Ciência e Tecnologia de Alimentos Produção e Sustentabilidade Ciência e Tecnologia de Alimentos Produção e Sustentabilidade Maria da Penha Piccolo Rodrigo Sobreira Alexandre Marcelo Barreto da Silva Laura Marina Pinotti (Orgs.) Conselho Editorial Av. Carlos Salles Block, 658 Ed. Altos do Anhangabaú, 2º Andar, Sala 21 Anhangabaú - Jundiaí-SP - 13208-100 11 4521-6315 | 2449-0740 [email protected] Profa. Dra. Andrea Domingues Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi Profa. Dra. Benedita Cássia Sant’anna Prof. Dr. Carlos Bauer Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha Prof. Dr. Fábio Régio Bento Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes Profa. Dra. Milena Fernandes Oliveira Prof. Dr. Ricardo André Ferreira Martins Prof. Dr. Romualdo Dias Profa. Dra. Thelma Lessa Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt ©2014 Maria da Penha Piccolo; Rodrigo Sobreira Alexandre; Marcelo Barreto da Silva; Laura Marina Pinotti (Orgs.) Direitos desta edição adquiridos pela Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor. P591 Piccolo, Maria da Penha; Alexandre, Rodrigo Sobreira; Silva, Marcelo Barreto da; Pinotti, Laura Marina (Orgs.). Ciência e Tecnologia de Alimentos: produção e sustentabilidade/Maria da Penha Piccolo; Rodrigo Sobreira Alexandre; Marcelo Barreto da Silva; Laura Marina Pinotti (Orgs.). Jundiaí, Paco Editorial: 2014. 396 p. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-8148-753-3 1. Produção de alimentos 2. Tecnologia de alimentos 3. Alimentação 4. Sustentabilidade I. Piccolo, Maria da Penha II. Alexandre, Rodrigo Sobreira III. Silva, Marcelo Barreto da IV: Pinotti, Laura Marina CDD: 664 Índices para catálogo sistemático: Alimentos - tecnologia 664 Indústria agropecuária 338 Alimentos - Bebidas 641 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Foi feito Depósito Legal Sumário Apresentação...........................................................................9 Prefácio.................................................................................11 Capítulo 1 Marcelo Barreto da Silva Marcelo Barcellos da Rosa Produção agrícola sustentável.................................................13 Capítulo 2 Jacimar Luis de Souza Ricardo Henrique Silva Santos Alimentos orgânicos e a sustentabilidade ambiental e humana..................................................................................45 Capítulo 3 Fábio Luiz Partelli Patricia Fontes Pinheiro Carlos Alexandre Pinheiro Bárbara Zani Agnoletti Gleison Oliosi Qualidade e composição química do Café Conilon................73 Capítulo 4 Rodrigo Sobreira Alexandre Maria da Penha Piccolo José Carlos Lopes Ruimário Inácio Coelho Khétrin Silva Maciel João Paulo Bestete de Oliveira Frutas saudáveis: conformidade nacional e internacional......109 Capítulo 5 Rodrigo Sobreira Alexandre Maria da Penha Piccolo José Carlos Lopes Liana Hilda Golin Mengarda João Paulo Bestete de Oliveira Mamão Solo e Formosa: logística de exportação...................129 Capítulo 6 Rodrigo Sobreira Alexandre Maria da Penha Piccolo José Carlos Lopes Kristhiano Chagas Allan Rocha de Freitas João Paulo Bestete de Oliveira Indicadores de qualidade em frutos de maracujá (Passiflora edulis Sims. f. flavicarpa Deg.)...............................................155 Capítulo 7 Marcelo Barreto da Silva Maria da Penha Piccolo Rodrigo Sobreira Alexandre Francisco de Castro Rocha Neto Pimenta-do-reino: importância e desafios da produção de acordo com os padrões de qualidade....................................181 Capítulo 8 Rodrigo Sobreira Alexandre Maria da Penha Piccolo José Carlos Lopes Robson Bonomo Rafael Fonsêca Zanotti João Paulo Bestete de Oliveira Pimenta-do-reino: da colheita ao armazenamento................197 Capítulo 9 Bruna Carminate Luciana Camizão Rebello Marcelo Barreto da Silva Maria da Penha Piccolo Pimenta rosa: caracterização e potencialidades......................219 Capítulo 10 Maria da Penha Piccolo Maria Aparecida Vasconcelos Paiva Brito Cláudia Lúcia de Oliveira Pinto Rosangela Zoccal Alziro Vasconcelos Carneiro Produção de leite com qualidade e sua importância para a sustentabilidade da cadeia produtiva no Brasil......................241 Capítulo 11 Laura Marina Pinotti Rogério Danieletto Teixeira Sâmela Paranaguá Viegas Vasconcelos Faria Sérvio Túlio Alves Cassini Utilização de resíduos agroindustriais e da indústria alimentícia para produção de enzimas....................................................277 Capítulo 12 Flávio Raposo Pereira Fernanda Altoé Lorencini Gabriel Mattedi Jesuína Cássia Santiago de Araújo Sérvio Túlio Alves Cassini Laura Marina Pinotti Avaliação da produção do biogás em estações de tratamento de efluentes em indústrias alimentícias.................................303 Capítulo 13 Renato Rocha Batista Gisele de Lorena Diniz Chaves Leonardo da Silva Arrieche Rotas químicas de pirólise e combustão direta para o aproveitamento de resíduos orgânicos agrícolas...................337 Capítulo 14 Gisele de Lorena Diniz Chaves Rosane Lúcia Chicarelli Alcântara Logística Reversa: adequação legal e ambiental na agroindústria e varejo.................................................................................367 Apresentação A produção de alimentos seguros e com redução de impactos ao ambiente faz parte da agenda política e tecnológica global para as próximas décadas. Não é suficiente pensar em produtos, é necessário planejamento, além de adequação e melhorias em todos os processos envolvidos. O estado do Espírito Santo se destaca na produção de alimentos como frutas, café, condimentos, leite, além de outros. Neste contexto amplo com exemplos regionais é que se pensou na elaboração do livro “Produção de Alimentos e Sustentabilidade”. Nele são abordados diferentes temas com o objetivo de contribuir para a garantia da sustentabilidade desta produção além de assegurar um futuro melhor para a população. Contemplando produções tradicionais como café, leite e frutas, traz também o desafio da produção e comercialização da pimenta rosa e os benefícios da produção orgânica. Melhoria dos processos internos das indústrias, como a utilização de enzimas, a utilização de resíduos na indústria alimentícia pra obtenção de biocombustíveis e melhoria da logística são temas atuais e estimulantes. São quatorze capítulos que relatam experiências de professores, pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo, além de outras instituições renomadas no país. Este livro, e o simpósio a ele relacionado, é uma forma de levar o conhecimento à sociedade e discutir com ela os possíveis caminhos a serem construídos, porém, sem esgotar os conteúdos, que se propõe a tratar de forma diversificada e inclusiva. Espera-se contribuir para a promoção e divulgação de pesquisas e tecnologias em diferentes áreas do setor de alimentos. Editores técnicos: Maria da Penha Piccolo Rodrigo Sobreira Alexandre Marcelo Barreto da Silva Laura Marina Pinotti 9 Prefácio Atender as necessidades da presente geração, e respeitar os limites do equilíbrio da natureza, levando-se em consideração as mudanças climáticas, as limitações dos recursos hídricos e a degradação dos recursos naturais, impulsiona a busca de novos caminhos que não tenham como norte tecnologias equivocadas e que venham a comprometer as futuras gerações. Esse é um desafio da ciência. Os estudos da FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura – projetam uma população de mais de nove bilhões de pessoas no planeta, no ano de 2050, o que impõe uma necessidade de incremento na produtividade agropecuária na ordem de 70%. Nesse contexto, a sustentabilidade com todos os seus aspectos, sejam eles: econômicos, sociais, educacionais, ambientais e agronômicos é fundamental para a sociedade contemporânea. As potencialidades do Brasil são enormes, quando se verifica sua capacidade de desenvolver tecnologias transformadoras, que propiciam o desenvolvimento de forma adequada e atendem as demandas internas e externas, garantindo qualidade. Os temas abordados na presente publicação trazem experiências de pesquisadores em diversas áreas de conhecimento, que avaliaram diferentes setores e tipos de produção, com suas potencialidades e gargalos, sob a ótica da sustentabilidade. Esta obra é uma contribuição e um incentivo para os produtores rurais, profissionais, alunos de graduação e pós-graduação das áreas de alimentos, agronomia, engenharia florestal, química, biologia, medicina veterinária além de outras como contraponto aos modelos de desenvolvimento econômico com impactos negativos sobre a sociedade e o meio ambiente. Por certo, a presente obra propiciará ao leitor uma reflexão sobre os sistemas produtivos atuais e suas necessidades de transformação ou adequação de procedimentos, adoção de novas tec11 Maria da Penha Piccolo | Rodrigo Sobreira Alexandre | Marcelo Barreto da Silva | Laura Marina Pinotti (Orgs.) nologias, com objetivos de contribuir para diminuição dos riscos em relação à saúde da população e ao meio ambiente além de proporcionar a sustentabilidade dos setores envolvidos. Ezron Leite Thompson Engenheiro Agrônomo Chefe do Departamento de Defesa Sanitária e Inspeção Vegetal Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo – IDAF 12 Capítulo 1 Produção agrícola sustentável Marcelo Barreto da Silva1 Marcelo Barcellos da Rosa2 Introdução O abastecimento do mercado mundial exige forte planejamento da produção, conservação, distribuição e venda. A estrutura do setor agrícola é complexa e conta com a participação de vários componentes externos como a indústria de máquinas, insumos, logística de transporte e armazenamento, além do cumprimento de requisitos decorrentes de critérios e acordos com enfoque na defesa agropecuária e segurança alimentar. A demanda por alimentos, fibras e fontes alternativas de energia é uma realidade presente com perspectivas de crescimento. Estas necessidades precisam ser supridas pela produção agrícola de forma estável, socialmente justa e ambientalmente correta. No setor de alimentos, segundo estudos da Food and Agricultural Organization (FAO, 2011), para atender à demanda mundial de 9,1 bilhões de pessoas projetadas para 2050, população esta maior e mais rica que a atual, a produção agropecuária precisaria crescer em 70%. A produção de grãos precisa ultrapassar de 2,1 bilhões para 3 bilhões de toneladas e o consumo de carne sairá de 200 milhões para 470 milhões de toneladas, isto em um cenário 1. Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Fitopatologia, Prof. Adjunto, Universidade Federal do Espírito Santo, UFES, São Mateus, ES, CEP: 29932-540. Email: [email protected] 2. Químico Industrial, D.Sc. Ciências Naturais, Prof. Adjunto, Universidade Federal de Santa Maria, UFSM, Santa Maria, RS, CEP: 97105-900. Email: [email protected] 13 Maria da Penha Piccolo | Rodrigo Sobreira Alexandre | Marcelo Barreto da Silva | Laura Marina Pinotti (Orgs.) de limitação de água e terra. O conceito do termo sustentabilidade cresceu em sua abrangência, indo além dos aspectos estritamente ambientais, e alcançou dimensões sociais e econômicas. Esta expansão, historicamente, ocorreu após o relato decorrente dos trabalhos da Comissão de Bruntland, sob o título de “Nosso Futuro em Comum” (Our Common Future) (WCED, 1987). Neste documento, a palavra sustentabilidade foi associada a desenvolvimento. A partir desta associação, desenvolvimento sustentável foi definido como aquele que “atenda às necessidades da geração presente sem comprometer a habilidade das gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades”. Assim, reconhece as limitações biofísicas impostas ao crescimento econômico. O oposto da definição de sustentabilidade poderia ser denominado de colapso, como definido por Diamond (2005). Segundo este autor, colapso é diminuição drástica do tamanho da população humana ou de sua complexidade econômica, social e política, por um tempo prolongado. O fenômeno do colapso é, assim, uma forma extrema de diversos tipos mais brandos de declínio. Após estudos a respeito dos fatores que levaram ao colapso de diferentes sociedades ao longo da história da humanidade, o mesmo Diamond (2005) concluiu que suas causas poderiam ser agrupadas em categorias, cuja importância relativa difere de caso para caso: desmatamento e destruição do habitat, problemas relacionados ao solo como erosão, salinização e baixa fertilidade, à água, à gestão dos recursos naturais como caça e pesca excessivas, danos causados pela introdução de novas espécies sobre as espécies nativas, o crescimento da população humana e aumento do impacto causado pela pessoas em seu ambiente. De acordo com Philippi Jr et al. (2010), a construção da sustentabilidade deve priorizar o estudo das questões sociais, econômicas, ambientais, tecnológicas e políticas presentes tanto na sociedade, quanto no meio ambiente. Como a sustentabilidade pode ser correlacionada com a produção e o consumo, o conceito de ecoeficiência aparece e reforça a sustentabilidade 14 Ciência e Tecnologia de Alimentos: produção e sustentabilidade vinculada aos indicadores econômicos de um sistema. Assim, ecoeficiência se manifesta como o ato de oferecer mais de uma mesma função de um processo, produto ou serviço com menor impacto ao meio ambiente. A discussão sobre a agricultura brasileira tem focado mais questões ideológicas como modelos orgânicos e tradicionais, uso ou não de tecnologias transgênicas, agricultura familiar ou empresarial. Poucos estudos são direcionados para metodologias de avaliação da sustentabilidade dos modelos propostos, o que está mais relacionado ao uso da ciência e tecnologia de forma adequada com o propósito de garantir a preservação do sistema produtivo agrícola e toda a sua cadeia. Para alcançar este objetivo é necessário avaliar fatores tecnológicos, sociais, econômicos, culturais e até cenários referentes à economia global, que cada vez mais tem influenciado as economias regionais. Não é possível pesquisar sustentabilidade na produção agrícola sem abordar aspectos educacionais, agronômicos, econômicos e sociais, além dos ambientais. O incremento da sustentabilidade, em muitos casos, é condicionado pela mudança de hábitos e adoção de tecnologias. São necessárias pesquisas, adaptações, modificação na logística da produção e distribuição, investigação de campo e, finalmente, a adoção de processos inovadores, de forma consciente e, principalmente, economicamente sustentável. Toda atividade produtiva deve ser custeada por si própria, com perigo de não se manter. A educação é o valor que deve ser resgatado na produção agrícola para que, por meio dela, os desafios de uma produção continuada e de qualidade, com máxima proteção ao ser humano e ao ambiente, sejam alcançados. Os desafios do desenvolvimento da agricultura no Brasil são, ao mesmo tempo, globais e locais. No aspecto global, a expectativa é que o aumento da demanda por alimentos no mundo crescerá e, caberá ao Brasil, à responsabilidade de suprir parte desta demanda, com preservação de seus solos, reservas florestais, água e outros recursos naturais. Dentro das fronteiras brasileiras, 15