ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO I 3 – MATERIAIS ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO I Válter Lúcio Mar.2006 ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO I fct - UNL 1 PROGRAMA fct - UNL 1.Introdução ao betão armado 2.Bases de Projecto e Acções 3.Propriedades dos materiais 1. Betão 2. Aço 4.Durabilidade 5.Estados limite últimos de resistência à tracção e à compressão 6.Estado limite último de resistência à flexão simples 7.Estado limite último de resistência ao esforço transverso ……………………….. Válter Lúcio Mar.2006 2 fct - UNL ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO I 3 – MATERIAIS - Betão 3.1. BETÃO O betão é um material formado pela mistura de inertes (areia, britas ou godos, etc.) cimento e água. Após o endurecimento da pasta (cimento e água) o betão constitui uma pedra artificial com as seguintes características: • Peso específico 24kN/m3 a 26kN/m3 • Resistência à compressão fc ≈ 20MPa a 50MPa • Resistência à tracção fct ≈ 1.5MPa a 4MPa • Módulo de elasticidade Ec ≈ 30Gpa • Coeficiente de Poisson ν ≈ 0.2 • Coeficiente de dilatação térmica linear 10-5/ºC • Rotura frágil 1 Pa = 1 N/m2; 1 MPa = 1 MN/m2 = 103 kN/m2; 1 Gpa = 1 GN/m2 = 106 kN/m2 As características indicadas referem-se a betões normais ou correntes, existem betões especiais, tais como betões leves, betões de “alto desempenho” com elevadas resistências (até 120MPa à compressão), e outros. Válter Lúcio Mar.2006 3 fct - UNL ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO I 3 – MATERIAIS - Betão Fluência e Retracção são fenómenos que relacionados com a deformabilidade do betão que se manifestam ao longo do tempo. A sua resistência também varia com a idade do betão. RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO O valor característico da resistência à compressão do betão fck, determinado através do ensaio de provetes cilíndricos (com 150mm de diâmetro e 300mm de altura) aos 28 dias de idade, define a classe de resistência do betão. PROBABILIDADE DE OCORRÊNCIA DE UM DETERMINADO VALOR DA RESISTÊNCIA 95% 5% VALOR DA RESISTÊNCIA fck = 25 MPa fcm = 33MPa O valor característico corresponde ao quantilho de 5%, isto é, a probabilidade de ocorrer um valor menor que o valor característico é de 5%. Válter Lúcio Mar.2006 4 fct - UNL ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO I 3 – MATERIAIS - Betão C25/30 Valor característico da resistência à compressão em provetes cúbicos Valor característico da resistência à compressão em provetes cilíndricos Classes de resistência do betão C12/15 C16/20 C20/25 C25/30 C30/37 C35/45 C40/50 C45/55 C50/60 fck (MPa) 12 16 20 25 30 35 40 45 50 fck,cube (MPa) 15 20 25 30 37 45 50 55 60 fcm (MPa) 20 24 28 33 38 43 38 53 58 300mm m 0m 5 1 150mm Em Portugal, o ensaio de compressão aos 28 dias de idade é efectuado em provetes cúbicos com 150mm de aresta, devendo a correspondência com a resistência em provetes cilíndricos (com 150mm de diâmetro e 300mm de altura) ser efectuada pela relação: fck ≈ 0.8 fck,cube 150mm 150mm O valor médio da resistência à compressão pode ser relacionado com o valor característico pela relação: fcm = fck + 8 [MPa] Válter Lúcio Mar.2006 5 fct - UNL ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO I 3 – MATERIAIS - Betão A RESISTÊNCIA À TRACÇÃO pode ser determinada em ensaios de tracção pura de provetes prismáticos (fct), ou em ensaios de compressão diametral de provetes cilíndricos (ensaio brasileiro) (fct,sp). Neste caso: fct = 0.9 fct,sp • A resistência à tracção pode ser estimada pela seguinte expressão: fctm = 0.30 fck2/3 • A resistência média à tracção por flexão depende da altura da secção transversal da viga. Podendo ser estimada por: fctm,fl = max{(1.6-h) fctm; fctm} (com h em m) 5% • Definem-se os valores característicos inferior fctk,0.05= 0.7 fctm e superior fctk,0.05 fctm fctk,0.95= 1.3 fctm da resistência à tracção. 95% fctm fctk,0.95 Classes de resistência do betão C12/15 C16/20 C20/25 C25/30 C30/37 C35/45 C40/50 C45/55 C50/60 fctm (MPa) 1.6 1.9 2.2 2.6 2.9 3.2 3.5 3.8 4.1 fctk0.05 (MPa) 1.1 1.3 1.5 1.8 2.0 2.2 2.5 2.7 2.9 f 2.0 2.5 2.9 3.3 3.8 4.2 4.6 4.9 5.3 (MPa) Válterctk0.95 Lúcio Mar.2006 6 fct - UNL ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO I 3 – MATERIAIS - Betão RELAÇÃO TENSÃO-DEFORMAÇÃO Define-se o módulo de elasticidade secante Ecm entre σc=0 e 0.4fcm. Os valores de Ecm podem ser estimados por: Ecm = 22 [ fcm / 10 ]0.3 (com fcm em MPa) Classes de resistência do betão C12/15 C16/20 C20/25 C25/30 C30/37 C35/45 C40/50 C45/55 C50/60 Ecm (GPa) 27 29 30 31 33 34 35 36 37 O coeficiente de Poisson pode ser considerado ν=0.2 para betão não fendilhado e ν=0 para betão fendilhado. Válter Lúcio Mar.2006 7 fct - UNL ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO I 3 – MATERIAIS - Betão Classes de resistência do betão CLASSE f ck (Mpa) f ck,cube (MPa) C12/15 12 15 C16/20 16 20 C20/25 20 25 C25/30 25 30 C30/37 30 37 C35/45 35 45 C40/50 40 50 f cm (MPa) 20 24 28 33 38 43 48 C45/55 45 55 C50/60 50 60 C55/67 55 67 C60/75 60 75 C70/85 70 85 C80/95 80 95 C90/105 90 105 58 63 68 78 88 98 4,1 4,2 4,4 4,6 4,8 5,0 f ck,cube ≈ f ck / 0.8 53 f cm = f ck+8(MPa) f ctm (MPa) 1,6 1,9 2,2 2,6 2,9 3,2 3,5 3,8 f ctm= 0,30xf ck(2/3) f ctk, 0,05 (MPa) 1,1 1,3 1,5 1,8 2,0 f ctm= 2,12·In(1+(f cm/ 10)) 2,2 2,5 2,7 2,9 3,0 3,1 3,2 3,4 3,5 5,3 5,5 5,7 6,0 6,3 6,6 37 38 39 41 42 44 2,45 2,5 2,6 2,7 2,8 2,8 3,0 2,8 2,8 2,8 f ctk;0,05 = 0,7×f ctm quantilho de 5% f ctk,0,95 (MPa) 2,0 2,5 2,9 3,3 3,8 4,2 4,6 4,9 f ctk;0,95 = 1,3×f ctm quantilho de 95% E cm (GPa ) 27 29 30 31 33 34 35 36 E cm = 22[(f cm)/10]0,3 (fcm em MPa) ε c1 (‰) 1,8 1,9 2,0 2,1 2,2 2,25 2,3 2,4 ε c1 (0/00) = 0,7 f cm0,31 < 2.8 ε cu1 (‰) 3,5 3,2 ε cu1(0/00)=2,8+27[(98-f cm)/100]4 ε c2 (‰) 2,0 2,2 2,3 2,4 2, 5 2,6 ε c2(0/00)=2,0+0,085(f ck-50)0,53 ε cu2 (‰) 3,5 3,1 2,9 2,7 2,6 2,6 ε cu2(0/ 00)=2,6+35[(90-f ck)/100]4 n 2,0 1,75 1,6 1,45 1,4 1,4 n =1,4+23,4[(90- f ck)/100]4 ε c3 (‰) 1,75 1,8 1,9 2,0 2,2 2,3 ε c3(0 /00 )=1,75+0,55[(f ck-50)/40] ε cu3 (‰) 3,5 3,1 2,9 2,7 2,6 2,6 ε cu3(0/ 00)=2,6+35[(90-f ck)/100]4 Válter Lúcio Mar.2006 8 ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO I 3 – MATERIAIS - Betão RELAÇÃO TENSÃO-DEFORMAÇÃO fct - UNL DIAGRAMA PARÁBOLA-RECTÂNGULO fcd = αcc fck / γC DIAGRAMA IDEALIZADO Valor de cálculo da resistência à compressão do betão n ⎡ ⎛ εc ⎞ ⎤ ⎟⎟ ⎥ σ c = fcd ⎢1 − ⎜⎜ 1 − ε c2 ⎠ ⎥ ⎢⎣ ⎝ ⎦ σ c = fcd Válter Lúcio Mar.2006 DIAGRAMA DE CÁLCULO Coeficiente que tem em conta a redução da resistência a longo prazo. Considerar 1.0 para 0 ≤ εc ≤ εc2 para εc2 ≤ εc ≤ εcu2 Coeficiente parcial de segurança do betão γC=1.5 Para betões de classe igual ou inferior a C50/60 εc2 = 2x10-3; εcu2 = 3.5x10-3 e n=2 9 ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO I 3 – MATERIAIS - Aço fct - UNL 3.2. AÇO PARA ARMADURAS ORDINÁRIAS O aço para armaduras é constituído por varões de secção circular ou malhas rectangulares electrosoldadas de fios ou varões. O aço tem as seguintes características: • Peso específico 77kN/m3 • Resistência à tracção ft ≈ 420MPa a 800MPa • Tensão de cedência em tracção fy ≈ 400MPa a 600MPa • Módulo de elasticidade Es = 200Gpa • Comportamento dúctil • Comportamento em compressão semelhante ao comportamento em tracção. Os varões são nervurados para melhorar a aderência entre a armadura e o betão. Válter Lúcio Mar.2006 10 fct - UNL ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO I 3 – MATERIAIS - Aço Aços correntes em Portugal (400MPa ≤ fyk ≤ 500MPa) Designação Tensão de cedência fyk - f0.2k MPa Tensão de rotura ftk MPa Processo de fabrico A400NR 400 460 Laminado a quente A500NR 500 550 Laminado a quente A500ER 500 550 Endurecido a frio ÁREAS DE SECÇÕES DE VARÕES [cm2] mm PESO 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 kg/m 6 0.28 0.57 0.85 1.13 1.41 1.70 1.98 2.26 2.54 2.83 3.11 3.39 0.222 8 0.50 1.01 1.51 2.01 2.51 3.02 3.52 4.02 4.52 5.03 5.53 6.03 0.395 10 0.79 1.57 2.36 3.14 3.93 4.71 5.50 6.28 7.07 7.85 8.64 9.42 0.617 12 1.13 2.26 3.39 4.52 5.65 6.79 7.92 9.05 10.18 11.31 12.44 13.57 0.888 16 2.01 4.02 6.03 8.04 10.05 12.06 14.07 16.08 18.10 20.11 22.12 24.13 1.578 20 3.14 6.28 9.42 12.57 15.71 18.85 21.99 25.13 28.27 31.42 34.56 37.70 2.466 25 4.91 9.82 14.73 19.63 24.54 29.45 34.36 39.27 44.18 49.09 54.00 58.90 3.853 32 8.04 16.08 24.13 32.17 40.21 48.25 56.30 64.34 72.38 80.42 88.47 96.51 6.313 Válter Lúcio Mar.2006 11 ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO I 3 – MATERIAIS - Aço fct - UNL ENSAIO DE TRACÇÃO DE UM VARÃO Válter Lúcio Mar.2006 12 fct - UNL ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO I 3 – MATERIAIS - Aço Gráfico Tensão-Deformação no Ensaio de Tracção AÇO LAMINADO A QUENTE Varão 10mm A400NR 700 ft = k fy 600 fy endurecimento estricção Tensões MPa 500 patamar de cedência 400 rotura 300 fase elástica 200 Es 100 0 0 εy 20 40 60 80 εu 100 120 140 -3 Extensões x10 Válter Lúcio Mar.2006 13 fct - UNL ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO I 3 – MATERIAIS - Aço Gráfico Tensão-Deformação no Ensaio de Tracção AÇO ENDURECIDO A FRIO Varão 6mm A500ER 800 ft = k f0.2% 700 endurecimento estricção 600 Tensões MPa f0.2% 500 rotura 400 300 fase elástica Es 200 100 0 0εs=0.2% 20 40 60 80 Extensões - x10-3 100 εu 120 140 160 Os aços endurecidos a frio não têm patamar de cedência, define-se fy = f0.2% Válter Lúcio Mar.2006 14 fct - UNL ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO I 3 – MATERIAIS - Aço fyk - valor característico da tensão de cedência CARACTERÍSTICAS PARA CÁLCULO fyd = fyk / γS Valor de cálculo da tensão de cedência do aço f0.2k- valor característico da tensão a 0.2% (εs=2x10-3) ftk = k fyk - valor característico da tensão máxima ou resistência à tracção Coeficiente parcial de segurança do aço γS=1.15 A σ εuk- valor da deformação para ftk k = ft / fyk kfyk kfyk kfyk/γs fyk fyd = fyk/γs Podem ser considerados um dos dois diagramas de cálculo: B 1. Diagrama elasto-plástico sem limitação da extensão limite; fyd/ Es A Válter Lúcio Mar.2006 B ε uk ε ud 2. Diagrama elástico com endurecimento na fase plástica, limitado a uma extensão limite εud = 0.9 εuk . ε Diagrama idealizado Diagrama de cálculo fct - UNL ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO I 3 – MATERIAIS - Aço σ MPa DUCTILIDADE ftk = k fyk fyk A ductilidade é caracterizada por εuk e k = ftk / fyk, em classes A, B e C. 0 Forma do produto Classe de ductilidade Varões e fios A B 2 4 6 Redes electrossoldadas C A B C 400 a 600 (400 a 500 em Portugal) Valor característico da tensão de cedência fyk ou f0,2k (MPa) ≥1,08 ≥1,05 ≥1,08 ≥1,15 <1,35 ≥1,05 Valor característico da extensão à tensão máxima, εuk (%) ≥2,5 ≥5,0 ≥7,5 ≥2,5 Aptidão à dobragem Ensaio de dobragem/desdobragem - Resistência ao corte - 0,3 A fyk (A é a área do fio) ≥5,0 8 εuk 10 12 ε % Requisito ou valor do quantilho (%) 5,0 Valor mínimo de k = (ft/fy)k Válter Lúcio Mar.2006 15 ≥1,15 <1,35 10,0 ≥7,5 10,0 Mínimo 16 ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO I 3 – MATERIAIS - Aço fct - UNL CÓDIGO DAS MARCAS DE IDENTIFICAÇÃO DOS VARÕES Engrossamento ou omissão de nervuras transversais numa das séries de nervuras do varão: • início da identificação é assinalado por uma ou duas nervuras normais entre duas engrossadas (ou omitidas); • a partir da segunda nervura engrossada (ou omitida) o número de nervuras normais identifica o país (Portugal corresponde a sete nervuras normais); • segue-se a identificação do fabricante com uma ou duas séries de nervuras normais entre uma ou duas nervuras engrossadas (ou omitidas). Em redes electrossoldadas a identificação é feita através de etiquetas com o fabricante e a designação da rede. No no caso de redes constituídas por varões nervurados, os varões também são identificados pelo código respectivo. Válter Lúcio Mar.2006 17 ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO I 3 – MATERIAIS - Aço fct - UNL CÓDIGO DAS MARCAS DE IDENTIFICAÇÃO DOS VARÕES Código do País N° de nervuras Áustria, Alemanha e Suíça 1 Bélgica, Holanda e Luxemburgo 2 França 3 Itália 4 Reino Unido, Irlanda e Islândia 5 Dinamarca, Suécia, Noruega e Finlândia 6 Espanha e Portugal 7 Grécia, República Checa e Turquia 8 Outros Países 9 Perfil nervurado dos varões do tipo A500 ER (endurecido a frio) (3 nervuras transversais) Válter Lúcio Mar.2006 18 ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO I 3 – MATERIAIS - Aço Perfil nervurado dos varões do tipo A400 NR fct - UNL Perfil nervurado dos varões do tipo A400 NR de Ductilidade Especial Perfil nervurado dos varões do tipo A500 NR Válter Lúcio Mar.2006 Perfil nervurado dos varões do tipo A500 NR de Ductilidade Especial 19 ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO I 3 – MATERIAIS - Aço fct - UNL CÓDIGO DAS MARCAS DE IDENTIFICAÇÃO DOS VARÕES Designação Tipo A400NR Duct. normal A500NR Duct. normal A400NR Duct. Espec. A500NR Duct. Espec. A500ER Válter Lúcio Mar.2006 Ductilidade Nervuras Nervuras Inclinação das Espaçamento transv. long. nerv. transv. entre nerv. transv. Todas iguais Diferente entre faces B Laminado a quente 2 2 Numa face 2 inclinações Todas iguais C 2 inclinações em cada face Endurecido a frio A 3 Não Igual em todas as faces Todas iguais 20