelecesse o “dogma” de que a formação
psiquiátrica deveria ser fundamentalmente psicanalítica.
Criou-se o mito de que as perturbações mentais somente
poderiam ser adequadamente tratadas pela psicanálise, e
essa falsa crença tem se difundido em nosso meio, quase
sem nenhuma oposição”.1
Porém, os tratamentos de cunho psicanalítico eram direcionados a pessoas com perturbações mentais de menor
gravidade, sendo importante lembrar que a psicanálise, segundo Freud, em seus fundamentos, deveria ser mantida
longe dos médicos e dos sacerdotes. Portanto, as doenças
psíquicas mais graves não estavam no rol dos que poderiam
se beneficiar com a técnica. Mesmo assim, uma abundante
propaganda preconizava, em nosso meio psiquiátrico, que
a única técnica terapêutica resolutiva seria encontrada através da psicanálise.
No ano de 1966, um dos dois iniciadores do então Centro de Estudos Psicanalíticos, que deu origem à Sociedade
Psicanalítica de Porto Alegre e cofundador da psicanálise
em nosso meio, Dr. José Jaime Lemmertz, através de um
livro denominado “Psicanálise e Psicoterapia”, contestou
alguns pontos da teoria psicanalítica freudiana (mormente
em suas concepções mecanicista e de natureza instintiva)
Como conseqüência de sua dissidência, ao invés de
suas ideias servirem para reformulações, foi banido dessa
sociedade, tendo seu nome e figura retirados de referências e fotos históricas, assemelhando-se ao que foi feito
no regime stalinista da Rússia com os opositores. Em seu
livro, registra sua própria evolução e amadurecimento
dentro da técnica psicanalítica e mostra seu progressivo
desalento por se sentir cada vez mais desumanizado por
seu emprego. Ele, então, passa a receber forte influência
dos chamados culturalistas (Erich Fromm, Karen Horney e
Sullivan), existencialistas (Sartre, Binswanger, Rollo May)
e de inúmeros estudiosos da alma humana, como Viktor
Frankl, Bertrand Russell, William James, Huxley e muitos
outros, como os antropólogos.
Destaque a ser mencionado, Dr. José Lemmertz, nesse
seu livro, talvez pela primeira vez no âmbito nacional, evidenciou, na prática, os passos de uma psicoterapia mais
objetiva e curta, contrastando com as terapias psicanalíticas
prolongadas. Tal pioneirismo intelectual e científico foi totalmente desconsiderado por seus pares, eis que entendido
1.Lemmertz, JJ. Psicanálise e Psicoterapia – Revisão de conceitos psicanalíticos fundamentais, Natureza do Homem e Novos rumos em psicoterapia. Porto Alegre:
editado pelo autor, 1966.
CENTRO DE ESTUDOS JOSÉ DE BARROS FALCÃO - O ensino da psiquiatria inspirado na trajetória do seu precursor
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como contestador e renegado dos princípios vigentes, até
então identificados como verdadeiros dogmas. Anos mais
tarde, autores americanos, com traduções para o português,
lançaram as mesmas ideias de uma chamada “psicoterapia
breve”, com objetivos específicos, algo inimaginável pelos
psicanalistas de então; em vista disso, se curvaram às evidências, porém sem nunca dar a Dr. Lemmertz o devido
mérito por suas formulações e elevado espírito científico.
tes de psicanalistas, quando em crises psicóticas ou com
ideações suicidas, eram encaminhados ao tratamento de
internação em clínicas psiquiátricas que praticavam, entre
outras técnicas de recuperação, a eletroconvulsoterapia; de
modo especial, o então Sanatório São José, administrado
e dirigido pelo psiquiatra Jacintho Godoy, recebia a maior
parte desses pacientes. Dotado igualmente de extensa cultura psiquiátrica e humanística, Dr. José de Barros Falcão
possuía todas as condições para iniciar e ser menotado igualmente de extensa cultura
tor de um curso de formação psiquiátrica. Escolhido
pela Direção da então Faculdade Católica de Medicipsiquiátrica e humanística, José de
na de Porto Alegre, criada para dar sustentação méBarros Falcão possuía todas as condições
dica-científica à Santa Casa em face da construção
para iniciar e ser mentor de um curso de
do Hospital de Clínicas, para onde os professores
formação psiquiátrica. Escolhido pela Direção e alunos da UFRGS se estabeleceriam, entre outros
psiquiatras portoalegrenses, iniciou o
da então Faculdade Católica de Medicina de renomados
Curso de Especialização em Psiquiatria, oficialmente
Porto Alegre, criada para dar sustentação
no ano de 1968.
“D
médica-científica à Santa Casa em face da
construção do Hospital de Clínicas, para
onde os professores e alunos da UFRGS
se estabeleceriam, entre outros renomados
psiquiatras portoalegrenses, iniciou o Curso
de Especialização em Psiquiatria, oficialmente
no ano de 1968.”
José de Barros Falcão foi íntimo colaborador de seu livro, comungando de sua posição em relação à psicanálise
e seus conceitos sobre a prática médica ou psiquiátrica.
Cabe mencionar, à guisa de conhecimento, que os pacien10
Grande parte de sua atenção era dirigida ao atendimento de pacientes femininas em surtos psicóticos
agudos na Unidade Kraepelin do Hospital Psiquiátrico São Pedro, na época, com lotação aproximada de
400 pacientes. Com esse foco e preocupação, orientou seus alunos ao estudo dos psicofármacos, sendo
um dos pilares substantivos do curso de psiquiatria
por ele programado.
Outro pilar, não menos importante, refletindo
sobre o atendimento psiquiátrico ambulatorial ou
psicoterápico, descortinou técnicas teóricas e práticas inovadoras aos seus alunos. Harry Stack Sullivan – com sua
teoria interpessoal – foi extensamente estudado, mormente
seu livro sobre a entrevista psiquiátrica, o qual foi lido, reli-
do e discutido integralmente ao longo dos anos dos cursos.
Falecido precocemente, formulou a Teoria Interpessoal na
qual a ansiedade resultante de relações interpessoais conflitantes seria o principal fator dos transtornos mentais.
mais de trinta turmas de psiquiatras orientados ao estudo
e tratamento das variadas circunstâncias existenciais das
pessoas, sem uma única concepção teórica fechada para
compreender e tratar suas dificuldades.
Com pensamento libertário de amarras teóricas, Professor José de Barros Falcão abriu os olhos de seus alunos ao
estudo de outros pensadores da alma humana, ao lado de
não negligenciar os estudos freudianos, tal como fizera Dr.
Lemmertz. De maneira fluida e fácil falava de Binswanger,
Rollo May – existencialistas –, de Bertalanfay e Jay Haley
– teoria dos sistemas –, de Jurgen Ruesch – comunicação
terapêutica –, de Carl Rogers – a psicoterapia centrada na
pessoa –, de Norbert Wiener – cibernética e sociedade. Enfatizava a importância do olhar terapêutico não apenas ao
passado, mas à criação de novas perspectivas para o futuro.
Na atualidade, encontra-se em formação a 34ª Turma e
preserva-se o ensinamento de que as teorias servem para
tentar compreender o ser humano e de que devem ser utilizadas em seu benefício. Como aprenderam os Doutores
Lemmertz e Falcão – por suas próprias vivências –, jamais
o contrário, ou seja, usadas como instrumentos únicos e
nelas tentar encaixá-lo, pois assim haveria tendência ao desencanto terapêutico ou falha significativa nos propósitos
psicoterápicos.
O terceiro pilar de seu curso esteve centrado no estudo
dos autores europeus hoje denominados de “clássicos”,
tais como Kraepelin, Ey, Kurt Schneider, Jarpers e Bleuler.
O Professor Falcão possuía uma particularidade especial:
era capaz de unir conhecimentos passados com novos postulados, integrando-os e sempre abrindo perspectivas à sua
utilização prática.
A riqueza do curso criado por ele promoveu discípulos
e, graças a suas ideias e seu carisma, o hoje Centro de
Estudos José de Barros Falcão já formou, desde sua criação, através de seu Curso de Especialização em Psiquiatria,
A tudo revendo, presto minha homenagem a estas duas
figuras exponenciais que seguem junto conosco, em nossa
consciência ou espírito, na busca por melhores horizontes aos nossos pacientes psiquiátricos, sempre abertos ao
novo, como nos ensinaram.
Cabe ainda lembrar que Dr. Lemmertz foi o primeiro
Presidente de um centro de estudos incipiente, e Falcão,
o maestro do Curso de Especialização em Psiquiatria. Por
isso, nesse breve histórico, foi-me impossível falar de um
apenas, tal a ligação intelectual e científica que existiu entre
ambos e que nos influenciou sobremaneira.
CENTRO DE ESTUDOS JOSÉ DE BARROS FALCÃO - O ensino da psiquiatria inspirado na trajetória do seu precursor
11
Dr. José de Barros Falcão e esposa Zilda Porciuncula de Barros Falcão
Dr. José de Barros Falcão
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DR. JOSÉ DE BARROS FALCÃO:
DA ORIGEM À PSIQUIATRIA
CAPÍTULO
1
O COMEÇO DE TUDO
O
início foi em Porto Alegre,
no dia 15 de março de
1914, quando o filho de
seu Alípio de Barros Falcão e de
dona Maria José Daison de Barros Falcão veio ao mundo. Não se
sabe, ao certo, quais eram as ex-
pectativas do casal para o menino
que cursou o ginasial no Colégio
Nossa Senhora do Rosário e viveu
na Rua Saicã, no bairro Petrópolis.
O fato é que José de Barros Falcão
tornar-se-ia num dos médicos psiquiatras mais respeitado do Rio
Grande do Sul e referência obrigatória no estudo da psiquiatria no
Estado e que ali, na residência de
número 372, onde cresceu, iria,
também, formar sua família e entrar para a elite intelectual da cidade.
N
Os primórdios do Hospício São Pedro
o Rio Grande do Sul, o movimento pela construção
de um hospício de alienados, separado do Hospital
de Caridade, nasceu no interior da própria Santa
Casa de Misericórdia de Porto Alegre no início da década
de 1870. A inauguração do Hospício São Pedro é efetivada
em 29 de julho de 1884, dia do patrono da província. O
Hospício, localizado na antiga estrada do Matogrosso, foi
muito exaltado na época e reconhecido como uma das
obras notáveis do império. Em 1910 inicia-se o trabalho
das irmãs de São José chefiadas pela Madre François-de Sales. A
Primeira Guerra Mundial (1914-1918) trouxe a falta de recursos e o
Hospício foi esquecido e suas remodelações e construções necessárias não foram realizadas, refletindo no tratamento dos pacientes.
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PRIMEIROS PASSOS
N
o Natal de 1936, aos 22 anos, Barros Falcão
já era médico, formado pela Faculdade de
Medicina de Porto Alegre da Universidade
do Rio Grande do Sul. No mesmo período começou
a clinicar no município de Rio Branco, hoje Catuípe.
Eram os primeiros passos de uma carreira marcada
pelo estudo e desenvolvimento de medicina humanista. De outubro a dezembro de 1937, ele deixa a
atividade autônoma para atuar como médico adjunto nos Instituto de Aposentadoria dos Ferroviários
e Empregados em Serviço Público, em Cruz Alta.
Depois, volta a atuar como autônomo por diversos
municípios do interior do Rio Grande do Sul, principalmente em Panambi, até ser contratado pelo
Instituto de Aposentadoria dos Funcionários e Empregados em Serviço Público, de setembro de 1938
a março de 1941, em Pelotas.
Dr. Falcão na formatura da Faculdade de Medicina.
E
m 1927, sob a Presidência do Estado de Borges de Medeiros e da Secretaria do Interior do Dr. Oswaldo
Aranha, inicia-se a remodelação do velho Hospital de Alienados, transformado no moderno Hospital
São Pedro sob a liderança de Jacintho Godoy, período que marcou verdadeiramente o início da presença do saber psiquiátrico na assistência aos alienados. Após o afastamento do Dr. Godoy da direção
do Hospital em 1932, devido a questões políticas relacionadas à oposição ao Governo Vargas na Presidência da
República do Brasil (Revolução Constitucionalista de 32) ele retorna a administração em 1937.
14
DESCOBERTA MÉDICA
N
a década de 40, Barros Falcão se transfere para Santo Ângelo, quando ingressa na Cruz Vermelha como organizador e
diretor do Curso de Enfermagem de Urgência e Defesa Passiva. Também foi no mesmo município que descobriu um caso agudo
de Tripassonomíase Americana. O fato inusitado proporcionou ao
médico a produção de um relatório que foi enviado ao Departamento Estadual de Saúde e para a Divisão de Estudos a Endemia do Instituto Oswaldo Cruz, a fim de registrar a passagem e o tratamento
da doença.
REFERÊNCIA NA
MEDICINA
Porto Alegre na década de 40.
A
cidade de Porto Alegre
nas décadas de 40, 50 e
60, era, ainda, uma comunidade dominada por valores tradicionais, uma sociedade comandada por uma elite definida. Foi
nesse cenário que Barros Falcão
conquistou sua ascensão social e
profissional. “Era um senhor de
estatura média, de óculos, muito
simpático, embora bastante formal. Falava numa cadência lenta,
um português primoroso e elegante. Ao falar olhava o interlocutor
nos olhos e sabia ouvir. Impunha
respeito e simpatia e, depois de
ouvi-lo, admiração”, assim foi descrito, certa vez, pelo seu genro,
Francisco Luis dos Santos Ferraz, o
marido de Ana Maria, uma entre
os seus sete filhos – sendo cinco
homens e duas mulheres.
CENTRO DE ESTUDOS JOSÉ DE BARROS FALCÃO - O ensino da psiquiatria inspirado na trajetória do seu precursor
15
DO TRABALHO AUTÔNOMO AO SERVIÇO PÚBLICO
D
epois de várias passagens pelo interior do estado, o médico entra
para o serviço público, por meio de concurso que prestou ao Departamento Estadual de Saúde, em 1939, para o cargo de médico
alienista do Hospital Psiquiátrico São Pedro. Mas ele não deixa de ser um
andarilho da saúde. De março de 41 a dezembro de 42, atua no Posto de
Higiene 56 do mesmo órgão, em Santo Ângelo. Da prática da medicina
passa a chefiar o posto, mas depois é nomeado a exercer, interinamente,
o cargo de médico da classe L do Departamento, até final de dezembro de
1949, em Porto Alegre.
Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre na década de 40.
RUMO A PSIQUIATRIA
S
ua experiência na área da
neurologia e psiquiatria iniciou ao ser nomeado médico
assistente do Serviço de Neurologia de Homens na Santa Casa de
Misericórdia. Além disso, Barros
Falcão passa a integrar a Sociedade de Medicina de Porto Alegre e a
Sociedade de Psiquiatria e Neurologia do Rio Grande do Sul, no início da década de 40. Foi nesta fase
de sua vida que também atuou,
por três anos, como médico para
exames de neuropsiquiatria. A
carreira de médico psiquiatra começa a se estabelecer e, a partir
de então, ele recebe indicações,
nomeações e promoções em diversas unidades de saúde mental.
16
PSIQUIATRA CATÓLICO
O
Dr. Barros Falcão sempre
foi descrito por seus amigos e alunos como um homem culto, contraditório e a frente
do seu tempo. Católico fervoroso,
acreditava na prática da psiquiatria humanista. Para alguns, o médico Barros Falcão estava no nível
dos grandes homens da província
como Ernani Fiori na Filosofia, Ruy
Cirne Lima no Direito, Guilhermino Cézar e Érico Veríssimo na Literatura, José Fernando Carneiro na
Medicina e Literatura, Laudelino
Medeiros na Sociologia, entre outras expressões culturais do estado naquela época.
O psiquiatra Bruno Costa, um
dos primeiros alunos de Barros
Falcão e que teve uma convivência
regular com o professor comenta
sobre sua religiosidade, “Ele era
católico, mas sabia perfeitamente
fazer uma distinção entre a sua
especialidade, o exercício dela e
seu credo particular. Isso também
O
acontece com os próprios alunos,
ele nunca quis transformá-los em
crentes da igreja católica. Ele conseguia separar sua religião das atividades de professor e psiquiatra”.
Outro aspecto que evidencia
a proximidade do Dr. Falcão com
a religião está presente na sua
relação com as irmãs da congregação São José que trabalhavam
no Hospital Psiquiátrico São Pe-
dro (HPSP). “Ele observava muito a religião e para ser religioso
não precisa rezar o Pai Nosso ou
a Ave Maria todo dia. O importante é a conduta, o trato com o ser
humano. O Dr. Falcão valorizava
qualquer doente, oferecendo toda
atenção, todo cuidado”, revê a
Irmã Paulina, um das mais antigas
religiosas que ainda trabalha no
HPSP.
Curso de Biopsicologia Infantil do HPSP
ano de 1938 registra dois
fatos marcantes para a psiquiatria gaúcha. Foi realizado o primeiro concurso para médico psiquiatra do Hospital Psiquiátrico São Pedro e foi fundada a Sociedade de Neurologia e Psiquiatria do Rio Grande do Sul, cuja
diretoria era constituída pelo Dr. Jacintho Godoy (Presidente), Dr. Fábio de Barros (Vice-Presidente) e pelo Dr. Cyro
Martins (Secretário). Os candidatos aprovados no concurso foram os Drs. Luiz Pinto Ciula, Mário Martins, Cyro Martins
e Victor de Brito Velho. Nesse mesmo ano os Drs. Luiz Guedes e Fábio de Barros se afastam do São Pedro e se fixam na
Faculdade de Medicina. Esses foram os primeiros psiquiatras gaúchos. Podemos estabelecer esse ano como o início da
psiquiatria no Estado do Rio Grande do Sul.
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17
“Resultado do Tratamento pelo Electroshock”
O
doutor José de Barros
Falcão, psiquiatra do
Hospital São Pedro, publicou na edição de 1943, volume
4, dos “Arquivos do Departamento
Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul”, o trabalho intitulado
“Resultado do Tratamento pelo
Electroshock” efetuado no São
Pedro, no primeiro semestre do
referido ano da publicação. A inédita terapêutica na Instituição não
se restringiria somente aos dados
estatísticos, mas “as observações
clínicas que pudemos fazer e, sem-
pre que possível, estabeleceremos
paralelo entre os nossos resultados
e os que constam na literatura”. O
método dos italianos Ugo Cerletti
e Lucio Bini, publicado em 1938,
caracterizado por procedimentos
de convulsões eletricamente induzidas, substituiu o procedimento da
convulsoterapia química induzida
pela droga conhecida como cardiazol ou metrazol. O tratamento
efetuado pelo doutor Falcão
compreendeu uma série de 1.212
crises elétricas induzidas em 90
pacientes masculinos do Hospital,
onde 70% eram casos recentes de
doenças com menos de seis meses,
(um primeiro grupo de 62 casos de
esquizofrenia, um segundo grupo
de 15 casos de psicose maníaco
depressiva – 8 síndromes maníacos
e 7 depressivos - e o terceiro de
13 doentes com diversas psicoses).
Durante os procedimentos houve
uma incidência mínima de imprevistos. Os resultados dos tratamentos por eletroconvulsoterapia
foram revelados no “Resumo” do
trabalho elaborado pelo doutor
Barros Falcão:
O A. expõe os resultados obtidos com o emprêgo do “electroshock” em 90
doentes. Consiste o tratamento em aproveitar o efeito convulsivo de uma corrente alternada, de 300 a 600 miliampères, 80 a 140 volts, aplicada ao cérebro
durante 0,2 a 1,0 segundo. As crises convulsivas são semelhantes às da epilepsia,
porém mais intensas. O tratamento produz alterações humorais e neurológicas
complexas, mas transitórias. Em si o “electroshock” é inócuo e os acidentes que
pode provocar são inherentes á tôda convulsoterapia. O paciente não guarda nenhuma lembrança do
tratamento e não experimenta sensações desagradáveis.
Em sua série de 90 doentes, todos do sexo masculino, e dos quais 70% eram casos recentes, obteve o A., globalmente, 52,9% de remissões completas. Durante 1212 convulsões ocorreram apenas 10
acidentes, dos quais somente 2 (0,16%), podem ser considerados como graves. O A. compara os seus
resultados com os da literatura. Os melhores resultados foram obtidos na psicose maníaco-depressiva
e nas formas paranoide e catatônica da esquizofrenia. Os doentes foram auxiliados, durante o tratamento, por uma psicoterapia adequada”.
18
A FARMACOLOGIA PARA O DR. BARROS FALCÃO
O
s profissionais com formação psicanalítica inicialmente não privilegiavam o tratamento farmacológico,
seu campo de atuação era mais
relacionado aos atendimentos
nos consultórios privados. No entanto o Prof. Barros Falcão foi um
incentivador do uso da farmaco-
logia por acreditar na sua eficácia. A identificação de resultados
positivos com o tratamento farmacológico na saúde mental dos
pacientes causou uma mudança
de paradigma. “Vi o Dr. Barros
Falcão trazendo os colaboradores
dele para ensinar psicofarmacologia e os psicanalíticos não dando
importância para isso porque o
importante para eles era a abordagem psicológica. No entanto, o
Professor também estudava Jung,
a psicanálise, a psicologia; e como
ele estudava Jung eu também estudei”, relembra o psiquiatra Paulo Ouriques Marocco, a respeito
da carreira do mestre.
O
psiquiatra Carlos Alberto Crespo de Souza, ao escrever sobre o professor Barros Falcão, reviu o cenário dos
acontecimentos que se desenvolveram entre os anos de 1950 e 1970. Segundo ele, décadas de significativos
avanços em psiquiatria, principalmente em termos terapêuticos farmacológicos. Ele cita, na apresentação
deste registro, a clorpromazina, um derivado da piperazina, que foi introduzida na clínica em 1952 por Delay e Deniker.
O médico ressalta que os efeitos desse medicamento repercutiram por toda área médica mundial, propiciando,
nos anos seguintes, uma verdadeira revolução pela possibilidade de esvaziamento dos hospitais psiquiátricos, até então superlotados por pacientes sem tratamento adequado. “Antes desse período, os tratamentos hospitalares vigentes
predominantes eram a eletroconvulsoterapia e o coma insulínico, os quais possibilitavam tão somente uma melhora
clínica parcial, com freqüentes recidivas. Mesmo assim, já eram considerados avançados pela substituição do ‘choque
cardiazólico’ - uso de cardiazol ou metrazol que induzia ataques de pânico ou convulsões - e pelas injeções intramusculares de óleo em crises de agressividade, que causavam intensa dor”, relembra Souza.
CENTRO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS DE PORTO ALEGRE
M
ário Martins e sua esposa
Zaira Bittencourt Martins
partiram em 1944 para
Buenos Aires para realizar sua formação analítica. O retorno de Mário
Martins em março de 1947, configurou verdadeiramente o início do
movimento psicanalítico em nosso
meio. Logo se associaram a Mário
no objetivo de promover a psicanálise: José Lemmertz, Celestino Prunes e Cyro Martins. Aproximaram-se neste período Ernesto La porta,
Paulo Guedes e David Zimmermann,
Güinther Würth, Roberto Pinto Ribeiro e José Maria Santiago Wagner.
Em 1957 é fundado o Centro de Estudos Psicanalíticos de Porto Alegre,
José de Barros Falcão foi um dos
fundadores além dos colegas: Sérgio
Paulo Annes, Avelino Costa, Manoel Antônio Albuquerque, Luis Carlos
Meneghini, Leão Knijnik e Fernando
Guedes e que em conjunto materializaram o primeiro documento formal
do movimento psicanalítico em Porto Alegre.
CENTRO DE ESTUDOS JOSÉ DE BARROS FALCÃO - O ensino da psiquiatria inspirado na trajetória do seu precursor
19
Dr. Barros Falcão na aula do Curso no Departamento de Psiquiatria da Faculdade Católica de Medicina
Dr. Barros Falcão
20
A CRIAÇÃO DO CURSO DE
ESPECIALIZAÇÃO EM PSIQUIATRIA
CAPÍTULO
2
A DISCIPLINA
DE PSIQUIATRIA
P
róximo ao final da década de 50, Professor Barros Falcão começa sua
trajetória como educador. Ele é convidado
a integrar, em 1959, o grupo de
fundadores da Faculdade Católica
de Medicina de Porto Alegre para
organizar a disciplina de psiquiatria. Motivado e no pleno exercício das suas atividades ele elaborou um programa de ensino, que,
a partir de 1962, foi utilizado também para a formação de professores. Tendo como os primeiros
colaboradores para a formação
da equipe docente inicial os doutores José Lemmertz, Leão Knijnik, Enio Art, Germano Wolmer e
Oscar Sempé.
Em 63, Professor Barros Falcão
é designado médico-chefe da Divisão Kraepelin do HPSP. Até que
numa manhã de março de 1965,
em uma das salas dessa Divisão,
o professor Barros Falcão proferiu
a aula inaugural da disciplina de
psiquiatria. A disciplina era aplicada ao longo de dois semestres
e os participantes eram alunos
do quinto ano. De acordo com o
professor e psiquiatra Paulo Marocco, “o aspecto humanista e a
busca permanente de embasamento científico do conteúdo e
da prática estavam presentes na
abordagem abrangente que caracterizava o ensino na disciplina
de psiquiatria”. Foi a partir desta
disciplina que as atividades de
ensino começaram a se desenvolver.
A década de 60 no Rio Grande
do Sul trouxe passagens importantes na vida do médico, que
também integrou a congregação
da Faculdade Católica de Medicina de Porto Alegre. Professor
Barros Falcão também foi membro do conselho administrativo
da Faculdade Católica de Medicina de Porto Alegre, onde chefiou
o Departamento de Psiquiatria
da Fundação durante 11 anos.
Nos anos seguintes, o interesse dos estudantes cresceu tanto
nessa área, que os professores
começaram a idealizar a criação
de um curso de especialização
em psiquiatria.
CENTRO DE ESTUDOS JOSÉ DE BARROS FALCÃO - O ensino da psiquiatria inspirado na trajetória do seu precursor
21
A
Formatura da 1ª turma da Faculdade Católica de Medicina em
12 de dezembro de 1966 no Teatro Leopoldina
grande demanda por médicos no RS, a construção
do Hospital Universitário
(Clínicas) pela UFRGS e a preocupação que os médicos a ela ligados
migrassem para este hospital, na
década de 50, foram determinantes
na criação da Faculdade Católica
de Medicina, para que seu corpo
docente e discente continuasse com o apoio da Santa Casa como hospital-escola.
Em 1953, sob a provedoria do Dr. Rui Cirne Lima e anuência do Cardeal Dom Vicente Scherer, foi criada a Faculdade Católica de Medicina. A 1ª turma formou-se
em 12 de dezembro de 1966, com 70 formandos. Nessa ocasião, o professor José de
Barros Falcão foi um dos homenageados dos bacharéis.
Em 1980 passa a ser uma fundação privada com o nome de Fundação Fac. Fed. de
Medicina. Sete anos mais tarde passa a fundação de direito público. Oferece somente o curso de Medicina até 2003 e, em 2008, durante sua fase de expansão,
torna-se a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
DIVISÃO KRAEPELIN
A
Divisão Kraepelin do
Hospital
Psiquiátrico
São Pedro está na história da psiquiatria do Rio
Grande do Sul como uma das principais fontes de estudos da atividade.
Muitos psiquiatras gaúchos e brasileiros buscaram nessa fonte, ins22
piração para o desenvolvimento e
aperfeiçoamento dos seus estudos.
Na década de 70, a Divisão funcionava em alta rotatividade chegando abrigar até 400 pacientes
femininos, recebendo pessoas, inclusive, de outros estados. Esse foi o
ambiente escolhido pelo professor
Barros Falcão para a primeira aula
do Curso de Especialização em Psiquiatria.
Atualmente, a divisão trocou de
nome e foi dividida em duas unidades chamadas: Moises Roitnann e
Madre Matilde, onde são atendidos
aproximadamente 29 pacientes.
E
mil Kraepelin era discípulo de Wilhelm Griesinger (1817-1868) e integrou a
corrente organicista alemã. Após a descrição acurada de sintomas clínicos, sua
evolução e a análise anátomo-patológica, formulou sua doutrina que, expressa
no livro “Psychiatrie”, serviu de referência a muitas gerações de especialistas em doenças mentais. Isolou as formas básicas da enfermidade psíquica - psicose maníaco-depressiva e demência precoce - e promoveu a separação entre demência senil e
paralisia geral.
Dirigiu durante muitos anos a Clínica de Munique, onde buscou oferecer aos pacientes um ambiente semelhante ao doméstico, que influenciou a formulação da primeira
legislação brasileira de assistência às doenças mentais.
AS AULAS
Aula do Curso no Departamento de Psiquiatria da Faculdade Católica de Medicina
N
o curso de Medicina, os alunos aprendiam a teoria na Facul- um em ver, ouvir, sentir e de perdade Católica de Medicina de Porto Alegre e as aulas práticas ceber o mundo. “Eu lembro que
aconteciam no Complexo Hospitalar da Santa Casa. No entanto, ele (professor Barros Falcão) não
exclusivamente, uma unidade de ensino acabou se desenvolvendo no Hospi- estava preso ao grupo contempotal São Pedro, inclusive com turmas de formação de professores. Inclusive râneo como Freud e a psicanálise.
com turmas de formação de professores. Professor Barros Falcão era Ele tinha que ascender, procurava
um dos mestres que não só formava psiquiatras, mas também novos ver as coisas de cima para comprofessores. Um de seus alunos, o Dr. Paulo Marocco, afirma que suas preender o ser humano. Para ele,
aulas eram inovadoras. Lembra, em especial, das lições sobre percep- a psicologia viva não se encontração, onde seu mestre ressaltava a importância da capacidade de cada va nos livros técnicos.”
CENTRO DE ESTUDOS JOSÉ DE BARROS FALCÃO - O ensino da psiquiatria inspirado na trajetória do seu precursor
23
A CRIAÇÃO DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO
Aula do Curso de Especialização de Psiquiatria
da Faculdade Católica de Medicina de Porto Alegre.
A
partir de 68, o
professor Barros
Falcão concretiza um antigo sonho, o de
participar da criação do
Curso de Especialização
em Psiquiatria do Departamento de Psiquiatria da então Faculdade
Católica de Medicina de
Porto Alegre. As aulas eram realiza-
das dentro do Hospital São Pedro,
nas divisões Kraepelin e Melanie
Klein. Quando lançado, o curso
era totalmente gratuito, uma exigência do Dr. Barros Falcão. Aluno
da segunda turma do Curso de Es-
pecialização, o psiquiatra
Bruno Costa tem vivo na memória,
as lembranças daquela época: “Ele
fazia questão que fosse integralmente gratuito, acredito que ele
pensava assim por ser uma pessoa
voltada para a religião.”
O curso, que ficou um período
paralisado devido à interrupção
do convênio da Faculdade com
a Secretaria Estadual de Saúde,
completa em 2013, 45 anos de atividades.
ENSINO NO HOSPITAL SÃO PEDRO
E
sta é a primeira instituição
psiquiátrica de Porto Alegre. Até hoje, o Hospital
Psiquiátrico São Pedro é referência - e de extrema relevância - na
assistência e ensino da psiquiatria no Estado. Local que serviu
de estudo prático, formação docente e de tratamento de saúde
para a comunidade. Como unidade de ensino, o Hospital teve
e tem contribuição fundamental,
24
pois, em suas dependências que
nasce e é desenvolvida a disciplina de psiquiatria, e também,
a especialização em psiquiatria
da, então, Faculdade Católica de
Medicina de Porto Alegre.
Como mentor desses processos, a relação do médico Barros Falcão com esta unidade de
saúde foi importante para o seu
crescimento profissional, científico e, principalmente, para a
saúde pública. É na divisão Kraepelin do hospital que se estabelece o ensino teórico e prático, onde o Dr. Barros Falcão
demonstrava suas teorias. Sua
trajetória de sucesso por essa
instituição de saúde mental foi
reconhecida por meio de uma
unidade no São Pedro que leva o
seu nome - justamente para ressaltar sua abnegação pela profissão e pelo ser humano.
PROJETOS PARA O SÃO PEDRO
N
o final da década de 60, Barros Falcão participa
de um grupo de trabalho incumbido de estudar
e elaborar três projetos. O primeiro referia-se ao
estudo e planejamento da reestruturação do Hospital.
O segundo era para transformar a instituição em Fundação de Direito Público. E o terceiro era um plano de
remodelação das instalações do São Pedro. O professor
Falcão também planejou construir uma Unidade Hospitalar em extensão à Divisão Kraepelin, pois a mesma já
não atendia mais a demanda de alunos e pacientes. O
projeto foi concluído, porém foi interrompido devido à
suspensão do convênio da Faculdade com a Secretaria
Estadual de Educação.
Hospital Psiquiátrico São Pedro
IRMÃ PAULINA
N
a Santa Casa e no Hospício,
a presença de religiosos
cuidando dos enfermos era
a regra. Uma delas era a irmã Paulina, que chegou ao Hospital Psiquiátrico São Pedro em 1971, com
21 anos, e se tornaria mais tarde
uma companheira inseparável do
Dr. Barros Falcão. Devido ao seu
grande conhecimento prático sobre a realidade dos doentes mentais, muitas vezes era requisitada
pelo Dr. Falcão para auxiliar nas
atividades práticas dos alunos, nos
hospitais, tornando-se assim, uma
espécie de monitora das aulas desenvolvidas durante o curso. “Ela
ajudava na organização de turmas. Era uma pessoa incansável
e muito dedicada. Ela é uma
recordação viva da psiquiatria
que acompanhou as principais
evoluções da atividade”, recorda o psiquiatra Bruno Costa.
Em depoimento, a Irmã Paulina
revela a maneira precária como
os doentes eram conduzidos
para o HPSP: “Vinham deitados
na carroceria de um caminhão,
com camisa de força e amarrados. Imagina como essas criaturas chegavam aqui?” Segundo a
freira, na década de 50 havia pessoas vindas do interior ou das ruas
da capital. “Todos ganhavam o
São Pedro: mendigos, alucinados,
gente abandonada nas ruas. Eram
epopeias marcadas pela dor.” Irma
Irmã Paulina, ao fundo a antiga divisão Kraepelin
Bomgiorno, como a Irmã Paulina é
conhecida por todos, atualmente
com 83 anos, ainda desempenha
suas atividades no HPSP. Ela é a última religiosa que ainda trabalha
na instituição, que na década de
60 chegou a contar com cerca de
80 irmãs.
CENTRO DE ESTUDOS JOSÉ DE BARROS FALCÃO - O ensino da psiquiatria inspirado na trajetória do seu precursor
25
SUSPENSÃO DO CURSO
U
m trecho do livro Memórias da Criação da Fundação Faculdade Federal de
Ciências Médicas de Porto Alegre
relata a crise no Departamento de
Psiquiatria, entre 1973 e 1976. As
conseqüências maiores foram a
suspensão do curso de especialização e o afastamento de alguns
professores. Existem diferentes
explicações sobre o motivo que levou a interrupção do curso de especialização no HPSP. O psiquiatra
Bruno Costa, que convivia estreitamente com o professor Barros
Falcão, fez o seguinte comentário
sobre o acontecido nessa época.
“O professor fez um plano de ensino que contemplou para a edificação de uma unidade própria
para isso, que ficava ao lado da
Divisão Kraepelin. Existia um corredor que separava as duas unidades, mas certa noite foi construída
uma parede para separar os dois
pavilhões.” Essa iniciativa, que te-
N
Professor José de Barros Falcão, Dr. Bruno Costa
e Dr. Herberto Maia
26
ria partido do então Secretário de
Saúde Jair Soares, desgostou Barros Falcão. Sem apoio da administração da Faculdade, ele se sentiu
injustiçado, pedindo mais tarde o
seu afastamento. Mesmo assim, a
disciplina de psiquiatria continuou
em funcionamento, embora houvessem limitações. Era desenvolvida, então, em apenas uma sala da
Divisão Kraepelin e com dois auxiliares de ensino, os psiquiatras Dr.
Jorge Velho e Dr. Paulo Marocco.
o inicio da década de 70, o Brasil ainda vivia sob vigência de um forte regime militar,
tendo como presidente Emílio Garrastazu
Médici. A ditadura atingiu o auge de sua popularidade, com “o milagre brasileiro”, no mesmo momento em que o regime censurava todos os meios de
comunicação, torturava e exilava dissidentes. Barros
Falcão não era um homem dado a manifestações políticas, no entanto, solidarizou-se ao momento vivido
pelo aluno e colega Bruno Costa, que ficou preso
durante 64 dias pelo regime militar em 1971. “Quando eu voltei de São Paulo tive a solidariedade do Dr.
Barros Falcão e do Dr. Manoel Albuquerque, então
presidente da Associação Médica do Rio Grande do
Sul (AMRIGS). Foi uma visita rápida, onde tratamos de assuntos com cautela, pois
tudo foi acompanhado pelo diretor do DOPS. Mesmo assim, acredito que essa iniciativa tenha sido determinante para interromper as sessões de tortura, pois tanto
o Dr. Falcão quanto o Dr. Albuquerque representavam uma parcela importante
da sociedade da época”, lembra Bruno Costa.
Ampliação da Faculdade Católica de Medicina de Porto Alegre
FIM DO CONVÊNIO
A
finalização do convênio
entre a Secretaria da Saúde do Estado e a Faculdade Católica de Medicina resultou
no fechamento da Divisão Kraepelin em junho de 1976. Ação esta,
tida para muitos como um ato
político, sob a conivência da direção da faculdade. Foi o professor
Paulo Marocco o encarregado de
entregar a carta com o pedido de
demissão do Barros Falcão, após
11 anos de dedicação e trabalho.
O pedido continha a solicitação
imediata de afastamento de suas
funções em caráter irrevogável. O
documento foi entregue ao diretor
da faculdade da época, que leu a
carta durante uma reunião do conselho, cujos conselheiros acompanharam a leitura em silêncio.
Quando o professor Barros Falcão
se demitiu, outros professores começaram a se afastar também. “As
atividades foram interrompidas e
o curso ficou meio parado. Barros
Falcão e eu éramos muito próxi-
mos. Muitas vezes dava carona a
ele e certo dia, me mostrou uma
carta que recebeu de um grupo
de alunos, que lamentavam a paralisação do curso e se ofereciam
para ajudar de alguma forma.”
E
m 23 de outubro de 1973, foi convocada uma Assembléia Geral Extraordinária da Sociedade de Neurologia, Psiquiatria e Neurocirurgia do Rio Grande do Sul, a qual foi presidida pelo neurocirurgião
Prof. Dr. Elyseo Paglioli e secretariada pelo psiquiatra Dr. Sergio Paulo Annes, tendo sido aprovado,
por unanimidade, o desmembramento e a conseqüente criação das Sociedades de Psiquiatria e da Sociedade de Neurologia e Neurocirurgia.
CENTRO DE ESTUDOS JOSÉ DE BARROS FALCÃO - O ensino da psiquiatria inspirado na trajetória do seu precursor
27
Homenagem do CEJBF ao Dr. Paulo Mattos, professor do curso de pós-graduação stricto sensu da UFRJ
Placa em homenagem ao Professor José de Barros Falcão em 1988
28
CAPÍTULO
DE INSTITUTO MÉDICO PSIQUIÁTRICO
A CENTRO DE ESTUDOS
3
AMBULATÓRIO
DE PSIQUIATRIA
E
m 1978 o professor Heitor
Cirne Lima, retornando à
direção da Faculdade, possibilita a adaptação de uma área
para funcionar, provisoriamente,
como ambulatório de psiquiatria
integrado às atividades práticas
no ano seguinte. Em acordo com
a solicitação do professor Paulo
Marocco, retornam os professores
Bruno Costa e Herberto Maia às
atividades, além do convite para
o professor Falcão reassumir a direção do recém criado Instituto de
Psiquiatria.
A unidade de estudos no Hospital São Pedro, politicamente, não
era bem vista pela Secretaria da
Saúde, considerando que o hospital-escola estava alocado na Santa
Casa. Depois de desativada a Divisão Kraepelin, professores e alunos estavam sem uma área para
apresentar as aulas práticas. Já na
faculdade, Cirne Lima tinha uma
sala desocupada, local antes usado para reuniões. Depois de transformado em ambulatório de psiquiatria, pessoas da comunidade
que necessitavam de atendimento
passaram a ser atendidas, gratuitamente, pela faculdade, por meio
do Instituto de Psiquiatria, que
mais tarde receberia o nome de
Centro de Estudos Barros Falcão,
em homenagem ao médico.
N
a década de 80 o Hospital Psiquiátrico São Pedro sofre um esvaziamento gradual, chegou a ter, em seu
auge, cerca de 5000 pacientes hospitalizados. A Clínica Pinel termina com sua formação em Psiquiatria.
O Professor Manoel Albuquerque inicia a formação psiquiátrica no Hospital São Lucas da PUC. O eixo
do atendimento sai dos hospitais e centra-se em ambulatórios.
CENTRO DE ESTUDOS JOSÉ DE BARROS FALCÃO - O ensino da psiquiatria inspirado na trajetória do seu precursor
29
INSTITUTO MÉDICO PSIQUIÁTRICO
N
a volta do professor Barros Falcão, o diretor Heitor Cirne Lima cede
um espaço aos professores. Esta área se torna o ambulatório de
psiquiatria e mais tarde, em 1981, nasce o Instituto Médico Psiquiátrico. É nesse período que Barros Falcão convida o psicanalista José Lemmertz para reativar a especialização em psiquiatria na Faculdade Católica
de Medicina de Porto Alegre. Com isso, Lemmertz se torna o primeiro presidente do Instituto.
FUNDAÇÃO DO INSTITUTO
O
registro oficial do Instituto Médico Psiquiátrico está datado em 21 de maio
de 1981, quando, em Assembleia Geral coordenada pelo psiquiatra Bruno
Costa, foi lavrada a ata de fundação. Para a primeira gestão, a diretoria
ficou composta da seguinte forma:
Presidente
Vice-presidente
Diretor técnico
1º secretário
2º secretario
Tesoureiro
José Jayme Lemmertz
Bruno Mendonça Costa
Jorge Eduardo Fernandes Velho
Volnei Luis Saccomori
Flavio Strohschoen Pinto
Herberto Édson Maia
O Conselho Deliberativo do Instituto também foi formado na mesma ocasião.
O presidente era o Dr. Paulo Marocco e os demais membros eram os médicos
Harry Biehler, João Silveira Machado, José Augusto Godoy Gavioli e Jaime Parera Rebello. Para o Conselho Fiscal foram escolhidos como membros efetivos, os
médicos Arno Vitor Palma, Dione Therezinha Donida e Miguel Abib Adad. Já José
de Barros Falcão foi eleito e proclamado por todos os presentes como presidente
honorário.
30
ATA DE FUNDAÇÃO DO
INSTITUTO MÉDICO PSIQUIÁTRICO
CENTRO DE ESTUDOS JOSÉ DE BARROS FALCÃO - O ensino da psiquiatria inspirado na trajetória do seu precursor
31
FORMAÇÃO DE PROFESSORES
N
o início da década de 80, sob novos tempos, reinicia-se a preparação de nova turma de professores com a participação de ex-alunos, com o objetivo de reativar o Curso de Especialização. O Dr.
José Lemmertz volta a participar do grupo, colaborando nas reuniões. No
entanto, ele adoece e os encontros passaram a ocorrer na casa de Barros
Falcão, à noite, sob o claro objetivo de formar um grupo de professores
para retomar o curso de pós-graduação.
D
Dr. José de Barros Falcão e Dr. José Lemmertz
32
r. Barros Falcão foi colaborador do livro de Dr.José Lemmertz, comungando de sua
posição em relação à psicanálise e
seus conceitos sobre a prática médica e psiquiátrica. Com pensamento
libertário de amarras teóricas, Falcão
abriu os olhos de seus alunos ao estudo
de outros pensadores da alma humana, ao lado de não negligenciar os estudos freudianos, posição
idêntica do Dr. Lemmertz. Ambos com formação psicanalítica
eram capazes de unir conhecimentos passados com novos postulados, integrando-os e sempre abrindo perspectivas à sua
utilização prática.
RETOMADA DA ESPECIALIZAÇÃO
E
m 1980, o professor Barros Falcão encaminha solicitação ao Conselho Departamental da FFFCMPA para modificar e ampliar o programa de ensino da disciplina de psiquiatria. No ano seguinte, reinicia a preparação para nova turma de
professores com a participação de ex-alunos, com o objetivo de reativar o Curso de
Especialização. Até que em 1984, com a parceria do professor Lemmertz, o professor
Barros Falcão reativa o curso de pós-graduação.
DE INSTITUTO PARA CENTRO DE ESTUDOS
P
or atuar em toda sua vida profissional sob
uma visão e comportamento humanista, o
Centro de Estudos foi idealizado em homenagem ao médico e professor José de Barros Falcão
sob o mesmo prisma que o orientou nessa trajetória. Sem fins lucrativos, o foco de ação da entidade é educacional e social, com base na área da
saúde mental. Com esse viés para o ensino e à assistência na psiquiatria, o Centro de Estudos José
de Barros Falcão foi criado no dia 30 de novembro
de 1989. A troca do nome é uma homenagem ao
doutor e professor Barros Falcão que havia falecido aproximadamente sete meses antes, no dia 6
de maio de 1989.
PRESENTES NA ASSEMBLÉIA QUE O INSTITUTO MÉDICO
PSIQUIÁTRICO PASSA A SER DENOMINADO CENTRO DE
ESTUDOS JOSÉ DE BARROS FALCÃO EM 30 DE NOVEMBRO DE
1989. ERAM 14 SÓCIOS PRESENTES
PRIMEIRA DIREÇÃO ELEITA DO CEJBF
PARA A GESTÃO 1990-1991
ARNO V. PALMA
PRESIDENTE: MIGUEL ABIB ADAD
BRUNO COSTA - PRESIDENTE
VICE- PRESIDENTE: ARNO V. PALMA
CARLOS A. CRESPO
SECRETÁRIO GERAL E EXECUTIVO: VOLNEI SACCOMORI
FLÁVIO S. PINTO
TESOUREIRO: JOSÉ G. TABORDA
HERBERTO MAIA
DIRETOR DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO: CARLOS A. CRESPO
JOÃO MACHADO
DIRETOR DIDÁTICO E PEDAGÓGICO: HERBERTO MAIA
JORGE EDUARDO VELHO
CONSELHO DELIBERATIVO:
JOSÉ GERALDO TABORDA
MONTSERRAT MARTINS
MIGUEL ABIB ADAD
FLÁVIO S. PINTO
MONTSERRAT MARTINS
PAULO MAROCCO
JOÃO MACHADO
CONSELHO FISCAL:
RAUL ISEHARD
RAUL ISERHARD
SÉRGIO RODRIGUES
PAULO MAROCCO
VOLNEI SACCOMORI – SECRETÁRIO
JORGE EDUARDO VELHO
CENTRO DE ESTUDOS JOSÉ DE BARROS FALCÃO - O ensino da psiquiatria inspirado na trajetória do seu precursor
33
PARCERIA COM O
HOSPITAL MATERNO
INFANTIL
PRESIDENTE VARGAS
A
pós o falecimento do Dr.
Barros Falcão, o Dr. Ellis
D’Arrigo Busnello assumiu o cargo de professor titular da disciplina de psiquiatria
e medicina legal na FFFCMPA.
Em 1995 o Curso de Especialização em Psiquiatria do CEJBF, em
convênio através da Faculdade,
compartilha atividades com a re-
sidência em psiquiatria do Hospital Materno Infantil Presidente
Vargas, onde o Dr. Busnello era o
diretor do serviço de psiquiatria
e o Dr. Miguel Abib Adad o vice.
Os plantões e parte do estágio
de internação eram realizadas na
Unidade Psiquiátrica Feminina do
HMIPV, esta parceria permaneceu até o final da década de 1990.
CONVÊNIO COM A UFRJ
F
oi por iniciativa do grupo de professores do CEJBF,
composto por 16 docentes, que em 1997 surgiu
uma nova parceria firmada entre a Universidade
Federal do Rio de Janeiro com a Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre. Esse convênio oferecia aos médicos cursos de pós-graduação stricto sensu: de mestrado e doutorado, por intermédio do
Instituto de Psiquiatria da UFRJ. Os alunos tinham aulas
Aulas do curso de pós-graduação stricto sensu
presenciais no Rio de Janeiro, mas a maioria das
aulas eram ministradas em Porto Alegre, pois os
pós-graduandos financiavam a logística para este
fim. Dos 16 professores mestrandos pelo acordo,
quatro também fizeram doutorado em psiquiatria, sendo eles: Miguel Abib Adad, Carlos Alberto
Crespo de Souza, Bruno Mendonça Costa e Flavio
Strohschoen Pinto.
34
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA
N
a décade de 90 o CEJBF torna-se oficialmente uma associação federada da ABP e seu curso passa a ser reconhecido oficialmente pela
mesma instituição.
UNIDADE BARROS FALCÃO NO HPSP
N
ão há dúvidas que o Dr.
Barros Falcão ajudou a
escrever um capítulo importante da história do Hospital
Psiquiátrico São Pedro. Toda sua
dedicação e trabalho desenvolvido na instituição, sobretudo
no desenvolvimento do estudo
da psiquiatria, seria reconhecido
mais tarde através de uma homenagem. Por sugestão do professor
e psiquiatra Bruno Costa, no dia
15 de janeiro de 1997, uma das
unidades do HPSP recebe o nome
do professor e Dr. Barros Falcão.
A cerimônia contou com a presença de familiares do Dr. Falcão,
dos amigos e colegas Bruno Costa
e Paulo Marocco e do Dr. Ygor A.
Ferrão representando o então Diretor do HPSP, Dr. Roberto Gandolfi Lieberknecht.
Cerimônia de inauguração da Unidade Barros Falcão no HPSP
A
Lei Estadual nº 9.716, promulgada em 7 de agosto de 1992, que
dispõe sobre a reforma psiquiátrica no Rio Grande do Sul. A
lei determina a substituição progressiva dos leitos nos hospitais psiquiátricos por uma rede de atenção integral em saúde mental e
inclui regras de proteção aos usuários que padecem de sofrimento psíquico, especialmente quanto às internações psiquiátricas compulsórias.
Determina ainda, a extinção dos manicômios por uma rede substitutiva
de serviços à saúde mental.
CENTRO DE ESTUDOS JOSÉ DE BARROS FALCÃO - O ensino da psiquiatria inspirado na trajetória do seu precursor
35
SEDE DO CEJBF
I
naugurada oficialmente em 26 de abril de 2003,
a sede própria do CEJBF passou a funcionar na
Rua Uruguai, 335, no Centro Histórico de Porto
Alegre. Atualmente, a sede abriga o departamento
administrativo e o atendimento ambulatorial realizado pelos alunos do curso de especialização.
Sede do CEJBF na rua Uruguai nº 335 no Centro histórico de Porto Alegre
36
Placa da inauguração do Ambulatório CEJBF em 2003
CURSOS E EVENTOS CIENTÍFICOS
NACIONAIS E INTERNACIONAIS
PROMOVIDOS PELO CEJBF
CENTRO DE ESTUDOS JOSÉ DE BARROS FALCÃO - O ensino da psiquiatria inspirado na trajetória do seu precursor
37
Cursos, Simpósios e Congressos
N
o início do século XXI, o
Centro de Estudos José de
Barros Falcão atuava como
uma entidade vinculada ao Departamento de Psiquiatria e Medicina
Legal da Fundação, com finalidades
de ensino, pesquisa e assistência
no campo da Psiquiatria, essa parceria oportunizava a realização de
cinco cursos de pós-graduação lato
sensu. São eles: Curso de Especia-
Evento Promovido pelo CEJBF. Da
esquerda para a direita: Dr. Volnei
Saccomori, Dr. Jacintho Godoy Filho, Dr.
Bruno Costa e Dr. Luiz Carlos I. Coronel
38
lização em Psiquiatria; Curso de
Especialização em Psicoterapias
Dinâmicas; Curso de Especialização
em Psicodrama; Curso de Especialização em Psiquiatria Forense e
Saúde Mental e Lei e o Curso de
Especialização em Psiquiatria da Infância e da Adolescência. Além disso, eram promovidos congressos e
simpósios relacionados a diversos
temas da Saúde Mental.
“F
Depoimento
oram muito poucas oportunidades que eu tive
de conviver com o Dr. Falcão. Algumas aulas
no quinto e outros tantos seminários no sexto
ano da faculdade de medicina. Mais tarde, já
com meu curso de especialização concluído, fui convidado a fazer
parte do então Instituto Médico Psiquiátrico. O mesmo foi constituído como um órgão de apoio ao Departamento de Psiquiatria
da FFFCMPA. Foi então que realmente comecei a conviver com as
idéias do Dr. Falcão. O mesmo não estava mais presente no instituto, contudo através de seus ex-alunos e colaboradores, passei a
ter contato com sua forma de pensar. A maioria dos colegas que
com ele conviveu adquiriu uma forma de entender a psiquiatria,
muito próxima do Dr. Falcão. Diferentemente do que é atribuído
ao Dr. Lemmertz, o Dr. Falcão nunca fez uma oposição formal a
qualquer ideologia psicológica. Ao contrário, senhor de um profundo conhecimento humanístico, com uma vasta cultura médica, filosófica e histórica, bebia em todas as fontes, e guardava
para seu uso de tudo aquilo que lhe fazia sentido. Desta forma
manteve uma posição de abertura e até de acolhimento a todas
as escolas do pensamento psiquiátrico. Tal postura modelou boa
parte de seus colegas mais próximos e que foram os fundadores
do Instituto Médico Psiquiátrico. Mais tarde em homenagem ao
mestre, o instituto mudou seu nome para Centro de Estudos José
de Barros Falcão e firmou o compromisso de manter esta
postura aberta frente ao conhecimento psiquiátrico e de tentar
passar esta identidade aos alunos de seus vários cursos. Ao longo
do caminho, além do curso de especialização em Psiquiatria, o
CEJBF promoveu cursos de especialização nas áreas de psicoterapia, psiquiatria forense e psicofármacos. Realizou constantemente encontros científicos e promoveu os primeiros cinepsiquiatria
e simpósios de neuropsiquiatria em nosso estado. Mais tarde o
Centro de Estudos mudou de endereço. Com auxílio de seus professores adquiriu um conjunto de salas na Rua Uruguai, onde estabeleceu sua sede e ambulatório para a prática clínica de
seus alunos. Firmou uma profícua parceria com a
Clínica São José, local onde ocorre o treinamento
supervisionado do atendimento a pacientes internos, por parte de seu corpo discente. Da mesma
forma mantém convênios com o Hospital Divina
Providência e a Cruz Vermelha. A parceria com a
Clínica São José deu como frutos um importante convênio com o Prontopsiquiatria e também
possibilita ao CEJBF oferecer bolsas de estudo a
seus alunos através destas duas instituições. Desta forma o Centro de Estudos continua crescendo
e se fortalecendo, estando atualmente trilhando
um dos seus melhores momentos. Ao longo da
existência das pessoas, alguns eventos e envolvimentos são marcantes na sua vida e contribuem
inclusive para definir a sua identidade. Meu envolvimento com o CEJBF, a contribuição para
construção de uma instituição que presta o serviço social que o mesmo oferece, e que se mantém
perene ao longo de décadas, é certamente um
destes envolvimentos que marcam profundamente um indivíduo. Sou, certamente somos, gratos
ao Dr. Falcão, não só pelos seus ensinamentos,
mas também por ter ensejado em um grupo de
psiquiatras a formação desta instituição a que
pertencemos e com que diuturnamente nos envolvemos tanto para sua manutenção como para
a sua constante evolução. Queremos também
agradecer a todos os professores alunos, funcionários e pacientes que contribuíram no decorrer
dos últimos quarenta e cinco anos para a construção desta obra.”
Sérgio Rodrigues - Presidente do CEJBF
CENTRO DE ESTUDOS JOSÉ DE BARROS FALCÃO - O ensino da psiquiatria inspirado na trajetória do seu precursor
39
Assinatura do Convênio do CEJBF com a Clínica São José. Da esquerda para a direita: Clarissa Godoy
Guaragna, Dr. Luiz Antonio Saint Pastous Godoy, Dr. Theobaldo Oliveira Thomaz e Dr. Euclides Gomes
40
OS DESAFIOS, AS NOVAS
PARCERIAS E O FUTURO
NOVA SEDE
A
forte ligação entre
o Centro de Estudos
José de Barros Falcão e o Hospital Psiquiátrico
São Pedro (HPSP) tornaria-se
mais estreita, após o encerramento do convênio com
a FFFCMPA. Em 2007, por
iniciativa do psiquiatra Luiz
Carlos Illafont Coronel, que
acabara de assumir como Diretor Geral do HPSP, o CEJBF
passa a ter uma sede na instituição e além das atividades relacionadas ao estágio
de internação hospitalar psiquiátrica, que já aconteciam,
passou a desenvolver também as disciplinas teóricas .
CAPÍTULO
4
Clinica São José
E
m agosto de 2011, a entidade firma uma importante parceria com
a Clínica São José (CSJ),
que passa a abrigar a Secretaria
de Ensino do Centro de Estudos.
Além disso, o espaço disponibilizado tornou-se um local de está-
gio do primeiro ano do Curso de
Especialização em Psiquiatria. Em
conjunto com a CSJ, tem início, no
mesmo ano, o XXXI Curso de Formação em Psiquiatria do CEJBF
além de promoções de eventos
científicos realizados pelas duas
instituições.
CENTRO DE ESTUDOS JOSÉ DE BARROS FALCÃO - O ensino da psiquiatria inspirado na trajetória do seu precursor
Vista áerea da Clínica São José
41
Convênios e parcerias
Prontopsiquiatria/Cisame
E
m 2012, o Centro de Estudos firma convênio com
o Prontopsiquiatria/Cisame, que disponibilizou
para os alunos o campo de estágio de emergência psiquiátrica. Foi retomada também a disciplina de
Cinepsiquiatria, idealizada na década de 90 pelo Dr. Herberto Edson Maia
e atualmente coordenada pelo Dr. Rogério Rocha. A XIX Jornada do Prontopsiquiatria, pela primeira vez será promovida em conjunto com CEJBF e
a Clinica São José.
Divina Providência
U
ma nova parceria surge com
o Hospital Divina Providência
em fevereiro de 2012, onde se realiza o campo de estágio de Interconsulta em Psiquiatria em Hospital Geral.
42
Cruz Vermelha
A
o final do ano de 2012, a Cruz Vermelha se torna parceira do Centro de Estudos. Este convênio permite o atendimento, pelos alunos, de pacientes com diagnóstico de uso
abusivo e dependência de substâncias psicoativas.
O CEJBF de hoje
A
tualmente, o Curso de
Especialização de Psiquiatria do Centro de Estudos
José de Barros Falcão, conta com
43 disciplinas e duração de três
anos. Atualmente há 23 alunos
matriculados oriundos de diferentes cidades do Rio Grande do Sul e
de outros estados como Pará, Minas Gerais, São Paulo e Ceará. Em
2013, o CEJBF iniciou a trigésima
terceira turma no primeiro semestre e a trigésima quarta turma no
segundo semestre.
Alunos do 2º ano do CEJBF e os professores:
Dr Euclides Gomes,Dr. Luiz A. Godoy e Dr. Carlos Alberto S. Barros
Sede da CEJBF na Clínica São José
Dr. Germano Bonow
CENTRO DE ESTUDOS JOSÉ DE BARROS FALCÃO - O ensino da psiquiatria inspirado na trajetória do seu precursor
43
Professores e Alunos na defesa do
trabalho de conclusão de curso
Um legado para o CEJBF
A
formação de psiquiatras
humanistas, capazes de desenvolver suas ideias de forma
independente, contribuindo para
a saúde mental de pacientes com
transtornos psiquiátricos é como
uma espécie de marca registrada
do Centro e, por conseguinte, de
seus alunos. Esse, talvez, tam44
bém tenha sido o grande legado
do professor Barros Falcão para
a posteridade. E o grande desafio
futuro é manter-se e ampliar-se
como uma referência no ensino
da especialização psiquiátrica
brasileira, fortalecendo seus serviços assistenciais e retomando
experiências anteriores de gran-
des eventos cientificos e cursos
de especialização em outras áreas
da saúde mental. E através deste
novo momento, revitalizado por
parcerias privadas, nunca perder
suas raízes históricas, promovendo sempre um espaço de formação qualificada em assistência,
ensino e pesquisa.
“A
Depoimento
Clínica São José, que atualmente sedia o Centro de Estudos José de Barros Falcão, estava
sendo construída por ocasião da colação de
grau em Medicina do Dr. José de Barros Falcão, sendo inaugurada, dois anos depois, em 1934, pelo Dr. Jacintho Godoy, psiquiatra de geração anterior que, após sua formação na França entre
os neuropsiquiatras da época, tais como Pierre Marie, Babinski,
Duprè, Laignel-Lavastine, entre outros, trilhou caminho semelhante ao do Dr. Barros Falcão, buscando desenvolver tudo o
que então se apresentava como oportunidade a ser implementada no meio psiquiátrico, tendo sido diretor do Hospital Psiquiátrico São Pedro por 14 anos, co-fundador da Sociedade de Psiquiatria do RS e do Instituto Psiquiátrico Forense, para só depois
fundar a Clínica São José. Em tempos mais recentes, há cerca
de 20 anos, a Clínica São José iniciou a implantação de uma reestruturação interna, visando adaptar-se aos novos tempos da
psiquiatria, provendo o seu caráter assistencial das inovações
necessárias à moderna prática da psiquiatria, com atendimento
mais abrangente, tanto médico quanto psicológico, farmacológico e de enfermagem, entre outros, montando assim um sistema de atendimento multidisciplinar mais eficaz.
Também há 20 anos, e de forma ininterrupta, o ProntoPsiquiatria presta atendimento de urgência nas 24 horas do dia.
Já àquela época, o planejamento estratégico do hospital previa o atingimento de um tal nível de volume, qualidade e abrangência de atendimentos que o tornaria um meio muito propício
ao desenvolvimento de atividades de ensino e pesquisa de uma
escola de psiquiatria, tanto médica como de psicologia e de enfermagem.
responsável pelos atendimentos médicos psiquiátricos de emergência e de ambulatório durante
todos esses anos, além de seu corpo clínico atender quase metade dos pacientes internados no
hospital.
Por ambas as histórias se oportuniza um crescimento da assistência, do ensino e da pesquisa
da psiquiatria nessa nova parceria, cujo ápice
bem poderia estar no sonho dos fundadores de
ambas as instituições, sem dúvida podendo se
tornar uma das grandes referências do aprendizado da prática da psiquiatria no país.
Nesses dois anos iniciais da parceria já se
pode sentir o nítido crescimento da demanda de
candidatos ao curso de psiquiatria nessa formatação. Como tudo que se inicia, há muito a se
aprender. Que os gestores das duas instituições
tenham os sonhos, a visão e a competência de
seus fundadores para dar a melhor condução a
essa oportunidade de associação para o crescimento, para o bem do melhor desenvolvimento
do ensino e da prática da psiquiatria junto à comunidade.”
Luiz Antonio Saint Pastous Godoy
Diretor Técnico da Clínica São José
Veio o destino a caprichosamente oportunizar esta colaboração entre o Centro de Estudos José de Barros Falcão e a Clínica
São José, com a inclusão do Cisame, parceiro da Clínica São José,
CENTRO DE ESTUDOS JOSÉ DE BARROS FALCÃO - O ensino da psiquiatria inspirado na trajetória do seu precursor
45
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http://site.sppa.org.br/historia
Acessado em 06/11/2013 as 12:30
46
Créditos Iconografia:
Arquivo CEJBF
Págs. 1, 12 20-Foto (Aula do Curso), 23-Foto (Aula do Curso),
24 26 28, 31, 32, 34, 35, 38, 40, 43 e 44.
Arquivo Clinica São José
Págs. 17 e 41.
Arquivo Prontopsiquiatria/Cisame
Pág. 42 – Fotos: Beto Fagundes
Arquivo Família Falcão
Págs. 2, 12 e 20 (Dr. Barros Falcão)
Outros créditos
Pág. 13 - http://www.panoramio.com/photo/1726660
Acessada em 29/10/2013
Pág. 14 - Panteão Médico Riograndense Síntese Cultural e
Histórica: Progresso e Evolução da Medicina no Estado do Rio
Grande do Sul. Plano e Execução de Álvaro Franco e Sinhorinha
Maria Ramos. Sob os auspícios da Sociedade de Medicina de
Pôrto Alegre e Sindicato dos Médicos de Pôrto Alegre. 1943.
Ramos, Franco- Editores. São Paulo. pg. 507
Pág. 15 -Viaduto Otávio Rocha, Avenida Borges de Medeiros.
W. Hoffmann Harnisch Filho, 1940. Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa.
Pág. 16 - http//:wwwbiblioufcspa.blospot.com.br/2011/10/
santa-casa-de-misericórdia-208-anos.html
Acessada em 29/10/2013
Pág. 22 - BONAMIGO, Telmo Pedro e OLIVEIRA, Miriam da Costa; organizadores. Memórias da Criação da Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre.
Pág. 23 - Foto (Emil Kraepelin)
Fonte: http://www.ccs.saude.gov.br/memoria%20da%20loucura/mostra/kraepelin.
Acessada em 23/09/2013
Pág. 25 - Foto (Irmã Paulina): Emerson Alves, Foto (HPSP):
Emerson Alves
Pág. 27 - http://www.ufcspa.edu.br/index.php/historico
Acessada em 25/10/2013
Pág. 36 - Fotos: Emerson Alves
Pag.28 – Foto (Placa de Homenagem) – Emerson Alves
Pág. 37 - Foto – Beto Fagundes
LEGENDAS:
AMIRGS- Associação Médica do Rio Grande do Sul
CEJBF- Centro de Estudos José de Barros Falcão
CSJ- Clínica São José
DOPS- Departamento de Ordem Polítca e Social
EUA – Estados Unidos da América
FFFCMPA- Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de
Porto Alegre
HPSP- Hospital Psiquiátrico São Pedro
PUC- Pontifícia Universidade Católica
UFCSPA – Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto
Alegre
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFRJ- Universidade Federal do Rio de Janeiro
DISCIPLINAS DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSIQUIATRIA DO CEJBF- 2013/2015
1º Ano - 2013
1º Sem
Psicopatologia Geral I
Terapêuticas Psicofarmacológicas e Biológicas I
Introdução as Terapêuticas Psicoterápicas I
Avaliação Diagnóstica I
Psiquiatria de Emergência: intervenções medicamentosas e psicoterápicas
Reunião Teórico-Clínica I
Reunião Científica I
Treinamento do papel de psiquiatra
2º Sem.
Psicopatologia Geral II
Introdução as Técnicas Psicoterápicas II
Terapêuticas Psicofarmacológicas e Biológicas II- infância/adolesc. e velhice
Avaliação Diagnóstica II
Ética e Políticas Públicas de Saúde Mental
Reunião Teórico-Clínica II
Reunião Científica II
2º Ano - 2014
3º Sem.
Interconsulta Psiquiátrica
Desenvolvimento Humano
Psicoterapia I: Grupoterapia
Psicoterapia II: Cognitivo-Comportamental
Psicopatologia Geral e Especial I
Reunião Teórico-Clínica III
Reunião Científica III
4º Sem.
Psicoterapia III: Psicossocial e Familiar
Psicoterapia IV: Psicanalítica
Abuso e Dependência de Drogas
Psiquiatria da Infância e Adolescência
Saúde Mental da Mulher
Reunião Teórico-Clínica IV
Reunião Científica IV
3º Ano - 2015
5º Sem.
Neurociências das Relações Humanas
Sexualidade: psicopatologia e intervenção
Metodologia Científica / Monografia de Conclusão de Curso
Epidemiologia Psiquiátrica
Conhecimentos Gerais I: Genética, Sociologia, Antropologia, Teologia,
Filosofia;
Reunião Teórico-Clínica V
Reunião Científica V
6º Sem.
Ciência Social e do Comportamento Humano
Historia do Conhecimento Psiquiátrico
Psiquiatria Geriátrica
Psiquiatria Forense
Psiquiatria Comunitária
Reunião Teórico-Clínica VI
Reunião Científica VI
CORPO DOCENTE
Adimiro Sari
Alceu Gomes Correia Filho
Alcir Tadeu Giglio
Alexei Gil
Ângela Rafaela Grandi
Antônio Francisco Maineri Brum
Arno Vitor Palma
Bruno Mendonça Costa
Bruno Scheidt
Carlos Alberto Crespo de Souza
Carlos Alberto Duarte Soares
Carlos Augusto Scalon dos Santos
Cássio Castellarin
César Augusto Carus Goulart
Cesar Augusto de Freitas e Rathke
César Augusto Trinta Weber
Clara Ester Trahtman
Claudio Mendivil Schoepping
Flávio Strohschoen Pinto
Geraldo Rosito
Gilberto Slud Brofman
Giovani Zwetsch Gheno
Gislaine Oliveira
Herberto Edson Maia
Jeferson Luis Flach Barcelos
Jerônimo de Almeida Mendes Ribeiro
José Ottoni Outeiral (in memoriam)
Leandro Luz
Liliane Maria Ferraro Maranghello
Luis Carlos Guimarães Lima
Luisa Isabel Dufech Gimeno
Luiz Antônio Saint Pastous Godoy
Luiz Carlos Illafont Coronel
Luiz Nicomedes Arena Coronel
Maria da Graça Cantarelli
Maria Regina Bergallo Aydos
Mauro Barbosa Terra
Mayra Dipp Murat
Miguel Abib Adad
Patricia de Saibro
Paulo Berél Sukiennik
Paulo de Tarso da Luz Fontes Neto
Rachel Gick Fan
Renata Brasil Araújo
Renato de Araújo Spagnoli
Rene Lenhardt
Rogério Alves da Paz
Rogério Rocha
Ruben de Souza Menezes
Sérgio Rodrigues
Sonia Elisabete Soares Kunzler
Suzana Deppermann Fortes
Theobaldo Oliveira Thomaz
Tiago Cardinal
Valéria Soares Gularte
Vera Lúcia Bidone Lopes
Vilma Rodriguez
Vivian Peres Day
Volnei Luiz Saccomori (in memoriam)
Werner Paulo Knapp
CENTRO DE ESTUDOS JOSÉ DE BARROS FALCÃO - O ensino da psiquiatria inspirado na trajetória do seu precursor
47
CENTRO DE ESTUDOS
JOSÉ DE BARROS FALCÃO
Rua Uruguai, 335 - Centro Histórico
Av. Oscar Pereira, 4821 - Bairro Glória
Porto Alegre/RS
48
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