A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O USO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO Célia Regina de Carvalho1 Universidade Federal de Mato Grosso do Sul RESUMO O presente artigo apresenta parte dos dados coletados durante a realização de um curso de formação em serviço voltado para o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação por professores regentes de anos iniciais do Ensino Fundamental de algumas escolas públicas do município de Nova Andradina – MS. Os dados foram coletados por meio de comentários postados em Fóruns de Discussão e questionários semi-estruturados aplicados aos professores no final do curso. O estudo amparou-se nas seguintes questões norteadoras: Quais atividades podem ser desenvolvidas para a formação de professores de anos iniciais envolvendo o uso das TIC? Quais são as principais dificuldades apresentadas pelos professores para o uso das TIC? Como acontece a troca de experiências e a interação no ambiente virtual? Como acontece a integração dos conhecimentos adquiridos nos encontros à prática dos professores participantes? Os dados coletados evidenciam que os professores têm certa preferência por cursos de formação que enfatizem o aspecto prático da sala de aula, e também necessitam desenvolver maior habilidade para manusear as Tecnologias de Informação e Comunicação, tanto durante o curso de formação quanto em sala de aula. Palavras-chave: Formação docente; Tecnologias de Informação e Comunicação; prática docente INTRODUÇÃO O presente artigo resulta da análise dos resultados alcançados durante um curso de formação voltado para o uso das tecnologias de informação e comunicação, destinado a professores de anos iniciais do Ensino Fundamental de algumas escolas do município de Nova Andradina-MS. Os dados ora analisados foram obtidos por meio da análise dos textos utilizados durante o curso, planos de aula e comentários postados nos fóruns do ambiente virtual 1 Professora Assistente da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul / Câmpus de Naviraí – MS. MOODLE, além de questionários semi-estruturados aplicados aos professores no final do curso. O curso teve como objetivos: (1) oferecer atividades de formação em serviço para a integração das TIC2 à prática docente; promover o uso das TIC visando a melhoria do processo de ensino e aprendizagem; (2) conscientizar professores dos anos iniciais e professores das STE3 quanto à importância da integração das TIC na sala de aula; (3) promover o diálogo e a troca de experiências entre os professores quanto à integração das TIC em sua prática. O curso foi ministrado por uma professora pesquisadora de uma universidade pública do Estado de Mato Grosso do Sul em parceria com o Núcleo de Tecnologias Educacionais de Nova Andradina – MS. Foi desenvolvido durante oito encontros presenciais e oito à distância, enfocando tanto o aspecto teórico, com textos de autores ligados à área da tecnologia educacional, quanto o aspecto prático, com atividades propostas em cada encontro e compartilhadas com os demais professores nos fórum, no ambiente virtual MOODLE. Esta modalidade de curso de formação, em que a aprendizagem não fica restrita a apenas um contexto, mas visa aliar momentos de encontros on line (à distância) e face-a-face (presencial) é definida por Mateus Filipe (2004, p. 217) como blended-learning ou blearning. De acordo com Legoinha (et al, 2006) o blended-learning consiste em um modelo de ensino e aprendizagem semipresencial e misto com o objetivo de fazer a ponte entre o ensino presencial e o ensino à distância por meio da internet e de software específico, neste caso, o MOODLE. Os textos compartilhados nos fórum e atividades impressas e entregues aos professores serviram para responder às seguintes questões norteadoras da presente investigação: (a) Quais atividades podem ser desenvolvidas para a formação de professores de anos iniciais envolvendo o uso das TIC? (b) Quais são as principais dificuldades apresentadas pelos professores para o uso das TIC? (c) Como acontece a troca de experiências e a interação no ambiente virtual? (d) Como acontece a integração dos conhecimentos adquiridos nos encontros à prática dos professores participantes? 2 3 Tecnologias de Informação e Comunicação. Sala de Tecnologias Educacionais REVISÃO DA LITERATURA Segundo Mercado (1998, p. 1) as novas tecnologias de informação e comunicação4 e o aumento exponencial da informação levam a uma nova organização de trabalho, onde se tornam imprescindíveis a especialização dos saberes, a colaboração interdisciplinar, o fácil acesso à informação e a consideração do conhecimento como um valor precioso, de utilidade na vida econômica. Na sociedade da informação ganham destaque os processos de aquisição do conhecimento em que a informatização do conhecimento tornou mais facilmente acessível os saberes que em outros tempos ficavam restritos a poucas pessoas. Surge, portanto, a necessidade de formar alunos capazes de assimilar de modo crítico a informação presente nos meios eletrônicos e virtuais, a fim de utilizarem “estrategicamente a informação que recebem, para que possam converter esta informação em conhecimento verdadeiro, em um saber ordenado” (POZO, 2007, p. 2). Neste sentido, Pozo (ibid) aponta como uma das metas essenciais da educação, para poder atender às exigências da sociedade atual, a promoção, nos alunos, de capacidades de gestão do conhecimento (gestão metacognitiva). Dentre as competências a serem desenvolvidas, o autor cita como principais as seguintes: a) Competências para a aquisição de informação; b) Competências para a interpretação da informação; c) Competências para a análise da informação; d) Competências para a compreensão da informação; e) Competências para a comunicação da informação. Um dos grandes desafios encontrados pela educação, atualmente, incide na formação de um professor em condições de desenvolver estas competências em seus alunos, isto é, um profissional capaz de promover uma transformação no espaço educacional. A sala de aula, neste novo contexto, passa a ser apenas mais um local onde se dá o conhecimento, pois o aluno pode acessá-lo em qualquer lugar e continuar aprendendo independentemente da influência da escola. A maior dificuldade para o professor reside na necessidade de adotar uma postura colaborativa com o aluno, uma vez que tradicionalmente, é visto como “dono do saber”. De acordo com Leite (2000, p. 41) o professor necessita atingir um ponto de equilíbrio entre as suas expectativas pessoais e as dos alunos. Esse fato se explica porque a demanda de alunos presentes na escola atual não é mais homogênea, mas engloba alunos com diferentes necessidades. 4 NTIC Torna-se necessário, portanto, saber criar condições para que o aluno desenvolva as funções psíquicas que ainda não estão formadas, ensinando e dirigindo o processo educativo, com a finalidade de “... potencializar as possibilidades do aluno, de forma que converta em desenvolvimento atual aquilo que estava na zona de desenvolvimento próximo” (ou proximal5) (FACCI, 2004, p. 231). As tecnologias não mudam necessariamente a relação pedagógica, embora possam modificar algumas funções do professor que deixaria de ser o único detentor do conhecimento e se transformaria em um estimulador da curiosidade do aluno, em um coordenador ou um questionador dos resultados apresentados. A partir do uso das TIC extrapola-se a tarefa de ensinar, procurando criar condições de aprendizagem. Assim sendo, o professor passa a ocupar a função de criador de ambientes de aprendizagem buscando facilitar o processo de desenvolvimento intelectual do aluno (MORAN, 1995; VALENTE, 1993a). O processo de ensino e aprendizagem passa a admitir não somente o conhecimento que o professor traz mas também, e principalmente, estabelecer a troca entre ele e os alunos. As dúvidas e informações desconexas que os alunos encontram em todos os ambientes, inclusive o virtual, devem ser canalizadas pelo professor, visando a construção de hipóteses, sínteses e relatórios, propiciando a construção do conhecimento. Este novo tipo de professor é visto como “um parceiro, um pedagogo, que seja capaz de encaminhar e orientar o aluno diante das múltiplas possibilidades e formas de alcançar o conhecimento e de se relacionar com ele” (KENSKI, 2003, p. 47). Kenski (ibid) aponta quatro diferentes tipos de ensino que podem ser desenvolvidos por meio do uso das TIC, sugerindo um redimensionamento da postura docente. Dentre as possibilidades apresentadas pela autora, duas parecem ser mais apropriadas quando se propõe um ensino voltado para a construção de conhecimentos. Uma delas se refere ao desenvolvimento de uma postura que coloca o professor na posição de pesquisador que interage com o conhecimento por meio dos mais diferenciados recursos multimidiáticos. Outra modalidade considera tanto o professor quanto os alunos como “colaboradores, utilizando os recursos multimidiáticos em conjunto para realizarem buscas e trocas de informações, criando um novo espaço significativo de ensino e aprendizagem em que todos ensinam e aprendem ao mesmo tempo”. Para tanto, a dinâmica da 5 De acordo com Vygotsky a Zona de Desenvolvimento Próximo ou Proximal (ZDP) é a distância entre o nível de desenvolvimento cognitivo real do indivíduo e o seu nível de desenvolvimento potencial. Esta zona define as funções que ainda não amadureceram, mas que estão no processo de maturação (MOREIRA, 1999, p. 116). sala de aula requer atividades que possam privilegiar o trabalho em equipe, sendo que o professor passa a ser um dos membros participantes (KENSKI, ibid, p. 47). Quando o professor optar pelo uso das novas tecnologias deve atentar para o fato de que a “diferença didática não está no uso ou não uso das novas tecnologias, mas na compreensão das suas possibilidades, ou seja, na compreensão da lógica que permeia a movimentação entre os saberes no atual estágio da sociedade tecnológica”. É preciso que o professor tenha compreensão do contexto em que a escola atual encontra-se inserida, com vistas a ser capaz de promover mudanças significativas no processo de ensino e aprendizagem, possibilitando aos alunos a capacidade de compreenderem todos os condicionantes da sociedade tecnológica, pois só é possível intervir visando à transformação da mesma, a partir da compreensão das relações de poder que estão presentes nela (KENSKI, 1999, p. 50). Como formar esse professor? Para adquirir uma nova postura perante as TIC o professor necessita contar com uma formação inicial e/ou continuada que lhe possibilite compreender o impacto das novas tecnologias da sociedade atual, saber utilizá-las de maneira satisfatória e, principalmente, que obtenha conhecimento de como fazer uso das mesmas de forma didática e pedagógica. Segundo Kenski (2003, p. 47), devem ser proporcionadas condições para que o professor possa ter tempo e oportunidades de se familiarizar com “as novas tecnologias educativas, suas possibilidades e limites para que, na prática, faça escolhas conscientes sobre o uso das formas mais adequadas ao ensino de um determinado tipo de conhecimento, em um determinado nível de complexidade, para um grupo específico de alunos e no tempo disponível”. Torna-se imprescindível proporcionar ao professor, meios para que possa dominar o uso das tecnologias em sala de aula, criá-las, adequá-las ao contexto educacional a fim de maximizar suas potencialidades. Os cursos de formação podem levá-los a “assumir um papel na equipe produtora dessas novas tecnologias educativas”, garantindo ao professor em formação condições para “ser agente, produtor, operador e crítico das novas tecnologias educativas” (KENSKI, ibid. p. 47). Neste contexto, Mercado (1998, p. 1) defende que o processo de formação continuada de professores deve proporcionar condições para a construção de conhecimentos sobre as novas tecnologias, levando-os a compreenderem a importância das tecnologias na sociedade atual, procurando integrá-las à prática pedagógica. Os professores devem ser capazes ainda de “superar entraves administrativos e pedagógicos, possibilitando a transição de um sistema fragmentado de ensino para uma abordagem integradora, voltada para a resolução de problemas específicos do interesse de cada aluno”. Para tanto, devem ser criadas condições para que saibam recontextualizar o aprendizado e o saberes resultantes de sua formação para o uso das novas tecnologias em conformidade com as necessidades de seus alunos e objetivos que pretende atingir junto aos mesmos. Neste sentido, a formação não pode restringir-se apenas a formas institucionalizadas, mas voltar-se para as experiências profissionais e para as trocas de saberes vivenciadas no espaço escolar. O incentivo para o desenvolvimento de posturas reflexivas e construtoras de saberes da própria experiência precisa partir do contexto escolar e, assim, desempenhar o papel de propulsor de ações voltadas para a melhoria do trabalho docente. Essa é também a perspectiva defendida por Tardif (2005) quando assinala que, dentre os saberes docentes6, os experienciais resultam da experiência do professor e se referem ao conjunto de saberes adquiridos por meio da prática da profissão docente e podem servir de referenciais para sua orientação profissional. Segundo as ideias de Valente (1999, p. 3), o uso da informática (e das tecnologias em geral) significa a integração entre o domínio dos aspectos técnicos (uso do computador) e dos aspectos pedagógicos. Isso significa que na formação de professores, o “participante do curso deve vivenciar situações onde a informática é usada como recurso educacional, a fim de poder entender o que significa o aprendizado através da informática, qual o seu papel como educador nessa situação, e que metodologia é mais adequada ao seu estilo de trabalho”. Convém chamar a atenção para a importância da criação de cursos de formação que propiciem as condições necessárias para que o profissional domine as TIC sem se sentir ameaçado por elas. Nesses momentos, é preciso favorecer a redefinição do aprendizado e das experiências vividas durante sua formação para sua realidade de sala de aula, compatibilizando as necessidades de seus alunos e os objetivos pedagógicos que se dispõe a atingir (VALENTE, 2005). Além da formação propriamente acadêmica ou profissional há que se considerar a questão de levar os professores a encararem o trabalho docente sob uma nova perspectiva, com vistas a estabelecer um novo tipo de relação com o saber e com os alunos. Trata-se de 6 Tardif (2005, p. 36) define o saber docente como “um saber plural, formado pelo amálgama, mais ou menos coerente, de saberes oriundos da formação profissional e de saberes disciplinares, curriculares e experienciais”. instaurar um novo entendimento: o de que é possível aprender junto com os alunos e, assim, de perceberem-se como “aprendentes e inacabados”, conscientes do “inacabamento”, abertos à procura, curiosos e que concebam a educação como um processo permanente (FREIRE, 2003, p. 58-59). ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS No postados no 1º Fórum de Discussão7 os professores foram convidados a postar suas opiniões e comentários sobre o significado da palavra tecnologia e de como ela está presente no cotidiano das pessoas. Alguns professores apresentaram suas próprias opiniões e outros se basearam nas ideias de autores ligados à área. A maior parte dos relatos se voltou para a influência maciça das TIC na vida das pessoas atualmente: “A tecnologia está presente em nosso cotidiano pela necessidade de informações, pela praticidade que nos proporciona e a comodidade de estar ao nosso alcance em nosso lar e poder estar em conexão com o mundo e seus acontecimentos” (S.S); “São recursos tecnológicos que utilizamos em nosso cotidiano, através de sites, vídeos, softwares, slides, etc” (A.B); “a tecnologia entra de maneira inovadora, assustadora com bons resultados” (C.F); “Eu compreendo como tecnologia, toda ferramenta que nos auxilia em várias atividades do nosso cotidiano. Ela influencia em todas as áreas de nossas vidas, pois ela está presente em uma ferramenta que nos ajuda a resolver problemas, ela nos dá acesso a informações, nos propiciam conhecimento nas mais diversas áreas” (R.M); “Tecnologia são todas as ferramentas que nós utilizamos em nosso dia a dia para facilitar a nossa vida particular, profissional e social” (L.M.C); “Na era em que vivemos tudo o que nos cerca é tecnologia, que muitas vezes passam despercebidas” (M.L); Algumas falas assinalaram a importância das TIC para auxiliar o trabalho docente: “A tecnologia é uma grande arma para o desenvolvimento da aprendizagem, novas descobertas vão sendo adquiridas com um grande avanço e rapidez, não podendo ser separadas, Educação e Tecnologia” (M. A); Outros enfatizaram que os professores necessitam “saber utilizar” as TIC de modo didático em suas aulas: “A grande questão é como trabalhar toda essa evolução dentro da tecnologia do computador com o nosso aluno” (M.A); Alguns depoimentos destacaram a importância de buscar novas formas de “como trabalhar as TIC em sala de aula”, uma vez que o aprendizado do aluno depende da maneira 7 Neste primeiro Fórum houve a participação de vinte e cinco (25) professores. Os professores foram identificados com as iniciais de seus nomes. como é feito o uso dessas ferramentas por parte do professor: “As inovações nos remetem a estar em constante aprendizado, por essa razão se faz necessário a busca constante do "novo saber", principalmente quando faz parte de nossa realidade como educador” (S.S); “Hoje vejo a tecnologia como uma ferramenta necessária ao meu trabalho e não tem como fazê-lo, sem o auxílio dela. Por isso vou procurar me aprofundar cada vez mais nessa área tecnológica para fazer meu trabalho de forma eficaz e prazerosa” (J.M); “Com certeza a tecnologia é uma grande arma para nos beneficiar e nós temos muito que aprender e ensinar” (C.O); “Acho que devemos aprender melhor as tecnologias disponíveis para podermos adquirir mais conhecimentos e tendo mais informações para debatermos e discutirmos melhor os diversos assuntos presente nos meios de comunicação e informação” (M.L). Estes dados apontam para a importância de se levar em consideração, nos cursos de formação continuada, os saberes experienciais dos professores e a partir deles proporcionar a integração das ferramentas tecnologias em sua prática. Neste caso, não se descarta os saberes adquiridos ao longo do exercício da docência, mas sim redefini-los, mobilizando-os em novas situações de ensino e aprendizagem. Com base nos aspectos destacados pelos professores participantes do curso de formação foram elaboradas algumas tabelas para elucidar os pontos que mais chamaram a atenção, tais como: as atividades mais úteis para seu cotidiano, as dificuldades durante o curso tanto com relação ao uso dos equipamentos e ferramentas tecnológicas quanto para com sua aplicação em sala de aula e os conhecimentos que acreditam serem necessários para a utilização mais adequada das TIC. A tabela 1 apresenta os aspectos presentes no curso que mais chamaram a atenção dos participantes. Tabela 1: Os aspectos que mais chamaram a atenção durante o curso Categorias Aspectos Ligados à metodologia Enfoque teórico para embasar as atividades práticas; Linguagem simples e objetiva Metodologia para a utilização do vídeo e DVD Metodologias diversificadas Ligados ao interesse dos Interação entre os professores professores Interesse dos professores Variedade de fontes de informações disponibilizadas Ligados aos saberes para o desenvolvimento das atividades em sala de aula; mobilizados Uso das TIC para proporcionar melhores condições de ensino e aprendizagem TOTAL * O total registrado se refere ao número de posições expressas pelos respondentes. Total * 1 8 1 2 1 3 7 1 24 Os aspectos que mais chamaram a atenção dos professores durante o curso estão ligados à metodologia aplicada, ao interesse dos professores e aos saberes mobilizados durante os encontros. Com relação à metodologia, os professores destacaram o enfoque teórico do curso para embasar a importância da utilização das TIC em sala de aula. O curso apresentou tanto um caráter presencial quanto não-presencial. Durante os encontros presenciais os participantes fizeram o cadastro no ambiente virtual MOODLE, mediante o qual tiveram acesso ao projeto, cronograma e estrutura do curso, bem como aos textos de autores ligados à área da Tecnologia Educacional disponibilizados no ambiente. Após a realização de cada encontro era criado um novo fórum para os participantes comentarem sobre os textos postados, as atividades trabalhadas, assim como compartilhar suas experiências quanto à utilização das tecnologias apresentadas no encontro. A metodologia do curso foi proposta no sentido de valorizar os saberes e experiências que os professores já haviam construído ao longo de sua docência. Esse princípio procura favorecer o desenvolvimento de novas práticas a partir dos seus saberes e experiências. Trata-se de reconhecer que eles têm concepções e que tais concepções guiam sua ação e não se modificam somente pelo acesso à informação nos processos de formação. Para que isto seja possível torna-se necessário partir da experiência dos professores e envolvêlos nos programas de formação, considerando-os como profissionais competentes, reflexivos e abertos à colaboração com seus colegas (HERNANDEZ, 1998, p. 2-3). Tabela 2: Atividades trabalhadas durante o curso que poderão auxiliar em sua prática Categorias Aspectos Total * Uso da Internet Endereços de sites educativos 8 Uso do DVD Utilização de filmes educativos com fichas de interpretação 6 Uso de educacionais softwares Produção de Histórias em Quadrinhos (software educacional da Mônica) 5 Uso de software livre Uso de editores de texto Exploração do Google Earth Produção de textos no Word e ambientes virtuais TOTAL * O total registrado se refere ao número de posições expressas pelos respondentes. 2 3 24 De acordo com a tabela 2, os professores apontaram algumas atividades que julgaram serem úteis para sua prática pedagógica. O que mais chamou a atenção dos professores, durante o curso, foi o fornecimento de uma lista com vários sites educativos, sendo que dentre eles oito (08) apontaram esta atividade como uma dentre as que podem melhor contribuir em sua prática. Os professores apontaram, ainda, como uma atividade interessante a utilização de filmes educativos dentro de uma perspectiva pedagógica. A proposta apresentada pela ministrante do curso consistiu em apresentar algumas vantagens do uso de filmes educativos e/ou provenientes de sites da internet como o Youtube8 que poderiam tornar as aulas mais atrativas, sem, no entanto perder o caráter pedagógico, envolvendo, neste caso, o uso de fichas de interpretação dos filmes assistidos. O fato de os professores apontarem como uma atividade interessante a proposta de utilização de filmes educativos parece ser um tanto contraditória. Isso causa estranheza porque nas escolas em que estes professores lecionam existem aparelhos para a reprodução dos filmes, tanto em vídeo cassete quanto em DVD player. As escolas dispõem também da coleção de filmes da TV Escola e Salto para o Futuro. Além do mais, a facilidade de acesso a filmes educativos tanto em locadoras, lojas especializadas e Youtube e outros meios como o Curtas na Escola9 não justifica a surpresa de alguns professores quanto à proposta de utilização desses recursos em sala de aula presentes há bastante tempo na educação. Essa contradição pode ser explicada pela falta de incentivo ou cobrança para a utilização destas tecnologias, ou até mesmo, em alguns casos devido à deficiência na formação inicial e/ou continuada quanto ao uso pedagógico de filmes educativos ou o cinema em sala de aula. 8 Site ou sítio eletrônico que permite aos seus usuários o compartilhamento de vídeos em formato digital. Site ou sítio eletrônico destinado à divulgação e disponibilização de filmes de curta metragem que podem ser utilizados em sala de aula, em vários níveis de ensino (http://www.portacurtas.com.br/naescola.asp). 9 Tabela 3: As dificuldades encontradas durante o curso de formação Categorias Aspectos Total * Ligados ao uso do ambiente Dificuldade em postar algumas atividades nos virtual fóruns 5 Ligados ao desenvolvimento das atividades em sala de aula Ligados à habilidade em utilizar as TIC Ligados à escassez de tempo 2 1 2 1 2 Desenvolver algumas atividades Utilização de alguns recursos (Google Earth) Fazer download de filme do Youtube Acessar alguns sites Falta de tempo para explorar os sites propostos Ligados à falta de infraestrutura Dificuldade de agendamento da Sala de e equipamentos da escola Tecnologias Educacionais da escola Não tiveram dificuldade TOTAL 3 4 20 * O total registrado se refere ao número de posições expressas pelos respondentes. A tabela 3 mostra as principais dificuldades, apontadas pelos professores, durante a realização do curso. A categoria mais citada está ligada ao uso do ambiente virtual. Alguns deles revelaram apresentarem dificuldades, principalmente em postar algumas atividades solicitadas durante os encontros nos Fóruns de Discussão e/ou fazer o download dos arquivos disponibilizados no ambiente virtual MOODLE. Outro aspecto apontado pelas professoras está ligado à falta de infraestrutura e equipamentos na escola em que trabalham. É interessante observar que durante os encontros foram propostas várias atividades e técnicas visando a integração das TIC à prática dos professores participantes. No entanto, muitos professores preparavam suas aulas e apresentaram dificuldade em agendar a Sala de Tecnologias Educacionais e/ou algumas ferramentas tecnológicas como televisão, vídeo, aparelho de DVD para desenvolvê-las com os alunos. Há sempre uma crítica muito forte sobre a figura do professor que necessita estar aberto para o uso da TIC, todavia, as escolas ainda não contam com uma infraestrutura adequada para esta integração tecnológica, pois as Salas de Tecnologias Educacionais em algumas escolas foram insuficientes para os professores realizarem as atividades propostas durante os encontros. Ou seja, o incentivo ao uso das TIC deveria ser acompanhado da modificação de toda a escola para garantir a flexibilização ou até mesmo, a mudança dos currículos e o desenvolvimento coletivo de novas formas de trabalho junto aos alunos e não somente ficar sob a responsabilidade de cada professor e restrito ao seu horário de aulas, previsto na grade curricular. Tabela 4: Os conhecimentos que necessita adquirir para utilizar as TIC de maneira mais satisfatória Categorias Aspectos Ligados ao uso das TIC Ligados à prática docente integrada com as TIC Maior segurança para utilizar o computador Usar melhor a internet Dedicar mais tempo para a pesquisa de ferramentas tecnológicas Conhecer melhor o potencial pedagógico das TIC Melhor preparação das aulas TOTAL Total * 10 2 3 2 1 18 * O total registrado se refere ao número de posições expressas pelos respondentes. Com o objetivo de fazer uma avaliação do curso, foi solicitado aos professores um exercício de consciência de si, ou seja, de reflexão sobre suas próprias ações e possibilidades quanto à iniciativa de investir em sua formação continuada e aprender mais sobre como utilizar as TIC em sala de aula. Esta ação baseia-se no pensamento de Placco e Souza (2006) ao afirmarem que aprender supõe aceitar que não se sabe tudo, ou que se sabe de modo incompleto, impreciso ou mesmo errado. Desse modo, o ato de aprender relaciona-se ao prazer de descobrir, de criar, de inventar e encontrar respostas para o que se está procurando, para a conquista de novos saberes, ideias e valores. Como pode ser visto na tabela 4, os professores relataram que necessitam adquirir mais conhecimentos relacionados ao uso das TIC, para obterem maior segurança quanto à utilização do computador, da internet e principalmente, conhecer o potencial pedagógico das TIC. A tabela mostra que a maior parte das falas dos professores, ou seja, 12 (doze) apontam para as dificuldades para o domínio técnico das TIC, sendo que apenas 06 (seis) voltam-se para a integração dessas ferramentas à prática pedagógica. Tais dados deixam transparecer a ideia de que o maior problema se refere ao domínio técnico dos equipamentos, como DVD e computador. Sem possuir um domínio satisfatório das principais TIC o professor certamente encontrará muito mais dificuldades em integrá-las nas atividades que pretende desenvolver em suas aulas. Esse pensamento vai ao encontro das ideias de Valente (2005, p. 23-24) ao dizer que o educador deve conhecer as potencialidades das TIC e como podem ser exploradas em diferentes situações educacionais. Quando o professor se sentir familiarizado com as questões técnicas, poderá dedicar-se à exploração da informática em atividades pedagógicas mais sofisticadas, tendo a possibilidade de “integrar conteúdos disciplinares, desenvolver projetos utilizando os recursos das tecnologias digitais e saber desafiar os alunos para que, a partir do projeto que cada um desenvolve, seja possível atingir os objetivos pedagógicos que ele determinou em seu planejamento”. Ao avaliarem o curso, alguns professores10 emitiram suas opiniões: “abriu novos caminhos em minhas aulas, pude encontrar e conhecer diversas de trabalhar a internet” (A); “me auxiliou muito nas minhas atividades em sala de aula e na minha casa” (G); “foi passada a experiência e a vivência da professora de forma muito simples, essencial para o nosso dia a dia no uso das TIC”; “foi muito bom, pois muitas vezes, não temos ideia de como trabalhar com o DVD e o vídeo e aqui aprendemos como utilizá-lo de maneira pedagógica” (N); “foi útil para quem já conhecia (como trabalhar com as TIC) e melhor ainda para os que não sabiam como utilizá-la” (I). De acordo com as opiniões dos professores a respeito do curso, é possível dizer que houve não somente a aquisição de novos saberes docentes, como também a mobilização e redefinição de seus saberes a fim de responder de maneira satisfatória às novas exigências da profissão docente. Neste caso, e segundo o relato dos participantes, os professores mobilizaram tanto os saberes de sua formação inicial, saberes pedagógicos e principalmente os saberes da experiência redefinindo-os para o uso das TIC. Considerando o processo de formação continuada de professores para a utilização das TIC em sala de aula percebe-se que parte deles desenvolveu, ao longo da sua formação, habilidades para um modelo expositivo de instrução, necessitando uma mudança no perfil dos professores: “foi bom para despertar ou ajudar a chamar a atenção no sentido de nos atentarmos com urgência para a mudança de perfil profissional” (K). Tais professores necessitam integrar em suas práticas o uso das TIC a fim de que possam desenvolver novas formas de desempenhar a profissão docente. Esse processo envolve um redimensionamento da função docente e, consequentemente, uma nova reaprendizagem da docência Durante a avaliação final foi pedido aos participantes que sugerissem outros cursos direcionados para professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Foi solicitada uma continuidade do mesmo com “atividades específicas sobre cada área de ensino e mostrar 10 Os professores foram identificados por letras do alfabeto. projetos com abrangência interdisciplinar” (K); “preparar aulas e projetos usando as tecnologias” (M); “cursos nas áreas da Matemática” (N); “ensinar os professores como vocês ensinaram que sala de tecnologias não é só para jogos” (O); “aprimorar os temas desenvolvidos neste” (P); “trabalhar com o Word” (A); “Utilização da tecnologia direcionada um pouco mais para a Matemática, trabalhando geometria, fração, jogos com as quatro operações” (B); “Atividades de alfabetização e matemática” (G). Com base na avaliação dos participantes será elaborada uma nova modalidade deste tipo de curso explorando outras opções para o uso das TIC, envolvendo ferramentas da internet como MSN, Web Quest, Blog, Softwares educativos nas áreas de Matemática. O desenvolvimento destas atividades prevê a elaboração de projetos interdisciplinares. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando os depoimentos apresentados pelos professores participantes do curso pode-se dizer que percebem a importância das influências e possibilidades de utilização das TIC na educação e em especial em suas aulas. Os professores têm noção de que necessitam desenvolver habilidades relacionadas ao uso das TIC, com vistas a atender às mudanças significativas no processo de ensino e aprendizagem que se delineiam, cobrando um novo perfil profissional do educador. No entanto, para desenvolver este novo perfil torna-se necessária uma redefinição de todo o significado do que é ser professor atualmente e de quais são as atribuições que recaem sobre a profissão docente e os educadores deverão estar profundamente envolvidos nos debates e reflexões que de desenvolvem sobre essa temática e que apontam, entre outras coisas, para a necessidade de revisões significativas na formação inicial e continuada dos docentes. Faz-se mister, acima de tudo, desenvolver uma nova postura perante o processo de ensino e aprendizagem, deixando de lado um modelo que se baseia exclusivamente na figura do professor que detém o domínio do conhecimento e que concebe o ato de ensinar como o de depositar informações e o de aprender como memorização e reprodução da informação recebida. Para que o uso das TIC se vincule a uma nova prática docente, deve-se favorecer a aprendizagem como produto de um processo de construção de conhecimento a fim de que o aprendiz, por meio da interação com o mundo dos objetos e do social, seja capaz de utilizar a sua experiência de vida e conhecimento prévios na atribuição de novos significados assim como na transformação da informação em conhecimento (POZO, 2004). Os cursos de formação voltados para os professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental deverão estar voltados para os aspectos técnicos e pedagógicos propostos por Valente (1999), e também, levar em conta a relação entre a teoria aprendida e a prática dos professores. Devem considerar, ainda, que os docentes já desenvolveram longa experiência em um modelo unilateral de instrução e que necessitam de certo tempo para incorporar as TIC à sua prática. Por esse motivo, o investimento em cursos de formação em serviço precisa ser constante. Alguns deles sugeriram várias atividades que podem servir de temática para outros cursos. Outro aspecto que pode ser considerado interessante nos relatos apresentados refere-se aos temas sugeridos pelos professores: temas voltados para as disciplinas específicas deste nível de ensino, trabalho com projetos, atividades interdisciplinares. E ainda, que o curso seja ministrado por alguém com experiência para o uso das TIC “como esse, baseado na experiência vivenciada pela pessoa que irá passar a capacitação (ministrante” (H). Os relatos evidenciam a preferência por cursos de formação que enfatizem o aspecto prático da sala de aula. No entanto, ainda é necessário desenvolver maior habilidade para manusear as tecnologias de informação e comunicação tanto durante o curso de formação quanto em sala de aula. É preciso, pois, que o professor ouse, procurando se familiarizar com as TIC a fim de compreender que sua utilização pode ser simples e desafiadora tanto para ele quanto para seus alunos. Os dados aqui analisados demonstram a importância em se investir no desenvolvimento de posturas reflexivas e construtoras de saberes a partir da própria experiência quando se propõe a integração das TIC à prática docente. O contexto escolar pode desempenhar o papel de propulsor de ações voltadas para a melhoria do trabalho docente. A formação, portanto, deve partir do contexto em que cada escola e professores estão inseridos, envolvendo toda a equipe escolar a fim de propiciar maneiras mais eficazes de formação e troca de experiências visando tanto o desenvolvimento profissional docente quanto o próprio desenvolvimento da escola (NÓVOA, 1997). Com base na literatura da área, bem como nos dados resultantes do presente estudo, pode-se concordar com Moran (2006) que o uso das TIC deve estar voltado para a modificação da própria escola, por meio da flexibilização da organização curricular, da forma de gestão do ensino e da aprendizagem e do desenvolvimento de projetos pedagógicos envolvam todo a instituição escolar. REFERÊNCIAS FACCI, M. G. D. Valorização ou esvaziamento do trabalho do professor? Um estudo crítico-comparativo da teoria do professor reflexivo, do construtivismo e da psicologia vigotskiana. São Paulo: Autores Associados, 2004. FREIRE, P. A pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 28ª edição, 2003. KENSKI, V. M. Novas tecnologias, o redimensionamento do espaço e do tempo e os impactos no trabalho docente. Informática Educativa Vol 12, No, 1, 1999/ UNIANDES – LIDIE, p 35-52. ________________ O que são tecnologias? Como convivemos com as tecnologias? 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