Contribuições às Ciências da Terra UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO ESCOLA DE MINAS DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EVOLUÇÃO CRUSTAL E RECURSOS NATURAIS ESTUDOS MINERALÓGICOS E MICROTERMOMÉTRICOS DE BERILO DOS PEGMATITOS IPÊ, FERREIRINHA, JONAS LIMAS E ESCONDIDO, GOVERNADOR VALADARES, MINAS GERAIS DANIELA TEIXEIRA DE CARVALHO 2004 Contribuições às Ciências da Terra ESTUDOS MINER ALÓGICOS E MICROTERMOMÉTRICOS DE BERILO DOS PEGMATITOS IPÊ, FERREIRINHA, JONAS LIMA E ESCONDIDO, GOVERNADOR VALADARES, MINAS GERAIS ii FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO Reitor Dirceu do Nascimento Vice-Reitor Marco Antônio Tourinho Furtado Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Newton Souza Gomes ESCOLA DE MINAS Diretor Antônio Gomes de Araújo Vice-Diretor Antenor Barbosa DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA Chefe César Augusto Chicarino Varajão iii EVOLUÇÃO CRUSTAL E RECURSOS NATUR AIS iv CONTRIBUIÇÕES ÀS CIÊNCIAS DA TERRA – VOL. 09 TESE DE MESTRADO Nº 221 ESTUDOS MINERALÓGICOS E MICROTERMOMÉTRICOS DE BERILO DOS PEGMATITOS IPÊ, FERREIRINHA, JONAS LIMA E ESCONDIDO, GOVERNADOR VALADARES, MINAS GERAIS Daniela Teixeira de Carvalho Orientador Antonio Luciano Gandini Co-orientadoras Maria Lourdes Souza Fernandes Rosa Maria da Silveira Bello Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Evolução Crustal e Recursos Naturais do Departamento de Geologia da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto como requisito parcial à obtenção do Título de Mestre em Ciências Naturais, Área de Concentração: Petrogênese, Depósitos Minerais, Gemologia OURO PRETO 2004 v Universidade Federal de Ouro Preto – http://www.ufop.br Escola de Minas - http://www.em.ufop.br Departamento de Geologia - http://www.degeo.ufop.br/ Programa de Pós-Graduação em Evolução Crustal e Recursos Naturais Campus Morro do Cruzeiro s/n - Bauxita 35.400-000 Ouro Preto, Minas Gerais Tel. (31) 3559-1600, Fax: (31) 3559-1606 e-mail: [email protected] Os direitos de tradução e reprodução reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser gravada, armazenada em sistemas eletrônicos, fotocopiada ou reproduzida por meios mecânicos ou eletrônicos ou utilizada sem a observância das normas de direito autoral. ISSN 85-230-0108-6 Depósito Legal na Biblioteca Nacional Edição 1ª Catalogação elaborada pela Biblioteca Prof. Luciano Jacques de Moraes do Sistema de Bibliotecas e Informação - SISBIN - Universidade Federal de Ouro Preto De Carvalho, Daniela Teixeira. C955a Estudos Mineralógicos e microtermométricos de berilo dos pegmatitos Ipê, Ferreirinha, Jonas Lima e Escondido, Governador Valadares, Minas Gerais – Ouro Preto: UFOP: 2004. ix, 151p.: il. color. (Contribuições às Ciências da Terra, vol. 09) Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de Minas. Departamento de Geologia. Programa de Pós-Graduação em Evolução Crustal e Recursos Naturais. ISSN 85-230-0108-6 1. Mineralogia. 2 Geoquímica. 3. Água. 4. Pegmatitos. 5. Microtermometria. I. Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de Minas. Departamento de Geologia. II. Título CDU: 550.4:504 http://www.sisbin.ufop.br vi DEDICATÓRIA Aos meus pais Maria das Mercês Teixeira de Carvalho e Antônio Euzébio de Carvalho. Aos meus irmãos Andréa, César e Rafael. Ao meu companheiro de todas as horas José Newman. vii viii Agradecimentos Desejo aqui expressar os meus mais sinceros agradecimentos, à todos que direta ou indiretamente contribuíram para a conclusão deste trabalho. Agradeço: A Deus. Ao Departamento de Geologia, da Escola de Minas, da Universidade Federal de Ouro Preto, pela oportunidade da realização de minha especialização acadêmica, pela disponibilização de seu espaço físico e de seus laboratórios, juntamente com a CAPES, órgão financiador de minha bolsa de estudos. À Universidade Federal de Minas Gerais pelo financiamento dos custos e por minha inclusão nesse projeto. Ao Departamento de Química, do Instituto de Ciências Exatas e Biológicas, da Universidade Federal de Ouro Preto. Ao Centro de Pesquisa Manoel Teixeira da Costa, ao Centro de Conservação e Restauração da Escola de Belas Artes, ao Departamento de Física, do Instituto de Ciências Exatas e o Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear – BH, entidades das quais, sem o apoio não seria possível realizar as etapas apresentadas neste trabalho. Agradecimentos especiais devem ser feitos ao Professor orientador Dr. Antonio Luciano Gandini, pela incansável contribuição e ajuda, além das inúmeras discussões realizadas durante a execução deste projeto. À co-orientadora Dra Rosa Maria da Silveira Bello (IGc-USP), pela disponibilização do espaço físico e dos materiais do laboratório de inclusões fluidas, pelas inúmeras discussões, sugestões e pela ajuda na obtenção e tratamento dos dados microtermométricos. À Professora co-orientadora Dra Maria Lourdes Souza Fernandes (IGC-UFMG) pelo acompanhamento de campo e discussões durante a realização dessa dissertação. Presto, também, meus agradecimentos à Professora Dra Vitória Régia P. R. Marciano, pelo acompanhamento de campo, pelo apoio e colaboração prestada na confecção de artigos científicos. Ao Professor MSc Gabriel de Oliveira Polli, pelas inúmeras discussões acerca da mineralogia e geoquímica do berilo, além do apoio no preparo das amostras serradas. Ao Professor César Mendonça pela ajuda na confecção das pastilhas utilizadas nas análises por microssonda eletrônica e à Fundação GORCEIX, pela disponibilização do espaço físico e material necessário para a confecção das mesmas. Ao Professor Dr. Júlio César Mendes, pelo apoio e sugestões. Ao Professor Dr. Issamu Endo e ao Geólogo Miguel Martins de Souza, pela ajuda na obtenção das imagens digitais das amostras de berilo. Aos companheiros de sala pela ajuda com os programas de informática, pelas discussões e pelo apoio durante o período de finalização da dissertação. ix Aos responsáveis pelo laboratório de Inclusões fluidas do CDTN, representados pelo Prof Dr. Kazuo Fuzikawa, pela disponibilização do espaço físico e materiais, durante a execução das medidas microtermométricas. Ao professor Dr. Geraldo Magela da Costa do Departamento de Química, da Universidade Federal de Ouro Preto, pela ajuda na realização das análises térmicas e por difração de raios X. Ao Professor Dr. Luiz Antonio Cruz e Souza do CECOR / EBA / UFMG e a funcionária Selma Martins pela ajuda na obtenção dos espectros de absorção no infravermelho. Ao Engenheiro Metalúrgico William Tito Soares, ICEx / IF / UFMG, pela ajuda nas análises por microssonda eletrônica A todos os funcionários, professores e técnicos administrativos do DEGEO / EM / UFOP, sem a ajuda dos quais a realização deste trabalho não seria possível. Aos companheiros do curso de pós-graduação, em especial aos amigos de sempre: Cristina Maria Martins, Ronal Rafael Parra, Ariana Cristina, Danielly Figueiredo, Miguel Martins de Souza. Agradeço, em especial, a José Newman, pelo apoio, incentivo, ajuda no tratamento estatístico dos dados, e pelo carinho de sempre. A todos MUITO OBRIGADA!!!! x Sumário AGRADECIMENTOS ........................................................................................................... ix LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................... xv LISTA DE PRANCHAS ..................................................................................................... xvii LISTA DE QUADROS ........................................................................................................ xix LISTA DE TABELAS.......................................................................................................... xxi RESUMO ........................................................................................................................... xxiii ABSTRACT ........................................................................................................................ xxv CAPÍTULO 1. CONSIDERAÇÕES GERAIS ..................................................................... 01 1.1. Objetivos.......................................................................................................................... 02 1.2. Localização ...................................................................................................................... 02 1.3. Clima, Fisiografia e Geomorfologia .................................................................................. 05 1.4. Organização da Dissertação .............................................................................................. 07 CAPÍTULO 2. METODOLOGIA E ESTRATÉGIAS DE AÇÃO ...................................... 09 2.1. Etapa de Campo ............................................................................................................... 09 2.2. Etapa de Escritório e Análises Teóricas ............................................................................ 10 2.3. Etapa de Análises Laboratoriais ........................................................................................ 10 2.3.1. Preparação e Seleção de Amostras ....................................................................... 12 2.3.2. Medida da Densidade Relativa ............................................................................. 13 2.3.3. Análises Ópticas .................................................................................................. 13 2.3.4. Caracterização Gemológica ................................................................................. 14 2.3.5. Difratometria de raios X ...................................................................................... 14 2.3.6. Microssonda Eletrônica ....................................................................................... 15 2.3.7. Espectroscopia de Absorção no Infravermelho ..................................................... 16 2.3.8. Análises Petrográficas e Microtermométricas de Inclusões Fluidas....................... 17 2.3.9. Análises Termogravimétricas ............................................................................... 19 2.3.10. Análises Termodiferenciais ................................................................................ 20 CAPÍTULO 3. CONTEXTO GEOLÓGICO ....................................................................... 21 3.1. A Província Pegmatítica Oriental do Brasil ....................................................................... 21 3.1.1. Os Pegmatitos ..................................................................................................... 26 3.1.2. Distrito Pegmatítico de Governador Valadares ..................................................... 33 3.2. Campo Pegmatítico de Marilac-Golconda ......................................................................... 33 3.2.1. Os Pegmatitos do Campo Pegmatítico de Marilac ................................................ 33 3.2.1.1. Mineralogia e Classificação do Pegmatito Ipê ......................................... 34 xi 3.2.1.2. Mineralogia e Classificação do Pegmatito Ferreirinha I e II ..................... 35 3.2.1.3. Mineralogia e Classificação do Pegmatito Jonas Lima I e II .................... 36 3.2.1.4. Mineralogia e Classificação do Pegmatito Escondido .............................. 37 3.2.2. Estratigrafia ......................................................................................................... 40 3.2.2.1. Faixa Cratônica – Núcleo Antigo de Guanhães ........................................ 40 3.2.2.2. Faixa Móvel – Domínio Ocidental .......................................................... 44 3.2.2.3. Granitos Sin- a Tardi-tectônicos .............................................................. 45 3.2.2.4. Rochas Intrusivas de Idade Indeterminada ............................................... 45 3.2.2.5. Terraços Aluvionares .............................................................................. 46 3.2.2.6. Aluviões ................................................................................................. 46 3.3. Contexto Geotectônico Regional ...................................................................................... 46 CAPÍTULO 4. BERILO: CONSIDERAÇÕES GERAIS .................................................... 49 4.1. O Berilo na História do Brasil .......................................................................................... 50 4.2. Cristalografia ................................................................................................................... 52 4.3. Propriedades Cristaloquímicas .......................................................................................... 52 4.4. Propriedades Físicas ......................................................................................................... 59 4.5.Aplicação Industrial do Berilo ........................................................................................... 61 4.5.1. O Berílio ............................................................................................................. 61 CAPÍTULO 5. OS BERILOS DO CAMPO PEGMATÍTICO DE MARILAC ............... 63 5.1. Morfologia dos Cristais .................................................................................................... 65 5.2. Parâmetros de Cela Unitária ............................................................................................. 66 5.3. Propriedades Físicas ......................................................................................................... 68 5.3.1. Cor e Pleocroísmo ............................................................................................... 69 5.3.2. Densidade, Índice de Refração, Birrefringência e Caráter Óptico ......................... 70 5.4. Espectroscopia de Absorção no Infravermelho por Transformada de Fourier .................... 70 5.5. Microssonda Eletrônica .................................................................................................... 80 5.6. Análises Termogravimétricas e Termodiferenciais ............................................................ 83 5.7. Caracterização Gemológica do Berilo ............................................................................... 87 CAPÍTULO 6. PETROGRAFIA E INCLUSÕES FLUIDAS DOS BERILOS DO CAMPO PEGMATÍTICO DE MARILAC ................................................................ 91 6.1. Estudos Petrográficos de Inclusões Fluidas: Morfologia, Distribuição e Modos de Ocorrência ........................................................................................................... 94 6.1.1. Pegmatito Ipê ...................................................................................................... 95 6.1.2. Pegmatito Ferreirinha .......................................................................................... 98 6.1.3. Pegmatito Jonas Lima .......................................................................................... 98 6.1.4. Pegmatito Escondido ........................................................................................... 99 xii 6.2. Análises Microtermométricas ......................................................................................... 104 6.2.1. Pegmatito Ipê .................................................................................................... 104 6.2.2. Pegmatito Ferreirinha ........................................................................................ 110 6.2.3. Pegmatito Jonas Lima ........................................................................................ 122 6.2.4. Pegmatito Escondido ......................................................................................... 127 6.3. Condições Mínimas de Temperaturas e Pressões de Aprisionamento das Inclusões ......... 134 6.4. Caracterização do Fluido Mineralizante .......................................................................... 135 CAPÍTULO 7. DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................... 141 CAPÍTULO 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 143 BANCA EXAMINADORA (Ficha de Aprovação) .................................................................. i xiii xiv Lista de Figuras Figura 1.1. Mapa de localização da Província Pegmatítica Oriental do Brasil...........................................03 Figura 1.2. Mapa de localização da área de estudo, mostrando as principais vias de acesso......................04 Figura 3.1. Distribuição dos Pegmatitos portadores de berilo no estado de Minas Gerais.........................22 Figura 3.2. Mapa Geológico da Província Pegmatítica Oriental do Brasil..................................................23 Figura 3.3. Distribuição dos Distritos Pegmatíticos na Província Pegmatítica Oriental do Brasil..............27 Figura 3.4. Representação simplificada da estruturação de pegmatitos simples e complexos zonados......29 Figura 3.5. Bloco-diagrama representando a estruturação interna básica dos corpos pegmatíticos zonados e a relação entre as zonas............................................................................................................30 Figura 3.6. Mapa Geológico da área de estudo............................................................................................41 Figura 3.7. Mapa do arcabouço geotectônico do Cráton de São Francisco e da Província Pegmatítica Oriental do Brasil........................................................................................................................47 Figura 4.1. Projeção da face basal (0001) do berilo e projeção correspondente à face do prisma 1 a ordem{0001}, com eixo c vertical, exemplificando a estrutura do berilo e mostrando a distribuição de alumínio, sílica e BeO 4.......................................................................................54 Figura 4.2. Modelo do sistema cristalográfico do berilo, mostrando o posicionamento dos eixos cristalográficos e as relações angulares entre eles......................................................................55 Figura 4.3. Esquema mostrando a presença de moléculas de água do tipo I e II na estrutura do berilo...........................................................................................................................................57 Figura 4.4. Esquema exemplificando a estrutura do berilo e mostrando a distribuição do elemento alumínio, e dos tetraedros SiO 4 e BeO4. a) projeção da face basal (0001); b) projeção correspondente à face do prisma de primeira ordem ( 1 000), com eixo c vertical.......................................................................................................................................58 Figura 5.1. Diagrama co/ao x n° de amostras, mostrando uma tendência indicativa de correlação positiva entre esses parâmetros, sugestiva de um trend de diferenciação magmática..................................................................................................................................68 Figura 5.2. Espectros de FTIR referentes a 13 cristais de berilo provenientes dos Pegmatitos Ipê, destacando as bandas de absorção dos componentes fluidos contidos no hospedeiro..................................................................................................................................75 Figura 5.3. Espectros de FTIR referentes a 7 cristais de berilo provenientes dos Pegmatitos Ferreirinha I e II, destacando as bandas de absorção dos componentes fluidos contidos no hospedeiro..................................................................................................................................76 Figura 5.4. Espectros de FTIR referentes a 9 cristais de berilo provenientes dos Pegmatitos Jonas Lima I e II, destacando as bandas de absorção dos componentes fluidos contidos no hospedeiro...................................................................................................................................77 xv Figura 5.5. Espectros de FTIR referentes a 13 cristais de berilo provenientes dos Pegmatitos Escondido, destacando as bandas de absorção dos componentes fluidos contidos no hospedeiro...................................................................................................................................78 Figura 5.6. Distribuição dos berilos em relação às bandas das ligações Si-O-Si (1.200cm-1)..................29 Figura 5.7. Distribuição dos berilos em relação às bandas das ligações Be-O (800cm-1).........................79 Figura 6.1. Diagrama das Te variando segundo o número de grupo de inclusões analisadas, mostrando a evolução do fluido mineralizante..............................................................................................137 Figura 6.2. Diagrama das Te variando segundo as medidas das temperaturas de fusão do gelo, mostrando a evolução do fluido mineralizante...........................................................................................138 Figura 6.3. Diagrama das Th variando segundo as medidas de salinidade obtidas das medidas microtermométricas, mostrando a ampla variação nos valores para amostras pertencentes a um mesmo pegmatito...................................................................................................................................139 xvi Lista de Pranchas Prancha 3.1 - Fotografias respresentando os três corpos pegmatíticos estudados neste trabalho...............39 Prancha 6.1. Fotomicrografias das principais feições encontradas nos berilos dos pegmatitos Ipê, Ferreirinha e II, Jonas Lima I e II e Escondido. Foram utilizados (objetiva: 10x e ocular: 20x) e as inclusões possuem dimensões variando de 15 a 50μm.....................................................96 Prancha 6.2. Fotomicrografias das principais feições encontradas nos berilos do Pegmatito Ipê, foram utilizados (objetiva: 10x e ocular: 25x) e as dimensões médias das inclusões variam de 20 a 60μm......................................................................................................................................100 Prancha 6.3. Fotomicrografias das principais feições encontradas nos berilos do Pegmatito Ferreirinha I e II, foram utilizados (objetiva: 10x e ocular: 20x) e as dimensões médias das inclusões variam de 10 a 50μm..........................................................................................................................101 Prancha 6.4. Fotomicrografias das principais feições encontradas nos berilos do Pegmatito Jonas Lima I e II, foram utilizados (objetiva: 10x e ocular: 20x) e as dimensões médias das inclusões variam de 20 a 65μm..........................................................................................................................102 Prancha 6.5. Fotomicrografias das principais feições encontradas nos berilos do Pegmatito Escondido, foram utilizados (objetiva: 10x e ocular: 25x) e as dimensões médias das inclusões variam de 10 a 60μm...............................................................................................................................103 xvii xviii Lista de Quadros Quadro 1.1. Fotografias das duas principais feições morfológicas presentes na área de estudo.................07 Quadro 4.1. Propriedades cristaloquímicas do berilo..................................................................................53 Quadro 4.2. Relações entre a fórmula geral do berilo, sua estrutura e a presença de impurezas sob a forma de álcalis.....................................................................................................................................56 Quadro 4.3. Relação entre os íons de metais de transição, a cor do berilo e a designação de sua variedade gemológica..................................................................................................................................59 Quadro 4.4. Reserva e Produção Mundial de Berílio..................................................................................62 Quadro 5.1. Fotografias de alguns cristais amostrados para este trabalho..................................................69 Quadro 5.2 – Diagramas d x nω e d x nε mostrando uma tendência sugestiva de uma correlação positiva........................................................................................................................................72 Quadro 5.3. Diagramas mostrando a distribuição de Na 2O e CsO, nos 42 cristais analisados...................82 Quadro 5.4. Curvas de ATG, mostrando as perdas de massa do berilo para o pegmatito Ipê e seu comportamento endotérmico............................................,.........................................................84 Quadro 5.5. Curvas de ATG, mostrando as perdas de massa do berilo para o pegmatito Ferreirinha I e II e seu comportamento endotérmico................................................................................................85 Quadro 5.6. Curvas de ATG, mostrando as perdas de massa do berilo para o pegmatito Jonas Lima I e II e seu comportamento endotérmico................................................................................................86 Quadro 5.7. Curvas de ATG, mostrando as perdas de massa do berilo para o pegmatito Escondido e seu comportamento endotérmico......................................................................................................87 Quadro 5.8. Amostras das variedades gemológicas do berilo do Campo Pegmatítico de Marilac.............89 Quadro 6.1. Histogramas representativos das Te, Tge, Tcl e Thtot para a amostra 5541a (A) do Pegmatito Ipê.............................................................................................................................................107 Quadro 6.1. Histogramas representativos das Te, Tge, Tcl e Thtot para a amostra 5541a (B) do Pegmatito Ipê.............................................................................................................................................108 Quadro 6.3. Histogramas representativos das Te, Tge, Tcl e Thtot para a amostra 5540/Am77 do Pegmatito Ipê............................................................................................................................109 Quadro 6.4. Histogramas representativos das Te, Tge, Tcl e Thtot para a amostra FERI D1(B) do Pegmatito Ferreirinha I.............................................................................................................115 Quadro 6.5. Histogramas representativos das Te, Tge, Tcl e Thtot para a amostra FERI D1(A) do Pegmatito Ferreirinha I.............................................................................................................116 Quadro 6.6. Histogramas representativos das Te, Tge, Tcl e Thtot para a amostra FERI D2 do Pegmatito Ferreirinha I..............................................................................................................................117 xix Quadro 6.7. Histogramas representativos das Te, Tge, Tcl e Thtot para a amostra FERII D2 do Pegmatito Ferreirinha II.............................................................................................................................118 Quadro 6.8. Histogramas representativos das Te, Tge, Tcl e Thtot para a amostra FERII D3 (A) do Pegmatito Ferreirinha II............................................................................................................119 Quadro 6.9. Histogramas representativos das Te, Tge, Tcl e Thtot para a amostra FERII D3 (B) do Pegmatito Ferreirinha II............................................................................................................120 Quadro 6.10. Histogramas representativos das Te, Tge, Tcl e Thtot para a amostra FERII D3 (C) do Pegmatito Ferreirinha II............................................................................................................121 Quadro 6.11. Histogramas representativos das Te, Tge, Tcl e Thtot para a amostra JNLI D1 (A e B) do Pegmatito Jonas Lima I.............................................................................................................124 Quadro 6.12. Histogramas representativos das Te, Tge, Tcl e Thtot para a amostra JNLII D2 (A e B) do Pegmatito Jonas Lima II...........................................................................................................125 Quadro 6.13. Histogramas representativos das Te, Tge, TfCO2 Tcl, ThCO2 e Thtot para a amostra JNLII (MORG) do Pegmatito Jonas Lima II.......................................................................................126 Quadro 6.14. Histogramas representativos das Te, Tge, Tcl e Thtot para as amostras 5731(VL), 5676 e 5731x (B) do Pegmatito Escondido..........................................................................................130 Quadro 6.15. Histogramas representativos das Te, Tge, Tcl e Thtot para as amostras 5731a (g) do Pegmatito Escondido................................................................................................................131 Quadro 6.16. Histogramas representativos das Te, Tge, ThCO2Tcl, TfCO2 e Thtot para as amostras 5731a (Y) M e G do Pegmatito Escondido..........................................................................................132 Quadro 6.17. Histogramas representativos das Te, Tge, ThCO2, Tcl, TfCO2 e Thtot para as amostras 5731a (AC) do Pegmatito Escondido..................................................................................................133 xx Lista de Tabelas Tabela 2.1. Dados referentes à coleta de amostras......................................................................................10 Tabela 2.2. Métodos analíticos utilizados no estudo do berilo, listados segundo suas caracterísitcas principais e laboratórios executores...........................................................................................11 Tabela 3.1. Unidades Litoestratigráficas componentes do Arcabouço Geológico da Província Pegmatítica Oriental do Brasil.......................................................................................................................24 Tabela 3.2. Relação entre as datações realizadas nos pegmatitos do estado de Minas Gerais e os diversos autores que os estudaram............................................................................................................25 Tabela 3.3. Várias definições do termo pegmatito de acordo com diversos autores...................................28 Tabela 3.4. Dados comparativos da sistemática das formações pegmatíticas da Província Pegmatítica Oriental do Brasil........................................................................................................................32 Tabela 3.5. Algumas descrições acerca dos pegmatitos alvo de estudo, do Campo Pegmtítico de Marilac........................................................................................................................................38 Tabela 3.6. Estratigrafia da região referente á Folha de Marilac, mostrando a distribuição das principais litologias.................................................................................................................................... 42 Tabela 3.7. Diagramas QAP mostrando a distribuição das rochas pertencentes às unidades 1 e 2 do Complexo Basal (a e b), Maciço Granítico de Açucena (c), do Antigo Núcleo Guanhães; do Complexo Mantiqueira (d), Granito Baixa do Bugre (e), da Faixa Móvel Ocidental................43 Tabela 4.1. Principais fatos envolvendo a exploração de gemas no Brasil, ao longo da história do país, destacando-se a procura por variedades do berilo......................................................................51 Tabela 5.1. Classificação dos tipos de berilo segundo as concentrações de álcalis em sua estrutura.........64 Tabela 5.2. Classificação dos tipos de berilo segundo as concentrações de álcalis em sua estrutura.........65 Tabela 5.3. Classificação dos tipos de berilo segundo as concentrações de álcalis.....................................65 Tabela 5.4. Dados dos parâmetros de cela unitária e da relação c o/ao das amostras de berilo analisadas provenientes dos 4 pegmatitos estudados. ............................................................................... 67 Tabela 5.5. Propriedades físicas dos berilos do Campo Pegmatítico de Marilac........................................71 Tabela 5.6. Dados referentes às análises por FTIR de 42 cristais de berilo do Campo Pegmatítico de Marilac........................................................................................................................................74 Tabela 5.5. Dados químicos de 42 cristais de berilo, obtidos por microssonda eletrônica. ............... 81 Tabela 5.8. Dados gemológicos de 12 cristais de berilo do Campo Pegmatítico De Marilac. .................. 88 Tabela 6.1. Dados sobre as características gerais das inclusões fluidas......................................................92 xxi Tabela 6.2. Temperaturas a serem registradas nos estudos microtermométricos e suas descrições gerais...........................................................................................................................................93 Tabela 6.3. Dados microtermométricos obtidos do estudo das inclusões fluidas (IF) dos berilos do Pegmatito Ipê............................................................................................................................105 Tabela 6.4. Parâmetros calculados a partir dos resultados obtidos do estudo das inclusões fluidas dos berilos do Pegmatito Ipê...........................................................................................................106 Tabela 6.5. Dados microtermométricos obtidos do estudo das inclusões fluidas dos berilos do Pegmatito Ferreirinha I e II........................................................................................................................110 Tabela 6.6. Parâmetros calculados a partir dos resultados obtidos do estudo das inclusões fluidas dos berilos do Pegmatito Ipê...........................................................................................................111 Tabela 6.7. Dados microtermométricos obtidos do estudo das inclusões fluidas dos berilos do Pegmatito Jonas Lima I e II.......................................................................................................................122 Tabela 6.8. Parâmetros calculados a partir dos resultados obtidos do estudo das inclusões fluidas dos berilos do Pegmatito Jonas Lima I e II.....................................................................................122 Tabela 6.9. Dados microtermométricos obtidos do estudo das inclusões fluidas dos berilos do Pegmatito Escondido.................................................................................................................................127 Tabela 6.10. Parâmetros calculados a partir dos resultados obtidos do estudo das inclusões fluidas dos berilos do Pegmatito Escondido...............................................................................................127 Tabela 6.11. Dados de pressão e temperatura mínimas de formação dos cristais de berilo provenientes das 4 lavras pegmatíticas.................................................................................................................134 Tabela 6.12. Valores das Te, salinidade, ThCO2 e Tge, para os grupos de inclusões descritos nos estudos microtermométricos..................................................................................................................136 xxii Resumo Dentre os bens minerais originários do estado de Minas Gerais, ressaltam-se as variedades gemológicas do berilo. São encontradas esmeraldas, as mais imponentes águas-marinhas, morganitas, heliodoros e goshenitas. Os berilos procedentes dos pegmatitos de Minas Gerais, vêm sendo alvo de estudo por parte de diversos pesquisadores, sendo que a maior parte desses trabalhos dedicam-se à caracterização mineralógica e cristaloquímica dos mesmos, além de descrições de novas ocorrências. Geralmente essas estão associadas à pegmatitos graníticos, cuja mineralogia básica se assemelha à de um granito, podendo ainda serem encontrados em depósitos secundários. Esta dissertação trata das características físico-químicas e do caráter genético de 42 amostras de berilo provenientes dos pegmatitos Ipê, Ferreirinha, Jonas Lima e Escondido, situados no Campo Pegamatítico de Marilac, Distrito Pegmatítico de Governador Valadares, Minas Gerais, que encontram-se encaixados nos micaxistos da Formação São Tomé, Grupo Rio Doce. Por meio da razão co/ao, obtidas por difração de raios X, foi possível caracterizar uma evolução politípica para os berilos que vai desde o normal (N), passando pelo de transição (NT) até o tetraédrico (T). Os dados de Espectroscopia de Absorção no Infravermelho por Transformada de Fourier (FTIR) permitiram a caracterização dos componentes fluidos, CO2, CH4 e H2O tipos I e II. Análises Termodiferenciais e Termogravimétricas indicaram três (Jonas Lima e Escondido) ou dois (Ipê and Ferreirinha) intervalos distintos de perda de massa (H 2O e CO2 álcalis), que variaram de 0,5 a 3,0%. Os dados de densidade variaram de 2,68 a 2,72 e os índices de refração variaram, nω de 1,574 a 1,585 e nε de 1,580 a 1,591. Os cristais de berilo contêm um grande número de inclusões fluídas monofásicas, bifásicas, trifásicas ou polifásicas, de origem primária, pseudo-secundária e/ou secundária, compostas basicamente por soluções aquosas e aquo-carbônicas. Os teores de CO2 presentes nessas inclusões variam de acordo com o posicionamento da amostra no corpo. Por meio da análise dos resultados das temperaturas do eutético, pode-se verificar uma tendência evolutiva do fluido mineralizante formador dos quatro corpos pegmatitos(Ipê, Ferreirinha, Jonas Lima e Escondido). Há uma variação dos componentes do sistema aquoso tanto dentro dos corpos pegmatíticos quanto entre as 4 lavras. A análise das temperaturas do eutético, das inclusões fluidas, sugere uma evolução a partir de um sistema aquoso de baixa salinidade, xxiii contendo Na+, K+, com possíveis quantidades de Fe2+ e Fe3+, caso do Ipê, para soluções mais ricas em Ca2+, Al3+, caso do Ferreirinha, passando por um sistema enriquecido em Zn+, Al3+ e Li+, caso do Jonas Lima e culminando no Escondido que apresenta um sistema aquoso, de salinidade média, rico em Li +, Zn+, K+, Na+, Ca2+, contendo quantidades subordinadas de boro e ferro. Tais dados representam uma evolução geoquímica que vai dos pegmatitos menos diferenciados (Ipê/Ferreirinha) em direção aos de maior grau de diferenciação, contendo maiores teores de CO2 e álcalis (Jonas Lima/Escondido). xxiv Abstract Among the producer states, the Minas Gerais State stands out, and has great part of its territory inside of the Província Pegmatítica Oriental do Brasil. Among the mineral goods native to Minas Gerais, the gemologic variety of beryl stands out. Emerald are found, the most imposing aquamarines, morganites, heliodores, goshenites. The beryl from Minas Gerais’s pegmatites have been studied for several reseachers, and most of this works are dedicated to mineral and crystal-chemistry characterization, besides the description of new occurences. These are generally associated to granitic pegmatites, which basic mineralogy is similar to a granite one, and yet they can be found in secoundary deposits. The Ipê, Ferreirinha, Jonas Lima and Escondido Pegmatites are situated in the Governador Valadares Pegmatitic District, Minas Gerais State, and belongs to the Marilac Pegmatitic Field, hosted in the Rio Doce Group. This work shows the physicochemical and genetical characteristics of 42 beryl samples from these pegmatites. The beryl type evolution from normal (N), to transitional (NT), and tetrahedral (T) was obtained from co/ao ratio determined from X-ray diffraction. Fourier Transform Infrared Spectroscopy data permited the characterization of the fluid components, as CO2, CH4 and H2O types I and II. The mass loss variation (H2O and CO2 alkaline elements) from 0,5 to 3,0%, showed by the Termogravimetric and Termodiferential Analyses analysis, was indicated by three (Jonas Lima and Escondido) or two (Ipê and Ferreirinha) distinct ranges. The density (2,68 as 2,72) and the refractive index data (nω from 1,574 to 1,585 and nε from 1,580 to 1,591). The beryl crystals contain a great number of two, three or multiphase fluid inclusions, primary, pseudosecondary and/or secondary in origin, with aqueous or aqueous carbonic solutions. The analysis of the temperatures of the eutectic, of the fluid inclusions, seems to suggest an evolution from a watery system of low salinity, contends Na +, K+, with possible amounts of Fe2+ and Fe2+ , case of the Ipê, for richer solutions in Ca 2+, Al2+, case of the Ferreirinha, passing for a system enriched in Zn+, Al3+ and Li+, case of the Jonas Lima and culminating in the Escondido one that it presents a watery system, of average salinity, rich in Li+, Zn+, K+, Na+, Ca2+, contend subordinated amounts of boron and iron. The last ones show different CO2 contents depending on the sample localization. The data represent a geochemical evolution from the less (Ipê/Ferreirinha) to the more differentiated (Jonas Lima/Escondido) alkaline elements and CO2 enriched pegmatite bodies. xxv CAPÍTULO 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS As primeiras informações sobre a utilização das “pedras preciosas” foram obtidas a partir das viagens de Alexandre Magno, entre 338a.C. e 323a.C, pelo Antigo Oriente Médio. Junto a essas informações vieram as primeiras referências às lendas envolvendo as gemas em geral (Ori 1980). O estado de Minas Gerais sempre se destacou como pólo produtor de gemas coradas no Brasil e no mundo. Compreende uma vasta quantidade de pegmatitos que fazem parte da Província Pegmatítica Oriental do Brasil (Paiva 1946). Das gemas originárias do território "mineiro", destacam-se as variedades gemológicas do berilo, que formam um dos mais importantes grupos da classe dos silicatos, o grupo do berilo. Pertencente a esse grupo, deve ser mencionada a água-marinha, conhecida em todo o mundo como a pedra brasileira. A região do Vale do Rio Doce, em especial os distritos de Marilac e Golconda, destaca-se pela presença de pegmatitos, que contêm variedades gemológicas de berilo e turmalinas, sendo conhecidos como grandes produtores de minerais industriais, como berilo, feldspato, mica, etc. (Pinto et al. 2002). Os estudos apresentados nesta dissertação, referem-se à quatro corpos pegmatíticos da área de Governador Valadares. Tais estudos são extremamente importantes no que se refere à caracterização gemológica do berilo dessa região, uma vez que nela são descritas ocorrências de algumas variedades gemológicas deste mineral. São elas: água-marinha, morganita e goshenita (Wegner 1983, Marciano 1985, Santos 1985, Achtschin et al. 1996, Banko 1997, Gandini 1999, Bello et al. 2000). As investigações efetuadas anteriormente nesta região trataram, principalmente, aspectos geoquímicos de diversos pegmatitos, entre eles o do Ipê, Ferreirinha, Jonas Lima e Escondido, pertencentes ao Campo Pegmatítico de Marilac (Wegner 1983, Marciano 1985, Santos 1985, Marciano 1995, Achtschin et al. 1996, Banko 1997, Gandini 1999, Ribeiro 2002). Deve-se ressaltar que a explotação do Pegmatito Ferreirinha é realizada em três cavas (galerias) denominadas respectivamente I, II e III. Para o presente estudo, a galeria III não foi amostrada uma vez que, nas duas etapas de campo, a galeria se encontrava com a entrada obstruída. Já o Pegmatito Jonas Lima é explotado em duas cavas (galerias), sendo denominadas, respectivamente I e II. De Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... Neste trabalho buscou-se realizar análises cristaloquímicas, microtermométricas, gemológicas e a complementação das análises químicas já existentes para os quatro corpos pegmatíticos acima citados. 1.1 – OBJETIVOS Constituiu objetivo principal deste trabalho, o estudo das inclusões fluidas presentes em cristais de quatro corpos pegmatíticos: Ipê, Ferreirinha, Jonas Lima e Escondido, visando a determinação das condições mínimas de temperatura e pressão de cristalização do berilo e a caracterização físico-química das soluções envolvidas durante sua formação, de forma a aglomerar dados que possam auxiliar na interpretação genética desses corpos. Como objetivo complementar tem-se a caracterização gemológica, mineralógica e a complementação dos dados químicos referentes aos quatro corpos pegmatíticos, visando comparar esses resultados com os já disponíveis na literatura, de maneira a auxiliar na interpretação genética destes pegmatitos. 1.2 – LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO E VIAS DE ACESSO A área alvo deste estudo insere-se nos domínios da Província Pegmatítica Oriental do Brasil, situada na parte oriental de Minas Gerais (Paiva 1946), que abrange uma superfície de aproximadamente 75.000km2 da região leste do estado de Minas Gerais (Figura 1.1). A região de Marilac compreende uma superfície de 3.000km2 da região leste do estado de Minas Gerais, correspondente à Folha de Marilac do Projeto Leste (Ribeiro 2002; Figura 1.2). A referida região está delimitada a sul pelo paralelo 19°S, a norte pelo paralelo 18°30’N e pelos meridianos 42°30’ e 42°, a leste atinge o município de Governador Valadares e a oeste o município de Guanhães. Trata-se de uma região clássica em ocorrências de bens minerais, destacando-se água-marinha, morganita e goshenita; além de quartzo, feldspato, mica e berilo industriais (Pinto et al. 2002). As principais vias de acesso ao município de Governador Valadares, partindo do distrito de Ouro Preto, são a BR-040 que liga Ouro Preto a Belo Horizonte BR-381 que liga Belo Horizonte a Governador Valadares. O acesso à área de estudo se dá principalmente pela MG-314 que liga Governador Valadares a Coroaci, por estradas vicinais e pequenas trilhas. Margeando a BR-381 e o Rio Doce, destaca-se a ferrovia EFVM, em seu trecho localizado à 6km de Governador Valadares e 10 km da localidade de Pedra Corrida (Figura 1.2). 2 Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 09...151 p. O acesso à área complementa-se pela BR-262 que liga Belo Horizonte a Vitória e pela BR-116 que liga os estados do Rio de Janeiro e Bahia (Ribeiro 2002). BA Brumado Vitória da Conquista Área de Estudo Província Pegmatítica Oriental do Brasil Itambé Teófilo Otoni Golconda Governador Valadares Belo Horizonte ES ântico Sabinópolis Atl Colatina Ouro Preto ce an o Vitória Juiz de Fora SP O RJ Rio de Janeiro Figura 1.1 - Mapa de localização da Província Pegmatítica Oriental do Brasil, reunindo os limites propostos por Paiva 1946, Putzer 1976 e Schobbenhaus et al. 1981 e 1984. 3 De Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... Figura 1.2 - Mapa de localização da área de estudo, mostrando as principais vias de acesso (simplificado de Gandini 1999). 4 Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 09...151 p. 1.3 - CLIMA, FISIOGRAFIA E GEOMORFOLOGIA A área de estudo está inserida na zona tropical quente e úmida que se submete a forte radiação solar. A precipitação atinge o máximo no trimestre de novembro, dezembro e janeiro, no período do verão, quando a temperatura máxima é de aproximadamente 35°C. A duração do período seco compreende de 4 a 5 meses, geralmente durante o inverno, apresentando temperaturas mínimas de 14°C. A precipitação anual média é de aproximadamente 1.250 mm a 1.500 mm (Ribeiro 2002). Essa média anual sofre acréscimos, sobretudo, quando a região é atingida por frentes frias e outro fenômenos de ascendência dinâmica (Pinto et al. 2002). Segundo Santos et al. (1987), o tipo de solo dominante que recobre a região é o podzólico vermelho-escuro. Trata-se de um solo mineral, não hidromórfico, que apresenta horizonte B textural, geralmente de coloração vermelho-escuro a vermelho e raramente vermelho-amarelado. Tal solo é caracterizado por apresentar textura areno-argilosa, sendo desenvolvido por meio da intemperização dos xistos da Formação São Tomé, em um relevo suave a moderado. É utilizado, basicamente, para pastagens, sendo seu uso na agricultura condicionado ao relevo. Outro tipo de solo que abrange uma área expressiva na região é o latossolo vermelho-amarelado, que apresenta as características gerais deste tipo de solo e se desenvolve no domínio do relevo plano a montanhoso. Também são descritas as ocorrências de solos álicos, distróficos e eutróficos; com horizonte A moderado, proeminente ou fraco, além de textura argilosa, muito argilosa e média. De acordo com Jordy Filho (1987) a cobertura vegetal é representada pela Floresta Tropical Subcaducifólia. No entanto, atividades antrópicas transformaram quase toda a região em pastagens e capoeiranas. Na porção oeste do município de Governador Valadares ocorrem reflorestamentos. A Floresta Tropical Subcaducifólica está relacionada ao clima de duas estações bastante contrastantes, uma chuvosa e uma seca. Desenvolve-se tanto no domínio do solo podzólico vermelhoamarelado quanto do latossolo vermelho-amarelado. Remanescentes desta floresta são observados somente em pequenos sítios, devido à ação antrópica predatória. Dentre as espécies remanescentes destacam-se o cedro, jequitibá, sapucaia, vinhático, jutaí, copaíba e jatobá. 5 De Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... As poucas áreas usadas para cultivo situam-se nos vales e em pequenas depressões onde há uma maior concentração da umidade. A vegetação natural limita-se a pequenos capões de mata e algumas matas ciliares localizadas (Ribeiro 2002). Morfologicamente, a área apresenta duas feições bem distintas: a Unidade Dissecada do Rio Doce e a Superfície Terciária com retrabalhamento no Ciclo Velhas (Jordy Filho 1987). A primeira feição constituí um domínio morfológico que vem sendo retrabalhado pelo ciclo atual da Bacia do Rio Doce. Trata-se de uma área fortemente rebaixada cujas cotas variam entre 150m e 350m, com picos de 450m. Ocorre nas orlas dos principais afluentes do Rio Doce, como por exemplo os rios Itambacuri, Urupuca e Suaçuí Grande (Pinto et al. 2002). De acordo com King (1956) essa feição se formou, provavelmente, no Ciclo Velhas e vem sofrendo um intenso processo de retrabalhamento no ciclo atual. Tratam-se de incisões em forma de saliências e reentrâncias que esses principais afluentes vêm gerando na região. Esse processo está condicionado, intimamente, ao tipo rochoso, ficando mais acentuado no domínio das rochas xistosas sendo atenuado no domínio das rochas graníticas. A segunda feição refere-se a uma área mais elevada, com cotas oscilando entre 650m e 1.100m. Segundo King (1956), constitui uma região que foi amplamente dominada pela superfície Sul-Americana e vem sendo retrabalhada tanto no Ciclo Velhas quanto no Ciclo Atual, guardando um ligeiro aplainamento. Como característica marcante desta unidade, tem-se a presença de drenagens de fundo chato, interflúvios abaulados, aluviões expressivos e alongados. Todas as feições encontradas são reflexo das atividades dos ciclos geomorfológicos sobre os diferentes litotipos, imprimindo-lhes características diferentes, com formas próprias de relevo (Ribeiro 2002). Segundo Pinto et al. (2002), o Núcleo Antigo de Guanhães composto por gnaisses, granitóides, xistos grafitosos e formações ferríferas pobres, apresenta um modelado diferenciado com morros rebaixados, arredondados de flancos desnudos, gerando morfologias do tipo “meia laranja” e “pães-deaçúcar” (Quadro 1.1, Fotografia 1). Já na região onde predominam os micaxistos com quartzitos subordinados, tem-se a ocorrência de uma morfologia arrasada, gerando uma paisagem de mar de morros côncavo-convexos, rebaixados, de relevo dissecado e com vales em forma de U. O quartzito, muitas vezes, sustenta a topografia gerando as cristas alongadas (Quadro 1.1, Fotografia 2). 6 Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 09...151 p. Quadro 1.1 – Fotografias das duas principais feições morfológicas presentes na área de estudo (Pinto et al. 2002). Fotografia 1 – Morfologia típica dos Morros tipo “pães-de-açúcar” do Granito Caladão, no povoado de Canaã (UTM – 267450/8011750). Fotografia 2 – Morfologias de morros rebaixados (tipo U), bastante suavizados, dos granitóides da região de Padre Paraíso, em contraste, ao fundo, com os morros tipo “pão de açúcar” do Granito Caladão (276400/8022500). 7 De Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... 1.4 – ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO Pretende-se com esta descrição, facilitar a leitura do conteúdo da dissertação, bem como descrever a distribuição dos temas aqui abordados. O primeiro capítulo dedica-se às considerações gerais referentes à dissertação, abordando os objetivos principais do estudo, a localização da área com suas principais vias de acesso e os aspectos fisiográficos da área. Na seqüência, é apresentada, no segundo capítulo, uma descrição detalhada da metodologia selecionada para a execução deste trabalho. Abrange uma síntese dos métodos analíticos utilizados para a caracterização física, química e físico-química dos cristais de berilo do Campo Pegmatítico de Marilac, além da descrição da tecnologia utilizada, dos respectivos laboratórios e entidades envolvidas na execução deste projeto. O terceiro capítulo dedica-se à descrição da geologia regional e da área, levando-se em consideração os trabalhos clássicos, presentes na literatura. Também engloba uma descrição das características clássicas dos corpos pegmatíticos, além de informações referentes à Província Pegmatítica Oriental do Brasil, ao distrito Pegmatítico de Governador Valadares, recebendo destaque os Pegmatitos do Campo Pegmatítico de Marilac. O capítulo quatro reúne informações acerca do mineral berilo, abrangendo os aspectos cristaloquímicos. O quinto capítulo trata dos aspectos mineralógicos e geoquímicos dos quatro corpos pegmatíticos, onde são apresentados os dados químicos, físicos e físico-químicos obtidos neste estudo, muitos deles sob a forma de diagramas, gráficos e tabelas. Buscou-se também associar as informações obtidas neste estudo com as pertencentes ao acervo bibliográfico. São apresentadas algumas análises químicas e descrições comparativas, que podem ser visualizadas sob a forma de gráficos e diagramas. No capítulo seis são apresentados os dados referentes aos estudos petrográficos das inclusões fluidas, bem como as propriedades físico-químicas do fluido envolvido durante a cristalização dos cristais de berilo dos pegmatitos do Campo de Marilac e as deduções obtidas a partir dos estudos microtermométricos. A parte das considerações finais é abordada no capítulo sete e as referências bibliográficas se encontram listadas no capítulo oito. 8 CAPÍTULO 2 METODOLOGIA E ESTRATÉGIAS DE AÇÃO Visando alcançar os objetivos pré-estabelecidos, a metodologia adotada no desenvolvimento desta dissertação consistiu em três etapas: a etapa de campo, a etapa de análises laboratoriais e a etapa de escritório. 2.1 – ETAPA DE CAMPO Os trabalhos de campo foram realizados em duas fases. A primeira, executada no início do curso de Pós-Graduação, tendo como finalidade o reconhecimento da área de estudo, a descrição dos quatro corpos pegmatíticos (Ipê, Ferreirinha I e II, Jonas Lima I e II, e Escondido) e a coleta de amostras de cristais de berilo. A coleta de amostras foi realizada no intuito de complementar o acervo já disponível no banco de amostras do Centro de Pesquisa Professor Manoel Teixeira da Costa (CPMTC/IGC/UFMG). Para tanto, foram coletadas um total de 30 amostras, obedecendo a descrição da Tabela 2.1. O acesso ao pegmatito do Escondido foi restrito, devido a conflitos existentes entre os atuais proprietários, comprometendo assim, a coleta de amostras. Logo, realizou-se somente a descrição desse corpo, sendo que todas as amostras descritas neste trabalho foram fornecidas pelo CPMTC/ICG/UFMG, disponibilizando 8 cristais, cujas análises necessitavam complementação. No intuito de reunir um acervo de amostras mais expressivo e de complementar os dados a serem disponibilizados nesta dissertação, utilizou-se um total de 23 amostras pertencentes a esse acervo de amostras, cuja distribuição está discriminada na Tabela 2.1. Para a descrição dos corpos pegmatíticos, utilizou-se como base algumas nomenclaturas, tais como classificação petrográfica, bem como os mapas geológicos, de localização e topográfico referentes à folha de Marilac (SE 23-Z-B-VI), confeccionada na escala 1:100.000, a partir do convênio CPRM/COMIG “Projeto Leste” (Ribeiro 2002). Nesta primeira fase realizou-se a descrição mineralógica dos corpos pegmatíticos, a caracterização de suas diferentes zonas bem como sua relação com a encaixante. De Carvalho, D.T.. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... Tabela 2.1 - Dados referentes à coleta de amostras. Corpo UTM Sigla N° amostras N° amostras CPMTC Coletadas Variedade* Pegmatítico Leste Norte Ipê 805100 7925040 IPE 07 08 agm Ferreirinha I 807356 7926757 FER I 00 04 agm Ferreirinha II 807440 7926624 FER II 00 06 agm Jonas Lima I 806370 7926371 JNL I 01 04 agm Jonas Lima II 805017 7926220 JNL II 03 08 agm, morg Escondido 809365 7929905 ESC 12 ___ agm, morg, gosh * agm: água-marinha, morg: morganita, gosh: goshenita A segunda fase de campo foi executada no final do curso, tendo como finalidade a elucidação de dúvidas e a verificação de alguns dados obtidos neste estudo, além de complementar a documentação da área, por meio de fotografias. 2.2 – ETAPA DE ESCRITÓRIO E ANÁLISES TEÓRICAS A etapa de escritório foi realizada durante os 24 meses de duração do curso. Consistiu, basicamente, de uma pesquisa bibliográfica que objetivou reunir dados já descritos na literatura, referentes à área de estudo, que serviram de base para as discussões comparativas presentes na dissertação. Ademais, visou contribuir com dados gerais e básicos dos temas aqui abordados e dos alvos de estudo (minerais, rochas, etc.). Também fizeram parte desta etapa a elaboração de textos científicos, artigos e a confecção do texto da dissertação, bem como o tratamento dos dados disponibilizados nas outras etapas. 2.3 – ETAPA DE ANÁLISES LABORATORIAIS Foram empregadas diversas metodologias analíticas no estudo das amostras dos pegmatitos selecionados, visando a caracterização físico-química dos cristais de berilo da região de Marilac. Estes métodos encontram-se listados segundo suas características principais na Tabela 2.2. 10 Contribuições ás Ciências da Terra Série M, vol. 09...151 p. Tabela 2.2 – Métodos analíticos utilizados no estudo do berilo, listados segundo suas características principais e laboratórios executores. Método Analítico Análises Químicas Espectroscopia de Absorção no Infravermelho por Transformada de Fourier (FTIR) Princípio Laboratório ♦ Identificar fluídos; a natureza dos ♦ Identificar álcalis; a presença de ♦ Classificar o tipo de molécula de água. Microssonda Eletrônica ♦ Obtenção de dados químicos. Análises ♦ Caracterizar perda de massa e Termogravimétricas fluido das amostras e seu (ATG) e caráter endo ou exotérmico Termodiferenciais (ATD) Análises FísicoQuímicas ♦ Reconhecimento das inclusões fluidas; Microtermometria Análises Ópticas Análises Físicas Análises Mineralógicas IF/ICEx/UFMG DEQUI/ICEB/UFOP DEGEO/EM/UFOP ♦ Obtenção T e P mínimas de formação do berilo; IGc/USP ♦ Caracterização físico-química do fluido mineralizante CDTN ♦ Obtenção do índice de refração, carácter óptico e sinal óptico DEGEO/EM/UFOP ♦ Obtenção dos densidade; DEGEO/EM/UFOP valores de ♦ Descrição das propriedades físicas do mineral. ♦ Cálculo dos parâmetros de rede; Difração de raios X EBA/CECOR/UFMG ♦ Volume da cela unitária; ♦ Caracterização dos politipos de berilo. CPMTC/IGC/UFMG DEGEO/EM/UFOP DEQUI/ICEB/UFOP Na execução desse trabalho, utilizou-se, principalmente, da tecnologia disponível nos laboratórios de difração de raios X, de gemologia, de mineralogia e de geoquímica do DEGEO/EM/UFOP, sendo complementadas por análises realizadas no laboratório de difração de raios X e análises térmicas, ambos do DEQUI/EM/UFOP. Também foram realizadas análises no laboratório de mineralogia, do Centro de Pesquisa Professor Manoel Teixeira da Costa, CPMTC/IGC/UFMG, no laboratório de análises por Microssonda eletrônica, do Departamento de Física, IF/ICEx/UFMG, no laboratório de FTIR do Centro de Conservação e Restauração da Escola de Belas Artes, 11 De Carvalho, D.T.. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... CECOR/EBA/UFMG e nos Laboratórios de Inclusões Fluidas do DEGEO/EM/UFOP, do IGc/USP e do CDTN. Levando-se em consideração o fato de que as metodologias empregadas no estudo mineralógico seguem parâmetros muito específicos, de acordo com a fase mineral, será feito um comentário detalhado dos procedimentos adotados neste trabalho. 2.3.1 – Preparação e Seleção das Amostras Conforme descrito anteriormente, foram utilizadas neste estudo amostras referentes a 42 cristais de berilo, provenientes de quatro corpos pegmatíticos (Ipê, Ferreirinha I e II, Jonas Lima I e II e Escondido). Essa amostragem foi realizada de maneira a representar as diferentes zonas destes corpos. As amostras de berilo foram referenciadas de forma que as siglas contivessem três letras referentes aos pegmatitos (Tabela 2.1), seguidas de uma numeração. No caso dos corpos que possuem mais de uma lavra, adicionou-se ainda o número desta em algarismo romano. Posteriormente, as amostras coletadas foram cadastradas no banco de dados do CPMTC/IGC/UFMG. Iniciou-se, então, a caracterização macroscópica das amostras, com a descrição mineralógica, como por exemplo: hábito, fratura, cor e diafaneidade. De posse das técnicas analíticas a serem utilizadas no estudo do berilo, efetuou-se a preparação das amostras, tomando-se os devidos cuidados para evitar contaminação e seguindo os parâmetros corretos para cada método analítico a ser empregado. Primeiramente, foram retiradas fatias dos cristais de berilo. Para tal, utilizou-se de uma serra gemológica circular para esmeralda. Sempre que possível, procurou-se serrar essas placas paralelamente ao eixo cristalográfico c, o que facilita a percepção das inclusões fluidas. Finalizando, as placas foram desbastadas, até atingir uma espessura de 500µm e polidas em ambas as faces. Essas placas foram utilizadas nas análises gemológicas, microtermométricas e por microssonda eletrônica. Deve-se ressaltar que, em alguns casos, de um mesmo cristal foram originadas 2 ou 3 placas, principalmente, nos casos onde não foi possível identificar o eixo cristalográfico. Desta forma, de 60 cristais de berilo foram confeccionadas 81 placas. As análises de densidade foram realizadas utilizando-se as placas serradas que continham menor quantidade de jaças (trincas e/ou inclusões cristalinas), sempre com o cuidado de utilizar uma placa de dimensões não muito pequenas, o que comprometeria o resultado final deste teste. 12 Contribuições ás Ciências da Terra Série M, vol. 09...151 p. Para as análises destrutivas como o FTIR e a difração de raios X, foram utilizados os fragmentos produzidos durante o processo de confecção das placas. Esses fragmentos foram pulverizados em um gral de ágata, tomando-se os devidos cuidados para evitar contaminações. 2.3.2 – Obtenção dos Valores da Densidade Relativa Como parte da caracterização mineralógica do berilo do Campo Pegmatítico de Marilac, foram realizadas as medidas de densidade das amostras selecionadas para este estudo. Para tanto, foram separadas as placas de dimensões não muito pequenas utilizando-se de uma balança eletrônica analítica da marca Sartorius Ag. Göttingen, modelo LP6205, de fabricação alemã e com precisão de 0,0001g, pertencente ao laboratório de mineralogia do CPMTC/IGC/UFMG. Inicialmente, pesou-se a placa a seco (P1). Em seguida efetuou-se a mesma medida com a placa submersa em um béquer com água destilada e deionizada (P2), tomando-se a precaução de evitar a formação de bolhas de ar tanto na superfície na placa, quanto na estrutura de metal na qual a mesma se encontrava apoiada, uma vez que isso poderia alterar expressivamente a medida final. De posse dos valores de P1 e P2 o cálculo da densidade relativa obedeceu aos parâmetros matemáticos expressos na fórmula analítica descrita a seguir. d = [(P1)/(P1 - P2)] x d líq onde: d é a densidade relativa do berilo e d líq = d H2O = 1. 2.3.3 – Análises Ópticas Visando a complementação da caracterização mineralógica dos cristais de berilo, foram realizadas algumas análises ópticas dos mesmos. Primeiramente, foi realizada a descrição macroscópica preliminar dos cristais, seguida de um maior detalhamento, por meio do uso de uma lupa de mão com aumento de 10 vezes. Com isso, foi possível determinar algumas características físicas e morfológicas, tais como hábito, fratura, cor, além da presença de alguns minerais associados na amostra. Propriedades como diafaneidade, pleocroísmo e anisotropia foram descritas nas placas serradas e polidas em ambas as faces. Estas, ainda, foram utilizadas para a obtenção dos índices de refração dos cristais. 13 De Carvalho, D.T.. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... Para as medidas do índice de refração foi utilizado um refratômetro para sólidos da marca Rayner, disponível no laboratório de Gemologia do Centro de Tecnologia Gemológica do DEGEO/EM/UFOP. Como meio de imersão foi utilizado o iodeto de metileno da marca Rayner, cujo índice de refração é de 1,79, número esse que fica entre o índice de refração do berilo (1,65) e o índice de refração da placa do refratômetro (1,9). A partir do uso deste aparelho foi possível obter ainda o caráter e o sinal óptico, além da birrefringência. Por se tratar de um mineral uniaxial, pertencente ao sistema hexagonal, para cada placa foram efetuadas cinco medidas, com a amostra em diferentes posições no refratômetro. Nenhuma das amostras estudadas apresentou um caráter biaxial anômalo. 2.3.4 – Caracterização Gemológica A caracterização gemológica dos berilos pertencentes ao Campo Pegmatítico de Marilac foi realizada a partir de 12 amostras lapidadas, obedecendo a diferentes tipos, representativas das variedades água-marinha, morganita e goshenita. Para tanto, utilizou-se da tecnologia pertencente ao Centro de Tecnologia Gemológica do DEGEO/EM/UFOP, a partir de equipamentos específicos para a determinação das propriedades das amostras de berilo lapidado, tais como: dicroscópio, polariscópio, refratômetro e microscópio gemológico. A caracterização das propriedades ópticas e da densidade foram realizadas de forma análoga às descritas nos itens 2.3.2 e 2.3.3. As inclusões presentes nas amostras foram descritas a partir de um microscópio gemológico marca Rayner. Para a caracterização do pleocroismo, utilizou-se de um dicroscópio marca Rayner e para a caracterização da polariscopia, utilizou-se de um polariscópio. 2.3.5 – Difratometria de raios X As análises por difratometria de raios X foram realizadas, em parte (29 amostras), no laboratório de difratometria de raios X do DEGEO/EM/UFOP, utilizando-se de um difratômetro da marca RIGAKU, modelo D/Max-2B, com goniômetro horizontal, utilizando-se radiação CuKα, filtro de Ni e condições de excitação de 20mA e 40kV. A outra parte, 14 amostras, foi analisada no laboratório de difratometria do DEQUI/ICEB/UFOP, por meio de um difratômetro SHIMADZU, modelo XRD6000, equipado com tubo de Co e filtro de Fe, com goniômetro horizontal e condições de excitação de 20mA e 40kV 14 Contribuições ás Ciências da Terra Série M, vol. 09...151 p. Os registros foram realizados com contagem de 1.000cps , velocidade do goniômetro de 2o/min e intervalo de exposição de 5-70o. Como fonte de radiação foram utilizados, no primeiro caso, um tubo de Cu, e no segundo caso, um tubo de Co, ambos com voltagem de 20-60kV e corrente de 2,5-50mA. No preparo das amostras, foi utilizado o método do pó, em uma mistura de berilo com 10% de NaCl. As amostras foram, inicialmente fragmentadas com o auxílio de um Morteiro de Abich e, posteriormente, pulverizadas em um gral de ágata, até alcançarem uma granulometria inferior a 200 mesh. A partir deste método, foi possível medir os parâmetros e o volume da cela unitária, bem como identificar os politipos de berilo. Os parâmetros de cela unitária foram calculados por meio dos programas de informática, JADE, que se baseia nos valores dos possíveis índices de cada plano reticular e UNITCELL. 2.3.6 – Microssonda Eletrônica A microssonda eletrônica constitui um método de análise pontual, não destrutivo e por isso muito utilizado, que permite a caracterização química tanto qualitativa quanto quantitativa. Além da geração de um grande número de análises em curto espaço de tempo, tal método associa a difratometria de raios X com a imagem. Segundo Gomes (1984), a natureza dos elementos químicos emitentes é obtida por meio da identificação das linhas dos espectros característicos de raios X, resultando em uma análise química qualitativa. Ao comparar tais radiações emanadas pelas amostras com os seus padrões adequados obtémse uma análise quantitativa expressa, geralmente, a partir de porcentagem de óxidos. As análises químicas por microssonda eletrônica foram realizadas no ICEx/IF/UFMG, por meio da utilização do equipamento JEOL, modelo JXA 8900RL Super Probe, sob potencial de aceleração de 15kV, corrente de feixe de 10nA e diâmetro do feixe de 5 a 1µm. As informações quantitativas foram disponibilizadas a partir do software JEOL EPMA. Para este trabalho, foram selecionados 42 cristais polidos para a confecção de cinco pastilhas utilizando-se resina+acelerador+polimerizador, sendo duas pastilhas referentes ao Pegmatito Escondido, uma referente ao Jonas Lima, uma referente ao Ferreirinha e, finalmente, uma pastilha referente ao Ipê. Posteriormente, essas pastilhas foram metalizadas e analisadas, obedecendo aos padrões específicos para a fase mineral em questão. 15 De Carvalho, D.T.. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... Foram analisados 126 pontos, 3 pontos em cada placa, selecionados de forma aleatória. O ponto da amostra previamente selecionado, recebeu a incidência de um feixe de elétrons, em um diâmetro de, aproximadamente, 1µm, resultando na formação de fluorescência de raios X característicos que variam de acordo com a variação dos átomos presentes na estrutura cristalina do mineral. Todas as análises foram efetuadas segundo o método dispersão do comprimento de onda (WDS), resultando na análise química dos elementos Al, Si, Na, K, Mn, Mg, Fe, Cr, Ca, V, Ti, Cs, Rb e Ba; os padrões utilizados foram, respectivamente: SiO2 (berilo), Al2O3 (berilo), RbO (RbAl2Si2O6), CsO (polucita), TiO2 (rutilo), K2O (microclínio), Cr2O3 (cromita), BaO (BaAl2Si2O8), MgO (olivina), MnO (rodocrosita), V2O3 (V2O3 - sintético), Fe2O3 (hematita), CaO (wollastonita), Na2O (albita). A quantificação desses elementos foi realizada por meio de porcentagem de óxidos e a fórmula estrutural do mineral foi calculada a partir de equações montadas no Excel 7.0. 2.3.7 – Espectroscopia de Absorção no Infravermelho As análises de Espectroscopia de Absorção no Infravermelho por Transformada de Fourier, FTIR, foram realizadas no CECOR/EBA/UFMG, a partir de um espectômetro da marca BOMEM/HARTMANN & BRAUN (Québec, Canadá – 1994), modelo MB 100C23, com detector MCT e utilizando-se de uma célula de diamante, modelo SPG 466 e uma câmara sob atmosfera inerte com nitrogênio gasoso. Para o preparo prévio da amostra na célula de diamante foi usada uma lupa da marca Olympus B 071, com aumento máximo de 40 vezes. Para a obtenção dos espectros de absorção, o espectômetro foi, previamente, mantido ligado por um período de uma hora, para que se conseguisse a estabilização do mesmo. Posteriormente, a célula de diamante, lavada, foi colocada no espectômetro efetuando-se a calibragem do aparelho, procedimento único para a leitura de várias amostras. Finalmente, a amostra foi colocada na janela de diamante, com o auxílio de uma lupa binocular e levada até o aparelho, sendo então submetida à incidência de raios infravermelho, gerando os espectros de absorção, sob a ação de nitrogênio gasoso, produzindo uma atmosfera gasosa inerte. O espectômetro, conectado a um computador, possibilita o transporte automático dos dados e os espectros são visualizados a partir do uso do programa Win Bomen Easy, versão 3.01. Para se obter as análises de FTIR, foi também empregado o método do pó, efetuando-se um procedimento análogo ao descrito no item 2.3.4 deste mesmo capítulo. Foi utilizado, aproximadamente, 1mg de pó de cada cristal, em uma granulometria menor ou igual à 200 mesh, buscando assegurar a preservação de parte das inclusões fluidas presentes nos cristais. 16 Contribuições ás Ciências da Terra Série M, vol. 09...151 p. O emprego deste método analítico resultou no conhecimento de grupos moleculares presentes nas amostras, tais como CO2, H2O, CH4 e, ainda, o tipo de molécula de água presente na estrutura do berilo. Como resultado têm-se dados referentes à caracterização politípica dos cristais de berilo, bem como as prováveis substituições químicas que ocorreram na formação do cristal. 2.3.8 – Estudos Petrográficos e Análises Microtermométricas de Inclusões Fluidas Como fase preliminar aos estudos microtermométricos, efetuou-se o estudo petrográfico das inclusões fluidas presentes nas 81 placas de berilo, com mapeamento dos principais campos para análise Essas placas foram desbastadas até alcançarem uma espessura de aproximadamente 300µm, objetivando preservar as inclusões fluidas presentes, que chegam à dimensão máxima de 100µm. Posteriormente, foram polidas em suas duas faces planas e paralelas, a fim de minimizar os efeitos da reflexão total nos contornos das mesmas e da dispersão da luz, fatos que podem prejudicar e dificultar a visualização e identificação das inclusões fluidas. Para o procedimento do estudo petrográfico e do mapeamento foi utilizado um microscópio petrográfico binocular da marca Leitz Wetzlar, com oculares de 10x e 25x e objetivas de 3,5x, 10x e 32x/UT50, disponível no laboratório de microscopia da Pós-graduação do DEGEO/EM/UFOP, IGc/USP e do CDTN. O estudo petrográfico objetiva o reconhecimento das inclusões fluidas e sua caracterização quanto a morfologia, número de fases à temperatura ambiente, distribuição e modo de ocorrência, o que permite o estabelecimento de uma cronologia relativa. Desse modo, as inclusões podem ser previamente classificadas como primárias, secundárias e pseudo-secundárias e agrupadas segundo tipos distintos, de acordo com suas propriedades. Assim sendo, os dados microtermométricos das inclusões classificadas como pertencentes a um mesmo grupo foram analisados em conjunto. Com a aplicação dos estudos microtermométricos foi possível caracterizar os fluidos quanto à composição, salinidade e densidade, bem como determinar as condições mínimas de temperatura e pressão de aprisionamento e, portanto, de formação do berilo. Segundo Roedder (1982), são conhecidos registros de estudos de inclusões fluídas desde o tempo de Santo Agostinho, século IV. No entanto, até fins do século XIX, os trabalhos investigativos realizados eram puramente descritivos, merecendo destaque os trabalhos de Sorby (1858) e Zirkel (1870). 17 De Carvalho, D.T.. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... Uma grande variedade de métodos têm sido utilizados no estudo das inclusões fluídas, visando, basicamente, caracterizar a composição dos fluidos e sólidos de saturação, a densidade dos fluidos, as temperaturas e pressões de aprisionamento e, ainda, a história evolutiva dos mesmos. Dentre essas técnicas, a mais difundida é a da microtermometria. Trata-se de um método não destrutivo, possibilitando sua repetição ou aplicação de testes diferentes em uma mesma inclusão ou placa. Esta repetição é viável, excetuando-se os casos onde ocorrem vazamentos, mesmos que parciais, do conteúdo das inclusões, e os casos onde ocorrem condições metaestáveis, ou quando ocorrem mudanças expressivas de ph e Eh, devido à perda imperceptível de voláteis (Roedder 1984 e Fuzikawa 1985). Os estudos microtermométricos são efetuados em uma platina especial, acoplada a um microscópio petrográfico, possibilitando a observação da inclusão in situ enquanto estas são submetidas a processos de aquecimento e resfriamento Essa metodologia permite o acompanhamento dos processos de mudanças de fase ocorridos nas inclusões observadas e o registro das temperaturas nas quais elas ocorrem. As principais temperaturas que devem ser registradas para a caracterização das inclusões são: as temperaturas de fusão do CO2 e do gelo, as temperaturas de homogeneização do CO2 e total, as temperaturas do ponto eutético das soluções aquosas e, quando possível, as temperaturas de dissolução dos sólidos de saturação. De posse destes valores de temperatura, são confeccionados histogramas de freqüência que agrupam inclusões fluidas semelhantes, pertencentes ao mesmo sistema. Posteriormente, a interpretação é efetuada por meio de análises comparativas com sistemas experimentais disponíveis na literatura. Como resultado final, têm-se dados referentes às pressões e temperaturas mínimas de formação do cristal, à composição química, à salinidade e à densidade destes fluidos. Conforme descrito por Crawford (1981), a platina especial de resfriamento e aquecimento, possibilita uma variação de temperatura que vai de 190°C negativos, a 650°C positivos, podendo, em alguns casos, para modelos especiais, atingir 1.200°C positivos. A tecnologia utilizada neste trabalho foi a disponível nos laboratórios de Inclusões Fluidas do DEGEO/EM/UFOP, do IGc/USP e do CDTN. Os estudos foram executados utilizando-se de platinas de marca Chaix-Meca, (Poty et al. 1976), acopladas a microscópios petrográficos da marca Leitz Weltzlar com objetivas de 10x, 25x e 32x/UT50 e oculares de 10x e 25x, que geram um aumento máximo de 800x. Essas platinas permitem o resfriamento das inclusões até –190oC, por meio da passagem de nitrogênio líquido em seu interior, e seu aquecimento, até 650oC, por meio de uma resistência interna situada muito 18 Contribuições ás Ciências da Terra Série M, vol. 09...151 p. próximo à localização da amostra. A calibração do equipamento, para baixas temperaturas, foi efetuada a partir de amostras de quartzo da região de Calanda (Suiça) que possui inclusões com CO2 puro (Tf = 56,6oC), o mercúrio com Tf = -38,86oC e a água bi-destilada (Tf = 0oC). Para os intervalos de altas temperaturas foram utilizados produtos Merk MSP, com pontos de fusão conhecidos, da Merck Signotherm. A precisão estimada foi de ±0,2oC, para temperaturas de –60 até 25oC, e de ± 5oC, para temperaturas de 100 a 400oC. Foram utilizadas as 81 fragmentos, representadas em 100 campos, totalizando, o estudo de, aproximadamente, 820 inclusões, de forma a caracterizar os quatro corpos pegmatíticos e as variedades água-marinha, morganita e goshenita, provenientes dos mesmos. 2.3.9 – Análises Termogravimétrica – ATG Trata-se de uma técnica que viabiliza a verificação de mudanças nas propriedades físicas e/ou químicas do mineral, a partir das variações de tempo e temperatura, sendo de grande importância na mineralogia, uma vez que estabelece o grau de pureza de um determinado cristal. Segundo Vogel (1981), o princípio básico de aplicação desta técnica consiste em avaliar as mudanças ocorridas na amostra (perda de peso, água, oxidação, etc.), aumentando-se a temperatura linearmente com o tempo. Os resultados obtidos podem ser apresentados tanto sob a forma de uma curva termogravimétrica (TG), onde a mudança de peso é expressa em função da temperatura ou do tempo, quanto de uma curva termogravimétrica derivada (ATG), onde a primeira derivada de TG é expressa segundo a temperatura ou o tempo. Para esta dissertação foram analisadas 14 amostras de berilo, dentre elas 10 cristais de águamarinha, 2 de morganita e 2 de goshenita, provenientes dos Pegmatitos Ipê, Jonas Lima (I e II), Ferreirinha (I e II) e Escondido, as quais foram, inicialmente, pulverizadas com o auxílio de um morteiro de Abic e um gral de ágata, com uma granulometria abaixo de 200 mesh. O equipamento utilizado para essas análises foi o SDT 2960 Simultaneous DTA – TGA marca TA Instruments e o DSC 2010 Differential Scanning Calorimeter marca DP Union, pertencente ao DEQUI/EM/UFOP. Trata-se de uma termobalança, com forno horizontal para temperaturas de até 1.200°C e porta-amostra de platina com capacidade para 50 mg. 19 De Carvalho, D.T.. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... No caso das 14 amostras de berilo do Campo Pegmatítico de Marilac, os espectros obtidos foram fruto de uma taxa de aquecimento de 10°C/min, com fluxo de ar sintético especial (20% de O2 e 80% de N2) da White Martins e o material de referência (padrão) foi o cadinho de alumina. 2.3.10 – Análises Termodiferencial – ATD A análise termodiferencial consiste na aplicação de aquecimento e resfriamento controlado, quase sempre de maneira linear com relação ao tempo, na amostra, em pó total, a ser analisada. Para tal utiliza-se de um material inerte de referência, que no caso deste trabalho foi o pó de alumina. Para estas análises foram utilizadas as mesmas 14 amostras de berilo descritas anteriormente, obedecendo o mesmo processo no preparo destas. Segundo Vogel (1981), quando for observada uma diferença de temperatura nula entre a amostra e o material inerte, resulta que não houve nenhuma mudança física ou química. Já no caso de serem observadas diferenças na temperatura, tem-se, conseqüentemente, alterações. Tais alterações se apresentam sob a forma de curvas endotérmicas, com picos agudos freqüentes, resultado da perda de cristalinidade ou processos de fusão, ou sob a forma de picos endotérmicos largos, resultantes da desidratação do mineral. Curvas endotérmicas, geralmente, estão associadas às alterações físicas no mineral, enquanto que as exotérmicas relacionam-se a processos oxidativos. Para os fins analíticos desta dissertação, aplicou-se, em conjunto, as análises térmicas de ATD e ATG, uma vez que os objetivos principais foram a determinação do conteúdo de umidade e a análise de misturas sólidas nas amostras de berilo. O equipamento utilizado consiste no mesmo descrito para a técnica anterior, adicionando-se um forno com capacidade térmica de até 1.500°C e um porta-amostra de alumina com capacidade para até 50mg. Os espectros obtidos foram fruto de uma taxa de aquecimento de 10°C/min., com fluxo de ar sintético especial (20% de O2 e 80% de N2) da White Martins e o material de referência (padrão) foi o pó de alumina. 20 CAPÍTULO 3 CONTEXTO GEOLÓGICO Os corpos pegmatíticos, alvo dos estudos realizados para esta dissertação, encontram-se inseridos nos domínios da Província Pegmatítica Oriental do Brasil e referem-se à porção oriental do estado de Minas Gerais, sendo parte integrante da Província Estrutural Mantiqueira. As idades da Província Estrutural Mantiqueira remontam ao Arqueano (U/Pb ≅ 3.130 ± 8 Ma) com retrabalhamento e geração de crosta no Transamazônico (2.200–1.800 Ma) e Brasiliano (700–450 Ma) (Cunningham et al.1996). De forma geral, a Província Estrutural Mantiqueira se estende desde o sul do estado da Bahia ao Rio Grande do Sul, numa extensão superior a 2.000km, bordeja o Cráton São Francisco em suas porções sul e leste e é recoberta pela Bacia Fanerozóica do Paraná, no setor setentrional. É subdividida em diversas faixas: Araçuaí, Ribeira, Móvel Costeira e Atlântica (Almeida et al. 1976 e Almeida 1977). 3.1 – A PROVÍNCIA PEGMATÍTICA ORIENTAL DO BRASIL Esta província, de caráter também gemológico, foi delimitada e caracterizada na década de 40, século XX, por Paiva (1946). Os pegmatitos portadores de berilo do estado de Minas Gerais (Figura 3.1) estão inseridos, em sua totalidade, na Província Pegmatítica Oriental e compõem a maior parte desta (Moura 1989, Cassedanne 1991, Garibaldi 1994 e Morteani et al. 1998). A Província Pegmatítica Oriental do Brasil está situada na Faixa Araçuaí e no Cinturão Atlântico. Engloba inúmeros corpos pegmatíticos, tanto de origem ígnea, cristalizados a partir de magmas graníticos residuais intrusivos, de idade Brasiliana (450 a 650 Ma), quanto anatética, os quais possuem mineralogia mais simples e as dimensões são menores, formados a partir da fusão parcial e mobilização de material félsico (Correia Neves et al. 1986, Pedrosa Soares et al. 2001; Figura 3.2). As principais unidades litoestratigráficas que hospedam os depósitos gemíferos em Minas Gerais são: as Suítes Graníticas G1, G2, G3-I, G3-SW, G4 e G5, diretamente associadas à sua origem; as rochas do Grupo Rio Doce, representadas pelas formações São Tomé, Salinas, Ribeirão da Folha e Capelinha; as rochas do Complexo Guanhães; as rochas dos Supergrupos Rio das Velhas e Minas e os corpos graníticos da Suíte Borrachudos (Tabela 3.1; Pedrosa Soares et al. 2001). De-Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... MONTEZUMA PARDO SÃO JOÃO DO PARAISO RIO PARDO DE MINAS o o 42 48 PARDO o JORDÂNIA INA S 16 PEDRA GRANDE SAL SANTA CRUZ DE SALINAS PEDRA AZUL o 20 OPEDR SÃ BH JEQUITINH ONHA ALMENARA MEDINA SALINAS RUBELITA O ILHA ALEGRE ITAOBIM CORONEL MURTA SÃO PEDRO DO JEQUITINHONHA JOAIMA ITINGA VIRGEM DA LAPA RIO DO PRADO ARAÇUAI A AR HA N O NH IT I JE Q U PONTO DE MARAMBAIA RO NE G S TA C RUZ CRISÓLITA CATUGI PAVÃO PRETO BOM JESUS DO LUFA BA M Ã PAMP L BA IA TU SE ARAÇUAÍ PADRE PARAÍSO M RIU MINAS NOVAS Á U SU C TURMALINA Í PIAU GRAVAT BERILO DOIS DE ABRIL NOVO CRUZEIRO CAPELINHA ITAMARANDIBA RI CU MU MALACACHETA ITAMARANDIBA TEÓFILO OTONI FAQ SANTA MARIA DO SUAÇUI SERRO GUANHÃES BRA Ç RIO O NO SÃO RTE D MAT O E US ÃO SÃO JOSÉ DA SAFIRA MARILAC RE BUG CASIMIRO GRAJAÚ SABINÓPOLIS U IM GOVERNADOR VALADARES CI BR NACIP RAYDAN SUAÇUI GRANDE MU CU RI URUCU ITAMBACURI SANTO ANTÔNIO DO ITAMBÉ TOPÁZIO SAPUCAIA DO NORTE DIVINO DAS LARANJEIRAS SAPUCAIA DO SUL FERROS BELO HORIENTE DO CE GALILÉIA BARRA DO CUITÉ CONSELHEIRO PENA SANTA MARIA DO ITABIRA CALIXTO RESPLENDOR DOCE ITABIRA ANTÔNIO DIAS DO CE C IC RIO PIRACICABA PIR A BELO HORIZONTE AB A NOVA ERA MOURA (1987) CASSEDANNE (1991) GARIBALDI (1994) MORTEANI et al. (1995) ESPERA FELIZ 0 30 60 90km JUIZ DE FORA Figura 3.1 - Distribuição dos Pegmatitos portadores de berilo no estado de Minas Gerais (Gandini et al. 2001). 22 Figura 3.2 - Mapa Geológico da Província Pegmatítica Oriental do Brasil (Pedrosa Soares et al. 2001). De-Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... Tabela 3.1 – Unidades Litoestratigráficas componentes do Arcabouço Geológico da Província Pegmatítica Oriental do Brasil (Pedrosa Soares et al. 2001). Unidade Principais Rochas Idade Coberturas Cenozóicas rochas sedimentares e sedimentos detríticos, solos eluviais e coluviais Terciário e Quaternário Suíte G5 biotita-granito e charnoquito 530 – 500 Ma Suíte G4 granito a duas micas 530 – 500 Ma Suíte G3 – S granito com granada e cordierita 580 – 560 Ma Suíte G3 – I biotita-granito 585 – 570 Ma Suíte G2 granito, ultramáficas 530 – 500 Ma Suíte G1 tonalito e granodiorito gnaissificados 625 – 585 Ma Grupos Bambuí e Rio Pardo calcário, dolomito, pelito, arenito e conglomerado, metamorfoseados Neoproterozóico Formação Capelinha quartzito, micaxisto e xisto grafitoso Neoproterozóico Formação Ribeirão da Folha micaxisto, micaxisto feldspático, metachert, formações ferríferas, grafita-xisto, anfibolito, rocha cálcio-silicática, mámore Neoproterozóico Formação Salinas micaxisto, metagrauvacas, rocha cálcio-silicática, grafita-xisto, metaconglomerado Neoproterozóico Grupo Rio Doce micaxisto, biotita-gnaisse, rocha cálcio-silicática Neoproterozóico Complexos Jequitinhonha e Paraíba do Sul biotita-granada-gnaisse, kinzigito, grafita-gnaisse, quartzito, mármore, granulito cálcio-silicático Neoproterozóico Grupo Macaúbas Oriental metadiamictito, quartzito, filito, metapelito, formação ferrífera e mármore Neoproterozóico Supergrupo Espinhaço quartzito, metapelito, metaconglomerado, mármore, rochas metavulcânicas félsicas e máficas Paleoproterozóico e Mesoproterozóico Suíte Borrachudos granito gnaissificado Paleoproterozóico Supergrupo Minas itabirito, quartzito, filito, xisto, conglomerado, mámore Paleoproterozóico Complexo Juiz de Fora granulito, gnaisses Paleoproterozóico Supergrupo Rio das Velhas rochas metassedimentares e metavulcânicas, rochas metaultramáficas Arqueano Complexos Gnáissicos gnaisses, migmatito, granito, rochas metamáficas, formação ferrífera, quartzito Paleoproterozóico e Arqueano 24 Contribuições às Ciências da Terra, Série M, Vol.09.....151p. De acordo com os trabalhos de diversos autores, sintetizados em Correia Neves et al. (1986), Marciano 1995 e Gandini 1999, as idades dos pegmatitos da Província Pegmatítica Oriental do Brasil foi correlacionada à das manifestações pós-tectônicas tardias da Orogenia Brasiliana A Tabela 3.2 mostra a relação entre os diversos autores e as datações realizadas nos pegmatitos de Minas Gerais. Tabela 3.2 - Relação entre as datações realizadas nos pegmatitos do estado de Minas Gerais e os diversos autores que os estudaram (adaptado de Correia Neves et al. 1986, Marciano 1995, Gandini 1999). Autor/ Ano Mineral ou Rocha Investigado Dirac & Ebert (1967) muscovitas / Manhuaçu1 e Bicas2 Resultados Obtidos (1) K/Ar: 556 ± 16 e 505 ± 10 Ma (2) K/Ar: 511 ± 14 e 483 ± 12 Ma Ledent & Pasteels (1968) feldspato / Eugenópolis (Caparaó) Rb/Sr: 469 ± 15 e 492 ± 15 Ma Herz (1970) feldspato / Rio Piracicaba Rb/Sr: 545 Ma Bigazzi et al.(1971) muscovita / Serra dos Órgão (Rio de Janeiro) K/Ar: 471 ± 14 Ma Cordani (1973) muscovitas / norte de Galiléia (Governador Valadares) K/Ar: 480 ± 8 Ma Cordani et al. (1973) biotita / Serra dos Órgãos(Rio de Janeiro) K/Ar: 464 ± 25 Ma (3) Cordani & Teixeira (1979) 3 4 Micas e feldspatos / EugenópolisCaparaó Rb/Sr*: 452 ± 15 Ma K/Ar: 469 Ma (4) Sá (1977) xistos5, granitóides6 / Araçuaí Moura (1977) muscovitas Andrade et al. (1978) xistos5, granitóides6 / Araçuaí Teixeira (1982) feldspatos alcalinos / João Monlevade Marciano (1985) muscovitas7 e microclínio8 / Governador Valadares Rb/Sr: 492 ± 15 Ma (5) Rb/Sr: 673 Ma (6) Rb/Sr: 538 Ma K/Ar: 480 Ma (5) Rb/Sr: 673 Ma (6) Rb/Sr: 538 Ma Rb/Sr: 545 Ma (7) Rb/Sr: 501 ± 14 Ma (8) Rb/Sr: 497 ± 13 Ma Mascarenhas et al. (1987) Muscovitas / Vitória da Conquista K/Ar: 709 ± 20 Ma e 660 ± 37 Ma Nalini Jr. (1997) Muscovitas / Vitória da Conquista K/Ar: 709 ± 20 Ma e 660 ± 37 Ma *todas as idades Rb/Sr referem-se à λ = 1,42 x 10 –11 anos-1 25 De-Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... Segundo Correia Neves et al. (1986) e Pinto et al. (2002), a análise dos dados geocronológicos obtidos na Província Pegmatítica Oriental do Brasil, permite concluir que no fim do Ciclo Brasiliano houve a geração de uma grande quantidade de material pegmatítico. Logo, grande número dos pegmatitos que compõem esta província pertencem a uma época metalogenética de idade compatível com tal evento. Conforme descrito por Ginsburg et al. (1979), Černý (1982a e b) e Černý (1991a e b), adotar-seá a descrição do berilo pegmatítico de Minas Gerais segundo seus atributos, tais como: afinidades estruturais, ígneas, geoquímicas, mineralógicas e geocronológicas. Para tal utilizar-se-á das definições de distritos e campos pegmatíticos. Os Distritos Pegmatíticos são porções de uma província que englobam vários Campos Pegmatíticos separados entre si por caracteres territoriais ou geológicos (Figura 3.3). Já os Campos Pegmatíticos compreendem territórios inferiores à 1.000m2, ocupado por grupos pegmatíticos de ambiências geológicas e estruturais afins. São gerados em um mesmo estágio termo-magmático, a partir do mesmo tipo de fonte granítica e possuindo idades semelhantes (Pinto et al. 2002). A Província Pegmatítica Oriental do Brasil encontra-se dividida, no estado de Minas Gerais, em sete Distritos Pegmatíticos (Araçuaí, Governador Valadares, Ataléia, São José da Safira, Santa Maria de Itabira, Padre Paraíso e Medina-Pedra Azul), que por sua vez se subdividem em 21 Campos Pegmatíticos, conforme descrito por Pinto et al. (2002). Os Pegmatitos estudados nesta dissertação pertencem ao Distrito Pegmatítico de Governador Valadares e ao Campo Pegmatítico de Marilac, caracterizado por conter pegmatitos turmaliníferos e muscovíticos encaixados em gnaisses, migmatitos e xistos (Pedrosa Soares et al. 1994). 3.1.1 – Os Pegmatitos O termo pegmatito foi utilizado pela primeira vez pelo padre R. J. Haüy, em 1801, para designar as rochas apresentando intercrescimento geométrico de quartzo e feldspato. Desde então, novas designações vêm sendo propostas levando-se em consideração aspectos mineralógicos, geológicos, genéticos, etc. A Tabela 3.3 apresenta, resumidamente, a denominação do termo pegmatito de acordo com os principais estudiosos do tema. Existem diversas maneiras de se classificar os corpos pegmatíticos, as quais levam em consideração vários aspectos, tais como: forma, tamanho, disposição em relação as encaixantes, mineralogia, gênese, estrutura e textura interna. Geralmente, essas classificações agrupam dois ou mais aspectos. Os corpos pegmatitos caracterizam-se por apresentarem uma grande variedade de formas, dimensões, orientações e disposição segundo suas encaixantes. 26 Contribuições às Ciências da Terra, Série M, Vol.09.....151p. 43° 42° 41° 40° Itaobim 17° 18° 18° Distrito de Ataléia Campo de Marilac Governador Valadares S.Maria Itabira Distrito de Conselheiro Pena Ipatinga Itabira 19° 19° Nanuque Teófilo Otoni Deistrito de São José da Safira MG Aimorés Caratinga Distrito de Sta Ma de Itabira ES Distrito de Caratinga 20° 20° 17° Distrito de Padre Paraíso Araçuaí 43° 42° 41° 40° 21° 21° Ponte Nova 75 100 Distrito Pegmatítico Araçuaí Distrito Pegmatítico de Padre Paraíso Distrito Pegmatítico Governador Valadares Distrito Pegmatítico de Ataléia Distrito Pegmatítico de Conselheiro Pena 0 25 50 (Km) Distrito Pegmatítico de Santa Maria de Itabira Distrito Pegmatítico de Caratinga Figura 3.3 – Distribuição dos Distritos Pegmatíticos na Província Pegmatítica Oriental do Brasil (adaptado de Ribeiro 2002). 27 De-Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... Tabela 3.3 - Várias definições do termo pegmatito de acordo com diversos autores (César-Mendes 1994, Marciano 1995, Gandini 1999) Autor/Ano Haüy (1801) Brogniart (1813) Definição Rocha apresentando intercrescimento geométrico entre quartzo e feldspato. granitos com textura gráfica. Delesse (1849) qualquer rocha granítica de granulometria grossa. Nauman (1854) rochas de composição granítica e granulometria grossa. Bastin (1911) rochas de composição granítica e granulometria grossa apresentando irregularidade do tamanho dos grãos. Kemp (1924) rocha cimentada em uma estrutura. Shaller (1925) Rocha formada a partir de uma rocha ígnea, onde o hidrotermalismo teria um papel muito ativo. Fersman (1931) associou os pegmatitos graníticos à corpos filonianos, cristalizados entre 700 e 350°C, cuja granulometria é notavelmente grande. Landes (1933) rochas intrusivas holocristalinas cujo tamanho dos minerais formadores são maiores do que o presente em seus correspondentes plutônicos. Jahns (1955) acrescentou à idéia anterior características como fenômenos de substituição e zoneamento dos corpos. Brisbin (1986) sofre influência da pressão de fluido pegmatítico, das condições de plasticidade, pressões litostáticas, reologia, etc. Atualmente, os diversos autores adotam tratar-se de uma rocha proveniente de fonte ígnea ou metamórfica, caracterizada tanto pela textura quanto pela granulometria grossa, destacando-se as dimensões dos cristais e a presença de minerais raros de aproveitamento econômico. Levando-se em consideração características mineralógicas, os pegmatitos podem ser classificados em ácidos, intermediários e básicos que, por sua vez, ainda podem ser simples ou complexos (Landes 1933). Quanto às características texturais estes se classificam em homogêneos, de textura uniforme, e heterogêneos com alto grau de diferenciação textural, apresentando zonamento interno (Figura 3.4, Johnston Jr. 1945). Segundo Cameron et al. (1949), os pegmatitos podem ser classificados em zonados e não zonados, de acordo com os aspectos texturais e composição mineralógica. Os corpos zonados 28 Contribuições às Ciências da Terra, Série M, Vol.09.....151p. caracterizam-se por apresentarem camadas concêntricas sucessivas, denominadas: a) zona de borda ou marginal, b) zona mural, c) zona intermediária e d) núcleo (Figuras 3.5). Figura 3.4 – Representação simplificada da estruturação de pegmatitos simples e complexos zonados – modelo proposto por Uebel (1977). 29 De-Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... Superfície -30m -60m Zona Marginal ou de Borda Zona Intermédia Zona Mural Núcleo Preenchimento de Fratura Corpo de Substituição 0 15 30 45 60m Escala Figura 3.5 - Bloco-diagrama representando a estruturação interna básica dos corpos pegmatíticos zonados e a relação entre as zonas (modificado de Gandini 1999). 30 Contribuições às Ciências da Terra, Série M, Vol.09.....151p. Segundo Correia Neves et al. (1986), baseando-se nos trabalhos de Rudenko et al. (1975), Ginsburg et al. (1979) e Černý (1982a), a caracterização das centenas de pegmatitos que compõem a Província Pegmatítica Oriental do Brasil acompanha a seguinte sistemática: pegmatitos abissais, constituem pegmatitos quase autóctones encaixados em rochas metamórficas da fácies anfibolito alto à granulito, originados por fusão parcial dos metamorfitos de alto grau; pegmatitos muscovíticos, característicos dos metamorfitos Barrovianos, encontram-se encaixados em micaxistos da fácies almandina-anfibolio (Winkler 1979), tendo sido originados pelo fracionamento restrito de granitos primitivos ou ainda por anatexia; pegmatitos com elementos raros, característicos do metamorfismo tipo Abukuma de baixa pressão, originaram-se a partir do fracionamento de granitos alóctones diferenciados e consolidados, em rochas da fácies anfibolito de Winkler (1979), sendo enriquecidos em um ou mais dos elementos Li, Rb, Cs, Be, Zn, Nb, Ta, Zr, Hf, Ga, Bi e Mo +/- B, P e F; e pegmatitos miarolíticos formados confinados nas cúpulas de granitos alóctones, epizonais à subvulcânicos, ocorrendo, ainda, em veios preenchendo fraturas ou bolsões, podendo estar enriquecidos em elementos raros, quartzo e fluorita óptica (Tabela 3.4). A composição mineralógica de tais pegmatitos é simples, destacando-se como minerais essenciais o feldspato potássico (cinza, róseo e verde), caulinita, muscovita e quartzo (branco, hialino e fumé). Dentre os acessórios um dos principais minerais é o berilo, encontrado nas cores azul, esverdeada, amarela, rósea e incolor, tanto sob a forma de escória (berilo industrial) quanto como cristais de aproveitamento gemológico. Ainda é possível encontrar turmalina, biotita, albita, granada, ferrocolumbita, topázio, fluorita, monazita, apatita, bismutita, óxidos e hidróxidos de manganês e ferro (Marciano 1985, Correia Neves et al. 1986, Pinto et al. 2002). Os corpos exibem as mais variadas dimensões, sendo no entanto raro que aflorem por inteiro, o que dificulta as classificação quanto às dimensões. Segundo Issa Filho et al. (1980), quanto à espessura estes corpos podem ser classificados em: muito pequenos (<0,5m), pequeno (0,5 a 5,0m), médio (5,0 a 15,0m), grande (15,0 a 50,0m) e muito grande (>50,0m). Quanto a sua forma, existe uma diversidade muito grande, destacando-se as formas tabulares, lenticulares, ramificadas, em massas irregulares, elípticas e circulares. É importante ressaltar que nem todo pegmatito possui reservas minerais economicamente significativas, destacando-se, nesse aspecto, os pegmatitos complexos enriquecidos à elementos raros. Deve-se ressaltar que as rochas pegmatíticas e os depósitos hidrotermais representam os depósitos primários de gemas do estado de Minas Gerais, as quais podem ainda ser encontradas em depósitos secundários, sob a forma de elúvios, colúvios e aluviões (Issa Filho et al. 1980, Pedrosa Soares et al. 2001). 31 Tabela 3.4 - Dados comparativos da sistemática das formações pegmatíticas da Província Pegmatítica Oriental do Brasil (Rudenko et al. 1975, Ginsburg et al. 1979, Černý 1982a). Formações Pegmatíticas Condições de Formação Pegmatitos Abissais P* = 4 à 9 kbar; Þ = 17 à 27 km, T = 700-800oC fácies anfibolito alto à granulito Relações com Granitos • • Características nenhuma segregação leucossomas anatéticos • • • Pegmatitos Muscovíticos P = 5 à 8 kbar, Þ = 13 à 20 km, T = 650-580oC fácies almandina- anfibolito; subfácies cianita + almandina P = 4 à 6 kbar, Þ = 15 à 18 km, T = Pegmatitos a 550-650oC Elementos raros / fácies almandina- anfibolito; subfácies Muscovíticos cianita + almandina; Tipo Barrowiano Pegmatitos a Elementos Raros P = 2 à 4 kbar Þ = 7 à 13 km metamorfismo Abukuma, fácies anfibolito com cordierita; subfácies andaluzita +cordierita +muscovita mineralizações em gemas, minerais industriais, minerais cerâmicos • • corpo anatético de marginal exterior a • • corpo anatético de marginal exterior a • 12interior a marginal ou exterior 345- Pegmatitos Miarolíticos P = 1 à 2 kbar, Þ = 3 à 6 km formado nas cúpulas de granitos epizonais, subvulcânicos, Tipo hipersolvus * P – pressão; þ – profundidade de formação • interior a marginal encontram-se localmente enriquecidos em U, Th, ETR, Nb, Ti, Zr mineralização pobre a moderada são depósitos de muscovita e feldspato potássico • ocasionalmente apresentam conteúdos subordinados de Be, Nb, ETR, U e Th • mineralização pobre moderada em micas e minerais cerâmicos • elementos menores misto (entre as classes superior e inferior • mineralizações mistas • faixas colisionais podem ser divididos em: Tipo rico em Be, Y, ETR, Nb>/<Ta, Ti, U, Th Tipo rico em berilo-columbita (Be, Nb>/< Ta ± Sn, ETR P B) Tipo pegmatitos complexos ou bandados (Li, Rb, Cs, Be, Ta > Nb, Sn ± B) Tipo quase homogêneo com espodumênio (Li, Be, Nb ≥ Ta ± Sn) Tipo rico em lepidolita (F, Li, Rb, Fe, Ta > Nb ± Cs, Sn) • enriquecido em elementos raros, fluorita óptica e quartzo piezoeléctrico • mineralização em gemas (pobre) Contribuições às Ciências da Terra, Série M, Vol.09.....151p. 3.1.2 – Distrito Pegmatítico de Governador Valadares Esse distrito pegmatítico destaca-se pelo grande número de pegmatitos que engloba em seus domínios, sendo estes bem distintos no que se refere à geologia de suas encaixantes, onde a mais comum é o biotita-xisto São Tomé, com ocorrências de rochas granitóides no Campo de Galiléia-Conselheiro Pena e de quartzitos no Campo de São José da Safira (César-Mendes 1995, Nalini Jr. 1997, Ribeiro 2002). Wegner (1983), Santos (1985), Marciano (1985), Gandini (1999) e Ribeiro (2002) cadastraram dezenas de corpos pegmatíticos pertencentes ao referido distrito, destacando-se os Campos Pegmatíticos de Marilac-Golconda, de Galiléia-Conselheiro Pena e de São José da Safira. Este último é formado apenas por duas dezenas de corpos pegmatitos. No que se refere à mineralogia, destacam-se: em Marilac-Golconda, berilos e turmalinas; em Galiléia-Conselheiro Pena, minerais de lítio e fosfatos e em São José da Safira, turmalinas coradas. Devese ressaltar que excetuando-se a esmeralda e a bixbita (termo gemológico que designa a variedade vermelha do berilo), todas as variedades gemológicas de berilo são encontradas nesta área (Wegner 1983, Moura 1985, Santos 1985, Correia Neves et al. 1986, Marciano 1995, Nalini Jr. 1997, Ribeiro 2002, Gandini 1999, Gandini et al. 2001). 3.2 – CAMPO PEGMATÍTICO DE MARILAC-GOLCONDA Vários foram os trabalhos já publicados referindo-se ao berilo deste campo pegmatítico. Dentre eles, destacam-se os de: Correia Neves et al. 1984, Marciano 1985, Correia Neves et al. 1986, Achtschin & Marciano 1996, Achtschin et al. 1996, Gandini et al. 1998, Gandini 1999, Bello et al. 2000, Gandini et al. 2000, Gandini et al. 2001, Pinto et al. 2002, Ribeiro 2002. Quanto à coloração dos cristais de berilo, são descritas as variedades azuladas à esverdeadas (escória), as azuis (águas-marinhas), que são muito comuns, e, raramente, os cristais incolores (goshenita) e róseos (morganita). 3.2.1 – Os Pegmatitos do Campo Pegmatítico de Marilac A Província Pegmatítica Oriental do Brasil ocupa uma faixa de 800km de comprimento por 150km de largura, estendendo-se de NNE para SSW, ao longo da porção Oriental do estado de Minas Gerais. Os corpos pegmatíticos distribuídos no Distrito Pegmatítico de Governador Valadares, situado a nordeste da folha de Marilac, afloram ao longo do Vale do Rio Doce. Em geral, encontram-se encaixados 33 De-Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... concordantemente aos micaxistos e, subordinadamente, em granodioritos, gnaisses e quartzitos. São, em sua maioria, zonados simples e complexos, com dimensões médias compreendidas entre 15 e 35m de espessura (Issa Filho et al. 1980, Marciano 1995, Gandini 1999, Pedrosa Soares et al. 2001, Pinto et al. 2002). Trata-se de uma região de grande importância econômica mineral, na extração de gemas coradas, minerais de coleção e minerais industriais. Dentre os minerais mais comuns têm-se quartzo (hialino, fumé, róseo, leitoso e amarelado), feldspato potássico, caulinita, mica (muscovita, muscovita litinífera e biotita), albita (por vezes cleavelandita), granada, nióbio-tantalatos, turmalinas (negras, azuis e róseas) e berilo (industrial, água-marinha, morganita e goshenita). Nos pegmatitos dessa região foram realizados intensos trabalhos de explotação, que remontam à Segunda Guerra Mundial. As lavras são basicamente subterrâneas e/ou a céu aberto e os trabalhos de extração são basicamente primários, realizados por microempresários e garimpeiros, com a utilização de compressores, bombas hidráulicas, martelos, tratores, caçambas e etc. Os quatro corpos pegmatitos alvo deste estudo (Ipê, Ferreirinha, Jonas Lima e Escondido) estão, em sua totalidade, encaixados em quartzo-biotita-xistos pertencentes à Formação São Tomé do Grupo Rio Doce, apresentando disposição concordantes com as encaixantes e formas que variam de tabulares a lenticulares (Barbosa et al. 1964, Gandini 1999, Netto et al. 2002). Constituem corpos pegmatíticos berilo-ferrocolumbita-tantalíferos enriquecidos em muscovita (Tabela 3.5). Nenhum dos pegmatitos estudados encontra-se exaurido, estando, no entanto, paralisados os trabalhos de extração. São corpos de grandes dimensões, com ocorrência de cristais métricos de quartzo e feldspatos, grandes livros de mica que chegam a 2m de altura, além dos minerais-gema, berilo e turmalina, e minerais industriais, tais como: quartzo, mica, caulinita, berilo e turmalina negra. 3.2.1.1 – Mineralogia e Classificação do Pegmatito do Ipê Trata-se de um corpo pegmatítico de grande porte, apresentando 25m de altura, na parte aflorante, e comprimento superior a 200m. Possui morfologia tabular e está disposto concordantemente com a encaixante, de maneira sub-horizontal (Prancha 3.1, Fotografia a). A mineralogia principal desse corpo é representada por feldspato potássico, plagioclásio pertítico, quartzo, muscovita, biotita e raramente mica litinífera. Já a mineralogia acessória é constituída 34 Contribuições às Ciências da Terra, Série M, Vol.09.....151p. por caulinita, apatita, albita berilo, tantalita-columbita, granadas e turmalinas, principalmente as de coloração negra (schorlita). Nesse pegmatito é possível visualizar uma estrutura zonada, sendo a zona marginal caracterizada por possuir poucos centímetros de espessura. A zona intermediária foi quase que totalmente explotada em feldspato industrial, feldspato com textura gráfica e quartzo, para as indústrias de vidro e cerâmica, e a zona mural apresenta-se, como a de maior espessura tendo como característica marcante a presença de “ripas” de biotita de até dois metros de comprimento. Estas apresentam o eixo c paralelo ao contato do pegmatito com a encaixante, resultando em sua seção basal quase perpendicular ao mesmo. Os cristais de granada apresentam-se com uma borda de alteração de coloração negra à acinzentada indicando a presença de manganês em sua estrutura cristalina. As unidades ou corpos de substituição são de ocorrência pouco freqüente e apresentam-se sob a forma de cavidades preenchidas por cristais euédricos de quartzo fumé e incolor, além de “livros” de muscovita, cristais euédricos de berilo, apatita e etc. A explotação deste pegmatito remonta à Segunda Guerra Mundial e, durante o período do conflito, destacou-se como grande produtor dos minerais estratégicos, tais como: mica, feldspato, berilo e quartzo. Atualmente, é conhecido como produtor de feldspato, berilo e quartzo de aplicação industrial, além das variedades gemológicas água-marinha, quartzo róseo e fumé. 3.2.1.2 – Mineralogia e Classificação do Pegmatito do Ferreirinha Trata-se de um corpo de grande porte (15 a 50 metros de espessura) com zonamento uniforme, contendo feldspato, quartzo, ferrocolumbita/tantalita e berilo, na zona intermédia. Nota-se também, a ocorrência de cleavelandita, muscovita, água-marinha e granada, nos corpos de substituição, e quartzo hialino à róseo, no núcleo. Deve-se ressaltar que a explotação neste corpo é realizada em três cavas (galerias), segundo cotas distintas, as quais recebem, respectivamente, os nomes de Ferreirinha I, II e III (Prancha 3.1, Fotografia b). Esse pegmatito é conhecido como produtor de feldspato e berilo tanto de aplicação industrial, como das variedades gemológicas, água-marinha e turmalina (lavras II e III). 35 De-Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... Lavra do Ferreirinha I Refere-se à cava superior ou de maior cota, onde é possível observar a estruturação zonada do pegmatito. Sua mineralogia é constituída por quartzo, feldspato potássico, albita (cleavelandita), biotita, muscovita e berilo. Apresenta, neste nível, total ausência de turmalina. É possível observar, nos corpos de substituição, o contato de cristais métricos de feldspato com cristais centimétricos de albita. Deve-se ainda destacar, a presença de livros de mica de até 2m de altura. Lavra do Ferreirinha II Refere-se à cava intermediária, onde também é possível identificar a estrutura zonada do pegmatito. Sua mineralogia é representada pela presença de quartzo, feldspato potássico, albita, biotita, muscovita e berilo. Deve ser ressaltada a presença abundante de turmalina negra neste nível do corpo pegmatítico. 3.2.1.3 – Mineralogia e Classificação do Pegmatito do Jonas Lima O pegmatito encontra-se encaixado entre o contato do ortognaisse do Complexo Mantiqueira e o xisto da Formação São Tomé. Trata-se de um corpo zonado, subhorizontal, contendo albita, cleavelandita, mica e quartzo, no corpo de substituição e água-marinha e berilo industrial, além de cristais métricos de quartzo e feldspato, na zona intermédia. Trata-se de um corpo de grande porte, com espessura variando de 15 à 50 metros. A explotação neste corpo é realizada em duas cavas, conhecidas, respectivamente, como: Jonas Lima I e II (Prancha 3.1, Fotografia c). Lavra do Jonas Lima I Refere-se à cava superior ou de maior cota, sendo possível observar a estrutura zonada do corpo. Neste nível pode-se observar a presença de quartzo hialino e fumé, feldspato potássico (microclínio), muscovita e biotita, em agregados drúsicos, sob a forma de “livros” de até 20cm de altura. Os minerais acessórios mais comumente encontrados são turmalina (verde e negra) e água-marinha. Deve-se ressaltar a presença de cristais métricos de feldspato na zona gráfica, cuja ocorrência está associada a mica de coloração lilás. Os cristais de granada também apresentam borda de alteração de 36 Contribuições às Ciências da Terra, Série M, Vol.09.....151p. coloração negra à acinzentada. Outro destaque é a presença de quartzo fumé como componente do núcleo desse corpo pegmatítico. Lavra do Jonas Lima II Trata-se da cava inferior ou de menor cota, sendo que tanto a estruturação quanto a mineralogia observadas neste caso são as mesmas anteriormente descritas. 3.2.1.4 – Mineralogia e Classificação do Pegmatito do Escondido Por se tratar de um corpo não aflorante, onde o acesso ao mesmo é realizado por uma abertura de 0.90 x 1,60m, cavada no capeamento, totalmente alterado, do pegmatito, não é possível estimar suas dimensões e morfologia. Sabe-se apenas que o túnel escavado possui cerca de 50m de comprimento, sendo classificado como de médio porte. Geoquimicamente é considerado um corpo altamente diferenciado. Está disposto concordantemente, de maneira sub-horizontal, com os xistos da Formação São Tomé. Esse pegmatito não foi fotografado devido a impossibilidade de acesso, uma vez que a entrada da galeria encontrava-se trancada nas duas idas ao campo. A mineralogia essencial desse corpo é representada por feldspato potássico de aplicação industrial, quartzo (hialino, róseo, leitoso, fumé e amarelo), mica (muscovita litinífera, biotita). Já a mineralogia acessória é constituída por caulinita, apatita, cleavelandita, autunita, berilo (água-marinha, morganita e goshenita), turmalina (negra, verde e rósea) e nióbio-tantalatos nos corpos de substituição (Gandini 1999). Nesse pegmatito é possível visualizar uma estrutura zonada, onde a zona marginal é caracterizada por possuir poucos centímetros de espessura. A zona mural atualmente é explotada em feldspato industrial, turmalina negra e berilo industrial e a zona intermediária é explotada em turmalinas coradas, água-marinha, goshenita e morganita. As unidades ou corpos de substituição são de ocorrência freqüente, apresentando-se sob a forma de cavidades preenchidas por cristais euédricos de quartzo fumé e incolor, além de livros de muscovita, cristais euédricos de berilo, apatita, cleavelandita e nióbio-tantalatos. Trata-se de um corpo pouco conhecido e estudado, tendo sido descrito pela primeira vez por Gandini (1999). 37 Tabela 3.5 - Algumas descrições acerca dos pegmatitos alvo de estudo, do Campo Pegmtítico de Marilac (adaptado de Ribeiro 2002) Coordenadas UTM Dimensão Morfologia Rocha Encaixante Mineralogia Principal Mineralogia Acessória tabular muito grande quartzomicaxisto feldspato potássico, quartzo, muscovita, biotita caulinita, albita, apatita, autunita, berilo, nióbio-tantalatos, granada, turmalina Ferreirinha I 806370 7926371 tabular grande micaxisto feldspato potássico, biotita, quartzo, muscovita caulinita, albita, apatita, autunita, berilo, nióbio-tantalatos, granada, turmalina Ferrerinha II 805017 7926220 tabular grande micaxisto feldspato potássico, muscovita, biotita, quartzo caulinita, albita, apatita, autunita, berilo, nióbio-tantalatos, granada Jonas Lima I 807356 7926757 tabular muito grande quartzomicaxisto feldspato potássico, quartzo, muscovita caulinita, albita, autunita, berilo, nióbiotantalatos, granada, turmalina Jonas Lima II 807440 7926624 tabular muito grande biotitaquartzomicaxisto feldspato potássico, quartzo, muscovita caulinita, albita, apatita, autunita, berilo, nióbio-antalatos, granada, turmalina Escondido 809365 7929905 lenticular muito grande micaxisto feldspato potássico, quartzo, muscovita berilo, caulinita, cleavelandita, autunita, apatita, nióbio-tantalatos, turmalina Pegmatito E Ipê N 805100 7925040 Contribuições às Ciências da Terra, Série M, Vol.09.....151p. a Vista geral do Pegmatito Ipê, evidenciando seu posicionamento concordante com a encaixante b Vista Geral do Pegmatito do ferreirinha, evidenciando as cavas I (maior cota) e II (menor cota). c Vista da entrada do Pegmatito Jonas Lima I, evidenciando a deformação do mesmo juntamente com a rocha encaixante Prancha 3.1 - Fotografias representando os três corpos pegmatíticos estudados neste trabalho. 39 De-Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... 3.2.2 – Estratigrafia Os corpos pegmatíticos do Ipê, Ferreirinha (lavras I e II), Jonas Lima (lavras I e II) e Escondido estão inseridos em uma região pertencente à Folha de Marilac, contida no domínio ocidental da Faixa Araçuaí e no Núcleo Antigo Retrabalhado de Guanhães (Figura 3.6). A distribuição estratigráfica da área é aqui descrita segundo a coluna estratigráfica proposta por Ribeiro (2002) (Tabela 3.6). 3.2.2.1 – Faixa Cratônica – Núcleo Antigo de Guanhães As rochas pertencentes à esse contexto estão representadas pelo Complexo Basal e pelo Grupo Guanhães, com idade Arqueana e compõem o conjunto mais antigo da Folha de Marilac. De acordo com Grossi Sad (1993), o complexo basal agrupa informalmente as rochas do tipo tonalito-trondjemito-granodiorito (TTG), gnaissificadas e em parte migmatizadas, divididas em duas unidades. Ribeiro (2002) o subdivide em duas unidades: a unidade 1, refere-se à gnaisses quartzofeldspáticos, homogêneos, bandados e foliados contendo pouca biotita. A unidade 2 refere-se à gnaisses quartzo-feldspáticos, bandados, levemente foliados, altamente friáveis e com escassez de biotita. Os diagramas QAP a e b, apresentados no Quadro 3.1, indicam que para a unidade 1 existe uma variação de composição das rochas, que vai de granito a granodiorito, monzonito e tonalito. No caso da unidade 2, há a predominância das composições graníticas e tonalíticas com leve tendência à granodioríticas (Ribeiro 2002). O Grupo Guanhães possui distribuição territorial restrita, seguindo a borda do Maciço Granítico Açucena. É representado por uma seqüência vulcano-sedimentar composta por xistos grafitosos, aluminosos, calciossilicáticos, ultramáficos e máficos, além de gnaisses grauvaquianos, mármores, formações ferrífera e magnesífera, quartzitos e quartzitos ferruginosos. Seu metamorfismo, analogamente ao ocorrido no Complexo Basal, é da fácies anfibolito, datado em 2.0Ga, referindo-se ao Arqueano (Grossi Sad et al. 1990 e Ribeiro 2002). De acordo com Ribeiro (2002), os granitos pré- a sin-tectônicos da Suíte Intrusiva Paleoproterozóica, são leucocráticos, de composição essencialmente quartzo-feldspática, contêm pouca biotita e possuem foliação ausente a discreta. Já os Granitos da Suíte Borrachudos pertencem ao Mesoproterozóico, compreendendo migmatitos tardi- a pós-tectônicos em relação ao Ciclo Transamazônico. O diagrama QAP c, do Quadro 3.1, mostra a composição dominante das rochas pertencentes ao Maciço Granítico de Açucena, que vai de granítica com tendência granodiorítica a 40 Contribuições às Ciências da Terra, Série M, Vol.09.....151p. quartzo-monzonítica, diorítica e tonalítica. Ambas as unidades sofreram metamorfismo da fácies anfibolito. 42o15' 42o10' 42o05' 42o00' Chonim Salvador FST2 18o40' o 18 40' Chonim de Baixo 4 Golconda FST1 QT 3 2 2 1 18o45' 18o45' CM 0 CB 2,5 Santo Antônio do Pontal MG - 3 BR - 116 MA 14 Governador Valadares 18 50' 5,0 km o 18o50' o 42 10' o 42 05' Pegmatitos estudados o 42 00' MA - Maciço Granítico Açucena CB - Complexo Basal Outros pegmatitos Vila FST1 - Formação São Tomé FST2 - Formação São Tomé Falha de empurrão Contato litológico definido Rodovia Federal Rodovia Estadual Estrada de terra CM - Complexo Mantiqueira QT - Quartzito Figura 3.6 – Mapa Geológico da área de estudo (adaptado de Gandini 1999 e Comig 2002) 41 De-Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... Quaternário Cenozóico Fanerozóico Tabela 3.6 – Estratigrafia da região referente á Folha de Marilac, mostrando a distribuição das principais litologias (Ribeiro 2002). 65 Ma Qha Aluvião Núcleo Antigo de Guanhães Terraços Aluvionares Faixa Móvel Domínio Ocidental Neopreoterozóico Granitos Sin a Tarditectônicos Nbb Granito Baixa do Bugre Grupo Rio Doce Nst1 Nst2 Formação São Tomé 1.000 Ma Mesoproterozóico Proterozóico 570 Ma Qht Granitos Pré a Tardi-Tectônicos MA Granito Açucena Arqueano 2.600 Ma Paleoproterozóico 1.800 Ma Granitos Pré a Sin-Tectônicos Pj Granito Jenipapo Grupo Guanhães Ag Complexo Basal Ab1 Ab2 42 Complexo Mantiqueira Cm qt Contribuições às Ciências da Terra, Série M, Vol.09.....151p. Quadro 3.1 - Diagramas QAP mostrando a distribuição das rochas pertencentes às unidades 1 e 2 do Complexo Basal (a e b), Maciço Granítico de Açucena (c), do Antigo Núcleo Guanhães; do Complexo Mantiqueira (d), Granito Baixa do Bugre (e), da Faixa Móvel Ocidental (adaptado de Ribeiro 2002). a b c d e 43 De-Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... 3.2.2.2 – Faixa Móvel – Domínio Ocidental Complexo Mantiqueira As rochas componentes deste domínio possuem idades mais antigas que vão do Proterozóico Inferior ao Superior. O complexo Mantiqueira engloba gnaisses migmatizados ou não, contendo, basicamente, quartzo, feldspato potássico, biotita, microclínio, granada e hornblenda. Foram submetidas a metamorfismo da fácies anfibolito e, localmente, granulito (Silva et al. 1978a, Viana 1991 e Ribeiro 2002). O diagrama QAP d, do Quadro 3.1, mostra que a composição desses gnaisses é, predominantemente, tonalítica com tendências graníticas e granodioríticas. Em seqüência estão dispostas as rochas Neoproterozóicas da Formação São Tomé, do Grupo Rio Doce, cujo contato é por falha de empurrão em toda sua extensão. Finalizando, ocorrem os granitos Neoproterozóicos sin- a tardi-tectônicos, localizados na região Baixa do Bugre (Ribeiro 2002). Grupo Rio Doce A primeira referência a este grupo foi realizada por Barbosa et al. (1964), que o caracterizou na região do médio Rio Doce. Está posicionado na porção oriental da Faixa Araçuaí, onde está localizada a área alvo deste estudo. Encontra-se também sotoposto a terrenos mais antigos do Cinturão Atlântico e refere-se a rochas de idades que vão do Proterozóico Inferior ao Médio (Pedrosa Soares et al. 1994). O Grupo Rio Doce foi dividido por Barbosa et al. (1964) em três formações: as formações Tumiritinga e São Tomé, que lateralmente são correlatas representando as unidades basais do grupo, e a Formação João Pinto, sotoposta às anteriores, formando a unidade superior. É constituído ainda por rochas de caráter xistoso não descriminadas em formações (Cunninghan et al. 1996, Ribeiro 2002) Esta unidade é de extrema importância no que se refere ao caráter econômico da região, uma vez que engloba os pegmatitos produtores de gemas coradas, minerais de coleção e minerais industriais. Os pegmatitos estão encaixados nos xistos da Formação São Tomé. A ocorrência destes pegmatitos é rara no domínio oriental da Faixa Móvel (Pinto et al. 2002). Estruturalmente, encontra-se altamente deformado e metamorfizado na fácies anfibolito. Generalizando, este grupo representa uma seqüência psamo-pelítica sem componentes conglomeráticos. À 44 Contribuições às Ciências da Terra, Série M, Vol.09.....151p. oeste está em contato tectônico, por falha de empurrão, com os metagranitos do corpo Açucena (Silva et al. 1987b, Grossi Sad et al. 1990 e Pedrosa Soares et al. 1994). Formação São Tomé Os metassedimentos contidos nesta formação foram primeiramente descritos e estudados por Barbosa et al. (1964). Representam xistos, cuja composição essencial engloba quartzo, mica, feldspato, sillimanita e ocorrências locais de granada e turmalina (Ribeiro 2002). São descritos ainda, a presença de numerosos filões de quartzo e a ocorrência de dezenas de corpos pegmatíticos encaixados nos metassedimentos desta formação. Sendo esses, responsáveis pela produção de quartzo, feldspato e berilo industriais; minerais de coleção; além de água-marinha, morganita, goshenita, turmalina azul, rósea, verdes e negras (Pinto et al. 2002). Segundo Silva et al. (1978a e b), Grossi Sad et al. (1990) e Pedrosa Soares et al. (1994), essas rochas sofreram metamorfismo de grau médio a baixo, na fácies anfibolito, encontrando-se à oeste em contato tectônico, por falha de empurrão, com as rochas do Grupo Guanhães e à leste com os gnaisses do Complexo Mantiqueira. 3.2.2.3 – Granitos Sin- a Tardi-tectônicos Englobam as rochas Neoproterozóicas, representadas na Folha de Marilac, pelo Granito Baixa do Bugre, que corta discordantemente as rochas gnáissicas do Complexo Mantiqueira e os xistos da Formação São Tomé. Constituem gnaisses granitóides de coloração cinza a esverdeada, compostos por quartzo, feldspato, biotita, e anfibólio. Possuem granulometria variando de fina a grossa, apresentam-se fortemente foliados e contêm, comumente, cristais de feldspato de até 3 cm, orientados e/ou dispostos aleatoriamente. O diagrama QAP e, do Quadro 3.1, mostra uma variação de composição que vai de granítica a tonalítica. 3.2.2.4 – Rochas Intrusivas de Idade Indeterminada Geralmente constituem diques ou ocorrem em pequenos corpos intercalados nas diversas unidades litoestratigráficas da área. Englobam todas as rochas de posicionamento incerto, de composição 45 De-Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... básica e metaultrabásica, em parte metamorfisadas de distribuição aleatória e/ou intercaladas nas unidades estratigráficas da Folha de Marilac. São descritos anfibolitos localmente granatíferos, metagrabos e jutonitos, além de tremolita-xistos (Ribeiro 2002). Os corpos básicos, diques e granitos pertencem, provavelmente, ao Mesozóico, segundo Ribeiro (2002). 3.2.2.5 – Terraços Aluvionares Sua ocorrência é mais expressiva ao longo dos vales dos rios, onde ocupam, principalmente, as margens dos cursos d’água. Esses sedimentos quaternários possuem coloração variada e compõem materiais areno-argilosos detríticos, argilas, arenosos e conglomeráticos. Apresentam-se em contatos bruscos e discordantes com as diversas litologias que recobrem a área (Ribeiro 2002). São caracterizados por um acamamento bem definido, com estruturas primárias marcantes, distinguidas, principalmente, por cascalhos ricos em seixos imbricados segundo a paleocorrente. Apresentam-se tanto sob forma friável quanto consistentes (Ribeiro 2002). 3.2.2.6 – Aluviões De forma similar aos terraços aluvionares, os aluviões se concentram nas margens dos cursos d’água da região referente à Folha de Marilac. Tratam-se de depósitos quaternários de coloração variada, compostos por sedimentos detríticos, inconsolidados, dispostos nas calhas dos rios e nas planícies de inundação dos mesmo. Sendo representados por areias, siltes e argilas (Ribeiro 2002). Os aluviões da região apresentam alta potencialidade econômica por serem depósitos secundários das gemas coradas encontradas na região, no entanto, atualmente, sua explotação é proibida pelo IBAMA (Pinto et al. 2002). 3.3 – CONTEXTO GEOTECTÔNICO O contexto geotectônico de Minas Gerais caracteriza-se pela megaestruturação de idade Arqueana a Paleoproterozóica, no contato entre os blocos crustais Brasília e Vitória. Com posterior estabelecimento de extensos cinturões orogênicos Mesoproterozóicos e a individualização do Cráton de São Francisco (Haralyi et al. 1982, Schobbenhaus et al. 2001; Figura 3.7). 46 Contribuições às Ciências da Terra, Série M, Vol.09.....151p. Segundo Almeida et al. (1976), Pedrosa Soares et al. (1994) e Cunninghan et al. (1996), os corpos pegmatíticos da Província Pegmatítica Oriental do Brasil, encontram-se encaixados em rochas pertencentes à Faixa de dobramentos Araçuaí, porções Ocidental e Meridional. Ambas retrabalhadas durante o Ciclo Brasiliano. Trata-se de um cinturão de dobramentos e empurrões, estruturados sobre litologias dos grupos Rio Doce e Macaúbas, Supergrupo Espinhaço e rochas arqueanas. 44o 8o Faixa Riacho do Pontal Faixa Sergipana o 48 northeastern lobe o 12 Faixa Brasília Salvador Brasília OCEANO ATLÂNTICO southern lobe Faixa Araçuaí Província Pegmatítica Oriental do Brasil EFB Golconda Belo Horizonte Governador Valadares 20o o 48 QF Cinturões Orogênicas Brasilianos Metassedimentos de médio e alto grau, Brasilianos Áreas transamazônicas com rejuvenecimento brasiliano Faixa Alto Rio Grande 0 Cobertura Fanerozóica Granitóides Brasilianos 200km Cobertura Meso/Neoproterozóico Geenstone Belt Arqueano e Estratos Paleoproterozóicos Embasamento (>1.8Ga.) Figura 3.7 – Mapa do arcabouço geotectônico do Cráton de São Francisco de da Província Pegmatítica Oriental do Brasil (modificado de Schobbenhaus et al. 2001). 47 De-Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... A área de estudo insere-se em território localizado à leste da Serra do Espinhaço, no Vale do Rio Doce. De acordo com Ribeiro (2002), a Folha de Marilac foi descrita, simplificadamente, em dois domínios tectônicos. O primeiro, Núcleo Antigo de Guanhães, refere-se ao domínio cratônico PréBrasiliano, representado por ganaisses tipo TTG associados a rochas ultramáficas e máficas (Complexo Basal), seqüência vulcão-sedimentar e granitóides alcalinos (Suíte Borrachudos e Granito Açucena). O segundo, Faixa Móvel Proterozóica, subdivide-se em dois subdomínios, o Ocidental, caracterizado por ampla sedimentação marinha, contendo gnaisses peraluminosos parcialmente migmatizados, xistos, quartzitos, rochas calciosilicáticas e mármores dos grupos Rio Doce e Macaúbas e o Oriental, Neoproterozóico, caracterizado pela intensa granitogênese resultando na formação de granitos pré, sin- e tardi-tectônicos. Os dois domínios possuem características litológicas, metamórficas, estruturais e magmáticas distintas, estando separados por falhas de empurrão, com movimento de E para W e gradiente metamórfico crescente de W para E. 48 CAPÍTULO 4 BERILO: CONSIDERAÇÕES GERAIS O nome berilo tem sua origem na palavra latina beryllus, cujo significado refere-se à coloração mais comum deste mineral, que é o verde-claro-azulado (Sauer 1982). É um dos mais importantes silicatos e possuidor de uma grande gama de cores. Suas variedades incolor e vermelha são de ocorrência rara e seu uso é muito importante como fonte do elemento berílio (Be), utilizado na fabricação de escudos de calor, partes de sistemas de orientação, giroscópios, plataformas estáveis, acelerômetros, etc. (Sauer 1982, Klein & Hurlbut Jr. 1985, Schumann 2002). O berilo é conhecido na sociedade humana desde o início dos tempos e sua presença sempre foi marcante em todas as civilizações, seja por sua utilização como gema, seja por seu uso industrial. As primeiras referências históricas, sobre a utilização do berilo em jóias primitivas, remontam ao paleolítico. (Schumann 2002). São inúmeras as referências que associam o uso do berilo em rituais e passagens religiosas, fato muito comum na Idade Média, bem como as referências bíblicas acerca desta gema, como a passagem que relata o berilo como uma das 12 pedras cravadas no peitoral de Aarão, Sumo-sacerdote dos Judeus, representando uma das doze tribos de Israel (Mitos & Lendas 2001). Segundo Sinkankas (1981), as primeiras citações mineralógicas referentes ao berilo foram realizadas por Haüy (1801) e J.B.R de Lisle (1872), que descreveram, respectivamente, as variações das formas cristalográficas e sua representação por meio de um conjunto de letras. O berilo é encontrado em diversos ambientes. O berilo gema está associado, geralmente, à pegmatitos graníticos cuja mineralogia básica se assemelha à do granito, sendo formada por quartzo, feldspatos e micas, podendo ainda ser encontrado em depósitos secundários, como em eluviões e aluviões. Já o berilo industrial é encontrado na zona gráfica ou mural dos pegmatitos (Figura 3.6), enquanto que na zona intermediária encontram-se tanto cristais de berilo industrial quanto aqueles de qualidade gemológica, embora de dimensões menores (Cameron et al. 1975). No que se refere à sua aplicação como gema, a propriedade mais importante é a cor. Segundo ela o berilo é classificado em: esmeralda – verde-grama; água-marinha – azul intenso à azul-esverdeado; heliodoro, também conhecido como berilo dourado, – amarelo-limão à amarelo-dourado; morganita - De-Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... rosa-chá à rosa-salmão; bixbita (termo gemológico) – vermelho-groselha à vermelho-salmão e goshenita – incolor ou branca (Sauer 1982, Schumann 2002). Em Minas Gerais são encontradas esmeraldas, as mais imponentes águas-marinhas, símbolo gemológico do Brasil, além de morganita, heliodoro e goshenita. No entanto é necessário ressaltar que a utilização do berilo não se restringe unicamente à indústria joalheira. Uma vez que esse mineral possui grande importância industrial, por ser uma das maiores fontes do metal leve berílio, é utilizado na fabricação de mísseis e reatores nucleares, etc. Dentre os principais países produtores, destacam-se: Brasil, Colômbia, Rússia, EUA, África do Sul, Austrália, Birmânia, Sri Lanka, Zimbabwe, Namíbia, Madagascar, Moçambique, Tanzânia, Paquistão e outros (Schumann 2002, Pinto et al. 2002). 4.1 – O BERILO NA HISTÓRIA DO BRASIL O Brasil vem se destacando, desde a Segunda Grande Guerra, como maior produtor de gemas no mercado mundial. Sua produção se diferencia das demais por apresentar uma grande variedade de gemas. Esse fato se deve à abundância de pegmatitos mineralizáveis, que recortam as rochas de idade PréCambriana, e cobrem grande parte do território brasileiro. A Tabela 4.1, mostra a exploração do berilo no Brasil ao longo dos seus 500 anos. Desde sua descoberta, a cerca de 500 anos, o Brasil teve sua história confundida com a exploração do berilo. Atualmente é considerado um dos maiores produtores mundiais, tanto das variedades gemológicas, quanto do berilo industrial. Dentre os estados produtores de berilo no Brasil, destaca-se o de Minas Gerais, seguido pelo Espírito Santo, Bahia e Paraíba estes formando a Província Pegmatítica Oriental do Brasil, definida por Paiva (1946). Até meados dos anos 40, do séc. XX, o Brasil era tido como mero exportador de pedras coradas brutas, incluindo o berilo. No entanto, durante a Segunda Guerra Mundial, houve uma intensa exploração da Província Pegmatítica Oriental do Brasil. Assim o país deixou sua posição limitada, passando a suprir cerca de 75% da demanda de minerais estratégicos (quartzo, berilo, mica, etc.) (Bauer 1968, Sauer 1982, Pinto et al. 2002). 50 Contribuições ás Ciências da Terra Série M, vol. 09...151 p. Tabela 4.1 - Principais fatos envolvendo a exploração de gemas no Brasil, ao longo da história do país, destacando-se a procura por variedades do berilo – (Bauer 1968, Sauer 1982, Schumann 2002, Gandini 1999). 1554 – Tiveram início as “Entradas” e “Bandeiras”, que visavam percorrer o interior do país à procura de ouro e esmeraldas. Século XVI 1571 – A expedição de Fernandes Tourinho encontra os primeiros berilos, às margens do Rio Itamarandiba, nas proximidades dos municípios de Capelinha e Turmalina, estado de Minas Gerais. 1568 – São descobertas algumas jazidas do que se considerava serem esmeraldas. Século XVII 1672 – A aristocracia paulista usa seus próprios recursos em incursões, visando encontrar gemas e ouro. 1674 – Fernão Dias Paes Leme sai à busca de esmeraldas, peregrinando pelas Minas Gerais. 1697 – As 128 pedras enviadas à Coroa Portuguesa, foram examinadas por peritos da Índia e classificadas como falsas esmeraldas (turmalina verde). 1721 – Bernardo da Fonseca descobre os primeiro diamante em território brasileiro. Século XVIII 1725 – Sebastião Leme do Prado, a exemplo de Bernardo da Fonseca, efetua descobertas de diamante no território brasileiro. A busca por pedras coradas decai e a esmeralda deixa de ser o maior alvo da cobiça da Coroa Portuguesa. Século XIX 1820 – A Coroa Portuguesa volta suas atenções para a região de Vila Rica à procura de Ouro. 1850 – A região de Teófilo Otoni sofre um grande impulso na mineração de minerais gemas. 1910 – Foi descoberta, no vale do Rio Marambaia, a água-marinha Papamel (110,5 Kg), destacando o Brasil como produtor desta variedade. 1940 – O Brasil se limita ao papel de exportador de gemas coradas brutas. SEGUNDA GUERRA MUNDIAL A província Pegmatítica Oriental do Brasil passa a ser uma das grandes produtoras de Século XX minerais estratégicos, incluindo o berilo. 1950 – Os pegmatitos brasileiros alcançam uma grande importância econômica, colocando o Brasil como pólo mundial na produção de pedras coradas. 1970 – A produção de águas–marinhas é destaque no estado de Minas Gerais (algumas lavras localizadas nos vales dos rios Jequitinhonha e Doce chegaram a produzir 1 tonelada de cristais de qualidade gemológica). 1990 – Foram descobertas novas jazidas de esmeraldas nos domínios do estado de Minas Gerais, como as de Capoeirana e a da Fazenda das Piteiras Século XXI O Estado de Minas Gerais continua se destacando como um dos maiores produtores de gemas coradas do mundo. 51 De-Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... Com o fim do conflito mundial, os pegmatitos portadores de mineralizações passaram de produtores de minerais estratégicos, a grandes produtores de gemas coradas, levando, assim, o nome do estado de Minas Gerais e, conseqüentemente, do Brasil como o de maior produtor mundial de gemas coradas (Sauer 1982, Schumann 2002). 4.2 – CRISTALOGRAFIA O mineral berilo pertence à classe dos silicatos, subclasse dos ciclossilicatos e ao grupo do berilo, que é formado, além do mineral berilo, também pelos aluminossilicatos de Fe, Mg e Be: sekaninaita (Fe2+, Mg)2Al3(AlSi5O18), bazzita Be3(Sc, Fe)2Si6O18, idialita Mg2Al3(AlSi5O18) e cordierita (Mg, Fe2+)2Al3[AlSi5O10].H2O (Gaines et al. 1997). Desde o século XIX, Haüy (1801), Lisle (1872) e outros estudiosos já descreviam o berilo como pertencente ao sistema cristalino hexagonal. Porém, somente no século XX, com estudos mais avançados de sua estrutura interna, como os de Bragg & West (1926), é que a disposição dos átomos na rede cristalina do mineral foi caracterizada. O berilo possui 4 eixos cristalográficos dos quais 3 são coplanares formando ângulos de 120º entre si (Quadro 4.1). O quarto eixo posiciona-se ortogonalmente aos demais. Com alto grau de simetria forma, geralmente, bipiramides-dihexagonais da classe 6/m 6/m 6/m e grupo espacial P6/mcc (Gaines et al. 1997). Apresenta predominância das faces do prisma (10 1 0) e do pinacóide (0001), sendo menos comuns as faces das bipirâmides (12 3 1) e (10 1 1) e do prisma dihexagonal (11 2 0) (Figura 4.2). O hábito desse mineral pode ser prismático curto (tabular) ou prismático com terminações multifacetadas, exibindo estrias ao longo do eixo c (verticalmente) e até doze lados em seção transversal (Figura 4.2) (Schumann 2002). 4.3 – PROPRIEDADES CRISTALOQUÍMICAS Segundo Deer et al. (1962), embora sejam representados pela fórmula cristaloquímica geral, Be3Al2Si6O18, onde BeO ≅ 14%, Al2O3 ≅ 19% e SiO2 ≅ 67%, análises químicas mostram que, geralmente, é comum a presença de álcalis (Li+, Na+, Cs+, Rb+, K+), em uma porcentagem de até 11%, água (H2O), em uma porcentagem de até 4%, além de traços dos elementos Fe, Mg, Mn, Ti, V, Cr, P, Ba, Zr, Sr, Sc, Zn, Ca e outros. Outras análises ainda mostram que a substituição Li+↔Be2+ favorece, fortemente, o mecanismo de entrada de álcalis nos canais da rede cristalina, paralelos ao eixo cristalográfico c. 52 Contribuições ás Ciências da Terra Série M, vol. 09...151 p. CRISTALOGRAFIA Quadro 4.1 - Propriedades cristaloquímicas do berilo (Betekhtin s.d., Roberts et al. 1974, Mauriño 1976, Dana & Hurlbut Jr 1976, Tröger 1979, Webster 1980, Deer et al. 1981, Klein & Hurlbut Jr 1985, Schumann 2002). Simetria QUÍMICAS MECÂNICAS MINERALÓGICAS Geminação não apresenta Cela unitária ao=9,23Å; co=9,19Å; relação axial - a:c = 1:0,996; Z=2 Principais reflexões (RX) 2.867Å (100); 3.254Å (95); 7.98Å (90) Fórmula Be3Al2Si6O18 Álcalis presentes Li, Na, K, Rb, Cs; > outros elementos o co permanece constante Moléculas nos canais H2O, CO2, He, Ar, F 5 - 51/2; funde-se formando um esmalte Calcinação calcinado intensamente produz um pouco de água Solubilidade insolúvel em ácidos Fusibilidade infusível Tenacidade quebradiço Fratura irregular a conchoidal (assimétrica) Clivagem pinacoidal basal imperfeita {0001} Traço branco Dureza relativa 71/2 - 8,0 (Mohs) Densidade relativa Brilho Diafaneidade Cores/nuances ÓPTICAS > álcalis implica em Fusibilidade Dados ópticos Pleocroísmo Espectro de absorção Fluorescência GEOLÓGICOS hexagonal, classe 6/m2/m2/m, grupo espacial P6/mcc Hábito prismático com terminações multifacetadas, algumas vezes exibindo 12 lados em seção transversal, com estriações ao longo do eixo c. Também com hábito tabular Ocorrência Paragênese > I.R., >d, >ao 2,63 a 2,80 vítreo transparente a translúcido incolor, azul claro a forte, azul esverdeado, verde pálido a forte, amarelo claro a escuro, róseo, vermelho e leitoso nϖ = 1.567 - 1.594, nε = 1.563 - 1.586, B = 0,004 a 0,008; dispersão = 0,014 2V = 0 até 17o; uniaxial negativo heliodoro (fraco) - amarelo dourado, amarelo limão morganita (distinto) - róseo pálido e róseo azulado esmeralda (distinto) - (natural) - verde, verde-azul e verde amarelo (sintética) - verde amarelo, verde azul água-marinha, azul (distinto) - quase incolor a azul claro, azul a azul celeste azul/verde (distinto) - verde-amarelo a incolor, verde-azul bixbita (distinto) - púrpura, incolor não há um definido; os espectros são diferentes para cada variedade morganita: fraca - violeta jazidas primárias: em drusas nos granitos e pegmatitos graníticos, sienitos nefelínicos, mica xistos, mármores, greisen, veios hidrotermais e pneumatolíticos ou como acessório em rochas ígneas ácidas jazidas secundárias: aluviões e colúvios quartzo, cassiterita, turmalina, feldspato, micas litiníferas, topázio, crisoberilo, fenaquita, trifilita, fluorita, espodumênio, etc 53 De-Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... canais // ao eixo c a) Oxigênio Alumínio Berílio Silício ao b) 100 Alumínio 75 co 50 Berílio 25 0 ao Figura 4.1 – Projeção da face basal (0001) do berilo e projeção correspondente à face do prisma 1a ordem {0001}, com eixo c vertical, exemplificando a estrutura do berilo e mostrando a distribuição de alumínio, sílica e BeO4 (modificado de Gandini 1999). 54 Contribuições ás Ciências da Terra Série M, vol. 09...151 p. Berilo - Sistema Hexagonal C // n E 0001 1010 a2 2 a3 1 Prisma Hexagonal 1 a Ordem e Pinacóide Basal Prisma Hexagonal 2 a ordem e Pinacóide Basal Bipirâmide Hexagonal Figura 4.2 - Modelo do sistema cristalográfico do berilo, mostrando o posicionamento dos eixos cristalográficos e as relações angulares entre eles (adaptado de Schumann 2002). Segundo Gaines et al. (1997), a fórmula geral deste grupo pode ser definida como: A2-3 B2 [Si5 Si Al}O18, onde A = Be, Mg, Fe e B= Al, Sc, Fe. Se levadas em consideração as características importantes na causa de cor do berilo, fator determinante de suas variedades gemológicas, sua forma cristaloquímica é expressa por [A] X3 Y2 T6 O18, associando as várias substituições isomórficas na estrutura do mineral e os elementos alcalinos sob a forma de íons mono e bivalentes. Dessa forma, A representa as vacâncias dos canais; X os sítios tetraédricos, para substituição de Be, Al, Li e Si4+; Y os sítios octaédricos e T os sítios tetraédricos, para a substituição do íon Si4+. O Quadro 4.2 apresenta as relações dessa fórmula geral, com a estrutura do mineral e os álcalis presentes como impurezas. 55 De-Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... Quadro 4.2 - Relações entre a fórmula geral do berilo, sua estrutura e a presença de impurezas sob a forma de álcalis (adaptado de Gaines et al. 1997). Elemento da Fórmula Geral Posicionamento na Estrutura do Mineral Impurezas e suas representações Na+, Ca+: raramente aparecem nos espaços entre os anéis; comumente entre 2 grupos H-O-H. K+: em posições cognatas ao grupo H-O-H; algumas vezes essa posição é ocupada pelo íon Rb+. A vacâncias e canais Rb+: aparece nos canais entre os grupos H-O-H e três óxidos de um anel trigonal, que é fortemente deformado. Cs+: análogo ao Rb+, com uma leve distorção nos anéis. Fe2+: presente nos canais ou ocupando vacâncias quando existe deficiência em alumínio. Nota-se também a presença de OH-. X sítio tetraédrico Be2+: aparece sob a forma de tetraedros [BeO4]6- ou junto ao Si nos tetraedros [SiO4]4-. Quando há deficiência em Si ou Al ocorre preferencialmente a substituição do Al. Li+: ocorre nas posições do Be+. Al3+: ocorre em octaedros [Al O6]9-; como possui caráter anfótero, pode substituir silício e berílio nos tetraedros. Y sítio octaédrico Fe2+, Fe3+, Mg2+, Mn2+, Cr3+, Sc3+, V5+, Te4+: ocorrem substituindo o alumínio nos octaedros [AlO6]9-. Li+: presente nas posições do alumínio, pode ocupar determinadas vacâncias quando ocorre alguma deficiência. T sítio tetraédrico Si4+: presente em tetraedros [SiO4]4-. Quando ocorre em excesso, pode substituir o berílio no tetraedro [BeO4]6-. Segundo Wood & Nassau (1968) e Aurisicchio et al.(1994), há dois modos de ocorrência das moléculas de água nos canais estruturais do berilo, identificados por meio de análises de espectroscopia de absorção no infravermelho. No primeiro caso, água tipo 1, as moléculas de eixo H-H se posicionam paralelas ao eixo c do berilo. No segundo caso, água do tipo 2, o eixo H-H é perpendicular ao eixo c (Figura 4.3). 56 Contribuições ás Ciências da Terra Série M, vol. 09...151 p. Esse mineral apresenta como característica principal a presença de anéis hexagonais compostos por seis tetraedros de Si-O, assemelhando-se a um favo de mel, formando canalículos ocos, contínuos e profundos paralelos ao eixo c e podendo ser preenchidos por íons maiores (Aurisicchio 1994). Deer et al. (1962) escreveu: “No interior dos anéis de cada grupo SiO4 , dois átomos de oxigênio são compartilhados por dois outros grupos de SiO4 adjacentes, de modo que o radical dos anéis seja representado por [Si6 O18]12, com uma relação Si:O igual a 1:3. Os átomos de alumínio (Al3+) e berílio (Be2+) estão posicionados alternadamente entre os anéis, sendo cada átomo de alumínio coordenado por um grupo octaédrico de seis átomos de oxigênio [AlO6]9- e cada átomo de berílio rodeado por quatro átomos de hidrogênio [BeO4]6-, formando um tetraedro distorcido. Os anéis [Si6O18] vizinhos se reúnem lateral e verticalmente por Al3+ e Be2+ (Figura 4.4)”. 5,1 A 2,8 A ANEL ANEL ANEL ANEL H H ANEL ANEL H O Cs-K-Rb O H 1 C = 9,19 A Na - OH H O H H H O Na H 2 OH- O H A) LIVRE DE ÁLCALIS H ÁGUA TIPO I B) RICO EM Na H H O ÁGUA TIPO II O H VACÂNCIA C) RICO EM ÁLCALIS 1 - Nível dos átomos de Si no anel Si6O18 2 - Nível dos átomos de Be e Al Figura 4.3 – Esquema mostrando a presença de moléculas de água do tipo I e II na estrutura do berilo (Gandini 1999). 57 De-Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... Al a) SiO4 BeO4 b) Figura 4.4 – Esquema exemplificando a estrutura do berilo e mostrando a distribuição do elemento alumínio, e dos tetraedros SiO4 e BeO4. a) projeção da face basal 0001; b) projeção correspondente à face do prisma de primeira ordem { 1 000}, com eixo c vertical (Gandini et al. 2001). 58 Contribuições ás Ciências da Terra Série M, vol. 09...151 p. 4.4 – PROPRIEDADES FÍSICAS Dentre as propriedades físicas do berilo, a cor é uma das mais importantes no que se refere ao seu emprego como gema, uma vez que, segundo às diversas tonalidades apresentadas, esse mineral possui denominações gemológicas distintas. No entanto, essa não é uma propriedade diagnóstica de identificação, já que muitas outras gemas podem apresentar tonalidades semelhantes às das variedades gemológicas do berilo. A causa da gama de cores do berilo é a presença de impurezas sob a forma de íons de metais de transição (elementos cromóforo), nos interstícios da estrutura cristalina do mineral, aliado ao seu posicionamento no retículo cristalino e ao seu estado de oxidação (Quadro 4.3). Trata-se, portanto, de um mineral alocromático (Černý 1976, Dana & Hulburt Jr. 1976). Alguns cristais de berilo não apresentam distribuição homogênea de cor, gerando um zonamento, fruto da variação composicional durante o crescimento do cristal (Sinkankas 1981, Schwarz 1987). Quadro 4.3 - Relação entre os íons de metais de transição, a cor do berilo e a designação de sua variedade gemológica (Correia Neves et al. 1984, *Schwarz 1987, **Brow 1990 e 1993, Schumann 2002; Castañeda et al. 2000). 1 Metais de Transição Variedade Gemológica Tonalidades Cr2+, V3+, *Fe2+, Fe3+ esmeralda verde-intensa, verde-grama, verde-alface Fe2+, **Ba2+ água-marinha azul, azul-esverdeada, verde-amarelada, verde-azulada Fe2+, Mn, Ti heliodoro amarelo-dourado, amarelo-esverdeada, amarelo-acastanhada, âmbar Mn, Fe, Li morganita rósea à rosa-salmão Mn, Ti, Li, Nb bixbita vermelho-groselha à vermelho-salmão Na, Li1 goshenita incolor, branca, amarela ou azulada a presença dos metais de transição na estrutura do mineral não está relacionada, necessariamente, às tonalidades deste variedade. O berilo, quando puro, apresenta uma densidade relativa que varia de 2,62 à 2,67, podendo chegar à 2,91 à medida que aumenta o teor de álcalis na composição química do mineral (Correia Neves et al. 1986). Sua dureza relativa está diretamente ligada à estrutura cristalina do mineral e varia de 7 1/2 à 8. Trata-se, portanto, de um mineral de boa resistência ao risco, garantindo assim sua utilização como gema. 59 De-Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... Quanto à tenacidade, é classificado como quebradiço, pulverizando-se, facilmente, ao choque mecânico, sendo sensível à pressão. Possui uma clivagem pinacoidal basal imperfeita em {0001} e um fraturamento assimétrico que varia de irregular à concóide. A propriedade de partição não é um fenômeno muito comum nos cristais de berilo, sendo observada apenas em regiões que sofreram intensa deformação. Quando submetido à tensões externas se rompe segundo a clivagem, partição e/ou fraturas, características deste mineral. A cor do traço do berilo varia de branco à levemente acinzentado (Bauer 1968, Dana & Hulburt Jr. 1976, Schumann 2002). O berilo possui brilho vítreo, às vezes, ceroso à resinoso e sua capacidade de transmissão de luz (diafaneidade) varia de transparente à translúcida. Trata-se de um mineral uniaxial negativo, podendo desenvolver, às vezes, cristais ortorrômbicos biaxiais, com ângulo 2v de até 17º. Essa anomalia pode ser fruto do aumento das tensões internas durante o crescimento do cristal ou ainda de deformações mecânicas sofridas pelo mesmo em decorrência da entrada de álcalis em sua estrutura (Dana & Hulburt Jr. 1976, Foord & Mills 1978). No caso das amostras analisadas não foi observada a ocorrência dessa anomalia. De acordo com as orientações das inclusões de minerais aciculares ou das cavidades de inclusões fluidas, as gemas de berilo podem apresentar os fenômenos de asterismo, de seis ou doze pontas, e chatoyance (acatassolamento), formando o chamado berilo olho-de-gato. Como a maior parte dos cristais de berilo apresentam inúmeras inclusões, esses são os fenômenos ópticos mais comuns para esse mineral. Tais fenômenos são realçados quando se utiliza a lapidação em cabochão (Bauer 1968, Schumann 2002). Uma outra propriedade óptica observada em algumas variedades gemológicas do berilo é a fluorescência que, na morganita, varia de róseo fraco à violeta e na esmeralda produz colorações amarelas-esverdeadas (Sauer 1982). Por se tratar de um mineral uniaxial apresenta dicroísmo, propriedade observada nas variedades coradas. Na água-marinha, varia do azul-claro, incolor ao azul, azul-celeste; na morganita varia do róseopálido ao róseo azulado. De todas as propriedades físicas de uma gema, as ópticas possuem uma importância peculiar. As características ópticas do mineral-gema são responsáveis pela cor, brilho, pleocroísmo, jogo de luz, dentre outros fenômenos que valorizam uma gema. Essas propriedades variam em função da composição química do berilo, assim com o aumento do teor de álcalis ocorrem acréscimos consideráveis nos índices de refração (n), na densidade relativa e na birrefringência. Os índices de refração para o berilo são de aproximadamente 1,557 – 1,599, para o raio ordinário e 1,560 – 1,602, para o raio extraordinário, este 60 Contribuições ás Ciências da Terra Série M, vol. 09...151 p. podendo variar de 0,009, para mais ou para menos (Černý 1976, Correia Neves et al. 1984, Schumann 2002 e Deer et al. 1992). O raio de luz ao penetrar no cristal de berilo, é dividido em dois, sendo tal fenômeno denominado birrefringência (B), que varia de 0,004 à 0,009 e é obtido pela diferença entre o maior e o menor índice de refração. O berilo possui baixa dispersão, da ordem de 0,014 não sendo, portanto, comum apresentar o fenômeno de fogo ou jogo de cores (Schumann 2002). 4.5 – APLICAÇÕES INDUSTRIAIS DO BERILO Embora o berilo exerça um papel fundamental na indústria de gemas, deve-se ressaltar que sua aplicação não se restringe somente à esse segmento da sociedade comercial. A sua utilização é muito importante no setor da indústria metalúrgica, como fonte do metal leve berílio (Be). De modo semelhante ao alumínio, quando misturado ao cobre sofre um acréscimo na sua força de tensão, dureza e resistência à fadiga (Berílio 2001, Pinto et al. 2002). Existem cerca de 30 minerais que, reconhecidamente, contém berílio em sua composição cristaloquímica, contudo, apenas três são de relevante importância, são eles : berilo, bertlandita e barilita. Dentre eles, o berilo é o de maior importância industrial, uma vez que possui uma vasta distribuição na crosta terrestre, fato esse aliado à porcentagem deste metal em sua estrutura, que pode chegar à 14%. Assim sendo, o berilo é também um bem mineral economicamente viável em sua utilização industrial. Atualmente, os EUA são os maiores produtores de berílio, extraído do mineral bertlandita. 4.5.1 – O Berílio Foi descoberto, em 1797, por Louis Nicholas Vanquelin, na estrutura do mineral berilo. Originalmente era conhecido por gencinum (do grego, doce), uma vez que seus compostos solúveis possuíam um sabor adocicado. O metal foi isolado pela primeira vez por Wöller e Bussy, em 1928. Tratase de um elemento raro, que não ocorre livre na natureza e cuja presença na crosta terrestre não passa de 5ppm em peso. Dois aspectos que tornam o metal berílio único, são suas características nucleares e sua elevada rigidez (Dias 1973). Suas principais aplicações são: escudos de calor, partes de sistemas de orientação, giroscópios, plataformas estáveis, acelerômetros, espelhos, placas de fuselagem para cápsulas do programa gemini, anéis de ligação entre os andares do míssil minuteman e painéis de proteção para o foguete Agena (Berílio 2001, Pinto et al. 2002). 61 De-Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos ... A transparência do berílio aos raios X, o torna um material útil para janelas de detectores de radiação. As propriedades nucleares do óxido de berílio, combinadas à seu alto ponto de fusão (>2.000ºC), permitem seu uso em sistemas de reatores de alta temperatura (Pinto et al. 2002). Sob certas circunstâncias a inalação do pó de berílio pode ocasionar deficiências respiratórias aguda e crônica (berylliosis), além de dermatites. No entanto, sua ingestão não gera nenhum problema mais sério (Pinto et al. 2002). A produção mundial de berílio contido é de cerca de 300 toneladas por ano, com teor médio de 4% de aproveitamento do minério. No entanto, nota-se que essa produção vem decaindo ao longo dos últimos anos. Entre 1996 e 1997 o preço médio do berilo industrial estava situado em R$ 0,10/kg, para os amorfos, e em R$ 5,00/kg, para peças bem cristalizadas de seção basal sem valor gemológico (Quadro 4.4), preço este que não cobria os custos de produção (Pinto et al. 2002). O Brasil está entre os países com maiores reservas do minério de berílio, no entanto não possui industrias de produção e beneficiamento do metal. É exportador do mineral-minério berilo e importador dos equipamentos manufaturados que contém berílio em suas ligas. Quadro 4.4 – Reserva e Produção Mundial de berílio (Pinto et al. 2002). Reservas 1 (t) Discriminação Produção (t) PAÍSES 1999 (P) % 1996 (r) 1999 (P) % Brasil 507 ___ 0,614 1 0,3 Kasaquistão ... ___ 4 4 1,3 China ... ___ 55 55 18,3 EUA 21.000 ___ 211 210 69,8 Rússia ... ___ 32 30 10,0 Outros ... ___ 0,00 1 0,3 TOTAL ___ ___ 302,614 301 100 Fontes: DNPM / DEM, Mineral Commodites Summaries – 1998 Notas: (1) medidas mais indicadas, dados em metal contido (r) reservado (P) dados preliminares (t) toneladas (...) dados não disponíveis 62 CAPÍTULO 5 O BERILO DO CAMPO PEGMATÍTICO DE MARILAC O berilo é um dos minerais de maior importância econômica na região do Vale do Alto Rio Doce, sendo responsável, juntamente como quartzo e feldspato, pelos trabalhos de lavra de toda a região. Os cristais de berilo procedentes dos pegmatitos de Minas Gerais foram alvo de estudo por parte de vários pesquisadores, resultando em diversos trabalhos publicados, como por exemplo: Almeida et al. (1943 e 1944), Paiva (1946), Rolf & Paiva (1946), Almeida (1946), Issa Filho et al. (1980), Franco (1981, 1985 e 1990), Moura (1981), Sauer (1982), Correia Neves et al. (1984), Marciano (1985), Santos (1985), Correia Neves et al. (1986), Cassedanne (1976 e 1991), Marciano et al. (1992), Marciano et al. (1993), Garibaldi (1994), Marciano et al. (1994), Achtschin & Marciano (1996), Achtschin et al. (1996), Delaney (1996), Banko (1997), Gandini et al. (1997a e b), César-Mendes et al. (1998), Gandini & César-Mendes (1998), Achtschin (1999), Gandini (1999), Bello et al. (2000), Gandini et al. (2000), Castañeda et al. (2000), César-Mendes (2000), Pinto et al. (2000), Gandini et al. (2001a e b), Graça (2001), entre outros. A maior parte dos trabalhos citados dedicaram-se à caracterização mineralógica e cristaloquímica dos pegmatitos do estado, utilizando os dados para a descrição metalogenética dos corpos pegmatíticos e sua avaliação econômica. Alguns trabalhos dedicam-se apenas a relatar novas ocorrências, juntamente com alguns dados a respeito dos seus cristais (Rolf & Paiva 1946, Sauer 1982, Garibaldi 1994, Delaney 1996). Dar & Phandke (1964) descreveram que, geralmente, a variedade azul do berilo (água-marinha) está associada a pegmatitos zonados simples, com baixo grau de diferenciação ou às zonas mais externas de pegmatitos zonados com maior grau de diferenciação. Já as variedades rósea (morganita) e incolor (goshenita), mais ricas em álcalis, são encontradas nas zonas mais internas de pegmatitos zonados complexos com alto grau de diferenciação. Este fato é observado no caso dos pegmatitos do Campo pegmatítico de Marilac, uma vez que os cristais de água-marinha ocorrem, geralmente, na zona mural associado com quartzo, feldspato potássico e muscovita, enquanto que os cristais de goshenita e morganita ocorrem na zona intermediária, associados com quartzo colorido, albita, granada, turmalina negra e corada, ferrocolumbita-tantalita, dentre outros. Staatz et al. (1965) cita que cristais de berilo provenientes de pegmatitos graníticos ocorrem em ambiente enriquecido em álcalis, com teores baixos de Fe, Mg, Ti e Cr. Já cristais provenientes de veios, granitos, riolitos são pobres em álcalis e enriquecidos em Fe, Mg, Ti, Cr, etc. De Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos Bakakin et al. (1970) estudando as substituições isomórficas que podem ocorrer nos sítios tetraédricos e octaédricos do berilo, classificou 6 politipos, correlacionando a cristaloquímica à relação entre os parâmetros de cela unitária (co/ao) (Tabela 5.1). Tabela 5.1 – Classificação dos tipos de berilo segundo as concentrações de álcalis em sua estrutura (Černý 1975b). Tipo de Berilo Características Gerais berilo com taxa máxima de substituição do elemento Be em posições tetraédricas I (t-berilo). II berilo com taxa média de substituiçãodo elemento Be em posições tetraédricas (t-berilo). III IV berilo cuja composição é próxima da ideal (n-berilo). berilo com taxa média de substituição do elemento Al em posições octaédricas (o-berilo). V berilo com taxa máxima de substituição do elemento Al em posições octaédricas (o-berilo). VI bazzita [Be3(Sc, Fe, Al)2Si6O18], análoga ao berilo mas com impurezas de Sc e de Fe. Conforme descrito por Černý (1975b), sabe-se que a caracterização geoquímica do berilo, dentre outros minerais, resulta, conseqüentemente, na caracterização geoquímica dos pegmatitos, dos quais se originam o cristal. Ademais, pode-se também, por meio do estudo das propriedades do berilo, identificar e agrupar pegmatitos petrogeneticamente similares. Correia Neves et al. (1984 e 1986), descreveram que as variações químicas deste mineral, principalmente quanto a seus teores em álcalis, podem ser correlacionadas tanto com as propriedades dos pegmatitos graníticos portadores de berilo quanto ás características geoquímicas e paragenéticas dos sistemas geológicos nos quais ocorre o berilo. Assim sendo, Černý (1975b) estabeleceu uma nova classificação para o berilo, modificando a proposta por Beus (1966), baseada na variação dos teores de álcalis presente em sua estrutura cristalina, desta forma se dividem em cinco tipos, descritos na Tabela 5.2. 64 Contribuições ás Ciências da Terra Série M, vol. 09...151 p. Tabela 5.2 – Classificação dos tipos de berilo segundo as concentrações de álcalis em sua estrutura (Černý 1975b). Tipo de Berilo Classificação 1 berilo livre de álcalis teores de álcalis < 0,1 ocorre preferencialmente em bolsões de pegmatitos gráficos e em bolsões de pegmatitos graníticos 2 berilo potássico e sódico-potássico teores de K entre 0,2 e 0,5 ocorre em bolsões pegmatíticos, em granitos e nos núcleos de quartzo de pegmatitos simples teores de Na entre 0,5 e 1,0 ocorre em pegmatitos ricos em albita, porém pobre em álcalis 3 berilo sódico berilo sódico-litinífero 4 Concentração em Álcalis Características Gerais (% em peso) teores de Na entre 0,1 e 2; teores de Li até 0,6; ocorre em pegmatitos portadores de Li teores baixos de Cs berilo césio-litinífero 5 teores de Cs > 0,5; altas concentrações de Na e Li ocorre em pegmatitos ricos em lítio, altamente diferenciados, onde a polucita é de ocorrência freqüente Aurisicchio et al. (1994) correlacionando os mesmos parâmetros classificou 4 politipos de berilo, descritos na Tabela 5.3. Tabela 5.3 – Classificação dos tipos de berilo segundo as concentrações de álcalis (Aurisicchio et al. 1994). Tipo de Berilo Características Gerais O ocorrem substituições no sítio octaédrico (Fe+3, Fe+2, Mn+2) por Al+3. N berilo cuja composição é a mais aproximada da pura. N-T ou N-O T berilo de transição normal-octaédrico; normal-tetraédrico. ocorrem substituições no sítio tetraédrico, preferencialmente, de Li+ por Be2+, compensadas pela entrada de Cs+, Na+, etc. 5.1 – MORFOLOGIA DOS CRISTAIS Nos pegmatitos estudados é possível identificar três gerações de berilo. A primeira corresponde àqueles originados na zona mural, são geralmente opacos, prismáticos, apresentando coloração esverdeada à azulada-leitosa e dimensões decimétricas. Estes cristais são denominados “escória” (termo garimpeiro) e 65 De Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos principalmente explotados como fonte do elemento Be. Associa-se à ocorrência de feldspato potássico, quartzo e muscovita, em agregado drúsico na forma de “livros” de até 20cm. A segunda refere-se àqueles originados nas porções mais internas, na zona intermediária, geralmente, transparentes apresentam-se por vezes translúcidos. Possuem coloração azul forte, rósea e incolor, apresentam-se, comumente euédricos, prismáticos e raramente, com terminações em pinacóides, suas dimensões variam de decimétricas a métricas. Sua explotação está relacionada ao emprego na indústria gemológica e sua ocorrência está relacionada à presença de muscovita, turmalina, granada, quartzo corado e albita. A terceira geração corresponde àqueles originados nas unidades de substituição, comumente, apresentam hábito prismático com terminação em pinacóides e, raramente, por bipirâmides e suas dimensões são, geralmente, centimétricas e, às vezes, decimpetricas. Associa-se à ocorrência de cleavelandita, muscovita, granada, turmalina corada, etc. Embora, Marciano (1995), Gandini (1999), dentre outros autores, descrevam a predominância de cristais euédricos provenientes desses pegmatitos, os cristais de berilo amostrados nos pegmatitos Ipê, Ferreirinha I e II, Jonas Lima I e II e Escondido apresentam, em geral, morfologias anédricas predominantes sobre as subédricas, podendo esses terem sido formados em corpos de substituição ou representarem pequenas porções de cristais euédricos. Os cristais euédricos são de ocorrência rara apresentando, geralmente, terminações em pinacóides. Suas dimensões variam no comprimento de 2,5cm a 15cm e na espessura de 1,5cm a 12cm. Quanto à diafaneidade apresentam-se transparentes à translúcidos. 5.2 – PARÂMETROS DE CELA UNITÁRIA Segundo Deer et al. (1992), as constantes de cela unitária para o berilo são ao = 9,21Ǻ, co = 9,20Ǻ e Z=2. Alguns autores, como Deer et al.(1992) e Sampaio Filho et al. (1973), sugerem que o parâmetro ao sofre acréscimo com a entrada de outros elementos químicos (Fe, Mn, Mg, dentre outros álcalis) na estrutura do berilo, enquanto co permanece constante. No entanto, os valores obtidos para as amostras estudadas (Tabela 5.4) sugerem o proposto por Bakakin et al. 1967, Gandini 1999 e de Carvalho et al. 2003b. A entrada de álcalis na estrutura do berilo do Campo de Marilac resulta em um acréscimo do parâmetro co, enquanto que o valor de ao permanece constante ou sofre um acréscimo insignificante. 66 Contribuições ás Ciências da Terra Série M, vol. 09...151 p. Tabela 5.4 – Dados dos parâmetros de cela unitária e da relação co/ao das amostras de berilo analisadas provenientes dos 4 pegmatitos estudados (*Gandini 1999). 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 30 29 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 Amostra IPE 02 (G) IPE 5541 A IPE 02 (G)-B IPE 01 (G)B IPE 01 (G)A IPE 01(D) IPE 5541 A(B) IPE 03 (G) IPE 5542 Ber/A IPE 01 (G)-C *IPE 5529 IPE 5540 Am 77 IPE 5540 Am 77 FER II D2 FER I D2 FER I D1(A) FER I D1(B) FER II D3(B) FER II D3(A) *FER I 5583 ber1 *FER I 5669 ber *FER I 5584 ber FER II D3 (C) JNL I D1 (A) JNL I D1 (C) JNL II D2 (A) JNL II D2 (B) JNL II D3 JNL II D2 (C) JNL I 5624 b JNL I D1 (B) JNL II (MORG) ESC 5731 (verde) ESC 5731 (VL) ESC 5731 (X)-B ESC 5731 (AE)-B ESC 5731 (X)-A ESC 5731 (X) -C ESC 5731 a (ac) ESC 5731 (AE)-A *ESC 5676 ESC 5731 a (V) ESC 5731 a (Y)g ESC 5731 a (Y)m ESC 5731 A g ao (Ǻ) 9,2146 (1) 9,2206 (2) 9,1520 (1) 9,2144 (1) 9,2190 (1) 9,2145 (1) 9,2212 (1) 9,2190 (1) 9,2250 (1) 9,2145 (1) 9,2119 (1) 9,2115 (2) 9,2115 (1) 9,2145 (1) 9,2150 (1) 9,2145 (1) 9,2145 (1) 9,2145 (1) 9,2130 (1) 9,2078 (1) 9,2139 (1) 9,2181 (1) 9,2190 (1) 9,2145 (1) 9,2210 (1) 9,2143 (1) 9,2210 (1) 9,2142 (1) 9,2145 (3) 9,2063 (1) 9,2145 (5) 9,2190 (1) 9,2144 (1) 9,2144 (2) 9,2200 (1) 9,2200 (1) 9,2200 (3) 9,2146 (1) 9,2142 (2) 9,2144 (1) 9,2143 (1) 9,2210 (2) 9,2140 (1) 9,2190 (2) 9,2100 (1) co (Ǻ) 9,1936 (1) 9,2044 (4) 9,1970 (3) 9,1941 (1) 9,1940 (3) 9,1939 (1) 9,2041 (2) 9,2000 (2) 9,1990 (1) 9,1939 (1) 92066 (3) 9,2080 (4) 9,2090 (1) 9,1935 (5) 9,1990 (1) 9,1936 (2) 9,1940 (1) 9,1936 (2) 9,2010 (3) 9,1979 (3) 9,2072 (1) 9,2124 (4) 9,1970 (4) 9,1942 (1) 9,2060 (2) 9,1337 (2) 9,1980 (1) 9,1969 (1) 9,1908 (3) 9,1978 (1) 9,2060 (5) 9,2330 (1) 9,1947 (3) 9,1939 (2) 9,1925 (2) 9,1930 (1) 9,1935 (3) 9,1937 (1) 9,1950 (4) 9,1946 (1) 9,1976 (1) 9,1990 (2) 9,2110 (1) 9,2340 (4) 9,2260 (1) 67 V (Ǻ3) 676,04 677,70 667,13 676,05 676,70 676,03 677,60 677,24 677,92 676,04 676,60 676,65 676,80 676,01 676,49 676,02 676,08 676,02 676,44 975,35 676,93 677,93 676,90 676,07 677,93 675,99 677,25 676,22 675,82 675,13 676,45 679,66 676,09 676,02 676,55 676,74 676,85 676,05 676,02 676,08 676,28 677,28 677,31 679,62 678,92 co/ao 0,99785 (1) 0.99824 (2) 0,99825 (3) 0,99829 (1) 0,99830 (3) 0,99831 (1) 0,99864 (2) 0,99894 (2) 0,99918 (1) 0,99922 (1) 0.99941 (3) 0.99962 (2) 0,99972 (1) 0,99710 (5) 0,99827 (1) 0,99828 (2) 0,99830 (1) 0,99833 (2) 0,99869 (3) 0,99893 (3) 0,99928 (1) 0,99938 (4) 0,99961 (4) 0,99731 (1) 0,99837 (2) 0,99846 (2) 0,99851 (1) 0,99856 (1) 0,99870 (1) 0,99931 (1) 0,99982 (1) 1,00152 (1) 0,99845 (3) 0,99846 (1) 0,99867 (2) 0,99807 (1) 0,99822 (1) 0,99832 (1) 0,99934 (2) 0,99937 (1) 0,99999 (1) 0,99961 (1) 0,99977 (1) 1,00163 (2) 1,00174 (1) De Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos Desta forma, observa-se, na Figura 5.1, que ocorre um aumento da relação co/ao partindo das amostras do Pegmatito Ipê, passando pelo Ferreirinha I e II, Jonas Lima I e II até o Escondido. Sabe-se que há maior entrada de álcalis nas amostras de morganita e goshenita, provenientes do pegmatitos Jonas Lima II e Escondido, pois essas mesmas amostras apresentaram os maiores valores na relação co/ao. Segundo a classificação de Bakakin et al.(1970), das 45 amostras representadas na Figura 5.1, 6,66% são classificadas como berilo tipo III (n-berilo), 53,33% como berilo de transição (n, t-berilo), 33,33% como berilo tipo II (t-berilo) e 6,66% como tipo I (t-berilo), o que indica uma predominância de berilos onde ocorrem substituições no sítio tetraédrico sobre berilos cuja composição química se aproxima da ideal, também descrito por De Carvalho et al. (2003a). 1,0020 1,0015 1,0010 1,0005 Tipo I (T) co/ao 1,0000 0,9995 Tipo II (T) 0,9990 Ipê Ferreirinha Jonas Lima Escondido 0,9985 transição 0,9980 0,9975 0,9970 Tipo III (N) 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 Número de Amostras (n) Figura 5.1 - Diagrama co/ao x n° de amostras, mostrando uma tendência indicativa de correlação positiva entre esses parâmetros, sugestiva de um trend de diferenciação magmática. 5.3 – PROPRIEDADES FÍSICAS De acordo com Černý & Hawthorne (1976), as propriedades físicas do berilo variam em função de seu quimismo, havendo uma correlação positiva entre o teor de álcalis na estrutura do mineral e os valores de densidade (d) e índice de refração (nω e nε). Adicionalmente, o aumento dos teores de Ca2+, Ba2+, Cr3+, V3+, etc. refletem num acréscimo da birrefrigência e do parâmetro ao, mantendo-se co constante. O valor de nω, ainda fornece indicação de qual zona do pegmatito provém a amostra (Černý & Simpson 1977). 68 Contribuições ás Ciências da Terra Série M, vol. 09...151 p. 5.3.1 – Cor e Pleocroísmo Dos cristais de água-marinha provenientes das 4 lavras, 38 possuem colorações que variam do verde-azulado ao azul e 1 (Quadro 5.1, Fotografia a), da lavra do Ferreirinha I, exibe coloração amarelada, levemente esverdeada (Quadro 5.1, Fotografia b). Os 2 cristais de morganita, provenientes das lavras do Jonas Lima II e Escondido, apresentam coloração rósea (Quadro 5.1, Fotografia c) e as 2 amostras de goshenita, da lavra do Escondido, são incolores e, por vezes, parcialmente leitosas (Quadro 5.1, Fotografia d). Vale ressaltar a existência de uma amostra de berilo zonada [ESC 5731a (y)], do Pegmatito Escondido (Quadro 5.1, Fotografia e), sendo incolor no núcleo e rósea nas bordas (Tabela 5.3). Quadro 5.1 – Fotografias de alguns cristais amostrados para este trabalho: (a) cristais de água-marinha dos 4 corpos pegmatíticos; (b) água-marinha do Ferreirinha I; (c) morganitas de Jonas Lima II e Escondido; (d) goshenitas do Escondido; (e).amostra zonada do escondido. a ( ≅2cm x 6cm) b c ( ≅8cm x 15cm) ( ≅5cm x 11cm) d e ( ≅3cm x 8cm) ( ≅8cm x 16cm) 69 De Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos Por se tratar de um mineral uniaxial apresenta dicroísmo, propriedade observada nas variedades coradas e em lâminas espessas. No caso dos cristais de água-marinha apresenta na direção nω dicroísmo azul-claro ou incolor, na direção nε é azul-celeste. Já no caso dos cristais de morganita o dicroísmo presente resulta nos tons róseo-pálido e róseo azulado 5.3.2 – Densidade, Índice de Refração, Birrefringência e Caráter Óptico A análise das densidades relativas, considerando-se todas as amostras de berilo, forneceram valores compreendidos entre 2,69 [cristal de coloração azulada - IPE 03 (G)] e 2,78 [cristais de coloração rósea do Jonas Lima II - JNL II (MORG) - e do Escondido - ESC 5731(A) g] (Tabela 5.5). No caso dos índices de refração, para todos os cristais estudados, o nω variou entre 1,580 e 1,591, enquanto que o nε entre 1,572 e 1,582. Os maiores valores de nω (1,589 e 1,591) são referentes aos cristais de morganita e goshenita do Jonas Lima e do Escondido, enquanto que o maior valor de nε (1,582) refere-se à amostra de coloração rósea, proveniente do Pegmatito Jonas Lima II. As birrefringências são menores (≅0,005) para os cristais de água-marinha e maiores (≅0,011) para o cristal de morganita do Jonas Lima II (JNL II MORG) (Tabela 5.5). Observou-se, ainda, uma tendência sugestiva de uma correlação positiva entre os dados de densidade e índice de refração (nω, nε), onde ocorre, de modo geral, um acréscimo nos valores desses dois parâmetros na seqüência Ipê, passando pelo Ferreirinha I e II, Jonas Lima I e II e, finalmente, Escondido, seguindo a direção SW para NE da Figura 1.2. Essa correlação positiva estaria relacionada ao acréscimo observado nos teores de álcalis, na mesma seqüência acima, a partir dos dados de Gandini (1999) e deste trabalho, que também indicam a existência de um zoneamento geoquímico interno nos corpos, responsáveis pela variação desses parâmetros em amostras de um mesmo pegmatito. Para melhor visualização desta correlação positiva (d x nω e d x nε), são apresentados no (Quadro 5.2, Figuras a, b) os diagramas referentes ao Pegmatito Ipê; ao Pegmatito Ferreirinha (Quadro 5.2, Figuras c, d); ao Pegmatito Jonas Lima (Quadro 5.2, Figuras e, f) e ao Pegmatito Escondido (Quadro 5.2, Figuras g, h). 5.4 – ESPECTROSCOPIA DE ABSORÇÃO NO INFRAVERMELHO - FTIR Neste tópico, discutem-se os dados espectrais obtidos em análises de absorção no infravermelho por transformada de Fourier, resultantes do estudo de 42 amostras de berilo dos 4 corpos pegmatitos pertencentes ao Campo Pegmatítico de Marilac. A região dos registros dos espectros variam de 530 a 250cm-1, com uma resolução de 4 cm-1 (Tabela 5.6). 70 Contribuições ás Ciências da Terra Série M, vol. 09...151 p. Tabela 5.5 – Propriedades físicas dos berilos dos pegmatitos Ipê, Ferreirinha I e II, Jonas Lima I e II e Escondidodo. Amostra IPE 01(D) IPE 02 (G)-B IPE 01 (G)-C IPE 03 (G) IPE 5541 A(B) IPE 5542 Ber/A IPE 01 (G)A IPE 5540 Am 77 IPE 01 (G)B IPE 02 (G) IPE 5529 IPE 5540 Am 77 IPE 5541 A FER I D1(A) FER II D2 FER I D1(B) FER II D3(a) FER I D2 FER II D3(B) FER II D3(C) JNL II D3 JNL II D2 (C) JNL I D1 (A) JNL II D2 (B) JNL I 5624 b JNL II D2 (A) JNL I D1 (C) JNL I D1 (B) JNL II (MORG) ESC 5731 a (V) ESC5731 (AE)-A ESC 5731 a (ac) ESC 5731 (VL) ESC 5731 (AE)-B ESC 5731 a (Y)g ESC 5731 (X) -C ESC 5731 (X)-B ESC 5731 (verde) ESC 5731 (X)-A ESC 5676 ESC 5731 a (Y)m ESC 5731 A g Cor azul-claro azul-forte azul-claro azul-esverdeado azul-esverdeado azul-claro azul-esverdeado azul-claro azul-esverdeado azul-claro azul-claro azul-forte azul-forte azul-claro verde-azulado azul-esverdeado azul-claro azul-claro azul-claro azul-forte azul-forte azul-claro azul-claro azul-claro azul-claro azul-claro azul-claro azul-esverdeado rósea verde-azulado azul-forte azul-claro verde-azulado azul-forte incolor verde-azulado azul-forte verde-azulado azul-claro amarelo-esverdeado rósea incolor d 2,6839 2,6844 2,6886 2,7021 2,7034 2,7059 2,7084 2,7149 2,7212 2,7213 2,7226 2,7400 2,7453 2,6837 2,6993 2,7031 2,7052 2,7072 2,7087 2,7243 2,6844 2,6945 2,7045 2,7053 2,6955 2,7093 2,6994 2,7253 2,7834 2,6899 2,6976 2,6999 2,7037 2,7119 2,7138 2,7159 2,7171 2,7196 2,7203 2,7252 2,7362 2,7772 71 nε 1,570 1,572 1,572 1,572 1,572 1,570 1,570 1,576 1,573 1,572 1,576 1,582 1,577 1,572 1,573 1,574 1,574 1,574 1,574 1,576 1,572 1,573 1,576 1,580 1,580 1,573 1,580 1,580 1,582 1,576 1,577 1,577 1,578 1,582 1,583 1,583 1,584 1,584 1,585 1,585 1,585 1,586 nω 1,580 1,581 1,581 1,580 1,582 1,580 1579 1,584 1,582 1,580 1,585 1,590 1,588 1,582 1,583 1,584 1,584 1,585 1,582 1,585 1,580 1,582 1,585 1,587 1,588 1,581 1,589 1,590 1,591 1,586 1,586 1,587 1,588 1,589 1,593 1,590 1,589 1,589 1,589 1,590 1,591 1,593 ∆ 0,010 0,009 0,009 0,008 0,010 0,010 0,009 0,008 0,009 0,008 0,009 0,008 0,011 0,010 0,010 0,010 0,010 0,011 0,008 0,009 0,008 0,009 0,009 0,007 0,008 0,008 0,009 0,010 0,011 0,010 0,009 0,010 0,010 0,007 0,010 0,007 0,005 0,005 0,004 0,005 0,006 0,007 De Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos Quadro 5.2 – Diagramas d x nω e d x nε mostrando uma tendência sugestiva de uma correlação positiva. a b 2,80 2,76 2,78 2,75 2,74 2,76 Densidade Densidade 2,73 2,74 2,72 2,72 2,71 2,70 2,70 2,68 2,69 2,66 1,578 1,580 1,582 1,584 1,586 1,588 2,68 1,590 1,570 1,572 Índice de Refração(n ) 1,574 2,73 2,72 2,72 2,71 2,71 2,70 1,580 1,582 2,70 2,69 2,69 2,68 1,571 2,68 1,5820 1,5825 1,5830 1,5835 1,5840 1,5845 1,572 1,573 1,574 1,575 1,576 1,577 1,5850 Índice de Refração (n ) Índice de Refração(n ) e f 2,80 2,80 2,79 2,79 2,78 2,78 2,77 2,77 2,76 2,76 2,75 2,75 Densidade Densidade 1,578 d 2,73 Densidade Densidade c 2,74 2,73 2,72 2,74 2,73 2,72 2,71 2,71 2,70 2,70 2,69 2,69 2,68 2,68 2,67 1,579 1,580 1,581 1,582 1,583 1,584 1,585 1,586 1,587 1,588 1,589 1,590 1,591 1,592 2,67 1,571 1,572 1,573 1,574 1,575 1,576 1,577 1,578 1,579 1,580 1,581 1,582 1,583 Índice de Refração(n ) Índice de Refração (n ) h g 2,79 2,79 2,78 2,78 2,77 2,77 2,76 2,76 2,75 2,75 Densidade Densidade 1,576 Índice de Refração (n ) 2,74 2,73 2,72 2,74 2,73 2,72 2,71 2,71 2,70 2,70 2,69 2,69 2,68 1,585 1,586 1,587 1,588 1,589 1,590 1,591 1,592 1,593 2,68 1,575 1,576 1,577 1,578 1,579 1,580 1,581 1,582 1,583 1,584 1,585 1,586 1,587 1,594 Índice de Refração (n ) Índice de Refração(n ) 72 Contribuições ás Ciências da Terra Série M, vol. 09...151 p. De um modo geral, a análise dos espectros de FTIR resultaram na identificação de dois tipos de moléculas de água nos canais abertos do berilo, revelando a presença de H2O tipo I (eixo H-O-H perpendicular ao eixo c) predominante sobre H2O tipo II (H-O-H paralelo ao eixo c) representadas nas bandas 3.690, 3.590, 1.630, 3.660 e 1.540 cm-1, respectivamente, de CO2 nas bandas 2.354 e 2.339cm-1 e, mais raramente, CH4 na banda 2.796cm-1 (Figuras 5.2, 5.3, 5.4 e 5.5). A presença de moléculas de H2O tipo II é um indicativo indireto de uma alta concentração de íons alcalinos compensadores de carga, como por exemplo, Cs+, Na+, Li+, K+, etc. Observa-se que, de um modo geral os resultados obtidos para densidade relativa, índices de refração e birrefringência são compatíveis com a química descrita nos espectros de FTIR, onde as amostras IPE 5540 Am 77, IPE 5541 A, JNL II (MORG), ESC 5731 a (Y)m e ESC 5731 A g apresentam picos mais pronunciados para a H2O tipo II, o que indica uma maior entrada de íons compensadores de carga, resultando num acréscimo nas propriedades físicas destas amostras. A correlação entre essas bandas de estiramento e as razões co/ao é representada nas Figuras 5.6 e 5.7, respectivamente, ressaltando a classificação de Aurisicchio et al. (1994) que separa o berilo de 5 politipos: tipo O – Octaédrico; tipo (O-N) de transição; tipo N – Normal; tipo (N-T) de transição e tipo T Tetraédrico. A maior parte das amostras analisadas corroboram com o descrito por Aurisicchio et al. (1994) para os berilos tipo T e N-T onde os valores estão acima de 1.200cm-1 e 800cm-1. Observou-se que 1 cristal do Ipê, 1 do Ferreirinha I, 1 do Jonas Lima I, de coloração esverdeada a azulada, representam berilos tipo N (normal); 8 cristais do Ipê, 5 do Ferreirinha I e II, 5 do Jonas Lima I e II e 6 do Escondido, de coloração azulada, representam berilos tipo N-T (de transição); 3 cristais do Jonas Lima I e II de coloração azul-forte e rósea, 7 de coloração rósea, incolor e azul-forte, do Escondido, 1 cristal de coloração azul-forte do Ferreirinha II e 4 cristais azuis do Ipê, representam berilos tipo T (tetraédricos), com substituições no sítio tetraédrico do Be por Li e/ou, mais raramente, por Si. Estas correlações sugerem uma evolução politípica que vai de berilo tipo N-T, de transição, passando por berilo T, tetraédrico, até berilo tipo N, normal, onde 24 cristais representam berilos tipo N-T, 15 representam berilos tipo T e 3 representam berilos tipo N, havendo uma predominância do tipo tetraédrico, conforme já havia sido descrito por Gandini (1999) para os berilos do mesmo Campo Pegmatítico. 73 De Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos Tabela 5.6 – Dados referentes às análises por FTIR de 42 cristais de berilo do Campo Pegmatítico de Marilac. Amostra IPE 02 (G) A IPE 5541 A IPE 02 (G)-B IPE 01 (G)B IPE 01 (G)A IPE 01(D) IPE 5541 A(B) IPE 03 (G) IPE 5542 Ber/A IPE 01 (G)-C IPE 5529 IPE 5540 Am 77 IPE 5540 Am 77 FER II D2 FER I D2 FER I D1(A) FER I D1(B) FER II D3(B) FER II D3(A) FER II D3(C) JNL I D1 (A) JNL I D1 (C) JNL II D2 (A) JNL II D2 (B) JNL II D3 JNL II D2 (C) JNL I 5624 B JNL I D1 (B) JNL II (MORG) ESC 5731 (verde) ESC 5731 (VL) ESC 5731 (X)-B ESC 5731 (AE)-B ESC 5731 (X)-A ESC 5731 (X) -C ESC 5731 a (ac) ESC 5731 (AE)-A *ESC 5676 ESC 5731 a (V) ESC 5731 a (Y)g ESC 5731 a (Y)m ESC 5731 A g O-Si-O 1201,4 1201,4 1201,9 1199,6 1200,9 1199,5 1202,3 1201,6 1205,9 1201,3 1200,1 1204,7 1205,1 1201,6 1203,9 1200,4 1202,4 1203,3 1203,3 1200,6 1201,9 1201,5 1200,9 1199,3 1203,1 1201,6 1203,3 1201,8 1176,7 1200,2 1201,5 1201,7 1199,1 1201,0 1202,8 1204,1 1200,3 1246,0 1205,3 1197,8 1207,7 1205,3 74 Be-O 812,1 810,6 816,7 812,9 814,0 810,6 811,1 811,9 812,4 813,9 813,4 810,9 812,4 808,5 809,4 810,9 815,4 813,9 813,8 812,8 812,9 815,7 811,6 811,9 815,1 812,9 815,9 815,7 824,2 811,1 814,1 817,2 810,2 811,3 816,2 815,1 811,7 818,4 807,1 826,8 820,6 807,1 co/ao 0,99785 0.99824 0,99825 0,99829 0,99830 0,99831 0,99864 0,99894 0,999 18 0,99922 0.99941 0.99962 0,99972 0,99710 0,99827 0,99828 0,99830 0,99833 0,99869 0,99961 0,99731 0,99837 0,99846 0,99851 0,99856 0,99870 0,99931 0,99982 1,00152 0,99845 0,99846 0,99867 0,99807 0,99822 0,99832 0,99934 0,99937 0,99999 0,99961 0,99977 1,00163 1,00174 Contribuições ás Ciências da Terra Série M, vol. 09...151 p. Ipe5541/A (B) Ipe5541/A (A) Ipe5542 ber/a Ipe5529/am66 Ipe5540/am77 A Ipe5540/am77 B Ipe 02 (G) Ipe 01 (D) Ipe 01 (G)B Ipe 03 (G) Ipe 01 (G) A Ipe 02 (G) B Ipe 01 (G) C H2O(I,II) 4000 CH4 CO2 H2O (I,II) 1.200 800 3000 2000 1000 Transmittance / Wavenumber (cm-1) Figura 5.2 – Espectros de FTIR referentes a 13 cristais de berilo provenientes dos Pegmatitos Ipê, destacando as bandas de absorção dos componentes fluidos contidos no hospedeiro. 75 De Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos Fer II D3 A Fer I D1 B Fer II D2 Fer II D3 C Fer ID2 Fer II D3 B Fer I D1 A H2O(I,II) 4000 CH4 CO2 H2O (I,II) 1.200 800 3000 2000 1000 Transmittance / Wavenumber (cm-1) Figura 5.3 – Espectros de FTIR referentes a 7 cristais de berilo provenientes dos Pegmatitos Ferreirinha I e II, destacando as bandas de absorção dos componentes fluidos contidos no hospedeiro. 76 Contribuições ás Ciências da Terra Série M, vol. 09...151 p. JNL I D1 (C) JNL I D1 B JNL II D2 B JnLII D2 C JnLI 5624B Jnl I D1 A rej Jnl II D2A Jnl II morg Jnl II D3 H2O(I,II) 4000 CH4 CO2 H2O (I,II) 1.200 800 3000 2000 1000 Transmittance / Wavenumber (cm-1) Figura 5.4 – Espectros de FTIR referentes a 9 cristais de berilo provenientes dos Pegmatitos Jonas Lima I e II, destacando as bandas de absorção dos componentes fluidos contidos no hospedeiro. 77 De Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos Esc 5731 (x) A Esc 5731 (x) C Esc 5731 (x) B Esc 5731 (vl) Esc 5731 (verde) Esc 5731 (AE) B Esc 5731 (AE) A Esc 5676 Esc 5731a(y gosh) Esc 5731A(gosh) Esc 5731a(y morg) Esc 5731a(ac) Esc 5731a(v) Figura 5.5 – Espectros de FTIR referentes a 13 cristais de berilo provenientes dos Pegmatitos Escondido, destacando as bandas de absorção dos componentes fluidos contidos no hospedeiro. 78 Contribuições ás Ciências da Terra Série M, vol. 09...151 p. -1 P o s ição da B anda ( c m ) 1215 1210 Ipê Ferreirinha Jonas Lima Escondido 1205 1200 1195 O O-N 0,996 N T N-T 0,998 1,000 1,002 1,004 /ao Razão c o Figura 5.6 – Distribuição dos berilos em relação às bandas de absorção das ligações Si-O-Si (≅1.200cm-1). 830 Po siç ão d a Band a (cm 1) 825 820 Ipê Ferreirinha Jonas Lima Escondido 815 810 805 0,995 O 0,996 O-N 0,997 N T N-T 0,998 0,999 Razão c 1,000 1,001 1,002 1,003 o /a o Figura 5.7 – Distribuição dos berilos em relação às bandas de absorção das ligações Be-O (≅800cm-1). 79 De Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos Gandini (1999) descreve ainda, para os berilos do Campo Pegmatítico de Marilac, uma correlação positiva entre a porcentagem de álcalis nos canis estruturais do mineral e o comprimento da banda 1.200cm-1 e uma correlação negativa com o comprimento de onda da banda 800cm-1. 5.5 – ANÁLISES QUÍMICAS POR MICROSSONDA ELETRÔNICA As análises químicas de 42 cristais de berilo pertencentes ao Campo Pegmatítico de Marilac, foram realizadas a partir da microssonda eletrônica, resultando na dosagem dos seguintes óxidos: Na2O, FeOtot, SiO2, K2O, Al2O3, MnO, Cr2O3, CaO, MgO, V2O3, TiO2, Cs2O, Rb2O, BaO (Tabela 5.5). Baseando-se na classificação proposta por Černý (1975b), 38 dos 42 cristais de berilo analisados, se encaixam como sendo tipo 3, descritos como berilo sólico, com dosagens de Na variando de 0,1 a 1,5 %, predominando sobre os demais álcalis. Esses cristais são originados de pegmatitos ricos em albita e pobres em álcalis raros (Quadro 5.3, Figura a). Os 4 cristais restantes [JNL II (MORG), ESC 5731 a (Y)g, ESC 5731 Ag e ESC 5731 A g] são classificados como tipo 5, descritos como berilo césiolitinífero cujos teores de Cs são maiores que 0,5 e os teores de Na são altos. Esses cristais são originados em pegmatitos com altos teores de lítio ou em corpos de substituição (Quadro 5.3, Figura a e Tabela 5.4). A Figuras a, do Quadro 5.3, mostram claramente uma tendência evolutiva, com enriquecimento de Na+ e Cs+ na seqüência que parte do Ipê, passando pelo Ferreirinha, Jonas Lima e terminando no Escondido. Este fato corrobora com as conclusões de de Carvalho et al.(2003a), que sugeriram uma tendência de um trend de evolução geoquímica na mesma seqüência descrita anteriormente. Os dados apresentados nestas figuras concordam com o descrito por Černý & Hawtorne (1978), que relaciona os acréscimos nas propriedades físicas do berilo com o seu quimismo. De um modo geral, no caso dos cristais de água-marinha tem-se altos teores de FeO (0,20 a 0,70%), MgO (0,15 à 0,44%) e a presença rara de Cr2O3 [0,03% - FER I D1(B)]. Os maiores valores de FeO e MgO estão relacionados aos cristais de água-marinha cuja colaboração azul é mais forte, dado esse que corrobora as descrições de Graça 2000, que detectou altos teores de MgO e FeO para águas-marinhas provenientes da Lavra do Tatu, Itauninha, MG. Os cristais de morganita apresentam valores elevados de Na2O (1,25 e 1,24%), MnO (0,05) e Cs2O (0,56 e 1,86%) e valores baixos de FeO (0,01 e 0,04%), MgO (< 0,01%) e Cr2O3 (0,01%). O mesmo é observado para os cristais de goshenita. 80 Contribuições ás Ciências da Terra Série M, vol. 09...151 p. Tabela 5.7 – Dados químicos de 42 cristais de berilo, obtidos por microssonda eletrônica. Amostra Na2O FeOt 0,51 0,34 0,20 0,16 0,54 0,57 0,52 0,56 0,55 0,58 0,64 0,62 0,62 0,53 0,28 0,28 0,35 0,46 0,45 0,28 0,25 0,40 0,32 0,43 0,54 0,38 FER II D2 0,49 0,40 FER I D1(A) 0,43 0,36 FER I D1(B) 0,45 0,38 FER II D3(B) 0,43 0,65 FER II D3(c) 0,46 0,61 FER II D3(a) 0,45 0,63 FER I D2 0,47 0,40 JNL I D1 (A) 0,58 0,29 JNL II D2 (A) 0,52 0,63 JNL II D2 (B) 0,83 0,47 JNL II D3 0,57 0,57 JNL II D2 (C) 1,10 0,30 JNL I D1 (B) 0,50 0,61 JNL I D1 (C) 0,61 0,58 JNL I 5624 b 0,46 0,57 JNL II(MORG) 1,25 0,01 ESC 5731 A g 1,31 0,03 ESC5731a(Y)g 1,31 0 ESC 5731 a(V) 0,55 0,63 ESC5731(AE)A 0,57 0,59 ESC 5731verde 0,62 0,69 ESC5731a(Y)m 1,24 0,04 ESC 5731(VL) 1,47 0,27 ESC 5731a(ac) 0,53 0,39 ESC 5731(X)A 0,98 0,16 ESC 5731(X)C 0,74 0,27 ESC 5731(X)C 0,73 0,27 ESC 5636 0,90 0,20 ESC5731(AE)B 0,98 0,23 IPE 02 (G) IPE 5542 ver a IPE 01 (G)-C IPE 01 (G)B IPE 02 (G)-B IPE 01 (G)A IPE 03 (G) IPE 5541 A IPE 5541A(B) IPE 5529 IPE 5540Am77 IPE 5540Am77 IPE 01(D) SiO2 65,82 66,10 65,57 65,53 65,54 65,96 65,50 66,80 66,90 66,90 66,40 66,80 64,80 66,12 66,01 66,03 65,69 66,27 66,10 66,35 66,61 65,88 66,12 66,09 66,35 65,00 65,14 66,42 65,08 64,42 64,71 65,64 65,70 66,40 64,88 65,73 66,25 65,18 65,77 65,67 65,53 65,33 K2O 0,03 0,02 0,02 0,02 0,02 0,03 0,03 0,02 0,02 0,05 0,04 0,06 0,04 0,02 0,01 0,03 0,04 0,04 0,04 0,02 0,03 0,03 0,03 0,02 0,01 0,03 0,03 0,02 0,05 0,05 0,04 0,02 0,04 0,03 0,05 0,02 0,02 0,04 0,03 0,03 0,03 0,03 Al2O 18,30 18,30 17,88 17,86 17,90 17,64 17,89 17,80 17,86 17,90 18,20 18,10 18,13 18,42 18,46 18,48 18,17 18,06 18,10 18,41 18,78 18,27 18,38 18,36 18,69 18,29 18,27 18,54 18,48 18,34 18,12 17,97 17,99 17,92 18,32 18,37 18,42 18,42 18,39 18,49 18,66 18,46 MnO 0,03 0,01 < 0,01 <0,01 < 0,01 0,04 <0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 < 0,01 0,02 0,02 0,05 0,01 <0,01 0,01 0,01 0,02 0,03 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,05 < 0,01 0,01 0,02 0,01 0,01 0,05 0,02 <0,01 < 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 Cr2O3 <0,01 <0,01 0,01 0,01 < 0,01 < 0,01 < 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 <0,01 0,01 0,03 < 0,01 0,01 0,01 0,01 < 0,01 < 0,01 < 0,01 <0,01 < 0,01 < 0,01 0,01 0,01 <0,01 0,01 <0,01 < 0,01 0,01 <0,01 0,01 <0,01 <0,01 <0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 81 CaO < 0,01 0,02 0,01 < 0,01 0,01 <0,01 <0,01 0,02 0,02 0,01 0,02 0,02 0,01 0,01 <0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 <0,01 < 0,01 0,13 0,01 <0,01 < 0,01 0,01 < 0,01 < 0,01 < 0,01 < 0,01 <0,01 <0,01 0,01 < 0,01 0,01 0,01 < 0,01 < 0,01 MgO 0,17 0,32 0,25 0,26 0,23 0,21 0,23 0,44 0,50 0,16 0,18 0,16 0,15 0,15 0,12 0,20 0,10 0,07 0,12 0,12 0,03 0,16 0,01 0,14 0,03 <0,01 0,08 0,03 <0,01 <0,01 <0,01 0,24 0,023 0,24 <0,01 0,03 0,11 <0,01 0,07 0,07 <0,01 <0,01 V2O3 0,03 0,01 0,01 2,02 < 0,01 0,03 0,01 0,01 0,01 0,02 0,02 0,02 0,03 0,01 < 0,01 0,02 0,02 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 <0,01 0,02 0,02 0,13 <0,01 0,01 0,02 <0,01 0,03 < 0,01 0,02 0,01 0,03 0,03 0,01 0,01 0,02 0,02 0,02 0,02 TiO2 Cs2O 0,01 0,01 < 0,01 0,07 0,02 0,03 0,02 0,03 0,01 0,06 < 0,01 0,06 < 0,01 0,07 < 0,01 0,07 0,01 0,07 < 0,01 0,16 < 0,01 0,06 < 0,01 0,07 0,02 0,04 0,01 0,05 0,01 0,09 0,02 0,10 0,01 0,06 <0,01 0,05 0,01 0,06 <0,01 0,04 < 0,01 0,03 0,01 0,04 0,01 0,04 < 0,01 0,03 <0,01 0,06 < 0,01 0,02 0,02 0,05 0,01 0,06 < 0,01 1,86 < 0,01 0,54 < 0,01 1,94 < 0,01 0,05 <0,01 0,04 0,01 0,06 0,01 0,56 <0,01 0,20 <0,01 0,06 0,01 0,23 <0,01 0,11 <0,01 0,10 0,01 0,18 0,01 0,14 Rb2O <0,01 0,01 <0,01 < 0,01 <0,01 <0,01 <0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,02 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 0,11 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 0,01 <0,01 BaO < 0,01 < 0,01 0,02 0,02 0,02 0,03 0,02 < 0,01 < 0,01 0,01 < 0,01 0,01 < 0,01 0,01 0,01 0,02 <0,01 0,02 0,02 < 0,01 0,01 < 0,01 0,01 0,02 < 0,01 <0,01 < 0,01 0,01 0,02 <0,01 < 0,01 0,01 0,01 <0,01 0,01 <0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 < 0,01 Quadro 5.3 – Diagrama mostrando a distribuição de Na2O e CsO, nos 42 cristais analisados. a Contribuições ás Ciências da Terra Série M, vol. 09...151 p. 5.6 – ANÁLISES TERMOGRAVIMÉTRICAS (ATD) E TERMODIFERENCIAIS (ATG) Neste tópico serão discutidos os dados obtidos nas análises termogravimétrica (ATG) e termodiferenciais (ATD), resultantes de 12 amostras de berilo (8 água-marinhas, 2 morganita e 2 goshenita) provenientes dos pegmatitos Ipê, Ferreirinha (I e II), Jonas Lima (I e II) e Escondido. As análises foram realizadas visando obter dados sobre a perda de massa e a faixa de temperatura correspondente à mesma, numa tentativa de correlacioná-las com a maior ou menor concentração de álcalis nos cristais de berilo. Análises termogravimétricas (ATG) realizadas com 3 cristais de água-marinha do pegmatito Ipê, apresentaram dois intervalos de perda de massa, representadas por curvas endotérmicas obtidas por análises de ATD, variando de 0,5 a 1,0%, em uma faixa de temperatura de até 230°C para a primeira perda equivalente ao início da perda de H2O e menor perda de CO2 ± CH4 e entre 700 a 1.100°C para a segunda perda, referente à total desidratação do cristal e total perda de CO2 ± CH4 ± álcalis (Quadro 5.5, Figuras a, b, c). Para os 3 cristais de água-marinha do Pegmatito Ferreirinha I e II, foi observado o mesmo comportamento, no entanto, a perda de massa variou de 0,5 a 1,3%, onde o primeiro intervalo foi de até 220°C e o segundo intervalo compreendido entre 680 e 1.200°C (Quadro 5.6, Figuras a, b, c). Foram identificados, por análises de ATG, 3 intervalos de perda de massa para 2 cristais de água-marinha e 1 de morganita do pegmatitos Jonas Lima I e II (Quadro 5.7, Figuras a, b, c) e para 1 cristal de água-marinha, 2 de morganita e 1 de goshenita do Escondido (Quadro 5.8, Figuras a, b, c), representados por curvas endotérmicas, obtidas por análises de ATD. A primeira ocorre até, aproximadamente, 220°C, variando de 0,5 a 1,5%, referindo-se ao início da desidratação dos berilos pela perda parcial de H2O. A segunda (0,5 a 0,8%) ocorre em temperaturas entre 230 e 650°C, estando relacionada à maior perda de CO2 ± CH4 e menor perda de H2O. A terceira, por sua vez, varia de 0,5 a 3,0% e tem seu início em temperaturas acima dos 700°C culminando a, aproximadamente, 1.100°C e corresponde a total perda de H2O e/ou álcalis. O fato das amostras de berilo pertencentes aos pegmatitos Ipê e Ferreirinha I e II registrarem apenas 2 intervalos de perda de massa, deve-se, provavelmente, à diminuição da quantidade de CO2 e/ou CH4 e de álcalis no mineral. Comparando os resultados obtidos para os 4 pegmatitos, observou-se que os cristais de berilo pertencentes ao Ipê e Ferreirinha I e II apresentaram uma perda de massa bem menor que as amostras provenientes de Jonas Lima e Escondido e que as temperaturas mínimas necessárias para que as primeiras 83 De Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos amostras de berilo começassem a perder peso foi de 220°C, enquanto que para as segundas foi de 230°C. Tal fato ocorre, provavelmente, devido à maior presença de água ± álcalis nas amostras pertencentes aos pegmatitos Jonas Lima e Escondido, em comparação com Ipê e Ferreirinha. Não foram observados ganhos de massa em nenhuma das amostras estudadas, o que indica que não houve nenhuma mudança na cristalinidade do mineral Quadro 5.4 – Curvas de ATG, onde se pode observar as perdas de massa do berilo para o pegmatito Ipê e seu comportamento endotérmico. b a TGA-DTA IPE 01(G) TGA-DTA IPE BER/A 101,0 101,0 0,016 100,5 100,0 98,0 0,000 97,5 -0,004 97,0 -0,008 96,5 96,0 -0,012 95,5 -0,016 400 600 800 Temperatura (°C) 1000 1200 0,0100 0,0075 99,0 0,0050 98,5 0,0025 98,0 0,0000 97,5 -0,0025 -0,0050 97,0 -0,0075 96,5 95,0 200 0,0125 99,5 Perdade Massa (%) 98,5 0,004 -0,0100 96,0 -0,0125 95,5 -0,0150 -0,0175 95,0 1400 200 400 600 800 Temperatura (°C) c TGA-DTA IPE 03(G) C 101,0 100,5 0,016 100,0 0,012 0,008 99,0 98,5 0,004 98,0 0,000 97,5 -0,004 97,0 -0,008 96,5 96,0 -0,012 95,5 -0,016 95,0 200 400 600 800 Temperatura (°C) 84 1000 1200 1400 Derivada daPerda de Massa (%/min) 99,5 Perda de Massa (%) Perda de Massa (%) 99,0 Derivada daPerda de Massa (%/min) 0,008 0,0150 100,0 1000 1200 1400 Derivada daPerda de Massa (%/min) 0,012 99,5 0,0175 100,5 Contribuições ás Ciências da Terra Série M, vol. 09...151 p. Quadro 5.5 – Curvas de ATG, onde se pode observar as perdas de massa do berilo para o pegmatito Ferreirinha I e II e seu comportamento endotérmico. a b DTA-TGA FER II D3A 0,024 100,5 0,020 100,0 0,016 101,0 0,04 100,5 100,0 0,03 99,5 0,02 99,5 0,012 99,0 0,008 98,5 0,004 98,0 0,000 97,5 -0,004 97,0 -0,008 96,5 -0,012 96,5 -0,02 96,0 -0,016 96,0 -0,03 95,5 -0,020 95,5 -0,024 1400 95,0 95,0 400 600 800 Temperatura (°C) 1000 1200 PerdadeMassa(%) 0,01 98,5 0,00 98,0 97,5 -0,01 97,0 -0,04 200 400 600 800 Temperatura (°C) c TGA-DTA FER I D2 C 101,0 0,024 100,5 0,020 100,0 0,016 99,5 0,012 99,0 0,008 98,5 0,004 98,0 0,000 97,5 -0,004 97,0 -0,008 96,5 -0,012 96,0 -0,016 95,5 -0,020 95,0 200 400 600 800 Temperatura (°C) 85 1000 1200 -0,024 1400 Derivada da Perda de Massa (%/min) Perdade Massa (%) 200 99,0 1000 1200 1400 Derivadada Perda de Massa (%/min) Derivada da Perda de Massa (%/min) Perdade Massa (%) TGA-DTA FER II D3C 101,0 De Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos Quadro 5.6 – Curvas de ATG, onde se pode observar as perdas de massa do berilo para o pegmatito Jonas Lima I e II e seu comportamento endotérmico. b a TGA-DTA JNLII D2B TGA-DTA JNL II MORGANITA 101,0 100,5 0,06 99,0 0,02 98,5 98,0 0,00 97,5 -0,02 97,0 96,5 -0,04 96,0 -0,06 95,5 95,0 400 600 800 Temperatura(°c) 1000 1200 0,020 100,0 0,016 99,5 0,012 99,0 0,008 98,5 0,004 98,0 0,000 97,5 -0,004 97,0 -0,008 96,5 -0,012 96,0 -0,016 95,5 -0,020 -0,024 95,0 -0,08 1400 200 400 600 800 Temperatura (°C) c TGA-DTA JNL I D1C(REJEITO) 101,0 0,03 100,5 100,0 0,02 99,0 0,01 98,5 98,0 0,00 97,5 -0,01 97,0 96,5 -0,02 96,0 95,5 -0,03 95,0 200 400 600 800 Temperatura (°C) 86 1000 1200 1400 Derivadada Perdade Massa (%/min) 99,5 Perdade Massa (%) 200 0,024 100,5 1000 1200 1400 Derivada daPerda de Massa (%/min) 0,04 Derivada da Perda de Massa (%/min) 99,5 Perda de Massa (%) 100,0 Perdade Massa (%) 101,0 0,08 Contribuições ás Ciências da Terra Série M, vol. 09...151 p. Quadro 5.7 – Curvas de ATG, onde se pode observar as perdas de massa do berilo para o pegmatito Escondido e seu comportamento endotérmico. a b TGA-DTA AMOSTRA ESC5731 A (MORG) TGA-DTA AMOSTRA 5731A(VERDE) 101,0 100,5 0,0125 0,0075 99,0 0,0050 98,5 0,0025 98,0 0,0000 97,5 -0,0025 97,0 -0,0050 -0,0075 96,5 -0,0100 96,0 99,0 0,02 98,5 98,0 0,00 97,5 -0,02 97,0 96,5 -0,04 96,0 -0,0125 95,5 0,04 99,5 95,5 -0,0150 -0,06 95,0 95,0 200 400 600 800 1000 1200 200 1400 400 600 c 1000 1200 1400 d TGA-DTA ESC5731 Y(MORG) TGA-DTA ESC5731 Y(GOSH) 101,0 101,0 0,20 100,5 0,20 100,5 0,15 0,05 98,5 98,0 0,00 97,5 -0,05 97,0 -0,10 96,5 96,0 -0,15 100,0 0,15 99,5 0,10 99,0 95,5 0,05 98,5 98,0 0,00 97,5 -0,05 97,0 -0,10 96,5 96,0 -0,15 Derivadada Perda de Massa (%/min) 0,10 99,0 Derivadada Perda de Massa (%/min) 99,5 PerdadeMassa(%) 100,0 PerdadeMassa(%) 800 Temperatura (°C) Temperatura (°C) 95,5 -0,20 95,0 200 400 600 800 1000 1200 -0,20 95,0 1400 200 Temperatura (°C) 5.7 Derivada da Perda de Massa (%/min) 99,5 0,06 100,0 Perda De Massa (%) 0,0100 Derivada da Perda de Massa (%/min) 100,0 Perdade Massa (%) 101,0 0,0150 100,5 – CARACTERIZAÇÃO 400 600 800 1000 1200 1400 Temperatura (°C) GEMOLÓGICA DOS BERILOS DO CAMPO PEGMATÍTICO DE MARILAC A caracterização gemológica das amostras de berilo dos pegmatitos Ipê, Ferreirinha I e II, Jonas Lima I e II e Escondido foi realizada por meio da análise de amostras lapidadas, nos aparelhos polariscópio, dicroscópio, microscópio gemológico e refratômetro. Foram selecionadas para lapidação 12 amostras representando as três variedades gemológicas pertencentes às quatro lavras estudadas. A Tabela 5.8. apresenta os resultados obtidos. 87 De Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos Tabela 5.8 – Dados mineralógicos de 12 cristais de berilo do Campo Pegmatítico de Marilac. Amostra Sigla d IPE 02 (G) a 2,72 IPE 5542 Ber/A b IPE 03 (G) nε nω ∆ Pleocroísmo Diafaneidade 1,572 1,580 0,008 azul-claro/incolor translúcido 2,70 1,570 1,580 0,010 azul-celeste/incolor translúcido c 2,70 1,572 1,580 0,008 azul-claro/incolor transparente FER I D1(B) d 2,70 1,576 1,586 0,010 azul-claro/incolor transparente FER II D3(B) e 2,70 1,574 1,582 0,008 azul-claro/incolor translúcido FER I D2 f 2,70 1,581 1,588 0,007 azul-celeste/incolor translúcido JNL I D1 (C) g 2,69 1,580 1,589 0,009 azul-claro/incolor translúcido JNL II (MORG) h 2,74 1,582 1,591 0,011 róseo/róseo-pálido tranparente JNL II D2 (A) i 2,71 1,573 1,581 0,008 azul-claro/incolor translúcido ESC 5731 a (Y)g j 2,71 1,585 1,594 0,009 incolor transparente ESC 5731 a (Y)m l 2,72 1,583 1,591 0,009 róseo/róseo-pálido transparente ESC 5731 A g m 2,77 1,584 1,593 0,009 incolor transparente Foram caracterizados 3 cristais de água-marinha do Pegmatito Ipê (Quadro 5.6, Fotografias a, b, c), 3 cristais de água-marinha do pegmatito Ferreirinha I e II (Quadro 5.6, Fotografias d, e, f), 2 cristais de água-marinha e 1 de morganita do Jonas Lima I e II (Quadro 5.6, Fotografias g, h, i) e 1 cristal de águamarinha e 2 de morganita do Escondido (Quadro 5.6, Fotografias j, l, m). Em função da cor, o mineral berilo é classificado nas variedades goshenita (incolor), esmeralda (verde-grama), água-marinha (azul celeste ou verde), morganita (rósea) e bixbita (vermelha). No caso das amostras analisadas, verificou-se que um mesmo cristal apresenta diferentes colorações da borda até o centro, apresentando, por vezes, dois matizes de cores diferentes, que variam paralela ou perpendicularmente ao eixo c do mineral. Os cristais de águas-marinhas possuem coloração variando de azul-pálido à azul-celeste apresentando-se, por vezes, um caráter leitoso. Os cristais de morganita apresentam coloração variando do róseo-pálido ao róseo e os cristais de goshenita apresentam porções leitosas e massas incolores. Desta forma o zoneamento mascroscópico de cor é freqüentemente nos cristais de berilo do Campo de Marilac, conforme descritos também por Gandini (1999). 88 Contribuições ás Ciências da Terra Série M, vol. 09...151 p. Em relação aos dados químicos, os teores de FeO são maiores para as amostras de água-marinha cujo matiz de azul é mais intenso, os teores de CsO e MnO são maiores no caso das amostras de morganita e goshenita. Quadro 5.8 – Amostras das variedades gemológicas do berilo, lapidadas segundo diversos tipo de lapidação, as águas-marinhas provêm dos 4 corpos pegmatítico, as morganitas do Jonas Lima II e Escondido e as goshenitas do Escondido. a b c cabochão - 2,0ct d cabochão - 1,5ct e oval - 2ct f redonda – 1,0ct g cabochão - 1,5ct h cabochão - 2,5ct i cabochão – 3,0ct j oval – 1,0 ct l retangular – 1,5ct m redonda – 2,0ct oval - 1,5ct 89 oval - 2,0ct De Carvalho, D. T. 2004 - Estudos mineralógicos e microtermométricos do berilo nos pegmatitos Quanto ao pleocroísmo, as variedades água-marinha e morganita, apresentam dicroísmo fraco à moderado. No caso dos cristais de morganita apresentam-se fraco em tons de róseo-pálido e incolor; no caso das águas-marinhas, apresentam-se moderado em tons de azul-celeste e azul-pálido. Todos os cristais analisados apresentaram-se um comportamento uniaxiais negativos, com diafaneidade variando de transparente à translúcido. Quanto às inclusões observadas, para os cristais de água-marinha é freqüente a presença de “efeito-chuva”, finos canalículos orientados paralelamente ao eixo c do hospedeiro, bem como inclusões fluidas bifásicas (l-g), trifásicas (l-g-s1-s2) e as fraturas parcialmente cicatrizadas. No caso dos cristais de morganita, observou-se a presença de inclusões sólidas, fluidas monofásicas e bifásicas (l-g), bem como fraturas parcialmente cicatrizadas. Os cristais de goshenita apresentam inclusões escassas, em sua maioria sólidas e raramente apresentam inclusões fluidas bifásicas (l-g). 90