UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA MESTRADO Lenygia Maria Formiga Alves Morais EXPANSÃO URBANA E QUALIDADE AMBIENTAL NO LITORAL DE JOÃO PESSOA-PB. João Pessoa – PB Agosto de 2009 Lenygia Maria Formiga Alves Morais EXPANSÃO URBANA E QUALIDADE AMBIENTAL NO LITORAL DE JOÃO PESSOA-PB. Dissertação de Mestrado apresentada em Agosto de 2009, para obtenção do título de Mestre em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Paraíba (PPGG – UFPB). Orientadores: Prof. Dr. Roberto Sassi Prof. Dr. Eduardo Rodrigues Viana de Lima João Pessoa - PB Agosto de 2009 Lenygia Maria Formiga Alves Morais EXPANSÃO URBANA E QUALIDADE AMBIENTAL NO LITORAL DE JOÃO PESSOA-PB. BANCA EXAMINADORA: ____________________________________________________ Dr. Roberto Sassi Orientador - UFPB ____________________________________________________ Dr. Eduardo Rodrigues Viana de Lima Co-orientador e Examinador Interno – PPGG - UFPB ____________________________________________________ Dr. Lanusse Salim Tuma Rocha Examinador Externo - UEPB ____________________________________________________ Edson Leite Ribeiro Suplente João Pessoa – PB Agosto de 2009 Os problemas que temos hoje não podem ser resolvidos se mantivermos a mesma maneira de pensar que tínhamos quando os criamos. Albert Einstein A Deus, essência da vida. OFEREÇO Ao meu filho que foi o grande incentivador deste trabalho, mesmo não falando (devido a suas limitações) me transmitiu força, carinho, alegria e amor incondicional. Rônadi Filho você é um presente de Deus pra minha vida, tornando-me uma pessoa melhor a cada dia. DEDICO AGRADECIMENTOS Antes de tudo, agradeço a DEUS, fonte de sabedoria plena e luz do meu caminhar. Sempre me abençoando e sustentando em todos os momentos, permitindo a conquista de mais uma vitória na minha vida. Aos meus pais Geraldo e Lair, que estiveram sempre presente em minha vida dividindo alegrias e tristezas, e pela compreensão e amor a mim dedicados. Às minhas irmãs e irmão, Layse, Liane, Lucyana e Lairton, pelo apoio dedicação e incentivo e, principalmente, por mostrar a grande beleza de se ter uma família sempre unida. Em especial ao meu orientador Roberto Sassi, por ter confiado em mim, por toda atenção, ajuda e paciência ao longo desta pesquisa. Sem sua ajuda seria improvável que os muitos obstáculos encontrados fossem superados. Ao Professor Eduardo Viana, na condição de co-orientador, pelas contribuições importantes e sugestões na confecção dos mapas. A Dona Neuda, onde encontrei amparo, compreensão e força ao longo dessa caminhada. A sua ajuda foi imprescindível. Ione você deu um empurrãozinho e estou aqui. Seu incentivo foi fundamental. A minha sobrinha Giovana pela amizade, apoio e compreensão nas horas difíceis. Aos professores do PPGG, em especial a Emilia Moreira pela oportunidade concedida. E a secretária da pós-graduação Sônia, pela atenção. Ao CNPq (Processo Nº. 4855550/2006-7) pelo apoio concedido no desenvolvimento da pesquisa. Aos colegas do mestrado André, Andréia, Alexandra, Alexandre, Amanda, Claudia, Claudia Simone, Eduardo, Eliane, Ericson, Lucineide, Marcos, Nirvana, Paula Priscila, Raquel, Silvio que tornaram as disciplinas muito mais interessantes e enriquecedoras. A Cláudia Simoni pelo acompanhamento nas atividades de campo e pelas valiosas discussões sobre os temas deste trabalho. E finalmente, mas fundamentalmente, meu esposo e filho: Roninho e Rônadi Filho que compartilharam comigo todos os momentos difíceis desta jornada e de quem suprimi atenção por todas as horas dedicadas a este trabalho. A eles, todo o meu amor. RESUMO O presente estudo procurou resgatar um pouco da história da evolução da cidade de João Pessoa no que concerne à sua expansão em direção a orla, bem como avaliar o papel do Estado na configuração espacial da cidade e as conseqüências do crescimento urbano sobre os recursos naturais e sua relação sobre a qualidade de vida da população. O trabalho foi realizado na faixa litorânea do município e seu principal objetivo foi estudar a dinâmica de ocupação da área, caracterizando e hierarquizando os diferentes tipos de interferências humanas resultantes do processo de ocupação, e relacionando essas mudanças com a qualidade ambiental. O estudo baseou-se na elaboração de mapas de uso e ocupação do solo dos anos de 1969, 1985 e 2005, obtenção de dados de campo através de observações e registros sobre as feições fisiográficas e aspectos biológicos da área como também realizando um levantamento das interferências humanas locais usando matrizes ponderadas. As atividades desenvolvidas na área foram inventariadas e os conflitos entre aquelas com repercussões ambientais foram analisados por meio de uma matriz de compatibilidade de usos. Um índice de qualidade ambiental foi calculado. Constatou-se que a expansão urbana na área se deu de forma acelerada, causando sérias consequências ao ambiente natural, resultando na degradação da paisagem e na retração de habitats importantes e favorecendo ocupações indevidas, inclusive em unidades de conservação como ocorre nos Parques Estaduais de Jacarapé e Aratú. No total foram listados 38 tipos de interferências humanas, a maioria deles pressionando intensamente os remanescentes naturais que ainda existem no litoral norte e sul do município. Poluição de rios e mananciais (lixo e esgotos), danos aos manguezais, remoção de mata ciliar, degradação de matas de encosta, especulação imobiliária, retração de habitats e remoção de mata ciliar foram os que mais se destacaram. Os dados evidenciam que o processo de conversão do patrimônio natural em ambientes antropizados tem contribuído para a redução da qualidade ambiental da área, colocando em risco a sobrevivência futura de inúmeros representantes da flora e da fauna local com prejuízos à qualidade de vida humana, contrariando os princípios do desenvolvimento sustentável. Palavras-chave: expansão urbana, qualidade ambiental, degradação ambiental, impactos ambientais, zona costeira. ABSTRACT The present study attempted to capture part of the evolutive history of the city of João Pessoa in terms of its expansion to the waterfront and to evaluate the role of the state in determining the spatial configuration of the city, the consequences of urban growth on the regional natural resources, and the quality of life of its citizens. This work was carried out along the coast of the municipality and sought to examine the dynamics of this shorefront occupation and to characterize and classify the resulting types of human interventions as well as to relate those changes to alterations in environmental quality. The study involved the elaboration of maps of the use and occupation of the soil for the years 1969, 1985 and 2005 using field data gathered from observations, records of the physiographic and biological aspects of the area, as well as surveys of human alterations using matrizes ponderadas. Human activities in the area were inventoried and the conflicts generated by their environmental impacts were analyzed using a use-compatibility matrix. An environmental quality index was calculated. It was determined that urban expansion in the area occurred very rapidly, resulting in serious consequences for the natural environment, including the degradation of the local landscape, the retraction of important habitats and the incorrect occupation of many conservation areas such as the Jacarapé and Aratú State Parks. A total of 38 types of human interventions were noted, with most of them placing intense pressure on remnant natural areas that still exist on the northern and southern coasts of the municipality through pollution of rivers and water sources (by garbage and sewage), damage to mangrove areas, removal of gallery forests, degradation of hillside forests, and the retraction of habitats. This work indicated that the process of conversion of the natural heritage into human-modified environments has contributed to a reduction in environmental quality in the area that threatens the survival of innumerous representatives of the local flora and fauna and has significantly altered the quality of human life - in complete contradiction to the principals of sustainable development. Key-words: urban expansion, environmental quality, environmental degradation, environmental impacts, coastal zone. Lista de Siglas ACIESP – Academia de Ciências do Estado de São Paulo AEMA - Agência Européia de Meio Ambiente AESA - Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba AFRAFEP - Associação dos Fiscais de Rendas e Agente Fiscais do Estado da Paraíba APAN - Associação Paraíba dos Amigos da Natureza APP - Áreas de Preservação Permanente BNH - Banco Nacional de Habitação CCHLA – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes CEHAP-PB - Companhia de Habitação da Paraíba CIRM - Comissão Interministerial para os Recursos do Mar CMMAD – Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento COGERCO - Grupo de Coordenação do Gerenciamento Costeiro CONOMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente CT – Centro de Tecnologia CURA - Comunidade Urbana para a Renovação Acelerada DBO - Demanda Bioquímica de Oxigênio EIA – Estudo de Impacto Ambiental FAC - Fundação de Ação Comunitária FEARO - Federal Environmental Assessment Rewiew Office FGTS - Fundo de Garantia por Tempo de Serviço FUNSAT - Fundação Social de Apoio ao Trabalho GIGERCO - Grupo de Integração do Gerenciamento Costeiro GRPU - Gerência Regional do Patrimônio da União IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente IBDF - Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDEME - Instituto de Desenvolvimento Municipal e Estadual da Paraíba IHGP – Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba IPHAEP - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba IQA - Índices de Qualidade Ambiental IQVU - Índice de Qualidade de Vida Urbana ISA - Índice de Salubridade Ambiental MEC - Ministério da Educação e Cultura MMA – Ministério do Meio Ambiente MPOG - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão OECD - Organization for Economic Cooperation and Development ONG - Organização Não Governamental ONU – Organizações das Nações Unidas PBTUR - Empresa Paraibana de Turismo SA PEGC - Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro PIB - Produto Interno Bruto PMGC - Plano Municipal de Gerenciamento Costeiro PMJP - Prefeitura Municipal de João Pessoa PNB - Produto Nacional Bruto PNGC - Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro PNMA - Política Nacional do Meio Ambiente PNRM - Política Nacional para os Recursos do Mar PRODEMA – Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente PRODETUR - Programa de Desenvolvimento Turístico RIMA – Relatório de Impacto no Meio Ambiente SEPLAN - Secretaria de Planejamento SFH - Sistema Financeiro da Habitação SPU - Secretaria do Patrimônio da União SUDEMA - Superintendência do Meio Ambiente SUDENE - Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste UFPB - Universidade Federal da Paraíba UNESCO – Org. das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura WRI - Instituto de Recursos Internacionais ZEIS - Zona Especial de Interesse Social Lista de Tabelas Tabela 01 - Categorias de valores numéricos e seus intervalos para os impactos antrópicos evidenciados nos setores estudados........................................................58 Tabela 02 - Evolução urbana de João Pessoa no período de 1969 a 2005..............92 Tabela 03 - Diferentes classes de ocupação do litoral de João Pessoa no ano de 2005............................................................................................................................94 Tabela 04 - Matriz escalar representando os diferentes tipos de impactos identificados na área estudada.................................................................................133 Tabela 05 - Relação dos principais tipos de impactos antrópicos hierarquizados pelo diagrama de Pareto para o litoral Norte de João Pessoa........................................135 Tabela 06 - Relação dos principais tipos de impactos antrópicos hierarquizados pelo diagrama de Pareto para o litoral Sul de João Pessoa............................................136 Tabela 07 - Matriz de Compatibilidade de usos para o litoral norte de João Pessoa.....................................................................................................................138 Tabela 08 - Matriz de Compatibilidade de usos para o litoral sul de João Pessoa.....................................................................................................................139 Lista de Figuras Figura 1. Localização da área de estudo...................................................................33 Figura 2. Detalhe da Falésia do Cabo Branco evidenciando o processo erosivo.....35 Figura 3. Vista aérea de falésia morta no bairro do Cabo Branco.............................36 Figura 4. Vista aérea de trecho do litoral sul de João Pessoa..................................36 Figura 5. Ocupação indevida na desembocadura do rio Jacarapé...........................38 Figura 6. Temperatura média anual da cidade de João Pessoa...............................39 Figura 7. Normais climatológicas da cidade de João Pessoa (1961-1990)..............40 Figura 8. Laguna do Aratú, litoral sul de João Pessoa..............................................42 Figura 9. Santuário de N. S. da Penha......................................................................47 Figura 10. Estação Ciência, Cultura e Artes..............................................................49 Figura 11. Fotografias do Cabo Branco, litoral sul de João Pessoa........................ 49 Figura 12. Praias da Penha e Jacarapé no litoral sul de João Pessoa.....................50 Figura 13. Fotografias aéreas de trechos do litoral sul de João Pessoa, PB............50 Figura 14. Abertura da Avenida Epitácio Pessoa (1920)..........................................60 Figura 15. Mapa do Ministério do Exército de 1946..................................................62 Figura 16. Vista geral da Avenida Epitácio Pessoa no ano de 1955.........................64 Figura 17. Evolução da implantação dos conjuntos habitacionais............................67 Figura 18. Alturas permitidas para a orla marítima de João Pessoa/PB...................72 Figura 19. Atividade turística nos recifes de Picãozinho, João Pessoa, PB.............75 Figura 20. Área desmatada próximo ao rio Jacarapé...............................................80 Figura 21. Vista aérea da PB-008.............................................................................81 Figura 22. Avenida Hilton Souto Maior......................................................................81 Figura 23. Pressões decorrentes da expansão urbana.............................................83 Figura 24. Condomínio Village Atlântico Sul.............................................................84 Figura 25. Os novos condomínios horizontais do litoral sul......................................85 Figura 26. Mapa da área urbana do litoral de João Pessoa no ano de 1969............89 Figura 27. Mapa da área urbana do litoral de João Pessoa no ano de 1985............90 Figura 28. Mapa da área urbana do litoral de João Pessoa no ano de 2005............91 Figura 29. Conversão do ambiente natural em área urbana em João Pessoa.........92 Figura 30. Mapa de uso e ocupação do litoral de João Pessoa/PB..........................93 Figura 31. Ocupação do Rio Jaguaribe.....................................................................96 Figura 32. Fotos da cheia do rio Jaguaribe...............................................................98 Figura 33. Vista geral de trecho do rio Jaguaribe......................................................98 Figura 34. Trabalhadores fazendo a limpeza do rio Jaguaribe.................................99 Figura 35. Imagens fotográficas da “Lagoa” do Aeroclube.....................................101 Figura 36. Barracas na praia do Bessa...................................................................102 Figura 37. Os comerciantes as barracas do Bessa fazendo reivindicação.............103 Figura 38. Praia de Tambaú em 1968 e em meados de 1974................................104 Figura 39. Atividade turística nos recifes de Picãozinho.........................................105 Figura 40. Processo de verticalização acelerada na orla de João Pessoa.............106 Figura 41. Deposição de resíduos de construção civil em uma praia no Bessa.....107 Figura 42. Casas assentadas junta a falésia do Cabo Branco................................107 Figura 43. Estação Ciência, Cultura e Artes sobre a falésia do Cabo Branco........112 Figura 44. Problemas de rachaduras na estrutura do Prédio da Estação Ciência..112 Figura 45. Barracas instaladas no sopé da falésia morta da praia do Seixas.........113 Figura 46. Diferentes tipos de impactos antrópicos nos recifes do Cabo Branco...114 Figura 47. Interferências humanas na foz do rio Cabelo.........................................115 Figura 48. Cortes de árvores de mangue na foz do rio Cabelo...............................116 Figura 49. Barracas nas desembocaduras dos rios Jacarapé e Camurupim..........118 Figura 50. Exemplar de massaranduba na foz do rio Jacarapé..............................119 Figura 51. Campos de várzeas no litoral sul de João Pessoa.................................120 Figura 52. Diferentes tipos de interferências humanas no rio Cabelo.....................121 Figura 53. Interferências humanas observadas ao longo do riacho do Cabelo......123 Figura 54. Instalação de criação de suínos próximo ao rio Cabelo.........................123 Figura 55. Barramento do rio Jacarapé formado pela implantação da PB-008......125 Figura 56. Presença humana no Parque Estadual de Aratu...................................127 Figura 57. Devastação da vegetação em área próxima ao rio Aratú......................128 Figura 58. Cicatrizes na paisagem local decorrente da mineração de areia...........129 Figura 59. Poluição por resíduos sólidos no litoral sul de João Pessoa.................130 Figura 60. Degradação da vegetação entre os rios Camurupim e Gramame.........132 Figura 61. Diagrama de hierarquização de Pareto dos impactos no litoral norte....134 Figura 62. Diagrama de hierarquização por Pareto dos impactos no litoral sul......135 Figura 63. Índices de Qualidade Ambiental para o litoral de João Pessoa/PB.......137 SUMÁRIO DEDICATÓRIA AGRADECIMENTOS RESUMO ABSTRACT LISTA DE SIGLAS LISTA DE TABELAS LISTA DE FIGURAS Parte 1 1- Introdução ............................................................................................................01 1.1 - Objetivos...........................................................................................................04 1.1.1 – Objetivo Geral.................................................................................................04 1.1.2 - Objetivos Específicos......................................................................................05 Parte 2 2 - Referencial Teórico.............................................................................................06 2.1 - O espaço geográfico como categoria de análise: aspectos teóricoconceituais............................................................................................................................06 2.2 - A Questão Ambiental no contexto atual.............................................................10 2.3 - A Zona Costeira: características, padrões de ocupação e premissas legais.....19 2.4 - Qualidade ambiental e indicadores de sustentabilidade....................................26 Parte 4 3 - Características gerais da área...........................................................................33 3.1 - Localização da área de estudo..........................................................................33 3.2 - Contexto geológico geomorfológico...................................................................34 3.3 - Condições Climáticas.........................................................................................39 3.4 – Vegetação.........................................................................................................40 3.5 – Hidrografia.........................................................................................................43 3.6 - Aspectos Histórico-Culturais e Turísticos...........................................................45 Parte 4 4 – Metodologia........................................................................................................52 4.1 - Etapa I................................................................................................................54 4.2 - Etapa II...............................................................................................................55 4.3 - Etapa III..............................................................................................................56 Parte 5 5 - Resultados e Discussões...................................................................................60 5.1 - Trajetória da evolução urbana de João Pessoa.................................................60 5.1.1 - Processo de ocupação do Litoral Norte..........................................................64 5.1.2 - Processo de ocupação do Litoral Sul..............................................................77 5.2 - Os impactos antrópicos decorrentes da expansão urbana no litoral de João Pessoa e suas consequências sobre a qualidade ambiental.....................................88 5.2.1 - Litoral Norte.....................................................................................................95 5.2.2 - Litoral Sul......................................................................................................109 5.3 - Categorização e Quantificação dos Impactos..................................................133 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES..................................................................140 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................143 1 Parte 1____________________________________________________ “Existem limites para os recursos, mas não existe limite para a criatividade humana.” Thierry Volery 1- Introdução A Zona Costeira pode ser definida como a interface ou espaço de transição entre a terra e o mar, entendidos como grandes domínios ambientais que são influenciados tanto por processos continentais como oceânicos. Ela se caracteriza pela tridimensionalidade dos seus componentes, ou seja, é formada na área de interação direta, entre os componentes da Geosfera (continente), Hidrosfera (águas doces e salgadas) e Atmosfera. Para melhor definir o litoral, Moraes “afirma ser uma zona de usos múltiplos, pois em sua extensão é possível encontrar variadíssimas formas de ocupação do solo e a manifestação das mais diferentes atividades humanas” (MORAES, 1999, p. 29). Contudo, o denominador comum a todas essas regiões é a forma desordenada com que vem ocorrendo a sua ocupação e o uso e apropriação de seus recursos naturais, muitas vezes antes que se tenha uma compreensão da capacidade de suporte dos ecossistemas que abriga. As atividades humanas desenvolvidas na zona costeira sempre despertaram os interesses dos pesquisadores, principalmente quando se consideram áreas ecologicamente frágeis e não se observam os preceitos do desenvolvimento sustentável. Nesses casos, o processo de ocupação da zona costeira acaba por originar inúmeros conflitos sócio-ambientais que vulnerabilizam os ambientes naturais, reduzem os serviços dos ecossistemas e provocam perdas de qualidade ambiental, que podem ser traduzidas em extinção de espécies, fragmentação de habitats, poluição, contaminações exotópicas e redução da produtividade, entre outras. No Brasil, a zona costeira possui uma extensão de cerca de 8.500 km, com a maioria das suas grandes áreas metropolitanas inseridas nessa faixa, e com cerca 2 de 23,43% da sua população instalada nos municípios costeiros (IBGE, 2004). Frente à grande variedade de ambientes naturais, entre praias, falésias, manguezais, dunas, recifes de corais, bacias e restingas, e sua localização privilegiada, as regiões costeiras têm sido pressionadas pela rápida ocupação e crescimento da população humana, trazendo como consequência um acelerado desenvolvimento econômico, associado a sérios danos ambientais, os quais são ainda mais agravados pela vulnerabilidade do meio natural. A urbanização crescente dessas áreas origina novas formas de consumo, o que faz com que a pressão humana seja intensa em praticamente todos os tipos de ecossistemas. Moraes (1999:30-31) admite que a ocupação dos municípios litorâneos vem se intensificando nas últimas décadas, devido a três vetores prioritários de desenvolvimento: a urbanização, a industrialização e a exploração turística. Vista de uma maneira geral, a urbanização se deu de forma mais intensa em países da América Latina. E particularmente, no Brasil, o índice de urbanização de 31% observado em 1940, passou para 75% em 1990 e chegou a 81% em 2001, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2000). O crescimento acelerado e desordenado das cidades, aliado a concentração da população e das atividades econômicas no espaço e os padrões tecnológicos da produção industrial, tem reforçado um quadro ambiental altamente degradado em consequência de um estilo de desenvolvimento que leva ao uso predatório dos recursos naturais (CHAFFUN, 1997, p. 28). Na zona costeira paraibana não é diferente. Nos últimos anos ela vem sendo palco de vários tipos pressões antrópicas, especialmente as causadas pelo crescimento urbano, em particular a área objeto desta pesquisa, que é o litoral do município de João Pessoa (Coutinho, 1999; Alves & Sassi, 2003; Costa et al., 2007). A escolha da deste trecho do litoral paraibano como objeto deste estudo justifica-se pelas peculiaridades que ele apresenta: por ser uma região privilegiada, em virtude de suas belezas naturais e consequentemente uma fonte geradora de recursos econômicos oriundos da atividade turística; por ser uma região litorânea de alta vulnerabilidade natural que apresenta uma tendência à alta concentração de atividades humanas, e uma constante evolução da paisagem; por se tratar de uma área de elevada importância ecológica, onde ocorre interação entre vários ecossistemas. Todos esses aspectos fazem com que a área apresente elevado grau de fragilidade ambiental, sendo necessários estudos que possam viabilizar 3 racionalmente a utilização correta dos seus espaços e recursos naturais, e o estabelecimento de programas eficientes de planejamento e gestão. O litoral do município de João Pessoa abriga ecossistemas de grande vulnerabilidade. Alguns são extremamente produtivos, como os estuários, lagunas, manguezais e recifes de corais que são a base de atividades econômicas de um número considerável de pescadores artesanais e extrativistas (MARCELINO et. al., 2005). Os referidos ecossistemas também experimentam vários conflitos de usos que ampliam a degradação em suas áreas de influência, diminuindo a perda de qualidade ambiental e por extensão da qualidade de vida da população (SASSI et al., 2006; COSTA et al., 2007). Dentre os conflitos mais relevantes é possível destacar: o processo de valorização urbana para fins habitacionais, comerciais, turísticos e industriais, implicando na instalação de ruas, calçadas, edifícios e equipamentos urbanos; lançamento de esgotos a céu aberto nas águas dos rios e do mar; invasão de áreas de preservação permanente, de domínio público, praias e margens de rios. A ocupação desordenada das margens dos rios, que em trechos do seu percurso é muitas vezes ladeado por favelas, representa uma crescente desqualificação natural desses ambientes, resultando em perda na qualidade ambiental (LEMOS, 2005). Em relação à urbanização de João Pessoa, tais áreas litorâneas correspondem a um dos setores que mais sofrem com as interferências humanas, muitas das quais irreversíveis. O desenvolvimento a qualquer custo e a falta de vontade política de sucessivos governos, são ameaças constantes à manutenção da qualidade dos recursos naturais locais, particularmente devido ao não cumprimento da legislação ambiental, bem como a deficiência de organismos fiscalizadores. Este cenário implica na revisão dos organismos que influenciam na tomada de decisão em relação à utilização correta dos recursos naturais, tanto por parte daqueles que planejam e gerenciam a cidade como em relação aos usuários. Este repensar das práticas de gestão pública traz à tona a questão da participação da sociedade em seus diversos segmentos. Tudo isto mostra que a faixa litorânea do município de João Pessoa apresenta-se bastante frágil do ponto de vista ambiental e necessita de um gerenciamento cuidadoso para que o desenvolvimento urbano ocorra sem prejuízos na qualidade dos ecossistemas, garantindo às comunidades locais qualidade de vida atualmente e para as gerações futuras. Mas os dados que possam garantir um 4 eficiente planejamento de uso dessas áreas visando atingir o desenvolvimento sustentável precisam ser conhecidos. Segundo Ferrara apud Bem (2001), é necessário a realização de estudos direcionados para o conhecimento do funcionamento e da evolução desses ambientes, das suas características ecológicas e sociais, dos aspectos produtivos, dos conflitos de uso, preferencialmente, através de programas integrados e multidisciplinares de investigação. Nesse sentido, o presente estudo tem por objetivo caracterizar as mudanças ambientais ocorridas no litoral do município de João Pessoa em decorrência do processo de ocupação da área, tomando como recorte temporal os últimos 40 anos. A pesquisa foi conduzida com base em vários documentos cartográficos analógicos e digitais, a partir do quais se procurou identificar as formas de ocupação e os condicionantes naturais da área, o grau de conversão do patrimônio natural em capital humano, e os reflexos das pressões humanas sobre os diferentes ecossistemas existentes. A fundamentação teórica dessa pesquisa foi estruturada em textos e obras dos seguintes autores: Santos (2004); Carlos (1999); Ribeiro (2005); Leff (2006); Christofoletti (1999); Tricart (1977); Silva (2001); Moraes (1999); Diegues (1997 e 2001); Sachs (1994 e 2007) entre outros. Já para a parte prática desta pesquisa foram utilizadas pesquisas de diversos autores locais que estudaram a área nos últimos anos, entre eles estão: Sassi et al. (1997); Pedrosa (1999); Coutinho (1999), Rocha (2003); Reis (2008); Moura (2001); Silveira (2004); Vasconcelos Filho (2003); Maia (2000); Alves e Sassi (2003), Lemos (2005), Barbosa (2005), Sassi et al. (2006); Leandro (2006), Costa et al. (2007), entre outros. 1.1- Objetivos 1.1.1 – Objetivo Geral O trabalho teve como objetivo principal estudar a dinâmica de ocupação da faixa litorânea do município de João Pessoa – PB, a partir de 1965 e relacionar essas mudanças com a qualidade ambiental, caracterizando e hierarquizando os diferentes tipos de interferências humanas na área. 5 1.1.2 - Objetivos Específicos • Avaliar de que forma se deu o processo de expansão urbana de João Pessoa em direção ao litoral, tomando como base um mapeamento de caráter multitemporal considerando como recorte temporal de análise os últimos 40 anos; • Identificar os principais impactos ambientais decorrentes da expansão urbana no litoral de João Pessoa e suas consequências sobre a qualidade ambiental. • Quantificar e hierarquizar os diferentes tipos de impactos antrópicos que vem pressionando os principais remanescentes naturais da área. • Construir uma matriz de compatibilidade de usos para a área em estudo, visando identificar conflitos sócio-ambientais na área. 6 Parte 2____________________________________________________ “Produzir, no limite, hoje, não é mais produzir isso ou aquilo, coisas ou obras, é produzir espaço”. Henri Lefebvre 2 - Referencial Teórico 2.1 - O espaço geográfico como categoria de análise: aspectos teóricoconceituais A partir de 1972, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente realizada em Estocolmo, na Suécia, iniciou-se uma série de discussões sobre a degradação do meio ambiente, a limitação dos estoques de recursos renováveis e não renováveis da Terra e os modelos de desenvolvimento adotados. E um dos principais enfoques dessa conferência foi a idéia de que o homem se tornaria o coagente mais importante no processo geral de evolução da Terra, capaz de intervir de maneira significativa nas transformações em curso no nosso planeta (COSTA, 1999). Historicamente as sociedades humanas passaram progressivamente a intervir cada vez de forma mais intensa na apropriação dos recursos naturais. Devido a isso, existe atualmente uma preocupação muito grande em organizar o espaço, de modo que essas mudanças agridam o mínimo possível o meio ambiente. Para satisfazer suas aspirações socioeconômicas, o ser humano, através do desenvolvimento de algum tipo de atividade utiliza-se de um espaço físico, gerando, assim, efeitos sobre o meio ambiente. E é por meio da ocupação e estabelecimento das suas atividades, que os seres humanos vão usufruindo e modificando os aspectos do espaço natural, transformando a chamada primeira natureza em segunda natureza. O espaço é a principal categoria da análise geográfica e nele estão contidos uma série de outras categorias e conceitos de apoio tais como: território, lugar, região e paisagem, dentre outros. Na geografia se afirma que o espaço geográfico é 7 uma produção humana, que o homem o produz e o transforma para atender as suas necessidades e pode ser definido como sendo palco das realizações humanas nas quais as relações entre os homens e desses com a natureza estão imbricadas. Milton Santos diz que o espaço é Formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá (SANTOS, 2004, p. 63). Essa produção de espaço implica em compreender que o espaço é social e é natureza, pois “sua tendência é mudar com o processo histórico”. Para ele o conceito de espaço era indivisível dos seres humanos que o habitam e que o modificam todos os dias, através de sua tecnologia. Já para Souza a transformação do espaço se dá através do trabalho social do homem: Palco das relações sociais, o espaço é, portanto, um palco verdadeiramente construído, modelado, embora em graus muito variados de intervenção e alteração pelo homem, das mínimas modificações introduzidas por uma sociedade de caçadores e coletores (impactos ambientais fracos) até um ambiente construído e altamente artificial como uma grande metrópole contemporânea (fortíssimo impacto sobre o ambiente natural), passando pelas pastagens e pelos campos de cultivo, pelos pequenos assentamentos etc. (SOUZA, 1997, p. 23). Para Silva, o homem vai impondo à natureza suas próprias formas, o espaço é fundamentalmente social e histórico e evolui no quadro diferenciado das sociedades e em relação com as forças externas, de onde mais freqüentemente lhes provém os impulsos (SILVA, 1988, p.10). O homem é um agente ativo que tanto sofre influências do meio como atua construindo e modificando o espaço em que vive. Esse espaço é dinâmico e os elementos (naturais e antrópicos) que o compõem interagem de forma complexa determinando o próprio ambiente. Segundo Corrêa, o espaço geografico ou simplesmente espaço tem um significado muito amplo e vago, o qual está associado a uma porção específica da Terra identificada pela natureza ou pelas marcas impressas do homem, ou ainda, pela referência de localização geográfica (CORRÊA, 2003). 8 Já para Silva (2001), que tomou como base os estudos realizados por Lefebvre, o espaço geografico é definido como produto, processo e manifestação da sociedade que expressa todas as contradições geradas e também contidas nas relações sociais de produção. É através dessas relações sociais que se engendram os processos, pois é nessa formação histórica que se estabelecem, se recriam, se transformam as relações sociais e espaciais. Mas esse produto social não se faz sem conflitos, contradições e resistências. Explica Carlos, sobre esse aspecto, que: As relações sociais têm uma existência real enquanto existência espacial concreta, na medida em que produzem e assim, efetivamente a sociedade produz o espaço. Cada local região ou país tem sua formação própria, sua cultura, valores e costumes e deste modo o espaço vai sendo produzido conforme essas relações mais amplas, em um processo articulado a produção geral da sociedade (CARLOS, 1999, p. 63). Ao longo da história, o homem tem transformado a natureza para produzir um ambiente propício à satisfação de suas necessidades. Todas essas mudanças no espaço geográfico alteram padrões ambientais, sociais e políticos. Os que estão relacionados ao avanço tecnológico trazem progresso e benefícios ao homem, mas também muitos problemas novos que precisam ser equacionados. A partir da Primeira Revolução Industrial iniciou-se o programa moderno da conquista da natureza pelo homem a fim de explorar todos os recursos nela disponíveis com o intuito de abastecer as indústrias de matéria-prima. Esse elemento é o principal item dessa atividade, ao passo que a população crescia e era acompanhada pelo alto consumo de alimentos e bens de consumo. Com o avanço tecnológico, o homem criou uma série de mecanismos para facilitar a manipulação dos elementos da natureza, máquinas e equipamentos facilitaram a vida do homem e dinamizaram o processo de exploração de recursos. Essas modificações alteraram também os usos e costumes locais pela imposição de padrões de comportamento e de consumo muitas vezes incompatíveis com as condições econômicas e sociais das populações atingidas. Isto quer dizer que nem todos têm acesso aos recursos mais avançados da tecnologia e à qualidade de vida que eles proporcionam. 9 Todas essas intervenções humanas no espaço causam degradação que se reflete sobre o próprio homem. E desse modo a natureza está reagindo às ações antrópicas, sendo vários os exemplos decorrentes das profundas alterações ocorridas principalmente nas últimas décadas, como o aquecimento global e escassez de água, redução da biodiversidade e inúmeras doenças emergentes, entre outros. Dessa forma, o espaço é utilizado de maneira predatória e seletiva, com a ocupação sem planejamento e havendo apropriação indevida por grupos sociais, sem que haja preocupação com o ambiente natural e muito menos com a sociedade local. A partir dessas evidências, fica claro que o homem necessita da natureza para obter seu sustento, no entanto, o que tem sido promovido é uma exploração irracional dos recursos que, se continuar assim, provavelmente as próximas gerações enfrentarão sérios problemas, e a própria vida como um todo será comprometida. Devido a isso, existe uma preocupação muito grande em organizar o espaço, para que essas mudanças possam agredir o mínimo possível o meio ambiente. A partir dessa preocupação tem se evidenciado a necessidade de abordagens integradas sobre o meio ambiente e ações conjuntas envolvendo diferentes áreas do conhecimento para um melhor entendimento e conservação da natureza. Vale lembrar que a Geografia sempre tratou da relação sociedade-natureza e o que se aponta como novo paradigma para as ciências, que é a problemática ambiental, há muito vem sendo discutido por esta ciência. A Geografia sempre se preocupou em compreender o ambiente natural, a sociedade, o comportamento humano, as relações socioeconômicas e culturais. Pois ela está incansavelmente à procura de soluções que venham sanar questões no âmbito social, econômico e ambiental. Por fim, a Geografia é uma ciência que pode fornecer os conhecimentos necessários sobre o ambiente natural e ações humanas, possibilitando a análise das mudanças ocorridas e dos impactos ambientais. 10 2.2 - A Questão Ambiental no contexto atual. O meio ambiente ecologicamente equilibrado é um dos bens indispensáveis ao ser humano, por força de sua contribuição à sadia qualidade de vida e à dignidade social (LEITE, 2003, p. 284). Visto no âmbito do direito do indivíduo e de acordo com o Artigo 225 da Constituição brasileira: [...] todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações [...] (BRASIL, 1998, p. 133). A questão ambiental assume hoje uma magnitude impensada há décadas, visto que a pressão exercida pelo homem no meio ambiente tem aumentado significamente desde a revolução industrial, assumindo uma situação de crise global. Souza diz que a “questão ambiental” diz respeito ao intenso processo de degradação generalizada do meio ambiente e dos recursos naturais, provocados pela intensificação do crescimento econômico e populacional no século XX (decorrente da industrialização, da explosão demográfica, da produção e do consumo em massa, da urbanização e da modernização agrícola, dentre outras causas). Com isso aumenta o nível de demanda ambiental e uma perda de biodiversidade e de recursos naturais nunca antes imaginados (SOUZA, 2000, p. 15). No entanto, muitas dessas degradações trazem consigo riscos que ameaçam a vida humana, ao provocarem profundas alterações no meio ambiente, como: o esgotamento dos recursos, seca dos rios, erosão dos solos, a desertificação, o desmatamento associado à conversão de grandes áreas naturais para o cultivo agrícola, trazendo implicações significativas na perda da biodiversidade e nas alterações climáticas globais. E esta nova realidade que tem que ser reconhecida e novas medidas devem ser adotadas (O NOSSO FUTURO COMUM, 1987 apud CMMAD, 1991). A realidade atual é complexa, pois as agressões ao meio ambiente são influenciadas por interesses econômicos cada vez mais ávidos e por novas fontes de lucros e de poder, encravados numa sociedade progressivamente imediatista e consumista. Tal modelo de sociedade extremamente capitalista e consumista leva a 11 destruição dos ambientes naturais trazendo, como conseqüência, prejuízos e riscos ao próprio homem. Prevenir a degradação ambiental, preservar o que resta dos ambientes naturais, e recuperar seus atributos ambientais tornaram-se necessidades vitais. Em verdade, significa preservar o que resta de nós mesmos, seres humanos, e recuperar as condições que garantam nossa própria sobrevivência com qualidade. Susan Parker apud Christofoletti (1993) define impacto ambiental como sendo “mudança sensível, positiva ou negativa, nas condições de saúde e bem estar das pessoas e na estabilidade do ecossistema do qual depende a sobrevivência humana”. E, dando mais ênfase, o próprio Christofoletti acrescenta que “dessa maneira são considerados os efeitos e as transformações provocados pelas ações humanas nos aspectos do meio ambiente físico e que se refletem, por interação, nas condições ambientais que envolvem a vida humana“ (CHRISTOFOLETTI, 1993, p. 132-133). A Resolução do CONAMA 001/86 dispõe em seu artigo 1º que impacto ambiental é: [...] qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I – a saúde, a segurança e o bem estar da população; II – as atividades sociais e econômicas; III – a biota; IV – as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V – a qualidade dos recursos ambientais. (CONAMA, 1986 – RESOLUÇÃO 001, ART 6º). Assim, entende-se o impacto ambiental como qualquer alteração produzida pelos homens e suas atividades no meio ambiente, que excedam a capacidade de suporte desse mesmo ambiente. Para alguns pesquisadores o termo Impacto Ambiental está diretamente ligado aos danos causados ao meio ambiente pelo homem, como é o caso de Silva: O conceito de impacto ambiental refere-se exclusivamente aos efeitos da ação humana sobre o meio ambiente. Portanto, fenômenos naturais como tempestades, enchentes, incêndios florestais por causa natural, terremoto e outros, apesar de poderem provocar as alterações ressaltadas não se caracterizam como impacto ambiental (SILVA, 1999, p. 36) 12 Sabemos que os efeitos danosos gerados por agentes naturais têm sua própria dinâmica, e implicam reações múltiplas que independem da ação do homem, contudo, ressalta-se que os impactos naturais são muitas vezes acelerados e/ou aumentados pela intervenção humana sem, no entanto, ser seu principal fator causador. De acordo com o Glossário de Ecologia (ACIESP, 1997), impacto ambiental é uma ação ou atividade, natural ou antrópica, que produz alterações bruscas em todo meio ambiente ou apenas em alguns de seus componentes, e que a alteração pode ser ecológica, social ou econômica. São processos que perturbam, descaracterizam, condições ou processos no ambiente natural; ou que causam modificações nos usos instalados, tradicionais, históricos, do solo e nos modos de vida ou na saúde de segmentos da população humana, ou que modifiquem de forma significativa opções ambientais (FEARO, 1979 apud FRANCO, 2001, p. 29). Apesar de não haver consenso na literatura sobre o conceito e termos correlatos, de forma geral todos concordam que o impacto ambiental além de atingir as populações humanas, destróem as características ecológicas disponíveis, desencadeando assim um processo de danos ambientais que influenciam negativamente na qualidade de vida dos indivíduos. A preocupação com o meio ambiente sempre existiu, só que a partir da década de 70 ela é marcada pela conscientização progressiva dos limites e da vulnerabilidade dos recursos naturais e tem sido trabalhada de forma dinâmica por diversos autores. Fato este que se deve aos diferentes tipos de atividades humanas que podem comprometer o meio ambiente. A adoção dessa nova postura com relação às questões ambientais teve início mais precisamente no final da década de sessenta. Marco importante no desenvolvimento das ciências ambientais foi o livro “Primavera Silenciosa” da britânica Rachel Carson (1962), no qual a autora faz uma denúncia da verdadeira face da “revolução verde”, através de estudo de acumulação de inseticidas no ambiente natural, despertando assim a sociedade para o perigo da degradação ambiental em geral e suas implicações na qualidade de vida. Outra obra importante da época foi o livro de John Dorst (1973), “Antes que a Natureza Morra”, que alertava sobre as ações antrópicas e seus consequentes impactos na natureza, na tentativa de conscientizar sobre a grave degradação ambiental em que o planeta se 13 encontrava. Desde então a preocupação de promover a mudança de comportamento no relacionamento homem x natureza começou a ser observado. Durante a década de setenta as questões relacionadas com o meio ambiente passaram a ganhar maior ênfase não só apenas junto à sociedade leiga, mas, sobretudo, junto à comunidade científica. Essa nova perspectiva ganhou destaque mundial com a conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente que procurou conciliar a necessidade de desenvolvimento econômico da sociedade com a promoção do desenvolvimento social e com o respeito ao meio ambiente, aonde veio consolidar essa tomada de consciência emergente. Na realidade, a partir desta conferência, o que se viu de fato foi o surgimento das chamadas Organizações não Governamentais (ONGs), as quais passaram a representar aqueles que abraçavam as causas ambientalistas. Estas têm mobilizado a sociedade através de debates, estudos e, principalmente, de denúncias, uma vez que oficialmente a Organização das Nações Unidas (ONU) pouco tem feito para resolver ou mitigar os problemas ambientais. Pode-se dizer também que neste período iniciaram-se as preocupações com as políticas ambientais (ALVES, 2002, p. 10). A preocupação da sociedade com a escassez de recursos naturais valorizou a proteção desses recursos, dando nova dimensão à questão ambiental. Em 1987, a Comissão Brundtland publicou o relatório Nosso Futuro Comum, cuja preocupação era o atendimento das necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem também às suas necessidades e caracterizou o princípio geral do desenvolvimento sustentável. Este relatório destaca a necessidade de se preservar a biodiversidade, o desenvolvimento de fontes energéticas e o controle da urbanização intensa. A problemática ambiental apresenta enfoques diferentes por diversos estudiosos, dando destaque a vários fatores como o crescimento populacional, o crescimento econômico, a correção dos danos naturais, a desocupação humana de alguns ecossistemas, a redistribuição de poder e de recursos produtivos e a sustentabilidade ambiental e social. Elas têm em comum o mesmo conceito de ambiente, isto é, as relações dos homens com a natureza para a preservação dos recursos naturais. E é justamente através desse conceito que a Comissão Brundtland (1987), reconhece o vinculo entre ambiente, ações, ambições e necessidades humanas. 14 Tornando o ambiente inseparável do desenvolvimento e em especial do desenvolvimento sustentável. Nessa perspectiva entende-se que: [...] desenvolvimento sustentável não é um estado fixo de harmonia, mas um processo de mudança no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional são coerentes com o futuro assim como as necessidades presentes (CMMAD, 1991). Como descreve Franco, a CMMAD (Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento) contribuiu com as bases filosóficas e científicas para as discussões que se seguiram, objetivando o Desenvolvimento Sustentável e que culminaram na Conferência do Rio de Janeiro em 1992. Essas bases anteviam uma nova era de crescimento econômico sustentável que combateria a pobreza e melhoraria as condições de vida em todo o mundo (FRANCO, 2001, p. 160) Nos anos 90 ocorreram dois fatos importantes, o primeiro foi o encontro do Rio – 92, como já dito antes, que também ficou conhecido como “Cúpula da Terra”. Foi onde resultou na Agenda 21 (Declaração do Rio), firmada por mais de 170 países, em que se estabeleceram pela primeira vez as bases para alcançar o Desenvolvimento Sustentável em escala mundial, direitos e deveres individuais e coletivos, no âmbito do Meio Ambiente e do Desenvolvimento. O outro fator importante foi a conferência realizada em 1997, no Japão, que resultou na elaboração do Protocolo de Quioto e na qual se discutiu o tratado em que os países industrializados reduziriam suas emissões combinadas de gases de efeito estufa em pelo menos 5% em relação ao ano de 1990, no período entre 2008 e 2012 (BRASIL, 2005). Em todas essas conferências o modelo de desenvolvimento proposto preconizou o crescimento econômico, melhoria da qualidade ambiental e justiça social, onde a prática desse tripé constitui-se num grande desafio para a sociedade atual. Segundo Ribeiro (2005, p. 33) este conceito de desenvolvimento sustentável tornou-se referência para vários trabalhos apontando divergências e interesses diversos. Como é o caso de Penna (1999) que faz uma ampla discussão sobre o estado do planeta e suas mazelas. Aborda com dados atuais, os problemas ambientais: degradação, desenvolvimento sustentável X crescimento econômico e erosão da sociedade de consumo. 15 Leff (2006) em seu livro Epistemologia Ambiental fala sobre a articulação das ciências na relação natureza-sociedade, onde ressalta a complexidade das questões do homem e do planeta: [...] A problemática ambiental gerou mudanças globais em sistemas socioeconômicos complexos que afetam as condições de sustentabilidade do planeta, propondo a necessidade de internalizar as bases ecológicas e os princípios jurídicos e sociais para a gestão democrática dos recursos naturais. Estes processos estão intimamente vinculados ao conhecimento das relações sociedadenatureza (LEFF, 2006, p. 61-62). Nessa perspectiva o autor reconhece que a problemática ambiental é o campo privilegiado das interrelações sociedade-natureza, razão pela qual seu conhecimento demanda uma abordagem holística e um método interdisciplinar que permitam a integração das ciências da natureza e da sociedade (UNESCO, 1986). Leff fala ainda que é impossível resolver os crescentes e complexos problemas ambientais e reverter suas causas sem que haja uma mudança radical nos sistemas de conhecimento, nos valores e nos comportamentos gerados pela dinâmica de racionalidade existente, fundada no aspecto econômico do desenvolvimento (LEFF, op. cit., p. 71). A consciência de que é preciso tratar com racionalidade os recursos naturais, uma vez que estes recursos podem se esgotar traz uma reflexão para a sociedade no sentido de se organizar para que o desenvolvimento econômico não seja predatório, e sim, “sustentável”. Já Ribeiro et al. (1996), ponderaram que o desenvolvimento sustentável poderia vir a ser uma referência, desde que servisse para construir novas formas de relação entre os seres humanos e desses com o ambiente. Apontaram que o grande paradoxo do desenvolvimento sustentável é manter a sustentabilidade, uma noção das ciências da natureza, com o permanente avanço na produção exigida pelo desenvolvimento, cuja matriz está na sociedade. Sachs ressalta que para chegar a um desenvolvimento sustentável adequado, deve-se dar mais ênfase “a um crescimento econômico com formas, conteúdos e usos sociais completamente modificados, orientados no sentido das necessidades das pessoas, da distribuição equitativa da renda e de técnicas de produção adequadas à preservação dos recursos” (SACHS, 1994, p. 35). 16 SACHS (2007, p. 181-182) cita as cinco dimensões do conceito sustentabilidade: • sustentabilidade social, onde a meta é construir uma civilização com maior equidade na distribuição de renda e de bens, de modo a reduzir o abismo entre os padrões de vida dos ricos e dos pobres; • sustentabilidade econômica, que deve ser viabilizada mediante a alocação e o gerenciamento mais eficientes dos recursos e de um fluxo constante de investimentos públicos e privados; • sustentabilidade ecológica, que pode ser melhorada utilizando-se de ferramentas que possam: ampliar a capacidade de carga do planeta intensificando-se o uso do potencial de recursos dos diversos ecossistemas, com o mínimo possível de danos aos sistemas de sustentação da vida; limitar o uso de combustíveis fósseis; reduzir volume de resíduos e de poluição; promover a autolimitação no consumo material por parte dos países ricos e dos indivíduos em geral; intensificar a pesquisa para obtenção de tecnologias de baixo teor de resíduos e eficientes no uso de recursos para o desenvolvimento urbano, rural e industrial, e por fim, definir normas para uma adequada proteção ambiental, com a combinação de instrumentos econômicos, legais e administrativos necessários para o seu cumprimento; •sustentabilidade espacial, que deve ser dirigida para obtenção de uma configuração rural-urbana mais equilibrada e de uma melhor distribuição territorial dos assentamentos humanos e das atividades econômicas; •sustentabilidade cultural, incluindo aqui a procura das raízes endógenas de modelos de modernização que resguardem a continuidade cultural que traduzam o conceito de ecodesenvolvimento numa pluralidade de soluções, ajustadas à especificidade de cada contexto sócio-ecológico. Outro autor que faz uma interessante crítica a problemática ambiental é Guillermo Foladori no seu livro “Os limites do desenvolvimento sustentável”. Segundo ele a maioria das análises e propostas que tratam da problemática ambiental podem ser reduzidas a: depredação dos recursos naturais, poluição por causa dos resíduos sólidos e população excedente/pobreza. Ele afirma serem essas três grandes problemáticas que determinam “os limites físicos externos com os quais a sociedade humana se depara” (FOLADORI, 1999, apud GUIMARÃES, 2008, p. 93) 17 O principal objetivo para quase todas as pesquisas passou a ser o da relação homem/natureza, visando alcançar o equilíbrio entre os interesses econômicos e conservacionistas de forma a se obter melhorias na qualidade de vida da população, e dando origem aos processos que, em conjunto, seriam denominados de autosustentáveis. Assim, acredita-se que o Desenvolvimento Sustentável, além de desenvolvimento social e do equilíbrio ecológico, deve ter um enfoque especial no desenvolvimento econômico como uma das suas principais vertentes. Na tentativa de conciliar a limitação dos recursos naturais com o ilimitado crescimento econômico, são condicionadas à consecução do desenvolvimento sustentável mudanças no estado da técnica e na organização social (DERANI, 1996). Nesse sentido, acrescido de um espírito de responsabilidade comum, os modelos produtivos são levados a sentidos harmoniosos, o que os tornam não mais destrutivos, mas sim, conservativos, ou seja, como ferramentas de manutenção da qualidade de vida das gerações atuais e futuras. Dessa forma, pode-se perceber que o modelo de desenvolvimento atualmente proposto não condena o desenvolvimento econômico, muito pelo contrário, atribui a ele um importante papel social e ambiental. Todos esses conceitos de impacto ambiental, meio ambiente e desenvolvimento sustentável, foram inseridos no nosso cotidiano, buscando alertar a humanidade para o agravamento dos problemas ambientais e propor alternativas de desenvolvimento. Planejar as ações que viriam interferir no meio ambiente e adequar o desenvolvimento às restrições ambientais tornou-se, neste contexto, a base de um desenvolvimento sustentável, por certo capaz de garantir sempre a manutenção e renovação dos recursos naturais. O planejamento requer estudos integrados que selecionem e sistematizem informações sobre a área ou local onde as atividades do desenvolvimento serão aplicadas e que identifiquem o estado do ambiente, a pressão exercida sobre ele e a resposta dada pela sociedade para sua melhoria. A necessidade do desenvolvimento concomitante a ações que conservem a natureza traz a necessidade de buscar estratégias. Segundo Christofoletti o planejamento envolvese com os programas de utilização dos sistemas ambientais, como elemento condicionante de planos nas escalas espaciais do local, regional e nacional [...] em função de focalizar os ecossistemas e os geossistemas (sistema físico), os seus 18 objetivos podem sublinhar perspectivas ecológicas e geográficas. Tal autor defende o conhecimento geográfico como suporte para o planejamento ambiental (CHRISTOFOLETTI, 1999, p. 162). Já Franco (2005, p. 34), diz que planejamento ambiental é todo esforço da civilização na direção da preservação e conservação dos recursos ambientais de um território, com vistas à sua própria sobrevivência. Esse mesmo autor faz, ainda, proposições a respeito do planejamento ambiental como ferramenta para a cidade sustentável. É assim que aparece o planejamento ambiental, que devido a sua importância, é defendido por vários estudiosos, entre eles Diegues que considera o planejamento ambiental como: [...] a necessidade de incorporar a variável ambiental no planejamento socioeconômico, visando à utilização mais adequada do espaço dos ecossistemas e de seus recursos, isto é, à melhoria das condições de vida das populações e à conservação do patrimônio natural e cultural (DIEGUES, 2001, p. 90). A análise integrada dos ambientes naturais, fundamentada na concepção de Tricart (1977) e aplicada ao planejamento ambiental, que foi ajustada operacionalmente à proposta de Ross (1990 e 1994), enfatiza a importância de se considerar no planejamento “não somente as potencialidades dos recursos naturais, mas, sobretudo as fragilidades dos ambientes naturais face às diferentes inserções dos homens na natureza”. Este autor cita a importância de se conhecer o papel de cada variável, uma vez que cada uma delas apresenta certo grau de influência no ambiente, interferindo com maior ou menor intensidade. Estas variáveis são interdependentes e quando tratadas de forma integrada possibilitam obter um diagnóstico das diferentes categorias hierárquicas da fragilidade dos ambientes naturais. As conceituações de planejamento ambiental apresentadas demonstram a necessidade da integração dos diferentes setores durante a elaboração de planos de desenvolvimento, ou seja, as ações devem ser elaboradas sob princípios holísticos e sustentáveis. Essa visão é defendida por Santos ao postular o seguinte: [...] os princípios do planejamento ambiental se remetem, diretamente, aos conceitos de sustentabilidade e multidisciplinaridade, os quais, por sua vez, exigem uma abordagem holística de análise para posterior aplicação. Espera-se que temas biológicos, físicos e socioeconômicos sejam tratados de forma 19 integrada e possibilitem ações práticas direcionadas a solução dos problemas (SANTOS, 2004, p. 27). Com esses pressupostos, o planejamento ambiental é um processo contínuo, que apresenta diversas etapas, como a coleta de dados, a organização e a análise sistematizada das informações através de procedimentos e métodos. Objetiva chegar a decisões ou escolhas acerca das melhores alternativas para o aproveitamento dos recursos disponíveis em função de suas potencialidades, e com a finalidade de se atingir metas específicas no futuro, levando à melhoria de determinada situação e a qualidade de vida das sociedades. Um importante papel que se destina ao planejamento ambiental é ainda o de direcionar os instrumentos metodológicos, administrativos, legislativos e de gestão para o desenvolvimento de atividades num determinado espaço e tempo, incentivando a participação institucional e dos cidadãos, induzindo relações mais estreitas entre sociedade e autoridades locais e regionais. É preciso interpretar a zona costeira como espaço de transição entre a terra e o mar, entendidas como domínios ambientais que tem como denominador comum a forma desordenada com que vem ocorrendo a sua ocupação e o uso de seus recursos naturais, que ao serem degradadas - muitas vezes antes que se tenha uma compreensão da capacidade de suporte dos ecossistemas - tem desencadeado uma mobilização social em busca da almejada sustentabilidade, sendo necessária a construção de um posicionamento teórico-metodológico aplicado sobre estes ambientes, indo ao encontro de uma preocupação contemporânea que é responder amplamente aos interesses sociais e ambientais inseridos na problemática em questão. 2.3 – A Zona Costeira: características, padrões de ocupação e premissas legais No Brasil a zona costeira possui uma extensão de cerca de 8.500 km e inclui 405 municípios. Abrigando grande variedade de ambientes naturais esta zona é um espaço estratégico para o País, pois segundo o IBGE (2007) cerca de 1/3 da população brasileira está distribuída nessa área. Vale ressaltar que a Zona Costeira do Brasil é definida na Constituição Federal como “Patrimônio Natural” cuja “utilização far-se-á, na forma da lei, dentro 20 de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais (MORAIS, 1999, p. 109). Além disso, a zona costeira possui características singulares sob vários prismas: o territorial, o socioeconômico, o humano e o ambiental. O fato de possuir uma interface com o mar qualifica a zona costeira para determinados usos quase que exclusivos do litoral. [...] tal proximidade torna os espaços litorâneos as bases terrestres imediatas de exploração de todos os recursos marinhos, dando-lhes ampla vantagem locacional na alocação das instalações dos equipamentos referentes a estas atividades (MORAES, 1999, p.17). Além da exploração dos recursos marinhos, entre outros, possibilita a circulação de bens e pessoas através da via marítima, a utilização cultural desse espaço como área de lazer e também a sua exploração econômica com a atividade turística e exploração de recursos naturais, como a pesca. O que a torna um espaço único, com características naturais e de ocupações próprias, e com atividades que lhe são exclusivas. Salientando que todas essas vantagens pressionam cada vez mais a maior reserva de recursos do mundo que é o mar, que evidencia assim o seu imenso valor estratégico. A zona costeira possui um diversificado conjunto de ecossistemas de alta relevância ambiental, que vai desde mangues, restingas, campos de dunas, estuários, recifes de corais e outros ambientes importantes do ponto de vista ecológico, o que caracteriza o litoral como área de imensa riqueza de bens e recursos naturais e ambientais. Como destaca Andriguetto Filho: Talvez como resultado de tudo, a zona costeira é caracterizada pela competição intensa por recursos e espaços terrestres e marinhos, por vários grupos de interesse, o que frequentemente resulta em conflitos severos e destruição da integridade funcional do sistema de recursos (ANDRIGUETTO FILHO, 2004, p. 190). A ocupação da zona costeira ao longo do tempo caracterizou-se pela presença constante de atividades antrópicas. Segundo Moraes a área é visualizada como suporte da crescente urbanização e desenvolvimento de importantes zonas industriais, comerciais e turísticas, que devido às suas belezas paisagísticas é 21 constatada uma forte tendência a diversificação do uso e ocupação do solo (MORAES, op. cit.). Entre os principais conflitos derivados da relação uso-ocupação do espaço costeiro, destacam-se: e expansão urbana desordenada, especulação imobiliária, turismo, privatização de praias, as grandes variações populacionais em época de veraneio, dispersão de efluentes domésticos, disposição de resíduos sólidos, erosão/sedimentação, pesca predatória, destruição de recifes de corais, rotas de embarcações, invasões de áreas públicas, entre outras, vetores estes que se aceleram a medida que se verifica o crescimento populacional e das atividades econômicas na costa. Todas essas ações desenvolvidas ao longo do litoral levam à perda de inúmeros “habitats” e de recursos naturais importantes, bem como do empobrecimento crescente de inúmeras comunidades de pescadores. De acordo com o estudo realizado pelo Ministério do Meio Ambiente, denominado Ações prioritárias para a conservação da biodiversidade das zonas costeira e marinha: A preocupação com a integridade e o equilíbrio ambiental das regiões costeiras decorre do fato de serem as mais ameaçadas do planeta, justamente por representarem, também para as sociedades humanas, um elo de intensa troca de mercadorias, tornando-se alvo privilegiado da exploração desordenada, e muitas vezes predatória, de recursos naturais, e ainda por terem se tornado, já na era industrial, o principal local de lazer, de turismo ou de moradia de grandes massas de populações urbanas (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2006, p. 4). É por estas razões que a Zona Costeira se apresenta como um espaço de características contraditórias, pois se por um lado possui grande relevância ecológica, destacando-se como uma área ambientalmente frágil, de outro apresenta grande potencial econômico, abrigando parcela significativa da população e uma variedade de atividades econômicas que podem gerar situações de risco para a integridade desta região. Segundo Diegues, inúmeros estudos mostram a crescente degradação dos ecossistemas costeiros motivada pela expansão urbana e implantação de pólos industriais altamente poluidores das águas costeiras. O volume de poluição gerada por essas atividades humanas altamente concentradoras de renda (que utilizam tecnologia dura e geram poucos empregos) tem reduzido as funções múltiplas 22 desses ricos ecossistemas a uma única função: a de transportar esgotos e resíduos urbano-industriais (DIEGUES, 1997). Nesse sentido, vale ressaltar a importância da zona costeira pela variedade de ecossistemas que a compõe, bem como a pressão nela exercida, requerendo com isso, proteção especial, como alerta Antunes: A costa brasileira, por força de expressa disposição constitucional (art. 225, §4º), é um espaço territorial submetido a regime especial de proteção. Justifica-se esta determinação constitucional, pois desde os primórdios da colonização portuguesa tem sido muito intensa a pressão exercida sobre os ecossistemas costeiros. Relembre-se que a maior parte da população brasileira está assentada ao longo do litoral; dos dezessete estados que são banhados pelo mar, quatorze possuem suas capitais no litoral. A enorme extensão do litoral brasileiro faz com que ali se encontre toda uma grande variedade de ecossistemas (ANTUNES, 1999, p. 136). Em decorrência de sua grande extensão e da complexidade dos diferentes ecossistemas, torna-se muito sensível aos efeitos das atividades humanas, mostrando que o efeito cumulativo do crescimento em nome do desenvolvimento tem acarretado aos espaços litorâneos uma taxa cada vez maior de comprometimento e degradação ambiental. A degradação do ambiente costeiro evidencia urgente necessidade de esforços com vistas à utilização adequada dessa área, principalmente no que diz respeito à conservação da biodiversidade, permitindo a manutenção dos serviços prestados pela natureza, a exemplo da fertilização do solo, recursos hídricos, a retirada de carbono da atmosfera, a manutenção do clima, a cadeia da vida que nasce nos mangues e de espécies do mar. Em relação aos bens promovidos pelos ecossistemas costeiros, e em particular pelos estuários e manguezais, se destacam os recursos pesqueiros que são de fundamental importância para a população de baixa renda, representando importante fonte alternativa para sua subsistência. Os recursos disponíveis nestas áreas são ainda explorados de forma artesanal, e representam um sistema econômico e social de suporte à vida. Para Fidelman os usos resultantes das características ecológicas do manguezal são ainda mais importantes que os usos diretos. Sua alta produtividade sustenta a produtividade pesqueira em áreas estuarinas e águas costeiras adjacentes. Outros serviços ambientais relacionados ao manguezal são as proteções contra erosão e 23 inundação, retenção de nutrientes e sedimentos, assim como processos cujo valor econômico geralmente não é considerado: filtragem de água, polinização, regulação climática, poluição e formação do solo (FIDELMAN, 2002, p. 25). As sérias consequências das pressões de uso e ocupação dos ecossistemas costeiros pela expansão urbana, atividades industriais, portuárias, agrícolas e turísticas têm provocado alterações significativas na hidrodinâmica, geomorfologia, biologia e ecologia desses ambientes. Como consequência da degradação e perda de “habitats”, e declínio da biodiversidade, tem ocorrido uma redução na quantidade e qualidade dos bens proporcionados pelos sistemas costeiros para a população humana. A crescente degradação ambiental ocasionada pela poluição e contaminação dos sistemas costeiros tem inclusive, trazido riscos à saúde pública por meio da proliferação de doenças veiculadas pela água e por alimentos contaminados. Isto demonstra a necessidade de se procurar novas formas de gestão, adequadas e apropriadas para essa área. Para que isso seja possível, Diegues considera que é fundamental que o Estado tenha um projeto de regulamentação do uso desse espaço levando em conta as vocações naturais desses ecossistemas, sem perder de vista a produção de alimentos, preservação ambiental, recreação e a melhoria de condições de vida das populações que ali vivem (DIEGUES, 2001, p. 36). A Constituição Federal nos seus artigos 23 e 24, respectivamente, diz que é competência comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, a proteção ao meio ambiente e combate a qualquer forma de poluição. Também é competência comum preservar a floresta, a fauna e a flora, através do Código de Caça, Código Florestal, Código de Pesca, e outros, e promover programas de moradia e de melhoria das condições das habitações e do saneamento básico. É obrigação do poder público proteger o meio ambiente, como também é dever da sociedade civil organizada, das indústrias, fundações e Ong’s, desenvolverem projetos e ações de Educação Ambiental, isso tudo é expresso através da Lei Federal nº 9.795, de 27/4/99. A atenção governamental com o uso sustentável dos recursos costeiros e marinhos está bem contemplada nos mecanismos de gestão ambiental integrada que foram estabelecidos no âmbito do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC) pela CIRM - Comissão Interministerial para os Recursos do Mar - em 1987, 24 o que significa, antes de tudo, a preocupação com o ordenamento da ocupação dos espaços litorâneos. O PNGC foi constituído pela Lei 7.661/88 como parte integrante da Política Nacional para os Recursos do Mar (PNRM) e da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). A materialização dessas ações foi orientada pelos Planos de Gerenciamento Costeiros, os PNGC, nas suas duas versões: o PNGC I, aprovado em 1990 e o PNGC II, aprovado em 1997. A própria Lei já previa mecanismos de atualização do PNGC, por meio do Grupo de Coordenação do Gerenciamento Costeiro (COGERCO). Assim, o artigo 5º da Lei 7661/88, diz que o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC) deverá ser elaborado e executado observando normas, critérios e padrões relativos ao controle e a manutenção da qualidade do meio ambiente, estabelecidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA e deve contemplar entre outros os seguintes aspectos: urbanização, ocupação e uso do solo e do subsolo, sistema viário e de transporte, habitação e saneamento básico, turismo, recreação e lazer, e, patrimônio natural, histórico, étnico, cultural e paisagístico. É justamente através do PNGC II que se reconhece a diversidade e a importância da qualidade ambiental, levando em consideração que: • A Zona Costeira abriga um mosaico de ecossistemas de alta relevância, cuja diversidade é marcada pela transição de ambientes terrestres e marinhos, com interações que lhe conferem um caráter de fragilidade e que requerem, por isso, atenção especial do poder público, conforme demonstra sua inserção na Constituição brasileira como área de patrimônio nacional; • A maior parte da população mundial vive em Zonas Costeiras, e há uma tendência permanente ao aumento da concentração demográfica nessas regiões. A saúde, o bem-estar e, em alguns casos, a própria sobrevivência das populações costeiras depende da saúde e das condições dos sistemas costeiros, incluídas áreas úmidas e regiões estuarinas, assim como as correspondentes bacias de recepção e drenagem e as águas interiores próximas à costa, bem como o próprio sistema marinho. Em síntese, a 25 sustentabilidade das atividades humanas nas Zonas Costeiras depende de meio marinho saudável e vice-versa; • A atividade de gerenciamento deste amplo universo de trabalho implica, fundamentalmente, a construção de um modelo cooperativo entre os diversos níveis e setores do governo, e deste com a sociedade. O PNGC II busca estabelecer as bases para o aprimoramento das ações, de modo a possibilitar novos avanços, com flexibilidade necessária para atender as diversidades que se apresentam ao longo da costa brasileira, visando orientar na utilização correta dos recursos, de forma a contribuir para melhorar a qualidade de vida de sua população e a proteção do patrimônio natural histórico e cultural. Já no âmbito municipal, as atividades de Gerenciamento Costeiro, devem ser planejadas e executadas levando em consideração as normas e os padrões federais e estaduais. Então cabe aos municípios elaborar, implementar, executar e acompanhar o Plano Municipal de Gerenciamento Costeiro (PMGC), observadas as diretrizes do PNGC e do PEGC - Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro. O Projeto de Gestão Integrada da Orla Marítima (Projeto ORLA), iniciativa do Governo Federal, proposta pelo Grupo de Integração do Gerenciamento Costeiro (GIGERCO), da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM), tem como coordenadores o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e a Secretaria do Patrimônio da União (SPU) do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG). Os objetivos específicos do referido projeto tem como base fortalecer a articulação dos diferentes atores do setor público para a gestão integrada da orla, aperfeiçoando o arcabouço normativo para o ordenamento de usos e ocupação desse espaço; desenvolver mecanismos de mobilização social para a gestão integrada da orla; estimular o desenvolvimento sustentável na orla. (MMA, 2005; Dornelles et al., 2006 apud Dornelles, 2008). Em João Pessoa, o Projeto Orla foi implantado pela Superintendência do Meio Ambiente (SUDEMA) em parceria com o Governo do Estado e o Ministério do Meio Ambiente (MMA). A abertura oficial do Projeto de Gestão Integrada da Orla Marítima, ocorreu em março de 2004, por iniciativa do Governo Federal. A aplicação de diretrizes voltadas para o disciplinamento de uso e ocupação do solo da orla marítima constituiu sua principal finalidade. 26 O Projeto Orla consiste em disciplinar e reordenar a orla da Capital, buscando alternativas para solucionar os diversos problemas. Segundo Tânia Nóbrega, diretora de Geoprocessamento da Secretaria de Planejamento, a orla de João Pessoa foi dividida por unidades de paisagens: a Unidade I se concentra da foz do Rio Jaguaribe até a última rótula do Cabo Branco; a Unidade II vai da última rótula do Cabo Branco até o Rio Cabelo; a III, do Rio Cabelo até Barra de Gramame e, finalmente, a Unidade de Paisagem Compartilhada, que vai da foz do Rio Jaguaribe até a divisa com o município de Cabedelo. A diretora ressalta, ainda, que essas áreas foram assim divididas por apresentarem problemas específicos. Além dos problemas com ordenamento das barracas e do trânsito, também existe a questão social da orla, como a prostituição e a exploração do trabalho infantil, que também devem ser combatidos (PMJP, 2006). Segundo o Ministério do Meio Ambiente o Projeto ORLA vem capacitando municípios desde 2001, sendo a assinatura de convênios com a Secretaria do Patrimônio da União e Ministério do Meio Ambiente, voltados para uma gestão compartilhada do patrimônio da União, uma realidade nacional (MMA, 2007 apud Dornelles, 2008). Observa-se que as leis brasileiras vêm se adequando aos preceitos estabelecidos no Capitulo 17 da Agenda 21, que leva os atores sociais provindos de zonas costeiras, ao compromisso de uma gestão integrada e desenvolvimento sustentável dessas zonas, onde todos os países da costa devem considerar o estabelecimento ou, se necessário, o reforço de mecanismos de coordenação adequados para a gestão integrada e o desenvolvimento sustentável das zonas costeiras e marinhas e seus recursos, quer em nível local ou nacional. 2.4 - Qualidade ambiental e indicadores de sustentabilidade As atividades antrópicas como fenômeno mundial é tanto um fato recente quanto crescente, e essa antropização exacerbada conforme destaca Lombardo, constitui uma preocupação de todos os profissionais e segmentos ligados à questão do meio ambiente, pois as cidades avançam e apresentam um crescimento rápido e sem planejamento adequado, o que contribui para uma maior deterioração do espaço (LOMBARDO, 1985). 27 Caso o atual modelo de desenvolvimento e expropriação do ambiente natural continuem do jeito que está a perspectiva futura será o esgotamento de todos os recursos naturais. A partir desse cenário, torna-se fundamental a importância que se assume a preocupação e o compromisso com a qualidade ambiental, o que implica na preservação e conservação dos ambientes naturais, sendo visto como elemento principal para o alcance da melhoria da qualidade de vida do homem. A qualidade de vida está diretamente relacionada à proteção do meio ambiente físico e biológico. Para que isso aconteça, é necessário que o ambiente se torne operacional, através do gerenciamento da água, do solo, da biota e das atividades humanas, isto porque, na natureza, tudo está integrado e conectado. Não se pode mais admitir um crescimento, seja econômico ou populacional, sem a preservação e a análise dos impactos. Diante desse contexto a vida nas cidades se torna importante e ganha maior destaque tendo em vista as condições do meio físico e biológico que adquiriu feições peculiares provenientes da ação antrópica intensificada com o avanço das novas tecnologias do século XX e, consequentemente, da aquisição de novos padrões de vida da população urbana. Lombardo argumenta que: A qualidade da vida humana está diretamente relacionada com a interferência da obra do homem no meio natural urbano. A natureza humanizada, através das modificações no ambiente alcança maior expressão nos espaços ocupados pelas cidades, criando um ambiente artificial (LOMBARDO, op. cit., p. 16). Isto quer dizer que o nível de qualidade ambiental de um determinado lugar está relacionado com a capacidade de suporte do sistema natural às pressões antrópicas (socioeconômicas e culturais). Para Oliveira (1983) apud Gomes & Soares (2004): A qualidade ambiental está intimamente ligada à qualidade de vida, pois vida e meio ambiente são inseparáveis, o que não significa que o meio ambiente determina as várias formas e atividades de vida ou que a vida determina o meio ambiente. Na verdade, o que há é uma interação e um equilíbrio entre ambos que variam de escala em tempo e lugar (OLIVEIRA, 1983 apud GOMES & SOARES, 2004). A qualidade ambiental é avaliada sob vários aspectos e varia qualitativamente em função do tempo e do espaço. Apesar da fácil compreensão do significado de 28 qualidade de vida e qualidade ambiental a escolha dos indicadores representativos não é tarefa fácil. Segundo Bollmann: Uma definição de “qualidade” depende das posições filosóficas, ideológicas e políticas assumidas pelas pessoas (ou grupos de pessoas). Psicologicamente, cada pessoa tem uma percepção do meio ambiente e de sua qualidade, bem como uma interpretação própria em relação à sua qualidade de vida, percepção esta que é individual e incomunicável (BOLLMANN, 2006). Bollmann (op. cit.) ressalta que a UNESCO (1986) desenvolveu cinco elementos para a avaliação da qualidade ambiental, são eles: 1. Qualidade do ar, envolvendo não apenas elementos nocivos, mas a salubridade que permita o adequado desenvolvimento das funções ambientais locais; 2. Qualidade do solo, considerando igualmente a presença de poluentes e características de estabilidade e de suporte à flora e fauna; 3. Qualidade da água, envolvendo as mais variadas interpretações desta noção nos campos físico-químico, biológico, bacteriológico, ecotoxicológico, etc.; 4. Qualidade da flora, e; 5. Qualidade da fauna. E para a avaliação da qualidade de vida a Unesco recomenda os critérios relacionados nas seguintes dimensões: 1. Dimensão social, incluindo-se nesta avaliação todas as premissas necessárias à vida digna em sociedade (acesso à educação, segurança, alimentação, transporte, moradia, saúde, lazer etc.); 2. Dimensão cultural, admitindo-se como cultura a exteriorização daquilo que a sociedade, naquele momento da sua história, considera como belo, moral, e ético; 3. Dimensão econômica, considerando-se a amplitude do termo, e não apenas a questão financeira exteriorizada pela quantidade de bens, serviços e capital monetário a que tem acesso o indivíduo; 29 4. Dimensão psicológica, envolvendo o bem estar individual e coletivo. Não basta o acesso às benesses sociais, culturais, e econômicas se a pessoa não se sente feliz. Recentemente surgiram algumas discussões sobre a necessidade de se observar o processo do Desenvolvimento Sustentável utilizando mensurações, a fim de verificar seu desempenho ambiental, bem como implementar políticas ambientais voltados a ele. O desenvolvimento de indicadores e índices ambientais vem sendo debatido por diversos autores e instituições e muitos conceitos estão sendo formulados. Para Sachs o conceito de Desenvolvimento Sustentável está dividido em cinco pontos: o social, o econômico, o ecológico, o espacial e o cultural, e além de ser um processo dinâmico envolve várias dimensões, e para facilitar a compreensão desta sustentabilidade, há a necessidade de desenvolver ferramentas que procurem mensurar esta sustentabilidade (SACHS, 2007, p. 181-183). Para Mattar Neto et al., o desenvolvimento econômico e social não pode ser considerado sem que a preocupação ambiental esteja presente em todo o processo, configurando os indicadores ambientais como instrumentos de planejamento e gestão dos espaços, sejam eles urbanos ou rurais. Com um conjunto de indicadores como ferramentas para o planejamento, ter-se-ão parâmetros para um melhor aproveitamento dos recursos naturais e também para a indicação de medidas preventivas de degradação ambiental e consequentes prejuízos econômicos (MATTAR NETO et. al., 2007). A utilização de indicadores de sustentabilidade tem sido um meio bastante útil que a sociedade dispõe para avaliar seu processo, sua evolução e a capacidade do ambiente de se auto-sustentar, tornando-o viável no presente e para o futuro, colaborando na manutenção da biodiversidade. O uso de indicadores como forma de se avaliar e quantificar o grau de “desenvolvimento” das nações teve grande impulso a partir das décadas de 40 e 50, período de consolidação do ideário desenvolvimentista, em construção desde o início do processo de industrialização. Indicadores quantitativos, utilizados para medir o crescimento econômico, como o PIB - Produto Interno Bruto, o PNB Produto Nacional Bruto ou a Renda Nacional, eram tomados diretamente como 30 indicadores de desenvolvimento dos países (GAMA, 2003, p. 46). Quanto ao PNB Sachs observa: Para medir o nível e a qualidade de vida, já não é possível apoiarmonos no indicador tradicional: o produto nacional bruto por habitante. O produto nacional serve unicamente para detectar o nível de atividade econômica e, até certo ponto, apreender a margem de manobra de que dispõe um país em razão do seu potencial econômico (SACHS, 2007, p. 89). Segundo Sachs (2007, p. 90), é preciso estabelecer um conjunto de indicadores ecológicos que nos permitam conhecer a taxa de exploração da natureza que acompanha as diferentes atividades humanas, a evolução da qualidade do meio e o grau de normalidade dos ciclos ecológicos de renovação dos recursos. De forma geral, pode-se dizer que indicadores são parâmetros, ou funções derivadas deles, que tem a capacidade de desenvolver um estado ou uma resposta dos fenômenos que ocorrem em um meio (SANTOS, 2004, p.60). Com o intuito de viabilizar o desenvolvimento sustentável, os indicadores ambientais tornam-se imprescindíveis na busca de parâmetros de sustentabilidade. Indicador, segundo a Agência Européia de Meio Ambiente (AEMA), é um valor representativo de um fenômeno, que quantifica a informação mediante a agregação de diferentes dados, dando lugar à informação sintetizada. Os indicadores simplificam a informação ajudando a descrever e valorar fenômenos mais complexos (VIEIRAS, et. al., 2005 apud MATTAR NETO et. al., 2007, p. 3). Portanto, a aplicação de indicadores ambientais poderá auxiliar na identificação de um determinado problema, apontando suas causas e orientando os gestores públicos nas ações que poderão ser usadas para combater ou prevenir tais problemas, fornecendo subsídios para uma reavaliação das políticas ambientais adotadas. Alfaro & Oyague apud Rufino (2002, p. 13), dizem que os indicadores ambientais refletem o estado do meio ambiente e relacionam as pressões impostas pelas diversas atividades econômicas sobre a qualidade dos componentes do meio ambiente e as respostas elaboradas pela sociedade para combater tais pressões. Já o Instituto Nacional de Ecologia (1997) diz que os indicadores ambientais, são estatísticas ou parâmetros que proporcionam informações e/ou tendências das condições dos fenômenos ambientais. Seu significado vai além da estatística por si 31 só, pois procura abastecer de informações que permitam ter uma idéia do grau de eficiência das políticas ambientais, ou seja, do desempenho ambiental. Alguns organismos internacionais tiveram especial participação no desenvolvimento de indicadores ambientais como a OECD, Organization for Economic Cooperation and Development, que tem acumulado experiências práticas não só na definição, harmonização e produção de indicadores ambientais, mas também na sua utilização como ferramenta analítica e de avaliação. Os indicadores ambientais são empregados sistematicamente pela OECD, na avaliação de desempenho ambiental como instrumento de apoio rumo ao desenvolvimento sustentável, aumentando o nível de consciência pública sobre os indicadores ambientais, auxiliando na tomada de decisões políticas e também auxiliando no planejamento para identificar as pressões sobre o meio ambiente. Um dos métodos criados pela OECD foi o método de Pressão-EstadoResposta. Nele os indicadores são divididos em três categorias: Indicadores de pressão: identificam as atividades humanas que podem provocar mudanças no estado do ambiente (energia, transporte, indústria, agricultura, etc.); Indicadores de estado: descrevem a atual qualidade do sistema (ar, água, recursos vivos, etc.); Indicadores de resposta: mostram as ações da sociedade em busca da melhoria da qualidade ambiental (WIENS et al, 2006). Segundo Giraldo apud Rufino (2002, p. 15), o Instituto de Recursos Internacionais (WRI), propõe para a escolha dos indicadores, a divisão em três tipos: • Os que analisam a oferta ambiental: permitem detectar a existência de recursos. • Os que analisam a sensibilidade ou vulnerabilidade ambiental: acusam os processos de degradação ambiental. • Os que analisam a produção: estabelecem os problemas de rendimento quando são analisados os processos naturais com base em recursos naturais. O autor diz ainda que devido às singularidades de cada região, as características ecossistêmicas e antrópicas são diferentes, então, não se pode falar 32 em indicadores universais. Santos (2004) afirma que alguns grupos que trabalham com o ideal de desenvolvimento sustentável reúnem esforços no sentido de padronizar um conjunto de indicadores, de forma que possam ser usados e comparados por diversos países, na busca de políticas integradas. No entanto, a diversidade das características dos ambientes, do conhecimento, dos conceitos, das metodologias de medidas e do conteúdo de bancos de dados locais tem dificultado tal empreitada. Acredita-se que, para se atingir os chamados indicadores ideais, um longo caminho na pesquisa ainda deva ser trilhado. Enfim, a importância dos indicadores ambientais está relacionada ao fato de poderem proporcionar aos tomadores de decisão e a população em geral uma importante ferramenta que gera informações concisas e com bases científicas, de modo que possa ser entendida e facilmente utilizada (INSTITUTO NACIONAL DE ECOLOGIA, 1997). 33 Parte 3____________________________________________________ A sustentabilidade no tempo das civilizações humanas vai depender da sua capacidade de se submeter aos preceitos de prudência ecológica e de fazer um bom uso da natureza. Ignacy Sachs 3- Características gerais da área 3.1 - Localização da área de estudo A área objeto do estudo em questão compreende a faixa litorânea do município de João Pessoa – PB, e se estende por 24 km desde a foz do rio Jaguaribe ao norte até a desembocadura do rio Gramame ao sul (Figura 1). Figura 1. Localização da área de estudo. Organização: Eduardo Viana Rodrigues de Lima (2009). 34 3.2 - Contexto geológico geomorfológico A área em questão está inserida geologicamente na faixa costeira Pernambuco-Paraíba, mais precisamente na sub-bacia Alhandra (MABESOONE & ALHEIROS, 1988). A bacia do Paraíba é preenchida por sedimentos de fáceis continentais e marinhas reunidas sob a denominação de Grupo Paraíba que é composta por três unidades: Beberibe, Gramame e Maria Farinha; pelas camadas da Formação Barreiras e pelos depósitos quaternários. Datada do Plio-Pleistoceno, a Formação Barreiras, capeando o Grupo Paraíba, foi caracterizada por Mabesoone et al. (1988), como uma superposição de sedimentos terciários-quaternários, peculiares pelas características litológicas e sedimentológicas. São constituídos por materiais areno-argilosos, compactados, em acamamentos mal definidos, achando-se intercalados com arenitos argilosos, com quantidades subordinadas de argilas e siltitos e níveis ferruginosos ou lateríticos (REIS, 2008, p. 16). De acordo com Lummertz (1997) o nome Barreiras consagrou-se na literatura especializada a partir da morfologia que esta sequência sedimentar apresenta no contato com as planícies litorâneas e aluviais: falésias vivas ou mortas e vertentes abruptas e desnudas de certos trechos de vales, que entalham este pacote sedimentar. Na costa do município de João Pessoa os depósitos quaternários abrangem toda a porção norte do litoral, encontrando-se em elevado nível de antropização. Segundo Reis (2008) estes depósitos estão representados pelos Depósitos Continentais (Leques Aluviais) e Marinhos/Transicionais (Terraços Marinhos Pleistocênicos e Holocênicos, Recifes Algálicos/Coralíneos, Depósitos de Mangue e Areias de Praias. A área de estudo apresenta dois compartimentos geomorfológicos bastante definidos: os Tabuleiros ou Baixos Platôs e a Baixada Litorânea. O primeiro corresponde geologicamente às rochas da Formação Barreiras, sendo predominantemente localizado ao sul do litoral de João Pessoa, entrecortado por seis bacias hidrográficas: Cabelo, Aratú, Jacarapé, Cuiá e Camurupim, e a do rio Gramame, que se destaca por ser a maior delas. Os tabuleiros costeiros representam o compartimento com os níveis mais elevados da região, onde a altitude varia entre 30 e 40 metros, e compreende 35 superfícies com topografia plana e suavemente ondulada. Segundo Sassi apud Coutinho (1999), desde pouco acima da região estuarina do Rio Paraíba do Norte até o limite sul do Estado da Paraíba, seu extremo oriental é contínuo e muito próximo da linha da costa, mantendo, inclusive, contato direto com o mar em vários locais, como Cabo Branco, Gramame, Jacumã, e Tambaba, sendo os dois primeiros inseridos na área de estudo em questão. No geral, as descaracterizações ocorridas no modelado natural da área foram intensificadas pelo desmatamento, assentamentos irregulares ou sem planejamento adequado, além da retirada de material para construção civil. Já as mudanças na sua descaracterização estrutural podem estar relacionadas à declividade da encosta, à rede de drenagem, à erosão e ao transporte de sedimentos; processos que podem causar alterações nas suas feições. A maioria das praias do litoral sul apresenta-se sob os altos paredões escarpados, constituídos pelo trabalho de abrasão marinha provocada na base da Formação Barreiras, onde os tabuleiros encontram a linha da costa. Quando são erodidos pela ação direta das ondas, são denominadas de falésias ativas ou vivas (Figura 2) e quando estão bem afastados da linha do mar, não recebendo mais a ação erosiva deste, são dita falésias mortas, indicando que estas escarpas foram modeladas em períodos passados pela erosão marinha, quando o mar estava em nível mais elevado que o atual (Figura 3). Figura 2. Detalhe da Falésia do Cabo Branco evidenciando o processo erosivo. Fotografia: Claudia S. V. Silva, 2006 36 Figura 3. Vista aérea de falésia morta no bairro do Cabo Branco, evidenciando-se também os dois compartimentos geomorfológicos da área: em primeiro plano, a planície litorânea, e em segundo plano, o tabuleiro costeiro. Fonte: Ivo JP. Disponível em: http://www.skyscrapercity.com, Ano 2007. No litoral sul de João Pessoa, entretanto, a superfície dos tabuleiros costeiros é ainda a zona mais bem preservada, evidenciando uma cobertura florestal considerável e desenvolvimento urbano incipiente (Figura 4). Embutidas nos tabuleiros ocorrem as planícies aluviais, e o Baixo Planalto é cortado por vales fluviais que integram a rede hidrográfica local. Figura 4. Vista aérea de trecho do litoral sul de João Pessoa, com destaque para as falésias e ecossistemas associados à Mata Atlântica sobre o tabuleiro costeiro. Fonte: Ricardo Paulo, 2000 apud Moura & Garcia (2007). 37 O segundo compartimento geomorfológico da região é a Baixada Litorânea, que compreende a menor expressão espacial, que vai desde a praia do Bessa até a parte norte da praia do Cabo Branco. De origem recente, do período Quaternário, a baixada litorânea é composta de formas variadas que resultam da acumulação de sedimentos marinhos, fluviais e fluvio-marinhos. Suas feições geomorfológicas são divididas em praias, terraços marinhos, planícies flúviomarinhas, planícies fluviais e terraços fluviais (FURRIER, 2007). As feições morfológicas da Baixada Litorânea resultam essencialmente de processos de acumulação de sedimentos, que são os cascalhos, areias quartzosas, silte e argilas, que apresentam coloração escura devido à presença de matéria orgânica. Entre as feições da Baixada Litorânea as praias são os ecossistemas mais instáveis e dinâmicos, formados por sedimentos arenosos e cascalhos. Estão constantemente sofrendo mudanças causadas pela pressão antrópica nas suas formas de uso e ocupação de forma desordenada. Sazonalmente ocorrem modificações em suas feições em consequência dos processos de deposição de sedimentos arenosos causados mais intensamente na preamar e dos processos erosivos na baixa maré que deixa à mostra os denominados "beach rocks" (MOREIRA, 2002). Para Suguio (1998) a praia é a parte do ambiente praial que sofre a ação das marés e os efeitos de espraiamento das ondas após a arrebentação, por estar situada entre o limite superior da preamar e a linha de baixa mar. A faixa conhecida por pós-praia, segundo Vicente da Silva (1993) apud Moreira (2002), corresponde a uma área de transição entre os sedimentos arenosos e outros ecossistemas como as dunas e estuários, podendo por vezes ser limitada por falésias e/ou "beach rocks". A parte representada pelo pós-praia na área de estudo está bastante descaracterizada em consequência das ocupações irregulares, como por exemplo: hotéis, bares, barracas e residências. Segundo Furrier (2007), são fortes as evidências de erosão em várias praias de João Pessoa, sendo os indicadores de erosão costeira mais visíveis: quedas de blocos nas falésias ativas, coqueiros tombados e/ou grande exposição de suas raízes e destruição de construções, como casas, muros, cercas e arruamentos. 38 As planícies flúvio-marinhas, áreas inundáveis localizadas nos baixos cursos dos rios, são diretamente influenciadas pelas oscilações das marés ou das cheias sazonais. Essas variações marcam períodos cíclicos de erosão e sedimentação dos depósitos continentais e marinhos que modelam a atual morfologia da região. O litoral é caracterizado pelo sucessivo empilhamento/truncamento de cordões arenosos que destroem a desembocadura de alguns rios, formando, a montante desta, os sistemas lagunares. A faixa litorânea em questão é uma área muito vulnerável à ação antrópica frente ao modelo de exploração dos recursos naturais que atualmente ocorre. O desmatamento dos manguezais representa um dos pontos mais críticos quanto à degradação/descaracterização da dinâmica desses ecossistemas. Com isso as áreas de mangues estão sendo invadidas, havendo muitas vezes desmatamentos para construção de casas e afins (Figura 5). Figura 5. Ocupação indevida de área de mangue na desembocadura do rio Jacarapé. Fonte: Lenygia M. F. A. Morais, 2007. Todas as bacias hidrográficas do litoral do município de João Pessoa vêm sofrendo as consequências do rápido processo de expansão da cidade e do intenso povoamento do litoral, o que culmina em danos ambientais de maior ou menor magnitude (SASSI et. al., 1997). 39 3.3 - Condições Climáticas O clima do município de João Pessoa está inserido de acordo com as divisões climáticas de W. Köppen, dentro do domínio tropical quente-úmido, fortemente influenciado pelos alísios marítimos e caracteriza-se por apresentar uma estação seca observada nos meses de setembro a dezembro, sendo os meses mais secos outubro e novembro, havendo neste período um pequeno aumento da temperatura, girando em torno de 27ºC, e uma estação chuvosa que vai de abril a agosto, retornando às condições de seca a partir de setembro. Na área, as temperaturas médias anuais oscilam em torno de 24ºC, nos meses de julho e agosto, que são considerados os meses mais frios do ano, e de 28ºC em fevereiro, que é o mês mais quente (Figura 6). ºC (meses) Figura 6. Temperatura Média mensal da cidade de João Pessoa de 1961 a 1990. Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia – INMET. Segundo dados da AESA (Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba), a média dos últimos 30 anos é de 1.700mm, com máximas entre abril e julho que podem ultrapassar os 300mm (Figura 7). 40 350 301,7 300 282,5 263,9 250 236,6 204,8 200 140 150 101,1 100 80,1 67,5 50 28,1 27,7 Out Nov 36,1 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Dez Meses Figura 7. Normais climatológicas da cidade de João Pessoa (1961-1990). Médias Mensais. Fonte: AESA (Agencia Executiva de Gestão das Águas do estado da Paraíba) Segundo Heckendorff & Lima (1985) a umidade relativa do ar varia entre 80 e 85%, e a nebulosidade é de cerca de 5,8/10 do céu e a insolação é de 2.995 horas. 3.4 - Vegetação Os remanescentes da vegetação natural da área vêm sendo rapidamente convertidos para diversos usos em decorrência do impacto das atividades econômicas, especialmente aquelas relacionadas à especulação imobiliária. Isto vem contribuindo para o desequilíbrio ambiental, aumentado o risco de extinção local de grande parte de espécies endêmicas da fauna e da flora. Os tipos de formações vegetais que predominam na zona litorânea de João Pessoa, são caracterizados por Formações Litorâneas, Campos de Várzeas, Manguezais e Matas de Tabuleiros. Compreendendo a vegetação rasteira das praias, restingas e terraços litorâneos, as formações litorâneas ocupam uma estreita faixa com variadas dimensões ao longo do litoral pessoense. Sendo uma formação presente nas terras baixas e planícies do litoral, as vegetações rasteiras das praias são variadas, estruturalmente diferenciadas e 41 estreitamente relacionadas à morfologia do solo. Predominantemente herbácea e arbustiva é mais ou menos densa e adaptada a ambientes com alto teor de salinidade. Isto acontece devido à influência marítima, que faz com que essa vegetação sofra a ação dos ventos marinhos carregados de sal, conferindo à mesma, um aspecto bem particular. Incluídas nesta categoria estão as diversas espécies de vegetais que ocorrem nos litorais arenosos: o capim-da-areia, o alecrimda-praia, a pimenteira, a grama-da-praia e o capim paraturá. No domínio da restinga e dos terraços litorâneos, a vegetação possui características especiais, pois além de receber influência marítima direta, ela se desenvolve em solo extremamente arenoso e com baixa fertilidade. Estão enquadradas nesta categoria as formações vegetais pioneiras, como os campos e mata de restinga onde a vegetação é arbustiva e de densidade variada. Entre as espécies observadas na área estão a Munguba e o Pau de jangaba, por exemplo. Nos campos de várzeas a vegetação é rasteira e caracterizada por gramíneas herbáceas que atingem cerca de 50 cm de altura, muitas vezes utilizadas na pastagem do gado. Nesse tipo de vegetação podem acontecer certas variações por causa do clima, solo e relevo. Nos campos baixos em setores úmidos e planos das planícies aluviais florescem gramíneas como a barba-de-bode, a canarana de folha miúda e o piri. Uma das espécies mais conhecidas são as gramíneas do tipo mururé. Os manguezais são formações vegetais que se desenvolvem em ambientes de intensa deposição como os estuários, fundos de baías e na foz de rios. Como principal elemento fluvial na identificação das planícies flúvio-marinhas, o mangue destaca-se por se desenvolver em solos com pouca declividade e sob a ação das marés. Com alto teor de salinidade e enxofre, os solos do mangue são lodosos de coloração escura e com boa profundidade. Caracterizada por formações arbóreas densas a vegetação do manguezal possui poucas espécies vegetais. Por ser frequentemente inundada pela maré, essa vegetação apresenta adaptações tanto estruturais como fisiológicas para sobreviver nesse ambiente de solo pouco compactado e pouco oxigenado (Figura 8). Os mangues apresentam uma variedade de espécies vegetais como algas, liquens e bromélias, ocorrendo três espécies de porte arbóreo: Rhizophora mangle (denominado de mangue vermelho), Avicennia schaueriana (mangue negro) e Laguncularia racemosa, com porte arbóreo que pode atingir 20 a 30m (PEDROSA, 1999), mas usualmente abaixo de 12 metros (SASSI et. al., 1997). 42 Figura 8. Laguna do Aratú, litoral sul de João Pessoa, com destaque para a vegetação de mangue do tipo Rhizophora mangle. Fonte: Lenygia M. F. A. Morais, 2007. Na superfície aplainada do Baixo Planalto, onde os solos são bem drenados, ocorre vegetação do tipo cerrado, formando o que genericamente se denomina de tabuleiros. Caracteriza-se por apresentar uma vegetação arbórea, subarbórea e arbustiva relativamente densa, que se mistura com formações rasteiras e herbáceas. O manto herbáceo é constituído principalmente por gramíneas (capim do tabuleiro), e o arbóreo por arbustos de troncos e ramos tortuosos, folhas largas, córtex espesso e fendido, como a mangaba, a lixeira, o caju e o batiputá (RODRIGUEZ, 2000). No domínio da superfície dos tabuleiros, verificam-se ainda alguns testemunhos de Mata Atlântica, que atualmente encontra-se reduzida a 5% de toda a sua área primitiva no Estado. Com formação vegetal de alto porte (25/30m), copas largas, troncos com grandes diâmetros e folhas perenes e sempre verdes, onde se sobressaem algumas espécies nativas, como o jatobá (Hymenaea courbaril) e a umbaúba (Cecropia sp.), os quais são remanescentes da mata original e que ocupam os setores planos e com suaves declives dos tabuleiros e os vales de alguns rios. A diversidade biológica deste ecossistema está relacionada ao grau de umidade, tipos de solo, aos aspectos topográficos e se desenvolve melhor em áreas de alta pluviosidade. É importante ressaltar que essa formação vem sofrendo forte degradação desde o período colonial, quando foi substituída por culturas de cana-de-açúcar e abacaxi, e mais recentemente devido ao intenso processo de urbanização, industrialização, turismo, entre outros. 43 3.5 - Hidrografia O sistema hidrográfico do município de João Pessoa é caracterizado por duas bacias hidrográficas, a do Rio Paraíba ao norte e a do Rio Gramame ao sul, entremeadas pelas bacias dos rios Jaguaribe, Cabelo, Aratú, Jacarapé, Cuiá, Camurupim, de pequeno porte. Todos são rios perenes e apresentam disposição paralela, ou seja, encontram-se orientados no sentido oeste-leste. O primeiro deles, o rio Jaguaribe, localizado na porção norte do município de João Pessoa, onde começa o recorte espacial desta pesquisa, apresenta-se como um rio urbano, pois segue cortando praticamente a cidade de João Pessoa ao meio. Seu curso d’água tem uma extensão aproximada de 21 km desde sua nascente até sua desembocadura no maceió de intermares, na divisa de João Pessoa/Cabedelo. O segundo rio, seguindo o mesmo sentido W-E, é o Cabelo, localizado próximo a Planície Costeira da Penha, e cujo curso d’água tem uma extensão de cerca de 4,8 km. Farias (2006) ao realizar um estudo sobre o Monitoramento da Qualidade da água na área diz que a bacia do rio Cabelo é considerada zona especial de preservação pelo Plano Diretor (Lei Complementar nº. 3, de 30/12/92; Lei Municipal Ordinária nº. 7.899, de 20/09/95) e pelo Código de Meio Ambiente de João Pessoa (Lei Complementar de 29 de agosto de 2002). As áreas de interesse para a preservação são: o Manguezal existente na desembocadura do rio na Planície Litorânea, e remanescente de Mata Atlântica, localizada em setor de propriedade do Governo Estadual, conhecida como Fazenda Mangabeira, nos Tabuleiros Costeiros. Ao realizar um estudo integrado nas lagunas costeiras do estado da Paraíba no final da década de 1990, Sassi et. al. (1997), observaram que a bacia do rio Cabelo atravessava um intenso processo de ocupação urbana, com edificações diversas em terreno da marinha, que incluíam um condomínio habitacional, restaurantes e o clube da AFRAFEP. E para expansão de sua área social, visando a construção de um campo de futebol e estacionamento (o que foi realizado) o referido clube aterrou as margens do rio Cabelo e o canalizou, restringindo consideravelmente a área ocupada pela vegetação marginal. A bacia do rio Aratú, está localizada no setor sul da cidade de João Pessoa, com uma área de aproximadamente 34 ha, com valores altimétricos que variam de 44 20 a 30m. O acesso a área é feito através da PB 008 que corta quase todo o litoral sul. Foi decretada como unidade de conservação do tipo Parque Estadual do Aratu, em 27 de dezembro de 2002, através do Decreto Estadual nº. 23.838. Caracterizase por possuir uma formação vegetal de mangue, remanescentes de mata atlântica e restinga que se encontram pressionados pela ação antrópica, apresentando algumas invasões de casas e barracos, além de ocorrerem desmatamentos, entre outros indicadores de degradação ambiental. A bacia do rio Jacarapé, localizada entre os rios Aratú e Cuiá, estende-se por cerca de 2.800m para oeste, desde a sua desembocadura no Oceano Atlântico. Sua cobertura vegetal é representada por uma formação de mangue e um extenso juncal que preenche a sua planície flúvio-marinha, um ecossistema de Mata Atlântica que preenche as encostas e fundos de vale, além de capoeira de mata sobre o tabuleiro do tipo cerrrado, em razoável grau de descaracterização em diversos pontos. A área da bacia foi decretada Parque Estadual do Jacarapé como unidade de conservação em 27 de dezembro de 2002, através do Decreto Estadual nº. 23.836. Por estar inserida em área urbana, a bacia do rio Jacarapé vem sofrendo um acelerado processo de degradação ambiental, como relata Toscano quando elaborou o projeto de Implantação do Parque Estadual de Jacarapé: Às ausências de uma política urbana ordenada diante do crescimento, urbanização, e favelização das cidades estimuladas pelo êxodo rural e fluxo migratório, constituem fatores de degradação ambiental antrópica na área. O espaço vem sendo submetido a um processo intenso de degradação ambiental e diminuição da riqueza biológica, em virtude da ocupação desordenada dessas áreas, característica da área sul litorânea (TOSCANO et al, 2001). Em nível local as unidades de conservação tanto do rio Jacarapé como do Aratú encontram-se atualmente em elevado estágio de antropização, cujos detalhes desse processo serão apresentados posteriormente no quarto capítulo. Também situada na porção sul do litoral a bacia do rio Cuiá apresenta em sua foz um sistema estuarino verdadeiro ocasionado pela influência direta da água do mar, o que faz com que haja uma grande variação nas condições físico-quimicas e na sua dinâmica. Abrange 21 bairros da cidade de João Pessoa e é composta por alguns córregos e pelos riachos Mangabeira e Laranjeira, este último localizado na sua margem esquerda e o riacho das Oliveiras de águas limpas, na margem direita. 45 Segundo a PBTUR apud Rocha (2003), em estudos realizados nessa área a água foi considerada imprópria para uso primário, por receber uma grande carga de resíduos provenientes de esgotos domésticos dos conjuntos habitacionais localizados nas proximidades. A bacia do rio Camurupim limita-se a norte com a bacia do Cuiá, ao sul e a oeste com a bacia do rio Gramame e a leste com o oceano Atlântico. O acesso à área se dá através do Conjunto Habitacional Valentina de Figueiredo, em direção a Praia do Sol, através de uma rodovia asfaltada (SASSI et al., 1997). A bacia do rio Camurupim, apesar de ser a menor do litoral de João Pessoa, encontra-se quase que totalmente ocupada e/ou loteada. Na foz do rio e na faixa natural de pós-praia, já se observam várias construções irregulares de casas, bares e barracos. Seguindo as falésias do litoral, chega-se à Barra do Gramame, localizada no extremo sul da cidade, a última praia ao sul do município, também a menos habitada, na qual desemboca, formando ilhotas, o rio Gramame, que faz divisa natural entre os municípios de João Pessoa e Conde. É uma região pouco habitada e com características rurais, e com uma área onde ainda existem alguns resquícios de Floresta Atlântica. Este rio há muito sofre com os resíduos líquidos e sólidos despejados por indústrias, principalmente de tecidos. As autoridades ainda não conseguiram minimizar este impacto, que pouco a pouco coloca a região em processo de esgotamento de seus recursos naturais (SILVA NETO et al., 2008). 3.6 - Aspectos Histórico-Culturais e Turísticos A cidade de João Pessoa surgiu numa área localizada entre o rio Sanhauá (afluente do rio Paraíba) e uma colina próxima a um lugar chamado Varadouro (VASCONCELOS FILHO, 2003). Era formada por dois compartimentos distintos: a cidade baixa ou varadouro e a cidade alta. Nascida de costas para o mar, sua expansão em direção à orla só aconteceu a partir do final do século XIX e inÍcio do século XX. Foram os pescadores os primeiros a ocupar a faixa litorânea da cidade, seguidos dos veranistas e moradores temporários, que segundo Moraes (1999, p. 38) pode ser apontado como o fator mais expressivo da urbanização litorânea, pois 46 ocorre ao longo de toda costa, revelando um dinamismo que se mantém (obviamente em ritmo menor) mesmo em períodos de crise acentuada do setor da Construção Civil no país. Já as comunidades de pescadores se caracterizavam por uma grande dependência do uso dos recursos naturais. Muitos deles, praticamente durante toda a sua vida, tiveram a pesca como atividade principal de subsistência. Nessa perspectiva surgia uma nova forma de vida, fundada no conhecimento profundo dos ciclos naturais que se refletia nas práticas de manejo dos recursos pesqueiros, basicamente marcada pela solidariedade familiar, onde os fatores econômicos, sociais, culturais e religiosos estavam inteiramente imbricados. De acordo com CIACHI (2004) as comunidades do litoral paraibano são basicamente compostas por pescadores artesanais ou pescadores-agricultores, possuidores de sistemas próprios de manejo dos recursos naturais (mar, rios, mangues, etc.). O mangue, por exemplo, sempre foi utilizado por essas populações humanas que habitavam o litoral para diversas finalidades, como extração de madeira usada na construção de suas casas, barracos, para lenha, na pesca, para fins medicinais entre outros. Todos esses usos tradicionais ainda hoje são práticas comuns nas comunidades de pescadores artesanais que vivem e resistem ao longo do tempo espalhados pelo litoral pessoense. Constata-se também, entretanto, em diversos estuários do litoral pessoense, a ocupação de áreas de mangue e foz de rios por população de baixa renda, usualmente migrantes da seca, que procuram refúgio e alimento nessas áreas públicas, se bem que, em locais aprazíveis, seja usual pessoas de maior poder aquisitivo invadir os mangues das desembocaduras de rios e ali construírem suas residências de veraneio. Apesar de todo recurso natural e ambiental que essas áreas possam oferecer muitas dessas comunidades de baixa renda e pescadores tradicionais, carecem de assistência médica, educacional, infraestrutura e saneamento básico. Como destaca Arruda, quando diz que embora essas populações corporifiquem um modo de vida tradicionalmente “mais harmonioso” com o ambiente, vem sendo persistentemente desprezadas e afastadas de qualquer contribuição que possam oferecer à elaboração das políticas públicas regionais, sendo as primeiras a serem atingidas pela destruição do ambiente e as últimas a se beneficiarem das políticas de conservação ambiental (ARRUDA, 2000). 47 Ao lado desta triste realidade, há que se dar importância ao legado cultural desses habitantes tradicionais da zona litorânea, que resistem com suas manifestações lúdico-religiosas e lúdico-folclóricas, destacando aqui no nosso litoral a festa religiosa de Nossa Senhora da Penha, São João e São Pedro, o rico artesanato, os costumes da gente da terra, como as danças praticadas pela comunidade, típicas do litoral, como a dança coco de roda e ciranda, todas realizadas a beira-mar e no entorno do santuário da Penha (Figura 9). Mais além de tudo isso também existe os mitos, lendas e estórias que são transmitidas de pai para filho, de geração em geração, pela expressão oral. Figura 9. Santuário de N. S. da Penha construído em 1763 e tombado pelo IPHAEP em 26 de agosto de 1980. Fotografia: Lenygia Maria Formiga Alves (2009). Segundo CIACHI (2004), a história recente da Paraíba, atestada por pesquisas realizadas na UFPB e até mesmo pela simples e distraída observação de cada um de nós, mostra o volume e o alcance dos processos de expulsão de moradores de comunidades tradicionais, em nome do desenvolvimento a qualquer custo, da carcinicultura, do turismo e da construção de moradias de lazer. Os exemplos mais contundentes vêm da grande João Pessoa especificamente as praias de Tambaú e da Penha. 48 O turismo, como exemplo disso, veio mascarado com alternativas de emprego e renda que se confronta com o estilo de vida dessas populações tradicionais. Ele, o turismo, poderia até ser uma fonte de renda e valorização dessas comunidades, mas ao contrário, a forma como vem sendo promovido, apresenta-se como uma das causas de sua decadência e o seu potencial não é aproveitado de forma a valorizar os aspectos culturais e históricos. De acordo com uma pesquisa realizada recentemente pela Fundação Getúlio Vargas a atividade turística em João Pessoa tende a ser o grande filão da economia da cidade, segundo a qual a capital paraibana ficou acima da média nacional e nordestina. O resultado deste estudo foi apresentado aos gestores públicos, empresários do setor turístico e representantes de entidades durante um seminário realizado na Estação Cabo Branco - Ciência, Cultura e Artes, localizada no Altiplano Cabo Branco (PORTAL CORREIO, 2008). Vale ressaltar que a referida Estação Cabo Branco - Ciências, Cultura e Artes, mais conhecida popularmente como Estação Ciência, configura-se como o mais novo cartão postal da cidade de João Pessoa (Figura 10). A obra é assinada pelo arquiteto Oscar Niemeyer e tem a finalidade de apoiar a difusão cultural e científica no estado da Paraíba. Projetada com pouco mais de 5 mil metros quadrados, a Estação Ciência ocupa o núcleo central da Zona Especial de Preservação - Parque do Cabo Branco, área esta, que se destaca por ser o ponto mais oriental das Américas, no coração de uma área que ainda guarda resquícios de Mata Atlântica. A Estação Ciência, Cultura e Artes foi construída nesse local devido à importante localização do terreno e da possibilidade de uma visão panorâmica sobre a beleza natural do seu entorno, mas a um alto custo ambiental, visto que para sua instalação foi necessária a supressão de considerável área verde. Por tudo isso, não é à toa que João Pessoa se apresenta com uma grande atratividade turística, devido possuir belíssimas praias, monumentos históricos, matas, rios, trilhas, manguezais, mirantes, reservas ecológicas e áreas de proteção ambiental que compõem uma das regiões mais requisitadas para o reencontro com a natureza. E são estas variadas opções que fazem com que o turismo cresça a cada ano. 49 Figura 10. Estação Ciência, Cultura e Artes, construída próximo à falésia do Cabo Branco, extremo oriental das Américas. Fotografia: Lenygia Maria Formiga Alves Morais (2009). Ocupando uma posição privilegiada, João Pessoa está situada no extremo oriental do continente americano, onde o Farol do Cabo Branco é conhecido nacionalmente como o ponto mais oriental das Américas (Figura 11). Desse ponto o turista pode desfrutar da beleza do oceano Atlântico, contemplando parte do litoral norte e sul com suas características completamente diferenciadas. Figura 11. Farol do Cabo Branco, litoral sul de João Pessoa, sobre a falésia do mesmo nome, no extremo mais oriental das Américas. Fonte: Ivo JP. Disponível em: http://www.skyscrapercity.com, Ano 2007. 50 Ao norte estão as praias de Cabo Branco, Tambaú, Manaíra e Bessa, a área mais urbanizada da orla pessoense com hotéis, como é o caso do Tambaú, único situado à beira-mar (um dos cartões postais da cidade). Na área também tem vários restaurantes, bares, boates e o mercado de artesanato, com uma infinidade de produtos fabricados pela população local. Já para o litoral sul vêem-se as praias do Seixas, Penha, Jacarapé, Sol e Gramame (Figura 12 e 13), com características quase desertas e paradisíacas. O local também apresenta uma nova opção de turismo com visitações a fazendas, passeios de carro de boi e a cavalo, entre outras atividades recreativas. a b Figura 12. Fotografias aéreas de trechos do litoral sul de João Pessoa, PB. (a) Praia da Penha e (b) Praia de Jacarapé onde seria implantado o Complexo Turístico Costa do Sol. Fonte: Ivo JP. Disponível em: http://www.skyscrapercity.com, Ano 2007. a b Figura 13. Fotografias aéreas de trechos do litoral sul de João Pessoa, PB. (a) Praia do Sol e (b) Praia de Barra de Gramame. Fonte: Ivo JP. Disponível em: http://www.skyscrapercity.com, Ano 2007. Segundo Reis, embora esse setor do litoral sul de João Pessoa se destaque como um grande “potencial turístico natural” e também com o acelerado avanço dos 51 grandes empreendimentos que tomam forma na região, isso tudo já seria o suficiente para que se fizesse uma fiscalização permanente na faixa costeira sul do litoral do município (REIS, 2008). Já em outro estudo, Rocha (2003) relata que o acesso irrestrito de visitação e permanência sem orientação em áreas vulneráveis, como é o caso das falésias existentes ao longo do litoral sul, provoca inúmeros impactos, como por exemplo o desmoronamento no topo das falésias, acelerando seu processo de erosão natural. Nesta perspectiva, devem-se buscar alternativas de políticas públicas de conscientização e educação ambiental para o turismo que visem primeiramente a preservação ambiental seguidas da implantação de novos empregos, a distribuição de renda, a valorização da cultura local, entre outras oportunidades de desenvolvimento que o turismo possa oferecer à cidade e à região, procurando manter, no entanto, ao máximo, a integridade do quadro natural. 52 Parte 4________________________________________________ Cada teoria, tomada isoladamente, cada conto de fadas, cada mito faz parte do conjunto, forçando os demais para uma maior articulação, todos contribuem através desse processo de competição, ao desenvolvimento de nossa consciência. Paul K. Feyerabend 4 - Metodologia Tradicionalmente, a relação entre homem e natureza, nem sempre é vista como sendo harmônica, porque normalmente o ambiente humano contrasta com o ambiente natural. A utilização de áreas naturais tem sido alvo de várias críticas (FIGUEIREDO, 2000; DIEGUES, 1997). A natureza deve ser vista de forma equilibrada: não deve ser vista tão somente como um objeto de adoração ou meramente para o consumo. Essa é uma das causas dos conflitos sobre a presença humana em áreas naturais. Por definição, os conflitos entre sociedade e meio natural, considerado de forma abrangente como ambientais, acontecem a partir das diferentes relações que indivíduos, grupos sociais e sociedades estabelecem com a natureza no seu dia-a-dia. Por meio de problemas e de situações vividas no lugar no qual o homem está inserido, pode-se discutir o comportamento social e suas relações com a natureza. Como infere na visão aqui exposta, procurase abordar a questão do homem como agente modificador do espaço e analisar as relações sociais, econômicas e culturais geradoras dos fenômenos que afetam o ambiente. Aproximando mais o foco da análise para áreas de grande interesse – as zonas costeiras – procura-se levantar algumas questões sobre as particularidades dessas áreas, que segundo Moraes, em termos ainda bastante genéricos: [...] pode-se dizer que se trata de uma localização diferenciada que, em qualquer quadrante do globo, apresenta características naturais e de ocupação que lhe são próprias, 53 circunscrevendo um monopólio espacial de certas atividades (MORAES, 1999, p. 17). Para melhor entender o espaço, é preciso captar os lugares internos e suas diversas configurações que se instituem no espaço analisado (RIBEIRO, 2005, p. 43). Silva escreve que: O espaço é, pois, o maior lugar possível. O lugar manifesta-se como área, região, território. Esses são as expressões do lugar. O espaço geográfico (...) não pode ser considerado isoladamente da população (...). Essa população percebe e toma consciência do espaço em que vive e trabalha. Por isso a importância das relações: o lugar determina as relações e estas o lugar (SILVA, 1988, p. 7). É essa relação que faz com que a avaliação de um lugar não seja a mesma para diferentes pessoas, ou seja, para cada observador ou pesquisador o espaço é percebido de forma única, tendo um sentido de contemplação e utilidade diversas. Pois para o observador, destacam-se alguns espaços produzidos (e seus lugares) e não outros. Falar dos lugares é falar da escala do olhar, a percepção acontece quando aproximamos o olhar do interior das relações humanas, chegando ao lugar das relações (RIBEIRO, op. cit., p. 45). Por isso é que se busca nas metodologias qualitativas de pesquisas de campo, uma abordagem humanista que resgate a experiência humana do espaço, do cotidiano (TUAN, 1983), os embates das pessoas no e com o lugar, nos quais os elementos possíveis e tradicionais, como as noções e conceitos de fluxos, conflitos, riscos, vulnerabilidades - entre outros que compõem a zona costeira - estejam envolvidos. Esses elementos relacionados à zona costeira vêm se evidenciando como um conjunto de fatores ou ferramentas de suma importância para a pesquisa interdisciplinar, onde a ordenação dos fatos que se quer articular e compreender e a abordagem ou observação da realidade concreta invoca todas as dinâmicas ecológicas, sociais e econômicas necessárias ao seu equacionamento, e por isso mesmo intimamente conectados. Assim, o objetivo desta pesquisa é buscar apreender a complexidade do homem com a natureza no sentido de obter informações que possam contribuir para identificar as tensões existentes no ambiente em questão. 54 O percurso teórico metodológico adotado neste trabalho pressupõe que o pesquisador não seja apenas um observador estático, um elemento neutro e imparcial, embora o positivismo, em nome da objetividade científica, pregue a neutralidade do pesquisador. Para o pesquisador aproximar-se da realidade é vital que ele a viva, procurando unir o seu conhecimento com o conhecimento da sociedade em geral. Cabe-nos, enquanto pesquisadores, assumir uma postura dialética, dinâmica, numa perspectiva transformadora. Os procedimentos metodológicos adotado neste estudo tem como base duas vertentes, a primeira, refere-se à abordagem filosófica predominante na interpretação e análise do objeto de estudo. A segunda refere-se a análise morfológica da paisagem e a natureza do modelado, bem como as características do cenário, onde as formas são as expressões dos diversos tipos de sociedade, fazendo-se necessário identificar todas as formas de uso, estabelecendo comparações entre os usos e caracterizando a compreensão da dinâmica local da paisagem. Serão discutidos os problemas ambientais do litoral de João Pessoa de acordo com sua compartimentação geomorfológica, a saber: faixa litorânea norte, que abrange essencialmente a planície costeira, e faixa litorânea sul, que congrega faixas da planície costeira, dos tabuleiros costeiros e de planícies flúvio-marinhas. Assim sendo, este trabalho se desenvolveu nas seguintes etapas: 4.1 – I Etapa 1. Seleção do material bibliográfico e cartográfico pré-existente, foram visitadas as seguintes bibliotecas: Biblioteca Central da UFPB; Bibliotecas Setoriais de Geociências, CT/UFPB (Centro de Tecnologia) e Ciências Sociais, (CCHLA), o Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba – IHGP e o Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA. 2. Visita técnica para fins de coletas de dados nas instituições públicas, como: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, Superintendência de Administração do Meio Ambiente – SUDEMA, 55 Secretaria de Planejamento do Estado-SEPLAN, Prefeitura Municipal de João Pessoa, Empresa Paraibana de Turismo - PBTUR, entre outros; 3. Busca de publicações relacionadas com o tema deste estudo, em sites da internet, como o Portal da Capes e Scirus.com. As seguinte bases cartográficas foram utilizadas na pesquisa: • Fotografias aéreas de 1969 Escala 1:70.000 Fonte: SUDENE • Fotografias aéreas de 1985 Escala 1:40.000 Fonte: Terrafoto • Imagem de Satélite de 2005 Quik bird Fonte: PMPJ/PB 4.2 – II Etapa A segunda etapa correspondeu ao processamento digital dos dados e da análise e integração das informações do material coletado anteriormente. Foram elaborados mapas temáticos que permitiram realizar um estudo comparativo da evolução urbana do município de João Pessoa referentes aos anos de 1969, 1985 e 2005, nos quais foi possível identificar o acelerado processo de urbanização. Os seguintes materiais foram produzidos nesta etapa: • Mapa da área urbana do litoral de João Pessoa – 1969 • Mapa da área urbana do litoral de João Pessoa – 1985 • Mapa da área urbana do litoral de João Pessoa – 2005 • Mapa de uso e ocupação do solo do litoral de João pessoa - 2005 56 4.3 – III Etapa Nesta etapa foram realizados os trabalhos de campo. Esse procedimento foi feito com base na observação da área de estudo e na coleta de informações empíricas junto aos moradores e também em instituições públicas. Durante a realização do trabalho de campo foi feita a identificação e listagem dos impactos ambientais na área de estudo e os diversos tipos de atividades relacionadas com o uso e ocupação do solo. Os trabalhos de campo consistiram em observações, registros fotográficos e preenchimento de formulários preparados para obtenção dos dados sobre feições fisiográficas, biológicas e interferências humanas. Nesta etapa procedeu-se a sistematização e a quantificação dos resultados de campo, elaborando-se uma matriz escalar onde são representados todos os impactos evidenciados na área e o grau de magnitude de cada um. Para esta matriz as seguintes instruções para preenchimento da mesma foram consideradas: No Campo “ITEM” – foram numerados todos os impactos encontrados na área. No Campo “TIPOS DE IMPACTOS” - foram listados os principais impactos ambientais identificados no processo analisado. No Campo “PESO” - os impactos foram avaliados individualmente segundo sua probabilidade de ocorrência, conforme critérios a seguir: • 0 ponto - Inexistência de impacto • 1 ponto - presença irrelevante • 2 pontos - impactos perceptíveis • 3 pontos - impactos agudos No campo “CLASSIFICAÇÃO DOS IMPACTOS” – os impactos ambientais foram analisados segundos os seguintes aspectos: • D - direto (aquele sobre o qual a atividade exerce controle efetivo, originando um impacto ambiental direto. • I - indireto (aquele sobre o qual uma determinada atividade exerce apenas influência, originando um impacto ambiental indireto. 57 Nos campos “LITORAL NORTE (LN)” e “LITORAL SUL (LS)” - foram avaliados a incidência de todos os impactos ambientais para cada setor estudado. No Campo “TOTAL LN” - foram totalizados os impactos segundo a multiplicação dos fatores PESO x LN. No Campo “TOTAL LS” - foram totalizados os impactos segundo a multiplicação dos fatores PESO x LS. Segundo tal procedimento, foi possível obter uma visão sintética dos diferentes tipos de impactos que vem afetando os remanescentes naturais dos dois setores pesquisados: litoral norte e litoral sul do município de João Pessoa, e que, por conseguinte, vem alterando a qualidade ambiental da área e a estética local. Os procedimentos usados na elaboração da matriz de impactos seguiram Marcelino (2000), adaptando-se metodologias de matrizes de impactos como a de Caanter (1984), que utiliza conceitos básicos de escala de ponderação, e Rohde (1988), que se refere ao detalhamento das características dos impactos. Levou-se em conta ainda nessas análises, os trabalhos de Queiróz (1993) sobre os significados e características dos impactos ambientais, e Pires (1993), sobre métodos de subjetividade e avaliação de impactos ambientais, que serviram como base para a quantificação dos impactos. Os critérios de ponderação seguiram Marcelino (op. cit.), atribuindo-se os valores 0, 1, 2 e 3 que correspondem aos conceitos de inexistência (da interferência), presença irrelevante (ou pouca interferência observada no ambiente), impactos perceptíveis (ou média presença do fator impactante), e impactos agudos (presença extrema do fator impactante no ambiente estudado), respectivamente, conforme a classificação da magnitude (escala) fornecida por Rhode (1988). Os critérios usados para a atribuição desses pesos (Tabela 1) seguiram aqueles propostos por Marcelino (2000), com pequenas modificações nos atributos dos indicadores. 58 Tabela 1: Categorias de valores numéricos e seus intervalos para os impactos antrópicos evidenciados nos setores estudados. Intervalo 0 1 2 3 Indicador correspondente Inexistência de atributos a ser estudado; nenhuma interação. O sistema tem poucas alterações antrópicas, sem prejuízos de qualidades ambientais como beleza cênica, produtividade ecológica. Este valor corresponde à pouca presença de impactos, que pode ser sanado com pequeno esforço; Média presença do fator impactante, visivelmente perceptível a ponto de alterar as características naturais do ambiente aquático. O sistema aparenta equilíbrio, contudo há possibilidades futuras de comprometimento, nas relações tróficas, no tamanho do habitat, na biodiversidade, na manutenção dos estoques da fauna e flora, na disponibilidade e qualidade dos recursos naturais. Indica que já são necessárias correções; Presença maciça do fator impactante, podendo colocar o sistema em risco e necessitando de ações corretivas urgentes. O ambiente está em estado crítico, com perda de características naturais importantes a ponto de comprometer a disponibilidade e a qualidade dos recursos naturais e a qualidade de vida em seu sentido amplo. Em seguida foram elaborados os diagramas de Pareto para cada setor estudado. O diagrama de Pareto foi utilizado como um recurso gráfico para estabelecer uma ordenação dos principais impactos ambientais que podem e devem ser sanados. Neste diagrama foram expressos claramente a relação ação/benefício, priorizando as ações que trarão os melhores resultados. O gráfico de barras ordenou as freqüências das ocorrências da maior para a menor, onde identificamos quais os itens são responsáveis pela maior parcela dos problemas dispostos na área. Os índices de qualidade ambiental (IQA) foram calculados para cada um dos setores estudados, tomando-se como base a equação fornecida por Marcelino (op. cit.), com pequena modificação: IQA = (Ph – Pr)/ Ph Onde: Ph = Somatório dos pesos de todos os impactos, considerando-se hipoteticamente o caso de todos apresentarem o seu nível máximo; no caso, Pt 59 = 3 (peso máximo de cada impacto individualmente) x n = (total de fatores impactantes evidenciados na pesquisa). Pr = Somatório dos pesos dos diversos fatores de impacto ambiental que de fato foram evidenciados em cada setor pesquisado. A modificação consistiu no fato de que no lugar de Pt usou-se Ph (visto que os impactos totais sugeridos por Marcelino são, de fato, hipotéticos), e Pr no lugar de Pi, visto que o que o autor sugere como Peso dos impactos é o Peso real dos impactos observados. Os índices assim obtidos variam entre 0 e 1 (ou 0 e 100%), sendo que zero “0” indica a máxima degradação ambiental e 1 a máxima qualidade ambiental. Tomando-se como base os valores de importância de cada um dos vários elementos dispostos na matriz de impacto, foi possível hierarquizar as interferências humanas nos dois setores pesquisados usando o Diagrama de Priorização de Pareto (Alves, 2002; Lemos, 2005). Com essa metodologia é possível verificar quais os principais itens que respondem por 80% dos problemas encontrados. Após a priorização dos impactos foi elaborada uma matriz de compatibilidade de uso conforme modelo proposto Diegues (2001), em que os diversos usos listados são inter-cruzados entre si e verificadas a compatibilidade ou incompatibilidade entre eles. Essa matriz permitiu identificar não só os diversos tipos de usos como também os grupos sociais envolvidos nesse processo. Nesse procedimento as atividades complementares entre si são indicadas com a letra (S), atividades que se caracterizam como conflitantes ou competitivas são indicadas pela letra (C), as atividades mutuamente exclusivas (M), e as que necessariamente não se correlacionam entre si são indicadas pela letra (N). Da somatória de todos os cruzamentos possíveis dos usos conflitantes pode-se verificar quais os usos e atividades realizadas na área que apresentam maiores índices de conflito entre si, o que é obtido a partir da hierarquização desses índices. E por fim foram apresentadas as conclusões da pesquisa, sugerindo-se recomendações que possam ser colocadas em prática pelo poder público, a fim de melhorar a qualidade ambiental da área. 60 Parte 05_______________________________________________ Dos rios se diz que são violentos, mas ninguém diz, violentas as margens que os comprimem. Bertholt Brech 5- Resultados e Discussões 5.1- Trajetória da evolução urbana de João Pessoa Fundada em 1585, João Pessoa surgiu na área compreendida entre o rio Sanhauá (afluente do rio Paraíba) e uma colina (tabuleiro) localizada à margem direita do rio. Com o acesso fácil para o rio Sanhauá, seu objetivo principal era a defesa da costa e o controle político-social. É importante ressaltar que João Pessoa se estendeu sobre essas duas unidades geomorfológicas distintas: a Baixada Litorânea e o Baixo Planalto Costeiro, caracterizando o que originalmente se denominou de Cidade Alta e Cidade Baixa. Segundo Batista, na parte fronteiriça ao rio, no pé da colina, ficava o antigo Porto do Capim e a cidade baixa, o Varadouro, onde as atividades comerciais se processavam. Na parte alta funcionavam as atividades administrativas e religiosas, bem como a maior parte das residências (BATISTA, 1989, p.19). De acordo com Maia (2000) essa divisão foi característica de muitas cidades brasileiras, citando como exemplo a cidade de Salvador, onde a “cidade baixa” abrigava as construções comerciais e a “cidade alta” os edifícios religiosos e administrativos. Até as primeiras décadas do século XX a estrutura urbana de João Pessoa permaneceu circunscrita ao seu velho formato de cidade alta e baixa, embora no início deste século se processassem várias e significativas mudanças na sua infraestrutura urbana, dentre elas a modernização dos meios de transporte, iluminação pública, eletricidade, abastecimento de água e melhorias sanitárias. Segundo Vasconcelos (2003, p. 55) o perfil das obras de 61 infraestrutura urbana durante a década de 1920, dando destaque à instalação da rede de esgotamento sanitário, foi uma das maiores obras de todo o século XX, pois até hoje a rede de saneamento básico de João Pessoa utiliza as lagoas de estabilização e tratamento de esgotos construídos nessa época. Outro fato importante aconteceu nesta mesma década com a implantação do sistema rodoviário. Inserido como um novo serviço, facilitou o deslocamento da população, permitindo a interação com as partes mais distantes da cidade. Com isso novas áreas foram incorporadas à cidade e o processo de degradação ambiental começou a se intensificar, em detrimento do tão sonhado “desenvolvimento urbano” promovido por sucessivos governos empenhados na modernização da cidade. A abertura da Av. Epitácio Pessoa, foi outro fator de destaque ocorrido na década de 1920. Segundo Vidal (2004:77) a referida Avenida foi construída por iniciativa de Camilo de Holanda no período de 1916-1920, visando inicialmente estabelecer fácil ligação entre o centro e o porto que se pretendia construir em Tambaú. Mesmo após ter-se revelado inviável a construção de um porto naquela enseada, a avenida foi alvo de sucessivos investimentos do poder público no sentido de dotá-la de melhores condições de circulação – o que a permitiria se converter no novo eixo de crescimento da cidade de João Pessoa nas décadas seguintes (Figura 14). Figura 14 – Abertura da Avenida Epitácio Pessoa (1920). Fonte: Paraíba Net. Disponível em: pbnet.com.br, acesso em 10/04/2009. 62 Com isso, a cidade de João Pessoa passou por grandes alterações urbanísticas ao longo do século XX, como foi dito anteriormente, e, com efeito, essas grandes transformações ocorreram na primeira metade desse século, sendo concentradas nos setores centrais da cidade. A partir de 1940, com o crescimento demográfico e econômico, a cidade sofreu expansão urbana em direção a leste. Muitas avenidas foram abertas direcionando a expansão da cidade. Embora a Avenida Epitácio Pessoa tenha sido aberta anteriormente, ela foi à principal via da cidade que se desenvolveu em linha reta, resultando na incorporação do espaço litorâneo à malha urbana pré-existente (Figura 15). Tal processo atinge hoje toda a extensão litorânea de João Pessoa. N Legenda Expansão Urbana em direção a orla Figura 15 - Mapa do Ministério do Exército de 1946, reconstituído em base digital atual, mostrando a expansão da cidade em direção a orla. Fonte: Oliveira, (2006). 63 Segundo Trajano Filho (2006), unindo virtualmente a cidade ao mar, a grelha estabelecida pelo plano de remodelação e expansão implantado ao longo da administração Argemiro de Figueiredo se tornaria nas décadas seguintes a base da grande aventura urbanística da capital na segunda metade do século XX, que é o preenchimento desse território e sua conversão em espaço urbano através da convergência de ações privadas e investimentos públicos em empreendimentos habitacionais e serviços de infraestrutura. Isto mostra que a ocupação da faixa litorânea da cidade ocorreu de maneira mais sucinta no início da década de 1950, devido às ações do Estado voltadas para a infraestrutura básica e serviços, ocasionando uma distribuição espacial de benefícios que privilegiaram o percurso da Av. Epitácio Pessoa, e consequentemente das camadas de médio e alto poder aquisitivo da população. Como destaca Silveira (2001), como suporte da nova expansão do cotidiano e das novas práticas sociais, o percurso da Av. Epitácio Pessoa serviu para exibição das elites, com novos comportamentos urbanos, representando a emergência de outra ordem na cidade: espaços livres representados pelas principais vias urbanas, que passaram a ser vistas como referencial do moderno e do progresso. Em meados da década de 1950 foi implantado o bairro Jardim Miramar, nas imediações da Av. Epitácio Pessoa, entre a cidade propriamente dita e a orla marítima. Foi quando se estabeleceu a partir desse momento um ritmo mais intenso de ocupação ao longo dessa avenida. Simbolicamente o Jardim Miramar produziu encurtamento, pois diminuiu as distâncias entre o centro e a orla (Figura 16). Dentre os bairros construídos às margens da avenida destacam-se, além do Jardim Miramar, o bairro dos Expedicionários e a Torre. O processo de ocupação urbana do litoral de João Pessoa, segundo Silveira (2004), é marcado pelas características peculiares de sua paisagem natural, evidenciando tanto a importância de determinados elementos morfológicos quanto à importância da localização e das práticas sociais. Tal situação reflete claramente na ocupação litorânea dos setores norte e sul da cidade. 64 Figura 16: Vista geral da Avenida Epitácio Pessoa, no ano de 1955, com destaque para o bairro de Miramar e o início do processo de ocupação da orla. Fonte: Acervo Humberto Nóbrega apud Coutinho (2004). Neste momento, abordar-se-á a evolução do espaço urbano litorâneo de João Pessoa a partir da década de 1960, que ocorreu nas faixas litorâneas norte e sul da cidade, apresentando suas particularidades, como também enfatizando os aspectos sociais, ambientais e econômicos. 5.1.1- Processo de ocupação do Litoral Norte Essa área destaca-se, por assim dizer, como o lugar de mais intensa ocupação urbana do município de João Pessoa. Apresentando, notadamente, uma das paisagens urbanas que mais sofreu intervenções, transformando-se em ponto de atração para investimentos por parte da indústria da construção civil e do uso turístico. Estes dois vetores vêm se destacando como os principais responsáveis pelas transformações observadas nesta faixa, proporcionando a degradação da paisagem natural da orla marítima, em decorrência do acelerado processo de ocupação. Este processo de ocupação urbana do litoral de João Pessoa vem resultando em diversos conflitos que podem ser definidos em dois momentos. Primeiramente, a essa porção do município cabia a função de veraneio. Os 65 loteamentos para uso balneário iniciaram-se a rigor na década de 1940, aumentando significativamente nas décadas seguintes. Foi justamente com a abertura e/ou melhoramentos de novas vias de acesso, como as avenidas Epitácio Pessoa e José Américo de Almeida - Beira Rio que facilitou a locomoção da população em direção à orla, acelerando assim o processo de ocupação. O segundo momento se deu através da transformação dos tradicionais espaços de veraneio em moradias fixas, onde as habitações mais humildes foram removidas para dar lugar às casas luxuosas, desenvolvendo bairros como Manaíra e Bessa. Este tipo de ocupação seletiva e excludente se deu em parte devido à implantação das políticas dos conjuntos habitacionais, onde a população de maior poder aquisitivo se adensaria principalmente na orla, enquanto que a população pobre terminaria por ocupar a porção sul/sudeste da capital. Estas intervenções acabaram por construir barreiras entre as diversas classes sociais da cidade. Esta faixa, desde o início da sua ocupação, apresentou uma estrutura urbana caracterizada pela presença das camadas de maior poder aquisitivo, que ocupavam espaços mais estruturados e consequentemente mais valorizados, representadas pelas habitações de elevado padrão e com equipamentos urbanos, como transporte, saneamento básico, entre outros, enquanto que as populações de baixa renda se assentavam nas áreas de pouca valorização imobiliária, como é o caso das encostas (falésias) e dos vales dos rios, evidenciando também as diferenças sociais na ocupação deste espaço. A este tipo de expansão urbana Kovarick apud Maia (2000) denominou de “padrão periférico de crescimento”, onde as áreas mais equipadas são reservadas para as camadas de médio e alto poder aquisitivo, enquanto as classes trabalhadoras menos abastadas são empurradas para as áreas periféricas, isto é, áreas desprovidas de serviços urbanos. Na maioria das vezes essas áreas são de grande vulnerabilidade e/ou proteção ambiental, como é o caso das encostas íngremes, as zonas sujeitas à inundação, áreas de defesa de mananciais e manguezais. Neste contexto é importante ressaltar a ação do Estado como mediador dos bens de consumo coletivo (transporte, educação, saneamento básico, etc.) 66 e o meio urbano, evidenciando seu caráter seletivo e excludente. Pois enquanto as associações entre as grandes empresas e o Poder Público garantiam aos primeiros as condições de infraestrutura e serviços necessários, o outro lado assistia a um verdadeiro processo de deterioração dos padrões urbanos de vida (KOVARICK, 1988 apud MAIA, 2000). A implantação de equipamentos urbanos proporcionados pelas grandes empresas em parceria com o Poder Público resultou na periferização urbana, acentuando cada vez mais os problemas sociais e ambientais, a exemplo disso a poluição dos rios e praias, causando degradação ambiental e, consequentemente piorando a qualidade de vida. Sendo assim, vê-se a importância dos problemas sociais e ambientais dispostos nesta faixa da cidade a partir da ocupação e do processo acelerado de expansão urbana ocorridos nos últimos 50 anos. Com a criação do BNH (Banco Nacional de Habitação) e do SFH (Sistema Financeiro de Habitação) em 1964, no governo de Castelo Branco, João Pessoa passou por mudanças significativas na forma de organização e espacialização da estrutura da cidade. Esta mudança de ordem pública de caráter federal se voltou para empreendimentos habitacionais de pequeno e médio porte, geralmente construídos em áreas periféricas, destinados a população de baixa renda. Dessa forma foram implantados os bairros de Castelo Branco I, II, e III, Ernesto Geisel, Cristo Redentor, Valentina de Figueiredo, Bancários e Mangabeira de I ao VII, todos assentados na porção sul e sudeste e financiados pelo SFH, tendo como órgão gestor o BNH. Pode-se entender o comportamento da implantação dos conjuntos habitacionais através da periodização observada na Figura 17. A implantação da Política Habitacional do BNH que tinha como objetivo solucionar o problema de moradia da classe baixa acabou de certa forma incentivando a indústria da construção civil, que proporcionou uma mudança na estrutura urbanística da cidade de João Pessoa. 67 Figura 17 – Evolução da implantação dos Conjuntos Habitacionais implantados em João Pessoa/PB. Fonte: Araújo, 2006. Outro fator importante ocorrido na década de 60 foi a transferência da Universidade Federal da Paraíba, que antes funcionava em prédios instalados no centro da cidade, para o campus universitário localizado a sudeste da cidade de João Pessoa, fazendo com que novos bairros fossem surgindo nas suas imediações, sempre no sentido sul-sudeste de João Pessoa. Enquanto isso, a porção norte-nordeste estava sendo reservada para os loteamentos e construção de edifícios, visando atender a demanda das classes mais abastadas da cidade. Os primeiros loteamentos existentes no litoral norte datam das décadas de 50, 60 e início de 70, com concentrações próximas ao núcleo urbano inicial, que era a praia de Tambaú (onde o processo de ocupação da orla prosseguiu de forma mais intensiva), estendendo-se para as imediações de Manaíra e Cabo Branco, no sentido norte e sul respectivamente. Segundo Leandro (2006) o processo de urbanização da orla representou, desde o início, a expulsão de comunidades litorâneas que habitavam o lugar, especialmente a antiga comunidade de Tambaú, formada por pescadores e pequenos criadores de gado. O impacto da valorização 68 imobiliária em virtude da expansão de loteamentos e construções expulsou os pescadores para áreas mais afastadas e a população mais humilde foi substituída por moradores de maior poder aquisitivo. O acelerado processo de ocupação dessa área nas décadas de 1960 e 1970 é atribuído em primeiro lugar ao crescimento das habitações que eram utilizadas para veraneio, denominadas de residências secundárias, que foram gradativamente se transformando em habitações de moradias fixas. Outro fator relevante foi o aumento significativo da população de João Pessoa, que na década de 1960, segundo uma pesquisa do IBGE, atingiu o seu mais elevado índice de crescimento populacional, chegando a 55,01%. Vale lembrar que foi durante a década de 1960, mais precisamente durante o governo de João Agripino (1966-1971) que o litoral paraibano passou a ser alvo de políticas públicas voltadas para o turismo, principalmente com a instalação de equipamentos hoteleiros, como é o caso do Hotel Tambaú, que foi construído no final da década de 1960 e posteriormente inaugurado no início da gestão Ernani Sátiro (1971-1975). Com a inauguração do hotel, o litoral norte de João Pessoa passou por intensa modificação no que se refere aos serviços de infraestrutura e equipamentos urbanos, todos visando atender a demanda do turismo na capital. O hotel Tambaú se destacou na época como o mais novo cartão postal da cidade, contribuindo para a urbanização na área, além disso, tirou o foco da atividade turística que até então estava localizado no centro da cidade, mais precisamente no Parque Sólon de Lucena e no ponto de Cem Réis, para a orla no bairro de Tambaú, bairro este que deu nome ao hotel. Em meados da década de 1970 com o apoio de investimentos federais a demanda por terras na direção leste aumenta significativamente, tendo como incentivo a atuação do Projeto CURA (Comunidades Urbanas para Recuperação Acelerada) do BNH. Segundo Silveira o projeto de implantação de infraestrutura, que teve suas diretrizes estabelecidas no ano de 1972, foi efetivamente iniciado em nível nacional em 1973 e visava aperfeiçoar equipamentos urbanos criando condições para a expansão da cidade. Com isso atendeu a áreas chamadas “nobres” do percurso da Avenida Epitácio Pessoa e consequentemente os bairros de Tambaú, Cabo Branco, Manaíra e Bessa (SILVEIRA, 2004). 69 Foi justamente através do Projeto CURA que os bairros litorâneos receberam o esgotamento sanitário e a ampliação do abastecimento d’água. A realização dessas obras aumentou ainda mais a valorização dos imóveis, acabando por configurar esses bairros como as áreas mais nobres da cidade, onde residia a população de maior poder aquisitivo. De acordo com Rocha (1996), foi durante o período que se estendeu de 1977 a meados da década seguinte que ocorreram as maiores transformações na paisagem local, e o intensificado processo de loteamento resultou na redução da cobertura vegetal da área. Este processo de devastação ocorreu devido à abertura de 27 novos loteamentos implantados no final da década de 1980. Segundo Madruga (1992), o processo de ocupação aumentou em muito a partir da construção da via litorânea, que valorizou os terrenos na porção norte de João Pessoa, já quase praticamente conurbada com Cabedelo, isto é, fazendo com que a cidade ultrapassasse os limites municipais. Isto mostra que o acesso facilitado pela via litorânea em direção à praia do Bessa, serviu de incentivo ao mercado imobiliário, exercendo forte influência sobre os remanescentes da restinga, provocando modificações geoambientais graves, como os alagamentos ocorridos na estação chuvosa. Coutinho ressalta que foi a partir da década de 1980, na gestão do então governador Wilson Braga (1983-1986) que a paisagem natural começou a ser atingida de maneira mais sistemática, através das ações da FUNSAT – Fundação Social de Apoio ao Trabalho – órgão coordenado pela primeiradama, Lúcia Braga, quando foram criados conjuntos– ditos urbanizados – com um grau mínimo de infraestrutura que mais tarde se transformariam em favelas devido à precariedade de suas instalações (COUTINHO, 2004). A falta de planejamento urbano por parte do poder público levou as populações de baixa renda a ocuparem os vales dos rios e as encostas dos morros que cortavam a malha urbana de João Pessoa. Como é o caso do rio Jaguaribe que passou a agregar um alto contingente populacional em vários pontos de suas margens, vivendo em condições extremamente precárias quanto ao infraestrutura). atendimento de serviços urbanos (saneamento básico, 70 Esse processo trouxe sérias consequências ambientais e sociais. No primeiro caso porque a degradação provocada pela ocupação desordenada atingiu diretamente o meio natural, reduzindo parte da cobertura vegetal dos morros, aterrando as margens já assoreadas dos rios. No segundo, porque essas populações vivem ou sobrevivem num estado de extrema pobreza e baixa qualidade de vida, muitas vezes correndo risco de vida, pois essas áreas ocupadas são na maioria sujeitas a riscos de erosão, inundação e deslizamentos, processos esses que ocorrem em diversos trechos da bacia do rio Jaguaribe, retratando bem essa realidade. Em João Pessoa, segundo Laviere (1992), a segregação espacial foi ampliada pelas políticas de habitação e especulação imobiliária. Além disso, ele ressalta que os demais problemas de cunho nacional, como a migração do campo para áreas urbanas, levou a população de João Pessoa a vivenciar um duplo processo de periferização. Foi a partir da década de 1980 que os bairros da faixa litorânea norte, que até então eram ocupados por residências secundárias, foram rapidamente transformados em locais de prédios comerciais e residenciais, e até aqueles que já apresentavam uma primeira ocupação passaram por processo de acentuada verticalização. Desta forma, apesar de comportar a população de maior poder aquisitivo, essa faixa passou também a ser considerada, desde a década de 1990, como área de comércio, turismo e lazer. Também houve a expansão de outros serviços, como consultórios e laboratórios, além, é claro, da implantação dos equipamentos turísticos. Todo esse processo modificou o padrão da estrutura edificada da orla, o que culminou na verticalização dos bairros. A multiplicação desses edifícios na orla incentivou o interesse do mercado imobiliário, valorizando ainda mais a área. Segundo Leandro (2006), essas construções foram estimuladas por modismos que concebem estes equipamentos como símbolos de modernidade, reforçando o status de morar próximo ao mar. Segundo Moreira (op. cit.), em 1982 o então governador Tarcísio Burity, resolveu ampliar o controle estadual sobre a urbanização da orla marítima paraibana e assinou em 10 de maio o decreto nº 9.485, que estabelecia: 71 Artigo 1º – Os projetos de urbanização, loteamentos, construções ou outras modificações, que venham a ser executadas na orla marítima, em áreas compreendida entre 300 e 500 metros, ficarão, sob a jurisdição do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico da Paraíba – IPHAEP. Artigo 2º – O conselho consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba – IPHAEP, disporá sobre a classificação das áreas consideradas de importância para efeito do que dispõe este decreto. Moreira (2006) destaca que esse ato deu ao IPHAEP o importante poder de decidir o futuro das iniciativas de urbanização e construção nas áreas referidas, que doravante se sobreporia ao tradicional poder municipal de aprovar ou rejeitar tais iniciativas. Por influência de pessoas preocupadas com a proteção do meio ambiente, o IPHAEP adotou, para limitar o gabarito dos edifícios nas citadas áreas, um escalonamento de alturas parecido com aquele que seria instituído, mais tarde, pela Constituição Estadual de 1989. Então ficou estabelecido que no bairro de Tambaú as alturas permitidas fossem divididas em três faixas. Nas duas primeiras faixas a altura máxima seria de 9 metros (3 pavimentos) e 14 metros (4 pavimentos), respectivamente. Na terceira faixa poderiam ser construídos edifícios de 8 pavimentos (24 metros de altura). Já em Manaíra, bairro mais extenso, ficaria distribuído em cinco faixas: três semelhantes às de Tambaú e duas adicionais; na quarta não havia limitação de altura e na quinta, que margeava o rio Jaguaribe, o gabarito restringia-se a 14 metros (Figura 18). 72 Figura 18 – Alturas permitidas para a orla marítima de João Pessoa/PB, conforme proposto pelo IPHAEP. Fonte: Camboin (1983) apud Moreira (2006). Posteriormente em 1983, o governador Wilson Braga revogou o decreto nº 9.485 do ano anterior, retornando para a Prefeitura de João Pessoa o controle das construções na orla marítima municipal, restando ao IPHAEP apenas o poder de controle que fora dado ao governo estadual pela Emenda Constitucional nº 01 de 1970 (Moreira, 2006). Em 1989 a Constituição Estadual da Paraíba finalmente decretou em seu artigo 229 que as construções na orla não deveriam ultrapassar mais de cinco metros de altura, não permitindo, portanto, a construção de grandes edifícios. Foi redigida da seguinte forma: Art. 229. A zona costeira, no território do Estado da Paraíba, é patrimônio ambiental, cultural, paisagístico, histórico e ecológico, na faixa de quinhentos metros de largura, a partir da preamar de sizígia para o interior do continente, cabendo ao órgão estadual de proteção ao meio ambiente sua defesa e preservação, na forma da lei. § 1º O plano diretor dos Municípios da faixa costeira disciplinará as construções, obedecidos, entre outros, os seguintes requisitos: 73 a) nas áreas já urbanizadas ou loteadas, obedecer-se-á a um escalonamento de gabaritos a partir de doze metros e noventa centímetros, compreendendo pilotis e três andares, podendo atingir trinta e cinco metros de altura, no limite da faixa mencionada neste artigo; b) nas áreas a serem urbanizadas, a primeira quadra da praia deve distar cento e cinquenta metros da maré de sizígia para o continente, observado o disposto neste artigo; c) constitui crime de responsabilidade a concessão de licença para a construção ou reforma de prédios na orla marítima, em desacordo com o disposto neste artigo. § 2º As construções referidas no parágrafo anterior deverão obedecer a critérios que garantam os aspectos de aeração, iluminação e existência de infraestrutura urbana, compatibilizando-os, em cada caso, com os referenciais de adensamento demográfico, taxa de ocupação e índice de aproveitamento. Segundo Farias, o art. 229 da Constituição Estadual da Paraíba remonta a uma Emenda Constitucional apresentada pelo então Governador da Paraíba Dr. João Agripino Maia de Vasconcellos Filho (da então Arena), nos idos de 1969, em que as praias paraibanas foram reconhecidas como um bem de usufruto do povo. Com esse ato se vetou a construção de prédios com mais de dois pavimentos na orla marítima, proibição que se desdobrava em seguida em um escalonamento a partir de três pavimentos (FARIAS, 2005). Isto mostra que o processo de verticalização da orla marítima de João Pessoa vem desde a década de 60, embora o processo de urbanização ainda não fosse tão intenso. Posteriormente o Plano Diretor de 1992 reafirmou a proibição dos espigões e o controle por parte dos órgãos fiscalizadores. Mantêm-se no seu artigo 25 a restrição em relação à orla marítima a fim de cumprir o artigo 229 da Constituição Estadual bem como o artigo 175 da Lei Orgânica do Município de João Pessoa. Farias destaca que o Plano Diretor de 1992, construído na administração do Prefeito Carlos Mangueira (1991-1994), teve ampla participação da sociedade civil organizada da capital, garantindo então a atualização do pensamento urbanístico. Segundo ele a introdução de medidas de gestão urbana – como a criação das Zonas Especiais de Interesse Social – para fortalecer o combate às desigualdades sociais fez do Plano Diretor 74 pessoense um dos precursores, em nível nacional, na formulação de instrumentos legais que mais tarde seriam apresentados ao país através do Estatuto da Cidade. Então João Pessoa se destacava pela primeira vez, encarando as limitações do seu espaço urbano e de seus recursos naturais, procurando ordenar a política urbana a partir da rede de infraestrutura para a formulação e diagnose de uma densidade urbana estimada ideal em 150 hab/ha (FARIAS, 2006). Como foi dito anteriormente, na construção do Plano Diretor de 1992 houve ampla divulgação e participação de todos os segmentos sociais na elaboração do documento, contudo todo esse cuidado com a paisagem preservada, principalmente no que diz respeito à orla marítima da cidade, ficou apenas no plano do discurso de agentes políticos e econômicos. Nas últimas décadas o litoral de João Pessoa vem apresentando uma expansão urbana bastante significativa, que se expressa em parte pelo crescimento da população urbana na área. Este fato resultou não só no crescimento urbano do ponto de vista espacial, mas relativamente no processo de crescimento das atividades comerciais. No entanto, as explicações para esse fenômeno são várias, sendo o aspecto econômico, considerado aqui como sendo um dos mais significativos, portanto, o que mais se impõe. Como exemplo disso, o desenvolvimento da atividade turística na orla de João Pessoa, que embora tenha surgido nos anos 1980 está promovendo uma nova dinâmica no processo de produção sócio-espacial, de forma que, atualmente ele se configura como uma das mais importantes atividades econômicas da Paraíba, contribuindo para o avanço rápido dos setores de comércio e serviços, destacando-se também como fonte geradora de renda e empregos. A partir da expansão dessa atividade, houve uma reestruturação produtiva em todo setor litorâneo, pois é nesse espaço que a expansão turística se dá de forma mais intensiva, uma vez que os pilares dessa atividade são as paisagens naturais existentes em toda faixa costeira de João Pessoa. No entanto, atrelado ao turismo crescem as interferências humanas sobre o ambiente natural potencializadas por esta atividade. Assim paradoxalmente se o turismo traz benefícios econômicos, também provoca exclusões sociais, gera conflitos sócio-ambientais e acelera a degradação do 75 meio ambiente. Em João Pessoa o crescimento do turismo tem aumentado as pressões sobre paisagens naturais notáveis, a exemplo do que se vê nos recifes de Picãozinho (Figura 19). Figura 19: Atividade turística nos recifes de Picãozinho, João Pessoa, PB. Fotografia: Roberto Sassi, 2008. O turismo no Brasil surgiu como grande propulsor de desenvolvimento econômico e ganhou destaque, devido ao avanço da industrialização e das inovações tecnológicas. A idéia de progresso dessa atividade atrelada à noção de crescimento apresentou-se com potencialidades de viabilizar repercussões econômicas e benefícios sociais como geração de impostos, ofertas de bens e serviços, elevação de massa salarial, geração de empregos, entre outros. É importante ressaltar que a riqueza do turismo está na diversidade de caminhos para sua produção e apreensão, e nos conflitos e possibilidades de entendimento desse fenômeno. Ele é, a um só tempo, o lugar das estratégias para o capital e das resistências do cotidiano para os habitantes (CORIOLANO, 2005, p.368). Se em todo o mundo há inúmeras evidências de que as diversas atividades econômicas têm efeitos negativos, quanto ao turismo este contexto não é diferente. Trigo, diz que o turismo, como vetor da globalização, tem 76 difundido fielmente seus aspectos, principalmente a informalidade e a exclusão (TRIGO, 2005). Isto é evidente na atividade turística da orla marítima de João Pessoa, que aumenta dia-a-dia o setor informal do turismo, ficando claro que os ambulantes, nos meses de alta estação, conduzem sobre os ombros ou carrinho de mão todos os tipos de mercadorias, que vão desde roupas (maiôs, biquínis, cangas e etc.), bolsas, chapéus de palha e bonés, bijuterias, produtos artesanais, além de produtos alimentícios como sanduíches, picolés, sorvetes, espetinhos de carne e mais bebidas diversas, entre outra infinidade de produtos. E isto vem transformando o litoral pessoense, sob os olhares do poder público e da própria iniciativa privada, num verdadeiro mercado a céu aberto, estampando o lado negativo, mas também de reprodução social, do turismo na capital paraibana. Entretanto, é bom lembrarmos que o mercado informal faz parte desse novo momento vivenciado pelo capital, que se expressa através da flexibilização do mercado de trabalho em escala global (GOMES & SILVA, 2003). Apesar da importância crescente do turismo como fonte geradora de emprego e renda e indutora do dinamismo atual, é evidente a existência de vários problemas, que são direta ou indiretamente gerados e/ou agravados por tal dinamismo. Como ressalta Coriolano quando diz que compreender essa dinâmica significa entender as relações produtivas do espaço e o exercício de poder do Estado, das classes empresariais e trabalhadoras em movimento e conflito. O turismo, para se reproduzir, segue a lógica do capital, quando poucos se apropriam dos espaços e dos recursos neles contidos, apresentando-os como atrativos transformados em mercadorias (CORIOLANO, 2005, p. 299). Diante disso, o espaço físico litorâneo passa a ser estruturado a partir de sua organização, ou seja, é um produto social, onde os espaços são produzidos mediante as relações de força e poder. Por essas razões é que a moderna forma de ocupação do litoral, particularmente, vem gerando conflitos principalmente pela população de baixa renda, que é “convidada” a deixar seu lugar de origem para habitar áreas 77 distantes do litoral, áreas essas, diga-se de passagem, sem infraestrutura adequada e sem condições de moradia, lugares únicos de possibilidades de abrigo. Sendo que são esses pobres que criam opções de espaços de uso e que “cedem” as forças de mercado, quando são expropriados do seu lugar para dar origem aos grandes resorts, as cadeias hoteleiras, aos restaurantes e demais serviços turísticos. Ainda de acordo com Coriolano (op. cit., p. 300) nessa produção espacial, faz-se necessário considerar a luta dos diferentes atores locais, os incluídos e os excluídos; os nativos usuários do espaço litorâneo que tentam defender suas propriedades, ou bens de uso, contrapondo-se aos interesses dos empresários, dos agentes imobiliários e do próprio Estado. Enfim, as populações moradoras dessas áreas suportam uma luta de resistência diária para permanecer nesses lugares, muito embora o avanço da especulação imobiliária, que tem o Estado como indutor de investimentos e da infraestrutura implantada, induzam a retirada desses indesejados para que esses lugares sejam direcionados ao turismo, ao lazer e à moradia das classes mais favorecidas, enquanto os primeiros são expulsos para áreas periféricas da Grande João Pessoa. A modernização imposta pela reestruturação produtiva, sob influência do Estado, faz com que a orla marítima de João Pessoa, principalmente, passe por novos usos e apropriações. 5.1.2- Processo de ocupação do Litoral Sul O trecho correspondente ao litoral sul representava uma larga banda de terra praticamente desocupada nas décadas anteriores a 1980 e nesse mesmo período poucas pessoas frequentavam as praias dessa parte do município, devido à escassez de vias de acesso. As terras tinham pouco valor de mercado e os moradores das comunidades aí residentes viviam principalmente da pesca e da agricultura de subsistência. As principais alterações percebidas nesta área tem ocorrido praticamente nas últimas décadas, apresentando hoje, uma tendência horizontal no processo de ocupação do solo, devido aos diversos condomínios 78 residenciais fechados instalados, diferente do litoral norte, que se destaca por um crescimento urbano vertical. Como mencionado anteriormente, a expansão urbana no litoral sul se dá efetivamente a partir dos anos de 1980. Isto ocorre devido a diversos fatores, entre eles a implantação da política dos conjuntos habitacionais populares, que foram construídos para atender a demanda da população de baixo poder aquisitivo de João Pessoa. A construção dos conjuntos habitacionais modificou a malha urbana da cidade, influenciando na estratificação do uso do solo de acordo com o nível de renda de seus habitantes. Contribuiu assim para expulsar os moradores de baixa renda para a periferia. É importante frisar que o Estado teve um papel muito importante no processo de expansão urbana que ocorreu (e ocorre) nesta área. Um exemplo disso foi a implementação das políticas públicas para o turismo no nordeste brasileiro através do Programa de Ação para o Desenvolvimento do Nordeste (PRODETUR-NE), que durante o segundo mandato do governador Tarcisio Burity (1987-1991) iniciou a construção da infraestrutura do “Complexo Turístico Costa do Sol”, instalado no litoral sul de João Pessoa. Moura & Garcia ressaltaram que tal projeto seguiu uma tendência regional das décadas de 1970 e 1980, e que o projeto Costa do Sol se encaixava na política dos megaprojetos, tendo sido inspirado no modelo da “indústria turística”, implementado anteriormente em Cancun no México, e que esse modelo de política tinha como principal característica o estado como idealizador, empreendedor e financiador do projeto. Segundo as autoras, um dos objetivos propostos do referido projeto era buscar alternativas para o desenvolvimento socioeconômico da região, a fim de aproveitar as potencialidades naturais existentes nessa área (MOURA & GARCIA, 2008). No final da década de 1980 o projeto do Pólo Turístico Costa do Sol, atualmente denominado de Projeto Turístico Cabo Branco, começa a ser implantado em sua 1ª etapa, que era composta da infraestrutura básica (abastecimento de água, esgotamento sanitário e a construção das vias de acesso ao pólo). Na segunda etapa estavam previstas ações de proteção e recuperação ambiental, antecedendo inclusive a implantação dos diversos equipamentos propostos para a área. 79 O espaço previsto para a instalação do pólo ocupa uma área de aproximadamente 654 ha, distribuídos entre hotéis, setores comerciais, de serviços, institucional, esportivo, de eventos e de animação turística. Além de três setores destinados a residências de veraneio e outros três setores considerados áreas especiais de preservação permanente, localizados na desembocadura dos rios Aratú, Jacarapé e Cuiá (PEDROSA, 1999; BARBOSA, 2005). Segundo Pedrosa (1999), foi realizado o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) em março de 1989 para o primeiro projeto proposto, o qual descreve os possíveis efeitos ambientais sobre os ecossistemas locais; neste estudo é feita uma previsão de prováveis acidentes durante a implantação do projeto; e são propostos programas ambientais (diretrizes políticas, estabilização de vertentes e proteção ao solo, planificação e preservação ambiental, manejo de bacia hidrográfica, manejo do solo e controle de erosão nas estradas). Embora tenha sido realizado o EIA/RIMA para a área do Complexo Turístico Costa do Sol, o estudo não foi submetido à audiência pública (Rocha, 2003). Mesmo assim, foi concedida em 13 de julho de 1989 a Licença Prévia nº. 069/89 para que fossem iniciadas as obras do Pólo, que tomou como base o EIA/RIMA em questão. Durante a fase inicial do projeto entre os anos de 1988 e 1991, as primeiras obras executadas foram a implantação do esgotamento sanitário e da malha viária. Pedrosa (1999) ressalta que a experiência adquirida na fase inicial do Pólo Turístico, durante a implantação das vias de acesso, demonstra claramente a necessidade de se promover a harmonia entre as ações antrópicas e a natureza. Naquela época, foram registradas pelo antigo IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal) e, posteriormente, pelo IBAMA, intervenções ambientais (desmate de resquícios da Mata Atlântica, desmonte de falésias, aterro de mangue e corte de vegetação, em áreas de preservação permanente), cuja intensidade provocou o embargo da obra. O Pólo Turístico Costa do Sol foi embargado em 1992, numa ação judicial movida por ambientalistas devido a remoção da vegetação de Mata Atlântica nas proximidades do rio Jacarapé e a remoção de terra em área de empréstimo para a elevação do trecho da rodovia que corta o referido rio (Figura 20). Ainda de acordo com Pedrosa (1999) esse embargo foi suspenso, 80 condicionalmente, em 1996, após a apresentação de um Plano de Recuperação de Áreas Degradadas, no qual ficou estabelecido o compromisso de recuperação dessas áreas. Na verdade pouco foi feito em relação a essas áreas, pois o que de fato aconteceu foi uma tentativa frustrada de recuperação PB-008 da vegetação com o plantio de cajueiros. Figura 20: Área desmatada (círculo vermelho) para empréstimo de material usado na elevação do trecho da rodovia que corta o rio Jacarapé e que foi motivo de embargo da obra pelo IBAMA. Fonte: Google Earth, 2009. A construção da via de acesso ao Pólo Turístico, que é a Rodovia Estadual PB-008, acarretou sérios danos ambientais aos recursos naturais da região, o principal deles foi a alteração nos cursos dos rios Aratú e Jacarapé, bem como o barramento parcial dos mesmos. Além disso, a PB-008 contribuiu para o acelerado processo de valorização de todo o litoral sul, aumentando assim, a especulação imobiliária na área (Figura 21), e incrementando a degradação ambiental da área, ocupada pelo último remanescente de Mata Atlântica costeira do estado da Paraíba. 81 Figura 21: Vista aérea da PB-008 como fator condicionante na ocupação do Parque de Jacarapé. Fonte: Governo do Estado da Paraíba apud Moura & Garcia (2007). Para facilitar o acesso ao Litoral Sul, foram implantadas importantes vias de acesso além da referida PB-008 (denominada de Ministro Abelardo Jurema), como por exemplo, a Avenida João Cyrilo da Silva (Panorâmica), a Avenida João Crisóstomo Ribeiro Coutinho, e a pavimentação da Antiga Estrada da Penha, denominada atualmente de Avenida Hilton Souto Maior, todas com o intuito de promover melhor o turismo na região (Figura 22). Figura 22: Avenida Hilton Souto Maior, acesso facilitado para a praia da Penha. Fotografia: Lenygia M. F. A. Morais (2007). 82 Moura & Garcia (2007) enfatizam que ao invés de favorecer o desenvolvimento de uma atividade turística que viesse a servir como forma de desenvolvimento sustentável, os acessos serviram para acelerar a especulação imobiliária nos municípios do litoral sul, como Conde e Pitimbu, levando as praias locais a um crescimento desordenado e sem nenhum planejamento, e potencializando a degradação acelerada do meio ambiente, como jamais visto. Além disso, as autoras destacam que a região sofre com a grande deficiência nos serviços urbanos básicos, como coleta de lixo, limpeza, arborização, manutenção das vias, abastecimento de água, esgotamento sanitário, entre outros. Tudo isso mostra mais uma vez que o processo de ocupação do litoral sul de João Pessoa iniciou-se efetivamente com a implantação do Pólo Turístico Costa do Sol, e teve o Estado como principal agente modificador, através da construção de infra-estrutura para a ocupação (referindo-se aqui as vias de acesso) e supervalorização dos espaços. Apesar de muitas discussões e polêmicas acerca do pólo Turístico, na realidade ele não chegou a ser completamente implementado. Segundo Leandro (2006), o embargo ambiental, a descontinuidade das administrações públicas e a dificuldade de contrapartida financeira do Estado para a retomada das obras, provocaram a estagnação do Projeto. A propósito, outro fato que tem proporcionado a ocorrência de agressões ambientais no litoral sul é o aumento do contingente populacional que vem degradando os ecossistemas locais, ocasionando uma série de conflitos de uso, que variam entre o desenvolvimento econômico, proteção ambiental e manejo dos recursos naturais (ROCHA, 2003). Outro ponto desfavorável observado no processo de ocupação da área nos últimos anos é a incorporação de novas áreas à malha urbana com a construção dos bairros de Mangabeira e Cidade Verde, pressionando acentuadamente os ecossistemas litorâneos de João Pessoa, particularmente o remanescente florestal de Mata Atlântica que existe na área (Figura 23). Como dito anteriormente, o crescimento da área urbana de João Pessoa em direção ao litoral sul, vem incorporando novas áreas, atraindo investimentos e serviços, e, como consequência disso, amplia-se as desigualdades sociais e a degradação dos ambientes naturais. Com isso, a população de baixa renda 83 vai sendo "empurrada" para outras áreas periféricas (ocupando novos espaços) por não dispor de capital ou de posse das terras, apesar de muitos trabalharem e morarem nela há anos. Figura 23: Pressões decorrentes da expansão urbana sobre os remanescentes florestais de Mata Atlântica (círculo vermelho) no bairro de Mangabeira, João Pessoa, PB. Fonte: Google Earth. Acesso em Fev/2009. Segundo Silva (2006) em um estudo realizado na Comunidade de Nossa Senhora da Penha, é notável a presença de um novo padrão de segregação denominado de enclaves fortificados (que é inspirado no modelo americano que privilegia a privatização dos espaços públicos) como as associações de lazer, loteamentos e condomínios residenciais fechados e o Pólo Turístico Cabo Branco (denominado anteriormente Costa do Sol). A difusão dos condomínios fechados ou “enclaves fortificados” como opção de moradia está relacionada à propagação no seio da sociedade de uma cultura do medo por parte dos meios de comunicação. Dentro desse contexto, os agentes imobiliários usam a imagem de uma sociedade cada vez mais violenta para vender seus empreendimentos; outro motivo que não aparece implicitamente é a questão de se morar em um ambiente dedicado somente às classes de alto poder aquisitivo. Neste sentido, se busca uma vivência em espaços socialmente homogêneos que não são acessíveis para “qualquer um” (TAVARES & ARAÚJO, 2008). 84 Barbosa (2005) ressalta que a introdução dos condomínios fechados horizontais em João Pessoa se configura um produto imobiliário recente, e que foi a partir do lançamento do Cabo Branco Residense Prive, em 1998, que, de certo modo, os moradores e o mercado imobiliário local começaram a se voltar para essa tipologia de habitat humano, apesar de já existir um condomínio desse tipo implantado na década de 1980, que é Village Atlântico Sul, localizado na praia do Seixas (Figura 24). Figura 24: Condomínio Village Atlântico Sul, primeiro condomínio horizontal implantado no litoral sul. Fotografia: Lenygia M. F. A. Morais (2009). Vale ressaltar que esses condomínios horizontais fechados se configuram como um novo modelo no processo de ocupação da cidade de João Pessoa. Traduzido em novas formas de morar, esses condomínios horizontais fechados, começaram a se difundir como opção de moradia para as classes de médio e alto poder aquisitivo, produzindo alterações na malha urbana da cidade, ocasionando a expansão e o parcelamento da terra, bem como novos estilos de vida, novos valores e práticas sócio-espaciais, que tem como principal consequência a auto-segregação das populações dessas classes sociais mais abastadas. Esses condomínios se destacam por possuir residências unifamiliares com grandes áreas verdes e de lazer exclusivas, como playgrounds, piscinas, quadra de tênis, campo de futebol e etc, além de segurança privada, e ainda são rodeadas ou “protegidas” por grandes muros. Eles também não possuem 85 um desenho uniforme, isto é, as residências não seguem um padrão e possuem uma arquitetura individualizada, embora que, para cada condomínio existam as regras estabelecidas para as edificações. De fato, esses novos empreendimentos urbanos são construídos e/ou vendidos com o intuito de garantir a segurança de seus moradores e prevenir a entrada de pessoas desconhecidas ou indesejadas. Dentro deste contexto, percebemos que a proliferação dessas edificações está de certa forma atrelada ao aumento da violência produzido nas grandes cidades. No litoral sul de João Pessoa, no final dos anos 1990, podemos observar o aparecimento dos condomínios fechados propriamente ditos, como a construção do Cabo Branco Residence Privê (1998), o Residencial Alphavillage, (2001), o Porta do Sol Residence (2006), o Bougainville Residence Privê (2006), e mais dois novos condomínios, o Villas do Farol Residence que está sendo implantado na área do antigo Hotel Nazareno e o Extremo Oriental (Figura 25). a b Figura 25: Os novos condomínios horizontais que vem sendo implantados no litoral sul: Extremo Oriental, que tem na sua fachada um convite ao “paraíso” (a), e Villas do Farol Residence (b), ambos em fase de acabamento. Fotografia: Lenygia M. F. A. Morais (2009). O aumento do interesse do pessoense por esse tipo de moradia tem atraído a atenção de vários empreendedores, tanto da região, como de todo o país. Também não se pode esquecer que isso decorre em grande parte ao marketing e ao discurso sensacionalista dos agentes imobiliários que através de propagandas vendem a idéia de se morar em casas luxuosas, cercadas com áreas verdes e que ainda são “protegidas” contra a violência urbana. 86 A presença desses condomínios no litoral de João Pessoa deriva numa significativa alteração na composição social e econômica desta parte da cidade, além do que esse padrão de crescimento também contribui para a valorização dos terrenos empreendimentos, vagos estimulando localizados sobremaneira as no entorno práticas desses especulativas (BARBOSA, 2005). Outro empreendimento que esta dando um novo impulso na expansão urbana do litoral sul, é a Estação Ciência, Cultura e Artes, projetada por Oscar Niemeyer. O complexo possui uma área de mais de 5.000 m², e foi inaugurada em julho de 2008. As imediações da área onde está implantada a Estação Ciência vêm passando por acentuado processo de transformação, em relação ao uso e ocupação do solo que provavelmente intensificará a implantação dos condomínios fechados de alto padrão. Segundo Ortegosa (2005) o que parece estar se esboçando na cidade de João Pessoa é uma nova fórmula de gestão urbana, conhecida como planejamento estratégico, que procura pensar a cidade como empresa, utilizando-se de estratégias de marketing cultural. A autora ressalta que essa nova modalidade de urbanismo vem substituindo os planos voltados para a totalidade do território urbano, mediante uma seletividade dos lugares que recebem os investimentos públicos ou privados, de acordo com o valor estratégico que esses lugares possuam na promoção da imagem exterior da cidade. No mundo inteiro, nos lugares aonde essa nova fórmula de planejamento, invariavelmente de origem norte-americana, desencadeiam-se os vem sendo mecanismos de implementada, gentrification (gentrificação), ou seja, modificação do perfil sócio-cultural dessas áreas, com a exclusão da população de renda mais baixa e a sua substituição pelas classes média e alta. Verifica-se, também, uma forte correlação entre os interesses de setores ligados ao capital imobiliário e os investimentos públicos canalizados para esses locais (ORTEGOSA, op. cit.). Se a bela paisagem natural da orla marítima de João Pessoa se constitui como um bem turístico e de uso coletivo, é competência do Estado realizar todas as funções básicas para garantir uma legislação bem aplicada e associada à correta fiscalização da implantação desses equipamentos, que em 87 todo caso poderiam evitar o comprometimento do patrimônio ambiental existente, favorecendo também uma unidade de direito pra todos, realizando assim os desejos e anseios de toda a população. Mas, infelizmente o que se vê em toda área do litoral pessoense é justamente o contrário, pois os objetivos propostos pela legislação local tem se apresentado de forma incompatível com a realidade vista nesta área. Historicamente, ao longo de todo o processo de urbanização de João Pessoa, nunca existiu de fato uma preocupação com o ambiente natural e muito menos com a qualidade de vida dos habitantes. Enfim, hoje os espaços livres e/ou naturais no litoral de João Pessoa estão diminuindo, ficando praticamente restritos ao litoral sul, onde o que está sendo valorizado não é só a zona de praia, mas também todo o seu entorno, ocupando inclusive os ecossistemas costeiros como falésias, estuários, manguezais, áreas remanescentes de Mata Atlântica, entre outros, resultando em impactos ambientais irreversíveis, muitos dos quais relatados a seguir. 88 5.2 - Os impactos antrópicos decorrentes da expansão urbana no litoral de João Pessoa e suas consequências sobre a qualidade ambiental O crescimento rápido e sem planejamento das cidades constitui uma preocupação visto que a urbanização acelerada apresenta diversos efeitos negativos sobre o meio ambiente, trazendo a reboque a valorização do solo urbano, a concorrência acirrada pelo trabalho, a desigualdade de renda, a violência urbana, a segregação sócio-espacial, entre outros, sem contar que a tendência é a de ocupação das melhores áreas pelas classes média e alta, ficando para a camada de menor poder aquisitivo as áreas periféricas, usualmente de baixo valor imobiliário, e muitas vezes propensas a riscos ambientais. O processo de uso e ocupação do espaço litorâneo, feito sem planejamento como usualmente tem acontecido na zona costeira do Brasil, resulta em degradação e perda de qualidade ambiental das praias, dos rios, dos estuários, dos manguezais, dos remanescentes florestais, e demais ecossistemas. Na faixa litorânea de João Pessoa, objeto deste estudo, o processo de urbanização e a expansão das atividades econômicas ocorreram historicamente de forma predatória e irracional, resultando em diversos problemas ambientais e sociais, e sua origem remonta à década de 1960 com a política de construção dos conjuntos habitacionais populares, e com a abertura de novas vias de acesso para o litoral. Tal ocupação resultou em sérias consequências ecológicas e econômicas, com supressão de ambientes naturais notáveis e de espécies nativas da flora e da fauna, que perderam a capacidade de reposição de seus estoques, e que hoje se acham fortemente ameaçadas, com riscos de serem extintas, pelo menos em nível local. No trecho considerado neste trabalho evidencia-se que em 1969 a ocupação urbana concentrava-se no litoral norte. A área ocupada era de aproximadamente 7,6% do total estudado, sendo que o litoral sul, com exceção do pequeno núcleo de Nossa Senhora da Penha, era completamente desabitado (Figura 26). Já em 1985 esse percentual sobe para 21,38%, e nesse período o processo de urbanização inicia-se também no extremo sul do município, próximo ao rio Gramame (Figura 27). Em 2005, a área ocupada do 89 litoral alcança a cifra de 35,5% da área total estudada; o litoral norte já se acha totalmente ocupado e no litoral sul indica-se um processo de ocupação difuso e sem nenhum planejamento, que avança vorazmente sobre os ambienteis naturais que restam (Figura 28). Remanescentes Naturais UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – UFPB PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA DISSERTAÇÃO: EXPANSÃO URBANA E QUALIDADE AMBIENTAL NO LITORAL DE JOÃO PESSOA/PB MESTRANDA: MORAIS LENYGIA MARIA FORMIGA ORIENTADORES: DR. ROBERTO SASSI DR. EDUARDO R. V. DE LIMA Figura 26. Mapa da área urbana do litoral de João Pessoa no ano de 1969. Fonte: Fotografias aéreas. Base Cartográfica: SUDENE (1969). A. 90 Remanescentes Naturais UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – UFPB PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA DISSERTAÇÃO: EXPANSÃO URBANA E QUALIDADE AMBIENTAL NO LITORAL DE JOÃO PESSOA/PB MESTRANDA: MORAIS LENYGIA MARIA FORMIGA ORIENTADORES: DR. ROBERTO SASSI DR. EDUARDO R. V. DE LIMA Figura 27. Área urbana do litoral de João Pessoa no ano de 1985. Fonte: Fotografia aérea. Base Cartográfica: TERRAFOTO (1985) A. 91 Remanescentes Naturais UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – UFPB PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA DISSERTAÇÃO: EXPANSÃO URBANA E QUALIDADE AMBIENTAL NO LITORAL DE JOÃO PESSOA/PB MESTRANDA: LENYGIA MARIA FORMIGA A. MORAIS ORIENTADORES: DR. ROBERTO SASSI DR. EDUARDO R. V. DE LIMA Figura 28. Área urbana do litoral de João Pessoa no ano de 2005. Fonte: Imagem de satélite Quik Bird. Cedida pela PMJP/PB (2005). O crescimento urbano leva muitas vezes ao esgotamento dos recursos naturais, perda de mananciais, e a contaminação dos corpos hídricos por substâncias tóxicas, como efluentes industriais e resíduos domésticos, que muitas vezes são lançados in natura e sem devido tratamento no ambiente, trazendo sérios riscos à saúde pública, alterando as condições de 92 balneabilidade e potabilidade dessas águas, provocando eutrofização, reduzindo a produtividade natural, com prejuízos à pesca, mudando o aspecto estético com prejuízos à recreação e ao turismo, sem contar com os efeitos diretos deletérios sobre a biodiversidade. Tais indicadores usualmente se originam devido à falta de planejamento na construção das cidades, de maneira que cabe ao poder público e aos tomadores de decisão tal responsabilidade. Da forma como a expansão urbana tem acontecido na cidade de João Pessoa, claramente se observa que a falta de planejamento ambiental foi uma constante, e a preocupação com a qualidade do meio ambiente, mínima. Nos últimos 35 anos, aproximadamente, a área construída pulou de 3,57 km2 para 16,80 km2, e a área natural convertida pela ocupação urbana passou de 7,6% para 35,5% dos 47 km2 que foram estabelecidos como área de estudo (Tabela 02). Graficamente podemos evidenciar que a velocidade de conversão do ambiente natural em ambiente construído vem acontecendo de forma muito rápida (Figura 29). Tabela 02 – Evolução urbana de João Pessoa no período de 1969 a 2005. Ano Área Total Área Construída % da área convertida 1969 47 km² 3,57 km² 7,60 1985 47 km² 10,05 km² 21,38 2005 47 km² 16,80 km² 35,50 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Área natural remanescente 1969 1985 área remanescente (km2) % de área convertida Área natural convertida 2005 Anos Figura 29. Conversão do ambiente natural em área urbana no litoral de João Pessoa no período de 1969 a 2005. 93 A conversão do patrimônio natural em espaço urbano é hoje acentuada no litoral sul, visto que no litoral norte quase nenhum espaço natural há mais para ser convertido (Figura 30). Figura 30. Mapa de uso e ocupação do litoral de João Pessoa/PB. Fonte: Imagem de satélite Quik Bird. Cedida pela PMJP/PB (2005). 94 É evidente, portanto, que a pressão urbana sobre a cobertura vegetal remanescente é intensa, acontecendo de forma difusa, predatória, inadequada, e sem planejamento, de maneira que as perdas de qualidade ambiental são evidentes. A cidade cresce de forma insustentável do ponto de vista ecológico, e os prejuízos ambientais dessa forma de ocupação dos espaços são inevitáveis e irreversíveis. Da maneira como vem acontecendo tal processo não se pode pensar em sustentabilidade futura, não havendo como reverter esse quadro sem decisão e vontade política. Distribuindo-se os 47 km² da área delimitada para estudo entre os diferentes tipos de ocupação, a zona urbana é a que mais se destaca, seguida por remanescentes florestais arbóreos e vegetação herbáceo-arbustiva, que são os mais pressionados atualmente pela expansão urbana. Chama a atenção, a extensa área de loteamentos e solo exposto, que atinge a cifra de 4,32 km2 (Tabela 3). Tabela 03 – Diferentes classes de ocupação do litoral de João Pessoa no ano de 2005. Classes Km² Vegetação arbórea 11,48 Área Urbana 16,80 Loteamentos 3,25 Mangue 2,55 Veg. Herbáceo-arbustiva 10,20 Solo Exposto 1,07 Culturas Diversas 1,00 As principais transformações que estão ocorrendo no litoral de João Pessoa devido ao processo de expansão da cidade serão apresentadas a seguir. Como se verá, tal processo é responsável pela descaracterização do meio físico e biológico com consequências também para a vida humana, e como não existem políticas de controle ocupacional destes espaços litorâneos, e nem preocupações com melhoria dos serviços urbanos básicos, compromete-se cada vez mais a qualidade de vida da população. Urge, 95 portanto, que esses dados sejam levantados, apresentados e discutidos, e que tal avaliação possa ser útil a propósitos futuros de melhoria de qualidade ambiental do litoral da cidade, e de gestão sustentável das áreas naturais remanescentes. 5.2.1 – Litoral Norte O litoral Norte já se encontra quase que totalmente urbanizado, de maneira que merece atenção as áreas mais frágeis e vulneráveis, particularmente o vale do rio Jaguaribe, algumas áreas úmidas da planície do Bessa, as praias, o fragmento florestal que reveste a falésia morta do Cabo Branco, e a extensão de terra voltada para o vale do rio Timbó. O rio Jaguaribe, entretanto, é a área mais contrastante, visto que no setor estudado vem sendo fortemente pressionada, de um lado por grandes empreendimentos econômicos, como o Manaíra Shopping Center, e por outro por moradores de baixo poder aquisitivo que invadiram as suas margens e as encostas íngremes, fundos de vale e área de mangue, formando os assentamentos subnormais como a favela São José e o assentamento que existe por traz do Motel Andorra no Bairro Jardim América. Tais ocupações retratam muito bem a realidade ambiental do litoral Norte. As áreas ocupadas, todas legalmente protegidas, constituem áreas de preservação permanente, entretanto são disputadas por pobres e por ricos (Figura 31). Os primeiros são os excluídos, que vivem à margem da sociedade e invadem essas áreas por serem elas os últimos redutos que encontram para viver; a invasão pelos últimos, os ricos, se dá para que eles possam expandir os seus lucros e ficarem mais ricos: as duas faces de uma mesma moeda, como diz o escritor Tom Thomaz (2003), no seu livro Ecologia do Absurdo. 96 Figura 31. Ocupação do Rio Jaguaribe mostrando o contraste: na margem direita a Favela do São José e do outro lado ao fundo, o Shopping Manaíra. Fotografia: Lenygia Maria Formiga A. Morais (Jul/2009). O rio Jaguaribe tem suas nascentes no Conjunto Esplanada (Lemos, 2005), na cota entre 25 e 30 metros de altitude, de onde desce drenando terrenos da Formação Barreiras e da Planície Costeira, sobre os quais sua calha está situada. Sua desembocadura situava-se no Maceió de Intermares, mas na década de 1920 ele teve seu curso desviado para o rio Mandacaru, na altura do Manaíra Shopping Center, como uma medida política para drenar a planície do Bessa e minimizar problemas com o impaludismo que afetava a região na época. Nessa parte, o antigo rio Jaguaribe corta a Restinga de Cabedelo e sua calha ainda se constitui no principal sistema de drenagem da planície do Bessa. As poucas superfícies livres situadas nas cotas mais elevadas que encontramos ao longo do seu antigo leito, e que ainda não foram ocupadas pela expansão urbana, são recobertas ou por vegetação herbácea (na sua maior parte) ou, em raros locais, por exemplares da vegetação de restinga que existia na área, além de algumas poucas e inexpressivas áreas alagadas de água doce (paul), que ocupam particularmente algumas porções da calha fluvial. Na sua desembocadura encontramos um bosque de mangue aparentemente robusto, mas que, no entanto, se acha fortemente impactado 97 por pressões antrópicas múltiplas, conforme demonstraram Alves e Sassi (2003). O rio Jaguaribe é o principal rio urbano de João Pessoa, visto que corta diversos bairros importantes da cidade como: Jaguaribe, Manaíra e Bessa. Mas em todo seu curso vem sofrendo diversas interferências humanas (LEMOS, 2005), desde o início deste século quando foi desviado (MARIANO NETO, 2004). Lima (2004), em um estudo realizado na favela do São José (que parcialmente faz parte desta pesquisa), afirma que os moradores locais isentos de conhecimento técnico e muito menos ambiental, são responsáveis pela contaminação do rio devido ao lançamento de lixo e esgotos, que, por sua vez, contribuem para que se alastrarem os casos de doenças de veiculação hídrica. Entretanto, consultando o processo jurídico do Manaíra Shopping Center, constatamos que há evidências de que este empreendimento também lança esgotos e resíduos no rio Jaguaribe, maximizando assim os impactos. Lima (op. cit.) ressalta ainda que o bairro São José, que se acha situado às margens do rio Jaguaribe, possui um dos piores indicadores sócioambientais e urbanos da cidade de João Pessoa e do mundo. Segundo ele o Índice de Qualidade de Vida Urbana (IQVU) do bairro é de 0,37 e o IQVU de Manaíra, seu vizinho, é de 0,798, ressaltando-se que o valor máximo desse indice é um. O Índice de Salubridade Ambiental (ISA) do referido bairro é de 39,19, ressaltando-se que apenas acima de 50 é considerado satisfatório. A ocupação de áreas indevidas, somada à impermeabilização do solo devido à expansão urbana, conspiram contra a drenagem natural, visto que parte das chuvas que se infiltrariam no solo escoam para as cotas mais baixas dos terrenos resultando nas enchentes. A retirada da vegetação natural que atua como agente supressor da ação erosiva pluvial faz com que se amplifique o escoamento superficial e as cheias são inevitáveis, trazendo tanto prejuízos sociais como econômicos (Figura 32). 98 b a Figura 32. Cheia do rio Jaguaribe ocorrida em 17/06/03: (a) ruas e casas alagadas; (b) sedimento acumulado logo após a enchente, causando transtornos a população. Fontes: Marco Antonio Suassuna Lima, 2004 (a) e Jornal da Paraíba apud Sobreira, 2008.(b). A disposição dos resíduos sólidos ao longo do rio é fato comum e se dá de forma difusa na área. Tal ação forma verdadeiros lixões nas suas margens distribuindo-se também por toda área de drenagem da bacia hidrográfica, particularmente ao longo da calha e em terrenos baldios marginais, intensificando a degradação ambiental (Figura 33). Figura 33. Vista geral de trecho do rio Jaguaribe evidenciando em primeiro plano lixo disposto na margem, em segundo plano a água poluída e ao fundo habitações construídas irregularmente. Fotografia: Lenygia Maria Formiga A. Morais (Jul/2009). 99 Grande quantidade de lixo e detritos depositados ao longo do rio são transportados para as praias, sujando ou contaminando a água e trazendo riscos adicionais aos homens e à fauna. Ressalta-se, porém, que a Prefeitura Municipal de João Pessoa em parceria com o Governo Federal iniciou neste ano o plano de Revitalização do rio Jaguaribe, e entre as ações desse projeto destacam-se a proteção de áreas de risco, pavimentação de ruas, relocação de moradias e dragagem do rio. Ordenar espacialmente o rio Jaguaribe, requer providências de recuperação e preservação naturais, provisão de serviços infra-estruturais e melhoria da qualidade de vida das famílias que devem ser relocadas das áreas de risco ao longo da várzea do rio, para novas habitações de interesse social. Segundo a Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMPJ), a limpeza do rio Jaguaribe pela Equipe de Operações Especiais da Prefeitura começou em março desse ano e até agora retirou 800 toneladas de lixo jogado indevidamente pela população em apenas 800 metros de rio (Figura 34). Figura 34. Trabalhadores fazendo a limpeza do rio Jaguaribe, como parte da obras de revitalização da PMJP. Fonte: Babel das artes. Disponível em: http://babeldasartes.wordpress.com/. Acesso em 20/02/2009. O caminho do rio em direção ao mar nos faz refletir como poderia ser diferente se tivesse havido planejamento e respeito às leis ambientais. Como já 100 dito, invasões do seu leito são comuns, por pobres e ricos. O Manaíra Shopping Center é talvez o pior exemplo, visto que as obras do estacionamento, e mais recentemente de sua expansão, avançaram sobre áreas públicas, invadindo os 30 metros de margens previstos pela Lei nº 7.511 de 1986. Houve supressão da vegetação marginal e canalização do rio, resultando essas ações num processo jurídico que tramitou na 3ª Varal Cível da Capital, e que, infelizmente foi arquivado, demonstrando o poder do capital sobre os interesses públicos. Seguindo o rio, vamos encontrar grandes empreendimentos empresariais nas suas margens, a exemplo do Hiper Bompreço e do Carrefour, mas estes foram construídos com licenciamentos ambientais correto. Entretanto, o condomínio Valparaíso, localizado mais adiante, também ocupa áreas públicas, e a partir daí observa-se um fato curioso: a mudança de direção no fluxo hídrico, provavelmente provocada pelas inúmeras obras e aterramentos do antigo leito do rio Jaguaribe. Dessa parte para o norte, o fluxo das águas orienta-se em direção ao mar, mas daí para o sul retorna contrariamente a direção de seu antigo curso, orientando-se para o sul. Nas proximidades do Motel Andorra, a calha do rio se acha quase que totalmente ocupada por moradores que pressionam também o bosque de mangue de Intermares, seja pela retirada de madeira e lenha, seja por lançamento de esgotos e lixo. Alves & Sassi (2003), além de outros impactos constatados, contaram cerca de 1600 cortes de árvores/ha nesse manguezal, e mostraram que em uma única árvore podia ocorrer até 65 cortes que sucessivamente rebrotava. Paradoxalmente, esse mesmo mangue que vem sendo exaustivamente degradado, também é fonte de energia e alimento para muitos habitantes locais, que além de retirarem a madeira, também pescam na área, que ao mesmo tempo é um refúgio e zona de procriação de inúmeras espécies animais. Outra área que merece destaque é a lagoa do aeroclube, por detrás do Hiper Bompreço, um ecossistema de charco de 7,69 hectares, colonizado por gramíneas e ciperáceas dos gêneros Thypha e Eliocharis, típicos de áreas alagadas e sujeitos a um hidroperíodo sazonal (Figura 35). Na verdade vemos aqui um bom exemplo de impacto positivo, onde a natureza trabalhou contrariamente aos interesses do homem, visto que esta lagoa foi formada 101 como consequência da retirada de areia para construção civil em épocas passadas. Figura 35. Imagens fotográficas da “Lagoa” do Aeroclube, evidenciando distintos aspectos de um ecossistema típico de áreas úmidas. Cotas mais baixas do terreno colonizadas por juncos e plantas aquáticas diversas, e nas porções mais elevadas, árvores e arbustos diversos. Fotografia: R. Sassi, Dezembro de 2008. A área é particular, e o dono do terreno disputa hoje na justiça o direito de aterrar a área para usufruir do seu direito de propriedade. Entretanto, por denúncia da APAN (Associação Paraíba dos Amigos da Natureza), iniciou-se um processo jurídico que se arrasta hoje no Ministério Público junto à 2ª Vara da Família da Capital (Ação Civil Pública 200.1999.045.725-7), visto que o dono do terreno deu início, por sua própria conta, ao aterramento da lagoa, sem a devida autorização, e nas áreas mais elevadas do terreno que recebeu aterro desenvolveu-se um pequeno bosque de árvores e arbustos. O caso é polêmico, entretanto, a vida se manifesta no local com toda sua plenitude. Não se trata, portanto, de um charco infecto, cheio de mosquitos, mas de um típico 102 ecossistema estabilizado do ponto de vista limnológico/biológico, colonizado por inúmeras espécies vegetais, que serve como área de refúgio, procriação e alimentação de inúmeras espécies animais, inclusive aves aquáticas. A propósito, charcos, pântanos, manguezais, turfas, brejos e similares foram incluídos como áreas prioritárias de preservação pela Convenção de Ramsar, uma reunião internacional realizada em 2 de fevereiro de 1971 no Irã, da qual o Brasil participou e é signatário. Os termos da referida convenção tratam da cooperação internacional visando a conservação de zonas úmidas e de aves aquáticas, sendo que para efeito da referida convenção aves aquáticas são considerados todos aqueles pássaros ecologicamente dependentes de zonas úmidas. No Brasil a Convenção foi aprovada pelo Decreto Legislativo nº 033, de 16 de junho de 1992 e promulgada pelo Decreto nº 1.905, de 16 de maio de 1996. A solução, portanto, para a área, não seria aterrá-la, mas sim manter a integridade do ecossistema adequando-a também aos interesses públicos, construindo, por exemplo, uma praça nas porções elevadas do terreno e em seu entorno, e mantendo a lagoa como tal. Na praia do Bessa, do Maceió de Intermares ao sul, encontra-se uma área de elevada relevância ecológica por ser zona de desova da tartaruga marinha. Entretanto, essa área vem sendo ocupada por diversas barracas, sendo que boa parte delas instaladas em área de marinha (Figuras 36). a b Figura 36. Barracas na praia do Bessa construídas sobre palafitas e engessamento da praia com diques de pedras para proteção contra as ondas (a) e em área aberta (b). Fonte: www.clickpb.com.br. 103 Visando regularizar a situação de ocupação da orla e reinserir o patrimônio da união os espaços públicos, deu-se início na Paraíba o Projeto Orla. O propósito é reduzir a degradação ambiental ocasionada por diferentes tipos de ocupação. Entretanto, apesar da Gerência Regional do Patrimônio da União (GRPU) da Paraíba estar bastante empenhada em coibir a apropriação ilícita de bens públicos, feita por comerciantes, o impasse acerca da demolição dos equipamentos construídos ao longo das praias continua, e infelizmente sem prazo para terminar. O impasse acerca da demolição das barracas do Bessa teve início com a decisão tomada pelo Comitê Gestor do Projeto Orla, em outubro de 2008, com oito votos favoráveis à retirada das mesmas. O comitê gestor do Projeto Orla tem a responsabilidade de resgatar a orla marítima de João Pessoa, marcada por conflitos como a ocupação desordenada e a degradação ambiental. Por outro lado, os barraqueiros lutam pelo direito de continuar na orla do Bessa, alegando que estão em atividade há vários anos, e que, pelo menos há 5 anos, ocupam o espaço com a permissão da União (Figura 37). Figura 37. Os comerciantes conseguem uma liminar na justiça adiando a derrubada dos estabelecimentos (Mar/2009). Fonte: www.clickpb.com.br. Segundo Leandro (2006), entre as praias de Cabo Branco e Bessa existem 80 barracas, sendo 55 delas padronizadas em ilhas, com espaço para bares e restaurantes. Essas barracas produzem uma grande quantidade de 104 lixo, e a maioria possui infraestrutura inadequada como cobertura de palha, fios elétricos expostos, e higiene precária. A ocupação indevida em terras de marinha, não é um fato recente, principalmente no bairro de Tambaú, de onde partiu a expansão urbana para todo o litoral pessoense. Prova disso foi à construção do Próprio Hotel Tambaú nos anos 60, que foi edificado com o intuito de promover o turismo na cidade. O referido hotel, implantado na ponta de Tambaú, foi construído em área que é de Patrimônio da União, como toda a faixa litorânea do país. Podemos observar na figura 38, que a construção do Hotel Tambaú não só se apropriou de todo o pontal, como também avançou consideravelmente em direção ao mar, interferindo nos padrões hidrodinâmicos locais, intensificando a ação das ondas ao longo da praia de Manaíra. a b Figura 38. Na primeira imagem (a) a Praia de Tambaú em 1968 ainda sem a construção do hotel, e na segunda (b), em meados de 1974, com o hotel já implantado, evidenciando a descaracterização da área onde o pontal perdeu boa parte de sua vegetação e aumentou o hidrodinamismo ao norte, na praia de Manaíra. Fonte: Acervo Humberto Nóbrega apud Moreira (2006). O Hotel Tambaú incrementou o processo de expansão da orla, que em parte, sob sua influência, teve a paisagem natural rapidamente transformada. A abertura de novos loteamentos para uso residencial, a ocupação do espaço para uso turístico e mais recentemente a verticalização de toda a planície litorânea de João Pessoa, como consequência dessa urbanização, acarretaram no adensamento populacional na orla. Hoje, a área é polarizada pela atividade turística. A feirinha de Tambaú, os mercados de artesanato e os bares e restaurantes na orla atraem cada vez 105 mais visitantes à cidade, que vê no turismo uma possibilidade concreta de desenvolvimento econômico. De fato o turismo vem crescendo expressivamente em João Pessoa e um dos principais problemas que ele trouxe para esta porção do litoral são os passeios de barco para os recifes de Picãozinho, posicionados exatamente na frente do Hotel Tambaú (Figura 39). Tal atividade provoca diversos tipos de impactos, particularmente relacionados com o pisoteio, movimentação e ancoragem de embarcações, alimentação da fauna pelos banhistas, lixo, entre outros (Costa et. al., 2007), sendo que a quantidade de pessoas que visitam a área ultrapassa em muito a capacidade de carga que o ambiente pode suportar (Souza, 2008). Figura 39. Atividade turística nos recifes de Picãozinho, onde se evidencia o exagerado número de pessoas e embarcações numa área restrita. Fotografia: R. Sassi (Março de 2007). Um fato agravante particularmente no trecho entre o Bessa e o Cabo Branco são as pressões exercidas pela concentração da população e de atividades geradas pela urbanização e verticalização, que aumenta consideravelmente o número de moradores por área (já que multiplica a área do lote proporcionalmente ao número de andares do edifício), o que concorre para acentuar as alterações no meio ambiente. Entre as transformações observadas pelo processo de urbanização na área destacam-se: a poluição das ruas, poluição sonora devido a muitos bares e restaurantes, saturação das redes de água e esgoto, aumento do número de veículos trafegando pelo local, e como consequência aumento de emissões de poluentes atmosféricos, o problema do conforto térmico causado pela verticalização, impacto este que impede a ventilação intraurbana devido a 106 proximidade e adensamento dos prédios (Figura 40), sem contar ainda com o mais moderno tipo de interferência humana que é a telefonia móvel celular, devido à implantação das estações rádio base, algumas instaladas inclusive sobre edifícios, que pode trazer diversos riscos à saúde humana, conforme demonstrou Pessoa (2009). Figura 40. Processo de verticalização acelerada na orla de João Pessoa. Fonte: Lenygia Maria Formiga A. Morais, 2008. Outro fato que merece destaque é a grande quantidade de entulho produzido pela construção civil, devido à intensa demanda por empreendimentos imobiliários na área, que também se constitui um problema para a orla. Por vezes os entulhos são descartados indevidamente nas praias, o que evidencia falta de fiscalização, sendo os mesmos depositados em ambientes frágeis, prejudicando o equilíbrio natural do meio (Figura 41). Em direção sul destaca-se o remanescente florestal de Mata Atlântica que reveste a falésia morta do Cabo Branco. A qualidade ambiental dessa área é consideravelmente boa, provavelmente porque se trata de uma área cercada e mantida como uma área de interesse público. Entretanto, parte da área localizada no início do bairro do Cabo Branco foi invadida, e as casas foram construídas no sopé da falésia, sendo hoje uma zona de risco e de preocupação constante, particularmente durante a época de chuva, visto que se constitui numa área frágil onde é comum haver deslizamento de terra (Figura 42). 107 Figura 41. Deposição de resíduos de construção civil em uma praia no Bessa Fonte: Viana et al, 2008. Figura 42. Casas assentadas junta a falésia do Cabo Branco, representando área de risco da cidade de João Pessoa/PB. Fotografia: Lenygia M. F. A. Morais Finalmente, merece destaque ainda, nessa porção do litoral de João Pessoa, o vale do rio Timbó, que se estende a oeste do Altiplano do Cabo Branco. A área é ocupada por granjas e o vale do rio é bem preservado, muito embora uma pequena favela ocupe uma antiga rua no conjunto Altiplano, que chega até bem próximo do rio, e mais acima existe a favela do Timbó, um assentamento subnormal encravado num fundo de vale, numa área onde outrora era efetuada a retirada de argila. O local é zona de risco, visto que com 108 frequência ocorrem deslizamentos de terra na área. A ocupação indevida da área, que não conta com saneamento básico algum, tem potencializado a poluição das águas do rio Timbó com esgoto e nas imediações do local o lixo se espalha por todos os lugares. A rápida ocupação do solo no litoral norte de João Pessoa, aliada à falta de planejamento urbano adequado, indicam que os recursos ambientais nesta área estão todos ameaçados, chegando em alguns casos a níveis críticos de sustentabilidade. Segundo o Jornal A União (2008), uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2007 mostrou que o processo de verticalização das principais cidades do Estado alterou o perfil da habitação na Paraíba. As empresas estão preferindo construir apartamentos em lugar de conjuntos habitacionais horizontais. Em João Pessoa, além das inúmeras construções de condomínios na orla, diversos bairros também estão sendo palco de construção de condomínios verticais (Viana et al, 2008). No litoral norte essa tendência deverá aumentar devido a falta de espaços para ocupação horizontal. 109 5.2.2 – Litoral Sul O litoral Sul de João Pessoa ainda apresenta muitos ambientes naturais relativamente bem conservados, apesar do avanço da expansão urbana que vem acontecendo na área, particularmente na última década. Os estuários e mangues, as praias, vários remanescentes florestais de Mata Atlântica, juncais, rios, riachos e nascentes, falésias vivas e mortas e recifes de corais, representam a diversidade de ambientes naturais que encontramos na área e que merecem ser contemplados neste estudo. Todos vêm sendo fortemente pressionados pela expansão urbana e pelo turismo, e a falta de planejamento quanto ao uso do solo, aliado a falta de fiscalização e de vontade política tem potencializado o aumento da degradação na área, ocasionando perda progressiva de qualidade ambiental. Os diversos tipos de impactos que ocorrem nessa área têm origem principalmente na ocupação urbana não planejada que desconsidera as limitações do meio físico. O crescimento da cidade nessa porção do litoral se dá de forma difusa, pressionando os remanescentes naturais que ainda existem. Poluição dos rios pelo lançamento de esgotos devido à falta de saneamento básico, obras de infraestrutura, como canalizações de rios e construção de pontes, invasões em terras públicas, retirada de madeira, queimadas e aberturas de vias de acesso, desmatamento generalizado que expõe o solo, originando e intensificando processos erosivos e levando ao assoreamento de corpos hídricos, são alguns exemplos. Os recentes investimentos públicos em rodovias e as melhorias nos acessos permitem conjecturar um cenário futuro de crescimento urbano com maior interferência antrópica na área, que se inicia pelo Altiplano do Cabo Branco e avança para os lugares mais distantes do litoral sul, com pressões laterais oriundas dos bairros de Mangabeira, Cidade Verde, Valentina de Figueiredo, Paratibe e Monsenhor Magno. As ações humanas vêm transformando as paisagens locais acentuadamente, alterando a ordem estética, e interferindo na qualidade ambiental. Esses fatos foram observados durante o estudo de campo e são aqui relatados para cada uma das áreas mais relevantes, a saber: 110 a)- Áreas verdes do Altiplano do Cabo Branco Atualmente, o Altiplano Cabo Branco é área de interesse dos investidores imobiliários, devido a sua proximidade dos bairros mais nobres da capital como Cabo Branco e Tambaú, pela facilidade de vias de acesso à cidade e às praias, por sua beleza natural, e pelo fato de abrigar o ponto mais oriental das Américas. Entretanto, o interesse dos empreendedores contrasta com a manutenção da qualidade ambiental, claramente denotando um tipo de crescimento que não se coaduna com os princípios do desenvolvimento sustentável. Traduzido em outras palavras, significa pressões sobre o meio ambiente e comprometimento da qualidade de vida futura. Na área têm-se observado cada vez mais a construção de grandes e luxuosos prédios de apartamentos, moradias de luxo e condomínios horizontais, que usam como atrativos de marketing a presença do “verde” e a bela paisagem litorânea, evidenciando assim o processo de fragmentação e loteamento dos espaços públicos. Silva (2008) destaca que a área do Altiplano é considerada como Zona de Restrições Adicionais pelo Plano Diretor, devido ao caráter paisagístico e ambiental do Altiplano, passou a ser Zona de Adensamento Prioritário, a partir de um decreto do poder público municipal aprovado em 13 de dezembro de 2006, quando na mesma ocasião, antecipando a expansão da cidade na direção das bacias hidrográficas dos rios Aratú e Jacarapé, ao sul do Altiplano, a Prefeitura apresentou ao Conselho de Desenvolvimento Urbano um decreto de uso e ocupação da área, estabelecendo os parâmetros urbanísticos para a sua ocupação. A partir das atividades estratégicas exercidas pelo poder público através do planejamento urbano e executado por meio de decretos, a área foi sendo ocupada por diversos empreendimentos imobiliários que trouxeram diversos problemas ambientais. Como por exemplo, os condomínios fechados horizontais, quando são mal planejados e estão em desacordo com as normas ambientais, podem causar impactos significativos. Quando estão em fase de implantação ocorrem desmatamentos intensos que podem contribuir para o desencadeamento de processos erosivos e o aumento da lixiviação de sólidos 111 em suspensão para os mananciais. O resultado dessa intervenção é o excesso de turbidez, poluição hídrica e o assoreamento dos recursos hídricos. A Estação Ciência, Cultura e Artes é outro exemplo de degradação, pois foi construída nas proximidades do ponto mais oriental das Américas (Figuras 43), numa faixa de preservação ambiental, que é a barreira do Cabo Branco, área sujeita a intenso processo erosivo. Entretanto, toda a área que compreende a Barreira do Cabo Branco foi definida como área de preservação ambiental e de proteção paisagística, de acordo com o Código Florestal Brasileiro, a Constituição Estadual Paraibana, o Plano Diretor, a Lei Orgânica Municipal e o Código Municipal de Meio Ambiente, que prevê em sua SEÇÃO III que: as Zonas Especiais de Conservação do Município de João Pessoa, são, entre elas, áreas que pertencem ao parque, ou se localizam em suas proximidades: Falésias do Cabo Branco, Falésias Vivas e Mortas, a Mata do Cabo Branco, o Altiplano do Cabo Branco, a Ponta e a Praia do Seixas, e os terrenos urbanos e encostas com declividade superior a vinte por cento. A Estação Ciência, Cultura e Artes foi criada através do Decreto Municipal 5.363/2005, em 28 de junho de 2008, e ocupa exatamente o núcleo central da Zona Especial de Preservação - Parque do Cabo Branco. O empreendimento, apesar de contar com licenciamento ambiental, foi construído em área de proteção de uma falésia viva, ou seja, que ainda não adquiriu estabilidade e que vem passando por um processo natural de erosão que se dá de forma muito rápida na área. Estima-se que em 10 anos o mar poderá avançar cerca de 20 metros para o continente, nesse local, conforme afirma professor Dr. Ricardo de Souza Rosa, da Universidade Federal da Paraíba, em entrevista concedida ao Jornal Correio da Paraíba em 19/07/2009, o que trará riscos para o empreendimento. O uso indevido do solo no topo da falésia, decorrente do aumento do fluxo viário, ausência de sistema de drenagem, devastação da mata, abertura de trilhas, etc, potencializam ainda mais a erosão provocada pelo mar. 112 a b Figura 43. Estação Ciência, Cultura e Artes sobre a falésia do Cabo Branco: (a) início das obras em 2007 e (b) obra já em funcionamento, em 2009. Fotografias: Lenygia M. F. A., 2007 e 2009. Ressalta-se que o prédio da Estação Ciência, que leva a assinatura do arquiteto Oscar Niemayer e abriga nos seus cinco blocos torre, anfiteatro, serviços e estacionamento, já apresenta sinais de desgaste, sendo passível de interdição por órgãos fiscalizadores da construção civil paraibana, visto que são visíveis rachaduras, infiltrações e até afundamento de parte da área da lanchonete (Figuras 44). Acredita-se que os problemas relatados sejam apenas de ordem estrutural, então, seria uma obra mal construída sobre uma área instável. a b Figura 44. Problemas de rachaduras na estrutura do Prédio da Estação Ciência. a) Afundamento do piso da lanchonete e, b) rachaduras no anfiteatro. Fonte: Tenda 25. Disponível em: www.tenda25.blogspot.com. Acesso em 10/04/2009. b)- Falésia morta do Cabo Branco A falésia morta do Cabo Branco, que se estende desde a praia do Seixas até a Penha, abriga em sua encosta um remanescente florestal de Mata 113 Atlântica razoavelmente bem conservada. Entretanto, sinais de degradação também estão presentes em diversos locais, particularmente decorrentes da construção de barracas em seu sopé, da disposição de lixo e esgoto na zona de pós-praia, além da abertura de trilhas na mata (Figuras 45). As barracas da praia do Seixas não são saneadas e foram instaladas em terras de marinha, fato comum no litoral sul, como veremos adiante, que altera a estética do meio natural e interfere na qualidade ambiental da área. Tais ações se configuram como falta de planejamento no tocante ao uso e ocupação do solo e falta de responsabilidade pública e vontade política no sentido de coibi-las. a b Figura 45 - Barracas instaladas no sopé da falésia morta da praia do Seixas, pressionando a Mata de encosta (a), e caminhos abertos no meio da mata na mesma falésia em frente ao condomínio Village Atlântico Sul (b). Fotografias: Roberto Sassi, Nov/2008. c)- Os recifes costeiros do Cabo Branco e Seixas Os recifes costeiros do Cabo Branco e do Seixas, com suas piscinas naturais, ocupam um papel de destaque na paisagem local, e representam áreas de grande apelo turístico. Estão entre os principais pontos que concentra a maior biodiversidade marinha do estado, sendo locais de alimentação e desova de inúmeras espécies, muitas de importância econômica, e algumas incluídas nas listas de espécies ameaçadas de extinção. Assim, deveriam ser preservadas para as gerações futuras. Mas o que se vê no local é, mais uma vez, um grande descaso com esse patrimônio natural, cada vez mais pressionado por diversos tipos de atividades antrópicas. Costa et al. (2007), relacionam como atividades que causam degradação desses ambientes e perda de qualidade ambiental a recreação e o turismo, pesca artesanal e esportiva, atividades comerciais na orla, extração de 114 produtos, atividades educacionais e de pesquisa científica, pisoteio da fauna, pressões sobre a fauna bêntica para extração de iscas, coleta de produtos de souveniers e alterações do cenário natural por construções na orla, principalmente voltadas para atividades comerciais e para o controle de erosão costeira (Figura 46). a b c d e f Figura 46. Diferentes tipos de impactos antrópicos nos recifes costeiros do Cabo Branco, João Pessoa, PB. a-d: pesca artesanal; e: obras de engenharia sob influência da erosão costeira; f: atividade educativa. Fotografias: Roberto Sassi, 2007. 115 d)- A Orla marítima e as desembocaduras de rios Na praia do Seixas ainda encontramos áreas sujeitas ao avanço do mar pondo em risco moradias construídas junto ao mar, bem como a construção de um grande condomínio residencial, o Village Atlântico Sul, já na margem esquerda do riacho do Cabelo. A construção desse condomínio invadiu a zona de preservação do rio, visto que não respeita os 30 m de margem previstos na lei, avançando o muro até a beira do rio. Canos que despejam águas servidas do condomínio existem na área, bem como a presença de lixo em grandes quantidades se acham espalhados do lado de fora do muro em praticamente toda a área. Na outra margem, o clube da AFRAFEP ocupa grande extensão de área pública, inclusive o próprio leito do rio, visto que sobre ele foi construído um campo de futebol. É uma constante também nessa margem a presença de diversos tipos de lixo (metal, plásticos, isopores, madeiras, etc.) que são vistos em abundância, configurando-se a área como um lugar propício à procriação de diversos tipos de vetores de doenças e animais peçonhentos, como ratos, baratas, cobras e escorpiões (Figura 47). a b c d 116 a f e Figura 47. Interferências humanas na foz do rio Cabelo. a): Clube Afrafep, b): visão geral do campo de futebol sobre o leito do rio, c): obstrução do rio por manilhas para construção do campo de futebol sobre seu leito; d): condomínio Village Atlântico Sul em área pública, e): cano de águas servidas do condomínio dando para o rio Cabelo; f): lixo nas margens da desembocadura do rio. Fotografias: Roberto Sassi, Nov/2008. A mata ciliar praticamente inexiste na área e as raríssimas plantas de mangue vêm sendo cortadas. O lixo avança pela praia, alterando a ordem estética e a paisagem local. A foz do rio Cabelo encontra-se engessada: por um lado, o muro da associação da AFRAFEP, e pelo outro, o muro do residencial Village Atlântico Sul. E entre esses dois muros ocorrem com frequência escavações na área no sentido de romper a barra arenosa e controlar a hidrodinâmica local para evitar erosão dos muros (Figura 48). a b Figura 48. Cortes de árvores de mangue e abertura artificial da barra arenosa na foz do rio Cabelo, João Pessoa, PB. Fotografias: R. Sassi, Nov/2008. 117 O Sr. Severino, síndico desse condomínio, comentou que eles fazem a abertura da barra todos os anos, de julho a setembro, para proteger o muro da erosão marinha, e ressaltou que é nesse período que ocorre mudança na dinâmica do rio devido a posição dos ventos. E acrescentou, ainda, que nessa época do ano as escavações se repetem a cada quinze dias para manter a posição da vala. As aberturas artificiais das barras arenosas que separam a laguna do mar, também acontecem com frequência nas lagunas de Jacarapé e Camurupim, bem como em Intermares, no litoral norte. Esta ação interfere nos ciclos naturais de troca de água entre o rio e o mar, provocando alterações bruscas na salinidade, e interrompendo os processos de sucessão das comunidades vegetais e animais. Alguns exemplos dessas consequências para áreas estuarinas e lagunares podem ser encontrados nos trabalhos de Esteves (1995) e Caniçali et al. (1996), para a região sudeste do Brasil. Coutinho (1999) comenta que essas ações são efetuadas com os propósitos de limpar a água da laguna, visto que ela é usada como balneário natural, para a prática pesqueira, e também para evitar inundações nas casas e barracas construídas nas margens, especialmente no período chuvoso quando aumenta a competência fluvial e a água de drenagem se acumula na planície de inundação. Caminhando em direção às praias do sul, evidencia-se também a presença de lixo que se espalha de forma difusa por todo lado, e as invasões, especialmente nas proximidades das desembocaduras dos rios Aratu, Jacarapé, Camurupim e Gramame, onde são instaladas barracas precárias para o comércio de comidas e bebidas alcoólicas, o que atrai uma parcela considerável de frequentadores que intensificam a degradação do ambiente através do acúmulo de lixo e destruição do mangue. Na maioria dos casos, esse tipo de ocupação é feita sem o mínimo de infraestrutura, de maneira que os esgotos domésticos são depositados in natura no interior do mangue, ou quando existem instalações sanitárias, os banheiros são construídos precariamente à beira do mangue, o que acaba por contaminar o solo e a água (Figura 49). Além do comércio, muitas pessoas residem e veraneiam nessas áreas, constroem ou visitam esses locais sem a menor preocupação com a questão 118 ambiental, geralmente colocando em risco importantes ecossistemas como os estuários, manguezais e os remanescentes florestais presentes na área. Muitas barracas são construídas praticamente em cima do mangue, e para conter o avanço das águas é comum usarem barricadas com sacos de areia. a b c d Figura 49 – Barracas nas desembocaduras dos rios Jacarapé (a) e Camurupim (b);“banheiro” público construído nos limites do manguezal na desembocadura do rio Camurupim (c); barricada com sacos de areia para conter o avanço do mar em Jacarapé (d). Fotografias: Lenygia M. F. Alves Morais, Novembro de 2008. Na construção das barracas observa-se com frequência o uso de madeira do mangue, bem como a retirada de madeira para limpar o terreno. Destroem-se assim as plantas e o habitat de animais, descaracterizando o ambiente natural. A título de exemplo, na figura 50 é possível observar um exemplar de massaranduba que existia na foz do Jacarapé em 1997, e que posteriormente foi cortado por moradores locais. 119 a b Figura 50. Exemplar de massaranduba (árvore inclinada) na foz do rio Jacarapé em 1997 Fonte: (a) Sassi, (1997), e em 2007 (b), corte da mesma árvore. Fotografia (b): Lenygia M. F. A. Morais, 2007. e)- Os Campos de várzeas Nas planícies flúvio-marinhas e usualmente por detrás dos manguezais, são encontrados os chamados campos de várzeas, que possuem uma vegetação típica de áreas alagadas, sujeitas a um hidroperíodo sazonal. Os vegetais presentes nessas áreas são dos tipos higrófilos e hidrófilos, sendo que os primeiros correspondem àquelas comunidades que integram macrófitas aquáticas natantes, como a Pistia sp (pasta), Eichornia sp (aguapés ou baronesas), Nymphaea sp, Pontederia sp e Panicum aquaticum. Já na porção paludosa dos destacando-se terrenos, encontramos principalmente as tanto blecnaceas higrófitas (Blecnun como halófitas, serrulatum) e ciperáceas diversas dos gêneros Eliocharis (E. interstincta e E. mutata), Lagenocarpus (L. guyanensis), Rhyncospora (R. holoschoenoides), Cyperus giganteus (popularmente conhecido como “piripiri”), Cyperus articulatus (junco), Typha dominguensis (taboa), e Acrostichum aureun, também conhecido como “samambaia-açu ou avencão” (Figura 51). As bacias dos rios Aratu, Jacarapé e Camurupim estão bem preservados muito embora não estejam isentos de interferências humanas. Em 1997, por exemplo, um grande incêndio criminoso se propagou por grande área da bacia hidrográfica do Jacarapé, queimando grande extensão das capoeiras de mata e matas de encosta que existem na área, chegando o fogo a consumir 120 praticamente todo o juncal e atingindo também as bordas do manguezal, matando inúmeras espécies da fauna local (Figura 51abc). a b c d e f Figura 51. Campos de várzeas no litoral sul de João Pessoa: a-c: Planície flúvio-marinha do rio Jacarapé; b-c: incêndio na área ocorrido em 1997, avançando sobre o mangue e a mata de encosta; d-e: campo de várzea no rio Cuia, f: campo de várzea do rio Gramame. Fotografias: Roberto Sassi: b-c, 1997; demais fotos, 2009. Na bacia do rio Cuiá, muitos desses campos de várzeas são usados para atividades agropecuárias, sendo comum encontrarem-se áreas convertidas em pastagens e destinadas a diversos tipos de cultivos (Figura 121 51d-e). No vale do rio Gramame existem várias moradias instaladas nas porções mais elevadas do terreno, inclusive hoje beneficiadas com o Projeto Luz para Todos, cujos moradores paulatinamente convertem a área para plantios de subsistência e pecuária (Figura 51f). f)- Os rios e suas bacias hidrográficas O litoral sul de João Pessoa apresenta uma rede hidrográfica considerável. Ao todo são 6 rios que deságuam no mar, num trecho do litoral que se estende por pouco mais que 10 km. Entretanto, é lamentável o fato de que nenhuma preocupação é manifestada pelo poder público no sentido de proteger integralmente os mananciais de superfície, haja vista a intensidade de impactos que encontramos em todas as bacias hidrográficas costeiras. Remoção de mata ciliar, invasões de terras públicas, lixo e esgoto, erosão e assoreamento, são alguns exemplos de degradação que ocorrem cada vez mais nesses ambientes, reduzindo a qualidade ambiental e as perspectivas de usos futuros desses mananciais. O riacho do Cabelo, por exemplo, já nasce poluído. E nenhum cuidado houve para a proteção da sua nascente em Mangabeira, quando da expansão deste bairro. Ao longo do rio, além do lixo que se espalha de forma difusa e em quantidade considerável, pressões laterais são vistas por todos os lados: retirada de lenha, corte de árvores, queimadas, uso de madeira da mata para cercar residências, plantios diversos, vacarias, retirada de areia, deposição de entulhos, entre outros impactos (Figura 52). a b 122 c d e f Figura 52. Diferentes tipos de interferências humanas observadas ao longo do riacho do Cabelo, João Pessoa, PB. a) nascente: lixo, falta de mata ciliar e poluição; b) águas fortemente poluídas no conjunto cidade verde; c,d) pressões laterais no conjunto cidade verde: cortes na vegetação, queimadas e lixo; e) madeira da mata usada para cerca de casa no conjunto Cidade Verde; f) granja onde existe uma vacaria e é praticada atividade agrícola. Fotografias: Lenygia M. F. A. Morais, 2008. A poluição por esgotos faz as águas desse rio impróprias tanto para o consumo humano como para a balneabilidade, visto que pode trazer riscos à saúde pública devido à presença de bactérias e outros microorganismos patogênicos. Segundo Farias (2006), a disposição inadequada dos esgotos pode disseminar doenças que, associadas a fatores como desnutrição, resulta em alto índice de mortalidade. Os esgotos também contribuem para proliferação de insetos, moscas, mosquitos, roedores e outros vetores de doenças. Diarréia, verminose, teníase, esquistossomose e cólera, são entre outras, as doenças as mais comuns (Carvalho et. al., 2003 apud Farias, 2006). Entretanto, nas proximidades da sua desembocadura, na praia da Penha, é comum encontrar mulheres lavando roupa no rio e crianças tomando banho nas águas poluídas (Figura 53). 123 a b Figura 53 – Diferentes tipos de interferências humanas observadas ao longo do riacho do Cabelo, João Pessoa, PB: a) granja e açude formado pelo represamento do rio com a construção da PB-008, na Penha; b) usos diversos das águas poluídas do rio Cabelo, na comunidade da Penha. Fotografias: Lenygia M. F. A. Morais, 2008. Nas margens do rio ainda se encontram algumas granjas que utilizam as várzeas para atividades agrícolas, criação de animais, plantações de capim, sendo que a presença de vacarias e pocilgas nesses locais também contribui com a poluição das águas (Figura 54). Figura 54. Instalação de criação de suínos em área urbana, próximo ao rio Cabelo. Fonte: Leite & Jerônimo, (2006) apud Farias (2006). Estas fontes pontuais de poluição localizadas na calha do rio do Cabelo têm um alto potencial poluidor dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos, uma vez que, eleva a Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), aumenta a contaminação por coliformes fecais, acelera o processo de 124 eutrofização, além de provocar erosão no solo e assoreamento do rio (Brigante & Espíndola, 2003 apud Farias, 2006). Segundo Leite et al. (2007) a ocorrência de problemas ambientais, decorrentes de poluição hídrica, através de fontes pontuais, bem como a presença de resíduos sólidos na área do rio Cabelo, tem maior dimensão devido a falta de participação popular em evitar agressões ambientais e em manter e reivindicar melhorias ao meio-ambiente. Segundo o autor em estudo sobre o diagnóstico sócio-ambiental da bacia hidrográfica do Rio Cabelo, é notória a urgência de projetos envolvendo educação ambiental, pois 92,31% dos entrevistados disseram que nunca participaram de projetos dessa natureza. O rio Jacarapé, tem águas relativamente limpas, mas com a construção da PB 008 a água foi represada havendo redução de fluxo hídrico e hoje sua foz é fortemente pressionada por barraqueiros. O rio Cuia é poluído por receber esgotos domésticos da estação de tratamento de Mangabeira e de ligações clandestinas ao longo do seu curso. Em suas várzeas existem inúmeras granjas e atividades agrícolas e criações de animais são comuns, o que potencializa ainda mais a poluição das águas e o assoreamento, visto que não há respeito com relação à mata ciliar. Apesar do acelerado processo de urbanização que acontece especialmente na margem direita do rio Cuiá, foram encontrados ainda no vale grandes trechos com feição tipicamente rural, sendo comum também a presença de inúmeras vacarias, granjas, pocilgas e até matadouros clandestinos. Essas atividades são grandes poluidoras, visto que podem introduzir no ambiente microrganismos patogênicos que modificam a qualidade da água, inclusive contribuindo para uma elevada Demanda Bioquímica de Oxigênio – DBO (MOTA, 1981). Segundo Farias (2006), essas atividades são consideradas pelos órgãos ambientais como uma "atividade potencialmente causadora de degradação ambiental", sendo enquadrada como de grande potencial poluidor. Pela Legislação Ambiental (Lei 9.605/98 - Lei de Crimes Ambientais), o produtor pode ser responsabilizado criminalmente por eventuais danos causados ao meio ambiente e à saúde dos homens e animais. As ações decorrentes das atividades agrícolas extensivas e de subsistência também são comuns em diversos trechos do litoral sul, na área 125 deste estudo. Essas atividades intensificam os impactos, sendo vários os cultivos, embora de forma precária e sem grandes investimentos tecnológicos. São observadas as culturas de: cana-de-açúcar (de forma extensiva), caju, macaxeira, batata doce, milho, inhame, cajá, coco, entre outras. O rio Camurupim é fortemente pressionado em sua foz por barraqueiros, que interferem inclusive nas trocas de água com o mar, e no rio Gramame o mesmo acontece, sem contar ainda que o rio recebe esgotos oriundos do distrito industrial de João Pessoa. Interferências no fluxo hídrico nessa porção do litoral são observadas particularmente nos rios Cabelo, Aratu, Jacarapé e Camurupim, fatos que tem acontecido devido a barramentos para a construção de estradas (Figura 55). a b Figura 55. (a) Barramento no baixo curso do rio Jacarapé formado pela implantação da PB-008 e (b) ponte com manilhas, dificultando as trocas de água entre a laguna e o mar, em Camurupim. Fotografias: Roberto Sassi, foto a: 2006; Lenygia M. F. Alves Morais, foto b: 2008. g)- Remanescentes de Mata Atlântica e as Unidades de Conservação do litoral sul de João Pessoa. A porção do litoral sul de João Pessoa considerada neste estudo abriga um dos maiores remanescentes florestais de Mata Atlântica costeira da Paraíba, que infelizmente se encontra em condições deploráveis. Ao todo são mais de 600 ha que se distribuem desde o vale do riacho do Cabelo até o rio Cuiá, uma área pública que foi destinada ao Pólo turístico do Cabo Branco mas que não teve nenhum empreendimento nela construído. A especulação imobiliária, a construção civil e a atividade turística são, de forma geral, os 126 fatores responsáveis pela ocupação da área, cuja intensificação se deu após a construção da rodovia PB-008. A área abriga duas unidades de conservação: o Parque Estadual de Aratu, no vale do rio Aratu, criado pelo decreto 23.838 de 27/12/2002, e o Parque Estadual da Mata de Jacarapé, no rio Jacarapé, criado pelo decreto 23.836, da mesma data. Ambas são gerenciadas pela SUDEMA, sendo que a primeira ocupa uma área aproximada de 341 hectares e a segunda, cerca de 380 hectares. O principal problema nessas áreas são as invasões que descaracterizam a paisagem acelerando a degradação e ocasionando perda de qualidade ambiental. As invasões acontecem de forma muito rápida, e sem nenhuma obediência à regulamentação urbana exigida para essas áreas que são de proteção permanente. Na bacia do rio Jacarapé, o problema intensifica-se devido à especulação imobiliária clandestina, visto que não há registro de terras a serem vendidas naquele lugar, já que por lei a área é de Preservação. Um processo jurídico se acha tramitando junto ao ministério público, visando regularizar a situação, mas tem tramitação muito lenta. No rio Jacarapé, as invasões acontecem em torno do sistema lagunar e na zona de pós-praia, onde as barracas são instaladas pressionando o manguezal como já dito antes. Na margem direita são encontrados casas de alvenaria, algumas possuindo até piscinas, e na margem esquerda, os desmatamentos são comuns, existem plantios nas áreas desmatadas, casebres, e muitas invasões. No parque estadual do rio Aratu as invasões já ocupam praticamente toda área do vale situada a oeste da rodovia PB-008. As invasões têm descaracterizado a sua nascente, que hoje se acha rodeada por cultivos e plantas frutíferas, e na área existem inúmeras moradias e até a Associação dos Moradores do Vale do Aratu (Figura 56). O Parque é ainda pressionado a oeste por moradores do conjunto Cidade Verde, que retiram madeira da mata, abrem caminhos, fazem carvão, jogam lixo, etc. 127 a c b d Figura 56. Presença humana no Parque Estadual de Aratu, João Pessoa, PB. a) área da nascente sem mata ciliar e com cultivares ao redor; b) atividade agrícola praticada por invasores; c) caieira, evidenciando retirada da vegetação do Parque; d) Associação de Moradores do Vale do Aratu. Fotografias: Lenygia M. F. A. Morais, 2008. O remanescente de Mata Atlântica que se distribui da bacia do rio Cabelo até o rio Cuiá, inserido ou não nos parques estaduais de Aratu e Jacarapé, também vem sendo alvo de invasões, como acontece na Vila Mariano e imediações, e praticamente em toda extensão da margem esquerda do rio Cuiá. Aqui se encontram tanto pequenos lotes ocupados por moradias simples, como granjas de vários tamanhos, usadas como áreas de laser, ou onde se praticam atividades agrícolas diversas. Trilhas e caminhos na mata existem muitos, resíduos sólidos diversos são encontrados dispersos na área, inclusive restos da construção civil, incêndios são frequentes, além de outras práticas já referidas, como a retirada de madeira, lenha e carvão. A remoção da cobertura vegetal e a retirada de areia são comuns em diversos pontos do litoral sul, particularmente na bacia dos rios Cabelo e Aratu. Em decorrência disso aumentam os processos erosivos bem como o aporte de 128 material particulado carreado para os rios, intensificando o assoreamento com sérias consequências ambientais, quando somados a outros fatores de degradação (Figura 57). Figura 57. Devastação da vegetação devido a retirada de areia em área próxima ao rio Aratú. Fonte: Google Earth (2009). Acesso em Jun/2009. Segundo Farias et al. (2006), o efeito nefasto da extração da areia no meio ambiente acarreta consequências altamente degradantes para o ambiente aquático e ribeirinho, e em muitas das vezes essas consequências são irreversíveis. A extração de areia do leito dos rios ou em cavas submersas em áreas da várzea tem como resultante a poluição das águas, causada pela agitação de sedimentos finos (argilas e silte), pela presença nessas áreas de combustíveis e óleos lubrificantes, e pelos efluentes sanitários das instalações administrativas. Esta atividade constitui o que Oliveira (2001) chama de mineração urbana. Trata-se de uma atividade de grande porte, importante para o fornecimento de material para a construção civil, especialmente areia, que exerce uma contribuição muito grande ao crescimento urbano, devido à curta distância que separam essas áreas produtoras dos centros consumidores. Tal fato torna essa atividade economicamente importante, pois os custos de exploração são minimizados, especialmente os gastos com transporte. 129 Oliveira (2001) ressalta a importância dessa atividade na geração de emprego e renda, atuando como mitigador dos efeitos da crise social, característica de regiões onde existem altas densidades demográficas. Entretanto, tal atividade não se desenvolve segundo os princípios da sustentabilidade ecológica. O solo, rico em nutrientes, matéria orgânica, microorganismos, e sementes, é removido por completo e comercializado, sendo em seguida retirada a areia até expor as rochas sedimentares do Barreiras. As áreas mineradas, desprovidas de vegetação, ficam expostas às intempéries climáticas, e estão sujeitas a processos erosivos que potencializam a formação de ravinas e voçorocas e o transporte de sólidos para os mananciais, resultando em assoreamento e aumento de turbidez nos corpos d’água. Trata-se, portanto, de uma atividade que degrada o ambiente em grande magnitude, sendo tal degradação duradoura, e a área minerada de difícil recuperação, que deixa enormes cicatrizes na paisagem local (Figura 58). a b Figura 58. (a e b)Cicatrizes na paisagem local decorrentes da mineração de areia. Fotografias: a: Roberto Sassi, 2006; b: Lenygia M. F. Alves Morais, 2008. A poluição nessa porção do litoral sul é séria, visto que compromete a qualidade ambiental tanto pelo aspecto estético, como pelo perigo à saúde pública, quando se trata de mananciais de superfície, como também pela sua potencialidade de contaminar aquíferos subterrâneos, sendo esta uma preocupação concreta no tocante à utilização futura desses aquíferos para o suprimento de água potável. Nessas áreas são encontrados diversos tipos de lixo: papéis, papelões, latas, madeiras, plásticos, borrachas, vidros, restos de alimentos, resíduos 130 ambulatoriais, materiais contaminados por óleos, pesticida e desinfetante, frascos de medicamentos, isopores, madeiras, penas de galinhas e outros produtos oriundos de abatedouros, etc. Esses produtos são encontrados de forma difusa na área, podendo ser encontrados em quantidades consideráveis na mata, nos manguezais, nas margens dos rios, nas desembocaduras, na beira das estradas em todas as bacias hidrográficas locais (Figura 59). b a c d Figura 59. Poluição por resíduos sólidos na zona costeira do litoral sul de João Pessoa. a) proximidades da foz do rio Cabelo; b) parque estadual de Aratu: urubus alimentando-se de resíduos de abatedouros; no local está presente uma variedade muito grande de lixo, inclusive entulho; c) lixo acumulado nas proximidades do manguezal de Jacarapé; d) lixo disperso na praia de Camurupim. Fotografias: Lenygia M. F. A. Morais, 2008. A situação da disposição final dos resíduos sólidos é extremamente grave se forem consideradas as condições e os efeitos dessa disposição (Vale Verde – Associação de Defesa do Meio Ambiente, 2004 apud Farias et al, (2006). Talvez o mais relevante problema esteja relacionado ao favorecimento de infiltrações e contaminações do lençol freático quando da liberação de chorume. O chorume é um líquido escuro contendo alta carga poluidora, que pode ocasionar diversos efeitos sobre o meio ambiente. O potencial de impacto 131 deste efluente está relacionado com a alta concentração de matéria orgânica, reduzida biodegradabilidade, presença de metais pesados e de substâncias recalcitrantes (Farias et al, 2008). Em um estudo realizado nas proximidades do rio Jacarapé, Coutinho (1999) verificou que os materiais de plástico representam 71,6% dos resíduos sólidos encontrados na área, seguidos pelos isopores, que representam 14,7%, e borracha 6,9%. O plástico é hoje um elemento encontrado na zona costeira em todo o mundo, ocorrendo em grandes quantidades não somente nas proximidades dos grandes centros urbanos e industriais, mas também em áreas bastante afastadas (Gregory, 1991; Wade et al. 1991). Dentre os perigos provocados por esse tipo de poluente destacam-se o bloqueio do trato intestinal de organismos marinhos, após ingestão desses componentes (Laist, 1987), podendo resultar em ulcerações do estômago e do intestino (Laist, op. cit., Gramentz, 1988), e concentração de compostos químicos sintéticos ao longo das cadeias alimentares (Wehle & Coleman, 1983, apud Wade et al., op. cit.). Além disso, a bioincrustação em materiais flutuantes pode trazer perigos para a fauna e para a flora de áreas protegidas devido à introdução de organismos alienígenas transportados para essas localidades, pelas correntes marítimas (Gregory, op. cit.). Além desses problemas, ressaltase, também, o seu efeito no aspecto estético, conforme apontam Smart & Smith (1987, apud Wade et al. 1991). João Pessoa possui um sistema regular de coleta de lixo que atende satisfatoriamente a área estudada, não se justificando, portanto, o descarte desses materiais a céu aberto, da forma como encontramos na área. Essas ações representam falta de educação e de consciência ambiental da população em geral, tornando-se claro e evidente que algo necessita ser feito urgentemente para minimizar este quadro. Programas de educação ambiental junto às comunidades locais, leis mais severas no tocante ao uso do solo, fiscalização e planejamento ambiental são necessidades prementes que precisariam ser colocadas em prática a fim de melhorar a qualidade ambiental da área. Mais ao sul, já na interface entre as bacias do rio Camurupim e do rio Gramane, é evidente a degradação da área pelos loteamentos, pois a 132 instalação do mesmos, levou a destruição quase que por completo da vegetação nativa existente entre esses dois rios, restando apenas uma pequena faixa próxima ao manguezal (Figura 60), que infelizmente está sendo submetida às pressões constantes provocadas pela retirada de madeira. Figura 60. Degradação da vegetação através da implantação de loteamentos entre os rios Camurupim e Gramame. Fonte: Google Eart. Acesso em Fev/2009. Diante dessas agressões o litoral sul vem perdendo suas características originais, diminuindo com isso a qualidade ambiental da área e alterando a sua ordem estética, com prejuízos sociais e ambientais irreversíveis, e claramente conflitantes com a ética da sustentabilidade. 5.3 - Categorização e Quantificação dos Impactos No total foram evidenciados 38 tipos de impactos antrópicos no litoral de João Pessoa, sendo que a maior intensidade dos impactos foi registrada no litoral sul e a menor no litoral norte. A maior parte dos impactos foi categorizada como impactos diretos sobre o ambiente natural. O litoral sul vem sendo muito mais afetado pelas interferências humanas, visto que o litoral norte já foi praticamente todo convertido em zona urbana. A pontuação total dos impactos quantificados para o litoral norte atingiu 140 pontos, contrastando com o litoral sul, cujo valor chegou a 214 pontos (Tabela 04). Tabela 04: Matriz escalar representando os diferentes tipos de impactos identificados na área estudada. ÍTEM TIPOS DE IMPACTOS Peso Classificação dos impactos D Litoral Norte Litoral Sul (LN) (LS) 2 Total LN Total LS 3 4 6 1 Alterações estéticas nas praias 2 2 Especulação imobiliária 3 I 2 3 6 9 3 Poluição de rios e mananciais (lixo e esgotos) 3 D 3 3 9 9 4 Contaminação das praias por esgoto doméstico 2 D 3 1 6 2 5 Lixo em terrenos baldios - U 2 D 2 3 4 6 6 Lixo nas praias 2 D 1 3 2 6 7 Lixo nos remanescentes florestais 2 D 1 3 2 6 8 Danos aos manguezais 3 D 3 3 9 9 9 Entulho da construção civil 2 D 2 2 4 4 10 Poluição sonora 1 I 2 1 2 1 11 Poluição térmica - U 1 I 2 0 2 0 12 Poluição eletromagnética (telefonia celular) - U 1 I 2 1 2 1 13 1 I 2 1 2 1 3 D 2 3 6 9 15 Emissão de gases por queima de combustível fóssil - U Retração de habitats (remoção da cobertura vegetal) Remoção de mata ciliar 3 D 3 2 9 6 16 Degradação de matas de encosta 3 D 3 3 9 9 17 Alterações do fluxo de rios e canalizações 3 D 3 3 9 9 18 Assoreamentos 3 D 1 2 3 6 19 Processos erosivos 3 D 1 3 3 9 20 Invasões em terras de marinha 2 D 2 3 4 6 21 2 D 1 2 2 4 22 Abertura artificial das barras arenosas na foz dos rios Ocupação indevida de margens de rios 3 D 3 2 9 6 23 Ocupação indevida de encostas 3 D 3 1 9 3 24 Ocupação indevida de espaços públicos (praças, áreas verdes e ruas) 2 D 1 2 2 4 14 134 25 27 Invasões em unidades de conservação (habitações) Práticas agrícolas em unidades de conservação Obras em áreas de preservação 3 D 1 1 3 3 28 Construções na orla sujeitas à erosão 2 D 2 1 4 2 29 3 D 2 2 6 6 30 Danos aos recifes (ancoragem, pisoteio, pesca excessiva, atividades turísticas, etc.) Abertura de estradas 3 D 0 3 0 9 31 Mineração em área de mata atlântica 3 D 0 3 0 9 32 Queimadas e incêndios 3 D 0 3 0 9 33 Retirada de madeira 3 D 2 3 6 9 34 Caieiras 2 D 0 2 0 4 35 Caça e atividade de passarinhar 2 D 0 1 0 2 36 2 D 1 1 2 2 37 Pesquisa científica (coleta de exemplares da fauna e flora) Agricultura extensiva 3 D 0 2 0 6 38 Agricultura de subsistência 2 I 0 2 0 4 29 36 140 214 26 3 D 0 3 0 9 3 D 0 3 0 9 TOTAL DOS IMPACTOS O diagrama de Pareto obtido para o litoral norte evidenciou que dos 29 tipos de impactos que foram categorizados para esta porção do município, quase a metade (16) responde por 80% dos problemas da área. Os principais impactos hierarquizados segundo Pareto se acham na tabela 05. Os que apresentaram os maiores escores foram: Poluição de rios e mananciais (lixo e esgotos), danos aos manguezais, remoção de mata ciliar, degradação de matas de encosta. 100 90 80 % cumulativ 70 60 50 40 30 20 10 0 3 8 15 16 17 22 23 2 4 14 29 33 5 1 9 20 28 18 19 27 6 7 10 11 12 13 21 24 36 impactos Figura 61. Diagrama de hierarquização por Pareto dos impactos antrópicos evidenciados no Litoral Norte do Município de João Pessoa/PB. 135 Tabela 05 – Relação dos principais tipos de impactos antrópicos hierarquizados pelo diagrama de Pareto para o litoral Norte de João Pessoa. 3 8 15 16 17 22 23 2 4 14 29 33 5 1 9 20 Poluição de rios e mananciais (lixo e esgotos) Danos aos manguezais Remoção de mata ciliar Degradação de matas de encosta Alterações do fluxo de rios e canalizações Ocupação indevida de margens de rios Ocupação indevida de encostas Especulação imobiliária Contaminação das praias por esgoto doméstico Retração de habitats (remoção da cobertura vegetal) Danos aos recifes (ancoragem, pisoteio, pesca excessiva, atividades turísticas, pesquisa científica, atividade educacional, etc.) Retirada de madeira Lixo em terrenos baldios - U Alterações estéticas nas praias Entulho da construção civil Invasões em terras de marinha Para o litoral sul foram computados 36 diferentes tipos de impactos (Tabela 04), dos quais 22 respondem por 80% dos problemas da área, conforme hierarquização por Pareto (Figura 62). A especulação imobiliária, poluição de rios e mananciais (lixo e esgotos), danos aos manguezais, retração de habitats e remoção de mata ciliar (Tabela 06). 100,00 90,00 80,00 % cumulativ 70,00 60,00 50,00 40,00 30,00 20,00 10,00 0,00 2 3 8 14 16 17 19 25 26 30 31 32 33 1 5 6 7 15 18 20 22 29 37 9 21 24 34 38 23 27 4 28 35 36 10 12 13 impactos Figura 62. Diagrama de hierarquização por Pareto dos impactos antrópicos evidenciados no Litoral Sul do Município de João Pessoa. 136 Tabela 06 – Relação dos principais tipos de impactos antrópicos hierarquizados pelo diagrama de Pareto para o litoral Sul de João Pessoa 2 3 8 14 15 17 19 25 26 30 31 32 33 1 5 6 7 15 18 20 22 29 Especulação imobiliária Poluição de rios e mananciais (lixo e esgotos) Danos aos manguezais Retração de habitats (remoção da cobertura vegetal) Remoção de mata ciliar Alterações do fluxo de rios e canalizações Processos erosivos Invasões em unidades de conservação (habitações) Práticas agrícolas em unidades de conservação Abertura de estradas Mineração em área de mata atlântica Queimadas e incêndios Retirada de madeira Alterações estéticas nas praias Lixo em terrenos baldios - U Lixo nas praias Lixo nos remanescentes florestais Remoção de mata ciliar Assoreamentos Invasões em terras de marinha Ocupação indevida de margens de rios Danos aos recifes (ancoragem, pisoteio, pesca excessiva, atividades turísticas, pesquisa científica, atividade educacional, etc.) A estimativa do índice de qualidade ambiental dos dois setores investigados, obtida a partir de Marcelino (2000), forneceram valores respectivos de 0,59 para o litoral norte e 0,37 para o litoral sul (Figura 63). Esses dados parecem paradoxais, visto que no litoral norte praticamente quase tudo foi convertido em zona urbana. Ressalta-se, no entanto, o fato de que esses dados retratam os remanescentes naturais que ainda existem na área, que são em menor número do que os que se encontram no litoral sul, e alguns estão em razoável estado de conservação, como a falésia morta do Cabo Branco, praia do Bessa, que inclusive é zona de proteção da tartaruga marinha, e a Lagoa do Aeroclube. No litoral sul existe uma grande diversidade de ecossistemas que congrega recifes de corais, praias, estuários/lagunas, manguezais, campos de várzeas, remanescentes de mata atlântica, capoeiras de mata (cerrados), rios e nascentes, etc, muitos deles submetidos a diferentes tipos de tensores antrópicos. 137 Litoral Sul Litoral Norte 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 Índice de Qualidade Ambiental Figura 63. Índices de Qualidade Ambiental para o litoral de João Pessoa/PB No litoral norte, a escassez de ambientes naturais simplifica as relações ecológicas, ao passo que a exuberante diversidade de ambientes naturais do litoral sul traduz-se em aumento de complexidade. E quanto mais complexo o ecossistema, piores serão as consequências de qualquer tipo de perturbação antrópica. Bundestag (1990), por exemplo, afirma que a extinção de uma simples espécie vegetal pode significar um “efeito em bola de neve” sobre a cadeia alimentar, um sério prejuízo em cerca de trinta espécies animais, e que, se plantas tropicais que ocupam um papel chave dentro do ecossistema são eliminadas, isso pode causar o desaparecimento de um número muito maior de espécies animais. O que vemos acontecer no litoral sul é uma acentuada pressão marginal sobre os remanescentes florestais ali existentes, representada pela vegetação, abertura de clareiras e caminhos, e presença de fogo. Em consequência, observa-se no interior desses núcleos um severo empobrecimento na flora, que se traduz em perda de diversidade biológica, visto que esses remanescentes florestais são importantes núcleos de vida silvestre que os usam como lugares de alimentação, nidificação e refúgio. Uma das possibilidades de melhorar a qualidade ambiental do litoral sul seria o enriquecimento desses núcleos com o replantio das espécies arbóreas mais escassas ou ausentes, o que levaria com o tempo ao enriquecimento da fauna silvestre e principalmente de avifauna. Além disso, a manutenção de 138 corredores, através de matas ciliares ou zonas de proteção (como as unidades de conservação de Aratu e Jacarapé) teriam a finalidade de aumentar o tamanho desses núcleos, facilitando o fluxo gênico entre eles. A matriz de Compatibilidade de Usos elaborada para o litoral Norte de João Pessoa evidenciou 11 diferentes tipos de usos que pressionam os ambientes naturais locais, os quais forneceram 15 tipos de interações conflitantes entre si e 2 mutuamente exclusivas (Tabela 07). No litoral sul, por sua vez foram encontrados 21 diferentes tipos de usos que forneceram 38 interações competitivas entre si e 10 mutuamente exclusivas (Tabela 08). O maior número de usos e de interações conflitantes observadas no litoral sul é evidente, visto que ainda existem muitos ambientes naturais nessa porção do município, em diferentes níveis de conservação, como já foi demonstrado antes, enquanto que no litoral norte praticamente todo o espaço natural já foi convertido em zona urbana. Tabela 07 - Matriz de Compatibilidade de usos para o litoral norte de João Pessoa/PB. TIPOS DE USOS LITORAL NORTE 1 Residencial 1 2 Comércio na orla (bares e restaurantes) S 3 Suporte aos turistas (hotéis, pousadas e serviços S S 3 4 Recreacional S S S 4 5 Preservação Ambiental M C C M 5 6 Especulação imobiliária S N N N N 6 7 Pesca artesanal S N S N N N 7 8 Pesca esportiva S S S S N N N 8 2 9 Emissões de esgotos C C C C C S C C 9 10 Ocupações indevidas S C S S C C N N S 10 11 Disposição de resíduos sólidos S C S S C C S S S S 11 NOTA: S=atividades suplementares, C= Atividades Competitivas, M= Atividades Mutuamente exclusivas, N= Atividades não relacionadas uma com a outras. 139 Tabela 08 - Matriz de compatibilidade de usos para o litoral sul de João Pessoa/PB. TIPOS DE USOS LITORAL SUL 1 Residencial 1 2 Comércio na orla (bares e restaurantes) S 2 3 Suporte aos turistas (hotéis, pousadas etc. S S 4 Recreacional S S S 4 5 Agricultura de subsistência S N N N 5 6 Agricultura extensiva S N N N S 7 Preservação Ambiental M C C M M M 7 8 Mineração de areia e barro M N C C C M M 8 9 Granjas S N N C S S C N 9 10 Especulação imobiliária S N S S N M C S N 11 Pesca artesanal S N S N N C C N N N 12 Pesca esportiva S S S S N C C N N N S 12 13 Pecuária S N N N S M C N S N N N 13 14 Religioso S S S S N N N N N N N N N 15 Emissões de esgotos C C C N N C C N N C C C N S 15 16 Ocupações indevidas S C S S S M C N S S N N N N S 16 17 Caça e atividade de passarinhar S N N S S C C N S N N N N N N S 18 Retirada de Madeira S S N C S C C S S N N N N N N S C 18 19 Retirada de Lenha S S N C S C C S S N N N N N N S C S 19 20 Fabricação de carvão S N N N S C C S S N N N N N N S C S S 20 21 Disposição de resíduos sólidos S S S S S C C S S S S S S S S S S S S N 3 6 10 11 14 17 NOTA: S= Atividades suplementares, C= Atividades Competitivas, M= Atividades Mutuamente exclusivas, N= Atividades não relacionadas uma com a outras. 21 140 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 1)- A expansão urbana do litoral de João Pessoa em direção à orla iniciou-se pelo litoral norte, sendo que hoje esta porção do município já se encontra totalmente urbanizada. Restam poucas áreas naturais remanescentes, e o crescimento urbano avança agora de forma acelerada pelo litoral sul, alterando de forma dramática a qualidade ambiental do que resta. 2)- Muitas atividades desenvolvidas no litoral de João Pessoa são conflitantes com a manutenção da qualidade ambiental, algumas delas são inclusive mutuamente exclusivas. A degradação da paisagem e a retração de habitats verificadas na área levam a perda da biodiversidade simplificando as funções ecossistêmicas e diminuindo os serviços dos ecossistemas que são importantes para o bem estar humano. Água limpa, ar puro, paisagem integra, solo fértil, capacidade de remoção de poluentes, proteção natural contra erosão e assoreamento, etc, são exemplos de serviços ambientais que estão sendo perdidos no litoral de João Pessoa, devido à forte pressão das atividades humanas. 3)- As invasões de terras públicas protegidas por leis ambientais são comuns tanto no litoral norte como no litoral sul de João Pessoa, e tanto pobres como ricos tem feito uso dessa prática, indicando total ausência do estado no cuidado com o meio ambiente e na gestão sustentável dos interesses difusos relacionados aos recursos naturais. 4)- A desarmonia entre qualidade ambiental e crescimento urbano é clara na área estudada, indicando que os limites da capacidade de suporte dos ecossistemas locais não são respeitados no tocante à exploração de seus espaços e recursos, avançando o crescimento da cidade sobre ambientes notáveis de mata atlântica, manguezais, restingas, encostas, margens de corpos d’água, topos de falésias, corpos d’água e campos de várzeas. 5)- Todos os remanescentes naturais que ainda restam no município de João Pessoa merecem atenção urgente visto que estão perdendo qualidade 141 ambiental de forma acelerada, conforme evidenciado pelos valores dos índices de qualidade ambiental calculados. Se considerarmos como sendo 1 (um) a qualidade ambiental de ecossistemas íntegros e 0 (zero) a qualidade ambiental de ambientes completamente destruídos, concluímos que o menor valor do índice de qualidade do litoral sul, embora apresentando maior diversidade de ambientes naturais, deve-se ao rápido processo de expansão urbana que vem acontecendo na área degradando os diferentes ecossistemas por pressões antrópicas múltiplas. 6)- A expansão urbana leva ao crescimento econômico, mas também gera problemas sociais. A apropriação indevida dos recursos naturais como observado neste estudo evidencia que o quadro deverá se agravar de forma expressiva numa escala de tempo muito curta, visto que o incremento dos impactos antrópicos na área relaciona-se diretamente com o incremento das populações humanas locais e das atividades que desenvolvem. 7)- Conclui-se, ainda, a partir dos resultados gerados na pesquisa, que é de fundamental importância para o município de João Pessoa a elaboração e a atualização dos instrumentos legais que norteiem e traçam as diretrizes para o desenvolvimento da cidade, sendo prioritários a recuperação das áreas degradadas e o resgate do patrimônio natural para a natureza. Entende-se que são necessárias interferências urgentes do poder público no sentido de gerenciar melhorar os usos dos espaços litorâneos naturais do município de João Pessoa, seguindo o que preceituam as leis ambientais, como formas imediatas de frear a degradação que vem ocorrendo na área, a fim de garantir o uso sustentável e a conservação dos recursos naturais remanescentes 10)- Reconhece-se, finalmente, que mais investimentos em infraestrutura como drenagem, saneamento básico e coleta de lixo são necessários a fim de minimizar os danos ao meio ambiente, e que o desenvolvimento de programas de educação ambiental junto à população local é imprescindível de ser executado pelo poder público se quisermos mudar atitudes e comportamentos das pessoas em relação ao meio ambiente. 142 11)- Considerando os diversos fatores observados na pesquisa, fica clara a necessidade urgente de uma política ambiental eficiente para o litoral de João Pessoa se quisermos pensar em sustentabilidade econômica, ecológica e social para as gerações atuais e futuras. A redução dos recursos naturais e a intensificação na ocupação nas terras públicas, e as derivações conseqüentes dessa ocupação (poluição e contaminação das águas, diminuição de áreas florestadas, lixo, etc.), serão com certeza o preço a ser pago se nenhuma ação de curto prazo for estabelecida quanto à necessidade do estabelecimento de um programa de gerenciamento ambiental para a área. 143 8 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACIESP. Glossário de Ecologia. São Paulo, Academia de Ciências do Estado de São Paulo, Publicação ACIESP no 103, CNPq, FINEP, FAPESP, Secretaria da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Tecnológico, 2a edição (revista e ampliada), 1997, 352p. AESA - Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba – Governo da Paraíba. Disponível em: http://www.aesa.pb.gov.br/meteoro/. Acesso em 14/04/2009. ALFARO, F. M. & OYAGUE, P. R. Sistema Nacional de Información Ambiental. Lima, 1997. ALVES, J. B. 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