Trabalho 365
RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE: A BUSCA PELA
INTEGRALIDADE
Maria de Fátima Meinberg Cheade1, Marisa Dias Rolan Loureiro2, Analice Cristhian Flavio Quintanilha3
Oleci Pereira Frota4, Alessandra Rigo Pinheiro5.
RESUMO
Introdução: A integralidade é um dos princípios básicos definido na Lei Orgânica de Saúde que
estabeleceu os princípios do SUS com base no artigo 198 da Constituição Federal 1 de 1988: "[...]
entendida como um conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos,
individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema". No
entanto, outros sentidos podem ser pensados para o termo, incluindo o cuidado em si, na prática
profissional. A integralidade é descrita como capacidade técnica resolutiva, ressaltando o aspecto singular
de cada caso e a importância da idéia do todo, expressa do ponto de vista da totalidade do indivíduo
cuidado, com seus agravos, seu contexto social e subjetivo evidenciados na construção do projeto
terapêutico singular2. Ao mesmo tempo, a integralidade pode ser pensada do ponto de vista da
organização hospitalar, do caminho percorrido pelo usuário desde a sua chegada ao serviço até o
momento de sua alta3. As diretrizes da Política Nacional de Humanização4 ressaltam a necessidade da
inclusão da autonomia do usuário no processo de cuidado, no sentido de compreender como ele organiza
suas representações, suas decisões sobre a própria saúde e como avalia as ações em saúde, constituindo
aspectos a serem considerados pelos profissionais de saúde no planejamento das ações, buscando metas a
serem alcançadas, estratégias a serem formuladas para melhor compreender como o usuário organiza suas
representações, as decisões sobre sua saúde e como avalia as ações em saúde. Ao se considerar a questão
da construção do cuidado integral em saúde, torna-se imprescindível superar os entraves da fragmentação
do processo de trabalho advindos das especializações, da multiplicação das áreas profissionais da saúde,
pela tendência de incremento dos profissionais da saúde que intervêm em um mesmo caso 5. Esses
elementos contribuem em maior ou menor grau para a fragmentação e degradação do trabalho clínico. E
ainda, propõem que esse processo de reforma se dê a partir de três pilares conceituais fundamentais: a
1
Enfermeira. Doutora em Ciências da Saúde. Professora Adjunta do Departamento de enfermagem, Coordenadora da Comissão de
Residência Multiprofissional - UFMS. Campo Grande. email- [email protected]
2
Enfermeira. Doutora em Ciências da Saúde. Professora Adjunta do Departamento de enfermagem da UFMS, Tutora do PREMUS-APC
Campo Grande.
3
Enfermeira. Mestre em Doenças Infecciosas e Parasitárias. Enfermeira chefe da seção de enfermagem NHU. Coordenadora do PREMUSAPC. UFMS.
4
Enfermeiro. Residente do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde – Atenção ao Paciente Crítico (PREMUS-APC),
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campus de Campo Grande.
5
Fisioterapeuta. Residente do PREMUS-APC.
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clínica ampliada, a democratização da gestão e a integração do hospital como um dos pontos de conexão
de um sistema público de saúde. Clínica ampliada definida como a capacidade de lidar com pessoas em
sua dimensão social e subjetiva e não apenas em sua dimensão biológica, colocando esse desafio
inclusive para a clínica realizada em hospitais, extrapolando assim, o conceito inicialmente formulado
para o cuidado oferecido através das ações de promoção de saúde. A construção da clínica ampliada se
daria baseada nos seguintes eixos fundamentais: Compreensão ampliada do processo saúde-doença;
construção compartilhada dos diagnósticos e terapêuticas, a transformação dos meios ou instrumentos de
trabalho; ampliação “do objeto de trabalho”; suporte para os profissionais de saúde. Ressalta-se que são
necessárias mudanças nas atitudes dos profissionais de saúde e na organização das instituições no sentido
de institucionalizar o cuidado integral nessas unidades em sua prática clínica, constituindo desafios para
as instituições formadoras e prestadoras de serviços 4 6-8. O Ministério da Educação e Cultura (MEC), em
conjunto ao Ministério da Saúde empenham-se em criar estratégias de formação de novos profissionais
comprometidos com o SUS, na busca da integralidade, entre elas, a implementação da Residência
Multiprofissional em Saúde (RMS), na forma de treinamento em serviço, onde os profissionais da área de
saúde são formados com vistas a atender as necessidades locais de formação. A modalidade de RMS,
inicialmente regulamentada pela promulgação da lei nº 11.129, de 30 de junho de 2005, classificada como
ensino de pós-graduação lato-sensu, voltada para a educação em serviço, destinada às categorias
profissionais que integram a área de saúde, excetuada a médica. A RMS está em processo de
aprimoramento e novas regulamentações9. O presente estudo se justifica pela necessidade de socializar a
proposta de implantacão da RMS na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), tendo como
eixo condutor a busca de uma prática de formação em serviço articulada, na construção de saberes sobre
práticas orientadas pela integralidade. Objetivo:Apresentar a organização, caminhos traçados e desafios
para a implementação da RMS na busca da produção do cuidado integral. Metodologia Trata-se de
estudo descritivo do tipo relato de experiência, sobre a implantação do Programa de Residência
Multiprofissional – Atenção ao Paciente Crítico (PREMUS – APC), do Núcleo de Hospital Universitário
(NHU) “Maria Aparecida Pedrossian”, da UFMS. O PREMUS-APC segue as normativas da Comissão
Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde/ MEC, elaborado por uma parceria entre os
profissionais técnico-administrativos dos diversos serviços do NHU com docentes dos cursos da área de
saúde da UFMS, envolvidos com a assistência e o ensino inseridos nesse hospital. Os dados foram
obtidos de documentos da organização do curso, do regulamento da UFMS para residência
multiprofissional, o projeto original do PREMUS-APC, e seu regimento onde se descrevem a organização
e a conformação da área de concentração seja ela dos eixos transversais ou específicos, bem como a
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organização das práticas. Resultados: O PREMUS-APC iniciou-se em fevereiro de 2010, após
autorização de seu funcionamento, com duração de dois anos, e carga horária de 60 horas semanais, em
regime de tempo integral e dedicação exclusiva. A equipe inicial composta por 10 profissionais, de cinco
áreas distintas, sendo: enfermagem, farmácia, fisioterapia, nutrição e odontologia. A área de concentração
“Atenção ao Paciente Crítico” tem sustentação no perfil epidemiológico e as peculiaridades as quais esses
pacientes estão sujeitos, e a necessidade de cuidados de excelência, dirigidos não apenas para os
problemas fisiopatológicos, mas também para as questões psicossociais e ambientais que se tornam
intimamente interligadas à doença física O PREMUS-APC destina-se a formação de recursos humanos
especializados para o SUS e a produção de conhecimento na atenção em saúde. Os residentes
multiprofissionais do programa são divididos em equipes formadas pela união dos profissionais das
diferentes categorias profissionais, os quais assumem o cuidado dos pacientes considerados críticos nos
diferentes serviços do hospital; esses pacientes são selecionados por meio de uma triagem realizada em
equipe com vistas a identificar os de maior vulnerabilidade biológica, social e/ou psicológica. Os
residentes realizam a avaliação do paciente, e elaboram o plano terapêutico singular, que funciona como
diretriz do atendimento10. As intervenções são implementadas pela equipe e acompanhadas por
tutores/preceptores de cada área profissional, para o alcance dos objetivos propostos, tendo o paciente
como elemento estruturante de todo processo de produção da saúde. Semanalmente, os residentes, tutores
e preceptores reúnem-se para discutir os casos clínicos, onde são reavaliadas as condutas, e propostas
novas ações, traçando metas e objetivos a serem alcançados na assistência integral ao paciente. O preparo
para alta hospitalar constitui uma parte importante da assistência a partir do processo de educação em
saúde para pacientes e familiares. A integração com a equipe médica constitui uma das metas do
programa e dos residentes e, está sendo construída diariamente, durante a implementação do cuidado O
envolvimento de outras categorias profissionais como o serviço social, psicologia e fonoaudióloga
ocorrem no planejamento do cuidado. Considerações finais: A implantação da residência
multiprofissional explora novos horizontes que constituem o cuidado multiprofissional na atenção
integral à saúde. Nos cuidados produzidos, os residentes do PREMUS–APC buscam vivenciar a clínica
ampliada, com alta resolutividade e que pode ser facilmente incorporada à prática hospitalar. O
protagonismo do paciente no plano terapêutico singular tem demonstrado resultados favoráveis no
restabelecimento da sua saúde, com melhor prognóstico e resposta clínica. Contribuições para
enfermagem: A enfermagem participa na organização e coordenação do projeto e, por estar diretamente
ligada ao cuidado do paciente insere-se como um dos pilares do planejamento e realização da assistência.
Desta forma, a enfermagem constrói de maneira sistematizada a assistência e participa da construção de
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novos fazeres e saberes que permitem uma atenção mais humanizada, holística e relacional por meio da
interdisciplinaridade.
Descritores: Cuidados Críticos, Qualidade da Assistência à Saúde; Treinamento em serviço.
Área temática: Processo de cuidar em Saúde e Enfermagem
REFERÊNCIAS
1.
Constituição
Federal
(BR).
Brasília,
1988.
Disponível
em:
http://www.alep.pr.gov.br/system/files/corpo/Con1988br.pdf
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2004;20(5):1411-16.
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Mattos R. Construção da Integralidade: cotidiano, saberes e praticas em saúde. Rio de Janeiro:
IMS/UERJ, 2007.
4.
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Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS. Brasília, 2009.
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Campos GWS, Amaral MA. Clínica ampliada e gestão compartilhada. Ciênc & Saúde Coletiva.
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desafios. Brasília, 2006.
10. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de
Humanização. Clínica ampliada, equipe de referência e projeto terapêutico singular. 2 ed. Brasília;
2008.
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