COLCHA DE RETALHOS: Alguns Elementos da Cultura Brasileira Semira Adler Vainsencher Recife, 2011 Copyright © 2011 Semira Adler Vainsencher Revisão Semira Adler Vainsencher Editoração Eletrônica Erivaldo Santos Capa Kátia Vainsencher Impressão Luci Artes Gráficas Ltda. Av. Presidente Kennedy, 1539 - Peixinhos - Olinda - PE Fone: 3241.5729 / 3241.2708 E-mail: [email protected] Esta obra não pode ser reproduzida por nenhum meio reprográfico sem autorização do autor ou da editora. Impresso no Brasil DEDICATÓRIA Dedico este livro aos meus quatro netos, crianças extraordinárias que vieram dar um significado ainda maior à minha vida: · Gabriel Adler Costa e Silva, o mais velho dos rebentos, minha primeira grande paixão, menino belo e brilhante que me chama de Memema e com o qual sinto tanta afinidade; · Clarice Adler Costa e Silva, criança linda, com um belo olhar, possuidora de imensa inteligência e carisma pessoal, pela qual nutro um grande amor; · Camila Adler Vainsencher Amorim, bela e meiga fofurinha, minha linda morena brejeira, pela qual expresso muito amor e sempre encho de carinhos e mimos; e · Davi Adler Vainsencher Amorim, luz e amor puros de minha vida, verdadeiro anjo de olhos azuis, que dá e recebe tantos beijos e mimos de sua avó. Não poderia deixar de lembrar, aqui, duas outras crianças lindas, que surgiram em meu caminho, e que eu tanto quero bem: · Manassés Ramos da Silva e · Viviane Ramos da Silva APRESENTAÇÃO A Cultura é o élan vital de um povo, seu pulso, sua alma imortal. É aquilo pelo qual uma nação será lembrada (ou, esquecida), o conjunto de padrões de comportamentos, crenças e valores, vivos e pulsantes, e que caracterizam uma sociedade. Não é surpreendente que a Cultura, mesmo quando desvalorizada, em certas ocasiões, ou tenha seu papel diminuído, volte a ocupar um lugar central nas decisões de um país. Hoje, é crescente a percepção da importância da Cultura e de suas relações com as transformações econômicas e sociais. No processo de desenvolvimento, ela vem sendo reconhecida como um elemento chave, e os Governos e instituições internacionais levam-na em conta, ao incorporar novas estratégias e programas de trabalho. No presente, a riqueza da criação cultural (incluindo-se, sob esse rótulo, tanto as manifestações artísticas, de vários tipos, quanto as produções intelectuais e científicas), passou a representar um elemento de suma relevância na avaliação do desenvolvimento de um país, sendo reconhecida como um bem econômico fundamental. O desafio para as nações passou a ser, além do desenvolvimento econômico, a criação de um ambiente favorável, também, ao desenvolvimento intelectual das pessoas. Outro fato, este de mais lenta e difícil aceitação, é o de que as formas mais intangíveis de desenvolvimento cultural, são como flores raras e de difícil cultivo: não podem ser criadas, de forma artificial, ou por imposições do mercado e, tampouco, podem surgir mediante decretos de qualquer Governo. Florescem, tão-somente, em um ambiente socioeconômico livre, com investimentos de longo prazo na Educação, e inteligentemente planejados, acompanhados de renúncia a resultados imediatos ou, por demais, específicos. A postura oficial do Governo brasileiro vem dando, maior atenção, à uma noção menos elitizada de Cultura e, assim, adotando um paradigma conducente à livre expressão e à criatividade. Nessa nova visão, todas as pessoas são percebidas como produtoras culturais. Destacam-se dois exemplos concretos que refletem mudanças na ação governamental, com relação aos investimentos culturais. Um deles, é o surgimento de uma mídia oficial de qualidade, como a TV Educativa e a TV Cultura, que tem servido para difundir as diversas manifestações culturais do país. Outro exemplo é o crescimento do apoio oficial à produção e à comercialização de artesanato, através da promoção de eventos, de exposições permanentes e de cadastramento dos artesãos. A sociedade civil vem contribuindo, decisivamente, para o avanço dos “direitos culturais”. É o caso da organização e disseminação de rádios comunitárias que, apesar da falta de apoio e, mesmo, da oposição dos poderes públicos, têm se expandido e já apresentam uma espécie de código de ética próprio, cujos núcleos se baseiam na valorização e na divulgação das manifestações folclóricas. Outras produções artísticas locais, dentre elas, as expressões populares da juventude, assumem, ainda, um importante papel histórico. A Cultura Popular - objeto deste livro - está inserida no contexto da Cultura lactu sensu e corresponde a uma parte importante do aspecto humano do desenvolvimento do Brasil. Ela possui um amplo leque de manifestações, sendo considerada como um bem imaterial e de uso comum do povo, compreendendo um conjunto de tradições, mitos, crenças, histórias populares, costumes, procedimentos terapêuticos, cultos, religiosidades, culinárias, folguedos, flora e fauna, novas formas de expressões populares, entre outros, que é transmitido de geração em geração, ou criado pelas novas gerações. Este livro reúne vários textos concernentes à Cultura brasileira, em particular, à nordestina, e visa a dar, no espírito dos novos tempos, uma pequena contribuição, como material educativoinformativo, bem como fazer um manifesto favorável à sua valorização, em um espaço privilegiado de socialização dos indivíduos, que é aquele do ensinoaprendizagem. Tanto porque aborda temas integrantes do currículo escolar formal, quanto porque, muitas vezes, alguns desses assuntos não são disponibilizados, de forma adequada e/ou atraente, para o público que frequenta as bibliotecas das escolas e instituições públicas e privadas. O acervo apresentado é fruto de um amálgama deliberado, revelador da pluralização dos elementos culturais existentes, através da miscigenação das culturas europeia, indígena e africana, que formaram a brasileira. A maior parte dos textos foram produzidos no âmbito da Diretoria de Pesquisas Sociais da Fundação Joaquim Nabuco. Muitos já foram publicados, virtualmente, no site Pesquisa Escolar, ou, impressos e divulgados, sob forma de micromonografias, pelo Centro de Estudos Folclóricos Mário Souto Maior. Outros trabalhos, porém, são inéditos ao público; e, alguns deles, apresentam ilustrações desenhadas pela autora, em bico de pena. Os textos publicados, anteriormente, sofreram pequenas alterações em seu formato e conteúdo. Espero que vocês, leitores, consigam apreender a variedade, a beleza e a riqueza da Cultura Popular do Brasil. E jamais esqueçam de que eu, uma judia nordestina, elaborei este livro com muito amor e dedicação. Semira Adler Vainsencher PREFÁCIO Não acredito e nem gosto de prefácios. Se o livro é ruim, o prefácio não adianta e, se o livro é bom, ele é desnecessário. Porém, como negar ao convite de uma amiga tão querida, do porte da intelectual Semira Adler Vainsencher? Como já dizia o psicanalista Sigmund Freud: o escritor faz o mesmo que a criança que brinca. Cria um mundo de fantasia que leva muito a sério, isto é, no qual investe uma grande quantidade de emoção, enquanto conserva uma separação nítida entre o mesmo e a realidade (...) não importando se esse mundo é ou não criativo... Este livro conserva uma independência, que se manifesta na escolha do material, e nas alterações do mesmo. Ele procede do tesouro popular, dos mitos, das lendas, dos contos de fadas, em uma nova abordagem, de vestígios distorcidos de fantasias, plenas dos desejos do povo. Pouco se tem escrito sobre o destino dos filhos e dos netos dos prestamistas judeus, que chegaram ao Recife, no princípio do século passado, e após a Segunda Guerra Mundial. A maioria dos pesquisadores, que estuda a importância da influência hebréia na historiografia brasileira, se dedica a analisar os acontecimentos que ocorreram no passado, a exemplo da importância da Inquisição, dos marranos, dos conversos forçados ao catolicismo, dos nomes e costumes dos seus descendentes, entre outros. Neste sentido, esquecem, ou evitam estudar, as ocorrências atuais, como se os fatos passados não continuassem influenciando o futuro nacional. São poucos aqueles que se dedicam ao folclore e à Cultura da Região Nordeste. Os responsáveis por esta seleção e estudos, chegam a acentuar, por vezes, acontecimentos sem muita importância, provindos do pretérito, e deixam de destacar, até, acontecimentos, de maior relevância, seja por serem contemporâneos próximos às suas vivências, seja porque ameaçam a posição que alcançaram na sociedade onde estão integrados. É pertinente lembrar que, na década de 1920, escreveu o Mestre dos Apipucos (Gilberto Freyre), na crônica O Elemento Israelita, publicada no Jornal Diário de Pernambuco: Vai crescendo em nossas cidades do Nordeste o elemento israelita - o que apresenta ao mesmo tempo uma vantagem e a sombra do perigo. O perigo está nas tendências desse bom elemento para o exclusivismo: no ser em geral, num ser que não se vincula à terra que o acolhe. No ser um elemento móbil como uma bola de borracha. E como a bola de borracha, fácil de dilatar-se... Na década de 1940, prossegue o consagrado sociólogo, na crônica A Propósito de Semitismo e Anti-Semitismo: “Quase toda a gente conhece a frase celebre do espanhol. Eu não creio em bruxas. Mas que elas existem, existem”. Tenho vontade às vezes de dizer cousa semelhante com relação ao semitismo. Eu não creio nos judeus das caricaturas anti-semíticas. Mas “que eles existem, existem” (conferir no livro: Crônicas do Cotidiano - a vida cultural de Pernambuco, nos artigos de Gilberto Freire (organização) Lydia Barros e Carolina Leão. Recife: Diário de Pernambuco, 2009, pgs. 56 e 105. No entanto, vamos aos fatos históricos: “Antes da II Guerra Mundial, em decorrência do anti-semitismo e das graves perseguições contra os judeus, ocorre uma grande migração para Pernambuco, principalmente por parte da população judaicoeuropeia. Essas famílias se instalam de início no bairro da Boa Vista. Por sua condição geográfica, a Praça Maciel Pinheiro se torna o reduto da colônia judaica do Estado, representando o principal fórum de encontros e debates, tanto por parte dos imigrantes, quanto ainda, dos pernambucanos residentes em seus arredores. Além do português, o que mais se ouvia ali era o iídiche, língua falada pelos judeus askenazim - aqueles provenientes da Europa Oriental. E, nos bancos da Praça, discutiam-se as últimas novas relativas à política, ao comércio, às artes, à literatura, e outros assuntos. A população não judia e menos escolarizada, residente no Recife, devido à falta de conhecimento, costumava referir-se àqueles judeus como os russos. Inclusive, caberia salientar o seguinte: no último andar de um prédio, que se localiza na esquina da Travessa do Veras com a Praça Maciel Pinheiro, viveu Clarice Lispector (1925 -1977), uma das mais importantes escritoras do século XX, e aquela que possui o maior número de obras traduzidas. Apesar de ter nascido na Ucrânia, ela veio com os seus pais para o Brasil, aos dois meses de idade, fugindo do antissemitismo. Clarice Lispector residiu, a maior parte da sua vida, entre o Recife e Maceió, e fez questão de naturalizar-se brasileira.” (Semira Adler Vainsencher [email protected]) A Praça Maciel Pinheiro, para este prefaciador, é considerada a Ágora da comunidade hebraica recifense. Neste sentido, penso que o Mestre de Apipucos se enganou. Os judeus se adaptaram, muito bem, ao Brasil. As novas gerações deram, e dão, notáveis contribuições nas áreas científicas e literárias, a exemplo de matemáticos, físicos, médicos, economistas, cientistas políticos, escritores, jornalistas, e outros. Feito tal esclarecimento, pertinente será dizer que, o livro, Colcha de Retalhos, é uma seleção dos numerosos trabalhos de Semira Adler Vainsencher, coletados ao longo de sua brilhante carreira. Começa com a fofura do Algodão, segue para o Artesanato Nordestino, voando para alcançar as alturas do Boi Voador, para, então, plainar em plena Amazônia, e aterrissar em uma imensa Vitória-Régia. Da dança do Bumba-meu-boi, salteia, graciosamente, à terra do Cacau, do Coco, de dar água na boca, e dançar com o leitor, além de cozinhar as receitas da Culinária Nordestina, incluindo o pé de moleque, o bolo de macaxeira, o mungunzá e o arroz doce. O Dendê, da escrita de Semira, não faz mal aos estômagos sensíveis, quando dosado pela quituteira de mão cheia que a autora é. Aconselho ao leitor que, sem pressa, viaje neste livro, lendo e matutando sobre a sabedoria das Legendas dos Caminhões. Depois, não deixem de ler os ensaios começados com a letra M: Macambira, Mamona, Mandacaru, e não deixem de assistir ao Mamulengo, e outros tantos, porém, sem se importar com a ordem dos capítulos. Não tenham medo de escutar o canto do Uirapuru. Está tudo muito bem socado pelo Pilão de Monjolo. E, por fim, não venha me dizer, leitor amigo, que a moça bonita engravidou, por gosto e conhecimento, lendo a tal estória do Boto, que encanta as moças donzelas... Prenhos, vamos ficar, todos nós, mas, de Nordestinidade. O presente escrito, selecionado pela autora, é, apenas, uma amostra dos seus trabalhos. Vocês verão que, a escrita dessa pesquisadora é muito forte, à vista de um simples curandeiro de província. A perspectiva contrapõe o todo, para ganhar um relevo que, cada leitor, irá criar em seu mundo virtual, Mundo construído entre ele, leitor, e o texto. O Retalho é, sobretudo, o somatório do nosso rico folclore. Creio que, quando um povo começa a estudar e a contar suas verdadeiras raízes, deixa para trás o subdesenvolvimento. Boa leitura! Bom proveito! Meraldo Zisman Sociedade Brasileira de Medico Escritores (SOBRAMES/PE) União Brasileira de Escritores (UBE/PE) União de Médicos e Escritores e Artistas Lusófonos (UMEAL) Academia Brasileira de Médicos Escritores (ABRAMES) SUMÁRIO DEDICATÓRIA APRESENTAÇÃO PREFÁCIO ALGODÃO 17 ARTESANATO NORDESTINO 27 BABAÇU 41 BAOBÁ 51 BOI VOADOR 59 BOTO 67 BUMBA-MEU-BOI 73 CACAU 83 CIRIRI 91 COCO 97 CULINÁRIA BRASILEIRA 103 CULINÁRIA JUNINA 111 DENDÊ 119 FOLCLORE NORDESTINO 127 IARA 151 IPÊ 161 LEGENDAS DE CAMINHÕES 165 MACAMBIRA 173 MAMONA 179 MAMULENGO 185 MANDACARU 191 MANDIOCA 195 PILÃO E MONJOLO 201 PIMENTA 209 SABIÁ-LARANJEIRA 215 UIRAPURU 221 VITÓRIA-RÉGIA 231 FONTES CONSULTADAS 237 ALGODÃO Datam de oito séculos a.C. as referências históricas sobre o algodão. Os egípcios o conheciam e o cultivavam na Antiguidade; e os Incas, e várias civilizações antigas, já utilizavam o vegetal em 4.500 a.C. O algodoeiro (Gossypium hirsutum L.) é uma planta arbustiva e perene, de crescimento indeterminado e desenvolvimento vegetativo e reprodutivo simultâneo. A palavra deriva de al-quTum, da língua árabe, porque foram os árabes que, na qualidade de mercadores, difundiram a cultura do algodão pela Europa. Ela gerou os vocábulos cotton, em inglês; coton, em francês; e, cotone, em italiano. Nos anos 1500, no início da colonização, havia certas espécies de algodão, sendo cultivadas em território nacional. No Brasil, pouco se conhece da préhistória dessa planta, mas, os portugueses, quando aqui chegaram, perceberam que os índios conheciam o algodão, já sabiam fiá-lo e dele faziam tecidos. Há uma lenda indígena, inclusive, no folclore nordestino, segundo a qual, nos tempos da criação do mundo, os índios eram muito atrasados, não sabiam cultivar a terra e, tampouco, criar os animais. Eles ficavam no alto das árvores, ou em cavernas, para se proteger dos animais ferozes. Foi, então, que surgiu um 17 grande chefe sábio - chamado Sacaibu - que os levou para um lugar onde havia caça. Lá, os índios construíram suas malocas. O sagrado Deus Tupã deu uma semente a Sacaibu e pediu-lhe que a plantasse. Ele obedeceu ao grande Mestre e ficou esperando a sua germinação. Quando a planta se desenvolveu, Sacaibu observou que, das suas flores, saíram tufos brancos, que os indígenas teceram e fizeram cordas. Por intermédio destas cordas, desceram um abismo e descobriram um povo, com muita cultura, que lhe ensinou a viver melhor, a cultivar a terra, a criar os animais, a fazer utensílios variados, e a tecer as roupas, com o produto da semente ofertada por Tupã: o algodão. Os portugueses, por sua vez, apesar de terem cultivado, na Bahia e em Pernambuco, algumas variedades de algodão trazidas do Oriente (que, posteriormente, foram levadas pelos jesuítas para o Sul do país), estavam bem mais interessados no cultivo da cana-de-açúcar. Com a chegada dos escravos africanos, entretanto, por uma questão de necessidade, os colonizadores tiveram que plantar alguns hectares de algodão, para que eles pudessem fazer suas vestimentas. Na Inglaterra, até meados do século XVIII (por volta de 1760), a lã e o algodão eram fiados, manualmente, em equipamentos rudimentares denominados rocas (ou roçadoras), que apresentavam baixíssimos rendimentos. Por outro lado, grande parte dos tecidos de algodão era importada da índia. O Parlamento Inglês decidiu, então, cobrar tarifas pesadas sobre as importações estrangeiras, e isto acabou incentivando a 18 própria indústria de tecidos do país. A partir de 1764, James Hargreaves inventou e introduziu no mercado a famosa spinning Jenny, uma máquina de fiar que multiplicou a produção em vinte e quatro vezes, em comparação ao rendimento das antigas rocas. A seguir, o mesmo inventor colocou à disposição, do mercado, uma nova criação sua: a lançadeira volante fly-schepel. A combinação do processo de tecelagem com a fiação da spinning Jenny representou uma verdadeira revolução tecnológica, que foi aumentada pela invenção do bastidor hidráulico de Richard Arkwright. Tal criação tornou possível a produção intensiva das tramas longitudinais e latitudinais. Mediante os novos processos mecânicos, a produção aumentou cerca de duzentas a trezentas vezes, em comparação ao que era produzido antes, no mesmo intervalo de tempo. Em 1792, uma invenção de Eli Whitney, nos Estados Unidos - o descaroçador de algodão - conseguiu separar, mecanicamente, as sementes das fibras do algodão, de modo a reduzir, de forma substantiva, o seu preço no mercado mundial. As primeiras máquinas eram pouco dispendiosas, a fim de incentivar a indústria doméstica, mas, com o passar do tempo e o surgimento do tear mecânico, os tecelões manuais tiveram que trabalhar nas fábricas. A competição com os tecidos de algodão indianos (os mais perfeitos do mundo), bem como os de lã e de linho, levou a Inglaterra a iniciar uma etapa de modernização da produção, através da criação de novos sistemas e novas máquinas. Entre estas, a máquina a vapor, que desenvolveu, sobremaneira, as 19 indústrias de mineração e de transportes ferroviários e marítimos. Portanto, a combinação das invenções, no campo da indústria têxtil, assim como a máquina a vapor (já imaginada e desenhada por Leonardo da Vinci, no século XVI) foram responsáveis pelo aumento da produção e a diminuição de seu custo, tendo promovido a Revolução Industrial, no período de 1770 a 1870. Todas as inovações da época, bem como o consequente incremento, no comércio mundial, deram à Inglaterra uma extraordinária vantagem: os tecidos produzidos eram leves, baratos, de qualidade, e podiam ser comprados por milhões de pessoas. Em meados do século XIX, o cultivo do algodão já representava uma das atividades tradicionais, concentrando-se a produção nacional no Nordeste do Brasil, e em algumas áreas da Região Norte, onde a planta é nativa. Devido à sua condição de semiaridez e resistência às secas, o algodão se tornou a principal opção fitotécnica para a população nordestina. A partir do final da década de 1880, e na década de 1890, desenvolveu-se, no Estado de Pernambuco, particularmente, em fábricas pequenas e mal equipadas, a produção de óleo de caroço de algodão. No Estado de Alagoas, em 1888, passou a funcionar uma fábrica de óleo. E, em São Paulo, foi inaugurada uma grande fábrica, em 1892. Nos últimos anos do século XIX, somente cinco países - a antiga União Soviética, os Estados Unidos, a Índia, a China e o Egito - produziam 98% do total da produção mundial de algodão. Alguns fatores contribuíram para que, naquele 20 século, a cotonicultura se expandisse no Nordeste do Brasil: 1. a abertura dos portos às nações amigas, em 1808; 2. o crescimento da população e, via de consequência, o aumento do consumo de tecidos; e, 3. a paralisação da produção norteamericana, em decorrência da Guerra de Secessão, que impediu os Estados Unidos de atenderem à demanda do mercado europeu. Na década de 1910, a Companhia Industrial de Algodão e Óleos (CIDAO), organizada com capital brasileiro, iniciou um extenso programa de investimentos para descaroçar algodão na Região Nordeste. O Programa recebeu uma ajuda considerável do Governo Federal e dos Governos Estaduais, que se interessaram nele. Sendo assim, foram instaladas nove usinas de descaroçamento, em diversos locais de Pernambuco, da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Ceará. Na cidade do Recife, construiu-se um complexo industrial que centralizou a produção e refinação de óleo; e, na Paraíba, Campina Grande tornou-se uma grande região produtora de algodão. A cotonicultura, explorada por pequenos e médios agricultores, passou a representar uma atividade de grande importância socioeconômica, tanto na oferta de matéria prima para a indústria têxtil e oleaginosa, quanto na geração de emprego e renda. Historicamente, era chamada de “ouro branco”, pela riqueza que gerava. O algodão nordestino, produzido em pequenas propriedades, é todo colhido à mão, o que proporciona, quando a operação é bem feita, a obtenção de um 21 produto de elevada qualidade. No país, de um modo geral, são plantadas duas espécies de algodão: uma perene, na Região Nordeste; e uma anual, no Sul e Centro-Oeste. Há vários tons de fibras de algodão colorido, que variam do creme ao marrom escuro, do verde oliva ao alaranjado. Vale registrar que já foram identificadas, com fibras coloridas, cerca de quarenta variedades de algodão silvestre. No passado, por apresentar uma fibra mais fraca e menos uniforme que a do algodão branco, o algodão colorido não podia ser usado pelas indústrias têxteis. Entretanto, trabalhos técnicos desenvolvidos pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária do Algodão - Embrapa Algodão - em Campina Grande, melhoraram, geneticamente, a qualidade das fibras, o que possibilitou o seu processamento industrial. O processo de melhoramento não transgênico desenvolveu variedades de algodão colorido, com ciclo produtivo de três anos e alto nível de resistência à seca. As roupas confeccionadas na Paraíba, ecológicas por não usar tintas, fazem jus ao direito do selo do Movimento Ambientalista Greenpeace. Desde 1989, a Embrapa Algodão, deu início a estudos e pesquisas, visando a obter variedades adaptáveis a novos espaços geográficos, e a aumentar a resistência, o comprimento, a uniformidade e a produtividade das fibras. Desse modo, mediante a geração e a transferência de tecnologias, a Empresa vem dando uma grande contribuição à cotonicultura. A cada ano, a Embrapa Algodão lança, pelo menos, duas novas formas de cultivo, e desenvolve novos 22 sistemas de produção e de manejo integrado de pragas e doenças. Desenvolvida no ano 2000, a primeira cultivar BRS 200 - constituída pela mistura de partes iguais de várias sementes, e com fibras de cor marrom - foi a primeira, plantada no país, a ser colorida geneticamente. Isto contribuiu para a geração de empregos, para artesãos nordestinos e pequenos agricultores familiares. O algodão colorido apresenta bastante utilização, no artesanato do Nordeste do Brasil, e em ornamentações, sob a forma de roupas, tapeçarias, colchas, lençóis, almofadas, redes, entre outros produtos. Algumas tonalidades de cores - a verde, em particular - são influenciadas pela luz solar e pelo tipo de solo onde é cultivado, ao passo que as cores creme e marrom são mais estáveis. Das espécies primitivas, a maior parte apresenta fibras coloridas na tonalidade marrom. Desde 1984, tais algodoeiros vêm sendo preservados no Banco de Germoplasma, em Patos, Estado da Paraíba. As peças confeccionadas com fibras coloridas naturais são consumidas, em especial, por pessoas alérgicas aos corantes sintéticos. O algodão, além das muitas utilidades, é considerado, pelas autoridades ligadas à agricultura como um produto muito importante e moderno porque, em seu processo de cultivo e industrialização, são utilizadas tecnologias avançadas, que geram, não somente, o desenvolvimento do conhecimento, como, ainda, o aumento do valor agregado. 23 A cotonicultura permite o cultivo intercalado do milho e do feijão, preservando as lavouras de subsistência. O pequeno agricultor colhe o feijão com sessenta dias de plantio e, o milho, com noventa dias; garantindo sua alimentação. Dessa forma, espera a colheita do algodão, que representa “dinheiro vivo”, ou seja, um produto cuja comercialização é segura, garantindo-lhe uma fonte de renda para suprir suas necessidades básicas. Além da fibra, são gerados vários subprodutos do algodão, a exemplo dos óleos comestíveis e das margarinas (extraídos das sementes e produzidas pela indústria alimentícia); da estearina e da glicerina (utilizadas pela indústria farmacêutica); e dos sabões (a partir da borra, resultante da refinação do óleo comestível). O piolho do algodão - separado pelas máquinas de descaroçar - é utilizado pela indústria de móveis estofados; e o línter é usado nas indústrias de celulose, algodão hidrófilo, filtros, filmes, explosivos, entre outros produtos. O lixo advindo da varrição das usinas tem valor comercial, também, no tocante à fertilização do solo. Os ramos e as folhas do algodão, muito ricos em proteínas e de elevado valor biológico, ainda alimentam o gado. Ademais, da extração industrial do óleo, resulta uma torta que é usada em alimentação animal (uma das rações mais ricas em proteínas); um farelo que é utilizado como adubo nitrogenado; a casca, que é usada como combustível e, finalmente, como último subproduto da combustão, uma cinza, com elevado teor de potássio. 24 Na década de 1980, instaurou-se uma grave crise na cotonicultura brasileira, decorrente da propagação do bicudo (anthonomus grandis boheman), uma praga que reduziu a produção, drasticamente, provocando o êxodo maciço de trabalhadores rurais para os grandes centros urbanos, o fechamento de mais de 1.200 indústrias têxteis, de pequeno e médio porte, e a redução de 500 mil empregos. O Nordeste passou, então, de grande produtor de algodão, com produção superior a 220.000 toneladas de pluma, por ano, para grande importador. O déficit comercial da cadeia têxtil chegou a US$ 1,1 bilhão em 1997. Em meados dos anos 1990, porém, a fronteira de produção do algodão brasileiro foi transferida para os cerrados, regiões de terras planas, que permitem a mecanização da lavoura, com forte concentração no Oeste da Bahia. No cerrado, o sucesso da cultura do algodoeiro tem sido impulsionado pelas condições do clima favorável, por programas de incentivo à cultura e, sobretudo, pelo uso intensivo de tecnologias modernas. É de se lamentar, contudo, que a comercialização do algodão, por parte dos pequenos agricultores, seja feita de maneira desorganizada, já que eles não têm condições de estocar o produto, de esperar para vender em momento mais oportuno; e, tampouco, têm acesso às informações importantes do mercado. O algodão em caroço é vendido para os intermediários (chamados também de atravessadores), que tiram o proveito das precárias condições de vida daqueles agricultores, e diminuem, bastante, a sua fonte de renda. Para estes últimos, o chamado “ouro branco” encontra-se longe: 25 quem o plantou, no passado, dele usufruirá, bem pouco, no futuro. 26 ARTESANATO NORDESTINO 27 O primeiro artesão foi Deus, que, depois de criar o mundo todo, pegou o barro e fez Adão (artesão anônimo da Paraíba) Pode-se dizer que a arte é uma das manifestações mais antigas do ser humano, tendo sua origem na era paleolítica (12.000 a.C.), quando o homem primitivo vivia em bandos nômades, dependendo da caça e da coleta de alimentos para sobreviver. O homem de Pequim e o de Neandertal, por exemplo, já sabiam pintar e fabricar instrumentos em pedra, osso e madeira. A prova disso, são as pinturas nas paredes das grutas e cavernas da França e da Espanha (Lascoux, Niaux, Altamira, entre outras), evidenciando figuras representativas da fauna daquela época (mamutes, bisões, cavalos e renas). No período neolítico (6.000 a.C.), o homem elaborou os primeiros objetos artesanais: aprendeu a polir a pedra, a fabricar peças de cerâmica, a tecer com fibras vegetais e pelos de animais, e a cozer os alimentos. No Brasil, pesquisas comprovaram, também, a presença de indústria lítica e a fabricação de cerâmicas, junto a etnias que viveram no sudeste do Piauí, durante aquele período. Por sua vez, a arte tem estado presente na vida dos povos primitivos, em toda as partes do mundo. Ela se materializa, ainda, em cada objeto produzido pelos índios: utensílios de barro, instrumentos musicais, adornos de plumas, cestos, pinturas, ou colares fabricados com dentes e/ou ossos de animais. Na Europa, só a partir do século XI, a produção artesanal ficou concentrada em oficinas, onde os 28 aprendizes auxiliavam o mestre artesão e, este último, representava o detentor de todo o conhecimento técnico. Do ponto de vista histórico, o artesão é considerado como responsável pelo processo de seleção da matéria prima a ser utilizada, pela concepção do produto, e pela transformação da matéria prima em alguma produção finalizada. No Brasil, durante o século XVI, com a chegada de artistas e artesãos portugueses, os produtos artesanais deixaram de ser, apenas, expressões de manifestações artísticas, e adquiriram status profissionalizantes. Pela primeira vez, em 1926, foi utilizada a expressão arte popular. O pesquisador japonês Soetsu Yanagi criou o termo mingei (min = povo; gei = arte), para designar os trabalhos elaborados por artistas populares desconhecidos, que tinham, em comum, a simplicidade e um estado de espírito desengajado da ideia de feiúra, ou de beleza. No presente, como artesanato, estudiosos designam qualquer objeto comercializável, fruto de um trabalho, predominantemente, manual, elaborado com a ajuda de ferramentas simples, ou de máquinas rudimentares, que se baseia em temática popular, e utiliza matéria prima local ou regional. Neste sentido, para que possa ser inserido na categoria artesanato, o objeto necessita, também: a) ser produzido na casa do próprio artesão, ou em alguma cooperativa de artesãos; b) englobar um número reduzido de peças; c) ser proveniente de concepção e execução individual, familiar ou grupal; e d) ter sido elaborado sob regime de não assalariamento. 29 O II Encontro Nacional do Artesanato definiu artesão como sendo aquela pessoa que: 1) produz objetos, manualmente; 2) não utiliza moldes repetitivos; 3) usa ferramentas simples, ou máquinas não automatizadas; 4) usa matéria prima regional; 5) transmite aspectos da cultura regional; e 6) exprime originalidade étnica e geográfica. Remanescente do processo pré-industrial de produção, a fabricação artesanal consiste em um sistema de produção que se situa entre a arte popular e a pequena indústria. Esse sistema está subordinado ao meio ambiente, ou seja, à abundância de determinada matéria prima local, e funciona como uma alternativa de emprego e renda, firmada na tradição. Assim, os indivíduos produzem determinados objetos, de certas formas, porque seus pais e avós os faziam. A característica de artesanal, então, não recai sobre o produto, mas, sobre o sistema específico através do qual o produto é elaborado, vinculando-se à necessidade que o ser humano possui de individualização, de não padronização, em um mundo que se apresenta cada vez mais massificado. E a confecção de objetos, por meio de técnicas primitivas, foi atrelada a uma temática relativamente nova: a do folclore. Por ser muito extenso e ter sofrido a influência de vários povos, o Brasil tem uma produção artesanal bastante diversificada, que varia, ainda, de região para região. Os nordestinos, particularmente, utilizam uma série de materiais oriundos da flora e da fauna nativas, 30 a exemplo de: palhas (de bananeira, de brejauva, de milho); juta; fibras do tronco do mandioqueiro; fibras de taboa; fios da folhas da piteira; cipós de bambu, cipós de taquara, cipós caboclo, cipós imbé, cipós uma, flechas de ubá; bambus; buchas; ceras de abelha-cachorro ou abelha- Europa; sementes de plantas nativas (tais como a lágrima de Nossa Senhora); vime (vara tenra e flexível do vimeiro); areias coloridas; tintas de cascas de árvores (urucum, safroa, anil do mato, aroeira, murici, imbiruçu); pedras; conchas; argila; gesso; cascas de coco; chifres; couros; tecidos; penas; linhas; madeiras (cedro, vinhático, jaqueira, aroeira, peroba, jequitibá e canela); ossos; dentes e pelos de animais; folhas de Flandres; cascas de tartarugas; e sucatas diversas (garrafas PET e suas tampas, latas de alumínio, embalagens Tetra Pak, lacres de latas de alumínio de bebidas, e outros). Cada material, ou grupo de materiais, dá origem a um tipo ou variedade de produto artesanal. Cabe salientar que a tradição barrista dos índios, juntamente com a incorporação das experiências trazidas pelos europeus e africanos, contribuíram para o desenvolvimento do artesanato de barro (argila). Neste, costuma-se empregar alguns elementos encontrados no meio ambiente: o massapé (de cor preta), o tauá (de cor amarela) e o caulim (de cor branca). Eles são passíveis de formar ligas maleáveis, e seguros para sofrer a ação da queima. 31 Os produtos artesanais variam, também, segundo a presença e/ou a abundância dos materiais presentes no meio ambiente. As tribos indígenas do Maranhão, em particular, elaboram objetos com palhas, madeiras e penas de pássaros. Nesse Estado, são elaborados, ainda: doces de frutas nativas, sucos diversos (de murici, bacuri, açaí e buriti), cerâmicas figurativas (no Vale do Parnaíba), cerâmicas utilitárias (em Apiaí), rendas de almofadas (em Guimarães, São Luís, Humberto de Campos e Praia do Raposo), cestarias (em Barreirinhas), tecelagens e redes de dormir (em Barreirinhas, Alcântara, Pinheiros e São Bento). A Região Nordeste produz os seguintes tipos de rendas: de bilros, labirinto, crochê, irlandesa, renascença e filé. E os bordados mais comuns são: ponto de cruz, rococó, richelieu, labirinto, ponto cheio e redendê. Seguindo uma tradição que remonta aos tempos coloniais, as noivas continuam encomendando rendas e peças bordadas para enxovais e, os padres, utilizam as rendas em seus paramentos. Nos municípios de Marechal Deodoro e Pontal da Barra, em Alagoas, as mulheres fazem bordados em linho branco. Já em Caldas de Cipó e Tucano, é possível se apreciar a confecção de rendas (de bilros, labirintos e filés), bem como a tecelagem ornamental. Em Palmeira dos Índios, Porto Real do Colégio, Água Branca e Igreja Nova fabricam-se peças de barro: potes e jarras pintadas com tauá vermelho e branco, e moringas, em formatos antropomórficos. Os municípios de Tanque d’Arca, Penedo e Passo de Camaragibe produzem muitas peças de cerâmica. 32 Os artefatos de pesca são fabricados, particularmente, em Coqueiro Seco, Marechal Deodoro, Santa Luzia do Norte e Paripureira. Dentre eles, estão vários tipos de redes de pesca, jererés e puçás, para a pesca de crustáceos e peixes pequenos. Igaci e Lagoa do Félix produzem alguns instrumentos musicais (como o bombo e a zabumba). Em teares bastante rudimentares, Delmiro Gouveia fabrica redes de algodão e, Girau do Ponciano, redes com caroá. Em São Sebastião, encontram-se rendas de bilros e, em Maceió, tecelagens em labirinto. A renda denominada filé é produzida em Pontal da Barra e Marechal Deodoro. Na Ilha do Ferro, situada a dezoito quilômetros do município de Pão de Açúcar, a atividade principal das mulheres é o bordado boa noite, o único no Brasil. Em Catolé do Rocha, na Paraíba, os artesãos produzem batique - uma pintura à base de tintas e cera de abelhas - além de uma variedade de redes e rendas. Com uma argila que já vem vitrificada por natureza, São Mamede fabrica uma cerâmica especial. O artesanato de barro, do tipo lúdico (pequenos objetos, bois, cavalos, elefantes, bonecos e mobiliários infantis), pode ser encontrado em Patos. Vários brinquedos de qualidade - confeccionados com madeiras, latas e/ou sobras de materiais - são fabricados em Itabaiana. Os municípios de Juarez Távora e Juripiranga produzem cestarias, trançados e tecelagens (crivos, labirintos e rendas). Os trançados podem ser apreciados, também, em Salgado e Serra Redonda. 33 No Estado do Piauí (nos municípios Pedro II, Simplício, Mendes, Parnaíba, Oeiras, Floriano e Teresina) estão localizados os grandes centros produtores de cerâmicas decorativas, produtores de moringas, potes, pratos e panelas. Em Campo Maior e Piracuruca, são confeccionados objetos com fibras de buriti, tucum, carnaúba e agave. Cestarias e trançados encontram-se em Parnaíba, o maior centro produtor. Pedro II é o centro mais expressivo de tecelagem artesanal. 34 Às margens do rio Parnaíba, encontra-se uma variedade de artesanatos feitos com palha de coco babaçu. Os troncos de carnaubeiras são trabalhados para servir de bancos, ou depósitos de mantimentos. Ainda são fabricadas esteiras de folhas de carnaúba e de babaçu que, em casas humildes, funcionam como divisórias entre os cômodos. Outros municípios do Piauí produzem objetos em madeira: gamelas, pilões, colheres de pau, santos e anjos. Teresina, Picos e Campo Maior fabricam malas, arreios, roupas de vaqueiro, e outros artigos em couro. No Estado, encontram-se, ainda, tecidos confeccionados com fibras vegetais, rendas labirinto, bordados, crochês, colchas, tapetes e toalhas. Em Sergipe, o município de Neópolis representa o grande centro produtor de cerâmica, mais conhecida como cerâmica de carrapicho, onde os objetos evidenciam seus fundos, pintados com tinta preta e frisos finos, com desenhos de espinhas de peixes, contornos de aves e asas de passarinhos. Itabaianinha fabrica cerâmica, além de trançados e cestarias (em palhas de coco); e, em Divina Pastora, as mulheres produzem renda irlandesa. Cascavel, no Ceará, é o maior centro produtor de cerâmica, mas, outros municípios do Estado, a exemplo de Juazeiro do Norte e Sobral, também fabricam objetos em barro, tais como imagens de Padre Cícero e bois (pintados com flores). Em Fortaleza, Cascavel, São Mamede, Maranguape, Quixeramobim, Camocim e Aracati são fabricados chapéus, rendas e bolsas. Caicó produz trabalhos em couro: cartucheiras, selas, chapéus 35 e chicotes, entre outros. Limoeiro, Russas, Ipu, Aracati, Itaiçaba e Jaguarana fabricam cestarias e trançados. Em Sobral, são elaborados chapéus com palha de carnaúba. Fortaleza, Araçoiaba, Pacajus e Capistrano produzem tecelagens diversas. Em Juazeiro do Norte, podem ser adquiridos artefatos em couro, em metal e em ourivesaria. O município de Itarema, no litoral cearense, cuja população é descendente dos índios Tremembé, é um dos poucos lugares do Nordeste que não vivenciou o impacto do turismo. Lá, em pequena escala, pode-se apreciar a produção de redes de fibras, feitas por teares verticais bastante rudimentares. Com trançados de cipós e palhas, os mestres artesãos, do Rio Grande do Norte, fabricam bolsas, vassouras, esteiras, abanos e cestas. Eles utilizam, também, areias coloridas para elaborar desenhos em vidros e garrafas. O município de Santo Antônio dos Barreiros produz cerâmica decorativa (galos policromados); Mossoró e Nísia Floresta fabricam rendas e cerâmica utilitária; Caicó produz artigos em couro; em Luzia, Ana Dantas e Currais Novos são esculpidas, em madeira, figuras de santos e de animais; e, com esse mesmo material, entre outros objetos, são fabricados bandas de pífano em Júlio Cassiano e Jardim do Seridó. O Estado da Bahia é grande produtor, também, de artesanatos em madeiras, palhas e prata. O município de Maragogipinho fabrica cerâmica (vitrificada em seu interior) com barro amarelo. Rendas de almofadas são confeccionadas em Castro Alves e Santa Terezinha; trabalhos em couro, em Ipirá; peças utilitárias (na forma 36 de miniaturas) em Nazaré das Farinhas; redes de pesca em Xique-Xique; colchas de algodão e de seda, e espanadores de sisal, em Caldas de Cipó e Tucano; Itiúba fabrica chapéus com fibras, vários objetos com palhas de uricuri e ariri, e bolsas de sisal. Na região do Médio São Francisco, são fabricados cestarias e trançados. Porto Seguro produz pilões, colheres de pau e, na Barra, são elaborados caminhões, jipes e carros de bois (em madeira de buriti) além de bonecas de pano. É importante lembrar que, no Mercado Modelo, em Salvador, são comercializados muitos produtos, tais como: talhas, estátuas, berimbaus, santos, terços, instrumentos de percussão, pilões, frutas decorativas, pratos, colheres de pau; e uma série de artefatos de metal - facas, sinetas, chocalhos, esporas, castiçais, campainhas, punhais e brasões. Pernambuco possui uma grande produção artesanal. Na Casa da Cultura (antiga Casa de Detenção do Recife) situada no Centro da Capital, e no Mercado da Ribeira, em Olinda, são colocados à venda parcela expressiva daquela produção. Viajando em direção às praias do litoral Norte, encontra-se a famosa tapeçaria Casa Caiada, famosa até no exterior do país, que é elaborada por mulheres artesãs. Como a arte de fazer rendas, essa representa, também, uma atividade feminina. Ainda na direção norte, encontra-se o município de Goiana, um centro produtor de cerâmica e, em especial, de esculturas sacras. Tais esculturas são fabricadas com mais de um metro e meio de altura, ou seja, em tamanho natural. 37 O município de Tracunhaém, na Zona da Mata do Estado, situado a cinquenta e oito quilômetros do Recife, é um dos maiores centros produtores de cerâmica. Ali, as casas funcionam como ateliers e os moradores vivem, textualmente, com “as mãos na massa”, moldando e esculpindo uma grande variedade de objetos. Ibimirim, no sertão do Moxotó, localizado a trezentos e oitenta quilômetros da Capital, produz imagens sacras com troncos de umburana; e em Passira - município situado a cento e nove quilômetros do Recife - são fabricados célebres bordados. Localizado no agreste pernambucano, Caruaru produz uma grande variedade de bonecos de barro, cuja fama e divulgação se deve ao Mestre Vitalino. No Alto do Moura, é possível se visitar a casa onde morou e trabalhou esse famoso artesão. A cidade produz, também, uma série de artefatos em cerâmica, palhas e madeiras. Todas as terças-feiras, na tradicional Feira de Caruaru (imortalizada na música do compositor e sanfoneiro Luiz Gonzaga), são colocados à venda os produtos artesanais, assim como objetos em zinco e couro - trajes típicos de vaqueiro, luvas, bolsas, cintos, sandálias, e bainhas para facas de todos os tamanhos, entre outros. Nos arredores do distrito de Fazenda Nova, em pleno Agreste, situado no município de Brejo da Madre Deus, pode-se apreciar o Parque das Esculturas: um conjunto de esculturas, em rocha granito, elaboradas por artesãos locais, que pesam entre dez e vinte toneladas, cada uma delas. A xilogravura foi, possivelmente, introduzida por missionários portugueses, que ensinaram aos índios 38 essa técnica. As gravuras em madeira têm sido muito utilizadas nas capas dos folhetos de literatura de cordel, desde o século XIX, bem como em rótulos de garrafas de cachaça e outros produtos. O município de Bezerros, próximo a Caruaru, destaca-se pelas xilogravuras dos irmãos Jota Borges e Amaro Francisco (este, já falecido), e de Severino Borges, entre outros. Cabe explicar o processo de elaboração da xilogravura. A gravura é entalhada em uma madeira, mediante o uso de um canivete ou uma faca bem amolados; em seguida, é aplicada uma tinta de impressão sobre o molde e, por fim, o desenho é impresso sobre um tecido ou cartolina. Às margens da 39 BR-232 e abertos à visitação pública, estão situados o Centro de Artesanato e o Memorial Jota Borges, que funcionam como centros de referência dessa arte tão popular no Estado. Pesqueira fabrica belíssimas peças com renda renascença (blusas, vestidos, toalhas e centros de mesa, colchas de cama, panos de bandeja, entre outros), diversos tipos de bordados e doces deliciosos (de goiaba e de banana). Timbaúba e Taracatu produzem redes. Na Ilha de Itamaracá, situada no litoral Norte do Estado, é produzido um excelente artesanato com chifres de boi anéis, barcos, figas, animais, pássaros, navios, peixes, e outros -, bem como cestarias e trançados com fibras e palhas, e objetos em pedras e conchas. O trabalho artesanal, no Nordeste, é uma atividade de intensa ocupação de mão de obra. A cadeia de atravessadores, porém, que se estende do produtor até o cliente, contribui para diluir, também, o pequeno lucro do artesão. Neste sentido, o criador de “riquezas culturais” é o menos rico, aquele que menos usufrui da renda advinda de sua produção. Para tal situação se reverter, e a produção artesanal beneficiar mais os artesãos, ela necessita se transformar em uma atividade de mercado e deixar de ser, apenas, a precária atividade de subsistência que, hoje, é. 40 BABAÇU O denominado babaçu verdadeiro (Orbignya phalerata Martius) é uma das mais importantes palmeiras oleaginosas do extrativismo vegetal brasileiro, e uma das mais adaptadas às condições ecológicas da Amazônia Oriental e de alguns Estados do Norte e Nordeste do Brasil - particularmente, Maranhão, Piauí, Tocantins e Pará. Nessas terras, encontram-se, também, outras espécies de babaçu - a piaçava alta (Orbignya Teixerana Bondar), e a piaçava baixa (Orbignya eichleri Drude) - que possuem utilidade idêntica ao chamado babaçu verdadeiro. Essas palmeiras se desenvolvem, melhor, em terras de várzeas, pequenas colinas e elevações, e espaços próximos aos vales dos rios. Os indígenas atribuíram alguns nomes específicos, ao babaçu, tais como: aguaçu, uauçu, coco-demacaco e coco-pindoba. Segundo Cascudo (1954), o frei capuchinho francês Claude D’Abbeville, no início do século XVII, já ressaltava a importância, dos frutos daquela palmeira, na alimentação dos índios nordestinos, que os chamavam de uauaçu (em língua tupi). O frei ficou tão encantado com a beleza e a diversidade da flora maranhense que, em sua obra - História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão - comparou os baba41 çuais com o próprio paraíso terrestre. De maneira geral, os primeiros visitantes europeus ficaram maravilhados com a exuberante flora nativa do país e, em notas de viagens, cartas, relatos e iconografias, registraram seu fascínio. O babaçu representa o principal produto do extrativismo vegetal do Maranhão. No Estado, uma quarta parte do território encontra-se coberta por babaçuais. Cada palmeira pode produzir, até, seis cachos de cocos, por safra, sendo responsável por 80% da produção nacional de amêndoas. O babaçu fornece cerca de setenta subprodutos e, dele, tudo se aproveita. Suas folhas arqueadas chegam a medir oito metros de comprimento e, nas zonas rurais, são utilizadas como telhado das casas. Com a palha seca trançada e a casca do coco são produzidos diversos objetos artesanais, decorativos e utilitários: cestas, esteiras, chapéus, peneiras, brincos, pulseiras, colares, prendedores de cabelo, janelas, portas, bandejas, gaiolas, armadilhas, abanos, bolsas, toalhas, caminhos de mesa, jogos americanos, sandálias, bonés, porta canetas, embalagens. Estes produtos são comercializados em feiras, mercados e lojas de artesanatos e, ainda, exportados, representando uma valiosa fonte de renda para a população. Cabe registrar o importante apoio do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), desde 1999, em relação aos projetos de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável (DLIS), que incentiva os pequenos negócios artesanais para a geração de renda, junto às Associações de Mulheres, além de 42 atividades de extração e beneficiamento das amêndoas de babaçu, para a obtenção de óleo. O mesocarpo da palmeira é usado em mingaus de crianças e, o caule, aproveitado na estrutura de construções e marcenaria rústica. A casca da amêndoa pode se transformar em um eficiente carvão para uso doméstico e, quando é queimada, produz uma fumaça que atua como um eficaz repelente de insetos. Ainda da casca, outros produtos são gerados para aplicação industrial, tais como metanol, coque, carvão reativado, gases combustíveis e alcatrão. Durante os longos períodos de seca, na ausência de outra fonte de alimentação, os animais comem as cascas das amêndoas. Se a palmeira do babaçu for jovem, é possível se extrair um palmito de boa qualidade. As amêndoas verdes, segundo pesquisas do Instituto de Recursos Naturais do Maranhão, quando recém extraídas, raladas, espremidas com um pouco de água, e coadas através de um pano fino, fornecem um leite com propriedades nutritivas semelhantes às do leite humano, que é utilizado na culinária local. Em substituição ao leite de coco, esse leite é usado para molhar o cuscuz - seja ele de milho, de arroz, ou seja de farinha de mandioca - no tempero de peixes, carnes de caça e bolos, ou bebido in natura, como alternativa ao leite de vaca. Quando está madura, a parte externa do fruto é comestível. Do pedúnculo do cacho cortado, os índios extraem um líquido que, fermentado, se transforma em uma apreciada bebida alcoólica. 43 As amêndoas do babaçu representam duas terças partes do total de seu peso e, assim como as do dendê e do buriti, possuem um elevado teor de matérias graxas. Neste sentido, seu principal destino são as indústrias de esmagamento. O óleo é obtido através de extração mecânica a quente, ou usandose solventes. Este último processo, porém, embora se apresente mais eficiente, é mais dispendioso. O óleo comestível possui odor e sabor suaves, e uma cor que varia da branca à amarelada, em função da temperatura usada em sua extração. Com ele, fabricam-se margarina e ração animal. Há um grande interesse, por parte das indústrias, em conhecer o comportamento reológico dos alimentos. Uma vez que o azeite do coco do babaçu pode competir com outros óleos combustíveis, tornou-se relevante estudar a sua viscosidade, porque ela está relacionada, diretamente, com a qualidade dos produtos. (CASTRO; BRAGA, et alii, 2002). Dentre os óleos vegetais, de uso industrial, o de babaçu apresenta o índice mais elevado de saponificação, e o mais baixo teor de iodo e refração. Tais fatores são importantes para alimentar o mercado de óleos láuricos (produtos de higiene, limpeza e cosméticos). A Gessy Lever, a Nestlé, e a Braswey estão entre as maiores empresas consumidoras de óleos e gorduras láuricas. O óleo de babaçu também representa um ingrediente relevante, no preparo de pomadas cremosas e sabonetes naturais, que funcionam como excelentes hidratantes, e cuja embalagem é trançada com a própria fibra da palmeira. Além disso, a Medicina 44 Natural utiliza esse óleo como antiinflamatório, em massagens nas partes doloridas do corpo. Com ele são fabricados, inclusive, lubrificantes, combustível e glicerina. Milhares de mulheres, auxiliadas por crianças, trabalham nos babaçuais do Maranhão, do Piauí, de Tocantins e do Pará. Nas comunidades que vivem do extrativismo, costumam-se dizer: se alguma mulher ainda não foi “quebradeira” de coco, um dia virá a sê-lo. Essa atividade é feminina, por tradição, e executada de modo artesanal. As mulheres sustentam um machado, preso sob uma das pernas, com a parte cortante voltada para cima, onde apóiam o coco, batendo nele com um pedaço de madeira, até parti-lo. Feito isso, retiram a amêndoa e colocam-na em um cesto de palha de babaçu (caçuá). Neste procedimento rudimentar, algumas amêndoas saem machucadas, e podem fermentar e se deteriorar durante as longas viagens até as indústrias, representando um prejuízo econômico para quem vive da extração. De acordo com estimativas, há cerca de 400 mil pessoas, quase todas mulheres, que sobrevivem do extrativismo, da industrialização do óleo, e de outros produtos do babaçu. Uma pesquisa realizada no norte de Tocantins salientou que “1 quilo de amêndoa é comprado por um preço entre R$ 0,50 e R$ 0,60, enquanto 1 litro de óleo de babaçu (que é obtido com 2 quilos de amêndoas) chega a ser vendido por R$ 5,00. Uma quebradeira de coco extrai, em média, 5 quilos de amêndoas por dia” (CAMPOS, 2006). E, de cem quilos de cocos 45 quebrados, são extraídos, no máximo, oito a dez quilos de amêndoas. No Maranhão, o auge da economia babaçueira teve lugar entre as décadas de 1960 e 1980, período em que funcionavam, no Estado, cinquenta e duas empresas de médio e grande porte, produzindo óleo bruto e óleo refinado para abastecer as indústrias alimentícias e de higiene e limpeza, seja no mercado nacional, ou seja no internacional. Entretanto, com o avanço da produção de soja, e com os preços competitivos do óleo do sudeste asiático, que concorrem com os preços brasileiros, muitas indústrias faliram. Grande parte das dificuldades das quebradeiras de coco tem suas raízes no processo agrário, que o Maranhão viveu a partir de 1969, quando foi aprovada a Lei de Terras. Esta Lei impulsionou a formação de grandes propriedades, e a apropriação privada de extensas áreas públicas. A atividade extrativista foi proibida, as cercas proliferaram, e as florestas foram substituídas por pastagens e plantações. Em 1997, porém, aprovou-se a Lei do Babaçu Livre, visando a assegurar aos extrativistas o acesso às palmeiras, mesmo quando elas se encontrassem em propriedades privadas. E impôs restrições à derrubada, ou à queimada, de babaçuais. Por outro lado, em 2003, um Projeto de Lei estendeu a Lei do Babaçu Livre a todos os babaçuais do país, colocando, na agenda política nacional, o debate sobre o assunto (CAMPOS, 2006). No Maranhão, no Pará, em Tocantins e no Piauí, duas entidades vêm atuando junto à população feminina - a Associação de Mulheres Trabalhadoras 46 Rurais (AMTR), e o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), de caráter regional e interregional, respectivamente, para garantir os direitos e, em especial, para assegurar o livre acesso aos babaçuais. É importante registrar que, a despeito de todos os esforços, a Lei do Babaçu Livre jamais garantiu a integridade física das quebradeiras de coco. Em nome da geração de áreas de pasto, para a pecuária, os babaçuais têm sido alvos de grandes devastações. Sendo assim, o deputado Domingos Dutra (PT/MA) - filho de uma quebradeira de coco do Maranhão – elaborou o Projeto de Lei 231/2007, que foi aprovado, por unanimidade, pela Comissão de Meio Ambiente da Câmara, e que proíbe a derrubada de palmeiras de babaçu nos Estados do Maranhão, do Piauí, de Tocantins, do Pará, de Goiás e de Mato Grosso. As únicas exceções, apenas, dizem respeito àquelas áreas destinadas a determinadas obras, aos serviços de utilidade pública, ou ao interesse social. A competência para a execução e a fiscalização da Lei ficou a cargo do Ministério do Meio Ambiente. Esperase, neste sentido, que esse Órgão consiga cumprir as determinações do Código Florestal Brasileiro. A exploração do babaçu contribui para a absorção de mão de obra e a fixação da população no campo, ao passo que o desmatamento indiscriminado acarreta em expulsão e empobrecimento das pessoas que ocupam aquelas áreas. Apesar das grandes queimadas, percebese que o babaçu é bastante resistente, e se regenera com rapidez. Isto é possibilitado pelo surgimento de pindovas, as mudas da palmeira que parecem ser 47 imunes, também, aos predadores de sementes. Calculase que os babaçuais ocupem 18 milhões de hectares, principalmente, no Maranhão. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), depois da madeira, o principal produto florestal brasileiro foi o coco do babaçu, que representou 19,4% da produção extrativista no ano 2005. Alguns Estados brasileiros desenvolvem estudos, com várias plantas, voltados para a produção energética. Combustíveis alternativos ao óleo diesel, e menos poluentes, são pesquisados, também, objetivando a melhor conservação do meio ambiente e a diminuição do efeito estufa. É possível se produzir biodiesel a partir do babaçu. No entanto, as quebradeiras de coco temem ficar prejudicadas com as mudanças que surgiriam, com a implementação de uma produção mecanizada em escala industrial. No Maranhão, em particular, professores e membros do Grupo de Combustível Alternativo (GCA) trabalham para formar parcerias com Instituições de Governos e Organizações Não Governamentais (ONGs), visando à implementar o biodiesel a partir do óleo de babaçu. O Programa Biodiesel desenvolve seus projetos tomando as plantas oleaginosas, de cada Estado, como ponto de partida. No Pará, por exemplo, é o dendê; no Piauí, no Ceará e no Rio Grande do Norte, a mamona; e, no Sul e no Sudeste, a soja. A partir de 2008, os carros da Fórmula 1 deverão utilizar 5,75% de combustíveis renováveis, já que os ônibus e os carros vêm utilizando etanol e biodiesel há 48 alguns anos. A título de experimentação, a companhia aérea Virgin Atlantic, de propriedade de Richard Branson, divulgou ter abastecido um dos quatro motores de seu Boeing 747 com uma mistura de combustível normal (o querosene de aviação) e 20% de óleo de babaçu. Isto foi feito em um dos motores, somente, a título de experimentação, e em um vôo sem passageiros, para garantir que, se aquele motor viesse a falhar, os outros compensariam a perda de potência, evitando-se, assim, a queda da aeronave. Sem apresentar problemas, o Boeing saiu de Londres, na Inglaterra, e pousou em Amsterdã, capital da Holanda. O óleo de babaçu ainda não foi utilizado, sozinho, em todos os motores, porque os cientistas estão pesquisando uma maneira de ele não congelar em grandes altitudes. (O BOEING..., 2008) Os babaçuais estão localizados nas áreas onde predominam as maiores desigualdades socioeconômicas do Brasil. A despeito desse fato, as mulheres quebradeiras de coco consideram aquelas palmeiras uma verdadeira mina de ouro vegetal. Paradoxalmente, ou não, sem as palmeiras, elas iriam viver em uma situação ainda pior. 49 50 BAOBÁ 51 O baobá é uma árvore de grande porte, proveniente das estepes africanas e regiões semiáridas de Madagascar, e está presente, também, no continente australiano. Essa árvore foi amplamente divulgada no século XX, através da obra O Pequeno Príncipe, do escritor francês Antoine de Saint-Exupery. Seu personagem principal se preocupava com o crescimento excessivo do baobá, temendo que ele tomasse todo o espaço existente em seu asteroide. O baobá possui um tronco muito espesso, na base, chegando a atingir nove metros de diâmetro. Seu tronco é peculiar: vai se estreitando em forma de cone, evidenciando grandes protuberâncias. As folhas brotam entre os meses de julho e janeiro, mas, se a árvore conseguir ficar umedecida, elas podem se manter firmes durante todo o ano. Em geral, o baobá floresce durante uma única noite, apenas, e isto ocorre no período de maio a agosto. Durante as poucas horas em que as flores permanecem abertas, os consumidores de néctares noturnos - particularmente, os morcegos -, asseguram a polinização da planta. Tal colosso vegetal pode atingir trinta metros de altura e possui a capacidade de armazenar, em seu caule gigante, até 120.000 litros de água. Por essa razão é denominada “árvore garrafa”. No Senegal, o baobá é sagrado, sendo utilizado como fonte de inspiração para lendas, ritos e poesias. De acordo com uma antiga lenda africana, se um morto for sepultado dentro de um baobá, sua alma irá viver enquanto a planta existir. E o baobá possui uma vida muito longa: vive de um mil a 52 seis mil anos. Em se tratando das espécies vegetais, somente a sequoia - uma conífera de grande porte, originária da Califórnia (EUA), que chega a medir doze metros de diâmetro, alcançar uma altura de cento e cinquenta metros, e viver mais de quatro mil anos -, e o cedro japonês - outra conífera do gênero - podem competir com a longevidade do baobá. Aquela árvore mítica e solitária, da savana africana, faz parte da família das bombacáceas (palavra derivada de bomba, uma linguagem falada e oficializada na Guiné Equatorial). O seu nome, contudo, muda de acordo com a língua de cada país. Em Angola e Moçambique, é chamada imbondeiro; e, na GuinéBissau, é denominada pólon. Em 1444, conduzidos por Gomes Piers, os navegantes portugueses chegaram à ilha africana de Gorée (pertencente, hoje, ao Senegal), e permaneceram no local até 1595, período em que a ilha se tornou propriedade dos holandeses. Os navegantes registraram que, lá, se podia apreciar, ainda, o brasão de Dom Henrique, gravado em árvores. Por sua vez, na metade do século XV, o cronista Gomes de Eanes Zurara, na obra Chronica dos Feitos de Guiné (Lisboa, 1453), assim descreveu as árvores encontradas: Árvores muito grandes e de aparência estranha; entre elas, algumas tinham desenvolvido um cinturão de 108 palmos a seu pé (ao redor 25 metros). O tronco de um baobá não mais alto do que o tronco de uma árvore de noz; rende uma fibra forte usada para cordas e pano; queima 53 da mesma maneira como linho. Tem um grande fruta lenhosa como abóbora cujas sementes são do tamanho de avelãs; pessoas locais comem a fruta quando verde, secam as sementes e armazenam uma grande quantidade delas . Antes do Descobrimento, o baobá não pertencia à flora brasileira. A hipótese mais plausível, visando explicar a sua existência em Pernambuco, é a de que tenha sido trazido, no século XVII, pelo conde Maurício de Nassau, durante a ocupação holandesa, para fazer parte de seu jardim botânico privado (que foi construído próximo à atual Praça da República). Uma segunda versão, porém, credita a presença do baobá às aves migratórias, que teriam trazido consigo suas sementes. O pesquisador Câmara Cascudo considerou uma terceira possibilidade: a de que os sacerdotes africanos trouxeram as sementes do baobá, da África, e plantaram-nas em locais específicos, no Brasil, para o culto de suas religiões. Vale lembrar, a esse respeito, que os praticantes do candomblé consideram o baobá uma árvore sagrada, e dizem que não se deve cortá-la ou arrancá-la. Em 1749, o pesquisador francês Michel Adanson, voltando da viagem para São-Louis, no Senegal, elaborou desenhos e descreveu o seguinte, em seus registros: Chamou-me à atenção uma árvore cujo tamanho era incrível. Era uma árvore que tinha frutos com formatos de abóboras, de nome “pão de macaco” no qual os Wolots diziam ”goui” no idioma deles. 54 Provavelmente a árvore mais útil em toda a África... a árvore universal para os nativos. A partir de então, os pesquisadores Bernard de Jussieu e Charles de Linné creditaram, para Michel Adanson, o nome científico do baobá, chamando-o Adansona digitata. E, na França, desde 1791, a Enciclopédia de Diderot e d’Alembert adotou a denominação. Até o presente, já foram classificadas oito espécies de baobás, porém, a maior parte deles, se encontra em Madagascar. Os baobás classificados foram os seguintes: · Adansonia digitata - (na África Central e no Sul da África); · Adansonia grandidieri - (em Madagascar); · Adansonia gregorii (ou Adansonia gibbosa) (no Nordeste da Austrália); · Adansonia madagascariensis - (em Madagascar); · Adansonia perrieri - (em Madagascar); · Adansonia rubrostipa (ou Adansonia fony) - (em Madagascar); · Adansonia suarezensis - (em Madagascar); e · Adansonia za - (em Madagascar). Datado de 1853, existe outro registro, em continente africano, sobre a presença do baobá. Sobre a legendária árvore, observando-a na região de Mbour, o padre David Boilat escreveu: ... as árvores são surpreendentemente grandes e muito numerosas: Eu medi algumas e o cinturão era de 60 a 90 pés (20 a 30 metros). Não só 55 é esta árvore útil para os nativos, também é essencial, eles não sobreviveriam sem ela. Com suas folhas secadas, eles fazem um pouco de pó que eles chamam de lalo o qual eles misturam o “kouskous”. Eles usam as raízes como um purgante; eles bebem chá quente que curam doenças torácicas. A fruta chamada “o pão de macaco” é usada para coalhar leite e também é servida com a comida que eles chamam de “lack” ou “sangle” (...). Esta árvore às vezes é escavada para formar casas... O padre declarou, ainda, ter conhecido um baobá, na África, cujo tronco era realmente enorme, atingindo vinte e seis metros de diâmetro. Nele, havia dois quartos, que eram usados por uma família como casa e loja. Cabe observar que, em Kimberleys, uma área da Austrália Ocidental, há registros de prisioneiros encarcerados dentro de troncos de baobás. Todos os elementos dessa árvore são úteis para a sobrevivência do ser humano, e representam, também, uma fonte preciosa de medicamentos. O pó originado de suas folhas secas, trituradas, tem sido usado para combater a anemia, o raquitismo, a diarreia, o reumatismo e a asma. As folhas são utilizadas, ainda, como alimentos. Por serem ricas em cálcio, ferro, proteínas e lipídios, elas são quebradas e misturadas em sopas, ou adicionadas a cereais, para enriquecer a alimentação de crianças. O pó, inclusive, misturado com água, transforma-se em uma bebida parecida com o leite de coco. As raízes das mudas de baobás, quando são devidamente cozidas, tornam-se similares 56 ao aspargo. As sementes, repletas de óleo vegetal, são assadas e consumidas. A polpa branca e as fibras de seus frutos contêm um alto teor de vitamina C, servindo para combater a febre, a malária, o sarampo e a catapora, além de inflamações no tubo digestivo. Os aborígenes costumam comer as frutas dos baobás e usam suas folhas como plantas medicinais. No que diz respeito à construção civil e à carpintaria, o baobá é utilizado, somente, quando não há outro material disponível. Contudo, em certas regiões, as pessoas escavam o seu tronco e utilizam-no como cisterna comunitária. A madeira do baobá serve para fabricar instrumentos musicais e, o seu cerne, rende uma fibra tão forte, que é usada na fabricação de cordas e linhas. E as conchas dos seus frutos são aproveitadas como tigelas. Na Capital de Pernambuco, os raros baobás que resistiram ao desmatamento e à depredação ambientais, foram tombados pela Prefeitura da Cidade e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), em 1986. No Recife, essas árvores podem ser apreciadas, entre outros lugares, na Praça da República (em frente ao Palácio do Governo); na Praça da SUDENE (no bairro do Engenho do Meio); na rua Coronel Urbano Ribeiro Sena (no bairro do Fundão); na rua Madre Loiola (em Ponte d’Uchôa); e no Poço da Panela (nos terrenos limítrofes de duas casas que se situam, respectivamente, nas ruas Professor Edgar Altino e Bandeira de Melo). Fora da Região Metropolitana do Recife, são 57 poucos os baobás que escaparam da destruição. Contados nos dedos, eles podem ser observados no Engenho Poço Comprido (em Vicência); na área do Complexo Portuário de Suape (no município do Cabo); na Usina Ariepibu (em Ribeirão); no Sítio Capivarinha (em Sanharó); na Fazenda Pitombeiras (em Serra Talhada); no município de Tacaratu; na praia de Porto de Galinhas, e na Vila de Nossa Senhora do Ó (ambos no município de Ipojuca). Nessa Vila, existe um baobá com quinze metros de diâmetro e mais de trezentos e cinquenta anos de existência. Precisa-se plantar mais baobás no Brasil! 58 BOI VOADOR No século XVI, o Nordeste brasileiro passou a fazer parte das rotas do comércio internacional, devido ao fato de ser um grande produtor de Pau-Brasil e de açúcar, mercadorias altamente valorizadas na época. Sendo assim, os navegadores holandeses começaram a navegar, também, pelas costas brasileiras, como atores importantes daquele comércio. Já no século XVII, dois centros urbanos, em particular, atraíam a atenção: Salvador, na Bahia, e Olinda, em Pernambuco. A primeira tentativa da Holanda, para conquistar as novas terras, contou com a participação de Piet Hein, e consistiu na ocupação da Bahia, por um ano, em 1624. A seguir, o mesmo holandês voltou a atacar Salvador, mas, se limitou a apreender vários navios carregados com os produtos daqui. Em 1630, a conquista de Olinda resultou em uma posterior e mais bem organizada campanha. A cidade representava a Capital da florescente Capitania de Pernambuco, uma região rica em Pau-Brasil, e o principal centro produtor de açúcar do mundo, além de ser o maior centro comercial, religioso e artístico do Nordeste do Brasil. Cabe registrar que a madeira do Pau-Brasil, até hoje, é utilizada na fabricação de arcos para violinos, com o nome Pernambuco. 59 Até 1637, em toda a região, as escaramuças e atividades de guerrilha conseguiram impedir os movimentos dos holandeses. Nesse ano, porém, algo muito importante aconteceu: a Companhia das Índias Ocidentais (CIO) designou o conde João Maurício de Nassau-Siegen (1604 - 1679), um homem possuidor de grande capacidade militar e visão empreendedora, como Governador dos seguintes territórios conquistados: Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Maranhão, Sergipe, além de Angola, na África, de onde saíam os escravos para trabalhar nas plantações de cana-deaçúcar. Dessa forma, o Brasil viveria, quase três décadas (1630-1654), um período de dominação, por parte da Companhia das Índias Ocidentais (CIO). Tal experiência deixou marcas duradouras no país, em particular, no Nordeste, tendo-se constituído em seu melhor momento - o período do conde Maurício de Nassau, denominado Maurits de Braziliaan - e em uma das experiências mais bem sucedidas da atuação europeia. Os sete anos do Governo de Nassau (16371644) deixaram a memória de uma época de ouro, até hoje reconhecida no Brasil. Nassau estabeleceu uma trégua com a guerrilha dos lusobrasileiros, e criou uma civilização inédita nos trópicos. Contrapondose aos interesses, exclusivamente, mercantilistas da CIO, o conde holandês preocupou-se em manter uma convivência pacífica com os habitantes locais inclusive e sobretudo, com os senhores de engenho – e estabeleceu uma liberdade religiosa nunca antes 60 vivenciada, na qual os papistas, os calvinistas e os judeus conviviam e produziam em plena harmonia. Foi, sem dúvida alguma, o maior contraste em relação à intolerância religiosa da Inquisição, por parte da Igreja Católica, e dos calvinistas. A Igreja Católica, acusando de traição, heresia, bruxaria e impureza de sangue, torturava, perseguia e queimava todos os judeus não convertidos ao catolicismo, ou suspeitos de seguirem a religião mosaica. E os calvinistas, sob a alegação de que lá havia um excesso de igrejas católicas, incendiaram a bela e próspera vila de Olinda, em 1631. Foi no Recife de Nassau que surgiu a primeira sinagoga das Américas, na antiga Rua dos Judeus, atual Rua do Bom Jesus. O templo, recentemente descoberto e restaurado, destinavase aos cultos dos judeus sefaraditas portugueses e espanhóis que, fugindo do Tribunal do Santo Ofício, vieram se estabelecer no Nordeste do País, bem longe da Península Ibérica. O período de Nassau testemunhou diversas experiências inéditas para o Novo Mundo. Mauritiopolis representou um projeto urbanístico, criado por Pieter Post, com base nos conhecimentos mais avançados da época. O conde trouxe para o Nordeste dois jovens pintores talentosos - Frans Post e Albert Eckhout - que deixaram o mais importante legado artístico do Período Colonial. Muitos quadros de Frans Post encontram-se expostos, hoje, na cidade do Recife, distribuídos entre o Instituto Ricardo Brennand (que abriga a maior parte do acervo), o Museu do Estado de Pernambuco, o Instituto 61 Arqueológico, Histórico e Geográfico e o Palácio do Governo de Pernambuco. Os dois artistas retrataram paisagens, tipos humanos, riquezas da fauna e da flora locais, engenhos de açúcar, monumentos e ruínas do incêndio de Olinda, e criaram uma obra sem precedentes: um mundo exótico e, até então, completamente desconhecido, que foi apresentado aos europeus. Foi na cidade Maurícia que surgiram, ainda, os primeiros jardim botânico e jardim zoológico das Américas. Lá, foram tomadas, inclusive, as primeiras medições sistemáticas de meteorologia, e realizadas as primeiras observações astronômicas, com telescópios europeus, em continente americano. Na cidade Maurícia reuniu-se o primeiro Parlamento e, no final do período holandês, foi, daquela cidade, que os judeus saíram do Recife, rumo à América do Norte, fundando a primeira Congregação Israelita de New York. Acima de tudo, Nassau foi um importante mecenas: ele trouxe, para o Nordeste brasileiro, um pequeno exército de cientistas, cartógrafos, artistas e administradores holandeses, que deram à Maurícia (Mauritstad ou Mauritiopolis, atual Recife) uma dimensão e um brilho jamais imaginados nas Américas. Ao se registrar as grandes realizações de Nassau, faz-se necessário lembrar a figura do boi voador: um espetáculo sem precedentes que marcou a história da cidade Maurícia. O espetáculo estava relacionado à inauguração de uma ponte do Recife, denominada hoje de ponte Maurício de Nassau, no dia 28 de fevereiro de 62 1644. O inteligente e astuto conde já estava de partida para a Holanda, e desejava, não apenas, que muitas pessoas homenageassem o evento, mas, queria que elas pagassem um determinado pedágio para passar pela ponte. Neste sentido, aproveitou a curiosidade geral, para ganhar dinheiro e recuperar parte dos gastos empregados naquela construção. A notícia de que faria um boi voar, durante a inauguração da ponte, mobilizou a população para o espetáculo inédito. Isto foi documentado e ficou inserido na memória coletiva das pessoas, graças ao registro do frei Manuel Calado, uma testemunha ocular que, sobre o fato, escreveu uma crônica. A ponte construída sobre o rio Capibaribe separava o Recife e a sede do Governo, da ilha de Antonio Vaz, local onde Nassau residia. Era uma obra grandiosa. Ela possuía uma parte levadiça, que permitia a passagem de grandes embarcações. E o boi, assegurava o Governador holandês, iria voar sobre ela. No entanto, ninguém conseguia imaginar de que maneira um animal pesado e terrestre, como um boi, poderia fazer tal proeza. Embora quisesse fazer parecer obra de mágica, Nassau fez uso de sua engenhosidade, apenas, e de seus conhecimentos básicos de ciência. Em primeiro lugar, escolheu o animal que participaria do espetáculo. Deveria ser um boi manso, que ficasse imóvel durante o dia da inauguração, e pudesse ser observado por todos os espectadores. Daí, escolheu o “boi de Melchior”, um animal de pelo amarelado, que era famoso na cidade 63 por subir escadas e entrar nas casas. Durante o dia, as pessoas observavam, na terra, o boi que voaria à noite. Maurício de Nassau providenciou, então, um grande pedaço de couro, do mesmo tamanho que o de um boi verdadeiro, mandou empalhar o couro e, em seguida, inflá-lo como se fosse um balão. Quase no final da tarde de um domingo, esse boi foi amarrado com cordas fininhas, e colocado sobre roldanas, entre as duas torres do Palácio Friburgo (a sede do Governo). Nada disso podia ser visualizado pelo grande público, que lotava as praias e os barcos no rio Capibaribe. Cabe salientar que, na hora prevista, o falso animal era controlado por alguns marinheiros. E eles faziam o boi dar muitas cambalhotas no ar, para o delírio de todos. Foi um grande espetáculo, um verdadeiro sucesso! Além disso, os cofres da Coroa holandesa arrecadaram cerca de 20.800 florins. A estória do boi voador entrou para a História, atravessou os tempos, tornou-se, inclusive, tema de Escola de Samba e letra de uma música de Chico Buarque e Ruy Guerra. Boi voador não pode Quem foi, quem foi, Que falou no boi voador, Manda prender esse boi, Seja esse boi o que for. O boi ainda dá bode, Qual é a do boi que revoa, 64 Boi realmente não pode, Voar à toa! É fora, é fora, é fora, É fora da lei, é fora do ar, É fora, é fora, é fora, Segura esse boi, É proibido voar! 65 66 BOTO 67 Rodrigues Ferreira, em fevereiro de 1790, e Henry Walter Bates, um inglês que permaneceu onze anos pesquisando a flora e a fauna da região amazônica, descobriram e estudaram, cientificamente, o boto. Este cetáceo é um mamífero completamente aquático, como a baleia e o golfinho, que habita os rios do Norte do Brasil. Ele possui uma cabeça grande, um bico dentado, um corpo afilado e quase desprovido de pelos, grandes nadadeiras dianteiras (semelhantes às pás dos remos), duas mamas em posição posterior, uma cauda que finaliza em nadadeira larga e horizontal, e um sistema sonar sofisticado, localizado em uma saliência da cabeça, que emite ondas sonoras. Tais ondas o auxiliam a se orientar nas águas barrentas dos rios. O boto não possui membros posteriores e pode se apresentar em várias cores. Ao nascer, pesa cerca de sete quilos e, quando atinge à idade adulta, pode chegar a pesar, até, cento e sessenta quilos. Na Região Norte, existem várias lendas e superstições envolvendo o boto. Uma delas ressalta que ele é encantado: durante o dia, permanece nos rios, mas, ao anoitecer, transforma-se em um rapaz de pele branca, bonito, elegante, e educado como um cavalheiro. Ele sempre usa um chapéu branco (para esconder o orifício que tem no alto da cabeça, e que serve para respirar), gosta de beber, de frequentar festas e bailes, é um exímio dançarino, e tenta conquistar as moças bonitas, preferindo aquelas que se vestem com roupas vermelhas. Sem condições de resistir aos seus encantos, muitas jovens são levadas às margens dos igarapés e, 68 com o belo cavalheiro, têm relações sexuais. Quando o dia amanhece, porém, o seu encanto termina: ele perde a forma humana e retorna aos rios. De acordo com a lenda, esse processo ocorre, diariamente, e as jovens seduzidas engravidam, de imediato. Sendo assim, na Região Norte, atribui-se ao boto a culpa por defloramentos, adultérios, e nascimento de crianças cuja paternidade é desconhecida. As pessoas dizem logo: é filho do boto! Segundo outra lenda, à noite, o animal se transforma em uma linda moça de cabelos longos, que sai para passear e tenta encaminhar os rapazes até os rios. Caso um deles decida segui-la, não terá um destino promissor: com um grito de triunfo, ele agarrará a jovem enamorada, pela cintura, e a afundará nos rios. De acordo com as superstições correntes, moças virgens e/ou menstruadas não devem viajar de barco, ou de canoa, porque podem ser perseguidas pelo boto: arrebatadas por ele, são levadas para o fundo das águas e defloradas. Em caso de naufrágios, acreditase que o boto socorre, apenas, as moças, deixando os rapazes à mercê da própria sorte. Por sua vez, dizem que é proibido matar esse animal: quem o fizer, tornarse-á infeliz e vítima de um feitiço. Um aspecto interessante diz respeito à semelhança entre a genitália do boto e a dos seres humanos. É bem provável que, por tal razão, existam tantas lendas e superstições envolvendo esse animal e os seres humanos. A pele e os órgãos sexuais do cetáceo são considerados, pela população do Norte, 69 como amuletos que atraem o amor. À pele do boto, cortada em pedacinhos, são adicionados: breu branco, espinho de cuandu, espinho de curupira, catinga de mulata, mucura caã, alecrim e pimenta malagueta. A mistura é colocada para secar e, a seguir, entregue a um pajé (ou curador) que a “prepara” com algumas ervas aromáticas. Somente depois disso, o produto final é colocado à venda nos mercados públicos. O amuleto atrai a pessoa amada e dá, inclusive, boa sorte na caça e na pesca. Os nortistas elaboram, também, outro talismã com os órgãos sexuais do boto. No caso, estes são torrados, pulverizados, colocados em saquinhos de couro ou de pano, e vendidos como amuletos intransferíveis que, se forem manuseados por outra pessoa, perdem, totalmente, os seus poderes de atração. Muito valorizados, ainda, são os olhos do boto. Outra superstição diz respeito ao óleo do cetáceo, se for utilizado como combustível, em candeeiros: ficará cega a pessoa que o fizer. Vários poetas, pintores, compositores e músicos utilizaram o boto como objeto de inspiração. O paraense Valdemar Henrique, por exemplo, musicou uma poesia de Antônio Tavernard (poeta amazonense), e ela foi muito divulgada no país. Eis a letra da música: Tajapanema chorou no terreiro, Tajapanema chorou no terreiro, E a virgem morena fugiu pro costeiro. 70 Foi boto,sinhá, Foi boto,sinhô, Que veio tentar E a moça levou. Não tarda a dançar, Aquele doutor, Foi boto, sinhá, Foi boto, sinhô. Tajapanema chorou no terreiro, Tajapanema chorou no terreiro, Quem tem filha moça é bom vigiar. Foi boto,sinhá, Foi boto,sinhô, Que veio tentar E a moça levou. O boto não dorme, No fundo do rio, Seu dom é enorme, Quem quer que o viu, Que diga, que informe, Se lhe resistiu, O boto não dorme, No fundo do rio. Os botos são mansos e, às vezes, proporcionam um belo espetáculo coreográfico, quando acompanham 71 as embarcações, vindo à tona e mergulhando em seguida. No Sul do país, durante o inverno, eles são utilizados na pesca da tainha, quando os cardumes se deslocam em busca de águas calmas para desovar. Dentro das canoas, os pescadores batem na água, assustando as tainhas, que se espalham, nadando em busca de lugares mais rasos e calmos. E os botos, ao se mexerem no fundo dos rios, turvam mais, ainda, as águas e desorientam os peixes. Nesse momento, das embarcações, as redes e as tarrafas são lançadas, voltando repletas de tainhas. Alguns professores da Região Norte vêm utilizando as lendas e superstições como motes, junto aos alunos, para discorrer sobre a Educação Sexual. Entre outros assuntos, são repassadas informações sobre a gravidez precoce, as doenças sexualmente transmissíveis, as relações sexuais e a saúde sexual. O boto, portanto, uma das figuras mais relevantes da mitologia zoológica brasileira, viu-se transformado, pelo imaginário popular, no próprio dom Juan do Norte do Brasil, como portador de um incrível poder de sedução. 72 BUMBA-MEU-BOI 73 Cavalo-marinho Chega mais pra diante, Faz uma mesura Pra toda essa gente, Cavalo-marinho, Já pode chegar, Que a dona da casa Mandou te chamar. O bumba-meu-boi é uma das representações folclóricas mais importantes do Nordeste do Brasil. Uns afirmam que ele surgiu no Maranhão, nos últimos anos do século XVIII; e, outros, dizem que ele teve o seu início no final do século XVII, durante a colonização do Piauí. O auto de Natal, que deu origem ao pastoril, começou como um drama religioso, que representava o nascimento de Jesus Cristo, através de cantos e bailados especiais, em uma significativa e dinâmica evocação. Ao que parece, a primeira apresentação teatral da cena do nascimento de Jesus deve-se a São Francisco de Assis, na terceira década do século XIII, em Grecio. Era uma espécie de prelúdio dos Pastoris, Presépios e Lapinhas. A rigor, a Lapinha representa a cena estática da Natividade. Pastoril e Presépio, a forma dramática, teatral, dinâmica. Pastoril e Presépio foram os dois ramos em que, dramaticamente, desdobrou-se a representação da Natividade (Valente, 1979, p. 25). Tudo leva a crer, porém, que o bumba-meuboi originou-se durante o século XVI, por ocasião 74 do ciclo econômico do gado, ou seja, das atividades relacionadas à pecuária. Naquela época, por volta do ano 1534, Ana Pimentel, esposa do donatário Martim Afonso de Sousa, se encarregou de trazer as primeiras cabeças para a Capitania do seu marido. Na época, além de fornecer sustento alimentar, através da carne e do leite, o gado prestava um grande trabalho nos engenhos de açúcar. E a trilha do gado, nas fazendas e currais, deu início à formação de várias povoações que, hoje, representam importantes municípios nordestinos. O bumba-meu-boi pode ter se originado no Maranhão, através de simples brincadeiras dos escravos africanos, nos engenhos e fazendas. Muito embora seja possível perceber a influência europeia, essa manifestação folclórica possui estrutura, música e personagens, essencialmente, brasileiros. É considerado um auto, ou drama pastoril, relacionado à forma de teatro hierático das festas de Natal e Reis. O auto, no presente, guarda, ainda, os traços de sua antiga religiosidade. Segundo Borba Filho (1982), o espetáculo, que pode durar até oito horas, surgiu de uma aglutinação de reisados em torno do reisado principal que teria como motivo a vida e a morte do Boi. Tudo indica, portanto, que a expressão bumba-meu-boi nasceu do ‘estribilho’ cantado quando o boi, figura principal do auto, dança: ‘Eh! Bumba!’ com pancadas no zabumba, o que equivale a dizer: ‘Zabumba, meu boi’, isto é, ‘o zabumba está te acompanhando, boi’. 75 Apesar de não possuir origem africana, é um espetáculo em que há predominância de negros: eles se mostram conformados com sua inferioridade social, e transformam a dor que sentem em cenas hilariantes. A história do bumba-meu-boi é bem simples: um homem branco, proprietário de um boi, presencia quando um homem negro rouba-lhe o animal e, dele, retira a língua. O motivo do roubo se deve ao fato de a esposa do negro, por estar grávida, apresentar o desejo de comer língua de boi. Porém, ao ter sua língua retirada, o boi morre. E esse boi, em particular, era o predileto do proprietário. Vê-se armada, então, uma grande confusão, e um pajé é chamado para tentar ressuscitar o boi morto. Ao mesmo tempo, os integrantes do bumba-meu-boi cantam o seguinte verso popular: O meu boi morreu Que será de mim? Manda buscar outro Ô maninha, lá no Piauí. Borba Filho ressalta que, no espetáculo, não há personagens do sexo feminino, as mulheres são tratadas como seres inferiores, e todos os papéis femininos são interpretados por travestis. A única exceção ocorre com a figura da Pastorinha, que é representada por uma menina ou adolescente. É possível se observar, nitidamente, como as desigualdades de gênero estão incrustadas na sociedade nordestina. 76 Isso vem corroborar com a imagem que a sociedade patriarcal possui a respeito da mulher: tratase de um ser inferior em espírito, mais fraco, fisicamente, submisso, dependente da inteligência e da capacidade do homem para sobreviver, e cujo campo de atividade principal está restrito ao espaço doméstico. O homem, por outro lado, é um ser superior, mais forte, cultural, que transcende os limites naturais, e que deve ser o provedor e controlador dos demais seres humanos, dono exclusivo do espaço público e regulador do espaço privado (Buarque; Vainsencher, 2002) Bastante representado no Nordeste brasileiro, o bumba-meu-boi possui denominações distintas, segundo os Estados. É chamado Boi-de-Reis, no Maranhão; Boi-Calemba, no Rio Grande do Norte; BoiSurubi, no Ceará; Rancho-de-Boi, na Bahia; Bumbameu-Boi, em Pernambuco e Alagoas; e Cavalo-Marinho, na Paraíba. O folguedo é chamado Boi-Bumbá, no Amazonas; Bumba-de-Reis, no Espírito Santo; Reisde-Boi, no Rio de Janeiro; Boi-de-Mamão, em Santa Catarina; Boizinho, no Rio Grande do Sul; e Boi-deJaca, em São Paulo. Em Alagoas, o espetáculo começa com uma abertura de porta e com um desfile de animais e personagens, que dançam ao som de uma música característica, cantada pelo coro. O primeiro personagem a aparecer é a Burrinha e, em seguida surge o Cavalo-Marinho (que possui uma armação como a do boi, mas que apresenta uma cabeça de cavalo, pintada). Vários personagens vêm dançar, 77 tentando espantar o Mateus, a Catirina, e amedrontar as crianças ingênuas. São eles, entre outros: o Mané do Rosário, o Pantasma (Fantasma), o Morto-e-Vivo, o Foiará (Folharal), a Margarida, o Mandú, o Jaraguá, as Caiporinhas, as Sereias, o Pastor, a Sinhá Filipa (um homem vestido de mulher, com uma máscara), o Lobisomem, o Cego e o Doutor. No Maranhão, o bumba é representado, principalmente, em São Luís e nos municípios de Cururupu e Guimarães (municípios situados na zona litorânea). 78 Um aspecto a ser destacado no bumba-meuboi é a grande interação entre personagens e plateia, ou seja, esta última não se comporta como um agente passivo. Dessa interação, surgem improvisações jocosas e inesperadas, fazendo com que as pessoas participem, e o espetáculo se torne mais animado. Em tempos passados, por tradição, o bumba-meu-boi era exibido, somente, por ocasião do Natal. Praticado em uma arena (representando o terreiro de uma fazenda), com o público, em pé, assistindo ao folguedo, em volta dos personagens, o bumba, no presente, é exibido até mesmo durante o carnaval. De acordo com Valente (1979) pode-se dizer que o bumba-meu-boi é: uma forma de teatro que se caracteriza pela pancadaria, pela sátira, pelo ridículo, pelo grotesco, muito do gosto do povo. Um teatro popular muito mais comunicativo, muito mais atuante que o erudito, permitindo interferências da plateia – geralmente constituída pela população humilde da comunidade onde tem sede o Bumba meu boi – que age com estimulantes provocações, levando os personagens a respostas prontas e improvisadas, engraçadas e às vezes um tanto licenciosas, sempre recebidas com risadaria e gritos dos assistentes. Em Pernambuco, o folguedo é mais representado nas Zonas da Mata, no Agreste e no Sertão. Ele apresenta inúmeros personagens que podem ser humanos, animais ou fantásticos, além de uma série 79 de acontecimentos inspirados no boi. O personagem mais importante de todos é o Capitão Boca Mole: o proprietário das terras, dono do boi e aquele que comanda a festa. Vale ressaltar que, nesse auto, o sentido de propriedade é muito forte. No começo, o Capitão Boca Mole surge a pé, mas, a seguir, aparece montado no Cavalo-Marinho. Mateus e Bastião - os vaqueiros e heróis negros - são os dois empregados do Capitão. Ele pede que, cada participante, exponha os seus problemas. Após as discussões, o Capitão e seus auxiliares chegam à solução final, porém, não sem buscar uma série de personagens secundários: a Catirina (companheira de Mateus, e sempre representada por um travesti - que deseja comer um pedaço da língua do boi e induz o Vaqueiro a matá-lo); o Morto carregando o Vivo, o Babau, o Jaraguá e o Caipora - seres que assustam os próprios personagens e a plateia; o Doutor Penico Branco (aquele que vem medicar o boi - que levou uma grande pancada e está desmaiado - aplicando-lhe um clister e uma injeção); a Polícia e o Padre - que vêm celebrar o casamento do Mateus e da Catirina, ressuscitar o boi e resolver o problema do Morto carregando o Vivo; a Pastorinha - um personagem que o Capitão tenta seduzir; o Arlequim - um ajudante do Cavalo-Marinho; Manuel das Batatas - um simples camponês; a Burrinha - um camponês montado em uma burra; o Sacristão - o ajudante do Padre; a Ema e o Urubu - personagens atraídos pelo cheiro de decomposição do boi morto; o Doutor Engenheiro - o encarregado de medir as terras 80 do Capitão; além de outros personagens que ajudam a resolver as dificuldades expostas. Sem prejuízo para a apreciação do folguedo, certos personagens secundários podem ser suprimidos, em caso da ausência de participantes, ou de alguma danificação da armação. Por fim, o auto do bumba finaliza com a morte e a ressurreição do boi. Em outras palavras, no final do espetáculo, o boi sempre ressuscita. Os participantes costumam usar máscaras (para poder representar outros personagens e, assim, reduzir o número de integrantes do espetáculo), ou utilizam uma maquiagem bastante carregada de carvão, e/ou de farinha de trigo. Por sua vez, portam armações de madeiras leves, recobertas com tecidos coloridos e vestimentas peculiares. O Capitão, por exemplo, se veste com uma farda cheia de divisas e adereços dourados; o Mateus, o Bastião e a Catirina se apresentam com roupas muito sujas e pobres; o Padre usa uma batina velha e carrega um livro, uma cruz e um rosário; o Cavalo-Marinho e a Burrinha portam armações e aparentam estar montados em animais; a Caipora a Ema, o Urubu e o Boi surgem em armações que escondem o seu condutor, e apresentam a caveira e os chifres de um boi verdadeiro. Alguns personagens carregam bexigas de boi, cheias de ar, para dar uma surra nos colegas de espetáculo e membros da plateia. A orquestra do auto é composta por zabumbas, tambores, apitos, chocalhos, pandeiros e matracas; e uma Cantadeira entoa uma série de loas e toadas. Não tem muita importância se, hoje, o bumbameu-boi é considerado um auto, um folguedo popular, 81 uma dança dramática ou um mega espetáculo. Não importa, também, que ele varie de Estado para Estado, de nome, ou de Região para Região. Independentemente, de todos esses fatores, o bumbameu-boi é um dos produtos mais antigos, expressivos e ricos em improvisação, do folclore brasileiro. Ele é fruto da própria formação histórica do Brasil: representa um elemento híbrido, originário da Região Nordeste, mas, que foi difundido para todas as Regiões do país. 82 CACAU Quando os espanhóis chegaram ao continente americano, os astecas e os maias já cultivavam o cacau, tanto para servir-lhes como fonte de alimentação, quanto para embelezar os jardins de suas cidades. A história do cacau é impregnada de lendas e mitologias. Dizse, no México, por exemplo, que o Deus dos astecas, o Senhor da Lua Prateada e dos Ventos Gelados, deu aos homens algo que furtara dos Deuses. Desejando presentear os mortais, Ele foi aos campos do Reino dos Filhos do Sol e roubou sementes da Árvore Sagrada. Elas frutificaram e geraram o cacaueiro, que, por estar relacionado à religiosidade, era cultivado, apenas, pelos sacerdotes. Para os astecas, portanto, a árvore do cacau - chamada cacahualt - era sagrada, e seu cultivo se fazia acompanhar de cerimônias religiosas solenes. O navegador Fernando Cortez, ao conquistar o México, escreveu ao rei da Espanha, Carlos V, que o imperador asteca Montezuma não bebia, duas vezes, na mesma taça de puro ouro, porque acreditava que o líquido advindo das favas do cacau (de gosto amargo, escuro, e poder nutritivo excepcional) possuía origem divina. O imperador asteca bebia uma mistura de cacau com vinho, ou purê de milho fermentado, especiarias, pimentão e pimenta, que o alimentava 83 durante um dia inteiro, sem que houvesse necessidade de ingerir qualquer outro alimento. Às vezes, a mistura era preparada com cacau, pimenta malagueta, milho e cogumelos alucinógenos, tudo isto pulverizado e aromatizado com noz-moscada, cravo, canela e baunilha. De tão valorizadas, as sementes de cacau eram utilizadas pelos indígenas como moeda corrente. Montezuma costumava receber, por ano, 200 xiquipils (ou 1,6 milhão de sementes), como tributo da cidade de Tabasco, que correspondiam a trinta sacas, pesando sessenta quilos, cada uma delas. Um bom escravo, por sua vez, podia ser trocado por cem sementes de cacau. Na literatura botânica, a planta foi classificada, inicialmente, como Cacao fructus. Entretanto, as crenças religiosas, dos povos antigos, podem ter influenciado o botânico sueco Carolus Linnaeus (1707-1778), a trocar a classificação para Theobroma cação que, em língua grega, significa “manjar dos Deuses”. A nova classificação permaneceu válida até o presente. Após elaborar três dissertações sobre o cacau, o naturalista concluiu que, além do sabor agradável, a bebida dela advinda possuía propriedades medicinais superiores às do café e às dos chás. O cacaueiro é uma árvore de altura média (possui de cinco a dez metros), é muito ramificada, pertencente à família das Esterculiáceas, e que se desenvolve bem em solos quentes e úmidos, isentos de secas prolongadas. O fruto pode medir, até, 20cm de comprimento, e contém várias filas de sementes (com 84 mais de 2cm de comprimento). As sementes são envoltas por uma polpa branca ou rósea (mucilagem) ácida e aquosa. No Brasil, oficialmente, começou-se a cultivar o cacau em 1679, através de Carta Régia, que autorizava os colonizadores a plantá-lo em suas terras. No ano de 1746, algumas sementes foram plantadas às margens do rio Pardo, em Canavieiras, na Bahia. Como as condições climáticas, a topografia e o solo do Sul da Bahia atendiam, plenamente, às suas exigências, os cacaueiros se multiplicaram. E, ainda hoje, a grande maioria dos cacauais se encontra no Nordeste do Brasil e, em particular, no litoral baiano, ao Sul de Salvador. Na Região Norte do país, as tentativas para expandir o cultivo do cacau fracassaram. Os colonizadores portugueses descobriram o cacau silvestre, às margens dos afluentes do rio Amazonas, e levaram as sementes para a Europa, junto com outros produtos indígenas, tais como a mandioca, a pimenta e o algodão. Um dos documentos mais antigos sobre a presença do cacau, na Bahia, é uma monografia de 1789, de autoria de Manoel Ferreira da Câmara, intitulada Ensaio de descrição física e econômica da Comarca dos Ilhéus da América. Este trabalho recebeu um prêmio da Academia Real de Ciências de Lisboa. Entre os religiosos, o consumo do cacau provocava polêmicas, devido às suas supostas propriedades afrodisíacas. Tratando-se de um privilégio usufruído, somente, pelos sacerdotes, o chocolate saiu, da cozinha dos conventos, em 1615. Isto se deu por 85 ocasião do casamento de Luís XIII, da França, com a infanta Ana, da Áustria, que tinha catorze anos. Durante a recepção, os padres presentearam porções de cacau aos noivos. Apesar do gosto amargo, a Corte francesa aprovou, de imediato, a iguaria. A partir daí, em Paris, um dos convites mais requisitados era o de estar presente “para o chocolate de Sua Alteza Real”. O fruto tornou-se mais difundido quando se descobriu que, combinado com mel e especiarias, ele se tornava muito mais saboroso. Sua industrialização, porém, só ocorreu em 1778. O cacau é um fruto exigente, que demanda solos quentes e úmidos, chuvas abundantes, e áreas cobertas de matas e florestas. Esses são fatores naturais de regeneração, que produzem o mulch, uma camada constituída por restos vegetais que caem das copas das árvores, e se transformam em excelente adubo, além de proteger o solo contra a erosão. A preparação das favas (sementes) começa pela quebra dos frutos junto aos cacaueiros. O fruto é aberto e as sementes separadas da mucilagem. Em seguida, elas são transportadas para as sedes das fazendas, em grandes caixas, sobre o lombo de burros, e colocadas em cochos para fermentar, durante cerca de uma semana, a uma temperatura que pode atingir 40 graus centígrados. Depois da fermentação, vem a fase da secagem. O cacau contém, ainda, muita água, que precisa ser removida. Isto pode ocorrer mediante dois processos distintos. No primeiro, usam-se estufas ou secadores, aquecidos a fogo de lenha; e, no segundo, utilizam-se “barcaças”, grandes áreas com piso de 86 madeira, sobre pilares, e cobertas por um telhado móvel. O telhado é removido de dia, e recolocado sobre as “barcaças” à noite, e quando chove. As sementes necessitam ser mexidas, regularmente, para ficar bem arejadas e não haver formação de bolor. Após a secagem das amêndoas, elas são pisoteadas para a separação da “sibira”, uma película que as envolve. A secagem natural, ao sol, propicia um cacau de boa qualidade, ao passo que, a secagem artificial (através do calor do fogo de lenha), é desaconselhável, porque deixa a amêndoa com cheiro de fumaça, e interfere no sabor do futuro chocolate. Após a secagem, as amêndoas são ensacadas e transportadas às fábricas processadoras de cacau. Em 1828, um químico holandês inventou uma prensa que separava e retirava, da amêndoa, a manteiga de cacau. O uso desse artefato fez com que o amargor e a acidez do chocolate diminuíssem. Perto do final do século XIX, um doceiro suíço levou o produto até Henry Nestlé, um fabricante de leite evaporado, que havia aprimorado, também, uma receita de leite condensado. Juntos, os dois tiveram a feliz ideia de adicionar leite condensado ao chocolate e, foi, assim, que surgiu o chocolate ao leite. O doceiro suíço foi responsável pela criação do processo de conchagem, que conferiu ao chocolate uma textura mais fina e aveludada. O processo recebeu esse nome porque as pás, que mexem e refinam o produto, possuem o formato de conchas. No ano de 1879, Rodolphe Lindt adicionou manteiga de cacau ao chocolate, que gerou um produto 87 ainda mais elaborado, derretendo na boca, e similar ao chocolate consumido no presente. A fabricação do chocolate passa por cinco etapas importantes: a malaxação, o refino, o conching, a têmpera e a modelagem. Tais etapas são extremamente delicadas e, não raro, se ocorrer qualquer descuido, todo um lote se torna perdido. Da polpa branca ou rosa, do cacau, doce e mucilaginosa, são produzidos sucos, geleias, refrigerantes, destilados finos, fermentados (vinho e vinagre), sorvetes e doces. O suco do cacau possui um sabor exótico e agradável ao paladar, assemelhandose aos sucos de algumas frutas tropicais. É rico em vitaminas, pectina e açúcares (glicose, frutose e sacarose), possui um aspecto pastoso e alta viscosidade. Os técnicos da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC), do Ministério da Agricultura, têm realizado pesquisas que visam ao aproveitamento integral dos subprodutos e resíduos que ficam, depois da colheita. Neste sentido, após passar por uma determinada transformação, a casca dos frutos é aproveitada para ração animal, tanto in natura, quanto em forma de farinha. A casca é utilizada, ainda, para a produção de biogás e biofertilizantes, que são elaborados mediante o processo de compostagem, ou de vermicompostagem. Uma tonelada de amêndoas gera oito toneladas de casca fresca. O maior problema fitopatológico dos cacaueiros, o fungo denominado vassoura de bruxa, é originário da Amazônia, e só foi descoberto, na Bahia, em 1989. Ele causa a necrose no cacaueiro, deixando a planta 88 com a aparência de uma vassoura velha, daí a origem do nome. Esse fungo reduziu, drasticamente, a produção de cacau do Brasil, que baixou de 320,5 mil toneladas, em 1991, para 191,1 mil toneladas, no ano 2000, e que acarretou grandes impactos econômicos e sociais na região. No passado, o país chegou a ser o maior exportador de cacau. No presente, porém, apesar de não estar mais no topo, o Brasil ainda se encontra entre os grandes produtores do fruto, ao lado da Costa do Marfim, de Gana, da Nigéria, de Camarões e do Equador. Por outro lado, os maiores importadores de cacau são os Estados Unidos, a Holanda, a França, a Inglaterra e a Alemanha. O auge da cultura cacaueira ocorreu no final do século XIX e início do século XX. Durante a I Guerra Mundial, os soldados já carregavam chocolates, como ração de emergência, para suas necessidades futuras. No entanto, eles não conseguiam guardá-los por muito tempo: ao menor sinal de fome, devoravam as guloseimas. Jorge Amado, famoso escritor baiano, registrou a dura vida em torno do cultivo do cacau, na trilogia O País do Carnaval (1931), Cacau (1933), e Suor (1934), livros que foram traduzidos para várias línguas estrangeiras. No século XXI, os derivados do cacau fazem parte da vida das populações, sendo empregados em pudins, bolos, doces, caldas e aperitivos. Já se fabrica chocolate ao leite (massa de cacau, manteiga de cacau, açúcar e leite em pó); chocolate amargo (pouco refinado, paladar amargo, composto por massa de cacau e manteiga de 89 cacau); chocolate branco (manteiga de cacau, açúcar e leite); chocolate em pó (amêndoa de cacau ralada); além de chocolates recheados e/ou associados com frutas diversas (manga, cereja, cupuaçu, uva, morango, goiaba, framboesa), com especiarias (canela, baunilha, cravo, noz moscada, anis, menta, pimenta, alecrim), com doce de leite, caramelo, chás, avelãs, vinhos, cointreau, rum, capuccino, nozes, café, castanha de caju, castanha do Pará e pistache. São produzidas, também, de maneira industrial ou artesanal, trufas brancas, amargas, meio amargas, de mel e de Champagne, de queijo, de café, entre tantas outras. Camisetas, esculturas de barro e argila, bolsas, tapeçarias, peças de crochês e bonecos, que fazem alusão à cultura cacaueira, bem como o licor de cacau, fazem parte do folclore do Nordeste brasileiro. Os ovos de chocolate (caseiros e/ou industrializados) são muito populares, inclusive, nas comemorações da Páscoa. Faz-se necessário ressaltar que o chocolate, o “manjar dos Deuses” dos astecas, a delícia que extasiou a nobreza e o clero europeus, durante séculos, tem que ser consumido com parcimônia: ele possui bastante gordura e é altamente calórico. Apesar de produzir uma sensação de calma e bem estar, e aumentar a disposição física e mental, aquela guloseima deliciosa, se for ingerida em excesso, causa um aumento de peso em seus consumidores, uma vez que é muito calórica. Portanto, tem que ser utilizada com cuidado. 90 CIRIRI 91 A música popular nordestina deriva de processos técnicos muito simples e, em geral, não está vinculada a qualquer espécie de teorização. Seu nascimento, difusão e duração estão ligados, de forma intrínseca, às atividades e interesses da população e, caso possua aceitação social, a música vai se propagando com o passar do tempo. Ela representa, em verdade, os sentimentos, os desejos, os medos, os preconceitos e a bagagem cultural das pessoas. De acordo com estudiosos, a música popular provém de criação anônima, mas é usada de forma coletiva. Em outras palavras, os autores não são conhecidos e, portanto, ninguém pode exigir o pagamento de direitos autorais ao cantá-las e/ou difundilas. Ela é transmitida de geração em geração por meios práticos - normalmente, por via oral - e, é, a memória, o seu principal canal de difusão e conservação. O ciriri - uma música ligeira de autoria desconhecida - é também uma dança de roda infantil no Nordeste. O termo deriva do vocábulo ociriri, que pertence ao dialeto tupi e significa foge, corre. A música é composta do refrão abaixo: Ô ciriri, ô meu bem, ô cirirá, roubaro (roubaram) o meu amor e me deixaro (deixaram) sem amar, eu agora arranjei outro e quero vê (ver) você tomar. 92 Após cantar o refrão, é preciso se cantar uma trova, com a mesma melodia do refrão. Feito isto, retorna-se ao refrão e, em seguida, canta-se outra trova (diferente da primeira), continuando-se, assim, até o cansaço vencer a brincadeira. Cabe esclarecer que a trova - uma composição lírica - origina-se da quadra popular dos colonizadores lusos, e representa o único gênero literário exclusivo da língua portuguesa. Ela pode ser definida como um pequeno poema de quatro versos, com rima e sentido completo. PARTITURA DO CIRIRI As trovas mais populares do ciriri são as seguintes: Minha mãe chama-se Caca, Minha avó Caca Maria, Em casa, tudo era caco, sou filho da cacaria. Da tua casa pra minha corre um riacho no meio, tu de lá dá um suspiro, e eu de cá suspiro e meio. A folha da bananeira de tão verde amarelou, a boquinha de meu bem de tão doce açucarou. As estrelas no céu correm correm tudo em carreirinha, mesmo assim corre um beijinho da tua boca pra minha. 93 Minha mãe me chamou feia me chamou mal-amanhada, eu então chamei a ela velha da cara engelhada Açucena dentro d’água a durar quarenta dias, um amor longe do outro chora de noite e de dia. Cajueiro pequenino carregado de fulô (flor) eu também sou pequenina carregadinha de amor. Lá detrás da minha casa tem um pé de papaconha, quem quiser tirar um galho, é descarado e sem-vergonha. Sete e sete são catorze com mais sete, vinte e um, tenho sete namorados e não me caso com nenhum As flores também se mudam do jardim para o deserto, de longe também se ama quem não pode amar de perto. Quem me dera, dera, dera, Quem me dera dera só, me deitar em tua cama, me cobrir com teu lençol. Menina se quer ir vamos, não te ponhas a imaginar, quem imagina cria medo quem tem medo não vai lá. Caco caco caco caco, caco de torrar café, tu ainda fala comigo, cara de porco baé. Menina dos olhos verdes, sobrancelhas de veludo, o teu pai não tem dinheiro, mas teus olhos valem tudo. Por debaixo d’água passa, duas tesouras de ouro, uma pra cortar ciúme e outra pra cortar namoro. Lá detrás da minha casa, tem um pé de mororó, quem quiser “mangar” de mim, vá “mangar” de sua avó. Sete e sete são catorze, com mais sete, vinte e um, teu pai é ladrão de bode tua mãe de jerimum. Um sabonete cruzado, na mala quem tem sou eu, aproveite, desgraçado, um amor que já foi teu. 94 Se tiver raiva de mim, E não puder se vingar, meta o dente na parede coma terra até inchar. Bananeira bota cacho, e também bota um galhinho, um rapaz pra ser bonito tem que usar um bigodinho. Nunca vi carrapateira, botar cacho atravessado, nunca vi quem é solteiro namorar quem é casado. A laranja de madura, caiu n’água e foi ao fundo, triste de quem é solteiro e casa com um vagabundo. Lá vem a lua saindo, por detrás do leque-leque, filho de branco é menino, filho de preto é moleque. Lá detrás da minha casa, passa boi passa boiada, e também passa amarelo, Do bucho de panelada. Cajueiro abaixa o galho, deixa o meu gado passar, ele vem de lá de longe, do sertão do Ceará. Tô (estou) chorando, tô chorando, tô chorando por você, se você não acredita, vou chorar pra você ver. Minha mãe me chamou feia, de bonita que ela é, ela é o pé da rosa e eu sou a rosa do pé. Lá vem o carro apitando, cheio de cana crioula, esses rapazinhos de hoje, vestem calça sem ceroula. Meu amor não era esse, nem a esse quero bem, tô (estou) enganando esse besta enquanto meu querido vem. Minha mãe me deu uma surra, com molambo de rudía (rodilha), eu achava tanta graça, Quando o molambo subia. A alma de muita gente é como um rio profundo: tanta beleza por cima, mas quanto lodo no fundo. Minha mãe tá (está) me chamando, diga a ela que eu já vou, tô (estou) tirando a gravatinha, de um moreno que chegou. 95 Eu queria ver agora, quem eu vi ontem ao meio-dia, se eu não visse a pessoa, o retrato me servia. A lua já vem saindo, redonda que nem vintém, não é lua, nem é nada, são os (olhos) do meu bem. Lá detrás da minha casa, tem um pé de mororó, quem quiser “mangar” de mim, vá “mangar” de sua avó. Um sabonete cruzado, na mala quem tem sou eu, aproveite, desgraçado, um amor que já foi teu. Meu amor tá (está) mal comigo, eu não sei por qual razão, se for falta de carinho, eu lhe dou meu coração. Esta vai por despedida, por despedida esta vai, minha mãe ficou sem dente de tanto morder meu pai. Para poder existir, o ciriri necessita da produção de trovas, a mais popular das formas poéticas. E, mesmo sem intenção, os trovadores, ao criá-las, expressam suas filosofias de vida, preconceitos, dúvidas, certezas, alegria e bom humor, ressaltando os valores que estão incrustados na cultura popular nordestina. 96 COCO Uns dizem que o coqueiro (cocos nucifera L.) é originário da Índia e, outros, que ele veio da Ilha de Cabo Verde. Seja como for, a planta foi trazida pelos navegadores e cultivada em solo africano, sendo encontrado, hoje, em, praticamente, todos os países de clima tropical. No Brasil, o coqueiro foi introduzido no século XVI, pelos colonizadores portugueses. Entre seus maiores produtores, encontram-se as Filipinas, a Índia e a Indonésia. O coqueiro - cartão postal do Nordeste do Brasil se adaptou muito bem à orla marítima e, há séculos, vem enfeitando as praias da Região. Essa espécie de palmeira pode atingir uma altura de trinta metros, mas, existem variedades de coqueiro anão - introduzidas em 1921 - que não ultrapassam três metros de altura. O país cultiva, em torno de, 50 mil hectares de coqueiro anão, e os Estados que mais o produzem são o Espírito Santo (com cerca de 14 mil hectares de terras plantadas), seguindo-se a Bahia (com 12 mil hectares), e o Ceará (com 5 mil hectares). A casca do coco é relativamente fina e lisa. Por debaixo dela, encontra-se uma espessa capa fibrosa, que envolve uma camada muito dura e, dentro dela, 97 existe uma parte suculenta de cor branca. Quando verde, o coco contém bastante água em seu interior, e a camada branca é mole e pouco desenvolvida. À medida que vai amadurecendo, a parte carnosa se torna mais espessa e consistente, e a quantidade de água diminui. O coco contém proteínas, magnésio, gorduras, sais minerais - potássio, sódio, fósforo e cloro - hidratos de carbono e as vitaminas A, B1, B2, B5 e C. Seus efeitos curativos se devem, principalmente, ao magnésio, substância que o ser humano necessita para conservar a tensão muscular. Cem gramas de cocos maduros equivalem a duzentas e sessenta e seis calorias. Por sua vez, o consumo do coco maduro é contraindicado para pessoas que apresentam, no sangue, uma elevada taxa de colesterol. O leite de coco é um dos subprodutos mais conhecidos e utilizados, mas só pode ser extraído, quando o coco está maduro. Para retirá-lo, basta quebrar a casca, soltar a camada interna (branca), adicionar-lhe um pouco de água, bater tudo no liquidificador e, em seguida, coar a mistura. O líquido resultante é o leite de coco. Nos lugares onde não há energia elétrica, as pessoas retiram a massa do coco com um raspador, adicionam um pouco de água, colocam a mistura dentro de um pano e, em seguida, torcem-no para liberar o leite, separando-o do bagaço. Do coqueiro, nada se perde. Da polpa branca do fruto, as indústrias alimentícias extraem um óleo, e fabricam, também, manteigas e margarinas. O coco é usado, ainda, pela indústria de cosméticos. 98 As folhas do coqueiro servem para cobrir os telhados das casas. O artesanato nordestino utiliza as fibras do fruto e das folhas, para a fabricação de cordas, tapetes, redes, vassouras, escovas e outros produtos, tais como cestos, esteiras e chapéus. Do endocarpo do coco (a casca dura) confeccionam-se inúmeros utensílios e ornamentos, a exemplo de colheres, cintos, brincos, colares, portacanetas, pulseiras, descansapratos, entre outros. O tronco do coqueiro, além de ser usado na construção de casas rústicas, é utilizado, pelos artesãos, na fabricação de esculturas, arranjos de plantas e móveis, que são comercializados em lojas e feiras populares. Do coqueiro são fabricados, também, redes e linhas de pesca, cordoalhas, sacos e broxas. A palmeira é utilizada, inclusive, como planta ornamental, embelezando casas, parques e jardins. A seiva proveniente dos pedúnculos pode ser ingerida, ao natural, como um refresco. Através da fermentação, pode ser transformada em bebida alcoólica, álcool ou vinagre, e ser utilizada na extração do açúcar. As raízes do coco servem para fabricar fortificantes para as gengivas, antitóxicos, produtos antidiarreicos e antiblenorragicos e, do broto do coqueiro, retira-se o palmito. A indústria automobilística utiliza a fibra do fruto para encher o estofamento dos assentos dos veículos. No poema musical Coqueiro de Itapoã, o falecido compositor baiano, Dorival Caymmi, imortalizou essa planta. A letra da música é a seguinte: 99 Coqueiro de Itapoã, coqueiro... Areia de Itapoã, areia... Morena de Itapoã, morena... Saudade de Itapoã, me deixa... Oh, vento que faz cantiga nas folhas No alto dos coqueirais, Oh, vento que ondula as águas, Eu nunca tive saudade igual... Me traga boas notícias daquela terra toda manhã E joga uma flor no colo de uma morena de Itapoã. Coqueiro de Itapoã, coqueiro... Areia de Itapoã, areia... Morena de Itapoã, morena... Saudade de Itapoã, me deixa... No Brasil, o leite de coco logo se associou ao milho, à farinha, ao xerém, à goma de mandioca, aos molhos, pudins, cremes, mingaus e papas. Da associação do coco e do milho, são feitos vários quitutes e manjares, que são ofertados aos Deuses africanos e indígenas. A cocada (iguaria produzida com açúcar e com a parte branca ralada do coco maduro, levados ao fogo) veio enriquecer a culinária brasileira. Hoje em dia, são feitas cocadas com leite condensado, gema, óleo de oliva, cenoura, glucose de milho, batata-deumbu, e muitos outros ingredientes. A tapioca de coco, estendida em folha de bananeira e polvilhada com canela, é uma das heranças indígenas. O leite e a polpa 100 do coco são fundamentais na culinária junina, sendo utilizados em receitas de canjicas, pamonhas, pés de moleque, bem como bolos de mandioca, Souza Leão, e de macaxeira (chamado, também, de aipim). É usado, ainda, no mungunzá e no cuscuz. O leite de coco é encontrado em vatapás, peixadas, crustáceos ensopados (camarão, polvo, lula, sururu, unha de velho, casquinha de siri) nas caranguejadas, mariscadas, ensopados de bredo, arroz de viúva e no feijão. No preparo de uma deliciosa maxixada, aquele ingrediente não pode faltar. A água do coco verde, uma bebida deliciosa, refrescante, nutritiva e terapêutica, possui uma composição físicoquímica semelhante à do soro fisiológico. São inúmeros os seus benefícios: ela hidrata e amacia a pele, reduz a febre, funciona como complemento alimentar, combate a prisão de ventre e atenua os enjôos. Como é rica em sais de potássio, atua como diuretico, sendo indicada em casos de diarreia, vômito e desidratação. Cem gramas de água de coco contêm vinte e duas calorias. Nos últimos anos, devido à grande demanda dessa bebida, o Estado de São Paulo vem substituindo parte das tradicionais culturas de café e de laranja, por plantações de coqueiro anão. Atualmente, encontra-se, inclusive, em supermercados brasileiros e estrangeiros, a água de coco industrializada. As indústrias comercializam, também, o coco ralado e o leite de coco (em garrafas pequenas ou caixinhas). Benditos sejam aqueles que trouxeram o coqueiro para as terras do Brasil! 101 102 CULINÁRIA BRASILEIRA Cada povo possui um tipo de culinária, um modo peculiar de preparar seus alimentos. Do ponto de vista da cultura folclórica, percebe-se que, através de diferentes formas, misturas, temperaturas, odores e cores, os povos vão transformando os alimentos em uma atração. Comer é conhecer, diz um antigo ditado. Desse modo, todas as culinárias do mundo representam formas de conhecimento. São sinais culturais transmitidos por meio do paladar, da visão, do olfato. São gostos, sensações, texturas ou toques, que aguçam os desejos. O Brasil possui uma culinária original e expressiva. Ao longo de 500 anos, o brasileiro assimilou e transformou a cozinha europeia, principalmente a portuguesa, as especiarias que o colonizador trouxe do Oriente (China e Índia), adicionando-lhes ingredientes das culinárias africana e indígena (a dos índios da Amazônia e do Pantanal de Mato Grosso). A culinária indígena, uma festa permanente de peixes moqueados, caças e frutas da estação, já estava presente quando o Brasil foi descoberto. Tudo isso, sem jamais agredir ou colocar em risco a estabilidade do meio ambiente. Foram as trocas alimentares, portanto, a união de distintos caminhos e experiências de vida, de etnias e de 103 culturas, a miscigenação de gostos, formas e aromas, que geraram uma nova e rica culinária brasileira. Dos índios, a culinária assimilou a farinha de mandioca, os alimentos cozidos ou assados em folhas de bananeira, as comidas feitas com milho, a paçoca (peixes ou carnes pilados e misturados com farinha). Herdou-se, também, a moderação no uso do sal e dos condimentos, a cozinha com forno e fogão, a utilização de utensílios de cerâmica, as virtudes do consumo de alimentos frescos, e as comidas temperadas pelas mãos das índias nativas. Sem isso, a cozinha nacional seria, hoje, muito pobre. Além do refinamento, o colonizador português introduziu alguns ingredientes importantes na culinária brasileira: o coco (trazido da Índia), o sal, e a canela em pó misturada com açúcar. O sarapatel, o sarrabulho, a panelada, a buchada, o cozido, não fazem parte da culinária africana, mas, sim, da portuguesa. Os dois primeiros vieram da Índia, através dos colonizadores. A doçaria lusa trouxe: pudim de iaiá, arrufos de sinhá, bolo de noiva, pudim de veludo. Do Oriente, vieram muitos quitutes mouriscos e africanos, tais como o alfenim e o cuscuz, e frutas como a manga, a jaca, a carambola e a fruta pão. Do famoso cozido português, incluiu-se feijão preto ou mulatinho, carnes e muitas verduras, tendo surgido um prato único e original: a feijoada. A feijoada pode ser preparada às modas carioca, baiana e nortista. A típica feijoada brasileira, porém, comporta muitas iguarias: feijão preto, toucinho de fumeiro, paio, linguiças portuguesa e/ou calabresa, 104 outras carnes de porco salgadas e/ou defumadas (orelhas, rabo, pés, costelas) e carnes secas (de charque), temperos frescos e secos. É acompanhada por arroz branco, farinha de mandioca, rodelas de laranja, torresmo, folhas de couve (bem fininhas) fritas no alho e óleo, e uma boa cachaça da terra. A presença africana, na mesa brasileira, tem dois grandes representantes: o dendê e a pimenta (não as nativas, usadas pelos índios, mas a malagueta, trazida pelos negros da África). A palmeira, de onde se extrai o azeite de dendê, veio da África para o Brasil, nas primeiras décadas do século XVI. Todos os pratos trazidos do continente africano foram, então, reelaborados e recriados pelos brasileiros, que passaram a usar o azeite de dendê e os ingredientes locais. Embora africano, o inhame era conhecido em Portugal. O caruru, por sua vez, tal como é conhecido, é um prato africano, que manteve a denominação indígena, mas, adquiriu outro conteúdo: galinha, peixe, carne de boi, ou crustáceos. Ao chegar ao Brasil, a escrava negra já era cozinheira. Aprendendo com as portuguesas e suplantando-as pela diversidade de temperos, que sabiam manejar, as africanas competiram com as indígenas quanto ao segredo de uma boa mesa. Na atualidade, cada Região do país possui distintos pratos típicos. No Norte, devido à presença de florestas, à influência indígena, e às generosas bacias hidrográficas (o rio Amazonas e seus afluentes, em particular), predomina o consumo de peixes de água doce 105 (acari, auanã, cascudo, surubim, pirapitinga, piranambu, tucunaré, tambaqui, pirarucu, tainha, camurupim, itui, jandiá, xaréu, curimatá, cangati, piranha, entre outros); da mandioca e de grande variedade de frutas: açaí, bacaca, buriti, taperebá, ginja, pupunha, murici, uamari, cupuaçu, bacuri, camapu, uxi, angá, piquiá, camutim, cutitiribá, grumixama, cubiu, guaraná, entre tantas outras. A culinária nortista, tropical e ecológica, é acompanhada por uma grande variedade de pimentas: cajurana, mata frade, murupi, camapu, murici, olhode-peixe, ova-de-aruana, pimenta-de-cheiro, e olhode-pomba. Nessa região, consomem-se muitas outras iguarias: maniçoba, caldeirada de jaraqui, pato no tucupi, tambaqui assado na brasa, cuia de tacacá, mujanguê (a famosa farofa de ovos de tartaruga), e vários tipos de tartarugas (juruá açu, capitari, tracajá, matamatá, cabeçudo, pitiú), além dos cremes de bacuri e de cupuaçu. No Nordeste, encontram-se os pratos à base de feijões, inhame, macaxeira (chamada aipim, no Sul do país), leite de coco, azeite de dendê, peixes, crustáceos e frutas nativas, destacando-se inúmeras iguarias: buchada, sarapatel, arroz doce, tapioca, caldo de cana, bem como doces e/ou sorvetes de frutas regionais: mamão, goiaba, caju, pinha, sapoti, graviola, banana, tangerina, mangaba, coco, manga, umbu, jaca, abacaxi, araçá. Da culinária nordestina fazem parte, ainda, os seguintes pratos: dobradinha (feijão branco cozinhado 106 com bucho de boi), galinha de cabidela, mão-de-vaca, quibebe (pirão de jerimum), carne-de-sol (servida com farofa e feijão verde), peixes e crustáceos ao leite de coco, feijão e arroz, ao coco, amendoim torrado e cozinhado, canjica, pamonha, munguzá, cuscuz, milho cozido e assado, acarajé, abará, caruru, vatapá, bolos de macaxeira e de mandioca, pé de moleque, bolo Souza Leão, umbuzada (feita com umbu, leite e açúcar), entre outros. No Sul e no Sudeste, onde se encontram grandes rebanhos bovinos e ovinos, a população consome churrasco de carne e linguiças assadas na brasa, acompanhadas por arroz branco, salada de maionese, farinha de mandioca torrada, macaxeira cozida, saladas verdes e pão. Outros pratos tradicionais são os seguintes: guisado no pau, boi atascado, pernil de cordeiro, costelão, churrasco de ovelha, tripa grossa, e outros. Os gaúchos, em particular, consomem bastante o chimarrão, um chá quente feito com as folhas de mate amargo, trituradas. Alguns pratos típicos dos outros Estados são os seguintes: a feijoada carioca (com feijão preto), no Rio de Janeiro; o cuscuz salgado, conhecido como cuscuz paulista, em São Paulo; e uma grande variedade de produtos derivados do leite (como o famoso queijo de Minas, requeijões, iogurtes, manteigas e doces de leite), além de pães de queijo, biscoitos de polvilho e goiabada cascão, em Minas Gerais. Lá, é apreciado o tutu à mineira e o feijão de tropeiro (uma homenagem aos desbravadores de sertões, que inclui feijão, toucinho 107 e carne de vento ou seca acompanhados por farinha de mandioca). E, no Espírito Santo, são populares os pratos de peixe preparados com urucum, assim como a moqueca capixaba. Devido às características cosmopolitas do Sul e do Sudeste, é possível encontrar, nessas Regiões, uma grande variedade de culinárias: italiana, japonesa, chinesa, coreana, vietnamita, alemã, húngara, francesa, polonesa, russa e ucraniana. A pizza e o macarrão, por exemplo, são heranças dos italianos, mas, já foram incorporadas à alimentação de muitos brasileiros. Os italianos inventaram, inclusive, o salsichão e o espeto corrido. No Centro Oeste, predominam os pratos à base de carne, devido aos grandes rebanhos. É comum o consumo de peixes de água doce, aves e caça do Pantanal, frutas do cerrado (como o pequi) e erva mate. Encontra-se, hoje, na culinária brasileira, inúmeros pratos que utilizam o leite de coco, o azeite de dendê, a farinha de mandioca, o sal, as pimentas, as frutas, as moquecas, os assados, os guisados, os doces, os sucos, enfim, dezenas de ingredientes e de modos de fazer que moldaram a chamada cozinha tradicional do país. 108 FEIJOADA BRASILEIRA (para seis pessoas) Ingredientes: 500g de feijão preto, 300g de charque, 80g de toucinho, 200g de carne bovina, 120g de rabo de porco, 120g de orelha de porco, 200g de carne de porco, 240g de pé de porco, 200g de costela de porco defumada, 240g de lingüiça ou paio, 250g de cebola (cortada em pedacinhos), 4 dentes de alho (moídos), 2 cebolinhas (cortadas em pedacinhos pequenos), 2 folhas de louro, 4 colheres (sopa) de azeite de oliva, sal e pimenta-do-reino (moída) a gosto. Modo de fazer: Lavar bem todas as carnes salgadas e aferventá-las para retirar o sal. Colocar o pé de porco para cozinhar em uma panela, apenas com água e folha de louro, durante cerca de 30 minutos. Acrescentar o feijão (previamente lavado) e o restante das carnes. Deixar no fogo até que ambos amoleçam, adicionando, sempre, a água que for necessária. Em uma frigideira, fritar a cebola e a cebolinha no azeite de oliva. Quando estiverem dourando, adicionar o alho e a pimenta-do-reino. Deixar alguns segundos no fogo para refogar bem a mistura. Colocar esses temperos dentro da feijoada, deixando ferver por 5 minutos. Provar um pouco do caldo para verificar o teor de sal. Se tiver pouco sal, adicione um pouco mais (sem deixar de provar). Caso fique salgada, por sua vez, coloque algumas batatas inglesas (grandes) para cozinhar dentro da feijoada: elas reterão todo o excesso de sal. O tempo de cozimento é de 2 1/2 horas. Com a ajuda de uma escumadeira, separe as carnes do feijão, arrumando-as em recipientes 109 distintos. Servir a iguaria com farinha de mandioca, arroz branco, couve à mineira, rodelas de laranja, molho de pimenta e uma boa cachaça da terra Bom apetite! 110 CULINÁRIA JUNINA 111 Junho é o mês de três santos católicos importantes, introduzidos no Brasil pelos colonizadores portugueses: São Pedro, Santo Antônio e São João. O primeiro deles, um dos doze apóstolos de Jesus Cristo, é o guardião das portas do céu, protetor das viúvas e dos pescadores. A ele, foi dedicado o dia 29 de junho. Santo Antônio, comemorado no dia 13 de junho, é o santo casamenteiro, invocado pelas pessoas solteiras que desejam se casar. E São João, por fim, primo de Jesus Cristo, cujo nascimento ocorreu no dia 24 de junho. Dos três santos, esse último é o mais festeiro e comemorado. A festa de São João, muito popular na Península Ibérica, chamava-se Festa Joanina, mas, com o tempo, passou a ser denominada Festa Junina. Em se tratando das festas que utilizam o fogo, cabe ressaltar que a tradição advém de comemorações pagãs, nos primórdios da era cristã, quando os cultos e os sacrifícios eram empreendidos para enfrentar e afastar demônios e bruxas, responsáveis por pestes, estiagens e esterilidade. Neste sentido, os portugueses incorporaram o fogo ao seu calendário, acreditando ser este um elemento importante, na luta das forças do bem contra as do mal. Entretanto, há controvérsias quanto à origem da festa de São João. O dia 23 de junho, porém, de acordo com os rituais do calendário agrário da Antiguidade, representa a data comemorativa das colheitas de cereais, e a passagem do solstício de verão, ou de inverno, conforme o hemisfério. O mês de junho - o quarto no calendário de Rômulo - era considerado, 112 também, como o período do ano dedicado à deusa Juno: a cultuada filha de Saturno e mulher de Júpiter, que teve muitos filhos. As festas juninas, então, podem ter se originado da devoção dos povos pagãos àquela divindade. Estes povos reverenciavam a fertilidade da deusa, almejando sua própria fertilidade e a da terra em que viviam. E, em nome daquela deusa, empreendiam muitos sacrifícios para espantar secas e pestes da lavoura. Alguns pesquisadores situam os primórdios da festa junina na Ásia e na África, em 3.500 a.C., salientando que, no Egito antigo, a morte e a ressurreição do Deus Osíris estavam relacionadas às inundações do rio Nilo. Isto porque, quando as águas retornavam ao leito usual, deixavam uma faixa de terra úmida e fértil para a semeadura, o que tornava possível excelentes colheitas. E o fato era sempre comemorado com alegria. De acordo com Câmara Cascudo (1954), independentemente das diversas teorias sobre a sua origem, o São João é festejado com alegrias transbordantes de um deus amável e dionisíaco com farta alimentação, músicas, danças, bebidas e uma marcada tendência sexual nas comemorações populares, adivinhações, para casamento, banhos coletivos pela madrugada, prognósticos do futuro, anúncio de morte do censo do ano próximo... Segundo a tradição o Santo adormece durante o dia que lhe é dedicado tão ruidosamente pelo povo, através dos séculos 113 e países. Se ele estiver acordado, vendo o clarão das fogueiras acesas em sua honra, não resistirá ao desejo de descer do céu para acompanhar a oblação e o mundo acabará pegando fogo. No Nordeste do Brasil, em particular, o São João é muito comemorado, tendo-se as quadrilhas, o forró, as fogueiras, os fogos de artifício, os balões, as procissões e novenas, e a maravilhosa culinária junina. Nesta, os colonizadores portugueses introduziram o sal, o açúcar, a canela em pó, o cravo-da-Índia, o leite de coco e o milho. Os índios introduziram a mandioca, na culinária brasileira. A culinária junina, por sua vez, foi reelaborada e recriada, através da miscigenação de gostos e experiências de vida, das principais etnias formadoras da população brasileira: a indígena, a africana e a europeia. Os pratos típicos de São João são os seguintes: milho cozido ou assado (na brasa), canjica, pamonha, pé de moleque, cocada, bolos de milho, de macaxeira e de mandioca. A seguir, transcrevem-se algumas receitas que são preparadas no ciclo junino. MILHO COZIDO Tirar a palha e os cabelos do milho e passar a espiga em um ralo, ligeiramente, só para rasgar um pouco a pele que cobre os grãos. Colocar a espiga para cozinhar, em um caldeirão (ou panela de pressão) com água suficiente para cobri-la, e sal a gosto. Cozinhar até os grãos amolecerem. Testar com um garfo, espetando a espiga antes de desligar o fogo. 114 CANJICA Ingredientes: 10 espigas de milho verde; 1 xícara de açúcar; 2 ½ xícaras de leite de coco; 1 colher de sopa de manteiga; sal a gosto; e canela em pó (para polvilhar). Modo de fazer: Com uma faca afiada, corte os grãos de milho rente ao sabugo. Coloque-os no liquidificador, junte o leite de coco, aos poucos, e triture a mistura até que se torne um purê. Peneire, em seguida, para retirar as cascas dos grãos, espremendo bem o bagaço. Em uma panela, coloque o caldo do milho e leve ao fogo médio, mexendo sempre. Quando começar a engrossar e desgrudar do fundo da panela, acrescente o açúcar, o sal e a manteiga. Mexa o creme por mais alguns minutos, até que ele adquira um ponto consistente e brilhante. Coloque-o em uma travessa e polvilhe com canela em pó. PÉ DE MOLEQUE Ingredientes: 1 kg de massa de mandioca, 4 xícaras (de chá) de açúcar, ½ litro de água, 250 g de manteiga, 2 ovos inteiros, ½ litro de leite de coco, 200 gramas de castanha torrada, 1 colher (de chá) de cravo da Índia, 1 colher (de chá) de erva-doce. Modo de fazer: Lavar, deixar assentar e espremer a mandioca. Reservá-la e colocar em uma bacia grande. Triturar bem a castanha, o cravo e a erva-doce. Juntar à mandioca. Levar ao fogo, para fazer um mel, a água, o açúcar e a manteiga. Despejar o mel, bem quente, sobre 115 a mandioca e os temperos, misturando bem com uma colher de pau. Adicionar 2 ovos inteiros e o leite de coco. Bater bem a massa. Colocar em uma forma untada e enfarinhada e levar ao forno quente. Tirar da forma depois de frio. BOLO DE MACAXEIRA Ingredientes: 2 kg de macaxeira, 1 coco ralado, 500 g de açúcar, 1 colher (de sopa) de manteiga, leite de vaca (o suficiente para cobrir o bolo), cravo-da-Índia, pitada de sal. Modo de fazer: Descascar, lavar e ralar a macaxeira e misturá-la com o coco ralado. Fazer uma calda com o açúcar e os cravos. Retirar os cravos e despejar sobre a macaxeira. Acrescentar a manteiga e o sal, misturando bem tudo. Untar e enfarinhar uma forma. Despejar a massa do bolo e cobrir com leite de vaca. Levar para assar, em forno quente, e desenformar depois de frio. PAMONHA Ingredientes: 20 espigas de milho verde, 3 xícaras (de chá) de leite de vaca ou leite de coco, 3 colheres (de sopa) de creme de leite, açúcar e sal a gosto. Modo de fazer: Cortar os grãos dos milhos com uma faca afiada e passá-los no liquidificador. Depois, passar a massa em uma peneira grossa. Misturar todos os ingredientes da receita. Embrulhar e amarrar o líquido grosso na própria palha do milho e, em um caldeirão com água 116 fervendo, cozinhar as pamonhas cerca de trinta (30) minutos, até que endureçam. MUNGUZÁ Ingredientes: 500g de milho para mungunzá, 1 lata de leite condensado, 2 canelas em forma de pau, 1 litro de leite, 200ml de leite de coco, 1 colher (sopa) de manteiga, sal a gosto. Modo de fazer: Coloque o milho de molho de um dia para o outro, troque a água, junto com os paus de canela, e ponha, na panela de pressão, de 30 a 40 minutos. Quando o milho estiver macio (se for necessário, coloque no fogo por mais alguns minutos), acrescente o leite condensado, o leite de coco, o sal e a manteiga. Misture bem e adicione o leite fervente. Deixe ferver a mistura e desligue o fogo. Sirva em prato fundo, salpicado com canela em pó. ARROZ DOCE Ingredientes: 1 xícara (chá) de arroz, 1 lata de leite condensado, 200ml de leite de coco, 2 gemas (opcional), canela em pó. Modo de fazer: Em uma panela grande, misture o arroz e um litro de água fria e leve ao fogo até ferver. Abaixe o fogo e deixe o arroz cozinhar. Quando estiver cozido, adicione, ainda no fogo, mexendo bem, o leite condensado, o leite de coco e as gemas. Retire do fogo, coloque em uma travessa e polvilhe com canela em pó. 117 BOLO DE FUBÁ Ingredientes: 2 copos de açúcar, 4 ovos, 1 copo de leite de vaca, 200ml de leite de coco, 200 gramas de margarina, 1 copo de farinha de trigo, 2 copos de fubá, 1 colher de sopa de fermento em pó. Modo de fazer: Bata a margarina com o açúcar até formar um creme. Adicione as gemas e continue batendo, até obter uma consistência cremosa. Acrescente o leite de vaca e o leite de coco. Misture bem, coloque a farinha de trigo, o fubá e o fermento em pó, e bata bastante. Por fim, coloque as claras em neve. Unte e enfarinhe uma forma, despeje a mistura e leve ao forno quente por 20 a 30 minutos. Desenformar depois de frio. BOLO CREMOSO DE FUBÁ Ingredientes: 3 xícaras de açúcar, 1 ½ xícara de fubá, 3 xícaras de leite de coco, 1 xícara de água, 3 ovos inteiros, 1 colher de sopa de fermento em pó, 2 colheres de sopa de margarina, 4 colheres de sopa de queijo parmesão ralado. Modo de fazer: Bater tudo no liquidificador e despejar em uma forma untada com margarina e polvilhada com farinha de trigo. Levar ao forno quente por cerca de 30 minutos. 118 DENDÊ O dendezeiro (Elaeis guineensis) é uma palmeira de origem africana que se desenvolve bem em regiões tropicais, com clima quente e úmido. Os egípcios, há mais de 5.000 anos, já consumiam o óleo daquela planta. Desde o século XV, o dendezeiro consta dos relatos dos primeiros visitantes europeus à África, como parte integrante da paisagem, dos hábitos e da cultura popular. Lá, essa planta recebeu uma série de denominações, tais como abobobe, kisside, ade quoi, dendem, ou andim. No continente americano, o dendezeiro foi introduzido com o comércio de escravos, chegando, ao Brasil, no século XVII. Em se tratando de mercado mundial, a Malásia representa o maior produtor de óleo de dendê, com cerca de 2,5 milhões de hectares de área cultivada, movimentando US$ 9 bilhões/ano e gerando, na zona rural, mais de 250.000 empregos diretos. O fruto do dendê produz dois tipos de óleo, que são obtidos através de processos físicos, pressão e calor: 1) o óleo de dendê ou de palma (conhecido como palm oil, no mercado internacional), extraído do mesocarpo, a parte externa do fruto; e 2) o óleo de palmiste (ou palm kernel oil), extraído da semente do 119 fruto, e que é similar aos óleos de coco e de babaçu. Cada hectare de plantio de dendê produz, anualmente, de 0,4 a 0,6 toneladas desse óleo. O azeite de dendê (devido à sua consistência e por não rancificar) é apropriado para a fabricação de margarinas, gorduras vegetais, pães, bolos, tortas, sorvetes, barras de chocolate, biscoitos finos e cremes, assim como óleos de cozinha. Cerca de 80% da produção mundial desse azeite é destinada a alguma aplicação alimentícia. Os restantes 20%, representados pelo óleo de palmiste, são usados como matéria prima na indústria de cosméticos, na fabricação de sabonetes, sabão em pó, detergentes e amaciantes de roupas biodegradáveis, lubrificantes, cosméticos, velas, produtos sanitários e farmacêuticos, assim como biocombustíveis (chamado dendiesel) para motores a diesel. Presentemente, o azeite de dendê é o segundo óleo mais produzido e consumido no país, representando 18,49% do consumo mundial. Se o plantio do dendezeiro for corretamente conduzido, a produção de óleo ocorre no final do terceiro ano, com uma colheita de 6 a 8 toneladas de cachos, por hectare. A palmeira atinge seu pique máximo no oitavo ano, quando chega a produzir 25 toneladas de cacho, por hectare, permanecendo nesse nível até o 17º ano e declinando, um pouco, até o final de sua vida útil produtiva, que tem lugar por volta de 25 anos. Segundo Câmara Cascudo (1954), o primeiro registro encontrado, sobre o dendezeiro, refere-se às informações do português Duarte Lopez, na obra Relação do Reino de Congo e das terras circunvizinhas (Roma, 120 1591). Nela, pode-se ler: o azeite faz-se da polpa do fruto... e usam-no como o azeite e a manteiga; e arde, e com ele se untam os corpos; e é boníssimo na comida. Quem tinha a tradição do azeite era o português recebida do mouro, valorizador da azeitona, plantador de olivais. Quando o português enfrentou África levava quinhentos anos, mínimos, de óleo de oliva nos usos e costumes. Nos candomblés da Bahia, de acordo com aquele folclorista, o dendê representa o fetiche do Orixá Ifá, para desvendar o futuro. Indispensável na culinária afrobrasileira, o azeite de dendê era um ornamento muito disputado pelo intercâmbio comercial. O enfeite, por sua vez, com ou sem função mágica, foi o mais longínquo objeto negociável no Paleolítico. O pesquisador ressalta, também, um texto de Hildegardes Viana (A cozinha bahiana, Bahia, 1955): O azeite fino e limpo é chamado de flor e o que fica na borra bamba. A palha posta a secar ao sol fornece o oguxó (bagaço para fazer fogo). Da amêndoa do coco dendê extrai-se o xoxô utilizado pelos pretos como amaciador de cabelos e lustrador de peles fouveiras (canelas fubentas). A produção de óleo de dendê deve ser iniciada logo após sua colheita, constando das seguintes etapas: 1. esterilização - utilizada para inativar as enzimas que provocam a acidez no azeite, e 121 facilitar o desprendimento dos frutos dos cachos; 2. debulha - destinada a separar os frutos do cacho; 3. digestão – quebra-se a estrutura das células da polpa para facilitar a prensagem e a liberação do óleo; 4. prensagem - a massa saída do digestor é submetida à prensagem, para separar o óleo da mistura composta por fibras e sementes. O óleo extraído da polpa do fruto é denominado óleo de palma bruto. Aquela mistura passa por um desfibrador e, as fibras e sementes, são separadas por meio de ventilação. As fibras são utilizadas nas caldeiras, como combustíveis e, as sementes, são transportadas para os secadores. Após a secagem, elas vão para as quebradores de coco, que separam as cascas das sementes, e encaminham estas últimas para a prensa. Através da prensagem das amêndoas é extraído o óleo de palmiste. O fruto do dendezeiro é tão rico que o resíduo restante, da última prensagem, contém de 14% a 18% de proteína, sendo utilizado, inclusive, como um dos componentes na fabricação de ração animal. O azeite de dendê possui uma coloração amarelo avermelhada e um sabor adocicado. Apresenta alguns elementos antioxidantes e um elevado teor de carotenóides (importante fonte de vitamina A), estando o seu uso associado a substâncias anticancerígenas. No Brasil, os dendezeiros ocupam cerca de 40 mil hectares e, grande parte deles, está localizada na Região Amazônica. No presente, a cultura do dendê é uma das atividades agroindustriais mais relevantes das regiões tropicais úmidas. Ao mesmo tempo, é uma cultura que 122 possui um forte apelo ecológico: apresenta baixos níveis de agressão ambiental, adapta-se bem aos solos pobres, protege o solo da lixiviação e da erosão, e “imita” a floresta tropical. Tal cultura possui grande potencial para absorver o gás carbônico, perdendo, somente, para o eucalipto. Além do mais, auxilia a restauração do balanço hídrico e climatológico, contribui de forma expressiva para a reciclagem e liberação de O2, e combate a elevação excessiva das temperaturas médias da Terra. O popular azeite de dendê é um dos ingredientes principais da cozinha afrobrasileira. Na Bahia, a população consome vários pratos deliciosos feitos com esse azeite: acarajé (bolinhos de feijão fradinho, pisados no pilão e fritos em azeite de dendê); caruru (comida feita com quiabo picado, camarão, frango e azeite de dendê); omalá (prato preferido de Orixá Xangô, semelhante ao caruru, elaborado com quiabo e azeite de dendê e servido com pirão de arroz); bobó (prato principal dos Voduns, à base de aipim, azeite de dendê e camarões); ipetê (prato predileto de Oxum, elaborado com inhame cozido, azeite de dendê e camarões secos); omolocum (iguaria preparada em homenagem a Oxum, à base de feijão fradinho, azeite de dendê, camarões e ovos). Além desses, são preparados, também, vatapás, muquecas, era peterê, farofas, entre outros pratos. Algumas comidas de santo (iguarias especiais do cardápio votivo dos Deuses africanos) são preparadas pelas filhas de santo, dentro do rigor dos cultos, e sempre contêm azeite de dendê. Este azeite ainda é 123 empregado nas liturgias dos Orixás, Voduns, Inquices e Encantados. Do dendezeiro, tudo se aproveita. Os talos são utilizados no artesanato e nas práticas dos cultos, através da confecção dos xaxarás (insígnias de Omolu que as filhas de santo seguram nas mãos enquanto dançam nos candomblés); e suas palhas são desfiadas e usadas para fazer mariôs, utensílios colocados em portas e janelas de santuários, e nos salões de dança dos terreiros, como proteção contra malefícios. O azeite de dendê está em situação de destaque no mercado mundial de óleos, e sua produção ocupa, atualmente, o 2º lugar, atrás, apenas, do óleo de soja. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para a Amazônia Oriental anunciou, um investimento de 60 milhões de reais, para a formação técnica de trabalhadores das fábricas de óleo de dendê, e em infraestrutura, e para a produção das sementes, geneticamente, melhoradas no país. A Petrobras Biocombustível, por sua vez, explicou que a estatal pretende desenvolver dois projetos diferentes dentro do programa de biocombustíveis. O Projeto Pará, que prevê a produção de 120 mil toneladas de biodiesel ao ano, e será destinado a abastecer a Região Norte do país; e o Projeto Belém, desenvolvido, em partes iguais, com a companhia portuguesa Galp, voltado para a exportação. O Projeto Belém, no Pará, prevê a construção de uma fábrica (investimento de US$ 315 milhões), e de uma unidade industrial, em Portugal, (investimento de 124 US$ 263 milhões) para a produção de 300 mil toneladas de biodiesel ao ano. O objetivo é atender ao mercado europeu e aumentar, no exterior, a produção brasileira de energia. 125 126 FOLCLORE NORDESTINO 127 A palavra folclore (folk-lore) foi criada pelo arqueólogo inglês William John Thoms. Ele usou o vocábulo no dia 22 de agosto de 1846, pela primeira vez, em uma carta publicada no jornal The Athenaeum, de Londres. Através da referida denominação, Thoms pretendeu englobar os estudos que vinham sendo chamados Antiguidades Populares, Tradições Populares e Literatura Popular, e que possuíam, como principais características, a popularidade, a oralidade, o anonimato e a antiguidade. Com o passar dos anos, o domínio do folk-lore foi se ampliando e, atualmente, o conceito compreende o estudo da cultura espontânea da sociedade, ou seja, tudo aquilo que as pessoas dizem, sentem e fazem. O estudo do folclore se tornou uma ciência sociocultural, por assim dizer. Essa ciência objetiva dar conta dos mitos, superstições, contos, fábulas, poesias populares, provérbios, culinária, arte, literatura popular, música, jogos e brincadeiras infantis, danças, entre tantos outros, ainda que seus elementos não sejam mais anônimos e/ ou orais (como, por exemplo, a literatura de cordel). Independentemente do grau de civilização, de cultura, de capacidade, de ingenuidade, ou, até mesmo, de barbárie, todas as sociedades desenvolvem hábitos e costumes próprios sobre o mundo e as coisas, em outras palavras, possuem uma alma coletiva, algum tipo de sabedoria popular. Essa alma, projetada nas manifestações culturais, representa um elo entre o microcosmo e o macrocosmo, exprimindo, tanto as especificidades individuais, quanto o material herdado 128 pelo indivíduo através de sua família, prole, bando, ou sociedade. Neste sentido, engloba aspectos psíquicos, históricos e antropológicos. As manifestações culturais podem ser conservadas em seu formato original, mantendo-se inalteradas, através dos tempos, ou podem ser modificadas, renovadas e, até, abandonadas, desaparecendo para sempre. No Brasil, os estudos sobre o folclore só atingiram um nível científico em 1913, quando o linguista e historiador João Ribeiro realizou o Curso de Folclore, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. O folclore passou a representar, então, uma área de suma relevância da antropologia cultural e, o dia 22 de agosto, mediante um decreto de 1965, ficou instituído como o Dia do Folclore. O Nordeste brasileiro - região produtora de açúcar - sofreu a influência marcante de outras culturas, como a portuguesa, a holandesa, a africana e a indígena. Os nordestinos criaram hábitos e costumes sui generis, fruto da miscigenação de três populações principais: a europeia (os colonizadores, os holandeses, e demais imigrantes), a africana (os negros escravos) e a ameríndia (a população indígena local). Tais raças geraram o povo nordestino e todas as suas principais raízes culturais. Foram misturas de etnias, de cozinhas, de línguas, de alimentação, e de costumes. São de procedência africana, por exemplo, os termos populares: banguela, calouro, mulambo, cachimbo, cacimba, caçamba, birimbau, capanga, banzo, mandinga, lundu, calunga, fulo, quitanda, quitute, moleque, maxixe, quenga, tanga, malagueta, cachaça, 129 macumba, candomblé, balangandãs, e tantos outros. De contribuição indígena, encontram-se as seguintes palavras: coivara, taboca, jirau, tipoia, urupema, beiju, samburá, caipora, cunhã, capoeira, cumbuca, puçá, pixaim, jururu, biboca, paçoca, catapora, jererê, toca, panema, curumim, pamonha, inhaca, tapera, pipoca, tapioca, cipó, surucucu, baiacu, caipira, pindaíba, sabiá, caititu, peroba, guabiru, perereca, carnaúba, gambá. 130 É bem comum a associação de praias, jangadas, pescadores, coqueiros, mandacarus, cangaço, e/ou carros-de-boi, à Região Nordeste. Nesta Região de belezas paradisíacas, é possível se apreciar os exóticos coqueiros de coco verde, balançando ao vento, bem como os coqueiros nativos de buriti e de carnaúba, onde correm as águas do rio São Francisco. É possível se perceber uma identidade sui generis, incrustada nos sotaques, cheiros, cores, temperos, receitas, e escolhas devocionais. O folclore regional apresenta-se rico e abrangente, dele fazendo parte o artesanato, as superstições e as crendices, os folguedos, a linguagem popular, os cultos, a literatura de cordel, a culinária, os brinquedos, as artes e técnicas, as festas, as adivinhações, os pregões e os remédios, entre tantos outros elementos. Em se tratando de representações populares, no carnaval de Pernambuco podem ser apreciados maracatus, caboclinhos, pastoris, La Ursas, clubes de frevo e blocos de carnaval. O pastoril, um dos importantes folguedos do Nordeste, costuma se apresentar no período de 23 de dezembro a 6 de janeiro, e, dele, constam bailados, danças, cantos, diálogos e recitativos, em louvor ao nascimento de Jesus Cristo, com duas alas de pastoras: o cordão azul e o cordão encarnado. Sempre dançando, elas cantam: Boa-noite, meus senhores todos, Boa-noite, senhoras também; Somos pastoras, Pastorinhas belas, Que alegremente Vamos a Belém... 131 Tudo indica que o pastoril foi introduzido, no século XVI, pelos missionários portugueses. No passado, o folguedo era representado junto às igrejas, para distrair as pessoas que aguardavam a Missa do Galo. No presente, porém, as pastorinhas dançam ao som de um conjunto de pau e corda, em palcos e praças públicas. Esse acompanhamento musical, em certos Estados, inclui, também, a presença de sanfonas, violões e instrumentos de sopro e percussão. Outro importante folguedo é o maracatu, criado pelos escravos africanos. Eles buscavam manter, para si, não, somente, os preceitos religiosos, mas, o próprio rigor da nobreza. Sendo assim, introduziram uma forma irônica de resistência cultural às relações de poder entre senhores, escravos e os acessórios da realeza europeia. É importante lembrar que, no Recife, o estabelecimento do Reinado do Congo ocorreu em 1674, na igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Nesta igreja, precisamente, foram realizadas eleições entre os próprios escravos, a fim de escolherem quem representaria o rei e a rainha do maracatu. Na cidade do Recife, os maracatus mais antigos são conhecidos como Maracatu de Baque Virado ou Maracatu Nação, e nasceram da tradição do rei do Congo, implantada, no país, pelos colonizadores portugueses. Seus participantes exibem estandartes exuberantes, e bordados com fios dourados sobre veludo e cetim. A nobreza exibe cetros, coroas, espadas e capas; as damas da corte carregam calungas bonecos de origem religiosa, remanescentes dos cultos 132 fetichistas - e todos desfilam ao som de instrumentos de percussão. O maracatu mais antigo data de 1711, e é originário de Olinda. Somente após a Abolição da Escravatura, o folguedo passou a integrar o ciclo carnavalesco, resumindo-se a desfiles da corte real negra e obedecendo ao estilo das procissões católicas. No carnaval recifense desfilam alguns maracatus tradicionais, entre os seguintes: Nação Pernambuco, Elefante, Leão Coroado, Estrela Brilhante, Nações Sol Nascente, Gato Preto, Encanto da Alegria, Nação Luanda, Porto Rico, Cabinda Estrela, Cabinda Brasileira e Axé da Lua. Os maracatus rurais, apesar de serem considerados folguedos de segunda categoria, desfilam homenageando os seus Orixás, e se destacam pelas cores, beleza, e movimentos. Oriundos dos municípios da zona canavieira de Pernambuco, tais maracatus possuem uma presença muito marcante, ao desfilar com seus lanceiros (ou caboclos de lança), tuxaus, baianas, tirador de loas e orquestra. O município de Nazaré da Mata possui dezessete grupos de maracatus rurais e congrega o maior encontro de maracatus de todo o Estado. Os denominados caboclinhos, cabocolinhos, ou caboclos, representam um folguedo de origem indígena, uma espécie de reisado. Com bailados mímicos, eles se apresentam durante os carnavais de Pernambuco, da Paraíba, de Alagoas e do Ceará, e têm sua origem nas danças executadas por crianças e adolescentes tupinambás, do sexo masculino. Foi através desses 133 bailados que, no século XVI, os missionários portugueses conseguiram ganhar a confiança dos índios e, em especial, do segmento mais jovem das populações indígenas. O fato está registrado na obra Tratado da terra e gente do Brasil, escrita pelo Padre Fernão Cardim, em 1584. No carnaval, os caboclinhos (filhos de caboclos ou descendentes de índios) são representados por meninos e adolescentes, de dez a quinze anos de idade, com os corpos pintados com ocre, usando tangas, cocares, braceletes de penas de peru, brincos feitos de conchas, dentes ou sementes, colares, machadinha, arco e flecha e cocares de penas. Eles se apresentam em grupos de, no máximo, vinte participantes. É o caboclo velho - um adulto considerado rei ou mestre - quem os comanda. Em movimentos sincronizados, os brincantes acionam arcos e flechas de madeira, e dançam ao som de instrumentos indígenas: maracás, recorrecos e pífanos. No Rio Grande do Norte, porém, os caboclinhos são bem diferentes: não usam penas no vestuário, não utilizam arco e flecha como instrumento de guerra, mas, para dar ritmo às danças, não restringem as apresentações ao período do carnaval, e apresentam maior vibração e alegria em suas performances. Uma das representações folclóricas nordestinas mais importantes é o bumba-meu-boi. Tudo leva a crer que esse folguedo foi introduzido, no século XVI, no período do ciclo econômico do gado. Segundo os estudiosos, apesar de não possuir origem africana, é um espetáculo integrado por negros. Nele, percebe-se seu conformismo com a inferioridade social, sua condição de subalternidade, que é transformada em comicidade. 134 No que se refere às danças folclóricas nordestinas, o coco de roda se destaca. Trata-se de uma dança mestiça surgida em Alagoas, nos tempos coloniais. Nela, duas raças de escravos - africanos e índios se misturam. O ritmo do coco é dado por zabumbas, pandeiros e tamborins. As mãos, contudo, representam o mais importante instrumento musical. O coco de roda era a dança preferida por Lampião e demais cangaceiros. Por essa razão, a música registrada a seguir ficou tão popularizada: É Lampe, é Lampe, é Lampe, é Lampe, é Lampe, é Lampião, seu nome é Virgulino e o apelido é Lampião. 135 Advinda do período do Brasil Colônia, o reisado é uma dança popular de origem portuguesa, profana e religiosa, festejada na véspera e no Dia de Reis. No período de 24 de dezembro a 6 de janeiro, os participantes vão de porta em porta, fazendo louvações nas casas e anunciando a chegada do Messias. Tudo isso, ao som de músicas tocadas por sanfonas, ganzás, pandeiros, zabumbas e triângulos. No desenrolar do folguedo, observam-se as seguintes etapas: 1) a reunião dos brincantes; 2) a chegada às casas; 3) o pedido de abertura de portas; 4) o ato religioso diante das lapinhas ou presépios, quando são rezados e cantados alguns textos rimados; 5) o regresso dos figurantes para o lado de fora das casas; e 6) a morte e a ressurreição do boi; e 7) a despedida. Alguns figurantes do reisado são encontrados, também, no bumba-meu-boi: o Rei, a Rainha, o Mateus, o Mestre e o Contramestre, o Governador, o Palhaço, o Índio Peri, a Sereia, e certos personagens de aspecto fantasmal. Em Alagoas, os participantes se apresentam com chapéus bordados e enfeitados com estrelas, além de fitas douradas e pequenos espelhos, que funcionam como amuletos para espantar o mau olhado. Representando, uma dança e uma espécie de luta, ao mesmo tempo, a capoeira surgiu no Nordeste, introduzida por escravos africanos. Ela se difundiu, depressa, em Salvador e, um pouco, no Recife e no Rio de Janeiro. A capoeira é executada ao som de pandeiros, cantos, palmas e, especialmente, do toque do berimbau. Originário da África, este instrumento compõe-se de um arco de madeira, com cerca de um 136 metro e meio de comprimento, uma corda de arame, uma caixa de ressonância (feita com uma cabaça cortada e amarrada com cordão), uma cesta com sementes de caxixi, uma vara pequena de madeira para percutir a corda, e uma moeda pesada. Depois de elaborado um semicírculo, duas pessoas entram no meio dele e iniciam os gingados, maneios de corpo, rasteiras, golpes e contragolpes rápidos. Há que se ter cuidado, entretanto, porque certos golpes de capoeira são capazes de matar. Dentre as principais festas nordestinas, destacase a de São João. No mês de junho, todos dançam o forró, uma dança de pares, muito animada, cuja música foi consagrada pela dupla de compositores Luiz Gonzaga e José Dantas. Durante as festividades do ciclo junino, as pessoas costumam vestir “roupas de matuto”: roupas simples, bem coloridas, confeccionadas com tecidos de chita (pouco dispendiosa). As mulheres se enfeitam com grandes tranças nos cabelos, presas por laços de fita e usam chapéu de palha. Além disso, vestem saias largas, cheias de babados e calçam sapatos (com meias). Os homens pintam bigodes e cavanhaques, com carvão, trazem um cachimbo na boca, como se estivessem fumando, vestem calças remendadas, camisas coloridas, e colocam um chapéu de palha na cabeça. As festas juninas se concentram em torno de três datas principais: no dia 13 de junho comemora-se a festa de Santo Antônio; no dia 24 de junho é a festa de São João; e, no dia 29 de junho, tem-se a festa de São Pedro. O sentido religioso da festa junina, da mesma forma que as demais comemorações de origem pagãs, 137 foi introduzido pela Igreja Católica, no período do Brasil Colônia. A festa de São João tem seu início na noite do dia 23 de junho. Nesse dia, veem-se as ruas enfeitadas com bandeirinhas coloridas, fogueiras acesas, a presença de comidas à base de milho (canjica, pamonha e munguzá) e/ou de massa de mandioca (bolo Souza Leão, bolo de macaxeira e pé de moleque), sendo o tempo de soltar balões e queimar fogos de artifício. Uma das danças típicas de São João é a quadrilha: uma dança de salão dos nobres franceses, que empolgou as cortes europeias dos séculos XVIII e XIX e, chegou ao país, mediante a bagagem lusa. Posteriormente, difundiu-se pelas províncias, tendo se fixado nas regiões rurais. No presente, essa dança de pares possui um marcador que, através de comandos, em um linguajar que, ora mistura o francês, com palavreados matutos e, ora utiliza palavras em francês, em português, ou em ambas as línguas, dirige toda a performance. Os comandos são os seguintes: anarriê (em francês, en arrièrre) - os pares devem retornar aos seus lugares e os cavalheiros devem ficar à frente das damas; olha a chuva; traverser de cavalheiros; balancer na grande roda (dançar na grande roda); traverser de damas; alavantú (em francês, en avant, tout) os pares devem se dirigir ao centro da quadrilha, de mãos dadas, e formar uma grande fila; autre fois (de novo); preparar para o túnel; balancer (dançar no lugar); changer de damme (trocar de dama); retourner aos seus lugares (voltar aos seus lugares); preparar para o galope; retirer (ir embora); e c’est fini (acabou). Na quadrilha, também é encenado o casamento 138 matuto. Um homem é preso porque engravidou sua namorada e tenta (em vão) fugir das obrigações matrimoniais. Sob a ameaça de uma arma de fogo, um policial leva o homem como prisioneiro, obrigando-o a se casar. Com um longo sermão, o padre celebra o casamento e abençoa os noivos. As pessoas assistem ao espetáculo fazendo uma grande roda em volta dos participantes. O forró é outra dança (de pares) típica do ciclo junino. Há quem afirme que a palavra forró teve sua origem em 1872, durante a presença inglesa, na Região Nordeste, em especial da Great Western of Brazil Railway Company Limited, uma empresa pertencente a capitalistas ingleses, encarregada de construir e explorar as estradas de ferro (em direção ao agreste nordestino), e cuja concessão finalizou em 1975. Na época, objetivando comemorar a inauguração de sua primeira estrada de ferro, aquela Companhia promoveu um baile, animado por sanfonas e zabumbas, difundindo-o através de um cartaz onde se lia: for all (que significa, em inglês, para todos). Acredita-se que, a partir daí, as pessoas começaram a chamar aquela dança de foróu, e o termo findou se transformando na palavra forró. Durante todo o mês de junho, há festejos nas cidades de Campina Grande (na Paraíba) e Caruaru (em Pernambuco). Esses dois municípios competem pelo título de “Capital do Forró”. Uma das grandes atrações turísticas da festa de São João é o Trem do Forró. Durante o período junino, esse Trem sai da Praça do Marco Zero, no bairro do Recife, em direção ao Cabo de Santo Agostinho, e faz 139 um percurso de quarenta e dois quilômetros. Trazendo conjuntos musicais, em seus vagões, o trajeto é todo animado por sanfonas, zabumbas e triângulos, e as pessoas que se encontram nas estações ferroviárias se aglomeram para saudar os passageiros. Os participantes do Trem do Forró dançam e cantam durante todo o percurso da viagem. Em Caruaru, uma grande atração popular de São João é a Caminhada do Forró. Trata-se de uma procissão dançante e cantante, que sai do Pátio de Eventos, no dia 9 de junho, e tem como destino final o Alto do Moura, localidade onde viveu o Mestre Vitalino. O objetivo da caminhada de quinze quilômetros é a degustação do “Maior Cuscuz do Mundo”, oferecido aos brincantes, gratuitamente, no fim do percurso. O cuscuz é cozido em uma enorme cuscuzeira, com capacidade para trezentos quilos de massa, e mede 3,3 metros de altura por 1,5 metros de diâmetro, sendo feito com os seguintes ingredientes: 300 quilos de massa de flocos de milho, 20 quilos de farinha de mandioca, 5 quilos de sal e 10 quilos de margarina. A iguaria é servida com leite de cabra e carne ensopada de bode. Em sua edição de 1997, o Guiness Book publicou, em destaque, o “Maior Cuscuz do Mundo”. Segundo os registros, em 1995, Caruaru preparou um cuscuz que pesou seiscentos quilos. De origem europeia, o carnaval é a maior de todas as festas. No Recife Antigo e em Olinda, e em grande parte das capitais nordestinas, dança-se o frevo. No Centro do Recife, na véspera do carnaval oficial (no sábado) sai o maior bloco do mundo: o Galo da Madrugada. Esse bloco arrasta mais de um milhão 140 de pessoas: sai do Forte das Cinco Pontas, passa pela Avenida Dantas Barreto e finaliza na Avenida Guararapes. Do seu cortejo, fazem parte muitas embarcações, que desfilam pelo rio Capibaribe. No carnaval em Salvador, a multidão acompanha os trios elétricos vestida com abadás, e ao som de música axé. Alguns municípios do Nordeste comemoram, inclusive, um segundo carnaval, fora de época. No Recife, ele é chamado Recifolia; e, em Campina Grande, é denominado Micarande. O carnaval fora de época incrementa o turismo, gera empregos e ativa o mercado de trabalho. Várias manifestações folclóricas são encontradas na Medicina Popular. Em primeiro lugar, destacam-se as benzeduras, que utilizam rezas ou orações feitas por mulheres e homens considerados rezadores, benzedores, e curadores. Há preces específicas para estancar o sangue, separar o sangue puro do impuro, estancar hemorragia uterina, combater espinhela caída, curar dor de dente, queimaduras de fogo, dores nas costas, cobreiro e engasgo. Em caso de erisipela, são feitas benzeduras em forma de cruzes, com ramos de manjericão, vassourinha, ou arruda. Para se curar o cobreiro, basta cercá-lo com pequenas cruzes, feitas com tinta preta, e proferir uma determinada oração. Para combater a tosse, causada pela coqueluche, utiliza-se um lambedor preparado à base de leite de jumenta, xarope de caroço de algodão e casca de juazeiro. Em caso de sarampo, aconselha-se beber chá de sabugueiro puro. Nos meios rurais mais incultos, as pessoas utilizam um chá que é feito das fezes (ressequidas) de cachorro. O reumatismo é tratado com uma canja insossa de carne 141 fresca de raposa, banha morna de cágado, e carne e banha de cobra cascavel (em particular, essa banha deve ser ingerida em pequenas porções, duas a três vezes ao dia, e aplicada à noite, como unguento, sobre as partes afetadas). As hemorragias são combatidas com aplicações tópicas de esterco de vaca, cavalo, burro e jumento. 142 No tocante ao cangaço, cabe ressaltar que, de figuras históricas que, por décadas, aterrorizaram os Estados nordestinos, os cangaceiros se transformaram em figuras folclóricas. Lampião e Maria Bonita estão presentes na música ( xaxado, coco e forró), na literatura de cordel, no cinema, no teatro, no vestuário (roupas e utensílios de couro) e no artesanato nordestino (através de bonecos de barro, de um modo geral). O Nordeste possui uma culinária rica e variada. Neste laboratório de receitas, processos e sabores, onde o sal do mar e o sol forte do sertão dão um sabor peculiar aos alimentos, destacam-se os seguintes pratos: peixada, sirizada, quiabada, moqueca de peixe, pirão de peixe, casquinho de caranguejo, sururu ao coco, fritada de aratu, buchada de bode (bucho recheado), e galinha de cabidela. Nas zonas rurais, come-se tanajuras fritas: uma espécie de formiga que tem a parte posterior do corpo muito protuberante, e é considerada um petisco especial e saboroso. E, nas ruas, encontramse ambulantes que vendem munguzá, cuscuz, milho cozido, pamonha, canjica, dentro de carrinhos contendo panelões, bem como pessoas que vendem cavaquinho, rolete e caldo de cana, pipocas doce e salgada, rapadura, tapioca, cocada e algodão doce. Também nas ruas, em Salvador, a herança africana da cozinha baiana merece ser ressaltada: mulheres negras, com roupas típicas e grandes tabuleiros, mantêm suas famílias vendendo abarás cozidos em folhas de bananeira, e acarajés fritos no azeite de dendê, servidos com muito molho de pimentas, camarão seco, vatapá e caruru. 143 A cozinha pernambucana, por sua vez, contém comidas deliciosas, tais como buchada de bode, dobradinha, rabada, cabrito assado e guisado, galinha à cabidela, paçoca (feita com charque e farinha de mandioca), guaiamunzada com pirão, pratos à base de milho (canjica, pamonha, bolo de milho, angu, munguzá, milhos cozido e assado), tapiocas (molhadas, de coco e de queijo coalho), caldinhos de feijão, de peixe e de camarão, e grande variedade de sucos, sorvetes e doces de frutas regionais: pitanga, acerola, caju, goiaba, siriguela, cajá, graviola, mangaba, carambola, mamão, coco, pinha, sapoti, maracujá e manga. Já no Maranhão encontram-se os seguintes pratos típicos: arroz de cuxá, frigideiras de camarão, doces de buriti, bacuri, cupuaçu e murici. Nesse Estado, quase todos os pratos usam o camarão. No Piauí, encontramse peixes fritos em óleo de babaçu, paçoca (feita de carne de sol assada, socada no pilão, misturada com farinha e cebolinha branca), e cafofa (uma fritura de intestinos de animais). Em Alagoas, além de inúmeras iguarias, destaca-se o saboroso feijão de coco. E, no Ceará, o baião de dois (feijão mulatinho, arroz e queijo de coalho, cozidos juntos na mesma panela) possui a mesma popularizade que, o acarajé, para os baianos. No Nordeste, pode-se saborear uma série de doces que são transmitidos, oralmente, de geração a geração, e vendidos em feiras e mercados públicos, tais como doces de umbu, araçá, mamão verde, jerimum, goiaba, jaca, banana em rodelinhas, cajuadas, goiabadas, além do tradicional bolo de rolo, uma herança 144 portuguesa, (camadas de bolo recheadas com goiabada derretida, doce de leite ou chocolate), bolinhos de goma e bolos de bacia. Nas praias, entre outras iguarias, encontram-se: água de coco, passa de caju, peixe frito, camarão cozido, casquinho de caranguejo, espetos de queijo coalho e de carnes (assados em um braseiro que os vendedores ambulantes transportam). 145 O artesanato nordestino apresenta-se criativo e diversificado, dele fazendo parte redes, talhas e esculturas em madeira, rendas, vários tipos de cerâmica (utilitária, decorativa e lúdica), cestarias, xilogravuras (gravadas em papel, em azulejos, em camisas), trabalhos em fibra, couro, pedras, mariscos, chifres, zinco, sementes, grãos e sucatas diversas. A arte de tecer rendas é uma herança que os colonizadores europeus deixaram no país. Surgiu, então, a figura da mulher rendeira: uma atividade desenvolvida por mulheres, em âmbito doméstico, e que representa uma fonte de renda para a população feminina. As noivas apreciam muito as rendas e costumam encomendá-las para seus enxovais; e, os padres, usam-nas em seus paramentos. Há rendas elaboradas com vários tipos de pontos: caroço de arroz, meia lua, flor de goiabeira, traça, caracol, margarida e bico de pato. O folclore nordestino conta com a presença de poetas populares e trovadores. Nas feiras e mercados públicos, encontram-se poesias que vêm sendo publicadas sob a forma de literatura de cordel. Os folhetos (reproduzidos em oficinas tipográficas) contêm, nas capas, xilogravuras elaboradas por vários artistas. É importante destacar alguns poetas populares do Nordeste, os reais profetas de versos, tais como Catullo da Paixão Cearense (conhecido, inclusive, no exterior do país); Leandro Gomes de Barros (um dos principais expoentes da arte cordelística); Antônio Gonçalves da Silva (apelidado Patativa do Assaré, que nasceu e viveu no município de Assaré, no Ceará); José Saturnino 146 dos Santos (um pernambucano, chamado Andorinha); os paraibanos Leandro Gomes de Barros (apelidado Pombal), Sebastião Marinho, Pedro Bandeira (o Príncipe dos Poetas do Nordeste) e Zé Limeira, oriundo de Taperoá. Seguem, abaixo, alguns versos produzidos por eles: Do cordel para o repente, É diferente o traçado, Porque o cordel é escrito, E o repente é improvisado, O cordel tem de ser lido, E o repente cantado. (Andorinha) Repentista respeitado, Narra, canta e profetiza, Gera mito, cria lei, Forma lenda e faz pesquisa, Cantador faz tudo isso, Inda canta e improvisa. (Sebastião Marinho) O nordestino é quem bota, Esse São Paulo pra frente, Fez de Maluf prefeito, De Itamar presidente, Inda tem cabra safado, Que marginaliza a gente. Vamos chegar a 2000, 147 Com muitos descamisados, Na farsa dos presidentes, Na gula dos deputados, Nosso Brasil inda vive, De pés e mãos amarrados. (Pedro Bandeira) 148 De fabricação doméstica, outro elemento folclórico é o pirulito, um doce feito à base de açúcar, em forma de cone, que é enrolado em papel de embrulho, para não grudar nas mãos das pessoas. Para transportar os pirulitos, os vendedores utilizam um cabo de vassoura, em cuja extremidade pregam uma pequena tábua de pinho, cheia de buracos e, neles, encaixam os pirulitos. O ambulante apóia o cabo de vassoura no ombro e circula pelas ruas, emitindo sons advindos de um apito de madeira, que é o chamariz para avisar a todos que os pirulitos estão à venda. 149 Do caldo étnico que integra o folclore nordestino, fazem parte, ainda, cantadores de violas, amoladores de facas, de tesouras e alicates de unha, vendedores de algodão doce, cavaquinho, vassoura, cuscuz, colher de pau, “japonês” (um tipo de doce de coco com açúcar, mais mole que a cocada) e “raspa raspa” (uma espécie de sorvete, vendido a retalho), enfim, todas aquelas pessoas que, na luta diária pela sobrevivência, propagam hábitos e tradições locais, e preservam, sem qualquer intenção, as idiossincrasias da cultura popular regional. 150 IARA 151 Analisando-se a história da humanidade, é possível perceber que a figura da mulher peixe vem sendo bastante utilizada. Na Antiguidade, esse mito se apresentava com o corpo de pássaro, e com busto e rosto de mulher. Estava sempre associado, também, às divindades da morte e ao culto dos mortos, o que pode ser evidenciado por intermédio das estátuas de sereias presentes nos sepulcros. Com o passar do tempo, sua forma se transformou e a metade pássaro foi substituída por uma cauda de peixe. Atualmente, as sereias são chamadas de mermaid, na Dinamarca; sirena, na Espanha; loreley, na Alemanha; e nereidas, na Grécia. A mulher peixe chegou ao país, depois do Descobrimento, através dos colonizadores europeus. Estes, além da presença física, da língua e dos hábitos, trouxeram, ainda, os seus valores, mitos, lendas e superstições. Neste sentido, a herança cultural europeia misturou-se com as culturas indígenas e africanas, conhecimentos e valores foram permutados, e surgiu, através do sincretismo, um amálgama sui generis. Na Região Norte, em particular, a permanente interação com rios e igarapés, por parte dos caboclos, deu origem a várias lendas que evidenciam elementos representativos da vida e da morte. E a iara, uma das mais belas figuras aquáticas, é uma delas. Para os índios, iara significa senhora das águas ou ninfa das águas. Também é chamada de uyára e, em tupi, de uauyára, representando uma figura de dupla imagem, que pode ser, tanto feminina, quanto masculina. De acordo com os nortistas, ela habita nos rios e em seus afluentes, mas, só aparece diante de 152 homens solteiros, ou daqueles que estão prestes a se casar. Sendo metade peixe e metade mulher, ela pode ser observada penteando os cabelos, cantando ou, simplesmente, conversando com algum homem que passa. O pretenso parceiro, como se estivesse sob efeito hipnótico, é levado para as águas profundas, logo morrendo afogado. De acordo com pesquisadores, a iara representa a simbiose encantada de uma mulher tentadora: possui um bonito rosto europeu, com cabelos louros e traços delicados, uma cauda de peixe sempre submersa, com escamas de várias cores, e uma voz maravilhosa. Através do seu canto, ela exerce uma atração irresistível junto aos homens, conseguindo arrastá-los para o fundo das águas. Tal figura mitológica foi difundida no país, após o século XVII. Outros estudiosos creditam a lenda da iara às leituras que os colonizadores lusos empreenderam dos autores clássicos, a exemplo de Virgílio (Eneida), de Heródoto (Epítetos) e de Homero (Ilíada e Odisséia). Em seus trabalhos, todos eles se referiram à figura sedutora e fatal daquele mito, ora sob forma de mulher, de ave, ora sob forma de anfíbio. Desse modo, os portugueses absorveram as lendas marítimas e repassaram-nas à população brasileira. É provável, então, que exista um elo entre a iara brasileira e as sereias, que foram ressaltadas pelos autores clássicos. É importante lembrar que o poeta Luís de Camões, no século XVI, em Os Lusíadas, mencionou, diversas vezes, a presença de sereias na rota das navegações. E os tesouros e palácios, ofertados pela iara, vêm corroborar com a forte presença de 153 uma cultura importada - a europeia - uma vez que os indígenas (excetuando-se aqueles que não absorveram os elementos culturais dos colonizadores) jamais possuíram qualquer referencial de riqueza. Este foi introduzido pelos europeus que aqui vieram. No tocante à iara, de acordo com Câmara Cascudo (1972), houve toda uma contribuição dos escravos negros, destacando-se a Kianda, a sereia africana; a figura poderosa de Osum, o Orixá dos rios, lagos e lagoas da teogonia negra; e a cultuada Iemanjá, que os afro-descendentes reverenciam como a divina Mãe D´água ou Aiocá, deusa das águas, sereia do mar, ou Orixá feminino das águas. Por outro lado, a Iemanjá personaliza a água salgada: tem na concha do mar o seu fetiche, e protege quem vive do mar ou depende de amores. Ela possui muitos amantes, mas, os carrega para o fundo do mar. Também é ciumenta, vingativa e cruel, como todas as égides primitivas. Grande protetora das viagens marítimas e dos pescadores, a Iemanjá passou pelo processo sincrético das deusas marinhas. E, graças ao sincretismo cultural ocorrido no país, ora ela é considerada como Nossa Senhora do Rosário, ora é tida como Nossa Senhora das Candeias. No Norte do Brasil, existem várias lendas referentes à iara. Uma delas ressalta que ela é tão bonita, e possui uma voz tão linda, que enfeitiça todos os homens. Seu canto representa a própria perdição dos pescadores. Quem olhar para a superfície dos rios e vir a iara, de imediato, sentir-se-á atraído por ela, sendo arrastado para o seu palácio de cristais verdes, 154 no fundo das águas, e encontrará a morte, através de núpcias funestas. Outra versão dessa lenda registra a história de uma sereia que vivia no fundo dos rios e igarapés, à sombra das florestas virgens. Certa noite, um índio sonhou com uma bela jovem de cabelos louros, olhos azuis e pele muito branca, que morava em um castelo de cristal, coberto de ouro e safiras, e de onde provinha uma música celestial. Com tantos atrativos, logo caiu de amores pela sereia, principalmente após ter ouvido o seu canto e suas juras de amor eterno. Navegando pelo rio, ele percebeu que, sobre as águas, se formou uma choupana e, em seguida, sorrindo-lhe, surgiu a iara. Apaixonado e enfeitiçado como estava, o índio dirigiuse à choupana, remando com sua canoa. Naquele preciso momento, porém, a sereia o agarrou e, juntos mergulharam para nunca mais voltar. Registra outra lenda corrente que havia um belo índio tapuio, filho de um tuxaua valente e ousado, que vivia sempre triste, apesar de saber manejar a zarabatana com destreza, de brandir o tacape e retesar o arco com mais coragem do que todos, de representar o orgulho da tribo, de ganhar os jogos que celebram as festas, e de os próprios anciãos se curvarem perante ele, em sinal de respeito. Sua mãe lhe perguntou, então, o porquê de tanta tristeza. Ele explicou que tinha visto uma jovem belíssima, com uma voz harmoniosa, lindos olhos verdes e cabelos louros como o ouro, presos por flores de mureré. A jovem lhe estendera os braços, como se quisesse neles se entrelaçar, e, cantando, desaparecera nas águas do igarapé. 155 Ao ouvir os lamentos do índio, a mãe pediulhe, chorando: “Por favor, meu filho, não volte mais ao igarapé. A mulher que você viu, ali, é a iara, o seu sorriso é a morte, não ceda aos seus encantos.” Entretanto, o tapuio não seguiu os conselhos maternos. Ao pôr-dosol, integrantes da tribo viram e ouviram, de longe, uma mulher cantando e, ao seu lado, o vulto de um homem. Quando um índio mais corajoso ousou se aproximar do local, rapidamente, as águas do igarapé se abriram, e, nelas, sereia e tapuio mergulharam. Escusado dizer que o índio jamais retornou à sua aldeia. Outra versão da lenda da iara relata que um rapaz, prestes a se casar, adormeceu perto de um rio. Era noite de lua cheia, havia luz no firmamento, e 156 as matas estavam mais iluminadas do que em noites anteriores. De repente, o rapaz foi despertado por uma voz, que o chamava pelo nome. Sem pensar duas vezes, ele se dirigiu às margens do rio e encostouse em um tronco de ingazeiro. Olhou para as águas, desconfiado, e distinguiu um ponto luminoso no centro delas. Esse ponto se alargou, até alcançar grandes proporções. Ao mesmo tempo, ele sentiu um torpor em todo o corpo, que ameaçava paralisar-lhe os membros. Começou a suar frio, e um grande terror surgiu em seus pensamentos. Apesar de tudo isto, uma força imensa e poderosa o obrigou a se concentrar na parte iluminada das águas. Daí, algo extraordinário ocorreu. A superfície do rio se abriu no centro da área iluminada e, dela, lentamente, emergiu uma jovem deslumbrante, enquanto gotas de água pareciam formar colares de pérolas, com o precioso banho de luz que recebiam. A pele da jovem era da cor dos lírios, os cabelos louros, como reflexos de ouro, os olhos transparentes, como duas pedras de esmeralda, e os lábios eram provocantes. Prometendo delícias e prazeres inesgotáveis, ela caminhou em sua direção, com um olhar diabolicamente sedutor. Estava nua, da cintura para cima, podendo-se ver seus contornos exuberantes, de sedução e voluptuosidade ilimitadas. Os dois se aproximaram, as defesas do rapaz foram se dissipando, e a figura mítica beijoulhe a face. Nessa hora, ele percebeu que os lábios da jovem eram úmidos e frios. Mas, não houve tempo para reagir. Naquele instante, o rapaz escorregou e caiu na 157 água. Antes que afundasse, porém, ele desmaiou. Por sorte, alguém que passava pelo rio, conseguiu tirá-lo das águas. Salvo por milagre, trêmulo e abatido, ele contou a todos: fora a iara, a linda jovem que possuía um irresistível magnetismo e os braços assassinos. Às vezes, dizem que a iara pode se apresentar, também, sob a forma masculina, como no mito do boto que, à noite, se transforma em um homem muito formoso e educado, vestido de branco, e atrai as caboclas para o seu palácio encantado, no fundo das águas, matando-as afogadas. Os nortistas utilizam o mito do boto para arrefecer a ira dos maridos traídos e a dos pais enganados (quando suas mulheres ou filhas engravidam) e creditam a fuga ou o desaparecimento de seus entes queridos ao poder de sedução da iara. Em outras palavras, quando alguém desaparece, quem leva a culpa é sempre a bela sereia. Contudo, o simbolismo mais propagado da iara é o da sedução mortal. No Norte, a crença é tão forte que, ao anoitecer, muitas pessoas não se atrevem a passar perto de rios e igarapés. Para se livrar daquela sedução, dizem as pessoas, é necessário comer muito alho, ou esfregá-lo por todo o corpo. Todas essas lendas, que fazem parte do folclore brasileiro, já serviram de fonte de inspiração para poetas, escritores e artistas, tais como Olavo Bilac, José de Alencar, Afonso Arinos, Melo Moraes Filho, Manuel Santiago e Coelho Neto, que incluíram a iara (e outras) em seus poemas, sonetos, contos e pinturas. É importante deixar registrado, por fim, que os 158 índios brasileiros possuem representações e mitos aquáticos, porém, que, nenhum deles, incorpora as qualidades malignas e fatais da iara. Na verdade, eles sempre procuram algum remédio para combater as maldades, sublimando, inclusive, a própria morte. Em seu imaginário, os rios e igarapés representam uma fonte de sobrevivência e, não, um caminho para a morte. E como não reprimem a própria sexualidade, eles também não sentem necessidade de criar figuras sensuais como a iara. Quando os índios citam a beleza das cunhãs, estão enaltecendo tal qualidade como referência estética e, não, como objeto de libido. A mãe d’água indígena, contrariamente à iara, é uma figura bondosa e importante: como a guardiã dos rios, ela se materializa nas plantas e flores aquáticas, que alimentam todos os seres vivos de água doce. 159 160 IPÊ 161 O ipê é uma árvore do gênero Tecoma, que pertence à família das Bignoniáceas, e pode ser encontrada em seu estado nativo por todo o Brasil. Há muitos séculos, a árvore vem sendo apreciada tanto pela excelente qualidade de sua madeira, quanto por seus efeitos ornamentais, decorativos e, até, medicinais. O ipê costuma ser plantado, também, em parques e jardins. No Norte do país é chamado pau d’arco. A árvore do ipê é alta e, no período de floração, fica totalmente desprovida de folhas: elas dão lugar às flores, que podem ser amarelas como o ouro, brancas ou roxas, e estampam belas manchas coloridas no meio ambiente. O ipê floresce de julho a setembro, e frutifica de setembro a outubro. Após o período da floração, aparecem folhas digitadas, comportando de cinco a sete folíolos. No inverno, ela se apresenta, totalmente, despida de folhas e de flores. Sua madeira é castanho oliva, ou castanho avermelhada, possuindo veios resinosos escuros. Considerada como “madeira de lei”, em outras palavras, resistente, dura, flexível e que suporta bem a umidade, o ipê tem sido utilizado em construções civis e navais (produção de quilhas), em edificação de pontes, na fabricação de postes, dormentes, tacos (de assoalho), vigas, esteios, bengalas, e outros. Segundo as cores de suas flores, ou de sua madeira, os ipês recebem nomes distintos, destacandose os seguintes: 1. ipê amarelo ou ipê comum (tecoma longiflora) - pode atingir vinte e cinco metros de altura, sendo bastante 162 encontrado em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Mato Grosso e em Goiás; 2. ipê branco ou ipê mandioca (tecoma alba) encontrado em Minas Gerais, no Rio de Janeiro e no Paraná; 3. ipê contra a sarna (tecoma impetiginosa); 4. ipê roxo ou ipê rosa (tecoma heptaphylla) - encontrado do Piauí a Minas Gerais, e em São Paulo e Goiás; 5. ipê do brejo (tecoma umbellata) - comum nos alagados e mangues dos rios de Minas Gerais e de São Paulo; 6. ipê tabaco (tecoma insignis) - mais baixo que os demais, e com ramagens abundantes. A casca, a entrecasca e a folha do ipê possuem propriedades medicinais. São utilizadas no tratamento de amidalites, estomatites, infecções renais, dermatites, varizes e certas doenças oftálmicas. Elas combatem, ainda, diarreias, inflamações, infecções, tumores e febres. São usadas, inclusive, como cicatrizantes. Nem todos sabem que, dentre o universo de plantas existentes no país, a flor do ipê foi selecionada, segundo a Lei no. 6507, de 7 de dezembro de 1978, como a Flor do Símbolo Nacional do Brasil. 163 164 LEGENDAS DE CAMINHÕES 165 Ao varar as estradas do Brasil, passando a maior parte de seus dias sozinhos, dentro das cabines dos caminhões, os motoristas sentem o peso que a solidão lhes traz: é a falta da esposa, dos filhos, dos familiares e dos amigos. Em cada trecho de rodovia, e em cada ultrapassagem, o seu futuro é visto como um ponto de interrogação, ou seja, a vida terminar em uma curva perigosa. Ao anoitecer, à distância, os caminhões se transformam em pequenos pontos luminosos, que se movem nas estradas. Talvez para criar uma espécie de identidade própria, ou para expor algumas idéias e chamar a atenção por onde passam, os caminhoneiros gravam legendas nos parachoques dos veículos, difundidoas, ao se deslocarem. As mensagens curtas e de fácil memorização, são desejos, pontos de vista, dúvidas, certezas, carências, enfim, todo o pensamento de uma classe, que é projetado e transmitido de maneira simples e simpática. As legendas atraem, informam e distraem as pessoas. Representando um meio de comunicação estritamente popular, ora se apresentam como um conselho a ser seguido, um alerta geral, ora aparecem como um jogo de palavras rimadas. Algumas revelam o sofrimento, o baixo poder aquisitivo, a privação de suas necessidades básicas. Outras expressam o desejo que os caminhoneiros têm de viver, seus sentimentos em relação à mãe, à esposa, aos filhos e à sogra, em outras palavras, suas filosofias de vida. No entanto, mediante termos e temas regionais, eles utilizam o bom humor 166 para divulgar as legendas, denotando inteligência e desprendimento. De acordo com Mauro Almeida (1963), o caminhoneiro ridiculariza as mulheres de mil maneiras diferentes, os parentescos classicamente malhados, como as sogras, os namoros, as caronas, as viagens, as batidas, os salários e até a sua disposição para o trabalho. Não existe um só tema que não tenha sido objeto de uma apreciação jocosa, de um dito espirituoso. Certas vezes, inclusive, buscam segurança através do misticismo, da fé, da confiança e do respeito máximos a Deus, esperando que Ele possa isentá-los das armadilhas do destino e livrá-los da morte, com Seus poderes supremos. Por fim, cabe salientar que a maior parte das legendas de caminhões, aqui apresentadas, foram anotadas pela autora, durante a sua adolescência, como registros preciosos da memória popular. Quase duas décadas depois, é que surgiu a idéia da elaboração de uma micromonografia sobre o assunto. O trabalho foi publicado, em 1981, na Série Folclore, pelo Centro de Estudos Folclóricos, na Fundação Joaquim Nabuco. 167 Legendas Filosóficas Tem mais tempo aquele que não o perde. Devagar se vai ao longe. Não preciso de conselhos sei errar sozinho. Dói mais no invejoso o sucesso dos outros que o seu próprio fracasso. Quem já sabe o caminho chega primeiro. A muitos o bem faz mal. De quem eu gosto não digo nem às paredes. A inveja matou Caim. Minha vida é uma rede que o destino balança. De amargo basta a vida. Os homens sobem por ambição e por ela vêm ao chão. Na escola da vida não há férias. Um homem cheio de si é sempre vazio. Se eu fosse rico compraria teu orgulho. O silêncio é o pranto dos bravos. Há caras de muitos amigos e amigos de muitas caras. Perdoar é compreender. Mais vale um cachorro amigo do que um amigo cachorro. Quem dorme sofre menos. A inveja é a arma dos incompetentes. A vida é dura para quem é mole. Quem nasce pra tatu morre cavando. Artista é aquele que sofre sorrindo. Do jeito que as coisas vão nem as matas são mais virgens. Agarra o touro pelos chifres e o homem pela palavra. 168 Mãe tenha distância. Pela estrada se conhece o prefeito. Que me importa o rei se tenho a barriga cheia? Sou amarelo mas não sou doente. Fale comigo mas antes lave os pés. Quem conhece bem tua vida é tua lavadeira. Quem recorda passado é museu. Se chifre fosse flor cabeça de mineiro era um jardim. Nem a medicina cura a dor da separação. Vitamina de motorista é poeira de estrada. No baralho da vida sou um rei sem dama. Antes de falar de mim lembre do teu passado. Quem é careca não anda no sereno. A saudade é companheira de quem não tem companhia. Quem me conhece não me esquece. 70 me passar, passe 100 me atrapalhar. Legendas sobre a Pobreza Pobre só sai do aperto quando desce do ônibus. Pobre vive de teimoso. Twist de pobre é macumba. Enxoval de pobre é a honra. Pobre agora só estuda no Colégio de São Pedro: lá no céu. Pobre só fica de barriga cheia quando morre afogado. Chiclete de pobre é macaíba. Pobre só vai na frente quando a polícia vai atrás. Convite de pobre é intimação. Pobre só vai pra frente quando leva topada. 169 TV de pobre é o espelho. Pobre só come carne quando morde a língua. Pobre só come frango quando joga de goleiro. Peru em mesa de pobre um dos dois está doente. Legendas sobre a Morte Se a morte é um descanso prefiro viver cansado. Para que orgulho se o futuro é a morte? Andar com sono é namorar a morte. A morte me namora mas eu amo a vida. Em cima da morte ganhando o pão da vida. Se você dormir na direção seus parentes serão acordados. Se a morte comesse bola seria a mais rica do mundo. A vida começa aos 40 anos e a morte aos 60 km/hora. Legendas sobre a Sogra Feliz foi Adão que não teve sogra. Sogra não é parente. Esse não é da sogra. Sogro e sogra, milho e feijão, só dá resultado debaixo do chão. Não mando minha sogra pro inferno porque tenho pena do diabo. Legendas sobre Deus Da traição nem Deus se livrou. Se o mundo fosse bom o dono morava nele. Deus, saúde, esforço e amigos. Dirigido por mim guiado por Deus. 170 O pouco com Deus é muito. Meu destino é Deus quem sabe. Ao bom filho Deus ajuda. Com Deus e Nossa Senhora viajo pelo mundo afora. Deus olha por mim eu olho por você. Feliz quem Deus quer bem. Para que cruzar os braços se o maior homem do mundo morreu de braços abertos? Se Deus inventou coisa melhor do que a mulher guardou pra ele. Legendas sobre o Amor Fica sempre um pouco de perfume nas mãos dos que dão flores. De um sorriso nasce o amor. Ninguém é pobre quando ama. O amor não tem idade porque sempre está nascendo. Quem ama a rosa tem que suportar os espinhos. A vida de um filho está no coração da mãe. Em casa meu amor reza na estrada Mercedes Benz. Ciúme é o tempero do amor. Beijo de menina contém vitamina. Nunca é tarde para ser feliz. Amor é como fumaça sufoca e passa. Por um sorriso errado hoje sou casado. Se o amor é cabeludo eu sou um homem careca. Sem amor não se vive. Creio no freio do carro e no amor de mulher. O beijo quando bem dado deixa o imbecil maluco. Quatro pneus cheios e um coração vazio. 171 Legendas sobre a Mulher Mulher sem ciúme é flor sem perfume. Mulher feia e urubu comigo é na pedrada. Mulher é como um parafuso precisa sempre de um aperto. Entre loiras e morenas prefiro as duas. Mulher feia para mim é homem. Mulher feia e frete barato eu não carrego. Quem gosta de mulher feia é salão de beleza. 95% da beleza feminina sai com água e sabão. Se mulher fosse dinheiro havia muita nota falsa. É mais fácil fazer uma menina do que consertar uma mulher. Se o diabo entendesse de mulher não tinha rabo nem chifre. Viúva só nova. Mulher feia e fruta azeda só com cachaça. Carona só com saia justa. Melhor que uma mulher só duas. Marido de mulher feia já acorda assustado. O amor é um baratinho 9 meses de carinho e depois um molequinho. Ontem éramos 3 eu você e a felicidade; hoje somos 2 eu e a saudade. Mulher feia só carrega meu dinheiro se me roubar. És orgulhosa mas já te beijei. Vinho velho e mulher nova é o lema dos gaúchos. Mamãe precisa de uma nora. Se nosso amor virou cinza foi porque eu mandei brasa. Vou rezar 1/3 pra arrumar 1/2 de te levar pra 1/4. 172 MACAMBIRA A macambira é encontrada da Bahia ao Piauí, nas caatingas do Nordeste do Brasil. A planta herbácea, da família das Bromeliáceas, cresce debaixo das árvores, ou em clareiras, possui raízes finas e superficiais, folhas que podem atingir mais de um metro de comprimento, por vinte centímetros de largura, espinhos duros, e um rizoma que fornece uma forragem de ótima qualidade. Em se tratando de cor, a macambira pode ser verde claro, verde mais escuro, verde cinza, violácea ou amarela, dependendo, entre outros fatores, da umidade do ar e do solo. Em locais mais abertos e expostos ao sol, a face ventral das folhas é de cor violácea, ou roxo escuro. Possuindo raízes superficiais, a planta se desenvolve nas terras mais áridas dos Trópicos, possui umidade suficiente para resistir às duras secas, e se alimenta do ar atmosférico. Seus frutos, de cor amarela quando maduros, assemelham-se a um cacho de bananas pequenas e exalam um odor ativo e característico. Suas bagas medem de três a cinco centímetros de comprimento, e têm um diâmetro que varia de dez a vinte milímetros. Do limbo das folhas da macambira, os sertanejos retiram as fibras aproveitáveis. Com golpes precisos de 173 facão, os espinhos são aparados. Em seguida, juntamse as folhas para formar grandes feixes, e eles ficam macerando durante vários dias. Quando amolecem as partes fermentáveis, as folhas são retiradas da maceração, batidas, espremidas, lavadas e colocadas em jiraus para secar ao sol. Todo esse processo exala um forte mau cheiro, tendo que ser feito bem longe das casas. Caso seja realizado às margens dos rios, os pequenos peixes não resistem, e morrem como se estivessem intoxicados. Existe, ainda, outro processo para se extrair as fibras da macambira. Trata-se de um método árduo, através do qual a folha é arrastada sobre o arame de um aparelho conhecido por tiralinho; depois, é esmagada e passada entre os dentes de um pente metálico, para se retirar toda a parte mole. A partir daí, as fibras descobertas são lavadas, penteadas, e colocadas para secar. Nas áreas de sequeiro, as folhas da macambira são utilizadas, também, para cobrir as casas. Elas são amarradas em forma de molhos e, durante uma semana, colocadas para murchar. Daí, os molhos são agregados uns aos outros, fortemente atados com cipós, ou ligados por meio de pregos batidos. A seguir, eles são dispostos em camadas superpostas, da biqueira da casa até a cumieira, o que deixa os telhados com uma ótima aparência. Outra atividade, realizada pelos sertanejos, é a extração da massa da base dilatada das folhas (capas). As folhas são cortadas, no ponto em que 174 começam a alargar, para se alcançar a “cabeça” da macambira. As “cabeças” são amarradas, umas às outras, formando-se atilhos, que os burros transportam em suas cangalhas; ou os próprios caboclos carregam nos ombros, quando não dispõem de animais de carga. O trabalho de apara é bem árduo: há que se retirar os espinhos, recortar as bordas, e fazer a despela, ato que consiste em levantar a epiderme, guarnecida de forte cutícula, com a ponta de uma faca. E as capas são piladas para separar a fécula das fibras. A massa bruta é batida, espremida e lavada em água, várias vezes. Isto deixa as pessoas com os dedos feridos, devido à ação corrosiva presente nela. Após a decantação, a massa, de cor branca, é envolvida em um pano, passada em uma prensa rudimentar para escorrer o restante de água, e colocada ao sol para secar. Com essa massa, os sertanejos fazem um tipo de pão semelhante ao pão de milho, em uma cuscuzeira. Costumam adicionar um pouco de farinha de mandioca àquela massa, para aumentar sua liga e diminuir o travo, no gosto. A massa é comida, ainda, em forma de pirão, com leite, ou carnes, que advêm da caça de animais presentes na fauna das caatingas: cotias, gambás, tatus, tejus, veados catingueiro, preás e aves (pombo, asa branca, quenquém, juriti, entre outros). A massa da macambira pode ser estocada por mais de um ano. Em períodos de penúria extrema, o sertanejo dela se utiliza para sua sobrevivência e a dos rebanhos. Dizem que, em tempo de secas prolongadas, se ingerida somente com água e sal, a massa produz 175 inchaço. Por essa razão, criou-se a expressão: “inchado de tanto comer macambira”. A farinha da macambira é composta, em sua maior proporção (63,1%), de amido, uma substância química parecida com a da farinha de mandioca. Seu teor protéico, porém, é bem mais elevado, estando próximo ao das farinhas de milho e de arroz. Ela é muito rica em cálcio, sendo quinze vezes mais elevado que o do leite, e três vezes mais alto que o do queijo. É uma das farinhas mais nutritivas do mundo. Em se tratando dos rebanhos, é importante registrar que, comendo um quilo desse alimento, os animais podem acumular, até, 248 gramas de gordura. Os vaqueiros ressaltam outra vantagem: o gado que come as flores e os frutos da macambira não sente necessidade de ir ao bebedouro. Por sua vez, com o farelo do caule da macambira, uma parte bastante nutritiva da planta, os sertanejos alimentam seus animais domésticos, tais como galináceos e suínos. As caatingas têm sofrido muitas agressões ambientais ao longo dos séculos - desmatamentos, queimadas, substituição de espécies vegetais nativas o que causa sérios problemas à fauna, à presença e à qualidade da água, ao equilíbrio do solo e do clima. Isto tudo provoca estiagens cada vez mais prolongadas, desertificação e degradação ambiental. Nos sertões nordestinos, aquela bromélia possibilita que seres humanos e rebanhos deixem de sucumbir diante da escassez crônica de água. É uma 176 das poucas plantas que pode ser aproveitada, na prática, em sua totalidade. A macambira representa uma tábua de salvação para as áreas de sequeiro e, portanto, precisa ser devidamente pesquisada e preservada. 177 178 MAMONA A mamoneira (Ricinus Communis Lineu) é uma oleaginosa tropical, pertencente à família Euphorbiaceae, que, pela importância do fruto - a baga - na produção de óleo, e devido ao seu valoroso resíduo - a torta - é considerada uma planta estratégica para o desenvolvimento do Brasil. A mamona é conhecida desde os tempos mais remotos. Na Antiguidade, ela era valorizada pelas propriedades medicinais, e por seu azeite, utilizado para iluminação. Os egípcios, há 4.000 anos, já costumavam depositar, nos sarcófagos, as sementes dessa planta. Não se sabe, ao certo, qual foi o seu país de origem. Uns afirmam que a mamoneira originou-se da África e, outros, ressaltam que ela veio da Ásia. No que se refere à presença no Brasil, os pesquisadores acreditam que os portugueses a trouxeram para cá, no primeiro século do Descobrimento. Seu óleo era empregado como lubrificante, nos mancais dos engenhos de cana-de-açúcar, sendo conhecido como o mais eficaz dos óleos destinados a reduzir, ou anular os atritos. A mamoneira tolera as secas e se adapta muito bem nas regiões semi-áridas, contudo, não é exclusiva 179 destas regiões. Trata-se de uma planta exigente, de hábito arbustivo, não sendo verdade que se desenvolva bem, até mesmo, em terrenos pobres. Nestes espaços, os produtores necessitam aumentar o nível de fertilidade, através da aplicação de adubos, uma vez que sua cultura não é econômica. Além disso, ela não deve ser plantada, no mesmo lugar, por mais de dois anos seguidos. Aconselha-se a rotação de culturas com leguminosas. O caule da mamoneira apresenta várias colorações, podendo possuir cera, ou não. Os frutos, quase sempre, possuem espinhos e, em alguns casos, são inermes. Suas sementes evidenciam formatos e tamanhos variados, bem como algumas colorações. Existem dois tipos de mamoneira: 1. o deiscente, cuja cápsula libera as sementes a uma temperatura superior a 25 graus centígrados, conhecido por estaladeira; e, 2. o indeiscente, cuja cápsula não se abre sob a ação do calor do sol. Cabe informar que o teor de óleo das sementes varia, proporcionalmente, à soma do calor recebido pela planta, no ciclo vegetativo. No final do ciclo, os cachos da mamoneira, já secos, são colhidos mediante uma única operação, e o descasque mecânico é obrigatório. As máquinas promovem a fricção dos frutos, para liberar as sementes. A seguir, elas são separadas da casca do fruto e prensadas. Nesse processo, o óleo extraído é uma fonte, quase pura, de ácido graxo ricinoléico (conhecido também como óleo de rícino), cuja cadeia carbônica lhe confere propriedades singulares. O óleo empregado na indústria química possui 180 mais de seiscentas utilidades, entre outras, na produção de vernizes, corantes, tintas, anilinas, nylon, desinfetantes, germicidas, fungicidas, inseticidas, lubrificantes de alta viscosidade, colas e aderentes, tintas, biodiesel, e próteses para transplantes em órgãos humanos. É matéria prima, inclusive, para a fabricação de produtos biodegradáveis. Embora apresente toxidez, a torta da mamona vem sendo utilizada, há muito tempo, como adubo orgânico restaurador do solo. No entanto, atua, mais lentamente, que os usuais adubos químicos. Aquela torta possui, ainda, certo efeito nematicida. A sua composição, se comparada à da semente do algodão, apresenta vantagens em relação aos percentuais de nitrogênio (N) e fósforo (P), ficando atrás, somente, em quantidade de potássio (K). No presente, foram desenvolvidas algumas técnicas que eliminam a toxidez, melhorando os seus efeitos. E, hoje, o óleo já é usado como matéria prima para a produção de biodiesel. Não são, apenas, o óleo e a torta que possuem aplicações relevantes: da mamona, tudo se aproveita. As folhas servem de alimento para uma espécie de bicho-da-seda e, as hastes, além de celulose apropriada para a fabricação de papel, fornecem matéria prima para a produção de tecidos. Na década de 1930, os estudiosos descobriram que o óleo da mamona era um ótimo lubrificante, quando puro. Adicionado ao álcool, já era utilizado como sucedâneo da gasolina, em motores de explosão. Em países de língua inglesa, como a Inglaterra e os Estados Unidos, a mamona recebe as 181 denominações castor beans e castor seed. Desde a Segunda Guerra Mundial, o Brasil tem se destacado como o maior produtor e exportador de sementes e óleo de rícino (castor oil). Antes disso, tal posição pertencia à Índia. Por ordem de importância, os países que mais produzem mamona são os seguintes: Brasil, Índia, China, Tailândia e Paraguai. Com o advento do Protocolo de Kyoto, em 14 de dezembro de 1997, onde os países desenvolvidos se comprometeram a reduzir a emissão de gás carbônico (CO2), passou-se a exigir uma só tendência para o setor de energia: o crescimento mundial dos biocombustíveis. Esta exigência é fruto da poluição do meio ambiente, do esgotamento das reservas de combustíveis fósseis, e de legislações ambientais cada vez mais rigorosas. Por apresentar extensas áreas agricultáveis, o Brasil despontou como um grande promotor de mudanças. E o Nordeste do país, uma das regiões mais carentes em desenvolvimento, possui extensas áreas para o plantio de oleaginosas, já que a mamoneira convive com seus índices pluviométricos, e se adapta bem às condições das áreas de sequeiro. Neste sentido, desde 2005, o Piauí vem desenvolvendo um programa energético, mediante a produção de biodiesel, tendo a mamona, como fonte. Naquele Estado, o cultivo envolve o trabalho de, aproximadamente, 5.000 famílias, em 15.000 hectares de terra, e fazendo parte do modelo nordestino de agricultura familiar. Na cidade de Canto do Buriti, 182 por exemplo, a empresa Brasil EcoDiesel executa um projeto de plantio que, no início, incluía cerca de 560 famílias, em uma área de 10.000 hectares. O Governo do Piauí disponibilizou a área para ser explorada, durante dez anos, com tal finalidade. Decorrido esse tempo, as terras passarão a pertencer, em definitivo, às famílias que as cultivam com mamoneiras. Existe outro projeto de cooperação entre o Governo Federal, o Governo Estadual, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), o Meio Norte Piauí, e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) Piauí, cujo objetivo é o desenvolvimento sustentável e integrado da região semiárida do Estado. O projeto é financiado pelo Banco do Brasil, pelo SEBRAE e pela Fundação Banco do Brasil, envolvendo 1.800 famílias de agricultores, de 14 municípios da região de São Raimundo Nonato, que receberão capacitação tecnológica para o cultivo da mamona. A previsão para a execução do projeto é de três anos, e a safra deverá ser comercializada com a empresa Brasil EcoDiesel. Nas regiões semiáridas piauienses, o cultivo da mamoneira engloba outras vertentes da cadeia produtiva de biocombustíveis. É o caso da Usina Escola de Produção de Biodiesel que, desde outubro de 2004, está em operação na Universidade Federal do Piauí (UFPI). A Usina Escola tem como objetivos a produção de biodiesel, o treinamento de alunos de Graduação e Pós-Graduação, além do desenvolvimento de pesquisas e tecnologias para a produção de biocombustíveis. 183 184 MAMULENGO 185 Mamulengo é o nome dado a um teatro popular de bonecos, chamado, também, de fantoche, marionete, ou títere. Desde a mais remota Antiguidade, a presença do mamulengo tem sido detectada até em locais como a Índia e o Egito. A origem da palavra é discutida, mas, os estudiosos acreditam que ela é oriunda da expressão “mão mulenga”, ou “mão molenga”, que significa mão que se movimenta, em uma alusão à forma através da qual os bonecos se movem. O teatro foi introduzido em Pernambuco, no século XVI, pelos colonizadores portugueses. Durante a Idade Média, para fins catequéticos, a Igreja Católica utilizou muito o teatro de mamulengo, como uma forma de difundir o espírito religioso. Através dele, e inspirados no catolicismo alegórico, os religiosos criaram o presépio, um espetáculo onde é apresentada a história do nascimento de Jesus Cristo, por meio de bonecos em forma de santos, de reis magos e de animais, como a vaca, o jumento e a ovelha. Em praças, feiras, ou parques, os mamulengueiros armavam uma espécie de tenda e, ao interagirem com as pessoas presentes, iam construindo o próprio desenrolar da encenação. O teatro era aberto, possuía um canal participativo, e não dispunha de qualquer enredo escrito: os diálogos eram improvisados no momento da apresentação. As histórias desenvolvidas em cada espetáculo podiam, até mesmo, ter muitas semelhanças com as anteriores e as posteriores, porém, eram, em verdade, únicas: advinham da interação dos personagens com a plateia, sendo tecidas mediante 186 o universo cultural do público presente. Este último representava um elemento de suma importância: precisava ser estimulado para reagir, já que era o “combustível” que forjava e propulsionava a encenação. Com o passar do tempo, porém, da mesma forma que uma série de outros folguedos relacionados às festas religiosas, ou à natividade, o mamulengo foi adquirindo um caráter mais profano, e passou a funcionar, independentemente, dos festejos natalinos e ciclos de comemorações religiosas. Na atualidade, os personagens são bastante distintos daqueles do passado, podendo-se encontrar componentes da sociedade (latifundiários, cangaceiros, delegados, coronéis, padres, vaqueiros, trabalhadores e outros); animais (o cavalo, a cobra, a onça, o cachorro, a vaca); e figuras sobrenaturais (a morte, o diabo, as almas penadas). Nas escolas e demais centros de educação comunitária, o mamulengo é utilizado com vários outros personagens, para incentivar a socialização e o repasse de conhecimentos, as mudanças de atitudes, entre outros. Os bonecos são confeccionados com vários tipos de materiais. A madeira, por exemplo, é muito utilizada para fabricar a cabeça e as mãos do mamulengo, ao passo que, seu corpo, é feito de pano, na forma de uma luva. Para movimentá-lo, o manipulador insere o dedo indicador no interior de sua cabeça (que é oca) e, com os dedos polegar e médio, mexe seus braços. Escondidos atrás do palco, os mamulengueiros dão voz e movimento aos bonecos. 187 Além da madeira, são feitos mamulengos com papel machê, pano, argila, borracha, palha, sucata e metal. Além das luvas, os artesãos utilizam hastes de metal, varetas, ou cordões, para poder movimentá-los. Em se tratando de adereços, os personagens masculinos podem se apresentar com chapéus (de vaqueiro, ou não), armas de fogo (espingardas, revólveres), facas, cassetetes, batinas, fardas e quepes militares; e as figuras femininas usam joias - colares, brincos, anéis, pulseiras - bolsa, lenço, ou peruca, na cabeça. Em épocas passadas, grande parte dos mamulengos era de cor preta, ao passo que, os vilões, eram brancos. Segundo os pesquisadores, a associação dos personagens à raça negra não ocorria por acaso: havia o propósito de chamar a atenção do público para a bravura dos negros. Presentemente, as apresentações abordam diversos temas como traições, romances, fatos políticos, casamentos forçados, aspectos sobrenaturais, festas religiosas, dramas de circo, eventos relacionados ao cangaço, sátiras, cantos, músicas, festividades, danças, perseguições policiais, enterros e acrobacias. Os mamulengos são conhecidos por nomes distintos, de acordo com os Estados: Benedito, Cabo 70, Professor Tiridá, Quitéria, Simão e Mané Pacaru, em Pernambuco; João Redondo, no Rio Grande do Norte; Mané Gostoso, na Bahia; e, Babau, na Paraíba. Na Rua do Amparo número 59, em Olinda, está situado o primeiro Museu do Mamulengo do Brasil e da América Latina: o Museu do Mamulengo - Espaço Tiridá. 188 Ali, uma biblioteca, um teatro com cinquenta lugares, e uma exposição, com cerca de 1.000 bonecos, estão dispostos à visitação pública. No Museu, está exposta uma preciosa coleção datada do século XIX, advinda do Mamulengo Só-Riso (proveniente da Zona da Mata de Pernambuco). O grupo doou a coleção à Fundação Joaquim Nabuco que, por sua vez, repassou-a ao Museu do Mamulengo. Esse acervo, já foi exposto em todo o Brasil e na Europa. Como alguns funcionários manipulam os bonecos, para que os visitantes se familiarizem com suas estórias, o Museu do Mamulengo - Espaço Tiridá representa um exemplo de museu vivo. Vários teatros de mamulengos podem ser encontrados no Estado de Pernambuco: o Mamulengo Só-Riso, o Mamulengo Alegre e o Mamulengo Lima Condessa, em Olinda; o Mamulengo Dengoso, na Campina do Barreto, no Recife; o Presépio Nova Geração e A Invenção Brasileira, em Carpina; o Mamulengo Boca de Babau, no Cabo de Santo Agostinho; e o Mamulengo Riso da Cidade e o Mamulengo Alegria do Povo, em Glória de Goitá. Existem uma série de artesãos renomados tais como Pedro Rosa (em Lagoa do Carro); Maximiano (em Caruaru); Mestre Saúba (em Carpina); Luiz da Serra (em Vitória de Santo Antão); João Nasário (em Pombos); Mane da Cruz (em Cruz de Rebouças); Salustiano e Pedrinho Soares (em Olinda); e Samuel (em Feira Nova). Três excelentes mestres - já falecidos – não podem deixar de ser ressaltados. São eles: Sólon (em Carpina), Nilson de Moura (em Olinda), e Saúba (em Carpina). 189 Da mesma maneira que o presépio, o pastoril, o bumba-meu-boi e o fandango, o teatro popular de mamulengos, formatado, originalmente, como um teatro de rua, faz parte do patrimônio artístico e cultural do país. Suas apresentações, porém, não dependem mais do improviso para nortear ou dar consistência às estórias. A despeito das interações com a plateia, os mamulengueiros partem de roteiros prévios, bem definidos, assim como de representações cênicas planejadas e mais sofisticadas. E, mesmo havendo interação com o público, o cerne dos espetáculos não é alterado. O teatro de mamulengos chega ao século XXI com sua linguagem simples, situações cômicas e satíricas, brincadeiras, discussões e confusões. Esse teatro popular continua atraindo pessoas das mais diversas idades e classes sociais, em todos os lugares do mundo, porque conservou suas características mais relevantes: a presença do lúdico, do bom humor, e da participação interativa. Tais elementos, que representam seu sustentáculo básico, são, em verdade, atemporais: agradam, como sempre, as crianças e adultos, aqueles que mantiveram as boas recordações da infância dentro de si. 190 MANDACARU Na caatinga do Nordeste do Brasil predomina uma vegetação conhecida como mata branca. Ela é composta por árvores e arbustos de folhas pequenas, vegetais que possuem raízes longas e numerosas, galhos tortuosos, arbustos espinhentos (cactáceas), bromeliáceas, entre outras espécies de xerófilas. Os solos da caatinga, apesar do calor, do clima semiárido, subúmido ou semiúmido, possuem sais minerais em abundância e, por essa razão, neles se desenvolvem árvores como a algorabeira, o umbuzeiro, o marmeleiro, e plantas como a aroeira, o xique-xique, a imburana, o angico, o caroá, a palma e o mandacaru. Esse último (Cereus Jamacuru, P. DC.) é um cacto alto com muitas ramificações, repleto de espinhos amarelos, que chegam a medir, até, vinte centímetros de comprimento. Dessa planta brotam flores brancas e grandes, que dão frutos oblongos, com uma polpa doce, branca, suculenta e comestível, e muitas sementinhas pretas. Segundo afirmam os apreciadores, a fruta se assemelha ao figo. Durante as secas severas, o mandacaru é uma das poucas plantas que resistem na vegetação da caatinga, mantendo-se verde e suculenta. Por isso, a 191 despeito da abundância de espinhos, os agricultores o utilizam para alimentar os rebanhos (bovinos, caprinos, e ovinos). Primeiro, cortam os galhos, acomodam em carroças, e transportam até os currais das propriedades. Ali, queimam os espinhos e, somente, então, a forragem é oferecida aos animais. Com teor de proteína em torno de 11,40%, o potencial forrageiro do mandacaru assemelha-se ao da palma. Do seu tronco são retiradas tábuas de, até, trinta centímetros de largura, que os sertanejos usam para a confecção de portas e janelas de casas. Na metade do século XIX, uma variedade que contém poucos espinhos foi encontrada nos sertões de Alagoas: o denominado mandacaru inerme. Através de uma mutação genética espontânea, portanto, surgiu o mandacaru “sem espinhos”. Posteriormente, tal variedade passou a ser obtida, mediante seleção e multiplicação vegetativa, dos artículos destacados e plantados. No presente, o mandacaru inerme vem sendo cultivado: tira-se melhor proveito dessa planta, e seu manejo se torna mais fácil. A Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias do Semiárido (a Embrapa Semiárido) recomenda se fazer, com o mandacaru, o mesmo que tem sido recomendado ao milho e ao feijão: a consorciação de culturas. Cabe registrar que o uso extensivo do mandacaru, com cortes indiscriminados, está reduzindo a presença da planta na vegetação nativa, o que contribui para o seu desaparecimento. Sem a forragem nutritiva e natural da região, a dinâmica dos sistemas de produção é afetada, 192 em outras palavras, os sertanejos são obrigados a percorrer distâncias cada vez maiores, na caatinga, em busca daquele cacto, visando à sobrevivência dos rebanhos. Para se instalar um campo de mandacarus, o agricultor precisa cortar pedaços dos seus galhos, deixar secar de um dia para o outro, e enterrar no solo, apenas, uma parte deles. O sucesso do plantio depende da época do ano em que ocorre: este, deve acontecer cerca de um mês antes do início das chuvas. Após o segundo ano do plantio, pode ser efetuado o primeiro corte nos galhos. De uma única planta é possível se retirar pedaços para o plantio de cem outras. O tratamento requerido é a capina. Caso haja esterco de curral, o agricultor pode usá-lo como adubo, já que o mandacaru responde bem à adubação orgânica. O mandacaru possui outras utilidades, ainda: é empregado por paisagistas, na ornamentação de avenidas, praças, ruas, casas e jardins. Na medicina popular, o chá da raiz fresca do mandacaru-de-boi, é um dos remédios utilizados pelos sertanejos. Em farmácias do país, encontra-se à venda um medicamento fitoterápico - o Elixir Sanativo - que, em sua composição, contém o mandacaru (Cereus hildmannianus). O elixir é indicado e usado para gargarejos, para cuidados com afecções bucais, no tratamento de feridas, cortes, picadas de insetos, e na higiene íntima (banhos de assento e tratamento de hemorroidas). Com ou sem espinhos, o mandacaru é, na prática, sinônimo de Nordeste. Ele se encontra em pinturas e gravuras que retratam a Região. O precioso cacto 193 entrou, inclusive, na música popular brasileira, através da famosa composição Xote das Meninas, de autoria de Luiz Gonzaga e José Dantas. Eis a letra dessa música: Xote das Meninas Mandacaru quando fulora na seca, É o sinal que a chuva chega no sertão, Toda menina que enjoa da boneca, É sinal que o amor já chegou no coração, Meia comprida, não quer mais sapato baixo, Vestido bem cintado, não quer mais vestir de mão. Ela só quer, só pensa em namorar, Ela só quer, só pensa em namorar. De manhã cedo, já está pintada, Só vive suspirando, sonhando acordada, O pai leva ao doutor a filha adoentada, Não come, não estuda, Não dorme, nem quer nada. Ela só quer, só pensa em namorar, Ela só quer, só pensa em namorar. Mas o doutor, nem examina, Chamando o pai de lado, lhe diz logo em surdina, Que o mal é da idade, e que pra tal menina, Não há um só remédio, em toda a Medicina. Ela só quer, só pensa em namorar, Ela só quer, só pensa em namorar. 194 MANDIOCA Contam no Norte do Brasil que, certa vez, a filha de um cacique engravidou e, por mais que ele a pressionasse, na tentativa de descobrir quem a havia deflorado, ela afirmava que nunca tinha tido relações sexuais com um homem. Considerando-se desonrado, o cacique decidiu matá-la. Em seus sonhos, porém, apareceu Sumé (um dos grandes Mestres dos índios) falando que ele seria castigado se a punisse, pois a menina nada havia feito de errado. Prontamente, o cacique obedeceu-Lhe. Passados nove meses, nasceu uma criança branca como o leite, e completamente diferente dos membros de sua tribo. Ela era muito linda e inteligente e, logo após o nascimento, começou a andar e a falar, tendo sido chamada de Mani. Acontece que Tupã (o poderoso Deus dos índios) reservara à criança o seguinte destino: sem ter apresentado qualquer doença, e/ou se queixar de alguma dor, Mani morreu antes de completar um ano de idade. O cacique, então, enterrou-a em sua própria maloca e, de acordo com o costume, todos os dias, regava o túmulo da neta. Em certa ocasião, brotou do chão uma planta desconhecida. Nela, surgiram flores, frutos e raízes. Os nativos, ao descascarem as raízes, 195 viram um tubérculo tão branco quanto Mani. E este, ao ser cozido, se transformava em um excelente alimento. Diante do ocorrido, os índios agradeceram a Tupã pela dádiva recebida, deram àquela raiz o nome de Manioca, que significa casa de Mani, e jamais deixaram de cultivá-la. Através da fabricação do cauim (uma bebida feita com mandioca e muito popular entre os índios,) e do beiju, a mandioca se transformou em um dos elementos importantes da alimentação indígena. Ao longo dos anos, ao lado do açúcar e do coco, ela foi incorporada, também, à indústria de confeitaria e à culinária brasileira tradicional. Com o polvilho, a “massa puba” e a carimã (a mandioca amolecida e fermentada em água) são preparadas saborosas receitas de biscoitos, bolos, roscas, sequilhos, mingaus, pães, tapiocas, entre outros. A mandioca (Manihot esculenta) é uma planta leitosa, pertencente à família das euforbiácias, que possui tubérculos produtores de amido. Estes possuem um alto valor energético, mas, ao mesmo tempo, um baixo teor de proteína. Foi o italiano Francisco Antônio Pigafetta, em 1519, acompanhante da expedição de Fernão de Magalhães, em busca de um caminho para o Oriente, que fez a primeira referência dela, na América. Antes daquele italiano, Vicente Yanez Pinzón havia, também, feito alusões à mandioca, mencionando sua presença do Cabo de Santo Agostinho à foz do rio Amazonas. Há registros de que o tubérculo é originário da 196 Guiana Brasileira (Norte do Amazonas e do Pará), do Sul das três Guianas (a Britânica, a Holandesa e a Francesa) e, ainda, do Sul da Bahia e do Nordeste de Minas Gerais. A mandioca, que representa o verdadeiro pão do Brasil, só não é cultivada em terras demasiado argilosas, em trechos montanhosos secos, em terrenos cheios de pedras, muito íngremes, e em baixadas com excesso de umidade. Existem dois tipos de mandioca: a primeira é conhecida como aipim, macaxeira, mandioca mansa ou mandioca doce; e, a segunda, é chamada mandioca amarga ou mandioca brava. Ambas são idênticas na aparência: apresentam uma casca parda e, quando ela é retirada, surge um tubérculo branco, que contém um suco acre e leitoso. A mandioca brava, por conter uma elevada proporção de ácido cianídrico, é venenosa. No entanto, através da cocção, ela perde toda a sua toxidade, sendo convertida em farinha ou polvilho. Devido à toxidade da mandioca brava, há uma adivinhação popular no Nordeste que diz: “quem come de minha carne, escapa; quem bebe do meu sangue, morre”. Os colonizadores portugueses criaram as tradicionais Casas de Farinha (presentes no Norte e no Nordeste do país), aproveitando seus conhecimentos sobre as prensas, que utilizavam para a fabricação do vinho e do azeite. Nessas Casas, a mandioca passa por um processo apurado, antes de ser liberada para o consumidor. Em primeiro lugar, raspa-se a casca, manualmente, e, em seguida, a parte branca da raiz é 197 ralada no caititu (um engenho movido à mão e formado por um rolo de madeira com serrilhas metálicas, acionado por uma grande roda dentada). Em geral, são os homens que movem o ralador e, as mulheres, que colocam a massa ralada no tipiti (uma espécie de cesto cilíndrico feito de talas de palmeira), onde a mandioca é prensada a fim de se retirar a manipuera (ou ácido cianídrico): um produto venenoso que está presente, apenas, na mandioca amarga. Após esse procedimento, os blocos de massa retirados do tipiti são desfeitos e, a seguir, peneirados em uma arupema. Só, então, é que o produto final entra no forno para ser torrado e, depois de todo esse processo, se transforma na popular farinha de mandioca. Acompanhada de carne seca, a farinha de mandioca era o principal elemento da alimentação dos escravos africanos. Por tal razão, os senhores de engenho e os lavradores de cana, mediante alvarás e provisões régias datadas de 1642, 1680 e 1690, eram obrigados a cultivar a mandioca. Decretos posteriores vieram ressaltar essa obrigação, quando daqueles exigia-se o plantio de, pelo menos, quinhentas covas por escravo. Desde o século XVII, na mesa de nordestinos e nortistas, a mandioca é um alimento importante, sendo utilizada, largamente, na culinária junina. Além das comidas de milho, a mandioca representa um ingrediente de suma relevância nos bolos denominados “pé de moleque” e “Souza Leão”. A farinha de mandioca é indispensável, também, no prato tradicional brasileiro (a 198 feijoada), na elaboração de tapiocas doces e salgadas, nas farofas de jerimum e de batata-doce, e em algumas comidas típicas, onde se adiciona azeite de dendê ou manteiga de garrafa. Utiliza-se a farinha de mandioca, ainda, nos deliciosos pirões de chambaril, de frango, de peixes, crustáceos, e ovos. Quando é misturada ao mel de engenho, surge a sobremesa tradicional da Zona da Mata nordestina. O amido da mandioca, advindo da fabricação da farinha e das raspas da raiz, é produzido por algumas Casas de Farinha. Esse subproduto é obtido do caldo que escorre das prensas (e que é desprezado, na maioria das vezes). O amido possui um grande valor nutritivo, devido à sua riqueza em proteínas, vitaminas, e sais minerais naturais. Ele é utilizado na fabricação de biscoitos, sequilhos e outros produtos alimentares. Caso haja o aproveitamento desse amido residual, pode-se obter, ainda, uma farinha de melhor qualidade. O que ocorre, em verdade, é o aproveitamento de uma pequena parte, apenas, daquele líquido que escorre. De forma aproximada, segundo os especialistas, são jogados fora 75% dos melhores nutrientes da mandioca, entre eles as proteínas, as vitaminas e os sais minerais naturais. Há, por parte da população, nos locais onde predominam as lavouras de subsistência, um elevado consumo de carboidratos complexos, provenientes de um ou dois cereais, e de raízes como a macaxeira, o inhame e a batata-doce. Tais produtos são consumidos de forma isolada, ou combinados com certas leguminosas, a exemplo do feijão. Todavia, o crescimento 199 e o desenvolvimento das pessoas ficam prejudicados, porque o papel dos demais alimentos, no fornecimento de nutrientes importantes para o organismo, passa a ser secundário. A mandioca, associada ao coco, ao açúcar, ao cravo e à canela, contribuiu para o surgimento de uma nova cozinha, repleta de receitas de qualidade. Estas, com toda a certeza, nasceram das inúmeras trocas alimentares, da junção de vários elementos, bem como da mistura de aromas e sabores. Em suma: da miscigenação das distintas culturas e etnias que contribuíram para a formação do povo brasileiro. 200 PILÃO E MONJOLO Um artefato primitivo de origem remota, o pilão de madeira, na época do Brasil Colônia, já era utilizado na agricultura para socar alguns alimentos, tais como o milho e o café. Para sua confecção, utilizavam-se troncos de madeiras duras, tais como a maçaranduba, a peroba, a canela preta, o guatambu e o limoeiro. O tronco era escavado, com fogo, e, sua haste (denominada mão de pilão), fabricada com um pedaço aparelhado daquelas madeiras. A altura de um pilão variava entre 30 e 70 cm e, uma haste, media de 60 cm a 1,2 m. No tocante à cultura rural brasileira, pode-se afirmar que, todas as casas nas zonas rurais, usavam e/ ou usam, ainda, algum tipo de pilão. Os pesquisadores afirmam que tal ferramenta deve ter sido copiada dos árabes. Em 1638, nos terreiros próximos às portas das cozinhas, já havia registro do emprego de pilões, nos preparos da farinha de mandioca e do óleo das sementes de gergelim, em substituição ao azeite de oliveira. Câmara Cascudo (1954) ressalta que o pilão é uma espécie de gral ou almofariz, de madeira rija, como a sucupira, com uma ou duas bocas, e tamanhos vários, desde os pequenos, para pisar temperos, até os grandes, para descascar e triturar o milho, café, arroz, etc. 201 Segundo o folclorista (2004), na África os esparregados de plantas cruas são feitos no pilão. No Brasil, o milho era seu freguês clássico. A massa ou xerém para o cuscuz, canjicão, bolo de milho, a batida para ‘tirar o alho’, eram serviços de pilão. ...O arroz da terra, avermelhado, era descascado no pilão. Havia várias formas de retirar a casca sem quebrar o grão. O café, depois de torrado no caco, panela rasa, de barro, ia ser pilado. Como o milho e a paçoca. Pilavam horas e horas. Essas operações eram confiadas às mulheres. Quase sempre duas, no mesmo pilão, alternando as pancadas, e cantando. Certos alimentos, como o milho e o sorgo, eram quebrados e moídos em grandes pilões. Com os pilões de menor tamanho, moíam-se a castanha de caju e o amendoim (para se fazer caril ou paçoca), além dos temperos (o alho, a pimenta e o cominho) que davam um melhor sabor, mas, cujo consumo é feito em pequenas quantidades. Quebrava-se o milho com o pilão e, cozinhando os pedaços fininhos em água e sal, se obtinha o xerém, um prato típico do Nordeste do Brasil. O xerém é consumido com carnes secas (carne de sol ou charque) e linguiças. Muitos nordestinos preferem, ainda, preparálo como sobremesa, cozido em água e sal, leite de coco e açúcar. Depois de frio, polvilha-se canela, por cima. Nos terreiros de candomblé, na Bahia, o milho costuma ser moído em um grande pilão, a fim de se preparar os quitutes (o acaçá e o aberém) para a Mãe de 202 Santo e o Pai de Santo. Nele, quebrava-se, também, o feijão, no preparo do abará, do acarajé e do omolucum. Em um pilão pequeno, os temperos eram moídos, para se cozinhar o arroz de haussá e o efó. Ao longo dos séculos, portanto, esse utensílio doméstico foi muito utilizado na cozinha baiana. No Norte do Brasil, um dos pratos típicos é o piracuí (chamado, também, areia de peixe), que é preparado com peixe torrado no forno e, depois, pilado. Na cozinha, os utensílios, como o pilão, tinham para os negros e indígenas uma importância que o português desapercebeu, mediante outras maneiras de esmagamento, no almofariz ou gral. Dava um sabor inesquecível aos alimentos feitos com essa preparação. O café pilado jamais poderia comparar-se ao café moído à máquina, na opinião popular, saudosa do pilamento insubstituível. A paçoca exigia o pilão, sob pena de não ser paçoca. Na África, os esparregados de plantas cruas eram feitos no pilão. No Brasil, o milho era seu freguês clássico. A massa ou xerém para o cuscuz, a canjica, o bolo de milho, eram batidos os grãos, para “tirar o olho”, no pilão (LIMA, 1999, p. 50). O monjolo, por sua vez, é um utensílio rudimentar constituído por duas peças (o pilão e a haste). Esta última é movida através de um sistema similar ao de uma balança, e pode ser acionado por meio hidráulico. O mineralogista inglês John Mawe, durante sua permanência no Brasil (1807-1810), descreveu o monjolo da seguinte forma: 203 À margem do rio instala-se grande pilão de madeira, cuja mão está encaixada na extremidade de uma alavanca com vinte e cinco a trinta pés de comprimento, repousando sobre uma barra transversal aos cinco oitavos do seu comprimento, em redor da qual oscila. A extremidade do braço mais curto desta alavanca está escavada, de modo a sustentar peso de água suficiente para levantar a outra extremidade, à qual está presa a mão do pilão. O peso da água faz com que a colher desça e se esvazie até chegar a certo ponto. O encher e descarrega, alternadamente esta cavidade provoca a elevação e a queda da mão do pilão, o que se verifica quatro vezes por minuto. (SCHMIDT, 1967) Vários produtos alimentícios derivados do milho, como o fubá e a farinha de milho, eram obtidos por meio do esmagamento nos monjolos. Eles tinham a capacidade de socar, até, trinta litros de milho, em uma hora e meia. E ouvia-se, com frequência, a expressão popular: trabalhar de graça, só monjolo! Através dos inventários do século XIX, pôdese chegar à descrição dos monjolos, e ao nível de desenvolvimento técnico alcançado com a utilização desses aparelhos. Os estudiosos reiteram ter sido Brás Cubas (um fidalgo e explorador português que estivera, na Ásia, com Martim Afonso de Souza) aquele que trouxe, da China, o primeiro monjolo, e o instalou nas terras de São Vicente. Os índios denominaram a máquina de enguaguaçu, que significa o grande pilão. A palavra monjolo deve ter origem sânscrita, vindo de musala, pilão para descascar arroz, e seu 204 aperfeiçoamento ocorreu por volta do século XVIII. Além de serem corretos, do ponto de vista ecológico, os monjolos foram de fundamental importância para o desenvolvimento das atividades rurais, durante os séculos XVIII, XIX e grande parte do século XX. E, para construí-los, foi preciso uma série de conhecimentos técnicos sobre engenharia, marcenaria, carpintaria e ferraria. No passado, o monjolo era um artefato rústico, confeccionado somente de madeira, e não utilizava, em sua estrutura, qualquer peça de material metálico. Existiam vários tipos de monjolos: os hidráulicos, os de pé, os de roda, os de martelo e os de rabo. No monjolo de pé, por exemplo, o indivíduo ficava em pé, em cima da madeira, de modo que o eixo permanecia entre seus dois pés e, quando se fazia força, na ponta da madeira, o pilão levantava e, em seguida, descia. Na Europa e, principalmente, em Portugal, utilizava-se, também, um monjolo de pé diferente, cuja força para suspender o malho (ou a mão do pilão) advinha do próprio peso da pessoa encarregada de movimentá-lo. Existia, ainda, o pilão manual, em regiões onde não havia água em abundância. A sua utilização pode parecer herança da cultura indígena e, por esse motivo, é comum a associação do monjolo àquela cultura. Sérgio Buarque de Holanda ressalta, entretanto, que o monjolo era desconhecido pelos indígenas. Segundo o historiador, com base nos relatos dos viajantes, aquela máquina chegou ao país no século XVI, oriunda do Japão, da China e da Indochina, onde era utilizada para se descascar o arroz. 205 Grandes pilões eram movimentados, por várias pessoas, ao mesmo tempo. Com sua haste, cada pilão socava os grãos, de forma alternada. Ainda hoje, é possível se encontrar monjolos, no interior do país, com o mesmo formato e princípio de funcionamento que tinham há milênios, em seus países de origem. Existem outros modelos de monjolo hidráulico (chamado de martelo) e os movidos a animais (denominados de rabo). Bastante popular na África, o pilão é um dos presentes ofertados aos nubentes, na região sul de Moçambique, no dia seguinte ao casamento, em uma cerimônia denominada xiguiane. Hoje, com o desenvolvimento tecnológico, outras máquinas, motorizadas ou elétricas, vieram substituir aqueles aparelhos, tornando mais fácil a vida das pessoas. Em contrapartida, contribuem para a degradação ambiental. Não o monjolo, mas, o pilão ficou lembrado e registrado na música popular nordestina. Com letra de Zé Dantas e música e canto de Luiz Gonzaga, foram divulgadas as canções Cintura fina e Pisa no pilão. A letra delas encontra-se a seguir. Cintura fina Minha morena venha pra cá, Pra dançar xote, se deitar em meu cangote, E poder cochilar, Tu és mulher pra homem nenhum, Botar defeito, e por isso satisfeito, Com você eu vou dançar. 206 Vem cá, cintura fina, cintura de pilão Cintura de menina, vem cá meu coração Quando eu abraço essa cintura de pilão, Fico frio, arrepiado, quase morro de paixão, E fecho os olhos quando sinto o teu calor, Pois teu corpo só foi feito pros cochilos do amor. Pisa no pilão Oi tum tum tum, joga as ancas pra frente e pra trás, Oi tum tum tum, finca a mão no pilão bate mais. Se janeiro é mês de chuva fevereiro é pra plantar, Em março o milho cresce, em abril vai pendoar, Em maio tá bonecando, no São João tá bom de assar, Mas em julho o milho tá seco e é tempo, morena, da gente pilar... Em se tratando de artesanato da Região Nordeste, em feiras livres, mercados públicos, e lojas de objetos artísticos, é possível encontrar pilões de madeira, de barro, de pedra sabão, e de chifre de boi. O pilão intermediou as trocas alimentares entre os indígenas, os africanos e os europeus, a união de vários caminhos e experiências de vida, de etnias, de culturas, e a miscigenação de gostos, formas e aromas. Apesar de antigo e ultrapassado, em decorrência dos avanços tecnológicos, o pilão continua presente no imaginário popular dos brasileiros. 207 208 PIMENTA A pimenta é um ingrediente antigo e muito utilizado pelas culinárias africana e indígena. Tanto os índios nativos do Brasil, quanto os negros africanos, que vieram como escravos, consumiam pimentas em abundância. Os primeiros comiam-nas secas ou piladas, junto com farinha de mandioca (quya). Com a chegada dos escravos no Nordeste do Brasil (primeira Região a ser colonizada pelos portugueses) o consumo de pimentas aumentou. A nobreza e o clero apreciaram a pimenta brasileira, denominada Capsicum. Por ser mais suave, ela passou a ser preferida e exportada para Portugal. As cozinhas dos engenhos, dirigidas por europeias e conduzidas por escravas africanas, herdaram certos aspectos da cozinha indígena. Para acentuar o sabor dos alimentos, e porque o sal e o açúcar eram, também, produtos muito valiosos, as mulheres utilizavam temperos locais como o coentro, a salsa e a pimenta indígena (Capsicum). Por mais estranhos que fossem ao paladar dos portugueses, eles precisavam se adaptar aos novos gostos dos temperos da terra. O grande disseminador (“plantador”) das 209 pimenteiras é o sabiá, um pássaro que come os frutos e espalha as sementes, através dos seus excrementos. Desse modo, vai semeando a Capsicum por onde passa. A substância química que proporciona o caráter ardido e o sabor picante das pimentas – a capsaicina – causa a liberação de endorfinas e, consequentemente, uma sensação muito agradável de bem-estar. Declara COSTA apud CASCUDO (1954): O nome vulgar piperAcea, empregado naquelas acepções, vem do seu sabor ardente e abrasador, principalmente a pimenta vulgarmente chamada de cheiro (Capsicum adoriferum, Vell.); a cumary, a quiya comari, tupinico, segundo Marcgrave; e a malagueta (Capsicum baccatum, Linn.) que, segundo Almeida Pinto, é a querija-apuá dos índios. Além destas espécies de pimenta existem outras igualmente cultivadas, nomeadamente as que são assim chamadas: ‘Olho-de-peixe, tripade-macaco e umbigo-de-tainha’. À solonacea, com o nome vulgar de pimentão, pelo grande desenvolvimento a que atinge, davam os índios o nome de quiyá açu, pimenta grande. Pimentado-reino (Piper nigrusu, Linn.), originária da Índia, mas assim chamada para a distinguir das espécies indígenas, e mesmo porque vinha por intermédio da metrópole, o reino de Portugal. Cultivada no extinto Jardim Botânico de Olinda, foi propagada, mas a sua cultura não vingou. O uso geral da pimenta nas refeições de carne e peixe, sendo nestas particularmente empregada a de cheiro, em molho forte, picante, chamado 210 da mulata, ou fraco, pouco ardente, chamado de viúva, vem dos índios, do seu yquiataia, a pimenta seca ao sol, reduzida a pó, e misturada com sal, como ainda se usa, porém pisada, misturadamente, com a farinha de mandioca, e assim pulverizada no anguzô e no bobó. CASCUDO (1954) ressalta, também: Na África Oriental, Central, Meridional, Ocidental, a pimenta coincide com todos os paladares negros no tempo e no espaço. Quase tudo quanto se come na África obriga a presença queimante da pimenta, nos próprios doces. No mercado público de Cabinda provei uma bebida feita com pimentas, possível irmã da beberagem caiapó em Goiás. Na totalidade dos alimentos negros sente-se o ardor inconfundível. No Brasil, são cultivadas várias espécies de pimentas. Os frutos da popular malagueta são vermelhos, alongados, altamente picantes, e medem entre 1,5 cm e 3,5 cm de comprimento. A cumari é picante e ligeiramente amarga, oval, vermelho escuro, e possui menos de 1 cm de diâmetro. A pimenta biquinho é arredondada, vermelha, tem a ponta em forma de bico e gosto suave. Os frutos da pimenta dedo de moça são alongados, avermelhados, e sabor mais suave que a malagueta. A caiena pode ser verde ou avermelhada, é alongada e tem ardência forte. É muito usada na cozinha mexicana. A pimenta cambuci é verde-clara, achatada, doce e suave, e possui de 5 cm a 7 cm de diâmetro. Também são encontradas no país, entre outras, as 211 seguintes pimentas: doce americana, chapéu de bispo, bode, e pimenta de cheiro. O prato preferido pelos brasileiros - a feijoada misturada à farinha de mandioca - é sempre regado com molho de pimenta: este a acompanha e incrementa o seu sabor. São os molhos de pimenta que temperam, inclusive, a buchada, o mocotó, a rabada, o caruru de quiabos, a moqueca, a dobradinha, a galinha de cabidela e o sarapatel, pratos típicos das cozinhas baiana e pernambucana. Em relação à pimenta de cheiro, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) Amazônia Oriental tem desenvolvido pesquisas visando a recuperar as características originais dessa planta, porque ela vem perdendo, aos poucos, seu cheiro, cor e tamanho usual, em decorrência de cruzamentos com outras espécies de pimenteiras. Muitas pessoas acreditam que a capsaicina possui propriedades medicinais. Neste sentido, comem pimentas e/ou bebem seu chá visando à cicatrização de feridas, à dissolução de coágulos sanguíneos, à prevenção de hemorragias e arteriosclerose, ao controle de colesterol e ao aumento de resistência física. As pimentas são indicadas pela Medicina Popular para curar dores de dentes, desmaios ou vertigens, eczemas, doenças venéreas e afecções das vias urinárias, regras menstruais dolorosas, perda de apetite, rouquidão e tosse (SOUTO MAIOR, 2004). A pimenta do reino (Piper nigrum L.) uma planta trepadeira originária da Índia, foi introduzida, no Brasil, 212 no século XVIII, durante o reinado de D. João VI, e popularizada com a imigração japonesa para o Estado do Pará, na primeira metade do século XX. O clima úmido e quente, da Região, se mostrou favorável ao cultivo dessa pimenteira que, séculos atrás, era chamada ouro negro. Ela pertence a um gênero diferente de pimenta e a substância causadora de sua ardência se chama piperina. A pimenta do reino é muito utilizada na culinária brasileira, servindo para temperar carnes assadas e guisadas, legumes, patês, conservas e vinha d’alhos. O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de pimenta do reino. Exporta, em média, 45 mil toneladas, por ano, para a Europa e os Estados Unidos. 213 214 SABIÁ-LARANJEIRA Dentre as aves mais populares do Brasil está o sabiá-laranjeira. Oriundo da Mata Atlântica, seu nome científico é Turdos Rufiventris e, em inglês, ele é chamado Rufous-bellied Thrush. É denominado, ainda, sabiá-peito-roxo, sabiá-gongá, sabiá-vermelho e sabiáamarelo. Segundo os ornitólogos, existem cerca de catorze espécies de sabiás, no país. Porém, dentre as mais populares, encontram-se o sabiá-da-mata, o sabiá- ferreiro, o sabiá-branco e o sabiá-coleira. Na natureza, a ave vive em torno de trinta anos, preferindo habitar em florestas ralas, beiradas de matas e serras, pomares, árvores esparsas, praças e quintais, sempre em locais onde existem frutas e água em abundância. O sabiá-laranjeira, em particular, a mais popular de todas aquelas aves, mede cerca de vinte e cinco centímetros, sua plumagem é parda, excetuando-se a região do ventre, onde se destaca a cor vermelho ferrugem, levemente alaranjada, e seu bico é amarelo escuro. O pássaro come quase todas as frutas. Aprecia bastante o mamão, o melão, a manga, a banana, o caju, o abacate, a amora, a pitanga, dentre outras, 215 alguns legumes, insetos, minhocas e pimenta. Em decorrência de sua avidez extraordinária, cai facilmente em arapucas. Com gravetos e fibras entremeadas de barro, constrói seu ninho em árvores frondosas e na bifurcação dos galhos, moldando o formato de um pequeno prato de barro. Ali, sempre no início do inverno (de fevereiro a março) ele põe de três a quatro ovos esverdeados, com manchas irregulares ferruginosas. O sabiá-laranjeira destaca-se, também, pela qualidade do trinado: seu canto é lindo, longo, melodioso e agradável, assemelhando-se à sinfonia saída de uma flauta. Alguns pássaros chegam a ficar cerca de dois minutos, ininterruptamente, emitindo o cantar. Por outro lado, não existem duas aves que entoem a mesma música. Na primavera, é o primeiro canto que se ouve, antes mesmo de clarear os dias. Para ouvi-lo, entre no site: http://www.picarelli.com.br/novopc/sabia1.wav A ave ficou eternizada no folclore, na literatura, na poesia, na música e, na cultura brasileira, de um modo geral. Era o ano 1843, e o poeta Antônio Gonçalves Dias (1823-1864) estudava em Coimbra. Com vinte anos de idade, apenas, o romântico maranhense escreveu Canção do Exílio, imortalizando o sabiá-laranjeira, que era visualizado, pelo autor, como uma referência mítica fundamental. Aquele canto de louvor, à Pátria amada, tornou-se a poesia mais citada na literatura e na música popular brasileira. Além de representar a 216 saudade (e a idealização) da terra natal, um sentimento universal e sem idade, tornou-se a própria expressão do nacionalismo, em um Brasil que acabara de conquistar sua independência política. Abaixo, eis o poema escrito por Gonçalves Dias. Canção do Exílio Minha terra tem palmeiras, Onde canta o sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o sabiá. Minha terra tem primores, Que, tais, não encontro eu cá; Em cismar sozinho, à noite Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o sabiá. 217 Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu’inda aviste as palmeiras, Onde canta o sabiá. Uma música brasileira divulgou, ainda, o sabiálaranjeira. Seus autores são Mario Vieira e Hervé Cordovil, e a letra da poesia encontra-se a seguir. Sabiá lá na gaiola, Fez um buraquinho, Voou, voou, voou, voou, E a menina que gostava, Tanto, tanto do bichinho, Chorou, chorou, chorou, chorou. Sabiá fugiu do terreiro, Foi cantar no abacateiro, E a menina pôs-se a chamar: Vem cá, sabiá, vem cá. A menina diz soluçando: Sabiá, eu estou te esperando, Sabiá responde de lá: Não chores que eu vou voltar. Também os compositores Luiz Gonzaga e José Dantas, inspirados naquele pássaro, elaboraram uma música e poesia que veio enriquecer o folclore nordestino. Sua letra é a seguinte 218 A todo o mundo eu dou psiu (psiu, psiu, psiu), Perguntando por meu bem (psiu, psiu, psiu), Tendo um coração vazio, Vivo assim a dar psiu, Sabiá vem cá também. Tu que anda pelo mundo, sabiá, Tu que tanto já voou, sabiá, Tu que fala aos passarinhos, sabiá, Alivia a minha dor, sabiá. Tem pena d’eu, sabiá, Diz por favor, sabiá, Tu que tanto anda no mundo, sabiá, Onde anda o meu amor, sabiá... Quando se considerou importante selecionar uma ave representativa do Brasil, dentre quase duas mil espécies distintas, alguns ornitólogos acharam que, devido à coloração verde e amarela, a ararajuba deveria ser a escolhida. Outros votaram no tucano, por sua associação com os Trópicos. A maioria, contudo, elegeu o sabiá-laranjeira. Os critérios para a escolha não foram, apenas, a beleza, ou o trinado mais harmonioso, do sabiá-laranjeira: foi levada em consideração a sua proximidade com as pessoas. Seus ninhos têm o formato de uma tigela profunda de argila e fibras vegetais, sendo encontrados em quintais, beirais de telhados, e granjas. 219 A partir do dia 3 de outubro de 2002, através de um decreto do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o sabiá-laranjeira juntou-se, oficialmente, aos quatro símbolos nacionais (a bandeira, o hino, o brasão de armas e o selo), passando a ser a Ave Símbolo do Brasil. 220 UIRAPURU 221 O uirapuru é um pássaro irrequieto e pequeno: mede somente uns 12,5cm de comprimento. Seu nome científico é cyphorhinus aradus e ele pertence à família das troglodytidae. Esse pássaro se alimenta, basicamente, de frutas e insetos e, o seu habitat natural, são as matas e florestas da Amazônia. O visual do uirapuru não é atraente: ele possui uma plumagem pardo-avermelhada, ou verdeoliva, com a cauda avermelhada, um bico forte e pés grandes. Os índios chamam-no irapuru ou guirapuru, que significa pássaro ornado, pássaro emprestado, ou pássaro que não é pássaro, e cuja missão é presidir o destino dos outros pássaros. Seu canto é tão belo que, ao ouvi-lo, as aves param de cantar, como se estivessem enfeitiçadas. O primeiro estrangeiro a ouvir o canto do uirapuru, e a registrar a sua melodia foi o botânico Richard Spruce, em uma excursão ao rio Trombetas, na metade do século XIX (CASCUDO, 1979). O botânico escreveu que o uirapuru cantava para todo o mundo, como uma caixa de música. Eram inconfundíveis os claros sons metálicos, exatamente modulados como por um instrumento musical. As frases eram curtas, mas cada uma incluía todas as notas do diapasão, e depois de repetir a mesma frase umas vinte vezes, passava subitamente para outra, de quando em vez com a mudança de clave de uma quinta-maior, e prosseguia por igual espaço. Normalmente fazia uma breve pausa, antes de mudar de tema. Eu já o escutava, há bastante tempo, quando me ocorreu a idéia de fazer a transcrição musical... 222 Simples como é, esta música era vinda de um músico invisível no fundo da mata selvagem, de uma magia que me encantou quase uma hora. Então, bruscamente, parou, para recomeçar tão longe que mal pude percebê-la a extinguir-se (p. 888). No Norte do Brasil, existem várias lendas sobre o uirapuru. Uma dessas lendas salienta que um jovem guerreiro se apaixonou pela esposa de um cacique. E, como não podia se aproximar dela, solicitou ao deus Tupã que o transformasse em um pássaro. Tupã, prontamente, atendeu ao seu pedido. Notando, porém, que, todas as noites, um pássaro cantava para a sua esposa, o cacique começou a persegui-lo, com a intenção de prendê-lo. A ave, entretanto, voou para dentro da floresta, e o cacique não pôde acompanhá-la. Todas as noites, então, o uirapuru retornava e cantava para a sua amada, desejando que, através do esplêndido canto, ela o descobrisse. Muito embora seu objetivo não tivesse sido alcançado, o uirapuru continuou cantando para sempre Outra lenda ressalta que, em uma tribo, havia duas índias apaixonadas pelo mesmo cacique. Sabendo disto, ele prometeu casar com aquela que tivesse a melhor pontaria com a flecha. Houve um campeonato e uma delas ganhou a disputa. Contudo, a índia perdedora – chamada Oribici - chorou, tanto, que suas lágrimas foram suficientes para formar uma fonte e um córrego. Por outro lado, Oribici percebeu que o cacique amava muito a sua irmã e esposa. Desse modo, decidiu se 223 resignar com a falta de sorte e não disputar mais aquele amor. O generoso Tupã, compadecido com o pesar de Oribici, transformou-a em um pássaro, para que, do alto, ela pudesse ver, sempre, o seu amado. Além disso, deulhe, também, um canto belíssimo, capaz de enfeitiçar todos os demais pássaros da floresta, compensando-a, desse modo, pelo amor que não pôde concretizar. Uma terceira lenda destaca que a flecha de uma donzela apaixonada atingiu um pássaro de plumas vermelhas e de canto perfeito, transformando-o em um guerreiro forte e belo. Havia, porém, um feiticeiro, aleijado e muito feio, que amava aquela donzela e sentia ciúmes do guerreiro. Sendo assim, ele tocou uma determinada música, com sua flauta encantada, e fez com que o guerreiro desaparecesse para sempre. A partir desse dia, só restou o lindo canto do guerreiro nas matas e florestas da Amazônia. Segundo a lenda, trata-se do próprio uirapuru. Em relação a esse pássaro, portanto, o real e o lendário parecem se confundir. Os pesquisadores afirmam que ele nunca repete as mesmas frases musicais e, por essa razão, é considerado, pelos nativos, como um ente sobrenatural. Depois de morto, não somente o seu corpo, mas, algumas partes dele, ou do seu ninho, são considerados talismãs, sendo muito procurados em mercados e feiras. Para os índios tupis, o uirapuru representa um Deus que adquiriu a forma de pássaro. Por sua vez, as pessoas acreditam que um amuleto contendo alguma parte de seu corpo, ou ninho, atrairá clientes em estabelecimentos comerciais. 224 Creem, também, que ele atrai a felicidade: o homem que carregar uma simples pena, daquela ave, tornarse-á irresistível para as mulheres, e terá muita sorte nos negócios. E, a mulher que conseguir um pedaço do seu ninho, conseguirá viver com o homem amado, mantendo-se este fiel e apaixonado para todo o sempre. Quem ouvir o canto do uirapuru, que faça um pedido, imediatamente, porque este será realizado. Cascudo registrou: Não há no Pará, no Maranhão e Amazonas muitos taverneiros que não tenham na soleira da porta enterrado um guirapuru, a quem atribuem a virtude de conduzir fregueses à sua taverna. Um guirapuru, por este motivo, custa caro... Muitos comerciantes compram tais amuletos apenas para deixá-lo em uma gaveta do estabelecimento, ou enterrá-lo na soleira da porta, acreditando que o mesmo atrairá fregueses. É dificílimo se adquirir uma pena do uirapuru. Os pássaros sempre o avisam da presença de predadores, e ele voa para longe. Consegue-se, somente, adquirir penas velhas, quando elas se desprendem de seu corpo e caem ao chão. Os amuletos são confeccionados, então, com essas penas. O uirapuru serviu de inspiração para a Música Popular brasileira. Jacobina e Murilo Latini compuseram uma música em sua homenagem, tendo ela sido interpretada por Pena Branca e Xavantinho. Sua letra segue abaixo. 225 226 Uirapuru Uirapuru, uirapuru, Seresteiro cantador do meu sertão; uirapuru, uirapuru, Ele canta as mágoas do meu coração. A mata inteira fica muda ao teu cantar, Tudo se cala para ouvir tua canção, Que vai ao céu numa sentida melodia, E vai a Deus em forma triste de oração. Uirapuru, uirapuru, Seresteiro cantador do meu sertão; uirapuru, uirapuru, Ele canta as mágoas do meu coração. Se Deus ouvisse o que te sai do coração, Entenderia que é de dor tua canção, Que nos seus olhos anda o pranto em moradia, Que daria para salvar o meu sertão. Uirapuru, uirapuru, Seresteiro cantador do meu sertão; Uirapuru, uirapuru, Ele canta as mágoas do meu coração. Tal canção pode ser apreciada no site: http://www.kboing.com.br/musica-e-letra/nilo-amaro-eseus-cantores-de-ebano/82319-uirapuru/. Outra música sobre o maravilhoso pássaro foi composta por Waldemar Henrique, em 1934. Eis a sua letra: 227 Uirapuru Certa vez de montaria, Eu descia o Paraná, E o caboclo que remava, Não parava de falar, Oh, oh, não parava de falar, Oh, oh, que caboclo falador! Me contou do lobisomem, Da Mãe-D’água e do Tajá, Disse do Jurutahy, Que se ri pro luar, Oh, oh, que se ri pro luar, Oh, oh, que caboclo falador! Que mangava de visagem, Que matou surucucu, E jurou com pabulagem, Que pegou o uirapuru, Oh, oh, que pegou o uirapuru, Oh, oh, que caboclo tentador! Caboclinho, meu amor, Arranja um pra mim, Ando roxo pra pegar unzinho assim... O diabo foi-se embora, E não quis me dar, Vou juntar meu dinheirinho, Pra poder comprar... 228 Mas no dia em que eu comprar, O caboclo vai sofrer, Eu vou desassossegar, O seu bem querer, Oh, oh, o seu bem querer, Oh, oh, ora deixe ele pra lá! As lendas relativas ao uirapuru inspiraram, ainda, vários artistas. Em 1917, o compositor e maestro Heitor Villa-Lobos, baseado em material folclórico coletado em viagens pela Região Norte, compôs um poema sinfônico. Nesse material, havia a narrativa de uma lenda bem simples: uma jovem, ao ouvir o canto do uirapuru (considerado como o rei do amor), atirou uma flecha em seu coração. E o transpassar da flecha transformou o pássaro em um belo rapaz. São raras as pessoas que conseguem ouvir (ou ouviram) o uirapuru cantar. Isto se deve a alguns aspectos: 1) o pássaro canta nos galhos mais altos das matas e florestas amazônicas; 2) seu canto visa a atrair a fêmea para o acasalamento, durando de dez a quinze minutos; 3) o canto ocorre, apenas, ao amanhecer e ao anoitecer; e 4) o uirapuru canta, tão-somente, durante a construção do seu ninho (cerca de quinze dias por ano). Além disso, há que se levar em conta outro fator que tem contribuído para o extermínio do uirapuru: a caça predatória, em busca de elementos para a confecção de amuletos. Cabe salientar, por fim, que a presença do uirapuru, um pássaro tão pequeno quanto um pardal, 229 veio enriquecer o folclore brasileiro através de lendas, mitos, crenças em seus poderes sobrenaturais, melodias, canções, e sinfonias compostas em seu nome. Não há canto mais belo que o dele. Todos os pássaros parecem ficar enfeitiçados, ao ouvi-lo cantar. É que, nenhuma ave, no planeta Terra, ousaria interromper o mais raro, melodioso e sagrado dos mestres canoros. 230 VITÓRIA-RÉGIA 231 A vitória-régia é uma das maiores plantas aquáticas do mundo. Originária da Região Amazônica, ela pertence à família das Nynphaeceae. Por se tratar de uma planta ornamental exuberante, os europeus chamaram-na de rosa lacustre. E, quando um pesquisador inglês levou suas sementes para plantar, nos jardins do palácio real, os próprios ingleses denominaram-na Vitória, em homenagem à sua querida rainha. Os indígenas chamam-na de uapé, iapucacaa, aguapé-assú, jaçanã, ou nampé; e, os índios guaranis, em particular, denominam-na irupé. As folhas da vitória-régia possuem as bordas dobradas, são grandes e flutuantes, apresentam-se no formato de um círculo e, algumas, chegam a cobrir uma superfície de três metros quadrados. As folhas são capazes de suportar uma carga de, até, quarenta quilos, sem afundá-la na água, se o peso for bem distribuído. Na Região Norte, as garças, os maguaris, e várias outras aves, passeiam tranquilas sobre os largos mantos verdes que flutuam nos rios e igarapés. As flores da vitória-régia brotam nos meses de janeiro e fevereiro. São brancas ou rosadas, possuem várias camadas de pétalas, e abrem somente durante a noite, exalando um perfume maravilhoso. Algumas flores medem trinta centímetros de diâmetro e, em seu centro, há um botão circular onde se encontram as sementes. A vitória-régia se beneficia das inundações e enchentes do rio Amazonas. À medida que as águas vão subindo, crescem também os seus pecíolos (hastes). Por vezes, eles ficam longuíssimos, atingindo até, cinco metros de comprimento. Caso o nível das 232 águas permaneça alto, a vitória-régia poderá viver cerca de dois anos; porém, se elas baixarem, a planta, aos poucos, irá sucumbir. Em relação à vitória-régia, existem vários mitos e lendas, na Região Norte, narrados por sábios pajés e índias idosas. Reunidos à noite, eles repassam, oralmente, sua cultura milenar. Alguns dizem, por exemplo, que tudo começou com a índia Naiá. Ela era apaixonada pela Lua (considerada um deus masculino e representada por um jovem e bonito guerreiro). Naiá passava as noites correndo pelas matas, perseguindo o noivo celestial, e não havia poção milagrosa capaz de curá-la de tal obsessão. Certa vez, estando à beira de uma lagoa, ela viu a imagem do seu amado refletida na água. Sem titubear, mergulhou ao seu encontro e morreu afogada. Sensibilizada com o fato, a Lua procurou compensar o sacrifício de Naiá. Dilatou a palma das folhas da vitóriarégia e transformou-a em uma estrela das águas, um verdadeiro poema de beleza e perfume. E, para que ela acolhesse os raios de luar - em verdade, os beijos apaixonados - a Lua fez com que, as flores daquela planta, abrissem somente à noite, exalando um aroma esplendoroso. De acordo com outra versão da lenda, os nortistas contam que a Lua tinha poderes extraordinários para transformar, as índias, em estrelas. E havia uma índia que desejava, muito, se transformar em estrela, para poder ficar mais perto da Lua, sua grande paixão. Tentando alcançá-la, subia em morros e montanhas chamando por ela: Iaci! Iaci! No entanto, todos os esforços eram inúteis! 233 Certo dia, a índia percebeu, não, somente, o reflexo da Lua, mas, ouviu o seu canto, oriundo das profundezas das águas. Crendo ser o amado lhe chamando, atirou-se no igarapé e jamais retornou à superfície. Compadecida com sua falta de sorte, a Lua transformou-a, então, em uma bela estrela d´água na Terra. Em outra variação dessa lenda os protagonistas são a Lua (um bonito guerreiro chamado Jacy), a planta aquática Uapé, e uma cunhã, jovem índia chamada Naiá, que vivia como as demais mulheres da aldeia, cozinhando, tecendo, raspando mandioca, cuidando das crianças, e modelando vasos de barro. Ao final das tardes, ela se deitava na rede e adormecia olhando o céu. 234 Certa noite, quando deitou, pela primeira vez, Naiá percebeu as estrelas no céu. Nessa atitude contemplativa, descobriu, também, a Lua (representada por um personagem masculino, um belo guerreiro) e, a partir daí, desejou ser uma estrela. Quando a noite chegava, ela corria para as margens do rio, olhava para o céu e via seu amado brilhando entre as estrelas. Então, repleta de paixão, começava a cantar e a chamar por ele. Passava horas e horas admirando o firmamento, na tentativa de visualizar o rosto do bem amado. Os meses se passavam e Naiá continuava buscando os raios da Lua, sem nunca dela conseguir se aproximar. Cantava todas as noites, às vezes subia no topo de alguma árvore, tentando tocar no jovem guerreiro, porém, este permanecia distante e silencioso. Um dia, cantando e dançando, ela entrou em um lago claro como um espelho. Molhou os seus pés, depois as pernas e, em seguida, abraçou o reflexo de Jacy, que estava projetado na água. Enfim, pensou ela, o meu amado desceu à Terra para banhar-se comigo. Assustada, a tribo observava o comportamento de Naiá. Um dos índios, inclusive, tentou impedi-la de entrar na água, mas, ela foi mergulhando, mergulhando e, em pouco tempo, desapareceu, morrendo afogada. Olhando para o local, depois do ocorrido, os indígenas viram surgir uma luz na superfície do lago. A luz foi se transformando em pequenas folhas redondas, que cresceram, até ficar bem grandes, como se fossem uma bandeja verde. A seguir, apareceu uma pequena pétala branca, que foi aumentando de tamanho. 235 Surgiram, então, outras pétalas, que formaram uma linda flor, em forma de estrela. A estrela branca abriu as pétalas e perfumou todo o ambiente: tratava-se da flor da noite. Cheia de remorsos, a Lua havia transformado a jovem morta em uma estrela do rio Amazonas. Em outras palavras, Jacy transformara Naiá em Uapé. Desse modo, quando a Lua ilumina as águas dos rios, lagoas e igarapés, Uapé abre suas pétalas para receber o carinho do amado. No entanto, ao nascer do dia, ela se fecha. Somente em noites de Lua cheia, quando o céu, sobre a selva amazônica, está claro e sem nuvens, ela se abre em plenitude máxima. Naiá se transformou, definitivamente, na gigante e bela flor das águas, permanecendo como a rainha das plantas aquáticas. Além de conter beleza e perfume, a vitória-régia possui uma raiz (um tubérculo parecido com o inhame) que os nativos usam na alimentação e chamam “fornod’água”, por sua semelhança com um tacho de torrar farinha. Por outro lado, os indígenas extraem o sumo dessas raízes (uma tintura preta) e, com ele, pintam os cabelos. A cada mês de agosto, as cápsulas da vitóriarégia, repletas de sementes, caem no fundo das águas. E elas, na medida em que recebem a ação dos raios solares, se enterram no lodo e enrijecem. Os índios e as aves da região apreciam tais sementes, também, em sua alimentação. Voando em bandos, são os pássaros que espalham as sementes da vitória-régia por onde passam, e perpetuam a vida da rosa lacustre: a mais bela deusa vegetal e estrela das águas. 236 FONTES CONSULTADAS A CADEIA produtiva do babaçu. Disponível em: <http://www.mda.gov.br/saf/arquivos/estudo_babacu. pdf>, Acesso em: 1 fev. 2008. ACHCAR, Tatiana. Nas lendas, a sexualidade que não é apenas sexo. Disponível em: <http://novaescola.abril.com. br/noticias/jul_05_1/>, Acesso em: 19 ago. 2005. A descoberta do cacau - origem e consumo. Disponível em: <http://www2.crb.ucp.pt/historia/abced%C3%A1rio/ chocolt/adescoberta.htm>, Acesso em: 10 fev. 2009. AGUIAR FILHO, Adonias. Sul da Bahia: chão de cacau. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; INL, 1978. AGUILAR, Nelson; PEDROSO, Franklin E. (Orgs.). Brasil profundo. São Paulo: Associação Brasil +500, 2001. A iara. 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