CENTRO INTERUNIVERSITÁRIO DE HISTÓRIA DAS CIÊNCIAS E DA TECNOLOGIA HISTÓRIA DA CARTOGRAFIA IBÉRICA DO MEDITERRÂNEO AO MUNDO III WORKSHOP INTERNACIONAL Anónimo português ca.1506 (facsimile) | Paris, Bibliothèque nationale de France BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL CAMPO GRANDE, 83 LISBOA, 27 – 28 MARÇO 2014 Comissão Científica Agustín Hernando (UB), Ana Cristina Roque (IICT), Antonio Crespo (GRCCL), Maria Joaquina Feijão (BNP), Mário Fernandes (UP) Organização Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia: http://www.ciuhct.com/ Biblioteca Nacional de Portugal: http://www.bnportugal.pt/ Comissão Organizadora Antonio Sánchez: [email protected] João Carlos Garcia: [email protected] Joaquim Alves Gaspar: [email protected] Thomas Horst: [email protected] Abreviaturas ACEE ‐ Archivo Cartográfico y de Estudios Geográficos del Centro Geográfico del Ejército BNP – Biblioteca Nacional de Portugal CES – Centro de Estudos Sociais CIUHCT – Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia ICC – Institut Cartogràfic de Catalunya IICT – Instituto de Investigação Científica Tropical UA – Universidade do Algarve UB – Universitat de Barcelona UP – Universidade do Porto UM – Universidade do Minho GRCCL ‐ Gerencia Regional del Catastro de Castilla y León 2 Programa 27 Março | 5.ª feira 09:30–09:45 Abertura 09:45–10:45 Conferência inaugural | Francesc Nadal (ICC) Cartografía urbana y Revolución liberal: el caso de Cataluña (1846‐1900) 10:45 – 11:15 Pausa para café Sessão 1 11:15 – 12:45 Moderador: João Carlos Garcia (CIUHCT) 11:15–11:45 Sara Ventura da Cruz (CES) Cartografia iluminista como base para o (re)conhecimento do território de Angola Comentador: Luís Moreira (UM) 11:45–12:15 Maria João Soares & Maria Manuel Torrão (IICT) Do “Roteiro do Archipelago das Ilhas de Cabo Verde” à cartografia manuscrita de Christiano José de Senna Barcellos: Portos e espaços urbanos de Cabo Verde Comentador: Maria Joaquina Feijão (BNP) 12:15–12:45 Antonio Sánchez (CIUHCT) Os padrões das descobertas na cartografia renascentista: emblemas da expansão portuguesa Comentador: Thomas Horst (CIUHCT) 12:45–14:00 Pausa para almoço 14:00–15:00 Visita guiada | Henrique Leitão (CIUHCT) Exposição Luís Serrão Pimentel e a ciência em Portugal no século XVII (BNP) 3 Sessão 2 15:00 – 16:00 Moderador: Antonio Sánchez (CIUHCT) 15:00–15:30 Luís Moreira (UM) Imagens de uma guerra esquecida: os mapas de Portugal por Nicolas de Fer, na Guerra da Sucessão de Espanha (1702‐1714) Comentador: Luís Magallanes Pernas (ACEE) 15:30–16:00 Cristina Sousa (UP) Estudo da inclusão de informações biogeográficas, geológicas e climáticas ibéricas em elementos cartográficos desde o século XVIII Comentadora: Ana Cristina Roque (IICT) 28 Março | 6.ª feira Sessão 3 09:30 – 11:00 Moderadora: Maria Joaquina Feijão (BNP) 09:30–10:30 Minicurso I | Joaquim Alves Gaspar (CIUHCT) Navegação e cartografia náutica em 1500 10:30–11:00 Ana Rita Pereira O Alto Alentejo na campanha militar de Filipe V (1704) Comentador: André Ferrand de Almeida 11:00–11:30 Pausa para café Sessão 4 11:30 – 13:00 Moderador: Thomas Horst (CIUHCT) 11:30–12:00 Daniela Nunes Pereira (UA) A planta do projecto da fortificação de Lagos (Algarve): leitura e interpretação Comentador: Mário Fernandes (UP) 12:00–13:00 Minicurso II | José Malhão Pereira (CIUHCT) Instrumentos e prática da navegação astronómica em 1500 13:00–14:00 Pausa para almoço 4 Sessão 5 14:00 – 16:30 Moderador: Joaquim Alves Gaspar (CIUHCT) 14:00–14:30 Thomas Horst (CIUCT) The mappamundi of Diogo Ribeiro and related World Charts from the Casa de la Contratación: Historical background and reception Comentador: Antonio Sánchez (CIUHCT) 14:30–15:00 Samuel Gessner (CIUHCT) Diogo Ribeiro como fabricante de instrumentos e cosmógrafo: uma reinterpretação das cartas universais de Modena (1525), Weimar (1527 & 1529) e do Vaticano (1529) Comentador: Joaquim Alves Gaspar (CIUHCT) 15:00–15:30 Pausa para café 15:30–16:00 Apresentação do livro de Antonio Sánchez La espada, la cruz y el Padrón 16:00–16:30 Encerramento 5 6 RESUMOS E NOTAS BIOGRÁFICAS O Alto Alentejo da campanha militar de Filipe V (1704) Ana Rita Pereira [email protected] Resumo Nicolas de Fer foi um dos cartógrafos que mais produziu no quadro da escola francesa, entre os finais do século XVII e inícios do século XVIII, período em que ocorreram mudanças enormes no conhecimento científico, em geral, e na cartografia, em particular. Juntamente com Filippo Pallota, De Fer é o responsável pela produção de um mapa de escala regional, que representa uma parte da Beira e do Alentejo, datado de 1704, durante os conflitos luso‐espanhóis no âmbito da Guerra de Sucessão de Espanha (1702‐1714). Pretende‐se aqui fazer o seu estudo: a sua contextualização política, científica e cultural, e a análise do seu conteúdo. Nicolas de Fer tinha uma metodologia de trabalho muito específica, que consistia na identifi‐ cação e selecção de dados astronómicos e informações geográficas que tinha à sua disposição, procedendo depois à sua compilação, generalização e tratamento. Era um trabalho apenas de gabinete. Publicava exemplares cartográficos estreitamente relacionados com os aconteci‐ mentos políticos, diplomáticos e militares muito actualizados, ou mapas que figuravam frontei‐ ras, fortificações, redes de correio ou viagens de exploração, entre outros exemplos. A sua habilidade para os negócios editoriais também permitiu que ganhasse uma grande populari‐ dade e prosperidade, sendo nomeado geógrafo de Louis, o Grande Delfim, em 1690. No início do século de XVIII, Nicolas de Fer produziu muitos mapas, tendo assim disponível para os dife‐ rentes públicos, “em carteira", um vasto universo cartográfico, onde encontramos mapas que representam vários países e regiões da Europa, e plantas de cidades, como é o caso de Gibral‐ tar, de 1706. Quanto ao quadro da Guerra de Sucessão de Espanha, o espaço português teve um grande destaque na produção deste cartógrafo. Na "colecção" produzida em torno dos acontecimen‐ tos bélicos de 1704, e relativamente divulgada, encontra‐se um mapa da Península Ibérica que faz a descrição da campanha militar de Filipe V, uma vista da cidade de Madrid, e o mapa que representa detalhadamente as áreas atacadas, a Beira Baixa e o Alto Alentejo. Analisaremos os elementos deste último, bem como os diversos fenómenos que nele se encontram figurados (rede hidrográfica, relevo, povoamento, rede viária, movimentos dos exércitos). O editor fran‐ cês publica ainda, juntamente, duas gravuras que mostram a passagem do exército espanhol na Ponte das Barcas, no rio Tejo, e a conquista de Portalegre. São imagens que constroem a apologia dos feitos militares e do seu herói, que estabelece uma nova dinastia em Espanha, os Bourbons. Nota biográfica Ana Pereira, nasceu em Peso da Régua, em 1992. Licenciou‐se em Geografia em 2013, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. 7 Os padrões das descobertas na cartografia renascentista: emblemas da expansão portuguesa Antonio Sánchez Centro interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia [email protected] Resumo Esta apresentação é dedicada à análise dos chamados padrões das descobertas, protagonistas das crónicas dos séculos XV e XVI, mas também de algumas representações cartográficas do Renascimento ao longo das costas da África, Ásia e América a partir da carta náutica de Pedro Reinel (ca. 1492). A prática de colocar marcas, primeiro de madeira e mais tarde de pedra, perto da costa foi iniciada durante o período henriquino e continuada pelo explorador Diogo Cão por volta de 1482, durante o reinado de D. João II, e por outros muitos outros navegado‐ res portugueses, como Bartolomeu Dias e Vasco da Gama. Apesar de ter várias utilidades e estar sujeitos a diferentes interpretações, seu principal objectivo era marcar a chegada dos descobridores portugueses a um território sobre o qual a coroa procurou exercer a sua sobe‐ rania. O ato de colocar fisicamente colunas de pedra em terra, e depois representá‐las nos mapas, cartas e globos, deram à coroa uma prioridade simbólica em relação aos outros pode‐ res concorrentes. A presença da cruz, em cima, e as armas da casa real Portuguesa indica que eles eram emblemas da expansão evangélica e territorial. Olhando para um padrão em algum lugar na costa atlântica da África, no lugar da figura do rei, fazia parte do carácter messiânico e ecuménico lusitano das descobertas. Um padrão, como a etimologia da palavra revela, tem a função de gravar na memória a priori‐ dade de um poder sobre um território. Certamente não é por acaso que a mesma palavra foi usada para designar os monumentos de pedra colocados pelos exploradores ao longo da costa da África, bem como suas representações simbólicas nos mapas, e nos chamados padrões d’el Rey usados como modelos cartográficos nos Armazéns da Guiné e Índia, em Lisboa. Em minha opinião, ambos são portadores da soberania do rei. Nos lugares que o rei não pode alcançar fisicamente, sua presença é representada por uma coluna comemorativa e por uma imagem cartográfica. O rei se torna visível e sua autoridade será lembrada porque foi cartografada. Neste trabalho, a minha interpretação sobre os padrões será demonstrada através da análise de fontes textuais da época, padrões de pedra originais preservados em Portugal, fotografias de réplicas erguidas em alguns pontos da costa Africana e, sobretudo, em fontes cartográficas, tais como o globo de Martin Behaim (ca. 1492), o mapa de Henricus Martellus (ca. 1489), uma carta de Cristoforo Soligo (ca. 1489) a partir do Atlas Cornaro, a carta náutica de Pedro Reinel do Atlântico oriental (ca. 1492), o planisfério Cantino (1502), o planisfério Caverio (ca. 1505), as cartas do Livro de Francisco Rodrigues ou os atlas de Brasil de João Teixeira Albernaz I, entre alguns outros. Nota biográfica Antonio Sánchez é doutor em Filosofia pela Universidade Autónoma de Madrid. Na actualida‐ de trabalha como investigador de pós‐doutoramento no Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia (CIUHCT) da Universidade de Lisboa com um projecto financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) sobre formas de representação cartográfica e práticas cosmográficas no mundo ibérico da Idade Moderna. 8 Estudo da inclusão de informações biogeográficas, geológicas e climáticas ibéricas em elementos cartográficos desde o século XVIII Cristina de Sousa Universidade do Porto [email protected] Resumo Os mapas com informações sobre biodiversidade foram sendo elaborados por naturalistas, tais como von Linné (1707‐1778), Buffon (1707‐1788) e Charles Darwin (1809‐1882), com base em amostras recolhidas em trabalho de campo e em museus e registos de observações realizadas durante viagens pelo mundo. Assim, o primeiro mapa biogeográfico, elaborado em 1802 por von Humboldt (1769‐1859), relaciona a distribuição geográfica da flora com a altitude. Outro contributo significativo, intitulado “Geografia das Plantas”, foi publicado em 1820 por Candol‐ le. Wallace, através da compilação de informações biogeográficas faunísticas, elaborou em 1876 um dos mapas mais fundamentais para a Biologia até ao presente. Em 1815, William Smith foi o pioneiro dos mapas geológicos, incluindo a caracterização das diversas formações rochosas baseando‐se na identidade paleontológica e em trabalhos prévios de Hugon. O desenvolvimento tecnológico relacionado com a II Guerra Mundial propiciou a cartografia do fundo dos oceanos, sendo o primeiro mapa elaborado por Mary Tharp em 1968. A tecnologia satélite e GPS (“global positioning system”) permitiu a elaboração de mapas digitais com múl‐ tiplas camadas de informações que substituíram os mapas desenhados à mão por naturalistas. Os dados científicos obtidos por milhares de cientistas sobre fauna e flora ibéricas recente‐ mente compilados e publicados (Araújo et al., 2012; Castroviejo, 2013; Botânica, 2014), com acesso livre on‐line em diversas plataformas informáticas (EOL, 2014), têm vindo a contribuir para uma nova cartografia ibérica quer em mapas bidimensionais digitais quer em globos vir‐ tuais tridimensionais com recurso a software específico (por exemplo, o Google Earth). A com‐ pilação de informações biogeográficas e de modelos bioclimáticos permite o estudo da distri‐ buição geográfica potencial das várias espécies no futuro, isto é, uma cartografia com a dimen‐ são adicional tempo. Uma vez que Portugal e Espanha peninsulares possuem mais de 50% das espécies de fauna e flora europeias é fundamental considerar esta nova cartografia ibérica na definição de áreas geográficas prioritárias para as estratégias de minimização das mudanças ambientais devido às alterações climáticas e de conservação de espécies. Nota biográfica Cristina Sousa é licenciada em Biologia e Mestre na área das Ciências Biomédicas. Foi docente responsável por aulas práticas de disciplinas na área de Botânica, em várias licenciaturas da FCUP. Actualmente encontra‐se a terminar o Mestrado em Ensino da Biologia e Geologia, no âmbito do qual elaborou dissertação (relatório de estágio) intitulado “PBL no ensino integrado dos temas de mobilismo geológico e biodiversidade à luz da evolução, com recurso a História e Natureza da Ciência”. 9 A planta do projecto da fortificação de Lagos (Algarve): leitura e interpretação Daniela Pereira Universidade do Algarve [email protected] Resumo No reinado de D. João III foi construída uma nova fortificação em Lagos que surpreende pelo seu aspecto medieval e moderno. De todo o Algarve, é a primeira vila a ser totalmente provida de uma extensa muralha, com baluartes, plenamente adequados às armas de fogo da época. Trata‐se de uma fortificação que foi projectada na corte de D. João III, tal como a de Mazagão, a da Ilha de Moçambique e a de São Salvador da Baía. Por isso quisemos saber se ela se inseria na mesma lógica dos exemplos ultramarinos. Sabe‐se que todas elas tiveram por base um “debuxo”, que continha a hipotética configuração da obra que os responsáveis pela construção levavam consigo, sem conhecimento prévio da topografia. Para Lagos também existiu um “debuxo” com a configuração de uma nova muralha. O Arquivo Militar de Estocolmo, Krigsar‐ kivet, possui um desenho da vila de Lagos onde consta esboçado o perímetro dessa nova forti‐ ficação, com a linha dos futuros muros desenhados sobre estruturas existentes, onde está prevista a demolição de algum casario que se apresenta como obstáculo a ser transposto. Outro assunto que pretenderemos esclarecer é o da autoria e cronologia desse “projecto”, posto que não consta título, data, nem assinatura. A identificação do projecto feita pelo arqui‐ vo sueco como sendo de uma vila portuguesa teve como base uma cópia deste original (tam‐ bém depositada neste arquivo), executada pelo pintor italiano Leonardo Ferrari, por volta de 1650. A cópia tem uma bandeirola na parte superior do desenho na qual se pode ler “Planta de Lagos”. As questões que aqui se colocam remetem também para o modo como devem ser entendidos estes registos gráficos que existiram para preparar e erguer uma fortificação. Ao contrário das fortalezas ultramarinas, os responsáveis pela obra da nova fortificação de Lagos depararam‐se com uma vila consolidada. Interessa entender como se articulou o desenho da muralha com o tecido urbano existente; que arquitectos e engenheiros estiveram envolvidos no processo construtivo e como se arrumou o novo espaço intramuros. Estas são as questões principais que pretendemos abordar no III Workshop História da Cartografia Ibérica. Nota biográfica Daniela Sofia Nunes Pereira (n. 1981) é licenciada em Património Cultural, pela Universidade do Algarve, e mestre em História da Arte pela mesma Universidade, com tese intitulada A Evo‐ lução Urbanística de Lagos (séculos XV‐XVIII), classificada com excelente. Investigadora no Centro de Estudos de Património e História do Algarve (CEPHA), actualmente presta serviços à Universidade do Algarve para o estudo sobre Património e Território, encomendado pelo Secretário do Estado da Cultura. Desde 2008, publica trabalhos e participa em eventos no âmbito da História do Urbanismo e Cartografia. 10 Imagens de uma guerra esquecida: os mapas de Portugal por Nicolas de Fer, na Guer‐ ra da Sucessão de Espanha (1702‐1714) Luís Moreira Universidade do Minho [email protected] Resumo Após doze anos de um conflito que envolveu as principais potências europeias, terminava, em 1714, a Guerra da Sucessão de Espanha. Após a morte de Carlos II, o último monarca Habsbur‐ go, e na ausência de descendentes directos, o trono de Espanha foi herdado pelo pretendente francês Filipe Bourbon, o Duque d’Anjou, neto de Louis XIV, o que mereceu a firme oposição da família real austríaca e seus aliados, que pretendiam ver no trono espanhol o seu candida‐ to, Carlos. Tendo em conta o difícil contexto geopolítico em que decorreu o conflito, Portugal não conse‐ guiu conservar a sua neutralidade, pelo que a partir de 1704, envolveu‐se directamente no teatro de operações da Península Ibérica. Numa primeira fase (em 1701) Portugal alinhou ao lado da França mas, a partir de 1702, alterando radicalmente a sua política externa, alinhou ao lado da Grã‐Bretanha e demais aliados, apoiando a candidatura de Carlos da Áustria. Foi nesta sequência que a diplomacia portuguesa registou dois acontecimentos marcantes: a assinatura, em finais de 1703, de um acordo comercial com os britânicos, o Tratado de Methuen, e a entrada triunfal em Lisboa, em 1704, do proclamado Rei de Espanha Carlos III que, com o auxí‐ lio do rei de Portugal e do seu exército, pretendia conquistar o trono de Madrid. Desde o início, o conflito foi acompanhado com atenção pelo público europeu que procurava localizar as principais movimentações militares nos diversos teatros de operações. Assim, para responder a estas solicitações, foram editados, um pouco por toda a Europa, mapas dos países e regiões onde operavam os exércitos em confronto, bem como as plantas das principais bata‐ lhas, muitos deles servindo de suporte para propaganda oficial de um e de outro pretendente ao trono. Neste seguimento, a imagem cartográfica de Portugal, impressa e divulgada no estrangeiro, conheceu um renovado interesse, tendo sido editados vários mapas do país compostos por diferentes autores. Um dos mais activos foi o francês Nicolas de Fer. Sendo um geógrafo com ligações às casas reais de França e de Espanha (Bourbon), a sua pro‐ dução cartográfica revestiu‐se, frequentemente, de mensagens propagandísticas a favor do pretendente Filipe. Nesta comunicação, pretende‐se analisar os diferentes mapas do conjunto de Portugal elabo‐ rados por de Fer, para ilustrar o teatro da guerra ibérico. Nota biográfica Professor Auxiliar Convidado no Departamento de Geografia da Universidade do Minho, dou‐ torado em Geografia Humana com uma tese sobre a construção e evolução da imagem carto‐ gráfica de Portugal no século XVIII. Tem desenvolvido investigações sobre temas subordinados à História da Cartografia Portuguesa, particularmente dos séculos XVII e XVIII, integrando pro‐ jectos de investigação ou apresentadas em diversas reuniões científicas nacionais e interna‐ cionais. 11 Do “Roteiro do Archipelago das Ilhas de Cabo Verde” à cartografia manuscrita de Christiano José de Senna Barcellos: Portos e espaços urbanos de Cabo Verde Maria João Soares Instituto de Investigação Cientifica Tropical [email protected] Maria Manuel Torrão Instituto de Investigação Cientifica Tropical [email protected] Resumo A cartografia do arquipélago de Cabo Verde foi, durante séculos, objeto de estudo periférico nas investigações e reflexões da historiografia ultramarina portuguesa. O prestígio de outras áreas geográficas do império português, ofuscou regiões cuja evolução foi mais discreta, ainda que de igual importância, para a História geral da expansão lusa, como é o caso das ilhas de Cabo Verde. As ilhas de Cabo Verde surgem ao longo dos séculos XVII e XVIII em todos os mapas gerais do Atlântico e do Mundo mas com pouca precisão cartográfica. Autonomizadamente surgem, por exemplo, num “Plano das ilhas de Cabo Verde” elaborado por Francisco António Cabral, em 1790, onde a legenda complementa a representação cartográfica ou também na obra de Lopes Lima, “Ensaios sobre a Estatística das Possessões portuguesas”, de 1844, na qual se encontra incluída uma Carta Hidrográfica do Arquipélago de Cabo Verde. Só cerca de 50 anos mais tarde, é que surgiram finalmente os trabalhos de Christiano José de Sena Barcellos, para colmatar esta lacuna: primeiro, em 1892, este autor publicou o “Roteiro do Archipelago de Cabo Verde”, divulgando uma obra de conjunto sobre as 10 ilhas do arqui‐ pélago de Cabo Verde; 10 anos mais tarde, num trabalho complementar, apresentou uma série de cartas manuscritas incidindo sobre a cartografia de alguns portos das ilhas, exempla‐ res esses que só viriam a ser publicadas em 2010 no Álbum Cartográfico de Cabo Verde. Uma análise dos mapas insertos no Roteiro permite, desde logo, observar que Senna Barcelos realizou um levantamento metódico, meticuloso, atento e zeloso do espaço litoral das dez ilhas, dos seus portos, enseadas, pontas, baías, praias e povoações. Neste trabalho pretende‐se apresentar a articulação entre estes dois tipos de cartografia das ilhas de Cabo Verde e entre os portos e as povoações onde estes mesmos se inseriam. Trata‐se de um estudo que procura dar a conhecer melhor a cartografia de um espaço geográfico onde, ao longo de séculos, se intersectavam‐se rotas, navios e homens vindos do Mediterrâneo, do Atlântico Norte e de África espalhando‐se depois pelo Mundo. Terra de passagem, nos seus portos e nas suas povoações portuárias trocavam‐se experiências, saberes e informações do mundo inteiro. Notas biográficas Maria João Soares ‐ Investigadora Auxiliar do Centro de História do Instituto de Investigação Científica Tropical, cuja área central de investigação é a história de Cabo Verde e dos Rios de Guiné (séculos XV‐XVIII). Maria Manuel Ferraz Torrão ‐ Investigadora do Centro de História do Instituto de Investigação Científica Tropical. Doutorada em História pela Universidade dos Açores, especializou‐se em temáticas relacionadas com a história Atlântica, particularmente com história das ilhas de Cabo Verde, tendo defendido uma tese sobre o Tráfico de escravos entre as ilhas de Cabo Ver‐ de e a costa da Guiné e a América Espanhola. Membro, desde 1987, da equipa luso‐cabo‐ verdiana que elaborou os vários volumes da História Geral de Cabo Verde tem, igualmente, integrado diversos projectos interdisciplinares em curso no IICT ligados com a história da Comissão de Cartografia e com a evolução dos conhecimentos científicos, nomeadamente a nível da evolução do conhecimento científico nas ilhas de Cabo Verde. 12 Diogo Ribeiro como fabricante de instrumentos e cosmógrafo: uma reinterpretação das cartas universais de Modena (1525), Weimar (1527 & 1529) e do Vaticano (1529) Samuel Gessner Centro interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia [email protected] Resumo Um relatório conservado na Torre do Tombo, enviado de Coruña em 28 de Fevereiro de 1525, informou o rei Português D. JOÃO III da presença de um certo Diogo RIBEIRO († 1533) a fazer "cartas de marear, esperas, papamundos, esterlabios e outras coisas pera a India". Nessa altu‐ ra RIBEIRO, nativo de Portugal, já era um cosmógrafo oficial do rei de Espanha em via de fazer uma carreira importante e conhecido por ter inventado uma bomba metálica para uso nos navios. As duas únicas cartas com assinatura dele (Weimar 1529 e Vaticano 1529) destacam‐se por incluírem instrumentos. Nos estudos sobre RIBEIRO como cartógrafo raramente se enfati‐ za que a inclusão de instrumentos, delineados com rigor geométrico, faz com que estas cartas em conjunto com as duas de Modena (1525) e Weimar (1527) ocupam um lugar particular relativamente às outras cartas semelhantes. Apenas os estudos de A. CORTESÃO (1935), H. WINTER (1956), A. ESTÁCIO DOS REIS (1988), S. DAVIES (2003) e A. SÁNCHEZ (2013) têm pres‐ tado atenção aos pormenores dos instrumentos. Estes autores perceberam que interpretar a inclusão dos instrumentos – em si um acontecimento raríssimo na cartografia – permite entender melhor o contexto da produção, da circulação e dos usos destas cartas. Mesmo assim, falta ainda fazer um exame de todos os elementos técnicos do conjunto dos instrumen‐ tos. Nesta comunicação, pretende‐se ‘inventariar’ todos os indícios contidos nos instrumentos. Isso permitirá relacioná‐los com uma tradição de instrumentos 'matemáticos', e não somente de instrumentos ligados à náutica. Esta interpretação corrobora o que os documentos mencio‐ nam da actividade de RIBEIRO como fabricante de instrumentos. Argumentar‐se‐á também que deste modo RIBEIRO criou um género peculiar de carta universal: dando uma forma geo‐ métrico‐gráfica ao corpo de conhecimento 'cosmográfico' da época. Nota biográfica After a degree in physics (Lausanne, Switzerland) he embarked on history of science (first post‐ graduate course , then PhD at Paris 7, France). He completed a post‐doc project on “Instru‐ ments in texts and in the practitioners’ hands” financed by FCT from 2007‐2013. Currently he is a member of the CIUHCT‐UL/UNL (Lisbon) and collaborator of the CEC (Centro de Estudos Clássicos‐UL). His main focus is mathematical culture in early modern Europe, and the role of mathematical instruments, as conceived of by theoreticians and practitioners, using textual documents as well as material culture. He won a grant from the cogito foundation in 2007, which allowed him to visit and study the most important European instrument collections in Paris, Munich, Florence, London, Oxford, Cambridge, Edinburgh and Krakow. His publications have appeared in Early Science and Medicine, Revue d'histoire des mathématiques, Revue de Synthèse (France), Studium (Belgium), SIS Bulletin (Britain), NTM, Acta Historica Astronomiae (Germany), Boletim da SPM (Portugal) as well as chapters in several books. 13 Cartografia iluminista como base para o (re)conhecimento do território de Angola Sara Ventura da Cruz Centro de Estudos Sociais [email protected] Resumo No ponto de vista dos europeus do século XVIII, África era ainda um continente por descobrir. As penetrações eram esporádicas e tendo em vista sobretudo a captura de escravos para o comércio. Apesar disso, e por causa disso, no contexto do projecto político pombalino para Portugal e demais territórios controlados pela Coroa Portuguesa, na segunda metade desse século, foram propostas diversas reformas para Angola com uma forte componente territorial. Numa nova concepção do projecto colonial, que reflecte um diferente entendimento do papel deste território na economia atlântica e no quadro global do Império Português, mais impor‐ tante que mero reservatório de mão‐de‐obra escrava, procurou‐se então diversificar a base da sua economia, reforçar o poder central, procurando o povoamento e a territorialização e con‐ solidação do Estado. Para que fosse possível gizar e agilizar este novo projecto, sobretudo a partir do centro do Império, foi necessário ocorrer um processo de (re)conhecimento e apropriação do território e da sua realidade por diversos meios, entre os quais a cartografia. A cartografia produzida neste período foi assim um instrumento fundamental tanto para a concepção como para a implementação das políticas coloniais. Constitui por isso um documen‐ to essencial para uma leitura actual dos processos históricos que decorreram sobre o(s) terri‐ tório(s). Nota biográfica Sara Ventura da Cruz (Aveiro, 1978). Licenciada e Mestre em Arquitectura (FCTUC, 2005 e 2011). Curso de Pós‐Graduação em Direito do Ordenamento, do Urbanismo e do Ambiente (CEDOUA‐UC, 2009). Desde 2012, doutoranda do Programa de Doutoramento “Patrimónios de Influência Portuguesa” (CES/III‐UC), com bolsa FCT. 14 The mappamundi of Diogo Ribeiro († 1533) and related World Charts from the Casa de la Contratación: Historical background and reception Thomas Horst Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia [email protected] Resumo The cartographic sources of the Casa de la Contratación, which was founded in Sevilla in 1503 as a government agency to organize the Spanish expeditions to the New World, play an im‐ portant role not only for the History of Cartography, but also for the History of the Discoveries. Most important to this is the official government chart, the Padrón Real, which was made (and always renewed) by official cartographers like the Portuguese mapmaker DIOGO RIBEIRO († 1533), who worked since 1519 for the Spanish kingdom – together with other Portuguese scientists like PEDRO and JORGE REINEL or the FALEIRO brothers, RUY and FRANCISCO. From RIBEIRO, who can be called the “Mercator of the Iberian Peninsula”, we know two large scientific mappamundi from 1529, which are preserved now in the Vatican and in the “Herzogin Anna Amalia Bibliothek” in Weimar, Germany. The layout of these manuscript maps, which give excellent information about the geographical knowledge of the second decade of the 16th Century and the dispute about the Moluccas, is unique, because they also show flags, coat of arms and for the first time instruments. If we compare these maps with other manu‐ script maps attributed to RIBEIRO (so‐called “Castiglione map” of 1525; anonymous “Carta Universal” of 1527 in Weimar and two anonymous fragments of world maps in Germany in the “Studienbibliothek Dillingen” [dated 1530] and in Wolfenbüttel [around 1533]), we can see that they all show a close analogy in their style (“Ribeiro type”). But why were these maps drawn and how did they come to Italy and Germany? How are they connected to other contemporary mappamundi like the “Salviati map” (made ca. 1525 by NUÑO GARCÍA DE TORENO) or the chart made by JUAN VESPUCCI in 1526? To respond these questions I will give an overview about the historical background of these maps, which will show that they are probably directly connected with the German trading houses of the Fugger and the Welser. Furthermore, the coat of arms of these maps will give further information. The second part of the paper will deal with the reception of the 1527 and 1529 maps of RIBEIRO: It will presented that they were already studied in detail in the 18th and 19th century (also by ALEXANDER VON HUMBOLDT) and that German cartographers like FRANZ LUDWIG VON GÜSSEFELD (1795) or the “Geographical Institute” in Weimar (1860) even made facsimiles of them, which are mostly unknown. Nota biográfica Dr. Thomas HORST, born in 1980, studied History and Anthropology at the universities of Mu‐ nich and Vienna. In 2003 and 2005 he twice did ethnological field research on the descendants of the Mundurukú‐Indians in the Amazon region (Brazil). After his PhD in 2008 (on the devel‐ opment of manuscript maps of Bavaria as sources for the history of climatology) he specialized in the analysis of old globes and won the prestigious “Fiorini‐Haardt‐Prize” of The International Coronelli‐Society for the Study of Globes in 2010. His book about the cartographer Gerhard Mercator (1512–1594), which was translated into French and Dutch, has been distinguished by the “Société de Géographie” with a special award in Paris in 2012. Dr. HORST is Founding Member, News Editor and Trustee of the International Society for the History of the Map (ISHM). Since September 2013 he is working on a postdoc project about “Maps, Globes and Texts: Cosmographical knowledge in early Modern Europe” (FCT SFRH/BPD/85102/2012) at the CIUHCT in Lisbon. 15