Texto: Ferrarezi
Ilustrações: Dodô
Apresentação: Cristiane Carvalho
icionário
em
ducação
“Feliz o homem que encontra forças para rir de si
mesmo e o faz de coração aberto, pois, por esse riso,
poderá, talvez, alcançar purificação.”
presentação:
O
enfrentam
Dicionário
uma
sem
série
de
Educação
problemas
lança
no
um
seu
desafio
dia-a-dia
aos
em
docentes,
sala
de
que,
aula.
como
Este
sabemos,
desafio,
entre
outras coisas, é encarar o ensino com uma pitada de humor.
O
livro
foi
montado
a
partir
Ferrarezi
publicou
no
portal
de
recepção
foi
boa
que
vários
incentivo.
tão
Esta
é
uma
da
cultura
pequena
Artefato
leitores
prova
reunião
de
Cultural,
interagiram
de
que
verbetes
a
com
sobre
durante
três
sugestões,
combinação
educação
que
meses.
elogios
E
e
humor/internet
a
muito
pode
dar
certo para encarar coisas sérias e uma demonstração de como utilizar essas ferramentas.
A
partir
Dicionário
em
mas
frisar
para
da
aceitação
veículo
dos
impresso,
que,
no
dias
internautas,
não
de
só
para
hoje,
pensou-se
alcançar
existem
na
possibilidade
um
público
ferramentas
de
maior
importantes
transformar
e
o
diferenciado,
que
ajudam
na
transformação social como meios de Educação.
Dentre
charge.
Essas
absorção
do
essas
duas
ferramentas,
linguagens,
conhecimento
e
além
da
combinadas
proporcionam
internet
na
já
arte
alegria
citada,
de
a
estão
Ferrarezi
um
o
e
cotidiano
humor
escrito
Dodô,
escolar
auxiliam
e
a
na
historicamente
maltratado e triste.
Sendo
lançada
entre
em
alunos
assim,
solo
e
fértil,
esperamos
sem
professores
e
que
dúvida,
gerar
o
Dicionário
para
uma
fazer
corrente
sem
florescer
de
Educação
um
boas
seja
novo
notícias
a
primeira
modelo
no
semente
de
convivência
âmbito
educacional
do Brasil.
Cristiane Carvalho
ma nota do autor
Dizem
máscaras.
É
por
a
aí
que
os
mundialmente
gregos
conhecida
foram
os
“comédia
inventores
grega”.
da
Tenho
comédia
minhas
no
teatro
dúvidas,
mas
de
pode
ser... Os chineses faziam algo parecido bem antes, quando a Grécia ainda não era Grécia,
mas
um
monte
não
exige
máscaras
de
vilas
esparsas,
mas
isso
teste
de
pensão.
Então,
deixa
o
moda
grega
(será
que
à
instrumento
eficaz
para
fazer
povo
si
importa
DNA
tinha
o
não
pra
lá...
uvas-passas,
rir
de
si
muito
De
como
mesmo.
aqui.
toda
o
Pra
Afinal,
forma,
arroz
quê?
à
essa
a
comédia
grega?)
Pra
criança
fazer
de
era
um
pensar!
Pra
fazer mudar!
A
da
vontade
orgulho
doeu
no
no
orgulho;
rir
de
esconder
os
problemas
que
se
O
que
b.
meio
b.
de
rua
fica
a
que
em
isso.
da
começa
acho
disposição
processo
fazer
corpo;
isso,
Bocage
de
de
consegue
tombaço
Por
capacidade
tem,
de
ser
essas
“purificação”
já
e
os
si
capaz
superar
também
sujeito
bons
tenta
de
rir
si
só,
tem.
Só
uma
escorrega
na
casca
apenas
sem
das
iniciou.
Os
de
gregos
todos
está
falhas
de
ser,
sabiam
os
de
fantástico.
Denota
pessoa
descolada
de
é
creio,
e
de
seu
leva
um
chora,
se
xinga,
se
doeu
no
a
superar
forma
uma
Gil
e
de
a.
e
uma
libertação
reações:
disposto
disso.
tempos
banana
três
levantar
se
próprias
além
algo
uma
pressa,
falhas,
humoristas
por
desesperadamente
mesmo
mesmas
se
é,
geralmente,
bravo,
rir
mesmo
prova
Vicente
todas
de
as
as
dores.
demonstrar
de
que
também
nações,
o
sabia,
mesmo
que intuitivamente, de uma ou de outra buscaram essa purificação.
O
si
Dicionário
mesmo!
Foi
sem
ilustrado
Educação
por
um
foi
escrito
caricaturista
por
um
crítico
professor.
e
É
preocupado
um
com
riso
as
enorme
de
coisas
da
escola, até porque foi aluno nessa escola. É um riso enorme do outro, sobre a Educação,
mas
também
um
riso
enorme
de
si
mesmo!
Isso
foi
assim
construído
justamente
fazer o educador e o educando rirem de e pensarem em suas falhas e problemas.
4
pra
Para
desnudador
cada
gota
alcançar
e
cruel.
de
tinta
traduz
na
tentativa
menos
em
algumas
isso,
Mas,
o
texto
sempre
estão
aí
de
fazer
partes
por
do
é,
às
sincero.
uma
vezes,
E
nunca
razão
com
que
texto:
“Isso
que
o
discreto;
desprezível.
precisa
educador
aqui
tem
às
ser
e
a
o
vezes,
Cada
minha
cara!”.
ele
é
de
humor
e
essa
razão
se
tom
descoberta.
educando
porém,
E
possam
dizer,
Pobres
do
pelo
educador
e do educando que terminarem o livro dizendo: “Nada disso me diz respeito!”.
Espero
longo
das
acrescentar
dessa
que
esse
objetivo
seja
internéticas
dos
dos
verbetes
aqui
o
do
publicações
que
forma,
muitos
inéditos
para
leitor
alcançado.
textos,
creio
contidos
Portal.
Considerando
Da
não
que
os
isso
foram
mesma
e-mails
acontece.
publicados
forma,
na
que
recebi
Aliás,
é
Internet
nenhuma
das
ao
bom
e
são,
ilustrações
deu as caras por lá. Tudo é exclusivo do livro.
Bem...
e
–
Afinal,
quem
pra
depois
sabe
que
–
olhar
dessa
algum
o
prosa
choro.
nosso
toda,
desejo
Mas,
retrato
se
a
todos
sem
nenhuma
não
for
pra
uma
leitura
raiva
ver
e
onde
cheia
de
boas
risadas
impropérios,
por
favor...
temos
que
melhorar?
Se
for só pra passar raiva, melhor pegar ele e esconder no fundo da gaveta...
Ferrarezi
5
ma nota do ilustrador
6
oto da nossa Formatura (a gente conseguiu!)
7
A
lfabetização – 1. Segundo o Prof. Cristovam Buarque, o princípio do processo de
alforria de um brasileiro (que só ganha mesmo sua carta de alforria quando recebe
o diploma de nível superior, mas que nunca será alforriado, nem parcialmente, se
não souber ler e escrever). 2. “Má alfabetização” - Experiência traumática e danosa pela
qual passam alguns de nossos alunos e que define uma vida escolar inteira de insucesso
e infelicidade. 3. Em alguns sistemas educacionais, castigo aplicado ao professor que está
ingressando na carreira do magistério. Ex. pessoal (foi assim que eu comecei no
magistério...): “É novato? Então vai pra classe de alfabetização...”. 3. Uma coisa que todo
novo governo diz que vai oferecer a todos os brasileiros, mas que nunca oferece. 4.
Parte tão importante do processo educacional que deveria ser conduzido pelos melhores e
mais qualificados professores de um sistema educacional, os quais precisariam de concurso
público específico para alfabetizador e deveriam ganhar os melhores salários oferecidos a
professores nesse sistema.
A
luno – 1. O sujeito da própria educação. O sujeito que se não for sujeito da
própria educação deixará de ser aluno e não passará de uma marionete. 2. Sujeito
altamente privilegiado por que tem acesso à educação, embora muitas vezes não
reconheça esse privilégio. 3. Aquele que aprende. Nesse caso, está também incluído o
professor, que sempre é aluno no processo educacional.
A
mor – 1. Palavrinha muito difícil de definir... 2. Dizem que é o princípio de todo
processo educacional... Mas, não deveria ser também o princípio de todos os outros
tipos de relacionamento humano?... 3. Já ouvi dizer que é a principal característica
de um professor... Sei não... 4. Palavrinha muito desgastada, confundida com “sexo” (Ex.:
“O professor João anda fazendo amor com as alunas do 2º ano...”), com “dedicação” (Ex.:
Isso é que é amar a profissão: o João é sempre o primeiro a chegar e o último a
sair da escola.”), com “esforço pessoal” (Ex.: “O João sempre tenta oferecer o melhor de
si aos alunos.”), com “egocentrismo” (Ex.: “Eu me amo demais pra deixar um aluno falar
alto comigo.”) e até com “preguiça” (Ex.: “O João ama a 4ª série: vamos deixar ele lá
esse ano de novo, porque ele já tem pronto todo material do ano...”), entre muitas
8
outras conotações possíveis... fica até difícil saber qual dessas se encaixa melhor na
Educação... ou se nenhuma é adequada. 5. Um sentimento que todo mundo sabe que é
importante na Educação, mas que, ao que parece, ninguém sabe muito bem como.
A
nálise – 1. Análise é assim como que uma tara da Ciência, que a escola adota
sem contestação. É análise pra todo lado: análise morfológica, análise sintática,
análise química, análise filosófica, análise histórica, análise literária, análise de fezes,
análise da análise... tanta análise que eu acho que é por isso que quase todo cientista
e quase todo mundo na escola acaba tendo que fazer análise em algum psic...analista! 2.
Tentativa quase sempre malograda de descobrir como uma coisa é de verdade. Então,
como a gente não descobre de jeito nenhum como as coisas são, inventa uma teoria
que serve de base para uma nova análise e daí o objeto da análise fica exatamente do
tamanho e da forma que a gente imaginou que ele deveria ser analisado: está pronta a
análise! Nesse sentido, a análise é quase sempre um ato de criação.
A
postila – 1. Na maioria das escolas privadas de classe média e alta, o mesmo que
livro didático, só que muito mais caras, embora igualmente ruins. 2. Ainda nessas
escolas, argumento comumente usado pelo vendedor de matrículas para convencer os
pais da qualidade do ensino oferecido. 3. Na maioria das escolas públicas que não
receberam livros didáticos ou que não têm biblioteca, calhamaço de fotocópias ilegais de
pedaços
de
livros
que
compõem
um
pretenso
“material
didático”.
4.
Muuuuuuuito
raramente, algo que o próprio professor escreve para compartilhar com seus alunos como
referência para discussões escolares.
A
A
prender – 1. Ato de transformar-se. Tudo que se aprende transforma o homem. Tudo
o que se aprende, mesmo sendo mal é bom, desde que um dia se consiga
reconhecer o que é mal e o que é bom. O problema não está no que se
aprende, mas na consciência do que se aprende.
provação – 1. Para o aluno que conseguiu se adaptar ao jogo da escola, aprovação é
aquilo que ele já sabia desde o começo que iria acontecer no final do ano. 2.
Para o aluno que sempre se dá mal e que, por isso, tinha certeza que ia
reprovar mais uma vez, aprovação é quase como um orgasmo. 3. Para aqueles que
adotam o discurso politicamente correto da escola, aprovação é apenas “o resultado do
estudo e da dedicação” (ah! se fosse tão fácil assim!!). 4. Para os pais do aprovado,
aprovação é argumento para mostrar aos vizinhos como o filho é inteligente. 5. Para o
aluno que comprou o trabalho e colou na prova, aprovação é a confirmação incontestável
de que ele é mais esperto que o professor. 6. Para quem entende um pouco de
Educação, aprovação não é nada disso... mas, pensando bem, um pouco disso tudo ao
mesmo tempo... De qualquer forma, sem dúvida alguma, é algo que, nos moldes em que
subsiste hoje - e juntamente com a reprovação - deveria ser extirpado do processo
educacional de uma vez por todas.
9
A
ula – 1. Para grande parte dos alunos, sessão de tortura que dura entre 40 e 60
minutos, em média, dependendo do estabelecimento, e em que eles têm que
executar três tarefas essenciais: a. responder “presente”; b. manter-se calados (e se
possível acordados); c. responder a eventuais perguntas de forma ridícula ou não-ridícula,
dependendo do papel social exercido em sala pelo aluno argüido (“burro” ou “inteligente”,
respectivamente). 2. “dar aula” - para muitos professores, a única obrigação que lhes
compete na escola.
Observe-se que o verbo
“dar” utilizado em
detrimento de verbos
como “ministrar”,
“desenvolver”, “conduzir”
ou “coordenar”
provavelmente decorre
da sensação de
gratuidade advinda dos
baixos salários recebidos
pelos professores. 3.
Unidade comumente
utilizada para medir a
eficiência do trabalho
de um professor. Um
professor será tanto
melhor quanto mais
aulas “der” na escola,
permitindo a integralização da “carga horária” das matérias, independentemente de qualquer
parâmetro de qualidade. 4. Em muitos casos, entidade abstrata que aparece exclusivamente
nos registros e diários de classe, sem que efetivamente tenha ocorrido, no âmbito da
realidade, nada que se relacione a esse nome.
5. Em raros casos, experiência profunda,
marcante e plena de significado em que professor e aluno encontram respostas para as
questões que o mundo coloca diante deles. Nesse caso, falamos de aula bem-sucedida.
Aula
A
valiação – 1. Instrumento de coerção por meio do qual grande parte de professores
mantém a sala calada. Ex.: “Se vocês não ficarem quietos, vou aplicar um teste
agora!”. 2. Forma de intimidação comumente utilizada nas escolas para pretensamente
atestar a superioridade intelectual de certos professores. Neste caso, um tipo de instrumento
de auto-afirmação para o professor que não se impõe pelo caráter e pela competência
acadêmica. 3. Para a maioria dos alunos, o mesmo que pesadelo. 4. Espécie de agente
etiológico extremamente agressivo capaz de causar, em alguns alunos, amnésia temporária,
desarranjo intestinal, crises de choro, taquicardia, sensação aguda ou crônica de burrice,
crises de baixa auto-estima e até desmaios, entre outros males. Para se livrar desses
10
sintomas, é normal que os alunos recorram a “remédios” altamente tóxicos como a cola,
a compra de trabalhos “em pessoa” ou pela Internet e o suborno a professores e a
outros colegas. 5. Atividade em que, se o aluno não se der bem, não ganha bicicleta,
não viaja, não ganha computador, não ganha etc., mas corre o risco de ficar de castigo,
apanhar, ser humilhado diante da família e dos amigos, entre outras coisas desagradáveis,
embora comuns. 6. Mais raramente, experiência educacional significativa que permite ao
aluno
e
ao
professor
progredir
construtivamente
no
processo
de
construção
e
compartilhamento de saberes.
11
B
agunça – 1. Sintoma que se manifesta freqüentemente nos alunos que são obrigados a
assistir aulas chatas ou participar de experiências escolares não-significativas. 2. Mais
raramente, demonstração de falta de educação mesmo. 3. Ainda mais raramente,
reflexo de distúrbios sócio-emocionais ou biológicos. Nesse caso, o termo “bagunça” é
impróprio, embora comumente aplicado.
B
iblioteca – 1. Portal mágico da imaginação e do saber, capaz de conduzir uma pessoa
a qualquer lugar do universo e de si mesma por meio de um simples passeio
entre os corredores de estantes, pela escolha de um livro (objeto mágico de
inestimável valor) e pelo simples folhear de páginas, mesmo que amareladas. 2. Na
prática? Ah... na prática... Bem... na maioria das escolas públicas brasileiras, o que se
chama de biblioteca é uma sala de aula rudemente adaptada, que funciona como depósito
de livros didáticos não distribuídos ou devolvidos e de maquetes velhas feitas por alunos,
em que se coloca um professor em final de carreira ou um zelador com problemas de
coluna pra tomar conta, e em que os alunos não acham quase nada que valha a pena
se ler. Nesses termos, a biblioteca da escola é tudo, menos uma biblioteca. É, inclusive,
uma prova incontestável de que Educação, neste país, ainda é uma coisa que não foi
elevada ao patamar de prioridade e nunca foi assumida oficialmente como artigo de
necessidade básica.
B
ico – 1. Atividades de variados cunhos a que a maioria dos professores brasileiros tem
que recorrer caso queira sobreviver de forma minimamente digna.
12
B
iologia – 1. Segundo a filha da minha vizinha (que também é minha vizinha...):
“ficar o tempo todo falando de bactérias sem entender nada”. 2. Ainda segundo a
mesma filha da vizinha: “tentativa de imaginar de que tamanho é uma bactéria”.
3. Poderia ser uma ótima oportunidade escolar para compreender um pouco sobre a vida
neste planeta, sua importância e a necessidade de sua preservação, bem como sobre as
condições que a mantém, mas costuma mesmo ser uma imensa falação sobre bactérias...
sem entender nada. 4. Segundo um professor de Biologia amigo meu: O “estudo da vida”,
mas como, segundo a biologia darwinista que ele segue, a vida começou pelas bactérias...
e lá vêm as bactérias de novo...
B
oletim – 1.
Instrumento
legal
de
natureza
meramente
burocrática,
absolutamente
desnecessário, que se destina a rotular a mercadoria chamada “aluno”, como forma
de atestar a qualidade do processo educacional, sob a desculpa da necessidade de
prestar informações detalhadas sobre esse aluno em uma possível transferência para outra
instituição. Por isso, se o aluno tem um boletim todo azul, é porque a escola é boa e
13
o aluno aprendeu; se o aluno tem o boletim todo vermelho,
boa que o aluno – burro – não consegue acompanhar.
14
é
porque
a
escola
é
tão
C
antina – 1. Na maioria das escolas públicas brasileiras, oportunidade de negócio em
que a escola deposita sua esperança de arrumar algum dinheiro para, ao menos,
trocar as lâmpadas queimadas das salas. 2. Na maioria das boas escolas privadas
brasileiras, boa oportunidade de negócio pra melhorar os negócios. 3. Para uns poucos
alunos de escolas públicas que têm algum pra gastar com merenda, espaço alternativo que
proporciona uma alternativa não saudável – mas gostosa - à pretensamente saudável - mas
terrível - merenda escolar.
C
aráter – 1. Está para o professor como o alicerce para a casa. 2. Está para o
professor como a essência está para o mais precioso perfume. 3. Está para o
professor como o tempero está para a comida. 4. Está para o professor como a
âncora está para o navio. 5. O caráter do professor está para os alunos como o farol
junto aos rochedos está para o barco que navega em águas perigosas.
C
arteira escolar – 1. Tradicional instrumento de tortura minuciosamente planejado para
causar dores, desconforto e irritação, a curto prazo, e, a longo prazo, problemas de
postura, problemas ósseos e nevrálgicos. É aplicado nos alunos em longas sessões
diárias de, em média, 4 horas. Na maioria das escolas, substitui, a título de economia
de espaço e dinheiro, as eficientes “mesa e cadeira” independentes.
C
omputador – 1. Aparelhinho metido e terrivelmente sentimental (só faz o que ele
quer, quando ele quer e do jeito que ele quer, deixando quem depende dele,
quase sempre, doido...), que alguns profetas da modernidade pensaram que substituiria
o professor em poucos anos. Depois, descobriram que tinham que colocar um professor on
line do outro lado... 2. Símbolo maior da pós-modernidade e da globalização, pretende-se
que simbolize isso nas escolas também e assuma papel central na pós-modernidade
educacional. Mas, não tem dado muito certo essa tal de substituição... esses alunos
cabeçudos sempre querem ter um HUMANO junto deles, mesmo que seja um desses
15
humanos com hardware ultrapassado e softwares
chamar de “professor”. Por que será, né??
não
atualizados
que
os
meninos
costumam
C
onfiança – 1. Para o aluno, é a certeza de que o professor é o tipo de sujeito
que vale a pena. 2. Para o professor, é a certeza de que o próprio trabalho é o
tipo de trabalho que vale a pena. 3. Para ambos, é a certeza de que a
Educação é o tipo de coisa que mais vale a pena.
C
onhecimento – 1. É quando a informação passa a tomar parte da gente. 2. Também,
pode ser quando a gente mesmo cria a informação que, por isso mesmo, faz parte
da gente. 3. Ver sabedoria.
C
onteúdo – 1. O mesmo que “universo”, só que ministrado com o
não dar indigestão. 2. Tudo-e-qualquer-coisa que se possa aprender.
C
ooperação – 1. Atitude que determina o sucesso do processo educacional. 2. O mesmo
que “boa vontade”, como no verso bíblico “... e paz na Terra aos homens de
boa vontade”.
C
conta-gotas,
para
oragem – 1. Segundo o para-muitos-saudoso e ex-um-monte-de-coisa-do-Brasil Ulisses
Guimarães, coragem é a mais importante de todas as virtudes. O raciocínio é
simples: não adianta alguém ser um poço de virtudes, se não tem coragem para
botar essas virtudes todas pra funcionar. Como o mundo só aprecia as virtudes da
garganta pra fora, mas nos recônditos do coração as virtudes alheias incomodam os pouco
virtuosos (por acaso, a maioria absoluta da história), é preciso ter coragem pra exercer a
virtude na vida real. 2. Nesses termos, quanto melhor for um professor, mais corajoso
precisará ser pra que seus alunos possam usufruir de tudo o que ele tem a oferecer. 3.
Ainda no mesmo raciocínio, condição absolutamente necessária para a transformação de
nossa Educação em algo que mereça esse nome.
16
C
orrupção – 1. Vírus altamente destrutivo (e ainda sem cura conhecida?... Afinal, se
conhecem uma cura, por que não a aplicam??) que contamina grande parte da
comunidade escolar, desde o aluno que cola na prova até o professor que usa
sua “autoridade acadêmica” (entenda-se: “possibilidade de reprovar os alunos”) pra transar
com as adolescentes
bonitas da classe,
desde a merendeira
que leva pra casa os
ingredientes da
merenda, até o
secretário que some
com uma resma de
papel ou o diretor
que recebe propina
pra garantir vagas a
certos alunos ou
liberar diplomas e
certificados falsos, e
por aí vai. Todos
esses “pequenos” atos
de corrupção na
escola dão sustentação
a uma cultura de
corrupção no país,
cuja expressão máxima
aparece quase que
diariamente nos
telejornais nacionais
com as notícias sobre
o comportamento de
certos políticos e
servidores públicos, em
todas as instâncias de
governo – e paramos aí porque os telejornais não divulgam quanto cada notícia que eles
veiculam custou nem a quem custou... 2. O mesmo que burrice auto-destrutiva crônica,
também conhecida como “mal dos espertalhões.”
C
ultura – 1. Uma coisa que todo mundo tem, nem todo mundo sabe que tem, e
que muitas pessoas acreditam que a de alguns vale mais do que a de outros, o
que, certamente, não é uma verdade absoluta. Ex.: Certo professor universitário, em
missão de pesquisa pela Amazônia, estava sendo levado, por um jovem caboclo, de uma
margem para outra de um rio imenso, em uma rude canoa. A certa altura, o professor,
17
convencido da necessidade de mudar a visão de mundo do rapaz, inicia o seguinte
diálogo: - Você conhece o Museu do Louvre? - Não sinhô... – Pois perdeu metade de
sua vida... (algumas remadas adiante...) - Você já leu alguma obra de Dostoievsky ou
Machado de Assis? – Não sinhô... sei lê não sinhô... – Pois perdeu metade de sua
vida... (mais algumas remadas adiante...) – Você já ouviu – pelo menos! – falar da
Semana de Arte Moderna? – Não sinhô... nunca não sinhô... – Pois perdeu metade de
sua vida... (algumas remadas adiante, já bem no meio do rio) O caboclo, então, pergunta:
- Moço, o sinhô sabe nadá? – Não, meu jovem, eu não sei nadar. Por quê?... –
Entonce eu acho que o sinhô predeu sua vida intêêêêra, pruque a canoa tá fazeno água
e vai alagá agorinha... 2. O tipo de coisa que quanto mais a gente adquire, mais se
sente vazio dela, desenvolvendo em nós um sentimento profundo de humildade e pequenez,
que faz muito bem a todos os homens. Observação: Alertamos o leitor, para que não se
deixe
enganar:
existe
uma
pseudo-cultura,
modista
e
formada
por
meia
dúzia
de
informações-pré-fabricadas, que idiotas de plantão se põem a decorar pra ter o que dizer
em rodas de bar e festinhas bobas, e que têm o efeito contrário: torna as pessoas
arrogantes e enfadonhas.
C
urrículo – 1. Projeto em que se especifica detalhadamente o processo de construção
das novas gerações. Se não presta, como o adotado hoje no Brasil, as novas
gerações estarão comprometidas; se presta, as novas gerações e o planeta Terra
agradecem. 2. Documento que deveria ser construído pela escola juntamente com as
comunidades por ela atendidas, de forma democrática e descentralizada, adequado às
necessidades específicas de cada localidade, para somente então ser aplicado na construção
das novas gerações.
18
D
atashow – 1. Símbolo maior da pós-modernidade escolar, que se tornou figurinha
corrente nas pós-modernas aulas das melhores pós-modernas escolas e universidades
do país, em que professores up to date projetam (e lêem, apontando com aquele
pontinho vermelho da caneta laser) apresentações de PowerPoint que eles baixaram da
Internet, enquanto a galera da classe curte um som nos seus iPod´s, troca uns torpedos
pelo celular ou curte uma sleep session, já que a sala tem que ficar assim meio dark
pra gente enxergar alguma coisa. 2. Aparelinho caro pra caramba, sonho de consumo de
toda escola pública brasileira que, quando quebra, a escola não tem dinheiro pra
consertar... Daí ser muito comum a escola perguntar aos palestrantes que convida: “- O
senhor vai usar datashow, professor? Sabe o que é, a nossa escola tem um sim, mas
deu um probleminha na semana passada e até agora o técnico não veio ver...”
D
emagogia – 1. Crime doloso bastante comum no Brasil que consiste em intentar
contra a sanidade mental de outra pessoa, pretendendo “tirar seus pés do chão” e
fazer com que ela acredite na exeqüibilidade de coisas que, embora atrativas, são
absolutamente inexeqüíveis. Numa primeira fase, todo demagogo sabe o que está fazendo e,
portanto, tem consciência de estar mentindo; numa segunda fase, quando a demagogia se
torna doentia (há famosos casos nacionais, principalmente na classe política), o demagogo
começa a acreditar nas próprias mentiras, o que não o exime do dolo de seu crime. 2.
Num certo sentido, o mesmo que “promessa/discurso de político”, “conto da carochinha” ou
“conto do vigário”. 3. Em Educação, o mesmo que “nada vai mudar, logo, estamos todos
lascados e nosso país continua sem futuro.”.
D
icionário – 1. O primeiro portal virtual inventado pelos homens. 2. O pai do
hipertexto, em que cada verbete funciona como um link para um universo próprio
de conhecimento. 3. O verdadeiro pai dos inteligentes, que nunca foi pai de burro
algum – e que, se adotou algum burro, foi para torná-lo inteligente. 4. O mesmo que
“chaveiro de São Pedro”, abrindo aos mortais todas as portas daqui, de lá e de acolá.
19
D
inheiro – 1. Artigo de primeira necessidade que não traz a felicidade, segundo dizem.
Observe-se que ninguém – ninguém mesmo! - acredita nessa definição. No Brasil,
essa afirmação corresponde, em credibilidade, àquela de que “nem todo político é
corrupto”. 2. Elemento volátil e instável que desaparece da conta bancária do professor
toda vez que ele pensa em verificar o saldo. Assim, parece que a volatilidade e a
instabilidade do dinheiro estão, na verdade, telepaticamente ligadas à intenção do professor
em gastá-lo. Ao que parece, a solução é o professor não pensar em dinheiro... Se não
resolve o problema financeiro do professor, essa estratégia, pelo menos, diminuiria muito as
greves na Educação.
3. Aquilo que o professor pensa que recebeu no final do mês a
título de salário, mas que, quando ele vai conferir, o banco já seqüestrou tudo. Nesse
caso, a expressão “salário de professor” equivale à expressão “orelha de freira”: todo
mundo sabe que existe, mas ninguém jamais viu. 4. Forma de recompensa devida, e que
deveria ser justa, a todo trabalhador. Tal recompensa demonstra, na vida da sociedade, o
valor real que se dá a esse profissional. Isso fica muito claro, no Brasil, se compararmos
o dinheiro destinado a
jogadores de futebol, a
mulheres popozudas que
dançam funk na TV e a
professores.
D
iretoria – 1. Sala
misteriosa em que
acontecem coisas
que todo aluno quer
descobrir, mas ninguém
quer experimentar
pessoalmente. 2. Também,
sala misteriosa, com
poderes místicos malévolos
que transformam aquele
professor que era nosso
humilde amigo até ontem
num sujeito arrogante, que
esqueceu que é professor e
que, ao invés de defender
a escola e os interesses de seus pares, passa a defender intransigentemente os interesses
do santo sujeito que o nomeou. 3. Em certo sentido, o mesmo que tribunal escolar sem
20
júri. 4. Ir para a Diretoria - Ameaça que não amedronta mais a maioria dos alunos. 5.
Segundo uma funcionária de uma escola que conheci, local em que o Diretor ensinou
para a Supervisora (ou vice-versa) as artes do Kama Sutra, a portas fechadas e a título
de “reunião de planejamento institucional”.
D
isciplina – 1. Também chamada de “matéria”, é um pedacinho besta de conhecimento,
que serve mais pra fazer o aluno achar que o conhecimento é uma coisa
fragmentada e que cabe em gavetinhas do que pra facilitar o processo educacional.
2. Prova de que os pensadores do mundo têm algum distúrbio grave de personalidade:
primeiro, o conhecimento era “conhecimento” e tudo era uma coisa só; depois, resolveram
dividir tudo em pedacinhos bestas e surgiram as disciplinas. Aí cada um foi pro seu
canto e esqueceu do resto; agora, querem juntar tudo de novo e mostrar que todo
conhecimento
é
“conhecimento”
e
tudo
está
inter-relacionado...
e
surgiu
a
interdisciplinaridade... Vai ser indeciso assim lá na casa da vovó! Tô falando: isso é
distúrbio...
D
D
iversidade – 1. Princípio natural cuja negação determina o fracasso total do processo
educacional. 2. É a principal característica que se deve enxergar quando se olha
para a realidade. 3. O melhor remédio para a Síndrome dos Horizontes Estreitos.
ó – 1. Tom pelo qual a música da Educação nunca pode ser executada, seja um
dó maior, seja um menor, seja um médio, seja apenas um resquício de dó. 2. O
pior sentimento que um ser humano pode desenvolver em relação a outro: dó
humilha, impede o crescimento do outro, demonstra desrespeito da parte de quem sente
para com quem recebe e, no íntimo, é apenas uma demonstração tola de orgulho. 3. Dó
é uma das principais causa mortis do respeito.
D
outorado – 1. Curso ou grau de formação acadêmica que corresponde, no fundo, a
uma autorização pública pro sujeito dizer suas próprias besteiras, sem ter que ficar
repetindo as besteiras que os outros já disseram antes dele. A isso se chama de
“originalidade científica”. 2. Curso ou grau de formação acadêmica que, no Brasil, ao que
parece
e
s.m.j.
(cuidado
com
o
processo!),
muito
bacharel
em
Direito,
Medicina,
Odontologia e Engenharia, entre outros tantos bacharéis, acredita que tem. Daí muitos
advogados, médicos, dentistas ou engenheiros fazerem questão ser chamados de “Doutor”.
Ex.: Na comarca de uma das cidades em que morei, chegou uma vez um juiz que
fazia tanta questão de ser chamado de doutor, que exigia o tratamento por parte da
esposa! No primeiro Tribunal do Júri que ele presidiu, um advogado se dirigiu a ele: “Meretíssimo...” e ele cortou: “- Doutor Meretíssimo! O senhor deve me tratar assim,
doutor Advogado!”. O advogado, acostumado com o tratamento comum, deixou escapar outro
“Meretíssimo” solitário e veio a imediata reprimenda: “- É a última vez que o aviso,
21
doutor Advogado: Se não me tratar como Doutor Meretíssimo, mando prendê-lo por
desacato à minha pessoa!”. Pode?? Pode! No Brasil pode! Dizem que esse mal se chama
“juizite”, ou seja, “inflamação no juízo do juiz”. Outro ex.: Em outra cidade, conheci um
dedetizador de casas conhecido do povo como “Doutor Barata”: Esse sim merecia o título!
22
E
E
ducação – 1. O pão de cada dia. 2. Processo de transformação do ser-humano-e-só
em ser- humano-pleno. 3. O mínimo que uma geração deve legar à geração
posterior, sob a pena de estar cometendo, se não o fizer, um crime contra a
humanidade.
ducação Artística – 1. A mais previsível de todas as aulas da escola: “pegue uma folha
de papel e faça um desenho a sua escolha – e pinte bem bonito, viu!”. 2. Do
jeito que é desenvolvida na maioria das escolas, a maior perda do preciosíssimo
tempo
do
aluno,
quando,
na
verdade,
poderia
ser
uma
das
mais
significativas
e
transformadoras disciplinas escolares. 3. Quando é bem desenvolvida, o mesmo que “porta
mágica para o universo da estética, que abre os horizontes individuais e transforma a
vida com a incombatível força do belo em todas as artes.”
E
uma
é...
ducação Básica – 1. Nível de formação escolar composto por Educação Infantil, Ensino
Fundamental e Ensino Médio (Lei Federal nº 9394/96, Artigo 21, inciso I) com o
qual o governo brasileiro se contenta como sendo suficiente para a construção de
nação não-caudatária, igualitária e soberana, embora o mundo inteiro saiba que não
E
ducação Física – 1. Também chamada de “Física” (só fui entender a diferença no
Ensino Médio!), é uma tentativa quase sempre frustrada de proporcionar saúde física
aos alunos, seguindo aquela idéia de que mens sana in corpore sano. 2. Disciplina
quase sempre relegada a terceiro plano nas escolas públicas: o infeliz do professor, se
quiser material, tem que se virar, pedir no comércio, fazer vaquinha com os alunos. Mas,
na hora das olimpíadas escolares, a direção cobra desse tal professor a vitória do time da
escola... vai entender! 3. Disciplina que os alunos das escolas de classe média alta e alta
não precisam fazer, porque já fazem aula de tênis, de balé e de artes marciais. E que
os de escolas que atendem a classe baixa também não precisam, porque já treinam
correndo da polícia, praticando balé e malabarismos nos semáforos das grandes cidades,
empurrando carrinhos de papelão e sucata pelas ruas, perdendo os braços nas máquinas de
23
desfiar sisal no Norte,
e puxando enxada ou
é para todos!...
carregando sacos de carvão em carvoarias clandestinas por todo país
cortando cana nas áreas agrícolas do país. Afinal de contas: saúde
E
nciclopédia – 1. Conjunto de livros vermelhos (eventualmente azuis ou marrons) muito
bem encadernados, que servem para enfeitar a estante da sala. Observe-se que deve
haver um enorme cuidado na hora de retirar algum desses livros da estante
(quando, por exemplo, o pai quer mostrar ao vizinho que está investindo no futuro dos
filhos, mais exatamente, que está investindo 24 prestações de R$ 314,00) porque a capa
de um livro costuma grudar na capa dos outros ao lado e, quando não vem tudo junto,
se rasga aquela aba superior em que a gente enfia o dedo pra puxar o tal (geralmente
o Atlas do Corpo Humano, que é ricamente ilustrado...) da estante, danificando o
patrimônio enciclopédico. Aliás, esta é uma forma bastante precisa de verificar quantos
livros de uma enciclopédia já foram retirados da estante: basta contar quantos estão com
a aba superior rasgada.
E
E
nsinar – 1. O mesmo que aprender, só que de uma posição muito mais privilegiada.
nsino Fundamental – 1. Ensino que, pelo nome, deveria estabelecer os fundamentos da
formação educacional da criança, embora todo mundo saiba que esses fundamentos
são estabelecidos, na realidade, durante a educação infantil (dos 0 aos 6 anos), que
é grandemente desprezada no Brasil. Mas, de qualquer forma, como primeiro contado da
maioria das crianças brasileiras com a escola e como início, para essas crianças, do
processo formal de alfabetização, não deixa de ser uma fase crítica em que, o que se
acerta vai certo pelo resto da vida e o que se erra também tem grandes chances de ir
errado até o túmulo.
E
nsino Médio – 1. Ensino que, se fosse bom, não seria médio: seria “ensino ótimo”!
Aliás, no Brasil, quando o Ensino Médio for médio, será ótimo, porque hoje em
dia ele anda péssimo, muito longe de médio. Sabe comé, né: o fundamental não
fundamenta, no médio não dá pra fazer milagre... 2. Nível de ensino que, se fosse
ótimo, tornaria muitas pessoas realizadas como cidadãos e como profissionais, sem a
necessidade de cursar nível superior, mas que, como não é ótimo (nem médio...), acaba
mesmo é frustrando os alunos e servindo como uma excelente desculpa pra proliferação de
cursinhos preparatórios pro vestibular.
Sabe comé, né: vamos tentar aprender na “facu” o
que a gente não aprendeu no ensino péssimo...ops! médio...
24
E
nsino Superior – 1. Sonho de consumo de quase todo estudante brasileiro, na maioria
das vezes, destruído por uma monstruosidade chamada vestibular. 2. Deveria ser,
como o nome diz, SUPERIOR! Se assim fosse, seria um nível de ensino que
libertaria todo aluno de qualquer amarra mesquinha de pseudo-conhecimento ou preconceito.
Nesses termos, o ensino superior seria o mesmo que “ensino libertador”. Infelizmente, em
grande parte de nossas instituições públicas sucateadas e sem professores, é o mesmo que
desilusão e em muitas das instituições privadas, é apenas um tipo funesto de pagou-passou
meramente comercial. Só o futuro será capaz de mostrar a magnitude do erro que se
comete hoje no Brasil em relação ao ensino superior.
E
E
rudito – 1. Segundo Nietzsche, o sujeito que leu tantos livros dos
tanto as idéias alheias que esqueceu como é que se pensa.
erudito é um repetidor estéril. 2. Concordo com Nietzsche...
outros
Nesse
e absorveu
caso, todo
scola – 1. O mesmo que hospital. No Brasil, assim como os hospitais do corpo, às
vezes funciona,
às vezes não
serve pra nada, ou
ainda ajuda a piorar
a situação do
paciente. Deve-se notar,
porém, que, ao invés
de curar malária,
tuberculose e câncer,
a escola deveria curar:
a. Ignorância crônica e
aguda; b. Síndrome
dos Horizontes
Estreitos; c. Síndrome
da Desumanificação do
Homem; d. Síndrome
da Ausência de
Futuro; e. Mal do
Individualismo Pernicioso e; f. Mal de Ingenuidade, entre outras tantas bobices que atacam
a mente humana. Mas, porém, contudo, todavia e entretanto, nem sempre isso acontece...
Outro detalhe interessante sobre a escola é que, diferentemente dos hospitais do corpo, em
que se pressupõe que, pelo menos, os médicos e enfermeiros estejam saudáveis, na escola,
tem-se a certeza de que todos estão doentes e que, por isso, precisam construir juntos
uma cura.
25
E
sforço – 1. Parte essencial e insubstituível do processo educacional, por qualquer ângulo
que se olhe. 2. Ao contrário do que se pensa, esforço não é sinônimo de “coisa
ruim”. Ao contrário, existem coisas ótimas de se fazer que exigem muito esforço...
e a gente ainda pede pra repetir. 3. Lembrando um conceito matemático: se só o
esforço não garante a qualidade do processo educacional, por outro lado a falta de esforço
é, quase sempre, diretamente proporcional ao tamanho da porcaria que se pratica em
nome da Educação. E isso explica muita coisa que acontece por aí...
E
specialização – 1. Forma muito eficiente utilizada pelas instituições de nível superior
para ganhar dinheiro fácil e farto (o que implica complementar a renda dos
professores universitários) ao mesmo tempo em que fazem os alunos (espoliados por
mensalidades
elevadas)
acreditarem
que
estão
aprendendo
algo
realmente
novo
e
verdadeiramente significativo, o que não é o caso. 2. Se colocado nos termos de uma
metáfora da “hospitalidade”, é como oferecer arroz de tresantonte com feijão aguado pra
visita, quando em casa a gente tem um maravilhoso banquete completo escondido (quem
quer banquete, tem que partir pro mestrado ou pro doutorado...)
E
E
sperança – 1. Está para o professor como “a certeza de que a próxima respiração
trará ar” está para qualquer animal. Ou seja, a gente não pensa nisso: vive isso.
2. Para o aluno, o mesmo que sonho de vida.
studar – 1. Privilégio sem medida e sem qualquer possibilidade de valoração que,
talvez por ser tão precioso, se torna incompreensível e acaba sendo desprezado por
muitos. 2. Uma coisa que a gente deseja do fundo do coração antes de entrar na
escola, e que, alguns meses depois, já está odiando. 3. Espécie de castigo terrível imposto
a certas crianças devidamente estragadas pela escola: “Vai estudar menino!”. 4. Profissão de
quem ainda não tem profissão.
E
xecução (verbete fúnebre, dolorido e angustiado) – 1. Há alguns anos atrás, era apenas o ato
de fazer alguma das muitas coisas que há para fazer na escola, como executar
uma tarefa ou um atividade extraclasse. 2. Hoje, execução é levar, sumariamente e
por razão fútil, o outro a óbito. Ex. tristíssimo: Notícia veiculada em um telejornal de
alcance nacional aos 14 de agosto de 2008: “Três indivíduos armados e não identificados
invadiram hoje uma escola em Porto Velho e executaram um adolescente dentro do
refeitório. O motivo da execução ainda é desconhecido.”
26
F
alar direito – 1. Obrigação de todo bom aluno de todo bom professor de Português de
toda boa escola brasileira, embora não se explique bem o que “falar direito”
significa. 2. Coisa que muita gente acredita que será capaz de fazer assim que
terminar de ler a Gramática que o professor de Português recomendou. E ninguém avisa
essa gente que isso é mentira? E é das grossas! 3. Sonho de todo esquerdista
arrependido. 4. Em muitos casos, o mesmo que envergonhar-se de suas origens culturais e
marcas identitárias.
F
érias – 1. Tanto para a maioria dos professores quanto para a quase totalidade dos
alunos, a melhor época do ano. 2. Para muitos pais, a pior época do ano. 3.
Para mim, o período de férias deveria ser visto por todos como um período de
severo castigo a que os alunos são submetidos anualmente, sendo-lhes negado o contato
diário com a escola e com os professores. Mas, conhecendo as coisas como andam em
nossa Educação, acabo acolhendo a idéia de que é mesmo a melhor época do ano...
F
ilosofia – 1. Dizem que é a disciplina “amiga da sabedoria”... mas, que parece mais
a amiga da chatice, isso parece! 2. Dizem que, quando nasceu, era uma coisa
ligada à vida, uma coisa repleta de interesses legítimos e que transformava a visão
das pessoas, mas que, ao longo do tempo, evoluiu (ou involuiu?...) para uma discussão
absurda sobre coisas absurdas que acaba não prestando pra nada, salvo as raríssimas
exceções (de filósofos e de filosofias). 3. Segundo um conhecido meu, filósofo: “A Filosofia
enquanto ciência não foi ainda consolidada como ciência, mas está mais para uma teoria
do conhecimento.” Ah! Então tá, né... tão fácil e eu que nem tinha entendido o que é
Filosofia!... Burro eu...
27
F
ísica – 1. Negócio que dá mais certo no papel que na vida real. Ex. pessoal: Meu
professor de Física ensinou nossa classe que, se um automóvel sai do ponto A e
se dirige ao ponto B - a 200 km de distância, por exemplo - retornando depois
ao ponto A, o deslocamento é igual a zero. Perguntei a ele: - Se o deslocamento é
igual a zero, porque acabou a gasolina do tanque? Ele me respondeu: - O SEU problema
é SEU conceito de deslocamento. Pensei um pouco e supliquei: - Dá pro senhor ensinar
o SEU conceito de deslocamento pro carro do MEU pai? Por favor!... 2. Negócio que dá
mais certo nos supercomputadores do que na vida real. Ex.: Declaração de um engenheiro
da NASA logo após a explosão do ônibus espacial: “Todos os cálculos físicos estavam
corretos e foram conferidos em supercomputadores. Algo inesperado deve ter acontecido!”.
“Algo inesperado”? Não diga! É... os astronautas é que devem ter achado esse algo bem
inesperado...
28
29
G
eografia – 1. Segundo o filho de um amigo meu, a Geografia na escola é um
paradoxo (é claro que a criança não falou em “paradoxo”: eu é que estou falando
aqui). Ela explicou a coisa assim: “Como é que a matéria que tem o livro mais
legal, cheio de mapas e fotografias, e que fala do mundo inteiro, pode ser tão chata,
tio?! Eu não agüento mais decorar aquelas coisas que o professor de Geografia manda.”
2. E não é que o menino tem razão?...
G
iz – 1. Símbolo máximo
do atraso educacional e
da prática “aulista”
preponderante no Brasil. 2. A
pedra de giz é, na verdade, a
ponta disfarçada de um funil,
pela qual somente passam
algumas gotas de tudo o que
deveria fazer parte da educação
de uma criança. Nesse caso, o
professor é a boca do funil.
30
H
istória – 1. Meu professor de História do ensino médio repetia sempre (eu até
decorei!): “A História é o conhecimento do passado, para a compreensão do
presente e a construção do futuro.” Cara, que coisa linda! Fiquei até emocionado
de lembrar isso!... 2. ... ... ... Pensando melhor... pensando um pouco mais... por que ele
nunca fez isso com a gente? A gente tinha que se contentar em decorar um monte de
baboseiras... Eca!...
H
umor - 1. Capacidade de rir e de fazer rir daquilo que o homem faz, e nunca
daquilo que o homem é. 2. Elemento absolutamente necessário ao processo
educacional, tanto quanto a esperança, a cooperação e o conteúdo.
31
I
deal – 1. Espécie de coisa que um professor não vive sem. 2. Espécie de coisa que
um professor não vive sem, para que possa desenvolver nos alunos, que também não
podem viver sem. 3. Espécie de coisa que um professor não vive sem, para que
possa desenvolver nos alunos, que também não podem viver sem, para que a sociedade,
que também não deve viver sem, possa, então, ter um. 4. Espécie de coisa que um
professor não vive sem, para que possa desenvolver nos alunos, que também não podem
viver sem, para que a sociedade, que também não deve viver sem, possa ter um e o
mundo, enfim, possa ter esperança no futuro, coisa que não se constrói sem um bom
ideal. É só tudo isso.
I
gnorância – 1. Doença altamente contagiosa que acomete toda a humanidade, de uma
forma ou de outra. Não existe ser humano algum que não seja acometido por ela
de alguma forma, donde se dizer que “todo mundo é ignorante em relação a alguma
coisa”. O pior é que isso parece tão óbvio, mas tem gente que se recusa a aceitar.
São os chamados “sabe-tudo”. 2. Erradicação da ignorância: principal razão para a existência
da Educação, embora isso ainda esteja bem longe de acontecer... 3. Em termos genéricos,
o mesmo que “câncer da humanidade”.
4. Ainda de forma genérica, o mesmo que
“princípio de todos os males do início e até o fim”.
32
I
nformação – 1. É uma
coisa que não presta
pra nada se a gente
não sabe o que fazer com
ela, mas que tem um
monte de gente que insiste
em dizer que é a coisa
mais importante do mundo
hoje em dia. Besteira!
Como alguém pode achar
que ser bem informado é
mais importante do que ser
plenamente feliz? 2. Ver
sabedoria.
33
J
uramento – 1. Recurso muito utilizado pelos
que vão melhorar, vão estudar mais, vão
Recurso muito utilizado pelos professores
do mês a dívida será quitada. Quase nunca
professor fala no dia da formatura, mas que
muitos esqueçam ao longo da carreira.
alunos para convencer pais e professores de
conversar menos. Quase nunca funciona... 2.
pra convencer o cobrador de que no final
funciona... 3. Negócio muito bonito que todo
os problemas de cada dia fazem com que
J
uros – 1. Taxas descabidas e cruéis que os bancos e agiotas em geral impõem aos
professores só
porque o
pagamento daquela
pequena dívida demorou
um pouquinho pra
acontecer. Deveria haver
leis contra isso neste
país!!! E tenho dito! 2.
Pura crueldade financeira
a que os professores e
demais funcionários da
Educação são
submetidos. 3. Espécie
de tortura monetária. 4.
Algo que quando é o
banco que paga pra
você, tem que olhar
no microscópio e
quando é você que paga pro banco, tem que levar num caminhão...
34
L
aboratório – 1. Pelo nome, deveria ser um lugar onde todos trabalham em alguma
coisa, afinal, é um lugar de labor. Na prática, é o lugar onde um (geralmente o
professor) faz alguma coisa, de vez em quando, e os outros (geralmente os alunos)
ficam fazendo de conta que estão entendendo o que o um está fazendo. 2. Um teatro
místico caríssimo de se montar e muito mais caro ainda de se manter. Isso explica a
freqüência com que os vemos de portas fechadas e sua chave perdida na gaveta do
diretor da escola. 3. Sala mágica da escola (é o que se pensa...) em que daria pra
fazer muita coisa legal se não fosse... Aliás, já perceberam que sempre tem um “se-nãofosse” vinculado a um laboratório? Disso se conclui que além de pipetas, lunetas e outras
tretas, computadores e instrumentos de medição física, vidrinhos e coisas esquisitas aos
montões, enfim, seja lá de qual natureza for o tal laboratório, ele tem que contar obrigatoriamente! – com um “se-não-fosse”, que nem precisa assim ser de tão boa
qualidade... Isso pra NÃO funcionar direito, é claro!
L
egislação Educacional – 1. Conjunto de diplomas legais muito mais interessantes quando
são lidos do que quando comparados com a realidade educacional brasileira. 2.
Conjunto de escritos legais que funcionam apenas no papel. 3. Em muitos aspectos,
o mesmo que “contos de fadas”. Ex.: Artigo 67 da Lei Federal nº 9394/96, que trata da
valorização dos profissionais do magistério.
L
eitura – 1. O mesmo que viagem. 2. O mesmo que descoberta. 3. Um dos mais
profundos
prazeres
experimentados
pelo
ser
humano
em
todas
as
épocas.
4.
Experiência insubstituível e intransferível pela qual todo ser humano tem o direito
de passar. 5. Está para a mente como o alimento para o corpo.
L
ingerie, cosméticos e produtos naturais – 1. Artigos muito freqüentes nas salas de professores
das escolas brasileiras, vendidos pelos próprios professores e comprados – fiado, é
claro – pelos próprios professores e pelos demais funcionários da escola. 2. Tentativa
35
de fazer circular os parcos recursos existentes no ambiente escolar de maneira a que uma
mesma nota de R$ 20,00 consiga pagar várias contas diferentes em seqüência. Quando
isso acontece, é quase como brincar de “escravos de Jó” com uma nota de R$ 20,00. A
cantiga fica assim: “Escravos de Jó, mandaram te pagar! Ai que pena: lá vão meus
reais! Peguei daqui, já dei ali, nem deu pra esquentar! Só vou pagar, se el´me pagar,
depois vou chorar!” E repete o refrão: “Peguei daqui, já dei ali, nem deu pra esquentar!
Só vou pagar, se el´me pagar, depois vou chorar!”. Quem ficar com a nota quando a
cantiga acabar sai correndo da sala antes
3. O mesmo que “produto de bico”.
que
36
os
colegas
comecem
a
cantar
novamente...
L
íngua Portuguesa – 1. O estudo de uma língua (será que aquilo é uma língua?) que
todo professor de Língua Portuguesa diz que é a nossa, mas que a gente sabe
que nunca falou. Ex.: “- Atenção classe, para a justificativa do exercício de
colocação pronominal: Pegá-lo-emos, o pronome oblíquo do caso reto, que embora meio
torto ande por aqui anaforicamente deslocado, e colocá-lo-emos em mesóclise enclítica no
futuro do presente do pretérito composto gerundivo da terceira conjugação, que tem relação
direta com o núcleo conjuminado da oração subordinada adverbial final reduzida de
infinitivo proclítica ao pleonasmo vicioso da hipérbole da oração principal. Entenderam? Não?
Nem eu!” 2. Estudo dedicado à decoreba temporária de regras gramaticais que não
prestam pra nada... nada mesmo! 3. Uma das matérias mais detestadas da escola que,
assim como a Matemática, serve pra separar quem á CDF dos demais mortais comuns.
Ex.: “- A minha disciplina preferida é Língua Portuguesa!” E todo o resto da classe
resmunga: “CDF...”. 4. Uma disciplina que todo mundo diz que, do jeito que ela é hoje,
é muito importante, mas que ninguém até agora conseguiu provar por que nem como. 5.
Por outro lado, uma disciplina que se estudasse de verdade a língua que a gente fala e
os valores sociais relacionados a ela, que estudasse essa língua vinculada à vida, à
cultura, aos valores de nossa gente, poderia transformar pessoas, abrir horizontes, quebrar
preconceitos e, aí sim, ser muito útil.
L
iteratura – 1. Poderia, juntamente com o estudo das outras artes, ser o mais
prazeroso instrumento de aprendizagem e ampliação de horizontes à disposição da
escola, uma disciplina amada por todos os alunos e útil para a transformação das
realidades. Poderia... 2. Na prática, o mesmo que decorar nomes de autores, listas de
obras e datas, aprender a contar sílabas métricas de poesias que não se entende e odiar
as obras literárias (das quais se tem que fazer um resumo para o dia 23). 3. Segundo
um sobrinho meu, quando era adolescente: “Nem a fessora sabia por que a gente
estudava aqueles escritores, porque nem ela entendia o Machado do Alencar. Era tudo
enrolação...”. “Machado do Alencar”... durma-se com um barulho desses...
L
ivro – 1. A mais bela invenção do ser humano. 2. O retrato mais fiel da
humanidade. 3. O mais eficiente instrumento de educação jamais inventado, tanto
que é a forma escolhida por todas as religiões para eternizar os conhecimentos
sagrados. 4. Fechado, o mesmo que escuridão. 5. Aberto, o mesmo que luz (o que é
confirmado no verso bíblico “Lâmpada para os meus pés é a Tua Palavra e luz para o
meu caminho.”). 6. O mesmo que dádiva, pois todo livro é bom, mesmo que seja ruim,
uma vez que a eles se aplica o mesmo princípio básico de consciência que se aplica ao
conteúdo aprendido.
37
L
ivro didático – 1. Forma corrompida, imposta e meramente comercial de “livro”. 2. Para
alguns professores, o mesmo que muleta. 3. Para a maioria dos alunos, o mesmo
que prisão da mente. 4. Para a Educação, o mesmo que desperdício (de tempo,
dinheiro, criatividade, cooperação e esperança). 5. Para o futuro, o mesmo que veneno.
38
M
atemática – 1. Definição do meu filho: “É o bicho! Muito melhor do que
Português!”. 2. Minha definição: “Coisa mais chata do mundo! Extasiante é
estudar línguas!” 3. Pensando bem, acho que nossos conceitos de Matemática e
Português têm a ver como os nossos professores de Matemática e de Português... 4.
Conceito de um professor de Matemática que trabalhou comigo no ensino fundamental:
“Matemática
é
a
forma
de
organização
do
mundo,
uma
vez
que
o
mundo
é
matematicamente organizado.” Maravilha! Então, por que é que ele não ensinava isso na
escola? 5. Conceito de uma aluna de 12 anos com a qual conversei recentemente: “Não
sei, não senhor. Nunca entendi direito aqueles números todos... Só estudo pra passar
mesmo.”
M
atéria – 1. Aí depende... tem aula que diz que é uma treta que existe assim,
como os troço que a gente pega, como o lápis que tem matéria que é a
coisa de que o lápis é feito e porque, se não tem matéria, não existe,
entendeu? 2. Agora, nas outras aulas, matéria é as próprias aulas, entendeu? Exemplo: a
matéria do Português, da Matemática, da Geografia. E por isso a gente tem os cadernos
de várias matérias. 3. Agora, também pode ser a matéria nova que o professor passa na
aula. Aí tem a matéria nova da matéria do Português, entendeu? 4. E também tem a
matéria da prova, que não é uma matéria nova, mas que a gente também pode não
saber, entendeu? Isso é que é a matéria, entendeu?... - Sim, claro! Mais claro
impossível...
M
erenda – 1. Única razão realmente significativa para grande parte dos alunos
brasileiros de escolas públicas freqüentarem o ambiente escolar diariamente. 2.
Argumento bastante utilizado por grande parte dos políticos brasileiros para desviar
verbas públicas da educação. Ex.: Recentemente, vi documentos sobre o caso de um
prefeito que, para as 3 (isso mesmo: três!) escolas municipais de sua cidade, adquiriu de
39
uma única vez e
para uma entrega
única, 5 (isso mesmo:
cinco!) toneladas de
tomate para a
merenda escolar.
Coitadinhos dos alunos
entomatados! Imagine
o cardápio: tomate
cozido com salada de
tomate com suco de
tomate e doce de
tomate, todo dia e
por todo o ano...
Enquanto isso, nas
escolas, de verdade, se
servia leite com
achocolatado e bolacha
de água e sal para
os alunos.
M
estrado – 1. Meio termo entre a dúvida sobre a própria incompetência (que ocorre
na graduação) e a certeza absoluta da própria incompetência (que se concretiza
no doutorado).
Adendo importante: Apenas um pseudo-doutor absolutamente tomado por um tipo
tosco de orgulho ridículo pode, diante do universo do conhecimento, achar que já chegou
onde devia... tadinho dele! E o que dizer de um mestre que pensa que já chegou lá?...
Melhor não comentar...
40
N
ota – 1. Aquilo que você só
ganha porque merece e ainda
dizem que é a “sua cara”.
2. Nota vermelha: prova incontestável
da sua burrice. 3. Nota azul:
Bem... essa já não prova nada...
pode ser cola, compra de trabalho
ou até, em alguns casos,
inteligência... 4. Nota preta: o que
todo professor gostaria de ganhar no
final do mês. Se isso acontecesse eles juram! – dariam nota azul pra
todos os alunos, só pra distribuir
sua felicidade!
N
inguém - 1. Estranhamente – na verdade, muito estranhamente! – “ninguém” é a
condição em que os alunos são enquadrados em muitas escolas brasileiras: “condição
de ninguém” ou de “zé-ninguém”. Não cheira nem fede, não grita nem apita.
Mas, por outro lado, o diretor é “o cara”, o supervisor é “autoridade escolar”, o professor
é “alguém”. Até quando vai essa patuscada?
41
O
O
ntem – 1. Dia em que o aluno
pediu... mas hoje ele esqueceu...
sempre
mbro – 1. Para muitos e
muitos alunos de nossas
escolas, a parte mais
importante do corpo (e da alma)
do professor.
O
uvido – 1. Infelizmente, a
parte do corpo do aluno
mais valorizada em nossas
escolas. Freqüentemente, o ouvido
é mais valorizado que o cérebro.
O
stra – 1. Estágio final de
muitos professores que
passaram grande parte de
suas vidas tentando transformar a
educação brasileira, mas que,
depois de tanto apanhar e de
dar murro em ponta de faca,
desistiram.
42
lembra
de
trazer
o
trabalho
que
você
P
alestra – 1. Tipo de atividade que a gente chama alguém conhecido pra desenvolver
na escola, em uma “semana de alguma coisa” (mas tem mesmo que ser conhecido,
pra ser de graça...) sob a alegação de que isso vai melhorar a qualidade
educacional dos alunos. Poderia e, eventualmente, isso de melhorar até acontece,
mas, às
vezes, é um baita tiro que sai pela culatra, porque a gente nem imaginava como aquele
cara tão conhecido era tão ruim falando em público! 2. Nesses casos, palestra é o
mesmo que “decepção coletiva, perda de tempo e encheção de lingüiça”.
P
esquisa – 1. Uma das atividades mais naturais do ser humano, do mesmo nível que
respirar e soltar pum (só pra falar das atividades naturais relacionadas a elementos
etéreos...), mas que a academia fez o desfavor de transformar em um monstro
aterrador, ridículo e complicado. Explico: quando a criança nasce, ela imediatamente começa
a pesquisar: pesquisa cheiros, pesquisa o próprio corpo, pesquisa sabores e cores, faz suas
descobertas e assim vai “virando gente”. Pesquisar é a forma primordial de descobrir o
mundo. Mas, na academia não! Se é acadêmico, tem que ter complicação! Então
aparecem os projetos, as metodologias, os procedimentos e a pesquisa vira coisa de
cientista! Pior que isso só acreditando que a academia é que está certa!... 2. Algo que
é tão importante na vida, que nunca deveria ser proibido para nossos alunos. Infelizmente,
a tradição de transformar o aluno em um arquivo passivo do conhecimento alheio equivale
a uma proibição de fazer descobertas. 3. Pesquisa bibliográfica: ato de descobrir o que já
foi descoberto e repetir o que já foi dito. 4. Pesquisa de campo: a mais chique de
todas: dá a impressão de que a coisa é séria e, ao mesmo tempo, cheia de adrenalina...
Mas, muitas vezes, é só impressão mesmo... 5. Pesquisa por amostragem: ato de fé que
se baseia na idéia de que todos os indivíduos de um grupo são iguais. 6. Pesquisa
científica: nome esnobe para diferenciar as descobertas das pessoas comuns das descobertas
recompensadas com certificados e diplomas acadêmicos.
43
P
lanejamento – 1. Uma das maiores deficiências da educação brasileira em todos os
níveis, desde o sistema federal até cada um dos estabelecimentos escolares. 2. Algo
que, quando é feito no Brasil, é feito de forma independente e fragmentária, sem a
compactuação dos sistemas federal, estaduais e municipais, o que, no final, é o mesmo
que não ter feito nada. Ou seja, é algo que, no Brasil, quando se faz não se faz. 3.
Na dimensão meramente burocrática da escola, trata-se de um documento anual (também
chamado de “plano de curso”) que cada professor tem que entregar para cumprir uma
obrigação tosca junto à supervisão escolar (ou seja, ele não tem que planejar de verdade,
tem que entregar o plano, o que é bem diferente... e tosco...). Observe-se que, se o
mesmo professor for dar aula da mesma matéria para a mesma série, está valendo trocar
apenas a data e deixar todo resto igual ao do ano passado, mesmo que nada do que
está ali tenha sido cumprido naquele ano, no retrasado, no antepassado e por aí vai.
P
oder – 1. Oportunidade (isso mesmo: para os homens, o poder não é um estado
infinito, embora quase todo “poderoso” nunca tenha entendido isso! É uma mera
oportunidade transitória!) circundada de energias místicas e tenebrosas que faz com
que a maioria das pessoas perca o senso de realidade e a capacidade de auto-avaliação.
2. Poderia ser uma oportunidade de fazer o bem, mas como é difícil ver isso acontecer...
3. O mais íntimo, verdadeiro e acariciado sonho de consumo de quase todo mundo nesse
Mundo, embora quase todo mundo negue. É assim desde Eva, aquela do Paraíso: “- Se
você comer a fruta, vai ser igual a Deus...” E não é que ela comeu?! Sonho de
consumo!
P
reconceito – 1. Provavelmente, a mais funesta e deplorável manifestação da ignorância
humana. 2. Uma coisa que todo mundo que tem diz que não tem. 3. Uma coisa
que todo mundo que não tem, não precisa dizer nada, porque a gente já percebe
se a pessoa não tem pela maneira como a pessoa vive. 4. Uma coisa tão hedionda que
me deixa assim... sem palavras...
P
rimeiro dia de aula – 1. Pra muitos alunos e muitos professores, nada mais do que o
“maldito fim das férias”. 2. Pra maioria dos integrantes da comunidade escolar, dia
de colocar a fofoca em dia. 3. Pra uns poucos, o reinício da maravilhosa e
insubstituível jornada da educação escolar... Nesse caso, pensando bem e com toda essa
“poesia”, pra poucos mesmo...
P
rincípios – 1. Embora se chamem “princípios”, eles funcionam no começo, no meio e
no fim da história. Os princípios constituem um conjunto de regras de vida que só
prestam se a gente mesmo é que escolhe por quais vai se conduzir e que,
44
quando a gente realmente acredita nelas, vale a pena morrer por elas. Daí a frase: “Isto não está em negociação: é uma questão de princípios.” 2. Embora a gente tenha se
acostumado a ver os “princípios” apenas como coisas boas, tem gente que adota princípios
de vida bem estranhos, como “o dinheiro acima de tudo e de todos”, “o mundo é dos
espertos” ou “o que interessa é curtir a vida hoje, logo, dane-se o futuro.” Esses
princípios (tortuosos?), entre outros tantos que rolam por aí, têm custado muito caro à
humanidade. 3. Nem precisa dizer que bons princípios são fundamentais a esse sujeito que
a gente chama de professor, sob pena da desgraça própria e da dos alunos.
P
rofessor – 1. Aquele que professa uma
crença e que, se necessário, morre por
ela. 2. Sujeito constituído por três
dimensões (caráter, filosofia de vida e formação
técnica), cujo principal objetivo na vida é
aprender. 3. Sujeito absolutamente desprovido de
egoísmo que tem o hábito (muitas vezes
doentio) de compartilhar com os outros tudo-etudo o que aprende. 4. Sujeito cuja profissão
se confunde com a própria existência (um
professor nunca é um indivíduo, no “sentido
psicótico” da palavra). 5. No Brasil, sujeito
que tenta se realizar profissionalmente usando
como argumento a esperança de que a cruel
realidade que o cerca um dia vai mudar pela
Educação (e, assim, se esforça para acreditar
que ele mesmo está contribuindo para essa
mudança) e de que um dia ele será
novamente reconhecido como alguém realmente
importante para a humanidade. 6. Sujeito
altamente suscetível à Síndrome de Bournot
(em conseqüência da definição 5...).
P
vida
rojeto Pedagógico – 1. Deveria ser a “boa cara” da escola, na forma de um projeto
construído democrática e participativamente, pela escola e pela comunidade por ela
atendida, a fim de atender às demandas dessa comunidade, formando pessoas para a
e transformando as vidas das pessoas formadas e das que com ela se relacionem,
45
revisto e atualizado periodicamente em função das mudanças ocorridas nessa comunidade. 2.
Mas... (Caramba! Por que sempre tem que ter um “mas...” quando falamos em
educação?!!)
na
prática,
é
um
documento
formal
e
inconsistente,
para
meros
fins
burocráticos, elaborado por meia-dúzia de “iluminados” (quase sempre a chamada “equipe
técnica” da escola), iniciado às pressas e terminado um dia antes do último prazo
determinado pela Secretaria de Educação... e para todo o sempre amém!
P
rova – 1. Documento que não prova nada. 2. Instrumento sistematicamente idealizado
para não provar nada em relação ao aluno, ao mesmo tempo em que convence o
aluno e os pais do infeliz de que prova tudo. 3. Instrumento de tortura ou de
barganha minuciosamente planejado por alguns professores pra provar que os alunos não
aprenderam nada (como se o próprio professor não tivesse nada a ver com isso...). 4.
Poderia ser um instrumento de ensino que proporcionasse significativas experiências de
aprendizagem para os alunos. Poderia... 5. Documento que o aluno lê inteiro quando
recebe pela primeira vez e que lê apenas aquele numerinho vermelho que vem em cima
quando recebe pela segunda vez, antes de amassar e jogar no lixo. 6. Documento que,
quando o aluno recebe pela segunda vez, geralmente é saudado com as seguintes frases
(ou suas variantes mais explícitas...), isoladamente ou todas elas juntas: “-Me ferrei!!!”, “Meu pai vai me matar!!!” e “Esse professor filho da mãe!!!”.
46
Q
uadro negro – 1. Situação atual da educação brasileira. 2. Grande quadro colado na
parede da sala e pintado de preto em que o professor escreve as coisas que quer
que os alunos aprendam e em que os alunos escrevem os próprios nomes e/ou
palavrões na ausência do professor. Em sua evolução, o quadro negro ficou verde –
provavelmente de raiva – e, posteriormente, branco – talvez de susto.
Q
uímica – 1. Matéria em que,
depois que a gente aprendeu
o que era “reação”, vivia
torcendo para o professor explodir
alguma experiência dentro da sala...
e quem sabe, com sorte, ele
perder um braço ou ficar cego de
um olho na explosão... 2. O
mesmo que decorar a tabela
periódica dos elementos – “E com
todos aqueles numerinhos, viu!”.
47
R
ecreio – 1. Melhor hora de um período de aula, até porque é no horário do recreio
que a gente come! 2. Espaço de tempo compreendido entre duas sessões diárias de
tortura escolar. 3. Aquilo que você vai ficar sem, se não parar de bagunçar na
minha aula! (O que é uma prova incontestável de que o recreio é mais interessante do
que a aula. Se fosse o contrário, a ameaça seria: “Se não parar de bagunçar, mando
você para o recreio!”) 4. Hora de fazer cobrança na sala dos professores. Por isso, tem
alguns que só aparecem por lá no dia imediatamente seguinte ao do pagamento... e
alguns não aprecem nunca!
R
ecuperação – 1. O mesmo que desencargo de consciência da escola em relação aos
alunos de baixo aproveitamento. 2. Para muitos alunos e professores, o mesmo que
pesadelo de final de ano. 3. Na quase totalidade das vezes, uma forma de provar
que a escola fez o que podia, embora soubesse que o aluno não ia mesmo recuperar,
em uma semana, o que deixou de aprender em um semestre ou em um ano. 4.
Doloroso e humilhante período do ano escolar que seria absolutamente desnecessário se a
educação prestasse de verdade e cumprisse seus objetivos precípuos de atender a todos os
alunos em suas especificidades.
R
ecursos didáticos – 1. Um monte de coisas que deveriam servir pra ensinar, mas que
às vezes só servem pra mostrar como o professor é “dedicado”. 2. O mesmo que
“tudo”. Se “tudo” não serve para ensinar, como ensinar “tudo” às crianças? 3. A
diferença entre uma palmatória e um recurso didático está na forma como a palmatória é
usada: pelourinhos devem ser preservados para que o sangue que os marca nos ensine
sobre os horrores que eles presenciaram.
48
R
edação (escolar) – 1. A coisa mais importante pra quem quer passar no vestibular,
dizem... 2. Do jeito que é feita hoje, segundo o filósofo Pierre Bourdieu, um ato
de insanidade escolar (as razões, já as expliquei em outro canto...) 3. Uma coisa
que os alunos detestam fazer e os professores detestam corrigir: ou seja, deve mesmo ser
uma coisa detestável!... 4. Seria o mesmo que falar das minhas férias que eu não tive?
É, pode ser...
R
efeitório – 1. Para muitos alunos de escola pública, o mesmo que paraíso. 2. Para
quem não precisa da merenda, local que se visita de vez em quando pra ver se
“a gororoba de hoje dá pra comer”. 3. Para outros tantos, que certamente comem
bem em casa e que não compreendem a necessidade de oferecer alimentação na escola,
é a ante-sala do inferno, onde um monte de demônios se mela de comida, agindo como
um bando de porcos, comendo de boca aberta, fazendo barulho e babando... um nojo!
R
elatório – 1. Do professor pro diretor – registro inútil e mentiroso – e um saco de
fazer! -das coisas que deveriam ter acontecido na escola, mas não aconteceram por
um monte de razões... Mas quem é doido de escrever que não aconteceram e
sobrar pro diretor?... Afinal, a corda sempre quebra do lado mais fraco... 2. Do diretor
pra Secretaria de Educação – tentativa inútil e mentirosa de mostrar que a escola está
49
melhor do que ela realmente está, e isso justamente por causa do trabalho incansável do
diretor e do apoio incondicional da santa pessoa que o nomeou. 3. Do professor sobre o
aluno – Geralmente, retrato mais cruel do que precisaria ser, pintado sobre o aluno na
tentativa de apontar todos os erros dele para os responsáveis, acreditando que isso geraria
mudanças positivas. Bem, ninguém suporta que todos seus erros sejam apontados e nem
consegue modificar todos os seus erros de uma única vez. Nesse sentido, os relatórios são
instrumentos terrivelmente eficazes de destruição da imagem e da auto-estima dos alunos.
Seriam mais úteis se enfocassem um único problema de cada vez: um pequeno defeito
vencido na vida dá forças para vencer um mais grave, e assim até a perfeição.
R
eprovação – 1. Demonstração inequívoca de que o aluno é burro ou de que a
escola é muito superior ao que o aluno (que continua burro) consegue alcançar. 2.
Em certo sentido, demonstração inequívoca de que o sistema educacional brasileiro é
burro. 3. Um dos mais drásticos resultados de se transformar uma vida em um número
ou em um conceito escolar.
R
espeito – 1. Está para a relação ser humano vs. ser humano (e, por conseqüência,
para a relação professor vs. aluno) como a integração de funções está para a
relação entre o estômago, o fígado e o intestino. Ou seja, cada um sabe o seu
lugar e faz a sua parte da melhor forma possível, sabendo que, quando a integração
perfeita faltar, todos sofrerão.
R
etroprojetor – 1. Ex-símbolo maior da modernidade educacional, era o causador de uma
demanda insaciável dos professores por transparência. Aliás, foi justamente na época
do retroprojetor que mais se falou em transparência na Educação brasileira. Pena
que era o tipo de transparência que não mudava muito as coisas... Mas, pelo menos se
falava em transparência! Foi aí que inventaram o datashow, substituto impiedoso do
retroprojetor. Isso aconteceu provavelmente para que não sobrasse nenhum resquício de
transparência na Educação brasileira. 2. Um dia desses, perguntei lá na universidade se a
gente ainda tinha algum retroprojetor funcionando. Fui informado de que retro tinha, o
que não tinha mais era transparência. Concordei. Pura verdade!... 3. E continuamos na
mesma...
50
S
abedoria – (Observação preliminar: Se você veio parar aqui depois de ler os verbetes
conhecimento e informação fica tudo mais fácil. Se não, peço que vá lá e leia os
dois, e depois volte.) 1. Sabedoria é o terceiro estágio da informação, que era só
informação no começo e depois virou conhecimento e, finalmente, se tornou conhecimento
aplicado para o bem, que é a sabedoria. Fácil, né? É mais ou menos assim: você
coloca uma vaca na frente de um esplêndido piano de cauda e diz pra ela: “-Vaca, isto
é um piano de cauda, maravilhoso, afinadíssimo e pronto pra tocar as mais belas
melodias já criadas pelo homem!”. A vaca vira pra você e: “Muuuuu!!!!”. E a desgraçada
da vaca ainda começou a morder as teclas do piano! Sai daí, vaca maldita! Isso é
informação. Ninguém pode negar que a vaca está informada a respeito do piano... Estágio
1 terminado. Mas, se a vaca senta ao piano e executa a 3ª Sinfonia de Rachmaninoff,
bem... aí já é mostra de que a vaca entende das coisas. Ela pode até fazer um
comentário sobre a afinação do piano ou sobre a suavidade de acionamento das teclas.
Mas a única a tirar proveito disso é ela mesma. Isso é conhecimento. Conhecimento
transforma os seres, mas não ajuda ninguém além de quem o detém. Estágio 2
terminado. Mas, se a vaca olha pra você e diz: “- Poderíamos montar aqui, com esse
piano
e
o
que
eu
sei,
uma
escolinha
de
música
pros
animais
carentes,
fazer
apresentações pros bezerrinhos em situação de risco e tentar modificar essa sociedade
animalizada com o poder da arte.” E, efetivamente ela fizer isso, aí estamos diante de
um caso de sabedoria. Sábio é aquele que usa seu conhecimento pra tornar os outros
mais felizes e, assim, tornar-se também mais feliz. Estágio 3, que nunca termina, mas
sempre se multiplica, eternamente, até depois que o sábio morre.
S
ala de Informática – 1. Principal projeto de todo diretor que ainda não tem uma em
sua escola. 2. Salas de aula adaptadas, quase sempre inauguradas com “pompa e
circunstância”
e
depois
devidamente
fechadas
até
que
os
equipamentos
fiquem
obsoletos. Isso acontece por várias razões, dentre as quais são especialmente comuns: a.
falta de quem saiba usar e ensinar a lidar com os equipamentos; b. falta de dinheiro
51
pra manter a sala funcionando; c. falta de vontade de fazer a sala funcionar; d. burrice
crônica do diretor, que acha que aquilo ali é enfeite da escola e não quer que ninguém
mexa pra não quebrar os computadores. 3. O mesmo que “museu pessoal do diretor da
escola”. 4. Argumento pra mostrar que o diretor provocou uma revolução educacional com
seu “mandato” (e por isso deve ser reconduzido...). 5. Em certos municípios pequenos, o
Secretário Municipal de Educação constrói e inaugura pomposamente uma dessas em alguma
escola especialmente visível, isso pra mostrar como ele cuida da Educação. Depois, a sala
quase sempre segue o mesmo caminho histórico das outras: vira museu do diretor. 6. Pra
ficar mais chique, muitas vezes, a sala de informática é chamada de “laboratório de
informática.” Mas a história é a mesma...
S
ala de Vídeo – 1. Nos áureos tempos da TV Escola, quando a Internet não havia ainda
se tornado o must da Educação, as salas de vídeo eram o símbolo maior da
modernidade escolar no Brasil. Estávamos na era FHC. Toda escola ganhou um kit
tecnológico, composto por parabólica, TV e videocassete, e um montão de fitas e mais
fitas, virgens e desvirginadas, que deveriam ser assistidas por professores e alunos, além de
se sintonizar a TV Escola e sua gloriosa grade de programação. A sala de vídeo guardava
os equipamentos e as fitas, e deveria servir como um pequeno auditório pra utilização do
material. 2. Daí, na prática, o que aconteceu foi: as escolas fizeram um sacrifício danado
pra adaptar uma sala de aula, colocar um ar-condicionado e comprar um armário pra
guardar aquela fitaiada de dar medo. Algumas investiram em cortinas e pintaram as salas
de preto por dentro, pra dar aquele clima de cinema. Aí alguém tinha que tomar conta
do mausoléu, e sobrava sempre pra algum professor em fase de aposentadoria ou algum
funcionário com problema de saúde. As salas de vídeo ficavam fechadas a maior parte do
tempo e começaram a cheirar mofo. As fitas começaram a estragar. A parabólica
sintonizava tudo menos a TV Escola. As salas eram usadas como auditório pra tudo
menos pra assistir ao material que ali havia e raríssimos professores tiraram algum
proveito daquilo tudo. Hoje, está quase tudo abandonado. Em suma: tempo, dinheiro e
esforço jogados fora mais uma vez. Por quê? Porque no Brasil se faz tudo ao contrário,
goela abaixo, principalmente quando existe algum kit tecnológico pro governo comprar... 2.
Essa eu tenho que contar: visitando escolas ribeirinhas na Amazônia, conheci uma que
havia recebido um kit tecnológico do Governo Federal, mas que não era beneficiada com
energia elétrica... Estava tudo lá no canto da única sala, devidamente encaixotado, e o
professor procurando um focinho de porco pra ligar a TV. Será que ia funcionar?!
S
ala dos professores – 1. Quando existe, o mesmo que refúgio de professores na hora do
recreio. 2. Quando existe, importante setor comercial da escola em que os professores
vendem cosméticos, lingerie e produtos naturais, entre outras coisas, e em que,
eventualmente, a gente encontra um vendedor de livros ou assinaturas de revistas (daqueles
bem chatos, que pensam que estão vendendo pra executivos de multinacionais e não pra
52
professores brasileiros!). 3. Quando
escola; o primeiro é a Secretaria.
S
S
existe,
segundo
lugar
em
que
as
fofocas
ala-de-aula – 1. O mesmo que Planeta Terra. 2. Todo e qualquer lugar
consegue aprender alguma coisa. Se não for assim, o que se estará
será Educação, será aprisionamento.
correm
na
em que se
fazendo não
alário (do professor) – 1. Valor em dinheiro que o professor recebe, a título de justa
remuneração, pelo suor de seu rosto. Na verdade, ele sua o corpo inteiro, mas só
recebe o correspondente ao suor do rosto. 2. Piso salarial nacional – demonstração
inequívoca do governo brasileiro sobre importância dada aos professores. Explico: Quando o
tema é juiz, promotor, delegado, general, prefeito, governador, deputado ou senador, o que
se discute é “teto salarial”; quando o tema é professor o que se discute é a
“impossibilidade de implantação do piso salarial”... “Teto”... “piso”... “impossibilidade”... sacou
a “importância” atribuída ao professor?...
S
ecretaria – 1. Império da burocracia escolar. É quase uma “entidade transcendental” com
existência e regras próprias dentro da escola. O que acontece ali não pode ser
contestado por ninguém, nem mesmo pelo diretor, que não manda nada ali dentro.
2. Deveria ser apenas um local de registro burocrático mas, não é incomum que, na
prática – e eu já vi acontecendo! – funcione como ponto lucrativo de comércio ilegal de
vagas, de notas, de documentos que saem mais rapidamente ou que até não saem,
dependendo de “quanto sai por fora”, e por aí vai... Nesses casos, é quase uma sucursal
do Congresso Nacional dentro da escola. 3. Primeiro lugar onde corre uma fofoca na
escola. Por que será? Sinceramente, nunca entendi bem isso...
S
eminário – 1. Atividade que deveria ser realizada coletivamente buscando a socialização
do saber e o desenvolvimento dos alunos. Deveria... 2. Seminário de classe: maneira
interessante de colocar os alunos pra dar aula no lugar do professor, sob a
justificativa de socializar o saber e desenvolver os alunos (e é bom porque não tem que
corrigir prova...). 3. Não sejamos excessivamente ácidos... às vezes até funciona...
S
upervisão – 1.
Setor
técnico
da
escola
que,
geralmente,
exerce
as
seguintes
importantíssimas e insubstituíveis funções do cotidiano escolar: a. cobrar e assinar os
planos de aula dos professores, mesmo que eles não sejam cumpridos; b. vistoriar
diários pra ver se estão corretamente preenchidos, mesmo que as aulas não tenham sido
ministradas; c. idealizar festinhas e outros eventos inúteis (que os professores realizarão a
título de “colaboração com os projetos da escola”...); d. brigar com e encher o saco dos
53
professores para provar autoridade; e. fazer fofoca dos professores ao diretor da escola; f.
no caso específico do supervisor, pedir pra sair mais cedo, porque tem que levar o filho
ao médico (Êta menino que só vive doente!... Será que existe no mundo algum menino
que fique mais doente do que o filho do supervisor??). 2. E só de pensar que podia
ser tão diferente, tão útil, tão relevante...
S
uspensão – 1. Para quem realmente a merece, é uma saborosa bonificação ofertada pela
Direção da escola. 2. Forma de extensão do período de férias para quem não quer
nada com a hora do Brasil. 3. Muitíssimo rarissimamente, uma forma de corrigir o
comportamento inadequado de um aluno. Quando essa correção acontece, certamente ela
seria possível sem a suspensão, pois se trata de um aluno sensível à disciplina escolar.
54
T
arefa de casa – 1. Para a maioria dos alunos, o mesmo que castigo. Ex.: O professor
anuncia: “- Hoje não tem tarefa de casa.” E a classe responde: “- OBA!!!!
UHHUUUU!!”. 2. Para a maioria dos professores, uma tentativa de compensação da
absoluta impossibilidade de fazer um trabalho que preste com o tempo ridículo que um
sistema que adota uma jornada de 4 horas diárias de estudo lhe concede para ensinar.
3. Tentativa desesperada e quase sempre frustrada de fazer com que os alunos aprendam
um pouquinho mais.
T
emas Transversais – 1. Um monte de coisas importantíssimas – na verdade, parece que
são as coisas mais importantes que a escola tem pra ensinar – e que deveriam
ser ditas a todo o tempo em todas as disciplinas, mas que “nunca dá tempo” pra
tratar e que, por isso, acabam quase sempre sendo totalmente esquecidas. E nossos alunos
continuam na análise sintática, na tabela periódica dos elementos, nas equações de segundo
grau...
T
este – 1. Miniatura de prova (ver prova). 2. Provinha que o professor consegue
elaborar de supetão, sem planejar, o que prova que ele é bom, e os alunos,
como não conseguem responder de supetão, não sabem nada.
T
rabalho (escolar) – 1. Atividade desenvolvida por alguém – que inclusive pode, até e
eventualmente, ser o aluno – no intuito de complementar a aprendizagem restrita
do cotidiano escolar, mas que quase nunca consegue isso. 2. Forma usada por
muitos alunos pra demonstrar pro professor que são sabidos e caprichosos, mesmo que isso
custe muito caro (tem gente que cobra caro pra fazer um trabalho escolar... Nesse
sentido, trabalho escolar é o mesmo que “oportunidade de mercado”). 3. Em certas
situações, documento comprobatório de que o aluno não quer nada com nada. 4. Aquela
55
coisa que o aluno fez com tanto esforço e tanto zelo, mas que esqueceu em casa
justamente hoje, embora tenha trazido na mochila por toda a semana e então... com
uma tremenda cara de choro e piedade...: “- Posso entregar amanhã, professor? Juro que
está feito!”
T
rabalho em grupo – 1. Forma de trabalho escolar em que, quase invariavelmente, dois
trabalham, o resto mama e todos ganham nota. 2. Eficiente fórmula matemática que
os professores desenvolveram que resulta em expressiva diminuição do número de
trabalhos que eles tinham que levar pra casa para corrigir. 3. Forma de trabalho escolar
que, sob a justificativa da socialização do conhecimento e do desenvolvimento de traços de
cooperação, no fundo e quase sempre incita um profundo e funesto tipo de individualismo
tolo, inclusive no nível universitário. Ex.: O professor estabelece: “- O trabalho de vocês é
a apresentação do capítulo 4 do livro, no dia 27.” Os alunos se reúnem depois das
aulas e o mais despachado do grupo determina: “- Você lê as páginas 34 e 35, eu 36
e 37, tu 38 e 39 e ela 40 e 41. Cada um fala sua parte na apresentação. Beleza!”
E no tal dia 27: “- Olha, professor, a menina que ia apresentar essa parte faltou. É
problema dela. Não é justo o senhor tirar nota da gente só por causa dela... né?...”
56
U
HUUUU!!! – 1. Expressão muito ouvida na escola nas seguintes ocasiões, entre outras:
a. o aluno conseguiu, finalmente, tirar uma nota boa; b. o aluno descobriu que
conseguiu passar de ano em Matemática e Português; c. chegaram as férias; d.
amanhã é feriado; e. o professor ficou doente e a escola não arrumou substituto.
U
rgente – 1. Tudo aquilo que chega nas mãos
do professor pra fazer, principalmente se é
ordem da Secretaria de Educação ou algum
projeto da escola. 2. O mesmo que “pra ontem e
não tem conversa”.
U
rticária – 1. Manifestação muito comum em
professores brasileiros quando vai terminando o
domingo e eles lembram que amanhã têm
que dar aula de novo. 2. Também costuma ocorrer
quando chega o contracheque ou holerite e o
professor abre pra ver quanto vai ganhar naquele
mês.
57
V
ergonha – 1. Sentimento altamente educativo que as pessoas de gerações passadas
costumavam sentir quando pegas praticando ou tendo praticado alguma atitude errada,
mas que, pelo menos no Brasil, definitivamente está saindo de moda. 2. Em
Educação, sentimento altamente educativo que se manifestava a cada falha de um aluno
ou de um professor quando do descumprimento de qualquer de seus deveres éticos,
estudantis ou
profissionais e que,
também,
infelizmente, está
saindo de moda
(ou já saiu e eu
ainda estou cheio
de esperança?...)
V
iolência (verbete
dolorido e
angustiado) – 1.
Tipo de coisa que
uma boa educação
deveria fazer sumir
da face da Terra.
Mas, como não
temos uma boa
educação, é o tipo
de coisa que está fazendo a boa educação sumir da face da Terra. 2. A relação entre
a violência e a educação é mais ou menos como a da coruja e da águia na fábula:
quem encontrar primeiro o filhote da outra o devora. 3. Algo que acontecia de vez em
quando dentro da escola e chocava todo mundo; aí foi se tornando cada vez mais e
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mais comum; e aí a gente se acostumou com ela! Pode haver maior grau de decadência
educacional? Nesses termos, a violência na escola é o próprio retrato do inferno que o
futuro nos reserva.
V
ivência – 1. Como o próprio nome sugere, aquilo que resulta de cada segundo da
existência de um ser vivo. No caso dos seres humanos, cuja consciência permite
avaliar as vivências, toda vivência é boa, mesmo sendo ruim. 2. O mesmo que
oportunidade de aprendizagem. 3. O mesmo que oportunidade de fazer a escolha certa e
promover o bem.
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X
X
da questão – 1. O que todo mundo na escola passa a vida inteira procurando, mas
ninguém nunca achou. 2. Ou achou? Bem, se alguém achou, por que todo mundo
continua procurando?...
iiii... – 1. Expressão freqüentemente ouvida na sala assim que o professor entrega a
prova, tanto a que deve ser resolvida, quanto a que já foi corrigida. 2.
Manifestação comum na sala dos professores assim que os contracheques ou holerites
são entregues a cada mês. 3. Forma comumente ouvida nas escolas como expressão do
sentimento geral em relação às novas idéias do novo diretor que quer, a todo custo,
revolucionar o estabelecimento educacional.
ixi – 1. Aquilo que sempre dá vontade de fazer na
aula do professor mais bravo, justamente aquele
que não deixa a gente sair da sala pra ir no
banheiro. 2. Palavra feia que os alunos pequenos
gostam de cochichar apenas no ouvido do professor, pra
ninguém descobrir o que eles vão fazer lá fora... Se for
cocô, então...
X
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Z
ebra – 1. Ocorrência inesperada do tipo: a. o salário do professor não vai sair na
data prevista; b. e não é que o pior aluno da sala se deu bem na prova?
Mardito! Assim vai passar de ano!!; c. O diretor entrou na sala dos professores
justamente
quando
a
gente
estava
falando
mal
dele...;
d.
o
governo
aceitou
as
reivindicações dos professores em greve logo na primeira semana de paralisação e a greve
já acabou!! Pois é...
Z
zzzzzz.... – 1. Som freqüentemente ouvido
nas aulas chatas. 2. Também é muito
comum nas palestras chatas, nos
seminários chatos, nas preleções chatas, nos
discursos de formatura chatos, nas defesas de
dissertação e de tese chatas, enfim,
“zzzzzzzzz...” é um som que tem a ver
diretamente com a chatice!.
Z
isperado – 1. É como o professor fica a maior parte do tempo, seja por conta do
baixo salário, seja por conta das péssimas condições de trabalho, seja por conta do
descaso dos pais para com a educação das crianças, seja por conta da falta de
esperança em mudanças substanciais em nossa educação... ou seja, tem que ser sempre
por causa de um “seja por conta”...
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