O problema da mochila no carregamento do palhiço da cana-de-açúcar1 Helenice de Oliveira Florentino Depto de Bioestatística, IB UNESP Botucatu SP [email protected] Angélica Fernanda Spadotto Pós-Graduação Energia na Agricultura, FCA UNESP Botucatu SP. [email protected] RESUMO A atual preocupação com o meio ambiente tem feito com que empresas produtoras de cana-deaçúcar invistam na redução da queima do canavial na pré-colheita e na utilização do corte mecanizado com cana crua. Porém, a colheita com corte mecanizado torna disponível a biomassa residual (palhiço), criando-se condições favoráveis para o aparecimento de parasitas e também o atraso da brota da cana, comprometendo assim, a próxima safra. Os números do setor sucroalcooleiro no Brasil fazem com que a cana-de-açúcar se torne a principal fonte de biomassa do país. Além do potencial energético desta biomassa, tem-se como vantagens as questões ambientais, a manutenção de empregos e a projeção de vida limitada para os recursos energéticos de fontes naturais. Assim, algumas usinas têm transportado o palhiço, em fardos de diferentes tamanhos, do campo para o centro de processamento, com a finalidade de serem aproveitados na geração de energia. Mas, as grandes dificuldades ainda encontradas para aproveitamento deste resíduo para geração de energia são a falta de tecnologia apropriada para coleta e processamento deste resíduo e o alto custo que este processo demanda, principalmente o custo envolvido no sistema de transporte. Para auxiliar tais dificuldades propõe-se a utilização de técnicas de otimização. Neste trabalho, são estudados os problemas de mochila aplicados ao carregamento dos fardos de palhiço de cana-de-açúcar que serão transportados do campo ao centro de processamento para geração de energia, visando maximizar a quantidade de palhiço transportado, minimizando assim os custos desta transferência. Palavras-chave: Cana-de-açúcar, palhiço, problema da mochila 1 Projeto financiado pelos órgãos CAPES e FAPESP (Proc. 2006/02476-9) INTRODUÇÃO Os números do setor sucroalcooleiro no Brasil fazem com que a cana de açúcar (Saccharum spp) se torne a principal fonte de biomassa do país. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a estimativa para produção de cana-de-açúcar na safra 2007 é de 483.822.903 toneladas (aumento de 5,2% com relação á 2006) abrangendo uma área de aproximadamente 6.507.403 hectares (aumento de 5,6% com relação á 2006). Atualmente uma grande preocupação dos órgãos ambientais e governamentais é o resíduo gerado na colheita desta cultura, pois uma prática comum é a queima deste palhiço antes da colheita, a qual libera gases que poluem a atmosfera, causa incêndios em zonas rurais e residenciais, danifica redes elétricas e o fogo atinge reservas e mananciais. Mas, o governo tem se manifestado com rigor, impondo decretos e normas a serem seguidos, na tentativa de sanar os problemas da queima utilizada na pré-colheita da cana-de-açúcar. Estes decretos estabelecem prazos para que os usineiros abandonem esse sistema. Vários autores mostram a viabilidade do uso do palhiço na produção de energia. Pois, além do potencial energético desta biomassa, tem-se como vantagens as questões ambientais, a manutenção de empregos e a projeção de vida limitada para os recursos energéticos de fontes naturais (EID et al. (1998) (LOPEZ(1987), RIPOLI(1991), SCHNEIDER(2001)). Mas, as grandes dificuldades ainda encontradas para aproveitamento deste resíduo para geração de energia são a falta de tecnologia apropriada para coleta e processamento deste resíduo e o alto custo que este processo demanda, principalmente o custo envolvido no sistema de transporte, como exemplo o Problema da Mochila. Um Problema da Mochila consiste na escolha de um subconjunto de itens, cada qual com uma correspondente utilidade e um valor que define o quanto esse item utilizará da capacidade da mochila. Esse problema tem sido o alvo de intensos estudos de vários pesquisadores por suas aplicações estratégicas, bem como por interesse teórico. Otimizar a forma de carregamento do palhiço da cana-de-açúcar é muito importante, visto que o desperdício de espaço pode aumentar o número de viagens do caminhão, aumentado os gastos com combustíveis e desgastes do veículo. A COLETA DO PALHIÇO DA CANA-DE-AÇÚCAR Segundo RIPOLI(2002), para a coleta do palhiço a ser aproveitado na produção de energia, têm-se as seguintes operações: primeiro este resíduo é enleirado por máquinas do tipo ancinho enleirador, posteriormente é enfardado por uma máquina enfardadora. Os fardos podem ser prismáticos (figura 1) ou cilíndricos (figura 2). Depois estes fardos são carregados por uma garra carregadora e colocados em caminhões para serem transportados para o centro de processamento. O grande problema deste sistema é que as máquinas existentes são máquinas de enfardamento de feno adaptadas para estas operações. O que tem dificultado e encarecido este processo. Portanto, há a necessidade de estudos para otimizar este sistema. Figura 1: Fardo prismático de palhiço. Figura 2: Fardo cilíndrico de palhiço. O objetivo deste trabalho é o estudo de todo o sistema de aproveitamento do palhiço, resultante da colheita mecanizada da cana-de-açúcar, para geração de energia. Otimizando o processo de transferência deste resíduo do campo para o centro de processamento. Para isto, é proposto um modelo matemático para otimização do transporte dos fardos prismáticos, de tal maneira que maximize a quantidade de resíduos a ser colocada no caminhão, minimizando assim o custo com transporte. Para a modelagem matemática deste problema serão utilizadas teorias do problema da mochila. Um Problema da Mochila consiste na escolha de um subconjunto de itens (fardos), cada qual com uma correspondente utilidade (volume) e um valor que define o quanto esse item utilizará da capacidade da mochila (capacidade do caminhão) (LIN(1998), MARTELLO e TOTH(1990)). MODELAGEM MATEMÁTICA Como citado, o Problema da Mochila consiste na escolha de um subconjunto de itens (fardos), cada qual com uma correspondente utilidade (volume) e um valor que define o quanto esse item utilizará da capacidade da mochila (capacidade do caminhão). Considere que existem l enfardadoras, cada enfardadora produz fardos prismáticos de volumes diferentes Vl e que a capacidade de produção de cada enfardadora é de Kl fardos. Deseja-se determinar qual o volume máximo de fardos deve ser colocado no caminhão, cuja caçamba tem volume V. Sendo a variável de decisão xij igual a 1 se o fardo i produzido pela enfardadora j for colocado no caminhão e igual a 0 em caso contrário. Propõe-se o seguinte modelo: Kl l Max ∑∑ V j xij i =1 j=1 S .a. 0≤ Kl ∑x ij ≤ Kj para j = 1,..., l. i =1 Kl l ∑∑V x j ij ≤V i =1 j =1 xij = 0 ou 1. O objetivo no modelo apresentado é maximizar o volume dos fardos colocados no caminhão, com restrições sobre a capacidade de carga do caminhão e das m O problema da mochila é um dos 21 problemas NP-completos de Richard Karp, exposto em 1972. A formulação do problema é extremamente simples, porém sua solução é mais complexa. Este problema é a base do primeiro algoritmo de chave pública (chaves assimétricas). Normalmente este problema é resolvido com programação dinâmica, obtendo então a resolução exata do problema, mas também sendo possível usar PSE (procedimento de separação e evolução). Existem também outras técnicas, como usar algoritmo guloso, meta-heurística (algoritmos MARTELLO e TOTH(1990)). genéticos) para soluções aproximadas (LIN(1998), REFERÊNCIAS EID, F., CHAN, K., PINTO, S.S. Tecnologia e co-geração de energia na indústria sucroalcooleira paulista: uma análise da experiência e dificuldades de difusão. Informações Econômicas, 28, 1998. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em 20 de fevereiro de 2007. LOPEZ, P.A. Recolección de barbojo como fuente energética en el central romana. In: Grupo de países latinoamericanos y del Caribe exportadores de azúcar. Uso alternativo de la cana de azúcar para energía y alimento. Ciudad del México, p. 57-62, 1987. LIN, E.Y.H. 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