Iniciação na Astronomia
Fernando João Fernandes Oliveira Martins
Escola EB 2.3 Dr. Correia Mateus
1. Introdução
Para começar em Astronomia é preciso saber começar, por isso vamos
iniciar com umas indicações, que embora muito básicas, são muito
importantes para quem quer iniciar-se nesta área cientifica, de forma
amadora ou mesmo profissional.
Existe uma ideia generalizada que é necessário dispor, à partida, de um
super-telescópio e possuir largos conhecimentos para poder fazer –
mesmo como simples passatempo – observações astronómicas. Nada
mais errado. Este é um falso pressuposto que leva muitas pessoas a
desistirem logo à partida de uma actividade tão espectacular e
fascinante.
Para a realização de observações astronómicas, são só necessários
alguns conhecimentos muito básicos, que lentamente se expandirão à
medida das necessidades do observador.
Efectivamente para começar bem, é necessário equiparmos-nos
primeiramente com alguns bons livros, que essencialmente funcionem
como guias e possuam alguns mapas, depois é só esperar por uma
noite de céu limpo e começar a trabalhar...
Alguns Livros bons para iniciação na Astronomia
Autor
ALMEIDA, G. (1995)
BAKULIN, P., KONONOVITCH, E. &
MOROZ, V. (1988)
CATTERMOLLE, P. (1996)
CLARKE, S. (1996)
COUPER, H. (1992)
FERREIRA, M. (1993)
FOREY, P. (1995)
GIGLI, A. (1981)
HAWKING, S. (1996)
HEATHER, N. (1992)
JOBB, J. (1997)
LEVY, D. H. (1998)
LIPPINCOTT, K. (1996)
STOTT, C. (1999)
VANCLEAVE, J. (1993)
VIEIRA, A. C. (1993)
Título
Roteiro do Céu, 2ª Edição - 1998, Plátano Edições Técnicas.
Curso de Astronomia, Editora MIR.
A Terra e o Sistema Solar, Col. “A Nova Enciclopédia de Ciências”, Círculo de Leitores.
A Astrofísica, Col. “A Nova Enciclopédia de Ciências”, Círculo de Leitores.
Atlas do Universo, Livraria Civilização Editora.
Introdução à Astronomia e às observações astronómicas, Plátano.
Estrelas e Planetas, Col. “Pequenos Guias da Natureza”, Plátano.
O que contam as Estrelas, Col. “Fazer para aprender”, n.º 4, Ed. Caminho.
Breve História do Tempo Ilustrada, Gradiva.
Atlas do Universo, Editora Civilização.
O meu primeiro livro de Astronomia, Gradiva Publicações.
Observar o Céu, Edições Atena.
Astronomia, Col. “Enciclopédia Visual da Ciência”, N.º 15, Ed. Verbo.
O Guia do Astrónomo, Círculo de Leitores.
Astronomia para Jovens, Publicações D. Quixote.
Astrónomo Amador, Colecção Conhecer, n.º 1, Estante Editora.
Estará agora a perguntar ... "Óptimo, já tenho os livros, hoje o céu até
está limpo, mas qual o equipamento de observação que devo utilizar?"
Esta é uma resposta muito simples ... já o tem consigo, os olhos. Nada
de binóculos ou telescópios nas primeiras sessões, pois estes
representam um salto muito significativo relativamente às observações
a olho nu. De que adiantaria ir todo equipado para uma observação, se
não sabe para onde apontar o equipamento? Seria uma perda de
tempo utilizar estes equipamentos sem ainda conhecer minimamente o
céu.
Então, só com os livros de referência, as observações a olho nu devem
incidir nos seguintes aspectos:

Localizar as principais constelações do céu e identificação das
estrelas mais brilhantes, associando-as aos seus nomes
correspondentes.
Reconhecer as cores das estrelas mais brilhantes.
Distinguir os planetas das estrelas.

Localizar no céu a eclíptica.







Determinar aproximadamente o radiante das chuvas de
meteoros.
Acompanhar as sucessivas posições dos planetas mais
brilhantes, relativamente às constelações, Vénus, Marte, Júpiter
e Saturno.
Observar da Via Láctea.
Medir as distâncias angulares entre estrelas, ou entre estrelas e
planetas.
Observar, quando possível, cometas, como sucedeu
recentemente com o Hyakutake e o Hale-Bopp.
Sugestões eventualmente úteis:
 Qualquer tipo de observação astronómica a realizar, deve ser feita no
local mais escuro possível (dentro do quarto às escuras não serve, tem de
ser, de preferência, na rua...).
 O olho humano demora cerca de 15 a 20 minutos a habituar-se ao escuro,
pelo que deve esperar mais ou menos este tempo antes de iniciar
qualquer observação.
 Evite usar lanternas ou qualquer outro tipo de iluminação de luz branca.
Se usar lanternas (para iluminar os mapas), cubra a saída de luz com
papel celofane vermelho (se possível), pois a luz vermelha não afecta
tanto a observação, permitindo que a pupila humana se mantenha com o
máximo de abertura. Se possível adquira uma lanterna com filtro
vermelho.
2. Binóculos
Nunca é demais lembrar a
grande ajuda que um
binóculo
representa
relativamente
à
vista
desarmada.
Passando pela grande facilidade de utilização que nos podem
oferecer, os binóculos dão-nos também a comodidade de visão
e a aparente sensação (alargada pelo uso de dois olhos ao
mesmo tempo) de tridimensionalidade. Ao contrário dos
telescópios manuais, o utilizador consegue mais facilmente
localizar e seguir as estrelas devido ao seu amplo campo de
visão. Outra vantagem é o preço, o qual é bastante inferior ao
de um telescópio.
Antes de Comprar ...
Se está a pensar em adquirir uns binóculos, tenha sempre em atenção a:
• Experimente sempre vários binóculos antes de fazer a compra final;
• Veja se, ao apontar para uma fonte luminosa, aparecem auréolas
coloridas nos bordos - normalmente é quase impossível eliminar este
problema de aberração cromática - e veja em qual nota este problema
de forma menos acentuada;
• Veja se há distorção de imagem nos bordos;
• Veja a nitidez de imagem e os contrastes;
• Opte, sempre que possível, por binóculos com prismas de Porro;
• Quando os binóculos passam das 8 ou 10 ampliações geralmente são
pesados, por isso, considere a possibilidade de comprar também um
tripé (com respectivo adaptador) para evitar o cansaço.
Mas também é preciso, e direi, mesmo indispensável, saber utilizar o
binóculo em Astronomia e conhecer o céu. Como é óbvio deve-se
escolher um modelo conveniente para este tipo de observações.
Os Binóculos mais Usuais
Tipo
Tamanho (diâmetro)
das lentes (mm)
Ampliação
Pupila de Saída
(diâmetro)
08x30
07x50
10x50
10x70
11x80
15x80
30
50
50
70
80
80
8
7
10
10
11
15
3,8
7,1
5,0
7,0
7,3
5,3
Luminosidade Campo Magnitude
14
51
25
49
53
28
7
7
5
5
4
4
09,0
10,0
10,3
10,5
11,0
11,2
Todos os valores acima descritos estão limitados à qualidade dos binóculos,
podendo assim os valores variarem de fabricante para fabricante.
Os recomendados para iniciados são os 7x50 ou 10x50.
Onde e o que observar?
Os binóculos são o instrumento ideal para observação de amplas
regiões celestes, perfeitos para a procura de novos cometas.
Experimente, com o uso dos binóculos, observar as constelações
mais perto do zénite todas as noites e, se as condições o
permitirem, memorize as estrelas mais luminosas. Repare que, nas
noites seguintes, elas lá estarão, mas com insistência, numa noite
mais límpida poderá observar uma estrela que ainda não tinha
descortinado. As crateras do nosso satélite também são um bom
alvo a apontar, que, para melhores resultados, tente evitar a
observação do nosso satélite natural na fase de Lua Cheia
(curiosamente, e ao contrário do senso comum, a pior altura para
ver o nosso satélite ou quaisquer outros astros).
Entre as observações possíveis estão as seguintes:
 Reconhecer os principais "mares" na Lua;
 Observar as maiores crateras lunares;
 Acompanhar o movimento de translação dos satélites de Júpiter;
 Reconhecer as cores das principais estrelas.;
 Observar algumas estrelas duplas;
 Observar enxames de estrelas (abertos);
 Explorar a Via Láctea;
 Observar campos de estrelas no plano da Via Láctea;
 Explorar o céu (num céu verdadeiramente escuro e límpido, um
observador atento poderá observar diversos enxames globulares de
estrelas, algumas galáxias e diversas nebulosas...).
3. Telescópios
Induzidos à primeira vista, a capacidade de um
telescópio é traduzida pelo diâmetro da sua
objectiva (abertura), e não pelo comprimento do
seu tubo ou pelo valor de ampliação que,
fantasiosamente, alguns vendedores apregoam.
A solução mais vantajosa, do ponto de vista da
relação possibilidades de observação, preço e
qualidade, baseia-se num telescópio do tipo
Newton de 10 a 15 cm de abertura. É ainda de
referir que, mais do que o número de vezes que
este amplia, o fundamental é a área da objectiva,
a qual determina a quantidade de luz captada. O
diâmetro da objectiva é a abertura do telescópio.
Embora capte geralmente mais luz que um binóculo, e permita
ampliações muito maiores, um telescópio é mais difícil de apontar
para o alvo desejado, por ter evidentemente um campo visual muito
mais estreito. Deve ser utilizado pois por quem já tenha experiência
na observação a olho nu e com o binóculo.
Entre as observações possíveis com este equipamento destacamos para
observação:
• Observação do nascer e do pôr do Sol dentro das crateras lunares;
• Observação dos "mares" e crateras na superfície da Lua, incluindo a correspondente
identificação (com o auxílio de um mapa da Lua, claro);
• Observação de ocultações de estrelas e planetas por parte da Lua;
• Observação das fases de Vénus e Mercúrio;
• Observação de Júpiter;
• Acompanhar o movimento de translação dos satélites de Júpiter;
• Acompanhar o movimento de rotação de Júpiter através da Grande Mancha
Vermelha;
• Observação dos anéis de Saturno;
• Observação dos planetas Mercúrio e Marte (embora estes planetas apresentem
pouco interesse quando vistos com um telescópio pequeno;
• Observação das manchas solares e verificação da rotação do Sol;
• Reconhecimento das cores das estrelas;
• Observação de estrelas duplas;
• Observação de vários enxames de estrelas (globulares e abertos);
• Observação de várias nebulosas e diversas galáxias.
3.1. Tipos de Telescópios
Existem diversas configurações de telescópios e para se poder optar
por um convém primeiro saber um pouco mais sobre estes. Assim,
de acordo com o tipo de objectiva, estes classificam-se de:
refractores
reflectores
catadióptricos.
3.1.1. Telescópios refractores (ou lunetas telescópicas)
Estes telescópios foram os primeiros a ser inventados (sendo vulgarizados e
difundidos por Galileu) tendo como objectiva uma lente convergente. Deve o
nome ao facto de a luz, ao atravessar a objectiva, sofrer um processo dito
de refracção, ficando a imagem invertida quando a observamos na lente
chamada de ocular.
Luz do Astro
Imagem
Objectiva (Lente)
Observador
Parafuso de Focagem
Ocular
3.1.2. Telescópios reflectores
Agora a objectiva é um espelho côncavo, que recebe a luz e a envia para
outro espelho, dito secundário, que a reenvia para a ocular. O espelho
secundário está dentro do tubo e fixado a este por uma estrutura apelidada de
aranha. Há dois tipos diferentes de telescópios reflectores, os de Newton,
que têm uma abertura lateral no tubo onde se situa a ocular, e os de
Cassegrain, em que a ocular se situa depois do espelho principal, que está
perfurado, o que encurta significativamente o tamanho do telescópio.
Luz do Astro
Imagem
Observador
Aranha
Ocular
Espelho secundário (convexo)
Espelho principal
Parafuso de Focagem
Imagem
Observador
Ocular
Parafuso de Focagem
Luz do Astro
Espelho secundário plano
Espelho principal
3.1.2. Telescópios catadióptricos
Nestes telescópios a objectiva é
uma lente associada a um espelho
(aparentemente uma mistura dos
dois anteriores). São telescópios
muito compactos e interessantes.
Os mais utilizados são apelidados
de
Schmidt-Cassegrain
e
Maksutov-Cassegrain.
Luz do
Astro
Lente refractora de
correcção
Espelho secundário
(convexo)
Espelho
principal
Image
m
Parafuso de
Focagem
Ocul
ar
Observa
dor
3.2. Algumas características dos Telescópios dos
Astrónomos Amadores
Os telescópios utilizados habitualmente pelos amantes da Astronomia têm
aberturas entre 50 e 100 mm se são refractores (lunetas) e entre 90 e 250
mm se forem reflectores ou catadióptricos. O preço e a facilidade de
transporte são factores fundamentais na altura da escolha. O quadro
seguinte apresenta alguns dados relativos a alguns destes telescópios,
independentemente da marca e configurações ópticas dos instrumentos.
De notar que é comum utilizar como unidade de medida da abertura a
polegada (medida inglesa, no original “inch”). Para facilitar refira-se que
uma polegada é igual a 25,4 milímetros (1’’ = 25,4 mm = 2,54 cm). Como
exemplos, refira-se que um telescópio de 4’’ tem aproximadamente 102
mm de abertura (101,6 mm) e um telescópio com cerca de 400 mm (40
cm) de abertura pode-se dizer de 16 polegadas (16’’ = 40,64 cm).
Valores típicos dos principais Telescópios de Astrónomos Amadores
Poder de
Abertura captação de luz
(1)
Magnitude limite
(2)
Poder separador (3)
A
B
C
50 mm
51
10,3
2,3’’
4,6’’
5,6 km
60 mm
73
10,7
1,9’’
3,8’’
4,6 km
80 mm
131
11,4
1,4’’
2,8’’
3,4 km
100 mm
204
11,8
1,1’’
2,2’’
2,6 km
125 mm
319
12,3
0,9’’
1,9’’
2,2 km
150 mm
459
12,6
0,8’’
1,6’’
1,9 km
200 mm
816
13,3
0,6’’
1,2’’
1,5 km
250 mm
1276
13,7
0,5’’
1,0’’
1,2 km
1 - Comparativamente com o olho humano em visão nocturna (o diâmetro da pupila ocular é de cerca de 7 mm).
2 - Magnitude (brilho) das estrelas menos brilhantes visíveis no telescópio – os números negativos representam
brilhos muito elevados e os positivos, à medida que aumentam, vão sendo mais reduzidos; assim o Sol tem
Magnitude –26,8, a Lua, quando Cheia, –12,8, o planeta Vénus atinge o máximo de –4,0, a estrela Sírio –1,44, a
estrela Polar +2,0 (ou simplesmente 2,0) e Plutão 13,7.
3 - A – valor máximo de separação (possibilidade de ver distintamente) com boas condições de observação; B –
valor normal de separação com condições de observação menos favoráveis; C – dimensões, na superfície lunar,
dos pormenores que estão no limite de resolução do telescópio.
Valores típicos dos principais Telescópios de Astrónomos Amadores
Abertura
Ampliações
Média
Forte
Máxima
Número visível de:
Estrelas
Galáxias
Mínima
Fraca
50 mm
7x
25 x
60 x
100 x
120 x
300.000
870
60 mm
9x
30 x
72 x
120 x
144 x
690.000
1.000
80 mm
11 x
40 x
96 x
160 x
192 x
1 500.000
1.400
100 mm
14 x
50 x
120 x
200 x
240 x
2.250.000
1.700
125 mm
18 x
62 x
150 x
250 x
300 x
3.500.000
2.000
150 mm
21 x
75 x
180 x
300 x
360 x
4.600.000
2.300
200 mm
29 x
100 x
240 x
400 x
480 x
8.200.000
2.900
250 mm
36 x
125 x
300 x
500 x
600 x
10.000.000
5.000
4. Onde comprar Telescópios?
Em qualquer ponto do país, quase qualquer casa de Fotografia ou Oculista já
dispõe de pequenas lunetas e telescópios que expõem em suas montras.
Não se iludam os incautos com a aparência destes pequenos aparelhos, pois
90% do material de que são feitos é à base de plásticos e matérias muito
frágeis. A relação Qualidade/Preço é deveras decepcionante. Diversos
astrónomos amadores já tiveram a oportunidade de visitar algumas casas
com pequenas lunetas e telescópios feitos quase integralmente de plástico incluindo as próprias oculares... - em que os preços atingiam os 75 mil a 100
mil escudos. Desconfie sempre de telescópios que anunciem apenas a sua
potência ("Potência de 360x" ou "Amplia 360x").
A própria exorbitância do preço, leva por vezes o potencial comprador e
pouco entendedor destas “coisas” a pensar que “... se é assim tão caro, deve
ser mesmo bom ...”. Desengane-se portanto, pois se o ditado diz “... o barato
sai caro ...”, aqui “... o caro sai caríssimo ...” e com pouco tempo de
utilização já a luneta/telescópio estará de tal forma “desengonçada” que já
nem se aguenta em pé, para não falar das lentes que acompanham estes
conjuntos, que ao serem de um material plástico, contêm um nível de
aberração cromática que até faz doer os olhos.
Tenha sempre preferencia pela compra do seu material apenas em casas da
especialidade, onde quem vende tenha largos conhecimentos sobre o
assunto.
Por outro lado, se tem jeito para trabalhos manuais, porque não construir
um? Se desejar optar por este modo, pode contactar uma associação de
astrónomos amadores, coma ANOA, que tem manuais e dá apoio para este
tipo de actividade.
frytyt
Zénite - Ponto da esfera celeste directamente colocado por cima do
observador, na vertical.
Eclíptica - zona do céu onde o Sol passa de dia e onde de noite
circulam os planetas.
NOTA IMPORTANTE: As observações do Sol, embora
seguras, requerem procedimentos muito precisos; não faça uma
observação do Sol sem saber como nunca se esqueça que, se
observar directamente o Sol (com telescópio ou até
simplesmente com binóculos) ficará definitivamente cego....
Objectiva - sistema óptico que tem por finalidade receber a luz
que vem de objecto observado (daí o seu nome).
Ocular - lente similar a uma lupa que amplia a imagem
primária recebida da objectiva; chama-se assim porque é
sobre ela que o observador coloca um dos olhos.
Download

Iniciação na Astronomia