Modernização Precária e Planejamento Metropolitano: Reflexões sobre o Pensamento Político Brasileiro. Autoria: Maurício Feijó Cruz Resumo O presente trabalho, por meio da análise dos clássicos do pensamento político brasileiro reunidos na obra Linhagens do Pensamento Político Brasileiro, de Gildo Marçal Brandão, elabora uma reflexão acerca de questões pertinentes às ações do poder público no ordenamento e planejamento territorial de áreas metropolitanas. A base teórica dos clássicos pretende fornecer insumos para a compreensão das relações políticas entre entes federativos, da formação social dos brasileiros e do desenvolvimento do Estado no Brasil. O aprofundamento do estudo da obra de Oliveira Viana foi o recorte necessário para obter, entre os diversos clássicos analisados por Brandão, insumos para a discussão da formação nacional e de características específicas que, ao longo da história do Brasil, teriam fundamental papel na conformação atual da sociedade brasileira e de seus espaços urbanos. As questões destacadas são a importação de idéias internacionais, tomadas regularmente como redentoras dos problemas brasileiros – em especial modelos de planejamento, intervenção e gestão, e o fenômeno da ‘Modernização Precária’, que caracteriza o esforço para adequar trechos restritos das metrópoles brasileiras aos padrões internacionais de qualidade de espaços urbanos. Introdução O presente trabalho tem por objetivo o estudo de clássicos do pensamento político brasileiro para subsidiar a reflexão acerca de questões pertinentes às ações do poder público no ordenamento e planejamento territorial de áreas metropolitanas, assim como fundamentar uma abordagem das transformações espaciais e funcionais nas metrópoles brasileiras. A base teórica dos clássicos pretende fornecer insumos para a compreensão das relações políticas entre entes federativos, da formação social dos brasileiros e do desenvolvimento do Estado no Brasil. A análise do pensamento de autores clássicos reunidos na obra Linhagens do Pensamento Político Brasileiro, de Gildo Marçal Brandão, serviu ao presente trabalho como uma apresentação das famílias de intelectuais que estruturaram o pensamento político no Brasil, organizando dessa forma o processo histórico da luta ideológica e política no país. Os aspectos mais relevantes para as questões urbanas presentes no pensamento de alguns desses autores - argumentos, críticas, hipóteses e visões da realidade brasileira, mesmo que não tenham a priori uma conotação diretamente ‘urbana’ – foram destacados de modo a encaminharem análises que visam articular a ação pública frente às dinâmicas das metrópoles. Entre os autores clássicos estudados por Brandão encontram-se Visconde de Uruguai, Tavares Bastos, Silvio Romero, Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, Euclides da Cunha, Alberto Torres, Oliveira Viana, Azevedo Amaral, Gilberto Freire, Sérgio Buarque de Holanda, Nestor Duarte, Caio Prado Junior, Raimundo Faoro, Vítor Nunes Leal, Guerreiro Ramos, Florestan Fernandes e Celso Furtado. A maior contribuição da obra de Brandão, para o presente trabalho, é destacar as posturas críticas e as reflexões desses autores para o entendimento do Brasil. Como o próprio Brandão coloca acerca da centralidade do papel dos clássicos, é com eles que aprendemos a pensar o país e, mais do que isso, “o esclarecimento das lutas espirituais do passado acaba se revelando um pressuposto necessário à proposição de estratégias políticas para o presente.” (BRANDÃO: 2007, p. 29) O aprofundamento do estudo da obra de Oliveira Viana (Populações Meridionais do Brasil e Instituições Políticas Brasileiras) foi o recorte necessário para obter, entre os diversos clássicos analisados por Brandão, insumos para a discussão da formação nacional e de características específicas que, ao longo da história do Brasil, teriam fundamental papel na conformação atual da sociedade brasileira e de seus espaços urbanos. Dessa forma, o objetivo final aqui colocado é analisar a postura crítica de Oliveira Viana quanto à importação de idéias internacionais, tomadas regularmente como redentoras dos problemas brasileiros – em especial modelos de planejamento, intervenção e gestão urbanas. Concomitante à implantação de idéias estrangeiras na singular realidade brasileira, será analisado o fenômeno urbano da ‘Modernização Precária’, que caracteriza as intervenções de caráter isolado que se esforçam para adequar trechos restritos das metrópoles brasileiras aos padrões internacionais de qualidade de espaços urbanos. O Urbanismo Metropolitano e o estudo do pensamento político brasileiro. Deve-se, preliminarmente, expor alguns conceitos específicos de urbanismo metropolitano para delimitar o recorte da presente pesquisa, e assim desenvolver as questões pertinentes ao estudo de clássicos do pensamento político brasileiro. A crise do planejamento ortodoxo dos anos 70 em todo o mundo e o consequente laissez faire urbano enfraqueceram o papel regulatório do Estado na ordenação territorial. No Brasil, o aspecto tecnocrático e autoritário das ações formuladas durante o Regime Militar – entre elas, a criação de Regiões Metropolitanas Brasileiras – colocou o planejamento metropolitano como expressão de governos centralizadores que se sobrepunham a interesses locais e que aviltavam as autoridades municipais. As ações criadas pelos órgãos de planejamento dos governos militares não contribuíram muito para as metrópoles brasileiras por seu caráter centralizado e pouco articulado às demandas locais, mas iniciaram a formulação da questão metropolitana no Brasil e constituíram boas bases de informação (pesquisas sócio-econômicas e cartografias básicas) para ensaiar os primeiros planos de desenvolvimento metropolitano do país. O desenho federativo da Constituição Federal de 1988 (baseado na descentralização administrativa e marcado pelo municipalismo) fortaleceu o poder decisório dos municípios e criou impasses para as relações intermunicipais. Mesmo prevendo a criação de regiões metropolitanas e sua gestão negociada (passando para os Estados a prerrogativa de promovêlas), a ausência de uma política urbana metropolitana brasileira (nacional) ativa tem estreita relação com o esvaziamento do debate metropolitano. Deve-se destacar que a descentralização de atribuições para o âmbito municipal pós 1988 promoveu políticas de grande interesse e sucesso no país, mas do ponto do vista urbanístico acompanhou importantes dificuldades de gestão. Movimentos de desregulamentação ou excessiva permissividade nas legislações (e fiscalizações) municipais não conseguiram enfrentar a histórica desigualdade social na ocupação do solo, crescimento desordenado desvinculado das capacidades das infra-estruturas (com destaque para abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto e oferta de redes de transportes), além de se traduzir em intervenções urbanísticas isoladas e pontuais. Cada cidade cuida de seus sistemas de transporte coletivo, regula o uso de seu solo e planeja a ocupação de seu território. 2 A crítica à ação municipalista (por mais importantes que sejam, cuidam estritamente do território do município) torna-se pertinente em situações em que as fronteiras dos municípios são extrapoladas pelas relações entre seus habitantes, havendo ou não continuidade da mancha urbana (conurbação). Quando a vida das populações acontece em escala metropolitana, ou seja, pontos em diferentes unidades federativas municipais influenciam diretamente o cotidiano de uma população, deve-se enfrentar o desafio de negociar ações conjuntas entre tais entes autônomos para a reflexão e solução de problemas comuns, assim como planejamento articulado para o desenvolvimento da região. Essa influência não se dá apenas nas diversas locações de residência e acesso a empregos, comércio e serviços, mas também por pontos de apoio logístico para redes de distribuição, produção hídrica, grandes pólos educacionais, portos e aeroportos, enfim, uma série de equipamentos distribuídos no território que dão suporte às atividades e população de grandes aglomerados urbanos. Mais do que isso, ao mesmo tempo em que são apoio às grandes populações concentradas, esses equipamentos têm sua própria existência possibilitada pela metrópole. Nesse sentido, busca-se complementar a definição de Região Metropolitana como sendo do ponto de vista estritamente funcional, em que unidades federativas autônomas apresentam problemas em comum devido à conurbação de suas manchas urbanas ou ao alto índice de relações sócio-econômicas entre si. A relevância metropolitana repousa também na percepção que a economia de escala proporcionada pelo território metropolitano transforma a metrópole em “condição e não um resultado da industrialização e do desenvolvimento econômico” (MEYER et al., 2004, p.19). Nas metrópoles tornam-se possíveis aspectos essenciais para a reprodução do capitalismo contemporâneo, como a oferta de serviços avançados, formação de profissionais capacitados para as demandas técnicas, estruturação de redes de comunicação, reunião de população criativa, trocas interpessoais de diversas naturezas. Da mesma maneira, as regiões metropolitanas carregam em si, de maneira dramática, os desafios sociais (exclusão e desigualdade) desse modo de produção, tornando-se, portanto, recorte estratégico para a implantação de políticas públicas. Tomada como expressão do capitalismo brasileiro, as metrópoles apresentam fortemente as contradições nacionais em seus territórios, e é de grande interesse a compreensão dos tópicos sociais que acompanham a história do Estado Brasileiro para analisar as questões metropolitanas, em diversos aspectos. A formação e desenvolvimento do Estado Brasileiro, suas formas de desenho federativo e organização de governos e instituições têm estreita relação com a maneira desse Estado lidar com o fenômeno territorial das regiões metropolitanas, do ponto de vista urbanístico, econômico e social. A importância das relações intermunicipais e intergovernamentais, e o desenho político delineado com a redemocratização são também condicionantes para a compreensão do quadro metropolitano brasileiro. “... ao contrário das ciências naturais, que precisam esquecer seus fundadores, as ciências sociais não avançam senão refazendo seu próprio caminho e, por isso mesmo, a questão dos clássicos lhes é constitutiva, está inscrita na sua estrutura e modo de ser.” (BRANDÃO, 2007, p. 186) Aspectos relevantes da urbanização brasileira e a análise dos clássicos 3 Na presente pesquisa, o objetivo é atentar para os aspectos espaciais e urbanísticos do fenômeno metropolitano brasileiro, relacionando-o ao estudo dos clássicos brasileiros deixando de lado os diversos outros campos de conhecimento que utilizam este recorte para realizar políticas (saúde, destinação de resíduos sólidos, recursos hídricos, meio ambiente, etc). Uma deles é, por exemplo, a justaposição nas metrópoles do caráter produtivo avançado nacional (indústrias de ponta, produção científica e intelectual avançada, equipamentos de consumo sofisticados) com os déficits estruturais e sociais ocupando espaços contíguos nas cidades. É a chamada ‘modernização precária’ dos espaços urbanos, em que alta tecnologia de circulação de dados (telefonia celular, redes de fibra óptica), sedes de grandes empresas e mercados de luxo convivem com falta de tratamento de esgotos, favelas e deficiência de redes de transporte coletivo. Tal modernização precária seria fruto da preocupação de nossas elites em adequar o país à produção capitalista burguesa, como relata Wanderley Guilherme dos Santos em Ordem Burguesa e Liberalismo Político. Deve-se destacar que a modernização precária deixa de lado aspectos básicos da construção de um país equilibrado, o que frequentemente põe em crise o próprio sistema precariamente construído. Desde a independência que o problema teórico e prático predominante e de alta visibilidade das elites políticas e intelectuais brasileiras tem sido fundamente este: de que modo implantar e garantir eficiente funcionamento da ordem liberal burguesa’. (SANTOS, 1978, p. 50) Entretanto, no estudo da obra Instituições Políticas do Brasil: 1930/1960, de Oliveira Vianna, encontramos uma crítica também relevante formulada ao caráter das respostas historicamente dadas à necessidade de organização de estruturas e implantação de intervenções nas cidades brasileiras. Viana critica duramente a importação de idéias e modelos que, funcionando muito bem no exterior, são introduzidos no país para o enfrentamento dos problemas locais, desconsiderando a realidade brasileira e sem termos ainda superado desafios de etapas anteriores do desenvolvimento capitalista, e nem mesmo tendo a chance de formular para nossas áreas urbanas soluções de fato conectadas e advindas de nossas realidades locais. Seria, dessa forma, um outro aspecto da Modernização Precária: adequa-se o país (ou melhor, uma fração privilegiada dele) para conectá-lo ao restante do mundo, reproduzem-se modos internacionais de organização de espaço urbano qualificado (tomados como modelo desejado), enquanto os problemas estruturais pré-existentes, além de não serem resolvidos, não são nem mesmo levados em conta como oportunidade para o surgimento de novas respostas. Oliveira Vianna destacou em sua obra as contradições da ‘implantação’ do Estado burguês no Brasil, marcado pela importação de idéias feitas, de estereótipos, preconceitos e aspirações que foram alimentados em inteira desconformidade com as nossas realidades culturais: ‘o erro dos nosso reformadores políticos tem sido querer realizar aqui – no meio desses nossos rudimentarismos de estrutura e de cultura política – uma democracia de tipo inglês’ (OLIVEIRA VIANNA, 1987, p. 124) 4 Mesmo que por vezes seu texto seja marcado por um pensamento conservador, Oliveira Viana coloca um alerta para a busca de modelos de gestão metropolitana internacionais em estudos comparativos sobre o tema. Sua ‘cisma’ com o tipo inglês de democracia pode ser relacionada, por exemplo, a tradicionais estudos nos órgãos de planejamento brasileiro sobre o formato gerencial da Greater London Council (GLC), instância de planejamento de Londres e seus arredores, extinto pelo governo de Margareth Thatcher no início dos anos 1980. O GLC, mesmo com problemas conhecidos, habita as mentes de planejadores metropolitanos brasileiros como uma meta ou um idílico de planejamento. Não pretendo dessa forma desqualificar estudos comparativos entre diferentes modelos de gestão metropolitana no mundo, é evidente que tal método tem na verdade a intenção de instrumentar a descrição e análise de diferentes políticas públicas em um processo de criação de categorias por meio das diferenças encontradas, sem a rotulação de ‘melhor’ ou ‘pior’ nas análises comparativas. Oliveira Viana destaca os problemas da importação de modelos também em Populações Meridionais do Brasil, dizendo que os liberais brasileiros nunca entenderam que é impossível e contraproducente reproduzir aqui o parlamentarismo inglês, o liberalismo democrático à francesa, ou o federalismo e a descentralização republicana ao estilo americano. Dessa maneira, seria preciso mudar radicalmente de métodos usados para pensar o Brasil, começar a conhecer melhor a nós mesmos, o povo brasileiro como realmente é, segundo sua formação histórica e social, suas instituições políticas e, com especial importância, sua atitude perante o Estado. O trabalho de Roberto Schwartz em Ao Vencedor as Batatas e Um mestre na periferia do capitalismo também abordou extensamente o tema das ‘idéias fora do lugar’, em que o liberalismo europeu foi transplantado ao Brasil escravocrata da segunda metade do século XIX, por mais incompatível que fosse tal ideologia com o cenário brasileiro de então. Posteriormente, os estudos acerca da ‘Teoria da Dependência’ retomam também as relações entre o centro e a periferia, os quais fariam parte do mesmo sistema. Uma das crenças que Oliveira Viana também critica, por exemplo, é a da descentralização (política e administrativa), que na verdade se confundia com os interesses das oligarquias regionais e que tentava confrontar o perigo representado pelos Clãs. “Politicamente, os ingleses, por exemplo, não conhecem o clã e o seu espírito de faccionismo – e as suas instituições políticas não possuem, consequentemente, nenhuma prevenção ou corretivo contra a ação deste espírito e desta instituição social [..] Nós, ao contrário, somos integralmente dominados na nossa vida política por este espírito, que tem entre nós a difusibilidade do flúor através dos meios permeáveis: por toda a parte – não apenas nos municípios, como nos Estados e na Nação – encontramos o traço deste agente imponderável. (OLIVEIRA VIANA, 1987, p. 125) Mesmo que relativizada pela evolução histórica nacional que houve desde que produziu suas obras, deve-se atentar para a visão de Oliveira Viana de que, em âmbito municipal, existe a ausência das instituições que produziram democracia em outros países, como a solidariedade comunal, a autonomia local, o senso de independência e a capacidade de associação das populações urbanas. Nesse sentido, a necessidade de uma articulação e instauração de diretrizes por parte de entes federativos em outros níveis (Estados e Governo Central) seria 5 um caminho para enfrentar as diferenças regionais das capacidades de ação democrática e organização da ação pública. Gildo Brandão coloca com clareza a natureza do pensamento do liberal Oliveira Viana, comparando-o ao pensamento do weberiano Raimundo Faoro: “... o idealismo orgânico de Oliveira Viana e o idealismo constitucional de Raimundo Faoro coincidem na afirmação na centralidade do papel do Estado na formação social brasileira. Com a importante diferença, entretanto, de que para o primeiro é o caráter inorgânico da sociedade que postula a necessidade de um Estado forte que a tutele e agregue e, para o segundo, é a presença do Estado todopoderoso que sufoca a sociedade e a fragmenta; e disso derivam estratégias políticas distintas.” (BRANDÃO: 2007, p. 126) Deve-se destacar que os dois tipos de idealismo descritos relacionam-se com a longa linhagem de intelectuais brasileiros que depositaram sua confiança no poder da palavra escrita (boa lei produziria a boa sociedade), reproduzindo a idéia de que os problemas no país são fundamentalmente políticos e institucionais, e que suas mazelas serão resolvidas por meio de reformas políticas. Como contraponto à crítica à importação de idéias, vale destacar aqui o argumento de Guerreiro Ramos, que defende que não seria o desejo de imitação das elites o que levaria à ‘transplantação’ das idéias e instituições, mas sim a própria dependência do país em relação às potências industriais, o que o obriga (e a todas as sociedades que ele denomina ‘prismáticas’) a transformar-se e a incorporar as instituições e a cultura ocidentais, ainda que as condições internas desses países (materiais e culturais) não as permitissem. A necessidade econômica e tecnológica, assim como os padrões exigidos para se obter legitimidade política internacional dependem da criação de instituições tipicamente ocidentais. O processo permanece atual, no presente contexto da Globalização, e tal mimetismo traz para o país as contradições internas ao processo de mundialização do capital: Por onde quer que se façam sentir, transformam profundamente estruturas, agências políticas e formas de consciência social. Quando vivenciadas na periferia da economia-mundo, implicam sociabilidades que associam os dilemas da hipermodernidade com heranças coloniais, a fragmentação cultural contemporânea com a dissolução dos valores pré-modernos, o experimentalismo democrático com a ausência de direitos civis básicos, o potencial de internacionalismo, progresso e participação com a insegurança, incerteza, mesquinhez, desesperança e brutalidade da vida cotidiana.” (BRANDÃO, 2007, pp. 161-162) Conclusão Como a realidade é percebida, a experiência prática elaborada e a ação política organizada são os objetos de pesquisa dos que pretendem compreender o pensamento político no Brasil. A partir do estudo desses clássicos, deve-se chamar a atenção para uma mudança estrutural no 6 país: o título de ‘subdesenvolvido’ não cabe mais ao país, uma vez que se tornou plenamente capitalista, sendo que seus maiores problemas não são somente simples heranças do passado, mas questões típicas e atuais desse modo de produção. É a conjugação do capitalismo contemporâneo com o arcaísmo em determinados segmentos da vida brasileira que configura o desafio para a gestão pública no país. O estudo dos clássicos dá como instrumento visões (argumentos e contra-argumentos) e análises que permitem novos olhares, e evitam a reincidência de velhos erros. No caso específico da importação de ‘idéias fora do lugar’, oferece desdobramentos interessantes para a análise urbana, em especial a disseminação de condomínios fechados em cidades no interior do Brasil (modelo norte-americano suplantando modelos históricos de vizinhanças brasileiros), a estética arquitetônica dos edifícios de escritório com fachadas de vidro espelhado (totalmente incoerentes em um país tropical com altíssima incidência de sol), entre outros modelos internacionais aceitos comumente no país. A partir dessa percepção, podemos ir em frente e olhar os modelos internacionais como método de estudo e proposição, e não como finalidade de adaptação, nos diversos ramos das ciências sociais. Bibliografia BRANDÃO, Gildo Marçal. “Linhagens do pensamento político brasileiro”. São Paulo: Aderaldo & Rothschild Editores, 2007. FAORO, Raimundo. “Existe um pensamento político brasileiro?” São Paulo: Ática, 1994. LEVY, Evelyn. “Democracia nas cidades globais: um estudo sobre Londres e São Paulo”. São Paulo: Studio Nobel, 1997. HOLLANDA, Sérgio Buarque. “Raízes do Brasil”. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. MEYER, Regina Maria Prosperi Meyer; GROSTEIN, Marta Dora; BIDERMAN, Ciro. “São Paulo Metrópole”. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004. OLIVEIRA VIANNA, Francisco. “Populações Meridionais do Brasil”. Rio de Janeiro: José Olimpio Editora, 1952. _______“Instituições Políticas do Brasil: 1930/1960”. Belo Horizonte: Itatiaia: Editora da Universidade de São Paulo, 1987. SAES, Décio. “A formação do Estado burguês no Brasil: 1888-1891”. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985. 7 SANTOS, Wanderley Guilherme dos. “Ordem Burguesa e Liberalismo Político”. São Paulo: Duas Cidades, 1978. SCHWARZ, Roberto. “As Idéias Fora do Lugar” In “Ao Vencedor as Batatas”. São Paulo: Duas Cidades, 1981, pp. 13-28. SCHWARZ, Roberto. “Um mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis”. São Paulo: Duas Cidades, 1990. 8