DESENVOLVIMENTO DE ADESIVO EPOXÍDICO REFORÇADO POR NANOPARTÍCULAS DE ARGILA Fernando Olmedo Carvalho Júnior Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Materiais da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro de Materiais. Orientador: Fernando Luiz Bastian Rafael de Azevedo Cidade Rio de Janeiro JANEIRO/2014 DESENVOLVIMENTO DE ADESIVO EPOXÍDICO REFORÇADO POR NANOPARTÍCULAS DE ARGILA Fernando Olmedo Carvalho Júnior PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO PROGRAMA DE ENGENHARIA DE MATERIAIS DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO DE MATERIAIS. Examinado por: _______________________________________ Prof. Fernando Luiz Bastian, Ph.D. _______________________________________ Rafael de Azevedo Cidade, M. Sc _______________________________________ Prof. Renata Antoun Simão, D.Sc _______________________________________ Prof. Luiz Antônio Lourenço Martins, D.Sc RIO DE JANEIRO, RJ, - BRASIL JANEIRO DE 2014 Carvalho Júnior, Fernando Olmedo Desenvolvimento de Adesivo Epoxídico Reforçado por Nanopartículas de Argila/ Fernando Olmedo Carvalho Júnior. – Rio de Janeiro: UFRJ/Escola Politécnica, 2014. X, 57 p.: il.; 29,7 cm. Orientador: Fernando Luiz Bastian Rafael de Azevedo Cidade Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de Engenharia de Materiais, 2014. Referências Bibliográficas: p. 51-57. 1.Argila 2. Epóxi 3. Adesivo 4. Nanocompósito I. Bastian, Fernando Luiz II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Engenharia de Materiais III. Desenvolvimento de Adesivo Epoxídico Reforçado por Nanopartículas de Argila iii Agradecimentos Ao meu pai Fernando e minha mãe Djamila, que sempre me apoiaram em todas as minhas escolhas. Sempre me incentivando a seguir em frente e conquistar meus objetivos. Aos meus avós, que sempre me incentivaram e acreditaram na minha capacidade. Por todo conhecimento e carinho que me foram dados. Ao meu irmão Gustavo, que sempre me ajudou nos momentos que precisei. A minha namorada Mariana, pela paciência e compreensão incondicional que nunca faltaram. Sempre me ajudando e não me deixando desanimar. Não há outra pessoa que eu escolheria para estar ao meu lado. A família da Mariana por todo apoio e carinho, em especial a minha sogra Cristiane que sempre me tratou como um filho. A família Andrade por ter me recebido no Rio e pelo apoio durante todos esses anos. Aos amigos André, Ariella, Carol, Daniel, Fábio, Gabriel, Kako, Karol, Kleber, Leandro, Marcelo, Marcus, Marina, Maurício, Pedro, Rafael, Rodrigo, Thiago, Vivian e Wallace pelos momentos memoráveis que vivemos juntos e pelas histórias que tenho para contar. iv A Vivian e ao Leandro por toda ajuda durante esses anos, sem vocês eu não teria conseguido. Ao professor Fernando Luiz Bastian, pelos ensinamentos e compreensão. Pela preocupação com os alunos e com curso, sempre procurando fazer o melhor. Ao Luiz Antônio Lourenço Martins, por todos os ensinamentos, conselhos e por ter me acolhido quando entrei no laboratório. À professora Renata Simão, por todo amor e preocupação com os seus alunos. Ao Rafael de Azevedo Cidade, pelos ensinamentos, desde o período em que fui membro da equipe de aerodesign até a última etapa desse projeto. A professora Verginia Crispim e ao professor Ivo Lopez por todo apoio, dedicação e motivação no momento em que pensei em desistir. O exemplo de vocês me fez continuar. v Resumo do Projeto de Graduação apresentado ao DMM/EP/UFRJ como parte integrante dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Materiais. DESENVOLVIMENTO DE ADESIVO EPOXÍDICO REFORÇADO POR NANOPARTÍCULAS DE ARGILA Fernando Olmedo Carvalho Júnior Janeiro/2014 Orientador: Fernando Luiz Bastian Rafael de Azevedo Cidade Curso: Engenharia de Materiais A união de materiais com uso de adesivos tem se tornado uma prática comum nos mais variados campos da engenharia. Os adesivos à base de resina epóxi têm obtido uma grande aceitação em diversos usos devido à sua resistência, versatilidade e excelente adesão a uma variedade de superfícies. As propriedades físicas e mecânicas desses materiais podem ainda ser melhoradas a partir da adição de fases de reforço. No presente projeto foi desenvolvido um novo adesivo de matriz polimérica epoxídica reforçada por nanopartículas de argila, na proporção de 5% de carga de argila, em peso. O nanocompósito desenvolvido foi submetido a ensaios de tração e cisalhamento que revelaram um aumento significativo das propriedades mecânicas em relação ao polímero puro. Tal aumento pode ser atribuído à esfoliação da argila no material, ou seja, as lamelas da argila sofreram dispersão total, promovendo uma maior área de interface matriz/partículas, melhorando a transferência da carga da matriz para a fase de reforço. Palavras-chave: argila, epóxi, adesivo, nanocompósito. vi Abstract of Undergraduate Project presented to DEMM/EP/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Materials Engineer. DEVELOPMENT OF NANOPARTICLE REINFORCED EPOXI ADHESIVE Fernando Olmedo Carvalho Júnior January/2014 Advisor: Fernando Luiz Bastian Rafael de Azevedo Cidade Course: Materials Engineering The union of materials with the use of adhesives has become a common practice in various fields of engineering . The epoxy resin based adhesives have obtained wide acceptance in many uses because of their high strength , versatility and excellent adhesion to a variety of surfaces . The physical and mechanical properties of these materials could be improved by the addition of strengthening phases. In this project we developed a new adhesive epoxy resin matrix reinforced with nanoparticles of clay in the proportion of 5 % of clay by weight . The developed nanocomposite was subjected to tensile and shear tests which revealed a significant increase in mechanical properties compared to pure polymer. This increase can be attributed to the exfoliation of the clay material, ie the resulting clay lamellae total dispersion promoted a larger area of interface / matrix particles , improving load transfer from the matrix to the reinforcement phase . Keywords: clay, epoxy, adhesive, nanocomposite. vii SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 1 2.1. MATERIAIS COMPÓSITOS 4 2.2. NANOCOMPÓSITOS E NANOPARTÍCULAS 7 2.2.1. INTERFACE PARTÍCULA / MATRIZ 9 2.2.2. NANOCOMPÓSITO REFORÇADO POR MONTMORILONITA 12 2.3. CRITÉRIOS DE ADESÃO 17 2.4. RUGOSIDADE 24 2.5. ANÁLISE POR DIFRAÇÃO DE RAIOS-X 29 2.6. ENSAIO DE CISALHAMENTO 30 2.7. ENSAIO DE TRAÇÃO 30 2.8. JUNTAS ADESIVAS 27 3. MATERIAIS E MÉTODOS 32 3.1. MATERIAIS 32 3.2. METODOLOGIA 34 3.2.1. SÍNTESE DO ADESIVO NANOCOMPÓSITO 34 3.2.2. DIFRAÇÃO DE RAIOS-X 35 3.2.3. ENSAIOS DE TRAÇÃO 36 3.2.5. PREPARO DAS SUPERFÍCIES PARA ENSAIOS DE CISALHAMENTO 37 3.2.6. ENSAIOS DE CISALHAMENTO 38 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 40 4.1. SÍNTESE DO ADESIVO NANOCOMPÓSITO E DIFRAÇÃO DE RAIOS-X 40 4.2. ENSAIOS DE TRAÇÃO 43 4.3. ENSAIOS DE CISALHAMENTO 46 5. CONCLUSÕES 50 6. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS 51 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA 52 viii Lista de Figuras Figura 1 – Representação das seis famílias de Materiais. Adaptado de ASHBY, 2011. .................................... 4 Figura 2 – Possibilidade da interação entre as propriedades dos materiais. Adaptado de ASHBY, 2011. . 5 Figura 3 – Classificação dos materiais compósitos. Adaptado de Callister, 2008. .............................................. 6 Figura 4 - Correlação entre os valores de tenacidade à fratura (MPa.m1/2) e a fração volumétrica de partículas (%), levando-se em consideração partículas de Al2O4 tratadas e não tratadas com silano. Matriz de ZHANG e SINGH, 2004. ........................................................................................................................................... 9 Figura 5 - Molécula de silano (Power Chemical Products, 2013). ........................................................................... 11 Figura 6 - Representação de um cristal pertencente à classe das argilas esmectitas com apenas uma dimensão em escala nanométrica (NANOCLAY, 2013). ................................................................................................ 12 Figura 7 - Representação da estrutura lamelar cristalina dos 2:1 filosilicatos (ALEXANDRE e DUBOIS, 2000). ................................................................................................................................................................................................. 13 Figura 8 - Interação entre o surfactante catiônico e as lamelas de Montmorilonita ......................................... 14 Figura 9 - Representação dos tipos de compósitos associados aos diferentes graus de separação das lamelas de silicato obtidos através da interação com a matriz polimérica: a) microcompósito (tactóides), b) nanocompósito intercalado, c) nanocompósito esfoliado (ALEXANDRE e DUBOIS, 2000) .................... 15 Figura 10 - Critério de Molhabilidade entre Sólido e Líquido. Fonte: Imagem extraída do site portaldamadeira ............................................................................................................................................................................ 19 Figura 13 -‐ Regime Wenzel para superfícies hidrofílicas; B - Regime Wenzel para superfícies hidrofóbicas; C – Regime Cassie-Baxter para superfícies hidrofóbicas. Reproduzido de Naik et al. (2009). ................................................................................................................................................................................................ 26 Figura 15 -‐ Micrografia de Aço Carbono utilizado como aderente aumentado em 500 vezes. ................. 33 Figura 16 -‐ Sistema de agitação mecânica e aquecimento ........................................................................................ 34 Figura 17 -‐ Fluxograma de síntese do adesivo nanocompósito ............................................................................... 35 Figura 18 – Dispositivo para confecção de amostras para análise por DRX ....................................................... 36 Figura 19 -‐ Superfície do corpo de prova preparado corretamente. Aumento de 50 vezes. ....................... 37 Figura 20 -‐ Superfície do corpo de prova onde ocorreu problema de umidade. Aumento de 50 vezes. . 37 Figura 21 -‐ Aderente metálico jateado ............................................................................................................................... 38 Figura 22 -‐ Corpos de prova depois de limpos ................................................................................................................. 38 Figura 23 -‐ Molde e corpos de prova para ensaio de cisalhamento ....................................................................... 39 Figura 24 -‐ Representação de um corpo de prova para ensaio de cisalhamento. Adaptado da norma ASTM D 5868 .................................................................................................................................................................................. 39 Figura 25 -‐ Amostra usada na análise por DRX .............................................................................................................. 41 Figura 26 -‐ Difratogramas ....................................................................................................................................................... 42 Figura 27 -‐ Corpo de prova utilizado para ensaio em tração ................................................................................... 44 Figura 28 -‐ Comparativo entre os valores de Resistência a tração ........................................................................ 44 Figura 29 -‐ Comparativo entre os valores de deformação ......................................................................................... 44 Figura 30 - Carregamento Máximo e seu erro estatístico ............................................................................................ 47 Figura 31 - Tensão Cisalhante Máxima ............................................................................................................................... 47 Figura 32 – Superfície de fratura após ensaio de cisalhamento .............................................................................. 49 ix LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Vantagens e Desvantagens das juntas adesivas (MENDES, 2005) ______________________________ 2 Tabela 2 -‐ Processo de síntese do adesivo nanocompósito _________________________________________________ 40 Tabela 3 - Teste de t-student ________________________________________________________________________________ 45 Tabela 4 - Relação entre tensão cisalhante máxima e espessura do adesivo ______________________________ 48 x 1. INTRODUÇÃO Recentemente, os nanocompósitos tem atráido grande interesse na área de pesquisa pois oferecem propriedades únicas devido a disperção da nanopartículas e da interação matriz-partícula. A literatura sugere que os nanocompositos apresentam melhores propriedades quando comparados com compositos tradicionais, performance que se deve às propriedades interfaciais dos mesmos (ANGELETAKIS e KOBASHIGAVA, 1999, PINNAVAIA e BEALL, 2000). Segundo ALEXANDRE e DUBOIS (2000) os nanocompósitos reforçados com argila exibem melhores propriedades quando comparados a polímeros sem reforço ou reforçados com micropartículas. Os autores também inferem que a eficiência da carga inorgânica em melhorar as propriedades de um sistema polimérico é determinada pelo seu grau de dispersão na matriz polimérica. Nanocompósitos reforçados, em particular, com silicatos lamelados conseguem com pequena quantidade de argila incorporada ao polímero (1 a 5%), melhora significativa em suas propriedades. Além disso, WANG e QIN (2007) afirmam que os silicatos lamelados são responsáveis por um aumento significativo na tenacidade à fratura. As vantagens e desvantagens de uma junta adesiva podem ser vistas a seguir (MENDES, 2005): 1 Tabela 1 - Vantagens e Desvantagens das juntas adesivas (MENDES, 2005) VANTAGENS - Melhor distribuição de esforços numa DESVANTAGENS - Necessita de cuidadosa preparação da maior área de carregamento comparado às superfície dos materiais a serem unidos juntas com elementos mecânicos de (aderentes). fixação. - Possibilita a junção de materiais de - Alguns materiais adesivos requerem diferentes espessuras em qualquer formato. longos períodos para cura total liberação para uso normal. - Possibilita a junção de qualquer - Limitação quanto à temperatura de combinação de materiais similares ou não. serviço por volta de 175 °C (usual), porém há adesivos disponíveis que atendem a 370 °C em uso limitado. - Minimiza ou previne contra corrosão - Temperatura e pressão podem ser eletroquímica entre materiais dissimilares. requeridas no processo de montagem. - Resiste à fadiga. - Dispositivos podem ser necessários para aplicação e montagem dos conjuntos adesivos. - Promove juntas suavizadas que não afetam - Normalmente é necessário rígido a aerodinâmica da superfície externa à controle das características do processo junção. para garantir uma junta de qualidade. - Permite a calafetação, isolamento (termoelétrico) e barreira contra a vibração num mesmo processo. - Frequentemente mais rápidos de serem produzidos e com menor custo quando comparado às juntas com elementos mecânicos de fixação. 2 - Temperatura necessária para a cura dos adesivos não afeta as características mecânicas dos metais a serem unidos. - Limpeza posterior à aplicação do adesivo (anterior à cura) não é difícil de ser executada na produção. Dessa forma, o objetivo do presente projeto de formatura é desenvolver um processo para fabricação de adesivo reforçado por silicatos lamelados 3 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1. MATERIAIS COMPÓSITOS De acordo com suas propriedades, rotas de processamento e, frequentemente, aplicações, podemos classificar os materiais de engenharia em seis grandes famílias: cerâmicos, elastômeros, híbridos, metais, polímeros e vidros (Figura 1). Os materiais compósitos são um caso particular do materiais híbridos, sendo constituídos por dois componentes, onde um exercerá a função de reforço, fase dispersa, e, o outro, a função de matriz, fase contínua (ASHBY, 2011). Figura 1 – Representação das seis famílias de Materiais. Adaptado de ASHBY, 2011. Dentre as vantagens apresentadas pelos materiais compósitos, podemos citar a combinação única de propriedades. Essa combinação pode se dar de quatro maneiras (ASHBY, 2011), conforme ilustrado na Figura 2. 4 Figura 2 – Possibilidade da interação entre as propriedades dos materiais. Adaptado de ASHBY, 2011. Melhor dos casos. O compósito apresenta as melhores propriedades de cada componente em separado. Regra das misturas direta (Limite superior). As propiedades variam de acordo com a fração volumétrica de cada componente presente, sendo seus valores obtidos pela média ponderada dessas frações. Regra das misturas inversa (Limite inferior). As propiedades variam de acordo com a fração volumétrica de cada componente presente, sendo seus valores obtidos pela média harmônica. Pior dos casos. O compósito apresenta as piores propriedades de cada componente em separado. CALLISTER (2008) classifica os materiais compósitos em três categorias principais: reforçados com partículas, reforçados com fibras e os compósitos estruturais. 5 Essas categorias também podem ser divididas com base no mecanismo de reforço, que leva em consideração o formato, o tamanho, a distribuição e a orientação da fase de reforço (Figura 3). Figura 3 – Classificação dos materiais compósitos. Adaptado de Callister, 2008. Todas as seis classes de materiais de engenharia podem ser usados tanto na forma de matriz quanto na forma de reforço. Em geral, a matriz transfere e distribui as cargas aplicadas no material para a fase de reforço e, em alguns casos, confere propriedades como ductilidade, tenacidade ou isolamento elétrico. Para tanto, a matriz deve ser capaz de desenvolver uma boa união, mecânica ou química, com a fase dispersa. No presente trabalho discutiremos o caso de um compósito reforçado com partículas, mais precisamente, compósito reforçado por dispersão. 6 Nesse caso as partículas são, em geral, muito pequenas, com diâmetros entre 10 e 100nm. As interações partícula-matriz que levam ao aumento de resistência ocorrem no nível atômico ou molecular, de maneira similar ao endurecimento por precipitação, onde a matriz é responsável por suportar grande parte da carga aplicada, as partículas impedem ou dificuldam a movimentação de discordâncias em materiais metálicos CALLISTER (2008). 2.2. NANOCOMPÓSITOS E NANOPARTÍCULAS Como o próprio nome sugere, o termo nanocompósito é usado para indicar que a mistura de fases ocorre numa escala de comprimento nanométrica (GIANNELIS et al, 2002). Em geral, essa mistura apresenta um componente inorgânico (óxido metálico, sílica, ou minerais da argila, por exemplo) e outro orgânico (polímeros e copolímeros, por exemplo). A grande vantagem dos nanocompósitos quando comparados aos compósitos tradicionais é a menor quantidade de carga necessária para que as propriedades requeridas sejam obtidas. A associação de uma dipersão eficiente a uma boa adesão matriz-reforço confere uniformidade nas propriedades do material, além de possibilitar o desenvolvimento de materiais muito resistentes (SCHMIDT, 2003). Os nanocompósitos apresentam três subdivisões, classificados de acordo com as dimensões das nanopartículas. As isodimensionais são aquelas que apresentam suas três dimensões na ordem nanométrica (esferas de vidro, por exemplo). Quando duas das três dimensões estão na ordem nanométrica e, a terceira apresenta uma maior extensão, tem-se então uma estrutura alongada (Nanotubos de carbono, por exemplo). A terceira classificação ocorre quando a partícula apresenta apenas uma dimensão na escala 7 nanométrica, sendo representada pela forma de uma chapa fina. (ALEXANDRE e DUBOIS, 2000). De maneira geral, quanto maior a fração de partículas e menor o seu tamanho, melhores serão as suas propriedades. Esse resultado está diretamente associado a área superficial específica. Assim, as nanopartículas, que apresentam uma grande área superficial, possuem uma maior área de interface entre a matriz e a carga de reforço e, por consequência, uma maior transferência de carga da matriz para o reforço, sendo esta a responsável pela aumento das propriedades do compósito. Por outro lado, para que isso ocorra, as partículas devem estar intimamente unidas à matriz e bem dispersas. Porém, devido à grande área de superfície específica, a dispersão de uma grande quantidade dessas partículas no compósito se torna mais difícil (WETZEL et al, 2003). ZHANG e SINGH (2004), observaram um aumento na tenacidade à fratura em compósitos de matriz polimérica reforçados por nanopartículas. Constataram, também, que quanto menor for o tamanho das partículas, mais resistente o material foi à fratura. Isso não se aplica aos reforços convencionais, não apresentando ou até mesmo reduzindo a tenacidade a fratura do compósito. Uma outra observação feita refere-se ao uso de um silano organofuncional, que tem como objetivo melhorar a adesão entre as nanopartículas e a matriz polimérica, uma vez que na maioria dos casos, sem a utilização do silano não é possível obter uma melhora na tecenacidade (Figura 4). 8 Figura 4 - Correlação entre os valores de tenacidade à fratura (MPa.m1/2) e a fração volumétrica de partículas (%), levando-se em consideração partículas de Al2O4 tratadas e não tratadas com silano. Matriz de ZHANG e SINGH, 2004. 2.2.1. INTERFACE PARTÍCULA / MATRIZ Como dito anteriormente, as propriedades dos nanocompósitos advém do tamanho muito reduzido das partículas de reforço. Isso se deve ao fato dos fenômenos físicos e químicos estarem na mesma ordem de grandeza de tamanho de partículas, cristais e grãos, proporcionando novas propriedades a esses materiais nanoestruturados, pois as propriedades macroscópicas são influenciadas por interações atômicas e moleculares (YONG, 2005). Para nanocompósitos, a interação matriz-partícula é de grande importância no surgimento de suas novas propriedades. É de se esperar que uma boa dispersão das nanopartículas também seja fundamental (YONG, 2005). A necessecidade de uma boa dispersao vem sendo evidenciada devido ao fato de um nanocompósito com matriz polimérica apresentar grande tendência de aglomeração de suas partículas. Essa aglomeração entre partículas resulta, 9 principalmente da alta energia de superfície das nanopartículas. Além disso, dois fatores exercem pequena contribuição: As forças de atração de (1) van der Waals (ligações fracas) e (2) covalentes (ligações fortes). Quando as partículas atingem tamnhos maiores que 10µm o peso da partícula se torna um fator dominante e essas forças podem ser desprezadas no processo de mistura. Assim, nesses casos, apenas as forças macroscópicas são importantes. Porém, quando as partículas são menores que 1µm é preciso que essas forças sejam levadas em consideração no processo ne mistura, pois se essas duas força nao forem sobrepujadas, não foi possível desfazer os aglomerados (YONG, 2005). Segundo YONG(2005), para se obter uma disperção eficiente, três propriedades devem ser analisadas: molhabilidade (habilidade da resina em “molhar” as partículas), capacidade de desaglomeração (penetração da resina nos aglomerados) e estabilidade das partículas dispersas na matriz contra floculação. A molhabilidade é influenciada diretamente pela afinidade química entre o polímero e as nanopartículas. A aglomeração é uma função da rugosidade e área superficial das partículas. Quanto maior uniformidade da superfície das partículas, maior a força de atração entre elas, pois superfícies uniformes aumentam a área de contato entre elas, levando a uma maior força de atração (YONG, 2005). Também foi observado por YONG (2005) que a superfície desenpenha papel mais importante que a composição química interna das partículas na sua interação com a matriz. A energia superficial das partículas pode ser reduzida atravéz do uso de um agente de união do tipo silano, responsável por reduzir a aglomeração e melhorar a dispersão das nanopartículas, além de ser responsável por promover uma união química entre matriz e a fase de reforço. Um modificador de superfície ideal deve apresentar teoricamente uma monocamada. 10 Agente de união Como dito anteriormente, o agente de união é responsável por melhorar a união entre as partículas de montmorilonita e a matriz polimérica. A fase de reforço só reforçará efetivamente a matriz se ambas estiverem otimamente unidades, caso contrário pode haver uma redução nas propriedades no material, fragilizando-o. O silano estabelece uma transferência de tensões da matriz para as nanopartículas. Tornase então evidente a importância da utilização de um agente de união afim de promover uma melhor adesão entres ambas as fases (ANUSAVICE, 1998). A molécula de silano (Figura 5) é formada por um átomo de silício no centro, contendo um grupo funcional orgânico (R) e um segundo grupo funcional (X). O grupo funcional R (organofílico) liga-se à resina orgânica, enquanto que o grupo funcional X (hidrofílico) liga-se ao material inorgânico (montmorilonita) por meio de seu grupo silanol (~Si-OH) (Power Chemical Products, 2013). Figura 5 - Molécula de silano (Power Chemical Products, 2013). 11 2.2.2. NANOCOMPÓSITO REFORÇADO POR MONTMORILONITA Alguns tipos de argilas esmectitas possuem apenas uma dimensão em escala nanométrica. Eles são chamados de silicatos lamelados (Figura 6). Várias classes desses silicatos apresentam potencial para serem utilizados, sendo a Montmorilonita (MMT), Hectorita e Caolinita as mais comuns. (ALEXANDRE e DUBOIS, 2000). Figura 6 - Representação de um cristal pertencente à classe das argilas esmectitas com apenas uma dimensão em escala nanométrica (NANOCLAY, 2013). Mesmo pequenas concentrações desses silicatos são capazes de promover uma grande melhora nas propriedades do compósito. Isso se deve ao fato de sua geometria aumentar a interface entre a matriz e as partículas. Pode se alcançar as mesmas propriedades de um compósito reforçado por teores entre 20 e 30% de fibra de vidro ou talco com um teor de apenas 10% de argila. Além disso, os silicatos lamelados podem servir como centros adicionais de ligações cruzadas, aumentando a resistência do sistema. (YANO et al, 1993; FOURNARIS et al, 2001). Os silicatos lamelados mais utilizados no desenvolvimento de nanocompósitos pertencem à família estrutural dos 2:1 filosilicatos (Figura 7), cuja estrutura lamelar 12 cristalina é composta por lamelas bidimensionais. A espessura da lamela bidimensional corresponde a 1nm e suas dimensões laterais variam de 300Å a alguns microns. Entre as lamelas, formam-se espaços regulares chamados de intercamadas, galerias, espaçamento basal “d” ou espaço interlamelar (ALEXANDRE e DUBOIS, 2000). Figura 7 - Representação da estrutura lamelar cristalina dos 2:1 filosilicatos (ALEXANDRE e DUBOIS, 2000). As lamelas bidimensionais que compõem a montmorilonita são mantidas unidas por forças de van der Waals, consideradas fracas, e por isso a intercalação de pequenas moléculas orgânicas entre as tais camadas é relativamente fácil. No entanto, argilas não tratadas não possuem capacidade de dispersão imediata em matrizes orgânicas, tendo-se em vista que sua superfície é dotada de propriedades hidrofílicas. Tal constatação aponta a necessidade de submeter o silicato a um tratamento que torne sua superfície organofílica e permita sua subsequente incorporação à matriz polimérica. A organoargila passa a ter uma baixa energia de superfície, através da substituição de cátions hidratados por cátions orgânicos (surfactante catiônico), o que a torna mais 13 compatível com polímeros orgânicos, além de aumentar seu espaçamento interlamelar (Figura 8). A extremidade polar (cabeça da molécula) fixa-se à superfície da lamela, enquanto sua cauda orgânica mantem-se livre para futura interação com a matriz polimérica (ALEXANDRE e DUBOIS, 2000; SALAHUDDIN e SHEHATA, 2001; FORNES e PAUL, 2003). Figura 8 - Interação entre o surfactante catiônico e as lamelas de Montmorilonita A interação entre a matriz polimérica e o organosilicato proporciona a penetração de quantidades do polímero entre as lamelas bidimensionais deste último. O grau de separação obtido entre as lamelas dita o tipo de compósito que foi formado. Quando não se torna possível ocorrer a intercalação do polímero entre as lâminas de silicato, aglomerados de lamelas (tactóides) compõem sua fase dispersa, originando-se um compósito com propriedades similares às dos microcompósitos (FORNES e PAUL, 2003). No entanto, para que um nanocompósito seja obtido, é necessário que tais aglomerados sejam desfeitos, a fim de se obter uma dispersão homogênea de lamelas individuais, formando estruturas intercaladas ou esfoliadas (Figura 9). Quando apenas algumas cadeias poliméricas encontram-se intercaladas entre as lamelas de silicato, é formada uma estrutura multilamelar de camadas poliméricas e inorgânicas bastante 14 ordenada. O resultado é um nanocompósito intercalado, com separação entre lamelas na faixa de 20Å ou 30Å. Por fim, quando as lamelas do silicato são completamente dispersas e delaminadas, formando uma estrutura esfoliada uniformemente distribuída pela matriz polimérica, é obtido um nanocompósito esfoliado. Com o processo de esfoliação é obtido uma separação das camadas de silicato na faixa de 80Å a 100Å (FORNES e PAUL, 2003). Figura 9 - Representação dos tipos de compósitos associados aos diferentes graus de separação das lamelas de silicato obtidos através da interação com a matriz polimérica: a) microcompósito (tactóides), b) nanocompósito intercalado, c) nanocompósito esfoliado (ALEXANDRE e DUBOIS, 2000) Apesar da apresentação de uma estrutura bem definida para esses três tipos de compósitos supracitados, outras estruturas podem existir com organizações intermediárias onde tactóides, intercalação e esfoliação coexistam (ALEXANDRE e DUBOIS, 2000; FORNES e PAUL, 2003). 15 2.2.2.1. PREPARAÇÃO DO NANOCOMPÓSITO Existem diversas maneiras de produzir um compósito polimérico reforçado por nanopartículas de argila. No presente trabalho o método adotado foi o de polimerização in situ. É bastante comum a utilização desse método quando se deseja produzir nanocompósitos a base de resina epoxi e argila. Nessa técnica, o silicato lamelado é inserido dentro do monômero líquido (ou de uma solução de monômeros) e, a seguir, esfoliado, permitindo que a formação do polímero final ocorra entre as lamelas do silicato em uma etapa seguinte. Um pequeno aumento na temperatura e o uso do ultrassom podem melhorar o processo de esfoliação (MESSERSMITH e GIANNELIS, 1994, WANG e QIN, 2007). 2.2.2.2. O MECANISMO DA INTERCALAÇÃO E DA ESFOLIAÇÃO Nos últimos anos, diversas pesquisas vem sendo realizadas com a intenção de desvendar o mecanismo de intercalação e esfoliação. Foi observado, segundo a teoria de enovelamento do polímero, que as forças elásticas desenvolvidas durante a polimerização são as responsáveis pela intercalação e esfoliação lamelar. O aumento do peso molecular resultaria em uma maior energia armazenada pelas cadeias poliméricas para espiralar. Desta forma, lamelas adjacentes a essa polimerização impedirão o enovelamento, impedindo o relaxamento das cadeias já formadas, aumentando sua conformação até um ponto onde as forças atrativas são equilibradas pelas forças elásticas. Além disso, é importante ressaltar que a viscosidade da matriz exerce forte influência nesse processo. As forças viscosas precisam ser superadas para garantir a separação das lamelas de argila. Isto posto, a produção das estruturas esfoliadas é extremamente dependente de como a viscosidade da matriz evolui com o tempo (a 16 esfoliação é dificultada quando a mesma aumenta rapidamente) e de como os monômeros que compõem a mesma conferem resistência à separação das lamelas de argila (PARK e JANA, 2003). Em algumas reações, existe a possibilidade de polimerização dentro e fora das galerias e a velocidade de tais influencia na estrutura formada. Em outras palavras, uma estrutura esfoliada foi formada se a velocidade de polimerização dentro da galeria for igual ou próxima a de fora da galeria. Em contraposição, se a velocidade de polimerização ou difusão no interior da galeria for inferior a velocidade fora da mesma, a estrutura formada foi intercalada (PARK e JANA, 2003). No caso de intercalação de poliestireno em silicatos lamelados, os quais são compostos por aglomerados de partículas primárias, se o transporte de massa para o interior das galerias for mais lento do que entre as partículas primárias, os cristais individuais serão cercados pelo polímero. Neste caso, a formação do nanocompósito independe do tamanho das partículas primárias. Entretanto, se o transporte de massa dentro das galerias for semelhante ao fora delas, os cristais mais internos não terão contato com o polímero e não serão intercalados. Portanto, nesse caso, a formação do nanocompósito foi dependente do tamanho das partículas primárias. Outro fato essencial, é a dependência da velocidade de intercalação do tamanho de partículas primárias, quanto maiores menor foi a intercalação VAIA et al (1995). 2.3. CRITÉRIOS DE ADESÃO A utilização de adesivos, os quais possuem a capacidade de unir materiais em suas superfícies, tem se tornado cada vez mais comum em diversas áreas da engenharia. A adesão proporcionada por eles se trata de um fenômeno físico-químico que provê um 17 mecanismo de transferência de tensões entre duas peças sólidas através de processos moleculares (AFONSO, 2004). As vantagens dessa técnica como forma de união se resumem a capacidade de unir materiais dissimilares com espessuras variadas. Por serem dielétricos não há corrosão eletrolítica e, devido à uma melhor distribuição de tensões, há o impedimento de concentração local de tensões muito presentes em soldas e rebites (AFONSO, 2004). Entretanto, vale ressaltar algumas desvantagens características dessa técnica, como o fato de não suportarem operar em ambientes de altas temperaturas e de sua aplicação ser limitada pela temperatura de transição vítrea do polímero (AFONSO, 2004). Para obter uma união satisfatória é necessário que a ligação adesiva seja efetiva, ou seja, o adesivo deve ter a capacidade de se espalhar sobre a superfície do substrato e deslocar o ar e qualquer outro contaminante presente na superfície (AFONSO, 2004). Assim, diversos fatores devem ser considerados para a avaliar a interação do adesivo com o substrato, tais como, critérios e cinética do processo de molhabilidade e valores de energia superficial livre do adesivo e do substrato (AFONSO, 2004). 2.3.1 CRITÉRIO DE MOLHABILIDADE. Existem duas propriedades superficiais principais, a tensão superficial e a energia superficial livre, ambas são determinantes no critério termodinâmico para atingir a adesão máxima. A tensão superficial pode ser definida como o trabalho para aumentar a superfície em uma unidade de área por um processo isotérmico e reversível. Essa pode ser medida por diferentes métodos como pelo efeito de capilaridade e método 18 da bolha, por exemplo. No caso da energia livre, podemos determiná-la a partir da tensão superficial crítica do sólido, a qual envolve medidas de ângulos de contato descrito pelo ângulo da seção da gota do material líquido sobre a superfície do substrato, em equilíbrio (GASPARIN, 2011). Dessa forma, utilizando como referência uma gota de líquido em repouso sobre uma superfície sólida (Figura 10), é observado que quando a energia livre da superfície é igual ou superior à tensão superficial do líquido, ou seja, ângulo de contato, θ, igual à zero, resultará em uma molhabilidade total, em outras palavras, o líquido é capaz de molhar totalmente o sólido. Assim, se uma gota de um líquido com uma elevada tensão superficial é colocada sobre a superfície de um material com baixa energia livre foi gerado um ângulo de contato bastante alto, ou se a gota for de um líquido com uma tensão superficial do líquido menor, em comparação ao anterior, consequentemente, a gota irá se espalhar com mais facilidade através da superfície do substrato, resultando em um menor ângulo de contato (GASPARIN, 2011). Figura 10 - Critério de Molhabilidade entre Sólido e Líquido. Fonte: Imagem extraída do site portaldamadeira1 1 http://portaldamadeira.blogspot.com.br/2009_11_01_archive.html 19 Como ilustrado na Figura 10, as três fases se encontram em equilíbrio e para isso é necessário um balanço entre as tensões superficiais definido pela Equação (1), conhecido como equação de Young. Sendo os termos γ sv , γ sl e γ lv as tensões superficiais entre as fases adjacentes, ou seja, entre as fases sólido e vapor, sólido e líquido e por fim líquido e vapor (GASPARIN, 2011). 𝛾!" = 𝛾!" + 𝛾!" cos 𝜃 Equação (1) Vale ressaltar que a rugosidade superficial também afeta os valores do ângulo de contato, desta forma, um fator de rugosidade deve ser adicionado na equação (1) para considerar a contribuição da mesma na molhabilidade, como na Equação (2). 𝜓 𝛾!" − 𝛾!" = 𝛾!" cos 𝜃 Sendo, θ o ângulo de contato e ψ Equação (2) o fator de rugosidade, o qual pode ser calculado ao comparar valores de cos 𝜃 para superfícies lisas e rugosas (AFONSO, 2004). 2.3.2 ACABAMENTO SUPERFICIAL Limpeza Para garantir uma boa adesão é importante a limpeza minuciosa da superfície do substrato, pois uma monocamada de contaminante na mesma é o suficiente para comprometer a molhabilidade do adesivo no substrato. Tal fato, eleva as chances de ocorrer falhas adesivas graves (AFONSO, 2004). 20 Tratamento superficial dos substratos • Metais A finalidade desse tratamento é modificar a superfície do substrato de forma a elevar sua resistência de ligação. As técnicas mais utilizadas para esse tipo de material são: Jateamento com areia ou com esferas de vidro, abrasão seguida de limpeza por um solvente, anodização (Alumínio) e ataque químico (AFONSO, 2004). • Compósitos Para compósitos, o principal objetivo do tratamento é aumentar a energia superficial do substrato (como explicitado acima, a energia superficial do adesivo deve ser menor do que a da superfície do substrato para resultar em uma molhabilidade) (AFONSO, 2004). As técnicas mais utilizadas para esses materiais são: Abrasão também seguida de limpeza com solvente, lixamento, ataque químico, tratamento superficial por plasma ou laser (AFONSO, 2004). 2.3.2 – TEORIA DE ADESÃO Usualmente, classificar uma adesão de componentes é muitas vezes intuitiva e normalmente associada a facilidade ou dificuldade de a junta se desfazer. Porém, o que identificamos como adesão não se trata apenas da característica intrínseca do adesivo, mas sim da interação da junta adesiva com o meio e aos esforços a que está submetida. Portanto, o adesivo, o aderente e o tratamento superficial separadamente não caracterizam ou definem o desempenho da junta, mas a interação entre essas partes sim (MENDES, 2005). 21 Em adição, diversos estudos sobre os mecanismos de adesão tem sido realizados ao longo dos anos com a finalidade de apresentar uma explicação do fenômeno como um todo. Graças a eles sabe-se que a ligação do adesivo ao substrato, garantindo molhamento, se deve graças a (MENDES, 2005) : • Forças de Origem Química: ligação químicas diretas entre as interfaces, como teoria de adsorção, teoria da difusão e teoria de camada fraca. • Forças de Ancoramento Mecânico: ancoramento mecânico na rugosidade e nos poros da superfície dos componentes da junta adesiva. • Forças Eletrostáticas: atração eletrostática entre as superfícies de contato. 2.3.2.1 FORÇAS DE ORIGEM QUÍMICA Teoria de Adsorção Segundo esta, a adesão é o resultado de uma interação intermolecular entre dois materiais, a qual envolve forças superficiais entre os átomos, ou seja, forças entre moléculas (AFONSO, 2004). As forças mais comuns formadoras da interface substrato-adesivo são: Forças de Van der Waals, ligação entre Hidrogênios e forças de interação e ácido/base (MENDES, 2005). Teoria da Difusão Quando polímeros estão em contato esses podem se interdifundir, de forma que a interface inicial desaparece, como na Figura 11. Porém, essa interdifusão só ocorrerá 22 se os polímeros forem móveis, ou seja, temperatura acima da temperatura de transição vítrea dos mesmos, e compatíveis (AFONSO, 2004 e MENDES, 2005). Figura 11 - Interdifusão entre dois polímeros através de uma interface (FOURCHE, 1995) Um exemplo de estrutura modificada por difusão é inchar as superfícies do poliestireno com butanona e pressionar um contra o outro. O solvente tem a função de reduzir a temperatura de transição vítrea para uma temperatura inferior a ambiente, enquanto ocorre a interdifusão, em seguida o solvente irá evaporar (MENDES, 2005). 2.3.2.2 FORÇAS MECÂNICAS – ANCORAMENTO MECÂNICO Ancoramento mecânico se da quando o adesivo penetra na rugosidade, poros, fendas e aberturas da superfície aderindo ao substrato. Para tal, é importante que o polímero molhe o substrato e possua propriedades reológicas específicas de forma a garantir a penetração pela rugosidade em um período de tempo razoável (MENDES, 2005). Dito isto, se torna clara a necessidade de um pré-tratamento da superfície do substrato de forma a garantir uma rugosidade estável. Essa preparação irá garantir uma 23 cinética de molhamento aperfeiçoada e uma maior superfície de contato do adesivo, Figura 12 (MENDES, 2005). Figura 12 - Efeito da rugosidade na superfície adesivada (MENDES, 2005) 2.4. RUGOSIDADE A rugosidade, ou rugosidade superficial, é uma característica da superfície e pode determinar seu grau de irregularidade. É classificada em duas vertentes: a altura ou profundidade das irregularidades de uma superfície em relação à sua “altura” média e a separação lateral dos picos (ou vales) formados por essas irregularidades, conhecido como periodicidade (λ) (PULKER, 1984), ou em alguns casos, comprimento de onda (BENNET, 2006). A rugosidade aumenta quando esse espaçamento λ diminui e quando a diferença de altura dos picos de irregularidade com a “altura” média da superfície aumenta (PULKER, 1984). De acordo com Naik et al. (2009), os modelos de Wenzel e Cassie-Baxter descrevem o comportamento de gotas de líquidos em superfícies rugosas. Em outras palavras, esses modelos relacionam as propriedades de uma superfície com a sua geometria, através da influência da forma dessa superfície com sua capacidade de ser molhada por determinado líquido. 24 Quando uma gota penetra completamente as imperfeições de uma superfície rugosa, o ângulo de contato aparente (θ*) difere do ângulo de contato intrínseco (θE), ou seja, o ângulo de contato para o mesmo líquido na mesma superfície, porém lisa. Tal fenômeno é conhecido como Regime Wenzel de molhabilidade. Para superfícies hidrofílicas, onde do ângulo de contato intrínseco θE é menor que 90°, o ângulo de contato aparente θ* torna-se ainda menor, conforme esquematizado na figura 2A. Para superfícies hidrofóbicas, onde do ângulo de contato intrínseco θE é maior que 90°, o ângulo de contato aparente θ* torna-se ainda maior, conforme o observado na figura 2B. A equação de Wenzel relaciona os ângulos de contato intrínsecos e aparentes com a rugosidade, descrita na relação abaixo por um fator de rugosidade (r), definido como a razão entre a área de contato total para a superfície lisa e área de contato efetiva. cosθ∗ = r cosθ! ( Quando a rugosidade é o ângulo de contato são suficientemente altos, pode ocorrer o fenômeno conhecido como regime Cassie-Baxter de molhabilidade. Nesse caso, o líquido não é capaz de penetrar nas imperfeições da superfície, permanecendo nos picos das irregularidades, demonstrado na figura 2C. Assim como no regime Wenzel, haverá uma diferença entre o ângulo de contato intrínseco θE e o ângulo de contato aparente θ*. 25 Figura 13 - Regime Wenzel para superfícies hidrofílicas; B - Regime Wenzel para superfícies hidrofóbicas; C – Regime Cassie-Baxter para superfícies hidrofóbicas. Reproduzido de Naik et al. (2009). Nesse regime, a superfície de contato passa a ser composta tanto por vapor aprisionado nas imperfeições da superfície rugosa, quanto pelos picos dessas irregularidades. A equação de Cassie-Baxter, exposta pela equação 3 abaixo, relaciona o ângulo de contato intrínseco θE e o ângulo de contato aparente θ* com o fator de rugosidade (rf) para o contato sólido-líquido e a proporção da área plana total de contato sólido-líquido em relação à área total plana de contato sólido-líquido e vapor aprisionado. cosθ∗ = r! f cosθ! − 1 − f (Equação 3) ( 26 A presença de vapor aprisionado nas irregularidades contribui para o aumento da hidrofobia, podendo, caso a superfície seja suficientemente rugosa, transformar uma superfície uma vez hidrofóbica em super hidrofóbica (NAIK et al., 2009). Assim, podemos concluir que a rugosidade, ou a geometria da superfície, poderá ter forte influência nas propriedades adesivas de uma superfície. 2.5. JUNTAS ADESIVAS Em áreas de tecnologia de ponta (aeroespacial, naval, entre outras) , a técnica de produção de juntas adesivas está bem difundida. Diversos estudos já foram e estão sendo feitos na área de reparo de dutos sujeitos a elevados valores de solicitações mecânicas (AFONSO, 2004) No momento, juntas adesivas de material compósito com material metálico são responsáveis por despertar o interesse de pesquisadores devido à evolução dos materiais compósitos. Quando comparamos as ligas metálicas com os matérias compósitos observa-se que os compósitos são, estruturalmente, mais eficientes. Vale a pena ressaltar que os materiais compósitos não sofrem corrosão galvânica. A grande vantagens de materiais metálicos é que eles são capazes de suportar deformações e temperaturas maiores. Isso faz com que várias aplicações para estruturas combinando os dois materiais estejam sendo desenvolvidas (AFONSO, 2004). A resistência de uma junta adesiva irá depender de diversos fatores como, por exemplo, sua geometria, e também de fatores operacionais aos quais a junta estará submetida além, é claro, da presença de defeitos que podem ou não ser admissíveis. Uma junta adesiva pode ser analisada de duas maneiras: quanto aos resultados obtidos através de ensaios mecânicos, físicos e químicos (para tanto existem diversas 27 normas ASTM com métodos bem especificados) e quanto ao modo de falha apresentado após a realização de ensaios mecânicos (AFONSO, 2004). Os ensaios de juntas adesivas avaliam diversos parâmetros: a resistência do adesivo, as técnicas de obtenção da junta, limpeza da superfície, eficiência dos tratamentos de superfície, ataque químico da superfície, aplicação e distribuição do adesivo e método de cura (AFONSO, 2004). 2.5.1 - CLASSIFICAÇÃO DOS MODOS DE FALHA EM JUNTAS ADESIVAS. O carregamento mecânico no plano dos aderentes produz tensões cisalhantes e normais no adesivo e nas faces coladas das placas. Umas vez feita a união da placas, as juntas adesivas podem falhar tanto no adesivo quanto na interface ou nos aderentes. O lugar da falha irá depender das tensões desenvolvidas em cada parte e também da resistência mecânica do adesivo, da interface e dos aderentes. A norma ASTM D 5573 classifica os modos de falha de juntas adesivas da seguinte maneira: • Falha adesiva: ocorre na interface entre o adesivo e o aderente, sendo que há o descolamento em uma das interfaces. • Falha coesiva: é a falha no adesivo, em ambas as superfícies do aderente fica uma camada de adesivo. • Falha coesiva de uma camada fina: ocorre falha no adesivo, porém esta ocorre em uma camada muito próxima à interface. • Falha por rasgamento: a falha que ocorre com arrancamento do aderente. • Falha por rasgamento leve: a falha ocorre no substrato na região próxima à interface. 28 • Falha pela Quebra do Substrato: A falha acontece fora da região sobreposta da junta com a quebra do substrato. 2.6. ANÁLISE POR DIFRAÇÃO DE RAIOS-X Para uma distância interplanar “d” característica do material e um certo comprimento de onda “λ” característico do feixe de raios-X do equipamento, existe um angulo de incidência “θ” no qual ocorre interferência construtiva na difração. Isto equivale a dizer que a distância entre as camadas de átomos é igual a um múltiplo do comprimento de onda. Na prática, essa condição é atingida variando-se o ângulo de incidência do feixe (SKOOG e LEARY, 1992). Para que o feixe de raios-X sofram interferência construtiva o ângulo de incidência deve satisfizer a condição de Bragg (Equação 4): nλ = 2 dsenθ (Equação 4) Onde: n = um número inteiro λ = comprimento de onda d = distância entre planos cristalinos θ = ângulo entre o feixe e a superfície do material Como o valor de “λ” e “d” são característicos do sistema, onde “λ” é conhecido e “θ” pode ser facilmente determinado experimentalmente, O valor “d” é facilmente calculado. 29 2.7. ENSAIO DE CISALHAMENTO Para provocar cisalhamento em um ponto do corpo em equilíbrio, é necessário aplicar forças iguais em módulo, porém em sentidos opostos, causando apenas distorção sem mudança de volume. A resistência ao cisalhamento será então medida na região de sobreposição dos substratos, indica pelo plano de tensão mostrado na Figura 14. Figura 14 - Configuração das forças aplicadas no corpo de prova Como nos ensaios de tração e compressão, a velocidade de carregamento deve ser condizente com a aplicação, por conta de possíveis efeitos viscoelásticos do material. A máquina utilizada é uma máquina universal de ensaios, como a Instron, por exemplo, na qual são adaptados dispositivos para cada tipo de corpo de prova. Nesse ensaio é aplicada uma força de tração ou compressão no dispositivo, o que transmite uma força cisalhante na região sobreposta do corpo de prova, a qual sofre elevação no decorrer do ensaio, até o momento de ruptura do corpo. 2.8. ENSAIO DE TRAÇÃO Esse ensaio consiste na aplicação de uma carga uniaxial crescente em um corpo de prova, o qual tende a alongar até romper. Os corpos de prova possuem seção transversal circular ou retangular, sendo os retangulares os mais utilizados em materiais poliméricos e compósitos. A máquina mais utilizada nesse ensaio é a mesma utilizada nos ensaios de cisalhamento e compressão, tratando-se de um equipamento universal. 30 Durante o ensaio, a deformação se concentra na região central do corpo de prova, o qual é preso pelas extremidades nas garras de fixação da máquina. Essa é projetada para alongar o corpo a uma taxa de deslocamento constante, além de medir contínua e simultaneamente a carga instantânea aplicada e seus alongamentos resultantes - com o auxílio de extensômetros. Com isso, a máquina de ensaio fornecerá um gráfico que relaciona a força aplicada e o deslocamento durante o ciclo. Assim, para determinar as propriedades do material ensaiado é importante o conhecimento da relação entre tensão e deformação. A partir dos ensaios de tração, a tensão e deformação trativas são determinadas pelas expressões: 𝜎= 𝐹 𝑙 − 𝑙! 𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 4 𝜀 = (𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 5) 𝐴! 𝑙! Sendo: σ = Tensão de Engenharia F = Força aplicada. A0 = Seção sobre a qual a força é aplicada. 𝜀 = Deformação sofrida pelo corpo de prova l = Comprimento final do corpo de prova para cada carga aplicada. l0 = Comprimento inicial do corpo de prova. 31 3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1. MATERIAIS Na fabricação do nanocompósito os seguintes materiais foram utilizados: Matriz Polimérica: Resina MC 130 da EPOXYFIBER: • Resina líquida, oriunda da reação de epicloridina com Bisfenol A. Endurecedor FD 137 da EPOXYFIBER: • Resina poliamida líquida reativa. Carga inorgânica: • Montmorilonita natural Cloisite® 20A, fornecida por Southern Clay Products, Inc., Texas, EUA. Lote: 20040728AG-007. Aderente Metálico: Aço 1010. • O aderente metálico utilizado foi uma placa de aço ABNT. As placas foram posteriormente seccionadas e usinadas, nas dimensões da norma ASTM 5868. A micrografia do aço é mostrada na figura abaixo, onde se observa a presença de ferrita e perlita devido ao ataque químico de Nital a 2%, fases características deste tipo de aço carbono. 32 Figura 15 - Micrografia de Aço Carbono utilizado como aderente aumentado em 500 vezes. Aderente Compósito: Laminado produzido com fração volumétrica de fibra de vidro de 52,3%. • O material é composto de matriz polimérica reforçada por tecido bidirecional de fibras de vidro, sendo produzido pelo método de hand-lay-up (laminação manual) na proporção de 50% de fibras e 50% de matriz. • A fase de reforço é constituída de fibras de vidro do tipo E com gramatura de 120g/m2, fabricado pela companhia Texiglass . ® A densidade da fibra de vidro foi determinada através de picnometria, enquanto que a fração volumétrica foi determinada através do procedimento de queima. A matriz polimérica é constituída de: o Resina: ARALDITE MY750 o Endurecedor: ARADUR HY2918/HY917 o Acelerador: DY 062 33 3.2. METODOLOGIA A seguir serão apresentados os métodos de fabricação do adesivo bem como os ensaios realizados na avaliação do mesmo. 3.2.1. SÍNTESE DO ADESIVO NANOCOMPÓSITO A matriz foi constituída de resina MC 130 com endurecedor FD 137 na proporção 1:0,8, em peso. A primeiro momento, a montmorilonita foi utilizada na fração de 5% em peso de resina MC 130, valor baseado em estudos anteriores (LIU et al, 1990, SALAHUDDIN e SHEHATA, 2001). A rota de processamento do adesivo a ser desenvolvido inclui a fase de peneiramento da Montmorilonita, seguido por uma agitação mecânica em conjunto com o aquecimento do sistema (Figura 16), depois se procede a aplicação de ultrassom e por último analisamos o nanocompósito através da difração por Raios-X, Figura 17. Figura 16 - Sistema de agitação mecânica e aquecimento 34 Figura 17 - Fluxograma de síntese do adesivo nanocompósito Os parâmetros adotados foram de 950 rpm e 140ºC. Essa temperatura é a registrada no equipamento, sendo a temperatura da solução medida de forma direta e indireta. Segundo WANG e QIN (2007) e PARK e JANA (2003) uma agitação mecânica durante duas horas, seguido de ultrassom durante três horas são necessários para esfoliar as lamelas de montmorilonita. Logo, o procedimento adotado foi de três horas no agitador mecânico, com a temperatura da solução variando entre 55ºC e 70ºC, seguido de exposição ao ultrassom durante três horas, sem peneiramento. Os parâmetros do equipamento são aqueles mencionados acima. 3.2.2. DIFRAÇÃO DE RAIOS-X As partículas de montmorilonita foram analisadas com a finalidade de se obter o espaçamento basal “d” entre as lamelas das mesma. Analisou-se depois o nanocompósito com as partículas de montmorilonita dispersas após o processo de agitação, de separação por ultrassom. Para a confecção das amostras utilizou-se o dispositivo abaixo (Figura 18) onde o tamanho da amostra pode ser controlado. Na 35 fabricação das amostras, o dispositivo foi inicialmente revestido com silicone para prevenir a adesão do compósito ao dispositivo. Figura 18 – Dispositivo para confecção de amostras para análise por DRX Através da análise por raios X podem-se obter duas informações importantes: (1) o valor do espaçamento interlamelar “d” da argila recebida e (2) se houve a formação de tactóides, intercalação ou esfoliação da argila após sua dispersão no polímero. Isso pode ser analisado da seguinte maneira (MAYWORN, 2009): • Se o espaçamento interlamelar permanecer o mesmo da argila como recebida, significa que houve formação de tactóides; • se o valor de “d” aumentar, ocorreu intercalação; • porém, se não se formarem picos na análise, houve esfoliação da argila. 3.2.3. ENSAIOS DE TRAÇÃO Afim de analisar o efeito em tração da adição das nanopartículas, foram preparados corpos de prova da matriz polimérica e do nanocompósito, com base na análise por difração de raios-X. As dimensões dos corpos de prova e os parâmetros dos ensaios seguiram a metodologia descrita na norma ASTM D638M-93. 36 Como o material desenvolvido possui isotropia é possível que se correlacione as propriedade em tração com as propriedades em cisalhamento. Nos ensaios realizados foi utilizada uma máquina de tração universal, da marca EMIC, modelo DL10000. O ensaio foi realizado com velocidade de deslocamento constante de 1 mm/min, sendo utilizado um extensômetro de 23,6 mm de comprimento útil e uma célula de carga de 5 kN. 3.2.5. PREPARO DAS SUPERFÍCIES PARA ENSAIOS DE CISALHAMENTO Tratamento Superficial dos Aderentes Afim de melhorar a adesão aos aderentes, os mesmo tiveram suas superfícies tratadas. No caso do aderente metálico, empregou-se o jateamento com microesferas de vidro. Porém, devido a um problema na tubulação, ocorreu um aumento da umidade no reservatório das microesferas, levando a um aglutinamento e por consequência preparação superficial menos eficiente (Figura 21). A superfície de duas amostras, uma com o jateamento com presença de umidade e outra com o jateamento sem presença de umidade, foram analisadas em um microscópio ótico (Figura 19 e Figura 20), porém não se chegou a nenhuma conclusão. Figura 19 - Superfície do corpo de Figura 20 - Superfície do corpo de prova preparado corretamente. prova onde ocorreu problema de Aumento de 50 vezes. umidade. Aumento de 50 vezes. 37 Figura 21 - Aderente metálico jateado Já o aderente compósito, foi preparado com lixa seca de granulometria 100 e uma tesoura utilizada para ranhuras perpendiculares entre si. Limpeza das Superfícies As placas metálicas, após jateamento, foram limpas com álcool etílico e uma escova. As placas de material compósito foram limpas com estopas levemente umedecidas, também com álcool etílico. Em seguida todas as placas foram colocadas no dessecador (Figura 22) enquanto o adesivo era preparado (aproximadamente seis horas). Figura 22 - Corpos de prova depois de limpos 3.2.6. ENSAIOS DE CISALHAMENTO Os corpos de prova da junta adesiva (Figura 23 e Figura 24) e os parâmetros dos ensaios seguiram a metodologia descrita na norma ASTM D 5868. 38 Figura 23 - Molde e corpos de prova para ensaio de cisalhamento Figura 24 - Representação de um corpo de prova para ensaio de cisalhamento. Adaptado da norma ASTM D 5868 Nos ensaios realizados foi utilizada uma máquina de tração universal, da marca INSTRON, modelo 33R 5567. O ensaio foi realizado com velocidade de deslocamento constante de 13 mm/min. Neste caso não se utilizou um extensômetro para aquisição de dados referentes a deformação. Uma célula de carga de 5 kN foi utilizada. O modo de falha foi classificado através de inspeção visual, seguindo a norma ASTM D 5573. 39 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES AFONSO (2004) estipula um período de cura do adesivo à temperatura ambiente de sete dias. Assim, todos os ensaios foram realizados ao final desse período de cura. 4.1. SÍNTESE DO ADESIVO NANOCOMPÓSITO E DIFRAÇÃO DE RAIOS-X O processo de obtenção do adesivo levou em consideração quatro parâmetros: i. Peneiramento ii. Tempo de agitação mecânica iii. Temperatura durante agitação iv. Tempo de exposição ao ultrassom O equipamento de agitação mecânico, responsável também pelo aquecimento, apresenta um limite de precisão (o controle de temperatura deve ser feito manualmente somente ligando, quando a temperatura está baixa, ou desligando o aparelho, quando a temperatura está alta), resultando em grandes intervalos de temperatura. A Tabela 2 abaixo descreve o procedimento adotado que levou aos resultados apresentados nos difratogramas da Figura 26. Tabela 2 - Processo de síntese do adesivo nanocompósito Figura 26.a Peneiramento Sim T. Agitação 2 h Temperatura 35 a 60˚C T. Ultrassom 2 h Figura 26.d Peneiramento Não T. Agitação 3 h Temperatura 45 a 60˚C T. Ultrassom 3 h Figura 26.g Peneiramento Sim T. Agitação 3 h Temperatura 55 a 70˚C T. Ultrassom 3 h 40 Figura 26.b Peneiramento Não T. Agitação 2 h Temperatura 35 a 60˚C T. Ultrassom 2 h Figura 26.e Peneiramento Sim T. Agitação 4 h Temperatura 40 a 60˚C T. Ultrassom 4 h Figura 26.g Peneiramento Não T. Agitação 3 h Temperatura 55 a 70˚C T. Ultrassom 3 h Figura 26.c Peneiramento Sim T. Agitação 3 h Temperatura 45 a 60˚C T. Ultrassom 3 h Figura 26.f Peneiramento Não T. Agitação 4 h Temperatura 40 a 60˚C T. Ultrassom 4 h Dentre as diversas amostras preparadas (Figura 25) para análise por raios-X dos diversos processo testados, oito delas apresentam resultados expressivos que evidenciam o desenvolvimento do projeto. Os difratogramas dessas amostras são apresentados na Figura 26. Figura 25 - Amostra usada na análise por DRX Espera-se que haja mudança na posição dos picos, uma vez que o caminho percorrido para que ocorra interferência construtiva irá mudar. Esperasse, também, que ocorra uma diminuição na intensidade dos picos, associada ao fenômeno de intercalação da argila. Como discutido anteriormente, a comprovação da esfoliação reside na ausência de picos no difratograma. Dos oito procedimentos expostos, apenas três alcançaram o objetivo de esfoliar a argila. 41 Figura 26 - Difratogramas 42 4.2. ENSAIOS DE TRAÇÃO Ao se preparar o adesivo para a confecção dos corpos de prova, o mesmo apresentava bolhas de ar formadas durante a preparação, o que levou ao uso de uma panela de pressão com o objetivo de suprimir o crescimento de bolhas. Dois testes foram realizados, um com o endurecedor e outro sem, a uma pressão entre 0,108 e 0,110 MPa por aproximadamente 30 minutos. Mesmo aumentando-se a pressão, as bolhas ainda persistiram, sendo este método descartado. Após o fracasso da utilização da panela de pressão, novas amostras foram preparadas, sendo estas aquecidas e submetidas ao vácuo. Nas amostras sem endurecedor, o desaparecimento de bolhas foi quase total, porém ao se adicionar o mesmo, novas bolhas surgiram. Já nas amostras com endurecedor, apesar da redução da quantidade de bolhas o resultado continuou não aceitável. Decidiu-se por testar moldes de silicone, pois a viscosidade acentuada da solução prejudicava o escoamento das mesma para dentro dos moldes de metal. Quanto às bolhas formadas durante a preparação, duas medidas foram analisadas: descartar uma pequena quantidade da solução, retirando apenas as bolhas visíveis e, analisar a influência de vácuo para esse tipo de molde. Após prévia comparação dos resultados do ensaio de tração, verificou-se que o vácuo não exerce influência no resultado final de comportamento mecânico das amostras. Logo, os corpo de prova (Figura 27) foram preparados utilizando-se moldes de silicone, descartando parte da solução que apresentou bolhas. O endurecedor foi acrescentado posteriormente, respeitando as proporções especificadas pelo fabricante. 43 Figura 27 - Corpo de prova utilizado para ensaio em tração Os corpos de prova foram lixados afim de garantir o paralelismo entre as faces. A lixa utilizada possuía as seguintes especificações: 241 DL, P100. Os resultados obtidos, com os respectivos tempos de cura podem ser vistos a seguir: Média de Resistência a tração (MPa) Deformação (%) Epóxi -‐ Média 7 dias Epóxi -‐ Média 7 dias Epóxi -‐ Média 15 dias Epóxi -‐ Média 15 dias Nanocompósito -‐ Média 7 dias Nanocompósito -‐ Média 7 dias Nanocompósito -‐ Média 15 dias 8,74 12,86 9,95 Nanocompósito -‐ Média 15 dias 27,98 22,20 13,73 1 4,63 3,53 1 Figura 28 - Comparativo entre os Figura 29 - Comparativo entre os valores de Resistência a tração valores de deformação Realizou-se um teste de t-student (com amostras não pareadas e variâncias desiguais) para verificar se de fato as amostras pertencem a populações diferentes, ou 44 seja, tanto o tempo de cura quanto a adição da montmorilonita provocaram aumento na resistência do sistema: Tabela 3 - Teste de t-student 7.Dias 15.Dias Epoxy Adesivo Epoxy Adesivo Epoxy 1 1 1 1 7.Dias Adesivo > 1 1 1 Epoxy > 1 1 1 15.Dias Adesivo 1 > > 1 > t.>.tcrit Analisando a resistência a tração com o tempo de 7 dias, podemos perceber que de fato houve um reforço efetivo devido a adição da montmorilonita de 13,84%, em média. Porém, quando comparado ao valor da literatura, 40 MPa em média (valor encontrado em alguns trabalhos acadêmicos), ocorre uma grande discrepância. Se considerar o valor encontrado por SODEN (1998), 75 MPa em média, a discrepância será ainda maior. Assim, antes de inferir a respeito, é preciso analisar a deformação sofrida por ambos. Analisando a deformação sofrida pelos corpos de prova, percebe-se novamente que há uma grande discrepância com o valor encontrado na literatura, 4% em média. A primeiro momento existem duas possibilidades: i. O sistema apresenta baixo grau de cura, resultando em altas deformações e baixa resistência. ii. Propriedade da resina ou particularidade do lote do qual a compra foi efetuada. Contudo, novamente percebe-se o efeito da adição de montmorilonita, que reduziu a deformação em 20,65% (relativamente), em média. No caso da deformação, o teste de t-student não se fez necessário devido a magnitude da variação. 45 Embora o grau de cura não tenha sido analisado, foi realizado um novo ensaio com tempo de 15 dias a temperatura ambiente. Assim como antes, a montmorilonita aumentou a resistência a tração e diminuiu a deformação sofrida pelo nanocompósito, provocando um aumento de rigidez de aproximadamente 40%. Logo, pode-se inferir que houve um aumento de rigidez do nanocompósito. Mesmo apresentando resistência abaixo do esperado, a deformação observada está de acordo com alguns trabalhos acadêmicos encontrados, 4% em média. SODEN (1998) sugere que a deformação na tensão de fratura é, em média, 4%. Tal fato sugere que ocorreu a cura do sistema polimérico apenas após 15 dias. Analisando os resultados, é possível também, que resina comprada para cura a frio, seja na verdade uma resina de cura a quente. 4.3. ENSAIOS DE CISALHAMENTO Como dito anteriormente, o ensaio seguiu a metodologia da norma ASTM D 5868 e ASTM D 55573. O ensaio se deu a uma taxa de deslocamento constante de 13 mm/min. Como não havia extensômetro disponível e, os valores de deslocamento registrado pelas “garras” não representa o valor real de deslocamento, registrou-se apenas o valor de carregamento máximo: 46 Carregamento Máximo (N) ENSAIO DE CISALHAMENTO 4500,000 4000,000 3500,000 3000,000 2500,000 2000,000 1500,000 1000,000 500,000 0,000 1 CP 1 3134,273 CP 2 2022,356 CP 3 3666,396 CP 4 2915,052 CP 5 2639,023 Figura 30 - Carregamento Máximo e seu erro estatístico Tensão Cisalhante Máxima (MPa) ENSAIO DE CISALHAMENTO 6,000 5,000 4,000 3,000 2,000 1,000 0,000 1 CP 1 4,858 CP 2 3,135 CP 3 5,683 CP 4 4,518 CP 5 4,090 Figura 31 - Tensão Cisalhante Máxima 47 A princípio não se considerou a variação da espessura do adesivo, sendo esta apenas medida para efeito comparativo. Na Tabela 4 abaixo podemos ver a influência da espessura na tensão cisalhante máxima. Os resultados obtidos são consistentes com aqueles obtidos por AFONSO (2004). No presente caso, a espessura ótima é de aproximadamente 0,6 mm, consiste a literatura. Tabela 4 - Relação entre tensão cisalhante máxima e espessura do adesivo Resultados Obtidos Espessura Tensão Cisalhante (mm) Máxima (Mpa) 0,4 3,135 0,63 5,683 0,93 4,09 1,11 4,858 1,42 4,518 Resultados da literatura Espessura (mm) Tensão Cisalhante Máxima (AFONSO, 2004) (Mpa) (AFONSO, 2004) 0,5 4,604 0,64 5,018 0,98 3,68 0,99 3,68 1,42 4,984 Como pode ser visto na Figura 32, ocorreu falha adesiva no aderente metálico para todos os corpos de prova. Em um ensaio realizado anteriormente apenas para fins de ajuste de parâmetros do ensaio de cisalhamento, ocorreu, em diversos corpos de prova, falha coesiva. Tal fato sugere que a umidade presente no equipamento de jateamento impediu o preparo de aderente metálico de forma correta. Vale a pena ressaltar, que do cinco corpos de prova, quatro apresentaram trincas em diversos pontos do adesivo. Isso sugere que com o preparo adequado dos aderentes metálicos a falha possa se dar de maneira coesiva. 48 Figura 32 – Superfície de fratura após ensaio de cisalhamento 49 5. CONCLUSÕES Quanto ao processo de confecção do nanocompósito, o resultado da difração de raios-x mostrou que o processo está adequado, levando aos resultados desejados. O ensaio de tração foi responsável por avaliar o efeito da adição da montmorilonita. Este mostrou que a adição da mesma está de acordo com o esperado e com a literatura. Porém, o ensaio mostrou também que a resina utilizada apresenta propriedades abaixo do consultado na literatura, como já foi discutido. O ensaio de cisalhamento mostrou-se de acordo com a literatura, porém, a preparação das amostra metálicas requer um maior aprofundamento. De modo geral pode-se dizer que o objetivo foi alcançado e que o adesivo foi desenvolvido com sucesso. Apesar de satisfatório o processo precisa ser otimizado a fim de reduzir o tempo gasto com a preparação do adesivo afim de torna-lo aplicável em situações cotidianas. O conhecimento das características de processamento do sistema polimérico se mostrou um ponto chave na correta caracterização do seu comportamento mecânico. Como já mencionado anteriormente, é possível que o produto comprado como sendo de cura a frio, possa ser um material de cura a quente, não permitindo a total cura do polímero, a temperatura ambiente, no tempo previsto para a realização dos ensaios. Não houve indício de que as nanopartículas influenciaram no tempo de cura, já que ocorreu o mesmo fenômeno em ambas as situações. 50 6. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS Em trabalhos futuros, objetivando o desenvolvimento de adesivos compósitos ou nanocompósitos, alguns temas podem ser vistos com maior detalhamento: i. Realização de ensaios de cisalhamento da matriz polimérica para efeito de comparação com o adesivo nanocompósito ii. Realização de ensaios de cisalhamento com utilização de extensômetro com intuito de se obter curvas tensão x deformação iii. Estudo e padronização da rugosidade superficial ótima capaz de induzir falha coesiva iv. Estudo do tempo e grau de cura sofrido pelo adesivo v. Estudo da contração durante a polimerização vi. Análise do comportamento do adesivo envelhecido vii. Análise do adesivo variando a fração de carga inorgânica e sua espessura. viii. Avaliar a possível troca da resina por outra que necessite apenas a adição de um acelerador a fim de facilitar seu uso em outras aplicações. ix. Avaliar a praticidade e eficiência de se usar ataques químicos na preparação de superfícies. x. Estudar separadamente as superfícies. 51 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA AFONSO, R.C.O.M., Estudo da adesividade de material compósito em substrato de aço para dutos, Tese de M.Sc, COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2004. ALEXANDRE, M., DUBOIS, P. “Polymer-layered silicate nanocomposites: preparation, properties and uses of a new class of materials”. Materials Science and Engineering: R: Reports, v. 28, n. 1/2, p. 1-63, 2000. ANGELETAKIS, C., KOBASHIGAVA, A.I. Optimum particle sized hybrid composite. US pat. 6.121.344, 1999. ASHBY, M. F., Material Selection in mechanical design. 4° ed., Oxford, Elsevier Ltd, 2011. BALAZS, A. C., SINGH, C., ZHULINA, E., LYATSKAYA, Y. “Modeling the phase behavior of polymer/clay nanocomposites”. Accounts of Chemical Research, v. 32, n. 8, p.651-657, 1999. BEQUER, O., CHENG, Y. B., VARLEY, R. J., SIMON, G. 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