PROJETO DE RESOLUÇÃO Nº 87/2005 Institui a Comenda “João Ferreira de Almeida” a ser concedida pela Assembléia Legislativa a líderes religiosos. A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO DECRETA: Art.1º. Fica instituída a “Comenda João Ferreira de Almeida” no âmbito da Assembléia Legislativa. Art 2º A Comenda João Ferreira de Almeida, será concedida aos líderes religiosos que se destacarem na prestação de relevantes serviços e social, no âmbito do estado do Espírito Santo. § 1º Mediante indicação de Deputado Estadual, acompanhada da justificativa, onde fique demonstrada a prestação de relevantes serviços e evangelização, bem como social, a Mesa da Assembléia Legislativa aprovará o nome do agraciado com a comenda. § 2º A entrega da comenda ocorrerá, preferencial em Sessão Solene da Assembléia Legislativa, realizada na semana em que se comemora o “Dia da Bíblia.” Art.3º A forma insígnia e demais honrarias a serem concedidas ao agraciado, será definida pela Mesa da Assembléia Legislativa, em regulamento próprio. Art.4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. PALÁCIO DOMINGOS MARTINS, em Vitória – ES, 19 de abril de 2005. REGINALDO ALMEIDA 2º SECRETÁRIO JUSTIFICATIVA O presente Projeto de Resolução tem por objetivo instituir a “Comenda João Ferreira de Almeida.”, no âmbito da Assembléia Legislativa do Estado do Espírito Santo, a ser concedida aos líderes religiosos que se destacarem na prestação de relevantes serviços de evangelização e social. Conforme disposição do projeto, a Mesa da Assembléia Legislativa aprovará o nome do agraciado com a comenda, após indicação de Deputado (a) Estadual, acompanhada da justificativa, onde ficará demonstrada a prestação de relevantes serviços de evangelização e/ou social, no âmbito deste Estado. Justifica-se a presente matéria pela necessidade de instituir uma homenagem, específica para aqueles que se destacaram na evangelização ou serviços sociais, posto que existe para agraciar aqueles que atuam em defesa de diversas áreas, como por exemplo, combate ao crime organizado (Comenda Juiz Alexandre Martins de Castro Filho), luta contra discriminação racial (Medalha Chico Prego), defesa da criança, adolescente, dos idosos e dos deficientes físicos (Medalha de Mérito Mário Gurgel), valorização do meio ambiente (Medalha Paulo Vinha), etc., carecendo esta Casa de Leis, entretanto, de uma comenda específica para os líderes religiosos, seja de que qualquer credo que for. Quanto ao nome da comenda, houvemos por bem prestar uma justa homenagem àquele que, nas palavras dos historiadores “é um homem de cuja obra se pode dizer alterou profundamente a história da humanidade”, uma vez que como missionário levou o ensinamento religioso e social pela mais variadas parte do mundo, em especial, Holanda, Bélgica, Índia, Sri Lanka e demais países da Ásia. Seu maior reconhecimento se dá por ser a primeira pessoa, ainda jovem com a idade de 16 anos a traduzir a bíblia do Latim, Grego e Italiano, para o Português, fazendo que os demais povos originários da colonização Lusa, viessem a ter conhecimento do ensinamento religioso Cristão, independente do seu credo. Portanto, concluímos que seu nome seja o mais adequado para designar esta Comenda. Desta forma, apresentamos o presente Projeto de Resolução para estudo e apreciação dos nobres Pares, fazendo anexar ao presente, breve estudo sobre João Ferreira de Almeida. I – o contexto Foram três os acontecimentos que marcaram época, de modo singular, na história mundial. Embora o mundo reflita sobre eles sob o prisma político, social e geográfico, nós os que cremos num Deus que se manifesta na história não podemos deixar de observá-lo sob o prisma divino da propagação do Evangelho para todos as nações, povos, tribos e línguas. Esses três grandes acontecimentos foram: a descoberta da imprensa, por Guttenberg; a Reforma Protestante, encabeçada por Lutero; e os descobrimentos portugueses na época das grandes navegações. Esses eventos, quando observados sob o prisma divino, concorreram para possibilitar a divulgação da Bíblia por todo o mundo de então. Depois desses acontecimentos, a mensagem do Evangelho de Jesus Cristo alcançou em pouco tempo não só o mundo antigo como o recém-descoberto “mundo novo”. João Ferreira de Almeida, como tradutor da Bíblia para a língua portuguesa, cumpriu importante tarefa no objetivo de divulgar a Palavra de Deus até os “confins da terra”. II – o valor Quando se visita o Museu Britânico, de Londres, ao passarmos pelos seus históricos salões, com suas preciosas obras milenares, destaca-se aos olhos do visitante atento uma obra peculiar. Um dos exemplares do Novo Testamento, publicado em 1681, por João Ferreira de Almeida, está ali exposto. Nota-se nesse exemplar uma peculiaridade notável. Impresso segundo as técnicas da época e publicada na Holanda, em Amsterdã, por ordem da Companhia Holandesa das Índias Orientais, neste manuscrito podem ser vistas algumas correção feitas a mão, demonstrando o cuidado e a urgência do autor em que a preciosa Palavra de Deus alcançasse os povos de língua portuguesa, com os quais trabalhava na Batávia, atualmente Jacarta, na ilha de Java, na Indonésia. Embora o trabalho de revisão e correção daquela primeira edição do Novo Testamento não tenha sido visto pelo autor, pois demorou dez longos anos, a segunda versão foi impressa na própria Batávia e dali distribuída para os povos de língua portuguesa daquela região antes colônias de Portugal. Enquanto aguardava essa revisão, Almeida não perdeu tempo e iniciou o trabalho de tradução do Antigo Testamento. Em 1683 ele já completara a tradução do Pentateuco. Mas, com a saúde abalada, desde 1670, seu ritmo de trabalho era limitado. Ao diminuir suas atividades pastoriais, ele dedicou a maior parte do tempo ao seu trabalho de tradução. Embora abnegado e com um objetivo claro a alcançar em sua vida, Almeida faleceu em 6 de agosto de 1691, na Batávia, no Oriente, sem ver a sua obra completa. Enquanto tinha forças continuou trabalhando e sua tradução chegou, conforme alguns historiadores, ao capítulo 6 de Jeremias, e segundo outros historiadores, ao capítulo 48 de Ezequiel. Seu amigo e companheiro de ministério, o pastor holandês, Jacobus op den Akker, completou o seu trabalho, concluindo a tradução do Antigo Testamento o trabalho de tradução de João Ferreira de Almeida alcançava assim toda a Bíblia Sagrada e desde o início de suas publicações foi uma obra muito apreciada pelos conhecedores da língua portuguesa. A vida e a obra de João Ferreira de Almeida João Ferreira de Almeida foi um instrumento precioso nas poderosas mãos de Deus, para dar aos povos de fala portuguesa a tradução mais difundida e aceita entre esses povos, antes colônias de Portugal. Quando a Igreja Católica Romana ainda lutava com a divulgação das Escrituras Sagradas, a tradução de Almeida surgiu como uma luz a brilhar na escuridão, em meio àqueles território, que, já libertos de Portugal, ainda se mantiveram por mais duzentos anos sob a influência da cultura e da língua portuguesa. Nascido em 1628, Almeida era natural de Torre de Tavares, Conselho de Mangualde; filho de pais católicos; bem cedo mudou-se para a Holanda, passando a residir com um tio. Ali aprendeu o latim e iniciou-se nos estudos das normas da igreja. Aos 14 anos, em 1642, aceitou a fé evangélica, na Igreja reformada Holandesa, impressionado pela leitura de um folheto em espanhol, “Diferenciais de la Cristandad”, que tratava das diferenças entre as diversas correntes da crença cristã. Já em 1644, aos 16 anos, Almeida inicia uma tradução do espanhol para o português, dos Evangelhos e dos Atos dos Apóstolos, os quais, copiados a mão, foram rapidamente espalhados pelas diversas comunidades dominadas pelos portugueses. Para este grandioso trabalho, Almeida também usava como fontes as versões latina, de Beza, francesa e italiana, todas elas traduzidas diretamente do grego e do hebraico. No ano de 1645, a tradução de todo Novo Testamento foi concluída; mas como já foi dito, somente seria editada em 1681, em Amsterdã. 3. Um jovem operoso Em 1648, relata J.L. Swellengrebel, um holandês que teve acesso às Atas do Presbitério da Igreja Reformada da Batávia e às Atas da Companhia Holandesa das Índias Orientais, Almeida já estava atuando como capelão visitante de doentes, em Malaca, Malásia, “percorrendo diariamente os hospitais e casas de doentes, animando e consolando a todos com as suas orações e exortações”. Em janeiro de 1649, Almeida é escolhido como diácono e membro do presbitério. Nessa função tinha a responsabilidade de administrar o fundo social, que prestava assistência aos pobres. Durante os dois anos em que desenvolveu essa função, continuou a sua obra de tradução e, após a tradução do Novo Testamento, dedicou-se e traduziu o Catecismo de Heidelberg e o Livro da Liturgia da Igreja Reformada. AS primeiras edições dessas obras foram publicadas em 1656 e posteriormente em 1673. Em março de 1651, foi para a Batávia, para a cidade de Djacarta, ainda como capelão visitante de doentes, mas simultaneamente, desenvolvia seus estudos de teologia e revisava o Novo Testamento. Em 17 de março de 1651, foi examinado publicamente, sendo considerado candidato a ministro. Depois de ser examinado, pregou com eloqüência sobre Romanos 10.4. Desenvolve também um ministério importantíssimo entre os pastores holandeses ensinando-lhes o português, uma vez que ministravam nas igrejas portuguesas das Índias Orientais Neerlandesas. 4. Um ministro, perseguido pela Inquisição e Salvo de um elefante Em setembro de 1655, faz o exame final, quando prega sobre Tito 2.11-12, mas só recebe a sua confirmação em 22 de agosto de 1656. Neste mesmo ano, quase um mês depois, em 18 de setembro, é enviado como ministro para o Ceilão, hoje Sri Lanka. Em 1657, João Ferreira de Almeida encontra-se em Galle, no sul do Ceilão, atuando como ministro. Durante o seu ministério em Galle, Almeida assumiu uma posição tão firme contra o que ele chamava de “superstições papistas”, que o governo local resolveu apresentar uma queixa a seu respeito ao governo da Batávia. Durante a sua estadia em Galle é que, provavelmente, conheceu e se casou com Lucretia Valcoa e Lemmes, ou Lucrecia de Lamos, jovem também vinda do catolicismo romano. O casal completou-se como família tendo dois filhos, um menino e uma menina, dos quais os historiadores não comentam mais nada. No decorrer da viagem de Galle para Colombo, Almeida e sua esposa foram milagrosamente salvos da investida de um elefante. A partir de 1658, e durante três anos, Almeida desenvolveu o seu ministério na cidade de Colombo e ali de novo enfrenta problemas com o governo, o qual tentou, sem sucesso, impedi-lo de pregar em português. O motivo dessa medida, estava provavelmente relacionado com as firmes e fortes idéias anti-católicas do jovem pastor. Em 1661, Almeida vai para Tutecornin, no sul da Índia, onde foi pastor durante um ano e onde também não teve dias tranqüilos. Tribos da região negaram-se a ser batizadas ou ter os seus casamentos abençoados por ele, pelo fato da Inquisição ter ordenado que um retrato de Almeida fosse queimado numa praça pública em Goa. 5. Um ministro com maturidade e personalidade Em 1662, Almeida está ministrando em Quilon, regressando para a Batávia em março de 1663, onde fica à frente da igreja portuguesa até dois anos antes de sua morte. Como dirigente desta igreja, em 1664, demonstra muita personalidade, expondo suas própria idéias, mas com maturidade aceita as decisões superiores. Neste ano tenta persuadir o Presbitério para que sua congregação tenha a sua própria celebração da Ceia; propõe também que os pobres que recebem auxílio do fundo social da igreja freqüentem as aulas de catequese; elabora um folheto com orações para serem usadas nas igrejas portuguesas. Em 1666, propõe a nomeação de anciãos e diáconos, como auxiliares do ministério, mas sua proposta é rejeitada, vindo ser aprovada somente quatro anos depois. Em 1670, recebe a Carta Apologética, após cerca de seis anos de diálogo por correspondência, a qual assinala a ruptura definitiva entre ele e o padre e teólogo Jerônimo de Siqueira, a quem tentou evangelizar. Depois desta carta, não só Almeida voltou a defender-se, como sofreu também os ataques do jesuíta João Baptista Maldonado, um Diálogo Rútisco, terminando desse modo a polêmica. Em 1676, após ter dedicado vários anos ao aprendizado do grego e do hebraico e se aperfeiçoado no holandês, Almeida comunicou ao presbitério que a tradução do Novo Testamento estava pronta. A partir daí começou a batalhar para ver o seu texto publicado. Para ter o aval do presbitério e o consentimento do Governo da Batávia e da Companhia Holandesa das Índias Orientais, o seu texto deveria passar pelo crivo dos revisores indicados pelo Presbitério. Escolhidos os revisores, o trabalho começou, mas foi evoluindo lentamente. Em 1677, um novo ministro é chamado do Ceilão, para a Batávia, para caminhar ao lado de Almeida e futuramente substituí-lo. Seu nome é Jacobus op den Akker. Numa reunião do Presbitério, em 1678, Almeida “declara-se solenemente contra os rumores que então corriam sobre o seu desejo de voltar ao catolicismo. Como prova da sua posição, demonstrou que o folheto “Diferenciais de la Cristandad”, que fora instrumento de sua conversão, tinha sido traduzido, em 1650, para o português e alguns anos mais tarde para o holandês. 6. Um ministro comprometido com a Palavra de Deus Em 1680, quatro anos depois do início da revisão, irritado com a morosidade do trabalho, envia o seu manuscrito, para ser publicado na Holanda por conta própria. O seu desejo é que a Palavra de Deus seja conhecida pelo povo de língua portuguesa. Mas, o presbitério percebe a situação e consegue sustar o processo, interrompendo a impressão. Depois de alguns meses, gastos entre discussões e brigas, quando Almeida já parecia ter desistido da publicação, cartas vindas da Holanda o informaram que o texto fora revisado e que estava sendo impresso. Em 1681, a primeira edição do Novo Testamento de Almeida finalmente saiu da gráfica e no ano seguinte, em 1682, chegou à Batávia. Quando começou a ser manuseada foram percebidos vários erros de tradução e revisão. Tal fato foi comunicado à Holanda e todos os exemplares que ainda não haviam saído de lá foram destruídos, por ordem da Companhia Holandesa das Índias Orientais. As autoridades holandesas determinaram também que se fizesse o mesmo com os exemplares que já estavam na Batávia. Mas, ao mesmo tempo, providenciaram para que se começasse, o mais rapidamente possível, uma nova e cuidadosa revisão do texto. Apesar das ordens recebidas da Holanda, nem todos os exemplares foram destruídos, e correções foram feitas a mão com o objetivo de que cada comunidade pudesse fazer uso desse material. Um desses exemplares foi preservado e se encontra no Museu Britânico em Londres. 7. O final de uma vida dedicada Devido à sua saúde abalada, foi permitido a João Ferreira de Almeida, que dedicasse menos horas ao seu trabalho na igreja. Com isso entregou-se ainda mais à tradução do Antigo Testamento, trabalho que já tinha iniciado anos antes. Um ano depois, em 1683, já havia traduzido o Pentateuco. Em 1689, Almeida é considerado “pastor emérito” e também neste ano, em 16 de setembro ele pede a sua jubilação, “em virtude da velhice e fraqueza”. As últimas atas das reuniões do presbitério que se referem à sua presença datam de agosto de 1691. Na ata da reunião do dia 20 de agosto daquele ano ainda há menção do seu nome, mas ao que parece, ele já não estava mais presente. João Ferreira de Almeida faleceu em 6 de agosto desse ano, aos 63 anos, deixando a esposa e um casal de filhos. O término de sua obra, como mencionado antes, deu-se através do seu colega de ministério, o pastor Jacobus op den Akker. Convém lembrar, como vemos em sua história, relatada no livro Deus, o homem e a Bíblia, que Almeida “lutou durante toda a sua vida para manter as comunidades evangélicas portuguesas nos seus próprios lugares”, enquanto os holandeses iam ocupando os lugares do império português nas Índias. Almeida se esforçou continuamente para que essas comunidades tivessem outros livros na língua portuguesa. Numerosas traduções foram feitas por ele para o português, porém tais trabalhos não chegaram a ser publicados. Outros livretos, entretanto, foram impressos na Holanda e na Batávia. Quando completou a tradução do Novo Testamento, Almeida foi recompensado pelo presbitério com a importância de 30 réis, quantia esta aumentada, pelo Governo da Companhia Holandesa das Índias Orientais em mais 50 réis.