UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – 2013/2014
RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA
JESSICA JENIFFER KERSCHER
INICIAÇÃO CIENTÍFICA – VOLUNTÁRIA/ EDITAL IC 2013/2014
PLANO DE TRABALHO:
Diretrizes de projeto para arquitetura em bambu
Relatório final apresentado ao Grupo de
Pesquisa em TEORIA E HISTÓRIA DO AMBIENTE
CONSTRUÍDO – THAC da UNIVERSIDADE FEDERAL
DO
PARANÁ – UFPR por ocasião do
desenvolvimento das atividades voluntárias de
Iniciação Científica – Edital 2013-2014.
NOME DO ORIENTADOR:
Prof. Dr. Antonio Manoel Nunes Castelnou, neto
Departamento de Arquitetura e Urbanismo
TÍTULO DO PROJETO:
Arquitetura e Sustentabilidade: Bases Conceituais para o Projeto
Ecológico
BANPESQ/THALES: 2007021212
CURITIBA PR
2014
1
1
TÍTULO
Diretrizes de projeto para arquitetura em bambu
2
RESUMO
Um dos temas em debate mais frequente nos últimos anos tem sido a busca pelo
desenvolvimento econômico em harmonia com o meio ambiente, o que comumente se passou a
denominar desenvolvimento sustentável; e, diante deste quadro, a procura por alternativas viáveis
de materiais de construção que não agridam a natureza tem se tornado comum. Nesse contexto,
o bambu1 ressurge como material eficiente e ainda sustentável tendo em vista seu rápido
crescimento e sua alta taxa de captação de gás carbônico. Por muito tempo, o estudo desse
material ficou restrito apenas a países asiáticos que trazem consigo a tradição do uso da planta
para fins estruturais e alimentícios, entre outros. Entretanto, resultados de pesquisas sobre sua
resistência e durabilidade têm despertado o interesse científico do lado ocidental do mundo.
De cunho teórico-conceitual e caráter exploratório para sua realização, esta pesquisa em
iniciação científica faz parte do projeto intitulado “Arquitetura e sustentabilidade: Bases conceituais
para o projeto ecológico” e tem como principal intenção um aprofundamento sobre a utilização
desse material na arquitetura contemporânea. Este trabalho inicia-se pela conceituação e
caracterização do bambu, além de uma breve apresentação de suas propriedades mecânicas,
para então mostrar e descrever o seu uso na arquitetura. De modo específico, apresenta uma
análise de caso, onde são apontados os aspectos funcionais, técnicos e estéticos de uma obra
executada, exemplificando como se pode aliar eficientemente todos esses termos com a escolha
racional do material para sua idealização.
3
OBJETIVOS
Em termos gerais, esta pesquisa busca aprofundar o conhecimento sobre o bambu e seu
emprego na arquitetura, por meio da revisão web e bibliográfica do tema, objetivando levantar e
descrever suas principais vantagens e desvantagens ambientais, assim como seus elementos e
características estético-funcionais. Pretende-se ainda mostrar que o bambu é de grande
importância para o desenvolvimento socioambiental, já que seu uso pode trazer benefícios para
muitas pessoas e comunidades. De maneira especifica, visa-se o estudo de uma obra
arquitetônica realizada em bambu, de forma a ilustrar a eficiência da planta como material de
construção e ainda que seu aprimoramento técnico pode torná-la um material de alto padrão e de
grande sustentabilidade nas áreas da arquitetura e construção civil.
1
A designação bambu é geralmente dada às plantas da subfamília Bambusoideae, referente a um grupo de das gramíneas
(Poaceae ou Gramineae). Essa subfamília subdivide-se em duas tribos, a saber: a Bambuseae, que corresponde aos bambus
chamados “lenhosos”; e a Olyrae, que se relaciona aos bambus chamados “herbáceos”. Estima-se que há aproximadamente 1.250
espécies de bambu em todo o mundo, acrescentando-se novas a cada ano, espalhadas entre 90 gêneros e presentes de forma nativa
em todos os continentes, com exceção a Europa. Trata-se de vegetais que habitam uma alta gama de condições climáticas, incluindo
zonas tropicais e temperadas; e topográficas, em especial do nível do mar até acima de 4.000 m (N. autora).
2
4
INTRODUÇÃO
Segundo Valenovsky apud López (1974), o aparecimento do bambu na face da Terra deu-
se no Período Cretáceo, ou seja, um pouco antes do surgimento do ser humano no planeta, o que
ocorreu na Era Terciária. E, desde os tempos pré-históricos, o homem e o bambu estão unidos, o
que pode ser comprovado inclusive por antigos relatos, como, por exemplo, menções em antigos
caracteres chineses, os quais datam de 1600 a 1100 a.C. (PORTERFIELD apud LÓPEZ, 1974).
Dados fornecidos pela INTERNATIONAL NETWORK FOR BAMBOO AND RATTAN – INBAR (2014)
alegam que cerca de 3% das florestas de nosso planeta são compostas de bambus, sendo que,
nos locais onde há a sua presença, esta planta é utilizada de várias maneiras, devido às inúmeras
qualidades que oferece, tais como: leveza, resistência, vitalidade, facilidade de manuseio e
formidável beleza, entre outras, as quais garantiram o seu papel na evolução da cultura humana
(FARRELY apud PEREIRA e BERALDO, 2007). Porém, é precisamente no continente asiático
que se pode notar de uma maneira forte que as propriedades do material foram mais bem
aproveitadas, pois o bambu vem sendo utilizado, desde tempos remotos, como alimento e
também como matéria-prima para a criação de utensílios e construções, tais como as pontes de
grande vão tensionadas por cordas na China ou mesmo na execução da cúpula do Taj Mahal na
Índia (VASCONCELLOS, 2010).
O bambu é uma planta ancestral e de crescente importância para a humanidade,
sendo conhecido como “a madeira dos pobres” na Índia,“ o amigo das pessoas” na
China, e o “irmão” no Vietnã; no Ocidente ele é bem menos conhecido, sendo
geralmente associado a obras de menor importância (PEREIRA e BERALDO,
2010, p.38).
Com a invenção e/ou aplicação de novos materiais, o bambu foi sendo deixado de lado e
acabou por ser associado à construção de baixo padrão. O uso restrito desse material, para
Jayanetti e Follett apud Xiao et al. (2008), deu-se principalmente pela ausência de conhecimentos
técnicos, o que acabou por conduzir a dificuldades em relação a métodos de articulação entre as
peças, criação de melhores tratamentos para preservação e aumento da durabilidade do material,
ausência de dados sobre a eficiência do bambu e, ainda, exclusão em códigos de construção.
Entretanto, mais recentemente, ainda segundo esses autores, a redução dos recursos em
madeira e as restrições impostas às derrubadas de florestas naturais direcionaram a atenção do
mundo sobre a necessidade de se encontrar um material substitutivo aos convencionais, o qual
fosse renovável, sustentável e, ao mesmo tempo, amplamente disponível. Foi nesse contexto que
ocorreu enfim o resgate do material bambu.
Entre as inúmeras vantagens que o bambu oferece, de acordo com a INBAR (2014), estão:
a absorção e estocagem de carbono; a capacidade de proteção das florestas e bacias
hidrográficas; a potencialidade como infraestrutura de baixo custo; a multifuncionalidade, que vai
desde material de construção até biocombustível; e, enfim, a sua condição de ser um recurso
renovável que pode gerar renda e ainda ser usado como alimento (PEREIRA et BERALDO, 2010).
3
5
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Em termos geográficos, a ocorrência de bambus em todas as suas espécies abrange
desde os trópicos até as regiões temperadas, distribuindo-se do nível do mar até grandes altitudes
e espalhando-se por todos os continentes, com exceção da Europa (Fig. 1). A classificação
taxonômica do bambu agrupa-o como pertencente à família Graminae e subfamília Bambusoideae
ou ainda à família Bambuseae, estimando-se que existam aproximadamente 40 gêneros
subdivididos em aproximadamente 1.300 espécies de bambu2 (LÓPEZ apud PEREIRA;
BERALDO, 2010).
A
B
C
FIGURA 1 – Distribuição mundial:
D
A.
B.
C.
D.
E.
E
O
bambu
é
uma
planta
que
tem
Bambu herbáceo (Olyrea)
Bambu lenhoso (Bambuseae)
Bambu lenhoso paleotropical
Bambu lenhoso neotropical
Bambu lenhoso temperado
rápido
crescimento, podendo chegar a uma altura de 10 a 20 m
em menos de um ano, apresentando-se em forma tubular
ligeiramente cônica, onde seu diâmetro varia de 3 a 25
cm (OERMANN et LAUDE, 2004). Shyam K. Paudel,
citado em Xiao et al. (2008), afirma que as propriedades
do bambu variam de acordo com diversos fatores, entre
os quais: espécie, idade, quantidade de umidade, fatores
climáticos e diferenças de altura do colmo, que é o nome
dado ao tronco do bambu. De acordo com Janssen
(1995), entretanto, algumas partes são comuns a todos
2
FIGURA 2
De acordo com Clark (2006), os bambus têm uma ampla distribuição natural, ocorrendo a partir de cerca de 46° de Latitude Norte a
aproximadamente 47° de Latitude Sul; e do nível do mar até 4.300 m de altitude nas montanhas equatoriais. Os bambus herbáceos
(família Olyreae) concentram-se na região neotropical, onde 20 gêneros e cerca de 110 espécies são encontrados, do México até o
norte da Argentina, Paraguai e sul do Brasil, bem como nas Índias Ocidentais. Há ainda a família Buergersiochloa, que inclui apenas
uma espécie e é endêmica para a Nova Guiné, cujos membros raramente ocorrem acima de 1.000 m de altitude. Uma das espécies
herbáceas neotropicais (Olyra latifolia) é amplamente encontrada na África tropical e Madagascar (Fig. 1A). Os bambus lenhosos
(família Bambuseae) são muito melhor distribuídos (Fig. 1B), havendo basicamente três grandes grupos: os bambus paleotropicais, os
neotropicais e os temperados. Os bambus lenhosos paleotropicais – que incluem as subfamílias Bambusinae, Hickelinae,
Melocanninae e Racemobambosinae – são distribuídas em regiões tropicais e subtropicais da África, Madagascar, Índia, Sri Lanka,
Sudeste da Ásia, Sul da China, sul do Japão e Oceania (Fig. 1C). Já os bambus lenhosos neotropicais – incluindo as subfamílias
Arthrostylidiinae, Chusqueinae e Guaduinae – são encontrados do México ao sul da Argentina e Chile e nas Antilhas (Fig. 1D). Por fim,
os bambus lenhosos temperados – que reúnem as subfamílias Arundinariinae e Shibataeinae – são generalizados e diversificados na
zona temperada norte, mas alguns membros ocorrem em altitudes mais elevadas, especialmente em partes da África, Madagascar, sul
da Índia, Sri Lanka e Sudeste da Ásia (Fig. 1E).
4
os tipos de bambus: o colmo ou culmo; a parte oca da planta nomeada cavidade e o fato das
cavidades serem separadas cada uma por diafragmas que, na parte externa do colmo, formam
nós de onde partem os ramos. A parte do colmo que fica entre dois nós denomina-se internó e,
por último, tem-se a chamada parede do colmo (Fig. 2).
A partir da analise dessas partes, as quais terão aspectos diferentes para cada espécie,
pode-se observar propriedades especificas que favoreceram o melhor aproveitamento do bambu
em questão. Tais propriedades, citadas por Janssen (1995), relacionam-se com as dimensões de:





A altura do colmo (que permanecerá a mesma durante toda a vida do bambu);
A parte útil do comprimento do colmo (já que o diâmetro da parte inferior da planta é diferente da
superior, pois bambus são ligeiramente cônicos);
A espessura das “paredes”;
A altura dos internos; e
O diâmetro da parte externa no topo e na parte inferior.
Além disso, segundo o mesmo autor, deve-se observar: a linearidade do colmo, as
propriedades mecânicas, a durabilidade natural e o tratamento. Com a breve compreensão
desses dados, pode-se melhor definir a utilidade de cada espécie de bambu e os locais dos
internos (para o corte), entre outras coisas, as quais garantirão o aproveitamento da planta.
Sendo o colmo a parte aérea da planta, é ali que se encontram as razões para suas
propriedades de resistência mecânica. Liese apud Pereira et Beraldo (2010) alega que a estrutura
anatômica e o teor de umidade desta parte determinam tais propriedades: para ele, o bambu é
constituído por um tecido resistente, que é um tipo de compósito natural de lignocelulósico; de
baixa massa especifica aparente e que contém fibras, as quais, conforme o teor delas,
determinam a resistência da planta.
Por sua vez, Gharanimi – também citado em Xiao et al. (2008) – comenta sobre as
distribuições das fibras ao longo da espessura do colmo. Segundo ele, a maior concentração
encontra-se nas camadas externas da parede do bambu, consistindo na maneira do colmo resistir
às forças do vento. Ele alega ainda que o bambu é um material ortotrópico3, que apresenta alta
resistência onde suas fibras são paralelas ao crescimento da planta e menos onde estas são
transversais. Isso justifica o motivo dos bambus submetidos às forças de tração se partirem mais
facilmente nos nós que apresentam fibras transversais.
Conforme Pereira e Beraldo (2010), o colmo não possui raios, o que facilita o corte
longitudinal e ainda apresenta peculiaridades:
Curiosamente o bambu carrega algumas particularidades únicas, tais como o fato
de seu colmo nascer com o mesmo diâmetro que terá por toda a vida, o de seus
brotos se alongarem continuamente de 20 a 100 cm por dia, o de sua floração e
consequente produção de sementes ser um fenômeno raro, o de apresentar
colmos com design que alia leveza, flexibilidade e resistência mecânica,
etc.(FREIRE apud PEREIRA et BERALDO, 2010, p.21).
3
Denomina-se ortotropia a propriedade dos materiais que apresentam características físicas diferentes consoante a orientação
espacial. Logo, um material é ortotrópico quando suas propriedades mecânicas dependem das direções de três eixos (x-y-z)
mutuamente perpendiculares (N. autora).
5
Outra peculiaridade relacionada ao colmo reside no fato de que, quando submetido a
cargas, ele sofre deformações. No entanto, quando as cargas são retiradas, ele volta ao seu
formato original. Essa propriedade torna as estruturas de bambu capazes de resistir a
tempestades e terremotos (JANSSEN, 1995).
Para a colheita do colmo, alguns cuidados devem ser tomados: o processo deve ser
realizado após a observação do estágio de amadurecimento do colmo que, na maioria das
espécies, tem duração de três a quatro anos quando ocorre a estabilização das suas propriedades
mecânicas; e deve ser realizado de maneira racional, pensando a que destinação será dada ao
colmo. De acordo com Van Leguen (2004), o corte deve ser realizado no período de inverno,
quando há menos insetos; e deve ser feito a uns 20 cm do solo para se evitar a retenção de água,
impedindo criações indesejadas.
De
FIGURA 3
importância,
grande
a
parte
subterrânea do bambu é
constituída por rizomas
e raízes (Fig. 3). Pereira
et
Beraldo
(2010)
explicam que o valor
dessa parte da planta
vai
além
do
armazenamento de nutrientes, pois os rizomas são responsáveis pela tão admirada propagação
do bambu. Os novos colmos precisam da nutrição fornecida pelos rizomas e se produzem
assexuadamente a partir das ramificações de tal parte da planta. As ramificações acontecem de
duas maneiras: alastrante, que produz colmos separados, caracterizados por terem grande
resistência às baixas temperaturas e rizomas longos, delgados e de forma cilíndrica, sendo que,
em cada nó de rizoma, existe uma gema lateral em dormência que pode se ativar produzindo um
novo colmo ou rizoma; e entouceirante, que representa grande parte das espécies tropicais e
produz colmos agrupados, contendo rizomas mais grossos e curtos, além de suas gemas
poderem desenvolver outros rizomas ou colmos, embora a maioria permaneça em estado de
dormência. As touceiras formadas pelo segundo tipo de ramificações chegam a ter de 30 a 100
colmos. Deve-se por fim destacar que, além desses dois grupos, é possível também encontrar um
tipo chamado de intermediário.
Essa fácil expansão natural do bambu através de seus rizomas e seu curto período de
renovação, conforme Paudel apud Xiao et al. (2008), tornaram o bambu conhecido como uma
“planta verde”. Pereira e Beraldo (2010) ainda comentam que aproximadamente 75% das
espécies de bambu no mundo são utilizadas localmente e que, dentre essas, 50% tem o uso e
exploração mais intensos. Tais autores acrescentam que organismos internacionais ligados ao
6
estudo e aplicação do bambu, como a INBAR, consideram prioritárias 19 espécies de acordo com:
a utilização, o cultivo, os produtos, os recursos energéticos e as características edafoclimáticas4.
Por ser um material biológico, o bambu está sujeito à deterioração por microrganismos e
insetos. Plank apud López (1974) afirma que existem relações entre a suscetibilidade de ataque
de insetos e a quantidade de amido e umidade contida no material. Portanto, a diminuição desses
dois fatores se faz necessária e pode ser realizada por métodos tradicionais, denominados
genericamente de “cura” – no local da colheita, por fogo, por fumaça ou por imersão –; ou, como
mostram Pereira et Beraldo (2010), por métodos químicos – sejam oleosos, oleossolúveis,
hidrossolúveis ou por substituição da seiva por sais –, garantindo assim a durabilidade do
material. De acordo com López (1974), o processo de cura e secagem ainda oferece vantagens
adicionais, tais como os fatos da colagem ser mais fácil em peças secas, as propriedades de
resistência aumentarem e haver a redução do custo em transporte, já que a secagem diminui o
peso, entre outras.
Figura 4 – Organograma de possibilidades de utilização dos bambus (PEREIRA et BERALDO, 2010).
Atualmente, devido ao crescente desenvolvimento de tecnologias, inúmeros são os usos
dados ao bambu, que pode ser utilizado tanto de forma natural como processada (Fig. 4). Como
material de construção, segundo Van Leguen (2004), pode ser empregado de várias maneiras
para a materialização de fundações, estruturas, pisos, paredes e cercas, além de outras. Existem
incontáveis formas de aplicação do bambu em cada parte dos elementos da construção, o que
pode ser exemplificado por meio dos casos de:
4
Por condições edafoclimáticas entende-se as características definidas através de fatores do meio, tais como: clima, relevo, litologia,
temperatura, umidade do ar, radiação, tipo de solo, vento, composição atmosférica e precipitação pluvial. Tais condições são relativas
à influência dos solos nos seres vivos, em particular nos organismos do reino vegetal, incluindo o uso da terra pelo homem, a fim de
estimular o crescimento das plantas (N. autora).
7
a) Fundação: Para uma melhor durabilidade, o bambu não deve ter contato com o solo (em razão da
umidade) e, portanto, normalmente, são utilizadas fundações em pedra, concreto ou tijolo
(JANSSEN, 1995). Mesmo assim, é possível se encontrar fundações feitas com bambu e lodo (VAN
LEGUEN, 2004, p.370);
b) Estrutura: Deve-se tomar um cuidado especial, durante a sua montagem, com as junções que
geralmente são feitas por pinos, conectores metálicos ou tarugos de madeira (PEREIRA et
BERALDO, 2010); ou ainda por amarras com cipós ou cordas ((VAN LEGUEN, 2004);
c) Vedação: Há diferentes formas de fechamento em bambu, que devem ser estudadas caso a caso,
como em vedações de bambus dispostos lado-a-lado, tanto vertical como horizontalmente; bambus
achatados; diferentes tecelagens feitas com tiras de bambu; e em paredes bajareque ou bahareque,
as quais consistem em associações com barro (JANSSEN, 1995).
Com o avanço das pesquisas, hoje em dia é possível encontrar outros materiais
confeccionados com bambu, tais como: o bambu laminado, que pode ser a aplicação mais
promissora do material, já que alia a possibilidade de agregar valor a produtos que substituem o
uso da madeira convencional; o bambucreto, que consiste no reforço do concreto pelo bambu e
pode ser utilizado em obras secundárias; e ainda o biokret, o qual pode ser usado em vários
componentes da construção, tais como: telhas, pisos e blocos vazados (PEREIRA et BERALDO,
2010).
A aplicação de bambu em construções já ocorre há milênios e teve grande importância
para o desenvolvimento da arquitetura asiática, uma vez que muitas das primeiras moradias
naquele continente utilizavam esse material, com destaque para a Índia que, de acordo com
López (1974), foi o país que mais soube aproveitar a elasticidade do bambu nas suas casas e
outras construções vernaculares com formas que exerceram influência na arquitetura de grandes
monumentos e edifícios hoje existentes no território indiano e também Arábia. Ainda na Ásia, o
autor também destaca o Japão; nação em que o bambu era tradicionalmente empregado das mais
diversas maneiras, porém com propósitos específicos e muitas vezes de caráter apenas
decorativo. Por fim, o bambu está presente até hoje em toda a cultura asiática, principalmente em
países como a China, Taiwan, Vietnã, Filipinas e outros anteriormente citados.
Nos países latino-americanos, o maior destaque no emprego construtivo do bambu se dá
na Colômbia, que também usa o material há muito tempo, embora, conforme López (1974), seu
aproveitamento não seja pleno. Uma das explicações para esse cenário colombiano foi dado por
Muñoz (2012), que alega o fato do material ter sido deixado para trás ao passo em que
construções em alvenaria foram aparecendo. Isto teria piorado na década de 1980, quando
surgiram naquele país as primeiras normas construtivas que não incluíam madeira nem bambu.
Ainda segundo o autor, isto mudou somente em 1999, quando um terrível terremoto atingiu parte
da Colômbia; e constatou-se que as estruturas em bambu resistiram melhor àquela catástrofe
natural. Assim, em 2002, surgiu o primeiro código de construção em nível mundial que incluía o
bambu como material de construção.
Contudo, mesmo hoje em dia, o bambu ainda é associado à construção mais pobre. O
arquiteto colombiano Simón Vélez (1949-), um dos maiores expoentes da arquitetura de bambu no
mundo, em entrevista concedida à rádio Netherlands Wordlwide em 2009, afirmou que em seu
8
FIGURA 5
país havia uma certa vergonha no uso desse material, o
que acabava gerando certas restrições, tanto que ele
não se sentia reconhecido como arquiteto, mas sim
apenas como uma figura social5. Para a Exposição
Universal de Hannover (Alemanha), ocorrida em 2000,
Vélez projetou e construiu um pavilhão em bambu de
cerca de 2.000 m2 para a Fundação ZERI (Zero Emissions Research and Initiative). Esta
estrutura era composta por bambu, concreto reciclado, painéis de cobre e uma mistura de argila,
cimento e fibra de bambu (Fig. 4), chamando a atenção da comunidade internacional para a
versatilidade do material. Em consequência, o arquiteto vem realizando desde então edifícios em
bambu na Alemanha, França, EUA, China e Índia, além de vários países latino-americanos, como
México, Panamá, Jamaica, Equador e, seu país natal, Colômbia, além de inclusive no Brasil6.
A espécie de bambu usada em suas construções é a Guadua angustifolia e cresce
em abundância na região andina da Colômbia, principalmente no Triângulo do
Café. Era usada desde os tempos pré-colombianos nas casas, mas até então não
conseguia substituir materiais como ladrilho, aço e cimento [...] até que em 1999
foi colocada à prova no terremoto que atingiu o eixo cafeeiro, onde as casas com
estrutura de bambu sobreviveram enquanto as construções de alvenaria foram
parao chão [...] Para Simón, o bambu é um material com estrutura mais inteligente
que a da árvore, pois não concentra sua estrutura em seu eixo, já que é um
material oco. Segundo o arquiteto, o bambu não leva vantagem apenas sobre a
madeira, mas também sobre o aço na relação peso/resistência (ARQUITETURA
SUSTENTÁVEL, 2013a, p.1).
Estima-se que, no mundo de hoje, cerca de um bilhão de pessoas vivam em casas
constituídas por bambu. Somente em Bangladesh, conforme Vries apud Xiao et al. (2008), mais
de 70% das moradias utilizam esse material. De modo geral, seu emprego está associado a
programas habitacionais de cunho social. As características da planta de ser perene e de produzir
colmos assexuadamente todos os anos, sem a necessidade de replantio, o que facilita o início de
uma cultura, somadas às vantagens do grande rendimento anual por área e da rapidez no
crescimento, dão ao bambu um grande potencial agrícola. E esse potencial pode ser aproveitado
em programas que visam a sustentabilidade social (PEREIRA et BERALDO, 2010).
Em alguns países, ainda de acordo com Pereira e Beraldo (2010), a produção de bambu
auxilia na redução da pobreza e na melhora da qualidade de vida de algumas comunidades, o que
é confirmado pela INBAR (2014), já que seu plantio e consequente exploração podem
proporcionar a essas pequenas comunidades uma diversificação de sua economia. Nesses locais,
5
Fig. 6
Naquela ocasião, Vélez acabava de receber o Grote Prins Claus Prijs 2009; um prêmio holandês que homenageia o uso estético de
materiais naturais em todas as suas criações. Em 2006, o arquiteto já havia recebido o Prêmio Honorário de Análise e Planejamento da
Sociedade Americana de Arquitetos Paisagistas pelo projeto de Crosswaters Ecolodge; o primeiro destino ecoturístico da reserva
florestal da montanha de Nankun Shan, situada na província de Guangdong (China). Este é considerado até hoje o maior projeto
comercial do mundo usando bambu e o primeiro em dimensão na Ásia por empregá-lo como elemento estrutural em habitação de
grande escala (N. autora).
6
Recentemente, Vélez vem utilizando a técnica do bambu em projetos de casas e móveis no Sul da Bahia, continuando a difundir as
vantagens do material e defendendo seu uso. Para construir uma casa grande, segundo o site Arquitetura Sustentável (2013), seria
necessário derrubar uma pequena floresta com 130 árvores que demoraram mais de 30 anos para se desenvolver. Já com o bambu a
história é diferente: como a planta brota novamente após o corte, a medida de que a casa vai sendo construída uma nova planta está
nascendo. Como o bambu cresce em média 23 cm por dia, ao final da construção, tem-se uma nova árvore com 20 metros cada.
9
a planta pode ser utilizada tanto na alimentação como
na construção de moradias, além de se tornar uma
fonte de energia (carvão) e, igualmente, uma fonte de
renda a partir da venda do bambu e/ou produtos
gerados a partir dele.
No Vietnã, por exemplo, a propriedade do
bambu em resistir bem a fenômenos naturais acabou
FIGURA 6
por permitir o desenvolvimento de projetos de habitação sustentável, estes criados para auxiliar
famílias a lidar com o clima de sua região e ainda contribuir com a economia do país, uma vez que
a construção e reforma de moradias geravam altos gastos em todos os anos. Estes projetos
compõem um programa habitacional de interesse social denominado Blooming Bamboo Home
(Fig. 6), o qual se utilizando de amarras, âncoras e conexões sólidas para constituir casas
resistentes suficientemente para flutuar em caso de enchentes e manter as famílias em segurança
FIGURA 5
com um custo médio de somente 2.000 dólares (ARQUITETURA SUSTENTÁVEL, 2013b).
Janssen (1995) destaca a existência de um programa similar na América Latina: o Projeto
Nacional de Bambu da Costa Rica, criado em 1987 e que, posteriormente, transformou-se em
uma fundação denominada FUNBAMBU, a qual previa aproveitar esse material nas construções
de casas para a população rural de baixa renda, além da geração de empregos baseando-se em
recursos locais. Além da produção de mais de 2.000 moradias, Erickson (2007) comenta que esse
programa social colaborou para o reconhecimento do bambu (Guadua angustifolia) no cenário
nacional daquele país da América Centra. Paralelamente, outro programa de destaque ocorreu na
cidade de Manizales (Colômbia), onde, em 1982, os arquitetos Jorge Humberto Arcila e Gustavo
Guzmán, a pedido do INSTITUTO DE CRÉDITO TERRITORIAL – ICT, projetaram unidades
habitacionais mínimas para ocupação racional dos terrenos íngremes daquela cidade, as quais
deviam proporcionar um sentido de coerência comunitária entre os habitantes (SEGRE, 1991).
No território brasileiro, por sua vez, o programa social promovido pelo Bambuzeiro Cruzeiro
do Sul
promove pesquisas a respeito da utilização dessa planta como matéria-prima e
desenvolve metodologias para popularizar o bambu e, assim, gerar emprego e renda para a
população que se encontra às margens da sociedade7 (BAMCRUZ, 2014).
No Brasil, o interesse por esse material leve e resistente cresce cada vez mais.
Um dos pioneiros no uso do bambu no país foi o arquiteto Claudio Bernardes, que
também inovou ao usar eucalipto tratado em suas construções. Dos 42 tipos de
bambu do mundo, 38 são espécies brasileiras, mesmo algumas delas sendo de
pequeno porte e crescendo no meio da floresta, ainda sim é uma alternativa
sustentável para a arquitetura. O bambu é um material econômico, tem emissão
zero de carbono e é muito competitivo em relação às madeiras, pois dá colheita o
ano todo e jamais se esgota [...] O bambu é considerado por muitos a matéria7
Em outro extremo, nota-se que está acontecendo uma verdadeira revolução na arquitetura em bambu devido ao crescente aumento
em obras de cunho ambiental. Nos últimos anos, muitas pesquisas foram realizadas sobre as propriedades desse material, assim
como de métodos construtivos que o utilizem. Arquitetos em todo mundo vêm redescobrindo a planta e passando a usá-la em
modernas obras públicas de características marcantes, conciliando natureza e tecnologia em um contraste de notável beleza
(QUEIROZ, CEPELLO et WENZEL, 2007).
10
prima deste milênio e é sustentável porque ao invés de desmatar, pode-se plantar
e colher bambu (ARQUITETURA SUSTENTÁVEL, 2013a, p.1).
Figura 8
FIGURA 7
Figura 9
Figura 10
Vale frisar que diversas conferências têm sido realizadas recentemente sobre esse
assunto, além de serem concedidos vários prêmios a arquitetos que promovam projetos e obras
com bambu, citando-se, por exemplo, o arquiteto Richard Rogers (1933-) que, em 2006, recebeu
o James Stirling Prize pela proposta de um dos terminais do Aeroporto Internacional de Barajas,
em Madri (Espanha), cuja cobertura é feita inteiramente em bambu (Fig. 7). Outro destaque foi a
escola de Rudrapur (Fig. 8), localizada na Grande Dacca (Bangladesh) que levou, em 2007, o
prêmio Aga Khan de arquitetura, voltado a obras destinadas a comunidades muçulmanas
(ARCHDAILY, 2010). Simón Vélez, por sua vez, ganhou, em 2009, o prêmio holandês Prince
Claus, o qual homenageia aqueles que trazem novas abordagens para os assuntos ambientais.
Entre seus trabalhos mais conhecidos, destaca-se a catedral alternativa de Pereira (Colômbia),
construída em 20048 (Fig. 9); e o Museo Nómada; uma estrutura temporária realizada em 2008
para uma exposição de fotografia e vídeo em pleno Zócalo, na cidade do México (Fig. 10).
Atualmente, é possível encontrar obras em bambu tanto de cunho social como não, dos
mais variados programas e executadas em todos os continentes por jovens arquitetos ou grandes
mestres já consagrados, como os japoneses Kengo Kuma (1954-) e Shigeru Ban (1957-), este
último o grande vencedor do Prêmio Pritzer de 2014, o que vem ajudando a fortalecer a teoria de
que o bambu será o material do século XXI (INSPIRATION GREEN, 2014).
8
Conhecida como Catedral Alterna en Gadua (Fig. 9), esta igreja possui uma área de aproximadamente 700 m 2 e foi construída em
apenas cinco semanas a um custo de US $ 30.000. Em sua realização, aproveitou-se a experiência com gadua ou bambu encurvado
adquirida em depósitos realizados em Santágueda, Caldas (Colômbia), os quais, por sua vez, foram inspirados nas abóbadas feitas em
bambu existentes nas regiões limítrofes a Pereira, Risaralda (SKYSCRAPERCITY, 2004).
11
6
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com base na revisão bibliográfica realizada, pôde-se constatar a importância do bambu
para o desenvolvimento socioambiental devido aos seus variados usos, dos quais aqui se destaca
o potencial construtivo. Nestes termos, buscou-se selecionar para o estudo de caso um projeto
que seguisse essa linha de raciocínio e ainda apresentasse indiscutível beleza. De maneira
sucinta e objetiva, através da análise de ilustrações e informações coletadas principalmente na
web, apresenta-se na sequência a descrição e avaliação de uma escola internacional conhecida
como Green School (Figs. 11 e 12), que está encravada entre a floresta equatorial e campos de
arroz em Bali, na Indonésia, na qual foi possível perceber a excelência do bambu refere aos
aspectos funcionais, técnicos e estéticos.
FIGURA 11
ESTUDO DE CASO
FIGURA 12
Green School
(2007/08, Bali, Indonésia)
PT Bamboo Pure Architecture
Localização:
Área do projeto:
Data:
Autoria:
Ubud – Ilha de Bali, Indonésia
2.000 m² (Heart of School)
2007/08
PT Bamboo Pure Architecture
Site oficial:
http://www.greenschool.org/
O projeto em questão trata-se de uma escola internacional construída em Bali, situada na
Indonésia, no sudeste asiático (Figs. 13 e 14), criada com base nas ideias do casal canadense
Cynthia e John Hardy, designers e ambientalistas, os quais objetivavam a criação de um espaço
que incentivasse as comunidades vizinhas e internacionais a viverem em sustentabilidade9.
Fundada em setembro de 2008 com 98 estudantes, atualmente quase atinge a marca de 300
alunos entre 3 e 16 anos de idade, que estudam do Jardim de infância ao Ensino Médio com uma
grade curricular que mescla matérias regulares com atividade extras de caráter socioeducativo
(VIDA SIMPLES, 2011).
9
De acordo com Janney (2012), o casal Hardy concebeu esta “escola verde” em 2006, após a leitura do artigo Three springs: creating
a satisfying lifestyle (2006), da autoria de Alan Wagstaff, o qual concebia uma comunidade educacional em aldeia (village).
12
a escola, os alunos passam a manhã e a tarde entre tr s tipos de atividades:
aulas normais (como ingl s, matemática e ci ncias), artes criativas (drama,
pintura, m sica e reciclagem) e estudos verdes. Eles vão a campo com mestres
balineses plantar arroz e bambu e cuidar da horta – uma forma de incluir os
estudantes estrangeiros entre os moradores da comunidade local (PLANETA
SUSTENTÁVEL, 2011, p.01).
FIGURA 14
FIGURA 13
Em 2007, uma equipe foi formada para desenvolver os aspectos técnicos e o design da
estrutura que deveria ser toda realizada em bambu. Este grupo internacional, denominado PT
Bamboo Pure, propõe-se a conceber e construir um tipo de arquitetura que inspire novos modos
de vida, atuando desde então em inúmeras propostas, especialmente na Indonésia. Logo, estudos
foram realizados para o melhor aproveitamento dessa “madeira asiática” para que pudesse ser
usada de maneira estrutural e também decorativa. Pode-se enfim perceber que o bambu foi usado
em tudo, desde a estrutura da edificação principal – Heart of School (Fig. 15) – e demais espaços
– como a ponte que liga todo o conjunto (Fig. 16) e o centro de eventos Mepantigan (Figs. 17 e
18) e como também em pisos, mobiliário e até quadro negro (Fig.s 19 e 20), além de variados
acessórios. As técnicas locais – ditas vernáculas – fundiram-se com o acadêmico e o
contemporâneo, sendo notável o aprimoramento construtivo da obra, observado nos detalhes de
encaixe do bambu (Figs. 21 e 22) e o acabamento geral da cobertura (Figs. 23 e 24).
O design da edificação do Heart of School (“Coração da Escola”) – onde se encontram a
biblioteca, o sala de computação, a sala de exposições e escritórios, além de áreas de reunião –
dá-se a partir de três grandes espirais que se apoiam em três colunas formadas por bambus
entrelaçados (Fig. 25), em cujo final abre-se uma claraboia. São três pisos que se dividem em
diversas áreas multifuncionais com diferentes níveis de privacidade. Ao total, foram utilizadas
certa de 2.600 varas de bambu (HUDSON, 2012).
Oitenta por cento da eletricidade utilizada pela escola vêm de painéis solares, os banheiros
são de compostagem e todo o lixo é reciclado ou composto. Hortas orgânicas e criações de
animais permeiam o campus e a comida servida vem da produção própria ou de agricultores
locais. “A Green School ainda não é 100% sustentável, mas estamos fazendo o nosso melhor em
todos os sentidos”, diz Ben Macrory, responsável pela Comunicação da instituição (PORVIR,
2013, p.01).
13
FIGURA 15
FIGURA 16
FIGURA 17
FIGURA 19
FIGURA 18
FIGURA 20
FIGURA 21
FIGURA 23
FIGURA 22
FIGURA 24
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FIGURA 25 – Peças gráficas do Heart of School: (a) Implantação do projeto com indicação das árvores
existentes; (b) Planta do piso térreo; (c) Planta do primeiro pavimento; (d) Planta do segundo pavimento; (e)
Elevação Leste-Oeste; e (f) Elevação Norte-Sul (Fonte: AKDN, 2014; DESIGNBOOM, 2012).
FIGURA 26 – Peças gráficas do Mepantigam: (a) Implantação do projeto com indicação das árvores
existentes; (b) Corte; e (c) Elevações (Fonte: DESIGNBOOM, 2012).
15
A brisa natural também ventila as salas de aula e quando não há brisa suficiente
as crianças fazem bolhas, feitas em algodão natural e borracha da seringueira [...]
Elas basicamente transformam a sala em uma bolha e, segundo Hardy, “as
crianças sabem que o controle do clima sem esforço pode não ser parte do futuro
deles. Nós pagamos a conta no final do mês, mas quem realmente vai pagar as
contas são os nossos netos”. Para ele, as crianças deveriam ser ensinadas de que
o mundo não é indestrutível [...] Para diminuir a dependência energética, a escola,
faz uso da energia solar. No local também existe uma turbina-redemoínho, a
segunda a ser construída no mundo, em uma cascata de 2,5 metros de um rio que
quando estiver em funcionamento produzirá oito mil watts de eletricidade dia e
noite [...] O banheiro não tem descarga. São pequenas casas de banho composto.
Hardy acredita que a metodologia de misturar nossos dejetos a água não seja
eficaz, se tivermos como base a quantidade de pessoas e a quantidade de água
necessária para esse sistema [...] No projeto poucas coisas não deram certo
como, por exemplo, a claraboia de borracha e lona que se deterioraram em seis
meses expostas ao sol. Elas tiveram que ser substituídas por plásticos recicláveis.
O quadro branco usado anteriormente era feito de PVC, em seguida foram
substituídas por papel e estruturadas de um para-brisa de um carro velho
(CICLOVIVO, 2011, p.01).
A Green School de Bali, segundo o site Ecodesenvolvimento (2010), foi uma das finalistas
do 11º ciclo do AGA KHAN AWARD FRO ARCHITECTURE – AKAA 2010; um evento que incentiva
formas de arquitetura que atendem as necessidades de comunidades nas quais muçulmanos tem
presença significativa e que melhorem a qualidade de vida das pessoas. De acordo com o AKAA,
a escola é uma iniciativa ecologicamente correta com uma educação forte e inspira os estudantes
a serem mais curiosos, engajados e apaixonados pelo meio ambiente e pelo planeta.
Por sua vez, o Mepantigam – a última edificação acrescentada ao complexo – funciona
como um centro de eventos, onde ocorrem reuniões e outras atividades (Fig. 26). Seu formado
ovalado é delimitado por três fileiras de pedras naturais que por fim geram uma arquibancada,
sendo o piso em terra compactada. Uma grande estrutura de bambu forma a cobertura e, ao
centro dela, abra-se uma claraboia proporcionando ampla iluminação (HUDSON, 2012).
7
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De maneira introdutória, esta pesquisa procurou relacionar a discussão contemporânea a
respeito da sustentabilidade socioambiental com o uso do bambu como material construtivo.
Foram apresentadas informações preliminares de alguns estudos que mostraram a eficácia do
bambu como material estrutural, além de outras inúmeras utilidades da planta, que pode ser
empregada desde a alimentação e produção de energia por queima até acabamento, mobiliário e
construção civil, tanto in natura como processada industrialmente.
A principal dificuldade para realizar uma investigação científica em relação à utilização
dessa planta em obras arquitetônicas refere-se ao fato que ainda são poucas as bibliografias que
trazem informações sobre desempenhos e técnicas construtivas realizadas com o bambu,
inclusive em língua portuguesa, o que não favorece a difusão do seu uso e deixa para trás o
imensurável potencial construtivo da planta. Isto deve incentivar que cada vez haja pesquisas,
tanto exploratórias como experimentais, sobre esse tema, principalmente no nosso país.
16
De qualquer forma, é perceptível a valorização do bambu que vem ocorrendo nos últimos
anos, em especial devido ao aumento de seu uso em obras arquitetônicas que não mais se
restringem apenas a seu caráter social, o que amplia suas áreas de aplicação, inclusive em
edificações de uso intensivo, como terminais de transportes; assim como mostra a busca por
materiais de construção não-usuais, visando melhor desempenho energético e menor impacto
ambiental, o que fez com que se resgatasse o bambu; e se promovesse novas pesquisas a
respeito das propriedades de cada espécie.
Com o estudo de caso apresentado, procurou-se mostrar o eficácia do bambu tanto em
termos estruturais e funcionais como em nível estético. A Green School é um excelente exemplo
do carácter socioambiental do bambu, já que além de ser um material considerado “verde”, é
abundante no continente asiático e, portanto, um material provindo da própria região, o que
favoreceu as comunidades locais. As técnicas construtivas aplicadas também remeteram às
utilizadas naquela região, apenas tendo sido aprimoradas. Sendo assim, são notáveis as
vantagens do uso de bambu em construções em todas as partes das obras arquitetônicas.
Como possíveis desdobramentos dessa pesquisa, pode-se apontar novos estudos de
caso, desta vez abordando exemplares de outros arquitetos de renome internacional; ou mesmo
casos brasileiros. Também é possível procurar focar usos mais restritos, como em mobiliário ou
design industrial, além de componentes específicos destinados a acabamentos e coberturas.
Assim, ainda existe uma grande quantidade de possibilidades científicas de pesquisa sobre esse
tema recorrente na discussão contemporânea quanto à questão da sustentabilidade na arquitetura
e construção civil.
8
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9
FONTES DE ILUSTRAÇÕES
Figura
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03
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15.abr.2014
15.abr.2014
15.abr.2014
15.abr.2014
15.abr.2014
15.abr.2014
15.abr.2014
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