Revista Eletrônica
Fundação Educacional São José
9ª Edição
ISSN:2178-3098
MEMÓRIAS DE DOIS ILUSTRES POETAS, QUE SE DEIXAM
VISLUMBRAR: PEDRO NAVA E MURILO MENDES
Liene Maria Meireles Quinet1
Maria Cláudia Helena de Souza2
Mirian Bartels3
RESUMO
O presente artigo se propõe a abordar parte das memórias dos poetas mineiros Murilo Mendes
e Pedro Nava. Tem por finalidade o cotejo entre as narrativas de A idade do serrote e Baú de
ossos, sob o enfoque da literatura comparada, identificando os possíveis diálogos
intertextuais. São obras literárias de caráter memorialista e autobiográfico, que possuem
temáticas comuns, uma vez que os autores são contemporâneos e têm forte ligação com a
terra natal, cidade em que viveram a infância e juventude. Os autores buscaram retratar Juiz
de Fora, recordando o passado e registrando fatos que marcaram suas vidas de forma
envolvente. Várias foram as suas individualidades e tantas outras aproximações, que fizeram
com que parte das memórias desses dois ilustres poetas fossem vislumbradas.
Palavras Chaves: Murilo Mendes. Pedro Nava. Memórias.
RESUMEN
Este artículo pretende abordar algunos de los recuerdos de los poetas “mineiros” Murilo
Mendes y Pedro Nava. Su propósito es la comparación entre las narrativas A idade do
serrote y Baú de ossos, desde el punto de vista de la literatura comparada, identificando los
diálogos intertextuales posibles. Son obras literarias de carácter memorialista y
autobiográfico, que tienen temas comunes, ya que los autores son modernos y tienen un fuerte
1
Liene Maria Meireles Quinet: Mestranda em Letras - Área: Literatura Brasileira – tradição e ruptura (2011).
Possui graduação em Educação Artística pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1997), especialização em
Recursos Humanos (1991) e graduação em Administração pela Faculdade Machado Sobrinho (1987).
Atualmente é administrador da Universidade Federal de Juiz de Fora. Tem experiência na área de
Administração, com ênfase em Administração / Endereço: Rua Ivon José Curi, 90 – Portal da Torre – 36037-467
- Juiz de Fora-MG / Telefone: (32) 3231-4700 – 8851-1102 / E-mail: [email protected].
2
Maria Cláudia Helena de Souza: Mestranda em Letras - Área: Literatura Brasileira: Literatura de Minas - o
regional e o universal (2011). Possui graduação em Administração pela Universidade Federal de Juiz de Fora
(2010), especialização em Engenharia Econômica pela Faculdade Machado Sobrinho (1991) e graduação em
Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1987). Atualmente é assistente em
administração da Universidade Federal de Juiz de Fora. Tem experiência na área de Administração, com ênfase
em Administração / Endereço: Rua José Lourenço Kelmer, 1074 casa 02 – São Pedro – 36036-330 – Juiz de
Fora-MG / Telefone: (32) 3231-1661 – 8866-4906 / E-mail: [email protected];
[email protected].
3
Mirian Bartels: Mestranda em Letras - Área: Literatura Brasileira - tradição e ruptura (2011). Possui
especialização em Administração de Recursos Humanos pela Faculdade Machado Sobrinho (1996). Graduação
em Administração (1994) e Letras (1983) ambos pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Atualmente é
assistente em administração da Universidade Federal de Juiz de Fora. Tem experiência na área de
Administração, com ênfase em Administração / Endereço: Rua São Damião, 107 – Borboleta – 36035-580 – Juiz
de Fora – MG / Telefone: (32) 3211-9053 – 9977-9053 / E-mail: [email protected].
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vínculo con la ciudad natal en el que vivieron su infancia y juventud. Los autores trataron de
retratar la ciudad de Juiz de Fora, recordando el pasado y haciendo registro de hechos que
marcaron sus vidas de forma envolvente. Varias fueron sus individualidades y muchos otros
enfoques, que hicieron con que parte de los recuerdos de estos dos ilustres poetas fueran
concebidos.
Palabras clave: Murilo Mendes. Pedro Nava. Memorias.
INTRODUÇÃO
Para que a mensagem literária seja estudada e analisada com fidelidade, são
necessárias três bases de sustentação, a saber: o autor, a obra e o leitor. No presente artigo os
autores envolvidos são Murilo Mendes e Pedro Nava; as obras, A idade do serrote e Baú de
ossos, e o leitor, na verdade são as leitoras4 que pretendem abordar comparativamente parte
das memórias dos poetas mineiros citados.
Este artigo tem por finalidade refletir sobre as duas obras literárias mencionadas,
publicadas em 1968 e 1972, respectivamente, desenvolvendo um estudo sob o enfoque da
literatura comparada, ou seja, estabelecendo-se um cotejo com a finalidade de comprovar suas
individualidades e aproximações.
Segundo Tânia Franco Carvalhal, (2006, p. 7), “[...] literatura comparada não pode ser
entendida apenas como sinônimo de ‘comparação’”. Considera a autora, que “[...] a
comparação não é um método específico, mas um procedimento mental que favorece a
generalização ou a diferenciação”.
Ainda para Carvalhal (2006):
[...] a literatura comparada compara não pelo procedimento em si, mas
porque, como recurso analítico e interpretativo, a comparação possibilita a
esse tipo de estudo literário uma exploração adequada de seus campos de
trabalho e o alcance dos objetivos a que se propõe. Em síntese, a
comparação, mesmo nos estudos comparados, é um meio, não um fim
(CARVALHAL, 2006, p. 8).
Sendo a literatura comparada um instrumento, conforme explica o fragmento
transcrito, entende-se que através dela, pode-se descobrir relações intertextuais entre as obras
4
As leitoras, identificadas pela autoria do presente artigo, são alunas do Programa de Mestrado em Letras-Área
de concentração: Literatura Brasileira do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. CES-JF.MG.
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estudadas. Carvalhal (2006, p. 54) observa que: “A noção de intertextualidade abre um campo
novo e sugere modos de atuação diferentes ao comparativista”.
Segundo Antonio Candido, outro pesquisador, (1989, p. 54) A idade do serrote,
escrito em prosa-poesia, é uma autobiografia “através de uma poesia inextricavelmente ligada
à ficção”, enquanto Baú de ossos, escrito em prosa, é autobiografia “como se fosse ficção”.
Ainda para Candido, embora existam diferenças entre os livros, existe “um substrato comum,
que permite lê-los reversivelmente como recordação ou como invenção, como documento da
memória ou como obra criativa, numa espécie de dupla leitura [...]”.
Levando-se em conta que as obras são autobiografias e os autores contemporâneos são
mineiros de Juiz de Fora, será feita a análise contrastiva das narrativas sob o enfoque
comparatista, identificando os possíveis diálogos intertextuais que se entrecruzam nos textos,
resguardando a originalidade de cada autor que, através de suas lembranças, conferiram aos
relatos um caráter de verossimilhança.
OS AUTORES E OBRAS
Murilo Monteiro Mendes (1901-1975), poeta modernista premiado em sua primeira
publicação, Poemas (1930), registrou em prosa em A idade do serrote, um acontecimento
que marcou sua juventude e influenciou sua escrita poética: a passagem do cometa Halley5.
Outro episódio considerado importante para Murilo Mendes foi a apresentação do dançarino
russo Vaslav Nijinski, no Rio de Janeiro, tendo o autor fugido do colégio em Niterói para
assistir a seus espetáculos. Sobre o fato, relata Murilo Mendes em “Nijinski”, extraído do
livro Retratos-relâmpago, 2ª série (1973-1974) e transcrito em Transístor, sua antologia de
prosa (1980): “Tenho 16 anos, logo rejeito a dimensão comum do mundo. Precipita-se o carro
do meu destino. Alço-me à faixa do relâmpago. Não existe o problema de Deus. Existe Deus
revelado pelo ‘êxtase material’” (MENDES, 1980, p. 226). No texto “Microdefinição do
autor”, extraído do livro Poliedro (1972) e também transcrito em Transístor (1980), Murilo
Mendes revela seu interesse pela literatura:
Sinto-me compelido ao trabalho literário: pelo desejo de suprir lacunas da
vida real; pela minha teimosia em rejeitar as ‘avances’ da morte (tolice:
como se ela usasse o verbo adiar); pela falta de tempo e de ideogramas
chineses; pela minha aversão à tirania – manifesta ou subdola – à guerra,
maior ou menor; pelo meu congênito amor à liberdade, que se exprime
5
O cometa Halley passou em 1910 e tem a periodicidade de 76 anos
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justamente no trabalho literário; pelo meu não-reconhecimento da fronteira
realidade-irrealidade; pelo meu dom de assimilar e fundir elementos
díspares; [...] por ter visto Nijinski dançar [...] (MENDES, 1980, p. 83).
Em A idade do serrote, o autor/narrador escreve sobre o tempo vivido em sua cidade
natal, registrando que aquela vivência da infância, a cantiga de sua ama-de-leite entrara em
seus poros, assimilando-a. Para ele, ali começava a música, o ritmo do homem, alcançando
também o poeta, que o acompanharia “para todo o sempre” (MENDES, 1994, p. 898).
Pedro da Silva Nava (1903-1984) publicou Baú de ossos, seu primeiro livro de ficção,
após sua aposentadoria como médico. Esta obra faz parte de suas memórias que somam seis
volumes. Desde criança, manifestou seu amor pelos livros e interesse em guardar dados, fatos
e papéis, provavelmente demonstrando vocação nata do escritor memorialista.
Seu acervo faz parte do Arquivo-Museu de Literatura Brasileira da Fundação Casa de
Rui Barbosa, biblioteca literária da Casa de Rui Barbosa, contendo 6.110 documentos, que
abrangem o período de 30 de junho de 1836 até 02 de novembro de 1993.
Segundo Eliane Vasconcelos6, (2001, p. 11), o próprio autor doou vários documentos
e, “em 1981, fez a doação mais importante para o estudo de sua obra: os originais de Baú de
ossos, Balão cativo, Chão de ferro, Beira mar e Galo-das-trevas”.
A idade do serrote registra os ritos de passagem que Murilo Mendes vivenciou da
infância até a idade adulta. São narradas as lembranças da meninice; a saudade da mãe; a
afeição pela segunda esposa do pai; a ternura da família; os costumes da terra mineira; a
religiosidade que lhe foi comunicada na mais remota idade; a passagem do cometa Halley,
entre outros assuntos importantes.
Murilo Mendes narra o surgimento da poesia em sua vida, a brincadeira com as
palavras, o amor pelas letras, o gosto pelo humor e pelas histórias que eram narradas por
várias pessoas com as quais ele conviveu.
A história não segue a ordem cronológica na apresentação dos acontecimentos. A
infância é revelada através dos personagens que dão vida à representação poética de um
tempo e de um espaço singulares.
Cada personagem contribui para a formação de seu espírito e de seu universo poético.
O pai lhe transmite os ensinamentos de respeito e de amor ao próximo, e a primeira noção de
ecumenismo; Isidoro da Flauta, a música; Dona Coló, encarnação da chatice “Deus amará os
6
Chefe do Arquivo-Museu de Literatura Brasileira, por ocasião da publicação da obra referida.
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chatos?” (MENDES, 1997, p. 910); o poeta Belmiro Braga, as primeiras experiências
poéticas; a namorada Cláudia e as outras namoradas, as mulheres; entre outros.
O último capítulo do livro, “O olho precoce”, resume a sua humanidade, as colagens
experimentais, o fascínio pelo mundo visível e pelo invisível, o interesse pela mulher, o
universo reduzido à metáfora:
[...] uma flor desde o início era para mim uma flor e mais que uma flor; um
bicho era um bicho mesmo e ainda mais que um bicho, etc.
[...] Assim o universo em breve alargou-se-me. A mitização da vida
cotidiana, dos objetos familiares, enriqueceu meu tempo e meu espaço,
tirando-me o apetite para os trabalhos triviais; daí minha falta de vocação
para um determinado ofício, carreira, profissão. ‘Quel siècle à mains!’
segundo, desdenhosamente, Rimbaud.
O prazer, a sabedoria de ver, chegavam a justificar minha existência. Uma
curiosidade inextinguível pelas formas me assaltava e me assalta sempre.
Ver coisas, ver pessoas, na sua diversidade, ver, rever, ver, rever. O olho
armado me dava e continua a me dar força para a vida (MENDES, 1994, p.
974).
As pesquisadoras e estudiosas da obra de Murilo Mendes, Leila Maria Fonseca
Barbosa e Marisa Timponi Pereira Rodrigues (2000), observam:
A idade do serrote articula, pois, texto-memória com texto literário, sem
que se descarte do saber adquirido no universo-vida posterior ao tempo
lembrado. A ruptura dos limites que definem presente e passado realiza a
visão múltipla da origem caótica, a presença da Mulher criação-destruição, a
(con)fusão sexualidade-religiosidade e o retorno ao Uno Primordial (Deus)
como unidade. A construção da memória implica, pois, a desconstrução do
tempo e abole os limites entre literatura e auto-biografia7 entre real e ficção,
entre fim e começo (BARBOSA, 2000, p. 49-50).
Pedro da Silva Nava foi médico e escritor. Publicou livros na área da medicina,
contudo, sua maior produção aconteceu como poeta: Baú de Ossos – Memórias 1; Balão
Cativo - Memórias 2; Chão de Ferro - Memórias 3; Beira-mar - Memórias 4; Galo das
Trevas - Memórias 5, O Círio Perfeito - Memórias 6. Nestas memórias, ele traçou um
painel completo da cultura brasileira do século XX bem como os costumes familiares e sua
cultura popular.
Na publicação da sétima edição de Baú de ossos (1984) Antonio Candido apresentou
a obra, escrevendo o seguinte:
7
Este vocábulo não está atualizado pelo Novo Acordo Ortográfico em vigor. Em todas as demais transcrições
textuais será mantida a grafia original dos autores citados.
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Antes de abordar do estudo da sua obra, conviria lembrar que, se estamos
habituados a tratar Drummond e Murilo na categoria dos maiores escritores,
a presença entre eles de Pedro Nava pode espantar alguns, porque a sua
revelação é recente e as pessoas ainda não se habituavam a aceitar a sua
eminência ou admitir que um livro de memórias possa ter a altura das
grandes obras literárias. Ora, justamente porque estou convencido desde o
primeiro momento de que assim é, ou seja, de que Pedro Nava é um dos
grandes escritores brasileiros contemporâneos, não hesitei em situá-lo na
devida companhia (NAVA, 1984, contracapa).
Carlos Drummond de Andrade, em “Baú de surpresas”, nota da sétima edição de Baú
de ossos (1984), entre outras coisas escreveu: "Pedro Nava surpreende, assusta, diverte,
comove, embala, inebria, fascina o leitor com suas memórias da infância, a que deu o título de
Baú de Ossos8" (NAVA, 1984, p. 7). Drummond resume em poucas palavras o livro Baú de
ossos, em que Nava, valendo-se da memória, faz saltar do baú não somente a multidão antiga
dos vivos, mas também o espaço e o tempo em que suas vidas se situaram, despertando o
interesse pela sua leitura. Em Baú de ossos, Pedro Nava recorda seu passado e narra o
passado de seus ascendentes. Descreve com riqueza de detalhes pessoas, lugares, dias, fatos e
objetos.
Sucintamente, o Capítulo I – Setentrião, é dedicado à composição do passado familiar;
Capítulo II – Caminho Novo, retrata a regionalidade de Minas Gerais; Capítulo III –
Paraibuna, o “rio” e o seu curso, o curso da vida e Capítulo IV – Rio Comprido, as mudanças
de curso, mudanças da vida de Pedro Nava.
O autor termina o livro relatando suas memórias dos últimos dias da vida de seu pai,
das dificuldades da família com a morte do patriarca, da viagem de volta para Juiz de Fora
com sua mãe grávida e do estado de penúria que ficaram com a morte do pai, pois não havia
pensão para a família.
O COTEJO, SUAS INDIVIDUALIDADES E APROXIMAÇÕES
A idade do serrote está estruturada em 41 capítulos rápidos, enquanto que Baú de
ossos, está distribuído em 4 capítulos densos. Ambas as obras foram publicadas durante a
vigência da ditadura militar no Brasil.
8
De acordo com nota 4.
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Os dois autores fazem uso de parlendas9 para compor suas obras. Murilo Mendes, em
A idade do serrote, ao escrever sobre Etelvina, sua ama-de-leite, menciona as palavras que
aprendeu com ela, entre elas papão, mula-sem-cabeça e a cantiga Quindum sererê, “[...]
recordo-me que mencionava geringonça, ou antes giringonça, papão, cocô, mula-sem-cabeça
[...]. Etelvina foi a primeira a cantar para nós o tristíssimo Quindum sererê” (MENDES, 1994,
p. 898).
Pedro Nava, em Baú de ossos, ao referir-se aos políticos da época, também faz uso de
parlendas, “Em terra de cego quem tem um olho é rei. Em terra de rei quem tem um olho é
cego. Em terra de olho quem tem um cego é rei...” (NAVA, 1984, p. 238).
Tanto Murilo Mendes quanto Pedro Nava registraram em suas obras a Belle Époque10.
Na obra A idade do serrote, observa-se a influência desse período em diversos fragmentos,
citaremos dois:
Juiz de Fora naquele tempo era um trecho de terra cercado de pianos por
todos os lados (MENDES, 1994, p. 920).
O salão de visitas era guarnecido de altos miroares ovais, vitrinas com toda
espécie de bibelôs, algumas gravuras reproduzindo quadros célebres,
estantes de livros e uma quantidade enorme de almanaques nacionais ou
estrangeiros, minha delícia; penas de pavão pregadas em forma de leque na
parede, almofadas em seda ou veludo; o luxo de um piano de cauda, além do
nascente gramofone, flor acústica, roxa, de metal, objeto de minha paixão e
surpresa. [...] Nesse tempo o cúmulo da elegância consistia em ostentar
objetos de Paris: eram, ex-officio, maravilhosos. De Paris! (MENDES, 1994,
p. 949).
Na obra Baú de ossos, também se observa a referência de Pedro Nava a essa época em que se imitava o
modo de viver em Paris. Pode-se inferir que o autor, porém, refere-se a este momento com um tom carregado de
ironia ao questionar sobre a beleza e a desconstrução que provocava. Possivelmente, está refletindo sobre o
mascaramento dos costumes e cultura locais em prol de uma sofisticação dos modelos europeus, que evidenciava
como vivia a elite burguesa brasileira:
9
Palavreado, conversa; conjunto de rimas infantis, geralmente curtas e divertidas, para memorizar algo, escolher
alguém, etc., conforme Dicionário Caldas Aulete.
10
Um período na história da Europa, que iniciou em fins do século XIX e se estendeu até 1914, com eclosão da
primeira guerra mundial. Foi uma época marcada por profundas transformações culturais que se traduziram em
novos modos de pensar e viver o cotidiano. Paris, a Cidade Luz, era considerada o centro produtor e exportador
da cultura mundial. No Brasil A Belle Époque brasileira é, no entanto, instaurada lentamente no país, por meio
de uma breve introdução que começa em meados de 1880, e depois ainda sobrevive até 1925, sendo aos poucos
minada por novos movimentos culturais. Disponível em: http://www.infoescola.com/artes/belle-epoque/ .
Acesso em: 20 jun. 2012.
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La belle époque... O que teria sido ao justo essa belle époque?
Diferentemente das outras épocas? Melhor? Ao pensar nela, em conjunto,
tem-se a impressão de uma farândola de sobrecasacas e cartolas com
reflexos, de senhores – catléias na lapela, de senhoras numa nuvem de
plumas [...] Teria sido, ao menos, bela? Ou julgamo-la bela pela ilusão de
que tudo estava pronto – quando tudo estava é por destruir e que era
necessário recomeçar da primeira pedra. [...] Aquela parada durou uns vinte
e quatro anos e ficou entre dois estouros: o da bomba de Vaillant, que
sacudiu a Câmara dos Deputados Franceses – La séance continue... – e o do
tiro de revólver de Prinzip, que sacudiu Serajevo, a Áustria, a Europa, o
Mundo, e depois do qual nada continuou. Belle époque – fenômeno francês,
no tempo em que a terra só tinha uma capital – Paris (NAVA, 1984, p. 234235).
Murilo Mendes ao iniciar a narrativa em A idade do serrote, deixou evidente ser uma
obra autobiográfica. Nela foram mencionadas pessoas importantes em sua infância, entre eles
os pais, os irmãos, as babás, bem como os fatos e lugares que ficaram registrados em sua
memória, tais como: os jardins-pomares, as doenças de criança, as primeiras letras, a
passagem do cometa Halley, os sonhos, as lembranças do rio Paraibuna e, ainda a origem
cósmica do universo: “Temporal sobre a cidade. Chuva de granizos. O arco-íris no morro do
Imperador” (MENDES, 1994, p. 895).
Pedro Nava (1984), em Baú de ossos, apesar de iniciar a narrativa com uma lamúria
sobre a condição humana: “Eu sou um pobre homem do Caminho Novo11 das Minas dos
Matos Gerais” (NAVA, 1984, p. 19), também deixa claro o sentido autobiográfico da obra.
No primeiro parágrafo menciona a Rua Direita, onde nasceu: “Nasci nessa rua, no número
179 [...]. E nas duas direções apontadas por essa que é hoje a Avenida Rio Branco hesitou a
minha vida” (ibidem p. 19). Nesse sentido entende-se que o autor ao situar seu nascimento e
as direções que a rua indicava, tenha se colocado diante da vida, disposto a encarar os
desafios impostos.
Murilo Mendes, em A idade do serrote, mostra-se como um poeta universal que,
mesmo residindo longe de seu país, escreveu um livro de memórias totalmente dedicado às
suas origens. O autor fez várias referências à sua cidade natal, e pode-se perceber a
11
Caminho Novo: As origens de Juiz de Fora remontam ao período da expansão da mineração e da construção
do Caminho Novo em 1709. Atribui-se o início do povoamento à fazenda de um Juiz de Fora, situada ao longo
do Caminho Novo, à margem esquerda do Paraibuna. [...] Com a construção do Caminho Novo, a distância entre
o Rio de Janeiro e o interior de Minas foi reduzida, o que levou a integração da Zona da Mata à economia
mineradora. [...] Denominado de Santo Antônio do Paraibuna, o povoado só se desenvolve após 1838, quando
são concluídas as obras de retificação do traçado do Caminho Novo pelo engenheiro Guilherme Henrique
Fernando Halfeld. Fragmento extraído de: Entre o rio e a colina tudo começou. Cadernos para o professor. Juiz
de Fora: Secretaria Municipal de Educação – Prefeitura de Juiz de Fora, v. 1, n. 2, p. 7-8, mai. 1993.
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importância que atribui a Juiz de Fora e ao seu desenvolvimento sócioeconômico no trecho a
seguir:
[...] ouço as sirenes das fábricas apitando para o almoço: Juiz de Fora,
dizem, antecipou-se a São Paulo em certos pontos da industrialização, conta
uma usina hidroelétrica além de muitas fábricas de tecidos, de cerveja, de
móveis, etc (MENDES, 1994, p. 957).
Os dois autores referem-se a esse progresso em épocas distintas: Murilo Mendes o
retrata a época de sua infância e adolescência enquanto Pedro Nava reporta-se aos finais do
século XIX:
Juiz de Fora progredia. A população subia, andava ali pelos doze a treze mil
habitantes – imaginem! Treze mil! e essa densidade exigia progresso. Esse
começara em 1870 com a inauguração dos telégrafos. Logo depois viriam os
trilhos da Estrada de Ferro D.Pedro II. [...] Em 1886, grande animação com
uma Exposição Industrial que reflete a pujança do município (NAVA, 1984,
p. 227-228).
Ainda com referência a Juiz de Fora, Murilo Mendes retrata a Rua Halfeld, e o faz
descrevendo as pessoas que trafegam por ela, traçando o seu perfil, como no fragmento a
seguir: “[...] Aí vem Juvenal, olhar telegráfico, o primeiro da classe, ar mandão, muito
consciente do seu sucesso, timbra sempre em me esmagar do alto das sobrancelhas”
(MENDES, 1994, p. 959). Murilo Mendes deixa registrado que a sua preocupação é retratar
as pessoas que trafegam pela Rua Halfeld, no seguinte trecho:
Escrevo sobre a rua Halfeld sem situá-la no espaço, ocupando-me somente
com as pessoas que a percorrem. Nada a fazer: assim sou eu, ponho sempre
em primeiro plano o homem e a mulher. Direi entretanto que a rua Halfeld é
uma reta muito comprida, começando às margens do Paraibuna e terminando
além da Academia de Comércio. Nos dois lados levantam-se casas [...]
(MENDES, 1994, p. 961).
Pedro Nava refere-se à Rua Halfeld, situando-a no espaço, o que pode ser percebido
no trecho a seguir:
A Rua Halfeld desce como um rio, do morro do Imperador, e vai desaguar
na Praça da Estação. Entre sua margem direita e o Alto dos Passos estão a
Câmara; o Fórum; a Academia de Comércio, com seus padres; o Stella
Matutina, com suas freiras; a Matriz com suas irmandades [...] (NAVA,
1984, p. 20).
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Um traço que também aproxima os textos dos autores é a referência que fazem ao pai.
Ambos referem-se à figura paterna com carinho e admiração. Ao falecer seu pai, Murilo
Mendes já era adulto e ao referir-se à sua morte, relata:
Meu pai morre imprevistamente aos 70 anos, cercado do afeto de todos; [...]
tendo seguido a lição do samaritano, prolongou além da sua casa o círculo da
família, sem jamais fechar ao pobre o olhar e a bolsa.[...] Moviam meu pai,
conservador-progressista, a tradição, a grandeza de ânimo, a tolerância, a
ternura antissentimental, o bom senso. Ouvindo-o nunca reparei que lhe
faltava o canudo de doutor. Praticou a paz, não a paz telegráfica e a de
comícios; viveu a paz em música de câmara, amando-a total na sua carne e
no seu espírito (MENDES, 1994, p. 972-973).
Pedro Nava perdeu o pai ainda criança, e em Baú de ossos retrata o sentimento de
perda que o acompanhou por toda a vida após a morte do pai:
Como a visão que tem o nadador bracejando em mar bravo que ora tudo
abarca da crista da onda, ora nada vislumbra coberto pelo roldão.
Mergulhando e emergindo. Não sei se sofri na hora. Mas sei que venho
sofrendo destas horas, a vida inteira. Ali eu estava sendo mutilado e reduzido
a um pedaço de mim mesmo, sem perceber, como o paciente anestesiado que
não sente quando amputam sua mão. Depois a ferida cicatriza, mas a mão
perdida é dor permanente e renovada, cada vez que a intenção de um gesto
não se pode completar (NAVA, 1984, p. 441).
Juiz de Fora está situada entre o Rio Paraibuna e as montanhas. O rio era considerado
tortuoso e, é provável, que a origem do nome Paraibuna seja proveniente do tupy “para-y-buna12”, significando em português “rio-águas-escuras”. O rio foi retratado pelos autores
Murilo Mendes e Pedro Nava, que referindo-se a ele, confirmam a sedução que provocava nas
pessoas para os suicídios.
Murilo Mendes, em A idade do serrote (1994, p. 962), referindo-se a Teresa, uma
jovem mulata adotada pela prima Sinhá Leonor, confessa que na adolescência sentiu por ela,
forte atração física. Murilo Mendes relata com tristeza, que alguns anos mais tarde, já
residindo no Rio, recebeu uma notícia que o abalou: “[...] soube que Teresa, perturbada pela
ruptura do noivado com um operário da Cervejaria Americana, atirara-se de noite nos braços
do Paraibuna”.
12
Conforme MELLO, Octaviano. Dicionário Tupi-Português, Português-Tupi. São Paulo: Folco Masucci, 1967.
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Relativamente ao Paraibuna e aos suicídios, Pedro Nava (1984, p. 215) registra: “O rio
era tortuoso, barrento, águas propícias ao afogamento de meninos, aos suicídios das moças
seduzidas e das escravas judiadas do Visconde de Monte Mário”.
Sobre as marcas femininas, Murilo Mendes dedicou parte de A idade do serrote a
grandes mulheres. Ele narrou sobre pessoas que fizeram parte de sua infância e adolescência,
entre elas, Etelvina, Sebastiana, Analu, Cláudia, Marguí, prima Julieta, Adelaide, primas
Carmem, Sinhá Leonor e suas três filhas, Mariana, Abigail e Hortênsia, além de outras como
boas lembranças.
As mulheres entram na obra memorialística de Murilo Mendes segundo a ordem de
aparição delas na vida do escritor, pois são pessoas que participaram de seu convívio. Em
contraponto, Pedro Nava ressuscitou personagens familiares para a narração, inclusive, de sua
ascendência memorialista.
Em relação à mãe, Murilo Mendes a perdeu quando estava com um ano e meio, mas
ressaltou a grande importância da madrasta, sua segunda mãe, na obra A idade do serrote
(1994):
Minha mãe, afeiçoada ao canto e ao piano, morre de parto com vinte e oito
anos. Torna-se constelação. Minha segunda mãe, Maria José, grande dama
de cozinha e salão, resume a ternura brasileira. Risquei do vocabulário a
palavra madrasta (MENDES, 1994, p. 896).
Pedro Nava, em Baú de ossos (1984) registrou: “Você esquecia minha
Mãe, uma das mulheres mais inteligentes que conheci” (NAVA, 1984, p. 199),
grafando o vocábulo com inicial maiúscula. Cabe mencionar que Nava expandiu
a
inicial
considerava
maiúscula
ao
praticamente
vocábulo
entidades,
“Pai”
e
pode-se
demonstrando
a
inferir
que
importância
ele
os
deles
em
suas memórias e vida.
Uma das fortes impressões guardadas na minha infância era a de quando eu
acordava e ficava calado, de minha cama, assistindo a meu Pai em luta com
sua asma. Ele se punha sentado na beira do leito, braços fortemente esticados
para poder levantar os ombros, coberto de suor, olhos arregalados, boca
aberta, querendo beber um ar que não entrava. Minha Mãe providenciando
os sinapismos de Rigolot [...]; as fricções, os cataplasmas, os agasalhos, os
escalda-pés, as injeções ... Afinal a crise ia cedendo e a cabeça exausta caía
num travesseiro amarrado nas costas de uma cadeira. Para que esta não
fugisse, nela sentava minha Mãe, cochilando (NAVA, 1984, p. 310).
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Murilo Mendes considera as mulheres figuras sensíveis, mas com muita energia.
Alguns detalhes foram registrados pelo autor/narrador, que devem ser explicitados, quando o
assunto é mulher, pois ele a trata com respeito.
Em suas memórias, Murilo Mendes tem a intenção de recuperar raízes vivenciadas.
Narra sobre as babás Etelvina e Sebastiana: “O nome Etelvina pertence a uma eternidadezinha
anterior à minha primeira notícia de Deus, do cosmo [...] Etelvina serviu-nos de primitiva toca
e santuário” (MENDES, 1994, p. 898) e “A infância senta-se nos meus joelhos ou nos peitos
pretos de Sebastiana? [...] Sebastiana só tem peito e mão, eu nunca vi os pés de Sebastiana”
(Ibidem, p. 901). O autor buscou a memória através deste olhar feminino, olhar múltiplo que
tem bastante conhecimento e afazeres, que proporciona conforto e carinho, além de
acolhimento e alimentação.
As mulheres que despertaram outros sentimentos: Analu ou Ana Luísa – “Já tenho
ciúmes” (MENDES, 1994, p. 903); Cláudia – “Cláudia ‘dedicou-me’ certa vez o estudo
número oito em fá maior op. 10 de Chopin13, todo em arpejos, explicando-me com uma graça
singular: ‘É seu. Parece-se muito com você’” (Ibidem, p. 921); Marguí – “Marguí dizia que eu
era muito simpático, mas um sonhador” (Ibidem, p. 933); prima Julieta – “Prima Julieta
irradiava um fascínio singular. Era a feminilidade em pessoa. Quando a conheci, sendo ainda
garoto e já sensibilíssimo ao charme feminino, teria ela uns trinta ou trinta e dois anos de
idade” (MENDES, 1997, p. 932).
Para além destas, muitas outras são somadas ao universo de Murilo Mendes que,
também registrou seus desafetos como a rainha do sabão e D. Coló. Em relação à rainha do
sabão o autor informa ao leitor que ela “chega do mais remoto e cavernoso da minha infância,
escandindo seu estribilho onde a rima em ão se destaca com um ruído de trovão ão ão” e
conclui “e por que não rainha, se toda e qualquer mulher [...] é mesmo rainha” (MENDES,
1994, p. 899). Quanto à Dona Coló, abusada em suas atitudes para com o menino, o poeta
registrou que “O nome Dona Coló alargou-se para mim até a dimensão do mito menor,
13
Frédéric Chopin (1810-1849) compôs “op.” ou Opus, que são estudos para piano solo. Chopin compôs os
Estudos Op.10, dedicados a Franz Liszt e os Estudos Op.25, dedicados à condessa D’Agoult, entre os anos de
1828 a 1836. O compositor não pretendia apenas ensinar a prática das oitavas, o trilo ou as escalas em terças. Os
estudos são, acima de tudo, poemas musicais e, para executá-los, o pianista deve recorrer a meios que
ultrapassam o domínio puramente técnico. Para além da mera função didática, Chopin procurava um
aperfeiçoamento que servisse para exprimir, para ajudar a cantar. Estudo op. 10, nº 8 – “Sunshine” (Luz do Sol)
- é um estudo técnico com arpejos para piano na tonalidade em fá maior. Disponível em: <
http://www.oliver.psc.br/musica/chopin.htm > e < http://pt.wikipedia.org/wiki/Estudos_%28Chopin%29 >.
Acessos em: 16 ago. 2012.
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resumindo aspectos negativos da vida, tudo o que se deve repelir; as pessoas que a gente evita
quando as topa na rua” (Ibidem, p. 910).
Assim, Murilo Mendes trabalha a memória no tempo da memória, ou seja, como
criança, narra a sua infância e, como adolescente, não transfere os problemas do homem
maduro.
As mulheres para Pedro Nava são personagens familiares, descritas em seus nomes e
sobrenomes, detalhando fatos ou acontecimentos da memória do autor/narrador. Pedro Nava
misturou fatos vividos por seus antepassados com suas lembranças de infância e, por
exemplo, descreveu com muita habilidade toda a trajetória de sua avó. Relatou os diversos
papéis desempenhados por aquela que já fora “Inhazinha, Inhá Luísa, Sinhá, Maria Luísa da
Cunha, Dona Maria Luísa da Cunha Halfeld e Dona Maria Luísa da Cunha Jaguaribe”
(NAVA, 1984, p. 139). Ela chegava a atos de crueldade que foram transcritos no fragmento
abaixo:
Minha avó Maria Luísa, que foi mãe admirável, sogra execrável, sinhá
odiosa para escravas e crias, amiga perfeita de poucas, inimiga não menos
perfeita de muitas e corajosa como um homem – era de boca insolente e
bofetada fácil. Te quebro a boca, negra. E quebrava (NAVA, 1984, p. 224).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A seriedade e credibilidade da pesquisa em questão foram reforçadas pela visita das
autoras no acervo de Murilo Mendes depositado no Museu homônimo, MAMM – Museu de
Arte Murilo Mendes14, pertencente à Universidade Federal de Juiz de Fora.”
Outra visita foi realizada no Museu de Literatura Brasileira da Fundação Casa de Rui
Barbosa, Rio de Janeiro, onde foi possível pesquisar especialmente os manuscritos de Baú de
ossos. Pedro Nava, caprichosamente, guardou-os para que se pudesse conhecer seu processo
de criação: a sua escritura em papéis duplos, que foram datilografados somente na sua parte à
esquerda, guardando a direita para eventuais mudanças textuais e/ou anotações anteriores à
versão final publicada.
14
O Museu de Arte Moderna é o guardião do acervo bibliográfico do poeta juiz-forano, que possui 2.864 títulos
de escritores consagrados, sobretudo nas áreas de literatura, religião, música, filosofia e história. Muitos desses
títulos têm ainda as características de serem livros de pequena circulação, de serem especiais acompanhadas de
gravuras assinadas, e assim por diante. Trata-se de uma biblioteca valiosa em razão das diversas anotações de
Murilo Mendes, as chamadas marginálias, que constituem documentação importante para o estudo de sua obra.
São marcas, anotações e comentários que permitem traçar, de forma consistente, o perfil intelectual do poeta,
crítico de arte e de literatura. – Informações de Bruno Horta/MAMM em 27 Jun. 2012
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Assim, conhecer um pouco ou profundamente sobre os autores e suas obras, é também
“visitá-los”, não apenas ler sobre eles. Portanto, torna-se empolgante averiguar os títulos que
fazem parte da leitura do autor em seu acervo, bem como fascinante guardar todo o processo
de escrita autoral. Ambas oportunidades singulares que são indicadas a todo leitor.
Finalmente, procurou-se abordar os autores Murilo Mendes e Pedro Nava, através do
cotejo entre suas obras A idade do serrote e Baú de ossos, respectivamente, uma vez que
possuem temáticas comuns, ou seja, ambas são memorialistas e têm forte traço de ligação Juiz de Fora, cidade natal dos autores, onde viveram boa parte de suas vidas. Eles buscaram,
cada um a seu modo, retratar os fatos, lugares e personagens que povoaram suas vidas e suas
lembranças.
Espera-se que o breve cotejo apresentado contribua para melhorar o entendimento
destes autores e suas envolventes autobiografias que, na verdade, são obras literárias.
REFERÊNCIAS
Arquivo Pedro Nava. Disponível em: < http://pedronava.clientes.tecnopop.com.br/home.php
> Acesso em: 01 Nov. 2011.
BARBOSA, Leila Maria Fonseca; RODRIGUES, Marisa Timponi Pereira. A trama poética
de Murilo Mendes. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 2000.
Belle Époque. Disponível em: http://www.infoescola.com/artes/belle-epoque/ . Acesso em:
20 jun. 2012.
CANDIDO, Antonio. Poesia e ficção na autobiografia. In______. A educação pela noite e
outros ensaios. São Paulo: Ática,1989. p. 51-69.
CARVALHAL, Tânia Franco. Literatura Comparada. 4. ed. São Paulo: Ática, 2006.
Chopin. Disponível em: < http://www.oliver.psc.br/musica/chopin.htm > e <
http://pt.wikipedia.org/wiki/Estudos_%28Chopin%29 >. Acessos em: 16 ago. 2012.
Dicionário Caldas Aulete. Disponível em: <
http://aulete.uol.com.br//site.php?mdl=aulete_digital > Acessos em: 10 jun. 2012.
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Entre o rio e a colina tudo começou. Cadernos para o professor. Juiz de Fora: Secretaria
Municipal de Educação – Prefeitura de Juiz de Fora, v. 1, n. 2, p. 7-8, mai. 1993.
MELLO, Octaviano. Dicionário Tupi-Português, Português-Tupi. São Paulo: Folco Masucci,
1967.
MENDES, Murilo. A idade do serrote. In: PICCHIO, Luciana Stegagno (Org.). Poesia
completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 894-975.
______. Transistor. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.
NAVA, Pedro. Baú de ossos Memórias I. 7. ed. Rio de Janeiro:Nova Fronteira, 1984.
SALGADO, Ilma de C. B. Pedro Nava: mulheres reveladas e veladas. Juiz de Fora: Editar,
1999.
VASCONCELOS, Eliane. Inventário do Arquivo Pedro Nava. ______. (Org.). Rio de
Janeiro. Casa de Rui Barbosa, 2001.
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