CONSTRUÇÃO DE BRASÍLIA: EXPECTATIVA E FRUSTRAÇÃO PARA O POVO GOIANO (1957 – 1962) Júlio Alves de Oliveira Neto1 RESUMO: Os primeiros rumores de uma possível transferência da Capital Federal do litoral para o Planalto de Goiás despertou no povo goiano expectativas e sonhos, diante de um projeto tão audacioso. Tais expectativas só foram aumentando com passar do tempo, e então Brasília deixou de ser sonho e passa a ser realidade. O choque cultural e a grande aglomeração de pessoas que vieram de todos os cantos do Brasil para trabalharem nas obras da nova metrópole que estava por surgir causou medo e estranhamento aos esperançosos que aqui aguardavam o progresso e não sabiam dos males que o acompanhavam. PALAVRAS-CHAVE: Brasília, expectativa, goianos, frustração. 1.0 BRASLÍA: UMA SOLUÇÃO PARA O BRASIL Ao longo da história, podemos ver que nos mais remotos cantos do mundo cidades surgiam ou até mesmo desapareciam, devido a fatores econômicos, como rotas comerciais e a busca de lugares apropriados para um determinado tipo de comercio, devidos a fatores naturais, que, favoreciam a sobrevivência ou não em uma determinada região. Nos tempos modernos vimos o surgimento de cidades planejadas, visando segurança, expansão socioeconômica e o desenvolvimento político-cultural. Mesmo não sendo uma cidade tipicamente comercial, mas administrativa, a construção de Brasília teve como um dos seus principais objetivos atender a política nacionalista da época de Vargas, o antigo sonho do nacionalismo brasileiro estava para acontecer. 1 Graduado em História pela Universidade Estadual de Goiás e Graduando em Direito pela Faculdade de Jussara FAJ A construção de Brasília foi um velho sonho e vitória do nacionalismo brasileiro. Desde o romantismo, a visão profética de um futuro radioso acompanha as cenas de fundação nas tentativas de “autodelimitação e esforço de uma identidade nacional coesa – diretamente proporcionais, é claro, ao desenraizamento, ao dilaceramento, que, no entanto, a definem” (SILVA, 1997, p. 60) Os planos e as expectativas aumentavam com o passar do tempo, deixando viva a idéia de desenvolvimento sócio-cultural e econômico. Mas Brasília, como veremos adiante, tinha outros interesses além do desenvolvimento sócio-cultural, que abafariam todas estas expectativas até então criadas no imaginário de políticos e sertanejos do Estado de Goiás. 1.2 A Capital Federal e os primeiros rumores da sua criação. Os primeiros rumores sobre a mudança da nova Capital Federal e a escolha de um local no interior do país, foi um projeto antigo e também de extrema importância para que pudesse atender as expectativas de desenvolvimento político, social, cultural, pois tal projeto visava à interiorização do país, uma vez que o Brasil era visto como uma grande fazenda que produzia e exportava açúcar, café e tabaco. Necessitava-se então, buscar um desenvolvimento para a nação, usando o interior, todas as capitanias deveriam procurar um desenvolvimento, um avanço rumo ao oeste, mas não era esse o principal interesse da elite da época dos primeiros rumores sobre uma possível transferência da Capital Federal. Para dar suporte a esse vasto projeto educacional, cada capitania deveria encarregar-se de montar um tipografia e uma farta biblioteca local. Aos burocratas e oligarcas, a quem "só interessava vender açúcar, café, arroz e tabaco", se instruídos fossem, ele conclamava a que se dedicassem a difundir o que sabiam junto ao povaréu. . (SCHILLING, 2002, p.03) Além de outras séries de fatores que favorecia o sonho de uma capital para o sertão longe do litoral. Até então, a capital que era o Rio de Janeiro, ficava exposta às invasões estrangeiras, tinha um clima tropical que favorecia as epidemias, durante o período da Republica foi palco de inúmeras revoltas e desordens. E mesmo com todos estes fatores que deixavam claro a necessidade de transferência da capital para um local que pudesse oferecer mais segurança, afastando-se das revoltas e de possíveis ataques vindos do oceano, nenhum projeto era feito a esse respeito. Mudar a capital era sonho antigo na história do Brasil. O Rio de Janeiro, cidade que se tornou capital da Colônia em 1763 e que recebeu a Corte portuguesa em 1808, apresentava inúmeros problemas. Além de ser vulnerável às invasões estrangeiras, tinha no clima tropical, que favorecia as epidemias, um grave obstáculo. Já na República, a cidade foi palco de inúmeras revoltas e era considerada o espaço da desordem. Tudo isso favorecia o sonho de uma capital no interior. (OLIVEIRA, 2008, p. 01) Uma cidade no interior do país, sendo uma Capital Federal, estaria mais segura do que no litoral. Segura não só das invasões estrangeiras, mas também de revoltas e insurreições populares que acontecia constantemente no Rio de Janeiro. Mas até então, a transferência da Capital Federal para o interior do país, não passava de rumores e especulações. E somente alguns anos mais tarde, movido por ideais europeus, José Bonifácio um dos homens mais poderosos do primeiro reinado, após voltar dos seus estudos na Europa, trouxe consigo alguns apontamentos para o Governo Provisório, entre eles, a proposta de uma nova Capital em um outro local e ele ainda sugeria que esta nova cidade deveria se chamar Brasília, o local sugerido para a mudança era em alguma região do interior de Minas Gerais, mais precisamente em Paracatu, conforme nos mostra a seguinte citação: Em 10 de outubro de 1821 ele apresentou aos seus pares Apontamentos para o Governo Provisório que, sem medo de exageros, podemos considerar como o primeiro projeto para o Brasil... Como nova capital sugeriu algum lugar no interior, pensou em Paracatu no interior de Minas Gerais, para dali lançarem-se estradas para todos os lados, concluindo a ocupação do torrão pátrio. (SCHILLING, 2002, p.01) Assim, essa passagem, demonstra que desde cedo já se tinha a intenção de ocupar o interior do país, romper com a fronteira que separava os homens letrados que viviam no litoral, com os sertanejos e caipiras que habitavam o interior do Brasil. Entretanto, percebemos que nem todos os projetos de José Bonifácio foram executados com êxito. Nota-se, no entanto, que este teve reconhecimento e destacou-se em seu empenho pela luta na independência do Brasil, tanto que ele ficou reconhecido como o “Patriarca da Independência”. José Bonifácio volta a ser lembrado quando mais tarde os lideres políticos, se reúnem para escolher o nome para nova capital brasileira, e optam pelo nome escolhido por ele na mesma época em que sugeriu a transferência da capital para o interior do país. O projeto em seu todo era a chegada do Iluminismo ao Brasil. Não foi indevido pois, que, quase em seguida, após os fados do Sete de Setembro de 1822, a imprensa passasse a chamar José Bonifácio de o Patriarca da Independência. (SCHILLING, 2002, p.03) Muito tempo se passou desde os primeiros projetos de José Bonifácio, e somente no final do século XIX, que a idéia de uma Nova Capital brasileira no interior do país foi retomada. Como já era prevista nas duas Constituições, as de 1891 e de 1946, as comissões só foram formadas na década de 50, com a já antiga ideologia de Marcha para o Oeste. Comissões foram formadas com o intuito de escolher no planalto central um local onde geograficamente tivesse condições de ser construída a Capital Federal. A escolha, no interior do país, do local onde se construiria a nova capital, processou-se através do trabalho de várias comissões técnicas e estendeu-se por muitos anos. O ponto de partida foi, naturalmente, o art. 3o. da Constituição de 1891, que fixara claramente onde seria o futuro Distrito Federal: no "Planalto Central da República". (TAMANINI, 2007, p. 01). Seguindo esses aspectos, no ano de 1894 a Comissão Cruls demarcou no Planalto Central, um quadrilátero que marcaria o início de um sonho para os goianos. Sonho este que com o passar dos anos foi se intensificando e parecia mais próximo da realidade, principalmente quando os goianos, conseguiram fazer a transferência de sua própria capital (Goiânia). Nesse clima de euforia do momento, alguns políticos goianos de renome, como os irmãos Jerônimo e Abelardo Coimbra Bueno, que ajudaram na construção física de Goiânia e participaram diretamente do Planejamento de construção e Mudança da Nova Capital Federal. Contagiados pela empolgação de terem conseguido construir uma cidade moderna, (Goiânia)2 em meio ao cerrado, viram a possibilidade de ter dentro do território goiano a Capital Federal. Não foi necessário muito tempo e todos já viviam na expectativa de que a mudança da capital federal para o sertão do país e principalmente para Goiás, representando enorme progresso para o contexto regional e nacional. 1.3 A Transferência da Capital Federal e o contexto Brasileiro. Os lideres políticos do país acreditavam que para o Brasil se desenvolver, seria necessário avançar rumo ao oeste. Fazer uma mistura de povos, de homens que viviam no sertão, levava uma autêntica vida natural, o verdadeiro sertanejo com tradições apegadas às raízes do campo se misturando com homens letrados que 2 Goiânia, construída na década 30 e inaugurada na década de 40, mostrava arquitetura moderna, sendo umas das cidades brasileiras planejadas, que mais impressionavam os brasileiros, principalmente os goianos. viviam nas grandes cidades, povos que já conheciam o desenvolvimento e levaria esses conhecimentos para misturar com o pouco senso de progresso que eles imaginam ter os sertanejos que aqui moravam. E esta mistura de povos, junto com essa política voltada para o avanço desenvolvimentista rumo ao Oeste, estavam ligadas a uma série de mudanças estruturais herdadas da era Vargas, que no governo de JK3 ganharam velocidade e diziam respeito principalmente às bases do desenvolvimento, ao modelo econômico adotado, com a urbanização crescendo de forma acelerada. Fazendo-se então, a travessia do mundo rural para o mundo urbano industrial, com profundos impactos, tanto positivos como negativos. “O Brasil vivia o que se chamava então de um intenso processo de “modernização” política e econômica e sofria todos os impactos, positivos e negativos, daí decorrentes.” (D’ARAÚJO, 2008). Segundo Maria Celina D’Araújo, todos esses planejamentos, essas bases do desenvolvimento foram heranças do governo Vargas, que Juscelino Kubitschek soube muito bem aproveitar, dando continuidade aos projetos em andamento, podendo dar seqüência de um modo que o seu governo ganharia certa notoriedade, com repercussões internacionais. JK soube aproveitar o momento de crise política e militar que o país passava para desviar as atenções rumo às metas desenvolvimentista, com uma propaganda de que iria acelerar o progresso brasileiro. Contando com o apoio de fortes aliados, Juscelino viu a oportunidade de se destacar no cenário nacional através de um legado deixado por Getúlio. Desse modo temos: Este era um legado deixado por Vargas, do qual JK se apropriou com maestria. Juscelino adicionava ao desenvolvimentismo à ótica do otimismo e da tolerância política. E contava, na retaguarda, com um corpo institucional 3 Abreviação de Juscelino Kubitschek, que será usado no texto abreviado ou não. já formalizado e uma estrutura burocrática e estatal razoavelmente consolidada, que lhe permitiriam agir e decidir mesmo em momentos de crise política ou militar. (SCHILLING, 2002, p.03) Levaram alguns anos até que os planos de construção fossem realmente colocados em prática, e quando isso se deu, JK se apropriou de um imenso oportunismo. Uma vez que as metas já haviam sido traçadas anos antes, e que o governo de Getúlio Vargas deu condições reais para que os projetos de construção da cidade que viria se chamar Brasília (nome sugerido por José Bonifácio) fossem executados. Com isso Juscelino ao chegar ao poder, se apropria da idéia que mais tarde o consagraria um herói nacional, pela coragem e ousadia de construir uma capital no “meio do nada”. 2.0 A CONSTRUÇÃO DE BRASÍLIA E O CONTEXTO SOCIAL GOIANO. Em Goiás, os discursos e as ações políticas giravam entorno do assunto voltado para a construção de Brasília. As lideranças políticas do Estado de Goiás tentavam sob todos os modos influenciar as lideranças políticas nacionais, na expectativa ter a Nova Capital Nacional em seu território. As coisas pareciam que iam dar certo, os planejamentos estavam saindo de acordo com as expectativas criadas no imaginário de cada goiano. E há quase quinze anos antes da inauguração, nem sabiam o certo se seriam apenas rumores ou não, o governo de Goiás coloca um artigo na Constituição Estadual de 1947, tratando como certo a transferência da Capital Federal para o sertão de Goiás, e ainda dá garantias de que o território da nova cidade seria desmembrado imediatamente do território estadual. Como mostra a seguinte citação: A 20 de julho de 1947, quando é promulgada a constituição do estado de Goiás, lia-se em seu artigo 54 que a área da nova capital seria “desmembrada automaticamente território goiano”. (OLIVEIRA, 2005, p. 101) do Mas as autoridades políticas nacionais, ainda não tinham o mesmo interesse e entusiasmos que tinham o povo goiano. Os anos que antecedem o governo JK foram politicamente conturbados, Vargas se mata4, o pós-guerra ainda repercutia na política econômica da nação e os planos para Brasília haviam sido menos atraentes naquele momento da história. Mas os estudos sobre a delimitação do território da Nova Capital Federal continuavam, mesmo sendo aos passos lentos, mas continuavam. O então presidente Café Filho5 se recusa a assinar o decreto que definiria de vez os limites do quadrilátero onde seria construída a nova Capital do país. Fato que fez o governo de Goiás tomar decisões mais radicais e ousadas. De posse do resultado dos estudos, Pessoa encontra-se com Café Filho na tentativa de convencê-lo da necessidade de assinar, o quanto antes, o decreto definindo os limites do futuro distrito federal. Sua preocupação era evitar a especulação imobiliária que poderia se iniciar a partir da escolha do sítio. Contudo, Café Filho recusa-se a assinar o decreto... Antecipando-se a ação do governo federal, o estado de Goiás cria, então, a Comissão de Cooperação da Mudança da Capital Federal (pelo Decreto Estadual no 1.258, de 5 de outubro de 1955), cujo objetivo central foi a efetiva desapropriação da área do Distrito Federal. Interesses convergentes dos goianos... (OLIVEIRA, 2005, p. 102) Tal ato, do Governo de Goiás mostrou ousadia e reforçava mais uma vez o ideal de luta e esperança do povo goiano de ter em seu território a tão esperada Capital Federal. Fatos e lutas que tiveram como protagonistas o povo goiano, no processo de transferência da capital do país, acabaram sendo esquecidos no calor das perspectivas que engrandeceram JK. 4 Versão aceita na época, e ainda a mais aceita até os dias de hoje, mas que levanta suspeitas sob sua veracidade, uma vez que Vargas havia causado o descontentamento de muitos, voltando a presidência do país, agora, sob o apoio do povo. Algo que não iremos aprofundar, uma vez que não é aqui o nosso objeto de estudos. 5 Vice-presidente de Getúlio Vargas, que assume após sua morte e fica até JK assumir em 1956. 1.1 A Cidade e suas representações para o povo de Goiás. Embora tenhamos diante dos conceitos teóricos dos historiadores várias maneiras de como interpretar e analisar as cidades, também não é raro encontrarmos esta ambigüidade no senso comum. Onde entendemos a cidade como sendo uma estrutura geográfica na qual se vive e se trabalha, ou ainda também pode ser vista como uma entidade administrativa, como uma estrutura social e comunitária, onde nela diferentes sistemas se interagem, buscando o equilíbrio urbano em meio a conflitos de e de relações. Sabemos que cada vez mais as cidades vêm assumindo o papel de atores sociais, uma vez que os cidadãos que nela habitavam ocupam um espaço simbiótico e se organizam sob um poder político como sociedade civil, e, ocupam também um espaço simbólico, que integra seus habitantes culturalmente, possibilitando a formação de uma identidade coletiva, que dinamiza as relações, convertendo a cidade ainda em um espaço que responde a objetivos econômicos, políticos e culturais de uma época. Desde que as primeiras civilizações conseguiram se organizar enquanto grupo social, as cidades, fossem elas grandes ou pequenas, seriam e são por excelência um fenômeno cultural. Onde as mais diversas culturas se misturam dando origem a outras, e ainda possuem uma força imaginaria capaz de criar representações muito antes de se tornar uma realidade. Foi dessa maneira que Brasília enquanto cidade representou para os goianos. A fascinação das cidades não criou força imaginária apenas para os goianos, os políticos de todo o Brasil durante os projetos e a construção de Brasília ficaram fascinados com tamanha ousadia de se construir uma cidade no meio do nada com tanto teor de modernidade. E este poder e a fascinação representados pelas cidades não surgiu com a construção de Brasília, o fascínio pelas vêm desde a antiguidade, como nos mostra Pesavento: As cidades fascinam. Realidade muito antiga, elas se encontram na origem daquilo que estabelecemos como indícios do florescer de uma civilização: a agricultura, a roda, a escrita, os primeiros assentamentos urbanos. Nessa aurora do tempo, milênios atrás, elas lá estavam, demarcando um traçado, em formato de quadrado ou circular; definindo um espaço construído e organizado, logo tornando icônico do urbano – torres, muralhas, edifícios públicos, praças, mercados, templos; a exibir sociabilidades complexas e inusitadas na aglomeração populacional que abrigavam; a ostentar a presença de um poder regulados da vida e de outro ordenador do além, na transcendência do divino. (PESAVENTO, p. 11, 2007) A promessa de erigir uma cidade no meio do nada fascinou aos goianos, que almejavam algo bom (melhoria de qualidade de vida, desenvolvimento, progresso) com a vinda da cidade grande, como seria Brasília no meio do sertão. Tais atos fascinavam os lideres políticos de Goiás daquela época, que já estavam boquiabertos com a construção de Goiânia. Os sertanejos viam o sonho distante se aproximar na medida em que as metas para a construção iam se tornando mais reais, e assim a tão esperada cidade passou a ser sonhada, desejada, com uma força imaginaria capaz de qualificar o mundo. “O distrito de Alvorada (próximo a Alexânia) também surgiu na época da construção e ajuda a provar, com seu nome, o quanto Brasília e sua estrada fascinava e atraía”.(SILVA,1997, p. 47). 1.2 A construção da Capital Federal e o choque de culturas: algo que os goianos não esperavam. Uma completa reviravolta se formou de uma hora para outra no ritmo de vida dos sossegados povos goianos. O número de pessoas que vieram para Goiás à procura de trabalho nas obras de Brasília foi imenso, na maioria das vezes vieram com um futuro incerto, sem ter a certeza de que encontraria um trabalho, podendo contribuir para o aumento da pobreza na região. O ritmo pacato de interior de Goiás havia sido alterado da noite para o dia, com a chegada de trabalhadores para as obras e também de funcionários públicos que acompanhavam o Governo Federal, os empreendimentos financeiros, agropecuários, comerciais e até minerais, modificaram o modo de vida dos habitantes da região. O choque cultural foi enorme, pessoas com os mais diferentes costumes vinham com intenções de ganhar melhor, através de empregos diretos e indiretos, motivados pela construção de Brasília. Determinada a transferência da capital federal pela Mensagem de Anápolis, de 18 de abril de 1956, a construção de Brasília, fixada no prazo de 3 anos e 10 meses, iria modificar tal situação. A fantástica cidade futurista, erguida no meio do cerrado goiano, seria a nova catalisadora das energias nacionais. A máquina administrativa estatal ao sair do Rio de Janeiro, onde se encontrava fazia dois séculos, deslocando-se para o centro do Brasil, produziu um enorme choque na região. Foi como se por lá caísse um meteorito de espetaculares proporções. Numa sentada, foram atraídos para suas proximidades milhares de trabalhadores (os candangos) e transferidos mais de 5 mil funcionários públicos. E, com eles empreendimentos agropecuários, comerciais, minerais, e financeiros de toda ordem. (SCHILLING, 2002, p.03) Com o grande número de pessoas, de outros cantos do país, que vieram trabalhar nas construções de Brasília, o fluxo de pessoas que vieram para a região em busca de dias melhores foi enorme. Mas tanto para os trabalhadores que não eram do Estado de Goiás, quanto os trabalhadores goianos, Brasília os fascinavam em tamanha proporção, que eles nem se quer perceberam que a cidade, que eles tanto esperavam e ajudavam a construir não seria para eles. Os goianos aqui esperavam ansiosos pelo resgate progressista que Brasília iria representar, e não era somente os políticos do Estado, os principais interessados, os sertanejos do interior de Goiás que viviam nas condições mínimas, apenas suficiente para manterem suas vidas. Este sujeito goiano, caipira6 por natureza, que aqui aguardava com enorme expectativa a conclusão das obras em Brasília, apenas esperavam que com vinda da cidade suas vidas melhorassem e aquilo que a sociedade letrada do Rio de janeiro desprezavam por lá, seria aparentemente algo que eles necessitavam aqui. ...o Brasil central era um paraíso à espera da civilização. Ansiosos por colocar Goiás no mapa, atualizá-lo, entendiam que isso só era possível pelo „progresso‟. Aquilo que desprezavam no Rio de Janeiro era exatamente o que queriam para o sertão. (SILVA, 1997, p. 43) Mas este ser caipira, com raízes tipicamente ligadas ao campo, seria feliz com a inserção de uma outra cultura em seu meio? Será que o sertão de Goiás estava tão sedento assim de progresso? Os povos do campo ou das pequenas cidades do interior do Estado de Goiás, levavam uma vida autentica, pacata, sossegada e sua cultura era essa, um ambiente tranqüilo e em harmonia com a natureza. E uma vez que saísse deste ciclo de vida, perderia sua cultura ao se assimilar a outras, e então o caipira deixaria de existir. A cultura do caipira, como a do primitivo, não foi feita para o progresso: a mudança é o seu fim, porque está baseada em tipos tão precários de ajustamento ecológico e social, que a alteração destes provoca a derrocada das formas de cultura por eles condicionada. Daí o fato de encontrarmos nela uma continuidade impressionante, uma sobrevivência das formas essenciais, sob transformações de superfície, que não atingem o cerne senão quando a árvore já foi derrubada – e o caipira deixou de o ser. (CANDIDO, 1997, p.82-83) Quando estes sujeitos, goianos interioranos, que a elite da sociedade que estava se instalando em Brasília insistia em chamar de “caipiras”, viram suas vidas sendo bruscamente alteradas de uma hora para outra, suas expectativas já foram 6 Pessoa do mato, da roça, sertanejo, pessoas que habitavam o interior de Goiás (e não somente de Goiás) e eram vistos como pessoas que ainda aguardavam a civilização. Caipira e sertanejo são sinônimos que iremos estar usando constantemente em nosso texto. diminuindo e a frustração foi se instalando. Talvez aquele sonhado progresso não chegasse como eles tanto esperavam, ou talvez nem chegasse a eles. 1.3 Brasília: símbolo de progresso, expectativas e frustrações para os goianos. Quando alguém vive imaginado algo (desenvolvimento, progresso) que melhore os aspectos socioeconômicos na sociedade em que vive, este acaba por experimentar um sentimento de propriedade sobre aquilo que tanto anseia. E isto acaba por ser um problema, uma vez que aguardamos algo com muita vontade, criam-se também expectativas. E quando aquilo que esperávamos chega, nem sempre é como imaginamos, e devido às expectativas antes criadas ainda não ficamos satisfeitos, porque estávamos esperando mais. Sentindo-nos insatisfeitos, cria-se consequentemente frustrações. Mas os goianos, cada vez mais próximos da realização de suas expectativas, nem se quer imaginavam ou tinham qualquer espécie de pensamento negativo naquilo que se diz respeito à transferência da Nova Capital Federal. Mas as expectativas, segundo KOSELLECK (2006), estão ligadas diretamente à categoria das experiências, e é neste sentido que os goianos aqui esperavam algo de Brasília. E isto para eles era uma experiência nova, que lhes causavam tamanha expectativa de melhoras, progresso, desenvolvimento, enfim estavam otimistas, pareciam até que o otimismo de JK havia os contagiado. E não muitos anos antes, haviam também passado por uma outra experiência neste mesmo sentido, a construção de Goiânia. Contudo iremos trabalhar apenas as expectativas que o povo goiano tinha com relação à Brasília, e consequentemente suas respectivas frustrações. Embora KOSELLECK (2006) nos mostra as expectativas da seguinte maneira: “O par de conceitos “experiência e expectativa” é manifestante de uma outra natureza. Não propõe uma alternativa, não se pode ter um sem o outro: não há expectativa sem experiência, não há experiência sem expectativa. (KOSELLECK, 2006, p. 307)”. E as frustrações, geralmente poderão aparecer quando não conseguimos fazer com que as expectativas correspondam à realidade, e neste momento da história ainda era muito cedo para levantar algum questionamento neste sentido. Mas as ousadias dos projetos de Brasília já passavam ao povo brasileiro e principalmente o povo goiano a enorme sensação de expectativas e esperança, e quando as enormes edificações começaram a ganhar vida, as expectativas aumentaram ainda mais. O que era um deserto adquiriu vida. O projeto de Lúcio Costa, um dos maiores urbanistas do país - uma planta de um enorme pássaro com asas abertas (dividias em Norte e Sul) pronto para alçar vôo -, infundiu no povo brasileiro uma sensação de esperança como há muito não era possuído (daí o escritor André Malraux, ao visitá-la, chamá-la de “ a capital da esperança”). Espaço amplíssimo que imediatamente foi ocupado pelas espetaculares edificações saídas da prancheta do genial Oscar Niemeyer, um discípulo de Le Corbusier, tido como um dos pais da arquitetura moderna. (SCHILLING, 2002, p.04) No processo histórico, em que analisamos as reações dos goianos diante das repercussões que Brasília representaria para Goiás, vemos as expectativas como um conjunto de possibilidades que quando não atingidas podem provocar as mais diversas reações, e entre elas as frustrações, naturalmente. No senso comum, as expectativas são entendidas como sendo um conjunto de possibilidades onde mentalmente se planeja os resultados que se pretende obter. E Brasília não mostrou todos os resultados que o povo goiano aqui esperavam, e aos poucos a tão sonhada cidade foi substituindo as expectativas de progresso por frustrações em diversas classes da sociedade goiana. 3.0 A CONSTRUÇÃO DE BRASÍLIA NA REALIDADE GOIANA. A construção de Brasília não trouxe a Goiás somente o grande número de operários e funcionários públicos, mas trouxe também a ideologia de desenvolvimento, progresso e levaria Goiás em um lugar de destaque no cenário nacional. O povo goiano que há tempos já estavam fascinados com a construção de uma enorme cidade moderna e planejada como foi Goiânia, ficaram otimistas e esperançosos com a construção de Brasília. Algo que aos poucos foi sendo esquecido e substituído pela sensação de frustração. Os males que acompanharam a construção eram iguais ou até mesmo maiores do que os benefícios. Alem de ter um grande choque cultural na região, os casos de violência, drogas, e prostituição nos canteiros de obras eram constantes. A seguinte citação mostra desta forma: Dias tomados, noites vazias e angustiantes. O livro das ocorrências da GEB7 está repleto de casos de embriaguez (geralmente acompanhados de desordem, briga e desacato a autoridade). As apreensões de armas são constantes. Muito roubo e briga envolvendo prostitutas. Jogo, golpes, viadagem, estrupos, taras, drogas, loucura, suicídios são referidos repetidamente. (SILVA, 1997, p.80) Tudo isso causavam um certo estranhamento aos entusiasmados sertanejos de Goiás, que viam algo, ou ouviam de terceiros as noticias das obras de Brasília, a realidade que eles estavam vendo ou ficavam sabendo, não era o que eles antes imaginavam e muito menos era o que eles queriam. E o progresso quando viesse seria de certo modo até repudiado, pois trazia consigo males de significativas proporções. Os políticos que tanto lutaram para ver Brasília no planalto central, não tiveram acesso as obras e muito menos foram lembrados. As frustrações dos goianos ganhavam o lugar antes ocupado pela enorme expectativa. 7 Guarda Especial de Brasília. 1.1 Brasília e a expectativa goiana Aos poucos, o povo goiano foi criando expectativas de ter a Nova Capital Federal no território do próprio Estado. Desde as comissões que aqui vieram para localização do território a ser construído a nova sede do Governo Nacional, os rumores a respeito do assunto só foram aumentando, e os políticos de Goiás que também começam a respirar o ar de esperança e otimismo, entram de vez na luta pela possibilidade de trazer a Nova Capital Federal para Goiás. Mas o episódio que marcou e norteou as expectativas do povo goiano de um modo em geral, foi o início da campanha presidencial de Juscelino Kubitschek no interior do Estado de Goiás, onde o mesmo quando questionado sobre a possível transferência da Capital Federal para Goiás, promete cumprir na íntegra, como mostra a seguinte citação: "Em Jataí(...)ocorreu um fato(...)que iria tornar aquele comício histórico. Quando ao terminar o discurso, indaguei se alguém desejava fazer uma pergunta, um popular(...)me interpelou: Já que o senhor se declara disposto a cumprir integralmente a Constituição, desejava saber se irá pôr em prática aquele dispositivo da Carta Magna que determina a transferência da capital da República para o planalto goiano? (...)O aparteante chamava-se Antônio Carvalho Soares, o Toniquinho. Era coletor estadual. (...) Não hesitei um segundo e respondí(...): Acabo de prometer que cumprirei, na íntegra, a Constituição, e não vejo razão para ignorar esse dispositivo. Durante o meu quinquênio, farei a mudança da sede do Governo e construirei a nova capital. (...)Assim, ao deixar Jataí(...), já o meu programa de metas estava alterado. As 30 Metas iniciais seriam mantidas, mas a elas havia sido acrescentada a da construção de Brasília, que eu iria denominar a Meta - Síntese". (KUBITSCHEK, 1978, p. 137.) Nesse instante mágico, estava selada definitivamente a sorte da nova capital. A princípio embaraçado, Juscelino confirma a intenção e vai rapidamente, assimilando a idéia de que a transferência era a alavanca que faltava para articular seu Plano de Metas. Por isso, compromete-se com a idéia que lhe era familiar desde quando a viveu nos debates da Constituinte de 1946 e a denomina meta-síntese de seu Programa. O cenário nacional juntamente com enorme esforço dos políticos goianos (como os irmão Coimbra Bueno), cedo o convenceria de que o Planalto Goiano daria à nova capital um significado muito mais profundo do que o Triângulo Mineiro8. Mas Brasília não seria uma solução econômica imediata, e sim o ponto de partida que daria fôlego à "marcha para o Oeste", levando de vez as expectativas de progresso ao imaginário dos esperançosos goianos. A transferência da Capital Federal para o planalto central, que segundo Silva (1997), foi “o maior episódio da republica brasileira”, originou idéias e sonhos de desenvolvimentos e progresso para o sertão. 1.2 A construção de Brasília e a frustração goiana. Juscelino Kubitschek sendo visto como centro das atenções faz com que goianos como os irmãos Jerônimo e Abelardo Coimbra Bueno (construtores de Goiânia) que foram pioneiros da idéia, no entanto, não participaram da construção física de Brasília e acabaram sendo esquecidos, sobrando-lhes a frustração. Pois o momento da construção e também depois de concluídas as obras, o grande nome era o de Juscelino Kubitschek, visto como herói nacional, homem audacioso e genial, como se Brasília na tivesse a importante participação de outras pessoas. Os irmãos sonhadores persistiram: a “civilização sertaneja” e a “internacional democrática” sustentaram suas vidas. A sua participação central no projeto de interiorização da capital foi esquecida pela perspectiva que enaltece Juscelino Kubitschek. (SILVA, 1997, p. 39) 8 Local que os mineiros queriam que fosse construída Brasília, e que os goianos enfrentaram forte oposição para convencer de que o Planalto Goiano seria o local mais apropriado no momento para tal obra. As lutas que os irmãos Coimbra Bueno enfrentaram não foram poucas, além de enfrentar forte oposição política, ainda tiveram que lutar contra os mineiros que queriam que Brasília fosse construída no seu território, em especial no Triangulo Mineiro. Jerônimo Coimbra Bueno que governou Goiás (1947-1950) e ainda usou as atribuições de seu cargo na luta para trazer Brasília para Goiás. ...“foi o homem que construiu politicamente Brasília ao conseguir adesão do candidato, depois presidente da República, para a causa e a sustentação do projeto no Legislativo” (Silva, 1997, p. 39) Os goianos começaram a perceber que a construção da nova capital gerou um progresso fantasioso, uma utopia. A “conquista do sertão” que antes era esperada com entusiasmo, passou a ser vista com olhares duvidosos. Antes todos queriam a mudança da Nova Capital, mas agora não se o sertão estava preparado para receber o tão sonhado “progresso”. A vida nas pequenas cidades do entorno foi bruscamente alterada, deixando os sertanejos frustrados. E é perceptível que antes mesmo de sua conclusão, Brasília já “dava as cartas” de frustração ao povo de Goiás. O sertão não estava tão sedento assim de progresso; e, quando este chegou, ficou claro para a maioria da população que seus males eram tão grandes ou maiores que seus benefícios. Mesmo para a elite sertaneja, aquela a quem mais interessava forjar tal identidade integradora (o sertão), o que sobreveio não foi o esperado. (SILVA, 1997, p. 51). Uma rápida mistura de culturas mudou radicalmente a pacata vida dos sertanejos goianos, que esperavam por um desenvolvimento que trouxessem progressos e modernidade que lhes permitissem melhores condições de vida. No entanto, com a aglomeração de pessoas que vieram de todos os cantos para trabalhar nas construções, com o passar do tempo os goianos sentiram o despertar de um sonho para uma realidade que não esperavam. Pessoas vinham de todos os cantos do Brasil, visando dias melhores se alojavam nas cidades do entorno, espalhando uma onda de pobreza na região. Zonas de prostituição começaram a aparecer, pessoas que vieram para trabalhar legalmente, ao verem a enorme quantidade de trabalhadores vindos de outros lados, buscaram em atividades ilegais alguma forma de ganhar a vida mais fácil se aproveitando da grande massa que naquela região estava se alojando. Vilas e povoados surgiram de uma hora para outra, e depois de concluídas as obras viram seus moradores desaparecerem e quase se tornarem “cidades fantasmas”. Na Serra do Ouro, povoado próximo a Alexânia, o motivo da fixação dos moradores foi antes a existência de um restaurante e uma „zona‟, criada para divertir os construtores da estrada (inaugurada em 30 de julho de 1958), e, mais tarde, a instalação ali de um centro espírita com infra-estrutura, alojamentos e escola construídos por uma ex-caminhoneira que se tornou a vidente conhecida como Tia Neiva. O distrito de Alvorada (próximo a Alexânia) também surgiu na época da construção e ajuda a provar, com seu nome, o quanto Brasília e sua estrada fascinavam e atraíam. (SILVA, 1997, p. 47) A ocupação desordenada de Brasília e cidades do entorno, ainda hoje refletem no convívio social de seus habitantes, como sendo ainda hoje uma das regiões mais violentas e perigosas do Brasil. Tal colocação não está dentro do tempo no qual estamos trabalhando, mas é uma importante referencia quando comparamos com Brasília no inicio de suas obras. Mas não poderíamos de forma alguma afirmar que foi a cidade que trouxe consigo a prostituição e atividades ilegais para Goiás, e em especial para aquela região, mas sem sombras de duvidas podemos dizer que sua construção contribuiu muito para o significativo aumento dessa atividade na região. “Os goianos esperavam muito de Brasília. Quando ela chegou, seguiram-se estranhamento e frustrações correspondentes. (SILVA, 1997, p.45) Por outro lado, os terrenos na região quadruplicaram os preços do dia pra noite, movimentando intensamente o mercado imobiliário, beneficiando a pequena elite da sociedade e arruinando a grande massa de assalariados e pequenos proprietários. Os posseiros surgem em grande quantidade, e passam a ser mais um dos problemas sociais que o Estado de Goiás terá que enfrentar, devido a migração de milhares de pessoas de todos os cantos do país, que vieram para Goiás em busca de melhores condições vida, ligados ao fato de um possível desenvolvimento rápido devido a construção de Brasília. Discorre, em seguida, sobre os problemas do estado, muitos deles ligados à construção de Brasília. Enfatiza o problema da migração – “afluxo de milhares e milhares de brasileiros desajustados, que demandam a Goiás em busca de uma vida melhor” – e prossegue: “Um problema social da mais alta gravidade já nos desafia desde agora, ameaçando degenerarse num conflito de imprevisíveis conseqüências... (SOUZA, 2004, p. 43) O estímulo ao investimento motivado pela construção da nova Capital Federal, teve um efeito nefasto no corpo social, principalmente porque atingiu os assalariados. De certa maneira, é possível dizer que, através desse mecanismo, transferiram-se, indiretamente, os recursos dos assalariados para o setor empresarial. Em outros termos, os ricos ficavam cada dia mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Para piorar ainda mais a situação, os investimentos naturalmente resultaram no incremento da tecnologia. Com isso, restringiu-se a criação de novos empregos, atirando os excedentes populacionais em setores agrícolas, agropecuários, da indústria extrativa - que eram frágeis -, ou então ao comércio e ao setor de serviços, em que o subemprego tornou-se inevitável, dando origem a um “subproletariado marginal urbano”. O descontentamento do povo goiano com o progresso fantasioso que veio foi enorme. Tal ato agiu na mentalidade dessa gente com uma força destrutiva capaz de apagar anos de sonhos e expectativas. Nos discursos de produção de identidades regionais, escondese um efeito substancializador de caráter mitificante. Existe, porém, uma dimensão organizadora nessa construção. Para os que esperavam, idealizando-o, o progresso se mostrou mais como força destrutiva do que construtiva. O resultado foi o estranhamento. (SILVA, 1997, p. 51) Deste modo, o tão sonhado futuro de progresso para o povo goiano não chegaria a todos. O desenvolvimentismo foi o fator ideológico essencial para a transferência da capital brasileira. Uma vez que o lema era desenvolver o interior do país, levando o progresso para o sertão. 4.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ATAÍDES, Jézus Marco de. Sob o signo da violência: colonizadores e Kayapó do Sul no Brasil Central. Ed. UCG. Goiânia, 1998. BERTRAN, Paulo. Formação econômica de Goiás. Goiania: Oriente 1978. BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. CANDIDO, Antônio. Os Parceiros do Rio Bonito: estudo sobre o caipira paulista e a transformação dos seus meios de vida. 8ª ed. São Paulo. Ed. 34, 1997. CARDOSO, Heloísa Helena Pacheco. Narrativas de um Candango em Brasília. Ver. Brás. Hist., São Paulo, v.24, n.º47, 2004. Disponível em: http://www.scielo.php?script=sci_arttext&pid=80102-01882004000100007 & Ing=pt&nrm=ISO. Acesso em 07 Nov. 2007. D’ARAÚJO, Maria Celina. Vargas e as bases do desenvolvimento. 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