Os impactes ambientais de “ondas” ou modas de investimento em campos de golfe Gonçalo Filipe Diogo Guerreiro Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia do Ambiente Júri Presidente: Prof. Amílcar de Oliveira Soares Orientador: Prof. Maria do Rosário Sintra de Almeida Partidário Vogal: Prof. Manuel Guilherme Caras Altas Duarte Pinheiro Novembro de 2009 “Quando os homens não olham para a Natureza, julgam sempre poder melhorá-la.” John Ruskin Agradecimentos À minha família Aos meus amigos Prof. Maria do Rosário Partidário (Orientação) Engª Susana Cavaco (Grupo Oceânico Golf) Engº Steve Richardson (Grupo Oceânico Golf) Engº Miguel Grosso (Grupo Pestana) Engº Miguel Nunes (SNIRH) Engº João Ministro (Almargem) Engº. António Miranda (Penina Golf Resort) Dra. Anabela Isidoro (ICNB) Engª Edite Reis (CCDR Algarve) Engº Francisco Sequeira (DGOTDU) Prof. José Monteiro (Universidade do Algarve) Prof. Rodrigo Proença de Oliveira (IST) Vasco Anjos (CNIG) Resumo O turismo de golfe tem protagonizado um crescimento considerável tanto a nível mundial como a nível nacional, um facto constatável pelos crescentes aumentos quer de instalações, quer de jogadores quer mesmo pelos volumes de negócio que a ele estão associado. O presente estudo teve como objectivo a estimativa dos potenciais impactes ambientais que esse crescimento possa estar a provocar quer a um nível regional quer a nível local. O Algarve é a região com mais infra-estruturas de golfe em Portugal e, em geral, estão dispostas de forma bastante concentrada, tendo sido por essa razão definida como área de estudo. A análise de impactes focou-se nos sectores da agricultura, imobiliário, turismo, socioeconomia, energético, ordenamento de território, biodiversidade, e recursos hídricos. Nos impactes observados inclui-se a razoável expansão urbana inerente às urbanizações de golfe, aumento do valor do imobiliário adjacente ao campo, aumento de dormidas nos estabelecimentos hoteleiros em zonas de golfe, aumento dos postos de trabalho directos e indirectos, aumento dos consumos energéticos, potencial perda de biodiversidade nomeadamente, de flora, aumento de consumos de água e depressões localizadas da superfície piezométrica dos aquíferos que suportam a rega dos campos. Por comprovar ficaram os impactes na qualidade da água subterrânea cuja monitorização ainda revela algumas lacunas quer em termos de distribuição espacial quer a nível de controlo de alguns parâmetros como os pesticidas. Abstract In recent years golf tourism has seen a considerable growth both in a worldwide level as at a national level. This fact can be confirmed by the constant increase in the total number of golf courses, golf players and in the cash flow volume of this industry. The main objective of this study was to estimate the potential impacts associated to this growth and their significance both in regional as in local levels. To accomplish this objective, the Algarve region was defined has study area mostly because of its number of golf courses and their very confined distribution. The impact assessment was focused in themes like agriculture, real estate, tourism, social economy, energy, land use, biodiversity and water resources. The verified impacts were essentially the reasonable growth of urban areas associated with the courses’s establishment, increase in real estate and land value in adjacent areas, increase on the nights spent by tourists in golf area’s lodging, increase in the local employment, potential loss in biodiversity, especially in flora species, growth in water consumption and localized depressions in the piezometric surface of aquifers. The impacts that couldn’t be verified are related with ground water quality, specifically with pesticides, that required further monitoring and study. Índice 1. Introdução .............................................................................................................................. 1 1.1. História do golfe ............................................................................................................. 1 1.2. Desenvolvimento e economia do golfe ......................................................................... 3 1.2.1. Desenvolvimento a nível mundial .......................................................................... 3 1.2.2. Desenvolvimento a nível europeu ......................................................................... 4 1.2.3. Desenvolvimento a nível nacional ......................................................................... 5 1.3. Legislação Nacional e o golfe........................................................................................ 7 2. Objectivos do estudo ............................................................................................................. 8 3. Metodologia ........................................................................................................................... 9 3.1. Comparação e selecção de áreas de estudo .............................................................. 12 3.2. Caracterização da área de estudo e vantagens para a prática do golfe. ................... 16 3.3. Situação actual dos campos de golfe nas áreas de estudo ........................................ 21 4. 3.3.1. Tipologias existentes ........................................................................................... 21 3.3.2. Justificação para as tipologias existentes e desenvolvimento observado. ......... 22 3.3.3. Localização dos empreendimentos ..................................................................... 24 Avaliação de impactes......................................................................................................... 33 4.1. Sector agrícola ............................................................................................................ 33 4.2. Sector imobiliário e construção ................................................................................... 35 4.2.1. Urbanização associada ao golfe ......................................................................... 35 4.2.2. Efeitos económicos no imobiliário ....................................................................... 39 4.3. Sector do turismo ........................................................................................................ 42 4.4. Sector sócio-económico .............................................................................................. 50 4.5. Sector energético ........................................................................................................ 54 4.6. Ordenamento do território ........................................................................................... 57 4.7. Biodiversidade e paisagem ......................................................................................... 62 4.8. Recursos hídricos ........................................................................................................ 69 5. 4.8.1. Quantidade .......................................................................................................... 70 4.8.2. Qualidade. ........................................................................................................... 75 Conclusão ........................................................................................................................ 83 Referências .............................................................................................................................. 85 ANEXOS ...................................................................................................................................... 91 Anexo I – Distribuição de campos de golfe no Algarve . ......................................................... 93 Anexo II – Informação dos EIA feitos sobre campos de golfe no Algarve .............................. 95 Anexo III – Evolução da superfície piezométrica média dos aquíferos algarvios .................. 99 i Loulé – Aquífero: Quarteira 1989/1990 ................................................................................ 99 Loulé – Aquífero: Quarteira 2008/2009 .............................................................................. 100 Loulé – Aquífero: Campina de Faro 1988/1989 ................................................................. 101 Loulé – Aquífero: Campina de Faro 2008/2009 ................................................................. 102 Anexo IV – Evolução de dados da qualidade de água subterrânea por concelho ............... 103 Albufeira – Sistema aquífero Ribeira de Quarteira ................................................................ 103 Albufeira – Sistema aquífero Ribeira de Quarteira ................................................................ 104 Albufeira – Sistema aquífero Ribeira de Quarteira ................................................................ 105 Albufeira – Sistema aquífero Ribeira de Quarteira ................................................................ 106 Albufeira – Sistema aquífero Ribeira de Quarteira ................................................................ 107 Loulé – Sistema de aquífero de Quarteira ............................................................................. 108 Loulé – Sistema de aquífero de Quarteira ............................................................................. 109 Loulé – Sistema de aquífero de Quarteira ............................................................................. 110 Loulé – Sistema de aquífero de Quarteira ............................................................................. 111 Loulé – Sistema de aquífero de Quarteira ............................................................................. 112 Loulé – Sistema aquífero Campina de Faro .......................................................................... 113 Loulé – Sistema aquífero Campina de Faro .......................................................................... 114 Loulé – Sistema aquífero Campina de Faro .......................................................................... 115 Loulé – Sistema aquífero Campina de Faro .......................................................................... 116 Loulé – Sistema aquífero Campina de Faro .......................................................................... 117 Anexo V – Amostra de terrenos urbanos para análise de variação do valor imobiliário . ........ 118 Índice de Tabelas Tabela 1 - Representatividade dos ganhos mundiais do golfe. ................................................... 4 Tabela 2 - Distribuição de empreendimentos de golfe em Portugal em 2009. . ........................... 6 Tabela 3 - Indicadores territoriais do golfe em Portugal. . .......................................................... 12 Tabela 4 - Indicadores de evolução de golfe ao nível local no Algarve e Lisboa e Vale do Tejo 16 Tabela 5 - Indicadores populacionais da região do Algarve em 2008 . ...................................... 18 Tabela 6 - Quotas de capacidade de alojamento por áreas regionais de turismo ..................... 20 Tabela 7 - Tipos de alojamento escolhido pelos golfistas .......................................................... 23 Tabela 8 - Indicadores económico-financeiros do golfe e hotelaria . .......................................... 23 Tabela 9 - Ganhos estimados por estadia de turista de golfe .................................................... 24 Tabela 10 - Inventário de campos de golfe e classificação de áreas de implantação . .............. 27 Tabela 11 - Inventário de campos de golfe e classificação de áreas de implantação (Continuação) . ..................................................................................................................................................... 28 Tabela 12 - Inventário de campos de golfe e classificação de áreas de implantação (Continuação). ..................................................................................................................................................... 29 Tabela 13 - Áreas ocupadas por empreendimento. .................................................................... 30 Tabela 14 - Áreas ocupadas por empreendimento (Continuação). ............................................ 31 ii Tabela 15 - Áreas ocupadas por empreendimento (Continuação). ............................................ 32 Tabela 16 - Empreendimentos com áreas de implantação classificadas como áreas agrícolas ou RAN. ..................................................................................................................................................... 33 Tabela 17 - Evolução de explorações e superfície agrícola utilizada (SAU). ............................. 34 Tabela 18 - Potencial afectação do golfe nas áreas agrícolas. .................................................. 34 Tabela 19 - Comparação entre evolução de área urbana e área de urbanização de golfe. ...... 37 Tabela 20 - Contribuição das construções associadas ao golfe na evolução de construção regional ..................................................................................................................................................... 37 Tabela 21 - Contribuição das construções associadas ao golfe na evolução de construção local.38 Tabela 22 - Indicadores de construção por campo de 18 buracos. ............................................ 38 Tabela 23 - Variação de preço de lotes urbanos dentro e fora de campos de golfe .................. 42 Tabela 24 - Indicadores de golfe de 1999 a 2002. ...................................................................... 44 Tabela 25 - Potencial contribuição do golfe no panorama turístico do Algarve entre 1999 e 2007. ..................................................................................................................................................... 46 Tabela 26 - Despesa média diária por jogador e despesa anual gerada pela afluência média de um campo em 2002. .......................................................................................................................... 47 Tabela 27 - Comparação entre proveitos de aposento médios por estabelecimento hoteleiro e o proveito gerado num empreendimento hoteleiro em 2002 ......................................................... 47 Tabela 28 - Contribuição potencial dos jogadores de golfe para os proveitos de aposento dos estabelecimentos hoteleiros em 2002. ........................................................................................ 48 Tabela 29 - Indicadores de empregabilidade directa do golfe estimados a nível regional ......... 51 Tabela 30 - Comparativo de empregabilidade permanente entre golfe e agricultura ................. 51 Tabela 31 - Gastos médios do total e por jogador de golfe fora dos campos. ........................... 52 Tabela 32 - Estimativa de postos de trabalho indirectos financiados por golfe em 2002. .......... 53 Tabela 33 – Indicadores de consumo energético em campos de golfe e consumo doméstico . 54 Tabela 34 - Quota energética dos complexos de golfe a nível regional e local.......................... 55 Tabela 35 - Contribuição relativa do golfe no aumento de consumo energético regional e local entre 2000 e 2005. ................................................................................................................................ 55 Tabela 36 – Comparação do consumo energético no golfe, agricultura e indústria. .................. 56 Tabela 37 - Consumos de combustível por área unitária em áreas de golfe e agricultura ........ 56 Tabela 38 - Indicadores de ordenamento territorial dos campos de golfe. ................................. 58 Tabela 39 - Representatividade do golfe nos PMOT 2007. ........................................................ 59 Tabela 40 - Ocupação de áreas condicionadas por golfe no Algarve. ....................................... 61 Tabela 41 - Representatividade do golfe na área total artificializada no Algarve. ...................... 61 Tabela 42 - Síntese das observações de espécies de aves e anfíbios observados em campos de golfe e dos EUA. .................................................................................................................................. 65 Tabela 43 - Evolução da vida selvagem em 2 campos da Alemanha. ....................................... 66 Tabela 44 - Evolução de espécies de aves aquáticas no campo de golfe de São Lourenço..... 66 Tabela 45 - Evolução de espécies de aves aquáticas nos lagos do campo Laguna (Pinto, 2000)66 Tabela 46 - Classificação da cobertura de vegetação arbórea observada em campos de golfe.68 iii Tabela 47 - Abastecimento de água para rega por tipo de origem. ............................................ 69 Tabela 48 - Consumos de água de campos de golfe e campos agrícolas. ................................ 71 Tabela 49 - Relação entre extracções e recargas nos aquíferos do Algarve incluindo a extracção inerente à totalidade de campos de 18 buracos existente em cada aquífero ............................. 73 Tabela 50 - Evolução do nível piezométrico dos aquíferos onde se localizam campos de golfe74 Tabela 51 - Quantidades de fertilizantes utilizadas em campos de golfe. .................................. 78 Tabela 52 - Quantidades médias de fitofarmacos utilizadas em campos de golfe de Loulé. ..... 78 Tabela 53 - Comparação das taxas de variação de parâmetros de qualidade de água subterrânea verificados dentro e fora de zonas de golfe ................................................................................ 80 Tabela 54 - Valores médios de parâmetros de qualidade em estações dentro e fora de áreas de golfe ..................................................................................................................................................... 80 Índice de Figuras Figura 1 - Distribuição mundial de campos de golfe. . .................................................................. 3 Figura 2 - Evolução de campos e jogadores na Europa. . ............................................................ 5 Figura 3 - - Prioridade regional para investimento em golfe.. ....................................................... 6 Figura 4 - Metodologia geral aplicada ......................................................................................... 11 Figura 5 - Evolução do nº de campos em Lisboa e Vale do Tejo e Algarve . ............................. 13 Figura 6 - Variação absoluta de campos de golfe no Algarve e em Lisboa e Vale do Tejo . ..... 13 Figura 7 - Distribuição de campos de golfe em Lisboa e Vale do Tejo e Algarve ..................... 14 Figura 8 - Evolução de campos por concelho no Algarve .......................................................... 15 Figura 9 - Evolução de campos por concelho na região Lisboa e Vale do Tejo . ....................... 15 Figura 10 - Precipitação e temperaturas médias continentais . .................................................. 16 Figura 11 - Sistema urbano e acessibilidades em Portugal Continental . .................................. 19 Figura 12 - Quota de capacidade por tipologia e área regional turística 2007 . ......................... 20 Figura 13 - Total de empreendimentos de golfe no Algarve por tipologia . ................................ 21 Figura 14 - Evolução recente do golfe por estado e tipo de projecto . ....................................... 22 Figura 15 - Localização geral dos campos no Algarve . ............................................................. 25 Figura 16 - Distribuição de campos por condicionantes territoriais . .......................................... 25 Figura 17 - Actividades pré-golfe identificadas nos EIA aos campos do Algarve . ..................... 26 Figura 18 - Exemplo de delimitação de áreas do empreendimento Vale de Lobo em Loulé .... 36 Figura 19 - Identificação de urbanizações associados aos campos de golfe . ........................... 36 Figura 20 - Evolução do valor médio dos prédios . ..................................................................... 39 Figura 21 - Evolução do nº de prédios rústicos transaccionados por concelho . ....................... 40 Figura 22 - Evolução do valor total de transacções de prédios rústicos por concelho .............. 40 Figura 23 - Valor médio dos prédios rústicos transaccionados por concelho ............................ 41 Figura 24 - Variação de valor médio de prédios rústicos entre 2000 e 2007 por concelho ....... 41 Figura 25 - Evolução de estabelecimentos hoteleiros e golfe..................................................... 43 Figura 26 - Variações marginais do nº total de voltas e campos. ............................................... 45 iv Figura 27 - Variação média mensal de hóspedes e jogadores de golfe no Algarve em 2008 . . 48 Figura 28 - Comparação entre índices de sazonalidade de jogadores . .................................... 49 Figura 29 - Evolução do nº de voltas vendidas por zona . .......................................................... 50 Figura 30 - - Áreas classificadas no PMOT e localização de campos em Loulé. ....................... 60 Figura 31 - Riqueza de espécies por tipo de habitat. .................................................................. 64 Figura 32 - Diferença entre campos com e sem vegetação arbórea em Vilamoura................... 68 Figura 33 - Aprovações de campos por origem de rega. ............................................................ 70 Figura 34 - Poços e furos cartografados no Algarve e localização dos campos de Vilamoura e Quinta do Lago. ....................................................................................................................................... 71 Figura 35 - Necessidades de rega verificadas para um fairway do campo Pinheiros Altos. ...... 72 Figura 36 - Modelação da depressão piezométrica no aquífero de Ribeira de Quarteira no campo Vila Sol................................................................................................................................................ 74 Figura 37 - Dinâmica de escoamento simulada nos aquíferos Albufeira - Ribeira de Quarteira e Quarteira.. .................................................................................................................................... 81 v vi 1. Introdução 1.1. História do golfe A origem do Golfe é ainda, nos tempos que correm, uma questão em debate, pois existem várias teorias e vários países que reclamam a invenção deste jogo. Muita da dificuldade que se encontra na definição das origens do golfe prende-se com o facto deste jogo ter princípios básicos comuns a outros jogos da actualidade, nomeadamente, o de ser jogado com um taco com o qual se tenta levar uma bola a atingir determinada zona ou ponto. A versão mais conhecida publicamente será a de que o jogo fora inventado na Escócia e é sustentada pelo facto de apenas neste país existirem registos de um jogo onde se tenta que a bola entre num buraco no chão ao contrário de outras variantes europeias onde não existia buraco (GolfEurope, 2009). Por oposição estudos recentes apontam para que a modalidade tenha tido o seu berço na China antiga baseando-se em ilustrações e registos escritos que datam de 943 d.C. (Golf Information, 2008). A raiz comum das duas teorias acaba por ser o facto de, na Antiguidade, a vida ser mais focalizada em actividades primárias como a agricultura e pastorícia e pouco tempo era deixado para entretenimento. O pouco entretenimento que havia era, portanto, feito com recursos disponibilizados pelo próprio contacto com o campo e, para o efeito, os ramos das árvores e as pedras ou o pêlo de animais, em alguns casos, serviam perfeitamente. Os jogos envolvendo tacos de madeira e pedras ou outras matérias naturais, eram assim usuais em muitas regiões e países diferentes mas com actividades semelhantes e, como tal, é legítimo que países tão diversos como a Escócia, a Inglaterra, a Holanda, a China e até o Laos reclamem para si a invenção deste jogo (White, 2002). A versão que, ainda assim, reúne maior consenso das fontes que abordaram esta temática afirma que as raízes do Golfe remontam ao tempo do Império Romano, do qual datam registos de um jogo chamado paganica onde se usava uma bola cheia com pêlo ou penas e um taco curvo. Até ao início do século XV apenas existem referências a jogos que se assemelhavam ao Golfe actual como por exemplo, a cambuca da Inglaterra, o kolven na Holanda e a variante alemã que teria um intuito mais sério, uma vez que servia mesmo para definir a área de pastagem a que teriam direito os pastores alemães. É também nesta altura que surge, em Inglaterra, a primeira imagem que retrata o jogo, mais concretamente em Gloucester, num vitral da catedral da cidade, no qual se pode ver um homem que parece ir bater uma bola com o estilo do swing usado no golfe actual (( (White, 2002); (Portugal Golf, 2006); (ABC of Golf, 2009))) A partir de meados de século XV crê-se que os holandeses introduziram o kolven na Escócia pois os dois países mantinham boas relações, graças ao comércio de especiarias. O jogo teve boa aceitação junto da comunidade escocesa e principalmente, junto das tripulações dos navios, pois tinham muito tempo para praticar entre embarques e desembarques. E, curiosamente, os campos escoceses, denominados de links, apresentavam características mais adequadas à pratica deste desporto do que 1 os terrenos holandeses, quer ao nível da flora quer ao nível topográfico, tendo sido por essa razão que o jogo se veio a expandir e desenvolver muito mais na Escócia do que em qualquer outra região. É, deste modo, natural que os primeiros documentos que se referem concretamente ao golfe provenham da Escócia, nomeadamente, a sua proibição pelo Rei Jaime II em 1457 por achar que o jogo interferia com os treinos militares ( (GolfEurope, 2009); (Golf Information, 2008); (Portugal Golf, 2006) (White, 2002); (ABC of Golf, 2009)). Foi também neste país que surgiu o primeiro campo de golfe construído da História, na localidade de Leith no início do século XVII, no qual foi fundado em 1744 o primeiro clube de jogadores de golfe o The Gentlemen Golfers of Leith que começou a organizar as primeiras competições oficiais. Posteriormente, em 1754, foi fundado o St. Andrews Society of Golfers que também começou a promover competições oficiais e que, actualmente, com o nome de The Royal and Ancient Golf Club of St Andrews, é a entidade que regula o golfe mundial juntamente com a United States Golf Association ((USGA); (Portugal Golf, 2006); (Golf Information, 2008)). Foi depois graças à emigração de ingleses e escoceses que posteriormente se observou uma difusão da modalidade, primeiramente, por países europeus e, em seguida, para outros continentes, acabando por chegar ao continente americano e asiático onde hoje gera tanta ou mais actividade do que na própria Europa. Considera-se que por volta de 1860, o golfe já era mundialmente conhecido (Portugal Golf, 2006). Nos tempos que correm, é já uma indústria por si só que move inúmeras indústrias e que gera quantidades massivas de capital que atingem, todos os anos milhares de milhões de euros. É até usado como ambiente alternativo ao escritório por administradores, para realizar novos negócios e investimentos mas ainda é, essencialmente, um jogo para entretenimento. Contudo, tal como no passado, continua a ser considerado um jogo elitista e associado apenas a uma classe alta da sociedade, o que é muito devido às taxas por cada jogo, aos preços dos equipamentos desportivos e até às regras de etiqueta impostas pelos clubes. Estas condições não impedem que o número de jogadores esteja constantemente em crescimento por todo o mundo estimando-se em cerca de 57 milhões de pessoas por todo o mundo (Golf Research Group). O golfe em Portugal foi introduzido em finais do século XIX pela comunidade britânica residente na área do Porto e que estava ligada, principalmente, à produção dos famosos vinhos do Porto. Foi no ano de 1890 que foi fundado, em Espinho, o primeiro clube português ao qual se deu o nome de Oporto Niblicks Club que ainda se encontra em actividade. Só muito tempo depois, em 1922, foi fundado um outro clube em Lisboa, o Lisbon Sports Clube e, posteriormente, os clubes de Miramar e Vidago em 1932 e 1934 respectivamente (Portugal Golf, 2006). Apenas nos anos 60 se voltaram a observar investimentos em campos de golfe em Portugal com a abertura de quatro complexos no Algarve e um em Lisboa. A partir desta década o desenvolvimento deste mercado nunca mais estagnou, principalmente, nestas duas áreas que são consideradas, actualmente, os dois pólos de golfe a nível nacional. 2 1.2. Desenvolvimento e economia do golfe 1.2.1. Desenvolvimento a nível mundial Neste momento existem mais de 32000 campos de golfe em todo o mundo que estão distribuídos por 119 países. A tendência é para que este número aumente a um ritmo de 7300 em cada 10 anos, cerca de 30 % de crescimento médio. Mais de metade dos campos está localizado na América do Norte com 59% (16000 segundo a NGF), seguida pela Europa com 19% (6500 segundo a EGA) (Figura 1). Asia 12% Europa 19% Outros 10% EUA 59% Figura 1 - Distribuição mundial de campos de golfe. (Fonte: Golf Research Group). Quanto ao número de jogadores, as análises apontam para 57 milhões em todo o mundo sendo que 28.7 milhões são americanos, 4.3 milhões são europeus e os restantes 24 milhões são de outras nacionalidades. O domínio norte-americano também se estende aos negócios de material de golfe, uma vez que os EUA são o maior exportador de material de golfe do mundo com um volume de exportações no valor de 610 milhões de dólares por ano, que constitui cerca de 15% do volume total de negócios de exportação de material de golfe estimado em 3.9 mil milhões de dólares (Golf Research Group). Ao nível de importações é o Japão que lidera com cerca de 328 milhões de dólares importados todos os anos (Golf Research Group). O mercado de golfe dos Estados Unidos da América é, actualmente, líder mundial com ganhos na ordem dos 62 mil milhões de dólares o que representa 6% do PIB americano (SRI Internacional, 2002). Na Europa o mercado tem estagnado o que está muito relacionado com o facto de a oferta ainda ser direccionada para classes de elite, com altos rendimentos. Por outro lado o Japão e países da Oceânia são quem tem protagonizado os maiores desenvolvimentos no ramo do golfe (Mintel International Group Ltd., 2006). 3 A nível global esta vertente de turismo gerou, em 2006, cerca de 17.5 mil milhões de dólares (Mintel International Group Ltd., 2006) o significa cerca 2.4% do total de receitas geradas pelo sector turístico (UNWTO, 2007) (Tabela 1). Tabela 1 - Representatividade dos ganhos mundiais do golfe. (Fonte: (UNTWO, 2007)) Volume de negócios de golfe Ano gerado globalmente (milhões de dólares) 2006 Fracção dos ganhos globais do turismo (%) 17500 2.4 Em 2005 o valor do mercado americano passou para cerca de 76 mil milhões de dólares o que equivale a um crescimento anual de 4.1% em relação a 2000 mantendo-se assim acima da taxa de inflação de 2.5%. Na generalidade estima-se que indústria de golfe tenha tido um impacte financeiro na ordem do 195 mil milhões de dólares e que tenha criado cerca de 2 milhões de empregos (SRI International, 2008). O desenvolvimento do turismo de golfe depende, maioritariamente, do número de jogadores e também da disponibilidade de campos. Os mercados têm estado mais orientados para os jogadores regulares, os core golfers, mas o recente decréscimo no número destes jogadores, faz notar uma necessidade de novos alvos, principalmente, em mercados já muito saturados como os anglosaxónicos. Por esta razão o golfe tem sido agora associado como actividade adicional em pacotes de férias como forma de atrair novos jogadores, virando-se assim para os jogadores ocasionais, cujo número não para de aumentar em todo o mundo. (First Research, Inc., 2009). 1.2.2. Desenvolvimento a nível europeu No continente europeu, a indústria de golfe ainda se encontra algo subdesenvolvida, face à sua homónima americana com um total de campos a quedar-se apenas pelos 6500 (EGA, 2007). Apesar de alguns países já mostrarem sinais de saturação neste mercado, casos da Inglaterra e Escócia que têm crescimentos anuais baixos de 1.8% e 1.3%, a verdade é que pouco menos de metade dos países europeus possui menos de 30 campos de golfe (EGA, 2008). Em termos globais, o crescimento percentual do número de campos na Europa nos últimos 10 anos foi de 24% e em termos jogadores esta percentagem aumenta para os 54% (Figura 2). Quanto ao aumento anual médio queda-se pelos 3.8 %, o que significa cerca de 100 a 200 novos campos por ano na Europa. 4 4500000 7000 4000000 6000 5000 3000000 2500000 4000 2000000 3000 1500000 Nº de campos Nº jogadores 3500000 Nº Jogadores Nº campos 2000 1000000 1000 500000 0 0 1985 1992 1999 2006 Figura 2 - Evolução de campos e jogadores na Europa. (Fonte: (EGA, 2008)). 1.2.3. Desenvolvimento a nível nacional A nível nacional o crescimento na última década foi de 79% a nível de campos e 151% ao nível de jogadores (EGA, 2008). As regiões onde o golfe ganhou mais expressão foram o Algarve e Lisboa e Vale do Tejo, tendo sido a primeira a que teve um ganho mais significativo nos últimos 10 anos. No PENT (PENT - Turismo de Portugal, 2007), o golfe foi definido como sendo um produto turístico estratégico pois, como é atestado por outro relatório editado pela mesma entidade sobre golfe, em 2006, é um negócio que, anualmente, atrai cerca de 300 mil jogadores, gera 1.4 milhões de voltas, 1.1 milhões de dormidas e representa 1.8 milhões de euros em receitas, significando 1.25% do PIB nacional e 14 % do PIB turístico (THR Acesores en Turismo, Hotelaría y Recreación, S.A, 2006). Em termos de oferta, Portugal apresenta já cerca de 76 empreendimentos com golfe, incluindo os campos insulares, e destinos, como por exemplo, a região de Algarve, já têm campos incluídos no ranking dos melhores campos da Europa assim como boas críticas dos melhores especialistas da área como a revista Golf ou o site Word Golf. No mesmo estudo acima referido, são consideradas como as mais-valias dos campos nacionais a sua diversidade, a diferenciação paisagística e também a regularidade climatérica que assegura períodos longos de bom tempo para a prática e atenua o efeito da sazonalidade devido à variação das estações. A distribuição territorial dos campos revela que, basicamente, existem dois pólos turísticos de golfe que são Lisboa e Vale do Tejo, com 29% dos empreendimentos e Algarve, com 47%, representando cerca de 76% da oferta total. Segue-se a região do Norte com 12% e os restantes campos dispersam-se na mesma proporção pelas restantes regiões (Tabela 2). 5 Tabela 2 - Distribuição de empreendimentos de golfe em Portugal em 2009. (Fontes: (THR Acesores en Turismo, Hotelaría y Recreación, S.A, 2006) (Algarve Golf, 2008) (CCDR Algarve, 2008) (Portugal Golf, 2008)). Região Nº empreendimentos Distribuição (%) Norte 9 12% Centro 2 3% Lisboa e Vale do Tejo 23 29% Alentejo 1 1% Algarve 35 47% Açores 3 4% Madeira 3 4% O Algarve lidera também a tabela nacional de voltas vendidas com um total de 1 milhão de voltas em 2006, tendo sido 900 mil jogadas por turistas estrangeiros. Na região de Lisboa o número baixa para 250 mil tendo os turistas estrangeiros efectuado 150 mil dessas voltas, o que representa 60% do total. Ao nível empresarial Portugal conta já com largos anos de experiência e know how das operadoras uma vez que 25% das empresas operam no ramo há mais de 30 anos e as restantes há pouco menos de 20 o que é suficiente para competir internacionalmente. Existe também já uma boa formação fornecida quer pelas operadoras quer pelos cursos específicos de turismo e em geral a relação qualidade preço é bastante atractiva com green fees (preço / volta de jogo) relativamente baixos e boas condições de alojamento. No entanto o sector apresenta ainda algumas debilidades como o baixo número de operadoras existentes, dez no total, e a dependência do mercado internacional devido ao baixo número de jogadores nacionais. Em termos de desenvolvimento futuro, existem zonas classificadas como prioritárias e zonas secundárias (Figura 3) tendo em conta as necessidades de diversidade de campos para os golf travelers, de uma boa rede de transportes, nomeadamente aeroportos e acessos, boa organização empresarial e experiência no ramo. Figura 3 - Prioridade regional para investimento em golfe.(Fonte: (THR Acesores en Turismo, Hotelaría y Recreación, S.A, 2006)). 6 1.3. Legislação Nacional e o golfe Sendo um campo de golfe, um empreendimento com muitas e variadas interacções ambientais, será natural que os princípios básicos a ter em conta na salvaguarda dos valores ambientais passíveis de serem influenciados pela construção de um campo de golfe sejam os que estão dispostos na Lei nº 11/87 denominada Lei de Bases do Ambiente. No entanto, á medida que se vão dimensionando os vários elementos do campo há que ter conta legislação mais específica, mais concretamente, em relação a localização, gestão de recursos e gestão de resíduos. Em termos de protecção de recursos hídricos, a legislação nacional apresenta uma extensa gama de mecanismos que visam proteger tanto as águas superficiais como subterrâneas e todos têm por base a Lei da Água, actualmente, Lei nº 58/2005 que foi transposta da Directiva 2000/60/CE e que engloba já as disposições mais recentes ao nível do direito europeu. Adicionalmente, existem regulamentos específicos que regulamentam a qualidade dos meios hídricos e a sua melhoria, que regulam a qualidade de água para consumo humano e por fim, os que obrigam ao licenciamento e autorização do uso domínio público hídrico expressos nos Decretos – Lei nº 236/98, 243/01 e 46/94 respectivamente. O controlo dos parâmetros de qualidade de águas residuais é por sua vez estipulado nos Decretos-Lei nº 390/99 e 506/99. Existe também um regulamento específico apenas para águas subterrâneas que se encontra no Decreto – Lei nº 382/99. No que concerne a resíduos a sua regulamentação geral está disposta no Decreto-Lei nº 178/2006 mas cada tipo de resíduo tem sua própria regulamentação. Os resíduos de equipamentos eléctricos e electrónicos, por exemplo computadores ou peças dos buggies (veículos utilizados nas deslocações entre buracos nos campos), têm que respeitar as disposições do Decreto-Lei nº 230/04. Os resíduos dos produtos fitofarmacêuticos, tão usados na protecção da relva contra pragas e ervas indesejadas, têm que ser manuseados e acondicionados com especial cuidado e, como tal, devem ser respeitadas as condições e os procedimentos do Decreto-Lei nº 187/2006 assim como para o controlo de PCB’s, existe o Decreto-Lei nº 277/99. Os óleos usados e os pneus usados são também contemplados, legislativamente, nos Decretos-Lei nº 153/2003 e 111/2001 respectivamente. Alguns resíduos são comuns aos que são gerados ao nível doméstico mas devido às taxas a que são gerados também eles são alvo de regulamentos apertados. Por exemplos, as embalagens devem ser rejeitadas de acordo com as disposições do Decreto-lei nº 92/06 enquanto as pilhas e acumuladores estão sob o regime do Decreto-Lei nº 62/01. Outros cuidados devem ser tidos em conta no que toca às emissões de certas substâncias para a atmosfera, principalmente, nas operações de manutenção do campo. Para controlar tais substâncias foram elaborados os Decreto-Lei nº 126/2006, relativo às substâncias poluentes em geral, a Portaria nº 80/2006 que fixa os limiares mássicos máximos e mínimos dos mesmos e o Decreto-Lei nº 181/2006 relativo aos compostos orgânicos voláteis (COV), em particular. Depois da elaboração do projecto e antes do licenciamento, é sempre feito um Estudo de Impacte Ambiental, de acordo com Decreto – Lei nº 69/ 2000 entretanto alterado pelo Decreto-Lei nº 197/2005. Este estudo permite qualificar e quantificar os impactes ambientais do projecto, indicando 7 também a respectivas medidas de mitigação que se traduzem em alterações no projecto ou no próprio processo de construção do mesmo. O licenciamento concretiza-se depois da elaboração do EIA e depois de serem introduzidas as medidas de mitigação, para que se possa iniciar a construção. O regime jurídico para a urbanização e edificação está expresso no Decreto-Lei nº 555/99 mas existem áreas com regimes especiais, como as incluídas na REN (Decreto Lei nº 166/2008), RAN ou ZPE, que têm requisitos acrescidos mais restritos. 2. Objectivos do estudo O presente estudo tem como principal interesse a análise dos impactes gerados por investimentos em massa em empreendimentos turísticos com campos de golfe associados, comparando informação relativa ao período pré e pós implantação, no sentido de isolar com mais clareza esses mesmos efeitos e poder com mais certeza associá-los aos investimentos referidos. Neste sentido, pretendem-se observar as alterações verificadas nos sectores ou recursos normalmente identificados como sendo susceptíveis de serem perturbados por essa mesma actividade. Mais concretamente, pretende avaliar-se o efeito em sectores como agricultura, construção, turismo, socioeconomia, energia, ordenamento territorial, biodiversidade e recursos hídricos e a maneira como evoluíram com a expansão deste novo nicho de mercado turístico. Por haver uma grande apetência pela implantação destes projectos em áreas agrícolas abandonadas, pretende-se também analisar se, realmente, está em curso uma conversão elevada destas em áreas em Áreas de Aptidão Turística e fazer um balanço rápido dos ganhos e custos dessa mesma conversão. Mais especificamente no caso dos recursos, verificar se ocorreu destruição, manutenção ou se por oposição a actividade associada a um campo de golfe, por promover a tendência crescente de um recurso, observando também se há criação de mais-valias ambientais nas áreas de implantação. 8 3. Metodologia Com o objectivo de se tomar conhecimento dos impactes possivelmente envolvidos na implantação de um campo de golfe foram primeiramente consultados estudos de impacte ambiental (EIA) de empreendimentos com golfe e compilados os efeitos previstos para esses projectos. Os sectores onde potencialmente esses efeitos têm lugar foram definidos e listados como sendo os seguintes: • Agrícola • Imobiliário e infra-estruturas • Turístico • Socioeconómico • Energético • Ordenamento de território • Biodiversidade • Recursos hídricos Adicionalmente à informação constante nos EIA’s foram ainda reunidos estudos sobre esta temática dos impactes dos campos de golfe tendo como base de pesquisa os sectores potencialmente impactados resultantes da compilação reunida anteriormente. Desta forma foram identificadas as tendências que poderiam ser esperadas nos sectores impactados e ainda valores de referência específicos de cada um dos efeitos possíveis capazes de ocorrer devido a actividade dos campos de golfe. Uma vez identificados os possíveis efeitos quer qualitativa quer quantitativamente foram seleccionadas possíveis áreas de estudo em Portugal. A selecção teve em conta como primeiro critério o desenvolvimento do golfe a nível regional, sendo a classificação regional utilizada a correspondente à classificação NUTS II usando as regiões: • Norte • Centro • Lisboa e Vale do Tejo (LVT) • Alentejo • Algarve • Madeira • Açores O uso desta classificação territorial teve por base o facto de grande parte da informação estatística ainda se encontrar organizada segundo estas áreas. Para cada uma das regiões foi inventariado o nº de campos existentes, usando para tal a informação disponibilizada pelas Comissões de Coordenação de Desenvolvimento Regional (CCDR) e ainda informação de algumas associações de golfe regional. Com o intuito de se identificarem áreas onde se pudesse observar um desenvolvimento massivo de campos de golfe foram pré-seleccionadas as 9 áreas com o maior nº relativo de campos e com a maior área territorial ocupada por este tipo de projectos por área unitária a nível regional. Com o procedimento anterior foram obtidas finalmente duas possíveis áreas de interesse, as quais, foram posteriormente analisadas tendo em conta a distribuição local dos campos no seu território com base no número de campos e na variação ocorrida a nível concelhio nos últimos 19 anos. Outro critério analisado, em paralelo, foi a disponibilidade de informação sobre o golfe em cada uma das áreas pré-seleccionadas para se concluir em qual delas a situação da indústria do golfe se encontrava melhor documentada. A área de estudo ficou por fim definida como sendo o Algarve e começou por se obter subsequentemente, informação estatística sobre a evolução regional e local nos vários sectores enumerados inicialmente, que foi depois comparada com os valores obtidos ou estimados gerados pela implantação ou actividade dos campos de golfe, quer a um nível regional, quer a um nível concelhio sempre que a informação o permitiu. Para tal comparação foi efectuado um inventário de todos os campos na região do Algarve assim como das suas características de projecto e áreas de implantação sempre que estas se encontraram para consulta e também com informação obtida dos EIA’s de campos de golfe mesmo quando estes ainda se encontravam em fase de aprovação. O inventário foi efectuado com base em estimativa através de uma ferramenta de SIG disponibilizada pela DGOTDU com recurso a ortofotomapas, PDM’s e áreas com condicionantes, todos respeitantes à região do Algarve. Uma vez que foi verificada uma grande apetência para a ocupação de campos agrícolas abandonados por campos de golfe foram também estimados os efeitos locais dessa substituição comparando as mudanças ao nível de consumo de recursos de uma e de outra actividade. No caso de especifico da biodiversidade, foram muito limitados os dados obtidos e apenas referentes a algumas espécies pelo que apenas se fez uma comparação temporal pré e pós implantação de campos sempre que foi possível. Outra limitação de conhecimento foi encontrada na análise á evolução dos recursos hídricos subterrâneos pois não existe um grande número de estações de medição localizadas em campos de golfe e as que existem por vezes não acompanham a actividade do campo desde do seu inicio, razão pela qual se optou por uma análise comparativa entre estações localizadas em campos de golfe e estações localizadas noutros pontos do mesmo sistema de aquífero. Para ambos os indicadores referidos ultimamente acabou por ser usada uma metodologia inspirada na que é usada em métodos como o Before – After- Control – Impact (BACI). Este é um método muito usado em análise de impactes aquando de implantação de grandes projectos como centrais termoeléctricas ou aquando um evento de poluição súbita e tem como principio a análise de dados de monitorização de dados pré e pós evento (Stewart-Oaten et al., 2001). Para maior exactidão na mediação do impacte o método acrescenta um controlo adicional, com a comparação dos dados temporais com os dados de uma área de referência incólume para assim destrinçar quais as variações que foram naturais e as que foram induzidas pelo novo projecto, um raciocínio que se tentou adoptar também para o presente estudo mas que requer sempre continuidade nas séries estatísticas a analisar e portanto um cuidado acrescido na escolha de estações ou pontos de geração 10 de dados (Steinbeck et al., 2005). Em geral, a metodologia aplicada apresenta-se esquematizada em seguida na Figura 4. Golfe Desenvolvimento Global Desenvolvimento Nacional Nº jogadores Nº campos Desenvolvimento Legislação previsto Áreas Preferenciais Investimentos em massa Áreas elevada densidade de golfe Comparação Área de estudo Indicadores exploração agrícola Sectores de estudo: - Consumo de recursos -Urbanização - Turismo - Energia IMPACTES - Biodiversidade - Ordenamento - Recursos Hídricos Figura 4 - Metodologia geral aplicada 11 3.1. Comparação e selecção de áreas de estudo Tal como foi exposto na introdução as áreas que se destacam no turismo de golfe a nível nacional, de forma mais destacada marcada são Lisboa e Vale do Tejo e o Algarve. Esta última é claramente o grande pólo de atracção nacional na medida em que é onde está estabelecido o maior número de campos e, também, onde de observa uma maior afluência de jogadores, quer portugueses quer estrangeiros. Com o objectivo de se encontrar um bom exemplo de investimento em massa em campos de golfe foram comparados alguns dados das referidas regiões Tabela 3 - Indicadores territoriais do golfe em Portugal. (Fontes: (THR Acesores en Turismo, Hotelaría y Recreación, S.A, 2006); (Portugal Golf, 2008); (Virtual Portugal, 2009); (CCDR Algarve, 2008)). Região Área 2 (Km ) Nº campos Distribuição campos equivalentes Norte 21278 9 12% Centro 23666 2 3% Lisboa e Vale do Tejo 11736 23 29% Alentejo 27369 1 1% Algarve 4996 35 47% Açores 2322 3 4% Madeira 801 3 4% Aqui se introduz o conceito de campo equivalente, isto é, um campo com 9 buracos não terá o mesmo efeito para efeitos estatísticos e de consumo de recursos que um campo de 18 ou 27 buracos pelo que na realidade é considerado com meio campo equivalente. O campo de 18 buracos será por sua vez considerado como 1 campo equivalente e um de 27 buracos corresponderá a 1.5 campos equivalentes. Das estatísticas anteriores fica nítido que Algarve e Lisboa e Vale do Tejo (LVT) são os destinos nacionais de golfe, pelo nº de campos equivalentes que suportam (Tabela 3). Com base nestes índices, deste ponto em diante foram comparadas apenas as áreas do Algarve e LVT no sentido de procurar qual a que se adequaria melhor ao presente estudo. 12 Nº de Campos Evolução do nº de campos 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Lisboa e Vale do Tejo Algarve Figura 5 - Evolução do nº de campos em Lisboa e Vale do Tejo e Algarve (Fontes: (Algarve Golf, 2008); (Portugal Golf, 2008); (CCDR Algarve, 2008)). Observando a evolução de campos de golfe em ambas as regiões verifica-se que o Algarve se manteve sempre com uma evolução maior e mais por andares enquanto a região LVT teve uma evolução menor e mais suave no tempo (Figura 5). Em termos absolutos, registaram-se 26 novos campos no Algarve nos últimos 19 anos enquanto LVT se quedou pelos 18 (Figura 6), um número que perde um pouco mais de significância quando se tomam em conta às áreas das regiões e se verifica que LVT é 2.34 vezes maior que o Algarve (Tabela 3) sendo portanto esta última a que beneficiou de uma expansão mais massiva que a primeira. Variação absoluta de campos 30 Nº de campos 25 20 15 10 5 0 Algarve LVT 2000-2009 16 10 1990-2000 10 8 Figura 6 - Variação absoluta de campos de golfe no Algarve e em Lisboa e Vale do Tejo (Fontes: (Algarve Golf, 2008); (Portugal Golf, 2008); (CCDR Algarve, 2008)). 13 Mesmo a nível gráfico se pode observar uma clara diferença de densidade de campos entre as duas regiões com LVT a apresentar uma maior dispersão de campos pelo seu território do que o Algarve onde os campos se localizam mais numa zona central e junto ao litoral (Figura 7). Figura 7 - Distribuição de campos de golfe em Lisboa e Vale do Tejo e Algarve (Fonte: (Google, 2009)) Numa análise mais localizada pode dizer-se que existe, contudo, uma semelhança na distribuição dos campos das duas regiões pois, os campos do Algarve estão divididos por 10 concelhos no caso de LVT, por 11 concelhos. Em valor absoluto existe, no entanto, uma diferença nítida na medida em que os concelhos algarvios apresentam na maioria mais de que 2 campos (Figura 8) enquanto a maioria em LVT apresenta apenas 2 ou menos campos de golfe (Figura 9). 14 14 12 10 8 6 4 2 0 2000-2009 1990-2000 <1990 Figura 8 - Evolução de campos por concelho no Algarve (Fontes: (Algarve Golf, 2008); (Portugal Golf, 2008); (CCDR Algarve, 2008)). 14 12 10 8 6 4 2 0 2000-2009 1990-2000 <1990 Figura 9 - Evolução de campos por concelho na região Lisboa e Vale do Tejo (Fontes: (Portugal Golf, 2008); (LisboaGolf, 2008)). Na sequência foi elaborada uma pequena estatística na qual ficou comprovado que o Algarve tem, actualmente, o maior número de empreendimentos por unidade território, cerca de 2.2, e que a sua variação absoluta implicou um crescimento local médio de 1.6 campos valores que superam em cerca de 4 vezes os valores obtidos para LVT (Tabela 4). Esta superioridade mantêm-se inalterada quando são comparados apenas os concelhos onde o golfe se tem desenvolvido e aqui se vê que em termos de densidade, é no Algarve que regista um maior número de campos por concelho e que em geral esses concelhos tiveram em média um crescimento de 2.6 campos nos últimos 19 anos (Tabela 4). 15 Tabela 4 - Indicadores de evolução de golfe ao nível local no Algarve e Lisboa e Vale do Tejo (Fontes: (Algarve Golf, 2008); (Portugal Golf, 2008); (CCDR Algarve, 2008); (Lisboa Golf, 2008)). Região Concelhos (Nº) Algarve 16 35 Variação Média de Variação de golfe campos média nos por por concelhos concelho concelho com golfe (90 - 09) com golfe (90 - 09) 2.2 1.6 3.4 2.6 LVT 51 22 0.4 Nº Campos (2009) Distribuição média por concelho 0.4 2.0 1.5 Com base na análise anterior foi definido o Algarve como a área de maior interesse para o presente estudo na medida em que não só apresentou as maiores variações absolutas de empreendimentos de golfe como em termos de localização, estes acabam por se encontrar em maior número nos concelhos algarvios tendo a região por esse motivo as áreas de golfe com maior densidade de campos a nível nacional. 3.2. Caracterização da área de estudo e vantagens para a prática do golfe. Sendo uma região que se localiza no Sul de Portugal a região algarvia beneficia de certas condições que são consideradas mais-valias para crescimento do mercado de golfe. O seu clima é, tendencialmente, temperado com um Inverno ameno e não muito chuvoso e com Verões quentes e secos, com temperaturas médias a rondar o 14º C e uma pluviosidade que, raramente, excede os 500 mm (Figura 10). Isso permite que em grande parte do ano seja possível jogar golfe e, mais importante ainda, que haja condições quando se dá a época alta deste mercado em Portugal, que se inicia em Outubro e acaba em Maio, sobretudo, para o mercado estrangeiro (Universidade do Algarve, 2004). Figura 10 - Precipitação e temperaturas médias continentais (Fonte: (Instituto de Meteorologia, 2005)). 16 A nível populacional é uma região com 430094 habitantes representando cerca de 4.1% da 2 população portuguesa e apresenta uma densidade populacional de 86.1 hab / Km . Em 2008 a sua taxa de crescimento efectiva foi de 0.86 % um valor acima da média nacional assim como na taxa de natalidade que atingiu os 11%. O índice de envelhecimento continua ainda assim acima da média com o respectivo valor a atingir 123.5 (Tabela 5). 17 Tabela 5 - Indicadores populacionais da região do Algarve em 2008 (Fonte: (INE, 2009)). Período de referência dos dados NUTS 2002 completa (lista cumulativa - PT, NUTS I, II, III, CC, FR) População média activa (Série 1998 - N.º) por Local de residência (NUTS 2002) Portugal Algarve Taxa de crescimento efectivo (%) Taxa bruta de natalidade (‰) Índice de envelhecimento (N.º) Taxa média de emprego (Série 1998 - %) (NUTS 2002), Taxa média de desemprego (Série 1998 %) (NUTS 2002) N.º % ‰ PIB per capita Total N.º (milhares) 2008 População residente (N.º) por Local de residência (NUTS 2002) % do N.º % % total de Em Índice de Portugal valor disparidade 3 (10 €) (%) 5624.90 10627250 0.09 9.80 115.50 68.20 7.60 100.0 14.7 100.0 218.30 430084 0.86 11.50 123.50 69.20 7 4.2 15.5 105.6 18 A nível de mercado de trabalho, possui uma população activa que representa cerca de 3.9% da população activa nacional e apresenta uma taxa de emprego acima da média nacional o que consequentemente, se traduz numa taxa de desemprego abaixo desta última referida (Tabela 5). A nível de produtividade, a sua representatividade no PIB nacional foi apenas de 4.2%, o valor mais baixo a nível continental mas per capita consegue superar todas as outras regiões nacionais excepto Lisboa com índice de disparidade de 105% e um valor absoluto na ordem dos 15.5 milhares de euros (Tabela 5). Em termos de infra-estruturas de acesso e transportes a região encontra-se bem desenvolvida na medida em que é abrangida por uma auto-estrada, a A2, alem da alternativa original, o IP1, que entretanto foi alvo de melhoramentos. A nível intra-regional também houve alguns melhoramentos, nomeadamente, a conclusão da A22 que liga Lagos a Ayamonte e que proporcionou uma alternativa valiosa alternativa à antiga N125 na ligação a Espanha. A região alberga ainda um dos três aeroportos nacionais na cidade central de Faro, a capital de distrito (Figura 11) que implica, no cômputo geral, uma região bastante acessível para jogadores nacionais e estrangeiros. Figura 11 - Sistema urbano e acessibilidades em Portugal Continental (Fonte: (DGOTDU, 2007)). No que concerne ao turismo, estima-se que em 2007, o total de visitantes tenha ascendido a cerca de 10 milhões de visitantes traduzindo-se este número em cerca 3 milhões de hóspedes que significou 22% do total registado a nível nacional (INE, 2009) Quanto a estabelecimentos hoteleiros e, também, a mão-de-obra, o Algarve é a região que apresenta maior número absoluto, em ambos, uma vez que 19 é a que possui maior quota de capacidade, cerca de 36% (Tabela 6), principalmente, nas tipologias de hotéis - apartamentos (47%), apartamentos turísticos (68%) e aldeamentos turísticos (82.1%) (Figura 12) e no segundo factor por ser a que emprega maior número de pessoas, número este que ascendeu a cerca 13600 em 2006 (Ministério da Economia e Inovação, 2007), sendo que grande parte desta mão-de-obra é considerada qualificada para o efeito (THR Acesores en Turismo, Hotelaría y Recreación, S.A, 2006). Tabela 6 - Quotas de capacidade de alojamento por áreas regionais de turismo (Fonte: (INE, 2007)). 100,0% 90,0% 80,0% 70,0% 60,0% 50,0% 40,0% 30,0% 20,0% 10,0% 0,0% 2007 Camas (Nº) Variação absoluta 2007/2006 Quota (%) Norte 36421 917 13.8% Centro Lisboa e Vale do Tejo Alentejo 23980 -445 9.1% 63668 2379 24.0% 8804 602 3.3% Algarve 96180 -1344 36.3% R.A. Açores 8397 -39 3.2% R.A. Madeira 27297 -1360 10.3% Total 264747 710 100.0% 4,8% 10,2% 14,4% 20,4% 14,6% 82,1% 21,9% 47,0% 15,1% 68,0% 7,1% R.A. Madeira R.A. Açores Algarve 20,0% 9,0% 3,0% 23,8% 7,1% 3,6% 2,5% 5,1% 31,0% 22,7% Alentejo Lisboa e Vale do Tejo Centro Norte Figura 12 - Quota de capacidade por tipologia e área regional turística 2007 (Fonte: (INE, 2007)). 20 3.3. Situação actual dos campos de golfe nas áreas de estudo 3.3.1. Tipologias existentes O golfe é, actualmente, um dos complementos, se não mesmo, o complemento de maior importância daquele que é por excelência o maior produto turístico do Algarve, isto é o seu litoral (PENT - Turismo de Portugal, 2007). Os primeiros campos, nos anos 60, surgiram sempre incorporados em empreendimentos, isto é, um complexo onde existem instalações de alojamento associadas a um ou mais campos de golfe e pretendiam, na altura, oferecer mais uma experiência ao turista que se deslocava, principalmente, na época de Verão para aproveitar o clima quente e soalheiro e também as suas praias de características semelhantes às mediterrânicas embora banhadas pelo Oceano Atlântico. Os chamados golf resorts que neste estudo definem as instalações onde se inclui um campo e urbanização ou alojamento turístico, foram proliferando e, em 1976, quando já se contabilizam 6 destes últimos, o golfe atingiu um tal estatuto, que justificou a criação do primeiro campo independente da região. Este tipo de formato não conseguiu, no entanto, cativar os investidores o que, se pode afirmar, por ser a tipologia que se encontra em minoria tendo sido contabilizados apenas 6 empreendimentos que incluem apenas superfícies de jogo enquanto os empreendimentos onde além de superfícies de jogo se incluem também infra-estruturas de alojamento, os chamados resorts ascendem já a 29 (Figura 13) o que denota uma clara preferência por este último tipo de projecto. Total de empreendimentos com golfe por tipologia 40 35 30 25 20 Resorts 15 Campos simples 10 5 0 2009 Figura 13 - Total de empreendimentos de golfe no Algarve por tipologia (Fontes: (Algarve Golf, 2008); (Portugal Golf, 2008); (Virtual Portugal, 2009); (CCDR Algarve, 2008)). 21 Alguns desses empreendimentos consistiram consistira na expansão de alguns já á existentes como o caso de complexo de Vilamoura. Observando a evolução recente rec dos projectos com golfe exiistentes para o Algarve (Anexo II – Informação dos EIA feitos sobre campos de golfe no Algarve), constatou constatou-se que desde 2000, 0, foram propostos pelo menos 15 novos campos e destes 5 foram entretanto inaugurados, enquanto 3 continuam como propostos e 2 foram completamente rejeitados e adicionando estes últimos aos primeiros obteve-se se a seguinte evolução (Figura 14). Evolução de Golfe no Algarve 16 14 12 inaugurados 10 8 propostos 6 expanções inauguradas 4 expansões propostas 2 Rejeitados 0 Figura 14 - Evolução recente ecente do golfe por estado e tipo de projecto (Fontes: APA – EIA’s de campos de golfe no Algarve disponíveis para consulta em anexo). 3.3.2. Justificação para as tipologias existentes e desenvolvimento observado. A opção por um projecto tipo resort vem no sentido de satisfazer o tipo de turista de golfe que vis visita a região. Esse tipo pode ser classificado de Golf,Sun & Fun , um género que prefere aliar o golfe a destinos com praia, com oferta diversa de campos, alojamento de 4 ou 5 estrelas e com actividades ac complementares de lazer (THR Acesores en Turismo, Hotelaría y Recreación, S.A, 2006) 2006). Os resorts integrados com golfe associado são inclusivamente promovidos na estratégia nacional para desenvolvimento turístico, uma vez que são considerados importantes para a redução do índice de sazonalidade turística (PENT - Turismo de Portugal, 2007). 2007) A necessidade e o crescimento de alojamento associado ao golfe podem ser ainda sustentados com o facto de o golfe ter sido a motivação ivação de viagem de cerca de 7.1% dos turistas estrangeiros a Portugal e cerca de 11.6% dos turistas turist que visitaram o Algarve em 2007,, mas no total 21% dos turistas que visitaram a região acabaram por jogar (Turismo de Portugal, 2007). Uma vez que os consumidores acabam por ser os jogadores estrangeiros (os jogadores portugueses apenas representam 7% da afluência de jogadores da região) automaticamente existirá uma necessidade de alojamento. Adicionalmente,, as tendências obtidas das estatísticas efectuadas aos campos no Algarve indicam que o jogador típico fica alojado cerca 9.5 dias, joga cerca de 4.5 voltas e faz faz-se 22 acompanhar por mais 3 pessoas o que logo a partida implicará gastos acrescidos em hotelaria (Universidade do Algarve, 2004). Em termos de preferências por tipo de alojamento, a maioria continua a optar por hotéis e em seguida a escolha recai sobre as vilas o que reforça a importância da hotelaria para a indústria do golfe (Tabela 7). Os clusters têm neste caso uma função de distinguir vários tipos de turistas de golfe sendo que o cluster 1 inclui turistas exclusivamente de golfe, cluster 2 representa os turistas familiares que além do golfe se interessa pelas condições de alojamento, gastronomia e preços e por fim o cluster 3 onde se inclui o turistas de sol e praia que além de golfe se interessa por animação turística e actividades balneares (Universidade do Algarve, 2004). Tabela 7 - Tipos de alojamento escolhido pelos golfistas (Fonte: (Universidade do Algarve, 2004)). Cluster 1 Nª % Cluster 2 Nº Cluster 3 % Nº Hotel 203 39.1% 21 55.3% Aparthotel 15 2.9% 1 2.6% 49 Familiares/Amigos 5 Aldeamento 7 9.4% 6 15.8% Casa Própria 1.0% - Total % 6 Nº % 60.0% 230 40.6% - 16 2.8% - 55 9.7% 1 10.0% 6 1.1% 1.3% 2 5.3% - 9 1.6% Apartamento 115 22.2% 2 5.3% 1 10.0% 118 20.8% Vila 123 23.7% 6 15.8% 2 20.0% 131 23.1% - 2 0.4% 38 100.0% 10 100.0% 567 100.0% Campismo Total 2 519 - 0.4% 100.0% Ao executar uma comparação os indicadores financeiros dos campos e da hotelaria conclui-se que os campos originam um cash flow 1.41 vezes maior que os hotéis o que pode implicar elevados benefícios na economia regional (Tabela 8). Tabela 8 - Indicadores económico-financeiros do golfe e hotelaria (Fonte: (Universidade do Algarve, 2004)). Golfe Hotéis 47.94 33.58 Rendibilidade de vendas (%) 37 7 Pessoal ao serviço (nº) Produtividade por unidade de exploração (euros/ano) 825 9657 75318 39450 Preços médios (euros) Cash Flow (euros) Custo com o pessoal (%) 37966555 26782675 25 29 No entanto, considerando a hipótese de se aliar os dois negócios e assumindo os números médios de voltas e de dias de alojamento médios de um turista de golfe anteriormente expressos em 4.5 e 9.5, respectivamente, denota-se um potencial acréscimo de rendimentos de cerca de 20% por estadia por jogador em relação aos ganhos apenas com o golfe, ainda que sejam ganhos sempre inferiores aos obtidos com estes últimos tanto por estadia como por dia (Tabela 9) assumindo neste caso que um jogador joga 0.5 voltas por dia. 23 Tabela 9 - Ganhos estimados por estadia de turista de golfe (Fonte: (Universidade do Algarve, 2004)). Golfe Hotéis Nº voltas Noites Preço das vendas (€) Rendibilidade de vendas (%) Ganhos médios / dia (€) 4,5 47,94 37 8.8 Ganhos médios / estadia (€) 79,8 8,5 33,58 7 2.4 20,0 79% Fracção de ganhos / estadia 80% 21% 20% Fracção de ganhos / dia O segundo tipo de alojamento preferido pelos golfistas são as vilas, ou seja, moradias de luxo que incluem normalmente jardim e piscina e que podem ser alugadas ou adquiridas e que procuram atrair uma classe mais abastada de jogadores que joga várias vezes por ano e que se faz acompanhar pela família. O tipo de crescimento que se tem vindo a verificar e que remete para o próprio titulo deste estudo pode ser justificado, em parte, com outra característica do jogador de golfe típico. Estatisticamente, este último opta por variar de campo de jogo mas em média apenas de desloca para campos num raio de 12 km a partir do seu alojamento (Universidade do Algarve, 2004). Este pequeno detalhe juntamente com a tendência de jogar 4.5 voltas permitem perceber o porquê de tanto desenvolvimento localizado. Expandir os campos existentes ou construir em zonas já com campos permite explorar o desejo de diversidade dos jogadores e implicará, deste modo, um maior número de visitantes logo no inicio de exploração, relativamente ao que é previsto para um campo isolado. O esforço para a divulgação do campo e atracção de jogadores acaba por ser menor e mantendo o número de campos de 18 buracos acima do número médio de voltas faz com que o turista deixe em aberto um possível regresso. Isto sugere que a concentração de campos acaba por ser gerada para criar sinergias entre campos para que todos possam beneficiar de um fluxo de turistas acima do que seria verificado caso estivessem isolados. E dado que os jogadores são normalmente turistas de classe alta, a competitividade de preços de voltas entre campos acaba por ter pouca relevância reforçando o argumento anterior. 3.3.3. Localização dos empreendimentos Apesar de ter uma faixa litoral bastante condicionada a verdade é que grande parte dos complexos de golfe existente na região algarvia tendem a localizar-se nessa mesma faixa e bem próximo da orla costeira, isto é, com grande proximidade às praias da zona de implantação. E nem mesmo as condicionantes mais recentes e mais limitantes parecem ter desmotivado esta predilecção pois é mais recentemente que se tem observado uma maior implantação junto da costa (Figura 15). 24 Localização de complexos de golfe Interior Litoral 34% 66% Figura 15 - Localização geral dos campos no Algarve (Fontes: APA – EIA’s de campos de golfe no Algarve disponíveis para consultaem anexo). Esta estatística leva à letra a consideração existente nos PDM’s que classifica de litoral uma faixa com a largura de 2 Km em linha recta desde o mar. Mas considerando os gráficos anteriores de distribuição de campos pode assumir-se que no Algarve os campos se concentram basicamente no litoral. Nas áreas condicionadas referidas anteriormente pode incluir-se a RAN, REN, RN 2000 e ainda área referente ao Parque Natural da Ria Formosa. Nenhuma delas se conseguiu manter imune (Figura 16) mas fazendo uma avaliação baseada na informação dos EIA’s e da CCDR Algarve, disponíveis para consulta, consegue denotar-se que a que sofreu uma maior redução devida a projectos relacionados com golfe foi, destacadamente, a RAN. Por oposição, a REN é a condicionante onde menos se estabelecem este complexos mas a condicionante onde se verificou maior número de rejeições foi a área correspondente a RN 2000. Inesperadamente, foi observado um aumento da área de golfe nos domínios pertencentes ao Parque Natural Da Ria Formosa, protagonizado não por novos empreendimentos, pois os dois propostos foram rejeitados, mas sim pela expansão da oferta dos empreendimentos já existentes nomeadamente, nos terrenos contíguos aos complexos da Quinta do Lago. Campos localizados em Áreas Condicionadas 16 14 12 10 8 6 4 2 0 Projectos totais Aprovados Rejeitados RAN REN RN2000 PN Ria Formosa Figura 16 - Distribuição de campos por condicionantes territoriais (Fontes: (APA – EIA’s de campos de golfe no Algarve disponíveis para consulta em anexo); (CCDR Algarve, 2008)). 25 Com base na extrapolação feita, anteriormente, era de prever que o uso de solo pré-golfe mais comum seria o uso agrícola, o que se veio a comprovar com uma pequena compilação dos usos que foram sendo identificados nos EIA. Em seguida, e também relacionadas com actividades agrícolas, estão as explorações frutícolas, e depois em semelhantes proporções estão áreas de caça, pastorícia, pecuária e áreas onde já existia algum tipo de actividade turística mas pode dizer-se que quase 90% dos campos propostos tinham área agrícola como terreno de implantação (Figura 17). Deste modo, será válido afirmar que, no presente, a expansão implica uma certa rivalidade com a agricultura algarvia por área territorial no Algarve e que se está neste momento a assistir a uma progressiva e subtil substituição da segunda pela primeira actividade, através do aproveitamento de terreno agrícola abandonado para fins turísticos, o que levou a um aprofundamento do estudo sobre os efeitos de tal fenómeno, na fase de avaliação de impactes. Actividades pré-golfe identificadas Agricola Pastoricia Fruticola Pecuária Caça Lazer/turistica 6% 6% 5% 11% 5% 67% Figura 17 - Actividades pré-golfe identificadas nos EIA aos campos do Algarve (Fontes: (APA – EIA’s de campos de golfe no Algarve disponíveis para consulta em anexo). A síntese das localizações dos campos e uma estimativa das áreas ocupadas é apresentada em seguida em duas tabelas que servirão de matriz para a restante análise. 26 Tabela 10 - Inventário de campos de golfe e classificação de áreas de implantação (Fontes: (Algarve Golf, 2008); (CCDR Algarve, 2008); (DGOTDU, 2008); (Portugal Golf, 2008); APA – EIA’s de campos de golfe no Algarve em anexo)). Concelho Nome Pine Cliffs Albufeira Castro Marim Lagoa Herdade dos Salgados Balaia Golfe Castro Marim C.C. Quinta do Vale Vale do Milho Loulé Campos equivalentes PDM em Vigor Resort 9 0.5 1995 1994 Campo 18 1 1995 - 2001 Resort 9 0.5 1995 -. 2001 Resort 27 1.5 1994 - 2008 Resort 18 1 - 1990 Resort 9 1991 Resort 1992 - Tipologia - 1991 - Gramacho Vale da Pinta Lagos Nº buracos Ano inauguração Complexo Palmares Golf Quinta da Boavista Ocean Course Royal Course Old Course Localização2 Zonas de Implantação3 Litoral Zona de ocupação turística/REN Litoral Zona de ocupação turística/REN Litoral Zona agrícola condicionada/RAN - Interior Espaços agro-florestais/REN 1994 - Interior Espaços agro-florestais/REN 0.5 1994 - Litoral Áreas Turísticas 18 1 1994 Interior Instalação de equipamento e grandes infra-estruturas. /RAN Resort 18 1 1994 Interior Instalação de equipamento e grandes infra-estruturas. /RAN 1976 Campo 18 1 - - Litoral - 2002 Resort 18 1 - - Litoral - 1968 Resort 18 1 1995 - Litoral Áreas Urbano-turisticas 1997 Resort 18 1 1995 - Litoral Áreas Urbano-turisticas 1995 ISO 14001/ Commited to Green/ Green Globe Litoral Área Urbano-turistica Pestana Golf Resort Vale de Lobo Vilamoura 1969 Resort 18 1 Certificação 1 ISO 14001 Commited to Green/ EcoGolf Commited to Green/ EcoGolf 1 (DGOTDU, 2008) (DGOTDU, 2008) 3 (DGOTDU, 2008) 2 27 Tabela 11 - Inventário de campos de golfe e classificação de áreas de implantação (Continuação) (Fontes: (Algarve Golf, 2008); (CCDR Algarve, 2008); (DGOTDU, 2008); (Portugal Golf, 2008); APA – EIA’s de campos de golfe no Algarve em anexo)). Concelho Nome Complexo Ano Inauguração Tipologia Nº buracos Campos equivalentes PDM em Vigor Pinhal 1976 Resort 18 1 1995 Laguna 1990 Resort 18 1 1995 Millenium 2000 Resort 18 1 1995 Victória 2004 Resort 18 1 1995 1991 Resort 27 1,5 1995 Vilamoura Loulé Vila Sol Quinta do Lago Norte Quinta do Lago Sul São Lourenço Pinheiros Altos - Quinta do Lago Laranjal Olhão Colina Verde - Certificação Localização5 Zonas de Implantação6 Litoral Área Urbano-turistica Litoral Área Urbano-turistica Litoral Área Urbano-turistica / RAN Litoral Área Urbano-turistica / RAN7 4 ISO 14001/ Commited to Green/ Green Globe ISO 14001/ Commited to Green/ Green Globe ISO 14001/ Commited to Green/ Green Globe ISO 14001/ Commited to Green/ Green Globe ISO 14001 Litoral 1974 Resort 18 1 1995 - Litoral 1974 Resort 18 1 1995 - Litoral 1988 Resort 18 1 1995 - Litoral 1992 Resort 27 1,5 1995 - Litoral 2009 Resort 18 1 1995 - Litoral 2003 Resort 9 0,5 1995 - Interior Área Urbano-turistica/Eq. Urbano Área Urbano-turistica/REN/PN Ria Formosa Área Urbano-turistica/REN/PN Ria Formosa Área Urbano-turistica/REN/PN Ria Formosa Area Urbano-turistica/RAN/REN/PN Ria Formosa8 Area Urbano-turistica/REN/PN Ria Formosa9 Espaço agrícola indiscriminado/aproveitamento hidroagrícola do Sotavento/RAN 4 (DGOTDU, 2008) (DGOTDU, 2008) 6 (DGOTDU, 2008) 7 (Ecossistema, 2001) 8 (Nemus, 2002) 9 (Ecossistema; Mãe D'Água, 2005) 5 28 Tabela 12 - Inventário de campos de golfe e classificação de áreas de implantação (Continuação) (Fontes: (Algarve Golf, 2008); (CCDR Algarve, 2008); (DGOTDU, 2008); (Portugal Golf, 2008); APA – EIA’s de campos de golfe no Algarve em anexo)). Concelho Portimão Silves Tavira V.R.S. António Vila do Bispo Nome Penina Champ. Penina Resort Penina Academy Alto Golf Morgado do Reguengo II Morgado do Reguengo Amendoeir a Golf Resort Quinta de Benamor Quinta da Ria Nº buracos Campos equivalentes PDM em Vigor Resort 18 1 1972 Resort 9 1977 Resort - 1997 Morgado do Reguengo Ano Inauguração Tipologia 1966 Certificação Localização11 Zonas de Implantação12 1995 - Interior Golfe 0,5 1995 - Interior Golfe 9 0,5 1995 - Interior Golfe Resort 18 1 1995 - Litoral 2002 Campo 18 1 1995 - Interior Golfe Zonas de Recursos Naturais e Equilíbrio Ambiental, Imperativas e Zonas Agrícolas/RAN 2003 Campo 18 1 1995 - Interior Área fomento agroflorestal/Povoamento florestal13 - 2008 Resort 36 2 1995 ISO 14001/ Commited to Green/ Green Globe Interior Áreas de Aptidão Turística (AAT)14 - 2000 Campo 18 1 1997 - Litoral Complexo Penina Golf Resort 10 - 2002 Campo 36 2 1992 - Litoral Monte Rei - 2007 Resort 18 1 1992 - Interior Parque da Floresta - 1987 Resort 18 1 1997 - Litoral Área agrícola complementar/RAN Áreas produção agrícola Graus I e II/REN Núcleo de Desenvolvimento turístico pelo PDM Zona de ocupação turística/Matos e matas de protecção 10 (DGOTDU, 2008) (DGOTDU, 2008) 12 (DGOTDU, 2008) 13 (Nascimento, 2003) 14 (Geodesenho, 2005) 11 29 Tabela 13 - Áreas ocupadas por empreendimento (Fontes: (DGOTDU, 2008); (P.P. Amendoeira Golf Resort, 2008); (P.P. da Balaia, 2007); (P.U. da Quinta do Lago, 2000); (P.U. Vilamoura, 1998); APA – EIA’s de campos de golfe no Algarve em anexo)). Áreas ocupadas (ha) Concelho Nome 18 17 16 Urbanização REN RAN AUT 15 Castro Marim AAT Total empreendimento Albufeira Nº fogos médio /campo 18 buracos Nº fogos PN Ria Formosa Praias Dunas Vilas Apartamentos Fracção das áreas ocupadas na área total de empreendimento (%) AUT Urbanização RAN Pine Cliffs 66 - 37 32,0 - 10 - - - 94 188 56% 49% - Herdade dos Salgados 90 - 41 34,0 - 34 - - - - - 46% 38% - Balaia Golfe 27 - 19 21,0 8 - - - 907 1814 70% 78% 28% 210 210 -- 0,6 - 2 - - 61 - 41 100% 0% - 76 76 PP19 aprov. 1,9 - 33 - - 66 - - - - - 5,5 5,5 5,5 1,1 - - - - 10 - 20 100% 20% - 82,4 - - 30,9 8 - - - - - - - 37% 10% Castro Marim C.C. Quinta do Vale Vale do Milho Lagoa Gramacho 69,2 - - 7,0 21 - - - - - - - 10% 30% Lagos Vale da Pinta Palmares Golf Quinta da Boavista 73,2 - - - - - - - - - - - - - 115 - - 17,0 - - - - 210 144 354 - 15% - Ocean Course 130 130 194 35 - - - - 1500 750 71% 27% - Royal Course 144 144 Old Course 57 57 - 3,0 - - - - 370 370 - 5% - Lagos Loulé - 15 AAT – Área de Aptidão Turística AUT – Área Urbano-turística 17 RAN – Reserva Agrícola Nacional 18 REN – Reserva Ecológica Nacional 19 PP – Plano de Pormenor 16 30 Tabela 14 - Áreas ocupadas por empreendimento (Continuação) (Fontes: (DGOTDU, 2008); (P.P. Amendoeira Golf Resort, 2008); (P.P. da Balaia, 2007); (P.U. da Quinta do Lago, 2000); (P.U. Vilamoura, 1998); APA – EIA’s de campos de golfe no Algarve em anexo)). Áreas ocupadas (ha) Concelho Nome 23 22 21 REN RAN AUT 20 Portimão Urbanização PN Ria Formosa Praias Dunas Vilas Apartamentos Fracção das áreas ocupadas na área total de empreendimento (%) AUT Urbanização RAN Pinhal 87 87 41 24,0 - - - - - - - 47% 28% - Laguna 82 82 16 - - - - - - - - 20% - - Millenium 120 120 60 32,0 25 - - - 61 32 93 50% 27% 21% Victória 95 95 19 12,0 74 - - - 48 - 48 20% 13% 78% Vila Sol 142 142 103 56,0 - - - - 330 348 452 73% 39% - 381 381 271 190 - 89 77 - 360 180 71% 50% - 168 168 113 76,0 - 168 168 - 318 318 67% 45% - 123 123 68 31,0 32 101 101 - 168 112 55% 25% 26% 55 55 55 - - - - - - - - - - - 10 - - 1,0 10 - - - - 56 112 - 10% 100% 145 145 - 32 - - - - - - - - 22% - 63 - - 26,3 - - - - 90 - 90 - 42% - Quinta do Lago Norte Quinta do Lago Sul San Lourenzo Pinheiros Altos Laranjal Olhão AAT Total empreendimento Loulé Nº fogos médio /campo 18 buracos Nº fogos Colina Verde Penina Champ. Penina Resort Penina Academy Alto Golf 20 AAT – Área de Aptidão Turística AUT – Área Urbano-turística 22 RAN – Reserva Agrícola Nacional 23 REN – Reserva Ecológica Nacional 21 31 Tabela 15 - Áreas ocupadas por empreendimento (Continuação) (Fontes: (DGOTDU, 2008); (P.P. Amendoeira Golf Resort, 2008); (P.P. da Balaia, 2007); (P.U. da Quinta do Lago, 2000); (P.U. Vilamoura, 1998); APA – EIA’s de campos de golfe no Algarve em anexo)). Áreas ocupadas (ha) Concelho Nome 68 27 68 PU aprov 28 . REN 43 26 43 RAN Vila do Bispo Urbanização 25 V. R. S. António AUT Tavira 135 24 Silves Morgado do Reguengo II Morgado do Reguengo II Amendoeira Golf Resort Quinta de Benamor Quinta da Ria AAT Total empreendimento Portimão Nº fogos médio /campo 18 buracos Nº fogos PN Ria Formosa Praias Dunas Vilas Apartamentos Fracção das áreas ocupadas na área total de empreendimento (%) AUT Urbanização RAN - 24 - - - - - - - - 22% - - - - 100% - - - - - - - - - 135 PU aprov. - - - - - 223 208 58 - - - 58 - - - - - - - - 99% 120 - - - - 40 36 5 - - - - - - Monte Rei 400 - - - - - - - 110 - - - Parque da Floresta 121 - 27 44,2 4 6 - - 478 478 22% 37% 3% 339 Média por empreendimento 60% 29% 42% Total Final 3561 2267 1214 708 263 483 382 5 6192 24 AAT – Área de Aptidão Turística AUT – Área Urbano-turística 26 RAN – Reserva Agrícola Nacional 27 REN – Reserva Ecológica Nacional 28 PU – Plano de Urbanização. 25 32 4. Avaliação de impactes 4.1. Sector agrícola Na sequência das inferências feitas no capítulo anterior, acerca da substituição de solos agrícolas por campos de golfe julgou-se ser válida uma avaliação aos possíveis efeitos que essa conversão possa estar a ter na própria agricultura da região. Os estudos sobre os efeitos desta substituição focalizam bastante a questão da contaminação dos solos e aquíferos por químicos e fertilizantes, assim como, a sua escorrências pelas chuvas para as linhas de água superficiais mas não se encontrou nenhum que fizesse uma análise efectiva sobre o que acontece à agricultura local. Factores, tipos e número de explorações, área disponível, foram tomados em consideração, para então verificar se ocorreram variações tangíveis e se tem ocorrido algum tipo de adaptação a esta nova realidade. Com este objectivo em mente e com base nos estudo de impacte ambiental existentes sobre campos de golfe na região algarvia foi executada uma pequena estatística, a qual revelou que pelo menos de 90% dos campos propostos, após 2000 se localizam em áreas agrícolas abandonadas, ou seja superfície agrícola não utilizada e em geral estão incluídas na RAN. Actualmente 23% dos campos estão localizados em áreas classificadas como áreas agrícolas ou similares. Dos dados reunidos sobre os campos e também na informação dos EIA’s, pode observar-se que entre 1993 e 2009 foram 9 os empreendimentos construídos nos quais as áreas de implantação tinham classificação de área agrícola, RAN ou semelhante (Tabela 16). O período de variação referido remete para os dados que se obtiveram referentes à evolução de superfície agrícola utilizada (SAU). Tabela 16 - Empreendimentos com áreas de implantação classificadas como áreas agrícolas ou RAN (Fonte: (DGOTDU, 2008)). Concelho Nome Complexo Ano Inauguração Tipologia Zonas de Implantação Albufeira Balaia Golfe Balaia Golfe 2001 Resort Zona agrícola condicionada/RAN Loulé Millenium Vilamoura 2000 Resort Áreas urbano-turisticas/RAN 120 Loulé Victória Vilamoura 2004 Resort Áreas urbano-turisticas/RAN 95 Loulé Pinheiros Altos Quinta do Lago 1992 Resort Olhão Colina Verde Colina Verde 2003 Resort Portimão Morgado do Reguengo II Morgado do Reguengo 2002 Campo Morgado do Reguengo II Quinta de Benamor Quinta da Ria Morgado do Reguengo Quinta de Benamor 2003 Campo 2000 Campo Área agrícola complementar/RAN 58 2002 Campo Áreas produção agrícola Graus I e II/RAN 120 Portimão Tavira VRSA Quinta da Ria Area Urbano-turistica/RAN/REN/PN Ria Formosa Espaço agrícola indiscriminado/aproveitamento hidroagrícola do Sotavento/RAN Zonas de Recursos Naturais e Equilíbrio Ambiental, Imperativas e Zonas Agrícolas/RAN Área fomento agro-florestal/Povoamento florestal Área (ha) 27 2029 10 43 68 Dos dados indicados na tabela anterior pode verificar-se que a área total de campos criados entre 1993 e 2007 foi de cerca de 561 hectares. A razão de se incluir Pinheiros Altos na contabilização teve a ver com o facto de este ter sido alvo de expansão em 2002. 29 Área referente apenas à expansão do campo. 33 Tabela 17 - Evolução de explorações e superfície agrícola utilizada (SAU) (Fonte: INE). Ano 1993 SAU Nº Área (ha) explorações. 20382 140565 2007 12177 102755 Variação - 8 205 - 37 809 No que se relaciona com área agrícola conclui-se que esta tem vindo a decrescer no período em causa com a desactivação de 8205 explorações (-40%) e a redução de 37809 hectares (-26%) em área no caso da SAU (Tabela 17). Tomando esta última como referência, estimou-se que cada exploração é composta por cerca de 8.4 hectares de área agrícola. Assumindo um cenário hipotético por excesso em que toda a área de golfe se poderia classificar de área agrícola, estimou-se que neste período os empreendimentos foram responsáveis pela ocupação de cerca de 66 explorações agrícolas médias. Assim sendo mesmo que o golfe seja um dos responsáveis pela ocupação de áreas agrícolas abandonadas essa ocupação apenas se reflecte em 1.5% da redução total de área que se tem vindo a verificar desde 1993 e pode ser potencialmente responsável por 0.8% da redução no nº total de explorações de SAU verificado no período em análise (Tabela 18). Tabela 18 - Potencial afectação do golfe nas áreas agrícolas (Fontes: INE; (DGOTDU, 2008)). Período de variação Área agrícola potencialmente ocupada (ha) Área média /Expl de SAU (ha) Nº expl. equivalentes ocupadas por golfe Potencial contribuição do golfe na redução de explorações SAU (%) Potencial contribuição do golfe na redução de área de SAU (%) 93-09 561 8.4 66 0.8 1.5 Dado que a ocupação de áreas agrícolas por golfe se apresenta tão insignificante e como, com base nos estudos de impacte ambiental consultados, as áreas agrícolas ocupadas já se encontram normalmente abandonadas, pode assim concluir-se que o golfe não é o principal responsável pela redução de área agrícola referida e que a ocupação de áreas agrícolas por golfe vem na esteira do declínio do sector agrícola. Esta ocupação é um impacte negativo permanente mas com pouco significado. Existem, no entanto, duas influências que, individualmente ou em conjunto, podem indirectamente provocar a ocupação de áreas agrícolas. Uma é o desenvolvimento de campos e urbanizações turísticas preferencialmente nas zonas já ocupadas com outros campos de golfe. A outra é o facto das propriedades adjacentes aos campos ganharem significativo valor comercial, efeito estudado no capítulo seguinte, o que poderá aliciar os proprietários a vender as mesmas para fins turísticos. Não foram, contudo, identificados campos com inclusão e preservação de áreas agrícolas na sua área de implantação motivo pelo qual se sugere como estudo futuro a possibilidade de 34 compatibilização de ambas as actividades na mesma área como forma de rentabilizar áreas menos utilizadas dos campos como os roughs. Culturas frutícolas como por exemplo citrinos, poderiam ser alternativas interessantes para ocupação destas áreas, na medida em que poderiam aliar um certo valor paisagístico, tão valorizado em campos de golfe, com o facto de apresentarem os maiores índices de produtividade por unidade de área da região o que teria neste caso de vir a ser balanceado com os custos de manutenção e rega acrescidos. 4.2. Sector imobiliário e construção 4.2.1. Urbanização associada ao golfe É de senso comum que o Algarve tem sentido um aumento muito significativo no que toca a infraestruturas de alojamento, principalmente, no segmento de alojamento de férias mas os aumentos não se têm apenas cingido às licenças de construção, pois também se observaram aumentos quer no número quer no valor transacções de prédios urbanos e rústicos na região. Uma vez que 69% dos campos possui componente habitacional a si associada, mais de 40% se estende por áreas maiores que 10 hectares e 34% apresentam mais de 100 fogos construídos (Tabelas 13, 14 e 15), estimou-se o potencial impacte que as urbanizações de golfe acarretam na dinâmica urbana da região aquando da sua implantação. No total e, utilizando dados territoriais e de ordenamento disponibilizados pela Direcção Geral de Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano (DGOTDU) e também por alguns dos EIA’s, foi estimada uma área total de cerca de 3561 hectares de empreendimentos de golfe no Algarve, dos quais cerca de 708 hectares foram urbanizados (Tabela 15). Foi também estimada a área de um resort típico com um campo de 18 buracos e com urbanização e que fica em cerca de 109 hectares, um incremento de cerca de 100% em relação à área estimada de 55 hectares para um campo de jogo simples (Universidade do Algarve, 2004). Com o objectivo de estimar então a área do imobiliário associado ao golfe foi delimitada área dos empreendimentos e as várias áreas de urbanização com uma ferramenta de SIG disponibilizada pela DGOTDU, Planos de Urbanização, Planos de Pormenor e com a informação nos respectivos proprietários dos campos (Figura 19). Por vezes os proprietários dos campos não são os mesmo que os que detêm a urbanização o que torna mais difícil a sua identificação, mesmo através dos EIA’s. O método utilizado acabou por ser assim mais vantajoso pois permitiu uma identificação mais fácil de todas as áreas classificadas como Áreas Urbano-Turísticas incluídas nas zonas dos campos ou nos seus interstícios mesmo que estas sejam de proprietários diferentes (Figura 18). Outros coadjuvantes a esta identificação foram os Planos de Urbanização e Planos de Pormenor dos campos mais recentes que permitiam identificar com maior exactidão a localização e áreas de construção, tipologias e número de fogos/edifícios que compõe estas urbanizações. No caso de ausência de PU’s e PP’s o número de lotes foi contabilizado utilizando a informação disponibilizada pelos proprietários nos planos de empreendimento (Figura 19). 35 Figura 18 - Exemplo de delimitação de áreas do empreendimento Vale de Lobo em Loulé (Fonte: (DGOTDU, 2008)) Figura 19 - Identificação de urbanizações associados aos campos de golfe (Fonte: (Lusort, 2009)). Numa primeira análise ao efeito dos aumentos de urbanização optou-se por comparar a evolução de área urbanizada total estimada com a evolução de área de urbanizações de golfe. Infelizmente a informação em relação a este aspecto é muito escassa e, nalguns casos, incoerente uma vez que a informação obtida para 1993 e 1996 não pode ser comparada com a informação territorial posterior, datada de 2005, porque entretanto a informação foi organizada em Planos Municipais de Ordenamento de Território (PMOT) que têm critérios e classificações diferentes da anterior. 36 Comparando a informação de evolução relativamente á primeira vaga de campos de golfe entre 1991 e 1996 com a evolução de área urbana constatou-se que apenas 2.3% da expansão da área urbana poderá ter sido devida a área associada ao golfe (Tabela 19). Tabela 19 - Comparação entre evolução de área urbana e área de urbanização de golfe (Fontes: (DGOTDU, 2008); (INE , 1992); (INE, 1997)). Área urbana Área urbana associada a golfe 1991 1996 criada 91 -96 Hectares 190 Algarve 32051 Contribuição golfe (%) 40299 2.3 Adicionalmente ao aspecto da área de implantação da urbanização têm-se o aspecto do número de construções que vêm por acréscimo aos campos de golfe. No sentido de se observar o efeito dessas construções no sector imobiliário regional e local comparou-se informação de construções novas de fogos para os anos em que houve conclusão de construções associadas ao golfe para o período entre 1995 e 2006 com base nos dados do INE. Os resultados revelaram que em geral os acréscimos foram suficientes para expandir o imobiliário entre 0.7% a 6.3% a nível regional (Tabela 20) e entre 5.6% e 50% no caso local (Tabela 21) o que remeteu para média de expansão de fogos por empreendimento de 2.4% e 22% a nível regional e local respectivamente. Tabela 20 - Contribuição das construções associadas ao golfe na evolução de construção regional (Fontes: INE; DGOTDU, 2008; Planos de Urbanização, Planos de Pormenor, Informação dos proprietários)). Contribuição dos fogos de golfe na construção regional Nº Fogos totais concluídos (fonte: INE) Nº total de fogos de golfe concluídos 1997 4507 90 2.0% 2000 7778 93 1.2% 2001 9596 1716 6.3% 2002 10222 354 3.5% 2003 9155 56 0.6% 2004 7283 48 0.7% Algarve 37 Tabela 21 - Contribuição das construções associadas ao golfe na evolução de construção local (Fonte: INE; DGOTDU, 2008; Planos de Urbanização, Planos de Pormenor, Informação dos proprietários)). Nº fogos associados Concelho Nome Ano Nº total fogos a golfe Contribuição concluídos por Inauguração Vilas Apartamentos ano respectivo dos fogos de golfe no total local Balaia Golfe Castro Marim C.C. Quinta da Boavista Millenium 2001 - 543 1093 50% 2001 61 - 392 15.6% 2002 210 144 839 42.2% 2000 61 32 1148 8.1% Loulé Victória 2004 48 - 855 5.6% Olhão Colina Verde 2003 - 56 411 13.6% Portimão Alto Golf 1997 90 - 506 17.8% Albufeira Castro Marim Lagos Loulé O alojamento associado ao golfe acaba também por implicar áreas de implantação maiores que um hotel uma vez que na sua generalidade consiste em aldeamentos turísticos compostos por vilas, townhouses e apartamentos. Além de serem mais apelativas para os jogadores estas tipologias são também mais adequadas para vender, pois é conhecido o valor elevado que os imóveis podem atingir dentro campos de golfe. Dessa forma contribuem para a rentabilização imediata do campo e não contribuem para os custos de manutenção do mesmo. Em média, observou-se a criação de 20 hectares de urbanização um número total de 217 fogos construídos por cada campo de 18 buracos existente o que poderá corresponder a uma capacidade para 860 habitantes (Tabela 22). Tabela 22 - Indicadores de construção por campo de 18 buracos (Fontes: DGOTDU, 2008; Planos de Urbanização, Planos de Pormenor, Informação dos proprietários). Por campo de 18 Área urbanizada buracos criado: (ha) Max Média Desvio padrão 95 Média 20 24 Fogos construídos (Nº) Min Max 0 1814 Média 217 Min 0 387 É claro que existe uma grande variabilidade em relação a estes valores com desvios padrão de 387 fogos e 24 hectares respectivamente mas que é derivado do facto dos empreendimentos com maior número de fogos e área urbanizada apresentarem valores muito acima da média como por exemplo Vale de Lobo com 1500 fogos em 35 hectares. Não obstante, considera-se um impacte negativo permanente significativo. 38 4.2.2. Efeitos económicos no imobiliário Uma influência secundária que tem vindo a ser atribuída à implantação de campos de golfe é o aumento do preço do imobiliário em geral nas zonas onde estes se estabelecem. Alguns estudos comprovam que as externalidades que um campo de golfe pode originar, assim como outros tipos de espaços verdes abertos, têm efeitos significativos no preço das habitações anexas a estes (Bolitzera e Netusilb, 2000) com os preços a poderem ser incrementados entre 3000 e 1500 US$ num raio de distância de 500 metros dum espaço verde aberto. Mais especificamente, crê-se que o valor de propriedades adjacentes a campos de golfe possa ver o seu preço inflacionado cerca de 7.6% devido a essa proximidade tendo-se verificado nesta hipótese um aumento do preço das casas em cerca de 30000 US$ (Quang Do e Grudnitski, 1995). Na realidade estas tendências comprovaram-se no valor dos prédios (terrenos) transaccionados no Algarve durante e após o inicio da segunda onda de construção de campos, em 2001. O valor médio dos prédios urbanos passou quase para o dobro em quatro anos de monitorização mas o mais surpreendente é a quase triplicação do valor dos prédios rústicos nessa mesma janela de tempo que em média passaram de 40 mil euros para 120 mil euros (Figura 20) a valores de 2007. Estes são definidos como sendo terrenos que não são classificados como terrenos de construção e que para todos os efeitos são considerados como terrenos com destino a actividades agrícolas (INE). Mas dado que terrenos deste tipo têm sido alvo de uma conversão para áreas de golfe, é natural que o seu valor tenha vindo a ser incrementado. Euros Evolução do valor médio dos prédios 160.000 140.000 120.000 100.000 80.000 60.000 40.000 20.000 0 Total Prédios urbanos Predios rústicos 2003 2004/2005 2006 2007 Figura 20 - Evolução do valor médio dos prédios (Fonte: INE). Numa análise mais localizada, e comparando os concelhos com campos de golfe com os que não possuem este tipo de instalações, verificou-se que são sempre os primeiros a ter um maior número de terrenos rústicos a serem transaccionados (Figura 21) assim como é sempre superior o volume de capital envolvido nas mesmas (Figura 22). 39 Evolução do nº de prédios rústicos transaccionados 800 Nº 700 Albufeira 600 Faro 500 Lagoa Loulé 400 Portimão 300 Vila Real de Santo António 200 Alcoutim 100 Lagos Monchique 2001 2002 2003 2004 2005 2007 Figura 21 - Evolução do nº de prédios rústicos transaccionados por concelho (Fonte: INE). Evolução do valor das transacções de prédios rústicos 180 000 160 000 milhares de euros 140 000 Albufeira 120 000 Faro Lagoa 100 000 Loulé Portimão 80 000 Vila Real de Santo António 60 000 Alcoutim Lagos 40 000 Monchique 20 000 2001 2002 2003 2004 2005 2007 Figura 22 - Evolução do valor total de transacções de prédios rústicos por concelho (Fonte: INE) O concelho de Loulé está em evidência nestes dois panoramas mas no que concerne ao valor médio dos prédios rústicos transaccionados a diferença para outros concelhos com golfe já se apresenta mais diluída (Figura 23). 40 Valor médio dos prédios rústicos transaccionados 400.000 350.000 300.000 euros 250.000 200.000 150.000 100.000 50.000 ALGARVE Albufeira Faro Lagoa Loulé Portimão Vila Real de Santo António Alcoutim Lagos 0 Monchique Figura 23 - Valor médio dos prédios rústicos transaccionados por concelho (Fonte: INE) O valor dos prédios rústicos nos concelhos com golfe supera mesmo o valor médio para a região algarvia. Por seu lado os concelhos isentos de golfe apresentam sempre valores bem mais baixos, caso de Monchique, Alcoutim e mesmo Faro (Figura 23). A variação entre 2000 e 2007 também sugere o mesmo efeito inflacionário na medida em que os grandes picos de crescimento de preço se observam nos concelhos com maior número de campos (Figura 24). Variação de valor médio de prédios rústicos 2000-2007 350 000 300 000 250 000 200 000 150 000 100 000 50 000 0 P.rusticos Figura 24 - Variação de valor médio de prédios rústicos entre 2000 e 2007 por concelho (Fonte: INE) O mesmo efeito se passa com os lotes urbanos com aptidão para construção na medida em que se verifica abissal a diferença entre o valor de um lote para urbanização dentro de um empreendimento 41 de golfe e o valor médio dos terrenos urbanos transaccionados em 2007, por exemplo em Loulé. O valor mínimo para um lote de terreno dentro de um campo em Loulé foi de 525 mil euros, a valores de 2007, enquanto o valor médio dos prédios urbanos transaccionados nesse concelho foi de cerca de 280 mil euros. Numa pequena estatística efectuada com dados de terrenos de urbanos localizados em campos e fora em Vilamoura e Quarteira respectivamente (Anexo V), foi verificado que o valor de 2 um lote para construção dentro dos campos de Vilamoura atinge um preço por m de cerca de 1326 euros com um desvio médio de 732 euros enquanto um terreno urbano com aptidão para construção, 2 localizado em Quarteira fora da zona dos campos atinge cerca de 322 euros por m com um desvio de 200 euros. Ou seja no mínimo tem-se uma diferença 72 euros por m2 o que perfaz um incremento de preço de 114% no preço dentro de campos face ao preço fora dos campos (Tabela 23). Tabela 23 - Variação de preço de lotes urbanos dentro e fora de campos de golfe (Fonte: www.imoportugal.pt.) Preço médio Desvio Preço médio lote Desvio lote urbano de médio urbano fora de médio 2 2 2 Inflação de preço devido ao golfe 2 golfe (€/m ) (€/m ) área golfe (€/m ) (€/m ) 1326 732 322 200 Máxima Média Mínima 1649% 412% 114% Esta comparação apresenta-se no entanto, bastante limitada na medida em que se centrou numa pequena amostra, numa área muito localizada e na qual não houve discriminação entre lotes clássicos e lotes de luxo, que poderiam vir a demonstrar uma diferença de preço menos acentuada. Sugere-se assim um estudo mais fino desta questão, efectuado em várias áreas de forma a comprovar de forma mais geral este fenómeno. 4.3. Sector do turismo O turismo da região algarvia começou por assentar apenas no conceito de turismo balnear graças à sua extensa orla costeira. Actualmente ainda é este factor que motiva grande parte dos turistas que afluem á região (84% dos turistas que vão para o Algarve (Turismo de Portugal, 2007)) mas dado que os turistas de golfe têm interesses e particularidades diferentes das dos turistas meramente balneares é possível que novas tendências venham a nascer no seio da indústria turística algarvia. Mais concretamente, e como foi exposto anteriormente, o turista de golfe que visita a região é normalmente abastado, utiliza alojamentos mais luxuosos, faz uma despesa média em alojamento superior ao turista normal (45€/dia por golfista acima dos 33€/dia observados por turista médio) e gosta de desfrutar de outras experiencias culturais da região que visita além do golfe (THR Acesores en Turismo, Hotelaría y Recreación, S.A, 2006). Por estes factos foram identificados três possíveis efeitos com este novo segmento turístico e que foram alvo de uma observação, nomeadamente, o aumento de estabelecimentos turísticos para suprir a necessidade de mais alojamento, o aumento de 42 receitas destes estabelecimentos e ainda a diminuição da sazonalidade dado que a época alta do golfe decorre entre o Outono e a Primavera. A comparação entre a evolução dos estabelecimentos hoteleiros criados, segundo dados do INE, e a evolução dos empreendimentos de golfe construídos permitiu concluir que estas se encontram em sintonia quase perfeita, o que quer dizer que o desenvolvimento recente dos empreendimentos algarvios tem sido, em parte, motivado pelos projectos de golfe (Figura 25). Mais especificamente, o aumento nos complexos de golfe representou cerca de 30% e 18% em cada um dos aumentos respectivamente. Neste caso, para efeitos, estatísticos os aldeamentos e apartamentos turísticos são também classificados como estabelecimentos turísticos e cada resort foi considerado como um estabelecimento. 400 300 200 100 0 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Nº de campos Nº estabelecimentos Evolução de estabelecimentos hoteleiros e golfe 500 Estabelecimentos hoteleiros Figura 25 - Evolução de estabelecimentos hoteleiros e golfe. (Fontes: INE; (Algarve Golf, 2008); (Portugal Golf, 2008); (Virtual Portugal, 2009)). A análise dos benefícios no nº de turistas e das mais-valias económicas não pode ser a partida tão linear como a anterior, uma vez, que a reacção será, à partida mais lenta e gradual pois, depende da aceitação dos novos complexos por parte dos consumidores dos seus serviços. Segundo os dados recolhidos num inquérito aos campos, estimou-se a partir do nº de voltas vendidas, que o nº de jogadores a vir para a região algarvia tem vindo aumentar anualmente (Tabela 24). Em 2007, o número de turistas que se deslocaram até à região apenas com o golfe como motivo de deslocação representou já cerca de 11.6% dos turistas que a ela afluíram (Turismo de Portugal, 2007) valor que representou cerca de 342000 potenciais praticantes de golfe. 43 Tabela 24 - Indicadores de golfe de 1999 a 2002 (Fontes: (Universidade do Algarve, 2004); (Região de Turismo do Algarve, 2008)). 1999 2000 2001 2002 2007 30 19.5 21 24 27.5 31.5 837853 877007 904623 913090 1148000 4,5 4,5 4,5 4,5 4,5 186190 9309 194890 8473 201027 7732 202909 7247 255111 Variação de voltas (%) - 4.7% 3.1% 0.9% 25.7% Variação de campos (%) - 7.7% 14.3% 14.6% 14.5% Nº campos equivalentes Nº total de voltas efectuadas /ano Nº médio de voltas por jogador Nº total de jogadores / ano Nº jogadores/ campo equivalente 8099 Entre 2007 e 2008 estimou-se que o nº de voltas jogadas tenha aumentado para um total de 1148000 (Região de Turismo do Algarve, 2008). Deste modo e assumindo que o nº médio de voltas por jogador não ser tem vindo a alterar calculou-se que em 2007 o nº total de jogadores tenha passado para 255111 (Tabela 24). Um valor que representa 8% do nº de hóspedes verificado no Algarve neste ano, atendendo que o número de hóspedes foi de cerca de 3 milhões. Assumindo uma distribuição equitativa de jogadores por todos os campos observa-se que, em média se atingiu os 8100 jogadores por cada campo de golfe de 18 buracos existente. Este número total representou deste modo uma variação de cerca de 37% em relação a 1999. A diferença entre o nº jogadores estimado e o nº de potenciais praticantes de golfe poderá ter como origem o facto de alguns jogadores se inscreverem como hóspedes em vários resorts durante a sua estadia, inclusão dos acompanhantes de jogadores nas estatísticas ou mesmo pela vinda de adeptos e jornalistas aos torneios que assim têm igual motivo que os jogadores mas acabam por não jogar efectivamente. Tal número de jogadores vem impulsionar o mercado hoteleiro da região pois como já foi referido os jogadores optam por alojamento acima de média quer em nº de dias quer em qualidade das instalações que escolhem para o efeito. Tem-se verificado, contudo que o aumento do número de campos cresce a uma razão bem mais elevada que o número de voltas e que em termos globais entre 1999 e 2007 houve um aumento de 61% de campos equivalentes de 18 buracos para os referidos 37% de aumento de voltas (Tabela 24). Esta situação de oferta superior à procura acaba por não ser vantajosa na medida em que vai fazer com que a procura se dilua mais e pode fazer com que os campos operem abaixo da sua capacidade o que pode em alguns casos por em risco a própria manutenção dos campos. Esta situação só se começou a verificar com a implantação da segunda vaga de campos em 2000 uma vez que não se verificava em alturas anteriores (Figura 26). Desta forma pode concluir-se que a construção massiva de campos mais recente não tem sido benéfica nem mesmo para a própria indústria do golfe. 30 (Região de Turismo do Algarve, 2008) 44 10000 20% 8000 15% 6000 10% 4000 5% 2000 0% 0 1998 1999 2000 Variação de voltas (%) 2001 Nº jogadores/campo Variação 25% 2002 Variação de campos (%) Nº jogadores/ campo equivalente Figura 26 - Variações marginais do nº total de voltas e campos (Fontes: (Universidade do Algarve, 2004); (Região de Turismo do Algarve, 2008)). Não deixa no entanto de atrair fluxos de turistas interessantes e que podem ter impacto regional e local. Analisando os potenciais fluxos de turistas de golfe no panorama turístico algarvio pode constatar-se que a sua importância se faz sentir, potencialmente, mais a nível de dormidas do que propriamente de hóspedes (Tabela 25). Uma conclusão que pode ser justificada com o facto do crescimento de hóspedes totais se ter processado a um ritmo mais elevado que o crescimento de jogadores. Este jogadores contudo têm uma estadia mais prolongada que o habitual turista sendo que os primeiros permanecem em média 9.5 dias na região enquanto os segundos permanecem apenas 5.3 dias (PENT - Turismo de Portugal, 2007) o que naturalmente terá mais consequências ao nível das dormidas como foi referido. Regionalmente, o crescimento do golfe terá contribuído para uma variação positiva de cerca de 3.5% dos hóspedes totais e cerca de 4.5% do nº total de dormidas (Tabela 25). A nível local foram os concelhos com fraco desenvolvimento de turismo de golfe e que investiram nesse nicho de mercado entre 1999 e 2007 que revelaram os potenciais aumentos de turistas e dormidas mais significativos como por exemplo os verificados para Lagos, Tavira e Vila Real de Santo António (VRSA) com aumentos de cerca de 7%, 12% e 27% respectivamente em nº de hóspedes e 10%, 15% e 36% respectivamente para o nº de dormidas. Destaca-se também o turismo de golfe em Loulé, o centro nevrálgico deste desporto na região, e no qual os fluxo de turistas de golfe se estimou terem uma importância de 23% ao nível de hóspedes e 50% (Tabela 25). Denote-se que o efeito de maior diluição de procura referida anteriormente pode ser verificada em concelhos como Lagoa e Vila do Bispo cuja procura de golfe calculada acabou por revelar um decréscimo. 45 Tabela 25 - Potencial contribuição do golfe no panorama turístico do Algarve entre 1999 e 2007 (Fontes: INE; (Universidade do Algarve, 2004); (Região de Turismo do Algarve, 2008)). Campos Jogadores 1999 2007 Hóspedes 1999 2007 1999 Dormidas 2007 1999 2007 Contribuição do golfe na variação (%) Variação (%) Hóspedes Dormidas Hóspedes Dormidas 0.4% Contribuição % Jogadores dos nos jogadores hóspedes nas totais dormidas (%) 1999 2007 1999 2007 2.1% 1.4% 2.3% 2.4% Albufeira 1.5 2 13964 16198 652034 1140078 5783495 6406324 74.8% 10.8% 0.3% Lagoa 2.5 2.5 23274 20247 159977 198041 1124847 1035986 23.8% -7.9% -1.9% Lagos 1 2 9309 16198 94972 158540 656904 750079 66.9% 14.2% 7.3% Loulé 11 13 102404 105284 336915 454439 2050096 2012364 34.9% -1.8% 0.9% Olhão 0 0.5 0 4049 1393 - 3056 - - - 290.7% 1258% Portimão 3 5 27928 40494 350010 402738 2902253 2094840 15.1% -27.8% 3.6% 4.1% Tavira 0 1 0 8099 67084 163451 496054 722017 143.7% 45.6% 12.1% 15.5% Vila do Bispo 1 1 9309 8099 32388 32058 143562 86721 -1.0% -39.6% - 3.7% -8.0% 28.7% 25.3% 61.6% 88.7% Vila Real de Santo António 0 3 0 24296 90080 164690 642366 958401 82.8% 49.2% 27.0% 35.9% ALGARVE 20 31.5 186190 255111 1961713 2940592 14431795 14685009 49.9% 1.8% 3.5% 4.5% -2.6% 14.5% 10.2% 19.7% 18.6% 10.0% 9.8% 10.2% 13.5% 20.5% 1.3% 30.4% 23.2% 47.5% 49.7% 0.0% - 0.0% 0.0% 8.0% 10.1% 9.1% 18.4% 0.0% 0.0% 10.7% 5.0% 0.0% 14.8% 9.5% 0.0% 24.1% 8.7% 12.3% 16.5% 46 Estas variações implicarão repercussões também ao nível financeiro tanto a nível regional como ao nível local com a atracção deste tipo de turistas. Actualmente, calcula-se que os lucros desta actividade se traduzam numa quantia de 86 milhões de euros de receitas directas anuais e 250 milhões de euros em receitas indirectas representando assim no total cerca de 8,5% da receita total turística no Algarve (Faculdade de Economia da Universidade do Algarve para AHETA, 2004). Atendendo aos gastos médios diários estimados para um turista de golfe enquadrado no estilo dos que visitam a região algarvia, que em média optam por estadias de 9.5 dias e que no panorama dos 28 campos de golfe equivalentes em 2002, cada campo teria a visita de uma média de 7246 jogadores, estimou-se que cada empreendimento geraria cerca de 3 milhões de euros de receitas brutas com os gastos directos dos turistas nos campos. Os gastos dos jogadores em alojamento também foram estimados e rondam esse mesmo valor já contanto com os dias de estadia referidos (Tabela 26). Tabela 26 - Despesa média diária por jogador e despesa anual gerada pela afluência média de um campo em 2002 (Fonte: (Universidade do Algarve, 2004)). Tipo de despesa (a valores médios de 2002) Despesas totais geradas pela afluência média de um campo equivalente Euros 1989232 61 Despesa média diária por turista de golfe31 Green fee médio Despesas média total no campo 45.08 Despesa média em alojamento 45.66 3103491 3143421 Comparando a média de proveitos de aposento (receitas geradas pelas dormidas) de um hotel e de uma aldeamento turístico com o valor obtido nesta ultima tabela para um campo de 18 buracos verifica-se que as despesas dos jogadores de um campo em dormidas, nesse ano dariam para cobrir, em média, os proveitos de 1 hotel de 265 camas ou de 2 aldeamentos turísticos de 470 camas (Tabela 27). Tabela 27 - Comparação entre proveitos de aposento médios por estabelecimento hoteleiro e o proveito gerado num empreendimento hoteleiro em 2002 (Fontes: INE; (Universidade do Algarve, 2004)). Gastos dos Receitas de Receitas de dormidas / dormidas / hotel aldeamento turístico médio de 265 médio de 470 camas camas (Euros) (Euros) 3144303 31 Gastos dos jogadores jogadores em em alojamento fora do alojamento fora do campo/ receita hotel campo/ receita médio aldeamento turístico médio 1598933 1 2 (Faculdade de Economia da Universidade do Algarve para AHETA, 2004) 47 No total em 2002 estimou-se que os proveitos de aposento gerados pela actividade dos campos terão contribuído cerca de 26% para o balanço global de proveitos por aposento regional e gerado cerca de 53% do total registado em Loulé. Mais uma vez se remete para importância destes ganhos para concelhos com baixas afluências de hóspedes como Tavira e VRSA que registaram contribuições potenciais bem acima da média algarvia (Tabela 28). Tabela 28 - Contribuição potencial dos jogadores de golfe para os proveitos de aposento dos estabelecimentos hoteleiros em 2002 (Fontes: INE; (Universidade do Algarve, 2004)). Proveitos Contribuição Campos de Proveitos gerados do golfe nos golfe Totais por proveitos de equivalentes (milhares jogadores aposento 2002 de euros) (euros) (%) 2 110 674 6286842 5.7% Concelho Albufeira Lagoa 2.5 37 475 7858553 21.0% Lagos 2 15 301 6286842 41.1% Loulé 12 70 417 37721052 53.6% Portimão 4 51 517 12573684 24.4% Tavira 1 7 997 3143421 39.3% Vila do Bispo 1 3 567 3143421 88.1% Vila Real de Santo António 2 10 764 6286842 58.4% 26.5 322 306 83300657 25.8% Algarve A redução do efeito de sazonalidade é apontada como uma vantagem dos empreendimentos de golfe em relação aos exclusivamente dedicados ao turismo balnear (PENT - Turismo de Portugal, 2007). Uma vez que a época alta do golfe vai de Setembro a Novembro e de Fevereiro a Maio é uma possibilidade que se apresenta como boa opção para minimizar tal efeito e na realidade já tem dado os seus frutos pois esta tendência aparece bem vincada quando se compara os nº médio mensal de hóspedes (INE, 2007) com o nº médio estimado de jogadores (RTA, 2008) (Figura 27). 30000 25000 20000 15000 10000 5000 Nº médio mensal de hópedes Dez Nov Out Set Ago Jul Jun Mai Abr Mar Fev 0 Nº médio mensal de jogadores 400000 350000 300000 250000 200000 150000 100000 50000 0 Jan Nº médio mensal de hóspedes Sazonalidade de hóspedes e jogadores Nº médio mensal jogadores Figura 27 - Variação média mensal de hóspedes e jogadores de golfe no Algarve em 2008 (Fontes: INE; (Região de Turismo do Algarve, 2008)). 48 Entre Setembro e Novembro os jogadores representam uma potencial ocupação que se encontra em média entre 7.7% e 17.5% enquanto entre Fevereiro e Abril os jogadores asseguram em média cerca de 10% a 15% da ocupação turística algarvia nesse período. Comparando os índices de sazonalidade de jogadores entre 2003 e 2007 usando o método das médias simples sem ajustamento (Universidade Nova de Economia, 2006) observou-se um ligeiro aumento de afluência nos meses de Janeiro, Junho, Julho, Setembro Outubro e Novembro verificando-se assim cada vez mais a atenuação da sazonalidade principalmente nos meses de Outono (Figura 28). Indice (%) Indice de sazonalidade 160 150 140 130 120 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 2007 2003 Figura 28 - Comparação entre índices de sazonalidade de jogadores (Fontes: (Universidade do Algarve, 2004); (Região de Turismo do Algarve, 2008)). A hipótese da maior afluência de jogadores às zonas que apresentam maior número de campos acabou por nem sempre se comprovar na comparação entre voltas vendidas na zona ocidental (Vila do Bispo, Lagos, Portimão, Lagoa, Silves e Albufeira) e na zona central algarvia (Loulé). Apesar desta última apresentar um valor global de voltas sempre superior, o facto é que nem sempre a sua distribuição por campo superou as que voltas vendidas por campo na região ocidental (Figura 29) sugerindo assim que existirão outros factores importantes para a implantação de tão elevado número de campos neste concelho. Em termos de impacte é pode dizer-se que o golfe causa um efeito permanente positivo mas variável. 49 50000 45000 40000 Nº voltas 35000 30000 25000 Zona Ocidental 20000 Zona Central 15000 10000 5000 0 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Figura 29 - Evolução do nº de voltas vendidas por zona (Fonte: (Universidade do Algarve, 2004)). 4.4. Sector sócio-económico As constatações feitas no sector turístico permitiram concluir que o golfe veio dar impulsão ao sector quer ao nível de hóspedes quer ao nível receitas dos estabelecimentos, principalmente, ao nível regional. Tal evolução, pode trazer consequências económicas quer ao nível das empresas que trabalham directamente com este segmento como nas que trabalham indirectamente com o sector, uma vez que novos tipos de turistas implicam novos nichos de mercado por satisfazer. Estudos sobre a economia de golfe noutros destinos, como o estado do Michigan ou a Carolina do Sul, com intensa actividade do mesmo permitiram concluir que, em geral, o golfe gera impactes económico substanciais quer a nível regional que a nível local (Stynes et al., 2000), mais concretamente, no aumento da demanda de serviços e produtos turísticos, da mão-de-obra necessária e mesmo nos impostos que são pagos á autarquias (Flowers, 2009). Os impactes directos normalmente apresentados relacionam-se com as vendas e postos de trabalho assegurados pela entrada de capital. Na classe dos impactes indirectos estão dois tipos, mais especificamente, o aumento gastos dos golfistas noutros serviços e empresas com serviços complementares ao golfe e o aumento dos gastos dos operadores de golfe nos serviços locais onde operam graças ao aumento dos lucros com os golfistas (Stynes et al., 2000). Este efeito foi inclusivamente estimado e foram obtidos valores nos rácios impactes totais/directos na ordem dos 1.62 e 1.75 para as regiões referidas o que significa que por cada dólar gerado directamente das vendas outros 0.62 e 0.75 cêntimos são gerados indirectamente nos serviços complementares. No estudo realizado para os campos da região o valor obtido para um rácio de 1.73 o que se enquadra dentro deste limites. Dentro do tecido empresarial do golfe existiam em 2003, 15 empresas directamente ligadas ao turismo de golfe (Faculdade de Economia da Universidade do Algarve para AHETA, 2004) mas nem só estas empresas beneficiam com este negócio. 50 Tendo em conta o capital médio que é gasto por um turista de golfe (Tabela 26) e os indicadores financeiros das empresas em 2002 efectuou-se o calculo da contribuição total directa e indirecta do golfe nesse ano assim como os potenciais benefícios associados por empreendimento implantado, ambos estimados de grosso modo. Para o caso da empregabilidade no sector turístico estimou-se que no total cerca de 945 empregados em campos o que representará cerca de 6.6% dos empregados actualmente em estabelecimentos hoteleiros da região e 0.5% da população empregada total (Tabela 29). Tabela 29 - Indicadores de empregabilidade directa do golfe estimados a nível regional (Fontes: INE; (Universidade do Algarve, 2004)). Ano 2002 Nº de campos simples equivalentes 31.5 Nº médio de empregados por campo 18 buracos (fonte: Universidade do Algarve) 30 Nº médio de empregados por resort de golfe (Fonte: EIA’s) 95 Nº total de empregados em campos golfe em 2002 945 População empregada regional (Nº) (INE, 2003) 202400 Pessoal ao serviço de estabelecimentos hoteleiros (Nº) (INE, 2003) 14286 Fracção dos empregados de golfe na população empregada regional 0.5% Fracção dos empregados de golfe no pessoal ao serviço nos Est. hoteleiros 6.6% Contribuição no aumento de postos de trabalho de turismo relativamente a 2000 3.5% . Relativamente à actividade agrícola a actividade dos campos permite, em média, a manutenção de um número de postos de trabalho permanentes significativamente maior, na ordem dos 500% vindo assim trazer um maior dinamismo a zonas nas quais o abandono das áreas agrícolas poderá estar a contribuir para o êxodo da população para as áreas urbanas (Tabela 30). Assim sendo o golfe poderá ser uma boa alternativa para contrariar o despovoamento de zonas agrícolas em declínio. Tabela 30 - Comparativo de empregabilidade permanente entre golfe e agricultura (Fonte: INE) Área de SAU média (há) (fonte: INE) 102755 Mão-de-obra agrícola permanente (nº) (fonte: INE) 10811 Média de Média de Incremento trabalhadores empregados / 100 de mão-de- agrícolas ha de área de obra permanentes /100 ha empreendimento de associada de SAU golfe ao golfe 11 55 500% Existe no entanto variabilidade inerente a cada tipo de actividade agrícola mas não existe informação discriminada para tal comparação. A afluência dos jogadores aos campos origina não só receitas nos mesmos mas também na aquisição de bens e serviços complementares como por exemplo em alimentação ou ainda em actividades culturais e de animação turística. No inquérito aos campos executado pela Universidade do Algarve foram compilados os gastos médios de cada jogador discriminados por tipo de actividade, 51 fora dos campos. Assumindo a distribuição média de 7250 jogadores por cada campo, de 18 buracos existente, em 2002, foi possível estimar os potenciais ganhos anuais em diversas actividades com o mercado turístico de golfe (Tabela 31). Tabela 31 - Gastos médios do total e por jogador de golfe fora dos campos (Fonte: (Faculdade de Economia da Universidade do Algarve para AHETA, 2004)). Tipo de despesa Gasto Gastos totais/ Nº médio /jogador jogadores . empreendimento (Euros) (Euros) Gastos totais dos jogadores em 2002 (Euros) Alojamento 45.66 330886 9264820 Alimentação 20.39 147761 4137312 Recreio cultura 31,03 224866 4137312 No estudo executado a partir dos inquéritos foi estimado apenas o Valor Acumulado Bruto (VAB) que o golfe vem acrescentar ao VAB regional, cerca de 0.07%, no entanto, a tradução destes ganhos em possíveis postos de trabalho acabou por não ser feita por se ter considerado que é um parâmetro que está sujeito a uma enorme variabilidade. Por oposição os estudos efectuados nos EUA, referidos anteriormente, fizeram esta estimativa com base nas vendas geradas por jogadores em bens e serviços e na porção total dessas vendas que é canalizada para os custos com pessoal tendo sido calculados tanto postos de trabalho como os possíveis vencimentos que advêm dessas vendas, recorrendo a modelos económicos. Uma vez que não teve acesso a tal modelação, optou-se por uma abordagem mais elementar, calculando-se um potencial número de postos de trabalho que possam ter sido mantidos através do capital gerado pelos jogadores de golfe fora dos campos em diferentes actividades e serviços. Com esse objectivo foi então calculada a fracção das dos custos com pessoal nas receitas totais e também o valor de vendas que é absorvido por impostos chegando assim a uma estimativa do capital que poderá ter contribuído para os vencimentos dos funcionários através da actividade do golfe em cada um dos sectores. Os dados das várias actividades económicas foram obtidos através do INE. Os dados para comparação com o sector de Alojamento e Restauração foram feitos assumindo que a grande parte dos gastos de um jogador em alimentação é feito em restauração tendo sido somados aos gastos com alojamento. A um nível de significância global pode dizer-se que as actividades de alojamento e restauração e actividades recreativas culturais e desportivas têm beneficiado com a vinda de jogadores pois foi estimado que estes financiaram cerca de 367 postos de trabalho na primeira e 137 na segunda para valores relativos a 2002 (Tabela 32) sendo esta última a que beneficia mais relativamente com os postos mantidos a representarem 10% do total. Existem, no entanto, outras actividades como os transportes internos nos quais também são efectuadas despesas pelos jogadores mas que por falta de dados mais específicos para comparação não foram incluídos neste cálculo mas que incrementariam bastante estes valores. 52 Tabela 32 - Estimativa de postos de trabalho indirectos financiados por golfe em 2002 (Fontes: INE; (Universidade do Algarve, 2004)). 429 Alojamento e restauração total 4759 Actividades recreativas, culturais e desportivas 267 12780 24343 1358 322306 763351 62383 93469 203057 15926 29% 27% 26% 30 5 5 7314 8341 11727 3% 2% 10% 367 427 137 3% 2% 10% 15 5 5 Estabelecimentos hoteleiros Nº empresas Pessoal ao serviço (Nº) Receitas (milhares de euros) Custos com pessoal (milhares de euros) % Custo com pessoal Nº empregados / empresa Ganho médio anual /trabalhador (€) Fracção de receitas geradas por golfe Nº total de postos de trabalho financiados Fracção do Pessoal ao serviço (%) Nº de postos de trabalho financiados por empreendimento Atendendo a que os 27.5 campos de 18 buracos em 2002 geravam 825 postos de trabalho directos, os postos criados indirectamente só nestas duas actividades representavam um acréscimo de 68% de empregos ligados ao golfe. Ao nível de significância de um empreendimento com uma afluência média de jogadores referida anteriormente, pode obter-se a mesma tendência tendo sido potencialmente financiados cerca de 15 postos em alojamentos fora do campo e 5 postos de trabalho em actividades de recreio e cultura. Tendo em conta que em geral as áreas reconhecidas como destinos de golfe atraem um número de jogadores significativamente acima do número médio estas contribuições poderão ter maior expressão nessas localizações, como por exemplo no concelho de Loulé com os seus 13 campos de equivalentes. Trata-se portanto de um impacte positivo permanente significativo. 53 4.5. Sector energético Os empreendimentos de golfe acarretam, por norma, grandes gastos energéticos, nomeadamente, inerentes à sua manutenção. Um campo típico necessita de energia para as suas instalações de suporte como as clubhouse’s mas, principalmente, para alimentar os sistemas de bombagem que constituem os complexos sistemas de rega e também para sustentar toda a maquinaria indispensável tanto a operações de manutenção como para uso de clientes como são, por exemplo, os buggies, cuja fracção maioritária nos campos algarvios, ainda é movida a electricidade recorrendo a baterias (Faculdade de Economia da Universidade do Algarve para AHETA, 2004). Estes gastos apenas para o caso de um campo simples porque existem outros derivados das infra-estruturas de alojamento que lhes podem estar associadas e que já se referiu ser a situação mais comum na região de estudo. As estimativas efectuadas para os campos em território nacional referem que em média um campo consume 5740 kwh/ha anualmente enquanto os empreendimentos consumem 3860 kwh/ha (Faculdade de Economia da Universidade do Algarve para AHETA, 2004). Fazendo uma comparação com o consumo doméstico na região do Algarve estimou-se que actualmente a exploração energética de um campo médio com cerca de 55 ha consome o equivalente à energia gasta por 135 consumidores domésticos utilizando para tal os valores médios de consumo de energia de 2007 (INE, 2007). Por sua vez, um campo com a área média de urbanização média calculada anteriormente tem um consumo equivalente a 168 consumidores o que pode implicar um aumento de consumo de energia eléctrica de cerca de 24% (Tabela 33). Obviamente que depois tudo dependerá do tipo de manutenção efectuada sobre o campo e da dimensão e afluência na área urbanizada que têm bastante variabilidade entre campos, podendo haver mesmo casos que haja inversão desta tendência como se pode comprovar pela gama de valores de consumo apresentados, mas neste caso apenas se pretendeu observar o efeito para o cenário médio de urbanização criada por campo. Tabela 33 – Indicadores de consumo energético em campos de golfe e consumo doméstico (Fontes: INE; (Universidade do Algarve, 2004)). 2255 Consumo médio anual por consumidor doméstico (kgep) Min 387 Área de campo (kgep/ha.ano) Med 5549 Max 13533 Min 168 Área de empreendimento (kgep/ha.ano) Med 3731 Max 11600 Consumo médio anual Área média de campo equivalente (ha) Área média de urbanização criada por campo (ha) Consumo médio por campo (consumidores domésticos equivalentes) (kgep/ano) Consumo médio por campo com urbanização (consumidores domésticos equivalentes) (kgep/ano) Variação 55 20 305177 (135) 379803 (168) 24% 54 Ainda é, no entanto, uma indústria com uma quota residual nos contextos energéticos regional e local totais pois em, ambos, apresenta uma demanda que não chega a representar meio ponto percentual em peso relativo, se apenas se considerar o consumo médio. Este peso aumenta quando se comparam os valores estimados para as necessidades energéticas dos campos com a categoria de consumo não doméstico e aí sim já se obtêm valores entre 0.3% e 3.2% de quota energética (Tabela 34). Tabela 34 - Quota energética dos complexos de golfe a nível regional e local (Fontes: INE; (Universidade do Algarve, 2004)). 2007 Algarve Nº campos equivalentes 2007 31.5 Estimativa de Peso no consumo consumo total (milhares de não doméstico kgep/ano) (%) 9614 1.22% Peso no consumo total (%) 0.46% 2 610 0.34% 0.19% Lagoa 2.5 763 1.65% 0.58% Loulé 13 3967 2.62% 0.84% Portimão 5 1526 1.69% 0.68% V.R.S António 3 916 3.24% 1.34% Albufeira Não obstante, dado que o incremento no sector se tem dado de forma quase explosiva é possível estimar e apreciar que contributo teve o golfe para o aumento dos consumos energéticos das áreas onde se estabelece (Tabela 35) e deste modo concluir que é suficientemente impactante para alterar balanços regionais e, mais ainda, os balanços locais agravando a demanda em ambos embora de forma não significativa. Enaltece-se o aumento em V.R.S. António que demonstra bem o efeito que ocorre quando se passa por uma situação de súbito desenvolvimento, o que pode ter implicações na própria infra-estrutura eléctrica e como tal levar a custos de adaptação adicionais para a autarquia. Tabela 35 - Contribuição relativa do golfe no aumento de consumo energético regional e local entre 2000 e 2005 (Fontes: INE; (Universidade do Algarve, 2004)). Albufeira 1 Estimativa da variação das necessidades energéticas (milhares de kgep) 277 Loulé 2 Portimão 1 V.R.S António Algarve Variação energética 2000-2005 Variação campos (Nº) Peso no aumento de consumo energético não doméstico Peso no aumento de consumo energético total 0.49% 0.27% 555 1.64% 0.50% 277 2.66% 0.55% 2 555 15.50% 3.80% 8 2219 1.25% 0.39% Nesta análise de impactes energéticos procedeu-se a uma comparação com o sector agrícola, cujas áreas se têm vindo a converter também em campos de golfe. Ao efectuar comparação dos consumos por área unitária a agricultura apresenta-se claramente como a actividade menos onerosa com um consumo equivalente anual a 0.3 consumidores domésticos por 55 hectare face aos 2.5 para os campos simples, um acréscimo de cerca de 800%. Mantêm ainda assim pouca importância face ao consumo industrial (Tabela 36). Pode no entanto não se verificar para todas as culturas, mas não foram obtidos dados com a discriminação necessária para tal comparação. Tabela 36 – Comparação do consumo energético no golfe, agricultura e indústria (Fontes: (DGGE, 2008); (Universidade do Algarve, 2004)). Consumo total 3 (10 kgep) Área Consumo por área (kgep/ha) Consumidores domésticos/ ha Sector agrícola 73896 Sector industrial 230978 Campo de golfe 9613 102756 1732 1733 719 133347 5549 0.3 59 2.5 A análise energética passa também pelo consumo de combustível efectuado tanto nos campos de golfe como nos agrícolas. Assumindo que o combustível mais utilizado nos equipamentos de manutenção de campos de golfe é a gasolina e presumindo que cada agricultor que consome gasóleo agrícola representa uma exploração, comparando os consumos de combustível por área unitária referente às áreas agrícolas (DGADR, 2003) e áreas de golfe (Universidade do Algarve, 2004) observou-se um consumo inerente a estas últimas 12 vezes mais elevado que as primeiras (Tabela 37). Pode deste modo concluir-se que se trata de um impacte negativo permanente significativo. Tabela 37 - Consumos de combustível por área unitária em áreas de golfe e agricultura (Fontes: (DGADR, 2003); (Universidade do Algarve, 2004)). 2003 Agricultura Golfe Nº explorações Consumo consumidoras combustível (l) Área média Área exploração consumidora (ha) (ha) Consumo (tep / ha) 6118 4483253 8.4 51391 0.11 - - - - 11.7 56 4.6. Ordenamento do território Os impactes referentes ordenamento estão condicionados às figuras de ordenamento de território aplicáveis à área de implantação do campo e estão relacionados, principalmente, com a atribuição de novas funções dadas a essa área, sendo que estas teriam de estar, a partida, em consonância com o que está regulamentado nessas mesmas figuras (Faculdade de Ciências do Mar e do Ambiente, 2004). Com efeito, este tipo de complexos tem que ser devidamente autorizado pelas instâncias competentes para tal, processo este que leva em média 200 dias a concretizar-se. No inventário executado inicialmente (Tabelas 13, 14 e 15) comprovou-se que 62% dos campos estão incluídos em Áreas de Aptidão Turística (AAT) e cerca de 50% incluem áreas com classificação de Áreas Urbano-Turísticas (AUT). Os restantes ocupam, na grande maioria, área agrícola ou agroflorestal. Por seu lado, as áreas de jogo propriamente ditas são classificadas nos PDM’s como sendo Áreas de Equipamentos e Parques Urbanos (AEPU). Sucintamente, pode dizer-se que as áreas de AAT são zonas delimitadas onde se podem incluir empreendimentos e urbanizações turísticas. A área onde estas últimas se estabelecem é classificada como AUT. Na generalidade, os PDM’s apenas começaram a ser definidos entre 1993 e 1995 para os concelhos algarvios e como tal, nessa altura, já tinha sido concluída a primeira vaga de construção de campos que teve inicio em 1990 e acabou precisamente em 1993. Assim sendo a análise à dinâmica evolutiva em termos de ordenamento apenas foi possível para os campos da segunda vaga que teve inicio em 1997. A partir desse período foi registada a implantação de 18 campos sendo que 10 deles se incluíram em áreas AAT e 9 ocuparam áreas AUT ou têm planos aprovados para tal (Tabela 38). 57 Tabela 38 - Indicadores de ordenamento territorial dos campos de golfe (Fontes: (Algarve Golf, 2008); (CCDR Algarve, 2008); (DGOTDU, 2008); (Portugal Golf, 2008); APA – EIA’s de campos de golfe no Algarve em anexo)). Concelho Albufeira Castro Marim Lagos Loulé Olhão Zonas de Implantação Balaia Zona agrícola Golfe condicionada/RAN Castro Espaços agroMarim C.C. florestais/REN Quinta do Espaços agroVale florestais/REN Quinta da Boavista Royal Áreas UrbanoCourse turisticas Áreas urbanoMillenium turisticas/RAN Áreas urbanoVictória turisticas/RAN Área UrbanoPinheiros turistica/RAN/REN/ Altos PN Ria Formosa Laranjal Nome Colina Verde Alto Golf Portimão Silves Tavira V.R.S. António Morgado do Reguengo II Morgado do Reguengo II Amendoeir a Golf Resort Quinta de Benamor Quinta da Ria Monte Rei Espaço agrícola indiscriminado/apro veitamento hidroagrícola do Sotavento/RAN Golfe Zonas de Recursos Naturais e Equilíbrio Ambiental, Imperativas e Zonas Agrícolas/RAN Área fomento agroflorestal/Povoament o florestal Áreas de Aptidão Turística (AAT) Área agrícola complementar/RAN Áreas produção agrícola Graus I e II/RAN Núcleo de Desenvolvimento Turístico pelo PDM Área empreendimento AAT AUT 27 - 210 RAN PN Ria Formosa REN Praias Dunas 19 8 - - - 210 - - 2 - - 76 76 PP aprovado - 33 - - 115 - - - - - - 144 144 144 - - - - 120 120 60 25 - - - 95 95 19 74 - - - 123 123 68 32 101 101 - 55 55 55 - - - - 10 - - 10 - - - 63 - - - - - - 43 43 PU aprovado 24 - - - 68 68 135 135 PU aprovado - - - - 58 - - 58 - - - 120 - - - 40 36 5 400 - - - - - - Comparando a informação constante nos PDM’s iniciais com a que figura actualmente nos mesmos é possível verificar que as áreas de AAT e AUT não sofreram alterações e portanto, aquando da construção dos campos anteriores já se encontravam definidas. Também através da tabela anterior pode observar-se que existe uma implantação preferencial em áreas AAT. Ou seja, não é o desenvolvimento dos campos que expande estas áreas mas sim a disponibilidade destas áreas que motiva a localização de campos de golfe. Este tipo de áreas apresenta-se assim como um factor chave na escolha do local dos campos e isso deve-se ao facto de, uma área com classificação AAT permitir a construção de urbanizações. Constata-se esta tendência ao verificar que não existem campos em AAT sem urbanização turística 58 construída ou aprovada. As áreas agrícolas fora de AAT também são alvo de ocupação por este tipo de empreendimento mas normalmente não implicam urbanização. Esta tendência territorial permite explicar também a evolução dos campos de forma concentrada pois, as áreas AAT são normalmente limitadas a um perímetro bem definido. Analisando a representatividade das áreas de golfe nas áreas definidas nos PMOT (INE, 2007) observa-se que, nos concelhos com maior número de campos como Portimão e Loulé, a área de aptidão turística ou urbano-turística associada a golfe representa actualmente a maioria da área com esta classificação definida nestes concelhos (Tabela 39), constatando-se assim como o golfe e a urbanização turística acabam por se desenvolver conjuntamente. Tabela 39 - Representatividade do golfe nos PMOT 2007 (Fontes: (DGOTDU, 2008); INE). Áreas de golfe AAT AUT Uso de solo PMOT 2007 Área relvada Turismo AEPU Urbano Hectares Albufeira - 97 Castro Marim 286 - Lagoa 6 Lagos - Loulé Olhão 6 - 1584 - Portimão 1029 - Turismo 110 911 209 735 11% 83 178 236 430 161% 138 772 289 463 1% 110 619 326 949 - 715 1065 1017 28 14 43 713 1162 57% 1340 369% 275 498 135 - 110 37 257 256 Silves 26 Representatividade do golfe nos PMOT 3883 AEPU 53% Urbano 13% 35% 48% 1% 34% 97% 825 - 70% 27% 64% 39% 2% 43% - Tavira - - 55 79 18 894 - 307% - VRSA - - 165 105 267 452 - 62% - 55 240 114 339 11% 48% 8% 1843 5093 4111 14056 23% 45% 8% Vila do Bispo Algarve - 27 2267 1159 Os valores de representatividade acima de 100% resultam de uma dessincronização entre a área que se encontra classificada e a área de golfe que ainda não foi classificada e como tal poderão dar a entender a possível expansão de cada área devido a projectos de golfe. No caso dos concelhos de Albufeira e Loulé existe também uma aparente incoerência entre a área que tem aptidão para turismo e área classificada para turismo pelo que apenas foram comparadas as áreas AUT com as de uso de solo para turismo e urbano dos respectivos PMOT. Do que foi verificado graficamente as zonas onde se verifica elevada densidade de campos (Loulé) localizam-se em áreas onde existe maior área AUT (Figura 30) reforçando assim a ideia de que a agregação dos campos em determinadas zonas terá maior interesse imobiliário do que propriamente turístico tendo em conta os dados das voltas vendidas analisados anteriormente. 59 Figura 30 - - Áreas classificadas no PMOT e localização de campos em Loulé (Fonte: (DGOTDU, 2008)). As áreas agrícola e de AAT não só permitem a ocupação por campos de golfe como acabam por permitir que o façam em áreas com condicionantes como áreas de RAN e REN (Tabela 38). Cerca de 60% dos campos localizados em AAT ocupam áreas condicionadas sendo que 40% ocuparam áreas de RAN e 30% áreas de REN. Por outro lado, é uma ocupação que não é exclusiva a áreas AAT pois 30% dos campos fora dessas áreas ocuparam áreas de RAN 25% áreas de REN. Isto é, os regulamentos das áreas condicionadas criados para salvaguarda de valores ecológicos acabam por ser passados para segundo plano em prol do estabelecimento de instalações de golfe e, que venham acrescentar elementos de urbanização a áreas naturais, agravando a artificialização do território. Fica portanto demonstrado que os interesses turísticos apresentam uma clara prioridade face a valores ecológicos quando ambos se localizam em AAT e mesmo em área agrícola fora e AAT. Um dos melhores exemplos desta prioridade associada aos interesses turísticos pode ser verificado no caso do complexo da Quinta do Lago dentro do qual o campo de Pinheiros Altos, inaugurado em 1992, procedeu, em 2002, a uma expansão da sua área para terreno incluído no Parque Natural da Ria Formosa, classificado em 1987. Apesar dessa ocupação, as áreas com condicionantes ocupadas por pelos campos ainda são pouco significativas com valores de ocupação que não atingem 1% (Tabela 40) na maioria dos concelhos e a nível regional mas não deixam de representar um precedente que descaracteriza a área condicionada e transfigura a razão pela qual a mesma foi classificada, principalmente, em situação de ocupação de Reserva Ecológica Nacional. 60 Tabela 40 - Ocupação de áreas condicionadas por golfe no Algarve (Fontes: INE; (DGOTDU, 2008)). Área Total 32 Concelho RAN Área ocupada por golfe33 REN RAN REN Hectares Albufeira % RAN ocupada por golfe % REN ocupada por golfe 27 19403 8 44 29,6% 0,2% Castro Marim 1627 13101 - 35 0,0% 0,3% Lagoa 3452 6372 29 - 0,8% - Loulé 13842 24668 131 358 0,9% 1,5% Olhão 4996 5635 10 - 0,2% - Portimão 2697 11766,3 24 - 0,9% - Vila do Bispo 4827 17347 4 6 0,1% 0% 69349 315417 263 483 0,4% 0,2% Algarve Em termos globais, o território artificializado por golfe no Algarve, em 2000 representaria 11% do território artificializado total, e apesar de incluir áreas naturais não deixam de ser empreendimentos que implicam muita intervenção, modelação de terreno e alteração de paisagem podendo ser, deste modo, incluídos nesta classificação (Tabela 41). Tabela 41 - Representatividade do golfe na área total artificializada no Algarve (Fontes: (CCDR Algarve, 2005); (DGOTDU, 2008)). Área Algarve 2 (Km ) % Território 34 artificializado Área de território artificializado 2000 (ha) Área de golfe em 2000 (ha) % Território artificializado com golfe 4996 4% 19984 2207 11% Desta forma, a artificialização de áreas com valor ecológico por áreas de golfe constitui um impacte negativo permanente significativo. 32 (INE, 2007) (DGOTDU, 2008) 34 (CCDR Algarve, 2005) 33 61 4.7. Biodiversidade e paisagem Uma vez que o processo de construção de campo de golfe envolve transformação do terreno até ao nível topográfico é um facto e é unânime em todos os EIA consultados que se trata de um processo altamente destrutivo para a biodiversidade do local de implantação. Dado que o sucesso e a procura deste tipo de empreendimentos também depende da saúde dos ecossistemas que os sustentam é importante não negligenciar a sua recuperação e preservação (Holden, 2003 citado em Ferreira e Lopes - A gestão ambiental e a certificação do turismo em espaços rurais e naturais. Uma abordagem conceptual; (Queirós, 2001/2002)). É, no entanto, no período de exploração que, paradoxalmente, podem surgir grandes benefícios para os ecossistemas afectados. Alguns estudos têm sido efectuados no sentido de comparar áreas de golfe com áreas de referência com o objectivo de observar se existem alterações nas populações faunísticas e floristicas ou mesmo, se existe alteração do tipo de espécies que habitavam a área onde se deu a implantação dos campos. Os resultados revelam que, nos campos de golfe, as populações de aves e insectos apresentaram maior riqueza de espécies e maior abundância do que em áreas agrícolas próximas. Na flora a situação é igual para espécies de árvores e ao nível arbustivo a diversidade manteve-se em comparação com a observada em áreas agrícolas concluindo-se deste modo que campos de golfe podem propiciar uma maior diversidade de habitats e sustentar assim maior biodiversidade com as áreas exclusivamente agrícolas (Tanner e Gange., 2005). Nalguns casos poderá mesmo existir uma diferença de biodiversidade entre empreendimentos consoante a alteração de paisagem que foi executada. Um estudo revela que na globalidade, os empreendimentos onde se procedeu a uma menor alteração paisagística possuem, maior número de espécies, maior ocorrência de espécies migratórias e ainda uma maior preocupação com a conservação de espécies presentes do que empreendimentos com alteração média ou alta. Foi ainda verificado que para os empreendimentos com baixa alteração de paisagem as espécies predominantes acabam por ser as típicas de áreas florestadas e arbustivas enquanto nos empreendimentos com maior alteração de paisagem existem tendencialmente mais espécies típicas de áreas urbanas (Jones et al., 2005). No mesmo estudo foram obtidos valores médios para o número médio de espécies de aves observados nos campos onde se podem incluir entre 30 e 40 espécies de aves totais e entre 5 e 15 espécies de aves migratórias sendo que os valores mais altos são para os empreendimentos com menor alteração de paisagem. Esta conclusão foi corroborada noutros estudos da mesma índole nos quais as análises aos campos e às áreas adjacentes acabaram por revelar que a diversidade é significativamente maior que na área cultivada adjacente. Existe no entanto, uma tendência para uma pressão de predação mais elevada nos campos apesar da influência positiva que podem exercer nas espécies locais (Sorace e Vicentin, 2007). No caso das comparações com campos com área de pastagem intocada o grau de diversidade revelou semelhança entre os dois tipos de área. Um exemplo específico foi estudado para uma espécie de coruja cuja nidificação se processa em tocas enterradas no solo. Foram analisados ninhos naturais e artificiais dentro e fora de campos de 62 golfe e os resultados obtidos apontaram para uma maior fidelidade das corujas aos ninhos dos campos mas com uma clara predilecção para zonas mais afastadas das zonas com manutenção e mais próximas da vegetação natural (Smith et al., 2005). Estudos ecológicos executados nos EUA revelaram que os campos acabam, por vezes, por ser santuários para algumas espécies de mamíferos raras. (Jodice e Humphrey 1992 citados em (Gange et al., 2003)) E não é só a vegetação associada ao campo que atrai vida selvagem. Também os lagos dos campos podem servir de habitat a variadas espécies. Em campos da região da Florida, foram identificadas cerca de 42 espécies de aves aquáticas a viver nos respectivos lagos e quanto maior a vegetação adjacente maior a densidade de espécimes residentes (White e Main, 2005). No entanto há dados que indicam que a procriação das espécies de aves é menor nos campos, um aspecto que é associado à escassez de alimento por causa da intensa manutenção e uso de químicos (Stanback e Seifert, 2005) Os lagos dos campos abriram ainda um nicho ecológico capaz de ser ocupado por espécies anfíbias um facto comprovado em campos da Carolina do Sul, EUA (Scott et al., 1999). Para estas espécies os potenciais impactes dos campos podem incluir a contaminação química, que pode afectar directamente os espécimes como as espécies que lhes servem de alimento nomeadamente, com a acção dos pesticidas. Outra função dos lagos é o facto de poderem servir como áreas de transição na migração de populações anfíbias (Semlitsch et al., 2008). Existem contudo espécies que se mantêm afastadas dos campos devido à perturbação causada pela actividade antropogénica e essas são as que normalmente requerem grandes áreas de vegetação natural. Isto não impossibilita que se possam estabelecer a uma certa distância dos campos em zona de buffers de vegetação adjacentes aos mesmos (Terman, 2000), e o facto de os campos serem áreas privadas com acesso restrito permite regular e por vezes minimizar perturbação causada por humanos restringindo o acesso apenas a determinadas zonas. Em termos paisagísticos, o facto de o campo abrir um corredor verde na paisagem pode contribuir para a riqueza da mesma e também da biodiversidade uma vez que a fauna e principalmente a flora tendem a concentrar-se mais em zonas de fronteira (Casimiro, s.d.). Este facto é vantajoso, pois no caso das condições ideais estarem criadas uma paisagem sustentável terá um elevado grau de autosuficiência e como tal necessitará de menos manutenção, a sua estética sairá melhorada, e terá um uso de água mais eficiente, elevando o grau de valor dos habitats nela inseridos (Fech e Rodie, 1999) Adicionalmente, dentro do seu terreno, os campos podem fornecer manchas de vegetação importantes que permitiram a subsistência de variadas espécies mas numa visão mais global os próprios campos localizados numa determinada zona poderão servir com uma espécie de mancha no meio de um território de área de exploração agrícola intensa ou urbanização. (Gange et al., 2003). A nível nacional os resultados obtidos não foram tão abonatórios para os empreendimentos de golfe, principalmente, os da região algarvia. 63 Em suma os impactes que os empreendimentos turísticos com golfe podem ter sobre biodiversidade foram identificados e tipificados da seguinte forma (Lefebure, 2007): • Eliminação de vegetação • Introdução de espécies exóticas • Afectação de vegetação circundante por modificações no regime fluvial e micro climático. • Fragmentação ou destruição de habitats • Deslocação de fauna • Alteração do comportamento da fauna • Introdução do efeito barreira • Perturbação da fauna • Aparição de novos biótopos e novas espécies • Perca de naturalidade da paisagem • Introdução de estruturas estranhas • Modificação da qualidade visual • Perca de usos tradicionais Em termos práticos numa comparação global directa entre diferentes habitats estima-se que as florestas sejam os mais ricos em termos de biodiversidade e que os mais pobres são as áreas artificiais com excepção das culturas cerealíferas (Figura 31). Riqueza em espécies por tipo de habitat Florestas Zona humidas Pastagens Incultos mamiferos Áreas vegetais esparsas aves nidificantes repteis Águas interiores anfibios Culturas cerealiferas Águas marinhas Áreas artificiais excepto culturas… 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 Figura 31 - Riqueza de espécies por tipo de habitat (Fonte: EEA 1998 citada em (Lefebure, 2007)). As considerações dos estudos anteriores contradizem no entanto esta estatística pois foi comprovado em vários estudo que os campos de golfe apresentam maior número de espécies que os campos agrícolas. No que concerne a fauna, em termos de resultados práticos para comparação, tem se então que para campos dos EUA os campos na Carolina do Sul conseguem albergar em média 30 a 40 espécies de 64 aves totais, 5 a 15 migratórias (Jones et al., 2005). Na Florida na zona dos campos foram observadas 42 espécies de aves aquáticas e 10474 espécimes em 12 campos da região (White e Main, 2005). Na Europa foi obtida uma média de 40.3 espécies de aves por campo (Gange et al., 2003). Para o caso dos anfíbios os números observados para lagos de 5 campos e 10 zonas húmidas fora de campos, na Carolina do Sul, EUA, registaram entre 11 a 19 espécies anfíbias nos lagos e zonas húmidas dos campos da região. Na comparação entre zonas húmidas e lagos dentro e fora dos campos de golfe foi observada uma inferioridade no número de espécies de anfíbios nas áreas do campos em relação às segundas. As zonas húmidas sazonais fora dos campos apresentaram mais 5 a 8 espécies do que as zonas neles incluídas. No total as zonas húmidas dos campos apresentaram menos 7 espécies que as mesmas em territórios fora dos campos (Scott et al., 1999) (Tabela 42). Tabela 42 - Síntese das observações de espécies de aves e anfíbios observados em campos de golfe e dos EUA (Fontes: (Jones et al, 2005); (White e Main, 2005); (Gange et al.,.2003); (Scott et al., 1999)). Nº de campos de estudo Nº espécies de aves Nº espécies de aves aquáticas Nº aves migratórias Nº total espécies anfíbias Campos de golfe Áreas de referência Total 24 - 12 - 24 - 5 26 Zonas húmidas Lagos 30 – 40 (valor médio/campo) 42 5 – 15 (valor médio/campo) 19 sazonais - - - - - - 11 16 A nível internacional, os resultados obtidos para 2 campos na Alemanha revelou que esta implantação foi benéfica quer em nº de espécies quer em nº de indivíduos em relação à situação anterior da área de implantação (Tabela 43) pois foram verificadas variações positivas entre 7.3% e 73% para a diversidade de espécies e entre 44% e 158% para nº de indivíduos. 65 Tabela 43 - Evolução da vida selvagem em 2 campos da Alemanha (Fonte: J. Reimuth, 1999 citado em (Lefebure, 2007)). Campos 1990 Pré-construção 1993 1999 Variação Koln-Flittard Nº espécies de aves Nº pares de aves 41 40 44 229 238 330 26 30 45 148 142 383 7% 44% Ahaus-Alsatte Nº espécies de aves Nº pares de aves 73% 159% No que diz respeito a dados de campos nacionais específicos, um estudo executado no campo de São Lourenço, em Loulé, observou progressos em relação à diversidade de espécies aviarias aquáticas (Tabela 44). Tabela 44 - Evolução de espécies de aves aquáticas no campo de golfe de São Lourenço (Fonte: (Leal et al., 2007)). 1995 Nº espécies de aves aquáticas nidificantes confirmadas Nº espécies de aves aquáticas nidificantes prováveis 2007 5 8 1 2 A conclusão do estudo aponta para que o campo tenha condições ecológicas adequadas à nidificação de espécies de aves aquáticas uma vez que a situação se manteve estável entre 1995 e 2007 e tem-se verificado uma aparente não interferência das actividades do campo na afluência das espécies aquela zona para nidificação e criação de juvenis. Por oposição, a desestabilização do ambiente aquático é apontada como origem da diminuição de espécies de aves aquáticas em lagos do campo Laguna onde se procedeu ao enrocamento das margens de alguns deles. O resultado da monitorização revelou um decréscimo de 7 para 4 espécies (Tabela 45), remetendo-se assim mais uma vez para a importância que intervenção humana pode ter nas zonas ocupadas pelos campos. Tabela 45 - Evolução de espécies de aves aquáticas nos lagos do campo Laguna (Pinto, 2000) 1991 Nº espécies de aves aquáticas nidificantes confirmadas 1999 7 4 Um estudo executado no Campo de golfe de Pinheiros Altos (Lefebure, 2007) também em Loulé abordou, por seu lado as alterações floristicas e paisagísticas. Numa área anteriormente utilizada para fins agrícolas, com árvores de fruto e de pinhal jovem veio a constatar-se que ao nível da flora e da paisagem existiu uma perda efectiva de diversidade e qualidade respectivamente. 66 O resultado da análise levada a cabo no estudo levou às seguintes verificações: • Não existem espécies de sub-bosque predominando área de relva nas áreas arborizadas. • Não foram preservados exemplares arbóreos ou arbustivos excepto sobreiro e poucos pinheiros mansos. • Não se verificaram áreas de vegetação natural. • Roughs plantados com pinheiros mansos e espécies arbustivas de folhados que não se incluíam nos EIA. • Margens dos lagos sem vegetação ribeirinha e revestidas com relva. • Foram plantadas espécies autóctones e não se verificam espécies exóticas invasivas. • Existe pouca diversidade de espécies. • Não existe qualquer relação da paisagem do campo com a paisagem original. • Topografia completamente alterada. • Modelações demasiado acentuadas em relação à envolvente. • Não existem buffers de protecção nos ecossistemas aquáticos. • Falta de áreas não intervencionadas e também de manchas de transição para aumentar a conectividade entre manchas de habitat. • Vegetação é autóctone mais não diversificada. • São utilizados fertilizantes junto aos planos de água. Em comparação com as recomendações do EIA apenas 5 das 17 espécies recomendadas foram efectivamente plantadas e duas das que foram plantadas nem se encontravam nas recomendações o que suporta a ideia de baixa diversidade floristica. Adicionalmente, a modelação do campo foi considerada desadequada à zona uma vez que apresenta declives demasiado acentuados prejudicando assim a integração paisagística do próprio campo. O resultado global traduz em apenas na concretização de 55% das medidas de minimização propostas no EIA e apenas 14% do cumprimento das medida gerais da gestão da paisagem e biodiversidade. (Lefebure, 2007). Conclusões semelhantes foram obtidas para os complexos da Quinta da Boavista e do Amendoeira Golf Resort (Rita, 2007). As características apresentadas não se enquadram nas características biofísicas da paisagem base, as urbanizações apresentam-se concentradas em área o que implica grandes áreas impermeabilizadas e existe uma grande introdução de espécies exóticas nestas áreas e a modelação de terreno implicou, em ambos, alterações na estrutura do solo e na drenagem. Os aspectos que acabaram por ser beneficiados foram a rede viária e também áreas de vegetação nas zonas de jogo onde foi reforçada a flora autóctone. Paralelamente ao inventário das áreas ocupadas pelos campos, foi feita a classificação dos mesmos quanto à densidade e dispersão da vegetação arbórea. O resultado observado foi que na grande maioria dos campos (60%), a vegetação arbórea apresenta-se escassa, pontual ou é mesmo inexistente sendo que apenas em 20% dos campos se observa vegetação com cobertura razoável a abundante e bem distribuída (Tabela 46). Há ainda que apontar que em cerca de 23% dos campos com vegetação, esta acaba por estar mais concentrada nas áreas de urbanização o que poderá levar 67 a uma perda de valor ecológico da mesma na medida em que não apresentará condições para o estabelecimento de espécies sensíveis à perturbação humana. Tabela 46 - Classificação da cobertura de vegetação arbórea observada em campos de golfe (Fonte: (DGOTDU, 2008)). Cobertura de vegetação arbórea Abundante a razoável Abundante a razoável Escassa, pontual ou e distribuída periférica inexistente Nº campos 7 7 21 Um exemplo desta falta de cobertura arbórea pode ser observada entre dois campos de Vilamoura onde é notória a diferença entre um campo com vegetação e outro sem vegetação a uma mesma escala (Figura 32). Figura 32 - Diferença entre campos com e sem vegetação arbórea em Vilamoura (Fonte: (DGOTDU, 2008)). Em resumo concluiu-se que é possível os campos de golfe manterem condições adequadas à manutenção de espécies de faunísticas, e que a diversidade e dimensão de populações dependem do nível de intervenção executada para a construção e manutenção dos campos. No Algarve, verifica-se no entanto que a implantação dos campos veio empobrecer as zonas de implantação em diversidade floristica o que poderá ter consequências ao nível da fauna local com a criação de um efeito barreira, fragmentação de habitats e aumento da pressão de predação. As razões identificadas para tal perca prendem-se com o carácter não vinculativo de regulamentos como os Planos de 68 Pormenor ou Planos de Urbanização que apenas sugerem a plantação de vegetação sem qualquer tipo de obrigação para o proprietário, que vai deixando uma brecha para que os mesmos acabem por não o fazer em condições. Outra possível razão reside na legislação de AIA aplicável aos campos de golfe e que torna os EIA’s apenas necessários no caso dos campos terem mais de 45 hectares. Isto é, haverá uma maior propensão para que os proprietários cortem nas áreas de roughs e densifiquem os percursos de jogo no sentido de isentarem de um processo de AIA, promovendo-se deste modo a criação de campos com fairways compactados sem áreas não intervencionadas que os separem afectando a biodiversidade e paisagem locais. Em termos de biodiversidade temos então que os campos têm um impacte variável consoante as condições que mantêm nas suas áreas. 4.8. Recursos hídricos Esta é sem duvida a questão que tem atraído mais interesse pela comunidade científica e mesmo pelo público em geral, na medida em que os campos têm hoje em dia uma imagem conotada com grandes gastos de recursos hídricos para rega e são normalmente apontados como os responsáveis pela degradação de aquíferos e por consumos excessivos. Actualmente, as captações subterrâneas ainda se mantêm a principal fonte de água dos campos mas já têm vindo cada vez mais a ser complementadas por alternativas como as água de albufeiras, águas residuais (Tabela 47) ou mesmo pelo reaproveitamento da água das chuvas. Tabela 47 - Abastecimento de água para rega por tipo de origem (Fonte: (Faculdade de Ciências do Mar e do Ambiente, 2004)). Origem Fracção de campos (%) Subterrânea 71 Superficial 38 Residual 14 Abastecimento público 19 Nos novos campos, observa-se que, embora a prevalência seja para as águas superficiais, a legislação cada vez mais apertada ( (Lei n.º 58/2005 de 29 de Dezembro, 2005) parece não prevenir de todo a continuação da aprovação de campos que ainda recorrem a captações subterrâneas, uma vez que, desde 2000 já foram aprovados 4 campos com este tipo de fonte (Figura 33). 69 Origens de água para rega 9 8 7 6 5 total 4 Aprovados 3 Rejeitados 2 1 0 Superficial Subterrânea ETAR Figura 33 - Aprovações de campos por origem de rega (Fontes: APA – EIA’s de campos de golfe no Algarve em anexo). Esta tendência tem sido mantida em parte porque os campos têm apresentado planificação faseada de origens de rega, isto é, começam a actividade com uma origem subterrânea e gradualmente vão passando para origens mais sustentáveis como as albufeiras e as ETAR’s. Como por norma os campos, acabam por converter campos agrícolas, acabam também por aproveitar parte da infraestrutura de rega já existente, nomeadamente os furos desenvolvendo a partir dai a sua própria infraestrutura (Monteiro et al., s.d.). Na região algarvia, no entanto, é o consumo doméstico que tem maior representatividade no consumo total de água e, embora o abastecimento da área urbana já comece a ser efectuado por água superficial captada em barragens, estima-se que 62% do mesmo ainda seja efectuado por águas subterrâneas. 4.8.1. Quantidade Foi a partir dos anos 70 com a introdução da agricultura de regadio em força e com o desenvolvimento do turismo que o consumo de água na região algarvia começou a progredir de forma exponencial, um desenvolvimento que só foi possível graças a novas tecnologias de perfuração que permitiram aumentar as profundidade de captação de água (Monteiro, 2006). Como só em 1986 se começou a expandir a capacidade de resposta dos meios superficiais através de barragens, os recursos subterrâneos tornaram-se assim o sustento primordial de água para as actividades da região (Monteiro, 2006). O facto de os campos voltarem a utilizar infra-estruturas que já se encontravam desactivas acrescendo às que já existem para a actividade agrícola vem deste modo exercer mais pressão sobre um recursos que já demonstra indícios de graves desequilíbrios nalguns sistemas de aquíferos e pode vir a agravar os fenómenos de seca em cujo risco já é bastante elevado na região (Do Ó et al., 2005). 70 Os consumos por actividade revelam que na globalidade, o sector agrícola é o maior consumidor regional de água com um consumo médio de 230 hm3/ano (72%) seguindo-se-lhe o abastecimento público com 70 hm3/ano (22%), o golfe com 10 hm3/ano (3%) e a indústria com 9 hm3/ano (3%) (Do Ó et al., 2005) valores que coincidem com (Monteiro, 2006) excepto o consumo agrícola que se apresenta menor neste estudo mais recente. Numa comparação entre dados de consumo das principais culturas de regadio algarvias (Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve citada em (Monteiro et al., 2006)) e dados de consumo área regada de golfe revela que as primeiras têm tido consumos médios superiores com excepção apenas para culturas de batata ou milho (Tabela 48). Tabela 48 - Consumos de água de campos de golfe e campos agrícolas (Fontes: DRAP Algarve; (Monteiro et al., 2006); (Universidade do Algarve, 2004)). Actividade Área regada (ha) Rega total anual 3 (hm ) Consumidores domésticos equivalentes (consumo médio/ ha) 3 Consumo (m /ha) Min Med Max Golfe 1678 9,7 3410 5782 56000 65 Citrinos 18200 196.2 - 7700 - 87 Vinha 1600 11.4 - 6500 - 73 Milho 1000 6.0 - 5000 - 56 Batata 800 2.6 - 2900 - 33 Pêssego 600 7.9 - 9400 - 106 Note-se que são as culturas com maiores consumos médios que têm também uma maior área cultivada. Existe no entanto um grande desconhecimento em relação às origens de rega no sector agrícola e como tal não é claro qual desta rega é suprida por aquíferos e qual é suprida por águas superficiais mas um inventário das extracções conhecidas (Fonte: CCDR Algarve citada em (Monteiro et al., 2006)) revela que existe um número bastante elevado fora das zonas onde se localizam os campos (Figura 34). Figura 34 - Poços e furos cartografados no Algarve (Fonte: Monteiro et al., s.d.) e localização dos campos de Vilamoura e Quinta do Lago. 71 Todavia é bem explicito o quão variável e massiva pode ser a necessidade de rega de um campo de golfe através do intervalo entre o valor mínimo e o valor máximo registado. No entanto pelas constatações feitas anteriormente fica claro que a ser verificado algum tipo de efeito global a nível da quantidade de água nos aquíferos nunca poderá ser exclusivamente imputado à actividade dos campos. Existe no entanto uma pressão associada aos meses mais secos do ano nos quais os campos tendem a ter maior necessidade de rega. Nesta altura a rega pode atingir um aumento de cerca de 500% face ao valor mínimo de necessidade verificado, ocorrendo numa altura em que existe também 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 Necessidades de rega Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro l/m2 maior afluência de turistas à região (Figura 35). Figura 35 - Necessidades de rega verificadas para um fairway do campo Pinheiros Altos (Fonte: (Nemus, 2002)). Deste modo apenas se poderá apontar o facto da distribuição dos campos ser extremamente concentrada, em alguma algumas zonas o que contribui para que, embora os balanços hídricos globais dos aquíferos apresentem valores positivos (Do Ó et al., 2005) existam aquíferos com problemas ao nível de recarga como é o caso dos aquíferos de Ferragudo-Albufeira e Campina de Faro (Monteiro et al., s.d.). Isso poderá permitir que ocorra uma inversão de gradientes e consequentes transferências entre águas subterrâneas e superficiais podendo, entre outros, originar fenómenos de intrusão salina (Monteiro et al., s.d.) (Tabela 49). 72 Tabela 49 - Relação entre extracções e recargas nos aquíferos do Algarve incluindo a extracção inerente à totalidade de campos de 18 buracos existente em cada aquífero (Fonte: (Monteiro et al., s.d.)) Campos equivalentes (Nº) Área 2 (Km ) Recarga 3 (m /ano) Extracções 3 (m /ano) Covões 23 6.0E+06 1.0E+06 - 5.00E+06 16.7% Almádena-Odeáxere Mexilhoeira GrandePortimão 64 1.7E+07 2.6E+06 - 1.40E+07 15.3% 52 1.0E+07 2.5E+06 1.0 7.50E+06 25.0% Ferragudo-Albufeira 117 1.0E+07 7.3E+06 2.0 2.80E+06 73.0% Querença-Silves Albufeira-Ribeira de Quarteira 317 9.3E+07 1.2E+07 - 8.10E+07 12.9% 55 1.0E+07 3.5E+06 1.0 6.90E+06 35.0% Quarteira 81 1.5E+07 9.5E+06 5.5 5.80E+06 63.3% S. Brás de Alportel 34 5.5E+06 1.0E+06 - 4.50E+06 18.2% Almansil Medronhal S. João da VendaQuelfes C. Cevada- Qta. J. de Ourém 23 6.5E+06 1.0E+06 - 5.50E+06 15.4% 113 9.0E+06 3.0E+06 - 6.00E+06 33.3% 5 2.0E+06 1.0E+06 - 1.00E+06 50.0% Campina de Faro 86 8.3E+06 1.2E+06 6.0 -3.70E+06 14.5% Peral-Moncarapacho 44 1.0E+07 1.5E+06 - 8.50E+06 15.0% Malhão 12 3.0E+06 5.0E+06 - 2.50E+06 166.7% Luz-Tavira 28 4.8E+06 3.0E+06 - 1.80E+06 62.5% S. Bartolomeu 11 3.0E+06 1.0E+06 - 2.00E+06 33.3% Monte Gordo 10 3.0E+06 - - 3.00E+06 - 1075 2.2E+08 6.3E+07 15.5 1.54E+08 28.6% Sistema Aquífero Totais Balanço 3 (m /ano) Extracções /Recargas (%) . O princípio que ocorre numa extracção é simples e já foi modelado para campos de golfe (Monteiro et al., s.d.). Consiste num efeito de depressão piezométrica localizada que é tanto mais profunda quanto mais perto se está do furo e tão mais extensa quanto maior for o número de furos. Valores obtidos no referido estudo estimaram valores entre 20 e 100 cm de depressão nos aquíferos de Ribeira de Quarteira e Álmadena – Odiáxere respectivamente, sendo o primeiro resultado da influência directa de um campo de 27 buracos (Figura 36). 73 Figura 36 - Modelação da depressão piezométrica no aquífero de Ribeira de Quarteira no campo Vila Sol (Fonte: (Monteiro et al., s.d.)). Para observar tais efeitos foram analisados os dados dos níveis piezométricos de estações localizadas nos campos e comparados com dados de estações do mesmo aquífero para assim se verificar quais as tendências artificiais ou naturais (Tabela 50). A sua variação foi depois calculada utilizando uma regressão linear. Tabela 50 - Evolução do nível piezométrico dos aquíferos onde se localizam campos de golfe (Fonte: SNIRH) Concelho Campo Aquífero Ponto de água 606/1101 Local Campo 605/107 Vila Sol Quarteira 606/979 Campina de Faro 11.12 1.4E-02 96-09 22.13 -2.0E-01 12.16 -1.4E-02 606/217 97-09 10.38 -3.0E-04 610/186 02-09 -1.59 -4.5E-02 610/213 02-09 -1.56 8.0E-04 610/167 Quinta do Lago 93-09 99-09 606/1043 Loulé Nível piezométrico Período Actual Variação 01-09 8.74 -3.8E-02 Referência Campo 95-09 1.10 -2.8E-03 606/1026 79-09 -2.58 -1.6E-02 606/1050 96-09 15.32 -1.4E-02 606/1057 606/647 606/1122 Referência 96-03 0.58 -1.6E-02 78-09 -4.35 -9.0E-04 02-09 -1.37 -2.9E-02 Os dados relativos à piezometria apenas revelam que as tendências verificadas nos pontos de água localizados nos campos acompanham as que se verificam fora dos mesmos. No caso do aquífero de Quarteira a tendência mais observada é a de declínio do nível mas existe um ponto fora do campo onde essa tendência não se verifica mostrando que existe variabilidade dentro do próprio aquífero O mesmo se passa com o aquífero Campina de Faro, onde apenas no ponto próximo de São Lourenço apresentam tendências diferentes e, globalmente, uma evolução positiva. Os restantes pontos 74 apresentam, em geral, uma variação negativa na evolução do nível piezométrico, quer nos campos quer nos pontos de referência o que sugere uma gradual diminuição da quantidade de água disponível no aquífero. Esta tendência é aliás visível na evolução gráfica da superfície piezométrica média dos aquíferos referidos constantes no Anexo III e consegue perceber-se não só através da expansão nítida das áreas correspondentes aos níveis piezométricos mais baixos como também através da descida do nível classificado como mais baixo comparando gráficos de anos diferentes. O efeito dos campos é nítido nos aquíferos de Quarteira e Campina de Faro nas zonas dos campos de Vila Sol e Quinta do Lago respectivamente que apresentam zonas claras de rebaixamento (Anexo III). Há no entanto que apontar que este efeito deve ser considerado como resultante da acção conjunta dos campos com a urbanização uma vez que não se teve conhecimento sobre as origens de água do parque urbano mas presumiu-se que nestas áreas, esse parque ainda continue a ser abastecido por água subterrânea com base na data de construção dos empreendimentos. As depressões piezométricas podem causar problemas se existir a sua coalescência com área de conexão com águas de superfície como com rios ou com o mar, podendo originar dessa forma fenómenos de intrusão salina (Monteiro et al., s.d.). Em zonas com maior número de campos com uso de água existe desta forma um risco maior pois poderá haver a criação de gradientes maiores pela coalescência de depressões ou mesmo pela criação de múltiplos pontos de conexão com águas superficiais agravando o fenómeno descrito. Os estudos realizados no aquífero de Albufeira – Ribeira de Quarteira envolveram a modelação dos fenómenos descritos anteriormente. Tal modelação implica o uso de sistemas de informação geográfica, modelos de hidrodinâmica e vários tipos de informação sobre os aquíferos, nomeadamente, sobre o seu substrato geológico, hidrodinâmica, pontos e quantidades de recarga e de extracção, condições fronteira entre outros que tornam a mesma bastante complexa. Por este motivo optou-se por não replicar a mesma, pois poderia implicar que outros aspectos que entraram para este estudo acabassem por não ser analisados perdendo-se assim o carácter mais geral que se pretende com o mesmo. Não obstante, este impacte na quantidade de recursos hídricos pode ser considerado como negativo com grande importância. 4.8.2. Qualidade. A análise da qualidade da água subterrânea tem vindo a mostrar-se tão importante como o estudo da quantidade, uma vez que permite avaliar a diversidade de pressões a que um aquífero pode estar sujeito e também fornecer indicadores sobre como são geridas as entidades que sobre ele desenvolvem as suas actividades pelo que tem sido alvo de uma numerosa lista de estudos sob a perspectiva dos mais variados indicadores. A desvantagem é que este tipo parâmetro apenas pode ser estudado a posteriori pois os efeitos nos aquíferos não ocorrem imediatamente após o inicio das actividades. Na generalidade e segundo a maioria dos estudos consultados, existem dois tipo de substâncias que podem advir da actividade dos campos de golfe, nomeadamente, fertilizantes e fito fármacos e existem também duas formas através das quais podem vir a ter efeitos nefastos que são a escorrência para as linhas de água superficiais ou a lixiviação através do solo para os aquíferos. A 75 sua ocorrência também pode ser sob a forma de origem, isto é, na forma como são produzidos ou, devido a sua interacção com o meio, ocorrer noutras formas ou mesmo complexados. Este fenómenos encontram-se bastante estudados mas de uma forma bastante experimental e localizada pelo que os resultados obtidos para um caso podem não ser aplicáveis a outras localizações onde se verifique uma variação de tipo de solo, clima, topografia entre outros. Mais recentemente uso e efectividade de alguns produtos tem vindo a ser, inclusivamente, questionada pois foram obtidos resultados em fungicidas, por exemplo, em que se verificou que as populações microbianas que se desenvolvem no solo e zona radicular se mantiveram constantes ou aumentaram após a aplicação de fumigantes (Elliott e Jardin., 2001). Os estudos feitos a nível global originaram resultados que indicam que não existirem impactes de monta a registar na maioria dos complexos estudados quer ao nível de fito fármacos quer ao nível de fertilizantes (Cohen et al., 1999). Para o caso dos fertilizantes os autores defendem mesmo que os valores elevados que se verificaram nalgumas análises relativas a NO3 foram devidos á actividade agrícola que o golfe tem vindo a substituir. A transição específica de áreas agrícolas e florestais para áreas de golfe também já tem sido alvo de atenção e os resultados obtidos confirmam uma redução de risco de runoff e percolação de nitratos e 2,4 – D em relação a explorações agrícolas mas um aumento em relação às perdas no caso das áreas florestadas, mais acentuado até para a percolação (King e Balogh, 2001). Especificamente para campos localizados em orla costeira, como é comum na região algarvia, existe a possibilidade de haver a transferência de compostos utilizados na manutenção para o meio costeiro envolvente. Segundo (Lewis et al., 2002) a presença de nutrientes e clorofila apresenta-se superior nos lagos dos campos e nalguns pontos da costa relativamente a áreas de referência na Florida e foram detectadas concentrações de chumbo, arsénio e atrazina nos recursos superficiais mas nada que superasse os critérios de máximos de qualidade da água. Contudo verificou-se apenas nas áreas adjacentes aos campos concluindo assim o estudo que se trata de uma efeito limitado e localizado. Existem ainda estudos adicionais sobre contaminação de sedimentos costeiros devido a proximidade de complexos de golfe da orla costeira mas o seu efeito foi muito subtil e os fenómenos de toxicidade aguda foram muito escassos nos referidos sedimentos (Lewis et al., 2001). E não é só o uso de produtos químicos e fertilizantes que pode vir a dar problemas pois o uso de aguas residuais tratadas, uma alternativa ao uso de águas subterrâneas na região algarvia mas que também revelou efeitos secundários a este nível. Mais especificamente, uma análise ao solo de campos regados com este tipo de recurso revelaram um aumento, no solo de 200%, 40% e 30% em Sódio, Boro e Fósforo respectivamente e ainda 0,3 unidades no pH (Qian e Mecham, s.d.) o que pode inutilizar o solo para outros usos ou mesmo tornar insustentável para a manutenção da própria relva. Estima-se que um campo de golfe com boas práticas de manutenção aumente em 148% a carga de Azoto e em 24% a carga de Fósforo libertados para o meio em relação às condições de referência mas é considerado reduzido o impacte que têm no runoff e na erosão do solo. (Mankin, 2000). Ainda assim em concentrações reduzidas a quantidade de nutrientes que chega efectivamente às linhas de água superficiais é poderá ser suficiente para afectar algumas espécies de peixes e também aves aquáticas. 76 Ainda em relação a águas superficiais, os fenómenos de escorrência parecem aparentemente não inspirar grande preocupação pois segundo (Ryals et al., 1998) no estudo á escorrência de Azoto (N), Fósforo (P), atrazina, chlorothalonil [Daconil®], chlorpyrifos [Dursban®] e ácido 2,4- diclorofenoxyacético foi relativamente reduzido o número de análises à água dos lagos dos campos de estudo em que os valores destes compostos excederam os máximos permitidos por lei. Confirmando estes resultados, (Haith e Rossib, 2003) afirmam que em geral o runoff de pesticidas representa apenas 3% do que na realidade é aplicado sendo que na maioria dos eventos nem sequer ultrapassa 1%. Há no entanto que ter em atenção que para pesticidas como o clorotalonil, iprodiona e PCNB foram detectadas concentrações nos meio aquáticos que podiam resultar na mortalidade de 50% das espécies aquáticas passíveis de serem afectadas o que pode indicar um excesso de uso dos mesmos, neste caso, campos do nordeste norte-americano. Resultados semelhantes foram também observados por (Yates, 1995) que verificou que a possibilidade de volatilização dos agentes químicos é muito reduzida, especificamente, para 2,4 – D e carbaryl além dos fenómenos insignificantes de lixiviação destes e também do Azoto dos fertilizantes em lisimetros simulando fairways e greens neste mesmo estudo. No que toca a águas subterrâneas e fenómenos de lixiviação, estudos afirmam que os compostos que acabam por ter maior mobilidade são os nitratos, nitritos e os ortofosfatos (King et al., 2007) pelo que são bons indicadores do tipo de gestão que um complexo possa estar a ter O mesmo fenómeno se processa também com outros elementos como metais e semi-metais como o arsénio cuja mobilidade no solo foi estudada em campos da Florida e os resultados obtidos demonstram que cerca de 29% do arsénio extraível foi encontrado na porção fina de solo enquanto uma fracção de 15,5% foi encontrada na porção mais grosseira de solo pelo que é recomendada contenção no uso de herbicidas que contenham arsénio na sua composição (Cai et al., 2002). Habitualmente levados a cabo recorrendo a lisimetros a maioria dos estudos revelou que a fracção Azoto aplicada que se lixívia é negligenciável e que na generalidade os pesticidas utilizados não possuem tempo de meia vida suficiente para sequer atingirem o nível dos aquíferos pelo que foram raros os casos em que foi detectada qualquer substância do género no lixiviado (Branham et al., 1995). Mas, como foi referido, existe também a possibilidade de os próprios produtos utilizados poderem interagir que leva a que a mobilidade de certos compostos aumente para valores acima do esperado. Um dos facilitadores é a matéria orgânica dissolvida dos fertilizantes que diminui a capacidade de adsorção de 2,4 D, naftaleno e clorpirifos o que faz com que estes compostos se disseminem pelo solo como mais facilidade podendo contaminar os aquíferos subjacentes (Lia et al., 2004). Os diferentes tratamentos aplicados nas diferentes zonas dos campos também podem originar resultados distintos. Existem zonas, os greens, que requerem mais atenção e requisitos de utilização que implicam cuidados adicionais aos que são praticados nos fairways. Estudos feitos em lisimetros simulando as condições dos greens revelaram que as quantidades adicionais de fertilizantes, actualmente, usadas nestas zonas agravam substancialmente, a lixiviação de nitratos e fosfatos (Wong et al., 1998). 77 Confirmando os resultados quanto aos greens (Shuman, 2003) chega mesmo a conclusão que é o fósforo o nutriente que aparece em maior quantidade nos lixiviados acima mesmo dos valores de Azoto, quer para lisimetros em estufa quer no exterior. Objectivamente, é preciso apontar que a maioria dos resultados referenciados se obtiveram para situações muito localizadas e no, computo geral, não se pode afirmar que tenham tido em conta o efeito cumulativo que pode ser gerado que se tem vários complexos a operar na mesma zona. Para tal foram então analisados os dados reais de aquíferos que estão sujeitos a este tipo de pressões, nos concelhos algarvios em estudo e neste sentido analisadas as evoluções de alguns dos composto acima referidos. Não foram no entanto analisados os dados para todos os concelhos uma vez que não existem estações de monitorização de qualidade próximas de complexo de golfe em todos os concelhos. Em termos de quantidades utilizadas de fertilizantes, em média, para campos localizados em Loulé (valores obtidos com base em EIA’s), foram obtidos valores de fertilização de cerca de 250, 80 e 190 Kg /Ha de Azoto, Fósforo e Potássio por ano o que poderá indicar que nesse concelho, estejam a ser aplicadas 177 toneladas de N e 58 toneladas de Fósforo e 138 toneladas de Potássio por ano (Tabela 51). Tabela 51 - Quantidades de fertilizantes utilizadas em campos de golfe (Fontes: (Ecossistema; Mãe D'Água, 2005); (Ecossistema, 2001); (Nemus, 2002)). Nutriente Quantidade média Quantidade média Total aplicado em aplicada (Kg/ha.ano) /campo (t/ano) Loulé (t/ano) N 248 14 177 P 81 4 58 K 193 11 138 Da mesma forma, fitofarmacos como fungicidas e herbicidas são aplicados, anualmente, mas sem estarem a ser alvo de monitorização ao nível dos aquíferos. Os mais comuns apresentam-se na tabela seguinte (Tabela 52). Tabela 52 - Quantidades médias de fitofarmacos utilizadas em campos de golfe de Loulé (Fontes: (Ecossistema; Mãe D'Água, 2005); (Ecossistema, 2001); (Nemus, 2002)). Tipo Fungicidas Herbicidas Nome Quantidade Quantidade /campo (Kg/ha.ano) (kg/ ano) Iprodiona 6 330 Maconzete 2 110 Simazina 1.2 66 Atrazina 1 55 Para a análise qualitativa dos aquíferos foram, uma vez mais, consultados dados de estações de medição de qualidade da água subterrânea para se poder comparar a dinâmica de evolução dos parâmetros de qualidade em cada um dos aquíferos que suportam os campos. De todos os parâmetros referidos anteriormente apenas se conseguiram obter dados interessantes para a 78 condutividade, nitratos, pH, azoto amoniacal, e cloretos, fosfatos, nitritos e sulfatos. Nos restantes parâmetros, como os metais pesados ou pesticidas, simplesmente não existem series de dados uma vez que pelo foi indicado pelas entidades responsáveis pela monitorização, são testes mais morosos e onerosos de executar. 79 Tabela 53 - Comparação das taxas de variação de parâmetros de qualidade de água subterrânea verificados dentro e fora de zonas de golfe (Fonte: SNIRH). Albufeira Concelho Campo Localização Loulé Referência Campo Albufeira-Rib. Quarteira Aquífero Balaia: 605/48 Ponto de medição 19952000 Período Condutividade (µS/cm) 20012007 605/307 Quarteira 20012007 19952000 20012007 -1.21E-01 -2.02E-02 -3.70E-01 -1.48E-01 7.00E-04 Nitratos (mg/l) 3.70E-03 -5.50E-03 Campina de Faro Vila Sol: 606/130 605/293 Referência Qta Lago: 610/186 1995-2007 Qta Lago: 610/168 1995-2007 Qta Lago: 606/1019 1995-2007 Campina de Faro Qta. Lago: 606/434 Quarteira Vila Sol: 606/972 1995-2007 1995-2007 1995-2007 1.39E-02 1.41E-02 -4.50E-03 1.68E-02 3.75E-02 -7.28E-02 -3.16E-02 1.20E-03 3.00E-04 1.80E-03 6.00E-04 2.00E-04 -3.00E-04 -8.00E-04 -5.40E-03 pH Azoto Amoniacal (mg/l) -4.00E-05 -8.00E-05 9.00E-05 2.00E-04 -5.00E-05 1.00E-02 6.00E-04 -2.00E-05 9.00E-06 -7.00E-06 -3.00E-05 -1.00E-06 4.00E-06 1.00E-05 4.00E-07 4.00E-07 8.00E-06 8.00E-06 5.00E-06 1.00E-05 1.00E-05 9.00E-06 Cloretos (mg/l) Fosfatos P2O5 (mg/l P2O5) -4.90E-02 2.00E-03 4.03E-02 -5.85E-02 2.05E-02 4.10E-03 -6.00E-04 4.60E-03 9.00E-03 -4.02E-02 1.13E-02 3.00E-06 6.00E-06 7.00E-06 -4.00E-07 -4.00E-05 5.00E-06 5.00E-06 3.00E-06 5.00E-06 6.00E-06 4.00E-06 Nitritos (mg/l) -2.00E-06 2.00E-05 2.00E-05 6.00E-06 3.00E-06 5.00E-06 5.00E-06 4.00E-06 9.00E-06 5.00E-06 7.00E-06 -8.00E-04 7.00E-05 -2.30E-03 6.00E-04 1.10E-03 1.90E-03 1.20E-03 1.00E-04 2.70E-03 -2.20E-03 -2.60E-03 Sulfatos (mg/l SO4) Tabela 54 - Valores médios de parâmetros de qualidade em estações dentro e fora de áreas de golfe em 2007 (Fonte: SNIRH). Albufeira Concelho Localização Campo Ponto de medição Balaia: 605/48 Loulé Referência Balaia 605/307 Campo Balaia 605/293 Vila Sol: 606/130 Qta Lago: 610/186 Referência Qta Lago: 610/168 Qta Lago: 606/1019 Vila Sol: 606/972 Qta Lago: 606/434 Condutividade (uS/cm) 1191 1459 1103 1861.5 481 778.5 769.5 1462.5 1304 Nitratos (mg/l) 27.5 14.5 6.2 29 3.35 1 9.5 23 76 pH 7.05 7.15 7.1 7.1 7.5 7.25 7.25 7.25 7.25 Azoto Amoniacal (mg/l) 0.04 0.04 0.04 0.04 0.04 0.04 0.04 0.04 0.04 Cloretos (mg/l) 244 327 156 469.5 47 79.5 111.5 280 169.5 Fosfatos P2O5 (mg/l P2O5) 0.03 0.0325 0.03 0.03 0.03 0.03 0.03 0.03 0.03 Nitritos (mg/l) 0.03 0.03 0.03 0.03 0.03 0.03 0.03 0.03 0.03 45 51 25 71 25 38 25 60.5 99 Sulfatos (mg/l SO4) 80 Os dados considerados válidos para análise foram produzidos apenas no campo de golfe da Balaia, Vila Sol e no complexo da Quinta da Lago. A análise consistiu numa comparação entre taxas de variação dos parâmetros de qualidade obtidas por regressão linear (Tabela 53) das series de dados produzidas pelo SNIRH. Esses dados foram depois comparados com informação gráfica também proveniente do SNIRH com os valores médios dos parâmetros e localização da sua ocorrência, constante no Anexo IV. Para esta análise foram também tomados em conta os fluxos naturais simulados dentro dos aquíferos em estudo para se perceber quais as possíveis influências na dispersão de compostos. Em geral, os escoamentos efectuam-se de Norte para Sul, do interior algarvio para o litoral (Figura 37). Figura 37 - Dinâmica de escoamento simulada nos aquíferos Albufeira - Ribeira de Quarteira e Quarteira (Fonte: (Martins et al., 2006)). Os dados relativos à Quinta da Balaia foram comparados analisando a tendência dos parâmetros antes e depois do inicio da actividade do campo. Estes revelaram que a evolução dos nitratos, azoto amoniacal, cloretos, fosfatos, nitritos e sulfatos passou a ser positiva após o campo ter sido implantado (Tabela 53). Contudo, ao comparar os dados com os registados noutras estações do mesmo aquífero apenas os nitratos e o azoto amoniacal apresentaram variações com relevância, na medida em que as mesmas se verificaram uma ordem de grandeza acima das registadas nos pontos de referência, ainda que em ambos se observe uma tendência de crescimento de concentração dos mesmos. Nos restantes parâmetros não verificou a coerência necessária entre as estações de referência para se perceber a algum tipo de efeito exclusivo à área do campo o que traduz a variabilidade de factores que poderão influenciar a evolução destas concentrações. Mas, dado que houve uma inflexão nas tendências de evolução, poderá, com menos certeza, assumir-se que a acção o campo poderá ter contribuído no aumento dos valores de cada um dos parâmetros. Da análise gráfica, verifica-se no entanto que no caso do azoto amoniacal houve um aumento geral em todo o aquífero da sua concentração pelo que não deverá exclusivamente á actividade do campo, portanto o único parâmetro que revelou um acréscimo mais localizado e com maior certeza, na zona 81 do campo foram os nitratos. Nos restantes parâmetros não variação gráfica diferenciada na zona do campo que possa demonstrar efeitos. Os dados relativos aos campos Vila Sol e Quinta do Lago foram registados exclusivamente no período pós-campo pelo que se procedeu apenas à comparação entre pontos de medição dentro e fora dos campos. No caso do campo Vila Sol os parâmetros que se destacaram em relação aos pontos de controlo foram a condutividade, os nitratos, o pH, os cloretos e os sulfatos. Os dados gráficos médios não apresentam variações perceptíveis. A condutividade apresenta-se acima do valor máximo recomendado (VMR) em quase todo o aquífero pelo que não será um aumento exclusivo às zonas dos campos. No caso do pH e azoto amoniacal, ambos se apresentam abaixo do VMR pelo que, a ser uma variação derivada da actividade dos campos ainda não causou efeitos perceptíveis e considerados preocupantes. Mais uma vez o único que graficamente revelou uma tendência de agravamento nos limites do campo foi o parâmetro referente aos nitratos, mas o maior agravamento de concentração foi observado a montante dos campos pelo que se deduziu haver outras actividades com maior influência na degradação da qualidade da água do aquífero. Dado que os fluxos neste aquífero se fazem de Norte para Sul, na zona dos campos, este aumento na concentração de nitratos em Vila Sol poderá ter origem não só na actividade dos campos como também no agravamento de concentração a montante referido. Este efeito poderá ser mesmo aplicável a qualquer outro parâmetro. O aumento da concentração de condutividade, dos sulfatos e dos cloretos referido foi alvo de um estudo que concluiu que, nesta zona, o seu aumento se deve principalmente devido á dissolução de evaporitos e carbonatos (Monteiro et al., s.d.). Para o caso da Quinta do Lago verifica-se coerência de pontos dentro de campos para os parâmetros referentes aos sulfatos, nitritos, fosfatos e azoto amoniacal com as taxas de variação a serem todas positivas. No entanto apenas nos sulfatos esta variação se apresenta diferente do ponto de referência. No entanto é um efeito que pode ser originado com base na dissolução de evaporitos e carbonatos pelo que não se pode tirar conclusões. A evolução dos nitratos sugere uma influência positiva em 2 pontos dentro dos campos mas neste aquífero a sua evolução parece estar mais relacionada com um aumento de concentração na zona a Leste dos campos e consequentemente, com a sua difusão para a zona Oeste do aquífero, como se pode comprovar pela imagem e gráfica em anexo. A condutividade também apresenta dentro do campo uma tendência contrária à do ponto de referência mas também pode ser influenciada pelo mesmo fenómeno que afecta os sulfatos. Em suma, a análise dos efeitos dos campos na qualidade da água dos aquíferos revela uma complexidade superior à que está inerente para análise de quantidade e são muitos os fenómenos e fontes que podem contribuir para a degradação da mesma havendo enorme variabilidade associada. Assim sendo, para que se conseguisse uma análise com maior rigor, seria necessário um estudo específico para cada um dos parâmetros e que se sugere no futuro assim como uma rede mais abrangente de pontos de medição dos mesmos. Ainda assim é possível deduzir da análise gráfica que o golfe não será a actividade que tem maior contribuição para o aumento da concentração de nitratos pois os grandes focos de concentração estão localizados fora dos campos. Deste modo, quanto à qualidade apenas se pode classificar o impacte como sendo negativo permanente. 82 5. Conclusão O presente estudo consistiu numa abordagem empírica aos potenciais impactes da implantação massiva de campos de golfe. Tendo em conta os objectivos preconizados, inicialmente, pode concluir-se que na generalidade, foram atingidos, embora, nalguns dos sectores de análise exista uma necessidade de aprofundamento de estudo que não se enquadraria num estudo carácter geral como este. A nível nacional constatou-se que este tipo de implantação apenas se verifica na região do Algarve não só pela evolução do número de campos na região nos últimos 20 anos mas também pela sua disposição territorialmente concentrada em determinadas zonas da região. A evolução de empreendimentos de golfe de forma densificada acabou por ser justificada pela acção conjunta de variados factores. Primeiro foi verificado que as condições climatéricas da região são ideais para a prática da modalidade, nomeadamente, nas estações de Outono e Inverno o que se revelou importante, na medida em que a maioria dos jogadores que afluem à região são provenientes de países do Norte da Europa que não têm possibilidade de jogar devido às condição climatéricas que se verificam nos respectivos países nessas altura. A fácil acessibilidade e também a grande capacidade de alojamento da região são também factores atraentes para os jogadores. A densidade dos campos não foi contudo relacionada com os hábitos dos jogadores típicos que afluem à região mas sim com a disponibilidade territorial de áreas com aptidão turística e também com interesses imobiliários, mais concretamente, com a possibilidade de se poder aliar os campos a urbanizações turísticas com o objectivo de acrescentar valor imobiliário às mesmas. Este interesse leva a que juntamente com os campos sejam construídas também urbanizações turísticas que normalmente implicam grande número de edifícios e também a ocupação de áreas de interesse ecológico como áreas REN que passam assim para segundo plano perante a prioridade do desenvolvimento turístico da região. Esta prioridade poderá criar pressão nas áreas agrícolas adjacentes aos campos no sentido da sua substituição, através de um aumento do valor imobiliário das mesmas e também da contínua expansão da área de golfe a que se tem vindo a assistir. Esta ocupação tem vindo também a contribuir para a diminuição e alteração do coberto vegetal na medida em que as áreas dos campos tendem a reduzir significativamente a cobertura arbustiva e arbórea podendo promovendo deste modo a fragmentação de habitats, maior pressão de predação e perda de diversidade tanto no que toca a flora como a fauna que depende dessa flora para sobreviver. No concerne ao uso de energia concluiu-se que os campos acarretam consumos bastante superiores às que se verificam para a área agrícola tanto ao nível de consumo de electricidade e principalmente ao nível do consumo de combustíveis. O mesmo não foi observado quanto ao consumo de recursos hídricos onde um uso mais controlado e regrado dos campos implica uma consumo mais reduzido que o consumo para a rega agrícola, em termos de área unitária. Os efeitos conjuntos dos campos nos sistemas de aquíferos não foram computados mas foi possível deduzir que a proximidade dos campos poderá levar a um aumento dos 83 gradientes de pressão dentro dos mesmos o que implicará um maior risco de intrusão salina principalmente junto a linha de costa. No que concerne à qualidade, o único parâmetro que evidenciou um efeito comum em todas as medições executadas dentro de campos de golfe foi a concentração de nitratos que expressou um aumento face ao período pré-golfe e face a medições fora de campos mas, por não ser um efeito exclusivo a apenas às actividades de manutenção de campos de golfe não foi possível restringir esse efeito apenas a estes últimos assim como calcular a sua contribuição para esse aumento. Ao nível social, o golfe apresenta-se como uma actividade bastante vantajosa na medida em que permite a criação e manutenção de um significativo número de postos de trabalho directos e mais, significativamente, de postos de trabalho indirectos, estes últimos chegando a representar cerca de 5 vezes mais postos que os primeiros. Além de emprego, o golfe vem gerar um aumento do fluxo de capital principalmente no sector turístico, mas também indirectamente com a necessidade de provisão de bens e serviços por parte dos campos e também com os gastos dos jogadores de golfe em bens e serviços fora dos campos representando assim uma actividade dinamizadora da economia regional e local. A ocupação de áreas agrícolas abandonadas poderá também ser importante para evitar o êxodo das populações para área urbanizadas promovendo a desertificação do território. Ao nível turístico, o mercado do golfe vem essencialmente dinamizar o número de dormidas, devido à estadia acima da média dos jogadores face ao comum turista. A implantação em massa de campos mais recente não teve, contudo um efeito benéfico na indústria do golfe na medida em que se verificou um aumento de oferta substancialmente superior ao da procura o que pode implicar que a afluência a cada campo existente venha a diminuir para um valor abaixo do seu valor mínimo de sustentabilidade. O aspecto mais importante é, no entanto o fôlego que vem proporcionar ao sector turístico nas épocas baixas do turismo balnear permitindo a manutenção de um maior número de postos de trabalho no sector devido à afluência preferencial nos meses de Outono. No concerne há hipótese do desenvolvimento do golfe se processar de acordo com uma moda de investimento, esta acabou por se revelar falsa na região do Algarve no últimos anos. Isto porque, como foi comprovado, este desenvolvimento tem seguido sempre a mesma tendência de associação à componente imobiliária, sendo este um dos principais motivadores de localização dos campos. Sendo uma moda uma tendência que segue valores que vão variando no tempo, verifica-se que tal evolução não se enquadra com a verificada no golfe. No entanto é possível que a uma escala temporal maior e noutras regiões que não o Algarve se pudesse ter observado um desenvolvimento com uma motivação de localização diferente da observada na região algarvia o que implicaria, provavelmente, um panorama de impactes específicos diferente do que foi estudado neste trabalho. Como tal sugere-se como estudo futuro uma mesma abordagem em diferentes destinos de golfe e com diferentes tendências de localização para assim se perceber e comparar, a um nível mais geral, os impactes de diferentes desenvolvimentos em massa deste tipo de actividade. 84 Referências ABC of Golf. (2009). Golf History. 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Litoral/RN2000/Á rea Protegida 39 S/R Superficial: - sistema de abastecimento Odeleite/Beliche 39 S/R Quinta de Cima 2002 Campo Exploração 62 18 V.R.S. António 1992 Áreas produção agrícola Graus I e II/RAN Loc. Litoral/RN2000/Á rea Protegida S/R Superficial: - sistema de abastecimento Odeleite/Beliche 39 Agrícola 39 35 (DGOTDU, 2008) (CCDR Algarve, 2008) 37 (Ecossistema / Mãe d'Água, 2001) 38 (Nascimento, 2002) 39 (Nemus, 2003) 36 95 Nome Ano Tipologia Estado Área (ha) Nº buracos Concelho PDM em vigor Localização PDM/Condicionante Info adicional/actual 1994 Uso dos solos de espaços agroflorestais, na zona sul da Área de Aptidão Turística 1 (AAT1) / RAN/REN 1994 S/R 35 Campo de Golfe "Almada de Ouro & Country Club" 2002 Campo Estudo 73 27+9 Castro Marim Empreendim ento Turístico Verdelago Clube e Campo de Golfe 2002 Resort Estudo - - Castro Marim Morgado do Reguengo II 2002 Campo Exploração 43 18 Portimão Campo de Golfe dos Pinheiros Altos 2002 Resort Exploração 20 8 Loulé 35 SGA/Certificação Origem água de rega Usos prégolfe golfe Loc. Interior/RN2000/ REN SGA NP EN ISSO 14001 a ser implementado em exploração 40 Superficial (lago alimentado p/ albufeira) 40 Pastorícia - Caça - Passeios turísticos 40 Loc. Litoral/RN2000 S/R S/R Agrícola Agrícola 41 Agrícola 42 3536 1995 Zonas de Recursos Naturais e Equilíbrio Ambiental, Imperativas e Zonas Agrícolas/REN/RAN Loc. Interior em Sistema. Aquífero S/R Superficial: lago artificial, o qual será alimentado a partir da Barragem do Morgado, localizada a Sudeste, sendo reforçada pela Barragem dos Álamos, a Norte, ambas já construídas no interior da Herdade do Reguengo 41 1995 Áreas urbanoturísticas/RAN/PN Ria Formosa Loc. Litoral em Sistema. de Aquífero S/R Subterrânea+ETAR (50:50) 42 40 (Ecossistema, 2002) (Nascimento, 2003) 42 (Nemus, 2002) 41 96 Nome Morgado do Reguengo I Núcleo de Desenv. Turístico da Quinta da Ombria Loulé 5º Campo Vilamoura (Vitória) Emp. Turístico da Herdade do Corte Velho Ano 2003 2003 2004 2004 Tipologia Campo Resort Campo Resort Estado Exploração Estudo Exploração Rejeitado Área (ha) 68 60 96 68 Nº buracos 18 27 18 18 Concelho PDM em vigor 35 Portimão Loulé Loulé Castro Marim Localização PDM/Condicionante 35 Info adicional/actual 3536 SGA/Certificação Origem água de rega Usos prégolfe golfe S/R Superficial: lago artificial, o qual será alimentado a partir da Barragem do Morgado, localizada a Sudeste, sendo reforçada pela Barragem dos Álamos, a Norte, ambas já construídas no interior da Herdade do Reguengo 41 Agrícola 41 1ª Fase subterrânea (7 furos já existentes) +agua captada do sistema de drenagem 2ªfase ETAR 43 Agrícola 43 1995 Área fomento agroflorestal/Povoamento florestal Loc. Interior em Sistema. Aquífero 1995 A.A.T. (Área de Aptidão Turística) /RAN/REN Loc Interior em Sistema. De Aquífero/RN2000 S/R 1995 Áreas urbanoturísticas/RAN Loc. Litoral em Sistema de Aquífero Oceânico Golf S.A: - NP EN ISO14001 - Green Globe - Commited to Green 1994 PROTAL- Zona de Atractivo Paisagístico e Zona de Protecção da Natureza / PDM A.A.T.2 / REN; Zonas de cheias; RN 2000 Sitio Guadiana Loc. Interior/RN2000 N/A Subterrânea+ETAR 44 Agrícola 44 Pecuária ETAR 45 Agrícola 45 43 (Nascimento, 2004) (Ecossistema, 2001) 45 (Nascimento, 2005) 44 97 Nome Ano Tipologia Estado Área (ha) Nº buracos Concelho PDM em vigor Localização PDM/Condicionante Info adicional/actual SGA/Certificação Origem água de rega Usos prégolfe golfe Superficial (barragem) +águas drenadas 46 S/R 35 35 3536 Campo de Golfe de Finca Rodilhas Alcoutim 2005 Resort Estudo 84 27 Alcoutim 1995 Espaços Agroflorestais de Uso Múltiplo Loc Interior S/R Campo de Golfe "O Laranjal" 2005 Campo Exploração 47 18 Loulé 1995 RAN Loc. Litoral em Sistema de Aquífero S/R Campo de Golfe "Formosa Golf" 2005 Resort Rejeitado 57 18 Loulé 1995 Área sensível - Sitio Ria Formosa - Castro Marim/RAN Loc. Litoral/RN2000/P N Ria Formosa N/A Monte Rei 2007 Resort Exploração 43 18 V.R.S. António 1992 Núcleo de Desenvolvimento Turístico pelo PDM Loc. Interior/REN Quinta do Vale 2008 Resort Exploração 60 18 Castro Marim 1994 Espaço agro-florestal Amendoeira Golf Resort Silves 2008 Resort Exploração 135 18+18 Silves 1995 Áreas de Aptidão Turística (AAT) /RAN/REN Subterrânea+ETAR Frutícola 47 Subterrânea+Pluvial 48 Agrícola frutícola 48 S/R Superficial (Sist. Rega do Sotavento Algarvio) 49 Área de serra fracamente humanizada 49 Loc. Interior - S/R S/R Loc. Interior em Sistema. Aquífero Oceanico Golf S.A. : - NP EN ISSO 14001 - Green Globe - Commited to Green Subterrânea (7 furos em 2 aquíferos) +ETAR posteriormente 50 Agrícola 50 47 46 (ARQPAIS; Ecossistema, 2005) (Ecossistema; Mãe D'Água, 2005) 48 (Procesl, 2005) 49 (Ecossistema; Mãe D'Água, 2001) 50 (Geodesenho, 2005) 47 98 Anexo III – Evolução da superfície piezométrica média dos aquíferos algarvios (SNIRH) Loulé – Aquífero: Quarteira 1989/1990 99 Loulé – Aquífero: Quarteira 2008/2009 100 Loulé – Aquífero: Campina de Faro 1988/1989 101 Loulé – Aquífero: Campina de Faro 2008/2009 102 Anexo IV – Evolução de dados da qualidade de água subterrânea por concelho (SNIRH) Albufeira – Sistema aquífero Ribeira de Quarteira Condutividade 1995 2006 103 Albufeira – Sistema aquífero Ribeira de Quarteira Nitratos 1995 2007 104 Albufeira – Sistema aquífero Ribeira de Quarteira pH 1995 2007 105 Albufeira – Sistema aquífero Ribeira de Quarteira Azoto amoniacal 1995 2007 106 Albufeira – Sistema aquífero Ribeira de Quarteira Cloretos 1995 2007 107 Loulé – Sistema de aquífero de Quarteira Condutividade 1995 \ 2007 108 Loulé – Sistema de aquífero de Quarteira Nitratos 1995 2007 109 Loulé – Sistema de aquífero de Quarteira pH 1995 2007 110 Loulé – Sistema de aquífero de Quarteira Azoto Amoniacal 1995 2007 111 Loulé – Sistema de aquífero de Quarteira Cloretos 1995 2007 112 Loulé – Sistema aquífero Campina de Faro Condutividade 1995 2006 113 Loulé – Sistema aquífero Campina de Faro Nitratos 1995 2007 114 Loulé – Sistema aquífero Campina de Faro pH 1995 2007 115 Loulé – Sistema aquífero Campina de Faro Azoto amoniacal 1995 2007 116 Loulé – Sistema aquífero Campina de Faro Cloretos 1995 2007 117 118 Anexo V – Amostra de terrenos urbanos para análise de variação do valor imobiliário. Vilamoura (Golfe) Área (m2) Preço(€) Quarteira 2 €/m Área (m2) Preço (€) 2 €/m 800 525000 656 1290 350000 271 1041 750000 720 1050 300000 286 1100 750000 682 3100 325000 105 795 750000 943 925 285000 308 989 750000 758 235 77000 328 1045 750000 718 1750 149640 86 1073 645000 601 720 200000 278 755 562000 744 1050 330000 314 562 535000 952 1290 350000 271 520 1137000 2187 1220 425000 348 489 1069000 2186 1050 435000 414 372 813000 2185 1370 490000 358 408 891000 2184 550 535000 973 458 1002000 2188 4568 1200000 263 489 1069000 2186 1020 230000 225 Fonte: www.imo-portugal.pt 119