XIII Encontro Paranaense de Educação Ambiental
Educação Ambiental Formal
CIÊNCIA MODERNA: DAS INFERÊNCIAS NA NATUREZA À
CONSCIENTE HIPÓTESE GAIA
Denise Godoi Ribeiro Sanches (PG)¹, Poliana Barbosa da Riva (PG)²
¹[email protected] Pós-Graduação em Educação em Educação para Ciência e Matemática- UEM,
Avenida Colombo, 5970, Maringá - PR
² [email protected] Pós-Graduação em Educação em Educação para Ciência e Matemática- UEM,
Avenida Colombo, 5970, Maringá - PR
Palavras Chave: Ciência Moderna, Hipótese Gaia, Terra.
RESUMO:
A Hipótese Gaia é uma teoria recentemente proposta no início da década de 1960, por James Lovelock e Lynn
Margulis. Lovelock escreveu diversos artigos e livros onde apresentava e desenvolvia sua hipótese, procurando
resultados empíricos que pudessem apoiá-la. No começo, as ideias associadas com a Hipótese Gaia foram
cruelmente criticadas não apenas em seus aspectos conceituais, mas também nos que estavam relacionados ao seu
próprio estatuto como uma teoria científica. Quando se observa as mudanças climáticas e suas conseqüências, a
partir da ideia de que a Terra é um planeta vivo, nossa visão se aprofunda sobre as causas e efeitos deletérios pelos
quais nós humanos somos responsáveis e abrimos uma possibilidade de salvar Gaia e nos salvar. Neste sentido, este
trabalho aponta uma discussão acerca da relação entre Hipótese Gaia e a Ciência Moderna, com ênfase nos atuais
estudos ecológicos e ambientais.
A CIÊNCIA MARCADA PELO PENSAMENTO MECÂNICO.
Chamamos de ciência moderna, os conhecimentos que surgiram após o Renascimento.
Filosofia Moderna e Ciência Moderna em sentido histórico indicam o período da história
ocidental entre os séculos XVII e XIX, no final do século XIX há o surgimento do período da
ciência contemporânea. Moderno vem do latim Modernus, e significa atual, agora. A origem do
conceito moderna mostra, na história do pensamento ocidental, uma divisão que foi estabelecida
pelos pensadores hoje chamados de modernos. (ABBAGNANO, 1982).
A Ciência moderna emerge após um período de decadência do predomínio da teologia
cristã (Gênese Bíblica: a natureza foi criada por Deus para servir o homem, mas ainda dominava
o homem). Ocorre a ascensão da burguesia, as revoluções liberais, a revolução industrial e um
possível afastamento entre o homem e a natureza, onde o relevante é retirar do ambiente a
matéria-prima para o progresso tecnológico, tido como a única forma de assegurar o bem estar
social e qualidade de vida sendo considerada vasta e infinita (CAPRA, 2006).
O homem, neste período apresenta uma visão fragmentada da natureza, está situado fora
dela e ignora os processos de interdependência dos seres vivos e não – vivos (CAPRA, 2006).
As primeiras pesquisas que marcaram este período está relacionada a astronomia e a
mecânica, a física é enaltecida. Grandes cientistas matemáticos e fisicalistas são marcos desta
época como:
 Giordano Bruno: concebe o universo como infinito, porém estático.
 Tycho Brahe: suas observações encerraram definitivamente a teoria aristotélica de
que a esfera celeste era imutável.
 Galileu Galilei: fez uso dos princípios da astronomia heliocêntrica e com o
telescópio, inaugurou a revolução científica tecnológica moderna.
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 Isaac Newton: criou as bases da ciência moderna, estudou não apenas os movimentos
dos planetas, mas também dos cometas e das marés, são examinados à luz de princípios
matemáticos.
 Descartes: defendia a razão humana como a maneira para se explicar o universo e
toda a ação no planeta, seja incluindo seres vivos e não – vivos. Manifestava uma
confiança absoluta na razão e na crença que havia uma aplicação do método matemático
para fundamentar uma nova metafísica (HALL, 1988).
A biologia ainda caminhava a passos lentos, era denominada de ciências naturais e suas
primeiras pesquisas desta época são marcadas pelo Conde de Buffon, Lineu, Lamarck e Darwin.
Buffon estudou os vertebrados, realizou diversos experimentos e apontava para a
mudança dos seres vivos, estudou animais de diferentes continentes e já preconizando um
processo de evolução.
Carl Von Linné estudou os métodos de classificação taxonômicas dos organismos
pertencentes ao Reino Plantae e ao Reino Animmallia. Criou a nomenclatura binominal e usa o
método de reunir por semelhanças e separar pelas diferentes características com arranjos
hierárquicos.
Lamarck foi o precursor, juntamente com Buffon das idéias evolucionistas. Acreditava
que as espécies eram capazes de mudar, para isso estudou geologia, climatologia, botânica e
zoologia. Trabalho em um projeto com intuito de elaborar uma história da natureza e uma
constituição da biologia como um método. Na verdade foi Lamarck que cunhou o termo biologia
para designar a ciência que estudava os seres vivos e pretendia ampliar o campo de atividade
científica na biologia. Lamarck elaborou os conceitos de adaptação e de herança dos caracteres
adquiridos (PETRY et. al., 2010).
Charles Darwin era naturalista e estudou a evolução dos seres vivos. Viajou por
diversos continentes e pode observar as semelhanças e diferenças entre os mais diversos seres
que coletou e estudou por muito tempo. O eixo central de seu trabalho é o mecanismo de seleção
natural. Nesta teoria, há uma libertação da matemática, é uma teoria materialista e indutivista,
contudo antes dos trabalhos de Mendel serem publicados, os conceitos propostos por Darwin
apresentaram várias oscilações.
Segundo Petry et. al. (2010), a seleção natural é a força criativa da evolução e não
apenas o fracasso dos menos aptos, sendo que também não há uma direção definida e ocorre ao
acaso.
Os pensadores modernos, para nós hoje, são os filósofos que estabeleceram as bases da
ciência moderna e do método científico, que alcançam resultados científicos “verdadeiros”, ou
seja, alcançam a verdade sobre os fenômenos da natureza. Para se compreender um fenômeno da
natureza era necessário observar diferentes objetos, submetê-los a procedimentos com métodos
rígidos e repetidos, para que não fossemos enganados pelos nossos sentidos. Aos pensadores
modernos a verdade sobre o mundo natural só era possível pela busca de padrões da natureza por
meio da experimentação e observação guiada por normas e orientações novas.
Em meados do século XVIII, a Ciência Moderna começava a deixar os cálculos
esotéricos dos seus cultores para se transformar no fermento de uma transformação técnica e
social sem precedentes na história da humanidade. Uma fase de transição, pois, que deixava
perplexos os espíritos mais atentos e os fazia refletir sobre os fundamentos da sociedade em que
viviam e sobre o impacto das vibrações a que eles iam ser sujeitos por via da ordem científica
emergente. Hoje, duzentos anos volvidos, somos todos protagonistas e produtos dessa nova
ordem, testemunhos vivos das transformações que ela produziu (SANTOS, 1988).
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Segundo Boaventura de Sousa Santos (1988), diante da ambigüidade e complexidade do
tempo científico, a idéia hoje partilhada por muitos cientistas é de estarmos numa fase de
transição científica. O modelo de racionalidade que preside à Ciência Moderna constituiu-se a
partir da revolução científica do século XVI e foi desenvolvido nos séculos seguintes
basicamente no domínio das ciências naturais.
Esta nova visão do mundo reconduz-se a duas distinções fundamentais, entre
conhecimento científico e conhecimento do senso comum, entre natureza e pessoa humana. Ao
contrário da ciência aristotélica, a Ciência Moderna desconfia das evidências da nossa
experiência imediata. Por outro lado, é total a separação entre a natureza e o ser humano. A
natureza é tão-só extensão e movimento. É passiva, eterna e reversível, mecanismos cujos
elementos se podem desmontar e depois relacionar sob a forma de leis. Como diz Bacon, a
ciência fará da pessoa humana "o senhor e o possuidor da natureza" (SANTOS, 1988).
A divisão primordial é a que distingue entre "condições iniciais" e "leis da natureza". As
condições iniciais são o reino da complicação, do acidente e onde é necessário selecionar as que
estabelecem as condições relevantes dos fatos a observar; as leis da natureza são o reino da
simplicidade e da regularidade onde é possível observar e medir com rigor. Esta distinção entre
condições iniciais e leis da natureza nada tem de "natural" (SANTOS, 1988).
O determinismo mecanicista é o horizonte certo de uma forma de conhecimento que se
pretende utilitário e funcional, reconhecido menos pela capacidade de compreender
profundamente o real do que pela capacidade de dominá-lo e transformar.
Os séculos XIX foi o grande período no qual a ciência se consolidou e realmente passou
a definir marcas na caminhada da humanidade. Se até então, o homem buscava na ciência
respostas à suas interrogações sobre a natureza, a partir de agora a ciência não só passa a
responder essas interrogações, mas também a interferir na própria natureza, a determinar novas e
melhores maneiras de viver (CHASSOT, 1994).
O desenvolvimento da ciência faz parte da história da humanidade e esta, na sua
globalidade, que faz a ciência avançar. A biologia no século XX se aproximou cada vez mais da
química, e biologia molecular trouxe as mais significativas contribuições para explicar, preservar
e prolongar a vida (CHASSOT, 1994).
As descobertas científicas dos mecanismos naturais dependiam da invenção de novos
aparelhos, tais como o telescópio, a bússola, o termômetro, o barômetro, a balança, o relógio e
posteriormente, dispositivos mais sofisticados. A ciência dependia também da invenção de uma
matemática para estabelecer relações entre esses elementos do mundo, pois apenas os elementos
passíveis de avaliação por pesos e medidas poderiam estar incluídos no campo de estudos desses
cientistas com uma visão mecanicista de mundo (SAHTOURIS, 1991).
A partir de suas medições e modelos, os cientistas realizaram leis matemáticas de
movimento entre os elementos dos mecanismos naturais. E quanto mais estudava o movimento
no universo, mais o universo parecia mover-se e transformar-se (CHASSOT, 1994).
Neste sentido, a Ciência Moderna não se ocupava com ética ou com qualquer outro
valor humano. Os cientistas não estavam interessados naquilo que viam como uma concepção
vaga e aparentemente religiosa do que é certo ou errado, bom ou ruim, e que poderia gerar uma
discussão sem fim. Encaravam o trabalho simplesmente como uma tarefa positivista de descrever
os mecanismos naturais e transmitir seus conhecimentos aos engenheiros que poderiam manter,
tanto a natureza como a sociedade humana, sob controle de uma tecnologia perfeitamente
projetada e bem conduzida (CHASSOT, 1994; SAHTOURIS, 1991).
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Porém um número cada vez maior de cientistas está insatisfeito com a visão mecanicista
de mundo, reconhecendo que nenhuma de nossas máquinas pode se responsabilizar pelos
aspectos auto-criativos da natureza. Eles estão se dando conta de que a natureza está longe de ser
um mero mecanismo, que ela possui um aspecto criativo que nenhuma máquina é capaz de ter. O
universo, afinal, não pode ser separado em partes como uma máquina (SAHTOURIS, 1991).
A HIPÓTESE GAIA
A Hipótese Gaia 1, desenvolvida no início da década de 1960, de autoria de James
Lovelock (cientista, físico, inventor e engenheiro) e Lynn Margulis (microbiologista) sugere que
nosso planeta e suas criaturas constituem um sistema único e auto-regulável, ou seja, como se
fosse um grande ser vivo ou organismo. Esta teoria entende a evolução do ambiente material e a
evolução dos organismos como um todo fortemente unido, em um processo ou campo de ação
único e indivisível (ODUM; BARRETT, 2007).
A nomenclatura escolhida por Lovelock para sua Hipótese Gaia surgiu do nome da
deusa que personificava a Terra na mitologia grega, o qual também designa o conceito de uma
Terra viva, em contraste a uma “Terra com vida”. De fato, “Gaia”, ou a forma “Gea”, foi o
nome primitivo do nosso planeta e não “Terra” (SAHTOURIS, 1991).
Segundo a mitologia grega, há uma lenda da dança de Gaia, a qual começa com
imagens de um redemoinho de névoa na escuridão do nada, chamado de Caos pelos antigos
gregos (uma imagem que nos lembra fotos modernas de galáxias rodopiando no espaço).
Conforme Gaia vai se tornando visível e sua dança se engrandece, seu corpo se transforma em
montanhas e vales. Então o suor brota dela para transformar-se em mares e, finalmente, seus
braços voadores revolvem um céu emaranhado, o Ouranos (SAHTOURIS, 1991).
O desenvolvimento das idéias centrais dessa teoria teve início na década de 1960,
quando Lovelock foi convidado pela NASA para integrar, como consultor, uma equipe de
pesquisa que criaria instrumentos para a detecção de vida em Marte e Vênus (GUIMARÃES et
al., 2008).
Mesmo após anos, a Hipótese Gaia ainda permanece controvertida entre os cientistas.
Lovelock chama a Terra-Gaia de um organismo, e reivindica a fisiologia como sua área
apropriada de estudo. Além disso, ele também chama Gaia de um mecanismo auto-estabilizado
composto de partes vivas e não-vivas acopladas, ou seja, organismos vivos e ambientes físicos
que agem uns sobre os outros, de modo a manter a temperatura e o equilíbrio químico da Terra
relativamente constante, dentro dos limites favoráveis à vida. Lovelock descreve este mecanismo
como um dispositivo cibernético, responsável pelas condições estáveis do planeta até os dias
atuais (SAHTOURIS, 1991).
________________________
1
É comum encontrar na literatura as expressões „Hipótese Gaia‟ e „Teoria Gaia‟. O próprio Lovelock utiliza a
expressão „hipótese‟ para referir-se ao construto „Gaia‟ no início de sua história. De acordo com ele a „Hipótese‟
Gaia teria evoluído posteriormente para a „Teoria‟ Gaia. Assim, restringiremos ao longo deste trabalho o uso da
expressão „Hipótese Gaia‟ ou „teoria Gaia‟, conforme citações de outros autores.
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Historicamente, o primeiro relato de Lovelock sobre o planeta Gaia como sendo um
sistema possuía uma linguagem com tendência antropomórfica. Porém, posteriormente em seu
primeiro livro Gaia, esta se tornaria mais poética. Como era de se esperar, alguns cientistas a
interpretaram mal, acusando de dizer que os organismos agiam com algum propósito latente para
regular o clima e a composição química do planeta. A noção de propósito, em sistemas naturais
é, com certeza, um tabu científico, uma heresia (LOVELOCK, 1991).
Após a sua publicação, a Hipótese Gaia sofreu uma grande resistência da comunidade
científica, principalmente com relação à idéia da Terra ser considerada um superorganismo.
Assim, muitos cientistas encontraram grandes dificuldades no contexto de Gaia, pois essa aponta
o uso de uma linguagem teleológica para a teoria (NUNES-NETO; EL-HANI, 2006). A teoria de
Gaia recebeu até mesmo a identificação de pseudocientífica.
O argumento utilizado pelas ciências da época foi o fato de que a referida teoria não
teria uma comprovação empírica, o que a tornaria aceitável para toda a comunidade, e elevaria
ao patamar de Ciência, corroborando com aspectos da Ciência Moderna. Neste sentido, as teorias
vigentes em uma determinada época procuravam na comprovação empírica a fundamentação de
suas proposições teóricas, o que as tornariam, de fato, uma teoria científica. Dentro desta prática,
qualquer nova teoria ou ciência que viesse a refutar ou substituir alguma já existente deveria ser
de mais fácil comprovação, possuir maior precisão, ser mais detalhada, ser capaz de resistir a
uma diversidade de testes (DALLAZEN; SANTOS, 2007).
Sabe-se que a primeira idéia de Lovelock com relação à hipótese Gaia surgiu quando ele
comparava a atmosfera de diferentes planetas. Em suas obras (LOVELOCK, 1991, 1995, 2006)
descreve que todas as atmosferas dos demais planetas em nosso sistema solar são viáveis,
quimicamente falando. Apenas a Terra possui uma atmosfera bastante inviável pelas leis da
química, ou seja, seus gases deveriam ter entrado em combustão uns com os outros à muito
tempo. Caso isso tivesse ocorrido, a Terra não teria criaturas vivas. Assim, Lovelock acredita
que essas criaturas produzem e utilizam quase que a totalidade da mistura de gases, que os
chamamos de atmosfera. Portanto, seria essa atividade que mantém a atmosfera sempre no
equilíbrio exato para a continuidade da vida na Terra (SAHTOURIS, 1991).
James Lovelock estava convencido de que a única explicação para a existência de vida
na Terra residia no fato de que a atmosfera terrestre é continuamente modificada pelos seres
vivos, já que eles a utilizam, obrigatoriamente, como fonte de recursos, depósito para seus
metabólitos e meio para o transporte de matérias-primas do seu metabolismo (LOVELOCK,
1991, 1995).
Então, começou a considerar, que os seres vivos poderiam possuir a capacidade de
alterar as condições físico-químicas do ambiente planetário, de modo a mantê-las dentro dos
limites de habitabilidade. Isso seria feito por meio dessas alças de retroalimentação negativa e
positiva que operariam em nível global, de modo a realizar a manutenção físico-química em
estado relativamente constante, como um sistema cibernético que mantém o ambiente físicoquímico da Terra em homeostase (LOVELOCK, 1995).
Estudo mais recentes do ecólogo Edward Osborne Wilson sugerem uma condição única
da Terra entre os planetas solares: o ambiente terrestre é mantido pelos organismos em um
delicado equilíbrio e esse ambiente seria totalmente diferente na ausência de vida, corroborando
com as ideias de Lovelock (PETRY et al, 2010).
De acordo com as teorias de Rigler e Peters, de 1995, seria correto tratar os
componentes que observamos na natureza funcionando como um sistema e não na forma de
componentes isolados, sem a presença dos fatores que alteraram seu comportamento. Afinal, por
sua própria definição, a ecologia é a ciência das relações (PETRY et al, 2010).
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Eugene Odum apontou uma visão holística para o conceito de ecossistema e destacou
que não somente as relações entre organismos, e entre estes e o ambiente, são importantes para
entender o funcionamento do sistema, mas também o meio por que ocorrem as interações nos
ambientes neles contidos (TÔHA et al, 2009).
Neste sentido, alguns autores sugerem que o ensino da Hipótese Gaia deve ser
explorado como uma aprendizagem interdisciplinar, que leve a um entendimento integrado de
várias áreas da Ciência (GUIMARÃES et al., 2008).
A RELAÇÃO ENTRE HIPÓTESE GAIA E CIÊNCIA MODERNA
Essa nova visão científica de mundo em formação demonstra ter ainda uma grande
influência em nossa visão cultural mais ampla do mundo. Da mesma forma que as idéias
mecanicistas inspiraram o desenvolvimento de uma tecnologia industrial e social, as idéias
orgânicas de cadeias autogeradoras de Gaia começam a nos inspirar para a reorganização de toda
a sociedade humana em uma aventura mais harmoniosa e humanitária (SAHTOURIS, 1991).
O estudo da Ecologia se iniciou à poucas décadas, quando tomamos consciência que as
coisas iam mal em nosso ambiente devido à mudanças que estávamos realizando. Iniciou-se o
estudo do corpo biologicamente equilibrado do nosso planeta, dando ênfase às “doenças”
ecológicas e suas possíveis curas exatamente como estudaram nossos corpos e suas doenças.
Mas, como salientou Lovelock, a medicina só começou a fazer progressos reais quando se
estudou a fisiologia dos nossos corpos, o modo como seus sistemas interligados trabalham sob
condições normais e saudáveis (LOVELOCK, 1991).
Dentre os estudos ecológicos, os da ecologia de ecossistemas incorporam idéias da
filosofia proposta por Clements, como a existência de equilíbrios, limites físicos e
interdependência global de organismos. Estabelecido já desde a década de 1970, o paradigma
ecossistêmico está se tornando a coqueluche dos ecólogos. Esta teoria de Clements atinge seu
ápice com a Hipótese Gaia. Se Clements fez analogia entre comunidades e organismos, a
Hipótese Gaia expande a metáfora afirmando que o planeta Terra é um ser vivo, com um elevado
determinismo em seus processos, uma interdependência fundamental (PETRY et al, 2010).
A Hipótese Gaia considera que os organismos, especialmente os microorganismos,
evoluíram com o ambiente físico para proporcionar um sistema de controle intricado e autoregulatório que mantém as condições favoráveis para a vida na Terra (ODUM; BARRETT,
2007).
A construção de barragens para geração de eletricidade, a queima e terraplanagem de
florestas para a monocultura e pastos para gado, a utilização de fertilizantes químicos e
pesticidas, a fabricação de combustíveis a partir dos fosseis e dos metais a partir de jazidas de
minérios, são todos financeiramente lucrativos para aqueles que possuem ou governam a terra,
mas tão destrutivos do ponto de vista ecológico a ponto de possibilitar que o sistema vital Gaia
torne a vida intolerável para os seres humanos, para que o próprio sistema possa sobreviver
(LOVELOCK, 1991, 1995).
Estes efeitos começaram a serem vistos no final do século XX. No decorrer deste
século, houve maior produção de implementos, máquinas, pesticidas, inseticidas e fungicidas.
Grandes empresas mundiais cresceram a partir da “modernização” da agricultura. Com o
crescimento do cultivo, surgiu a degradação. O extrativismo passa a ser retratado como
romantismo, sinônimo de atraso econômico e cultural (DALLAZEN; SANTOS, 2007).
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Evidentemente, os humanos modificam o meio ambiente físico para suprir suas
necessidades imediatas, mas ao fazê-lo estão cada vez mais cegos. Os componentes bióticos
necessários para nossa existência fisiológica estão sendo destruídos, e o equilíbrio global está
começando a ser perturbado e modificado – um processo tipicamente chamado de mudança
climática global (ODUM; BARRETT, 2007).
A visão de mundo mecanicista com a qual se conviveu por tanto tempo, ao longo de
todo o desenvolvimento da Ciência Moderna, agora está dando lugar a uma visão orgânica
(SAHTOURIS, 1991).
Os problemas com os quais confrontamos atualmente foram todos criados por nós
mesmos: desigualdade, fome, ameaça nuclear de extermínio e danos, possivelmente
irreversíveis. Tais problemas tomaram grande dimensão, que muitos acreditam que jamais será
possível solucioná-los. Apesar disso, a humanidade chega a uma maturidade que poderá trazer a
tona uma solução.
As sociedades foram projetadas como maquinários, para mostrar o modelo de sociedade
perfeito. O maior conflito desta é saber se os indivíduos devem sacrificar seus interesses pessoais
a favor do bem estar comum, ou se interesse pessoal deve reinar absoluto na esperança que os
interesses coletivos aflorem desse modo, por possibilidade própria.
Somente agora é que os cientistas estão começando a se dar conta da fisiologia do nosso
planeta, a entender porque a introdução de uma espécie nova em um ambiente complexo pode
deixá-lo doente. Estão começando a entender porque a destruição de um ambiental tal qual a
florestas tropicais pode tirar todo o equilíbrio do planeta (LOVELOCK, 1995).
Os cientistas que tentam entender Gaia como uma coleção de organismos isolados,
unidos mecanicamente a ambientes não-vivos, ficam cheios de argumentos contraditórios. Isto é
conseqüência da visão mecanicista de Gaia, provida da Ciência Moderna. Todas as máquinas são
construídas para atenderem os propósitos de seus inventores e usuários, e são reguladas por
“terceiros”. Porém, existe uma contradição lógica: a natureza é mecânica, mas que não possui
nem criador, nem propósito (LOVELOCK, 1991).
CONCLUSÃO
Na medida em que é uma abordagem construída no âmbito das ciências naturais, a
Hipótese Gaia não aborda profundamente as relações sociais e políticas que se estabeleceram ao
longo da história humana, em especial durante o período da Ciência Moderna. A Hipótese Gaia
sugere que o planeta Terra é um grande organismo, que se auto regula diante das dificuldades e
recicla, a fim de economizar elementos e energia. Transpondo a hipótese para características da
Ciência Moderna, o nosso planeta seria visto como uma máquina, controlada por tecnologia
advinda do desenvolvimento da ciência.
Apesar de ter sido rejeitada pela comunidade científica no início de sua divulgação por
não possuir nem metodologias e nem experimentos que a comprove, o que a tornaria uma teoria
científica, a Hipótese Gaia está caminhando ao encontro de comprovação empírica nos dias
atuais.
Dentro deste contexto, as cidades são vista parasitas da biosfera, pois quanto maior e
mais avançada tecnologicamente, mais estas exigem da humanidade que a habita e maior o
perigo de danificar o meio ambiente em questão.
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Por fim, conclui-se que visto a atual situação em se encontra nosso planeta, concluímos
que haverá benefícios com inserção de Gaia no ensino de ciências, bem como para o tratamento
e estudo de questões ambientais. A visão sistêmica de Gaia se torna indispensável diante dos
desafios que temos pela frente, enquanto humanidade.
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1982.
ARENDT, H. Entre o Passado e o futuro. 2 ed.Tradução Mauro W. Barbosa de Almeida. São
Paulo: Perspectiva, 1979.
CAPRA, F. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo:
Cultrix, 2006.
CHASSOT, A. A Ciência através dos tempos. São Paulo: Editora Moderna, 1994.
DALLAZEN, C. L.; SANTOS, J. C. Meio ambiente: o planeta pede socorro. Marechal Candido
Rondon: Unioeste, v. 07, n.13, 2007.
GUIMARÃES, M. D. M.; TAVARES, M. L.; NUNES-NETO, N. F.; CARMO, R. S.; EL-HANI,
C. N. A Teoria Gaia é um conteúdo legitimo no ensino médio de Ciências? Pesquisa em
Educação Ambiental, vol. 3, n. 1, 2008.
LOVELOCK, J. E. As Eras de Gaia. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1991.
LOVELOCK, J. E. Gaia: Um novo olhar sobre a vida na Terra. Lisboa: Edições 70, 1995.
LOVELOCK, J. A vingança de Gaia. Tradução: Ivo Kirtovsky. Rio de Janeiro: Intrínseca,
2006.
NUNES-NETO, N. F. N. Bases Epistemológicas para um modelo funcional em Gaia.
Universidade Federal da Bahia, Universidade Estadual de Feira de Santana, Programa de Pósgraduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências – Dissertação (mestrado), 2008.
NUNES-NETO, N. F.; EL-HANI, C. N. Gaia, Teleologia e Função. Epistemologia. v. 11, n. 23,
p. 15-48, jan./jun. 2006.
ODUM, E. P.; BARRETT, G. W. Fundamentos de Ecologia. São Paulo: Thomson Learning, 5ª
ed., 2007.
PETRY, A. C.; PELICICE, F. M.; BELLINI, L. M. Ecólogos e suas historias: um olhar sobre
a construção das idéias ecológicas. Maringá: EDUEM, 2010.
SAHTOURIS, E. Gaia: Do caos ao cosmo. / Natale, L. M. U. (trad.). São Paulo: Editora
Interação, 1991.
SANTOS, B. S. Um discurso sobre ciências. Instituto de Estudos avançados, 1988.
TÔHA, F. A. L.; BENEDITO, E.; OLIVEIRA, E. F. Contribuições da história da Ciência e
das teorias ecológicas para a limnologia. Maringá: EDUEM, 2009.
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