UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – 2013/2014 RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA JESSICA JENIFFER KERSCHER INICIAÇÃO CIENTÍFICA – VOLUNTÁRIA/ EDITAL IC 2013/2014 PLANO DE TRABALHO: Diretrizes de projeto para arquitetura em bambu Relatório final apresentado ao Grupo de Pesquisa em TEORIA E HISTÓRIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO – THAC da UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR por ocasião do desenvolvimento das atividades voluntárias de Iniciação Científica – Edital 2013-2014. NOME DO ORIENTADOR: Prof. Dr. Antonio Manoel Nunes Castelnou, neto Departamento de Arquitetura e Urbanismo TÍTULO DO PROJETO: Arquitetura e Sustentabilidade: Bases Conceituais para o Projeto Ecológico BANPESQ/THALES: 2007021212 CURITIBA PR 2014 1 1 TÍTULO Diretrizes de projeto para arquitetura em bambu 2 RESUMO Um dos temas em debate mais frequente nos últimos anos tem sido a busca pelo desenvolvimento econômico em harmonia com o meio ambiente, o que comumente se passou a denominar desenvolvimento sustentável; e, diante deste quadro, a procura por alternativas viáveis de materiais de construção que não agridam a natureza tem se tornado comum. Nesse contexto, o bambu1 ressurge como material eficiente e ainda sustentável tendo em vista seu rápido crescimento e sua alta taxa de captação de gás carbônico. Por muito tempo, o estudo desse material ficou restrito apenas a países asiáticos que trazem consigo a tradição do uso da planta para fins estruturais e alimentícios, entre outros. Entretanto, resultados de pesquisas sobre sua resistência e durabilidade têm despertado o interesse científico do lado ocidental do mundo. De cunho teórico-conceitual e caráter exploratório para sua realização, esta pesquisa em iniciação científica faz parte do projeto intitulado “Arquitetura e sustentabilidade: Bases conceituais para o projeto ecológico” e tem como principal intenção um aprofundamento sobre a utilização desse material na arquitetura contemporânea. Este trabalho inicia-se pela conceituação e caracterização do bambu, além de uma breve apresentação de suas propriedades mecânicas, para então mostrar e descrever o seu uso na arquitetura. De modo específico, apresenta uma análise de caso, onde são apontados os aspectos funcionais, técnicos e estéticos de uma obra executada, exemplificando como se pode aliar eficientemente todos esses termos com a escolha racional do material para sua idealização. 3 OBJETIVOS Em termos gerais, esta pesquisa busca aprofundar o conhecimento sobre o bambu e seu emprego na arquitetura, por meio da revisão web e bibliográfica do tema, objetivando levantar e descrever suas principais vantagens e desvantagens ambientais, assim como seus elementos e características estético-funcionais. Pretende-se ainda mostrar que o bambu é de grande importância para o desenvolvimento socioambiental, já que seu uso pode trazer benefícios para muitas pessoas e comunidades. De maneira especifica, visa-se o estudo de uma obra arquitetônica realizada em bambu, de forma a ilustrar a eficiência da planta como material de construção e ainda que seu aprimoramento técnico pode torná-la um material de alto padrão e de grande sustentabilidade nas áreas da arquitetura e construção civil. 1 A designação bambu é geralmente dada às plantas da subfamília Bambusoideae, referente a um grupo de das gramíneas (Poaceae ou Gramineae). Essa subfamília subdivide-se em duas tribos, a saber: a Bambuseae, que corresponde aos bambus chamados “lenhosos”; e a Olyrae, que se relaciona aos bambus chamados “herbáceos”. Estima-se que há aproximadamente 1.250 espécies de bambu em todo o mundo, acrescentando-se novas a cada ano, espalhadas entre 90 gêneros e presentes de forma nativa em todos os continentes, com exceção a Europa. Trata-se de vegetais que habitam uma alta gama de condições climáticas, incluindo zonas tropicais e temperadas; e topográficas, em especial do nível do mar até acima de 4.000 m (N. autora). 2 4 INTRODUÇÃO Segundo Valenovsky apud López (1974), o aparecimento do bambu na face da Terra deu- se no Período Cretáceo, ou seja, um pouco antes do surgimento do ser humano no planeta, o que ocorreu na Era Terciária. E, desde os tempos pré-históricos, o homem e o bambu estão unidos, o que pode ser comprovado inclusive por antigos relatos, como, por exemplo, menções em antigos caracteres chineses, os quais datam de 1600 a 1100 a.C. (PORTERFIELD apud LÓPEZ, 1974). Dados fornecidos pela INTERNATIONAL NETWORK FOR BAMBOO AND RATTAN – INBAR (2014) alegam que cerca de 3% das florestas de nosso planeta são compostas de bambus, sendo que, nos locais onde há a sua presença, esta planta é utilizada de várias maneiras, devido às inúmeras qualidades que oferece, tais como: leveza, resistência, vitalidade, facilidade de manuseio e formidável beleza, entre outras, as quais garantiram o seu papel na evolução da cultura humana (FARRELY apud PEREIRA e BERALDO, 2007). Porém, é precisamente no continente asiático que se pode notar de uma maneira forte que as propriedades do material foram mais bem aproveitadas, pois o bambu vem sendo utilizado, desde tempos remotos, como alimento e também como matéria-prima para a criação de utensílios e construções, tais como as pontes de grande vão tensionadas por cordas na China ou mesmo na execução da cúpula do Taj Mahal na Índia (VASCONCELLOS, 2010). O bambu é uma planta ancestral e de crescente importância para a humanidade, sendo conhecido como “a madeira dos pobres” na Índia,“ o amigo das pessoas” na China, e o “irmão” no Vietnã; no Ocidente ele é bem menos conhecido, sendo geralmente associado a obras de menor importância (PEREIRA e BERALDO, 2010, p.38). Com a invenção e/ou aplicação de novos materiais, o bambu foi sendo deixado de lado e acabou por ser associado à construção de baixo padrão. O uso restrito desse material, para Jayanetti e Follett apud Xiao et al. (2008), deu-se principalmente pela ausência de conhecimentos técnicos, o que acabou por conduzir a dificuldades em relação a métodos de articulação entre as peças, criação de melhores tratamentos para preservação e aumento da durabilidade do material, ausência de dados sobre a eficiência do bambu e, ainda, exclusão em códigos de construção. Entretanto, mais recentemente, ainda segundo esses autores, a redução dos recursos em madeira e as restrições impostas às derrubadas de florestas naturais direcionaram a atenção do mundo sobre a necessidade de se encontrar um material substitutivo aos convencionais, o qual fosse renovável, sustentável e, ao mesmo tempo, amplamente disponível. Foi nesse contexto que ocorreu enfim o resgate do material bambu. Entre as inúmeras vantagens que o bambu oferece, de acordo com a INBAR (2014), estão: a absorção e estocagem de carbono; a capacidade de proteção das florestas e bacias hidrográficas; a potencialidade como infraestrutura de baixo custo; a multifuncionalidade, que vai desde material de construção até biocombustível; e, enfim, a sua condição de ser um recurso renovável que pode gerar renda e ainda ser usado como alimento (PEREIRA et BERALDO, 2010). 3 5 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Em termos geográficos, a ocorrência de bambus em todas as suas espécies abrange desde os trópicos até as regiões temperadas, distribuindo-se do nível do mar até grandes altitudes e espalhando-se por todos os continentes, com exceção da Europa (Fig. 1). A classificação taxonômica do bambu agrupa-o como pertencente à família Graminae e subfamília Bambusoideae ou ainda à família Bambuseae, estimando-se que existam aproximadamente 40 gêneros subdivididos em aproximadamente 1.300 espécies de bambu2 (LÓPEZ apud PEREIRA; BERALDO, 2010). A B C FIGURA 1 – Distribuição mundial: D A. B. C. D. E. E O bambu é uma planta que tem Bambu herbáceo (Olyrea) Bambu lenhoso (Bambuseae) Bambu lenhoso paleotropical Bambu lenhoso neotropical Bambu lenhoso temperado rápido crescimento, podendo chegar a uma altura de 10 a 20 m em menos de um ano, apresentando-se em forma tubular ligeiramente cônica, onde seu diâmetro varia de 3 a 25 cm (OERMANN et LAUDE, 2004). Shyam K. Paudel, citado em Xiao et al. (2008), afirma que as propriedades do bambu variam de acordo com diversos fatores, entre os quais: espécie, idade, quantidade de umidade, fatores climáticos e diferenças de altura do colmo, que é o nome dado ao tronco do bambu. De acordo com Janssen (1995), entretanto, algumas partes são comuns a todos 2 FIGURA 2 De acordo com Clark (2006), os bambus têm uma ampla distribuição natural, ocorrendo a partir de cerca de 46° de Latitude Norte a aproximadamente 47° de Latitude Sul; e do nível do mar até 4.300 m de altitude nas montanhas equatoriais. Os bambus herbáceos (família Olyreae) concentram-se na região neotropical, onde 20 gêneros e cerca de 110 espécies são encontrados, do México até o norte da Argentina, Paraguai e sul do Brasil, bem como nas Índias Ocidentais. Há ainda a família Buergersiochloa, que inclui apenas uma espécie e é endêmica para a Nova Guiné, cujos membros raramente ocorrem acima de 1.000 m de altitude. Uma das espécies herbáceas neotropicais (Olyra latifolia) é amplamente encontrada na África tropical e Madagascar (Fig. 1A). Os bambus lenhosos (família Bambuseae) são muito melhor distribuídos (Fig. 1B), havendo basicamente três grandes grupos: os bambus paleotropicais, os neotropicais e os temperados. Os bambus lenhosos paleotropicais – que incluem as subfamílias Bambusinae, Hickelinae, Melocanninae e Racemobambosinae – são distribuídas em regiões tropicais e subtropicais da África, Madagascar, Índia, Sri Lanka, Sudeste da Ásia, Sul da China, sul do Japão e Oceania (Fig. 1C). Já os bambus lenhosos neotropicais – incluindo as subfamílias Arthrostylidiinae, Chusqueinae e Guaduinae – são encontrados do México ao sul da Argentina e Chile e nas Antilhas (Fig. 1D). Por fim, os bambus lenhosos temperados – que reúnem as subfamílias Arundinariinae e Shibataeinae – são generalizados e diversificados na zona temperada norte, mas alguns membros ocorrem em altitudes mais elevadas, especialmente em partes da África, Madagascar, sul da Índia, Sri Lanka e Sudeste da Ásia (Fig. 1E). 4 os tipos de bambus: o colmo ou culmo; a parte oca da planta nomeada cavidade e o fato das cavidades serem separadas cada uma por diafragmas que, na parte externa do colmo, formam nós de onde partem os ramos. A parte do colmo que fica entre dois nós denomina-se internó e, por último, tem-se a chamada parede do colmo (Fig. 2). A partir da analise dessas partes, as quais terão aspectos diferentes para cada espécie, pode-se observar propriedades especificas que favoreceram o melhor aproveitamento do bambu em questão. Tais propriedades, citadas por Janssen (1995), relacionam-se com as dimensões de: A altura do colmo (que permanecerá a mesma durante toda a vida do bambu); A parte útil do comprimento do colmo (já que o diâmetro da parte inferior da planta é diferente da superior, pois bambus são ligeiramente cônicos); A espessura das “paredes”; A altura dos internos; e O diâmetro da parte externa no topo e na parte inferior. Além disso, segundo o mesmo autor, deve-se observar: a linearidade do colmo, as propriedades mecânicas, a durabilidade natural e o tratamento. Com a breve compreensão desses dados, pode-se melhor definir a utilidade de cada espécie de bambu e os locais dos internos (para o corte), entre outras coisas, as quais garantirão o aproveitamento da planta. Sendo o colmo a parte aérea da planta, é ali que se encontram as razões para suas propriedades de resistência mecânica. Liese apud Pereira et Beraldo (2010) alega que a estrutura anatômica e o teor de umidade desta parte determinam tais propriedades: para ele, o bambu é constituído por um tecido resistente, que é um tipo de compósito natural de lignocelulósico; de baixa massa especifica aparente e que contém fibras, as quais, conforme o teor delas, determinam a resistência da planta. Por sua vez, Gharanimi – também citado em Xiao et al. (2008) – comenta sobre as distribuições das fibras ao longo da espessura do colmo. Segundo ele, a maior concentração encontra-se nas camadas externas da parede do bambu, consistindo na maneira do colmo resistir às forças do vento. Ele alega ainda que o bambu é um material ortotrópico3, que apresenta alta resistência onde suas fibras são paralelas ao crescimento da planta e menos onde estas são transversais. Isso justifica o motivo dos bambus submetidos às forças de tração se partirem mais facilmente nos nós que apresentam fibras transversais. Conforme Pereira e Beraldo (2010), o colmo não possui raios, o que facilita o corte longitudinal e ainda apresenta peculiaridades: Curiosamente o bambu carrega algumas particularidades únicas, tais como o fato de seu colmo nascer com o mesmo diâmetro que terá por toda a vida, o de seus brotos se alongarem continuamente de 20 a 100 cm por dia, o de sua floração e consequente produção de sementes ser um fenômeno raro, o de apresentar colmos com design que alia leveza, flexibilidade e resistência mecânica, etc.(FREIRE apud PEREIRA et BERALDO, 2010, p.21). 3 Denomina-se ortotropia a propriedade dos materiais que apresentam características físicas diferentes consoante a orientação espacial. Logo, um material é ortotrópico quando suas propriedades mecânicas dependem das direções de três eixos (x-y-z) mutuamente perpendiculares (N. autora). 5 Outra peculiaridade relacionada ao colmo reside no fato de que, quando submetido a cargas, ele sofre deformações. No entanto, quando as cargas são retiradas, ele volta ao seu formato original. Essa propriedade torna as estruturas de bambu capazes de resistir a tempestades e terremotos (JANSSEN, 1995). Para a colheita do colmo, alguns cuidados devem ser tomados: o processo deve ser realizado após a observação do estágio de amadurecimento do colmo que, na maioria das espécies, tem duração de três a quatro anos quando ocorre a estabilização das suas propriedades mecânicas; e deve ser realizado de maneira racional, pensando a que destinação será dada ao colmo. De acordo com Van Leguen (2004), o corte deve ser realizado no período de inverno, quando há menos insetos; e deve ser feito a uns 20 cm do solo para se evitar a retenção de água, impedindo criações indesejadas. De FIGURA 3 importância, grande a parte subterrânea do bambu é constituída por rizomas e raízes (Fig. 3). Pereira et Beraldo (2010) explicam que o valor dessa parte da planta vai além do armazenamento de nutrientes, pois os rizomas são responsáveis pela tão admirada propagação do bambu. Os novos colmos precisam da nutrição fornecida pelos rizomas e se produzem assexuadamente a partir das ramificações de tal parte da planta. As ramificações acontecem de duas maneiras: alastrante, que produz colmos separados, caracterizados por terem grande resistência às baixas temperaturas e rizomas longos, delgados e de forma cilíndrica, sendo que, em cada nó de rizoma, existe uma gema lateral em dormência que pode se ativar produzindo um novo colmo ou rizoma; e entouceirante, que representa grande parte das espécies tropicais e produz colmos agrupados, contendo rizomas mais grossos e curtos, além de suas gemas poderem desenvolver outros rizomas ou colmos, embora a maioria permaneça em estado de dormência. As touceiras formadas pelo segundo tipo de ramificações chegam a ter de 30 a 100 colmos. Deve-se por fim destacar que, além desses dois grupos, é possível também encontrar um tipo chamado de intermediário. Essa fácil expansão natural do bambu através de seus rizomas e seu curto período de renovação, conforme Paudel apud Xiao et al. (2008), tornaram o bambu conhecido como uma “planta verde”. Pereira e Beraldo (2010) ainda comentam que aproximadamente 75% das espécies de bambu no mundo são utilizadas localmente e que, dentre essas, 50% tem o uso e exploração mais intensos. Tais autores acrescentam que organismos internacionais ligados ao 6 estudo e aplicação do bambu, como a INBAR, consideram prioritárias 19 espécies de acordo com: a utilização, o cultivo, os produtos, os recursos energéticos e as características edafoclimáticas4. Por ser um material biológico, o bambu está sujeito à deterioração por microrganismos e insetos. Plank apud López (1974) afirma que existem relações entre a suscetibilidade de ataque de insetos e a quantidade de amido e umidade contida no material. Portanto, a diminuição desses dois fatores se faz necessária e pode ser realizada por métodos tradicionais, denominados genericamente de “cura” – no local da colheita, por fogo, por fumaça ou por imersão –; ou, como mostram Pereira et Beraldo (2010), por métodos químicos – sejam oleosos, oleossolúveis, hidrossolúveis ou por substituição da seiva por sais –, garantindo assim a durabilidade do material. De acordo com López (1974), o processo de cura e secagem ainda oferece vantagens adicionais, tais como os fatos da colagem ser mais fácil em peças secas, as propriedades de resistência aumentarem e haver a redução do custo em transporte, já que a secagem diminui o peso, entre outras. Figura 4 – Organograma de possibilidades de utilização dos bambus (PEREIRA et BERALDO, 2010). Atualmente, devido ao crescente desenvolvimento de tecnologias, inúmeros são os usos dados ao bambu, que pode ser utilizado tanto de forma natural como processada (Fig. 4). Como material de construção, segundo Van Leguen (2004), pode ser empregado de várias maneiras para a materialização de fundações, estruturas, pisos, paredes e cercas, além de outras. Existem incontáveis formas de aplicação do bambu em cada parte dos elementos da construção, o que pode ser exemplificado por meio dos casos de: 4 Por condições edafoclimáticas entende-se as características definidas através de fatores do meio, tais como: clima, relevo, litologia, temperatura, umidade do ar, radiação, tipo de solo, vento, composição atmosférica e precipitação pluvial. Tais condições são relativas à influência dos solos nos seres vivos, em particular nos organismos do reino vegetal, incluindo o uso da terra pelo homem, a fim de estimular o crescimento das plantas (N. autora). 7 a) Fundação: Para uma melhor durabilidade, o bambu não deve ter contato com o solo (em razão da umidade) e, portanto, normalmente, são utilizadas fundações em pedra, concreto ou tijolo (JANSSEN, 1995). Mesmo assim, é possível se encontrar fundações feitas com bambu e lodo (VAN LEGUEN, 2004, p.370); b) Estrutura: Deve-se tomar um cuidado especial, durante a sua montagem, com as junções que geralmente são feitas por pinos, conectores metálicos ou tarugos de madeira (PEREIRA et BERALDO, 2010); ou ainda por amarras com cipós ou cordas ((VAN LEGUEN, 2004); c) Vedação: Há diferentes formas de fechamento em bambu, que devem ser estudadas caso a caso, como em vedações de bambus dispostos lado-a-lado, tanto vertical como horizontalmente; bambus achatados; diferentes tecelagens feitas com tiras de bambu; e em paredes bajareque ou bahareque, as quais consistem em associações com barro (JANSSEN, 1995). Com o avanço das pesquisas, hoje em dia é possível encontrar outros materiais confeccionados com bambu, tais como: o bambu laminado, que pode ser a aplicação mais promissora do material, já que alia a possibilidade de agregar valor a produtos que substituem o uso da madeira convencional; o bambucreto, que consiste no reforço do concreto pelo bambu e pode ser utilizado em obras secundárias; e ainda o biokret, o qual pode ser usado em vários componentes da construção, tais como: telhas, pisos e blocos vazados (PEREIRA et BERALDO, 2010). A aplicação de bambu em construções já ocorre há milênios e teve grande importância para o desenvolvimento da arquitetura asiática, uma vez que muitas das primeiras moradias naquele continente utilizavam esse material, com destaque para a Índia que, de acordo com López (1974), foi o país que mais soube aproveitar a elasticidade do bambu nas suas casas e outras construções vernaculares com formas que exerceram influência na arquitetura de grandes monumentos e edifícios hoje existentes no território indiano e também Arábia. Ainda na Ásia, o autor também destaca o Japão; nação em que o bambu era tradicionalmente empregado das mais diversas maneiras, porém com propósitos específicos e muitas vezes de caráter apenas decorativo. Por fim, o bambu está presente até hoje em toda a cultura asiática, principalmente em países como a China, Taiwan, Vietnã, Filipinas e outros anteriormente citados. Nos países latino-americanos, o maior destaque no emprego construtivo do bambu se dá na Colômbia, que também usa o material há muito tempo, embora, conforme López (1974), seu aproveitamento não seja pleno. Uma das explicações para esse cenário colombiano foi dado por Muñoz (2012), que alega o fato do material ter sido deixado para trás ao passo em que construções em alvenaria foram aparecendo. Isto teria piorado na década de 1980, quando surgiram naquele país as primeiras normas construtivas que não incluíam madeira nem bambu. Ainda segundo o autor, isto mudou somente em 1999, quando um terrível terremoto atingiu parte da Colômbia; e constatou-se que as estruturas em bambu resistiram melhor àquela catástrofe natural. Assim, em 2002, surgiu o primeiro código de construção em nível mundial que incluía o bambu como material de construção. Contudo, mesmo hoje em dia, o bambu ainda é associado à construção mais pobre. O arquiteto colombiano Simón Vélez (1949-), um dos maiores expoentes da arquitetura de bambu no mundo, em entrevista concedida à rádio Netherlands Wordlwide em 2009, afirmou que em seu 8 FIGURA 5 país havia uma certa vergonha no uso desse material, o que acabava gerando certas restrições, tanto que ele não se sentia reconhecido como arquiteto, mas sim apenas como uma figura social5. Para a Exposição Universal de Hannover (Alemanha), ocorrida em 2000, Vélez projetou e construiu um pavilhão em bambu de cerca de 2.000 m2 para a Fundação ZERI (Zero Emissions Research and Initiative). Esta estrutura era composta por bambu, concreto reciclado, painéis de cobre e uma mistura de argila, cimento e fibra de bambu (Fig. 4), chamando a atenção da comunidade internacional para a versatilidade do material. Em consequência, o arquiteto vem realizando desde então edifícios em bambu na Alemanha, França, EUA, China e Índia, além de vários países latino-americanos, como México, Panamá, Jamaica, Equador e, seu país natal, Colômbia, além de inclusive no Brasil6. A espécie de bambu usada em suas construções é a Guadua angustifolia e cresce em abundância na região andina da Colômbia, principalmente no Triângulo do Café. Era usada desde os tempos pré-colombianos nas casas, mas até então não conseguia substituir materiais como ladrilho, aço e cimento [...] até que em 1999 foi colocada à prova no terremoto que atingiu o eixo cafeeiro, onde as casas com estrutura de bambu sobreviveram enquanto as construções de alvenaria foram parao chão [...] Para Simón, o bambu é um material com estrutura mais inteligente que a da árvore, pois não concentra sua estrutura em seu eixo, já que é um material oco. Segundo o arquiteto, o bambu não leva vantagem apenas sobre a madeira, mas também sobre o aço na relação peso/resistência (ARQUITETURA SUSTENTÁVEL, 2013a, p.1). Estima-se que, no mundo de hoje, cerca de um bilhão de pessoas vivam em casas constituídas por bambu. Somente em Bangladesh, conforme Vries apud Xiao et al. (2008), mais de 70% das moradias utilizam esse material. De modo geral, seu emprego está associado a programas habitacionais de cunho social. As características da planta de ser perene e de produzir colmos assexuadamente todos os anos, sem a necessidade de replantio, o que facilita o início de uma cultura, somadas às vantagens do grande rendimento anual por área e da rapidez no crescimento, dão ao bambu um grande potencial agrícola. E esse potencial pode ser aproveitado em programas que visam a sustentabilidade social (PEREIRA et BERALDO, 2010). Em alguns países, ainda de acordo com Pereira e Beraldo (2010), a produção de bambu auxilia na redução da pobreza e na melhora da qualidade de vida de algumas comunidades, o que é confirmado pela INBAR (2014), já que seu plantio e consequente exploração podem proporcionar a essas pequenas comunidades uma diversificação de sua economia. Nesses locais, 5 Fig. 6 Naquela ocasião, Vélez acabava de receber o Grote Prins Claus Prijs 2009; um prêmio holandês que homenageia o uso estético de materiais naturais em todas as suas criações. Em 2006, o arquiteto já havia recebido o Prêmio Honorário de Análise e Planejamento da Sociedade Americana de Arquitetos Paisagistas pelo projeto de Crosswaters Ecolodge; o primeiro destino ecoturístico da reserva florestal da montanha de Nankun Shan, situada na província de Guangdong (China). Este é considerado até hoje o maior projeto comercial do mundo usando bambu e o primeiro em dimensão na Ásia por empregá-lo como elemento estrutural em habitação de grande escala (N. autora). 6 Recentemente, Vélez vem utilizando a técnica do bambu em projetos de casas e móveis no Sul da Bahia, continuando a difundir as vantagens do material e defendendo seu uso. Para construir uma casa grande, segundo o site Arquitetura Sustentável (2013), seria necessário derrubar uma pequena floresta com 130 árvores que demoraram mais de 30 anos para se desenvolver. Já com o bambu a história é diferente: como a planta brota novamente após o corte, a medida de que a casa vai sendo construída uma nova planta está nascendo. Como o bambu cresce em média 23 cm por dia, ao final da construção, tem-se uma nova árvore com 20 metros cada. 9 a planta pode ser utilizada tanto na alimentação como na construção de moradias, além de se tornar uma fonte de energia (carvão) e, igualmente, uma fonte de renda a partir da venda do bambu e/ou produtos gerados a partir dele. No Vietnã, por exemplo, a propriedade do bambu em resistir bem a fenômenos naturais acabou FIGURA 6 por permitir o desenvolvimento de projetos de habitação sustentável, estes criados para auxiliar famílias a lidar com o clima de sua região e ainda contribuir com a economia do país, uma vez que a construção e reforma de moradias geravam altos gastos em todos os anos. Estes projetos compõem um programa habitacional de interesse social denominado Blooming Bamboo Home (Fig. 6), o qual se utilizando de amarras, âncoras e conexões sólidas para constituir casas resistentes suficientemente para flutuar em caso de enchentes e manter as famílias em segurança FIGURA 5 com um custo médio de somente 2.000 dólares (ARQUITETURA SUSTENTÁVEL, 2013b). Janssen (1995) destaca a existência de um programa similar na América Latina: o Projeto Nacional de Bambu da Costa Rica, criado em 1987 e que, posteriormente, transformou-se em uma fundação denominada FUNBAMBU, a qual previa aproveitar esse material nas construções de casas para a população rural de baixa renda, além da geração de empregos baseando-se em recursos locais. Além da produção de mais de 2.000 moradias, Erickson (2007) comenta que esse programa social colaborou para o reconhecimento do bambu (Guadua angustifolia) no cenário nacional daquele país da América Centra. Paralelamente, outro programa de destaque ocorreu na cidade de Manizales (Colômbia), onde, em 1982, os arquitetos Jorge Humberto Arcila e Gustavo Guzmán, a pedido do INSTITUTO DE CRÉDITO TERRITORIAL – ICT, projetaram unidades habitacionais mínimas para ocupação racional dos terrenos íngremes daquela cidade, as quais deviam proporcionar um sentido de coerência comunitária entre os habitantes (SEGRE, 1991). No território brasileiro, por sua vez, o programa social promovido pelo Bambuzeiro Cruzeiro do Sul promove pesquisas a respeito da utilização dessa planta como matéria-prima e desenvolve metodologias para popularizar o bambu e, assim, gerar emprego e renda para a população que se encontra às margens da sociedade7 (BAMCRUZ, 2014). No Brasil, o interesse por esse material leve e resistente cresce cada vez mais. Um dos pioneiros no uso do bambu no país foi o arquiteto Claudio Bernardes, que também inovou ao usar eucalipto tratado em suas construções. Dos 42 tipos de bambu do mundo, 38 são espécies brasileiras, mesmo algumas delas sendo de pequeno porte e crescendo no meio da floresta, ainda sim é uma alternativa sustentável para a arquitetura. O bambu é um material econômico, tem emissão zero de carbono e é muito competitivo em relação às madeiras, pois dá colheita o ano todo e jamais se esgota [...] O bambu é considerado por muitos a matéria7 Em outro extremo, nota-se que está acontecendo uma verdadeira revolução na arquitetura em bambu devido ao crescente aumento em obras de cunho ambiental. Nos últimos anos, muitas pesquisas foram realizadas sobre as propriedades desse material, assim como de métodos construtivos que o utilizem. Arquitetos em todo mundo vêm redescobrindo a planta e passando a usá-la em modernas obras públicas de características marcantes, conciliando natureza e tecnologia em um contraste de notável beleza (QUEIROZ, CEPELLO et WENZEL, 2007). 10 prima deste milênio e é sustentável porque ao invés de desmatar, pode-se plantar e colher bambu (ARQUITETURA SUSTENTÁVEL, 2013a, p.1). Figura 8 FIGURA 7 Figura 9 Figura 10 Vale frisar que diversas conferências têm sido realizadas recentemente sobre esse assunto, além de serem concedidos vários prêmios a arquitetos que promovam projetos e obras com bambu, citando-se, por exemplo, o arquiteto Richard Rogers (1933-) que, em 2006, recebeu o James Stirling Prize pela proposta de um dos terminais do Aeroporto Internacional de Barajas, em Madri (Espanha), cuja cobertura é feita inteiramente em bambu (Fig. 7). Outro destaque foi a escola de Rudrapur (Fig. 8), localizada na Grande Dacca (Bangladesh) que levou, em 2007, o prêmio Aga Khan de arquitetura, voltado a obras destinadas a comunidades muçulmanas (ARCHDAILY, 2010). Simón Vélez, por sua vez, ganhou, em 2009, o prêmio holandês Prince Claus, o qual homenageia aqueles que trazem novas abordagens para os assuntos ambientais. Entre seus trabalhos mais conhecidos, destaca-se a catedral alternativa de Pereira (Colômbia), construída em 20048 (Fig. 9); e o Museo Nómada; uma estrutura temporária realizada em 2008 para uma exposição de fotografia e vídeo em pleno Zócalo, na cidade do México (Fig. 10). Atualmente, é possível encontrar obras em bambu tanto de cunho social como não, dos mais variados programas e executadas em todos os continentes por jovens arquitetos ou grandes mestres já consagrados, como os japoneses Kengo Kuma (1954-) e Shigeru Ban (1957-), este último o grande vencedor do Prêmio Pritzer de 2014, o que vem ajudando a fortalecer a teoria de que o bambu será o material do século XXI (INSPIRATION GREEN, 2014). 8 Conhecida como Catedral Alterna en Gadua (Fig. 9), esta igreja possui uma área de aproximadamente 700 m 2 e foi construída em apenas cinco semanas a um custo de US $ 30.000. Em sua realização, aproveitou-se a experiência com gadua ou bambu encurvado adquirida em depósitos realizados em Santágueda, Caldas (Colômbia), os quais, por sua vez, foram inspirados nas abóbadas feitas em bambu existentes nas regiões limítrofes a Pereira, Risaralda (SKYSCRAPERCITY, 2004). 11 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO Com base na revisão bibliográfica realizada, pôde-se constatar a importância do bambu para o desenvolvimento socioambiental devido aos seus variados usos, dos quais aqui se destaca o potencial construtivo. Nestes termos, buscou-se selecionar para o estudo de caso um projeto que seguisse essa linha de raciocínio e ainda apresentasse indiscutível beleza. De maneira sucinta e objetiva, através da análise de ilustrações e informações coletadas principalmente na web, apresenta-se na sequência a descrição e avaliação de uma escola internacional conhecida como Green School (Figs. 11 e 12), que está encravada entre a floresta equatorial e campos de arroz em Bali, na Indonésia, na qual foi possível perceber a excelência do bambu refere aos aspectos funcionais, técnicos e estéticos. FIGURA 11 ESTUDO DE CASO FIGURA 12 Green School (2007/08, Bali, Indonésia) PT Bamboo Pure Architecture Localização: Área do projeto: Data: Autoria: Ubud – Ilha de Bali, Indonésia 2.000 m² (Heart of School) 2007/08 PT Bamboo Pure Architecture Site oficial: http://www.greenschool.org/ O projeto em questão trata-se de uma escola internacional construída em Bali, situada na Indonésia, no sudeste asiático (Figs. 13 e 14), criada com base nas ideias do casal canadense Cynthia e John Hardy, designers e ambientalistas, os quais objetivavam a criação de um espaço que incentivasse as comunidades vizinhas e internacionais a viverem em sustentabilidade9. Fundada em setembro de 2008 com 98 estudantes, atualmente quase atinge a marca de 300 alunos entre 3 e 16 anos de idade, que estudam do Jardim de infância ao Ensino Médio com uma grade curricular que mescla matérias regulares com atividade extras de caráter socioeducativo (VIDA SIMPLES, 2011). 9 De acordo com Janney (2012), o casal Hardy concebeu esta “escola verde” em 2006, após a leitura do artigo Three springs: creating a satisfying lifestyle (2006), da autoria de Alan Wagstaff, o qual concebia uma comunidade educacional em aldeia (village). 12 a escola, os alunos passam a manhã e a tarde entre tr s tipos de atividades: aulas normais (como ingl s, matemática e ci ncias), artes criativas (drama, pintura, m sica e reciclagem) e estudos verdes. Eles vão a campo com mestres balineses plantar arroz e bambu e cuidar da horta – uma forma de incluir os estudantes estrangeiros entre os moradores da comunidade local (PLANETA SUSTENTÁVEL, 2011, p.01). FIGURA 14 FIGURA 13 Em 2007, uma equipe foi formada para desenvolver os aspectos técnicos e o design da estrutura que deveria ser toda realizada em bambu. Este grupo internacional, denominado PT Bamboo Pure, propõe-se a conceber e construir um tipo de arquitetura que inspire novos modos de vida, atuando desde então em inúmeras propostas, especialmente na Indonésia. Logo, estudos foram realizados para o melhor aproveitamento dessa “madeira asiática” para que pudesse ser usada de maneira estrutural e também decorativa. Pode-se enfim perceber que o bambu foi usado em tudo, desde a estrutura da edificação principal – Heart of School (Fig. 15) – e demais espaços – como a ponte que liga todo o conjunto (Fig. 16) e o centro de eventos Mepantigan (Figs. 17 e 18) e como também em pisos, mobiliário e até quadro negro (Fig.s 19 e 20), além de variados acessórios. As técnicas locais – ditas vernáculas – fundiram-se com o acadêmico e o contemporâneo, sendo notável o aprimoramento construtivo da obra, observado nos detalhes de encaixe do bambu (Figs. 21 e 22) e o acabamento geral da cobertura (Figs. 23 e 24). O design da edificação do Heart of School (“Coração da Escola”) – onde se encontram a biblioteca, o sala de computação, a sala de exposições e escritórios, além de áreas de reunião – dá-se a partir de três grandes espirais que se apoiam em três colunas formadas por bambus entrelaçados (Fig. 25), em cujo final abre-se uma claraboia. São três pisos que se dividem em diversas áreas multifuncionais com diferentes níveis de privacidade. Ao total, foram utilizadas certa de 2.600 varas de bambu (HUDSON, 2012). Oitenta por cento da eletricidade utilizada pela escola vêm de painéis solares, os banheiros são de compostagem e todo o lixo é reciclado ou composto. Hortas orgânicas e criações de animais permeiam o campus e a comida servida vem da produção própria ou de agricultores locais. “A Green School ainda não é 100% sustentável, mas estamos fazendo o nosso melhor em todos os sentidos”, diz Ben Macrory, responsável pela Comunicação da instituição (PORVIR, 2013, p.01). 13 FIGURA 15 FIGURA 16 FIGURA 17 FIGURA 19 FIGURA 18 FIGURA 20 FIGURA 21 FIGURA 23 FIGURA 22 FIGURA 24 14 FIGURA 25 – Peças gráficas do Heart of School: (a) Implantação do projeto com indicação das árvores existentes; (b) Planta do piso térreo; (c) Planta do primeiro pavimento; (d) Planta do segundo pavimento; (e) Elevação Leste-Oeste; e (f) Elevação Norte-Sul (Fonte: AKDN, 2014; DESIGNBOOM, 2012). FIGURA 26 – Peças gráficas do Mepantigam: (a) Implantação do projeto com indicação das árvores existentes; (b) Corte; e (c) Elevações (Fonte: DESIGNBOOM, 2012). 15 A brisa natural também ventila as salas de aula e quando não há brisa suficiente as crianças fazem bolhas, feitas em algodão natural e borracha da seringueira [...] Elas basicamente transformam a sala em uma bolha e, segundo Hardy, “as crianças sabem que o controle do clima sem esforço pode não ser parte do futuro deles. Nós pagamos a conta no final do mês, mas quem realmente vai pagar as contas são os nossos netos”. Para ele, as crianças deveriam ser ensinadas de que o mundo não é indestrutível [...] Para diminuir a dependência energética, a escola, faz uso da energia solar. No local também existe uma turbina-redemoínho, a segunda a ser construída no mundo, em uma cascata de 2,5 metros de um rio que quando estiver em funcionamento produzirá oito mil watts de eletricidade dia e noite [...] O banheiro não tem descarga. São pequenas casas de banho composto. Hardy acredita que a metodologia de misturar nossos dejetos a água não seja eficaz, se tivermos como base a quantidade de pessoas e a quantidade de água necessária para esse sistema [...] No projeto poucas coisas não deram certo como, por exemplo, a claraboia de borracha e lona que se deterioraram em seis meses expostas ao sol. Elas tiveram que ser substituídas por plásticos recicláveis. O quadro branco usado anteriormente era feito de PVC, em seguida foram substituídas por papel e estruturadas de um para-brisa de um carro velho (CICLOVIVO, 2011, p.01). A Green School de Bali, segundo o site Ecodesenvolvimento (2010), foi uma das finalistas do 11º ciclo do AGA KHAN AWARD FRO ARCHITECTURE – AKAA 2010; um evento que incentiva formas de arquitetura que atendem as necessidades de comunidades nas quais muçulmanos tem presença significativa e que melhorem a qualidade de vida das pessoas. De acordo com o AKAA, a escola é uma iniciativa ecologicamente correta com uma educação forte e inspira os estudantes a serem mais curiosos, engajados e apaixonados pelo meio ambiente e pelo planeta. Por sua vez, o Mepantigam – a última edificação acrescentada ao complexo – funciona como um centro de eventos, onde ocorrem reuniões e outras atividades (Fig. 26). Seu formado ovalado é delimitado por três fileiras de pedras naturais que por fim geram uma arquibancada, sendo o piso em terra compactada. Uma grande estrutura de bambu forma a cobertura e, ao centro dela, abra-se uma claraboia proporcionando ampla iluminação (HUDSON, 2012). 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS De maneira introdutória, esta pesquisa procurou relacionar a discussão contemporânea a respeito da sustentabilidade socioambiental com o uso do bambu como material construtivo. Foram apresentadas informações preliminares de alguns estudos que mostraram a eficácia do bambu como material estrutural, além de outras inúmeras utilidades da planta, que pode ser empregada desde a alimentação e produção de energia por queima até acabamento, mobiliário e construção civil, tanto in natura como processada industrialmente. A principal dificuldade para realizar uma investigação científica em relação à utilização dessa planta em obras arquitetônicas refere-se ao fato que ainda são poucas as bibliografias que trazem informações sobre desempenhos e técnicas construtivas realizadas com o bambu, inclusive em língua portuguesa, o que não favorece a difusão do seu uso e deixa para trás o imensurável potencial construtivo da planta. Isto deve incentivar que cada vez haja pesquisas, tanto exploratórias como experimentais, sobre esse tema, principalmente no nosso país. 16 De qualquer forma, é perceptível a valorização do bambu que vem ocorrendo nos últimos anos, em especial devido ao aumento de seu uso em obras arquitetônicas que não mais se restringem apenas a seu caráter social, o que amplia suas áreas de aplicação, inclusive em edificações de uso intensivo, como terminais de transportes; assim como mostra a busca por materiais de construção não-usuais, visando melhor desempenho energético e menor impacto ambiental, o que fez com que se resgatasse o bambu; e se promovesse novas pesquisas a respeito das propriedades de cada espécie. Com o estudo de caso apresentado, procurou-se mostrar o eficácia do bambu tanto em termos estruturais e funcionais como em nível estético. A Green School é um excelente exemplo do carácter socioambiental do bambu, já que além de ser um material considerado “verde”, é abundante no continente asiático e, portanto, um material provindo da própria região, o que favoreceu as comunidades locais. As técnicas construtivas aplicadas também remeteram às utilizadas naquela região, apenas tendo sido aprimoradas. Sendo assim, são notáveis as vantagens do uso de bambu em construções em todas as partes das obras arquitetônicas. Como possíveis desdobramentos dessa pesquisa, pode-se apontar novos estudos de caso, desta vez abordando exemplares de outros arquitetos de renome internacional; ou mesmo casos brasileiros. Também é possível procurar focar usos mais restritos, como em mobiliário ou design industrial, além de componentes específicos destinados a acabamentos e coberturas. Assim, ainda existe uma grande quantidade de possibilidades científicas de pesquisa sobre esse tema recorrente na discussão contemporânea quanto à questão da sustentabilidade na arquitetura e construção civil. 8 REFERÊNCIAS ARCHDAILY. Handmade school: Anna Heringer & Eike Roswag (2010). Disponível em: <http://www.archdaily.com/51664/handmade-school-anna-heringer-eike-roswag/>. Acesso em: 15.mar.2014. ARQUITETURA SUSTENTÁVEL. A Arquitetura de Bambu do arquiteto colombiano Simón Vélez (2013a). Disponível em: <http://arquiteturasustentavel.org/a-arquitetura-de-bambu-do-arquiteto-colombianosimon-velez-2/ >. Acesso em: 15.mar.2014. _____. Casas de bambu para ajudar vítimas de enchentes flutuam em inundações (2013b). 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