A IMPORTÂNCIA DA INCLUSÃO ESCOLAR PARA CRIANÇAS HOSPITALIZADAS: O ENCONTRO DE DUAS REALIDADES Sandra Santana Xavier de Sousa (UFAL) [email protected] RESUMO O objetivo desse estudo é analisar a importância da inclusão escolar para as crianças hospitalizadas na cidade de Maceió/Alagoas, pela necessidade de se ter uma atenção integral e mais humanizada a esses enfermos, já que as crianças e os jovens estão em processo de desenvolvimento pessoal e cognitivo, também para contribuir com mais discussões nessa modalidade de ensino e fomentar futuras pesquisas nessa área através da divulgação dessa temática. A metodologia utilizada foi à pesquisa exploratória, onde foram realizadas entrevistas não-diretivas com as enfermeiras-chefe de três hospitais da cidade de Maceió/Al, foram analisados documentos legais, livros da Pedagogia e autores que estudaram e vivenciaram a escola no hospital. Não existe atenção pedagógica nos hospitais em Maceió, diante disso, faz-se necessária uma reflexão acerca dessa questão, pois estes são atendimentos imprescindíveis à inclusão do aluno enfermo. A ausência da escola traz diversos malefícios à vida dessas crianças: como as reprovações, evasões, piora da enfermidade, dentre outros prejuízos. A educação hospitalar, no entanto, devem ser ofertadas porque a educação não é privilégio apenas dos alunos sadios. Palavras-chave: hospitalizadas, educação, inclusão. 1 Introdução A Educação é um dos fenômenos mais interessantes da humanidade. Está envolvido em todo lugar: em casa, nas ruas, no trabalho, na Igreja, na comunidade, na escola, em diversos lugares e por isso há diversas formas de se fazer educação. Não existe apenas uma maneira de se educar, mas é na escola que esse processo acontece de 2 modo formalizado. Porém é certo, que não só existe a escola nos moldes das instituições de ensino convencionais. Esse não é o único lugar onde a educação formal pode ocorrer. E com o aparecimento das novas demandas sociais, a escola foi construindo novas formas de se organizar para atender a toda a diversidade. Todos, portanto, não podem ficar de fora dos processos educativos. A inclusão escolar, no entanto, surge como um movimento de ações políticas, culturais, sociais e pedagógicas, em defesa dos direitos de participação e aprendizagem de todas as crianças, jovens e adultos, na escola comum, mesmo essas crianças estando afastadas da escola por motivo de enfermidade. Ao fazer uma breve revisão de literatura constatamos que muitos estudos em Maceió abordam diversos âmbitos nevrálgicos na educação, como a falta de recursos, de políticas adequadas, dentre outras, porém frequentemente eles deixam de lado a parcela de crianças e jovens afetados por enfermidades que causam o seu afastamento da escola. Dessa forma no foco desta pesquisa, surge o seguinte questionamento: “será que na cidade de Maceió é ofertado algum tipo de atendimento pedagógico-escolar nos setores pediátricos das Instituições Hospitalares?” Possivelmente há o atendimento educativo-escolar nos hospitais de Maceió, uma vez que é um direito assegurado pela Lei e por ser um tipo de modalidade de ensino já oferecida em diversas cidades do nosso país. Considerando a falta de informações teóricas sobre as escolas no hospital nesta capital e a inexistência de outros trabalhos sobre esta temática no Curso de Pedagogia/UFAL, optou-se por realizar uma Pesquisa Exploratória, no qual irá ser coletadas informações sobre a existência das Classes Hospitalares em Maceió/Alagoas. Afirmo isso, porque nas buscas realizadas Biblioteca Central e no Centro de Educação (CEDU) da Universidade Federal de Alagoas em livros, monografias, teses e dissertações defendidas, relativas a este tema e não foi encontrada nenhuma referência deste tipo na área do curso de Pedagogia. Desta maneira, esta pesquisa foi pensada com o objetivo de analisar a situação da existência ou não das classes hospitalares na capital de Maceió/Alagoas, no sentido de saber quais hospitais oferecem este atendimento. As escolas hospitalares são aquelas modalidades de ensino as quais têm a possibilidade de realizar um atendimento pedagógico-educacional às crianças que estão hospitalizadas. Com isto, espera-se 3 fomentar mais estudos nessa área, além de tratar sobre a importância do atendimento escolar na vida das crianças e jovens em suas fases de internações. 2 A inclusão escolar das crianças hospitalizadas: garantias legais Diante dessa situação é preciso que se busquem ações que levem à inclusão desses alunos na educação regular. É baseada na igualdade de oportunidades, através das desigualdades de tratamento para que a igualdade de condições seja restaurada (MANTOAN; PIETRO, 2006, p. 17). A finalidade é que se parta da igualdade para que os indivíduos vivam nas suas diferenças. Diante disso, o atendimento escolar ao aluno enfermo surge da necessidade de corresponder ao contraditório existente entre o direito que os hospitalizados têm à saúde e à educação simultaneamente. A saúde e a educação é dever do Estado e direito de todos. Existem, portanto, garantias legais de proteção adequadas à educação aos alunos, inclusive no período de seus adoecimentos. A Constituição Federal de 1988 no artigo 206, inciso I, a “igualdade de condições de acesso e permanência na escola” como um dos princípios para o ensino e garante como dever do Estado, a oferta do atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino (art. 208). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional reafirma que, para garantir o cumprimento da obrigatoriedade de ensino, o Poder Público criará formas alternativas de acesso aos diferentes níveis de ensino art. 5º, parágrafo 5º, podendo organizar-se de diferentes formas para garantir o processo de aprendizagem (art. 23). Por outro lado o princípio da integralidade no serviço de atendimento à saúde da população é assegurado através das diretrizes de organização do Sistema Único de Saúde, definido pela Lei (BRASIL, 1988, art. 198). Dentro desse princípio, a qualidade do cuidado da saúde está diretamente concebida a num paradigma multidimensional de necessidades básicas da população como: a moradia, o trabalho, a educação, dentre outras. Estas instâncias assumem relevância para compor a atenção integral à saúde. 4 A Resolução n. 41, de 13 de outubro de 1995, do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente Hospitalizados no item 9, assegura aos jovens o “Direito a desfrutar de alguma forma de recreação, programa de educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar durante sua permanência hospitalar”. Nestas circunstâncias, as crianças e jovens internadas em domicílio, associações para leucêmicos, lares de apoio, dentre outros, também são contemplados pelas diretrizes das classes hospitalares. Na impossibilidade de freqüência à escola, durante o período sob tratamento de saúde ou de assistência psicossocial, as pessoas necessitam de formas alternativas de organização e oferta de ensino de modo a cumprir com os direitos à educação e à saúde, tal como definidos na Lei e demandados pelo direito à vida em sociedade (BRASIL, 2002, p. 12). Na educação, conforme documento elaborado pelo MEC, por intermédio da Secretaria de Educação Especial, a Classe Hospitalar é uma modalidade de ensino alternativo ofertado às todas as situações de restrições dos alunos em que necessite acompanhamento e tratamento de saúde (BRASIL, 2002, p. 13). É um atendimento pedagógico-educacional ofertado às crianças, adolescentes e adultos, nas suas fases de tratamento de saúde na circunstância de suas hospitalizações e que possuem dificuldades de freqüentarem a escola normalmente. Tem a finalidade de assegurar a continuidade dos conteúdos escolares às crianças e aos adolescentes hospitalizados, possibilitando o seu retorno à escola de origem sem prejuízos (BRASIL, 2002, p. 13). É necessário que os todos tenham o entendimento da importância e da emergência da oferta escolar em ambientes hospitalar, como uma alternativa a mais no tratamento da saúde dos hospitalizados e assim contribuir também para evitar a exclusão escolar. 3 O encontro de dois contextos: o escolar e o hospitalar... As ausências do aluno à escola por tempo prolongado para tratamento de saúde causam situações de estresse, medos e ansiedades (MATOS & MUGIATTI, 2008). Condição conflitante que trazem seqüelas para a vida dessas crianças, pois elas convivem com a separação dos seus familiares, do meio em que vivem e das suas brincadeiras; convivem com os sintomas das suas enfermidades e das medicações; são vítimas de procedimentos dolorosos, convivem com a solidão e com o medo da morte 5 (BARROS, 1999; CECCIM, 1999; FONSECA, 1999; FONTES, 2004 e MATOS & MUGIATTI, 2008). As aprendizagens dentro do hospital causam boas sensações que são vividas pelas crianças e jovens, quando estes trocam experiências, interagem e exploram os ambientes intelectuais de maneira significativa (CECCIM, 1999). Diante disso, as Classes Hospitalares tem um significado que extrapola apenas o fator da escolarização, elas também auxiliam na recuperação da saúde dessas crianças. 4 O pesquisador e o objeto pesquisado... O procedimento metodológico adotado foi a Pesquisa Exploratória. Este método de pesquisa está dentro da Pesquisa Qualitativa. A Pesquisa Qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se ocupa, nas ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes (MINAYO, 2010, p. 21). A Pesquisa Exploratória tem por finalidade conhecer melhor a realidade. Nesta houve informações sobre a existência ou não, das escolas hospitalares ofertados em três dos principais hospitais de Maceió. Os hospitais foram aqui denominados de hospital A, B e C. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com as enfermeiras-chefe do setor da pediatria dos três hospitais. A entrevista semi-estruturada é a combinação entre perguntas fechadas e abertas, em que o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema em questão sem se prender apenas à indagação formulada (MINAYO, 2010, p. 64). Essa amostra de entrevistados foi selecionada, porque foi considerado que eram profissionais que lidavam diretamente com os pacientes. As entrevistas de modo geral, são conversas a dois ou mais interlocutores realizadas por iniciativa e direcionamento do entrevistador e, portanto, não é um ato neutro. Sua finalidade é apreender o que não está dito o momento da observação (MINAYO, 2010, p. 64). 6 Nestas visitas, foram feitas observações da dinâmica hospitalar, as quais foram anotadas em diário de campo com o intuito explorar as realidades hospitalares estudadas para posteriores pesquisas. 5 O difícil contexto das crianças hospitalizadas: uma realidade singular... As instituições hospitalares exploradas tinham crianças e jovens que estavam há vários meses internadas no setor infantil. No total dos hospitais visitados foram encontrados no momento da pesquisa 46 pacientes pediátricos em idade escolar excluídos da escola só por estarem nos hospitais para tratamento de saúde. A partir dessa constatação, foi perguntado como ficava a situação desses pacientes com relação à escola deles. Segundo relatos das enfermeiras-chefe as crianças perdiam as aulas devido ao tratamento, os próprios sintomas da doença e/ou efeitos colaterais dos medicamentos e também a instituição não tinha como garantir a educação dentro do hospital. O afastamento do cotidiano provocado pela doença e pela hospitalização era tratado naturalidade conforme relatos nas entrevistas quando foi perguntado como ficava a situação dessas crianças quando passavam muito tempo nos hospitais. As respostas: […] sei não. O que a escola faz é pedir o atestado e nós fornecemos. Geralmente quando as crianças ficam uma semana… quinze dias… ou mais… eles ficam sem assistir aula totalmente […] Enfermeira-chefe do hospital A Não sei como fica… pois eles não têm condições de freqüentarem as aulas… eles ficam sob tratamento… ficam abatidos… sem muita interação com a gente […] Enfermeira-chefe do hospital B […] ah, eles perdem a escola… não tem como fazer o tratamento, como no caso dos pacientes de oncologia, e ainda freqüentar normalmente a escola… eles ficam permanentemente hospitalizados por no mínimo 2 a 3 anos […] Enfermeira-chefe do hospital C. Eram pacientes da faixa de idade de 0 a 12 anos, passavam de 1 dia à vários anos no hospital, tem uma gama de patologias. Situações encontradas também nas análises de (BARROS, 1999; CAIADO, 2001; FONTES, 2005; PAULA, 2004). Verificou-se que o termo “Classe Hospitalar” era desconhecido para todas as entrevistadas, revelando assim a obscuridade desse serviço educacional em Maceió. Apenas dois dos hospitais visitados ofertavam atividades recreativas. Segundo as 7 enfermeiras chefes dos hospitais A e B, as atividades de recreação eram desprovidas de qualquer objetivo educacional e tinha apenas caráter lúdico para os pacientes passarem melhor o tempo. O hospital C não oferecia nenhum tipo de recreação, o que não condiz com o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente Hospitalizado, especificamente a Lei n. 41 artigo 9, assegura que “toda criança hospitalizada tem direito a recreação e a educação”. 6 Considerações Momentâneas... A presente pesquisa possibilitou um entendimento maior e reflexões sobre a situação da criança e do jovem em idade escolar que estão fora das escolas por estarem hospitalizadas nesta capital. Neste estudo foi concluído que nos hospitais visitados da cidade de Maceió não era ofertado o serviço das Classes Hospitalares ou qualquer outro tipo de atendimento pedagógico-educacional, por diversos motivos: falta de professores, falta de crença na capacidade dos alunos doentes, entraves políticos, dentre outros argumentos que não justificam a exclusão desses adolescentes e dessas crianças. Mesmo com a insegurança de alguns profissionais em relação à implementação das classes hospitalares em Maceió, essas devem ser ofertadas, porque esse é o direito dessas crianças: direito à educação, do mesmo modo que elas têm direito à saúde. A escola não é só direito dos alunos com saúde. Observou-se que em quase todos os hospitais pesquisados existe a atividade recreativa, também garantida por lei, mas as necessidades educativas não se encerram somente na ludicidade, principalmente quando se trata de pacientes em hospitalização duradoura, como no caso dos pacientes com câncer. É, pois, urgente o chamamento à inclusão desses alunos na educação regular, para evitar as reprovações, o abandono definitivo da escola e outros conflitos de ordem psicológica e social. É preciso ofertar as classes hospitalares na cidade de Maceió, para que a educação inclusiva cumpra sua função social. Referências 8 ANGHER, Anne Joyce. Constituição Federal de 1988. In: VADE MECUM: acadêmico de Direito. 4º edição. São Paulo: Rideel, 2007. BRASIL. Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Direitos da Criança e do Adolescente Hospitalizados. Resolução no. 41, de 13/10. Brasília: Imprensa Oficial, 1995. ______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Classe Hospitalar e atendimento domiciliar: estratégias e orientações. Brasília, 2002. BARROS, Alessandra Santana. A prática pedagógica em uma enfermaria pediátrica: contribuições da classe hospitalar à inclusão desse alunado. Revista Brasileira de Educação. Espaço Aberto, n. 12, p. 84-93, Dez. 1999. CAIADO, Kátia R. M. et al. O trabalho pedagógico no ambiente hospitalar: um espaço em construção. In: RIBEIRO, Maria Luisa S.; BAUMEL, Roseli Cecília R. C. Educação Especial: do querer ao fazer. São Paulo: Avercamp, 2003. CECCIM, Ricardo Burg. Classe Hospitalar: encontros da educação e da saúde no ambiente hospitalar. Revista Pátio, v. 3, n. 10, p. 41- 44, out. 1999. FONSECA, Eneida Simões da. Atendimento Pedagógico-Educacional para Crianças e Jovens Hospitalizados: realidade nacional. Disponível em: <http://www.smec.salvador.ba.gov.br>. acesso em: 28 set. 2009. FONTES, Rejane S. A escuta pedagógica à criança hospitalizada: discutindo o papel da educação no hospital. (Dissertação de Mestrado). Faculdade de Educação. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2003. LUDKE, Menga; ANDRÉ, E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. MANTOAN, Maria Teresa Egler; PIETRO, Rosângela Gavioli. Inclusão escolar: pontos e contrapontos. 2. ed. 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