U n i ver si dade Anhem b i Mo rum b i m a r i enne c r i s t i n a se br i a n b us to v i d u t to d e s i g n e m r e v i s ta f e m i n i n a - u m o l h a r s o b r e c l a u d i a emrevista feminina um olhar sobre Claudia s ã o pa u lo , 2010 Universidade Anhembi Morumbi Marienne Cristina Sebrian Busto Vidutto d e s i g n e m r e v i s ta f e m i n i n a Um olhar sobre Claudia Dissertação de Mestrado Programa de Pós-Graduação Stri cto Sensu S ã o Pa u l o , 2010 U n i v e r s i d a d e A n h e mb i M o r umb i M a r i e n n e C r i s t i n a S e b r i a n B us t o V i d u t t o d e s i g n e m r e v i s ta f e m i n i n a Um olhar sobre Claudia D i ss e rtação d e m es t r a d o Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Design – Mestrado, da Universidade Anhembi Morumbi, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Design. Orientadora: Profa. Dra. Gisela Beluzzo de Campos S ã o Pa u l o / 2010 U n i v e r s i d a d e A n h e mb i M o r umb i M a r i e n n e C r i s t i n a S e b r i a n B us t o V i d u t t o d e s i g n e m r e v i s ta f e m i n i n a Um olhar sobre Claudia Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Design – Mestrado, da Universidade Anhembi Morumbi, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Design. Aprovada pela seguinte banca examinadora: Profa. Dra. Gisela Beluzzo de Campos Orientadora Universidade Anhembi Morumbi Profa. Dra. Dulcilia Schroeder Buitoni Examinadora externa Faculdade Casper Líbero Prof. Dr. Jofre Silva Examinador interno Universidade Anhembi Morumbi S ã o Pa u l o / 2010 Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autorização da Universidade, do autor e do orientador. M a r i e n n e C r i s t i n a S e b r i a n B us t o V i d u t t o É graduada em Propaganda e Marketing. Atua profissionalmente na área do design editorial de revistas há 16 anos. Ficha Catalográfica V71d Vidutto, Marienne Cristina Sebrian Busto Design em revista feminina - um olhar sobre Claudia / Marienne Cristina Sebrian Busto Vidutto. – 2010. 204f.: il.; 30 cm. Orientadora: Gisela Beluzzo de Campos Dissertação (Mestrado em Design) - Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, 2010. Bibliografia: f.205-208. 1. Design. 2. Design gráfico. 3. Design editorial. 4. Revistas. I. Título. CDD 741.6 Agradecimentos Agradeço este trabalho, primeiramente, a Deus que me deu forças e sabedoria para concluir essa importante etapa da minha vida. Ao meu pai, Norberto Busto, que sempre acreditou no meu potencial e nunca hesistou em me apoiar no aprimoramento de meus estudos. à minha mãe, Suely Tiosso, por constantemente me lembrar da minha capacidade. Ao meu marido Fabio Vidutto por compreender a falta de atenção devido a necessidade de dedicação à esta dissertação. Sou muito grata à Profa. Dra. Mônica Moura, inicialmente minha orientadora, pelo aprendizado adquirido, pela dedicação, pela paciência (ao ouvir minhas infinitas ideias!) e por sempre me incentivar a dar o meu melhor. Agradeço a minha orientadora Profa. Dra. Gisella Beluzzo, pela atenção, pelo apoio e pelas importantes considerações que contribuíram com este trabalho. Agradeço a todos os professores do mestrado pelo conhecimento adquirido nas disciplinas cursadas, palestras e eventos. A todos os meus colegas de classe, pelas trocas de informações, anseios, dúvidas e grandes momentos de descontração. Resumo O presente trabalho tem como objetivo abordar os processos produtivos do design editorial de uma revista feminina, no que se refere a concepção, planejamento, estruturação do conteúdo editorial e configuração de um projeto gráfico. Para desenvolver essas questões, o objeto de análise foi a revista Claudia, uma das publicações mais tradicionais do mercado editorial (49 anos de existência) e a revista para o público feminino de maior circulação do Brasil (quase 500 mil exemplares mensais). A análise concentra-se em 21 edições de Claudia (janeiro de 2008 a setembro de 2009) do conteúdo editorial e das capas. Inicialmente, apresentamos o conceito de revista, suas características e origens. Na sequência, focamos nas revistas femininas, fazendo apontamentos acerca de seu surgimento no Brasil e no mundo, suas funções e seu papel na sociedade. O capítulo dois traz o conceito de design editorial e os componentes necessários para a elaboração de um projeto gráfico, tanto no aspecto físico e técnico (papel, formato, softwares utilizados, pré-impressão e impressão) como no aspecto visual (imagens, tipografia, grade, diagramação, ritmo e sequenciamento). O capítulo três traz a análise detalhada da revista Claudia, contando também um pouco sobre sua história. Palavras-chave: revista, revista Claudia, revistas femininas, design, design editorial, design gráfico, mercado editorial, projeto gráfico e projeto editorial. Abstract This paper seeks to address the processes of editorial design of women’s magazine, regarding the design, planning and structuring of editorial content and also the configuration of a graphic design. To develop these issues, the object of analysis was Claudia magazine, a traditional publication in editorial market (49 years old) and also, the magazine to female with the largest circulation in Brazil (almost 500 000 copies monthly). The analysis focuses on 21 issues of Claudia (January 2008 to September 2009) of editorial content and covers. Initially, we introduce the concept of a magazine, their characteristics and origins. Following, we focus on women’s magazines, making notes about its appearance in Brazil and worldwide, its functions and its role in society. Chapter two explains the concept of editorial design and the components needed for developing a graphic design project, both physical and technical (paper, format, software used, prepress and printing) as the visual aspect (images, typography, grid layout, pace and sequencing). Chapter three provides a detailed analysis of the magazine Claudia, telling a little about the history of the publication. Keywords: magazine, Claudia, women’s magazines, design, editorial design, graphic design, publishing, graphic design and editorial design. Sumário Introdução................................................................................................................................15 1. REVISTA.....................................................................................................................................23 1.1 Conceito, origens, e características.......................................................................................................... 25 1.2 Sobre as revistas femininas...................................................................................................................... 29 1.3 Conceito editorial ..................................................................................................................................... 35 2. DESIGN ......................................................................................................................................39 2.1 Design editorial e projeto gráfico............................................................................................................. 41 2.2 Componentes de um projeto gráfico....................................................................................................... 45 2.2.1 Aspectos físicos e técnicos............................................................................................................. 45 2.2.2 Aspectos visuais ............................................................................................................................. 46 2.2.2.1 Tipografia....................................................................................................................... 46 2.2.2.2 Grade.............................................................................................................................. 50 2.2.2.3 Diagramação . ............................................................................................................... 52 2.2.2.4 Imagens ........................................................................................................................ 59 2.2.2.5 Ritmo e sequenciamento ............................................................................................ 67 3. CLAUDIA . ................................................................................................................................71 3.1 Claudia nos dias atuais............................................................................................................................. 73 3.2 A fórmula editorial de Claudia................................................................................................................. 77 3.3 História da revista Claudia ...................................................................................................................... 83 3.4 O design de Claudia no passado.............................................................................................................. 89 3.5 O projeto gráfico de Claudia..................................................................................................................... 97 3.5.1 Características físicas e técnicas................................................................................................... 97 3.5.2 Características visuais ................................................................................................................... 98 3.5.2.1 Tipografia....................................................................................................................... 98 3.5.2.2 Grade.............................................................................................................................. 103 3.5.2.3 Diagramação . ............................................................................................................... 105 3.5.2.4 Imagens ........................................................................................................................ 107 3.5.2.5 Ritmo e sequenciamento ............................................................................................ 120 3.5.3 Análise do projeto gráfico de Claudia.......................................................................................... 123 3.5.3.1 A proposta editorial e o projeto gráfico das reportagens........................................ 123 3.5.3.2 A proposta editorial e o projeto gráfico das seções................................................. 145 3.5.3.3 A proposta editorial e o projeto gráfico das capas.................................................. 162 Considerações finais ..........................................................................................................173 Glossário básico....................................................................................................................185 Lista de figuras.......................................................................................................................191 Referências .............................................................................................................................199 Design em revista feminina Introdução 15 Design em revista feminina 17 Introdução Em tempos de informações digitais, a revista, um tradicional meio de comunicação, mantém presença significativa na vida de muitas pessoas e continua como um ramo de atividade fortemente ativo no Brasil. De acordo com a Anatec (Associação Nacional de Editores de Publicações), em 2008 foi constatada a presença de 2.695 títulos no mercado brasileiro, com tiragem aproximada de 1 bilhão e 400 milhões de exemplares ao ano. Na última década, a internet teve grande impacto na transmissão de ideias (populares ou não) para largas audiências no mundo todo, porém, mesmo com a presença de websites, telefones celulares de última geração e agora com o recém-lançado Ipad da Apple – hardware que permite uma leitura confortável por meio de uma tela – não há quem resista parar em uma banca ou livraria para olhar as capas e folhear algumas páginas de revistas. As cores brilhantes, as fotos atraentes, as chamadas intrigantes, o papel de qualidade e o visual bem cuidado despertam a atenção do leitor. Grande parte dessa atração deve-se ao design editorial, responsável por desenvolver um produto envolvente e que corresponda ao objetivo essencial de uma publicação: entreter, informar, comunicar, instruir ou uma combinação dessas ações. Através das páginas de uma revista, também é possível suscitar sonhos e desejos no leitor, como por exemplo, imaginar a nova decoração da sala por meio de reportagens da revista Casa Claudia ou sonhar com a próxima viagem de férias nas páginas de Viagem e Turismo. Na visão da experiente editora de revistas, Fátima Ali (2009), muitas vezes o leitor está em busca de experiências prazerosas, emocionais e estéticas. Há muito tempo, as revistas desempenham papel central em nossa cultura visual. Heller (2003) conta que antes da era digital, o papel era a mais interativa das mídias, e os periódicos considerados avant-garde eram agentes da agitação cultural e desafiavam a santidade da arte, da política, da sociedade e da cultura. Mas apesar de sua importância, o tempo de sobrevivência das revistas tem sido frequentemente questionado com o surgimento de novas mídias digitais. Os questionamentos sobre o futuro das revistas foi o que, inicialmente, motivou este estudo. Logo nas primeiras pesquisas, verificamos que, apesar da forte concorrência das novas tecnologias, as revistas ainda têm um longo caminho a percorrer e continuarão sendo relevantes para muitos leitores, especialmente para mulheres, que têm grande afinidade e história com este veículo. As revistas possuem vantagens significativas sobre outros meios: é portátil e fácil de usar. Além disso, devido a sua periodicidade regular, estabelece uma relação de proximidade com o leitor, seja através de sua linguagem ou de seu visual. O leitor espera encontrar na próxima edição, um tema de seu interesse abordado com profundidade ou, ainda, quer encontrar logo sua seção favorita Dados extraídos do 10o Estudo Brasileiro do Mercado de Publicações (disponível em cd-rom). Avant-garde significa à frente do seu tempo. Para Heller (2003), as revistas desse tipo são aquelas que “avançam guarda” em ideias fora do convencionais, especialmente nas artes, mas também da política e da sociedade. 18 Design em revista feminina em uma determinada página. Compartilhamos da visão de Leslie (2003) quando diz que o formato único de uma revista combina diversos elementos essenciais: portabilidade, tateabiblidade, repetitividade e uma combinação de texto e imagem que permite que elas continuem sendo renováveis e relevantes. Para o autor, esses fatores combinados com os recentes desenvolvimentos de métodos de produção e a influência de novas mídias têm permitido que as revistas mantenham sua posição de destaque, permanecendo como fonte de inspiração para designers gráficos em qualquer lugar do planeta. é inegável que as revistas irão mudar com as novas mídias, porém o futuro da comunicação sem papel, ainda não foi traçado, mas é sabido que o papel, uma matéria-prima cada vez mais dispendiosa, vem sendo abolido do ambiente multimídia de hoje. Ainda mais com as frequentes preocupações ecológicas e sustentáveis da atualidade que envolvem a fabricação e o transporte do papel. Enquanto a nova época não toma forma, este traballho tem como objetivo abordar os processos de produção do design editorial de revistas femininas no que se refere a concepção, planejamento, projeto e configuração do conteúdo editorial. Para desenvolver essa questão, o objeto de análise desta pesquisa foi a revista Claudia, referência única no mercado editorial brasileiro pelo seu tempo de existência (49 anos), pela sua circulação (quase 500 mil exemplares mensais) e pelo seu importante papel de modernização das revistas femininas ao inaugurar um novo estilo de produzir e fotografar reportagens. O presente estudo concentra-se na análise de 21 edições (janeiro de 2008 a setembro de 2009) de todo o conteúdo editorial de Claudia e também das capas. Inicialmente, a proposta era analisar todas as edições durante dois anos inteiros (24 edições) para podermos observar como a revista se comporta de um ano para o outro e, além disso, para identificar as pautas sazonais, relacionadas a datas comemorativas. Como a revista mudou seu projeto gráfico na edição de outubro de 2009, trazendo novas configurações visuais, optou-se por analisar apenas as edições pertencentes ao mesmo projeto gráfico. Os métodos de pesquisa empregados na dissertação foram: pesquisa bibliográfica, pesquisa iconográfica e análise do objeto (estudo de caso - revista Claudia). A experiência de 16 anos da autora, como designer gráfico de revistas, permitiu analisar conceitos teóricos sob a ótica prática e verificar se os mesmos puderam ser aplicados, uma vez que estão sujeitos a condições específicas e peculiares. O design editorial de revistas, essencialmente, visa a comunicação de ideias (de seus editores, jornalistas ou idealizadores) por meio da organização e apresentação visual. Mas o design editorial vai além. Para o designer Paul Rand, em Design Form and Chaos (Design, Forma e Caos), de 1993, o bom design agrega valor de alguma forma, dá sentido e, não por acaso, pode ser puro prazer de se ver, mas respeita a sensibilidade do espectador e vantagens ao empresário. No caso Trecho extraído do site http://www.paul-rand.com/index.php/site/thoughts_quotes. Acesso em 05/08/2010. Esta frase de Paul Rand faz parte também do catálogo Paul Rand: a designer’s word, editado por: Steven Heller, Georgette Ballance e Nathan Garland. As frases contidas nesta publicação foram extraídas de um simpósio de Paul Rand, em 3 de abril de 1998 na School of Visual Arts em Nova York e traduzidas pela autora. Design em revista feminina 19 de uma revista de consumo de massa, como a revista Claudia, obviamente, as questões empresariais/financeiras que almejam o lucro estão envolvidas. Hoje, com a desenfreada competição entre as revistas e também com as novas mídias, muitas vezes, o designer tem como uma de suas obrigações mostrar resultados de vendas, criando revistas que atraiam os leitores para o consumo. Nesse sentido, Heller (1996) aponta que um grande peso tem sido colocado sobre o design para seduzir, participar e fisgar o leitor. O autor conta que o design sempre foi um importante componente editorial, entretanto, nos início dos anos de 1960, quando a indústria das revistas começou a ser ameaçada pela televisão, o design passou a ter proporções de cura milagrosa. Portanto, vemos que, no passado ou no presente, a concorrência fez com que fosse exercido sobre o design uma pressão para que ele venda revistas. Na visão de Heller (1996), o design é, sem dúvida, o fator que diferencia uma revista da outra, contudo, em alguns casos, um design único sinaliza para os concorrentes que eles pertencem a um gênero em particular. O autor exemplifica que, no final dos anos de 1960, a revista New York Magazine foi uma ideia original em termos de revista regional, porém foi duplamente celebrada e copiada por toda a nação americana. A publicação foi o primeiro guia de serviços da cidade aliado às notícias semanais com um jornalismo sério e de credibilidade. Desde a década de 1960, muito peso é colocado sobre o design, principalmente, nas revistas de consumo de massa, pressão que pode tolher a liberdade criativa do designer. Heller (1996) coloca que alguns acreditam que o design sozinho impulsiona o sucesso de uma revista, ignorando outros fatores editoriais. Para o autor, quando o design funciona, ele trabalha, concomitantemente e em harmonia com o conteúdo editorial. Heller (1996) traz ainda que quando uma revista não está indo bem, frequentemente o design é a causa do insucesso, o que é um grande equívoco. De fato, o design interfere no sucesso de uma revista e agrega muitos valores à publicação, mas não pode ser visto como a tábua de salvação de qualquer veículo ou editora. O design pode contruibuir para a compreensão da mensagen comunicativa, servir de instrumento de navegação, atrair o leitor através das imagens e outros artifícios, dentre inúmeros outros atributos. Para Heller (1996), a revista deve ser igualmente boa no conteúdo e no design, e o design pode até servir para realçar o conteúdo mas, raramente, tem a capacidade de substituí-lo. Portanto, percebemos o quanto é importante que jornalistas e designers estejam em sintonia, fazendo um trabalho em parceria, para que os dois lados da moeda fiquem equilibrados. Sobre esse aspecto, Luke Hayman, que em 2004 ingressa como diretor de design da revista New York Magazine, diz que no momento nas reuniões de criação, cada um à mesa apresenta suas ideias, em geral, sempre no âmbito visual ou baseados em fotos. Segundo Hayman este tipo de infraestrutura permite que o design e o conteúdo editorial funcionem em pé de igualdade, o que resulta na verdadeira inovação e em elevados 20 Design em revista feminina padrões no design editorial (Twemlow, 2007). O design de revistas de consumo em massa, como é o caso da revista Claudia, também merece reflexão, pois faz parte integrante do contexto social e histórico no qual está inserido e exerce intensa relação com seus leitores frente à sua alta circulação mensal. A maioria dos estudos concentra-se em revistas com design inovadores, como a revista Senhor, o Cruzeiro e Realidade, símbolos indubitáveis de sua época. Na visão de Heller (1996), em todas as revistas há o trabalho de design, de uma forma ou de outra – para melhor ou para pior – e o design deve ser criticamente discutido, quer seja bom ou ruim. Muitas vezes, produtos populares ou de massa não recebem destaque nas discussões sobre design. Em parte, isto se deve porque muitos acreditam que produtos massificados são de baixa qualidade e que, muitas vezes, não há design neles. Equivocadamente, acredita-se que o gosto popular tende para a má aparência e como o design está vinculado às questões estéticas, ele se torna desnecessário. Acerca disso, o designer Paul Rand em Thoughts on Design (Reflexões sobre Design), de 1947, relata que se for verdade que o homem médio parece mais confortável com o lugar-comum e familiar, é igualmente verdade que a propensão para o mau gosto – tão prontamente atribuídos para o leitor médio – só perpetua a mediocridade e nega ao leitor o acesso a um dos meios mais fáceis e acessíveis para o desenvolvimento estético e eventual fruição. O design de revistas é um meio que tem a capacidade de proporcionar ao leitor tanto o desenvolvimento, ao prover informação, como a fruição estética, com imagens e paginação inovadoras e visualmente agradáveis. Infelizmente, ainda perdura o estigma de que um produto popular não precisa ser esteticamente bonito e/ou inovador e de que o design é necessário apenas para a elite. Já o segmento de revistas femininas foi escolhido porque é para o sexo feminino que se concentra o maior número de publicações, afirmação que podemos constatar ao entrarmos em uma banca e nos depararmos com inúmeras publicações destinadas para mulheres. Moda, beleza, decoração, culinária, fofocas, novelas, celebridades, adolescentes, esporte, esoterismo, yôga, bem-estar, trabalhos manuais, variedades, dentre tantas outras. Isto deve-se a algumas características físicas e técnicas que as revistas possuem, como o formato, o tipo de papel e a técnica de impressão. A revista tem mais aceitação do público feminino do que um jornal por conta da facilidade de manuseio do papel, do formato reduzido que permite ser guardado na bolsa e do tipo de impressão que não suja os dedos e possibilita que sejam impressas imagens de melhor qualidade. De acordo com Buitoni (1990), a revista foi tornando-se, com o passar do tempo, o veículo, por excelência, da imprensa feminina, seja no aspecto de apresentação gráfica, seja na estruturação do conteúdo. “O aperfeiçoamento da tecnologia gráfica e a con Trecho extraído do site http://www.paul-rand.com/index.php/site/thoughts_quotes. Acesso em 05/08/2010. Esta frase de Paul Rand faz parte também do catálogo Paul Rand: a designer’s word, editado por: Steven Heller, Georgette Ballance e Nathan Garland. As frases contidas nesta publicação foram extraídas de um simpósio de Paul Rand, em 3 de abril de 1998 na School of Visual Arts em Nova York. Design em revista feminina 21 sequente possibilidade de imprimir produtos cada vez mais sofisticados, com muitas fotos e cores, encontraram na revista seu veículo ideal. Paralelamente, a publicidade desenvolve-se, e a revista, por suas características de visualização de detalhes, de utilização de cores, etc., tornou-se a mídia mais adequada para moda, por exemplo” (Buitoni, 1990, p. 57-58). Além disso, as revistas femininas têm estado conosco há bastante tempo e foram ao longo de sua existência co-responsáveis por ampliar as expectativas e autoestima das mulheres, mas também muito criticadas por incentivar e pregar padrões de comportamento e beleza. As revistas femininas também tiveram papel expressivo na popularização dos ideais feministas, especialmente da década de 1960. Foi na Inglaterra que a imprensa feminina surgiu com a primeira revista feminina em 1693, a Ladie’s Mercury. De lá para cá, o conteúdo das revistas mudou muito e permanece em contínua transformação, contudo, no mínimo, uma questão ainda é comum: as revistas femininas permitem que os leitores entrem em um mundo onde a mulher está no centro, ou seja, o foco é tudo que envolve o universo feminino. Hoje, muitas revistas femininas abordam temas de cunho social e tópicos internacionais, assim como o mercado de trabalho da mulher. Mas os temas sociais aparecem largamente como problemas individuais em vez de questões para um debate político. As primeiras revistas femininas traziam o mundo exterior para as mulheres, discutindo tópicos como filosofia, astronomia e botânica e tinham como objetivo instruir e entreter. A partir de 1830, uma nova geração de revistas focavam os costumes e conselhos práticos do lar. Durante muito tempo e até hoje, três são os temas “pilares” que sustentam o projeto editorial de uma revista feminina: a casa, a aparência (moda e beleza) e o relacionamento amoroso – temas estes que são dosados com mais ou menos intensidade, de acordo com a época e a proposta da publicação. Atualmente, o foco concentra-se na aparência, com a divulgação de padrões ideiais de beleza a serem seguidos. Hoje, os temas recorrentes são: rejuvenescimento, dietas, exercícios e cirurgia plástica. Lipovetsky (2000, p. 133-134) conta que atualmente o “culto da beleza e receitas de magreza são inseparáveis. (...) Já não se concebe a conquista da beleza sem a esbeltez, as restrições alimentares e os exercícios corporais. (...) Duas normas dominaram a nova galáxia feminina da beleza: o antipeso e o antienvelhecimento”. Não podemos deixar de mencionar também que, as revistas femininas, desde seu advento, foram e continuam sendo poderosos instrumentos de construção da identidade da mulher. Para Buitoni (1990), dentre os papéis da imprensa feminina está o de construir o imaginário feminino por meio de discursos (ou silêncios) sobre os modos de cuidar de si, do corpo e o exercício da sexualidade. Portanto, este trabalho visa oferecer reflexões sobre a área de design editorial de um produto de massa que é a revista feminina, de forma que possa trazer contribuições significativas para a campo de design. 22 Design em revista feminina Design em revista feminina Revista 23 Design em revista feminina 25 1.1 Conceito, origens e características Quando pensamos em uma revista, logo vem em mente a imagem de um tipo específico de periódico, em forma de brochura, que pode tratar tanto de assuntos de interesse geral quanto de temas relacionados a uma determinada atividade ou ramo de conhecimento. De fato, uma revista pode ser ou não especializada e conter artigos, colunas, reportagens, ensaios e diversos tipos de conteúdo editorial. Geralmente, a periodicidade de uma revista é mensal, quinzenal ou semanal, muito embora, podemos encontrar revistas semestrais e até anuais. A historiadora Martins (2001) relata que a palavra revista é derivada da palavra inglesa review e seu primeiro uso data em 1705. A editora de revistas Ali (2009) conta que a palavra review significa resenha, crítica literária, dentre outras coisas e foi presença constante no título de várias revistas literárias inglesas, modelos que foram imitados em todo o mundo no século 17 e 18. Entretanto, review não era a única palavra utilizada para designar um tipo específico de periódico. De acordo com a jornalista Scalzo (2004), aparece em 1731 o termo magazine com a revista Gentleman’s Magazine e foi inspirado nas grandes lojas de departamentos – os magazines. Assim, surge a ideia de usar o termo magazine para as publicações periódicas, pois ambos tinham proposta semelhante: lojas que vendiam um pouco de tudo e revistas que traziam uma grande diversidade de assuntos. Nos dois casos, tanto as lojas quanto as revistas apresentavam seus “artigos” de forma leve e agradável. A autora Buitoni (1990) complementa a afirmação de Scalzo (2004) contando que a palavra inglesa magazine, bem como a palavra francesa magasin, vem da palavra árabe (al-mahazen) que significa armazém e designavam as publicações de conteúdo diversificado. No Brasil, alguns periódicos, como o Novellista Brasileiro ou Armazém de Novellas Escolhidas, de 1851, conservavam o termo armazém no título e traziam, realmente, assuntos variados em seu conteúdo. Esse armazém sortido e agradável, denominado revista, possibilita uma experiência estética ao leitor, pois o ato de folhear pode proporcionar momentos de prazer através da apreciação das imagens e da paginação bem cuidada. Com uma revista também é possível suscitar sonhos e desejos no leitor, como por exemplo, imaginar a nova decoração da sala por meio de reportagens da revista Casa Claudia ou sonhar com a próxima viagem de férias nas páginas de Viagem e Turismo. Para Ali (2009), muitas vezes o leitor está em busca de experiências prazerosas, emocionais e estéticas. Mas as funções de uma publicação vão além disso, uma revista pode entreter, informar, comunicar, instruir ou ainda uma combinação dessas ações, além de oferecer subsídios para os leitores formarem uma opinião ou ampliar o conhecimento sobre um determinado assunto. A proposta editorial da revista é que irá determinar sua principal função. é um veículo de comunicação que possui vantagens significativas: é portátil, pode ser lida em qualquer lugar (na praia, no ônibus, na cama, na academia, no consultório médico, no cabeleireiro, etc); é fácil de usar (basta abrir, só requer saber ler); custo relativamente baixo (atualmente, é possível encontrar revistas de varieda- 26 Design em revista feminina des a preços muito baixos). Além disso, é uma mídia que pode ser repassada para várias pessoas. Um exemplar da revista Veja, por exemplo, pode ser lido por vários membros da família ou uma única edição de Caras pode ser lida por inúmeras clientes de um salão de cabeleireiro. Não é exato o número de repasse, entretanto, é sabido que ele acontece. Uma característica peculiar da revista, diferente do jornal, é que sua permanência é maior. Por ter papel mais encorpado e a forma como é encadernada, faz com que as pessoas retenham seus exemplares por mais tempo ou passem a colecioná-los. Dessa forma, o leitor tem como rever as reportagens em outro momento. As revistas de culinária, decoração ou viagens são geralmente colecionadas, pois o leitor pode precisar daquelas informações em uma outra oportunidade (para elaborar o menu de um jantar de comemoração, para definir um novo modelo de cortina ou para buscar ideias de onde passar as próximas férias). Em razão de sua periodicidade regular, estabelece uma relação de proximidade com o leitor, seja por meio do texto ou de seu visual. O leitor espera encontrar na próxima edição, reportagens de seu interesse ou, então, quer encontrar logo o artigo de seu colunista favorito em uma determinada página. O estabelecimento de uma relação sólida com o leitor, munindo-o com conteúdo editorial de seu interesse e de qualidade (leia-se reportagens bem escritas e visualmente bem solucionadas) é de vital importância para a permanência da revista nas bancas. O leitor passa a comprar a revista periodicamente, se a cada número ele encontrar reportagens que o satisfaça. Um trabalho de conquista e reconquista para que ele compre a revista a cada edição. Na visão de Ali (2009), as revistas podem ser divididas em três grande grupos: • As revistas de consumo (ver figura 1); • As revistas profissionais (dirigidas a públicos de determinadas profissões, médicos, publicitários, advogados ou áreas profissionais como transporte, medicina ou informática); • As revistas de empresas e organizações (nesse item estão as revistas de associações, escolas ou universidades, e as revistas de empresas que visam a comunicação com seus funcionários ou as revistas patrocinadas por uma empresa com fins promocionais, conhecidas como revistas customizadas). Os suplementos de jornais e zines são considerados pela autora grupos menores. Ainda de acordo com Ali (2009), dentro do grupo das revistas de consumo, há três divisões: as revistas de interesses gerais, as revistas segmentadas por público e as revistas segmentadas por interesses (figura 1). Podemos observar que as revistas femininas - objeto de estudo deste trabalho – está classificada no grupo das revistas segmentadas por público. As revistas de interesses gerais abordam uma extensa gama de assuntos, com exceção das revistas de celebridades. As revistas segmentadas por público, como o próprio nome diz, são aquelas direcionadas a um nicho específico. Já as revistas segmentadas por interesses, abordam um assunto ou ramo de atividade (cinema, automobilismo, gastronomia, fotografia, etc). Design em revista feminina 27 fig. 1 Revistas de consumo Revistas de interesse geral São as revistas semanais de notíciais, de televisão ou de celebridades. Caras, celebridades. Veja, notícias. época, notícias. Minha novela, televisão. Revistas segmentadas por público São as revistas dirigidas a públicos determinados, como mulheres, homens, professores, jovens e crianças. Nova Escola, professores. Capricho, jovens. VIP, homens. Criativa, mulheres. Revistas segmentadas por interesses São aquelas que tratam sobre atividade ou tema específico (automóveis, culinária, fotografia, computadores, etc). Quatro Rodas, carros. Fotografe melhor, fotografia. SET, cinema. Pc World, computadores. Fonte: Classificação: Ali, Fatima. A arte de editar revistas. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009. Pesquisa iconográfica: Marienne Vidutto Design em revista feminina 29 1.2 Sobre as revistas femininas As revistas femininas têm longa tradição histórica, pois os periódicos para a mulheres surgiram no final do século 17. é marcante constatar a presença de um veículo de comunicação tão antigo e que ainda está fortemente presente na atualidade. Buitoni (1990) relata que o primeiro periódico feminino foi o Lady’s Mercury e surgiu em 1693, na Inglaterra. Seu visual era semelhante a um livro e trazia em seu conteúdo o “consultório sentimental” (cartas das leitoras sobre dúvidas amorosas), seção que permanece até hoje em muitos veículos da imprensa feminina. Depois, apareceu o Ladies’ Diary que circulou mais de um século (1704 a 1840), porém ainda não trazia o termo nem o conceito de magazine. De acordo com Scalzo (2004), o termo “magazine” para revistas femininas surge em 1749 com a Lady’s Magazine, em Londres, publicação que circulou até 1837. Buitoni (1990) conta que o primeiro jornal feminino norte-americano foi o American Magazine de 1787 que circulou apenas um ano. Entretanto, o que teve mais notoriedade foi o Ladies’ Magazine, de Sarah Josepha Hale que surgiu em 1828. A autora aponta que foi nos Estados Unidos que o termo magazine se firmou e disseminou a ideia que temos hoje de revista. Portanto, vemos que publicações periódicas dirigidas especificamente para a mulher estão presentes na cultura ocidental há 316 anos. No Brasil, as publicações para a mulher não são tão antigas se comparadas às primeiras revistas femininas inglesas que surgiram. Buitoni (1990) diz que, provavelmente, o primeiro periódico feminino brasileiro foi O Espelho Diamantino que surgiu em 1827, trazendo assuntos como: política, literatura, belas artes e moda. Se realmente esta publicação foi a pioneira no Brasil, podemos considerar que o segmento se faz presente no País há aproximadamente 182 anos. Na visão de Martins (2001), a imprensa feita por mulheres para o público feminino é uma das fontes mais ricas da historiografia, pois a mulher teve presença assídua no contexto do impresso desde o Império. “Textos produzidos por mulheres e a elas dirigidos resultaram em documentos preciosos, que as surpreendem como sujeitos de sua reprimida história, veiculando sentimentos secularmente ocultos e posturas recônditas, mas também desvendando condutas que se confrontavam com aquela tradicional e aceita da Rainha do Lar”. (Martins, 2001, p. 371). O termo usado por Martins, “Rainha do Lar”, foi largamente utilizado pela revista Claudia nas palavras da jornalista Carmen da Silva, que pretendia com seus textos mudar o comportamento patriarcal, que deveria obedecer ao homem e cumprir com os deveres domésticos, conduta que era largamente impregnada na cultura e nos valores femininos na época. A produção de revistas para mulher, feita por mulheres também, é um tema interessante levantado por Martins (2001). Se observarmos os expedientes das revistas femininas presentes no mercado na atualidade, vemos que a equipe da maioria das revistas é composta basicamente por mulheres. Possivelmente, acredita-se que o sexo feminino seja mais capaz de fazer revistas para mulheres, pois vivenciam diariamente as mesmas dúvidas, aflições, questões e interesses. 30 Design em revista feminina Na visão de Martins (2001), com a segmentação periódica ocorrida no século 19, o leque temático foi aberto e atingiu a sociedade como um todo, gerando demandas de consumo e/ou construção de públicos. Neste contexto, surgem os periódicos segmentados femininos para a mulher que já era leitora em potencial, cumprindo o papel de inserção feminina, quer como consumidora, quer como produtora. De acordo com a autora, o periodismo feminino foi de “fundamental importância para a colocação da mulher na sociedade restritiva do seu tempo. Espaço quase exclusivo para exercício de novos papéis, possibilitando as emergências de novas posturas femininas, da mulher escritora à sufragista, à feminista, à politizada” (Martins, 2001, p. 563). Atualmente, as publicações em geral, assim como as revistas femininas, segmentam-se cada vez mais para atingir nichos específicos. Buitoni (1990, p. 16) esclarece que a segmentação “tratase de uma forma empírica, derivada de estudos mercadológicos, de determinar a fatia do público que se pretende atingir”. Dentro da imprensa feminina, a segmentação pode acontecer desde sexo, classe, idade, assuntos preferidos, ou até enfoques do tipo “para mulheres solteiras”, para executivas, etc. “Tais especificações constroem o perfil da leitora e a maneira de escrever para ela”. Hoje, no mercado editorial, são inúmeras as revistas destinadas à mulher, tanto no Brasil quanto no exterior. De acordo com a Anatec (Associação Nacional de Editores de Publicações), em 2008, foi constatado a presença de 2.695 títulos no mercado, com tiragem aproximada de 1 bilhão e 400 milhões de exemplares ao ano, classificados em 69 segmentos mercadológicos, editados por 1067 editoras no Brasil. Dentre os 69 segmentos apresentados no 10o Estudo Brasileiro do Mercado de Publicações, consideramos nove os segmentos destinados direta ou indiretamente à mulher, são eles: • Arquitetura e decoração; • Jardinagem e paisagismo; • Astrologia, horóscopos e esotéricos; • Casamentos e festas; • Cosmética, beleza, estética e afins; • Feminina e afins; • Mãe e bebê; • Moda, vestuário, calçados e acessórios; • Saúde e bem-estar. Para melhor compreendermos o universo de revistas femininas, especialmente diante da diversidade de segmentos destinados ao público feminino, dividimos a área em dois grandes grupos: revistas femininas de interesse geral e revistas femininas segmentadas por interesses (fig. 2). As revistas femininas de interesse geral são aquelas que abordam uma grande diversidade de assuntos e são dirigidas a um determinado perfil de mulher. Para determinação desses nichos, a editora responsável pela publicação leva em consideração assuntos e interesses específicos de Design em revista feminina 31 fig. 2 Revistas femininas Revistas femininas de interesse geral Abordam diversos assuntos e são dirigidas a um determinado perfil de mulher. revistas femininas Semanais Viva! Mais, diversos assuntos para as classes C e B, para diversas faixas etárias. Ana Maria, diversos assuntos para as classes C e B, para diversas faixas etárias. Sou mais eu!, são abordados diversos temas contados por personagens da vida real. 7 dias com você, diversos assuntos para as classes C e B, para diversas faixas etárias. revistas femininas mensais Gloss, para a mulher jovem que busca assuntos diversos de seu interesse. Faixa etária principal: 15 a 19 anos. Nova, para a mulher que busca reportagens sobre sexo, carreira e beleza. Faixa etária principal: 25 a 34 anos. Claudia, trata os temas: moda, beleza, educação dos filhos, família e culinária, carreira, saúde. Faixa etária: acima de 25 anos. Marie Clarie, para a mulher interessada em comportamento, atualidades, moda, beleza, saúde, sexo e relacionamento. Faixa etária: 20 a 29 anos. Revistas femininas segmentadas por interesses Tratam sobre tema específico ou de maior relevância (fitness, dieta, moda, noivas, culinária, celebridades, etc). Boa Forma, seus temas principais são fitness e dieta, mas traz também reportagens de beleza e saúde. Vogue, essencialmente de moda, mas também pode trazer reportagens de beleza. Manequim Noiva, todos os assuntos relacionados a casamento. Contigo, seu tema principal é celebridades, mas traz também matéria de moda e beleza. Fonte: Classificação: Marienne Vidutto. Perfil das leitoras (Gloss, Nova, Claudia, Viva Mais!, Ana Maria, 7 dias com você): http://publicidade.abril.com.br/. Acesso em 07/05/2010. Perfil dos leitores (Marie Claire): www.fxmidias.com.br/infomidias/.../PERFIL_EDGLOBO_2007.pdf. Acesso em 07/05/2010. 32 Design em revista feminina relevância para um determinado público. Além disso, a faixa etária, classe social e hábitos dessa leitora também podem ser considerados. As revistas femininas semanais, por exemplo, são em sua grande maioria destinadas ao público C e B, possuem preço baixo (entre R$ 1.50 e R$ 1.99) e abordam uma grande diversidade de assuntos (casa, decoração, família, filhos, dieta, receitas, comportamento, sexo, beleza, moda, saúde, trabalhos manuais, artesanato, celebridades, novelas, televisão, fitness, etc). Já as revistas mensais focam em 5 ou 6 temas principais (em média), nas quais as reportagens têm linguagem textual e tratamento visual específico para um determinado público (perfil de mulher) pré-determinado pela editora. Todo o conteúdo gira em torno do comportamento desta Preços referentes ao ano de 2010. Segmento de revistas femininas Revistas femininas segmentadas Moda: Elle, Vogue, Estilo, Manequim, L’officiel Moldes: Moda Moldes, Molde e Cia Beleza e Saúde: Boa Forma, Corpo a Corpo, Women’s Health, Saúde!, Dieta Já!, Vida natural, Viva Saúde, Plástica & Beleza, Zero, Shape Bem-estar: Bons Fluídos, Vida Simples Celebridades: Caras, Contigo, Tititi, ISTOÉ Gente, Chiques & Famosos TV: Minha novela, Guia da TV, Super Novela Decoração: Casa Claudia, Casa Vogue, Viver Bem, Casa & Jardim, D’casa, Casa & Decoração Filhos: Pais e Filhos, Baby & Cia, Meu Nenê Noivas: Manequim Noivas, Criativa Noivas, Bella Noiva, Noivas e Noivos, Vogue Noiva, Figurino Noivas Cabelos: Cabelos & Cosméticos, Cabelos & Visual Culinária: Na cozinha com Edu Guedes, Guia da Cozinha, Guia de Receitas, Cozinha Faça Fácil Horóscopo: Guia Astral, Boa Sorte, Boa Sorte Mini, Astral Dia-a-Dia, Almanaque Astral, Destino Astral, Artesanato: Faça Fácil, Arte em Biscuit, Almanaque de Velas, Almanaque do tricô, crochê e tear Revistas femininas interesse geral Perfil: Claudia, Marie Clarie, Uma, Criativa, Nova Adolescente/jovem: Capricho, Loveteen, Atrevida, Toda Teen, Gloss Populares (público B e C): Ana Maria, Sou + eu!, Viva Mais, Mais Feliz, Malu, 7 dias com você fig. 3 Quadro com a visão geral do mercado de revista femininas e suas divisões. Autoria: Marienne Vidutto. Design em revista feminina 33 mulher, seus hábitos sua forma de ser, agir e pensar para a atender aos gostos e interesses daquele nicho. Um exemplo de revista de acordo com o perfil de mulher é a revista Nova, destinada a mulher que quer seduzir o homem, solteira, que trabalha e é financeiramente independente. Já Claudia é para a mulher casada, geralmente com filhos, que quer ficar bonita, mas sem a preocupação vital de seduzir o homem. Esses critérios são traçados pela editora e servem de base para a formulação do conteúdo editorial. A título de comparação, tanto Claudia como Nova trazem reportagens sobre sexo, entretanto, de forma totalmente diferente. Enquanto a leitora de Claudia busca a satisfação sexual e amorosa com o parceiro, a leitora de Nova quer ideias para ousar no ato sexual. Já as revistas femininas segmentadas por interesses tratam de um tema central ou ele é de maior relevância (fig. 2). A revista Boa Forma, por exemplo, tem como temas centrais, fitness e dieta, mas traz também uma reportagem de beleza. O mesmo acontece com Vogue, que trata essencialmente de moda mas também publica algumas matérias de beleza. Em relação ao conteúdo editorial, hoje, podemos observar que as revistas femininas trazem fórmulas prontas, focando no individualismo, na perfeição estética do corpo e no sucesso afetivo, profissional e emocional. As revistas usam e abusam do aconselhamento e da receita, transformando todos os desejos em receitas de bolo. De acordo com Scalzo (2004), “hoje, as grandes revistas femininas seguem modelos muito parecidos e apesar de cada uma olhar para um tipo específico de mulher – o seu público –, repetem fórmulas e cobrem mais ou menos o mesmo universo” (Scalzo, 2004, p. 35). Além disso, em uma revista feminina pode-se encontrar de tudo, uma mistura que, muitas vezes, pode parecer incoerente. Na visão de Buitoni, são muitas as ambiguidades, contradições e paradoxos da imprensa feminina: ela já foi instrumento de democratização da moda, trouxe informação sobre sexo, contribuiu para a revolução sexual e, todavia, sugere a colocação de próteses como uma grande conquista de beleza e identidade. O corpo, para ser bonito, deve der invadido por uma prótese. Próteses como requisito imprescindível para conquistar o homem e discussão sobre gravidez para adolescentes; a roupa mais cara e a fome na África; a fala inconsequente de uma participante de reality show e a reportagem sobre sustentabilidade (Buitoni, 2009, p. 15). A essência paradoxal da imprensa feminina é o que a caracteriza e a torna parte de um universo peculiar, instigante e revelador. Design em revista feminina 35 1.3 Conceito editorial Como vimos anteriormente, as revistas femininas se dirigem cada vez mais a um nicho de mercado, a um grupo de mulheres com interesses e características em comum. O processo de segmentação fez com que as editoras se preocupassem cada vez mais em conhecer o público que se destina a publicação. Analisar os interesses, desejos e necessidades do leitor é tarefa essencial, pois servirá de base para a criação do conceito editorial da revista. Caso a publicação já seja consolidada no mercado, com um conceito previamente definido, o desafio é captar as tendências e transformações do público-alvo e fazer as alterações necessárias no projeto editorial para que a revista tenha longa permanência no mercado. Uma das formas mais eficazes de conhecer o potencial do leitor de uma revista é através de pesquisas de mercado. De acordo com o disponibilidade financeira da editora, pode-se encomendar pesquisas qualitativas (fornece dados quantificáveis como idade, sexo, profissão, classe social, escolaridade, renda e opiniões e preferências sobre determinados assuntos) ou pesquisas quantitativas (discussões em grupo). De acordo com Ali (2009), ainda é possível realizar pesquisas na redação das revistas através de telefonemas para os assinantes, encontros com leitores ou pela internet. Uma vez definido o público que pretende-se atingir, parte-se para a elaboração do conceito editorial da publicação. Na visão de Ali (2009), três são os principais componentes do conceito editorial: a missão, o título (nome da revista) e a fórmula editorial (também chamado por outros autores de projeto editorial). Para a autora, a missão editorial, também conhecida como objetivo ou filosofia editorial, é o fio condutor da publicação, “o que mantém o editorial nos trilhos. É como uma bússola que os navegadores consultam em busca de direção”. E se a equipe da redação não se guiar pela missão, a revista pode se perder ou desviar o foco. Ainda de acordo com a autora, “tudo pode mudar: o diretor de arte, a equipe, a tecnologia, o projeto gráfico, mas a missão tem de permanecer constante” (Ali, 2009, p. 47). No momento de elaboração da missão editorial de uma revista, Ali (2009) propõe que seja definido: 1) O objetivo ou função da revista: que pode ser informar, interpretar, entreter, defender (uma ideia, causa ou posição) ou prestar um serviço. Grande parte das revistas propõe uma combinação de uma ou mais dessas cinco funções. 2) Público leitor a que se destina: dados como idade, sexo, gênero, classe social, opiniões, hábitos, preferências, necessidades e quaisquer outras informações coletadas que possam ser relevantes para a delimitação do nicho de mercado. Outro componente do conceito editorial é a fórmula (ou projeto) editorial de uma publicação. No projeto editorial são definidos o tipo e a forma do conteúdo (entre outros itens), responsáveis por concretizar o objetivo da revista. De forma simples e objetiva podemos dizer que o projeto editorial é um conjunto de informações que definirá como será o conteúdo de uma publicação. Nesta análise, inclui-se sobre “o quê” a revista irá tratar e “de que forma”. 36 Design em revista feminina Ali (2009, p. 56) considera que a fórmula editorial é “a receita, ou seja, a mistura dos ingredientes, a maneira como a revista monta o seu edifício e estrutura o conteúdo na implementação da sua missão”. Nesse sentido, Moraes (1998) em texto sobre jornais, esclarece que projeto editorial é o modo pelo qual a empresa ou grupo busca atingir seus objetivos através de uma publicação. O autor complementa que o projeto editorial de um veículo é percebido na orientação que se dá às matérias na apuração, na redação e na sua apresentação na página. No projeto editorial são definidos os diferentes tipos de matérias, seções, colunas e espaço que cada uma deve ocupar. Uma vez definido o projeto editorial, é elaborado o projeto gráfico que será responsável por dar forma ao projeto editorial, no qual pretende-se comunicar uma ideia, história ou reportagem através da organização e apresentação visual. Na visão do designer Gäde (2002), o projeto editorial visa saber, fundamentalmente, o que se quer comunicar e para quem. Entender de que forma este conteúdo será transmitido é o que interessa ao projeto gráfico, intrinsecamente ligado ao projeto editorial. Assim como Ali (2009), Gäde (2002) ressalta a importância de se ter um detalhado estudo de mercado, que servirá de base tanto para o projeto gráfico como para o editorial, principalmente no caso de uma revista totalmente nova que se pretende lançar. Para Gäde (2002), conhecer os hábitos e a forma de ser das pessoas para os quais se destina a revista também são de extrema importância, porque às vezes o entorno social e cultural varia profundamente ou por completo, de uma região para outra ou mesmo de um país para outro. Outro aspecto apontado por Johnson (2007) é que o projeto editorial amarra todos os elementos de uma revista em conjunto, de forma lógica e coerente. É a aplicação prática da filosofia editorial que oferece um modelo para cada edição da revista. O projeto editorial define o tipo de conteúdo que os membros da equipe irão utilizar na aplicação da filosofia editorial. Ele detalha os assuntos com os quais a revista irá tratar e define o quanto de ênfase será dado a cada tema. As perguntas feitas aos editores ao planejar a fórmula editorial de uma publicação são: quantas páginas a revista geralmente terá? Qual é a proporção de editoriais em relação à publicidade? quais e quantas serão as reportagens, seções fixas e colunas da revista? Qual será o comprimento dos artigos e de quais tipos serão estas matérias? A distribuição das páginas editoriais e os anúncios ao longo da revista, conhecido como “espelho”, também é um ponto a ser definido no projeto editorial. A partir da definição de todas essas questões, essas informações são transmitidas para o designer editorial para a criação do projeto gráfico da revista. Outra questão referente ao conceito editorial é o título da revista, ou seja, o nome dado a publicação. Na visão de Ali (2009, p. 54), “o título é a expressão mais forte do conceito, da identidade e do posicionamento da publicação”. Para a autora, não existem regras para sua criação, pode ser o último item a ser definido ou o primeiro, e não há maneiras eficazes para medir sua influência no sucesso da revista. Não há uma regra para a criação de um título de uma revista, muitas vezes ele pode surgir da vivência dos criadores da publicação, como foi o caso de Claudia (Claudia era o nome Design em revista feminina 37 que Victor e Silvana Civita – fundadores da editora Abril – pretendiam dar a uma filha). Já a revista Nova, licenciada da americana Cosmopolitan, quando surgiu em 1973 optou por não utilizar o nome em inglês, pois poderia não ser vista com bons olhos em tempos de ditadura militar. Nova era um título que a editora Abril havia registrado e tinha sido utilizado por uma revista de fotonovela que durou apenas alguns meses. fig. 4 Embora não existam regras sobre o que é certo ou errado na criação de um título, Ali (2009) aponta algumas características que considera como um bom título: - Direto, diz logo a proposta da revista. - Nome sucinto, com um designer capacitado é possível criar um bom logotipo, tanto para um título curto como para um longo, mas, sem dúvida, é mais difícil para um longo. A revista Marie Claire é um exemplo de título longo bem solucionado visualmente. Na Da esquerda para à direita: revista Marie Claire americana (agosto/2009) e Marie Clarie americana (dezembro/2006). figura 4 vemos que o logotipo é versátil, podendo ser aplicado sobreposto ou sob a imagem; - Título diferente dos concorrentes para não ser confundido (por conta da grande diversidade de revistas que tratam do mesmo assunto). Portanto, diante das questões apresentadas, vemos o quanto é necessário empenho e estudo para a concepção do conceito editorial de uma publicação, o embrião da revista. O desenvolvimento de uma linha editorial sólida faz com que a revista nasça forte, com uma identidade marcante e com maiores chances de solidificar-se no mercado. Um exemplo disso é a revista Vogue. De longa permanência no mercado, Vogue soube renovar-se com o passar dos anos, acompanhando as transformações de seu público, bem como da sociedade, porém mantendo sua fórmula editorial. Na figura 5, o editorial de Vogue, de 1947, conhecido como “as doze beldades” trazia foto das doze modelos do momento. Sessenta anos depois, em 2007, a proposta é a mesma, bem como a composição da foto. fig. 5 à direita, editorial de Vogue com as melhores modelos do momento (maio/1947). A partir de então, esta matéria é renovada quase todos os anos. à esquerda, a mesma proposta publicada em 2007. Na primeira imagem a foto é do lendário fotógrafo Irving Penn, a segunda, de Steven Meisel. Fonte: A arte de editar revistas (Ali, 2009). Design em revista feminina Design 39 Design em revista feminina 41 2.1 Design editorial e projeto gráfico O design editorial – uma ramificação do design gráfico – é o campo responsável pelo projeto de livros, revistas e jornais e se difere, principalmente, dos outros tipos de design gráfico, em razão da presença e também da importância que recebe o texto (de um jornalista ou escritor) . Na busca por melhor definir e delimitar os campos de atuação dos profissionais de design gráfico, convencionou-se o termo design editorial para se referir ao campo que abrange o projeto de publicações. Entretanto, o design editorial pertence a uma área maior, o design gráfico. Em linhas gerais, design gráfico é a atividade de planejamento e projeto referentes à linguagem visual, a qual lida com a articulação de texto e imagem, podendo ser desenvolvida em diferentes suportes. Na concepção de Villas-Boas design gráfico é: uma atividade de ordenação projetual de elementos estéticos-visuais textuais e não-textuais com fins expressivos para reprodução por meio gráfico, assim como o estudo desta atividade e a análise de sua produção. Essa produção inclui a ilustração, a criação e a ordenação tipográfica, a diagramação, a fotografia e outros elementos visuais. O design gráfico é justamente a combinação de todos estes elementos com os fins e meios acima descritos (Villas-Boas, 2001, p. 12). No design editorial, a ordenação desses elementos ocorre da mesma forma, porém os suportes são específicos (livro, jornal ou revista). A atividade de planejamento e definição dos elementos gráfico-visuais para uma determinada publicação resulta no projeto gráfico. Niemeyer diz que o design editorial trata do projeto gráfico do material que será veiculado no jornal, na revista ou no livro e “é responsável pela visualidade do projeto editorial” (Niemeyer, 2001, p. 27) . No projeto editorial são definidos os diferentes tipos de matérias e seções que conterá a revista, bem como o espaço que irão ocupar. Uma vez definido o projeto editorial, essas informações são transmitidas para o designer (ou diretor de arte) para conferir uma forma visual a este projeto editorial. O projeto gráfico é o modo como a linguagem verbal ganhará forma visual. Cabe citar que de acordo com Rabaça (1987), projeto gráfico é a atividade de planejamento das características gráfico-visuais de uma publicação conforme sua programação visual, envolvendo detalhadamente características de produção gráfica como processos de composição, impressão e acabamento, papel, formato, etc. Além desses itens, o projeto gráfico de uma revista abrange o processo de diagramação, a escolha e tamanho da tipografia, margens, uso das cores, das imagens, sequência e posicionamento das reportagens e seções e a definição da grade. O objetivo do projeto gráfico é comunicar uma ideia, história ou reportagem através da organização e apresentação visual. De acordo com Zappaterra (2007), o projeto gráfico possui diferentes funções: conferir expressão e personalidade ao conteúdo, atrair e reter leitores e estruturar o conteúdo de maneira clara. A autora aponta ainda que estes papéis devem coexistir e trabalhar coesivamente, a fim de resultar em uma publicação agradável, útil e informativa. 42 Design em revista feminina Para a elaboração de um projeto gráfico são considerados três aspectos distintos: o aspecto visual, o aspecto físico e o aspecto técnico. Acerca do aspecto visual são considerados os seguintes itens: • Imagens. Determina-se quais os tipos de imagens da revista: fotografias coloridas, em preto e branco, ilustrações digitais ou manuais, infográficos, símbolos gráficos, pictogramas, etc. Nessa etapa também são definidas algumas características dessas imagens, como por exemplo, se serão fotos em estúdio, em locações externas, fotos-montagens. O designer pode optar por um ou mais tipos de imagens, adotando um estilo próprio, a fim de criar uma identidade visual para a revista. • Tipografia. é estabelecido quais as fontes ou famílias de fontes que serão empregadas e o tamanho a ser utilizado em cada elemento verbal (título, olho, texto, capitular, etc); • Grade. Para definir a grade é considerado o posicionamento das imagens, do texto (quantas colunas o texto virá), das margens e dos rodapés da página, além de espaços em branco. • Diagramação. Nesta fase é feito o projeto da distribuição dos elementos na página (textos, títulos, fotos, ilustrações), onde serão determinados por critérios jornalísticos e visuais. • Ritmo e sequenciamento. Neste estágio é definida a sequência das reportagens e seções, bem como a distribuição das páginas editoriais e dos anúncios. Já as características físicas e técnicas envolvem as seguintes questões: • Papel. Será decidido o tipo e a gramatura a ser usada; • Formato. é analisado qual tamanho é mais adequado para aquele tipo de revista; • Softwares e plataformas. é determinado os softwares que farão a editoração da revista, bem como o tratamento de imagem e em qual plataforma (PC ou Macintosh); • Pré-impressão. Define-se o processo de pré-impressão que será utilizado (fotolito, CTP); • Impressão. é fixado o tipo de impressão que será impressa a revista (impressão offset rotativa ou plana, sistema de cores quadricromia [CMYK] ou de cores especiais [Pantone]). Antes do lançamento de uma publicação, Gäde (2002) propõe que o designer editorial produza um detalhado protótipo (na prática profissional, denominado de boneco). Para a elaboração desse protótipo, o designer deverá levar em consideração os três aspectos mencionados: o aspecto jornalístico (o conteúdo, o projeto editorial), o aspecto estético (a forma, o visual) e o aspecto técnico (a fabricação, especificidades técnicas). Segundo o autor, antes de qualquer passo rumo ao conceito gráfico, o designer deve conhecer com devida precisão as pretensões e aspirações do editor. Uma característica peculiar acerca do projeto gráfico de revistas é apontado por Leslie (2003). O autor afirma que o projeto de uma revista é um trabalho contínuo, orgânico, não se limita a periodicidade (semanal, mensal, ou bimestral) da publicação. Muitos projetos de design gráfico têm começo, meio e fim, mas a característica da continuidade que existe no design de revistas facilita fazer mudanças graduais no design sem precisar executar completos “redesigns”. Ainda de acordo com Leslie (2003), a habilidade de continuamente desenvolver e mudar, Design em revista feminina 43 sem perder a natureza central da revista é parte essencial para um bom design. Além disso, a natureza repetitiva da revista joga a favor do designer, pois a cada nova edição oferece a oportunidade de tentar algo inovador. Acerca do design de revistas, cabe levantar uma questão importante, a relevância e influência que o contexto histórico-social e cultural exerce no processo de criação de um projeto gráfico. Sobre esse aspecto, Fernanda Sarmento defende a ideia de que: O design editorial constitui um meio de representação de idéias, conteúdos e sentimentos. Tal meio no entanto não é neutro ou indiferente aos conteúdos que apresenta, mas deve ser coerente e solidário com esses e com o contexto histórico-social no qual se manifesta. Cada época possui suas próprias formas visuais e, em correspondência com essas, uma linguagem gráfica própria (Sarmento apud Ferlauto, 2002, p. 90). A definição apresentada relaciona-se com o pensamento de Bruinsma (2005), que define design editorial como a arte de organizar agregados complexos de informações em um conjunto significativo e acessível, equilibrando função (o aspecto da interface) e estética (o aspecto expressivo). Este “agregado complexos de informações” que o autor se refere são as referências que o designer capta da cultura, do cotidiano, da vida social e as aplica em um projeto gráfico. Nesse sentido, Bruinsma (2005) diz que os designers editoriais desempenham uma função essencial nos ambientes de informação que existem atualmente, pois traduz dados abstratos em formas significativas. Para o autor, os designers editoriais são mediadores entre o conteúdo do material com que trabalham e os contextos culturais dos quais fazem parte os seus produtos. Diante dos conceitos apresentados, vemos o quanto o contexto cultural influencia e se relaciona concomitantemente com o design gráfico editorial. Para Villas-Boas: O design é um discurso e, como tal, espelha a condição cultural na qual e para a qual foi concebido ao mesmo tempo em que contribui para produzir, realimentar ou transformar esta mesma condição cultural (Villas-Boas, 2002, p. 18-19). Já para Moura (2003), “design é cultura, não apenas porque faz parte da cultura, mas porque cria, desenvolve um universo artificial e simbólico para a sociedade na qual se insere” (Moura, 2003, p. 97). Para a autora, design é produção de cultura, pois cria produtos resultantes das análises e interpretações culturais. Nas revistas femininas, as questões culturais e comportamentais da mulher são investigadas de forma a trazer informações que contribuam com o desenvolvimento da concepção visual da revista. Portanto, para a criação de um projeto gráfico para uma revista, seja ela feminina ou não, é necessário que o designer editorial olhe a seu redor e capte as manifestações culturais da sociedade para que o projeto seja coerente com a visualidade de sua época e, principalmente, para que tenha pleno domínio dos códigos simbólicos dos públicos a qual se destina a publicação. 44 Design em revista feminina fig. 6 fig. 7 fig. 8 Caras, formato ampliado, 22,5 x 31 cm. Nova, formato padrão, 20 x 26,5 cm. Glosss, formato pocket, 17 x 22 cm. Design em revista feminina 45 2.2 Componentes do projeto gráfico Como vimos anteriormente, para a produção de projeto gráfico de uma revista são considerados os aspectos físico, técnico e visual. Cada qual tem sua importância para o desenvolvimento do produto final, a revista. Neste tópico, aprofundaremos cada componente do projeto gráfico para uma melhor compreensão da atividade projetual de design de revistas, principalmente, no que se refere aos aspectos relevantes que devem ser considerados no momento da elaboração de um projeto gráfico de uma revista. 2.2.1 Aspectos físicos e técnicos O aspecto físico de uma revista envolve duas questões: o papel e o formato que a revista terá. O formato de uma revista, ou seja, seu tamanho final, deve ser determinado de forma que atenda às necessidades editoriais da revista, edição após edição. Como as revistas devem respeitar uma periodicidade regular, fica inviável financeiramente e também para o cumprimento de prazos, a mudança de formato a cada edição, uma vez que os designers trabalham com páginas templates (modelos prontos que facilitam o processo de diagramação da próxima edição, pois já estão “pré-prontos”). Mudar o formato a cada edição acarretaria em um processo de refação de vários aspectos, como a grade, margens, diagramação, etc. Além disso, em revistas comerciais há muitas repetições de anúncios de uma edição para outra, o que envolveria em um trabalho a mais por parte da agência de publicidade para refazer ou criar anúncios com diferentes formatos. Para Ambrose (2009), os designers de revistas focalizam o conteúdo e não o formato físico, fixando-se em um único tamanho, por razões econômicas e de comodidade, porque em revistas comerciais não há sentido em repensar todos os aspectos a cada nova edição. Além disso, em um mercado competitivo, recomenda-se ter um conteúdo consistente e de fácil reconhecimento de uma edição para outra. De certa forma, a permanência do mesmo formato contribui para a construção da identidade da revista e fixação da imagem da publicação na mente do consumidor. Na visão de Owen (1991), o formato é a base de sua identidade visual mas de nenhum modo é sua única forma de expressar sua individualidade. Para a determinação do formato da revista, deve ser considerado a proposta editorial da publicação, os hábitos do público a qual se destina ou outro fator que o editor possa considerar relevante. As revistas de celebridades, por exemplo, possuem formato maior, pois sua proposta editorial é explorar uma grande diversidade de imagens e em tamanho grande, como é o caso das revistas Caras (fig. 6) e Contigo! . Já a revista Gloss, para a mulher jovem, tem formato pocket, ideal para caber dentro da bolsa da mulher (fig. 8). Hoje, grande parte das revistas (femininas e de interesse geral) adota um formato padrão (em torno de 21 x 27 cm), como é o caso da revista Nova (fig. 6). A respeito do papel a ser adotado para a revista, este também sofre influências do projeto 46 Design em revista feminina editorial da publicação. As revistas de fofocas semanais, por exemplo, que têm preços baixos, têm papel de baixa qualidade. Já as revistas para o público A, que muitas vezes trazem artigos de luxo estampados em suas páginas, recebem papel de qualidade superior. Dessa forma, é certo que o papel escolhido para a revista influenciará em seu preço de capa. Na visão de Ambrose (2009), o uso da revista e seu setor têm diferentes exigências e tempos de vida. Um periódico acadêmico, por exemplo, tem longa duração, já uma revista de celebridades, tem natureza êfemera, por isso, utilizam um papel de baixa qualidade. Para o autor, a natureza das revistas é mais descartável, portanto, devido a esse descarte, o papel de uma revista, raramente, é de alta gramatura como a de um livro, por exemplo. As questões técnicas que envolvem a feitura de uma revista são: pré-impressão, impressão, softwares de editoração e tratamento de imagem e a plataforma a ser utilizada. A pré-impressão refere-se a todo o processo envolvido antes da impressão da revista, que se inicia com o fechamento dos arquivos (PDF), que posteriormente serão transformados em fotolitos ou através do processo de CTP (Computer Direct to Plate). Nesse método que é o mais utilizado atualmente, não há a presença de fotolito, as páginas são gravadas diretamente do computador à chapa de impressão. Com relação aos softwares de editoração, os mais comuns do mercado são Adobe Indesign, e QuarkXpress. Hoje, o programa mais utilizado é o Adobe Indesign, sucessor do Adobe Pagemaker. Para tratamento de imagens, o Adobe Photoshop é o mais usado. A plataforma preferida das editoras é o Macintosh, muito embora, diversas empresas de pequeno porte trabalhem em PC. Com relação ao tratamento de imagens, o diretor de arte pode optar por fazer o tratamento das imagens internamente, juntamente com sua equipe de designers ou enviar para um bureau especializado. Em algumas editoras grandes, como a editora Abril, a revista possui uma equipe especializada para fazer o tratamento das imagens. 2.2.2 Aspectos visuais Para cumprir a missão de conceder uma forma visual ao projeto editorial, é elaborado a visualidade do projeto gráfico da revista. Para a construção do aspecto visual e estético da revista é necessário levar em consideração os seguintes itens: tipografia, imagens, grade, diagramação, ritmo e sequenciamento. A seguir, veremos em detalhes os conceitos, funções e importância de cada um desses itens no design de revistas. 2.2.2.1 Tipografia A tipografia é um dos elementos mais importantes de um jornal ou revista, pois é a através dela que as ideias escritas (conteúdo editorial) são transmitidas para o leitor. Design em revista feminina 47 E para melhor compreender o que é tipografia e sua relevância no projeto de revistas, apontamos uma definição trazida pelo tipógrafo alemão-suíço Wolfgang Weingart: É transformar um espaço vazio, num espaço que não esteja mais vazio. Isto é, se você tem uma determinada informação ou um texto manuscrito e precisa dar-lhe um formato impresso com uma mensagem clara que possa ser lida sem problema, isso é tipografia. Tipografia é a arte de escolher o tamanho correto, o comprimento certo da linha, de escolher as diferentes espessuras das informações de texto. Ela pode incluir cor, que dá outro significado à palavra. Se você imprimir algumas partes em vermelho, elas se transformam numa outra informação. A tipografia inclui regras para o uso de linhas, formas positivas e negativas, aplicação de retículas, letras em diferentes contrastes de claro-escuro e de tamanhos pequenos e grandes (Weingart apud Ferlauto, 2001, p. 13). A importância da tipografia no design de revistas deve-se às necessidades de leitura e compreensão do texto. Seu grande volume de texto é o que diferencia, fundamentalmente, os outros tipos de projetos tipográficos. E justamente por isso, exige que o designer torne o texto confortável para que o leitor possa navegar através dos elementos tipográficos da página (título, olho, subtítulos, legendas, etc) bem como sustentar a continuidade da leitura. Além disso, Owen (1991) aponta que o esquema tipográfico proporciona um sistema de produção regular e de reconhecimento, mediante a criação de um estilo individual para a revista que distingue entre editorial e publicidade. Portanto, vemos que a tipografia não se trata apenas de escolher entre as fontes Arial ou Times New Roman, mas sim determinar qual tipografia tem a capacidade de transformar uma informação textual, em uma forma visual adequada para que este conteúdo seja assimilado de maneira fácil e correta e, principalmente, que encaixe com o projeto gráfico da revista como um todo. Uma fonte incorreta pode afetar a compreensão do conteúdo, ou transmitir uma imagem errônea da proposta editorial da publicação. Nesse sentido, Bhaskaran (2006) diz que a forma visual da tipografia pode comprometer radicalmente como o design é percebido, daí a importância de se escolher a tipografia correta. O autor aponta ainda que os caracteres tipográficos têm personalidade e são um excelente meio de comunicar emoção, por exemplo. Também para Zappaterra (2007), a tipografia mais do que qualquer outro elemento de design sinaliza certas associações ao leitor e, para visar todas essas questões satisfatoriamente, cada fonte deve ser selecionada para uma específica função. Cada elemento tipográfico (olho, título, corpo do texto, aspas, etc) cumpre um papel diferente dentro do leiaute, por isso, a forma como a tipografia deve ser tratada em cada situação é de extrema importância para que ela corresponda aos seus objetivos individuais. Os títulos, por exemplo, cumprem a função de apresentar a história e atrair a atenção do leitor, os subtítulos, para introduzir mais detalhadamente e assim por diante. O estabelecimento de uma hierarquia clara desses elementos também é de vital importância, pois faz com que o leitor seja capaz de identificá-los e usá-los para navegar. 48 Design em revista feminina Sobre os diferentes elementos tipográficos e suas respectivas funções, White (2006, p. 93) aponta quatro diferentes formas de aplicar a tipografia em uma revista: 1- “Fala tornada visível”: aplicada em títulos, aberturas, legendas, olhos, aspas, etc. é responsável por captar mais diretamente o interesse do leitor; 2- “Como contar uma história”: conhecido como texto corrido, refere-se a leitura contínua e mais longa, um processo fluente, lento, reflexivo, sequencial e linear. Nesta situação é que o designer deve se preocupar em escolher uma fonte que torne a leitura confortável. 3- “Explanação”: trata-se de unir fatos e agrupá-los visualmente, refletindo a organização e estrutura da escrita, pode ser vista em forma de listas, tabelas, tabulações e facilitam a compreensão, além de trazer informações adicionais que não estão no texto corrido; 4- “Imagem”: neste caso, estão envolvidas as emoções e a curiosidade do leitor, criando palavras-imagens. Abaixo, exemplificamos em um leiatue, as quatro formas de aplicação tipográfica mencionadas: fig. 9 4- palavra-imagem 1-fala tornada visível 3-explanação 2-como contar uma história Reportagem sobre culinária revista The Oprah Magazine, abril / 2009. Design em revista feminina 49 A legibilidade e leiturabilidade também são questões importantes que o designer de revistas deve considerar no momento da escolha tipográfica, pois são determinantes para proporcionar conforto à leitura. Niemeyer (2001, p. 70) conta que “a legibilidade de um texto se refere à facilidade com que grupos de caracteres são identificados corretamente como uma palavra, e o resultado é que o leitor ou leitora perceba frases significativas para ele ou ela”. Já leiturabilidade é: a qualidade que torna possível o reconhecimento do conteúdo da informação em um suporte quando ela está representada por caracteres alfanuméricos em grupamentos com significação, como palavras, frases ou texto corrido. A leiturabilidade depende do espacejamento entre caracteres e grupos de caracteres, de sua combinação em frases ou sob outras formas, do espaçamento entre linhas, do comprimento de linha e das margens, mais do que a configuração específica do caractere em si (Sanders e McCormick, 1993 apud Niemeyer, 2001, p. 70). Diversos fatores interferem na leiturabilidade ou legibilidade de um texto, como por exemplo, fontes de contorno muito finas aplicadas em cima de fotografias ou boxes com cor, longos blocos de texto com a fonte em itálico ou negrito e entrelinha simples. E ainda longos blocos de texto com a fonte em caixa-alta ou no estilo caixa-alta e baixa, como mostram alguns exemplos que seguem: Este é um exemplo de como a aplicação errônea de uma fonte interfere em sua legibilidade e leiturabilidade. Além de proporcionar desconforto na leitura, pode interferir no entendimento da mensagem. Neste caso, o texto foi aplicado em box com fundo preto o que dificulta a leitura com uma fonte de contorno fino. fig. 10 Este é um exemplo de como a aplicação errônea de uma fonte interfere em sua legibilidade e leiturabilidade. Além de proporcionar desconforto na leitura, pode interferir no entendimento da mensagem. Neste caso, o texto foi aplicado todo em itálico e o desconforto é devido à inclinação. O itálico também é chamado de oblíquo. Este é um exemplo de como a aplicação errônea de uma fonte interfere em sua legibilidade e leiturabilidade. Neste caso, o desconforto deve-se a aplicação da fonte toda em caixa alta (letras maíusculas). Exemplos de aplicações de fontes de legibilidade e leiturabilidade ruim. Nos 3 blocos a fonte aplicada foi Garamond, corpo 10, entrelinha 12. Autoria: Marienne Vidutto. Na visão de White (2006), a melhor fonte é aquela confortável para ler e que, de tão confortável, torna-se invisível, transparente, pois o leitor não toma ciência de seu ato (leitura). A leitura deve ser prazeroza para que o leitor não a abandone porque a tipografia está desconfortável. Hoje, existem algumas “regras” quanto ao uso da tipografia, entretanto, há muitas controvérsias, por exemplo, que a fonte sem serifa não é recomendada para textos longos. Para White (2006), fórmulas sobre o que é uma boa fonte não existem, exceto o bom senso, “se funcionar bem é correto, se não é incorreto”. (White, 2006, p. 94). Portanto, é preciso sensibilidade, percepção e experiência do designer para a escolha das fontes certas. Ferlauto aponta que “é preciso conhecer os tipos. Assim seremos capazes de perceber suas nuances, sua personalidade, a funcionalidade e beleza de suas formas. Quanto mais sabemos sobre tipos, mais preparados estamos para usá-los” (Ferlauto, 2001, p. 7). 50 Design em revista feminina 2.2.2.2 Grade Para a concepção visual de um projeto gráfico para uma revista, outro aspecto a ser considerado é a construção da grade (ou grid, em inglês). A elaboração de uma revista ou qualquer outro projeto de design gráfico envolve a resolução de problemas visuais e organizacionais. A necessidade de organizar o espaço acompanha a trajetória humana há muito tempo. Abreu (2009) relata que é possível identificar traços de preocupação com a organização espacial desde os primórdios da manifestação gráfica. O autor conta que alguns registros dos sumérios, no período em torno de 2350 a. C, denotam uma forma de organização do espaço por meio do traçado de linhas horizontais e verticais (fig. 11). Isso muito antes da criação do fig. 11 primeiro alfabeto, elaborado pelos fenícios em 1.400 a. C . Esse modo de organização é semelhante até hoje, a fim de auxiliar na organização e visualização dos elementos estético-visuais textuais e não-textuais dos projetos de design gráfico. Esses elementos juntos cumprem a função de comunicar a mensagem gráfica, e uma das formas para atingir esse objetivo é por meio da grade. Placa sumérica de cerca de 2350 a. C. Fonte: Revista Bravo! Desenho, design e desígnos (Abreu, 2009). Zappaterra (2007) define grade como o conjunto invisível de linhasguia que ajudam o designer a determinar o posicionamento e uso do texto, imagens e outros elementos de design, como espaços em branco, margens e rodapés. A grade ajuda a manter a unidade da publicação, ao mesmo tempo que permite diferentes possibilidades de leiaute. Na visão de Hulburt (2002, p. 82), a grade é uma “solução planejada para determinados problemas, sem contudo se basear num sistema preestabelecido de proporções. A grade de um designer organiza o conteúdo específico em relação ao espaço que ele irá ocupar”. Para a construção da estrutura da grade são considerados os seguintes tópicos: margens (interna, externa, superior e inferior), quantidade de colunas e o espaçamento entre elas. Com isso, é possível identificar onde será posicionado o texto, as imagens e os rodapés da página. Na figura 12, vemos a grade de uma página dupla. No exemplo, foram determinadas as margens superiores e inferiores (linhas magenta), a quantidade de colunas (linhas roxas verticais), bem como o espaçamento entre elas. Podemos ver também, a presença de uma linha-guia que serve como referencial para o posicionamento e/ou alinhamento de alguma imagem ou bloco de texto. O designer pode incluir quantas linhas-guia desejar para a organização espacial. No momento de definir a margem interna, o designer deve considerar a quantidade de páginas e tipo de encadernação que será feita. A lombada do tipo canoa (com grampo), geralmente utilizada em publicações com poucas páginas, exige um espaço interno menor das encadernações Linhas-guia: são linhas que podem ser inseridas em qualquer lugar da página e que tem como objetivo auxiliar no posicionamento de objetos – recurso disponível nos softwares de editoração e tratamento de imagem. Design em revista feminina 51 margem interna fig. 12 margem superior e exterior espaço entre as colunas linha-guia margem inferior Grade de página dupla, onde foram determinadas as margens, a quantidade e o espaçamento das colunas. Autoria: Marienne Vidutto. em lombada quadrada (colada ou costurada). Samara (2005) esclarece que as margens são os espaços negativos entre o formato final e o conteúdo. Elas circundam e definem a área “viva” onde o texto e as imagens serão posicionadas, podendo ser usadas para focar a atenção, como área de descanso para os olhos ou atuar como uma área para informações secundárias. O autor aponta ainda que as proporções das margens devem ser bem planejadas, pois ajudam a estabelecer a tensão total dentro da composição. Acerca da organização dos elementos na grade, Ferlauto (2002) aponta duas formas de organizar os signos: por similaridade/semelhança ou por justaposição. Por similaridade/semelhança os elementos são posicionados lado a lado (signos, imagens semelhantes, etc) fazendo uma combinação ou rima. Por justaposição significa justapor signos díspares, em oposição, conflito ou contraste. São diversos os benefícios para trabalhar com uma grade. Samara (2005) aponta alguns deles: clareza, eficiência, economia e continuidade. A grade confere ordem sistemática a um leiaute, distinguindo tipos de informações e facilitando a navegação do usuário através deles. Também possibilita ao designer diagramar grandes quantidades de informação em um tempo substancialmente menor, porque muitas questões acerca do design já foram solucionadas no momento da construção da estrutura da grade. Além disso, a grade permite que diversos indivíduos colaborem com o mesmo projeto gráfico ao longo do tempo, sem comprometer a qualidade visual estabelecida, repentinamente. E se bem aplicada a uma série de páginas, pode dar origem a um sentido de sequência, de 52 Design em revista feminina continuidade, proporcionando distinção ao todo, pela padronização. Embora a grade ofereça uma série de benefícios, ela também é criticada por alguns designers que creem ter sua liberdade criativa tolhida devido a uma estrutura pré-definida. Hulburt (2002, p. 83) diz que a grade usada “com habilidade e sensibilidade pode produzir layouts de bom efeito e funcionais. Todavia, nas mãos de um designer não muito habilidoso, pode se converter numa autêntica camisa-de-força, resultando em layouts duros, de rígido formato”. Nesse sentido, White (2006) diz que o designer não deve ficar aprisionado num formato pré-determinado, mas dispor o texto em padrões que reflitam a estrutura do que está escrito. Cada artigo deve ser tratado como uma unidade separada, distinta e de padrão variado. “Sua geometria deve ser uma resposta às necessidades editoriais, portanto, não há razão pela qual as larguras das colunas não possam mudar quando necessário”. A publicação ficará coerente se você mantiver a consistência tipográfica no que se refere a fontes, tamanhos e espaçamentos de linhas” (White, 2006, p. 44-43). Samara (2007) aponta que devido à regularidade da grade, o designer pode se sentir coibido a expressar sua criatividade no leiaute, entretanto, ele não é pretexto para leiautes medíocres: Um grid só funciona realmente se o designer, depois de resolver todos os problemas literais, vai além da uniformidade implícita em sua estrutura e o utiliza para criar uma narrativa visual dinâmica, capaz de manter o interesse ao longo das páginas. O maior risco do uso do grid é sucumbir à sua regularidade. Cabe lembrar que o grid é um guia invisível que existe no ‘subterrâneo do layout’; o conteúdo acontece por cima, às vezes, contido, às vezes livre. Quem cria um layout sem graça não é o grid, é o designer (Samara, 2007, p. 30). Diante dos conceitos apresentados, vemos que a grade é um recurso à disposição do designer para a organização dos elementos visuais de uma revista que, apesar de seu uso ser controverso entre alguns designers, é inegável que seus benefícios prevalecem. O designer deve lançar mão desse artifício em busca de leiaute limpo, fácil de navegar, surpreendente e, principalmente, que cumpra sua missão de comunicar a mensagem editorial. 2.2.2.3 Diagramação Uma das questões mais importantes relacionadas ao design de revistas é a diagramação. Muitas vezes o trabalho de editoração (ou diagramação) é erroneamente associado com a atividade de design. Muitos acreditam que diagramar é sinônimo de fazer o design da revista, entretanto, o processo de editoração é apenas uma das ferramentas e processos do design editorial. Na visão de Rabaça (1987), diagramar é fazer o projeto da distribuição dos elementos a serem impressos (textos, títulos, fotos, ilustrações), seguindo determinados critérios jornalísticos e visuais. Silva (1985) relata que a o termo diagramação deriva da palavra diagrama, do latim diagramma, Design em revista feminina 53 que significa desenho geométrico usado para demostrar algum problema, resolver alguma questão ou representar graficamente a lei de variação de um fenômeno. O design gráfico, de forma geral, trata o gerenciamento de informações visuais e a diagramação como apenas uma das diversas ferramentas que o designer tem à sua disposição. A diagramação de uma publicação se refere ao posicionamento do conteúdo – texto e ou imagens – e como esses dois elementos se relacionam um com o outro, além da publicação como um todo. O processo de diagramação resulta em uma composição visual, ou seja, em um leiaute, que é a imagem total que aparece na página. De acordo com Campos e Prioste (2006) é a configuração ou composição visual “que estabelece a interface de um produto de design, aquilo que faz com que um produto de design se sinta estimulado a prosseguir num caminho rumo ao desvendamento ou exploração de uma peça, seja ela impressa ou digital” (Campos e Prioste, 2006, p. 91). Portanto, é de suma importância que o designer se preocupe com a etapa de configuração dos elementos da página, de modo que a torne atraente, agradável e que envolva o leitor. Se a composição visual estiver poluída ou pouco atraente, o leitor pode ignorar a página, virá-la e continuar folheando a revista em busca de algo de seu interesse. Na visão de Nojima, “o mais representativo em uma composição visual é o seu “todo”, ou seja, a maneira escolhida para integrar todos esses elementos, que juntos devem conter uma codificação específica” (Nojima, 2002, p. 75). O assunto da reportagem ou seção também interfere nesse processo, pois caso o tema abordado não tenha valor para o leitor, por mais que a composição visual esteja adequada, a página será ignorada. Para que o processo de comunicação seja eficaz é preciso que o designer considere também os hábitos, usos e valores do público-alvo da revista. Portanto, vemos o quanto a composição visual é importante para a peça gráfica, além de ser um meio de expressão do designer, como pontua Dondis: Os resultados das decisões compositivas determinam o objetivo e o significado da manifestação visual e têm fortes implicações com relação ao que é recebido pelo espectador. É nessa etapa vital do processo criativo que o comunicador visual exerce o mais forte controle sobre seu trabalho e tem a maior oportunidade de expressar, em sua plenitude, o estado de espírito que a obra se destina a transmitir (Dondis, 2007, p. 29). A composição visual é obtida através da articulação e distribuição dos componentes do leiaute. Os principais componentes de um leiaute de uma revista são: título, abertura da reportagem (ou lead), texto corrido, capitular, subtítulos, aspas e olhos, vinheta, ícones, legendas, rodapés, créditos, boxes e imagens. Todos esses elementos são articulados de forma que resulte em um leiaute harmônico e fácil de navegar. Cada componente do leiaute cumpre uma missão específica dentro da página e, para ser aplicado uma forma visual correta para cada um desses componentes, é preciso que o designer conheça a função de cada componente, como detalharemos a seguir: 54 Design em revista feminina • Título: na grande maioria das vezes é a maior fonte da página. O título serve para estimular a curiosidade do leitor e atraí-lo para a leitura da reportagem. Zappaterra (2007) diz que, se o título for aplicado antes do texto corrido, pode ser útil para determinar o sentido de direção do leiaute. A autora complementa que o título pode ser posicionado em diferentes locais, sem um local fixo, mas é de suma importância que esteja sempre interligado com sua representação visual. • Lead (ou lide, aportuguesado): é a abertura da matéria. Sua principal função é oferecer uma prévia do assunto a ser abordado e, assim como o título, prender o interesse do leitor. Geralmente o lead é aplicado com a fonte em tamanho maior que o texto corrido, para ganhar destaque. • Texto corrido: o texto da reportagem pode ser disposto em inúmeras maneiras. As colunas de texto podem receber alinhamento justificado, à esquerda ou à direita. O texto corrido contará a “história” da reportagem e deve receber tratamento adequado para que a leitura seja confortável. fig. 13 legenda título lead créditos imagem texto corrido capitular rodapé legenda imagem texto corrido aspas subtítulo box subtítulo rodapé Reportagem sobre as perigosas dietas de desintoxicação, revista Self . Design em revista feminina 55 O espaçamento correto nas entrelinhas, entreletras e dos parágrafos devem estar bem configurados para que não ocorram dispersões ou perturbações visuais. • Capitular: a capitular tem a função de indicar onde o texto começa. é um componente que permite a criação de diversos efeitos visuais, como por exemplo, transformar letras em imagens. O formato visual mais utilizado para a capitular é com a letra da primeira frase da matéria em tamanho grande. A capitular também pode ser vista da seguinte forma: com a fonte maior ou em negrito da primeira frase ou das primeiras palavras do texto, como mostra a figura 13. • Subtítulos: textualmente, os subtítulos cumprem o papel de dividir o texto em diferentes partes. Visualmente, provocam um quebra no texto corrido que proporciona um descanso visual ao leitor, trazendo espaços em branco à página. Os subtítulos podem ser aplicados em negrito, com cor, em caixa-alta ou com uma fonte diferente. • Aspas e olhos: são frases selecionadas pelo editor da publicação a fim de criar interesse extra pela reportagem. As aspas podem ser aplicadas de diversas maneiras: aspas simples (‘ ‘) ou aspas dupla (“ “). é definido um padrão a ser seguido e apenas um desses dois estilos é empregado. A função vital das aspas e olhos é capturar o interesse do leitor para que ele leia a matéria. A diferença entre o olho da matéria e as aspas é que olho não aparece com sinal de aspas, pois não é uma frase do entrevistado mas do jornalista que escreveu o texto. • Legendas: utilizadas geralmente próximo à imagens, as legendas dão informações adicionais sobre aquela fotografia ou ilustração e pode dizer a razão porque ela está ali, fazendo uma relação com a história da reportagem. Quando há um número grande de legendas para serem expostas, cada imagem pode ser numerada e, ao lado, disposta uma lista com todas as legendas. • Boxes: texto adicional inserido na reportagem, que traz informações complementares ao leitor, sempre relacionadas ao assunto da matéria. Comumente é disposto dentro de um quadro (com ou sem cor) com bordas. Os boxes também podem ser apresentados com o texto colorido, com fontes diferentes e/ou recuados do texto corrido para proporcionar uma diferenciação. • Rodapés: funcionam como uma ferramenta navegacional ao longo da edição e são, usualmente, posicionados no margem inferior próximo à área externa da página ou ao centro, de forma que o número da página possa ser encontrado rapidamente. O rodapé, se posicionado muito próximo à lombada, pode dificultar sua visualização e, consequentemente, a localização do número da página. O designer pode optar por omitir o rodapé quando a foto preencher toda a página. No caso de publicações que tal situação ocorre muitas vezes, esta opção deve ser desconsiderada, haja vista que tal decisão pode comprometer a localização dos conteúdos editoriais. Nos anúncios, os números de páginas são sempre omitidos. O rodapé pode conter apenas o número da página ou o nome da revista com a data da edição. • Créditos: os créditos das imagens e do autor do texto são quase sempre posicionados 56 Design em revista feminina abaixo do lead, isto para o caso das fotos principais da matéria serem do mesmo fotógrafo. Nas reportagens onde há um grande número de fotos de diferentes fotógrafos, o crédito é posicionado ou em cima da imagem (em um corpo bem pequeno) ou na lombada na página, também em tamanho reduzido para que as informações não interfiram no visual. • Retranca: o mesmo que cartola ou chapéu, a retranca define o assunto da matéria. Pode ser aplicada em diversas formas: sobre boxes coloridos, em forma de barras, com linhas, sobre uma forma geométrica ou um estilo tipográfico que venha conferir identidade à publicação. A retranca pode aparecer nas páginas seguintes caso a matéria continue em diversas páginas. • ícones: os ícones são utilizados para demostrar que a reportagem continua na próxima página ou que terminou. Muitas vezes, são utilizadas setas ou dedos indicadores para sinalizar a continuidade e pequenos quadrados ou círculos para representarem o encerramento. • Imagens: considerada o elemento-chave da página, é o componente do leiaute que merece atenção especial quanto à sua disposição, pois seu relacionamento com a história é crucial para cumprir a missão comunicativa. De acordo com Zappaterra (2007), mesmo se o texto é dirigido pela imagem ou vice-versa, o importante é criar um interessante diálogo entre texto e visual. Como uma imagem é cortada, onde é posicionada em relação ao texto e sua posição na página criam expressão e narrativa para o leitor. A autora exemplifica que a aplicação de imagens de rostos olhando para dentro da página cria harmonia e, olhando para fora, direciona o olhar para fora página, criando tensão. Um largo close de uma imagem banal envolve o leitor com a matéria, bem como seu contorno ou forma é capaz de criar uma imagem abstrata que pode intrigar ou surpreender o leitor. O assunto imagens será abordado em profundidade no próximo tópico (2.2.2.4). Portanto, observamos que diante dos diversos componentes apresentados do leiaute, podemos constatar que a visualidade a ser conferida a cada um desses elementos irá variar substancialmente de acordo com a necessidade de cada um. Nem sempre é possível encontrar todos os elementos em um único leiaute. As reportagens de moda, por exemplo, que em sua grande maioria traz fotos sangradas em página inteira, apresentam apenas, título, lead e legendas. Nesse sentido, Bhaskaran (2006) diz que, o conteúdo é que, em sua maior parte, determina o leiaute. Ou seja, a forma como jornalisticamente aquele tema foi trabalhado, abordado e, principalmente, editado, determinarão como será o leiaute. Posicionamento dos elementos Outro aspecto que envolve o leiaute é o posicionamento dos elementos na página. Uma pesquisa do Poynter Institute, apresentada pelo professor de jornalismo gráfico Moraes (1998), revelou que quando o leitor entra numa página, sua atenção não está voltada para nenhuma posição predeterminada, mas para um elemento visual dominante, e só a partir desse ponto de entrada é que será deslocada para outros elementos da página. De acordo com essa pesquisa, o trabalho de arte, Design em revista feminina 57 o que inclui ilustrações e infográficos, é percebido pela maioria dos leitores (80%), seguido pelas fotografias (75%) e pelos títulos (56%). O texto só vem em sétimo lugar, com apenas 25%. Este estudo reforça a afirmação de White (2006), que defende a ideia que para convencer o leitor a iniciar a leitura, uma das estratégias é expor o valor da mensagem, através do uso de diversos elementos, como legendas, aspas, imagens, títulos, boxes que serão responsáveis por persuadir o leitor a iniciar a leitura. Para o autor, o leitor folheia uma revista com o seguinte critério: “o que é para mim e o que não é para mim”. E, se sentirem atraídos por determinada reportagem, o leitor raramente inicia a leitura por onde deveria começar: pelo início do texto. Em vez disso, sua atenção é voltada para qualquer outro lugar na página que então o conduzirá (ou não) à leitura do texto. Indo ao encontro do pensamento de White (2006), Barbosa diz que: O acesso do leitor à informação de uma revista começa no manuseio. Ele, em geral, folheia antes de ler. A partir de um primeiro contato hábil e visual ele desencadeará a leitura em seus diferentes níveis. O aspecto gráfico é muito importante para essa seleção de leitura bem como na determinação da característica fundamental da revista: ser um objeto de lazer (Barbosa, 1996, p. 30 apud Gruszynski, 2006). Portanto, entendemos o quanto é importante conferir um aspecto visual adequado à reportagem para que o leitor sinta-se atraído a iniciar a leitura. No design gráfico de anúncios publicitários, por exemplo, vende-se o produto ou serviço de uma determinada empresa. No design editorial de revistas, o que está sendo vendido é a própria reportagem, para que ela seja lida. Para Zappaterra (2007), não há regras definitivas sobre como o olho de um indivíduo irá escanear uma página, porém, a autora crê que são os ganchos visuais (imagens ou texto) que determinam onde o olho iniciará sua jornada. No exemplo abaixo, de acordo com a autora, o elemento dominante (letra G), de tamanho grande e cor forte, faz com que o olho seja atraído para ele. Só então segue no sentido horizontal para o olho do futebolista Paul Gascoigne para, finalmente, mover-se para o lead (abertura da matéria). Embora a autora tenha apontado esta possibilidade de trajeto do olho, isto é discutível. Não po- fig. 14 demos afirmar que com todos os leitores ocorrerá da mesma forma. No que diz respeito ao posicionamento dos elementos na página, White (2006) aponta outra questão pertinente e específica do suporte da revista. Para o autor, devido à lombada da revista, o leiaute não é plano, como um quadro que se pode pendurar na parede ou a imagem na tela de compurador. White (2006) diz que a Reportagem da revista Loaded, extraída do livro Editorial Design (Zappaterra, 2007). 58 Design em revista feminina lombada deve ser sempre considerada pelo designer, pois faz com que a página dupla se divida em duas partes. Por essa especificidade, algumas áreas são consideradas mais valorizadas para o posicionamento de determinados elementos do que outras. Segundo White (2006), as áreas mais valorizadas são: “canto superior esquerdo e o canto superior direito, pois são as áreas que as pessoas mais olham”. É ali que devem estar as “imagens mais fascinantes e as palavras mais provocativas”. Justamente por causa da lombada, as posições contraindicadas são as que ficam próximas à dobra interna, pois a “metade interna fica escondida até que quem folheie decida abri-la totalmente para revelar a página dupla. O que ele ver nas metades externas irá motivá-lo a fazer isso” (White, 2006, p. 5). Princípios do design Outra questão acerca do leiaute é apontado por Siebert (1992) e refere-se aos princípios do design, como denomina o autor. Eles têm por objetivo ajudar a determinar o uso dos elementos de design para que o resultado seja um bom leiaute. De acordo com o autor, são quatro os princípios do design: equilíbrio, ênfase, ritmo e unidade. O autor aponta que equilíbrio é uma distribuição igual de peso visual. Cada elemento em um leiaute tem um peso visual que é determinado pelo seu tamanho, escuridão ou luminosidade e espessura das linhas. Há duas formas para se conseguir o equilíbrio. O primeiro é o equilíbrio simétrico, com o arranjo dos elementos distribuídos uniformemente à esquerda e à direita a partir do centro. O segundo é o equilíbrio assimétrico que é um arranjo dos objetos de igual peso em cada lado da página, não tendo o centro como referência. Cor, tamanho, forma e textura podem ser usados para se conquistar o equilíbrio. O equilíbrio simétrico pode comunicar robustez e estabilidade e é apropriado para publicações tradicionais e conservadoras, apresentações e sites da web. Já o equilíbrio assimétrico pode implicar contraste, variedade, movimento, surpresa e informalidade. É adequado para as publicações modernas e de entretenimento, além de apresentações e sites da web. O ritmo é um padrão criado com a repetição de elementos variáveis. Repetição (repetir elementos similares de forma consistente) e variação (uma mudança na forma, tamanho ou posição dos elementos) são as chaves para o ritmo visual. As mudanças repentinas no tamanho e espaçamento dos elementos criam um leiaute dinâmico, vívido e emocionante. A ênfase é o que se destaca ou que se notou em primeiro lugar. Cada leiaute precisa de um ponto focal para dirigir o olho dos leitores para a parte mais importante do leiaute. Geralmente, um ponto focal é criado quando um elemento é diferente do restante. A unidade ajuda a fazer com que todos os elementos pareçam uns com os outros. Unificar os elementos, agrupando-os, cria uma unidade. Os leitores precisam de pistas visuais para perceber que a peça é uma só unidade (de texto, títulos, fotografias, imagens, legendas, etc). Uma das formas de conferir unidade à peça é repetindo cor, forma, textura ou mesmo a grade. Design em revista feminina 59 Uso da cor Outra questão que permeia a construção de um leiaute é o uso da cor. Nem todas as publicações usam esta importante ferramenta de design, algumas revistas elegem apenas uma única cor para garantir alguma variedade. As revistas femininas em geral usam e abusam de diversas cores para expressar sua personalidade editorial, com exceção das revistas de luxo para público A, como Haarper’s Bazzar e Vogue. White (2006) relata que a cor não é preponderantemente um recurso estético, e sim uma técnica racional que pode ser aplicada com objetivos funcionais: identificação, ênfase, associação, organização, persuasão e, às vezes, para embelezar intencionalmente, mas quase sempre como uma consequência derivada. Na visão de Zappaterra (2007), a cor pode acrescentar significado em um leiaute, conectando elementos através de títulos e subtítulos coloridos, boxes, capitulares, etc. Para a autora, o olho possui a habilidade de fazer ligações através da utilização desse tipo de sinalização. Portanto, observamos que existem diversas aplicações e finalidades acerca do uso da cor, contudo, é um recurso que deve ser muito bem planejado, pois a cor pode resgatar experiências individuais e subjetivas do leitor, alterando sua percepção de uma determinanda cor. Apesar do mecanismo de percepção da cor ser o mesmo entre os humanos, diferenças culturais e experiências individuais afetam nossa interpretação da mensagem nas cores. Sobre esse aspecto, Samara (2005) aponta que a cor “está intimamente conectada com o mundo natural e, deste modo, uma ferramenta de comunicação profundamente útil. Mas porque a cor resulta da transmissão de ondas de luz refletidas através de um órgão imperfeito – o olho – para um imperfeito intérprete – o cérebro – os significados transmitidos são também profundamente subjetivos”. Para o autor, poucos estímulos visuais são tão poderosos como a cor. 2.2.2.4 Imagens As imagens são consideradas um dos elementos-chave da página e a grande responsável por atrair a atenção do leitor. Além disso, as imagens contribuem ativamente para a construção da identidade visual da revista. Bhaskaran diz que as “imagens desempenham papel integral na identidade visual de qualquer tipo de publicação; elas podem alterar dramaticamente seu apelo estético, se usadas como um elemento subsidiário do texto principal, ou então, como força motriz por trás de todo o projeto” (Bhaskaran, 2006, p. 74) . Diferente de outros tipos de projetos de design gráfico, as imagens presentes nas revistas possuem diferentes funções dentro da peça gráfica, pois mantêm estreita relação com o jornalismo, ou seja, com o conteúdo editorial apresentado. Na visão de Owen (1991), a fotografia é a coluna vertebral das revistas e seu papel primário é o jornalismo, pois deve colaborar com o texto dentro 60 Design em revista feminina de uma composição geral, além de servir como textura de fundo ou como um componente dinâmico da forma e ainda ser uma unidade de pontuação visual. Nesse sentido, Samara (2005) diz que a maior parte das publicações conta com imagens para complementar o conteúdo escrito e que também serve para esclarecer informações complexas – especialmente conceituais, abstratas ou informações de processos – de forma concisa e de rápida assimilação. Nas revistas e jornais impressos, encontramos uma miscelânea de diferentes tipos de imagem: retratos de celebridades, fotos de catástrofes ambientais, personalidades políticas, eventos esportivos, produtos em geral, comidas e bebidas, moda, dentre tantas outras. Para melhor compreensão dessas imagens, apresentamos a divisão proposta por Baeza (2003), que divide as fotos de imprensa em dois grupos: fotojornalismo e fotoilustração. As imagens fotojornalísticas referem-se a um tipo de imagem que se vinculam aos valores de informação, à atualidade e notícia, coletando fatos de relevância política/social/cultural. Seu traço marcante é o imediatismo informativo, onde a reportagem recebe um tratamento mais interpretativo, sequencial e narrativo. Já a fotoilustração cumpre os papéis de descrever, explicar, detalhar e aproximar o leitor do conteúdo escrito e, em grande parte, depende de um texto prévio que marca e origina a imagem. Para o autor, essas duas categorias de fotografia de imprensa englobam todos os usos vigentes da fotografia nos jornais e revistas. No caso das revistas femininas, a imagens são, em sua grande maioria, as do tipo fotoilustração. No que diz respeito aos aspectos sintáticos da imagem, a semioticista Santaella propõe a existência de três paradigmas: “o paradigma pré-fotográfico, o fotográfico e o pós-fotográfico”. O primeiro, diz respeito a todas as imagens produzidas artesanalmente, ou seja, feitas à mão, no qual depende “fundamentalmente da habilidade do indivíduo para plasmar o visível”. O segundo, compreende todas as imagens elaboradas “por conexão dinâmica e captação física de fragmentos do mundo visível, isto é, imagens que dependem de uma máquina de registro, implicando necessariamente a presença de objetos reais preexistentes” (Santaella, 1999, p. 157). Diante dos conceitos apresentados vemos que a maioria das revistas femininas faz uso das imagens fotográficas e, em menor escala, das ilustrações manuais e infográficos. Owen (1991) esclarece que o infográfico é um recurso visual que torna mais inteligível as informações mais complexas ou proporciona uma compressão qualitativa ou quantitativa sobre um determinado assunto. Como as revistas femininas, raramente, trazem assuntos de grande complexidade, este recurso é pouco utilizado. Na visão de Owen (1991), a supremacia da fotografia nas revistas reside, principalmente, por suas propriedades de reprodução mecânica que facilitam a rapidez da produção, ajuste e homogeneidade dos elementos que compõem a página. Mas seu caráter objetivo e documental tem uma realidade material que a ilustração manual jamais poderá competir. A predominância fotográfica Design em revista feminina 61 que acontece na grande maioria das revistas ocorre porque o homem sente a necessidade de visualizar as informações por meio das imagens. Dondis diz que a tendência à informação visual no comportamento humano deve-se ao fato de que “ver é uma experiência direta, e a utilização de dados visuais para transmitir informações representa a máxima aproximação que podemos obter com relação a verdadeira natureza da realidade” (Dondis, 1997, p. 7). Portanto, vemos que a fotografia é um frequentemente relacionada com o mundo real ou aquilo que se pressupõe que seja realidade. Sobre este aspecto Silva aponta que: A natureza tecnológica da fotografia ajuda perceber a imagem como um registro, capturado por câmera e realizado mecanicamente, deixando a sensação de conexão com uma determinada situação, de um certo espaço e tempo. Por isso, a fotografia costuma ser associada com o mundo real ou aquilo que definimos como realidade. No entanto, a tecnologia fotográfica vem desde o seu início sendo usada também para a produção de imagens representando um mundo imaginário, fictício e poético. (Silva, 2006, p. 1). Embora concordamos que ver tenha a capacidade de representar uma experiência direta, Barthes (1980) também aponta uma visão arbitrária sobre a fotografia, associada como uma retratação da realidade. “A foto, ao contrário da pintura, remete não somente a um objeto “possivelmente real”, mas também a um objeto “necessariamente real”, e não se pode negar que “o objeto exista”. (Barthes, 1980 apud Santaella, 1999, p. 110). Ou seja, a imagem fotográfica “não é realidade, mas, pelo menos, sua perfeita analogia e, é exatamente esta perfeição análoga que geralmente define a fotografia” (Barthes, 1961 apud Santaella, 1999). Além disso, é possível com a ajuda de encenações, truques óticos e de computação produzir uma imagem de algo que não existe. Hoje, não só os fotógrafos mas também os designers modificam, consideravelmente, a realidade retratada nas imagens, como abordaremos a seguir. Manipulação / tratamento de imagens O sistema digital democratizou e facilitou o acesso à experimentação e manipulação da fotografia. Com isso, o designer passou a ter mais acesso, autonomia e controle sobre a imagem, antes restrita apenas ao fotógrafo. Bhaskaran (2006) conta que as imagens podem ser manipuladas para melhorar sua aparência e, hoje, quase toda imagem que vemos, seja em livros, revistas ou jornais, foram digitalmente aprimoradas ou manipuladas de alguma maneira. Atualmente, algumas empresas exigem do designer o conhecimento das técnicas de tratamento de imagens, a fim de contribuir favoralmente com a peça gráfica ou, então, para reduzir custos, pois sem este conhecimento é necessário o envio das imagens para um bureau especializado em tratamento de fotos. Outro aspecto sobre o tratamento de imagens é a importância que ele ganhou na dinâmica 62 Design em revista feminina atual da fotografia. As questões que antes o fotógrafo tinha de resolver no momento da foto (acertando a luz ou a produção), hoje ele transfere a responsabilidade para o Photoshop. Silva (2005) conta que a solução de alguns problemas é transferida do momento de captação do registro fotográfico (em estúdio ou locação) para o processo de tratamento da imagem em programas de computador. O fácil acesso amplia o tempo reservado ao design da imagem, podendo ser capaz de liberar a imaginação criativa e acentuar a importância da proposta a ser comunicada visualmente. “Assim, a mensagem e o design da foto assumem progressivamente um papel principal no processo de construção da imagem” (Silva, 2005, p. 11) . Outro aspecto trazido por Owen (1991) é de que o designer não tem nenhuma obrigação de preservar a imagem intacta, e a relação entre designer e fotógrafo pode ser ambígua e, em algumas ocasiões, contraditórias, semelhante a relação entre editor e autor. Com a fotografia, assim como a palavra escrita, o designer interpreta e altera, em um grau considerável, a imagem original. Na prática do design editorial, esta intervenção traz – de fato – situações delicadas no dia a dia entre designer e o fotógrafo, que nem sempre compartilham das mesmas opiniões. Muitas vezes, o fotógrafo enxerga sua imagem perfeita, enquanto que na visão do designer ela pode ser aperfeiçoada. O processo de impressão de grandes tiragens em máquinas rotativas, por exemplo, requer alguns ajustes nas imagens, para que o resultado seja o melhor possível, devido à alta velocidade de impressão, pois é um processo que tende a perder detalhes. Os fotógrafos – na grande maioria – não possuem estas informações que variam de acordo com a conduta da gráfica escolhida, o papel, tipo de impressão, processo de cor, porcentagem de ganho de ponto, etc. Acontecem exigências por parte dos fotógrafos para que se publique as imagens sem nenhuma alteração, entretanto, isto não é possível, pois as imagens necessitam de ajustes para que se enquadrem dentro destas especificidades. Na visão de Bhaskaran (2006, p. 76), “embora fotógrafos tenham a habilidade de comunicar a mensagem com absoluta clareza e sem ser alterada, hoje, no mundo digital isto é uma raridade”. Embora esses conflitos existam, compartilhamos da visão de Owen (1991) que diz que o design da página se inicia no processo da encomenda (briefing) e também na lente do fotógrafo, fase do trabalho que mais comporta a promoção e a liberação das capacidades dos profissionais (designer e fotógrafo). Para o autor, para se obter êxito, é preciso que o designer estabeleça instruções precisas e aceite a contribuição criativa do fotógrafo, relação onde cada um deve entender e alimentar o papel e talento do outro. Especificamente sobre o tratamento de imagens nas revistas femininas, muitas imagens recebem muitos retoques, principalmente nas fotos de mulheres, onde determinadas imperfeições são apagadas (rugas, olheiras, manchas na pele, pintas, sardas, gorduras proeminentes, etc), muitas vezes são modificadas as feições da mulher, conferindo-lhe um visual extremamente artificial. Design em revista feminina 63 Com a manipulação e publicação de imagens de mulheres perfeitas, prega-se um ideal de beleza que na realidade não existe. Sobre este aspecto, Buitoni (2007) explica que a fotografia como espelho da realidade ainda preserva um fundo de justificativa para o senso comum, mesmo com as inúmeras intervenções sofridas pelo processo, do registro até chegar à página impressa ou em telas na web. “Mesmo a própria vivência dos usuários de câmeras digitais, que sabem das manipulações – e as realizam – não é suficiente para que se desconfie da veracidade da foto jornalística ou não-jornalística” (Buitoni, 2007, p. 106). E neste ponto está a diferença entre uma fotografia presente em um veículo de comunicação impresso (jornal ou a revista) e outros tipos de imagens, como a publicitária, por exemplo. As pessoas tendem a acreditar que são verdadeiras não só as imagens, mas também as informações publicadas. Os leitores acreditam serem reais os corpos perfeitos de atrizes ou modelos, mas são, na verdade, simulacros, reais apenas no papel. O profissional da área editorial, Antonio relata o mecanismo desse processo: A evolução técnica na reprodução fotográfica atinge nos anos 90 um refino impensável. Seu reflexo é imediato na publicidade, nas embalagens de produto, nas revistas. Truques de maquiagem, iluminação e produção sempre existiram, mas o tratamento das imagens digitalmente muda completamente os padrões visuais. A imagem que se obtém impressa é incomparável ao original. Constróise digitalmente um corpo perfeito. É a era do software Photoshop. A imagem admirada, o corpo a ser alcançado, a barriga inigualável, já não se sabe se é real ou não. Mas quem se importa com isso? A preocupação com o corpo, beleza e estética foi crescendo ao longo do século XX, tanto em homens, mas, principalmente, nas mulheres. Reflexo de uma supervalorização da aparência que tomou conta de tudo e todos nos últimos tempos, gerando uma busca frenética pelas formas ideais. Ou pelas imagens ideais (Antonio, 2009, p. 29). Portanto, encontramos nas revistas femininas, mais que em qualquer outra, o uso exagerado do tratamento de imagem, bem como de truques para aperfeiçoar as imagens ou mesmo construir padrões visuais de beleza que se pretende estabelecer. Com isso, o leitor tem acesso a uma realidade contruída pelo editor e não questiona sua veracidade. Construção do significado A imagem é um elemento de grande relevância para a página, pois muitas vezes é através dela que será contruído o significado, ou seja, será transmitida com eficácia a mensagem para o leitor. Uma das formas para que isso aconteça é a criação de um diálogo coerente entre texto e visual. Em revistas impressas, onde se faz uso da fotoilustração, vemos que quase sempre a imagem aparece juntamente com um texto. Nestes casos, observamos que a relação entre texto e imagem é de dependência e coexistência, uma vez que, juntas dependem para a construção do significado e 64 Design em revista feminina de uma comunicação eficaz, como mostra a figura 15. No editorial da revista Claudia, a imagem de uma pá com notas de dinheiro estabelece uma relação com o titulo Operação tapa-buraco e, juntos, resultam na compreensão da mensagem. Com a presença dos dois elementos conectados, o leitor percebe que trata-se de uma reportagem sobre recuperação financeira. Para exemplificarmos melhor como se estabelece a relação texto-imagem, fig. 15 selecionamos a mesma reportagem e alteramos o título para Acabe com suas dívidas (fig. 16). Nesta composição visual, percebemos que a ligação entre foto e texto foi quebrada, uma vez que a palavra dívidas não faz uma relação direta com a imagem da pá. Já a palavra buraco é diretamente associada à imagem da pá. Como o título da reporEditorial sobre finanças, revista Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009. tagem Acabe com suas dívidas é bem direto, a compreensão sobre o que se fig. 16 trata a reportagem não foi comprometida, mas não estabeleceu uma relação direta com a imagem. Sobre esse aspecto, Moles (1987) diz que há dois tipos de imagens: a imagem pura e a comentada. Para o autor, as imagens comentadas são “(...) aquelas cujo sentido constrói tão somente por intermédio de uma palavra Intervenção em editorial da revista Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009. ou um texto escrito, muitas vezes sumário, mas onde o binômio imagem + seu comentário é indissociável” (Moles, 1987, p. 20) . Na figura 15, a imagem pictórica complementa a linguagem verbal e vice-versa. O título original dessa matéria não funciona como uma mera legenda, no sentido de identificar o que a imagem está mostrando, mas sim ampliar o significado desta. Nesse sentido, Barthes denomina essas informações verbais de “mensagens linguísticas” e ressalta o uso desse tipo de construção nos meios de comunicação de massa: Hoje, ao nível de comunicações de massa, quer-nos parecer que a mensagem Design em revista feminina 65 lingüística está presente em todas as imagens: como titulo, como legenda, como matéria jornalística, como legendas de filme, como fumetto; como se vê, questiona-se hoje o que chama a civilização da imagem: somos ainda, e mais do que nunca, uma civilização da escrita, porque a escrita e a palavra são termos carregados de estrutura informacional (Barthes, 1982, p. 32). Portanto, entendemos que a mensagem linguística proposta por Barthes (1982) pode não ser comunicada de forma eficaz, caso as palavras ou imagens selecionadas não sejam devidamente relacionadas entre si, como observamos na figura 15. Outro aspecto relevante é que, para a compreensão da mensagem visual, é preciso que essa imagem faça parte do repertório do leitor. Na visão de Coelho Netto, o repertório é parte determinante no processo de compreensão de comunicação, na qual a intercessão dos repertórios do emissor e do receptor permite que o processo comunicacional funcione. Para o autor, (...) para que a mensagem seja significativa para o receptor (...) é necessário que os repertórios (...) tenham algum setor em comum. Se os dois repertórios forem exteriores totalmente um ao outro, a informação não é transmitida ao receptor. Por outro lado de ambos os repertórios forem absolutamente idênticos, (...) em nada alterará seu comportamento, pois é coisa que ele conhece... Casos de repertórios tangentes podem configurar uma situação em que o receptor verá a mensagem como algo intrigante, portanto como algo a desvendar (Coelho Netto, 2003, p. 124). O autor Coelho Neto (2003, p. 123) esclarece repertório como uma “espécie de vocabulário, de estoque de signos conhecidos e utilizados por um individuo”. Outra possibilidade existente de configuração da página, oposta à apresentada anteriormente, são as composições visuais polissêmicas, ou seja, as que permitem ao leitor a construção de diferentes significados. Samara (2005) afirma que a apresentação de imagens vão de um espectro, onde o ponto de partida é a representação, indo até a abstração. As imagens que ficam mais próximas da extremidade de representação são consideradas mais literais, enquanto aquelas que se aproximam do abstrato são mais interpretativas (fig. 17). As imagens literais têm o sentido restrito, já as imagens abstratas são passíveis de diferentes interpretações. Nesse sentido, para Moles (1987), na imagem pura, há uma abertura maior para gerar interpretações ou até dúvidas, mais do que as imagens comentadas, onde a relação está fig. 17 literal abs t r a t o Espectro de apresentação de imagens. Partem do literal e vão até o abstrato. Fonte: PDW - Publication Design Workbook (Samara, 2005). 66 Design em revista feminina fig. 18 mais “amarrada”. Na visão de Nojima (2002), a interpretação dependerá do contexto em que se encontra, do seu interpretante e do período em que foi publicada. Consideramos ainda que, o repertório do leitor também interfere na maneira como essa mensagem visual é entendida. Podemos observar um exemplo de compoEditorial sobre o poder das mulheres, Claudia, ano 48, no 6, janeiro de 2008 sição visual polissêmica em editorial de Claudia sobre poder feminino. Na figura 18, a imagem de uma mulher olhando para o mar com o título Eu quero ser poderosa pode gerar diferentes interpretações. Em um primeiro momento, a foto pode remeter àquele poder da mente capaz de levantar objetos com a força do pensamento, como aparecem nos filmes de ficção científica. Para um outro leitor, a palavra poderosa pode remeter ao poder do mar, devido a sua imensidão e mistério. Este tipo de composição visual vai ao encontro do pensamento de Barthes que diz que (...) toda imagem é polissêmica e pressupõe, subjacente a seus significantes, uma cadeia flutuante de significados, podendo o leitor escolher alguns e ignorar outros. A polissemia leva a uma interrogação sobre o sentido (Barthes, 1984, p. 32). Outra forma de construção polissêmica presente nas revistas são as composições com ilustrações. Na visão de Zappaterra (2007), editores de arte usam a ilustração quando a história demanda uma interpretação conceitual ou indireta, ou então, quando não há boas imagens fotográficas para serem usadas ou, simplesmente, para criar um inusitado e variado diálogo entre texto e imagem. A autora ainda diz que a ilustração pode expressar um conceito ou sentimento mais do que a fotografia pode, porque os leitores frequentemente não podem vincular uma narrativa à fotografia se ela é figurativa. Já para Owen (1991), a ilustração é mais individualizada e subjetiva, pois baseia-se na experiência e interpretação pessoal do leitor, sua mensagem é, habitualmente, fig. 19 indireta e retórica. Vemos na figura 19, em reportagem sobre perfil financeiro da revista Claudia, um exemplo de composição visual polissêmica, onde foi empregada uma ilustração. Esta composição pode gerar diferentes significados para o leitor, e o interpretante pode remeter ao jargão do mercado financeiro “investidor agressivo” e associar à imagema esse tipo de perfil: aquele que mer- Editorial sobre finanças, Claudia, ano 47, no 11, novembro de 2008 gulha de cabeça nos investimentos para ganhar Design em revista feminina 67 muito dinheiro. Ou então, pode remeter ao personagem do desenho em quadrinhos Tio Patinhas que, na abertura da versão televisiva do desenho, mergulhava em seu cofre cheio de moedas, semelhante à ilustração publicada em Claudia. 2.2.2.5 Ritmo e sequenciamento Outro aspecto muito importante a ser levado em consideração no projeto de uma revista é o ritmo e sequenciamento da publicação. Samara (2005) aponta o termo pacing (que em inglês significa marcha, passada ou a maneira de andar) para designar o fluxo de uma publicação. Para o autor, o “andamento” de uma publicação é um tipo de ritmo visual, cadência ou timing que o leitor percebe página a página, quase como um filme. Variando o ritmo de devagar para rápido, de tranquilo para dinâmico, por exemplo, pode-se concretizar diversos objetivos, pois a cada virada de página, engaja o leitor de um modo diferente por conta da variação da apresentação visual. Um dos primeiros a ser preocupar com a cadência visual de uma publicação foi o diretor de arte Alexey Brodovitch que esteve à frente direção da revista Harper’s Bazaar durante 25 anos. Moser (2007) aponta que Brodovitch comparava seus leiautes como uma sequência de um filme e utilizava o termo “fluxo” para descrever a narrativa e qualidades rítmicas de suas peças de design gráfico. Para Grundberg (1989), nenhum fig. 20 outro diretor de publicação compreendeu tão profundamente o vínculo entre diagramação e a experiência temporal. O autor relata que na revista Harper’s Bazzar, a utilização do filme como modelo para toda a aparência gráfica da revista se estendia pelo conteúdo editorial inteiro da revista. Com a colaboração da editora-chefe Carmel Snow, Brodovitch colocava cada página em sequência central para garantir o máximo de progressão visual possível. Enquanto equilibrava suas páginas experimentais com páginas duplas relativamente convencionais, tornava visualmente irresistível o ato de ler um número da revista. Na figura 20, podemos ver que Brodovitch colocava todos os leiautes das páginas no chão para assim poder visualizar melhor o Alexey Brodovitch em 1959, analisando o sequenciamento do livro Observations. Foto de Richard Avedon. ritmo visual da publicação. Nos dias atuais para configurar o ritmo e o sequenciamento de uma edição é feito o espelho. Ali (2009) esclarece que o espelho é a distribuição do conteúdo editorial (reportagens, seções e colunas) e anúncios ao longo das páginas da revista; “um mapa simplificado que indica o que vai, onde, em que ordem, relevância e o espaço ocupado (Ali, 2009, p. 108). 68 Design em revista feminina O espelho também determina o ritmo da edição. Com o configuração do posicionamento das matérias é possível, por exemplo, contrastar matérias rápidas (baseadas em imagens) com matérias lentas (baseadas em texto) para tornar a edição dinâmica e interessante. Ali (2009) diz que o impacto das reportagens é variável, seja pelo seu conteúdo ou visual. Uma poderá ser mais impactante, outra menos, mas é o espelho que determina este fluxo. O espelho também determina onde irão os anúncios. Geralmente, os anunciantes preferem posicionar seus anúncios na página ímpar (à direita), porque o leitor ao folhear as páginas tende a vê-las primeiro. Em razão disso, muitas páginas de conteúdo editorial, especialmente as seções e colunas, são posicionadas nas páginas pares (à esquerda). Como alguns anúncios são vendidos em páginas determinadas ou ao lado de seções ou matérias específicas, o espelho também contribui para atender as essas exigências comerciais. Embora existam inúmeras maneiras de se configurar um espelho, Ali (2009) propõe três diferentes possibilidades: fig. 21 Espelho do tipo Miolo nobre. Fonte: A arte de editar revistas (Ali, 2009) Design em revista feminina 69 • Miolo nobre (fig. 21): nesta opção, pretende-se manter em torno do centro da revista as matérias maiores, que requerem mais atenção do leitor ou têm maior impacto visual. Inicia-se com as seções e matérias mais curtas e/ou leves e continua num ritmo crescente com matérias cada vez mais longas e de maior importância. Então, abre-se o “miolo nobre” com uma matéria forte e que represente a personalidade da revista. A partir daí, seguem as mais importantes matérias, sem interrupção de anúncios. No espelho do tipo miolo nobre, os anúncios são aplicados no início e no fim das matérias ou espelhados com seções e matérias menores. Na visão de Ali (2009), a van- fig. 22 tagem do miolo nobre está na valorização das matérias mais relevantes, uma diferenciação mais clara entre editorial e publicidade; • Zigue-zague (fig. 22): neste esquema o conteúdo é organizado em pequenos blocos de seções e matérias sem interrupção. Os anúncios são posicionados nos intervalos entre um bloco e outro. Esse modelo preserva a integridade do conteúdo editorial, pois não há a interrupção de anúncios e permite que as páginas de anúncios sejam aplicadas no meio da revista, Espelho do tipo Zigue-zague. Fonte: A arte de editar revistas (Ali, 2009). fig. 23 como preferem os anunciantes; • Sobe e desce (fig. 23): neste tipo de espelho todo o conteúdo editorial é distribuído ao longo de toda a edição com uma ondulação suave, ou seja, uma reportagem forte é seguida por outra matéria ou seção menos impactante. Os anúncios são posicionados entre as matérias, ao lado das seções, na abertura das matérias. Ali (2009) diz que esse esquema encoraja gentilmente o leitor a continuar lendo, entretanto, pode confundi-lo. Espelho do tipo Sobe e desce. Fonte: A arte de editar revistas (Ali, 2009). 70 Design em revista feminina Design em revista feminina 71 dia Claudia 72 Design em revista feminina fig. 24 fig. 25 Capa Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009 Suplemento de culinária Comida & Bebida, Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009 Design em revista feminina 73 3.1 Claudia nos dias atuais A fim de compreendermos o design de revistas femininas na contemporaneidade, voltamos nosso olhar para a revista Claudia (fig. 24 e 25), uma publicação da editora Abril com 48 anos de existência. Nosso estudo se concentra na análise de 21 exemplares (janeiro de 2008 a setembro de 2009). Inicialmente, nossa proposta era estudar todas as edições dos anos de 2008 e 2009 (24 exemplares) para estabelecermos uma comparação mais precisa de como a revista se comporta de um ano para o outro e, verificar as edições que trazem pautas relacionadas a datas comemorativas ou períodos específicos (dia das mães, dia dos namorados, natal, réveillon, férias escolares, páscoa, etc). Contudo, isso não foi possível, pois Claudia alterou seu projeto gráfico na edição de outubro de 2009, estabelecendo a partir de então novas configurações visuais para suas seções, colunas e reportagens. E incluir apenas três edições, implicaria em uma análise distinta e incipiente desse novo projeto gráfico, haja vista que o projeto não poderia ser estudado em sua totalidade, uma vez que, apenas três edições com esses novos critérios foram publicados. De qualquer forma, as 21 edições analisadas foram suficientes para compreender como se estabeleceu o design gráfico de Claudia bem como observar as questões editoriais propostas durante esse período. A revista foi eleita por quatro motivos relevantes: - Pelo tempo de existência no mercado (3a revista feminina mais antiga do Brasil); - Porque é a segunda revista (mensal) de maior circulação do país. De acordo com dados do IVC, no ano de 2008, Claudia teve tiragem média anual de 498.815 exemplares e venda média anual de 411.620 exemplares. O site da editora divulga número semelhante: 411.610 e deste número, 74% correspondem a assinaturas; - Atende um público de faixa etária e classe social heterogênea: 11% de 10 a 19 anos, 20% de 20 a 24 anos, 24% de 25 a 39 anos, 20% de 40 a 49 anos e 24% os leitores com mais de 50 anos (fig. 26). A classe social também é diversificada: 21% A, 45% B e 30% C (fig. 27); fig. 26 Faixa etária dos leitores de Claudia 24% 11% 20% 20% fig. 27 Classe social dos leitores de Claudia 24% 10 a 19 anos 20 a 24 anos de 25 a 39 anos 10 a 19 anos de 40 a 49 anos 20 a 24 anos mais de 50 anos de 25 a 39 anos de 40 a 49 anos mais de 50 anos 30% 21% 45% Classe A Classe B Classe C Classe A Classe B Classe C Fonte: IVC. Dado extraído do site da ANER - Associação Nacional dos Editores de Revistas (http://www.aner.org.br). Acesso em 26/09/2009. Informações extraídas do site do IVC (www.ivc.org.br). Dados fornecidos à empresas filiadas do IVC. Acesso em 15/04/2009. Dados de circulação, fonte: IVC (http://publicidade.abril.com.br/homes.php?MARCA=13). Acesso em 24/09/09). Comparando todas as revistas femininas da editora Abril, Claudia é a revista com público mais heterogêneo. Fonte: XLVI Estudos Marplan Consolidado (http://publicidade.abril.com.br/geral_perfil_leitor.php). Acesso em 26/09/2009. Dados de perfil do leitor, fonte: Estudos Marplan (http://publicidade.abril.com.br/homes.php?MARCA=13). Acesso em 24/09/09. 74 Design em revista feminina - é a revista que mantém sua proposta editorial muito semelhante da criada na década de 1960 até os dias atuais. De acordo com o site da editora Abril, os leitores de Claudia correspondem a 12% de homens contra 88% de mulheres. O site ainda publica que Claudia possui um total de leitores de 2.041.000, isto porque considera que cada exemplar seja repassado para 4,95 pessoas. A revista é distribuída para todo Brasil: 3,15% para a região norte, 12,12% para a região nordeste, 8,23% para a região centrooeste, 56,38% para a região sudeste e 20,12% para a região Sul. Portanto, por estas razões, entendemos que Claudia é a revista que melhor representa o universo de revistas femininas na atualidade. Durante sua trajetória, Claudia criou revistas segmentadas, os chamados “filhotes”: A Casa de Claudia (fig. 30) em 1977, hoje nomeada apenas de Casa Claudia (fig. 31), Claudia Moda (fig. 32) que permaneceu de 1982 a 1992, Claudia Cozinha (fig. 33) lançada em 2000 e Claudia Bebê (fig. 35) em 2003, inicialmente, Claudia Nossos Filhos (fig. 34). De todas essas publicações, apefig. 28 fig. 29 nas Casa Claudia se firmou no mercado como uma publicação independente. Claudia Cozinha deixou de existir em 2006 quando o suplemento de culinária foi incorporado novamente à revista. Claudia Bebê é publicado anualmente em caráter de edição especial, assim como Claudia Natal (fig. 28) . Ao longo de sua história, Claudia usou – e ainda usa – sua Claudia Natal, 2008 O Grande Livro de Receitas de Claudia fig. 30 A Casa de Claudia, capa extraída da edição de dezembro de 1979 (ano 8, no 12) marca na publicação de livros de culinária. O fig. 31 Casa Claudia, maio de 2008 Fonte: Projeção Brasil de Leitores com base nos Estudos Marplan (http://publicidade.abril.com.br/homes.php?MARCA=13). Acesso em 24/09/09). Design em revista feminina Grande Livro de Receitas de Claudia (fig. 29), em sua fig. 32 75 fig. 33 segunda edição, encontra-se nas livrarias. Acreditamos que Claudia Moda tenha fechado porque o segmento de revistas femininas de moda cresceu vertiginosamente, conseguentemente, a concorrência tornou-se acirrada. A editora Abril, por exemplo, lança novos títulos e aposta em marcas internacionalmente conhecidas como Elle, Estilo (In Style). Já o suplemento Claudia Moda, no 48, 1990 Claudia Cozinha, março de 2006 de culinária, deduzimos que ele passou a ser novamente incorporado à revista, porque esta editoria ficou muito fig. 34 “pobre” com apenas uma matéria sobre o tema. A revista Casa Claudia por pertencer à um universo distinto – o mercado de decoração –, acreditamos que sua longa permanência deve-se ao grande potencial mercadológico do setor (várias empresas possíveis anunciantes) e também pelo pioneirismo da publicação na abordagem do tema. Já as edições especiais Claudia F igura 4: A Casa de Claudia, fonte: ano 1 ed. 00 Bebê e Claudia Natal, possivelmente, permanecem até hoje, pois existe a demanda por assuntos e interesses específicos relacionados à proposta editorial de Claudia. O mesmo ocorre com os livros de culinária. Em um mercado editorial tão competitivo, onde Claudia Nossos Filhos, imagem extraída da edição de agosto de 1979 (ano 18, no 8) fig. 35 revistas abrem e fecham a todo momento, é difícil encontrar publicações que consigam se manter por tanto tempo como acontece com Claudia. As revistas Capricho de 1952 e Manequim de 1959 são dois exemplos de publicações femininas que estão nas bancas até hoje. Capricho que trazia inicialmente fotonovelas, foi um sucesso de vendas nos anos de 1950: “chegou a vender 500 mil exemplares por quinzena” (Scalzo, 2004, p. 24). Manequim que antes tinha foco nos moldes de roupa, hoje, posiciona-se como uma revista de moda. Outro exemplo de longevidade é a revista Harper’s Bazaar, publicada ininterruptamente desde 1867, é a revista de moda mais antiga dos Estados Unidos com 143 anos. Claudia Bebê, edição 505F, 2004 76 Design em revista feminina fig. 36 Sumário, Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008 Design em revista feminina 77 3.2 A fórmula editorial de Claudia O projeto editorial de Claudia apresentado nas 21 edições analisadas, dos anos de 2008 e 2009, não diferiu substancialmente do implantado no início da publicação em 1961, apenas os contos deixaram de ser publicados, entretanto passou a publicar matérias da vida real, contando histórias de pessoas. O conteúdo oferecido permaneceu semelhante, contudo com as transformações culturais e comportamentais da mulher e da sociedade, e hoje, alguns assuntos recebem mais ênfase do que outros. A inclusão da mulher no mercado de trabalho e o conceito pregado de independência feminina foram alguns dos fatores que contribuiram para mudanças de alguns valores da mulher e, consequentemente, são temas presentes na revista. No período analisado, Claudia trouxe reportagens e/ou seções de moda, beleza, saúde, comportamento, sexo, relacionamento amoroso, família, decoração, horóscopo, astrologia, espiritualidade, atualidades, gente, educação e, sazonalmente, matérias de turismo. A quantidade de reportagens foi em média 16 por edição e as seções, cerca de 23. Ocasionalmente, uma ou outra seção não foi publicada. Com base na segunda página do sumário (fig. 36) pudemos perceber que Claudia estruturou seu conteúdo em cinco principais editoriais: Atualidades e gente, Moda, Casa e consumo, Família e filhos, Beleza e saúde. Dentro de cada uma dessas editorias, ficaram as seções e reportagens pertinentes a estes temas. Ocasionalmente, as editorias Amor e sexo ou Emoção e espiritualidade foram inseridas para abrigar as matérias de relacionamento, comportamento, astrologia e espiritualidade. Na falta dessas editorias, essas matérias apareceram apenas na primeira página do sumário (caso tenha entrado com chamada de capa). Na primeira página do sumário, concentraram-se apenas as matérias que apareceram nas chamadas de capa. O item Sempre em Claudia, presente no sumário, serviu para abrigar as seções mais gerais (endereços, carta da editora, carta dos leitores, etc) e também aquelas que não se encaixaram nas outras editorias como a de livros, animais domésticos, turismo, etc. As matérias de turismo, que surgiram apenas próximo ao período de férias, ficam sem um lugar específico no sumário e acabaram sendo inseridas em Atualidades e gente. Mensalmente, anexado junto à revista veio o suplemento Claudia Comida & Bebida, que retornou à publicação em outubro de 2006. Sob coordenação da culinarista Bettina Orrico, além deste suplemento, Claudia possui desde 2003, uma cozinha experimental em um shopping na zona sul de São Paulo, onde disponibiliza aulas gratuitas de culinária. Antes da volta do suplemento, havia apenas uma única matéria no final da revista com quatro pratos e suas respectivas receitas. Buitoni diz que “Claudia é uma revista que procura adequar-se às exigências do mercado. Houve época de publicar reportagens mais polêmicas, temas mais intelectualizantes, mas seu grande filão, além de moda, é o mundo doméstico” (Buitoni, 1990, p. 50). No entanto, hoje, podemos observar que esta afirmação nos parece contraditória se compararmos com o conteúdo editorial atual. É possível que Claudia procure ajustar-se às exigências do mercado – entretanto, afirmar que seu grande filão 78 Design em revista feminina é o mundo doméstico, talvez não se aplique mais. Atualmente, a editoria de beleza recebe mais ênfase do que as outras, porque possui maior quantidade de reportagens, seções e destaque dentre as chamadas de capa, como veremos adiante. Moda também recebe atenção, mas apesar de ser uma editoria com diversas seções, na maioria das vezes, apenas um único editorial é publicado. Nas edições analisadas, as editoriais relacionadas à casa, há apenas uma matéria de decoração e o suplemento de culinária Claudia Comida & Bebida. Se considerarmos a educação dos filhos como um dos temas domésticos, são apenas três as seções e uma eventual reportagem sobre o assunto. Como mencionamos anteriormente, hoje o público de Claudia atinge todas as faixas etárias e nem todas se interessam por temas ligados ao lar, principalmente as leitoras da revista entre 10 e 24 anos, que correspondem a 31%. Moda e beleza são temas que tendem a agradar todas as idades e, hoje, são as duas principais editorias. É válido acrescentar que Claudia é a única revista feminina de interesse geral (não-segmentada) que aborda o tema casa e família. Claudia por sua variedade de assuntos tende sistematicamente ao ecleticismo. O filósofo, antropólogo e sociólogo Morin (1997, p. 35) diz que esta estratégia “visa satisfazer todos os interesses e gostos de modo a obter o máximo de consumo”, isto é, uma boa vendagem de exemplares. Esta variedade sistematizada é denominada pelo autor de homogeneização e tem como objetivo tornar assimiláveis a um homem médio ideal (no caso de Claudia, uma mulher) os mais diferentes conteúdos. Sincretismo é a palavra mais apta para traduzir a tendência de homogeneizar sob um denominador comum a diversidade de conteúdos. A grande imprensa e a revista ilustrada tendem ao sincretismo se esforçando por satisfazer toda a gama de interesses, mas por meio de uma retórica permanente (Morin, 1997, p. 36). Como vimos no item 3.1, Claudia atinge diversas faixas etárias e classes sociais e nos indica que regula seu conteúdo pela média, trazendo assuntos que possam agradar a maioria dos gostos e interesses. As recorrentes reportagens destinadas a todas as faixas etárias, presentes em 4 das 21 edições analisadas – como pudemos ver nas chamadas de capa (fig. 37 a 40) – denotaram a tentativa de homogeneização do conteúdo, a fim de atingir leitoras de todas as faixas etárias. As matérias deste tipo fig. 37 Capa Claudia, ano 47, no 8, agosto de 2008. fig. 38 Capa Claudia, ano 47, no 10, outubro de 2008. fig. 39 Capa Claudia, ano 48, no 3, março de 2009. fig. 40 Capa Claudia, ano 48, no 8, agosto de 2009. Design em revista feminina 79 alternam entre as duas principais editorias: moda e beleza, como mostram as chamadas de capa: - Moda aos 20, 30,40, 50... (outubro/2008); - A seleção de Claudia nas passarelas da moda para mulheres de 20, 30, 40, 50, 60... (agosto/2009); - Guia de nutrição para os 20, 30, 40, 50+... (março/2009); - Mais energia aos 20, 30, 40, 50 (agosto/2008); - Cabelo, maquiagem e moda aos 20, 30, 40, 50, 60+ (outubro de 2009). Esta estratégia de colocar as diferentes idades na capa foi introduzida pela revista americana Glamour (fig. 41 a 43) e tem sido frequentemente adotada por diversas revistas aqui no Brasil. A homogeneização do mercado editorial é explicado por Morin: A indústria cultural se desenvolve no plano do mercado mundial. Daí a formidável tendência ao sincretismo-ecletismo e à homogeneização, seu fluxo imaginário, lúdico, estético, atenta contra as barreiras locais, étnicas, sociais, nacionais, de idade, sexo, educação; ela separa dos folclores e das tradições temas que ela universaliza, ela inventa temas imediatamente universais (Morin, 1997, p. 44). fig. 41 Glamour, setembro de 2006. fig. 42 Glamour, setembro de 2007. fig. 43 Glamour, outubro de 2008. A revista Glamour não só coloca a chamada das faixas etárias, como estampa a capa com três mulheres de idades diferentes. Glamour não faz este tipo de capa com tanta frequência como Claudia. Acreditamos que pela constante repetição desta fórmula, a mesma tenha trazido para Claudia bons resultados de vendas em bancas. Outro aspecto relevante sobre revistas feminas é apontado por Buitoni (1990). A autora diz que muitos afirmam que imprensa feminina não é jornalismo pois, fundamentalmente, jornalismo é o fato e este tipo de publicação quase nunca está atrás do fato, entretanto, por causa da sua enorme penetração no mundo todo, vale mais analisar suas funções do que caracterizá-la como jornalística ou não. No sentido do registro do fato, a atualidade não está muito presente na imprensa feminina devido a seus conteúdos tradicionais: moda, beleza, culinária, decoração aceitam a ligação com o atual mas não são por ele determinadas. A moda tem 80 Design em revista feminina obrigação de ser atual, só em função das tendências de mercado, e sua atualidade é pré-fabricada. A pedra de toque da imprensa feminina é a novidade. A fim de parecer atual, usa-se o novo. O atual pressupõe uma relação de presença efetiva no mundo histórico. O atual pode ser descoberto ou estimulado, mas não pode ser criado. O atual precisa ter uma relação concreta com os acontecimentos, mesmo que apenas latente. Bem trabalhada, a novidade é capaz de revestir qualquer objeto. A ancoragem temporal desloca-se para uma relação mental: a revista (ou a indústria, a publicidade) inventa um modismo que logo é apresentado como o que existe de mais ‘atual’. ‘Atual’ aqui é apenas sinônimo de novo, mediador de novidade e não de momento situado no tempo (Buitoni, 1990, p. 11-14). Pudemos notar, confirmando o pensamento de Buitoni (1990), a presença de matérias com o cunho de “novo” em Claudia, principalmente nas chamadas de capa, onde a palavra “novidade” serve como chamariz para atrair leitores. Na edição de agosto de 2009, a segunda chamada de maior destaque foi: Supernovidades de beleza. Açúcar contra celulite, beliscões que esticam a pele, extrato orgânico para estrias... Tratamentos inovadores para o corpo e rosto. Em outra chamada e com título semelhante, aparece em março de 2009, Novidades em beleza!, seguido dos tópicos considerados “novos”. A presença da palavra “novo”, “novidade” ou com este sentido, predominam em diversas edições: Missão anti-idade. A redação testa os últimos lançamentos (junho/ 2009); Ovo emagrece, carne faz bem e chocolate pode ser devorado sem culpa... ótimas notícias sobre velhos vilões (abril/2008); As novas tendências em cabelo e maquiagem (maio/2008); 7 ideias absolutamente novas sobre o amor (junho/2008); As novas superfrutas (setembro/2008); Cabelo lindo. Novidades dos salões (outubro/2008); É o fim da celulite? Tudo o que você precisa saber sobre as máquinas que prometem derreter a casca de laranja (novembro/2008). Observamos também expressões como: Na última moda, As tendências dos desfiles e Peças da estação, nas chamadas dos editoriais de moda, também com a conotação de novo. Na compreensão de Morin (1997, p. 141-142), “uma perpétua busca do novo – novos cosméticos, novos penteados, novos toilettes – correspondem a uma dupla necessidade: a de reestimulação sedutora, a da afirmação individual (ser diferente dos outros). Outro aspecto que tange ao projeto editorial de uma publicação é a maneira como a revista aborda e trata seus temas. Com excessão de algumas reportagens de atualidades, pudemos observar que em muitas reportagens e seções o caráter foi de aconselhamento. A seção O que eu faço agora?, por exemplo, remonta a um gênero antigo chamado por Buitoni (2009) de correio sentimental. Desde o primeiro periódico feminino, o Lady’s Mercury, o consultório sentimental esteve presente. Nesta seção, consultores de diversas áreas dão conselhos às leitoras sobre seus problemas. Durante toda a sua trajetória, Claudia trouxe e ainda traz este tipo de conteúdo. Mas o aconselhamento não é apenas visto nesta seção, reportagens de comportamento, relacionamento, beleza, saúde, dieta e moda, constantemente indicaram maneiras de fazer, agir e usar. Buitoni (1990) afirma que “ainda que se negue, a imprensa feminina usa e abusa do aconselhamento e da receita. Das grandes receitas às pequenas, tudo traz ingredientes e modo de Design em revista feminina 81 fazer. Como se vestir, como preparar sopa de cebolas, como agarrar seu homem, como conseguir emprego, como ser boa mãe, tudo é receita” (Buitoni, 1990, p. 76). Por sua vez, Morin reflete sobre a dinâmica de aconselhamento na cultura de massas: a cultura de massa tende a constituir idealmente um gigantesco clube de amigos, uma grande família não-hierarquizada. Nessa oceânica e multiforme simpatia, o novo curso persegue seu ímpeto, além do imaginário, além da informação, propondo conselhos do saber-viver. Através dos conselhos de amor e da vida privada (correio amoroso), os conselhos de higiene (onde se misturam a preocupação estética e a preocupação de saúde, a vitamina e a juventude do corpo, as defesas contra o câncer e as defesas contra a velhice), se destaca sobretudo um tipo ideal de homem e de mulher, sempre são jovens, belos e sedutores. [...] Outros conselhos hedonistas e práticos se seguem: conselhos de mobiliários e de decoração, conselhos de vestuário e de moda, conselhos de cozinha, conselhos de leitura (baseados não na crítica literária, mas nos sucessos do best-seller e da publicidade), conselhos astrológicos, conselhos para cada um e para todos... (Morin, 1997, p. 103). Em análise das 21 edições de Claudia, notamos que o caráter de aconselhamento das matérias foi latente. E percebemos isso logo no primeiro texto da revista, a carta da diretora de redação Márcia Neder. O tratamento dado à leitora foi de proximidade, permitindo que ela mande um beijo no final do artigo. Com a diretora de redação anterior, Célia Pardi, o grau de intimidade era ainda mais acentuado. O posicionamento da publicação como um “guia de como resolver todas as coisa da vida” foi percebido mais claramente através das chamadas de capa: - 57 maneiras de dizer não em momentos difíceis [e um sim que merece ser dito] (novembro/2008); - Auto-estima intacta no vendaval da crise? Sim é possível. Veja como (abril/2009); - 52 gestos gentis para fazer a qualquer hora, com qualquer pessoa (janeiro/2009); - O guia das mulheres para investir na Bolsa [parta do zero, defenda-se sem medo das oscilações e garanta o futuro] (agosto/2008), dentre tantas outras. Outro aspecto da proposta editorial de Claudia – que será detalhado mais adiante – são as capas. Desde 2003, a revista traz mulheres famosas na imagem da capa, geralmente, figuras femininas conhecidas pelo público em geral pela profissão que exercem: modelos, atrizes, cantoras ou apresentadoras de TV. A associação da imagem da revista à de mulheres bem-sucedidas visa criar no imaginário coletivo, um paradigma de beleza, de atitude e de comportamento social a ser reproduzido. As mulheres que ilustraram as capa de Claudia apareceram “endeuzadas”, e a partir de fatos pessoais e subjetivos apresentados, pretende-se extrair uma “lição de vida” que pode ser generalizada e permitir a identificação das leitoras da publicação, além de instigar aspirações e necessidades. Portanto, vimos que o projeto editorial de Claudia, composto por uma grande diversidade de assuntos, foram abordados de forma “genérica” e homogeneizada a fim de atingir o maior número possível de leitoras. E, o tratamento jornalístico dado ao texto, em forma de aconselhamento, inseriu novidades “fabricadas” que servem de chamariz para atrair o consumidor, assim como a figura feminina presente na capa. Veremos a seguir mais detalhadamente o projeto editorial das reportagens, seções e capas. 82 Design em revista feminina fig. 44 Capa Claudia, ano 7, no 80, maio de 1968. Design em revista feminina 83 3.3 A história da revista Claudia A primeira grande publicação para mulheres brasileira foi a Revista Feminina e pode ser considerada como a precursora das revistas dedicadas à mulher. A revista que circulou por 22 anos (19141936) era propriedade da Empresa Feminina Brasileira que fabricava e comercializava produtos para mulheres. Buitoni (1990) conta que a Revista Feminina foi o maior exemplo da vinculação entre imprensa e publicidade devido a uma estrutura comercial eficaz que foi montada na época. “Era a primeira vez que uma indústria específica de produtos femininos influía tão decisivamente num veículo destinado às mulheres” (Buitoni, 1990, p. 44) . As opções de leituras femininas que circulavam na época eram A Cigarra, A Senhorita, A Vida Galante e a Revista Ilustrada. A revista O Cruzeiro, que apareceu em 1928, trazia notícias sobre a vida dos astros de Hollywood, cinema, esportes, saúde, política, culinária e moda, poderia ser também uma opção para a mulher. Até 1940 não aconteceram mudanças significativas na imprensa feminina, entretanto, nos anos de 1950, explode o fenômeno de fotonovelas no Brasil. Nesse período, a vinculação consumo/imprensa feminina progressivamente se intensifica em razão do crescimento das indústrias relacionadas à mulher e à casa, ao fortalecimento do mercado interno e ao crescimento da classe média (Buitoni, 1990). Nos anos de 1960, período de rupturas – políticas, sociais, artísticas, comportamentais – e quando a mulher estava inserida na sociedade de consumo, as revistas femininas traziam cada vez mais páginas de publicidade, a fim de atestar o potencial comprador de seu público (Buitoni, 2009). O designer Melo (2006, p. 104) relata que nos anos de 1960 ocorre uma explosão de novas revistas, dando início ao irreversível processo de segmentação de mercado. “A mulher e o comportamento são temas inadiáveis e passam a ser tratados por Claudia, Desfile, Ele Ela e Pais & Filhos”. Nesse cenário de crescimento, em 1961, surge Claudia que veio para “estimular e ser estimulada por todo o consumo emergente” (Buitoni, 1990, p. 49). Claudia era o nome que Victor e Sylvana Civita – fundadores da editora Abril – queriam dar a uma filha e aparece em meio a diversas publicações femininas com nomes genéricos. Na visão de Buitoni (1990), Claudia representa o espírito da década de 1960 em relação à mulher. “O alvo principal de uma revista que tem por trás o consumo emergente nas cidades só podia ser a mulher de classe média urbana (geralmente casada), que tem poder aquisitivo para comprar os bens anunciados em suas páginas” (Buitoni, 2009, p. 105). A proposta editorial de Claudia tinha como foco a mulher no território da sua casa. O vice-presidente da Editora Abril, Thomaz Souto Corrêa que foi ex-redator-chefe de Claudia e, mais tarde, diretor de redação, conta no site da editora Abril que a leitora-padrão que eles tinham em mente naquela época era a “dona Mariazinha de Botucatu, uma senhora interessada em casa, marido e filhos” . Trecho extraído do site: http://www.abril.com.br/institucional/50anos/femininas.html. Acesso em 01/08/2008. 84 Design em revista feminina O projeto editorial inicial de Claudia trazia cartas de aconselhamento, horóscopo, moda, beleza, decoração, culinária, boas maneiras, contos, crônicas, cuidados com animais domésticos, sugestões de livros, educação dos filhos e, eventualmente, encartes de moldes de roupas e alguma reportagem mais informativa. O primeiro diretor de redação de Claudia foi o jornalista Luis Carta, contratado em 1959 para cuidar da qualidade editorial das publicações da Abril. Luis ficou à frente da publicação por alguns anos e deixou a editora Abril em 1972 para fundar a editora Três com Domingo Alzugary e Fabrizio Fasano. O texto da Carta do Diretor na primeira edição de Claudia apresenta a proposta editorial da publicação: “auxiliar” suas leitoras em diversas áreas, principalmente em tarefas relacionadas ao lar: Seja bem-vinda, você tem em suas mãos o primeiro número de uma revista que pretende desempenhar um papel muito importante na sua vida futura! CLAUDIA foi criada para servi-la. Foi criada para ajudá-la a enfrentar realisticamente os problemas de todos os dias. CLAUDIA lhe apresentará mensalmente idéias para a decoração de seu lar, receitas para deliciar sua família, sugestões para mantê-la sempre elegante e atraente. Mas o importante é a forma como isto será feito. Antes de mais nada, CLAUDIA deverá ser útil para você. Deverá tornar-se sua amiga íntima. E estará sempre às suas ordens para lhe proporcionar tôdas as informações e novidades que você espera há tanto tempo, numa só revista, simpática, completa e moderna. Seja bem-vinda, pois, às páginas de CLAUDIA. Temos certeza de que ela será sua companheira fiel nos anos viradouros (Revista Claudia. Ano 1, número 1, outubro de 1961). A expressão “amiga íntima” representa uma relação de confiabilidade e cumplicidade que se pretende estabelecer com a leitora. O “estar sempre às suas ordens” também remete à amizade, pois a publicação promete estar ao lado da mulher em diversas situações do dia a dia. Nas primeiras Cartas do Editor da publicação, assinados por homens diretores de redação, os textos não traziam expressões que tratavam a leitora com intimidade. Isso só foi aparecer em 1979 quando Maria Cristina Gama Duarte assume o cargo de diretora de redação e começa a usar expressões como “Minha amiga” em referência às fig. 45 leitoras. A diretora de redação seguinte, Célia Pardi, que esteve à frente da redação de 1988 a 2002, estreita a relação de intimidade com as leitoras, chegando a um grau jamais visto. Foi também a primeira diretora de redação a publicar sua foto ao lado do texto. Em 1963, surge a Cozinha Experimental de Claudia (fig. 45) que contribuiu para estabelecer relações de credibilidade e uti- Cozinha Experimental de Claudia, Claudia, ano 3, no 21, junho de 1963. lidade à suas leitoras ao testar as receitas Design em revista feminina publicadas (Buitoni, 1990). Mas a Cozinha Experimental de Claudia não 85 fig. 46 serviu apenas para dar crédito a determinadas receitas, pois na edição de janeiro de 1978, Claudia publica um anúncio contando que passara a aplicar o selo de Qualidade Comprovada Claudia (fig. 46) na embalagens de produtos alimentícios. Certamente esta estratégia traria resultados junto às empresas anunciantes ou possíveis anunciantes. Claudia, em um primeiro momento, trazia reportagens e seções sobre como salvar o casamento ou como educar os filhos, entretanto, este padrão começou a mudar em 1963 com a estreia da coluna A Arte de ser mulher, da jornalista e escritora Carmen da Silva. Scalzo conta que foi Carmen quem de fato começou a mudar o jornalismo feminino. Sua coluna perdurou por 22 anos e “quebrou ta- Selo Qualidade Comprovada Claudia, ano 3, no 21, junho de 1963. bus e aproximou-se de forma inédita das mulheres, tratando de temas até então intocáveis, como a solidão, o machismo, o trabalho feminino, a alienação das mulheres, seus problemas sexuais” (Scalzo, 2004, p. 34). Na visão de Buitoni (2009), Carmen foi a “pensadora” que mais teve influência em revistas de comunicação de massa. A jornalista insistia na ideia de que a mulher deveria protagonizar sua própria vida. Um trecho escrito por Carmen da Silva e retirado de um encarte especial em comemoração dos 40 anos de Claudia exemplifica essa busca por um comportamento mais ativo da mulher: É só tomando nas mãos as rédeas do destino, construindo-o e construindo-se, que se alcança um razoável domínio sobre a insegurança e se conquista a sensação de plenitude, da vida vivida numa dimensão total. É querendo, fazendo, sendo – com toda a angústia, com todos os riscos que isso implica – que perdemos a condição de joguetes do acaso e assumimos o caráter de protagonistas desta aventura apaixonante e singular que é a própria existência (Claudia, ano 40, no 481). A linguista Ferreira (2006) afirma que além da jornalista Carmen da Silva, fizeram parte do time de colaboradores de Claudia algumas personalidades notáveis como: os cronistas Rubem Braga, Paulo Mendes Campos e Fernando Sabino; o poeta Vinícius de Moraes; os escritores Lygia Fagundes Telles, Julieta Godoy Ladeira, Marina Colasanti e Ignácio Loyola Brandão; o astrólogo Omar Cardoso; os jornalistas Wladimir Herzog e Arthur da Tavola; a pedagoga e escritora Ruth Rocha; os humoristas e cartunistas Ziraldo Alves Pinto, Luiz Fernando Veríssimo e Miguel Paiva. Além destes, encontramos na edição de junho de 1963, uma página de anúncio divulgando os novos “colaboradores” de Claudia: Agatha Christie, F. Scott Fitzgerald, Pearl S. Buck, Françoise Sagan e Arthur Miller, escritores de grande sucesso na época. O projeto editorial inicial de Claudia – recheado de bons colaboradores – e que visava a mulher consumidora e todo o universo circundante de seu lar, na verdade, tinha por trás metas em- 86 Design em revista feminina fig. 47 presariais bem delineadas. A publicação – assim como muitas outras – objetivava não só vendas em bancas, mas também garantir significantes verbas que viriam da publicidade. Ou seja, o conteúdo “lar” serviu de excelente pretexto para a criação da publicação em uma época em que enceradeiras, liquidificadores, máquinas de costura e os novos modelos de refrigeradores – entre tantos outros gadgets – eram desejo de consumo na época. A forte presença publicitária no começo de sua existência serviu de base e alicerce financeiro para alavancar a publicação e também porque não dizer, se manter até hoje. Na compreensão de Buitoni (2009) tudo que está dentro de uma publicação está diretamente ligado ao consumo ou serve de chamariz para que a revista seja comprada e com isso divulgue os anúncios nela contidos. Anúncio publicado em Claudia, ano 7, no 80, maio de 1968. Na edição de junho de 1963 (ano 3, no 21), constatamos uma grande quantidade de anúncios: em um total de 132 pá- ginas, 32 itens – entre seções e reportagens – foram apresentados em meio a 105 empresas anunciantes. Nessa época a revista mais parecia um catálogo de produtos, não só pela quantidade exacerbada de anúncios mas também por muitos artigos que apareciam espremidos, com textos em colunas estreitas, ao lado de anúncios que ocu- fig. 48 pavam quase toda a página. Buitoni (1990, p. 11) diz que com o desenvolvimento da publicidade, “as revistas femininas só serviriam de pretexto para o catálogo de anúncios ficar mais interessante”. A influência publicitária era tão marcante que alguns anúncios apareciam disfarçados de reportagens com dicas de uma “suposta” consultora ou visualmente idênticas a um editorial de moda. Encontramos também outro anúncio que exemplifica a estreita relação entre publicidade e editorial: na edição de maio de 1968, uma página de anúncio trouxe o seguinte título: “Claudia em janeiro cometeu uma pequena injustiça: fêz uma reportagem sobre geladeira e se esqueceu de falar Anúncio publicado em Claudia, ano 6, no 69, junho de 1967. Design em revista feminina 87 da nova Kelvinator” (fig. 47). Em outro anúncio de moda infantil, um texto com visual semelhante à de um bilhete escrito à mão era endereçado à “querida amiga” e no final, este texto era assinado por “Claudia”, para parecer que a revista estivesse avalizando o produto (fig. 48). Como vimos, além da intensa publicidade presente em Claudia, também no início de sua história, a revista fazia promoções para aumentar as vendas em bancas e também reportagens que incitavam à compra ou ao consumo de produtos. Algumas das reportagens mencionavam que para adquirir moldes ou projetos era necessário o envio de uma quantia em dinheiro. Na edição de junho de 1963, Claudia publicou a matéria Um móvel transformista, uma espécie de armário com múltiplas funções e criada pelo Departamento de Desenhos de Móveis de Claudia, como mencionou a reportagem. Para adquirir o projeto da peça era preciso enviar via correio o valor de Cr$ 300 à editora. Em junho de 1967, a revista fig. 49 publicou a promoção: “Claudia a procura de 6 jovens estrêlas para o filme de Roberto Carlos” (fig. 49). O concurso que contou com o apoio da TV-Record, TV-Rio e a rádio Jovem Pan recebeu destaque dentre as chamadas de capa. O jornalista e escritor Marcelo Fróes (2000) no livro Jovem Guarda em Ritmo de Aventura relata que Roberto acompanhou pessoalmente o teste final das candidatas que durou sete horas seguidas e esteve Promoção publicada em Claudia, ano 8, no 95, agosto de 1969. sobre um forte esquema de segurança. A repercussão da promoção foi tanta que no final dos testes o cantor teve de enfrentar um batalhão de repórteres e fotógrafos ansiosos pelo resultado. Em outra ação promocional, Claudia publicou em março de 1969 a promoção Ganhe uma Cirurgia Plástica e em agosto do mesmo ano, publica uma nota contando sobre o cancelamento desta promoção por determinação do Conselho Regional de Medicina (CRM). O texto que além de enxovalhar o órgão médico, relata as milhares de cartas que receberam deste concurso. Claudia se justifica dizendo que só criou esta promoção porque todos os meses recebia dezenas de cartas de leitoras pedindo uma cirurgia plástica e que estava apenas cumprindo (e continuaria) com sua “missão” de contribuir com a leitora. Obviamente, tanto esta quanto a promoção de Roberto Carlos visavam ao aumento das vendas de exemplares, pois era necessário comprar a revista para participar da promoção. 88 Design em revista feminina fig. 50 Capa Claudia, ano 1, no 1, outubro de 1961. Design em revista feminina 89 3.4 O design de Claudia no passado No início de sua história, Claudia tinha um expediente bem enxuto, até porque a editora Abril também estava dando seus primeiros passos. No expediente da edição de junho de 1963, encontramos apenas quatro pessoas responsáveis pelo design gráfico da revista: diretor de arte, assistente de arte, chefe de ilustração e chefe do departamento fotográfico. Apenas a título de comparação, atualmente, na edição de setembro de 2009 são sete os envolvidos: diretora de arte, editora de arte, quatro designers e uma estagiária. Isto sem contar outros cargos relacionados como editora visual sênior e editora visual. O termo designers só veio aparecer no expediente da revista em 2003, antes usava-se diagramadores. O primeiro diretor de arte de Claudia foi Attílio Baschera que também fez o projeto da revista Quatro Rodas em 1960. Attílio, de nacionalidade italiana graduou-se em Artes Plásticas na Escola Superior de Belas Artes Porta Pinciana, em Roma, e atualmente é proprietário de uma loja de decoração, a AGain, que comercializa produtos de sua criação e de seu sócio Gregorio Kramer, também designer 10. No início, as capas de Claudia eram ilustrações de rostos de mulher desenhados (fig. 50 a 53) e iguais às da Claudia editada pela Abril argentina, publicação que tinha assuntos e diagramação semelhantes. Em setembro de 1963, as capas de Claudia deixam de ser com desenhos e passam a ser com fotos de duas modelos e depois, quase sempre, a foto é de uma mulher somente (Buitoni, 1990). Buitoni (1990) acrescenta que Claudia inaugurou um novo estilo de produzir reportagens de moda, beleza, culinária e decoração. “Toda uma infraestrutura de produtoras de moda, fotógrafos e manequins foi se formando ao longo dos anos” (Buitoni, 1990, p. 58-59). fig. 51 Capa Claudia, ano 1, no 2, novembro de 1961. fig. 52 Capa Claudia, ano 2, no 3, março de 1962. 10 Fonte: http://veja.abril.com.br/vejasp/210606/perfil.html. Acesso em 07/09/2009. fig. 53 Capa Claudia, ano 3, no 6, junho de 1963. 90 Design em revista feminina Scalzo (2004) complementa que no início de vida de Claudia as fotos eram todas importadas, e logo a equipe percebeu a necessidade de se fotografar o estilo, a comida, a casa e, principalmente, a mulher brasileira. De acordo com o site da editora, “as revistas femininas da Abril inauguraram muitas técnicas hoje consideradas indispensáveis à qualidade jornalística. Boa parte delas nos anos de 1960, em Claudia. Surgiu ali, por exemplo, a produção de reportagens de moda que substituíram a então inescapável foto estrangeira”. A então produtora Olga Krell – que era arquiteta, mas atuava como jornalista – foi estagiar nas revistas americanas Good House Keeping, McCalls e Better Homes & Gardens a pedido de Victor Civita, presidente da Abril, pois ele acreditava que a melhor maneira para aprender é ver alguém que sabe fazer. Posteriormente, Olga dirigiu o Estúdio Abril, onde criou-se técnicas de fotografar fig. 54 culinária, decoração e beleza, entre outras especialidades. Ela conta que no início pegava revistas estrangeiras, olhava as angulações, a iluminação e as tendências, além disso, visitava feiras internacionais de móveis e de artesanato em busca do que iria funcionar no Brasil11 . Em um cenário favorável de produção fotográfica, muitas das reportagens de moda eram fotografadas no exterior com Editorial de moda em Claudia, ano 8, no 95, agosto de 1969. modelos brasileiras. Em maio de 1968, as fotos para muitas reportagens foram feitas fig. 55 em Moscou, não apenas as imagens para o editorial de moda (fig. 55). Nessa edição, o fotojornalismo esteve presente, contando como era a vida e a mulher da antiga União Soviética. Na edição de agosto de 1969, a matéria de moda foi fotografada no deserto do Saara em Marrocos (fig. 54). O fotógrafo Otto Stupakoff, um dos grandes nomes da fotografia de moda no Brasil, também colaborou com Claudia, inclusive na coluna de Carmen da Silva A Editorial de moda em Claudia, ano 7, no 80, maio de 1968. 11 Arte de ser mulher (Buitoni, 2009). O críti- Trecho extraído do site: http://www.abril.com.br/institucional/50anos/femininas.html Design em revista feminina 91 co de fotografia Fernandes (2006) conta que o fotógrafo retirou-se da cena cultural entre os anos de 1965 e 1976 e foi morar em Nova York e Paris, período em que se transformou no primeiro fotógrafo brasileiro a ser reconhecido pela qualidade e criatividade do seu trabalho no exterior”. Otto trabalhou para Harper’s Bazaar, Vogue (francesa, inglesa, italiana, alemã), Elle, Marie Clarie, entre muitos outros títulos e torno-se um dos mais requisitados fotógrafos de moda do mundo. Assim como acontece hoje, as imagens fotográficas ilustravam grande parte das re- fig. 56 fig. 57 portagens, com exceção dos contos e horóscopos que traziam ilustrações manuais. Claudia, inicialmente, era publicada em formato grande: 260 x 310 mm (fig. 56) e, em 1979, reduziu para 230 x 280 mm (fig. 57). Em 1982 o formato foi diminuído novamente, permanecendo com esta medida até hoje: 202 x 266 mm. Desde seu surgimento até o final dos anos Capa Claudia, ano 17, no 196, janeiro de 1978. Capa Claudia, ano 18, no 219, dezembro de 1979. de 1970, Claudia trazia páginas impressas em quatro cores e páginas em preto e branco, possivelmente para reduzir custos de impressão. Dos anos de 1960 a 1970, Claudia tinha, aproximadamente, 50% dos editoriais em uma cor e 50% coloridos. Alguns anúncios também vinham em preto e branco, mas não nessa mesma proporção, eram priorizadas as páginas coloridas para os anúncios. Na década de 60, Claudia não tinha conhecimento ou não dava importância ao ritmo e a unidade visual de uma publicação. Os anúncios, bem como alguns artigos, eram aplicados aleatoriamente, sem um padrão estabelecido: na página da esquerda, da direita ou espelhados. Isto causava uma certa confusão visual, pois com fig. 58 a falta de ritmo, às vezes, não era possível distinguir o editorial da publicidade, ainda mais com a revista repleta de anúncios disfarçados de reportagens. Em uma época onde reinava a composição tipográfica de chumbo, a unidade visual também passava longe: cada seção ou reportagem aplicava-se uma fonte diferente. O leiaute de algumas matérias ou artigos (fig. 58) traziam anúncios ao lado (1/3, 2/3, ½, ou mais), restando ao editorial, Editorial ao lado de anúncio, Claudia, ano 3, no 21, junho de 1963. 92 Design em revista feminina um pequeno espaço, onde o texto era aplicado em colunas estreitas. Em razão do pouco espaço, muitas vezes, o artigo continuava nas páginas seguintes ou no final da revista, paginação que White (2006) considera extremamente irritante para o leitor, interrompê-lo e direcioná-lo para outro local. Como veremos adiante, até hoje Claudia traz anúncios ao lado de editoriais ou quefig. 59 bra-os para posicionar páginas inteiras de anúncios. Também nos anos de 1960, surgem os selos em algumas reportagens, prática que é adotada até hoje. As compras de Claudia (fig. 59), Especial São Paulo (fig. 60) e A Arte de ser mulher (fig. 61) são alguns exemplos criados e que exercem a função de um logotipo da matéria e podem ser aplicados na Selo em Claudia, ano 6, no 69, junho de 1967 fig. 60 página de abertura ou em todas as páginas das matérias. A partir dos anos de 1970, cresceu o número de páginas coloridas e de fotografias, trazendo maior riqueza de detalhes mas também poluição visual, pois muitos anúncios vinham ao lado de algumas reportagens. Nessa época também surgia duas reportagens em papel diferente: o Jornal de Cozinha e O assunto é... ambos impressos em papel jornal e em duas cores (preto e laranja). No final dos anos de 1970 e durante toda a década de 80, Claudia inseria Selo em Claudia, ano 13, no 155, agosto de 1974. fig. 61 infográficos12 em algumas matérias e seções que não só traziam informação visual mas também contribuíam na compreensão do texto. No início dos anos de 1980, cresciam e se aperfeiçoavam as reportagens de moda e beleza e surgiam os editoriais fotografados em estúdio (fig. 62). A qualidade da fotografia melhorava, com a possibilidade de luz controlada. Até então, Selo em Claudia, ano 13, no 155, agosto de 1974. as fotos eram realizadas em locações externas. Nesse mesmo período, iniciavase a conscientização da necessidade de implantação de uma unidade visual na fig. 62 publicação. A revista começava a dar sinais de padronização tipográfica em 1979, como por exemplo, o uso da fonte Bodoni, empregada no primeiro logotipo de Claudia e reaplicada novamente no nome da revista bem como em diversas reportagens. A partir de 1984, com o advento dos programas de editoração eletrônica (desktop publishing) e o aparecimento computador Macintosh da Apple, percebemos uma melhoria no visual em Claudia. Editorial de Claudia, ano 18, no 219, dezembro de 1979. Como o advento e a inserção dos sistemas 12 Infográfico: recurso gráfico que envolve imagem e pequenas informações para uma melhor compreensão do assunto. Design em revista feminina 93 fig. 63 computadorizados e digitais, houve uma mudança significativa e agilidade de produção, expressão, finalização e acabamento das peças de design. A designer Moura (2005) conta que no início dos anos de 1980 despontou na área de design, projetos e peças repletos de imagens fragmentadas, fusão ou híbridas que indicavam uma nova estética e uma nova maneira de criar e projetar. Um dos pioneiros destas experimentações foram os designers americanos como April Greiman, Rudy VanderLans, Katherine McCoy, entre outros, que começaram a utilizar e experimentar as ferramentas e as possibilidades trazidos pelos programas dos computadores da marca Apple. Com isso, estes profissionais assimilaram rapidamente que o novo sistema computacional trazia um novo paradigma e abria uma nova era de possibilidades para os design gráfico. Também perceberam que a tecnologia digital alterava o processo de criar e fazer design de modo significativo. Nesse período, Claudia manteve seu padrão de diagramação mais formal, sem grandes experimentações, entretanto, foram nos anos de 1990 que notamos uma mudança radical no visual da publicação. A revista passou a trazer cores e mais imagens ilustrativas em reportagens e seções. Ferreira (2006, p. 34) nos conta que “em setembro de 1993, Claudia passou por uma grande transformação de conceito editorial e visual. O projeto foi trabalhado por dois anos e o design foi entregue a dois artistas gráficos americanos: Mary Baumann e Will Ho- Imagens de Claudia retiradas do site dos designers Mary Hopkins e Will Baumann. pkins. A partir de março de 2003, a revista passou por uma reformulação no projeto gráfico, em busca da continuidade de líder de mercado”. A partir de então notamos que a revista ficou mais colorida, as colunas passaram a ser ilustradas com várias imagens e a titulagem das matérias passou a ter mais interação com as fotos, como mostra as imagens de Claudia extraídas do site dos designers, wwww.hopkinsbaumann.com (fig.63). Mary 94 Design em revista feminina fig. 64 Hopkins e Will Baumann13 são designers editoriais que residem em Mineapolis e Nova York (Estados Unidos) e prestam serviços para editoras de livros, de revistas assim como para empresas. De acordo com o webiste, ambos possuem extensa experiência em redesign, lançamentos e produção gráfica de projetos impressos. Na década de 1980 e 1990 podemos observar que muitas foram as transformações ocorridas, não só em Claudia mas em diversas áreas de atuação do design gráfico. Os meios de produção trazidos pela tecnologia computacional possibilitou diversos tipos de experimentação. Campos (2006) conta que em termos de linguagem visual este período presenciou uma corrida desenfreada para o acesso ao conhecimento e ao domínio técnico dos meios digitais, provocando uma avalanche de produções que exploravam todas as possibilidades que os softwares ofereciam: colagens, sobreposições, tipografias novas, coincidindo também com o que ficou co- Editorial de moda, Claudia, ano 14, março de 1975. nhecido como tendência pós-modernista no design gráfico. Embora não observamos características pós-modernas nas páginas de Claudia nesse período, diversas formas de diagramação, fotografia, entre outros recursos apareceram nessa fase. Analisar o passado de Claudia não só nos deu base para compreender as edições atuais como também pudemos observar os aspectos culturais, valores e costumes de cada época e como eles mudaram com o passar do tempo. Encontramos, por exemplo, modelos em editoriais de moda fumando, em um período em que fumar era elegante, sinônimo de masculinidade para o homem e de sensualidade para a mulher (fig. 64). Hoje, com a hipervalorização dos cuidados estéticos com a saúde em toda a mídia, este tipo de imagem seria altamente condenável. Além disso, pudemos ver a herança deixada pelo design, algumas práticas e aplicações realizadas até os dias atuais, selos-logotipos, editoriais ladeados de anúncios, entre outros itens que mencionamos. Em reportagens do tipo “perfil do artista”, por exemplo, eram aplicados fotos de trabalhos da pessoa, o que acontece até hoje. A página de fechamento durante muito anos foi ilustrada com cartoons14. No passado, por Ziraldo com seu personagem The Supermãe (fig. 65 e 66) e mais recentemente, Maitena Inês Burundarena com Mulheres Alteradas. 13 Trecho extraído do site: http://www.abril.com.br/institucional/50anos/femininas.html 14 Cartoon: é um desenho humorístico que pode vir ou não acompanhado de legenda e tem caráter crítico e de uma forma bastante sintetizada. Geralmente, os temas envolvem o dia a dia de uma sociedade. Design em revista feminina fig. 65 fig. 66 Seção The SuperMãe, Claudia, ano 17, no 196, janeiro de 1978. Seção The Super-Mãe, Claudia, ano 18, no 219, dezembro de 1979. 95 Design em revista feminina 97 3.5 O projeto gráfico de Claudia O presente estudo concentrou-se na análise do projeto gráfico da revista Claudia em 12 edições do ano de 2008 (janeiro a dezembro) e 9 edições do ano de 2009 (janeiro a setembro), totalizando 21 edições. O projeto gráfico em questão entrou em vigor em 2004 e, desde então, constantes pequenas alterações foram realizadas. Em outubro de 2009, Claudia mudou seu projeto gráfico, quando fez diversas alterações visuais no leiaute das matérias, seções e colunas. A seguir, apresentaremos as características físicas e técnicas acerca do projeto gráfico de Claudia, bem como as características visuais que abrange tipografia, grade, imagens, diagramação, ritmo e sequenciamento. 3.5.1 Características físicas e técnicas Como dissemos anteriormente, o aspecto físico de uma revista envolve as questões de papel e formato. Já as questões técnicas referem-se aos processos de pré-impressão, impressão, softwares de editoração, tratamento de imagens e plataforma computacional. Começaremos pelo formato. Claudia adotou o tamanho 202 x 266 mm, muito usado por diversas revistas femininas do mercado, o que faz com que o tamanho da revista não seja um diferencial ou uma marca de sua identidade. O papel utilizado foi o LWC 60 g no miolo e o couchê brilho 150 g na capa. O papel do miolo não foi de qualidade superior, entretanto, atendeu às necessidades editoriais da revista. O acabamento da revista foi com lombada quadrada com aplicação de verniz UV na capa. A revista Claudia é impressa na divisão gráfica da editora Abril, assim como todas as outras revistas da editora. O tipo de impressão da revista foi, muito provavelmente, rotativa15 devido à sua alta tiragem. Como a editora Abril possui seu próprio parque gráfico, possibilita um controle maior sobre esta etapa do processo. Vale citar que a empresa também possui sua própria distribuidora de revistas (Dinap), permitindo atuar com mais precisão na distribuição das revistas em todo o Brasil. A revista foi impressa em quatro cores, no sistema de quadricromia (CMYK)16 e, eventualmente, através do sistema Pantone uma 5a cor (ou cor especial)17 é aplicada no logotipo da capa ou em algumas chamadas. Não pudemos precisar qual a plataforma e os softwares utilizados para editoração e tratamento de imagens, entretanto, hoje é quase que uma unanimidade o uso dos programas Indesign para editoração eletrônica e Photoshop para o tratamento das imagens, na plataforma 15 Impressão rotativa: tipo de impressão com papel em bobina, ideal para altas tiragens devido a sua rapidez e maior produtividade. 16 Quadricromia é o sistema de cor aditivo que utiliza o cyan (ciano), yellow (amarelo), magenta e black (preto), adotado mundialmente pela indústria gráfica. A partir dessas quatro cores básicas são geradas todas as outras cores do espectro visível (Falleiros, 2003). 17 Cor especial é uma tinta de cor diferente das cores de impressão básicas, pode ser obtida através de misturas tintas ou fornecida pronta por empresas que possui seu catálogo de cores próprio e inexistentes no processo de cores CMYK. Um exemplo de cores especiais são as cores fluorescentes e douradas, muito utilizadas nas capas de revistas para chamar a atenção. 98 Design em revista feminina Macintosh. A revista Claudia possui um equipe especializada em fazer o tratamento de imagem, conforme consta em seu expediente. O número de páginas da revista foi em torno de 152 páginas por edição. A edição no 3, ano 48 de março de 2009, por exemplo, continha 192 páginas, sendo 74 de editorial e 118 de publicidade. Neste número, o conteúdo editorial foi distribuído em 14 reportagens e 22 seções. Portanto, podemos considerar que a revista tem 39% de editorial e 61% de publicidade. 3.5.2 Características visuais A fim de conferir visualidade a seu projeto editorial, Claudia estabeleceu diversas formas e padrões visuais. Mais do que uma simples aparência por meio do design foi possível expressar a personalidade da publicação. A seguir, apresentaremos as características visuais empregadas no projeto gráfico da revista Claudia, nas 21 edições analisadas. O aspecto visual no que diz respeito às questões da tipografia, grade, imagens, diagramação, ritmo e sequenciamento. 3.5.2.1 Tipografia A tipografia presente na revista Claudia resume-se em duas famílias tipográficas, uma com serifa18 (Didot) e outra sem serifa. A fonte serifada Didot é utilizada nos elementos de maior destaque (títulos, aspas, chamadas de capa, retrancas, etc) e nos textos mais longos. Já a fonte sem serifa é usada apenas em olhos19, notas, legendas, perguntas e em alguns blocos de texto menores (fig. 67). A fonte sem serifa foi incluída no projeto gráfico de Claudia somente em 2007, antes, era empregada apenas a fonte Didot. Ao que parece, a fonte Didot foi eleita por fazer parte da herança deixada pelo primeiro projeto gráfico de Claudia, onde foi utilizada no primeiro logotipo da publicação. Na figura 65, pudemos observar de que forma e em quais elementos as duas famílias tipográficas escolhidas foram aplicadas. Observamos que a fonte serifada Didot é muito mais utilizada do que a fonte sem serifa. Ferlauto (2001) conta que a fonte Didot, classificada pelo sistema europeu como moderna, foi criada pelo frânces Firmin Didot, tipógrafo do rei Luís XVI. Os tipos Didot são caracterizados pelo extremo contraste de traços grossos e finos traços, pelas serifas ultrafinas e pela tensão vertical das letras. Desde o primeiro projeto gráfico criado na década de 1960, Claudia faz uso das fontes modernas Didones (Bodoni e Didot). O uso de duas famílias tipográficas, geralmente, é o necessário para atender todas as necessidades visuais. Samara (2005) aponta que como regra geral (que pode, é claro, ser quebrada no contexto certo) o uso de duas famílias tipográficas dentro de um projeto é suficiente para uma variedade visual. 18 Serifa: pequenos traços e prolongamentos que ocorrem no fim das hastes das letras. 19 Olho: frase destacada de uma material. Pode ser sob o título ou em determinado local da página. Design em revista feminina 99 Misturar muitos tipos pode deixar a página visualmente confusa. Vimos que a revista Claudia segue esta “regra” e tem como traço marcante o uso da fonte Didot, um tipo agradável, elegante e multifacetado, pois serve tanto para textos mais longos como para mais breves. Com relação a fonte utilizada para textos mais longos, onde requer uma leitura mais concentrada, emprega-se, na grande maioria dos casos, fontes serifadas. Zappaterra (2007) aponta que somos mais acostumados a ler em fontes serifadas e, tradicionalmente, estas são usadas em longas colunas de texto. Já as fontes sem serifa proporcionam variação visual e são aplicadas em textos curtos. Claudia aplicou a tipografia exatamente como aponta a autora: a fonte serifada Bodoni, nos títulos e nas colunas de textos mais longos e a fonte sem serifa, em textos curtos, ou olhos, legendas, boxe e subtítulos. Na visão de White (2006), deve-se evitar misturar fontes que fig. 67 Título: fonte serifada Didot Lead: fonte sem serifa Capitular: fonte serifada Didot Corpo do texto: fonte serifada Didot Retranca: fonte serifada Didot Título do box: fonte serifada Didot Subtítulos: fonte serifada Didot Texto do box: fonte sem serifa Corpo do texto: fonte serifada Didot Aspas: fonte serifada Didot Editorial de comportamento, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 100 Design em revista feminina tenham um desenho similar, mas utilizar fontes contrastantes para maximizar o resultado. Como a fonte sem serifa é utilizada muito pouco, o contraste não é facilmente percebido, porém, possibilita uma variedade visual. Utilizar apenas uma única família de fontesem toda a revista, além de tornar a leitura visualmente cansativa, é difícil encontrar uma fonte que se comporte bem nas diversas possibilidades de aplicação que ocorrem em uma revista. Em Claudia, a titulagem das matérias recebeu, em algumas reportagens, diversos efeitos tipográficos e foi o elemento que recebeu maior destaque por ter sido aplicado em tamanho maior. Na visão de Zappaterra (2007), os títulos servem para captar a atenção do leitor para serem lidos primeiro, portanto, irão dominar a página, em tamanho maior do que o corpo do texto ou as capitulares. Por necessitar chamar a atenção do leitor e aprefig. 68 sentar o assunto da reportagem, o título deve ser bem trabalhado para que ganhe destaque, seja pelo tamanho aumentado ou pelo efeito tipográfico aplicado. De acordo com White (2006), a dimensão da fonte serve para enfatizar o que é essencial e destacar o que é secundário. Em Claudia, em todos os títulos, com ou sem efeitos tipográficos, houve ajustade do kerning (espaçamento Editorial de Claudia, ano 48, no 4, abril de 2009 entreletras). Niemeyer (2001) considera este recurso importante em suportes grandes e em manchetes ou fig. 69 títulos de texto. “Sem esta interferência, muitas combinações de letras terão um resultado insatisfatório. O objetivo do kerning é criar visualmente um espaço entre todas as letras, de modo que o olho do leitor passe uniformemente pelo texto” (Niemeyer, 2001, p. 62). Outra possibilidade tipográfica é o uso de palavrasimagens, como nos apresentou White (2006) no item Editorial de Claudia, ano 47, no 9, setembro de 2008 fig. 70 2.2.2.1. Quando isto ocorre, o designer confere um tratamento visual à letra ou a fonte, tornando-a uma imagem, carregando mensagens não-verbais. Na revista Claudia, através do efeito de substituição, observamos o inverso. Imagens ou símbolos que cumprem o papel de uma letra, carregando mensagens verbais (fig. 68 a 70). Este foi o efeito tipográfico empregado com mais frequência na titulagem das Editorial de Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008 matérias. Samara (2005) nos esclarece que a substi- Design em revista feminina tuição ocorre quando “um tipo é substituído por um objeto 101 fig. 71 ou outro símbolo reconhecível. Alguns objetos do mundo real compartilham formas visuais semelhantes às das letras, como por exemplo, os objetos circulares, regularmente substituídos pela letra O” (Samara, 2005, p. 32). Vemos na figura 67 e 68 que as imagens não foram as únicas manei- Editorial de Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008 fig. 72 ras de substituir um tipo, reposicionar um outro carácter (@) ou símbolo (coração) também foi uma forma de conferir o efeito de substituição. Outro efeito observado foi o de inclusão pictórica (fig. 71 a 73). Samara (2005) esclarece que ela ocorre quando elementos ilustrativos são trazidos para dentro das formas dos tipos, Editorial de Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008 fig. 73 onde interagem com seus contornos e formas. A inclusão pictórica pode ser vista na figura 71, onde o tipo manteve sua forma essencial e foi aplicada invertida (vazada20) sob a imagem de um quadrado com rachadura. Esta opção de inclusão pictória foi vista apenas uma vez. Das edições restantes, a inclusão pictórica se deu com o preenchimento, de uma Editorial de Claudia, ano 47, no 9, setembro de 2008 imagem ou de um detalhe da foto principal da matéria (fig. 72 e 73), dentro das formas das letras. Na figura 70, foi incluído uma imagem de células dentro da aspa. E na figura 71, foi aplicada a mesma estampa da blusa da atriz Marilia Pêra. O contraste de escala também foi um dos efeitos tipográficos utilizados (fig. 74). Uma só letra em tamanho grande, no título ou na capitular, contrasta com o tamanho dos demais tipos ou, em relação ao próprio tamanho da página. Donis (1997) conta que a estratégia de contraste é a força de opofig. 74 sição ao apetite humano que busca por equilíbrio e estabilidade. Suas atribuições são muitas: “desequilibra, choca, estimula, chama a atenção”, além de “estimular e atrair a atenção do observador, que pode também dramatizar seu significado, para torná-lo mas importante e dinâmico” (Donis, 1997, p. 108, 118). Outro aspecto tipográfico observa- Entrevista, Claudia, ano 48, no 3, março de 2009 20 Texto vazado: quando o texto fica em branco sobre um fundo colorido. do foi o uso do recurso visual que Melo 102 Design em revista feminina fig. 75 (2003) chama de travertismo tipográfico, ou seja, a tentativa de imitar tipos manuscritos ou de tecnologias antigas. Pudemos observar, em uma única edição, a presença de reportagem com esta característica (março/2008). O editorial de moda com o título Fashion Game, na palavra game foi aplicado uma fonte que simula a exibição textual dos primeiros vídeo games Editorial de moda, Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 nos anos de 1980 (fig. 75). Melo (2003) conta que durante a explosão tipográfica dos anos de 1990, esses tipos eram “destinados não à composição de textos longos, mas usados na titulagem de matérias de revistas ditas irreverentes ou em chamadas de anúncios espertos, e têm como característica o fato de não serem o que parecem”. Na visão do autor, o ato de transcriar de um meio antigo para um meio novo é “um caminho promissor, que tem frutos ainda a fig. 76 serem colhidos” (Melo, 2003, p. 49, 57). Na mesma edição, apenas uma única vez, numa reportagem sobre mulheres muçulmanas que vivem no Brasil, o designer usou uma fonte na capitular que simulava as formas das letras do alfabeto árabe (fig. 76). Outro efeito tipográfico observado em Claudia e apresentado por Samara (2005) é a pictorialização. O autor conta que este recurso acontece quando “o tipo se torna uma representação de um objeto real ou se apropria das Editorial de Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 fig. 77 qualidades de alguma coisa a partir de uma experiência atual”. Na pictorialização ilustrativa acontece a inclusão de formas ou desenhos que parecem ter sido feitos do material reconhecível em questão, ou parte deste objeto. Na revista, este recurso visual foi aplicado no editorial de moda Curingas da crise (maio/2009). Ao utilizar a palavra-chave curinga no título, Editorial de moda, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 Design em revista feminina o designer simulou a visualidade de uma carta de 103 fig. 78 baralho, não só aplicando um retângulo com fundo branco e bordas arredondas, mas também espelhando horizontalmente e verticalmente a frase, como ocorre nas cartas que, se viradas de pontacabeça, podem ser lidas da mesma forma (fig. 77). Na edição de dezembro de 2008, pudemos ver um exemplo de combinação de elementos visuais (foto) e tipográficos (letras) de forma que um interage ativamente com o outro, passando a Editorial de moda, Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008 sensação de movimento. Na reportagem Que venha 2009, a menina com as mãos para o alto, parece ter jogado os números para cima (fig. 78). 3.5.2.2 Grade Como mencionamos no tópico 2.2.2.2, a grade envolve o planejamento das margens, rodapés, quantidade e espaçamento das colunas para a determinação dos locais onde serão aplicadas as imagens e o texto. A grade da revista Claudia trouxe as seguintes configurações que descrevemos a seguir: As margens superiores (20 mm), inferiores (18 mm), externas (20 mm) e internas (25 mm) foram bem delimitadas, proporcionando um conforto visual à pagina com os devidos espa- fig. 79 ços em branco. A margem interna também foi adequada, pois o texto não entrou dentro do espaço da lombada, dificultando a leitura. O rodapé sempre posicionado no mesmo local (embaixo e no canto externo das páginas) trouxe o número da página, nome da revista, mês e ano da edição. O número da página em tamanho maior se destaca do restante das informações. Editorial sobre os 10 anos do medicamento Viagra, Claudia, ano 47, no 11, novembro de 2008 Na grande maioria das vezes, o texto foi disposto em duas colunas. Na página de abertura das reportagens, quando a foto foi posicionada em página dupla ou estendeu um pouco mais até a outra página, o texto apareceu em apenas uma coluna (fig. 76). Na página de abertura das reportagens onde o foto foi posicionada apenas em uma página, o texto apareceu em duas colunas (fig. 79). O título e o lead, presentes sempre nas duas páginas iniciais das reportagem, não tiveram posição pré-determinada pela grade. 104 Design em revista feminina fig. 80 A partir da segunda página dupla das reportagens, pudemos perceber mais claramente como se comportou a grade (fig. 80). O texto foi disposto em duas colunas, com um espaço muito pequeno entre elas (cerca de 4 mm). O espaço muito estreito entre as colunas pode fazer com que o leitor una a leitura de uma frase com a da coluna ao lado, o que perturba e interrompe o ritmo da leitura. Outro aspecto relacionado a grade é o tratamento dado ao texto que em Claudia recebeu justificação forçada21. A última linha também foi alinhada com a largura da coluna. Para evitar que ficassem espaços entre as palavras (corriqueiramente chamado de “buracos”), o texto foi hifenizado e, na última linha, preencheu-se com palavras até uma completa justificação. O texto Reportagem sobre corrida, Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009 veio em um único bloco, quase não houve parágrafos. Quando eles apareceram foram iniciados com um espa- ço mínimo (cerca de 2 mm), quase imperceptíveis. Todas essas ações sugerem uma obsessão de Claudia por justificar perfeitamente o texto. Na figura 78 pudemos ver que não houve espaços em branco nas últimas linhas dos parágrafos, assim não houve parágrafos dividindo o texto. O corpo do texto sempre apareceu justificado. Já os textos de boxes ou legendas, sempre alinhado à esquerda. Com essa justificação total do texto, as margens ficaram mais evidentes, pois, no meio do texto não houve quase espaços em branco Nos editoriais de moda e em algumas matérias de beleza, a grade se apresentou de modo diferente. Como não houve grandes blocos de texto, muitas vezes só legendas, o texto foi aplicado alinhado à esquerda sobre as imagens ou em uma coluna ao lado da foto, também à esquerda (fig. 81). fig. 81 De modo geral, a grade de Claudia foi bem resolvida visualmente, não sucumbindo à rigidez e regularidade que muitas vezes a grade impõe. Os diferentes tipos de matérias, os variados leaiutes das aberturas das matérias e os diferentes tipos de boxes fizeram com que a grade fosse flexível, o que proporcionou variedade visual. Reportagem com dicas para ter mais energia e disposição, Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009 21 Justificação forçada: quando o texto, disposto geralmente em colunas, é justificado em todas as linhas, inclusive a última, não deixando nenhum espaço em branco. Design em revista feminina 105 fig. 82 3.5.2.3 Diagramação Cada leiaute de Claudia – reportagem ou seção – variou de acordo com a editoria e/ou proposta editorial. Neste item detalharemos de forma geral como foi a distruibuição dos elementos nas páginas da revista. No tópico 3.5.3 entraremos em profundidade sobre como se comportou a diagramação especificamente em cada tipo de reportagem, seção e coluna de Claudia. Embora a cada edição o conteúdo tenha sido diferente, os leiautes não variaram muito de um mês para o outro, pois obedeceram a um template pré-definido. Isto ocorreu principalmente nas seções, nas quais as alterações foram mínimas. A maioria das reportagens – exceto as matérias de beleza, moda e decoração – teve a seguinte diagramação: Na página de abertura foi aplicada a foto princi- Editorial de comportamento, Claudia, ano 47, no 12, julho de 2009 pal da reportagem, o título e o lead. Eventualmente, o texto da reportagem iniciou na página de abertura. A imagem principal apareceu preenchendo toda a página dupla, em apenas uma página ou em uma página + 1/3 ou 2/3 da página ao lado. O título não teve uma posição pré-definida, foi diposto nas duas páginas ou apenas em uma. O lead veio sempre logo abaixo do título. Não houve uma regra quanto à posição da foto principal da reportagem, ora ela apareceu na página par, ora na página ímpar. Nas páginas seguintes, o texto da reportagem seguiu em duas colunas com algumas imagens que remetiam à foto principal aplicada na abertura. As imagens aplicadas no restante da reportagem também pôde ser a mesma usada na abertura, só que em tamanho reduzido. Em Claudia, o apelo visual por meio de imagens apareceu apenas na abertura da matéria, com exceção dos editoriais de moda, beleza e decoração. Na grande maioria das matérias, na página consecutivas à abertura, havia poucos recursos visuais. Aplicou-se longos trechos de texto e imagens muito reduzidas e que, geralmente, não acrescentaram informações à matéria. A repetição da imagem da página de abertura não acrescentou informação visual, apenas criou uma relação com a primeira página dupla. A foto de abertura teve a função de ilustrar o tema da reportagem e atrair a atenção do leitor, mas perde esta funcionalidade se aplicada em outro local. A figura 82, por exemplo, para ilustrar o restante da reportagem foram usadas imagens de maçãs mordidas para relacionar com a foto da maçã aplicada na abertura da matéria. Na figura 80, a página consecutiva foi ilustrada com a foto de um tênis e com modelos correndo. Nesta opção 106 Design em revista feminina a composição visual ficou mais arejada com a presença do box sobre a vestimenta adequada para corrida (ilustrado com as imagens das modelos) e também com os 2 boxes de depoimentos. O uso de longos trechos de texto sem imagens torna a leitura mais cansativa, exigindo um esforço maior do leitor. Na visão de White (2006), “trechos curtos são menos ameaçadores do que os longos, porque exigem que fig. 83 se comprometa menos tempo ou esforço” (White, 2006, p. 13). O autor sugere o uso de barras laterais ou boxes como material de apoio à matéria, cada qual com seu respectivo título e fotos. Em Claudia, nem todas as reportagens trouxeram boxes, e quando apareciam foram somente um. Geralmente, esses boxes não são ilustrados com imagens. Perfil do ator, Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 O uso de boxes, aspas, ima- gens secundárias e suas respectivas legendas são considerados ganchos visuais, ou seja, cumprem a função de despertar a atenção do leitor para a leitura do texto. Dentre esses recursos, as aspas foram o que Claudia mais utilizou. As aspas, além de captarem a atenção, tornam-se um elemento ilustrativo da reportagem. Na figura 83 vemos a aplicação de duas aspas que quebraram a monotonia do texto corrido. Pudemos observar que esta página ficou visualmente cansativa por causa dos poucos recursos visuais utilizados bem como pela grande quantidade de texto. Outra questão que envolve a construção de um leiaute é o uso da cor. Claudia, com exceção da cor nas fotografias, usou muito pouco a cor em suas páginas. A cor vermelha foi a eleita para estar presente apenas em pequenos detalhes (aspas, setas, subtítulos, pequenas tarjas vazadas, fig. 84 Editorial sobre casamento, Claudia, ano 47, no 7, julho de 2008 fig. 85 Editorial sobre sexo, Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008 Design em revista feminina 107 logotipo do sumário, etc). Raramente, a cor apareceu em alguns títulos. Os leiautes tiveram fundo branco e apenas duas vezes foi aplicado cor no fundo das páginas (fig. 84 e 85). Nas 21 edições analisadas, raramente, foram vistas outras cores. O designer de Claudia talvez tenha eleito esta cor por ser quente, forte e vibrante e com isso chamar a atenção. O vermelho também é associado com paixão e, não por coinscidência, os temas das reportagens que foram aplicados o fundo vermelho tratavam de sexo e relacionamento amoroso. Para Bhaskaran (2006), a cor pode ser usada de inúmeras formas em uma publicação: “para atrair a atenção, destacar uma certa informação, extrair uma reação emocional específica”, entre outras aplicações (Bhaskaran, 2006, p. 80). Uma cor pode também ajudar o leitor a navegar pela publicação ou organizar diferentes tipos de informação. A cor também pode estabelecer uma forte identidade visual, podendo ser facilmente reconhecida pelo seu leitor. Entendemos que Claudia poderia explorar mais o uso da cor na publicação de forma geral, a fim de trazer mais vivacidade, dinamismo, além de surpreender o leitor e contribuir para separar editorias de acordo com as cores. 3.5.2.4 Imagens O conteúdo de uma publicação não está estritamente limitado ao texto. As imagens, cores e tipos também são uma forma de conteúdo. O tratamento ilustrativo contribui de forma significativa para transmitir a mensagem da publicação. Analisar as imagens presente em uma revista possibilita compreender como se estabelece sua identidade visual. Nesse sentido, Ambrose e Harris (2005) dizem que compreender a importância da imagem significa considerar o seu impacto desejado, sua função, sua audiência, seus aspectos estéticos e como esta imagem pode contribuir para definir o tom (ousado ou conservador) de todo o design. Foram encontrados quatro tipos de imagens presente na revista Claudia: fotografia, ilustração, infográfico e sinais gráficos. Claudia usou potencialmente as imagens fotográficas e, em menor escala, as ilustrações. As imagens fig. 86 sintéticas ou infográficas foram vistas uma única vez (junho/08) (fig. 86). O uso do infográfico é recomendado para dar uma visualidade às informações complexas. Como Claudia não apresentou muitas reportagens que traziam dados com grande complexidade, não utilizou muito este recurso. As reportagens de saúde que, eventualmente, abordam questões médicas, de Reportagem sobre aborto, Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008 108 Design em revista feminina anatomia ou de procedimentos, poderiam ficar mais esclarecidas com o uso de um infográfico. Ao compararmos a reportagem sobre câncer de mama da revista Glamour com a matéria sobre o mesmo tema da revista Claudia, vimos que o uso de um infográfico com o desenho de uma mama enriqueceu a reportagem e foi fácil de compreender em quais regiões da mama a incidência de câncer foi maior (fig. 113, p. 122). fig. 87 Já as ilustrações apareceram pouco em Claudia: na seção O que eu faço agora? (fig. 87) e em matérias sobre espiritualidade e astrologia (fig. 88). Possivelmente, esses temas foram sempre ilustrados com ilustrações por se tratarem de temas subjetivos e abstratos. Eventualmente, algumas reportagens sobre sexo, finanças, comportamento e atualidades também foram apresentadas com ilustrações. Outro tipo de imagem presente na revista Claudia foram os sinais gráficos e figuras geométricas empregados na publicação: aspa simples Seção O que eu faço agora? Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008 fig. 88 nas frases de terceiros, setas (como as que aparecem em softwares para nortear a navegação), retângulos nos boxes, quadros brancos com transparência e quadrados com setas semelhantes aos balões de gibi. Cada uma dessas imagens possuem finalidades próprias e que serão detalhadas na análise do projeto gráfico (3.5.3). Dentre as imagens aplicadas, a fotografia que predominou em toda a publicação. Como nos apresentou anteriormente Baeza (2003) Reportagem sobre espiritualidade, Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008 no item 2.2.2.4, há duas categorias de fotos de imprensa: a fotojornalística a e fotoilustrativa. As fotos de Claudia estiveram na categoria de fotoilustração, pois cumprem o papel de ilustrar o tema da reportagem ou mostrar produtos, objetos, ambientes, peças de vestuário / acessórios, etc. As fotografias de Claudia se dividiram em dois grupos: imagens produzidas pela editora e fotos fornecidas por empresas de banco de imagem. As pautas que traziam modelos, receberam uma equipe composta por: fotógrafo, assistente, cabeleireiro, maquiador, modelo(s), produtora de figurino, stylist, etc – equipe que varia conforme o tipo de matéria. As reportagens de moda, por exemplo, exigem uma equipe maior. As imagens produzidas permitem um maior controle sobre o resultado, pois partem de um briefing22 fornecido pela diretora da arte, diretora de redação ou da editora visual. As fotos compradas prontas de fornecedores (Getty Images e Latin Stock) impõem 22 Briefing: um conjunto de informações passadas em uma reunião para o desenvolvimento de um determinado trabalho. Design em revista feminina 109 certos limites, nem sempre é possível encontrar exatamente o que se busca e, além disso, por serem a maioria produzidas fora do Brasil, às vezes, não se enquadram com os traços físicos bem como da vestimenta das mulheres brasileiras. Os biquínis americanos ou europeus, por exemplo, correspondem aos padrões totalmente diferente aos das brasileiras. O uso de imagens prontas de banco de imagens é prejuducial para a construção de uma identidade forte e sólida para a revista, garantida através das fotografias ou ilustrações de produção própria, executadas pela equipe da revista. Muitas dessas imagens são vistas em diversos veículos da mídia impressa, provocando uma visualidade uniformizada e criando esteriótipos visuais. Em parte, isto se deve ao monopólio informativo e fotográfico de grandes empresas como Reuters, Corbis, AP (Associated Press), Getty Images e AE (Agência Estado) que vendem imagens para mídias impressas e televisivas. Para Baeza (2003), para que a publicação garanta sua sobrevivência a longo prazo é necessário que a publicação resista ao “self service” de imagens banais e de baixo custo. Para o autor, a primeira decisão deve ser sempre formar equipes que se responsabilizem por preparar e aplicar com plenitude um projeto com conteúdos visuais adequados à finalidade do veículo. E ainda, a atividade de edição gráfica deve cultivar uma personalidade própria para cada publicação, a partir de um projeto específico, uma rica agenda de colaboradores, muita imaginação, bem como recursos humanos e econômicos adequados. Portanto, entendemos que com o uso de imagens de produção própria, é possível fazer com que se prevaleça e exprima por meio dessas imagens, a missão editorial da publicação, bem como garantir a exclusividade da concepção da ideia. Dentro da categoria de fotoilustração, Claudia permeou pelas mais diversas especialidades da fotografia, cada qual com sua especificidade: fotografia de moda, fotografia de still (produtos), fotografia de culinária (no suplemento Claudia Comida & Bebida), fotografia de ambientes (nas reportagens de decoração), fotografia de turismo (nas matérias de locais para viajar), etc. Por conta do destaque que recebe em seu projeto editorial, vale destacar a fotografia de moda. A fotografia de moda – que traz muitos traços da foto publicitária – é uma área que ganhou bastante importância no Brasil em razão da valorização e midiatização das marcas de moda brasileiras. Fotografia de moda é aquela produzida para mostrar ou divulgar as peças de vestuário e acessórios. As fotografias de produtos de beleza (cremes, xampus e produtos de maquiagem) também podem ser consideradas fotografias de moda. O mercado para a fotografia de moda é fomentado pelas revistas especializadas, cadernos/seções de moda dos jornais e os catálogos produzidos por empresas fabricantes de peças de vestuário, calçados e acessórios. Há ainda, a produção de books fotográficos com fotos de modelos que são usados como portfólio para a obtenção de trabalhos. A fotografia de moda exige uma equipe de profissionais: cabeleireiro, maquiador, modelo, produtora de figurino entre outros, que refletirão diretamente no resultado da foto. Se a modelo estiver mal penteada, mal maquiada ou se as roupas forem horríveis, a imagem poderá ficar com- 110 Design em revista feminina prometida. Além disso, a etapa de produção que antecede o ensaio fotográfico também necessita cautela, afinal a escolha da locação errada pode comprometer todo o trabalho. Se a locação for externa, fatores naturais como sol, chuva, vento ou o horário que serão feitas as fotos podem interferir positiva ou negativamente nas imagens, por isso devem ser previamente calculados. Hoje, com difusão da moda em todos os meios e a exaustiva exposição na mídia fizeram com que determinados fotógrafos ganhassem status de “celebridades” como J. R. Duran, Bob Wolfenson, Jairo Goldflus, Mario Testino, Steven Klein, entre outros, que conferem status às revistas que os contratam. Mas isso não é um fenômeno recente, fotógrafos como Richard Avedon, Irving Penn, Henri Cartier-Bresson e Man Ray, também fig. 89 ocuparam lugar de destaque na época em que colaboraram para revistas como Harper’s Bazzar, Esquire, Vanity Fair, New York Magazine, Life, Vogue, etc. Os fotográfos de moda que apareceram em Claudia não tiEditorial de moda, Claudia, ano 48, no 2, fevereiro de 2009 nham o perfil de fotógrafo “fa- fig. 90 moso”. As revistas especializadas em moda, como Elle e Estilo, também da editora Abril, assim como Vogue, trazem com frequência este tipo de profissional. Com relação as imagens de alguns dos editoriais de moda Editorial de moda, Claudia, ano 48, no 4, abril de 2009 em Claudia, observamos o emprego da característica pós-mo- derna que Cauduro (2005) denomina de poluição ou imperfeição. Na edição de fevereiro de 2008, as fotos da reportagem mostraram a modelo junto as tapadeiras brancas – equipamento utilizado em estúdio fotográfico que auxiliam na iluminação – que não deveriam aparecer nas imagens (fig. 89). Em abril de 2009, Claudia repetiu o feito, desta vez expondo mais objetos, também próprios de estúdios fotográficos: câmera fotográfica, tripé, ventilador, tapadeira, rebatedor, flashes (fig. 90). Cauduro (2005) diz que a estratégica retórica da imperfeição utiliza elementos “acidentais, imperfeitos, produzidos pelo acaso ou até mesmo aqueles intencionalmente produzidos, representando a transitoriedade das significações, seu caráter efêmero”, o que possibilita que as interpretações tornem-se imprevisíveis, expandindo as possibilidades de significação, relacionando as falhas, os Design em revista feminina 111 resíduos ou os ruídos, à fragilidade da vida e das criações humanas, a interferência de agentes da natureza ou até mesmo, mostram a interferência humana (Cauduro, 2005, p. 202). No caso destes dois editoriais, foi possível perceber a interferência humana nas fotografias, além de mostrar a dinâmica envolvida em um ensaio fotográfico, trazendo um pouco deste universo à leitora. Este tipo de ruído presente nas imagens remete às fotos de bastidores, nas quais, assumidamente, estes elementos aparecem. Na reportagem Eles escolhem, elas vestem (fig. 91), de junho/2009, Claudia aplicou além das fotografias de moda, imagens dos bastidores da matéria, com os casais no camarim escolhendo juntos a roupa que a mulher iria vestir. Este tipo de imagem remete à foto jornalística, por conter dois elementos: o flagrante e o embrião narrativo. Buitoni (2007) relata que o caráter jornalístico deve-se ao ato de “imobilizar um quadro de uma sequência, o congelamento temporal fica mais evidente: o flagrante seria mais ‘jornalístico’ que outras fotos”. No segundo elemento, o embrião narrativo, muitas vezes presente no flagrante, ocorre “quando a imagem nos dá pistas de uma ação a ser continuada, ou que pelo menos nos sugira a existência de ações – antes ou depois – da cena registrada” (Buitoni, 2007, p. 107). No entanto, não podemos atribuir a essas fotos como sendo do tipo jornalística, pois o flafig. 91 Editorial de moda, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009. Ao lado, detalhe de uma das imagens dos bastidores aplicadas na reportagem grante é premeditado. Se é planejado, ele deixa de ser flagrante, pois o indivíduo não foi surpreendido. Já o embrião narrativo nestas fotos existe apenas pela presença de uma situação temporal, com a imagem de antes e depois, entretanto, essas imagens não contam efetivamente uma história, apenas ilustram uma situação (forjada) anterior. Outro recurso empregado, também considerado por Cauduro (2005) como pós-moderno, é o uso de imagens vernaculares, que resgatam formas e processos populares de representação, de conhecimento geral, mas de baixo valor estético. Este recurso foi raramente empregado, observado 112 Design em revista feminina fig. 92 apenas duas vezes, nas 21 edições analisadas. Claudia aplicou no leiaute da reportagem 7 ideias totalmente novas sobre o amor (fig. 92), a imagem de um botão de teclado, da tecla enter, e na parte final de outra matéria sobre relacionamento (fig. 93), a tecla delete. Essas duas representações pretendem relacionar com o ato de aceitação - enter (das ideias propostas pela revista) ou rejeição - delete (das atitudes masculinas Reportagem sobre relacionamento, Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008 fig. 93 mencionadas na matéria). A valorização das representações cotidianas e idiossincráticas tem como objetivo enfatizar a espontaneidade e informalidade que “gera uma proximidade maior com o receptor, aproximando-o de seu mundo cotidiano através da comunicação visual” (Cauduro, 2005, p. 203). Outra estratégia visual empregada em Claudia – também pouco utilizada – é a característica de digitalização ou tecnização. Alusivas aos primeiros computadores gráficos e jogos eletrônicos, as imagens têm visual simplificado e simulam as ferramentas de Reportagem sobre relacionamento, Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008 desenho de baixa definição, as chamadas imagens pixelizadas23. Geralmente, empregadas nas representações referenciadas em contextos de alta tecnologia ou futuristas, as imagens com esta característica recebem uma conotação de evolução tecnológica. Claudia emprega a digitalização em uma matéria sobre mamografia (fig. 94). A imagem pixelizada de uma mama, que parece estar em baixa resolução, remete à alta tecnologia do procedimento. Vale comentar também que em todas as edições fig.94 analisadas, Claudia fez o uso quase que absoluto de fotografias coloridas. Fotos em preto e branco foram utilizadas apenas duas vezes (abril e junho de 2008). Em uma dessas matérias, sobre cortes de cabelo (fig. 95) para não causar estranheza no leitor, o texto introdutório da matéria dizia: “Não estranhe as fotos em preto e branco, é justamente para você se concentrar apenas no corte”. Como sabemos, as cores trazem informações Matéria sobre mamografia, Claudia, ano 48, no 2, fevereiro de 2008 23 Imagem pixelizada: o termo pixelizada deriva da palavra pixel, que é o menor ponto que forma uma imagem digital, e o conjunto de milhares de pixels formam a imagem inteira. O pixel é o menor elemento em um dispositivo de exibição, como um monitor por exemplo. O termo pixelizado refere-se quando esta pequena unidade, o pixel, é ampliado dezenas ou centenas de vezes – como se estivéssemos visualizando diversos pixels – resultando em uma imagem distorcida. Design em revista feminina visuais, possivelmente, a pretensão dessa matéria te- 113 fig. 95 nha sido abster todas essas informações para que o foco fosse apenas nos cabelos das personagens. Acreditamos que o pouco uso de fotografias em preto e branco seja pelo status de arte que este tipo de imagem ganhou nos últimos tempos. Sobre este aspecto, Melo (2003) diz que de acordo com a teoria da informação: “o conteúdo de um novo meio é o meio antigo (no início, o conteúdo da fotografia era a pintura, o do Matéria sobre cortes de cabelo, Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008 cinema era o teatro, o da televisão, o rádio, depois cada um deles foi criando sua identidade própria). E complementa: “quando surge um meio novo, o meio antigo passa a ser considerado artesanato (e aparentado como arte), enquanto o novo é visto como tecnologia” (Melo, 2003, p. 55, 59). Manipulação / tratamento de imagens fig. 96 Como mencionamos anteriormente, as revistas femininas são mestres na arte do Photoshop e dos truques de maquiagem e produção para mostrar em suas páginas a mulher perfeita. Em Claudia isso não foi diferente, qualquer tipo de “defeito” que a modelo ou famosa possa apresentar (pintas, sardas, sinais ou rugas de expressão) foram apagados a fim de transmitir à leitora o estereótipo de beleza pefeita. Em Claudia não hou- Matéria sobre finanças, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2008 ve a preocupação em mostrar o verdadeiro, o real. Ou fig. 97 melhor, isto pode contradizer com a missão editorial da revista. Publicar, por exemplo, gorduras salientes em uma modelo que ilustra uma matéria sobre tratamentos contra gordura localizada irá contradizer com a proposta da reportagem. As diversas reportagens publicadas mensalmente sobre técnicas de aperfeiçoamento corporal e rejuvescimento pregam a conquista da perfeição estética, dessa forma, todo o projeto editorial está em sintonia com o projeto visual: mulheres perfeitas estampam as pautas para conquistar a perfeição (corpo/rosto). Matéria sobre educação, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 Entretanto, não é somente para corrigir imperfeições que os softwares de tratamento de imagem são utilizados. Muitas vezes, eles proporcionam efeitos surpreendentes às imagens que seriam muito difíceis de serem obtidos apenas com um clique fotográfico. Um desses efeitos é o contraste de escala como mostram as figuras 96 e 97. O contraste de escala ocorre 114 Design em revista feminina quando há imagens amplas ao lado de imagens reduzidas, efeito que pode ser conseguido de duas formas: pela alteração dos tamanhos relativos de duas ou mais imagens; ou através da comparação de objetos reais diferentes, dentro de uma mesma composição. Dondis (1997) diz que a distorção da escala “pode chocar o olho ao fig. 98 manipular a força a proporção dos objetos e contradizer tudo aquilo que, em função da nossa experiência, esperamos ver” (Dondis, 1997, p. 127). Embora o contraste possa ser empregado com todos os elementos básicos (linha, tom, cor, direção, forma, etc), é com o contraste de escala que ele é mais utilizado. Para Dondis (1997) “o contraste é a ponte entre Matéria sobre stress, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 a definição e a compreensão das ideias visuais, não no sentido verbal da definição, mas no sentido visual de tornar mais visíveis as ideias, imagens e sensações” (Dondis, 1997, p. 129). Podemos perceber que algumas imagens com o efeito de contraste de escala, desprendemse do real, como mostra a figura 98. Com isso, despertam a imaginação do leitor e possibilita a criação de diferentes interpretações. Este tipo de imagem confirma o pensamento do fig.99 fotógrafo Silva (2006) que diz que a fotografia é um instrumento capaz de não somente detectar objetos, mas também ativar nossa habilidade de imaginá-los. “Assim, a foto pode tanto ser um registro, um retrato ou um documento, quanto uma ilustração, uma interpretação ou uma descrição de alguma coisa” (Silva, 2006, p. 1-2). As fotomontagens presentes em Clau- Matéria sobre comportamento, Claudia, ano 47, no 10, outubro de 2008 fig. 100 dia (fig. 99 e 100) também tiveram a capacidade de suscitar a imaginação do leitor. Geralmente, as fotomontagens ocorrem com a fusão de duas ou mais imagens. Atualmente, com os ferramentas presentes em sotwares de manipulação de imagens, como o Photoshop, possibilitam essas fusões com facilidade, rapidez, permitindo ao designer Reportagem sobre atualidades, Claudia, ano 48, no 7, maio de 2009 Design em revista feminina 115 exercer uma liberdade criativa sem precedentes. O designer pode cortar, sobrepor, rotacionar as imagens ou aplicar diversos efeitos. Nas 21 edições analisadas da revista Claudia o recurso de fotomontagem foi empregado com bastante frequência. Homogeneidade visual Vivemos em uma época de saturação visual. Ao entrarmos em uma banca de revistas nos deparamos com inúmeras publicações diante de nossos olhos, disputando por nossa atenção. Diante de uma imensidão de imagens e cores que estão ao nosso redor, estamos expostos diariamente a diversas narrativas visuais, que contribuem para a alfabetização do nosso olhar. Nesse sentido, Abreu diz que por meio das revistas, nosso olhar também se constrói na medida em que interage com a variedade de narrativas visuais apresentadas pelas diversas publicações existentes e nos coloca diante de valores estéticos também variados que nos obriga a estabelecer novas relações e comparações que influenciam nosso forma de ver o mundo (Abreu, 2009, p. 37). Atualmente, nosso olhar tem sido alfabetizado de forma homogênea devido à repetição e massificação de imagens semelhantes, presentes em muitos veículos de comunicação impressa. Além de repetitivas, vemos, diversas vezes, imagens clichês, ou seja, estereotipadas. Em Claudia, isto também aconteceu. Mesmo nas imagens produzidas pela editora, alguns assuntos foram ilustrados com representações visuais que caem no lugar-comum. Pudemos observar o uso de imagens clichês em algumas edições, uma delas é a matéria Questão de pele (julho/08). A reportagem foi ilustrada com três modelos juntas, cada uma com diferentes traços étnicos, colo nu, rostos com maquiagem suave (fig. 101) . Este tipo de representação para diferentes etnias é recorrente em revistas femininas em pautas sobre os diferentes tipos de pele, como pudemos ver na reportagem sobre maquiagem para os diferentes tons de pele publicada na revista Cabelos & Cosméticos (fig. 102). fig. 101 Matéria sobre tratamentos de belza para as diferentes tonalidades de pele, Claudia, ano 47, no 7, julho de 2008 fig. 102 Matéria sobre maquiagem para diferentes tonalidades de pele, Cabelos & Cosméticos, ano 5, no 28, junho de 2006 116 Design em revista feminina fig. 103 fig. 104 Em outras duas matérias sobre pele publicadas em Claudia (fig 103 e 104), ambas foram ilustradas com a imagem de um bebê, pois é muito comum a associação Editorial sobre tratamento para pele, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 Editorial sobre tratamento para pele, Claudia, ano 42, no 3, março de 2003 fig. 106 fig. 105 entre uma pele bonita com a pele de um bebê. O terceiro exemplo traz uma matéria de Claudia sobre doenças na tireoide ilustrada com uma imagem de uma modelo com a borboleta no pescoço (fig. 105). Como a Matéria sobre tireoide, Claudia, ano 47, no 7, julho de 2009 Matéria sobre tireoide, Plástica & Beleza, ano 11, no 99, dezembro de 2008 glândula da tireoide tem formato semelhante à da borboleta é recorrente este tipo de associação, como vemos na matéria da revista Plástica & Beleza (fig. 106). Por fim, constatamos em nossa pesquisa a presença de fotografias inspiradas em revistas internacionais, não só de editoriais mas também de imagens publicitárias que, assim como as imagens clichês, evidenciam a homogeneização visual que ocorre nas imagens da imprensa feminina. Possivelmente, isto ocorra porque as pessoas que trabalham com revistas femininas costumam ter acesso a publicações internacionais na busca por atualização sobre o que acontece no mercado e, com isso, acabam sugerindo pautas e fotos idênticas às que aparecem nestas revistas. Geralmente, as imagens que surgem nas revistas internacionais irão aparecer tempos depois nas revistas nacionais, em razão da diferença das estações climáticas, como é o caso dos Estados Unidos e Europa. Em Claudia, muitas ideias de revistas internacionais foram adaptadas, visando facilitar a viabilização das fotos ou adequação ao projeto gráfico da revista. Claudia, por exemplo, publica fig. 107 Editorial de beleza, Claudia, ano 47, no 4, dezembro de 2008 fig. 108 Matéria sobre dieta, Allure, ano 47, no 4, abril de 2008 Design em revista feminina 117 na grande maioria das vezes, fotos em estúdio com fundo branco, como mostra a figura 107. Na foto da revista Allure (fig. 108), onde possivelmente tenha sido inspirada, nota-se o revestimento do banheiro. Em algumas fotos, vemos que ocorrem certas adaptações mas que não alteram significativamente a imagem. Mesmo com essa pequena alteração de fundo, vimos que a imagem de Claudia assemelhou-se muito com a foto da revista Allure. Outra adaptação pode ser notada na figura 109. A reportagem de Claudia trouxe uma raça de cachorro diferente da imagem “original” publicada na revista Glamour (fig. 110). Apesar da pequena mudança, ficou evidente que se trata de uma cópia da revista em questão. A matéria original fala de cabelos cacheados, porém serviu perfeitamente para ilustrar a reportagem 36 questões cabeludas, que tratava de dúvidas sobre cabelos. Talvez, esta adaptação tenha ocorrido porque esta raça de cachorro com pelos longos não seja tão fácil de encontrar no Brasil. fig. 109 Matéria sobre Cabelos Claudia, ano 48, no 2, fevereiro de 2009 fig. 110 Matéria sobre Cabelos, Glamour, maio de 2008 Na figura 111, a modificação foi no figurino da modelo (na foto original a modelo usava um vestido roxo, fig. 112). Como Claudia quase não empregou cores em seu projeto gráfico, optouse por fazer a modelo nua. Exceto as matérias de moda, as fotos da revista em geral não trazem modelos vestidas com cores fortes, mas sempre tons neutros ou sem roupa. A semelhança entre as fotos está na pose, ângulo, atitude do médico, maquiagem e esmaltes escuros e anéis grandes. fig. 111 Editorial de beleza, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 fig. 112 Reportagem sobre procedimentos injetáveis, Allure, fevereiro de 2008 118 Design em revista feminina Em algumas composições, constatamos que não houve adaptações ou mudanças, tratam-se de cópias da matérias publicadas no exterior. Na figura 113 vimos uma reportagem de Glamour sobre como encontrar nódulos no seio, que foi ilustrada com mãos tocando um seio de plástico. Na figura 114, da revista Claudia, notou-se exatamente a mesma coisa. O mesmo ocorreu em uma matéria sobre bases publicada na revista The Oprah Magazine (fig. 115) ilustrada com um rosto de uma modelo pintado com peças de um quebra-cabeças. Na figura 116, de Claudia, vimos exatamente a mesma imagem, só que um pouco mais aproximada. fig. 113 Matéria sobre câncer de mama, Glamour, outubro de 2008 fig. 115 Reportagem sobre bases, The Oprah Magazine, setembro de 2007 fig. 114 Matéria sobre câncer de mama, Claudia, ano 47, no 7, janeiro de 2009 fig. 116 Seção fixa Beleza essencial sobre bases (maquiagem), Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008 Design em revista feminina 119 Em outra reportagem de Claudia vimos a mesma prática de cópia, entretanto com a tradução para a língua portuguesa. A reportagem sobre proteção solar (fig. 117) trouxe a frase Eu amo o sol nas costas de uma modelo na praia. A mesma frase (só que em inglês) em imagem semelhante esteve presente na revista Self (fig. 118). A única diferença que reside entre as duas fotos é, obviamente, a língua e que, a imagem de Claudia tratou-se de uma fotomontagem, na qual uma praia foi aplicada no fundo. As sombras e luzes artificiais na imagem denotam a manipulação. Na foto de referência, a imagem da revista Self dá todos os indícios de ter sido realmente fotografada na praia, pois uma característica marcante de seu projeto gráfico é, justamente, a produção quase que absoluta de fotos em locações externas, com a presença de iluminação natural onde apareceram, muitas vezes, elementos naturais, como areia, vegetação, vento, mar, rio, etc. Possivelmente, esta mudança tenha ocorrido para facilitar a produção da imagem. Uma foto na praia necessita mobilizar uma equipe de profissionais até o litoral, o que gera gastos muito maiores do que uma foto em estúdio. Por fim, notamos que algumas imagens presentes em Claudia não foram apenas inspiradas em editoriais de revistas internacionais, mas também, em imagens de anúncios publicitários. Este tipo de imagem (a publicitária) é largamente disseminada em diversos veículos de comunicação, o que provoca a sensação de déjà vu. A foto da propaganda de máscara para cílios de Nivea Beauté (fig. 119) serviu de inspiração para a ima- fig. 117 fig. 118 gem da matéria sobre previsões astrológicas (fig. 120). Embora sejam propostas totalmente distinas, as duas fotos mostram o rosto escondido com um baralho aberto, evidenciando os olhos destacados com maquiagem. Portanto, diante dos exem- Matéria sobre proteção solar, Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008 fig. 119 Matéria sobre proteção solar, Self, julho de 2007 fig. 120 plos apresentados e muitos outros que encontramos mas não incluímos para evitar repetições, podemos dizer que a homogeneização das imagens da imprensa feminina acontece em nível global, quebrando fronteiras regionais e culturais. Propaganda da Nivea de máscara para cílios, Votre Beauté, abril de 2008 Reportagem de previsões astrológicas, Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008 120 Design em revista feminina 3.5.2.5 Ritmo e Sequenciamento O sequenciamento do conteúdo editorial de Claudia assemelhou-se ao espelho do tipo “miolo nobre” apresentado por Ali (2009) no item 2.2.2.5. Este tipo fig. 122 conteúdo editorial Sumário 1 Sumário 2 Eu e você de espelho inicia-se com as seções e reportagens mais curtas e segue num Claudia Online ritmo crescente com as matérias cada vez mais longas. Expediente A revista Claudia iniciou o posicionamento de seu conteúdo com as seções padrões de uma revista (sumário, carta do editor, carta dos leitores, expediente, etc) e, logo após 10 seções, apresentou sua primeira reportagem, a Estrela da capa, entretanto, espelhada com anúncios (fig. 122). A matéria de capa variou entre 4 ou 5 páginas, na qual a abertura aparece em página dupla e o Sua opinião Horóscopo Conversa com Danuza Conexão Claudia 1 Conexão Claudia 2 Matéria de capa Entrevista Matéria de atualidades restante, sempre em páginas simples (à esquerda ao lado de anúncios, como Básicos de Claudia mostra a simulação resumida do espelho), (fig. 123). Look total até R$ 280 As duas reportagens seguintes, entrevista e uma matéria de atualidades, também são posicionadas da mesma maneira: abertura em página dupla e o fig. 121 restante em páginas simples espelhadas com anúncios. O posicionamento de reportagens em páginas simples, ao lado Desfile de moda e beleza Beleza essencial Fique mais bonita Balcão de beleza Nutrição iteligente A sua saúde Dinheiro agora de anúncios, fez com que o conteúdo Os livros que a gente ama editorial recebesse interferência visu- Coisa de Criança al dos anúncios. Para White (2006) isto ocorre porque a página de uma revista não é uma unidade isolada em si, e sim, página dupla, que não dá para separar. Para o autor, mesmo que a página da di- Turma teen Dilema de mãe Amigo bicho O que eu faço agora? Atualidades Atualidades 2 Claudia educar para crescer Relacionamento reita seja um anúncio, ele irá interferir no Comportamento visual da página da esquerda (um edito- Atualidades rial) e vice-versa, como podemos observar na fig. 121. Nesta matéria, na segunda página dupla, vemos que o excesso de imagens, diversas fotos da modelo e dos óculos, juntamente com as imagens anúncio, deixou a página dupla, muito poluída. Na última sequência, como o anúncio não traz imagens e pouco texto, Editorial de óculos, Claudia, ano 47, no 12, novembro de 2008 Supertendência a interferência visual foi bem menor. Moda Beleza Perfil masculino Sexo Diversos Saúde Decoração Onde encontrar Página da vida seção r e p o rtag em Sequência do conteúdo editorial de Claudia Design em revista feminina 121 fig. 123 anúncio seção anúncio seção anúncio seção anúncio seção anúncio anúncio seção anúncio ma t é r i a d e capa matér i a d e capa (co n t.) anúncio en t r e v i s ta e n t r ev i s ta (co n t.) anúncio ma t é r i a a t ua l i d a d e s matér i a at ua lida d es (co n t.) anúncio seção seção anúncio seção anúncio seção anúncio anúncio seção anúncio matéria anúncio matéria anúncio co mp o rtam e n to cpto. (cont.) anúncio moda beleza perfil mascu l i n o perfil masculino (cont.) anúncio relacionamento filhos anúncio anúncio r e p o rtag em Simulação resumida do espelho de Claudia. anúncio decoração seção seção anúncio 122 Design em revista feminina Esta interferência ocorreu tanto nas reportagens espelhadas com anúncios, como nas seções de uma página, sempre posicionadas nas páginas pares ao lado de anúncios. Após o posicionamento de três reportagens “quebradas” com anúncios, seguiu o restante das seções, sempre nas páginas pares. Na visão de White (2006), uma revista é um meio que aplica um leiaute após o outro, o que faz com os efeitos se acumulem sinergicamente num todo que se torna maior e mais poderoso que a soma de suas partes. Por isso, Claudia posicionou o mesmo tipo de conteúdo (seções), um após o outro e sempre nas páginas pares para criar familiaridade e ritmo a cada “virada” de página. O autor complementa que “o espaço não é estático, mas cinético, plástico, fluente, corre da esquerda para a direita e depois para a página seguinte” (White, 2006, p. 15). O mesmo ocorreu com as reportagens. Após a aplicação de todas as seções, iniciou-se o posicionamento das matérias, uma na sequência da outra, sem quebras, para firmar a relação de continuidade de espaço/tempo. Algumas reportagens terminaram na página da esquerda e receberam um anúncio ao seu lado, entretanto, o ritmo não foi quebrado, pois tratava-se da página final da reportagem. Diferente do que acontece com aquelas reportagens que foram posicionadas no início da revista que foram quebradas ao meio com anúncios. As matérias mais visuais, como a de moda, beleza e decoração, nunca foram espelhadas com anúncios. Outro aspecto referente ao ritmo de uma publicação é que a posição dos elementos na página pode interferir nesse processo, positiva ou negativamente. Na figura 124, vemos que o título e lead da reportagem foi posicionado após o conteúdo da matéria, o que pode confundir o leitor sobre onde inicia o texto. A navegação da página ficou comprometida, pois geralmente lê-se primeiro o título e o lead e só depois seu respectivo texto. Neste leiaute, vimos que o texto prevalece sobre a foto, o título e lead da matéria só aparecem no final do percurso dos olhos. O leitor também pode estranhar esta página, porque a diagramação apresentada difere totalmente dos leiautes presentes em toda a revista. Para White (2006) as páginas duplas são “eventos que ocorrem na sequência. Não existem isoladas e independentemente, mas apenas no contexto do grupo. Leva tempo para percebê-las, uma após a outra – seja de frente pra trás, fig. 124 seja de trás para diante”. Os leitores quando veem uma página, “lembram do que acabaram de ver (ou, pelo menos, são influenciados por isso)” (White, 2006, p. 34). Com a memorização de leiautes semelhantes, o ritmo foi quebrado com a presença de uma reportagem diferente das demais e de difícil navegabilidade. Matéria sobre cabelos, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 Design em revista feminina 123 3.5.3 Análise do projeto gráfico de Claudia Neste tópico entraremos em profundidade como se configura o projeto gráfico da revista Claudia nas 21 edições analisadas. Para compreender e apresentar como foram solucionadas as questões relativas ao design editorial, foi necessário relatar a proposta editorial de cada seção, editoria de reportagem, bem como das capas. Dessa forma, foi possível verificar qual a visualidade conferida a cada conteúdo editorial, de acordo com suas necessidades específicas. Como o projeto gráfico de uma publicação confere uma forma visual a cada conteúdo editorial assim como é o grande responsável por trazer identidade à revista, observamos como Claudia manisfesta sua personalidade por meio de seu projeto gráfico. 3.5.3.1 A proposta editorial e o projeto gráfico das reportagens Conforme apresentamos no item 3.2 – a fórmula editorial de Claudia – são diversas as editorias presentes na revista. A seguir, apresentaremos quais são as editorias de reportagens existentes em Claudia e sobre o que aborda cada uma delas. Vale relembrar que na fórmula editorial de Claudia, o cárater de aconselhamento esteve sempre presente, pretendendo ser útil para a leitora em diversas situações do seu dia a dia. No item 3.5.1, relatamos como se configuram as questões visuais no que diz respeito à tipografia, grade, imagens, diagramação, ritmo e sequenciamento da revista Claudia, no que se refere ao todo da publicação. Neste tópico, entramos em detalhes, editoria por editoria, como é o design das reportagens e, muitas vezes, permeando as mesmas questões visuais mencionadas. Em nossa análise pudemos notar a presença de diversos templates pré-estabelecidos, um para cada editoria, o que torna o projeto gráfico das matérias rígido e totalmente previsível. Mensalmente, são apresentados leiautes muito semelhantes, o que faz com que o leitor não se surpreenda com uma nova edição. Como a maioria de leitores de Claudia são assinantes (74%), um projeto gráfico mais diversificado contribuiria para cativar ainda mais seu leitor e, consequentemente, oferecer um produto de melhor qualidade. A seguir, veremos como é o design de cada reportagem de Claudia, inicialmente apresentando sua proposta editorial e depois seu projeto gráfico. Matéria de capa Desde seu surgimento na década de 60, Claudia trazia, eventualmente, capas com mulheres famosas, contudo, somente a partir de meados de 2003, as capas com celebridades em voga na mídia tornaram-se padrão fixo, repetindo-se todos os meses. Quase sempre atrizes, cantoras, apresentadoras de TV ou modelos famosas, e a reportagem de capa contando sua trajetória profissional, detalhes de sua vida pessoal e seu ritual de beleza, dieta e exercícios. O propósito dessa reportagem 124 Design em revista feminina é transmitir para a leitora a imagem de uma mulher para ser admirada ou até mesmo, invejada. Pretende-se que esta celebridade seja um exemplo a ser seguido, consequentemente, fomentar o consumo de seus produtos de beleza, roupas e acessórios. Também através dessa reportagem, prega-se o estereótipo de felicidade plena, pois todas essas mulheres mostraram-se realizadas, felizes e bem-sucedidas no amor e no trabalho. Subliminarmente quer dizer: assim como ela (a famosa), você também pode alcançar o sucesso. Para transmitir a ideia de mulher plenamente realizada, geralmente, elas aparecem nas fotos sorrindo e, em poses que sugerem um ação. Para conferir movimento às imagens, é usado ventiladores ou secadores de cabelo para fazer “voar” o cabelo e detalhes da roupa. Em diversas edições, as mulheres apareceram com vestidos longos, de tecidos leves e, às vezes, descalças, o que parece querer transmitir a ideia de uma beleza natural, espontânea e despretensiosa, o que é um contrassenso, pois elas estão muito ma- fig. 125 quiadas e em vestidos requintados. A reportagem de capa, muitas vezes, se apresentou em quatro ou cinco páginas, iniciando em página dupla e o restante, em páginas simples, espelhadas com anúncios. A página de abertura foi a única explorada visualmente, pois as demais como vieram acompanhada de anúncios, trouxeram Matéria de capa, Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 apenas o texto e foto bem reduzida da famosa. A maioria das fotos foi tirada em estúdio, nas 21 edições analisadas foram encontradas apenas duas ocorrências de fotos em locação: com a atriz Letícia Sabatella, em março de 2008 (fig. 125) e em junho de 2009 com a atriz Tânia Khallil em sua residência. Essas fotos se diferenciaram, pois mostraram a ambientação do local e iluminação natural. De forma geral, foram estabelecidos dois padrões de leiautes para a página de abertura: uma foto horizontal da famosa, preenchendo toda a página dupla, na maioria das vezes, com a mulher deitada em um puff, sofá ou no chão do estúdio (fig. 126); na outra opção foram aplicadas duas fig. 126 Matéria de capa, Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009 fig. 127 Matéria de capa, Claudia, ano 48, no 9, setembro de 2009 Design em revista feminina ou três imagens verticais da famosa em pé, apare- 125 fig. 128 cendo o corpo inteiro (fig. 127). Também foram vistos em duas edições, fotos verticais aplicadas horizontalmente (fig. 128). Na visão de White (2006) este tipo de posicionamento surpreende o leitor, pois é necessário virar a revista para observar a foto. “Uma característica potencialmente útil, raramente usada porque se acredita que ao girar a página pode ser uma chateação” (White, 2006, p. 23). Matéria de capa, Claudia, ano 47, no 1, janeiro de 2008 fig. 129 Outro exemplo de composição visual que tenta expressar movimento através de uma sequência de imagens foi visto na edição de julho de 2008, com a atriz Cléo Pires (fig. 129). Excepcionalmente, nesta edição, vimos uma proposta diferente das demais: uma foto grande closada de Cléo Pires e, na página ao lado, várias fotos menores da atriz fazendo diferentes expressões faciais, como se fosse uma sequência de um filme. Matéria de capa, Claudia, ano 47, no 7, julho de 2008 fig. 130 Outra proposta que saiu dos padrões foi vista nas edições de setembro e dezembro de 2008. Em vez de fotos produzidas em estúdio, com produção de cabelo, maquiagem e figurino, entre outros recursos, as imagens foram de bastidores24 do trabalho da atriz Grazi Massafera (fig. 130) e da apresentadora Ana Hickman. A reportagem de capa foi ilustrada com diversas fotos de bastidores e aplicadas pequenas ao longo de toda a página dupla. Matéria de capa, Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008 Esse tipo de foto remete à fotojornalística, pois pretende-se narrar por meio das imagens como é a rotina de trabalho da famosa. Nas páginas seguintes da matéria de capa, foram aplicadas fotos de trabalhos anteriores dessas duas mulheres. Da atriz Grazi Massafera, as fotos retrataram a rotina de gravação da novela em que a atriz atuava (Negócio da China, Rede Globo) e de Ana Hickman, os bastidores do programa que apre24 Fotos de bastidores (ou de making of): são fotos onde apareceram os bastidores do um ensaio fotográfico ou de uma gravação televisiva/cinematográfica. Geralmente, alguns objetos próprios desses cenários (câmeras fotográficas, holofotes, microfones, cabos, etc) aparecem nas fotos. Estas fotos se assemelham com as fotojornalísticas, pois dificilmente são posadas. 126 Design em revista feminina fig. 131 sentava (Hoje em dia, Rede Record). A ideia deste tipo de reportagem é mostrar o cotidiano e as particularidades das famosas, trazendo um pouco da sua realidade até a leitora. No editorial com Grazi, por exemplo, uma foto em destaque mostrou a atriz chegando à Rede Globo com joelheira e um texto, que relatava como ela havia se machucado. Dentre os padrões corriqueiros de reportagem de capa, houve outra proposta editorial e gráfica apresentada de forma inusitada: matéria de capa no formato de um editorial de moda. Em agosto de 2009, a jornalista e apresentadora Patrícia Poeta (fig. 131) mostra 5 diferentes visuais para diversas ocasiões. Esta versão de reportagem de capa ficou mais bem explorada visualmente com o uso de mais fotos em tamanho maior, não ficando limita- Matéria de capa, Claudia, ano 48, no 8, agosto de 2009 da apenas à primeira página dupla. Um breve texto na primeira página dupla contava a trajetória da jornalista e, no restante da matéria, fotos em páginas inteiras com as legendas das peças, e um texto sobre por que aquele tipo de roupa é adequada para aquela situação, a maquiagem ideal e uma aspa sobre a opinião da apresentadora. Este tipo de matéria não foi pioneira, em anos anteriores (setembro e dezembro de 2006, fevereiro/2007), reportagens de capa em formato de editorial de moda também foram vistas. Vale colocar também que sempre na edição de maio, mês em que se comemora o Dia das mães, Claudia saiu de seu padrão habitual e publicou uma famosa com seu filho(a) ou sua família. Em 2009, Angélica apareceu ao lado seu marido, Luciano Huck, e de seus dois filhos Joaquim fig. 132 Matéria de capa, Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008 fig. 133 Matéria de capa, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 Design em revista feminina e Benício (fig. 133). Em maio de 2008, 127 fig. 134 Giovana Antonelli fotografou em estúdio com seu filho Pietro (fig. 132). Em anos anteriores, sempre em maio, Claudia colocou mãe e filho não só na matéria, mas também, na capa: Carolina Dieckmann e Davi (2007), Isabeli Fontana e Zion (2004) e Priscila Borgonovi e João (2003). Este tipo de reportagem vai ao encontro da proposta editorial de Claudia, pois a revista tem grande parte de Matéria de capa, Claudia, ano 47, no 3, abril de 2008 seu conteúdo voltado para temas relacionados à familia. Outra possibilidade apresentada foi a utilização de fotos de empresas de banco de imagem, não produzidas pela equipe de Claudia, para ilustrar a capa e a reportagem de capa. Isto aconteceu quando a modelo Gisele Bündchen estampou as capas de março de 2009 e abril de 2008. Embora esse tipo de imagem imponha limites à revista por não poder adequar as fotos a seu projeto gráfico e editorial, neste caso, foi um ponto positivo, pois justamente proporcionou uma visualidade diferente, inusitada e surpreendente. Em uma das edições, por exemplo, Gisele apareceu com um vestido feito de fotos polaroides25 da própria modelo, grampeadas umas às outras (fig. 134). Esta foto foi publicada inicialmente na revista Esquire. Beleza e saúde A editoria de beleza e saúde é hoje uma das principais da revista, pois recebe mais destaque do que outros temas nas chamadas de capa, além disso, possui a maior quantidade de matérias e seções. Nas 21 edições analisadas, 13 foram as edições onde beleza ocupou o lugar de chamada principal. Na visão do filósofo Lipovetsky, as revistas femininas são as grandes responsáveis pela difusão das técnicas de embelezamento físico, como conta: a partir do século XX, são as revistas femininas que se tornam os vetores principais da difusão social das técnicas estéticas. Vemos multiplicar-se as recomendações relativas à aparência física: as revistas prescrevem às mulheres fazer ginástica todas as manhãs, tomar refeições leves para se manterem esbeltas, utilizar óleos solares para bronzear, maquiar os olhos e os lábios, depilar as sobrancelhas, passar esmalte nas unhas das mãos e dos pés” (Lipovetsky (2000, p. 155,157). Como as revistas femininas estão inseridas em um contexto social – que recebem influências culturais e comportamentais – não só refletem mas também se tornam agentes dos movimentos 25 Foto polaroide: foto tirada em máquina instantânea. Recebe este nome porque a primeira câmera deste tipo foi inventada pela Polaroid Corporation, em 1948. Antes da expansão das câmeras digitais eram utilizadas por fotógrafos para verificar a luz, antes de iniciar o ensaio fotográfico. 128 Design em revista feminina que acontecem na sociedade. E um desses movimentos que observamos e que ganhou força em Claudia foi a estética da magreza e a busca por rejuvenescimento. Lipovetsky (2000) conta que “as revistas femininas estão cada vez mais invadidas por guias de emagrecimento, por artigos que expõem os benefícios de uma alimentação equilibrada, receitas light e exercícios para manter e fig. 135 modelar o corpo” (Lipovetsky, 2000, p. 131). Na análise das 21 edições de Claudia, pudemos constatar que o projeto editorial de Claudia entrou na era da anti-idade e do antipeso através de chamadas de capa como: • Ame seu corpo: técnicas e truques para endurecer a barriga, firmar o bumbum, modelar as pernas e ter seios lindos (junho/2008); • Revolução de verão: plano de alimentação e exercícios para diminuir dois tamanhos até o fim do ano, a dieta que derrete a barriga, como romper o ciclo da gordura, meça seu QI de nutrição, as novas superfrutas (setembro/2008); • Missão anti-idade: a redação testa os últimos lançamentos e analisa textura, aroma, ab- Editorial de beleza, Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008 sorção e efeito; O que a ciência prevê para retardar o envelhecimento (junho/2009); • Viciadas em cremes revelam quais os seus produtos preferidos (junho/2009). Outro tema frequente em Claudia foram as matérias sobre cabelos, que predominaram em muitas chamadas de capa. Dentro da editoria de beleza e saúde houve quatro temas principais que permearam todas as reportagens: corpo (tratamentos estéticos, cosméticos, cirurgia plástica, dietas de emagrecimento, exercícios); rosto (tratamentos, cirurgia plástica e cosméticos); cabelo (cortes, coloração, penteados) e maquiagem (looks, produtos e tendências). Nas edições analisadas notamos que as matérias de beleza trouxeram fórmulas prontas, tanto de edição de texto como de leiaute. Havia, basicamente, cinco diferentes tipos de matérias de beleza / fig. 136 Editorial de beleza, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 Design em revista feminina saúde vistos nas edições analisadas, foram eles: 129 fig. 137 1) Em seis páginas, as reportagens de beleza foram ilustradas com fotos em página inteira, geralmente à direita e com texto em blocos (cada um com um tratamento específico) ou em formato de pergunta e resposta. Dentre às 21 edições analisadas, em 12 estiveram presentes este tipo de diagramação, em 10 o texto apareceu em blocos (fig. 135) e, em 2 edições (maio e fevereiro/2009) em formato de pergunta e resposta. A diferenciação foi que, em algumas matérias, a abertura da reportagem, vinha com a foto em página dupla. Em uma das edições maio/2009, em formato de pergunta e resposta, foram aplicadas também fotos de still26 de produtos no meio do texto (fig. 136). Neste tipo de reportagem os assuntos abordados foram bem diversificados, sempre visando o embelezamento corporal, seja do rosto ou do corpo, através de tratamentos, técnicas cirúrgias, maquiagem, dicas de cabelo, etc. 2) Também em seis páginas, o outro padrão adotado de edição de texto e de leiaute são as matérias do tipo textolegenda. Este formato ocorre quando o editorial apresenta texto curto, geralmente sobre a foto que se refere. Neste caso, a ênfase é dada para as imagens, o que torna a matéria Editorial de beleza, Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008 fig. 138 mais visual do que textual. Podemos ver na figura 137, que neste formato de reportagem, o texto referente a cada foto aparece em cima de cada imagem, também aplicadas sangradas em página inteira. Este padrão esteve presente em seis, das 21 edições analisadas dos anos de 2008 e 2009. Uma variação deste formato (texto-legenda) foi a aplicação de imagens de still de produtos de beleza, como mostra a figura 138. As fotos dos produtos também complementam as informações contida no texto. Neste caso, foram vistas apenas em uma edição (agosto de 2008), quando as fotos foram posicionadas em 1 página e 1/3, ao lado das dos produtos. 26 Still: foto de produtos, geralmente sem fundo (ou recortado). Editorial de beleza, Claudia, ano 47, no 7, julho de 2008 130 Design em revista feminina 3) Outro formato de reportagem de beleza foram as matérias do tipo “programa de verão”. Sempre publicadas em setembro, esta matéria de 16 páginas abordou, em cada página dupla, uma região do corpo ou um tema diferente (fitness, nutrição, dieta, cosméticos e tratamentos estéticos), porém todos os assuntos visaram o mesmo objetivo: conquistar um corpo perfeito para o próximo verão. Tanto na edição de 2008 (fig. 139) como na de 2009 (fig. 140), a página de abertura trouxe apenas uma foto e o lead da matéria e, no decorrer da matéria, várias imagens sangradas em página inteira ao lado do texto. Nos dois casos, as reportagens ficaram bem visuais com a exploração da fotos em tamanho grande e em páginas inteiras. O texto das reportagens se apresentou de forma diferente, em 2008, e houve tabelas de dieta, em 2009. O texto seguiu em blocos, cada um descrevendo um tratamento estético específico para aquela região do corpo. fig. 139 Programa de Verão, Claudia, ano 48, no 9, setembro de 2008. fig. 140 Programa de Verão, Claudia, ano 48, no 9, setembro de 2009. Design em revista feminina fig. 141 Reportagem destinada a diversas faixas etárias, Claudia, ano 47, no 8, agosto de 2008. 131 fig. 142 Reportagem destinada a diversas faixas etárias, Claudia, ano 47, no 8, março de 2009. 4) Outra reportagem de beleza com formato característico são aquelas destinadas a mulheres de todas as faixas etárias (20, 30, 40, 50, etc). Este tipo de reportagem foi visto em duas edições: em agosto/2008 sobre como ter mais energia e disposição (fig. 141) e, em março/2009, em o guia de nutrição (fig. 142). Neste tipo de reportagem, quatro diferentes mulheres ilustraram cada faixa etária, cada uma aparentando ter a idade referida no texto. Nas duas edições, quatro páginas foram dedicadas para cada faixa etá- fig. 143 ria, com isso, pode-se explorar imagens em tamanho grande, bem como fotos de still que ilustravam informações descritas no texto. Reportagens deste tipo também apareceram na editoria de moda, como mencionaremos adiante. 5) O último formato de reportagem de beleza abordaram as tendências em cabelo e maquiagem da próxima estação (primavera/verão ou outono/inverno). A matéria apresentou os looks dos desfiles de moda nacionais e internacionais como mostra a figura 143. Publicadas duas vezes por ano, geralmente, trazem uma quantidade maior de fotos para mostrar à leitora o maior número possível de visuais. Em cada página dupla, uma imagem recebeu maior destaque, seguida de fotos menores e de textos curtos. Editorial de beleza, Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008. 132 Design em revista feminina Portanto, notou-se que os tipos de matérias de beleza mencionados, obedecem claramente templates pré-estabelecidos. Zappaterra (2007) conta que para jornais e revistas, templates flexíveis aceleram o processo de criação e produção de leiautes e dão às páginas um design coeso e global que pode ser perdido nos dias frenéticos de fechamento27. Para a autora, os páginas templates podem simplificar, mas também restringir em termos de design. Dessa forma é preciso ficar atento para que as páginas não se pareçam muito semelhantes, edição após edição, como ocorreu em Claudia. Moda Os editoriais de moda (fig. 144) foram dispostos em dez páginas e é a matéria que possui o maior número de páginas na revista, isto porque este tipo de matéria necessita de uma mais páginas para expor o maior número de peças e acessórios de vestuário. E, para aumentar ainda mais as sugestões de peças para o leitor, no final da matéria, uma página dupla dispõe outras opções de peças de vestuário e acessórios, para cada foto apresentada na matéria. As roupas que apareceram nesta última página dupla, chamada de Pesquisa de mercado, tiveram preços mais módicos se comparados com as peças das imagens principais. Uma frase ao lado da retranca explicava o propósito dessa página dupla final: selecionamos peças de nossa reportagem de moda e procuramos versões em várias faixas de preço para você escolher as que caibam no seu orçamento. Noris Martinelli. fig. 144 Editorial de moda, Claudia, ano 48, no 9, setembro de 2009 27 Fechamento: no ramo editorial é o período que antecede o envio dos arquivos para a impressão. É associado como um período de intensa correria para o cumprimentos dos prazos. Design em revista feminina 133 Claudia, por não ser uma revista especializada em moda, trouxe pautas bem diversificadas, a fim de agradar um grande número de leitoras: Para mulheres gordinhas, Quatro diferentes estilos de corpo, Jeans para mulheres de verdade e Respostas para suas dúvidas de moda são alguns exemplos de pautas mais democráticas e que tentam se aproximar da realidade da leitora. De acordo com Morin (1997), os editoriais de moda são um instrumento de democratização que permite ao público imitar a elite e coloca-se a serviço da aderência identificativa da seguinte forma: fotografias dos modelos de alta costura, conselhos práticos para adaptar a moda corrente, as toilettes dos anos anteriores, receitas para adaptar a confecção ao estilo da alta costura, etc... Identificamos em Claudia os tipos de abordagens descritas por Morin (1997) nas chamadas de capa: -Moda. Babados, transparência, longuete... Nossa editora tira suas dúvidas (setembro/2008); -As tendências dos desfiles em moda, cabelo e maquiagem escolhidas por nossas editoras (março/2009); -Moda. A fenomenal jaqueta fashion de 159 reais e outras peças que são verdadeiros curingas para a crise (maio/2009). Pudemos ver por meio dessas chamadas, o caráter de aconselhamento a fim de adaptar o que foi apresentado nos desfiles, ao dia a dia da leitora. Também confirmando o pensamento de querer imitar ou referenciar o estilo proposto pela alta-costura, algumas destas reportagens apresentaram imagens de desfiles de grifes internacionais. Morin (1997) esclarece que moda exerce um poder de atração nas pessoas por duas razões: “a necessidade de mudança em si mesma da lassidão do já visto e da atração do novo” e “o desejo de originalidade pessoal por meio da afirmação dos sinais que identificam os pertencentes à elite” (Morin, 1997, p. 142). A proposta gráfica dos editoriais de moda não variou substancialmente de uma edição para outra. O leiaute das matérias foi, frequentemente, o mesmo: título, lead, legendas e fotos sangradas. Em cada foto, um subtítulo antecede o pequeno texto-legenda que discorre sobre a peça, seu tecido e maneiras de usar. Nas 21 edições analisadas, houve apenas dois editoriais que foram fotografados em locações externas, o restante foram todos em estúdio. Em Claudia, assim como na maioria dos editoriais de moda de outras revistas, cada foto foi aplicada sangrada em página inteira ou em toda a página dupla, recurso que na visão de Bhaskaran (2006) tem “um efeito poderoso, embora nem todos os designers têm o luxo de tanto espaço ou budget para aplicar imagens sangradas por toda a publicação” (Bhaskaran, 2006, p. 75). Em raras edições, vimos fotos ladeadas de margens brancas e, também fora do padrão, mais de uma foto na mesma página. Na última página dupla, o Pesquisa de mercado, o leiaute diferiu-se do restante das páginas. Lado a lado na parte superior, apareceram as imagens que foram aplicadas na matéria e, embaixo, as fotos de still de peças semelhantes e /ou equivalentes. Vale lembrar que as fotos destas peças foram fotografadas no manequim (posteriormente apagado no Photoshop), pois reproduz com mais fidelidade o caimento das roupas no corpo. 134 Design em revista feminina fig. 145 Editorial de moda para diferentes faixas etárias, Claudia, ano 47, no 11, outubro de 2008 Em duas edições, a matéria de moda foi apresentada no formato “para cada faixa etária” como ocorre nos editoriais de beleza. Na reportagem deste tipo publicada em 2008 (fig. 145), uma mulher famosa, que já foi capa de Claudia, ilustrou cada faixa etária. Nas páginas à direita, apareceram fotos da famosa publicadas anteriormente, bem como sua respectiva capa. Nas páginas à esquerda, segue a foto atual produzida para este ensaio com a mulher vestindo a sugestão de roupa. Para fig. 146 mostrar um maior número de visuais em cada faixa etária, as páginas dupla seguintes traziam mais duas fotos, cada uma sangrada em uma página. A outra reportagem desse formato foi publicada em agosto de 2009 (fig. 146). Em apenas quatro páginas, a reportagem mostrava peças para as seguintes faixas etárias: 20, 30, 40, 50, 60 e 70. O espaço destinado para cada idade foi de apenas meia página que vinha acompanhado de duas fotos de desfiles e diversas fotos de peças de vestuário e acessório. Devido ao espaço reduzido para cada idade e o excesso de imagens, resultou em uma reportagem visualmente poluída, principalmente na segunda página dupla, que foi visto um número de fotos maior ainda. Matéria de moda para cada faixa etária, Claudia, ano 48, no 8, agosto de 2009 Design em revista feminina 135 Atualidades e gente Outra editoria presente em Claudia foi a Atualidades e gente, abrigando as matérias de cunho social, reportagens sobre acontecimentos recentes, discussões sobre temas em voga no momento, entrevistas com personalidades em destaque na atualidade e histórias de vida de pessoas. As revistas femininas, em sua grande maioria, bem como Claudia, não têm como foco principal abordagens de temas atuais, polêmicos ou de fatos recentes. Geralmente, direcionam grande parte de seu contéudo para os temas mais relacionados ao universo feminino como moda e beleza. Buitoni (20009) comenta que “atualidade e imprensa feminina não mantém laços muito estreitos. As revistas femininas costumam publicar matérias como maquilagem de inverno, culinária de verão e assim por diante”. Entretanto, a autora considera que são ligações temporais fracas, pois um suco que pode ser tomado em um verão pode ser republicado anos depois. As pessoas famosas que ocupam a maioria das páginas de “realidade” também atingiram uma certa atemporalidade, pois um perfil de um ator também pode ser publicado num mês ou no próximo. “Mesmo quando tratam de realidade, a indeterminação temporal é muito grande” (Buitoni, 2009, p. 25). Claudia a fim de quebrar este estigma, trouxe atualidade à revista por meio de reportagens com pessoas, temas em discussão no momento e na seção Conexão Claudia. As reportagens de atualidades podem trazer temas polêmicos, intelectualizantes ou que requerem da mulher uma reflexão, como mostrou algumas delas: • O Brasil precisa de você, mulheres na política (se- fig. 147 tembro/2008); • Mulher invisível, mulheres negras falam sobre preconceito racial (outubro/2008); • Não se engane: álcool, fumo e remédios são drogas, malefícios dessas substâncias (março/2008); • Descriminalização da maconha (fevereiro/2008), fig. 144; • Os 100 anos da imigração japonesa (março/2008); • O mapa do aborto (junho/2008), etc. Reportagem sobre a descriminalização da maconha, Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008 fig. 148 As matérias fixas sobre gente também trouxeram um pouco de atualidade à revista, pois relataram os trabalhos atuais ou passados dos entrevistados, fazendo uma pequena conexão temporal. As reportagens de gente fixas foram: • Claudia Entrevista (fig. 145): entrevista com uma personalidade em destaque das mais diversas áreas (políticos, artistas, escritores, terapeutas, ativistas, professores) com texto editado sempre em formato de pergunta e resposta; Entrevista com Inês Alberti, diretora executiva do Unifem (Fundo de desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher), Claudia, ano 49, no 5, maio de 2009 136 Design em revista feminina fig. 149 • Perfil Masculino (fig. 149): narrou a trajetória e particularidades de um ator (nacional ou internacional), excepcionalmente na edição de maio de 2008, uma atriz (Salma Hayek) foi publicada. A forma de edição desta matéria variou bastante: pergunta e resposta, texto corrido, texto em blocos, etc; • Mulheres a frente de seu tempo (fig. 150): contava a história de vida de uma mulher reconhecida por seu trabalho social, militância política ou Perfil com o ator Dan Stulbach, Claudia, ano 48, no 3, março de 2008 fig. 150 engajada em causas sociais. Na figura 150 vemos a reportagem sobre a história da modelo e fotógrafa de guerra Lee Miller. O leiaute das reportagens fixas da editoria Gente não variou muito de uma edição para outra. Em Entrevista do mês, a página que apareceu fotos grandes, foram apenas as de abertura, com a foto do entrevistado em página inteira, em página dupla ou Reportagem sobre a história de vida da fotógrafa Lee Miller, Claudia, ano 48, no 4, abril de 2009 uma em cada página. Na página seguinte, por serem páginas simples espelhadas com anúncios, apareceram apenas o texto e uma aspas do entrevista. O mesmo acontece com o perfil masculino (fig. 149). A página dupla de abertura foi explorada fig. 151 visualmente, e o restante seguiu apenas o texto, uma imagem bem pequena do entrevistado e uma aspa em vermelho. O perfil masculino pode ter fotos produzidas pela editora ou compradas de empresas de bancos de imagem, nos casos de atores internacionais. A diagramação das matérias sazonais de atualidades variaram muito de acordo com a pauta, entretanto, independentemente do tema, essas matérias apresentaram, em geral, a seguinte visualidade: imagem explorada maior na página dupla de abertura e o restante, texto e imagens reduzidas. Como mostrado no item ritmo e sequenciamento (3.5.2.5), estas matérias apareceram logo no início da revistas, sempre espelhadas com anúncios. Outra reportagem que aparece sazonalmente e, que Matéria de turismo, Claudia, ano 47, no 7, julho de 2009 no sumário pode vir dentro desta editoria, são as matérias Design em revista feminina 137 de turismo, publicadas apenas próximo às férias de julho e de final de ano (fig. 147). Visualmente agradáveis, as reportagens exploram belas imagens dos locais, a fim de despertar no leitor a vontade de viajar para aquele lugar. A diagramação é bastante diversificada e pode variar de acordo com o posicionamento dos anúncios, que podem vir intercalados ou não com a matéria. O texto é geralmente pequeno e o destaque é dado para as imagens. Espiritualidade, religião e astrologia fig. 152 Os assuntos espiritualidade, religião e astrologia foram apresentados através de horóscopos, oráculos, previsões lunares, baralhos, santos, misticismo, etc. As reportagens que apareceram nesta editoria foram temas que são modismo na atualidade. O tarô, por exemplo, que já esteve muito em moda, principalmente nos anos de 1990, hoje, deu lugar a cabala (fig. 153), principalmente com a divulgação pela mídia de sua adepta celebridade, a cantora Madonna. Matéria sobre espiritualidade, Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 fig. 153 Como religião é um tema polêmico, a revista Claudia nunca tomou partido de uma ou outra religião, tratou o assunto com imparcialidade. Na edição de janeiro é padrão colocar a chamada de maior de destaque, a previsão do horóscopo do ano que se inicia. Nas edições analisadas, notamos a presença de uma reportagem específica na edição de julho, o Guia da Lua, com previsões astrológicas Reportagem sobre cabala, Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008 baseadas no ciclo lunar. Esporadicamente, apareceu uma matéria sobre um livro que tratou de algum assunto de cunho “espiritural”. As matérias de astrologia e espiritualidade foram ilustradas, na grande maioria dos casos, com ilustrações digitais (fig. 152 e 153). Verificamos a contratação de diferentes profissionais para a feitura desses desenhos, o que possibilitou uma grande diversidade de estilos e traços. Comportamento, sexo e relacionamento As reportagens que abordaram estes três temas foram as que mais tiveram o caráter de aconselhamento. São inúmeros os conselhos, dicas e ideias de como agir, pensar, fazer sexo, comportar-se, relacionar-se, etc. As reportagens de comportamento trouxeram temas como felicidade, autoestima, pensamentos positivos, gestos gentis, etc. Um exemplo de matéria de comportamento foi a re- 138 Design em revista feminina fig. 154 portagem O que pode destruir a segurança de uma mulher e como recuperá-la, que tratou de autoestima (fig. 154). As reportagens de sexo, em geral, deram dicas de como melhorar ou aprimorar a relação sexual, mas o tema foi abordado de forma leve, não tão picante como faz a revista Nova. As reportagens de relacionamento variaram entre Como conquistar o homem certo (setembro/2009), Reportagem sobre segurança (psicológica) da mulher, Claudia, ano 47, no 9, setembro de 2008 De volta ao mercado [recém-solteiras] (setembro/2008), Eu perdoei uma traição (dezembro/2008). Os temas re- fig. 155 correntes de relacionamento amoroso foram: traição, solteirice (questões próprias da atualidade) e conquistar o homem certo (visão que reafirma a busca pelo príncipe encantado e a necessidade de afirmação e dependência da felicidade da mulher a partir do homem). O projeto gráfico das matérias desses três temas têm características peculiares. As matérias de sexo foram fre- Matéria sobre sexo, Claudia, ano 48, n 7, junho de 2009 o fig. 156 quentemente diagramadas com ilustrações, como ocorre nas reportagens de astrologia e espiritualidade. Das 21 edições analisadas, os desenhos humorísticos do cartunista Caco Galhardo estiveram nas matérias de sexo em 9 edições. (fig. 155). Os cartoons retrataram com humor as situações relacionadas com a pauta. E, como mencionamos anteriormente, as ilustrações são mais expressivas e permitem mais associações abstratas. O cartoon que apareceu na matéria de sexo, por exemplo, (fig. 155) retratou uma situação irreal, Reportagem sobre como conquistar e manter o homem certo. Claudia, ano 48, no 9, setembro de 2009 fig. 157 pois mostrava até passarinhos saindo dos olhos do homem. Já as matérias de relacionamento e comportamento trouxeram tanto ilustrações (fig. 157), como fotografias (fig. 154 e 155), entretanto as imagens fotográficas foram vistas com muito mais frequência. Em algumas reportagens, a matéria apresentou imagens conceituais e abstratas, o que possibiltou ao leitor criar diferentes interpretações. Na figura 156, por exemplo, noivinhos de Matéria sobre comportamento masculino, Claudia, ano 47, no 8, agosto de 2008 topo de bolo representaram uma situação também irreal: a noiva fisgando o noivo com uma vara de pescar. Design em revista feminina 139 fig. 158 Reportagens de cunho social Outro conteúdo integrante da revista foram as reportagens: Claudia educar para crescer, Prêmio Claudia, Claudia planeta sustentável e Fórum Claudia pela mulher brasileira. Todas essas reportagens mostraram Claudia engajada em temas sociais como a educação brasileira, preocupação com a ecologia e questões delicadas que envolvem a mulher. O Prêmio Claudia (fig. 158) é um evento realizado anualmente desde 1996 que homenageia mulheres atuantes nas áreas de ciências, cultura, negócios, trabalho social e políticas públicas que tiveram um trabalho de destaque naquele ano. Próximo ao evento, a revista publica a história das candidatas (três de cada categoria) que irão concorrer ao prêmio e, no final da reportagem, as maneiras de como votar. O Fóruns Claudia pela mulher brasileira (fig. 159) é um Matéria sobre o Prêmio Claudia, Claudia, ano 48, no 8, agosto de 2009 fig. 159 evento realizado pela revista a fim de debater assuntos relevantes na atualidade, sempre relacionados ao universo feminino. Alguns temas debatidos foram: - Beleza, o poder e o preço (junho/2009); - Carreira, filhos e vida pessoal – mulheres em busca de um novo equilíbrio (março/2009); - Não a violência doméstica (novembro/2008); Matéria sobre o Fórum Claudia pela Mulher Brasileira, Claudia, ano 48, no 8, agosto de 2009 - A Saúde da mulher (agosto/2008). O evento foi mediado pela diretora de redação Marcia Neder e recebeu participantes de diversas áreas a fim de debater o tema proposto. Realizado em diferentes cidades do Brasil, o evento é publicado posteriormente através de um resumo com os pontos mais relevantes do debate. fig. 160 A partir de setembro de 2008, a revista trouxe o Claudia educar para crescer (fig. 160), reportagens dedicadas a ajudar os pais a acompanhar melhor tanto a educação dos seus filhos como o andamento e a qualidade da educação nas escolas. Matéria sobre educação do projeto Educar para crescer, Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008 O presidente da editora 140 Design em revista feminina Abril Vitor Civita28 relata que a editora Abril em parceria com o Ministério da Educação decidiu desenvolver este projeto social, pois tem a convicção de que é de fundamental importância tanto para o progresso pessoal de cada estudante, como para o desenvolvimento do País e o futuro das instituições. O projeto disponibiliza um portal (www.educarparacrescer.com.br) com reportagens exclusivas, ações que já deram certo, o ranking das escolas públicas brasileiras, ferramentas que estimulam a mobilização dos cidadãos, agenda de eventos relacionados, etc. Outra reportagem com proposta e leiaute idênticos foram os editoriais com a retranca Claudia Planeta Sustentável (fig. 161), publicadas em apenas 6, das 21 edições analisadas. As matérias discorrem sobre as questões de preservação do ambiente, sustentabilidade e atitudes em prol de um mundo ecologicamente correto. Assim como as reportagens de educação, tratou-se de outro projeto patrocinado pela editora Abril e mais cinco empresas, também suportado por um website (www.planetaustentavel.com.br). Sempre veiculadas ao lado de uma página de anúncio sobre o projeto, essas duas reportagens se assemelham à publi-editoriais29 que, apesar de não serem assumidos pela editora Abril, ficou evidente a estratégia de marketing, não só em benefício próprio, mas também das outras empresas que querem estar vinculadas aos projetos sociais, como esclarece Nickels (1999, p. 60): “o marketing para causas sociais se tornou uma forma popular de as empresas ligarem certos produtos a causas específicas e, ao mesmo tempo, ajudar os consumidores a se sentirem bem comprando em uma empresa socialmente responsável”. As reportagens de cunho social, Claudia educar para crescer e Claudia planeta sustentável tiveram leiaute peculiar e muito similar: iniciaram a reportagem em página simples à direita (para justamente posicionar o anúncio do projeto à esquerda) com uma imagem grande (podendo ser também uma fotomontagem), título e olho. Na página dupla sequencial seguiu o texto da reportagem e imagens fig. 161 Matéria do projeto Planeta sustentável, Claudia, ano 47, no 12, fevereiro de 2008 28 Texto extraído da carta do editor Vitor Civita, presidente da editora Abril. Claudia, setembro de 2008, p. 13. 29 Publi-editoriais (ou informe publicitário): reportagens que são pagas para serem veiculadas. Algumas empresas preferem fazer publicidade em forma de reportagem para tentar enganar o leitor se valendo de recurso técnicos e gráficos para transmitir sua mensagem comercial. O termo publi-editorial é uma mistura entre as duas palavras: publicidade e editorial. Design em revista feminina iguais ou semelhantes às usadas na página de abertura. 141 fig. 162 A matéria Prêmio Claudia trouxe as fotos das candidatas ao lado do texto que relatava sobre seu trabalho. Esta matéria foi republicada em várias edições, com o mesmo leiaute, até a entrega do prêmio. A reportagem Fóruns Claudia pela Mulher Brasileira trouxe na página dupla de abertura uma foto grande dos participantes no evento e, no restante da matéria, apenas o texto, aspas e outras fotos pequenas do evento, mostrando as pessoas debatendo. Decoração A última reportagem que apareceu na revista foi a de decoração e, em 19 edições, apresentou a mesma proposta editorial: imagens mostrando os ambientes da casa de uma determinada pessoa. A matéria que, mensalmente, trazia a mesma pauta e leiaute idêntico, foi composta basicamente por fotografias, apenas com um pequeno texto sobre o imóvel e as legendas dos ambientes e objetos que aparecem nas imagens. No final da matéria, assim como ocorreu no editorial de moda, foram sugeridas opções de peças semellhantes às apresentadas na matéria (fig. 162). Matéria de decoração, Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 A exceção ocorreu em apenas duas edições. Na edição de dezembro de 2008, a proposta foi diferente, a matéria mos- fig. 163 fig. 164 trou decorações de Natal de três diferentes residências (fig. 163). Em outubro de 2008, a casa da colunista Danuza Leão (fig. 164) foi o tema da pauta de decoração, e na abertura da matéria apareceu o texto de sua crônica, que excepcionalmente, nesta edição, não foi publicado logo nas primeiras páginas da revista. Matéria de decoração de Natal, Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008 Matéria de decoração com Danuza Leão, Claudia, ano 47, no 10, outubro de 2008 142 Design em revista feminina fig. 165 O que nos chamou a atenção foi a repetição da mesma fórmula quase que em todos os meses, o que nos parece que um tipo de matéria foi definida como a certa, como a que dá resultado e, com isso, não foi mais preciso pensar em oferecer algo diferente a leitora. Este padrão foi adotado em 2003, quando entrou a diretora de redação Marcia Neder e é mantido até hoje. Em edições dos anos 2000 a 2002, cons- Matéria de decoração sobre cadeiras, Claudia, ano 41, no 2, fevereiro de 2002 tatamos pautas diversificadas de decoração, como mostra uma reportagem sobre cadeiras (fig. 165). Os temas variavam a cada edição bem como a maneira como eles se apresentavam na página. As reportagens de decoração trouxeram todos os meses a mesma proposta editorial e o mesmo projeto gráfico. O leiaute foi idêntico edição após edição: na primeira página dupla, duas fig. 166 imagens sangradas, uma em cada página. Na segunda página dupla, diversas fotos dos ambientes, juntamente com a foto bem pequena do morador e, na página ímpar, uma foto sangrada em página inteira. Na última página dupla, na página par apareceu uma foto sangrada e, na página ao lado, as fotos dos produtos semelhantes juntamente com as fotos dos ambientes na parte superior a que se referem. No mês de dezembro (2008), como a proposta foi decorações de Natal, o leiaute mudou (fig. 163, p. 145). Cada página dupla trouxe uma foto de uma decoração de Natal diferente. A página de abertura também saiu do padrão, pois foi aplicada apenas uma foto em página dupla (uma das personagens componentes da matéria). A outra exceção, na reportagem sobre a casa da colunista Danuza Leão (fig. 164, p. 145), foi a diagramação da matéria que saiu diferente apenas na primeira página de abertura, pois foi aplicada a foto de Danuza Leão e o texto de sua crônica. Matéria de decoração, Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008 Design em revista feminina 143 fig. 167 Suplemento Claudia Comida & bebida Em análise de algumas edições do suplemento de culinária Claudia Comida & Bebida (fig. 167), observamos que ele é composto por 26 páginas de miolo e quatro páginas de capas e tem formato estabelecido: cinco reportagens, sempre com a mesma proposta editorial e leiaute. Claudia tem como tradição a publicação de receitas por ela atestadas e aprovadas desde seu primeiro projeto editorial inicial, da década de 1960. As reportagens abordam temas como, sugestões de compras, receitas e textos sobre alguns ingredientes ou acessórios de cozinha. Muitas reportagens, especialmente as de capa, seguem as festas, datas comemorativas ou períodos específicos: Páscoa, Natal, Festa Junina, Capa suplemento Claudia Comida & Bebida, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 férias escolares (receitas fáceis que agradam as crianças), aniversário (na edição de outubro, quando se comemora o aniversário da revista), etc. São cinco as reportagens que compõem o suplemento, a seguir apresentaremos a proposta editorial e gráfica de cada uma delas: • Reportagem de capa (fig. 168): sempre temática, trouxe diversas receitas e sugestões de produtos (bebidas e acessórios de mesa/cozinha) para cada prato. Na edição de junho de 2009, o tema festa junina mostrou as receitas típicas da festa folclórica. Nesta reportagem, bem como em muitas outras edições, o leiaute apresentou uma foto sangrada na página de abertura ou duas fotos, também sangradas, cada uma preenchendo uma página. Na página dupla seguinte, o texto de cada receita apareceu em uma coluna vertical, ao lado de fotos de imagens de sugestões de produtos (bebidas e acessórios de mesa/cozinha) para aquele prato. As fotos dos pratos fig. 168 Matéria de capa do suplemento Claudia Comida & Bebida, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009. 144 Design em revista feminina fig. 169 que apareceram na matéria foram reproduzidos na parte superior da página. • Comprar bem: nesta matéria um ingrediente, tempero ou um alimento específico foi o assunto da reportagem, e o texto discorreu seus benefícios e utilizações. No restante da matéria, receitas sobre o tema foram apresentadas e no final, houve sugestões de produtos e a explicação sobre uso ideal de cada um deles. Na edição de junho de 2009 (fig. 169), o assunto foi feijão e além de detalhar todos os seus benefícios, no final da matéria, havia uma amostra de cada tipo de feijão com a explicação do uso apropriado de cada um deles. No leiaute, a página de abertura trouxe a imagem do ingrediente que foi tema da matéria sangrada em Matéria sobre feijão, suplemento Claudia Comida & Bebida, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 fig. 170 página inteira ao lado da página que trouxe texto, título e lead da reportagem. No restante da reportagem, as receitas foram apresentadas com a foto em um pouco mais de meia página e o texto da receita logo abaixo. No última página, seguiram fotos de still com as sugestões de produtos ou do ingrediente mencionado. • Invenções de Bettina (fig. 170): a culinarista que está há muito anos à frente da cozinha de Claudia ensinou passo a passo três receitas de um tipo de prato específico e deu dicas sobre cada um deles. Invenções de Bettina, Claudia Comida & Bebida, ano 48, no 6, junho de 2009 O leiaute trouxe, além das fotos dos pratos, ima- fig. 171 Matéria sobre sobremesas, Claudia Comida & Bebida, ano 48, no 9, setembro de 2009 Design em revista feminina 145 gens do passo a passo da receita e a foto da culinarista, sempre no canto superior esquerdo. A foto da culinarista contribui para conferir credibilidade à receita. A posição onde ficam as imagens dos pratos, as fotos de passo a passo, bem como o texto, variaram a cada edição. • Matérias de pratos principais ou sobremesas (fig. 171): trazendo receitas temáticas, sobre um tipo de prato (massa, carne, peixe, frango, risotos, etc) ou ingrediente específico (sobremesas de acabaxi (fig. 167), esta reportagem nos pareceu ser a matéria principal do suplemento, pois foi a que apresentou o maior número de páginas do suplemento (6 páginas), além de ser a mais explorada visualmente, com a foto de cada prato aplicado sangrada em toda a página. Na última página dupla, as receitas dos pratos em colunas verticais seguiram ao lado de sugestões de produtos (bebidas, acessórios de mesa ou cozinha). As fotos dessa matéria receberam produção visual que enriqueceu a matéria, com a inclusão de pratos trabalhados, acessórios e toalhas finas. Como a foto foi bem aproximada, a riqueza de detalhes, onde pôde-se ver a textura e consistência dos alimentos, despertara o desejo de consumo do alimento – principal objetivo de uma foto de culinária. fig. 172 • Receitas lights (fig. 172): no final do encarte há uma matéria de página dupla com duas receitas lights ou diets. Na edição de setembro de 2009, o tema da matéria foi gelatina e duas receitas de baixa caloria foram sugeridas. O leiaute trouxe as fotos sangradas em página inteira, propositalmente nos cantos das páginas, para que fosse acomodado o texto das receitas ao seu lado. Matéria sobre receitas de gelatinas de baixa caloria, Claudia Comida & Bebida, Claudia, ano 48, no 9, setembro de 2009 3.5.3.2 A proposta editorial e o projeto gráfico das seções As seções fixas de Claudia foram em média 23 por edição, eventualmente, em algumas edições, uma ou outra não foi publicada. Na edição de janeiro de 2009, por exemplo, a quantidade de páginas da revista foi reduzida, o que ocasionou a ausência de algumas seções. Geralmente, isto acontece devido à baixa ausência publicitária. Os assuntos das seções são, em sua grande maioria, os mesmos das reportagens, pois servem de suporte às editoriais da revista. De acordo com Zappaterra (2007), são as seções de uma revista que denotam o estilo e tom da publicação e, por isso, merecem atenção no que que se refere ao aspecto editorial e gráfico. Ao contrário do que deveria ser, Claudia não dedicou muito de seu tempo ao tratamento gráfico das seções, pois aplicou mês a mês, leiautes com formato muito rígido, com nenhuma ou mínimas variações, como observamos nas 21 edições analisadas. Além de um visual idêntico que provoca a sensação de “já visto”, o leitor tem acesso ao mes- 146 Design em revista feminina mo tipo de conteúdo editorial em todas as edições. Uma solução de diagramação foi encontrada e mantida, alterando apenas o conteúdo (fotografias e o texto). O texto foi editado da mesma forma, edição após edição. Nas seções com texto em formato de notas, por exemplo, elas foram posicionadas sempre no mesmo local, com o texto do mesmo tamanho e sempre do mesmo tipo (nota com foto de still, nota com pesquisa estatística, etc). Na visão de Zappaterra (2007), o design gráfico das seções é, geralmente, estruturado em páginas templates, na qual uma gama de fontes selecionadas (tamanhos e pesos), cores e adereços (ícones gráficos, réguas e elementos-chave) são estabelecidas em um grade pré-definida. Na visão da autora, o design contemporâneo recebe influências da área de web design com o uso de boxes, cores e tamanhos variados de fontes que tornam a página mais dinâmica e energética. Porém isso não ocorreu em Claudia, que aplicou rígidos templates que não se modificaram, na qual geram previsibilidade e não surpreendem o leitor, o que é prejudicial para a publicação. Acreditamos que uma mobilidade maior poderia trazer enriquecimento editorial e visual à revista. As seções poderiam receber mais atenção pois correspondem a 28% de todo o conteúdo editorial da revista, contra 72% de reportagens30. A grande maioria das seções fixas de Claudia foi de uma página e teve posicionamento sempre nas páginas pares (à esquerda) que contribuiram para acomodar os diversos anúncios de página simples ao longo da revista. White (2006) conta que os anunciantes preferem as páginas à direita (ímpares), pois o ato de folhear implica segurar a revista com a mão esquerda, enquanto a direita vira as páginas da revista. O autor afirma ainda que a preferência dos anunciantes pelas páginas à direita favorece o lado editorial, pois ao posicionar editoriais nas páginas pares, cria um posicionamento rítmico, acumula força e cria expectativa no leitor. A partir do momento, em que todas as colunas estiverem à direita, a “mesmice” superará a preferência por páginas da esquerda ou da direita. As únicas seções que fugiram desse padrão de posicionamento foram as seções Básicos de Claudia, composta por 3 páginas duplas, e Beleza essencial, de página dupla. Em algumas edições, por causa da pouca quantidade de anúncios, as seções vieram em páginas ímpares e pares, espelhadas uma com a outra, o que resultou em uma confusão visual, especialmente porque o ritmo foi quebrado. Sobre este aspecto, White (2006) conta que permitir que a localização dos anúncios dite o posicionamento das seções, resultará em uma distribuição arbitrária e, com isso, a publicação ficará enfraquecida, porque o ritmo foi perturbado. Portanto, é de extrema importância que se crie um posicionamento fixo para os anúncios e para as seções, de forma que a publicação fique organizada visualmente, coerente e com o ritmo certo a cada virada de página. A seguir, detalharemos como se estabeleceu o design de cada seção/coluna fixa de Claudia, mostrando, primeiramente, sua proposta editorial e a seguir seu projeto gráfico. 30 Cálculo com base na edição de março de 2009 (no 3, ano 48), num total de 110 páginas de editorial, sendo 31 páginas de seções e 79 de matérias. Design em revista feminina 147 Sumário A primeira seção da revista é o sumário, localizado sempre nas duas primeiras páginas pares da publicação (fig. 169). Distribuída em duas páginas simples, essa seção não possui um nome específico, retranca, nem tampouco a palavra sumário, como é de costume em algumas publicações (fig.173). Na primeira página, concentraram-se apenas as reportagens que estiveram nas chamadas de capa. Na segunda, o texto foi subdividido por editorias (Atualidades e gente, Moda, Casa e consumo, Família e filhos, Beleza e Saúde e, eventualmente, Emoções e espiritualidade). Cada matéria ou seção seguiu abaixo de sua respectiva editoria e houve ainda o Sempre em Claudia, que abrigou as seções que não se encaixam em nenhuma dessas editorias, além das seções gerais da revista: carta da editora (Eu e você), contatos das marcas ou lojas mencionadas (agenda de endereços), seção sobre o conteúdo do website da revista (Claudia Online), etc. Os textos do sumário foram bem sucintos e na segunda página, na parte superior, aplicou-se aspas com um frase de um entrevistado mencionado em uma matéria. No sumário foi colocado também a foto da capa com seus respectivos créditos de fotografia, produção, cabelo, maquiagem e roupas. O leiaute da primeira página trouxe o logotipo vermelho e mês da publicação na parte superior e, abaixo, a imagem de uma reportagem (na grande maioria dos casos, da matéria de beleza), ocupando 2/3 da página. Na parte inferior, o texto em duas colunas descreveu as reportagens que estavam nas chamadas de capa, possibilitando que o leitor localizasse rapidamente uma determinada matéria. A segunda página do sumário empregou grade de quatro colunas, duas com os textos das reportagens e uma foto pequena da capa (para abrigar seus créditos), e as outras duas, imagens de algumas matérias (a moda e a decoração foram sempre incluídas) e uma ou duas fotos de still de objetos (geralmente, produtos de beleza). Sob cada imagem foi aplicado o número da página onde aquela fig. 173 Sumário, Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008 148 Design em revista feminina matéria encontra-se e, abaixo, em poucas linhas, um resumo sobre do que se trata. Assim, como na primeira página, o logotipo vermelho apareceu no topo, e ao lado aspas de uma matéria, que contracenou com outra aspas na parte inferior, exatamente no extremo oposto à outra. A única alteração observada nas 21 edições foi o uso da cor nas aspas simples. Zappaterra (2007) conta que o sumário é tradicionalmente localizado o mais próximo possível da capa e o mais importante é posicioná-lo sempre no mesmo local, pois a regularidade leva à familiaridade. A autora aponta ainda três características que o sumário deve ter: clareza para ler, simplicidade para navegar e fácil de encontrar. Com relação ao design, ela diz que a disposição e organização da página deve ser atrativa, lúcida, rápida de absorver e navegar para encontrar a matéria de capa ou a seção favorita, por exemplo. Ela diz ser relevante destacar matérias e seções importantes através de recursos visuais (tipográficos e imagéticos) e resumir os textos, a fim de atrair o leitor para uma ou mais reportagens, lembrando que alguns leitores do sumário podem não ter comprado a revista ainda. Pudemos notar no sumário de Claudia os conceitos propostos por Zappaterra (2007), pois posicionou o sumário sempre no mesmo local e bem no início da revista. Além disso, foi de fácil navegação, sintético (condensou em poucas linhas o assunto da matéria), concedeu destaque ao aplicar negrito no nome das reportagens e explorou uma imagem atraente que ocupa quase toda a página, despertando curiosidade no leitor pela edição. Eu e Você A coluna Eu e Você (fig. 174) – a tradicional carta do editor(a) – apresentou texto da diretora de redação fig. 174 Marcia Neder, com tema relacionado a uma ou mais matérias da edição. O texto que tratou a leitora com intimidade para se estabelecer uma relação mais próxima, introduziu a leitora aos assuntos principais discutidos em cada edição da revista. A grade estabelecida foi de duas colunas para o texto com as imagens na parte superior. A foto de Marcia esteve sempre aplicada do lado esquerdo, e à direita seguiram imagens de páginas de reportagens. Esta seção manteve o mesmo leiaute nas 21 edições analisadas, variando apenas a quantidade e posição das imagens da revista. Excepcionalmente, foram aplicadas fotos de bastidores de entrevistas (novem- Seção Eu e você, Claudia, ano 48, no 3, março de 2009 Design em revista feminina 149 bro/2008 e agosto/2009) e um retrato dos debatedores do 1o Fórum Claudia pela mulher brasileira. As fotos da diretora pareciam ter sido tiradas nas instalações da empresa, pois mostravam objetos, móveis próprios de escritório e, algumas vezes, em ambiente semelhante ao de uma redação. A diretora, que sempre aparecia sozinha em suas fotos, excepcionalmente veio acompanhada da atriz Bibi Ferreira, na edição de agosto de 2009. Outra sutil mudança observada foi a cor das aspas simples usadas como capitular, alternando entre vermelho, preto e branco com contorno preto. A assinatura de Marcia no final personifica a mensagem da página e transmite a ideia de ter sido escrita realmente por ela. O tipo de diagramação empregada nesta página foi citado por White (2006), que afirma que ao colocar o título embaixo da foto, faz com que eles correspondam juntos a uma unidade geminada de informação e, com isso, traz o leitor para dentro da página, incentivando-o a iniciar a leitura, processo que é denominado pelo autor de indução (induzir o leitor a ler a reportagem por meio de estratégias visuais). Claudia Online A seção Claudia online (fig. 175) trouxe seis diferentes notas31 sobre os conteúdos extras que estariam no website. Desde a edição de maio de 2008, um dos textos discorreu sobre um concurso cultural, o qual a leitora, acessando o site, concorreria a um produto de beleza, normalmente, um perfume de grife internacional. Outra nota fixa é Claudia no celular, tratava-se de um serviço tarifado, disponível às leitoras, de fig. 175 mensagens de texto com dicas sobre beleza, educação dos filhos, dilemas domésticos e financeiros. Na maioria das vezes, a nota principal (a que recebeu maior destaque pelo tamanho da imagem) referiu-se a um teste sobre um determinado assunto. A publicação contou com uma repórter e uma editora, responsáveis por produzir o conteúdo web, desta seção. O leiaute desta seção trouxe o endereço da homepage, destacado no topo da página que cumpriu o papel de um título, seguido da explicação sobre o que se refere a seção. A página é ilustrada com imagens referentes as notas e, para complementar, foram inseridos elementos gráficos (ícones), próprios das ferramentas de navegação, como setas e mão, que remetiam à internet. A nota do teste apareceu com imagem em tamanho maior, recebendo maior destaque. 31 Seção Claudia Online, Claudia, ano 48, no 7, julho de 2009 Notas: texto curto, geralmente diagramado em colunas, referente a um determinado assunto. 150 Design em revista feminina Sua opinião Presente em diversas revistas, a carta dos leitores, nomeada em Claudia de Sua opinião (fig. 176), foi o canal direto entre o leitor e a revista, onde cartas, faxies ou e-mails foram enviados à redação com opiniões, sugestões e críticas, porém, foram publicados em praticamente todas as edições anafig. 176 lisadas, apenas elogios e comentários. O espaço também é destinado para a aplicação das erratas (erros publicados na edição anterior). A partir da edição abril de 2009, foi adicionado, no rodapé da página, aspas de uma personalidade famosa, contando por que lê a revista. Muita das participantes dessa área foram mulheres que já saíram em capas anteriores, provavelmente tiradas no mesmo dia das fotos de capa. O design da página com texto em três colunas, justificado e hifenizado, destacou duas notas (Capa e Por que leio Claudia) ao usar fonte em tamanho maior e aspa simples vermelha, também em tamanho grande. Seção Sua opinião, Claudia, ano 48, no 7, julho de 2009 No início dos comentários das leitoras também foi aplicada a aspa simples vermelha, porém menor, dando um toque de cor à página. Notou-se também a presença de subtítulos antecedendo os comentários, que em uma rápida leitura, revelaram sobre qual matéria se referia(m). Os nomes das leitoras no final dos comentários, com diferentes espaçamentos entreletras, auxiliaram a justificar as colunas para que não ficasse nenhum espaço na última linha. Esta seção foi sempre ilustrada com a capa da edição anterior, juntamente com a imagem da famosa que diz que lê Claudia. Eventualmente, foi inserido uma imagem de uma matéria, sempre na parte inferior da coluna central. Horóscopo O hóroscopo trouxe a previsão do mês vigente da edição para cada signo (fig. 177 e 178). Como esta seção foi de apenas uma página, não houve fig. 177 fig. 178 espaço suficiente para longas previsões, cada signo teve apenas quatro linhas de texto. O destaque foi para o signo que fazia aniversário naquele mês, que trouxe a previsão mais detalhada em 13 linhas de texto. Esta seção trouxe na retranca o mês vigente da previsão e foi ilustrada nas 12 edições de 2008 com diversas fotos (caixa de bijuterias, tênis, espelho, celular, etc) e Horóscopo, Claudia, ano 47, no 9, setembro de 2008 Horóscopo, Claudia, ano 48, no 7, julho de 2009 uma ilustração (representando o signo do Design em revista feminina 151 mês) aplicada sobre esta imagem (fig. 177). Essas imagens não tiveram nenhuma relação com o texto ou característica do signo, o que deixou em aberto seu significado, técnica retórica pósmoderna que Cauduro (2008) denomina de participação ou interação, onde geralmente não se privilegia nenhum significado em particular, deixando a interpretação por conta do receptor, tornado-se co-autor do significado. Nas edições de 2008 (fig. 177), o leiaute trouxe o texto justificado em duas colunas e com destaque para os nomes dos signos na cor vermelha. No ano seguinte, a diagramação permaneceu a mesma, porém foi retirada a cor do nome dos signos, e a imagem que ilustra a página passou a ser com as flores do signos (fig. 178). A retórica pós-moderna que deixava livre a interpretação da imagem, deixou de existir, pois passou a ser aplicada uma legenda explicativa abaixo da imagem (flor do signo: lírio). Na edição de fevereiro de 2009, não saiu a legenda, possivelmente por algum erro. Colunas assinadas A escritora Danuza Leão, que tem assinado a coluna Conversa com Danuza (fig. 179) desde 2006, escreveu sobre aspectos comportamentais da mulher retratados por meio de experiências da autora ou de histórias de outras pessoas. Na edição de abril fig. 179 fig. 180 de 2009, Danuza falou sobre a obsessão das mulheres por conquistar um corpo magro. Ela relatou suas experiências com dietas malucas e concluiu que hoje é menos radical. Embora o texto não dê conselhos diretos, percebeu-se sutilmente a mensagem que se queria transmitir. A Carta de Fernanda Young (fig. 181), publicada pela última vez em julho de 2008, com um texto mais ácido e um pouco agressivo, trouxe mensagem para os mais diversificados e inusita- Conversa com Danuza, Claudia, ano 48, no 4, abril de 2009 Conversa com Danuza, Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 fig. 181 dos destinatários: para o Pequeno Príncipe, à gordurinha localizada, à pátria amada, ao clitóris e até a Madonna. Possivelmente, pela postura irreverente e polêmica de Fernanda Young esta coluna não tenha sobrevivido por muito tempo, já que a proposta editorial de Claudia não tem este perfil. Nas edições dos anos de 2008 (fig. 180 e 181), ambas colunas apresentaram visual idêntico: texto justificado em duas colunas, foto preta e branca no topo e sangrada, título vermelho, capitular em cinco linhas e aspas em destaque. A partir de setembro de 2008, o leiaute de Conversa com Danuza sofreu alterações (fig. 179): sua foto foi trocada, passou a ser colorida e posicionada Carta de Fernanda Young, Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 152 Design em revista feminina em outro local e com novas dimensões. A capitular passou de letra para aspa simples, o título preto e uma aspas no rodapé. Vale destacar ainda, a presença de um espaço entre a foto e o texto, o que proporcionou um arejamento à pagina, em uma coluna que é predominantemente de texto. Na edição de aniversário (outubro de 2008), a coluna não foi publicada da forma tradicional, Danuza foi a personagem da reportagem de decoração, e o texto da sua coluna foi apresentado na página de abertura da matéria. A partir dessa edição, a mesma foto utilizada na matéria passou a vir mensalmente, ilustrando sua coluna. Conexão Claudia A seção Conexão Claudia trouxe pessoas e projetos sociais em destaque em diversos ramos de atuafig. 182 ção. Divididas em duas páginas, a primeira apresenta uma minientrevista com uma personalidade (não necessariamente famosa). Na segunda página, três a quatro notas sobre trabalhos de cunho artístico, social ou preservação ecológica. O leiaute da primeira página, com a minientrevista, trouxe a foto do entrevistado em 2/3 da página, com ou sem fundo (fig. 182). O leiaute com texto justificado não deixou espaço entre uma pergunta e outra, o que as separam foram os negritos nas questões e o nome da revista em vermelho no início das perguntas. A grade definida foi de três colunas, duas destinadas para a foto e uma para o texto. A Conexão Claudia, Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 posição do título e lead desta seção foram os únicos elementos que variaram nas edições analisadas. O leiaute da segunda página (fig. 183), com três a quatro notas, foi fig. 183 ilustrado com a foto da pessoa referida na nota principal em tamanho maior e uma imagem de um objeto. A nota sobre o objeto vinha contornada de um fio com uma seta na ponta para estabelecer uma relação entre o texto e a foto. A nota que não era ilustrada por nenhuma imagem recebeu texto em negrito e título vermelho. Em algumas edições, a retranca ou o texto da nota principal aplicado em cima da foto recebeu um quadro branco com transparência32, recurso que visa contribuir com a legibilidade do texto quando aplicada sobre fotos. O efeito de transparência permite ver a imagem que está por trás desse quadro. Conexão Claudia, Claudia, ano 47, no 11, novembro de 2008 32 Transparência (ou opacidade): quando um elemento (foto, figura geométrica, etc) recebe tonalidade mais clara do que sua cor original. A opacidade pode variar de 1 a 99%, dependendo o efeito que se queira dar. Design em revista feminina fig. 184 153 fig. 185 Seções com notas As seções que traziam texto em formato de notas apresentaram dicas, novidades e informações sobre assuntos específicos, foram elas: • A sua saúde (fig. 184): saúde; • Boa viagem (fig. 185): turismo; • Coisa de criança (fig. 186): comportamento, saúde e produtos para crianças; • Turma teen (fig. 187): comportamento, saúde e Seção A sua saúde, Claudia, ano 47, no 10, outubro de 2008 fig. 186 Seção Boa viagem, Claudia, ano 47, no 10, outubro de 2008 fig. 187 produtos para adolescentes; • Dinheiro agora (fig. 188): finanças pessoais; • Amigo bicho (fig. 189): o dia a dia da convivência com animas domésticos; • Fique mais bonita (fig. 190, p. 158): tratamentos e produtos de beleza; • Nutrição inteligente (fig. 191, p. 158): alimentação saudável. O leiaute dessas seções manteve-se fixo, como as Seção Coisa de criança, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 fig. 188 Seção Turma teen, Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008 fig. 189 notas foram sempre posicionadas no mesmo local, do mesmo tamanho e do mesmo tipo. Esta prática engessa o repórter, pois precisa escrever notas sempre do mesmo formato. Todas essas seções mantiveram a mesma diagramação nas 21 edições analisadas. Em todas essas seções – com exceção da Fique mais bonita e Nutrição inteligente – a diagramação foi mesma em todas as edições: imagem maior na nota principal (geralmente com fundo para delimitar o for- Seção Dinheiro agora, Claudia, ano 48, no 7, julho de 2009 Seção Amigo bicho, Claudia, ano 47, no 9, setembro de 2008 mato retangular), uma nota com foto de um objeto e duas notas sem imagens com uma delas com o texto em negrito. A nota ilustrada com foto de still situou-se no meio de dois blocos de texto e, por ser mais estreita e com um fio-seta, cria uma divisão entre as demais notas. Como a imagem do objeto apresentou-se deslocada à esquerda, esta seta serviu para identificar qual o texto se referia. Nas seções A sua saúde e Dinheiro agora, observamos a presença de uma quinta nota, sempre com um dado estatístico de uma pesquisa, onde um número (com percentual) apareceu em destaque. Na seção Dinheiro agora não houve foto de objetos e foi incluída na revista a partir de fevereiro de 2009, mas não foi publicada nas edições de março, abril e junho de 2009. 154 Design em revista feminina fig. 191 fig. 190 As seções Fique mais bonita (fig. 190) e Nutrição inteligente (fig. 191) tiveram leiaute um pouco diferente das demais. Na seção de nutrição conferiu-se nota principal ilustrada com uma imagem retangular, uma nota em formato horizontal com fotos de sugestões de um tipo de produto e outras duas notas sem imagens, sendo uma delas com texto em ne- Fique mais bonita, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 Nutrição inteligente, Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009 grito. Já a seção Fique mais bonita, com três notas, assemelhou-se à de nutrição, pois trou- xe também uma nota horizontal com fotos de um tipo de produto de beleza específico. O que diferiu as duas seções é que em Fique mais bonita, a foto da nota principal foi aplicada maior, na horizontal, ocupando quase toda a largura da página. fig. 192 Vitrina de novidades Claudia trouxe em seu projeto editorial, duas seções que fizeram o papel de uma vitrina de novidades, a Balcão de beleza (fig. 193 e 194) com os lançamentos de cosméticos e a Livros que a gente ama (fig. 192) com as livros recém-lançados. Os produtos de beleza que apareceram são os mais diversos: perfumes, maquiagens, cremes, óleos, sachês, etc. Já os livros publicados foram aqueles que tiveram algum apelo ao público feminino, como por exemplo, os livros Guia das curiosas, Mulheres sobre rodas e Feng Shui - o poder de atrair a prosperidade. Livros que a gente ama, Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008 No ano de 2008, em Balcão de beleza (fig. 193), os produtos foram diagramados em uma montagem que tinha o centro da página fig. 193 fig. 194 como referência e pareciam estar empilhados, um em cima do outro. Além disso, havia um contraste de tamanhos, em uma escala progressiva (do menor para o maior) e legendas ao lado de cada produto. Em 2009, essa montagem foi mudada e todos os produtos foram dispostos à esquerda da página, com algumas partes sobrepostas e as legendas em uma só coluna (fig. 194). Os números ao lado Balcão de beleza, Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008 Balcão de beleza, Claudia, ano 48, no 2, fevereiro de 2009 dos produtos serviram para identificá-los no Design em revista feminina 155 texto, recurso que é criticado por White (2006), pois irrita o leitor ao mandá-lo ler em outro local. A seção Livros que a gente ama (fig. 192) permaneceu com a mesma diagramação em 2008 e 2009: imagens dos livros ao centro e sobrepostos, com as legendas ao lado. Através de programas de manipulação de fotos, em cada livro foi aplicada uma sombra, além da imagem da parte lateral de um livro a fim de conferir profundidade às fotos. fig. 195 Dilema de mãe A seção Dilema de mãe (fig. 195) que dá suporte à editoria Família e filhos, abordou mensalmente um problema, onde um especialista o analisa e dá soluções para a mãe. Alguns temas abordados foram: • Ela fala tudo errado (março/2008); • Ela já se preocupa com o peso (dezembro/2008); • A namorada dele é má influência (agosto/2009). No final da página, o nome e currículo do consultor encerra a matéria. Geralmente participam desta seção sociólogos, pedagogos, pscicólogos, pe- Seção Dilema de mãe, Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008 diatras, etc, especializados em educação ou comportamento infantil ou adolescente. O leiaute da seção Dilema de mãe trouxe título que introduzia ao leitor o assunto que foi abordado, seguido logo abaixo por uma pergunta (dilema) que faz as vezes do lead. Como são citações de terceiros (leitora e consultor), tanto pergunta, quanto resposta foram iniciadas por aspa simples. O texto pôde vir com subtítulos e um fio separando as duas colunas apareceu na edição de dezembro (2008). Nas 21 edições analisadas, a única alteração foi a disposição da pergunta que até a edição de agosto de 2008, pois foi posicionada no espaço de uma coluna e em outra fonte. A imagem foi sempre posicionada no mesmo local, no canto inferior esquerdo. Geralmente, as imagens aplicadas desta seção são de empresas de banco de imagem. Mulheres que fazem a diferença Esta seção (fig. 196) contava a história de vida de uma mulher, geralmente, fig. 196 engajada em algum trabalho social. Algumas mulheres que saíram nesta seção foram: a arte-educadora Conceição Leite que usa o teatro para prevenir o câncer de mama (março/2008), Maria Estela Penteado Cardoso (abril/2008), a professora de inglês que dá aulas gratuitas a jovens da periferia e Maria da Penha Maia Fernandes (maio/2008), a inspiradora da Lei Maria da Penha. O leiaute foi semelhante ao Dilema de mãe: texto justificado em duas colunas com a foto da entrevistada no canto inferior esquerdo. A foto da mulher, produzida pela revista, trouxe alguma ambientação, objetos ou gesto que remetesse a sua história de vida. Seção Mulheres que fazem a diferença, Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008 156 Design em revista feminina fig. 197 Consulta aos especialistas As seções Consulta de beleza (fig. 197), O que eu faço agora? (fig. 198), A lei e você (fig. 199) e Relações delicadas (fig. 200) tiveram a mesma proposta editorial: especialistas em cada assunto responderam as dúvidas das leitoras. Este tipo de seção com perguntas dos leitores remete a um gênero muito antigo, presente nas revistas femininas desde seu surgimento e que Buitoni (2009) chama de correio sentimental. A seção Consulta de beleza, vista apenas na edição de janeiro de 2008, respondeu às dúvidas de beleza. A seção O que eu faço agora? surgiu em maio de 2008, no mesmo mês em que a Seção Consulta de beleza, Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008 última edição de Relações delicadas foi publicada, provavelmen- fig. 198 te para substituí-la. Esta seção abordava questões de relacionamento parental e conjugal. Quando surgiu a seção O que eu faço agora? o leque de temas se abriu, passando a abranger também comportamento social (relacionamento com o chefe, vizinho, amigos, parentes). A seção A lei e você, publicada pela última vez em abril de 2008, respondia às questões jurídicas das leitoras. Exceto a seção O que eu faço agora?, todas tiveram leiaute semelhante: texto em duas colunas e aspa simples no início das perguntas e das respostas Na seção Relações delicadas e A lei e você não haviam imagens. Consulta de beleza foi ilustrada com uma foto sangrada na parte superior à esquerda. Seção O que eu faço agora? Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008 A seção O que eu faço agora? foi ilustrada com um desenho que tentava recriar (ou aludir) a situação relatada em uma pergun- fig. 199 fig. 200 ta. Sempre do mesmo autor (Andrés Sandoval), a imagem pareceu ter sido feita à mão, pois trouxe marcas de giz de cera, lápis e técnicas de aquarela. O texto foi disposto em colunas de diferentes larguras. Em todas as colunas pudemos observar que as questões apareceram em negrito (destacando-as das respostas). Seção A lei e você, Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008 Seção Relações delicadas, Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008 Design em revista feminina 157 De visual novo e Desafio de moda e beleza A seção De visual novo (fig. 201) deu lugar à Desafio de moda e beleza (fig. 202) a partir de maio de 2009 quando deixou de ser publicada. A seção tinha a seguinte proposta: mostrar através de fotos do antes e depois as mudanças no visual após um corte de cabelo, tintura e maquiagem. O texto descrevia os procedimentos realizados e cada tópico esclarecia um processo diferente. Um texto ao lado da foto do “antes” expunha o desejo da personagem em relação a seu visual. Em Desafio de moda e beleza, a proposta expandiu, a fig. 201 transformação não ficava somente em cabelo e maquiagem, mas passou a transformar a aparência por inteiro, incluindo roupas e acessórios. A leitora descrevia seu desejo, pedindo orientação para ficar com um aspecto bonito ou correto, a fim de usar em uma determinada situação. Na figura 202, por exemplo, a leitora Cristiani pede orientação sobre como equilibrar a silhueta e montar uma produção estilosa e clássica, ideal para ir do trabalho a um jantar. Os texto dentro de balões contam o motivo da escolha daquela peça, preços, materiais e a que loja pertencem. Nos textos sobre os procedimentos realizados no cabelo e na maquiagem, apenas a descrição do que foi feito e o motivo. Em ambas colunas, uma aspa da participante relatou sua satisfação com relação a mudança de seu visual, sempre satisfeitas com o resultado. O leiaute da seção De visual novo trazia foto grande do “de- Seção De visual novo, Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008 fig. 202 pois” e uma pequena imagem do “antes”, com o texto em uma coluna. As fotos de “antes” e “depois” surpreendem o leitor com a mudança radical do visual da leitora. As imagens de “antes” foram sempre tiradas sem maquiagem ou qualquer produção, o que exacerba a diferença entre as duas imagens. A diagramação da seção Desafio de moda e beleza trouxe a foto do “depois” de corpo inteiro sangrada na página com fundo cinza bem claro e uma leve sombra atrás, e a foto de “antes” emoldurada em borda preta, remetendo aos antigos cromos fotográficos. As imagens dos balões apontavam para a peça de vestuário ou local do corpo mencionado no texto. A foto do “depois” em fundo cinza contrastava com os balões em fundo branco com efeito de transparência. Seção Desafio de moda e beleza, Claudia, ano 48, no 7, julho de 2009 158 Design em revista feminina fig. 203 Seções de moda A seção Na última moda (fig. 206) passou a se chamar Supertendência (fig. 205) em junho 2009 e manteve a mesma proposta: mostrar peças de uma tendência em voga naquela estação. A seção Esta moda vai durar (fig. 201), publicada pela última vez em janeiro de 2009, também trazia uma tendência específica. Na página Look total até R$... (fig. 207), iniciada em maio de 2009, mostrou um visual completo até um determinado valor. Observamos que a quantia nunca ultrapassou o valor de 300 reais. A seção Vitrine de acessórios (fig. 203), publicada pela última vez em abril de 2009, trouxe a cada mês um tipo específico de acessório (bolsa, sapato, brinco, anel, colar, pulseira, etc). To- Vitrine de acessórios, Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008 fig. 204 das essas seção tiveram como objetivo mostrar peças ao leitor de acordo com um tema ou tendência. Todas as seções mencionadas tiveram leiaute idêntico, com execeção de Vitrine de acessórios que, em função do tamanho das peças (geralmente pequeno), trouxe a foto mais aproximada. A diagramação apresentava a foto da modelo de corpo inteiro e sangrada na página e, à direita, as fotos das roupas e dos acessórios. Notamos que assim como ocorreram nos editoriais de moda, as fotos das roupas foram tiradas em um manequim, pois trouxeram marcas corporais como seios e cintura, o que nos fig. 205 Seção Supertendência, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 fig. 206 Seção Na última moda, Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008 Seção Esta moda vai durar, Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008 fig. 207 Look total até..., Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 Design em revista feminina 159 parece ser o procedimento ideal, pois mostrou ao leitor o correto caimento da roupa – manequim que é posteriormente apagado no processo de tratamento de imagens. Os textos dessas seções foram título, lead e legendas, sempre próximos aos produtos. Observamos ainda que as fotos das modelos geralmente carregaram alguma atitude, seja um gesto, movimento, postura corporal ou simplesmente, um olhar marcante. Um bom resultado foi obtido não só pelo talento da modelo, mas também do fotógrafo que a dirige incitando gestos, posturas, expressões e captando seus melhores ângulos. A seção Vitrine de acessórios (fig. 203) foi a que mais variou a diagramação das demais seções. A seção trouxe todos os meses a foto da modelo em diferente formato, corte, ângulo e posição na página, juntamente com as peças ao lado. Notamos que em uma mesma edição, muitas vezes, foi fotografada a mesma modelo para todas essas seções. fig. 208 Básicos de Claudia Disposta em três páginas duplas sequenciais, a seção Básicos de Claudia (fig. 208) teve como proposta trazer a leitora visuais completos (roupas e acessórios) de acordo com um determinado tema ou tendência. Cada página dupla apresentou um assunto ou estilo diferente e sugeriu diversas opções de peças. O leiaute trouxe a foto da modelo sangrada à direita como se ela estivesse andando e, raramente, olhando para a câmera. Assim como nas outras seções e matérias de moda, as roupas foram fotografadas em um manequim (posteriormente eliminado no Photoshop). As bolsas foram fotografadas cheias e os sapatos em dois ângulos diferentes, de frente e de lado, para que o leitor veja todos os detalhes. Na página dupla foram dispostas seis diferentes conjuntos de roupas e acessórios por meio de fotos de still com fundo recortado. O título informou o tema do mês da seção, enquanto o lead explicou como e onde usar. As legendas ficaram próximas às peças e também perto da foto da modelo. Até abril de 2008, apareceu ao lado da retranca, uma palavra sobre o tema do mês, como por exemplo: Básicos de Claudia/trabalho. Seção Básicos de Claudia, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 160 Design em revista feminina Em todas as edições analisadas, ocorreu que em três edições (setembro e novembro de 2008) em Básicos de Claudia, a página dupla foi quebrada em duas simples, possivelmente para comportar anúncios ao lado. Nestes casos, o leiaute desta seção nos pareceu comprometido, pois as peças ficaram perdidas na página. Beleza essencial A seção Beleza essencial (fig. 209), de página dupla, abordou um tema ou tipo de cosméticos com sugestões de produtos para o leitor. Blush, gloss, escovas de dente, bases, perfumes, lápis de olho e boca, pó bronzeante e aparelhos depilatórios fig. 209 foram alguns dos temas que apareceram nesta seção. Em algumas edições, um texto explicativo discorria sobre a forma correta de utilização destes produtos, entretanto, na grande maioria das vezes, o texto que apareceu foram título, lead e legendas dos produtos. A diagramação da seção Beleza essencial permaneceu semelhante em diversas edições: na página par, título e lead sob a foto sangrada Seção Básicos de Claudia, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 que, muitas vezes, preenchia toda a página, na página ímpar, produtos dispostos de forma di- versificada. Os produtos eram fotografados nos mais diversos ângulos, poses, às vezes, com alguns produtos em tamanho bem maior, resultando no efeito de contraste de escala ou todos alinhados simetricamente. A montagem, que varia muito a cada edição, utiliza diferentes princípios do design gráfico: simetria, assimetria, contras- fig. 210 te, repetição, etc. Dependendo da montagem, as legendas aparecem em cima da fotos, em quadros brancos com transparência. A foto sangrada em página inteira, minimiza o caos da página ao lado. Agenda de endereços A seção que trouxe os contatos das empresas citadas nas matérias e nos créditos das fotos, foi nomeada de Agenda de endereços (fig. 210) em 2008 e de Onde encontrar em 2009. Esta seção permite que o leitor tenha acesso aos contatos das lojas para que possa comprar o produto que tenha se interessado. A página de endereços apresentou leiaute de quatro colunas com algumas imagens de matérias no meio Onde Encontrar, Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009 Design em revista feminina 161 do texto. Para separar visualmente as informações foi aplicado negrito no nome das empresas. Página de fechamento As últimsa seções que aparecem em Claudia – também co- fig. 211 nhecida no ramo editorial como página de fechamento – foram Mulheres alteradas (fig. 211) e Página da vida (fig. 212) que surgiram a partir de junho de 2008. A seção Mulheres alteradas foi ocupada com ilustrações da cartunista argentina Maitena Inês Burundarena e abordou sátiras das relações amorosas e situações do cotidiano da mulher. O nome desta seção também foi o título do livro da artista que está em seu quarto volume e já foi traduzido em 12 línguas. Este tipo de proposta para página de fechamento com cartoons já esteve presente em Claudia, na década de 1970, com os desenhos do cartunista Ziraldo, conforme vimos anteriormente na página 99 (fig. 65 e 66). A seção Página da Vida contou histórias de vida de mulheres, em sua maioria, histórias de superação que servem de inspiração para as leitoras. Abaixo da retranca, uma frase Seção Mulheres alteradas, Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008 fig. 212 define a proposta desta seção: “Mulheres incríveis partilham experiências, desejos e sonhos”. O leiaute de Mulheres alteradas trouxe título acima das imagens com letras manuscritas que pareciam ter sido realmente feitas à mão pela cartunista. No total, seis quadros lado a lado preenchiam a página, com uma tarja amarela acima das figuras com um texto. A seção Página da vida trouxe a imagem da personagem em uma situação que remete à sua história de vida. No canto superior esquerdo da foto foi aplicado a imagem de uma folha de papel virada, a fim de relacionar com o nome desta seção. O título, que foi uma frase da entrevistada, iniciou-se com aspa simples e logo abaixo, um sinal de parênteses abriga o resumo da Seção Páginas da vida, Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009 história que, além de fazer o papel de lead da matéria, serviu para despertar interesse do leitor pela história e iniciar a leitura da reportagem. O texto da história seguiu em uma única coluna. 162 Design em revista feminina 3.5.3.3 A proposta editorial e o projeto gráfico das capas A proposta editorial das capas de Claudia O projeto editorial de uma revista também engloba as capas da publicação. Em uma banca de revistas é fácil notar que as revistas masculinas trazem na capa uma mulher e, assim como as revistas femininas, na grande maioria, fenômeno que Morin chama de “cover-girl” e o explica da seguinte maneira: “Um rosto de mulher reina sobre as capas das revistas, sejam elas femininas ou não. São raros os cover-boys tanto na imprensa feminina como nos Paris Match, Jours de France, etc, da imprensa masculino-feminina. Só uma explicação é possível. Se o rosto da mulher não do homem impera na revista feminina, é porque o essencial é o modelo identificador da mulher sedutora e não o objeto a seduzir. Se na grande imprensa periódica a mulher eclipsa igualmente o homem, é porque ela ainda é o sujeito identificador para as leitoras, enquanto ela aparece como objeto de desejo para os leitores”. (Morin, 1997, p. 144) Portanto, entendemos que o fascínio da mulher-sedutora é o que atrai os homens e o sonho da fórmula de ser a mulher-sedutora atrai o público feminino. Morin (1997) ainda diz que a mulher-modelo desenvolvida pela cultura de massa aparenta ser uma “boneca do amor”, e tanto a publicidade quanto os conselhos estão direcionados de modo preciso para os caracteres sexuais secundários (cabelos, peito, boca, olhos), para os atributos erógenos (lingeries, vestidos, acessórios) e para um ideal de beleza esbelto (quadris, ancas, pernas). O autor complementa que “a boca perpetuamente sangrenta, o rosto pintado são um convite permanente a esse delírio sagrado de amor que embota, evidentemente, a multiplicidade quotidiana do estímulo” (Morin, 1997, p. 141). Apostando no fenômeno cover-girl, as 21 edições analisadas de Claudia apresentaram duas propostas distintas: fotos com close (fig. 213) e fotos com um ângulo mais aberto (fig. 214). As imagens com close foram implantadas em 2003 quando entrou a diretora de redação Marcia Neder e foi mantida até maio de 2008. A partir de então, com exceção da edição de dezembro de 2008, a proposfig. 213 fig. 214 ta de fotos mais abertas veio sendo mantida, trazendo informações de moda com o aparecimento de mais detalhes das roupas e acessórios. Mas isto não significa que Claudia alterou seu projeto editorial, focando mais em moda, pois percebemos que isto foi apenas uma maneira de variar o conceito da capa que permaneceu o mesmo por seis anos. Este tipo de capa, com fotos Capa Claudia, ano 47, no 1, janeiro de 2008 Capa Claudia, ano 47, no 9, setembro de 2008 de rosto, foi resgatado do passa- Design em revista feminina 163 fig. 215 do por Márcia Neder, pois foram muito usadas em Claudia nas década de 1960, 1970 e 1980, como uma fórmula intacta e inalterada por todo esse período. Nos anos de 1990, a diretora de redação Célia Pardi implantou as capas onde apareciam toda ou grande parte da roupa das modelos, capas estas que eram muito semelhantes às revistas de moda (fig. 215). Outro aspecto a ser considerado é a figura que estampa a capa da revista. Claudia trouxe, desde meados dos anos de 2003, mulheres famosas na capa (cantoras, atrizes e apresentadoras de televisão) e não mais modelos. A revista trouxe mulheres conhecidas do público feminino pela profissão que exercem e, com isso, pretendeu-se as- Capa Claudia, ano 37, no 444, setembro de 1998 sociar a imagem dessa mulher com a proposta editorial da revista e com o perfil da leitora de Claudia. São, geralmente, mulheres belas, atraentes e bem-sucedidas em sua carreira e vida pessoal, visando criar, no imaginário coletivo, um paradigma de beleza, de atitude e de comportamento social a ser copiado. Os textos das chamadas de capa foram bem sucintos, diretos e usaram palavras e expressões para atrair a atenção do leitor: supernovidades, novas tendências, surpreendente, realizar seu sonho, peças por menos de X reais, truques para conquistar... etc. Muitas vezes, encontramos frases no imperativo, próprias da publicidade, vendendo promessas de emagrecimento, rejuvenescimento ou de qualquer outro tipo. Todas essas ações visaram, única e exclusivamente, obter vendas de exemplares através, muitas vezes, de falsas promessas. é de extrema frequência, ouvir relatos de pessoas comentando que compraram uma determinada revista por causa de uma certa chamada de capa, mas quando viram a reportagem, perceberam que não era nada daquilo que foi vendido fig. 216 no texto contido na capa. Esta prática de publicar “chamadas enganosas” pode até gerar vendas, entretanto, frequentes decepções podem fazer com que a pessoa deixe de comprar aquela revista em razão desta prática. A proposta editorial das capas do suplemento Claudia comida & bebida (fig. 216) era mostrar um prato, visualmente, apetitoso que aparecesse dentro do encarte com sua receita. Através de uma bela foto, pretendeu-se despertar no leitor o desejo de comer aquele prato ou tipo de prato que poderia ser realizado através da feitura da receita. Muitas vezes, esses pratos ficam muito mais bonitos nas fotos do que ao vivo, devido ao trata- Capa Claudia Comida & Bebida, ano 48, no 8, agosto de 2009 mento dado pela fotografia e as produções cenográficas. 164 Design em revista feminina O projeto gráfico das capas de Claudia O projeto gráfico das capas de Claudia é um dos itens de extrema relevância na discussão sobre o design de uma publicação. A capa é a embalagem do produto e, por isso, deve transmitir visualmente, de forma rápida e concisa, a identidade da revista, daí a importância de analisarmos como se configuram as questões relacionadas à capa na revista Claudia. De acordo com Zappaterra (2007), existem três tipos de capas: figurativas, abstratas e somente de texto. As capas figurativas contendo fotografias, ilustrações ou a combinação de ambas, pretendem corresponder visualmente com o projeto editorial da revista. As capas abstratas trazem apenas uma imagem e tem o luxo de colocar mínimas ou nenhuma chamadas de capa e, a liberdade de posicionar o logotipo onde melhor se encaixa no design. Geralmente, são publicações somente de assinaturas que não dependem de vendas em bancas ou suplementos especiais e revistas de interesse especial e específico. Já as capas somente de texto são raras e trazem apenas uma única chamada de capa. Em nossa cultura que hoje é extremamente visual, seu uso é mínimo, porém serve para causar impacto e destacar-se como, por exemplo, uma tragédia ou quando uma personalidade famosa morre. As capas de Claudia foram figurativas ilustradas com uma mulher famosa. Como mencionamos anteriormente, a partir do ingresso da diretora de redação Márcia Neder em 2003, as fotos de capas passaram a ser de closes de mulheres (figuras da página ao lado), padrão que fora mantido até maio de 2008. A partir de então, na edição de junho de 2008, a capa com a atriz Mariana Ximenes (fig. 222) apresentou foto em plano americano, com o corte na altura da cintura. Este padrão estabelecido seguiu por todo o ano de 2009 e, em algumas edições, o corte da foto foi ainda mais aberto, mostrando cada vez mais os detalhes da roupa, trazendo mais informações de moda à imagem. A exceção aconteceu na edição de dezembro de 2008, na capa da atriz Grazielli Massafera (fig. 228, p. 171) e em abril de 2009 com a atriz Alinne Morais (fig. 232, p. 171). Ambas as capas retornaram ao padrão do ano de 2008 com a foto mais aproximada e o logotipo por cima da imagem. Como dissemos anteriormente, os dois padrões já foram utilizados em outras épocas em Claudia, portanto, vimos que Claudia retomou visuais estipulados anteriormente, revezando entre estes dois padrões: fotos de rosto mais aproximadas ou fotos mais afastadas. Outro padrão estabelecido em anos anteriores, mais precisamente nos anos de 1990, foi o uso de capas com fundo branco. Claudia permaneceu anos publicando capas com fundo branco, mas hoje há um revezamento entre capas com fundo branco e capas com fundo coloridos como mostram as figuras. Independente da cor empregada, o que mais chamou a atenção na imagem da capa foi a postura, olhar ou atitude da mulher. Para White (2006) é a “foto que prende o olhar, o que desperta a curiosidade do leitor. Deve ser diferente da última edição (para indicar que esta edição é nova), mas mantendo o mesmo estilo (para identificar a publicação e separá-la das outras)” (White, 2006, p. 186). Claudia não só manteve o mesmo estilo como também o visual muito semelhante, o que fez Design em revista feminina fig. 217 Capa Claudia, ano 47, no 1, janeiro de 2008 fig. 220 Capa Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008 fig. 223 Capa Claudia, ano 47, no 7, julho de 2008 fig. 218 Capa Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008 fig. 221 Capa Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008 fig. 224 Capa Claudia, ano 47, no 8, agosto de 2008 165 fig. 219 Capa Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 fig. 222 Capa Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008 fig. 225 Capa Claudia, ano 47, no 9, setembro de 2008 166 Design em revista feminina com que não houvesse diferenças substanciais na imagem de uma edição para outra, mesmo revezando entre fundo branco e colorido. Se por um lado isto é bom para manter o reconhecimento da publicação com seu público, por outro é ruim, pois não o surpreende com uma imagem inusitada nem tampouco gera expectativa. Moser (2007) diz que a primeira impressão acontece na capa que combina diferentes elementos como logotipo, imagem e tipografia para criar uma identidade totalmente individual e inconfundível. Esta imagem deve ser coerente e consistente para garantir repetitivo reconhecimento no mercado. Entretanto, aponta que se o visual fosse diferente em toda edição, o leitor não teria uma imagem precisa em sua mente: uma aparência memorável distingue de toda concorrência, favorecendo o sucesso comercial. Para o autor, apenas um pequeno número de revistas pode, seguramente, ser identificados mesmo com o logotipo encoberto. Portanto, vemos que o tema é bastante arbitrário, pois se um lado sugerem a necessidade de se manter um estilo para o reconhecimento do público, por outro lado, apontam a necessidade de imagem que surpreenda o leitor, como diz Moser (2007): uma boa capa deve ser um balanço perfeito entre surpresa e familiaridade. Sobre esse aspecto, Kopp (2002) relata que até os anos 40 era “normal” a variação nas capas de revistas e traz como exemplo as publicações Vogue, Harper’s Bazaar, Life, Jugend e Ver Sacrum. Porém, após esse período a “padronização e a repetição de elementos começam a se tornar a nova prática “normal” (Koop, 2002, p. 94). Vimos que Claudia adotou a prática de fixidez de padrão visual, extremamente previsível, faltando o equílbrio entre o familiar e o surpreendente. O logotipo das capas também é um elemento que contribui para garantir uma identidade marcante para a revista. Na visão de Bhaskaran (2006), o logotipo de uma publicação também é importante não só para reforçar a identidade de uma revista, mas também para criar um senso de familiaridade com os leitores. Claudia, nas edições em que usou fotos aproximadas, aplicou o logotipo em cima da imagem e, nas imagens mais afastadas, colocou o logotipo atrás da foto. Como a revista tem 47 anos e é muito conhecida de mercado, pode colocar o logotipo encoberto que mesmo assim será reconhecida pelo seu público. A tipografia usada na palavra Claudia, na fonte Didot, foi ao encontro do projeto gráfico de forma geral da revista que utiliza muito este tipo. Outro ponto relevante acerca da criação de um projeto gráfico de uma capa é a respeito do potencial atrativo. Em um mercado competitivo é de extrema importância que o designer desenvolva em uma revista que chame a atenção do leitor diante de tantas opções nas prateleiras das bancas de jornais. Para Bhaskaran (2006, p. 46), com tantos concorrentes, “se nada captura sua atenção, você segue em frente”. O autor complementa que os segundos que o leitor olha uma revista são cruciais, pois proporcionam a oportunidade de vender a revista a um potencial leitor, o que é um desafio. Design em revista feminina fig. 226 Capa Claudia, ano 47, no 10, outubro de 2008 fig. 229 Capa Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009 fig. 232 Capa Claudia, ano 48, no 4, abril de 2009 fig. 227 Capa Claudia, ano 47, no 11, novembro de 2008 fig. 230 Capa Claudia, ano 48, no 2, fevereiro de 2009 fig. 233 Capa Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 167 fig. 228 Capa Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008 fig. 231 Capa Claudia, ano 47, no 3, março de 2009 fig. 234 Capa Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 168 Design em revista feminina Para Bhaskaran (2006), um bom design de capas não é sobre fontes fantasias e leiautes complexos, é sobre vender a mensagem certa para o público certo da maneira certa, o mais claro possível. Sobre este aspecto, White (2006) aponta que o design de capas não é um processo artístico, mas sim um mercado acirradamente competitivo, um processo de construção de marca, de identidade. Para o autor é preciso examinar o design da capa em seu contexto, ou seja, dentro de uma banca de jornal. “Elas devem ser vistas como o investidor potencial que irá vê-las – de maneira fugaz, competindo por atenção”. Ele conta que se a publicação não tiver capacidade de venda em banca, ela deve ser descartada, a não ser que o aspecto estético da publicação seja parte de sua missão” (White, 2006, p. 186). Esta afirmação vai ao encontro do que pensa Zappaterra (2007), que afirma que a capa deve se destacar do grupo, puxando a atenção do leitor, em vez de seus concorrentes. A autora aponta ainda que de acordo com pesquisas, estudos psicológicos e décadas de “sabedorias de marketing”, levou-se a acreditar que as capas de revistas mais bem-sucedidas na cultura ocidental são aquelas que têm um largo, claro e legível logotipo no topo, um belo rosto, provavelmente de uma mulher, sorrindo e fazendo contato visual com o espectador. Nas revistas femininas, esta mulher que faz contato visual como o leitor representa uma imagem a ser espelhada, de acordo com as aspirações das leitoras. As chamadas de capa também são responsáveis por atrair o leitor, tentando convencer o potencial leitor que, dentro, irão encontrar um conteúdo melhor que o da concorrência. De forma geral, para se atrair o leitor, White (2006) aponta que uma capa deve ser: “reconhecível de uma edição para outra”, ou seja, a marca; “emocionalmente irresistível”, pelo apelo da imagem; “magnética e capaz de despertar curiosidade”, para puxar o leitor para dentro da publicação; “intelectualmente estimulante”, prometendo benefícios; “eficiente, rápida de varrer com o olhar”, apresentando seu “serviço”, ou seja, suas reportagens e; “lógica”, no sentido de valer a pena o investimento financeiro de comprar a revista (White, 2006, p. 85) . Pudemos observar nas capas de Claudia alguns aspectos apontados por White (2006): a capa foi reconhecível de uma edição para outra por causa da repetição visual, que mesmo sendo outra mulher, é muito semelhante edição após edição. Já emocionalmente irresistível e magnética, por despertar a curiosidade, não podemos dizer que Claudia seja, pois justamente devido a regularidade não trouxe imagens surpreendentes de grande apelo atrativo. Com relação a prometer benefícios e, consequentemente, “fazer valer o investimento da compra”, podemos dizer que isto aconteceu, pois foram inúmeras as promessas de emagrecimento, rejuvenescimento, mudanças no corpo, etc. White (2006, p. 186) aponta ainda que apesar de ser a imagem o elemento que mais chama a atenção, na verdade, são os textos que contém o apelo: “o que será que tem aí que me interessa?”. Claudia colocou sempre em destaque uma chamada de capa em tamanho maior e outra em tamanho intermediário. As chamadas de menor apelo comercial seguiram em tamanho reduzido. Design em revista feminina fig. 235 Capa Claudia, ano 48, no 7, julho de 2009 fig. 236 Capa Claudia, ano 48, no 8, agosto de 2009 169 fig. 237 Capa Claudia, ano 48, no 9, setembro de 2009 Como dissemos anteriormente, o tema beleza e moda são os que ocupam o lugar de maior destaque. Nas edições de janeiro, as previsões astrológicas ficaram na posição principal. Com relação ao tamanho das chamadas de capas, White (2006) aponta que como elas são as responsáveis por vender a edição e são lidas rapidamente, além de persuasivas, devem se alongar o suficiente para dizer o apenas o necessário. Baseada nesse critério, vimos que chamadas de capa de Claudia foram sucintas e em caixa alta e baixa. De acordo com o autor, o uso de letras caixa alta e baixa são mais recomendadas porque dá melhor leitura e ocupa menos espaço, já as maiúsculas, apesar de criarem impacto por seu tamanho maior, são mais difíceis de decifrar em bloco. Outro aspecto relacionado às chamadas é sobre o tamanho da fonte que, de acordo com White (2006), deve ser adequado para ser lida a distância, ponto onde a revista será vista. “A banca de jornal pede uma escala maior do que à distância mais íntima de quem tira uma revista do envelope do correio” (White, 2006, p. 188). Também seguindo estes princípios, Claudia aplicou nas chamadas de maior destaque um tamanho de corpo maior que permite ser lida com uma certa distância. Em algumas edições, notamos uma poluição visual devido ao excesso de chamadas. Geralmente, são aplicadas entre cinco e sete chamadas de capa em cada edição. White (2006) explica que com o uso de imagens sangradas em capas, há um aproveitamento máximo de espaço, onde a foto continua além dos limites da página, representando apenas um núcleo de uma cena maior, entretanto, faz com que, muitas vezes, a imagem seja “estragada” pelas chamadas de capa. E para contribuir ainda mais com a poluição visual, desde agosto de 2009, a revista aplicou a imagem da capa do suplemento de culinária na capa da revista. Antes deste período havia apenas um box com transparência com a frase: Grátis Comida & Bebida. O padrão de fontes adotadas nas chamadas de capa foi o mesmo do conteúdo da revista, que permite uma unidade e coerência visual entre capa e miolo. 170 Design em revista feminina Vale comentar que esta conduta sufocante para conquistar o leitor, restringe-se ao mercado de revistas de massa, onde a competição é feroz e o mercado saturado. Revistas independentes, menos dependentes de vendas em bancas, seguem em outra direção. As capas do suplemento de culinária (fig. 238) que não necessitam do apelo de vendas em bancas trazem apenas a imagem de um prato (que também se repete dentro da revista) com uma ou, às vezes, nenhuma chamada em destaque e outras menores em formato de linhas horizontais. O visual leve da capa com pouco texto só é permitido pela ausência da busca pela conquista do leitor em bancas com um maior número de chamadas apelativas. fig. 238 Capa Claudia Comida & Bebida, ano 48, no 4, abril de 2009 Design em revista feminina 173 Considerações finais Design em revista feminina 175 Considerações finais Ao pesquisar o segmento de revistas femininas percebemos que, por tão amplo (em razão da quantidade de publicações) e com diversas ramificações, é possível classificá-lo em diferentes categorias, o que contribuiu de forma significativa para o entendimento de como é a dinâmica do mercado em questão e como se contrói produtos editoriais, no qual o projeto editorial é alicerçado em um perfil de mulher [detalhadamente definido pela editora] ou em interesses específicos de um determinado grupo. Além disso, enquadrar as revistas femininas apenas na categoria “revista segmentada por público” não tem a capacidade de traduzir todo o universo que esta corresponde. As opções encontradas de revistas para a mulher foram tantas, com diferentes propostas, abordagens e periodicidades, que a melhor forma para compreendê-las foi divindo-as em dois grandes grupos: revistas femininas de interesse geral (semanais e mensais) e revistas femininas segmentadas por interesses (de periodicidade variada). As revistas de interesse geral tratam de diversos assuntos e são dirigidas a um determinado perfil de mulher, já nas revistas segmentadas por interesses, um ou dois assuntos é o foco principal da publicação. Na primeira, o conteúdo é mais abrangente, e na segunda, mais específico. Cabe lembrar que, para o lançamento de uma revista segmentada, também é traçado um perfil de leitor(a), que serve como norte para a publicação, principalmente no momento da elaboração de pautas, o que contribui a fim de que a revista atinja seus objetivos. Vimos também a importância de um conceito editorial sólido para que a publicação mantenha-se no rumo certo, de forma que continuamente satisfaça às necessidades de seu potencial leitor. Sobre o conteúdo editorial das revistas femininas da atualidade, observamos que elas estão arraigadas em valores individualistas com reportagens de cunho de aconselhamento ou que incitem ao consumo. Embora muitas publicações abordem diversos temas, sempre o grande chamariz são as matérias que envolvem a aparência física (fique mais bonita, mais magra, sem celulite, com um corpo mais esbelto, etc) ou o consumo (o novo batom de Yves Saint Laurent, a nova bolsa da Louis Vuitton, o novo sapato de Christian Louboutin, etc). Tendências fugazes são criadas a todo o instante pelos editores para atrair o leitor em busca de algo “aparentemente” novo. A prática de dar novas roupagens a velhas abordagens é algo extremamente comum, uma vez que não existem, efetivamente, tantas novidades sendo criadas todos os meses. O sincretismo também é marca da revista feminina, pois homogeniza, sob um denominador comum, a diversidade dos contéudos para atingir a mulher consumidora perfeita. E ainda este tipo de publicação são poderosos agentes disseminadores de valores masculinos, pois muitas vezes sugerem que a mulher manipule seu corpo para o gozo do homem e não para satisfação pessoal. As inúmeras capas com figuras femininas (e não masculinas) comprovam esta afirmação. As imagens das capas denotam o modelo identificador (mulher sedutora) e não o objeto a seduzir (homem). Mesmo em Claudia, onde as mulheres aparecem mais discretas, o apelo sedutor existe, embora não tão explícito como ocorre na revista Nova. 176 Design em revista feminina Na análise que fizemos sobre Claudia, constatamos que a revista, que ocupa o posto da revista feminina mais lida do Brasil, também faz sucesso em outras áreas: na gastronomia, com os livros de culinária e o suplemento Claudia Comida e Bebida, na decoração com Casa Claudia e Casa Claudia Luxo, na educação parental com Claudia Bebê. A poderosa marca Claudia confere credibilidade a reportagens, novos títulos, receitas e eventos (Prêmio Claudia, Fóruns Claudia pela Mulher Brasileira, Nós Mulheres) em razão de sua tradição de 49 anos produzindo conteúdos de interesse do público feminino. Sua fórmula editorial traz assuntos bem genéricos e pautas que tendem a agradar a todas, com o objetivo de atingir um maior número de leitoras. As recorrentes chamadas de capas “para os 20, 30, 40, 50 anos” evidenciam a homogeneização do gosto. As frases no imperativo, presentes nos títulos e nas chamadas de capa, incitam ao consumo de produtos de beleza, roupas, tratamentos de beleza, e também a prática de exercícios, dietas de emagrecimento e cirurgia plástica. Mas isto nem sempre foi assim, Claudia quando foi lançada em 1961 tinha outro apelo editorial, pois seu contéudo era focado em temas que giravam em torno do lar. Em meio ao franco crescimento da indústria na época, pretendia obter lucros com a publicação de anúncios de produtos relacionados a casa, principalmente, eletrodomésticos e eletroportáteis, como geladeiras, enceradeiras, aspiradores de pó, ferros de passar, muitos deles novidades na época. Os produtos de beleza, vestuário e alimentação também marcavam presença nas páginas publicitárias. A cozinha experimental de Claudia, aparentemente criada para agregar credibilidade às receitas, pois eram previamente testadas pela redação, foi, na verdade, uma estratégia de marketing para testar produtos alimentícios e eletrodomésticos, visando a parcerias comerciais. Promoções culturais também serviam para angariar vendas em bancas, como o sorteiro que premiava uma cirurgia plástica e o concurso que buscava uma estrela para o filme de Roberto Carlos. Na época em que surgiu, Claudia veio com a pretensão de atingir a “Dona Mariazinha de Botucatu, uma senhora interessada em casa, marido e filhos”, como mencionou Thomaz Souto Corrêa, um dos primeiros diretores de redação de Claudia. A ideia era que a “Dona Mariazinha” consumisse os produtos anunciados nas páginas da revista. A expressão “Dona Mariazinha de Botucatu” usada pelo ex-diretor de redação soa pejorativamente, pois remete a uma mulher simplória do interior, sem muito desenvolvimento intelectual. O que nos deixou claro que Claudia desde sua concepção, claramente, visava a interesses comerciais. Por trás das belas imagens e dos conselhos práticos sobre o que fazer em todas as áreas da vida, escondem-se interesses financeiros. Obviamente, toda as entidades empresariais objetivam lucros monetários, entretanto, muitas vezes, a leitora não percebe que está servindo de instrumento de manipulação ao ser incentivada a consumir determinados produtos e serviços. Através de textos e expressões que querem estabecer uma proximidade, pretende-se transmitir a falsa ideia de que Claudia é sua amiga, prontamente a te ajudar em diversas Design em revista feminina 177 ocasiões. O trecho que segue da primeira carta do editor (edição 1), deixa isso bem claro: “Seja bem-vinda, você tem em suas mãos o primeiro número de uma revista que pretende desempenhar um papel muito importante na sua vida futura! CLAUDIA foi criada para servi-la. Foi criada para ajudá-la a enfrentar realisticamente os problemas de todos os dias. CLAUDIA lhe apresentará mensalmente idéias para a decoração de seu lar, receitas para deliciar sua família, sugestões para mantê-la sempre elegante e atraente. Mas o importante é a forma como isto será feito. Antes de mais nada, CLAUDIA deverá ser útil para você. Deverá tornar-se sua amiga íntima. E estará sempre às suas ordens para lhe proporcionar tôdas as informações e novidades que você espera há tanto tempo, numa só revista, simpática, completa e moderna. Seja bem-vinda, pois, às páginas de CLAUDIA. Temos certeza de que ela será sua companheira fiel nos anos viradouros” (Revista Claudia. Ano 1, número 1, outubro de 1961). Hoje, Claudia não se posiciona mais para a “Dona Mariazinha de Botucatu”, mas para a mulher inteligente, culta e elegante. O atual slogan da revista, Mais que informa, transforma, remete à ideia de que através da informação contida na revista é possível obter transformação intelectual, obviamente, uma grande equívoco, pois Claudia pode até trazer informação sobre algumas áreas, mas longe de produzir algum conhecimento efetivo no indivíduo. Até porque Claudia não incita à reflexão e ao debate político em suas matérias de atualidades. Além disso, Claudia quer estar associada à imagem de uma mulher bem-sucedida no amor, no casamento, no trabalho e nas finanças. Por isso, estampa sempre em suas capas personalidades que têm boa reputação e são vistas pela maioria como grandes exemplos a serem seguidos. Mulheres consideradas bregas ou com forte apelo sexual, como funkeiras, Panicats, mulheres-frutas ou exparticipantes de reality shows, não têm lugar nas capas de Claudia. Entram apenas as (aparentemente) bem resolvidas, chiques, estilosas e melhor ainda se for casada e com família constituída. Acerca do design gráfico, Claudia foi uma das primeiras publicações a produzir fotos elaboradas em estúdio nos mais diversos segmentos (moda, culinária, decoração, etc). Investia também em matérias de moda em locações internacionais, como Rússia e Marrocos que, apesar dos custos de produção, trazia enriquecimento visual à revista. Um ponto a destacar é que Claudia, no início de suas produções, utilizava revistas estrangeiras como fonte de inspiração. De acordo com a produtora fotográfica da época, Olga Krell, estas imagens serviam para ver o que iria funcionar aqui no Brasil. Identificamos que esta prática perdura até hoje, no momento em que detectamos diversas imagens que foram descaradamente copiadas de revistas internacionais. Talvez, essa prática aconteça por conta de um curto prazo estabelecido para a elaboração da revista. A ausência de ideias criativas faz com que o comodismo se estabeça em algumas situações. No que se refere ao projeto gráfico de Claudia, observamos que as características físicas da Panicats dançarinas do programa televisivo Pânico na TV, exibido pela RedeTV! Mulheres-frutas são dançarinas e/ou cantoras geralmente de funk ou axé de grupos musicais diversos. Figuras de forte apelo sexual, cada uma tem o nome de uma fruta como nome artístico. Algumas delas são: mulher moranginho, mulher melancia, mulher melão, mulher maçã, etc 178 Design em revista feminina revista não são um ponto de diferenciação, pois receberam padrões convencionais do mercado: capa com verniz UV, tamanho 202 x 266 mm e papel LWC de baixa gramatura. Já no diz respeito aos aspectos visuais, destacaremos alguns pontos a seguir: A tipografia de Claudia tem como traço marcante o uso da fonte moderna Didot, largamente conhecida por conferir elegância a peças de design gráfico. Inicialmente, no primeiro projeto gráfico de Claudia, o logotipo da revista era com a fonte Bodoni, também classificada como moderna e muito semelhante à Didot. O uso desses dois tipos presentes sempre no logotipo conferiu identidade à publicação. Extremamente contrastante por seus traços finos e grossos, nem sempre essas duas fontes tiveram destaque no conteúdo interno da revista. Em 2004, quando entrou em vigor um novo projeto gráfico, a fonte Didot recebeu ênfase e posição de destaque na grande maioria dos elementos tipográficos da página, feito que perdura até os dias atuais, trazendo consistência tipográfica e personalidade à revista. Outro aspecto acerca da tipografia de Claudia é o alinhamento do texto. Nas colunas, a massa de texto recebeu justificação forçada, inclusive da última linha do parágrafo. Ao pesquisar inúmeras outras revistas do mercado, de diferentes segmentos, descobrimos que esta prática é inexistente. As revistas utilizam demasiadamente o texto justificado, especialmente quando é disposto em 2 ou 3 colunas, porém nunca com a preocupação de alinhar a última linha de um parágrafo exatamente com o final da coluna, sem deixar nenhum espaço em branco como fez Claudia. Esta obsessão da revista em não deixar nenhum espaço em branco e utilizar mínimos espaços nos inícios dos parágrafos faz com que caiba mais texto na página. As reportagens mais textuais e menos visuais, de apenas 4 páginas, recebem pouco tratamento ilustrativo, o que sugere que Claudia priorizou o conteúdo escrito. Talvez o espaço determinado seja pouco para transmitir todas as informações necessárias sobre um assunto, por isso Claudia tenha preferido encaixar todo o texto em grandes blocos, com mínimos espaços em brancos e imagens reduzidas para caber bastante texto. Visualmente, os leiautes ficam cansativos em razão da grande quantidade de texto, pois há poucos subtítulos, boxes e espaços em branco que proporcionem descanso visual ao leitor. Compartilhamos da visão de Heller (2003), o qual diz que embora as palavras são os blocos de construção de sentido, as ideias visuais podem ser expressas muito mais persuasivamente por meio do design gráfico (o casamento entre tipografia, leiaute e imagem). A revista poderia explorar mais os diversos recursos de design gráfico existentes como forma de transmitir o conteúdo escrito que necessita. Os efeitos tipográficos, por exemplo, foram vistos muito ocasionalmente, recurso que poderia ser mais explorado, trazendo surpresa ao leitor. Outra questão levantada acerca do design gráfico é quanto a utilização de templates prontos. Para cada editoria de matéria houve, geralmente, um ou dois modelos de leiautes a seguir. O mesmo ocorreu com as seções e colunas que todo mês tiveram a mesma diagramação. Nos dois Design em revista feminina 179 anos analisados, mês a mês, apareceram os mesmos leiautes. Nas seções, não se criou nada novo, apenas foram aplicadas as fotos e o novo texto nos mesmos locais. Somente na seção Beleza Essencial, o designer mudou a montagem das fotos dos produtos. Esta conduta, sem dúvida, agilizou o processo de produção da revista, porém não surpreendeu o leitor a cada nova edição. Mas isto nem sempre foi assim, em outros períodos, em especial na gestão da diretora de redação Celia Pardi, vimos uma intensa variedade de leiautes, formas de edição e também pautas. Com o ingresso da diretora de redação Marcia Neder, a prática da repetição se tornou habitual. Sobre isso, a partir de março de 2010, Claudia apresentou na carta da editora a nova diretora de redação, Cynthia Greiner, que estava há alguns anos no comando da revista Nova (cargo anteriomente ocupado por Márcia Neder). A experiente editora, que também já foi editora da revista Boa Forma, apareceu em foto ao lado de Marcia Neder, ladeada de seu último texto intitulado de Reinvenção permanente, que dizia: “Pois 2010 veio com um megadesafio: assumir um novo cargo, aqui mesmo na Editora Abril. Vou dirigir um núcleo de revistas, dar uma reviravolta no dia a dia, mudar um chip no cérebro, interagir com pessoas diferentes, enfim, sair da zona de conforto”. Realmente, Marcia estava demasiadamente na “zona de conforto” ao trazer mensalmente pautas e visuais extremamente previsíveis. A jornalista que agora tem um cargo burocrático na editora, despede-se da publicação após 7 anos em Claudia, período curto se comparado à diretora de redação anterior, Celia Pardi, que ficou à frente da publicação por 15 anos. O rodízio de cargos, de tempos em tempos, é comum na editora Abril, fazendo com que as editoras saiam de sua “zonas de conforto” e contribuam para o título, trazendo-lhe algo novo e sua visão como editora. O design gráfico da revista recebe influências do diretor de redação, pois o cargo de direção de arte é subordinado a ele. Afinal, o editor quer sempre imprimir sua marca no conteúdo escrito e também no visual. Também a respeito do design gráfico de Claudia está o uso da cor. Na publicação, o emprego de cores foi (e ainda é) mínimo, pois pretendeu-se manter o mais neutro possível. Nas imagens produzidas pela editora (exceto as matérias de moda), raramente aparecem modelos com peças de vestuário, acessórios ou objetos de cena que sejam coloridos. Acreditamos que essa neutralidade de Claudia em relação a cores seja uma forma de agradar a um maior número de leitoras sendo o mais imparcial possível. No que se refere às imagens presentes em Claudia, notamos que a publicação fez pouco uso de infográficos, recurso que deveria ser mais empregado, pois várias informações poderiam ser melhor compreendidas, além de trazer variedade aos leiautes. As fotomontagens e os efeitos de contraste de escala são bem empregados e podem trazer alguma surpresa ao leitor, expandindo também sua interpretação acerca da reportagem. Embora traga algumas coisas diferenciadas, a homogeneidade visual ainda impera em função do grande número de imagens clichês, visto em toda a imprensa Texto extraído da edição no 3, ano 49, março de 2010. 180 Design em revista feminina feminina. O uso de imagens em preto e branco, raramente empregado, também poderia ser uma saída para o inusitado, haja vista que é muito pouco utilizado em revistas femininas. Percebemos também que, muitas vezes, o ritmo e sequenciamento da revista foi interrompido, pois foi necessário precisa quebrar as reportagens para espelhar os anúncios. Infelizmente, a revista que visa a objetivos comerciais, sucumbe às necessidades visuais do design gráfico para atender aos interesses financeiros. As matérias de capa, por exemplo, nunca têm chance de serem melhor exploradas visualmente, porque como são colocadas logo no início da revista, local onde os anunciantes preferem estar, a matéria é sempre quebrada com anúncios, restando apenas na página da abertura, alguma exploração de caráter mais visual. A respeito das capas de Claudia, o padrão de fotos closadas e em fundo colorido (fig. 239), estabelecido por Marcia Neder desde 2003 até junho 2008, veio sendo repetido todos esses anos, edição após edição. A partir daí, Claudia começou uma fase com imagens menos aproximadas, trazendo mais informações de moda, ao mostrar detalhes da roupa e dos acessórios (fig. 240). fig. 239 235 Além disso, este tipo de imagem permite que sejam exploradas poses mais variadas das mulheres, trazendo atitude para a foto, não ficando somente no close de um sorriso posado, como ocorreu na grande maioria das vezes nesse período. Claudia tem como tradição a repetição de fórmulas que considera corretas. No anos de 1990, Claudia tinha o seguinte padrão: fotos sempre em fundo branco, porém, havia uma grande variedade de poses, ângulos e cortes, dessa forma a sensação de mesmice, mês a mês, era bem menor (fig. 241). Embora, hoje a revista varie entre fundo branco e colorido, fotos Capa Claudia, agosto de 2003 fig. 240 mais closadas e distantes, a imagem não difere, substancialmente, de uma edição para outra a ponto de gerar uma grande surpresa no leitor. E como a capa tem a pretensão de vender a edição, é aplicada bastante chamadas, mesmo que o visual fique poluído. Já as capas do suplemento de culinária, como não tem essa preocupação, baseam-se apenas na foto do prato, o que fica extremamente limpo e atrativo. Em 2011, Claudia completará 50 anos de existência, um marco em sua história e também do mercado editorial. Não sabemos se a publicação pretende fazer grandes mudanças a partir de então, porém sabemos que alguns passos já foram dados: a troca de diretora de Capa Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 redação e um novo projeto gráfico implantado em outubro de 2010. Design em revista feminina 181 fig. 241 Diversas capas de Claudia dos anos de 1990 Este novo projeto gráfico não foi substancialmente diferente do anterior, mas manteve a identidade da publicação e trouxe, visualmente, a sensação de renovação. O conteúdo editorial permaneceu o mesmo, apenas lhe foi conferido uma nova visualidade. Assim, consideramos que no segmento de revistas de consumo, um design gráfico inovador não é crucial para que a revista seja um sucesso de vendas. Claudia é a revista feminina mais vendida do Brasil, mas não em decorrência do design gráfico que apresenta. Uma mega infraestrutura que possui a editora Abril, como distribuição, divulgação, venda de assinaturas, ações promocionais e uma série de outras ações combinadas, contribuem significativamente para solidificar um título no mercado, mesmo que ele não seja tão bom assim. Dessa forma, nos perguntamos: de que adianta um design gráfico arrojado e criativo se, muitas vezes, ele será tolhido ao sucumbir aos interesses comerciais impostos pela publicidade? é indiscutível que o design é extremamente importante e traz inúmeros benefícios para uma publicação: serve como instrumento de navegação, atrai e guia o leitor na página, realça o conteúdo editorial, faz com que a revista seja um objeto de lazer com o visual e a paginação bem cuidadas dentre tantas outras funções, contudo, o design vai além disso, como conta Bomfim (1997): “O Design seria, antes de tudo, um instrumento para a materialização e perpetuação de ideologias, de valores predominantes em uma sociedade, ou seja, o designer, consciente ou não, reproduziria realidades e moldaria indivíduos por intermédio de objetos que configura, mesmo que poucos designers aceitem a faceta mimética de sua atividade” (BOMFIM, 1997, p. 32). 182 Design em revista feminina Portanto, mediante o viés ideológico e utópico do design, vimos o quanto é importante que o designer tome consciência de seu papel no momento em que configura objetos de influência social, como é o caso de uma revista feminina. Bomfim (1997) diz que esses objetos são, na verdade, extensões de um indivíduo em suas relações com outros indivíduos e com o meio ambiente. Embora o objetivo primário do design para o mercado seja criar produtos para venda, Margolin (2004) conta que o design social serve para satisfazer as necessidades humanas. E por que o design de uma revista feminina não pode combinar os dois? O autor conta que a ausência de pesquisas que demonstrem como um designer pode contribiuir para o bem-estar humano, dificultam o desenvolvimento do design social. Dessa forma, acreditamos que um design visualmente mais surpreendente e com conteúdos editoriais que incitem à reflexão – não só de Claudia mas de todas as revistas femininas – poderiam contribuir com o desenvolvimento intelectual e estético da mulher, independente de sua classe social ou condição financeira. As editoras deveriam pensar em, verdadeiramente, contribuir com a mulher, mobilizando-as a ter um pensamento crítico em prol de uma sociedade melhor e de uma melhor qualidade de vida, sem se aprisionar nas questões referentes à aparência física. E, a área de design necessita tomar ciência de sua virtualidade e foco no ser humano, como afirma Krippendorff (2000). Infelizmente, ainda reside em nossa sociedade o axioma de que o design para o mercado e o design social não podem caminhar juntos. Isto precisa ser revisto para que mudanças efetivas ocorram. Para Margolin (2004), um “modelo social” de prática de design é mais do que nunca necessário e sugere que seja criada uma agenda de pesquisa para que as questões relacionadas ao surgimento da prática de design social possam ser consideradas. O autor revela-se esperançoso que designers, pesquisadores, profissionais e educadores em design encontrem uma maneira de tornar esse modelo possível. A autora deste projeto crê que o design para o mercado pode, verdadeiramente, estar engajado com o caráter social, sendo assim, pretende futuramente dedicar-se à pesquisa desse abrangente tema, de forma que possa contribuir com a área, não permitindo que tal ideologia se limite apenas a um discurso utópico. Design em revista feminina Glossário 185 Design em revista feminina 187 Glossário A Aspas: declaração inserida em uma matéria ou coluna, onde a frase aparece em destaque, geralmente, entre aspas. No meio jornalístico, há também a expressão: preciso de uma aspa, que refere-se à necessidade de se inserir um personagem no texto. B Briefing: um conjunto de informações transmitidas em uma reunião para o desenvolvimento de um determinado trabalho. Box: texto que aparece na página geralmente entre fios ou em quadrado, sempre associado com texto mais longo. Pode ser um conjunto de informações técnicas relacionadas ao texto principal. C Caixa alta: letras maiúsculas. Capitular: elemento gráfico (geralmente uma letra) com altura de várias linhas de texto, aplicado no início de um texto ou parágrafo. Cartoon: é um desenho humorístico que pode vir ou não acompanhado de legenda e tem caráter crítico e de uma forma bastante sintetizada. Geralmente, os temas envolvem o dia a dia de uma sociedade. E Entrelinhas: distância entre uma linha e outra (a linha de base de uma linha de texto à linha de base seguinte). Também conhecida no ramo gráfico de leading (Niemeyer, 2001). Entreletras: espaço entre um caracter e outro, também conhecido como kerning. Espelhada: Aquela página que fica ao lado de uma outra. Em uma revista, por exemplo, se uma página de anúncio é posicionada ao lado de outra página de anúncio, dizemos que as páginas ficaram espelhadas. O mesmo ocorre com seções. F Família de fontes: é o conjunto de variações de determinada fonte (itálico, versalete, negrito, etc). Fio: é uma linha (na vertical ou horizontal) que serve para criar uma divisão ou servir de suporte para aplicação de elementos na página. G Grid: conjunto invisível de linhas-guia que ajudam o designer a determinar o posicionamento e uso do texto, imagens e outros elementos de design, como espaços em branco, margens e rodapés. I Impressão rotativa: tipo de impressão com papel em bobina, ideal para altas tiragens devido a sua rapidez e maior produtividade. Infográfico: recurso gráfico que envolve imagem e pequenas informações para uma melhor compreensão do assunto Imagem recortada: imagem sem cor no fundo, geralmente pode ser sobreposta. J Justificação forçada: quando o texto, disposto geralmente em colunas, é justificado em todas as linhas, inclusive na última, não deixando nenhum espaço em branco. K Kerning: espaço entre um caracter e outro, também conhecido como entreletras. 188 Design em revista feminina l Linhas-guia: são linhas que podem ser inseridas em qualquer lugar da página e que têm como objetivo auxiliar no posicionamento de objetos – recurso disponível nos softwares de editoração e tratamento de imagem. M Mancha: a parte onde o texto está impresso. A mancha é emoldurada por margens que têm como função garantir que nada importante seja excluído no processo de corte da revista. As imagens podem invadir as margens e quando “vazam” para esta área e são cortadas, dizemos que as imagens “sangram”. Miolo: nome dado à parte interna da revista. N Nota(s): texto curto geralmente diagramado em colunas referente a um determinado assunto. O Olho (da matéria): frase destacada de uma material. Pode ser sob o título ou em determinado local da página. P Publi-editoriais (ou informe publicitário): reportagens que são pagas para serem veiculadas. Algumas empresas preferem fazer publicidade em forma de reportagem para tentar enganar o leitor se valendo de recurso técnicos e gráficos para transmitir sua mensagem comercial. O termo publi-editorial é uma mistura entre as duas palavras: publicidade e editorial. R Retranca: também conhecido como cartola ou chapéu é uma palavra ou frase que identifica um texto ou nome de uma sessão. Por exemplo: “Eduçação” pode ser uma retranca que identifica um texto sobre o ensino no Brasil. Em reportagens é usada sobre o título do texto. S Sangrada (foto): quando a fotografia ultrapassa a margem, finalizando além da página. Serifa: pequenos traços e prolongamentos que ocorrem no fim das hastes das letras. Still: foto de produtos, geralmente sem fundo (ou recortado). T Templates: páginas-modelo que estão semi-prontas que servem como base para a criação do leiaute. Transparência (ou opacidade): quando determinado elemento (foto, figura geométrica, etc) recebe tonalidade mais clara do que sua cor original. A opacidade pode variar de 1 a 99%, dependendo o efeito que se queira dar. V Vazado (texto): quando o texto fica em branco sobre um fundo colorido. Versalete: é uma forma de composição onde todos os caracteres ficam em maiúsculas mas com tamanho da minúscula. Design em revista feminina 191 Lista de figuras Design em revista feminina 193 Lista de figuras Fig. 1 - Quadro sobre as revistas de consumo ................................................................................................................................ 31 Fig. 2 - Quadro sobre as revistas femininas ................................................................................................................................... 35 Fig. 3 - Quadro com as divisões do segmento de das revistas femininas ............................................................................... 36 Fig. 4 - Revista Marie Claire americana (agosto/2009) e (dezembro/2006) ........................................................................... 41 Fig. 5 - Editorial de Vogue com as melhores modelos do momento ......................................................................................... 41 Fig. 6 - Formato revista Caras .............................................................................................................................................................. 48 Fig. 7 - Formato revista Nova ............................................................................................................................................................... 48 Fig. 8 - Formato revista Gloss .............................................................................................................................................................. 48 Fig. 9 - Reportagem sobre culinária revista The Oprah Magazine (abril / 2009) .................................................................. 52 Fig. 10 - Exemplos de aplicações de fontes de legibilidade e leiturabilidade ruim ............................................................. 53 Fig. 11 - Placa sumérica de cerca de 2350 a. C .............................................................................................................................. 54 Fig. 12 - Grade de página dupla........................................................................................................................................................... 55 Fig. 13 - Reportagem sobre as perigosas dietas de desintoxicação, revista Self .................................................................. 58 Fig. 14 - Reportagem da revista Loaded, extraída do livro Editorial Design (Zappaterra, 2007) ...................................... 61 Fig. 15 - Editorial sobre finanças, revista Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 .................................................................. 68 Fig. 16 - Intervenção em editorial da revista Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 ........................................................... 68 Fig. 17 - Espectro de apresentação de imagens. Partem do literal e vão até o abstrato .................................................... 69 Fig. 18 - Editorial sobre o poder das mulheres, Claudia, ano 48, no 6, janeiro de 2008...................................................... 70 Fig. 19 - Editorial sobre finanças, Claudia, ano 47, no 11, novembro de 2008....................................................................... 70 Fig. 20 - Alexey Brodovitch em 1959, analisando o sequenciamento do livro Observations ............................................ 71 Fig. 21 - Espelho do tipo Miolo nobre ............................................................................................................................................... 72 Fig. 22 - Espelho do tipo Zigue-zague .............................................................................................................................................. 73 Fig. 23 - Espelho do tipo Sobe e desce .............................................................................................................................................. 73 Fig. 24 - Capa Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009 . ................................................................................................................ 76 Fig. 25 - Suplemento de culinária Comida & Bebida, Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009 ......................................... 77 Fig. 26 - Faixa etária dos leitores de Claudia ................................................................................................................................. 77 Fig. 27 - Classe social dos leitores de Claudia .............................................................................................................................. 78 Fig. 28 - Claudia Natal, 2008 .............................................................................................................................................................. 78 Fig. 29 - O Grande Livro de Receitas de Claudia ............................................................................................................................. 78 Fig. 30 - A Casa de Claudia, capa extraída da edição de dezembro de 1979 (ano 8, no 12)............................................... 78 Fig. 31 - Casa Claudia, maio de 2008 ............................................................................................................................................... 78 Fig. 32 - Claudia Moda, no 48, 1990 ................................................................................................................................................. 79 Fig. 33 - Claudia Cozinha, março de 2006 ...................................................................................................................................... 79 Fig. 34 - Claudia Nossos Filhos, imagem extraída da edição de agosto de 1979 (ano 18, no 8) ...................................... 79 Fig. 35 - Claudia Bebê, edição 505F, 2004 ...................................................................................................................................... 79 Fig. 36 - Sumário, Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008 .............................................................................................................. 80 Fig. 37 - Capa Claudia, ano 47, no 8, agosto de 2008 .................................................................................................................. 82 Fig. 38 - Capa Claudia, ano 47, no 10, outubro de 2008 ............................................................................................................ 82 Fig. 39 - Capa Claudia, ano 48, no 3, março de 2009 ................................................................................................................... 82 Fig. 40 - Capa Claudia, ano 48, no 8, agosto de 2009 .................................................................................................................. 82 Fig. 41 - Glamour, setembro de 2006 ............................................................................................................................................... 83 Fig. 42 - Glamour, setembro de 2007................................................................................................................................................. 83 Fig. 43 - Glamour, outubro de 2008 .................................................................................................................................................. 83 Fig. 44 - Capa Claudia, ano 7, no 80, maio de 1968 ..................................................................................................................... 86 Fig. 45 - Cozinha Experimental de Claudia, Claudia, ano 3, no 21, junho de 1963 ............................................................. 88 Fig. 46 - Selo Qualidade Comprovada Claudia, ano 3, no 21, junho de 1963 . ..................................................................... 89 Fig. 47 - Anúncio publicado em Claudia, ano 7, no 80, maio de 1968 .................................................................................... 90 Fig. 48 - Anúncio publicado em Claudia, ano 6, no 69, junho de 1967.................................................................................... 90 194 Fig. Design em revista feminina 49 - Promoção publicada em Claudia, ano 8, no 95, agosto de 1969................................................................................ 91 Fig. 50 - Capa Claudia, ano 1, no 1, outubro de 1961 .................................................................................................................. 92 Fig. 51 - Capa Claudia, ano 1, no 2, novembro de 1961 . ............................................................................................................. 93 Fig. 52 - Capa Claudia, ano 2, no 3, março de 1962 ..................................................................................................................... 93 Fig. 53 - Capa Claudia, ano 3, no 6, junho de 1963 ...................................................................................................................... 93 Fig. 54 - Editorial de moda em Claudia, ano 8, no 95, agosto de 1969 ................................................................................... 94 Fig. 55 - Editorial de moda em Claudia, ano 7, no 80, maio de 1968 ..................................................................................... 94 Fig. 56 - Capa Claudia, ano 17, no 196, janeiro de 1978 ............................................................................................................. 95 Fig 57 - Capa Claudia, ano 18, no 219, dezembro de 1979 ........................................................................................................ 95 Fig 58 - Editorial ao lado de anúncio, Claudia, ano 3, no 21, junho de 1963 ........................................................................ 95 Fig 59 - Selo em Claudia, ano 6, no 69, junho de 1967 ............................................................................................................... 96 Fig. 60 - Selo em Claudia, ano 13, no 155, agosto de 1974 ....................................................................................................... 96 Fig. 61 - Selo em Claudia, ano 13, no 155, agosto de 1974 . ...................................................................................................... 96 Fig. 62 - Editorial de Claudia, ano 18, no 219, dezembro de 1979 ........................................................................................... 96 Fig. 63 - Imagens de Claudia retiradas do site dos designers Mary Hopkins e Will Baumann . ....................................... 97 Fig. 64 - Editorial de moda, Claudia, ano 14, março de 1975..................................................................................................... 98 Fig. 65 - Seção The SuperMãe, Claudia, ano 17, no 196, janeiro de 1978 . ............................................................................ 99 Fig. 66 - Seção The Super-Mãe, Claudia, ano 18, no 219, dezembro de 1979 ...................................................................... 99 Fig. 67 - Editorial de comportamento, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009.......................................................................... 103 Fig. 68 - Editorial de Claudia, ano 48, no 4, abril de 2009............................................................................................................ 104 Fig. 69 - Editorial de Claudia, ano 47, no 9, setembro de 2008 ................................................................................................. 104 Fig. 70 - Editorial de Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008 ........................................................................................................ 104 Fig. 71 - Editorial de Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008 ......................................................................................................... 105 Fig. 72 - Editorial de Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008 .......................................................................................................... 105 Fig. 73 - Editorial de Claudia, ano 47, no 9, setembro de 2008 ................................................................................................. 105 Fig. 74 - Entrevista, Claudia, ano 48, no 3, março de 2009 ........................................................................................................ 105 Fig. 75 - Editorial de moda, Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 .......................................................................................... 106 Fig. 76 - Editorial de Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 . ..................................................................................................... 106 Fig. 77 - Editorial de moda, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 ............................................................................................ 106 Fig. 78 - Editorial de moda, Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008 . .............................................................................. 107 Fig. 79 - Editorial sobre os 10 anos do Viagra, Claudia, ano 47, no 11, novembro de 2008 .............................................. 107 Fig. 80 - Reportagem sobre corrida, Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009.......................................................................... 108 Fig. 81 - Matéria com dicas para ter mais energia, Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009............................................... 108 Fig. 82 - Editorial de comportamento, Claudia, ano 47, no 12, julho de 2009....................................................................... 109 Fig. 83 - Perfil do ator, Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 ................................................................................................... 110 Fig. 84 - Editorial sobre casamento, Claudia, ano 47, no 7, julho de 2008 ............................................................................ 110 Fig. 85 - Editorial sobre sexo, Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008 ............................................................................. 110 Fig. 86 - Reportagem sobre aborto, Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008 ............................................................................ 111 Fig. 87 - Seção O que eu faço agora? Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008 ........................................................................ 112 Fig. 88 - Reportagem sobre espiritualidade, Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008 ............................................................ 112 Fig. 89 - Editorial de moda, Claudia, ano 48, no 2, fevereiro de 2009 ..................................................................................... 114 Fig. 90 - Editorial de moda, Claudia, ano 48, no 4, abril de 2009 ............................................................................................. 114 Fig. 91 - Editorial de moda, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 ........................................................................................... 115 Fig. 92 - Reportagem sobre relacionamento, Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008 ........................................................... 116 Fig. 93 - Reportagem sobre relacionamento, Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008 ........................................................... 116 Fig. 94 - Matéria sobre mamografia, Claudia, ano 48, no 2, fevereiro de 2008 .................................................................... 116 Fig. 95 - Matéria sobre cortes de cabelo, Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008 .................................................................... 117 Fig. 96 - Matéria sobre finanças, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2008 ................................................................................. 117 Fig. 97 - Matéria sobre educação, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 . ............................................................................ 117 Fig. 98 - Matéria sobre stress, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 ...................................................................................... 118 Fig. 99 - Matéria sobre comportamento, Claudia, ano 47, no 10, outubro de 2008 . .......................................................... 118 Design em revista feminina 195 Fig. 100 - Reportagem sobre atualidades, Claudia, ano 48, no 7, maio de 2009 .................................................................. 118 Fig. 101 - Matéria sobre tratamentos de beleza, Claudia, ano 47, no 7, julho de 2008 ..................................................... 119 Fig. 102 - Matéria sobre maquiagem, Cabelos & Cosméticos, ano 5, no 28, junho de 2006 ............................................. 119 Fig. 103 - Editorial sobre tratamento para pele, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 ..................................................... 120 Fig. 104 - Editorial sobre tratamento para pele, Claudia, ano 42, no 3, março de 2003 .................................................... 120 Fig. 105 - Matéria sobre tireoide, Claudia, ano 47, no 7, julho de 2009 ................................................................................. 120 Fig. 106 - Matéria sobre tireoide, Plástica & Beleza, ano 11, no 99, dezembro de 2008 .................................................... 120 Fig. 107 - Editorial de beleza, Claudia, ano 47, no 4, dezembro de 2008 ............................................................................... 120 Fig. 108 - Matéria sobre dieta, Allure, ano 47, no 4, abril de 2008 .......................................................................................... 120 Fig. 109 - Matéria sobre Cabelos Claudia, ano 48, no 2, fevereiro de 2009 ........................................................................... 121 Fig. 110 - Matéria sobre Cabelos, Glamour, maio de 2008 ......................................................................................................... 121 Fig. 111 - Editorial de beleza, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 ......................................................................................... 121 Fig. 112 - Reportagem sobre procedimentos injetáveis, Allure, fevereiro de 2008 .............................................................. 121 Fig. 113 - Matéria sobre câncer de mama, Glamour, outubro de 2008.................................................................................... 122 Fig. 114 - Matéria sobre câncer de mama, Claudia, ano 47, no 7, janeiro de 2009 ............................................................. 122 Fig. 115 - Reportagem sobre bases, The Oprah Magazine, setembro de 2007 ...................................................................... 122 Fig. 116 - Seção fixa Beleza essencial sobre bases (maquiagem), Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008......................... 122 Fig. 117 - Matéria sobre proteção solar, Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008 . ........................................................ 123 Fig. 118 - Matéria sobre proteção solar, Self, julho de 2007........................................................................................................ 123 Fig. 119 - Propaganda da Nivea de máscara para cílios, Votre Beauté, abril de 2008 . ..................................................... 123 Fig. 120 - Reportagem de previsões astrológicas, Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008 ............................................ 123 Fig. 121 - Editorial de óculos, Claudia, ano 47, no 12, novembro de 2008 ............................................................................ 124 Fig. 122 - Sequência do conteúdo editorial de Claudia ............................................................................................................... 124 Fig. 123 - Simulação resumida do espelho de Claudia ................................................................................................................ 125 FIg. 124 - Matéria sobre cabelos, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 ................................................................................. 126 Fig. 125 - Matéria de capa, Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 .......................................................................................... 128 Fig. 126 - Matéria de capa, Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009 . ....................................................................................... 128 FIg. 127 - Matéria de capa, Claudia, ano 48, no 9, setembro de 2009 .................................................................................... 128 Fig. 128 - Matéria de capa, Claudia, ano 47, no 1, janeiro de 2008 . ....................................................................................... 129 Fig. 129 - Matéria de capa, Claudia, ano 47, no 7, julho de 2008 ............................................................................................ 129 Fig. 130 - Matéria de capa, Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008 ................................................................................. 129 Fig. 131 - Matéria de capa, Claudia, ano 48, no 8, agosto de 2009 ......................................................................................... 130 FIg. 132 - Matéria de capa, Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008 ............................................................................................ 130 Fig. 133 - Matéria de capa, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 ............................................................................................ 130 Fig. 134 - Matéria de capa, Claudia, ano 47, no 3, abril de 2008 ............................................................................................. 131 Fig. 135 - Editorial de beleza, Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008 ................................................................................. 132 Fig. 136 - Editorial de beleza, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 ........................................................................................ 132 Fig. 137 - Editorial de beleza, Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008 ................................................................................. 133 FIg. 138 - Editorial de beleza, Claudia, ano 47, no 7, julho de 2008 ........................................................................................ 133 Fig. 139 - Programa de Verão, Claudia, ano 48, no 9, setembro de 2008 ............................................................................... 134 Fig. 140 - Programa de Verão, Claudia, ano 48, no 9, setembro de 2009 ............................................................................... 134 fig. 141 - Reportagem destinada a diversas faixas etárias, Claudia, ano 47, no 8, agosto de 2008 ............................... 135 Fig. 142- Reportagem destinada a diversas faixas etárias, Claudia, ano 47, no 8, março de 2009 ................................. 135 Fig. 143 - Editorial de beleza, Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008 ........................................................................................ 135 Fig 144 - Editorial de moda, Claudia, ano 48, no 9, setembro de 2009 .................................................................................. 136 fig. 145 - Editorial de moda para diferentes faixas etárias, Claudia, ano 47, no 11, outubro de 2008 .......................... 138 Fig. 146 - Matéria de moda para cada faixa etária, Claudia, ano 48, no 8, agosto de 2009 ............................................ 138 Fig. 147 - Matéria sobre a descriminalização da maconha, Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008 .......................... 139 Fig. 148 - Entrevista com Inês Alberti, Claudia, ano 49, no 5, maio de 2009 ........................................................................ 139 Fig. 149 - Perfil com o ator Dan Stulbach, Claudia, ano 48, no 3, março de 2008 .............................................................. 140 Fig. 150 - Matéria sobre a história de Lee Miller, Claudia, ano 48, no 4, abril de 2009 ..................................................... 140 196 Design em revista feminina Fig. 151 - Matéria de turismo, Claudia, ano 47, no 7, julho de 2009 ....................................................................................... 140 Fig. 152 - Matéria sobre espiritualidade, Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 ................................................................. 141 Fig. 153 - Reportagem sobre cabala, Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008 . ........................................................................ 141 Fig. 154 - Reportagem sobre segurança (psicológica) da mulher, Claudia, ano 47, no 9, setembro de 2008 .............. 142 Fig. 155 - Matéria sobre sexo, Claudia, ano 48, no 7, junho de 2009 ...................................................................................... 142 Fig. 156 - Matéria sobre como conquistar e manter o homem certo, Claudia, ano 48, no 9, setembro de 2009......... 142 Fig. 157 - Matéria sobre comportamento masculino, Claudia, ano 47, no 8, agosto de 2008 ......................................... 142 Fig. 158 - Matéria sobre o Prêmio Claudia, Claudia, ano 48, no 8, agosto de 2009 ............................................................ 143 Fig. 159 - Matéria sobre o Fórum Claudia pela Mulher Brasileira, Claudia, ano 48, no 8, agosto de 2009 . ................. 143 Fig. 160 - Matéria sobre o projeto Educar para crescer, Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008 ............................ 143 Fig. 161 - Matéria do projeto Planeta sustentável, Claudia, ano 47, no 12, fevereiro de 2008......................................... 144 Fig. 162 - Matéria de decoração, Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 ............................................................................... 145 Fig. 163 - Matéria de decoração de Natal, Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008 ..................................................... 145 Fig. 164 - Matéria de decoração com Danuza Leão, Claudia, ano 47, no 10, outubro de 2008 ....................................... 145 Fig. 165 - Matéria de decoração sobre cadeiras, Claudia, ano 41, no 2, fevereiro de 2002 .............................................. 146 Fig. 166 - Matéria de decoração, Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008 .................................................................................. 146 Fig. 167 - Capa suplemento Claudia Comida & Bebida, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 ....................................... 147 Fig. 168 - Matéria do suplemento Claudia Comida & Bebida, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 ............................ 147 Fig. 169 - Matéria sobre feijão, suplemento Claudia Comida & Bebida, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 ......... 148 Fig. 170 - Invenções de Bettina, Claudia Comida & Bebida, ano 48, no6, junho de 2009 .................................................. 148 Fig. 171 - Matéria sobre sobremesas, Claudia Comida & Bebida, ano 48, no 9, setembro de 2009.................................. 148 Fig. 172 - Matéria sobre receitas, Claudia Comida & Bebida, Claudia, ano 48, no 9, setembro de 2009 ...................... 149 Fig. 173 - Sumário, Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008 ............................................................................................................ 151 Fig. 174 - Seção Eu e você, Claudia, ano 48, no 3, março de 2009 ........................................................................................... 152 Fig. 175 - Seção Claudia Online, Claudia, ano 48, no 7, julho de 2009 ................................................................................... 153 Fig. 176 - Seção Sua opinião, Claudia, ano 48, no 7, julho de 2009 ........................................................................................ 154 Fig. 177 - Horóscopo, Claudia, ano 47, no 9, setembro de 2008 ............................................................................................... 154 Fig. 178 - Horóscopo, Claudia, ano 48, no 7, julho de 2009 ....................................................................................................... 154 Fig. 179 - Conversa com Danuza, Claudia, ano 48, no 4, abril de 2009 .................................................................................. 155 Fig. 180 - Conversa com Danuza, Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 ............................................................................... 155 Fig. 181 - Carta de Fernanda Young, Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 ......................................................................... 155 Fig. 182 - Conexão Claudia, Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 ......................................................................................... 156 Fig. 183 - Conexão Claudia, Claudia, ano 47, no 11, novembro de 2008 ................................................................................ 156 Fig. 184 - Seção A sua saúde, Claudia, ano 47, no 10, outubro de 2008.................................................................................. 157 Fig. 185 - Seção Boa viagem, Claudia, ano 47, no 10, outubro de 2008 ................................................................................. 157 Fig. 186 - Seção Coisa de criança, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 ............................................................................... 157 Fig. 187 - Seção Turma teen, Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008 ........................................................................................ 157 Fig. 188 - Seção Dinheiro agora, Claudia, ano 48, no 7, julho de 2009 ................................................................................... 157 Fig. 189 - Seção Amigo bicho, Claudia, ano 47, no 9, setembro de 2008 ............................................................................... 157 Fig. 190 - Fique mais bonita, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 .......................................................................................... 158 Fig. 191 - Nutrição inteligente, Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009 ................................................................................. 158 Fig. 192 - Livros que a gente ama, Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008 ................................................................................ 158 Fig. 193 - Balcão de beleza, Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008 ............................................................................................ 158 Fig. 194 - Balcão de beleza, Claudia, ano 48, no 2, fevereiro de 2009 .................................................................................... 158 Fig. 195 - Balcão de beleza, Claudia, ano 48, no 2, fevereiro de 2009 .................................................................................... 158 Fig. 196 - Seção Mulheres que fazem a diferença, Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008 ................................................... 159 Fig. 197 - Seção Consulta de beleza, Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008 .................................................................... 160 Fig. 198 - Seção O que eu faço agora? Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008......................................................................... 160 Fig. 199 - Seção A lei e você, Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008 ........................................................................................... 160 Fig. 200 - Seção Relações delicadas, Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008 .................................................................... 160 Fig. 201 - Seção De visual novo, Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008 ........................................................................ 161 Design em revista feminina 197 Fig. 202 - Seção Desafio de moda e beleza, Claudia, ano 48, no 7, julho de 2009 ............................................................... 161 Fig. 203 - Vitrine de acessórios, Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008 ......................................................................... 162 Fig. 204 - Seção Esta moda vai durar, Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008 .......................................................................... 162 Fig. 205 - Seção Supertendência, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 ................................................................................. 162 Fig. 206 - Seção Na última moda, Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008 ......................................................................... 162 Fig. 207 - Look total até..., Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 .............................................................................................. 162 Fig. 208 - Seção Básicos de Claudia, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 .......................................................................... 163 Fig. 209 - Seção Básicos de Claudia, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 .......................................................................... 164 Fig. 210 - Onde Encontrar, Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009 .......................................................................................... 164 Fig. 211 - Seção Mulheres alteradas, Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008 .................................................................... 165 Fig. 212 - Seção Páginas da vida, Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009 .............................................................................. 165 Fig. 213 - Capa Claudia, ano 47, no 1, janeiro de 2008 ............................................................................................................... 166 Fig. 214 - Capa Claudia, ano 47, no 9, setembro de 2008 ........................................................................................................... 166 Fig. 215 - Capa Claudia, ano 37, no 444, setembro de 1998 ...................................................................................................... 167 Fig. 216 - Capa Claudia Comida & Bebida, ano 48, no 8, agosto de 2009 .............................................................................. 167 Fig. 217 - Capa Claudia, ano 47, no 1, janeiro de 2008 ............................................................................................................... 169 Fig. 218 - Capa Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008 ............................................................................................................ 169 Fig. 219 - Capa Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 . ............................................................................................................... 169 Fig. 220 - Capa Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008 .................................................................................................................... 169 Fig. 221 - Capa Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008 ................................................................................................................... 169 Fig. 222 - Capa Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008 ................................................................................................................. 169 Fig. 223 - Capa Claudia, ano 47, no 7, julho de 2008 ................................................................................................................... 169 Fig. 224 - Capa Claudia, ano 47, no 8, agosto de 2008 ............................................................................................................... 169 Fig. 225 - Capa Claudia, ano 47, no 9, setembro de 2008 . ......................................................................................................... 169 Fig. 226 - Capa Claudia, ano 47, no 10, outubro de 2008 ........................................................................................................... 171 Fig. 227 - Capa Claudia, ano 47, no 11, novembro de 2008 ....................................................................................................... 171 Fig. 228 - Capa Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008 ....................................................................................................... 171 Fig. 229 - Capa Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009 ............................................................................................................... 171 Fig. 230 - Capa Claudia, ano 48, no 2, fevereiro de 2009 ........................................................................................................... 171 Fig. 231 - Capa Claudia, ano 47, no 3, março de 2009 . ............................................................................................................... 171 Fig. 232 - Capa Claudia, ano 48, no 4, abril de 2009 .................................................................................................................... 171 Fig. 233 - Capa Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 ................................................................................................................... 171 Fig. 234 - Capa Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 ................................................................................................................. 171 Fig. 235 - Capa Claudia, ano 48, no 7, julho de 2009 ................................................................................................................... 173 Fig. 236 - Capa Claudia, ano 48, no 8, agosto de 2009 ............................................................................................................... 173 Fig. 237 - Capa Claudia, ano 48, no 9, setembro de 2009 . ......................................................................................................... 173 Fig. 238 - Capa Claudia Comida & Bebida, ano 48, no 4, abril de 2009 .................................................................................. 174 Fig. 239 - Capa Claudia, agosto de 2003 ......................................................................................................................................... 184 Fig. 240 - Capa Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 ................................................................................................................... 184 FIg. 241 - Diversas capas de Claudia dos anos de 1990 .............................................................................................................. 185 Design em revista feminina 199 Referências bibliográficas Design em revista feminina 201 Referências bibliográficas ABREU, Bento Fagundes de. 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