TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO: USO DE QUELANTES DE FÓSFORO NA INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA BIANCA PERES RECHIA Aluna do curso de Clínica Médica de Pequenos Animais Instituto Qualittas Universidade Castelo Branco São Paulo 2008 UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO INSTITUTO QUALITTAS ESPECIALIZAÇÃO “lato sensu” TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO USO DE QUELANTES DE FÓSFORO NA INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA BIANCA PERES RECHIA Aluna do curso de Clínica Médica de Pequenos Animais Instituto Qualittas Universidade Castelo Branco Orientadora: Prof. Dra. Suely Nunes Esteves Beloni São Paulo 2008 Índice I) Introdução Insuficiência Renal – breve resumo .................................................01 II) Fisiologia 2.1 – Função dos rins ...................................................................... 02 2.2 – Fisiologia ................................................................................03 III) Anatomia 3.1 ) Nefron .....................................................................................04 IV) Fisiopatologia .................................................................................... 08 V) Filtração glomerular ............................................................................ 10 VI) Reabsorção Tubular ........................................................................... 13 VII) Sinais Clinico................................................................................... 14 VII) Paratormônio......................................................................................17 IX) Alterações Laboratoriais .................................................................... 19 X) Fósforo .......................................... ...................................................... 20 XI) Hiperfosfatemia............................. ..................................................... 22 XII) Redução da absorção de fósfor o .......................................................23 XIII) Quelantes de Fósforo 13.1 – Indicações ..........................................................................25 XIV) Exemplos de Quelantes Sais de Alumínio............................................................................ 26 Sais de Cálcio .................................................................................27 Calciotrol.........................................................................................27 Hidróxido de Sevelamer ................................................................28 XV) Limitações dos Quelantes Limitações dos Quelantes de Fósforo........................................... 28 Acetato e Carbonato de Cálcio...................................................... 29 Hidróxido de Aluminio................................................................. 30 Calciotrol ...................................................................................... 31 XVI) Relato de Caso ................................................................................32 Conclusão ................................................................................................ 39 I) Introdução 1.1) Insuficiência Renal – breve resumo A insuficiência renal crônica (IRC) é uma doença renal comum em cães e gatos que se caracteriza por lesões estruturais irreversíveis em 75% ou mais dos néfrons, diminuindo a capacidade dos rins no controle hidroeletrolítico principalmente em animais idosos, ou animais que expostos a agressão renal (nefrotoxinas, doenças infecciosas) independente da idade, causam declínio progressivo da função dos rins que, por sua vez, acarretam em uma série de alterações metabólicas. Com a perda do parênquima renal de maneira irreversível o tratamento é baseado no controle dos sinais clínicos, proteção dos néfrons restantes, impedindo a progressão da doença. O objetivo é retardar a progressão da doença e deve ser baseado no tratamento de crises urêmicas, da anemia, de distúrbios hidroeletrolíticos e ácidos-básicos, além do manejo dietético e controle da hipertensão. 1 II) Fisiologia 2.1 – Função dos rins As principais funções dos rins são a excreção dos produtos residuais do metabolismo (uréia e creatinina) e a regulação do volume e da composição do líquido extracelular, a manutenção do equilíbrio de eletrólitos, tais como: sódio, potássio, cálcio, magnésio, fósforo, bicarbonato, hidrogênio, cloro e outras, assim com a manutenção do equilíbrio ácido-básico e da pressão sangüínea, secreção de hormônios e a hidrólise de pequenos peptídeos. Os hormônios renais tem importante participação na regulação e produção dos eritrócitos, pela ação da eritropoetina, e no metabolismo de cálcio, fósforo e dos ossos, pela regulação do fósforo e ativação da vitamina D. As funções renais podem ser classificadas como: * Excretora – excreção de produtos residuais metabólicos, drogas e toxinas. * Reguladora – manutenção da homeostasia hídrica, ácido –básica e eletrolítica. * Endócrina – produção de eritropoetina, metabólitos da vitamina D e renina. 2 2.2 – Fisiologia O sangue chega ao rim pela arteríola aferente passa pelo glomérulo, onde sofre o processo de filtração glomerular, e volta para circulação sistêmica pela arteríola eferente. O mecanismo de filtragem do líquido sanguíneo e de seus componentes é devido ao equilíbrio entre as forças que tendem a manter o líquido nos vasos e as que tendem a expulsá-lo (Forças de Starling). Os dois principais fatores são a Pressão hidrostática que favorece a passagem de líquido do sangue para a cápsula de Bowman e a Pressão oncótica, que impede a saída de líquidos do sangue. Após passar pelo glomérulo, o filtrado glomerular segue para os túbulos renais onde será processado, mecanismo de contra corrente, dando origem à urina. Em cada segmento dos túbulos renais ocorrem movimentos ativos (com gasto de energia) e passivos (sem gasto de energia) para a reabsorção de água e eletrólitos. Algumas substâncias, como eletrólitos e medicamentos, são secretadas do sangue para o filtrado glomerular pelos túbulos renais. O líquido final resultante do processamento tubular é a urina. 3 III) Anatomia 3.1 )Nefron O néfron é a unidade funcional do rim, o número de néfrons varia entre as espécies e o tamanho renal também varia de acordo com a raça do cão, porém, sem variar o número de néfrons, portanto, o rim de maior tamanho em cães grandes é compensado pela presença de néfrons maiores. O fluido tubular de todos os néfrons (corticais e justamedulares) é drenado para os túbulos e ductos coletores que prosseguem através da medula para a pélvis renal e depois para os ureteres (Guyton, 1977). O aparelho justaglomerular renal é composto pela mácula densa, que são células epiteliais mais densas, localizadas na região de contato entre o segmento espesso do ramo ascendente da alça de Henle e arteríolas aferente e eferente, marcando o início do túbulo distal. É formado também pelas células justaglomerulares, que são células especializadas do músculo liso das arteríolas aferente e eferente que fazem contato com a mácula densa, e pela região mesangial, que é constituída pelas células mesangiais e matriz mesangial. A função das células é de secretar a matriz, formar a membrana basal glomerular, fornecer suporte estrutural, possuir atividade fagocítica, secretar prostaglandinas e possuir atividade contrátil, podendo influenciar no fluxo sangüíneo através dos capilares glomerulares (Junqueira & Carneiro, 1995). 4 5 6 Néfron 7 IV) Fisiopatologia Em indivíduos com lesão renal a Insuficiência Renal Crônica é uma síndrome metabólica decorrente de uma perda progressiva, geralmente lenta, da capacidade excretória renal. A conseqüência bioquímica dessa redução de função se traduz pela retenção plasma a uréia e a creatinina provenientes do metabolismo protéico e que podem ser avaliados através das dosagens sanguíneas. Vários solutos, entretanto, mantêm sua concentração plasmática em níveis normais, devido à elevação progressiva de hormônios reguladores como por exemplo, as concentrações plasmáticas de cálcio e fósforo, são mantidas em níveis normais devido a progressiva elevação do paratormônio (PTH). Perdas de função renal de até 50% não se manifestam clinicamente de forma consistente. Reduções maiores causam a síndrome urêmica e a hipervolemia é decorrente da expansão do volume extracelular do paciente urêmico. 8 100 % Insuficiência Renal e Uremia eventual 75% Insuficiência Renal 67% Perda da reserva renal Perda da Reserva Renal Perda da capacidade de Azotemia concentração 9 V)Filtração glomerular Os glomérulos são um sistema de alta pressão hidrostática que favorece a filtração, e os capilares peritubulares, que são perfundidos com sangue vindo do leito capilar glomerular, são considerados um sistema de baixa pressão hidrostática que favorece a reabsorção. A taxa de filtração glomerular pode ser alterada por modificações no diâmetro das arteríolas aferentes e eferentes. A dilatação da arteríola aferente e a constrição da arteríola eferente aumentam o fluxo sangüíneo para o glomérulo, o que por sua vez aumenta a pressão hidrostática e o potencial para a filtração (Guyton, 1977). Uma vez que um glomérulo tenha sido lesado pela glomerulonefrite ou amiloidose todo o nefron torna- se afuncional e é substituído por tecido fibroso cicatricial (Nelson e Couto 2006). Com a perda progressiva dos néfrons, a filtração glomerular diminui e ocorre retenção de sódio e conseqüente hipertenção. Os néfrons restantes ainda funcionais compensam a redução dos néfrons afuncionais através do aumento na taxa de filtração glomerular individual. 10 11 Glomérulo Normal Glomerulonefrite 12 VI) Reabsorção tubular As substâncias importantes para o funcionamento do organismo, como o sódio (Na+), glicose e aminoácidos, entram no fluido tubular através da filtração no glomérulo. Estas substâncias do fluido tubular retornam ao sangue através de mecanismos como transporte ativo e através das células epiteliais tubulares . A reabsorção do Na+ ocorre principalmente no túbulo proximal onde há 65% de seu retorno para o plasma. O íon bicarbonato (HCO3 -) dentro da célula, que resulta da formação de H+, pode difundir-se através das membranas para o espaço peritubular ou deslocar-se para o lúmen tubular em contratransporte à difusão de Cl- para o interior da célula. Isso resulta na recuperação plasmática do bicarbonato (NaHCO3), importante para o equilíbrio ácidobásico, e do cloreto de sódio (NaCl) . A amônia (NH3), formada pela hidrólise de glutamina e pela desaminação de outros aminoácidos nos túbulos distais, difunde-se através do fluido tubular onde se combina com o H+ sendo eliminados, facilitando a conservação de Na+, que é o principal cátion na regulação da concentração eletrolítica e do equilíbrio ácido-básico no sangue . Cerca de 80 a 95% do fosfato filtrado é reabsorvido, e a maior reabsorção ocorre no túbulo proximal. Após entrar na célula, o fosfato difunde-se através da membrana para o fluido peritubular. 13 O transporte de fosfato é regulado pela sua concentração plasmática e pelo paratormônio, e não é excretado se houver poça quantidade. Quando em grande quantidade, a excreção urinária aumenta pelo efeito direto da concentração de fosfato e também por causa da secreção aumentada de paratormônio, que promove a excreção do excesso de fosfato . VII) Sinais Clínicos 4.1)Achados clínicos: Gerais: Desidratação, perda de peso, depressão Gastrointestinais: Anorexia, vômito, diarréia, estomatite urêmica, hálito amoniacal, constipação. Urinário: Poliúria, polidipsia. Cardíacos: Hipertenção arterial, cardiomegalia. Neuromusculares: Apatia, sonolência, letargia, tremores, desequilíbrio, convulsões. Olhos: Retinopatia, cegueira aguda. 14 Poliúria, polidipsia muitas vezes, são as primeiras manifestações clínicas da IRC em cães relatadas pelos proprietários . A poliúria é causada pela redução na capacidade de concentração da urina, e a polidpsia é compensatória a poliúria. Na maioria dos casos, a uremia é o estado clínico mais observado em todos os pacientes com afecções renais progressivas generalizadas . Alterações gastrintestinais se encontram entre os sinais clínicos mais comuns e importantes da uremia. A perda de peso decorre de ingestão calórica inadequada, dos efeitos catabólicos da uremia, e de má bsorção intestinal devido à gastrenterite urêmica . Uma das causas do vômito é conseqüência da uremia, resultado dos efeitos das toxinas na mucosa gástrica, e da baixa excreção da gastrina. (Ettinger e Feldman 1997). Níveis elevados de gastrina foram implicados na ocorrência de gastropatia urêmica. A gastrina normalmente estimula receptores localizados nas células parietais na mucosa gástrica, para que produzam e secretem H+. E 40% da gastrina circulante são metabolizadas pelos rins, então, a redução do funcionamento renal resulta em um aumento e prolongamento da estimulação das células parietais, com aumento da produção de H+. A hiperacidez gástrica resultante leva à irritação, ulceração e hemorragia gástricas e intestinais. Uma IRC grave pode resultar numa estomatite urêmica, caracterizada por ulcerações orais, particularmente localizadas na mucosa bucal e língua (nas extremidades). 15 A hipertensão arterial encontra-se entre as complicações mais comuns da IRC, acomete cerca de 60 a 69% nos gatos e 50 a 93% em cães. Muitas vezes passa despercebida, por ser um evento clinicamente silencioso, exceto em pacientes com manifestações oculares que apresentam redução dos reflexos pupilares à iluminação, hemorragia e descolamento da retina, hifema, uveíte anterior, e glaucoma . (Ettinger e Feldman 1997). Os sinais neurológicos da IRC são consequência dos efeitos de toxinas urêmicas, ou do hiperparatireodismo renal secundário.(Ettinger e Feldman 1997). A anemia normocítica normocrômica arregenerativa é freqüente em animais com IRC e os sinais clínicos presentes são: palidez das membranas mucosas, fadiga, apatia, letargia, astenia, e anorexia . Os rins sintetizam eritropoetina em resposta a hipóxia tecidual intra-renal causada pela diminuição da capacidade de transporte de oxigênio. Com a diminuição progressiva do tecido renal, a azotemia persistente e a hiperfosfatemia ocorre uma diminuição da produção de eritropoetina. 16 VIII) Paratormônio Em indivíduos com rins saudáveis, os níveis séricos normais de fósforo e cálcio se mantêm pela interação do hormônio paratireóide com o 1,25(OH)2D3(calcitriol), que é o metabólito ativo da vitamina D3. A função básica do paratormônio (PTH ) é manter a homeostase do cálcio. Esse hormônio age diretamente nos ossos e nos rins e indiretamente no intestino, devido aos efeitos que exerce na síntese do calcitriol, para aumentar o cálcio sérico. As elevações dos níveis séricos de PTH aumentam a taxa de dissolução óssea e com isso mobilizam o cálcio e fósforo provenientes dos ossos, enviando-os ao plasma. O PTH também aumenta a reabsorção renal do cálcio e diminui a reabsorção tubular do fósforo. Nos indivíduos saudáveis esse aumento dos níveis de PTH em resposta à hipocalcemia restaura efetivamente os níveis séricos de cálcio e mantém os níveis séricos de fósforo. 17 18 IX) Alterações Laboratoriais: Alterações laboratoriais normalmente encontradas em cães e gatos com insuficiência renal crônica incluem: acidose metabólica, hiperfosfatemia, aumento sérico de PTH, e anemia não regenerativa, proteinúria 6.1 Acidose: 80% dos animais com IRC apresentam acidose metabólica, resultando na incapacidade dos rins em excretar íons hidrogênio e em regenerar bicarbonato (Ettinger e Feldman 1997). A medida que a massa renal declina a excreção de hidrogênio é mantida pelo aumento de amônia, mas quando se perde a capacidade de aumentar a excreção renal de amônia ocorre a acidose metabólica. 6.2 Proteinuria Na Insuficiência Renal a excreção urinária da Proteína está aumentada, ela é considerada evento distintivo da lesão e disfunção glomerular. Presume-se que com a redução da ingestão de proteína reduza a proteinúria em pacientes com IRC. 6.3 Hiperfosfatemia Descrito no organograma da página 22. 19 X) Fósforo: O fósforo é um elemento fundamental no metabolismo celular, no processo de mineralização óssea e na manutenção do equilíbrio ácidobásico. A regulação do fósforo, homeostase, é mantida pelo sistema digestivo, remodelação óssea e rins. Uma das principais alterações no metabolismo do fósforo, a hiperfosfatemia, que pode se tornar uma situação de grave morbidade para pacientes com doença renal crônica uma vez que o aumento do fósforo é uma das principais causas de progressão da doença renal. Cerca de 80% do total de fósforo no organismo se encontram presentes nos ossos e dentes, outros 20 % se distribuem no interior das células sanguíneas, hepáticas. Como funções podemos citar transferência, conservação e captura de energia armazenada em forma de ATP, outra função e sua participação na estrutura óssea. O fósforo na dieta é absorvido principalmente nas primeiras porções do intestino delgado. Quando os seus níveis no sangue estão baixos existe aumento da produção de vitamina 1,25 (OH) D a qual aumenta a eficiência de absorção intestinal de fósforo. 20 XI) Hiperfosfatemia A Hiperfosfatemia é uma das alterações mais comuns em IRC tendo como conseqüências clínicas o hiperparatireodismo renal secundário, redução dos níveis de Calcitriol, por inibição da atividade da 1- hidroxilase que transforma a 5(OH)-vitamina D3, calcificação de tecidos moles, osteodistrofia renal, hipocalcemia e aumento nos níveis séricos de do PTH. A excreção renal de fósforo está relacionada ao efeito da filtração glomerular e reabsorção tubular . Animais com IRC que se alimentam de dietas com teores protéicos normais, podem apresentar uma diminuição da velocidade de filtração glomerular e retenção de fósforo, o que leva a Hiperfosfatemia. Durante o inicio da Insuficiência Renal o fósforo sérico permanece dentro do normal devido a compensação dos néfrons normais, que devido ao aumento dos níveis do PTH promovem a excreção renal de fosfato.À medida que a doença renal avança a massa reduzida de tecido renal que está em funcionamento perde a capacidade para produzir quantidades adequadas de calcitriol que resulta em hiperparatireoidismo renal secundário. 21 22 O controle clínico ideal do fósforo é composto por diversos componentes importantes: * Alimentação com baixo teor de fósforo, * Diálise adequada, (mais usada em pacientes humanos) * Terapia segura e eficaz com quelantes de fósforo. XII) Redução da Absorção de Fósforo O fósforo proveniente de alimentos ricos em fósforo como fígado, vísceras, sardinha, carne bovina, frango tem elevada biodisponibilidade, estimando-se que a absorção seja superior a 70%. Dietas com restrições de fósforo são difíceis, e não se consegue muitas vezes manter os níveis de fósforo abaixo do normal que é de 6mg/dl. A redução da absorção gastrointestinal de fósforo é de grande importância para prevenir a hiperfosfatemia e o hiperparatireoidismo que se desenvolvem em pacientes com IRC. Uma vez que a Hiperfosfatemia na Insuficiência Renal está ligada a dieta, principalmente na dieta a base de proteínas, é fundamental reduzir a ingestão de proteína e com isso a redução de fósforo. 23 Estudos em gatos com IRC demosntraram que a ingestão normal de fósforo na dieta está associada a mineralização renal microscópica e fibrose e essas alterações foram evitadas com a redução do fósforo na dieta. O apetite e palatabilidade das rações terapêuticas tornam-se as vezes um problema, pois alguns animais não tem boa aceitação a troca das dietas, por isso estes animais devem ser monitorados devido a perda de peso e redução da massa muscular. Pois a desnutrição provocará catobolismo das proteínas corporais para produção de energia aumento assim a produção de toxinas. (Chandler; Gaskell 2006) A redução de fosfato na dieta isoladamente muitas vezes não é suficiente, mesmo para aqueles pacientes que se adaptam a dietas terapêuticas. Esses pacientes necessitam do uso de quelantes de fósforo para um controle mais efetivo. A dosagem do fósforo deve ser realizada após o animal estar se alimentando só com a nova dieta por 2 a 4 semanas, e antes da coleta da amostra de sangue para a dosagem do fósforo, é necessário manter o animal em 12h de jejum (ideal P < 6 mg/dl) 24 XIII) Quelantes de Fósforo 13.1 – Indicações: O emprego de um quelante e de vitamina D3 é feito de forma concomitante, sendo que as combinações entre eles devem ser adaptadas e reavaliadas continuamente, sempre levando em consideração as dosagens de Fósforo, cálcio e PTH. Dieta com restrições de fósforo são difíceis, e não se consegue muitas vezes manter os níveis de fósforo abaixo de 6mg/dl. A diminuição de fósforo e da hiperfosfatemia é muito importante para limitar o hiperparatireoidismo secundário renal, a osteodistrofia renal, a calcificação dos tecidos moles, e a progressão da insuficiência renal. A hiperfosfatemia é tratada pela restrição da ingestão de fósforo no alimento e pela administração oral de Quelantes de fósforo intestinal. A restrição de fósforo na alimentação pode normalizar as concentrações séricas de fósforo em casos de IRC incipiente a moderada. As dietas com restrição de proteína possuem baixos teores de fósforo, sendo indicadas para pacientes com IRC, já que os alimentos proteináceos são as principais fontes alimentares de fósforo. 25 É importante reduzir a ingestão do fósforo na alimentação antes que tenha início o tratamento com os agentes quelantes , para que seja reduzida a quantidade do fósforo que deve ser ligado, pois quelantes de fósforo não reduzem diretamente o fósforo sanguíneo, mas prendem o fosfato no trato intestinal, impedindo a absorção. Os quelantes de fósforo intestinal são compostos á base de alumínio e cálcio e podem ser adquiridos como preparações antiácidas. XIV) Exemplos de Quelantes Sais de Alumínio Os mais comuns contém cálcio e alumínio. Sais de alumínio são quelantes de fosfato eficazes, sendo que o hidróxido de alumínio foi o primeiro composto oral amplamente utilizado na Medicina Humana. O alumínio pode causar toxicidade neurológica, esquelética e hematológica em pacientes em diálise e, portanto, é raramente usado em humanos atualmente. Em animais estes sais ainda tem seu uso indicado, pois para que ocorra as intoxicações citadas é necessário o uso prolongado do hidróxido de alumínio. 26 Sais de Cálcio Sais de cálcio também são quelantes efetivos de fosfato e se tornaram os principais produtos usados com esta finalidade durante a última década. Porém uma porcentagem do cálcio é absorvida causando riscos de calcificação metastática, resultam em episódios transitórios de hipercalcemia, por isso é necessário o controle quinzenal ou mensal de cálcio. Calcitriol (vitamina D3) É usado para o controle do hiperparatireodismo renal secundário, sendo seu uso baseado na dose nos níveis de PTH. Não deve ser usado se o produto dos níveis séricos de cálcio e fósforo for superior a 60. Isso evita a possibilidade de calcificação intracelular. Para a utilização do calciotriol deve-se comprovar o nível elevado de paratormônio antes da sua administração. (Norsworthy, Crystal, Grace, Tilley 2004) O calciotrol deve ser usado como último recurso devido aos seus efeitos de calcificação de tecidos moles, portanto é necessário a monitorização dos animais a cada 2 ou 4 semanas. Em alguns animais não se obteve sucesso com seu uso, mas foi observado melhora de apetite e de expectativa de vida. 27 Hidróxido de Sevelamer O Hidrocloreto de Sevelamer é um polímero quelante de fósforo que não contém cálcio nem alumínio e vem sendo proposto como uma nova alternativa para o controle da hiperfosfatemia em pacientes com IRC em estágios avançados. Os estudos clínicos com essa droga foram restritos a pacientes em programa de hemodiálise em humanos. XV) Limitações dos Quelantes Limitações dos quelantes de fósforo Devido às limitações associadas à restrição de fósforo alimentar e pelo fato da maioria dos processos dialíticos não ser suficiente para controlar o fósforo sérico, quase todos os pacientes em diálise dependem de quelantes de fósforo para diminuir a absorção do fósforo alimentar e evitar a hiperfosfatemia. Agentes frequentemente usados como quelantes de fósforo são preparações à base de cálcio, alumínio, outros metais e outras substâncias. Todos os quelantes de fósforo têm limitações que devem ser levadas em conta na escolha da terapia mais apropriada para cada paciente. 28 A) Acetato e Carbonato de Cálcio: São quelantes que se ligam ao fósforo na luz intestinal, diminuindo a sua absorção no tubo digestivo e são as drogas de primeira escolha para o tratamento da hiperfosfatemia . Foi demonstrado que ambos baixam efetivamente os níveis de fósforo e ajudam a evitar o aparecimento de hiperparatireoidismo secundário. Entre outros suplementos de cálcio disponíveis que foram usados como quelantes de fósforo estão o citrato de cálcio, os cetoácidos e o alginato de cálcio. No entanto, convém evitar o citrato de cálcio, que pode aumentar a absorção intestinal de alumínio. Entre os quelantes de fósforo que contêm cálcio, somente o acetato de cálcio é aprovado pelo FDA americano para essa finalidade. Pelo fato do intestino absorver uma quantidade significativa do cálcio proveniente de quelantes de fósforo que contêm cálcio, estes agentes podem levar a um excesso na carga total de cálcio no organismo, como está discutido no capítulo "Hiperfosfatemia e sobrecarga de cálcio". Foi sugerido que, em alguns pacientes, os quelantes de fósforo que contêm cálcio podem levar a uma sobrecarga de cálcio, à hipercalcemia e a um produto Ca x P alto, aumentando potencialmente o risco de calcificação metastática, doença cardiovascular, calcifilaxia ou morte. Estudos recentes demonstram que o uso de carbonato de cálcio está associado com a calcificação vascular, disfunção do ventrículo esquerdo e diminuição da distensibilidade vascular, aparentemente devido a um aumento da ingestão de cálcio elementar e ao aumento subseqüente da carga total de cálcio no organismo, tendo em vista que a associação foi independente dos níveis séricos de cálcio e do produto Ca x P. 29 Outra consideração a ser feita é quanto aos níveis de cálcio sérico. Pacientes com hipercalcemia não devem utilizar quelantes que contêm cio e, para aqueles com calcemia no limite superior da normalidade, a dose prescrita de quelantes a base de cálcio deve ser bastante cautelosa Caso haja contra-indicação ao uso de quelantes a base de cálcio, o cloridrato de sevelamer deve ser sempre empregado. B)Quelantes que contêm alumínio 1.B)Hidróxido de Aluminio : O hidróxido de alumínio é extremamente eficiente como quelante de fósforo, foi o primeiro quelante de fósforo usado desde a época em que foi introduzido, em 1941, até meados da década de 1980. Posteriormente, reconheceu-se que o alumínio é absorvido do trato gastrointestinal e que o acúmulo de alumínio no organismo, ainda que em quantidades pequenas, pode provocar efeitos colaterais tóxicos, tais como doença óssea alumínica (osteomalacia), demência, miopatia e anemia. Hoje sabemos que todos os pacientes em diálise que recebem quelantes que contêm alumínio correm o risco de apresentar doença óssea alumínica e outros sintomas de intoxicação por alumínio. A recomendação atual é que os quelantes que contêm alumínio sejam administrados somente depois de esgotados todos os outros recursos de controle do fósforo. 30 C) Calciotrol Limitações da terapia com calcitriol: A suplementação com calcitriol é amplamente usada em associação com o controle do fósforo para controlar o hiperparatireoidismo secundário. A suplementação com calcitriol é eficaz tanto em baixar os níveis séricos de PTH como em melhorar a histologia do osso. Foi demonstrado que o uso profilático de calcitriol é particularmente eficaz na prevenção do hiperparatireoidismo secundário. Geralmente a terapia com calcitriol é iniciada quando os níveis séricos de PTH ultrapassam 3 a 4 vezes os níveis normais. Foi demonstrado que a terapia (oral ou intravenosa) com calcitriol suprime o PTH nos pacientes em diálise. Nos pacientes com elevação discreta do PTH, doses pequenas podem ser eficazes. No entanto, é preciso usar doses maiores de calcitriol quando a glândula paratireóide se torna progressivamente mais hiperplástica e quando há regulação descendente do receptor de vitamina D. Em muitos pacientes a hipercalcemia é problemática, especialmente com uso concomitante de quelantes de fósforo que contêm cálcio. É possível considerar o uso do análogo não-calcêmico do calcitriol, que foi recentemente introduzido e cuja fórmula é 19-nor-1,25(OH)2D2 (paricalcitol) ou 1-alfa-hidroxivitamina D2 (doxercalciferol). A supressão da secreção do PTH por calcitriol exige um controle efetivo do fósforo sérico. No entanto, quando se usam quelantes de fósforo que contêm cálcio para manter o fósforo nessa faixa, é comum aparecer um produto Ca x P elevado ou uma hipercalcemia franca. 31 XVI) RELATO DE CASO CLÍNICO INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA 1- HISTÓRICO 10/05/2008 – Cão da raça Beagle, 14 anos com 20,0 Kg foi atendido com histórico de hematúria. A proprietária relatou que esse episódios não foram os primeiros e que por conta própria estava dando Bactrin porém sem sucesso. 2- EXAME CLÍNICO Mucosas um pouco hipocoradas, olhos com muita secreção (Cerato Conjuntivite Seca) , auscutação cardiopulmonar normais, linfonodos normais, sem sinais de desidratação, palpação abdominal sem sinais de alterações, temperatura em 38,8º, durante o exame o animal urinou e foi notado realmente a presença de muito sangue. 3. EXAMES COMPLEMENTARES Foi pedido Urina, Ultrasson e foi passado ao proprietário que seria interessante realizar um exame de Perfil Renal e Hemograma até mesmo devido a idade do animal. Proprietáio optou no momento somente em fazer exame de urina. Foi realizado exame de urina . Resultado: Densidade - 1018 Sangue oculto - + + + + + Hemáceas – 850.000 Leucócito – 41.000 Cilindros granulosos – raros 32 4- DIAGNÓSTICO Infecção Urinária 5- TRATAMENTO Amoxicilina 500 / BID /21 dias. Estimular o animal a beber muita água. 6- EVOLUÇÃO CLÍNICA Após os 21 dias de medicamento o animal estava melhor, o sangramento não mais existia. 20/08/2008 – Proprietário ligou relatando novamente sangramento Urinário . O animal foi examinado e novamente pedido exames. 21/08/2008: Eritrograma Hemáceas Hemoglobina Hematócrito VCM HCM CHCM 5.17 milhões/uL 11.2 g% 35% 67.7 u 21.66 pg 32g/dl Leucograma Leucócito Neutrófilo Linfócitos Plaquetas 14.400/mm 82% 15% 665.000/mm Perfil Renal Uréia Creatinina 340.0 mg/dl 7.6 mg/dl Perfil Hepático ALT FA 26.1 U/L 232.0 U/L 33 Ultrassonografia: 21/08/2008 Figado: Contornos definidos, margens arredondadas dimensões aumentadas (hepatomegalia), ecotextura homogênea e ecogenicidade aumentada difusamente (esteatose). Arquitetura vascular mantida. Vesícula Biliar: Paredes delgadas, conteúdo anecogênico. Não há alterações ultrasonográficas em vias biliares. Baço: Contornos definidos, margens regulares, dimensões mantidas, ecotextura homogênea e ecogenicidade preservada. Trato digestório: Parede com padrão de camadas mantido e espessura dentro dos limites da normalidade para estomago, duodeno e alças intestinais. Rins: Simétricos, contornos definidos, margens regulares, ecogenicidade de corticais aumentada e definições cortiço-medulares diminuídas bilateralmente (nefropatia), com presença de duas formações arredondadas anecogênicas localizadas em cortical renal esquerda (cisto), hidronefrose bilateral, com dilatação de ureteres em saída de rins, sendo o trajeto de ureter esquerdo observado até a região dorsal á vesicula urinária. Bexiga: Repleção mínima, evidentemente irregular, após a sondagem uretral e infusão de solução fisiológica,possibilitando a visualização de uma massa irregular, ecogênica, localizada junto a parede dorsal de vesícula urinária e invadindo seu lume. (imagens podem sugerir neoplasia de células transicionais) 34 Presença de Massa irregular sugerindo neoplasia de células transicionais 35 Cistos Renais 36 37 Diagnóstico: Após essa segunda bateria de exames, ficou constado Insuficiência Renal e presença de uma massa neoplásica na região vesical. O proprietário optou em não realizar cirurgia, o animal está sendo tratado pra Insuficiência Renal. 22/08/2008 – Teve inicio a fluidoterapia com uso de Ringuer com lactato, 4mg/kg de furosemida, metoclopramida para controle do vômito, vitamina K para tentar diminuir a hematúria. Recomendado ração terapêutica para pacientes renais, e inibidor de ECA (Benazepril – Lotensin). Foi orientado ao proprietário que viesse todos os dias para dar continuidade ao tratamento e controle laboratorial. 38 Conclusão A IRC geralmente é progressiva e irreversível, devemos considerar a gravidade dos sinais clínicos e a evolução da doença. Tendo como terapia melhorar os sintomas clínicos, os equilíbrios ácidos-básicos. O objetivo é dar qualidade de vida aos pacientes, sabendo que as lesões renais são irreversíveis. 39 Referencias Bibliográficas W.O. Dukes – Fisiologia dos Animais Domésticos. 11.ed. Rio de Janeiro: Guanabara ETTINGER, S.J.; FELDMAN, E.C. Tratado de Medicina Interna Veterinária. 4.ed.,vol.01. São Paulo: Manole,1997. Cap.134, p.2399-2405. ETTINGER, S.J.; FELDMAN, E.C. Tratado de Medicina Interna Veterinária. 4.ed.,vol.01. São Paulo: Manole,1997. Cap.134, p.2414-2416. SPINOSA SOUZA HELENICE; GORNIAH LIMA SILVANA; BERNARDI MARTHA MARIA, Farmacologia aplicada á Medicina Veterinária. NELSON E COUTO, Manual de Medicina Interna de Pequenos Animais. 2 ed.Rio de Janeiro: Mosby 2006. GHANDLER,E.A.; GASKELL C.J.; GASKELL R.M. Clínica e Terapêutica em Felinos 3 ed. São Paulo: Roca, 2006. Cap 10, p 231 – 245. NORSWORTHY D.G. ; CRYSTAL A.M.; GRACE F.S.; TILLEY P. L., O Paciente Felino. 2 ed.,São Paulo: Manole 2004. 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