Viagens na Minha Terra (1846) Almeida Garrett (1799 – 1854) I. Biografia João Batista da Silva Leitão (1799, Porto – 1854, Lisboa), apelidado de Almeida Garrett, do nome de uma ascendente paterna, de remota origem irlandesa, que viera para Portugal no séquito de uma princesa. Com a invasão francesa (1808), retira-se para as terras da ilha Terceira, onde o pai era proprietário. Em 1816, Universidade de Coimbra, no curso de Direito. Nesta época (1819), seu principal modelo literário era Filinto Elísio (Pe. Francisco Manuel do Nascimento). A universidade, em que predominam os filhos da burguesia, é atingida pelo liberalismo europeu. Em 1817, escreve O Campo de Santana, sobre o enforcamento de Gomes Freire de Andrade. Participa da Revolução Liberal de 1820. Surgem as tragédias filosóficas: Lucrécia e Mérope, contra os tiranos. Em 1821, é processado pela publicação dO Retrato de Vênus, considerada materialista, ateia e imoral. Em 09 de junho de 1823 ocorre a “Vilafrancada”, golpe de Estado que abole a Constituição de 1822. Foge para a Inglaterra. Casa-se com Luísa Midosi, de 15 anos. Emprega-se como correspondente comercial numa filial da Casa Lafitte, no Havre. Em 1824, já na França, escreve Camões (1825) e Dona Branca (1826) obras iniciadoras do Romantismo português. Dona Branca surge em 1826. Declara pela primeira vez “não olhar as regras nem os princípios, não ser clássico nem romântico”. Regressa para Portugal em 1826 (morte de D. João VI e outorga da Carta Constitucional por D. Pedro IV). Participa da política. A contrarrevolução absolutista estava em marcha. Em maio de 1828, D. Miguel restaura o antigo regime. Garrett vai de novo para o exílio inglês. Juntamente com Alexandre Herculano participa da expedição vitoriosa de D. Pedro IV (1832/3). No regresso a Lisboa foi nomeado secretário de uma 2 comissão encarregada de propor um plano geral de educação e ensino público. Volta à diplomacia como cônsul-geral em Bruxelas. Revolução de Setembro. Garrett participa das reformas culturais: foi ele quem propôs a edificação do Teatro Nacional de D. Maria II e a criação do Conservatório de Arte Dramática. Eleito deputado à Assembleia Constituinte de 1838. Entretanto, em 1841, novo triunfo da contrarrevolução. Oposição de Garrett à ditadura de Costa Cabral. “É esta a época mais fecunda e original da sua carreira literária, também a de mais intensa vida passional” (D. Adelaide Pastor e Rosa Montúfar Infante, a Viscondessa da Luz, inspiradora do livro Folhas Caídas). Em 1851, ocorre a Regeneração, coligação de setembristas e cartistas moderados. Garrett volta para a vida pública e é nomeado Visconde, Par do Reino (1851). Em 1853, incompatibilizado com o novo governo regenerador volta para o seu refúgio literário. II. Características da obra Viagens na Minha Terra foi publicado originalmente em folhetins na Revista Universal Lisbonense entre 1845 e 1846, sendo os seus 49 capítulos editados em livro apenas em 1846. Tida como obra ímpar no Romantismo português por sua estrutura e linguagem inovadoras. O livro é produto de uma viagem realmente feita por Garrett, de Lisboa a Santarém, em 1843, a convite do político liberal Passos Manuel. O Estilo Digressivo de Garrett pressupõe o desvio e retardamento do assunto. Ele parece não estar preocupado em contar uma história, pois está sempre desviando ou suspendendo a narrativa. Os assuntos são variados e concatenados de uma forma livre. Essa estrutura “anárquica” está presente na obra do inglês Laurence Sterne e do autor de Viagem em Volta do meu Quarto, o francês Xavier de Maistre. Aqui, no Brasil, somente em 1881, com Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. 3 O livro contém três histórias: a dos amores de Carlos e Joaninha (o narrador fica sabendo da história através do relato de um amigo. O desfecho, por intermédio de Frei Dinis e da carta de Carlos a Joaninha); a da viagem do autor e a da Guerra Civil travada entre o nosso D. Pedro I (D. Pedro IV, em Portugal) e seu irmão, D. Miguel, entre 1830 e 1834. O primeiro, representando a burguesia liberal (constitucionalistas) e o segundo, os conservadores (realistas). Essa oposição também se faz presente no antagonismo entre frades (Portugal Antigo) X barões, o capitalismo moderno e sem escrúpulos. O materialismo (Sancho Pança) e o idealismo (Dom Quixote). Enfim, entre Carlos e D. Dinis. Essa estrutura digressiva também afeta o foco narrativo. Em suas considerações usa-se o foco em primeira pessoa; na história amorosa e nas cenas da guerra civil, o foco em terceira pessoa. III. Resumo dos Capítulos Capítulo I Citação de Xavier de Maistre, autor de Viagem ao Redor do meu Quarto, romance digressivo que serviu de modelo a Garrett, escrito em 1794. No entanto, a paisagem e a beleza da sua terra impediram Garrett de ficar preso em seu quarto. O autor confessa que pretende contar tudo sobre a sua viagem até Santarém. Parte em 17 de julho de 1843. Embarca, com outros companheiros, numa “carroça do ancien régime”, comandada pelo capitão Sr. C. da T. Entram numa “regata de vapores”. Descreve Vila Franca e divaga sobre o charuto e Lord Byron. Presencia a discussão de 12 homens. Cinco são de Alhandra (homens do sul), camponeses e toureiros. Os demais, de Ìlhavo (homens do norte), agricultores e navegadores. Para vencer a discussão, um dos ílhavos pergunta: quem é mais forte: o touro ou o mar? Capítulo II Metalinguagem: o autor comenta a própria obra afirmando que ela será um sucesso. Disserta sobre a tendência espiritualista (D. Quixote) e a materialista (Sancho Pança), comparando-as com o progresso da humanidade (sempre andam juntas). Chegam em Vila Nova da Rainha e dirigem-se para Azambuja. O companheiro de vapor Sr. L. S. convida-o a viajar em sua carroça. Questiona o filósofo Jeremias Benthan. Reclama das estradas da região. Chama o rio Vouga de “Nilo Português”. Assusta-se 4 com a feiura da mulher que o recepciona, no hotel. “Cai-me a pena da mão”. Capítulo III Conversa com o leitor e caracterização do Romantismo. Crítica à burguesia: “... cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis”. Reflexões sobre a literatura. Descrição da estalagem e da “bruxa”. Partem para o pinhal de Azambuja. Capítulo IV Sobre a modéstia e a inocência. Confessa que nunca larga a obra do filósofo Addison. A beleza da mulher está na modéstia. Aconselha o leitor a saltar de capítulo. Capítulo V Desilude-se com o pinhal de Azambuja. Explica ao leitor a falsidade dos livros românticos portugueses, baseados nas obras francesas. Daí para diante, até Santarém, vai de mulinha. Relembra o velho amigo Marquês do F. Capítulo VI Elogios e críticas aos Os Lusíadas. Superioridade do Romantismo sobre as obras clássicas. Sobre Dante Alighieri (A Divina Comédia). Sobre o Marquês de Pombal. CapítuloVII Sobre as belezas da França e a delícia de um sorvete no verão. Chega à cidade de Cartaxo. Elogio ao seu café. Crítica aos lisboetas que não viajam. Conversa com o dono do estabelecimento sobre o alfageme (barbeiro ou fabricante de espadas) da cidade. Visitam o amigo D. Passeio pela cidade. Sobre os ingleses, o vinho do Porto, da Madeira e do Cartaxo. 5 Capítulo VIII Continuam a viagem, a cavalo e mula. Descrição da beleza da paisagem e da charneca entre Cartaxo e Santarém. Por ali passara o imperador D. Pedro em sua última revista ao exército liberal, depois da batalha de Almoster (18 de fevereiro de 1834). “Toda guerra civil é triste. E é difícil dizer para quem mais triste, se para o vencedor ou para o vencido”, exclama o narrador. Chegam à ponte da Asseca. Capítulo IX Há cinquenta ou sessenta anos vivia ali um dramaturgo mediano chamado Ênio – Manuel de Figueiredo (1725 – 1801). Comentários sobre algumas de suas peças teatrais. Admira o título da peça Poeta em Anos de Prosa, comentando que deveria haver livros sem títulos ou títulos sem livro. Com ironia fala de três poetas modernos: Napoleão, Sílvio Pélico e o barão de Rothschild. “O primeiro fez a sua Ilíada com a espada, o segundo com a paciência, o último com o dinheiro”. Em Asseca, o general Junot foi ferido no rosto. Episódio da infância, quando castigado pelo pai ao comprar um retrato de Napoleão Bonaparte. Esse foi o seu primeiro pecado político que, com o tempo e sua militância liberal, trouxeram perseguição e exílio na França. Admiração pela Madame de Abrantes. Metalinguagem e conversa com o leitor que ficou parado no meio da ponte da Asseca. Chegam ao maravilhoso Vale de Santarém. Capítulo X Descrição das belezas do Vale de Santarém. Encanta-se com uma casa na clareira das árvores. Da janela meio aberta canta um rouxinol. Um companheiro de viagem diz-lhe que ali habitava uma moça de olhos verdes, a menina dos rouxinóis. Apeiam e escutam a história da “janela dos rouxinóis”. 6 Capítulo XI Apologia do amor. Começa a contar a história ouvida. “Era no ano de 1832...”. Descrição de uma velha cega com mais de 70 anos (D. Francisca). Trabalhava numa fiandeira. Chama sua netinha Joaninha. CapítuloXII Aparece a netinha, ajuda a vovó e vão merendar. Descrição de Joaninha, 16 anos. Divagações do autor sobre a toilette feminina (“Em geral, as mulheres parecem ter no cabelo a mesma fé que tinha Sansão...). Retoma a descrição da menina. Seus olhos eram verdes. Sem motivo chora. Nisso aparece Frei Dinis, “o austero guardião de S. Francisco de Santarém”. Capítulo XIII O narrador diz não gostar de frades, “moral e socialmente”, a não ser do ponto de vista artístico. Embelezam, com seus trajes, a paisagem urbana e rural. São mais poéticos que os barões. Estes, são os mais desgraciosos e estúpidos animais da criação. “Este capítulo deve ser considerado como introdução ao capítulo seguinte em que entra em cena Frei Dinis...”. Comentários sobre suas obras que contém frades. CapítuloXIV “Este capítulo não tem divagações, nem reflexões, nem considerações de nenhuma espécie; vai direito, e sem se distrair, pela sua história adiante”. Com a retirada de Joana, conversam sobre Carlos. Estava com os liberais que vieram das ilhas e desembarcaram no Porto. Não acredita na vitória dos conservadores devido aos seus pecados. A avó lamenta pelo neto amado. Já, Frei Dinis, afirma ser ele “maldito”. Capítulo XV “Quem era Frei Dinis? ... um homem que se fizera frade, já velho e cansado do mundo... homem de princípios austeros, de crenças rígidas, e de uma lógica inflexível e teimosa...”. Detestava os liberais. O liberalismo 7 reduzia-se em duas coisas: “duvidar e destruir por princípio, adquirir e enriquecer por fim”. Tinha cinquenta anos. “Como e por que deixara ele o mundo?”. Todas as sextas-feiras, no mesmo horário, ia encontrar-se com D. Francisca, cuja família reduzia-se à Joaninha e “um ausente, um rapaz de quem há dois anos quase que se não sabia”. Capítulo XVI Antes de ser frade, chamava-se Dinis de Ataíde e seguira a carreira das armas, das letras, da magistratura até tornar-se Frei Dinis da Cruz, da Ordem de São Francisco, a ordem religiosa mais decadente de todas. Dos seus bens, retirou módica quantia e doou o resto para D. Francisca Joana, a velha ceguinha. A velha só tinha um neto e uma neta. A neta era Joaninha, filha única de seu único filho varão, órfã de pai e de mãe. O neto, órfão também, nascera póstumo, e custara a vida a sua mãe, filha querida e predileta da velha. Dinis de Ataíde, corregedor da comarca, frequentava a casa de D. Francisca. Desde a morte do filho e do genro, “que ambos pereceram desastradamente num dia cruzando o Tejo num saveiro em ocasião de grande cheia, ele nunca mais lá tornara”. A nora e a filha da velha tinham morrido também. E, na mesma hora em que Frei Dinis professava em São Francisco de Santarém, “vestia D. Francisca aquela túnica roxa que nunca mais largou”. Alguns anos depois, começa a frequentar a casa de D. Francisca, todas as sextas-feiras. Frei Dinis preocupava-se com Carlos (21 anos), “já no último ano de Coimbra e ia formar-se em Leis...”. Era o ano de 1830. O jovem, um dia, veio visitar a família, numa sexta-feira. Conversa com Frei Dinis e diz que vai emigrar para a Inglaterra, pois está desgostoso com a sua casa e o mando de um estranho aqui. Para a avó, alega motivos políticos. Era contra D. Miguel e sofria perseguição política. Carlos parte para Lisboa, Inglaterra e alguns meses depois, está na ilha Terceira. Na sexta-feira seguinte, depois da partida de Carlos, Frei Dinis teve uma larga conferência com a avó. Durante três dias a velha ficou fechada no seu quarto a chorar...”. No fim do terceiro dia estava cega”. E assim se passaram dois anos. 8 Capítulo XVII Na sexta seguinte, o frade veio com a notícia (foi até Lisboa) de que achava que Carlos estava no Porto, fazendo parte do pequeno exército de D. Pedro. Trazia uma carta de Carlos, vinda pelo cônsul de França. Capítulo XVIII A carta era endereçada apenas para Joaninha. Nenhuma palavra para mais ninguém. Mas, Joaninha mente, dizendo que o primo pedia a benção da avó. Um ano transcorre sem notícias de Carlos. A guerra civil continuava, em meados de 1833. Capítulo XIX Joaninha anuncia a vinda de soldados e povo... era a retirada de 11 de outubro. Os constitucionais perseguiam os realistas. Aqueles tinham seu quartel general em Cartaxo. D. Miguel fortificara-se em Santarém e a casa da velha era o último posto militar ocupado pelo seu exército. Os feridos ficaram a cargo de Joaninha e com Frei Dinis, no mosteiro. E assim se passaram os meses. E Joaninha passou a ser chamada, por ambos os exércitos de “a menina dos rouxinóis”. Tinha a liberdade de passear sem ser molesta pelos soldados. Capítulo XX Joaninha dorme num banco do bosque, acompanhada por um rouxinol. Surgem soldados e um oficial (capitão). Descrição do belo moço que não tinha ainda 30 anos. Interrupção da descrição por parte do narrador. O personagem era Carlos. Abraços e beijos. Carlos não sabia que a avó ficara cega. Dirigem-se para a casa de D. Francisca. Capítulo XXI Entretanto, as sentinelas inimigas impediram a passagem de Carlos. Joaninha segue sozinha. Carlos, ao voltar é ferido levemente no braço esquerdo pelos próprios camaradas. Capítulo XXII No dia seguinte, Carlos recebe uma carta de Joaninha. O jovem passara a noite em claro, pensando na prima, agora uma moça. Por outro lado, amava outra mulher. “E essa mulher era bela, nobre, rica, admirada, ocupava uma alta posição no mundo... e tudo lhe sacrificara a ele, exilado desconhecido”. Era Georgina. 9 Capítulo XXIII Carlos pensa na avó e em Frei Dinis. Sobre os dois pesava uma acusação criminosa. Ele jurara nunca mais pisar naquela casa, mas o que dizer a Joaninha? O narrador cita um trecho poético pensado (“fotografia mental”) por Carlos em relação aos olhos verdes de Joaninha, azuis de Georgina e pretos de Soledade”. Que honra e glória para a escola romântica se pudéssemos ter a coleção completa” do pensamento de Carlos. Crítica à escola Clássica. Capítulo XXIV Reflexão: “Formou Deus o homem, e o pôs num paraíso de delícias; tornou a formá-lo a sociedade, e o pôs num inferno de tolice”. Crítica ao homem feito pela sociedade. Encontra Joaninha. Os dois conversam. Ele tem 15 anos a mais que Joaninha. Ela conta que foi Frei Dinis o culpado da cegueira da avó. Carlos percebe que Joaninha desconhecia os “fatais segredos da família”. Há quinze dias D. Francisca está acamada. A guerra civil na região já completou um ano. Joaninha pensa em conversar com o comandante realista para permitir a passagem de Carlos. Nota uma semelhança entre Carlos e D. Dinis, quando aquele franze a testa. Capítulo XXV Joaninha confessa seu amor a Carlos e desconfia que ele não a ama, que já está compromissado. Capítulo XXVI Divagação sobre Roma, o historiador português Duarte Nunes, Shakespeare, o inglês entusiasta de Abelardo e Heloísa, os Lusíadas... até explicar que a história contada no próprio cenário é bem mais interessante. Por isso, ficou escutando a narração do companheiro de viagem. Mas, está na hora de partir para a cidade de Santarém, não que a história de Joaninha tenha acabado. É apenas o fim do primeiro ato. Capítulo XXVII Santarém está decadente, mas seus olivais mantém a antiga glória. Descrições das grandes construções da cidade. Procura a casa do seu amigo, “ao pé mesmo da famosa e histórica Igreja de Santa Maria da Alcáçova”. 10 Capítulo XXVIII Decadência da Igreja de Santa Maria da Alcáçova. Por extensão, critica a arquitetura pombalina, pós terremoto. Encontra o amigo Sr. M.P. Conhece sua família. Depois, abluções, jantar, conversas e repouso. De manhã, pela janela, avistou a bela paisagem do rio Tejo. Pensa nos versos introdutórios de Fausto (Goethe). Capítulo XXIX Diferenças entre o imaginar e o sentir. Divagações metalinguísticas: o leitor que quiser um livro de viagem que leia o padre Vasconcelos. Almoçam e conversam sobre Santarém. Transcreve a trova popular de Santa Iria. Pretende discutir esse assunto no capítulo seguinte. Capítulo XXX História da milagrosa Santa Iria, Santa Irene, “que deu o seu nome a Santarém...”. Análise do poema do capítulo anterior. Capítulo XXXI Visita aos monumentos de Santarém. A certa altura, o companheiro de viagem pede para continuar a história de Joaninha. O narrador diz que não pretende mais interromper o relato. Capítulo XXXII O narrador pede para o leitor lembrar-se do capítulo XXV. Os constitucionais preparam-se para as batalhas de Pernes e Almoster. Carlos apresenta-se ao quartel general. Carlos é ferido e levado para uma cela do Convento de São Francisco em Santarém, ainda inconsciente. É assistido por Georgina. Também presente, Frei Dinis. Passaram dias, semanas. A avó e a prima não sabiam do paradeiro de Carlos. Georgina diz-lhe que não o ama. Capítulo XXXIII Carlos e Georgina conversam sobre o passado amoroso. Conta que veio a Portugal com uma família da sua amizade. Consegue transitar até Santarém e encontra Carlos prisioneiro no hospital dos feridos. Com a ajuda de D. Dinis conduz Carlos até ao convento. Nesse ínterim, descobre que Carlos ama e é amado por Joaninha. Por isso, não o ama mais. Nisso, entra Frei Dinis no quarto. 11 Capítulo XXXIV Frei Dinis diz que Carlos detesta-o, mas ele o perdoa. Mais ainda, o ama e pede para ele deixar de amaldiçoá-lo. Informa que o exército realista foi vencido pelos constitucionais. Estes venceram na Asseiceira e aqueles fugiram para o Alentejo. Carlos questiona a Frei Dinis: “E quem assassinou meu pai, quem cegou minha avó, e quem cobriu de infâmia a minha... a toda a minha família?” Frei Dinis diz que foi ele, por isso suplica para Carlos matá-lo. Capítulo XXXV Georgina pede a Carlos para perdoá-lo e afaga o velho. Carlos abraça-o. No entanto, ao pedir para Carlos também perdoar sua mãe, o militar fica furioso e quer matar o frade. Nesse momento aparece a avó e Joaninha (16 anos). D. Francisca grita: “Filho, meu filho! É teu pai, meu filho. Este homem é teu pai, Carlos”. Carlos desmaia. É socorrido pelas duas mulheres que amava. Georgina confessa que não o ama mais e pede para Joaninha protegê-lo. Está de partida para Lisboa. A avó conta a Carlos que sua mãe amou a D. Dinis. O outro e seu tio (pai de Joaninha) armaram uma embosca na charneca, à noite. Os corpos foram jogados no rio. A mãe de Carlos morre de “pesar e de remorsos”. D. Dinis torna-se frade e se autoflagela. A avó fica cega de tanto chorar. Carlos abraça o pai e a avó e sai do quarto, dando a entender que logo voltaria. Três dias depois recebem uma carta, de Évora, dizendo que estava junto com o exército constitucional. Capítulo XXXVI Todos estavam curiosos com o fim da história. Carlos é considerado um homem imoral, sem princípios, sem coração por amar duas mulheres. “Amanhã o fim da história da menina dos olhos verdes”. No caminho encontram o antigo amigo, o barão de P. Passeiam pela cidade. Lamento pelo abandono do patrimônio histórico de Santarém. Capítulo XXXVII Não conseguem visitar o túmulo de Pedro Álvares Cabral. Encontro com o barão de A. Visita à Igreja do Santo Milagre. Sepultura de D. Maria, filha de D. João VI. História do homem das botas que enganou a todos, em Lisboa, dizendo que atravessaria o rio, de Lisboa a Almada, com suas 12 “botas de cortiço”. Desviando a atenção do povo, conseguiu trazer de volta para Santarém o “Santo Milagre”. Jantam. Capítulo XXXVIII Depois do jantar vão à Ribeira. Desiludidos com o lugar voltam e vão tomar chá no elegante salão da B. de A. Divagações sobre os ridículos da alta sociedade. Divagações filológicas (origem da palavra galimatias). Decide acabar o capítulo. Capítulo XXXIX Promete voltar com a história de Joaninha. Mas, por enquanto, pretende almoçar e terminar seus estudos arqueológicos em Marvila de Santarém. Sobre os jesuítas. Visita ao grande santo S. Frei Gil (o Fausto português). Ao visitar o seu túmulo descobre que está sem cadáver. “Quem foi o anátema que se atreveu a tal sacrilégio?...” Capítulo XL Três homens chegam ao antigo Mosteiro das Claras. Levavam uma espécie de cofre que foi deposto no altar. Era o ano de 1834. As freiras chegam em procissão, cantando. Um dos três homens era um frade velho franciscano. Os outros dois eram dominicanos. O cofre guardava o corpo do bemaventurado S. Frei Gil. Era para as irmãs guardá-lo. “Assim desapareceu do túmulo o corpo de S. Frei Gil de Santarém”. Hoje o narrador pode contar porque os liberais já são mais tolerantes. O cuidado é com os barões que estão atrás dos poucos bens das freiras. Capítulo XLI O franciscano velho que roubara o corpo do santo era Frei Dinis. Passeia pelo real Convento de S. Francisco de Santarém. O que será feito de Joaninha e dos seus? Só sabe que depois da cena noturna do Mosteiro 13 das Claras, Frei Dinis saiu de Santarém; nesse mesmo dia Georgina saíra para Lisboa, levando em sua carruagem a avó e a neta, sem novas de Carlos, somente a carta que escrevera junto de Évora. O narrador diz também estar cansado de Santarém. Capítulo XLII Entretanto, não pode partir sem ver o túmulo de El-rei Fernando, segundo marido de D. Leonor Teles. Encontrando-o amaldiçoa os iconoclastas que não cuidam do patrimônio histórico. “Mais dez anos de barões e de regime da matéria...”. Acredita apenas no povo, “o povo está são: os corruptos somos nós, os que cuidamos saber e ignoramos tudo”. Capítulo XLIII Vão embora de Santarém, não sem antes parar na casa de Joaninha. Encontra D. Francisca e Frei Dinis. Fica sabendo que Joaninha morrera. Tem acesso à carta de Carlos. Capítulo XLIV A carta datava de maio de 1834. Era endereçada apenas para Joaninha. Sente-se perdido. Conta-lhe sua história. Na Inglaterra conhecera uma família com três irmãs. Apaixona-se por Laura. Capítulo XLV Continuação da carta. Descrição de Laura. Noutro dia, recebe uma carta de Júlia (a mais velha), convidando-o para almoçar. Capítulo XLVI (Cont.). Júlia diz que Laura não pode amá-lo, pois está comprometida. Em três meses irá partir para a Índia. Os dois choram. Aparece Laura. Jantam. Naquela noite Laura partiria para o País de Gales. Na carruagem, Carlos e as três irmãs dirigem-se até a estalagem. Confessa que o único alívio durante a viagem foi pensar no vale e em Joaninha. Capítulo XLVII (Cont.). Chegam à estalagem. Laura parte. Voltam e Carlos vai para casa. No dia seguinte, o pai, L. William R., parte para o País de Gales. Fica três dias sem vê-las. No quarto dia encontra Júlia. Passam os dias juntos. Três meses depois, Laura casa-se e parte para o Oriente. 14 Capítulo XLVIII (Cont.). Numa manhã, encontra Georgina. Viera avisá-lo de que Júlia estava doente. Com o tempo, apaixona-se por Georgina, mas tem que partir para o Açores, na Ilha Terceira, onde refugiara-se o partido constitucional. É consolado por uma freira de nome Soledade. Diz que não a amou. Dali veio para Portugal. O resto da história já é conhecida. Confessa que ao ver Joaninha sentiu que só a ela amara. Entretanto, sabe que a mulher que o amar será infeliz eternamente. “Não quero, não posso, não devo amar a ninguém mais”. Por isso, dá-lhe adeus. Pensa em se fazer homem político e agiota. “Adeus, minha Joana, minha adorada Joana, pela última vez, adeus!” Capítulo XLIX Acabando de ler a carta de Carlos devolve-a a Frei Dinis. Este diz que Carlos virou barão, engordou e enriqueceu. E vai ser deputado qualquer dia. Joaninha enlouqueceu e morreu nos braços de Georgina e da avó. Georgina é abadessa de um convento em Inglaterra. D. Francisca “não vê, não ouve, não fala e não conhece ninguém”. O narrador monta em seu cavalo e vai encontrar os companheiros. Exercícios 01. "Neste despropositado e inclassificável livro (...), não é que se quebre, mas enreda-se o fio das histórias e das observações por tal modo, que, bem o vejo e o sinto, só com muita paciência se pode deslindar e seguir em tão embaraçada meada." Eis como o autor vê sua obra, dentro da qual faz reflexões como esta: "o povo, o povo está são; os corruptos somos nós, os que cuidamos saber e ignoramos tudo." (Viagens na Minha Terra, Almeida Garrett). Nessas duas orações citadas, respectivamente, encontramos: a) Metalinguagem e digressão; c) digressão e metalinguagem; b) Intertextualidade e digressão; d) paródia e paráfrase. c) Paródia e intertextualidade. 02. “Oh! Sancho, Sancho, nem sequer tu reinarás entre nós! Caiu o carunchoso trono de teu predecessor, antagonista e às vezes amo; açoitaram-te essas nádegas para desencantar a famosa del Toboso, proclamaram-te depois rei em Barataria, e nesta tua província lusitana nem o paternal governo de teu estúpido materialismo pode estabelecer-se para cômodo e salvação do corpo, já que a alma... oh! a alma...” (Trecho do segundo capítulo de Viagens na Minha Terra, de Almeida Garrett) 15 Considerando o trecho acima, assinale a alternativa incorreta. a) O interlocutor do autor é Sancho Pança, fiel escudeiro de Dom Quixote de la Mancha; b) O autor valoriza o espiritualismo diante do materialismo e afirma que nem mesmo o materialismo podia reinar naquela época e naquele lugar; c) O materialismo conseguiu se estabelecer em Barataria, uma região da Espanha, mas nessas terras lusitanas não conseguiria; d) O espiritualismo já estava há tempos perdido e nem mesmo o materialismo conseguia ser útil; e) Dom Quixote apanhou nas nádegas para que Dulcineia del Toboso visse quem realmente era o cavaleiro. 03. Leia o excerto abaixo: “... Carlos volta a Portugal para combater os liberais, Joaninha ama e é amada por Carlos, mas este deixara na Inglaterra outra mulher, Georgina. Em combate, perto da casa de D.Francisca, o rapaz cai ferido e é levado para o mosteiro de Frei Dinis... Este franciscano matara o pai de Carlos e o pai de Joaninha. Desfecho: Joaninha morre demente, Georgina foi ser freira e Carlos é deputado e barão” a) O resumo acima é do livro Viagens na Minha Terra, de Almeida Garrett. Procure reler o texto e localize uma informação incorreta. Cite-a e dê a correta ocorrência do fato. b) O livro citado é uma mistura de relato jornalístico, literatura de viagem, divagações sobre vários temas, comentários críticos e uma história trágica, envolvendo Carlos e Joaninha. A narrativa não é linear, mas fragmentada, como faria Machado de Assis, décadas depois. Como é chamado essa técnica narrativa que fragmenta a narrativa? 04. Leia atentamente o trecho abaixo: “ Ora bem; vai-se aos figurinos franceses de Dumas, de Eugénio Sue, de Vítor Hugo, e recorta a gente, de cada um deles, as figuras que precisa, gruda-as sobre uma folha de papel da cor da moda, verde, pardo, azul — como fazem as raparigas inglesas aos seus álbuns e scrap-books; forma com elas os grupos e situações que lhe parece; não importa que sejam mais ou menos disparatados. Depois vai-se às crônicas, tiram-se uns poucos de nomes e palavrões velhos; com os nomes crismam-se os figurões; com os palavrões iluminam-se… (estilo de pintor pinta-monos). — E aqui está como nós fazemos a nossa literatura original”. Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra. Explique a ironia do trecho “E aqui está como nós fazemos a nossa literatura original”, no final do texto transcrito 16 05. (PUC-SP/2013) Ainda assim, belas e amáveis leitoras, entendamonos; o que eu vou contar não é um romance, não tem aventuras enredadas, peripécias, situações e incidentes raros; é uma história simples e singela, sinceramente contada e sem pretensão. O trecho acima integra a obra Viagens na Minha Terra, de Almeida Garrett. Considerando a obra como um todo, pode-se afirmar que a história a ser contada pelo narrador é a: a) da paixão de Joaninha dos olhos verdes por seu primo Carlos, com quem casa e vive feliz. b) da indecisão de Carlos, ante o amor de várias mulheres, sua saída de Santarém e regresso à Inglaterra. c) do sofrimento da menina dos rouxinóis pela perda do amado e seu abandono ao destino inexorável, que a leva ao enlouquecimento e à morte por desgosto. d) do retorno de Carlos à Inglaterra, retomando sua trajetória de homem público, e seu casamento com Georgina. 06. Assinale a alternativa incorreta sobre o romance Viagens na Minha Terra: a) Um dos momentos mais importantes da narrativa é a passagem pelo Vale de Santarém, relatada no capítulo X, e a contemplação de uma casa que desperta a curiosidade e estimula a imaginação do narrador. b) No final da viagem, o narrador-viajante passa pelo Vale de Santarém e lê uma carta (de tom autobiográfico) que Carlos escrevera à Joaninha, sendo uma espécie de epílogo do romance. c) Complementando as inúmeras digressões, o narrador comenta a história de Carlos e Joaninha evitando ilações de teor crítico e social. d) No romance não há apenas uma única e linear instância de comunicação narrativa, uma vez que, além do relato da viagem, encontramos também a narrativa que é instituída pelo companheiro de viagem que conta a história de Carlos e Joaninha e a que se traduz na carta de Carlos a Joaninha. e) A narrativa é desencadeada por um narrador anônimo, empenhado numa viagem a Santarém e interessado de disseminar várias digressões de tendência ideológica ao longo de seu discurso. 17