XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 26 BRECHAS NO CURRÍCULO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E VENTOS DE MUSEUS COMO ESPAÇOS FORMATIVOS DE LICENCIANDOS. Daniela Franco Carvalho Jacobucci RESUMO: Esse texto aborda a configuração atual do currículo do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do campus Uberlândia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e traz uma discussão acerca das diversas inserções de atividades formativas junto a um museu local, o Museu de Biodiversidade do Cerrado. Aborda as dificuldades para introduzir práticas pedagógicas em um espaço não escolar, tendo em vista a estruturação do projeto pedagógico voltada exclusivamente para o ambiente escolar. Apresenta como o museu e outros espaços educativos não formais são abordados ao longo de diversas disciplinas do currículo, vislumbrando a formação mais ampla do futuro biólogo professor. Discute como o estágio curricular é desenvolvido em três disciplinas voltado para ações de observação da escola campo de estágio, regência e investigação de uma dada situação pedagógica. Aborda as práticas pedagógicas realizadas pelas disciplinas estruturadas como projetos integrados de prática educativa (PIPEs) que estão presentes desde o primeiro até o sétimo período do curso, com uma proposta de interelação entre o conteúdo específico de disciplinas básicas do campo das Ciências Naturais, como botânica, zoologia, ecologia, genética, biologia do desenvolvimento, entre outras, e seu cunho prático, tanto de divulgação do conhecimento científico para a sociedade como sugestão de experimentos para atividades na escola. Informa como na trajetória das diferentes disciplinas ao longo do curso, incluindo uma optativa de Divulgação Científica, o museu está presente como lócus de formação do licenciando. Insere uma nova perspectiva curricular para o curso que será implementada em breve, numa tentativa de articulação do espaço escolar e não escolar na formação do futuro professor de Ciências e Biologia de Ciências e Biologia. Palavras-chave: Currículo. Museu. Formação inicial. O projeto pedagógico em vigência do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas (COLBI, 2005) do campus Uberlândia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) está estruturado de forma a possibilitar que o futuro professor de Ciências e Biologia tenha contato desde o primeiro período do curso com discussões e vivências de cunho pedagógico. Uma das preocupações da área de Prática de Ensino do Instituto de Biologia (INBIO) da UFU, há mais de 15 anos (JACOBUCCI, 2010, 2011; MORAES, 2008; BARCELOS e MORAES, 2007; BARCELOS e VILLANI, 2006; BARCELOS, 1998) tem sido a inserção dos licenciandos em Ciências Biológicas em diversos espaços educativos, para além das atividades de estágio na escola básica. Assim, durante muitos anos, o Curso de Ciências Biológicas tem estruturado suas ações da prática de ensino no formato do estágio curricular obrigatório na sala de aula - através do estágio observação, regência e investigação (MORASSUTI et al., 2008) – e fora dela, em Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.001911 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 27 praças, parques, zoológicos e, mais recentemente, em museus. Embora o currículo atual do curso tenha o estágio previsto integralmente na escola, entende-se que é importante para o futuro biólogo ter noções de divulgação do conhecimento científico tanto no ambiente escolar como não-escolar, como possibilidade de integração com a sociedade em diferentes espaços, trabalhando de forma dialógica o conteúdo específico e o pedagógico. O estágio está dividido em três componentes curriculares: Introdução ao Estágio, Estágio 1 e Estágio 2. No quinto período do curso, o graduando em Licenciatura inicia o estágio curricular através da Introdução ao Estágio, quando se depara com o universo escolar e participa de uma série de atividades para conhecer a escola campo de estágio, como sua organização administrativa e proposta didática, culminando em um período de observação de aulas ministradas pelo(a) professor(a) regente. No sétimo período, o estudante realiza o Estágio 1, denominado estágio Ciências, no qual acorda com o(a) professor(a) regente o planejamento de uma sequência de aulas para o Ensino Fundamental, prepara as aulas, assume a regência da turma e pelo menos um instrumento de avaliação. No oitavo período, ocorre o Estágio 2, no qual o estudante realiza ações similares às do Estágio 1, mas para o Ensino Médio, com aulas de Biologia. Em ambos os estágios – 1 e 2 – a escola é definida de forma coletiva pela turma e pelo professor supervisor da disciplina, para garantir que todos os estudantes possam vivenciar experiências no mesmo ambiente escolar e discutir de forma aprofundada tanto o planejamento das aulas como a realização das mesmas. Dependendo do professor supervisor da turma e das experiências que os estudantes vivenciam junto ao professor(a) regente na escola, a critério dos licenciandos, esses podem ser orientados a desenvolver o estágio investigação, onde uma pergunta é elaborada pelo estudante, ou por um grupo de estudantes, e a coleta de dados para buscar responder à questão se dá no ambiente escolar. Essa estratégia tem sido realizada com frequência, principalmente no Estágio 2, quando grande parte dos estudantes estão concluindo o curso de Licenciatura, no intuito de oferecer subsídios para que os futuros professores de Ciências e Biologia possam ter contato com fundamentação teórica no campo da pesquisa sobre a própria prática docente (TARDIF, 2000; LÜDKE, 2001; NUNES, 2008; . Embora a equipe de professores da Prática de Ensino do Instituto de Biologia da UFU tenha consciência sobre a importância da abordagem do estágio como palco para a pesquisa, alguns fatores tanto curriculares Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.001912 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 28 como de formação acadêmica dos professores universitários responsáveis pelas disciplinas de Estágio limitam essa ênfase. Apesar do estágio curricular estar estruturado no contexto formal do espaço escolar, desde 1997 os professores responsáveis pelos Estágios incentivam que os licenciandos incluam atividades extra-classe, visitas a espaços não-formais de educação e organização de mostras científicas em suas propostas de ensino. O Laboratório de Ensino de Ciências e Biologia (LEN) do Instituto de Biologia da UFU disponibiliza na página www.len.ib.ufu.br informações e registros fotográficos sobre as ações recentes realizadas pela Prática de Ensino. Com a remodelação e modernização do Museu de Biodiversidade do Cerrado – INBIO/UFU – localizado em um parque municipal, com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), o museu se tornou um espaço mais dinâmico e apropriado para a integração museu-escola, e nesse sentido tem estimulado a realização de diversas ações educativas ligadas às disciplinas da Prática de Ensino e estágio curricular. Essas ações estão sendo constantemente repensadas pelos professores, em função das discussões geradas a partir da realização das mesmas e de forma embasada na literatura especializada. Além das tradicionais disciplinas de Didática, Psicologia da Educação, Política e Gestão da Educação e Metodologia do Ensino e dos estágios curriculares, outras sete disciplinas compõe o Núcleo Pedagógico do curso e se constituem em Projetos Integrados de Prática Educativa, conhecidos como PIPEs. No primeiro período é apresentada a estrutura organizacional da Universidade, o Projeto Pedagógico do Curso de Ciências Biológicas da UFU e o campo de atuação profissional do Biólogo. Em PIPE 1 é informada aos estudantes a inserção dos PIPEs no currículo, não somente para atender às resoluções CNE/CP1/2002 e CNE/CP2/2002, mas fundamentalmente, para buscar aliar práticas aos conteúdos biológicos tratados em diversas disciplinas das áreas específicas. Nesse sentido, o currículo está organizado com PIPEs de 1 a 7, sendo o primeiro introdutório ao curso e ao ambiente universitário, os demais no formato de articulação teórico-prática entre conteúdos específicos de química, física, biologia do desenvolvimento, ecologia, genética, zoologia e botânica, e o sétimo proposto como um seminário para discussão das atividades realizadas em todos os PIPEs. Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.001913 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 29 Como Brito e Sousa (2008) identificaram uma resistência de licenciandos em Ciências Biológicas em compreender o conhecimento específico numa perspectiva que englobe seus aspectos sociais, culturais, políticos e econômicos, devido a formação e visão de mundo construídas ao longo da trajetória escolar, particularmente a universitária. Talvez a abordagem dos PIPEs na perspectiva da divulgação científica seja um passo importante para tentar aproximar os conteúdos específicos da Biologia a outros contextos igualmente importantes de atuação profissional. No entanto, temos percebido que os estudantes não observam ao longo das disciplinas de PIPEs essa articulação teoria-prática como uma ação de divulgação científica como apontada por SILVA (2006), por diversas razões, incluindo: a falta de abordagem curricular integradora e o diálogo entre os professores que ministram as disciplinas para uma observação integral da proposta curricular; a desvinculação de que uma atividade prática desenvolvida em PIPE dos demais conteúdos abordados no período; a realização de atividades pontuais sem planejamento específico no campo da divulgação científica. Tentando redimensionar essas dificuldades, algumas ações têm sido realizadas na disciplina de PIPE 7 (Seminário) no intuito de possibilitar ao licenciando em Ciências Biológicas o desafio de abordar um determinado conteúdo de Ciências para o público leigo, em ambientes não escolares, como praças, parques e de forma mais frequente, no Museu de Biodiversidade do Cerrado. Um aspecto evidenciado aos estudantes é de que a mostra científica em um espaço não-formal de educação precisaria ser diferente de uma aula expositiva, dado o fato de que os escolares e público em geral devem circular à vontade em cada um dos estandes e escolher livremente em quais gostariam de permanecer (BARCELOS et al., 2010). Essa diferenciação entre o espaço escolar e o não-escolar, durante o planejamento de uma atividade didática, é fundamental para que o licenciando observe as peculiaridades de cada um dos ambientes e as propostas de ensino coerentes a cada um deles. Embora essas articulações e distanciamentos estejam sendo destacadas por alguns pesquisadores no campo da educação em museus (JULIA, 2001; MARANDINO, 2001, 2008; NASCIMENTO e VENTURA, 2009) desde o início da década passada, percebe-se que a incorporação dessas informações no universo das práticas formativas de licenciandos em Ciências Biológicas ainda é muito sutil, uma vez que o próprio museu muitas vezes ainda é visto como um espaço distante do eixo formador do futuro Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.001914 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 30 professor. Dessa forma, como o museu raramente é tido como espaço de formação ou propício à ação didática de licenciandos, o estudo desse campo teórico por parte dos professores formadores ainda é raro. E sendo raro, os apontamentos sobre as aproximações do museu com a escola e vice-versa muitas vezes são discutidos, quando o são, sem um embasamento teórico considerável, o que implica em reproduções de práticas pensadas para a escola mas em outro espaço, no espaço museal. A mostra dos estudantes de PIPE 7tem levado em consideração os elementos interativos e a abordagem lúdica, ressaltando a atratividade do público por meio de dramatizações, maquiagem, efeitos multimídias e fantasias. Nesse sentido, aproxima-se de forma muito direta às características de uma mostra em um museu de ciências interativo, visto que as preocupações dos teóricos no campo da divulgação científica (SILVA, 2006), tais como a necessidade de cativar o público através de atividades lúdicas e interativas, imagens e sons que atraem a atenção do visitante para o conteúdo em exibição (FALK, 1997; ALLEN, 2004; LINDEMANN-MATTHIES e KAMER, 2006) foram observadas. Para Zana (2005), as novas estruturas utilizadas para a difusão da cultura científica e tecnológica e a evolução dos meios de apresentação têm levado a várias formas de mediação humana, que enriquecem a bagagem cultural das pessoas. Assim, atrelar um conteúdo científico acadêmico a uma possibilidade de mostra interativa, rica em propostas de mediação e comunicação visual é capacitar o futuro biólogo para uma boa aula de Ciências e Biologia enquanto professor da educação básica, para o exercício profissional enquanto técnico de alto desempenho e para o mundo acadêmico, enquanto futuro pós-graduando. De forma complementar ao currículo, desde o segundo semestre de 2009 o Curso de Ciências Biológicas tem ofertado a disciplina “Divulgação Científica em Espaços não-formais de Educação”, como optativa tanto para a licenciatura como para o bacharelado, com carga horária total de 60 horas semestrais. Essa disciplina foi proposta no intuito de configurar um lócus dialógico sobre Ciência e Tecnologia, culturas, mídias e a formação específica do comunicador da Ciência. A ementa contempla o processo de produção e divulgação dos conhecimentos científicos, o panorama histórico e questões atuais relacionadas à divulgação científica no Brasil e no mundo. Os principais elementos do perfil do divulgador científico. Vantagens e limitações das diferentes mídias de divulgação científica. Introdução de conceitos e bases metodológicas para pesquisas sobre divulgação científica e percepção Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.001915 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 31 pública da Ciência e elaboração de diferentes produções relacionadas às áreas de interesse dos alunos. O conteúdo programático inclui discussões e ações em relação ao campo teórico da divulgação científica. Os temas centrais são discutidos após leitura de textos específicos do campo da divulgação científica disponíveis em língua portuguesa (LEAL e GOUVÊA, 2002; DUARTE, 2004; MARANDINO et al., 2004; MOREIRA e MASSARANI, 2006; MOREIRA, 2006; TILLY, 2006; LOURENÇO et al., 2009; MASSARANI, 2010). Como o estudante passa por uma imersão em leituras sobre divulgação científica e a complexa rede de relações Ciência e Sociedade, e ao mesmo tempo, elabora produções sobre o próprio trabalho que desenvolve em atividades de iniciação científica como propostas de displays para o Museu de Biodiversidade do Cerrado, releases e textos diversos, pude registrar mudanças de concepções sobre a divulgação do conhecimento científico nesses estudantes. Esses registros se deram a partir de caderno de campo de depoimentos espontâneos dos estudantes da disciplina “Divulgação Científica em Espaços não-formais de Educação” ofertada no primeiro semestre de 2011, sem identificação de autoria, com registro como E1, E2, assim por diante para sinalizar cada um dos 45 estudantes da disciplina (LAVILLE e DIONNE, 1999). Os depoimentos destacam duas vertentes. Uma de que a disciplina impulsiona para um fazer prático, para uma proposição de algo concreto sobre o trabalho de iniciação científica ou sobre um determinado conteúdo das Ciências Biológicas, de forma que atenda à demanda da sociedade: Professora, eu nunca tinha pensado nisso. Por que as outras disciplinas também não falam dessa importância? (E5) Eu vou falar no meu laboratório que precisamos fazer alguma coisa. Mostrar para as pessoas o que a gente faz. (E17) Eu não consigo mais pensar só no resumo para um congresso. Eu penso também em mostrar o que eu faço na praça, na rua. (E22) A gente não pode subestimar as pessoas que não tem estudo universitário. Na minha opinião, a gente pode falar sobre Ciência com qualquer um. Acho que só precisamos saber como. (E34) Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.001916 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 32 Outra vertente é a de que há possibilidades em articular a produção acadêmica no formato de artigos científicos e apresentações em eventos, altamente reforçada na Universidade, às ações de divulgação do conhecimento para a sociedade: Eu não gostava de escrever, mas gostei de fazer esse texto. Foi empolgante. (E8) Acho que era meio ignorância. Achava que seria perda de tempo fazer algo diferente de ir ao congresso e escrever para uma revista. (E41) Foi muito interessante ver que é possível ser um pesquisador produtivo e ao mesmo tempo divulgar Ciência para a sociedade. (E2) É notável a ampliação de visão de mundo desses estudantes, que ao iniciarem a disciplina trazem um componente muito forte de valorização da divulgação do conhecimento científico somente para os pares, dado o contexto acadêmico da publicação científica cujo discurso é reforçado sobre esses jovens pesquisadores em diversos laboratórios. As conversas com profissionais que atuam no campo da divulgação científica para a sociedade, como jornalistas e pesquisadores produtivos, contribui para uma nova percepção sobre o papel do biólogo enquanto profissional socialmente responsável. A concepção inicial de que divulgar o conhecimento produzido para a sociedade seria “perda de tempo” se amplia ao longo da disciplina e novas estruturações são permitidas e valorizadas. Os conceitos discutidos e as produções elaboradas poderão ser suportes para iniciativas autônomas desses estudantes, aliando práticas pedagógicas cunhadas na divulgação científica às ações do fazer Ciência, seja na escola como em qualquer outro espaço educativo não-escolar. As brechas no currículo atual do Curso de Ciências Biológicas da UFU possibilitam algumas aproximações com o museu como espaço formativo dos licenciandos. Seja através dos estágios curriculares, dos PIPEs ou, mais recentemente, pela disciplina de Divulgação Científica. Como não estão formalmente previstas no currículo e não são ações sistematizadas por todos os professores da Prática de Ensino, as atividades formativas dos licenciandos no museu, especificamente no Museu de Biodiversidade do Cerrado, Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.001917 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 33 se constituem como ventos, rajadas de possibilidades de formação. Inconstantes. Ora presentes, ora ausentes. Em função da reforma curricular imposta pela Resolução CNE/CP 4/2009 e pela Resolução CFBio 213 de 20 de março de 2010 do Conselho Federal de Biologia, que alteram a carga horária total dos cursos de Ciências Biológicas (modalidade bacharelado), o currículo do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UFU foi repensado, de forma a atender a carga horária total de 3200 h e adequar as disciplinas pedagógicas a uma proposta mais ampla de formação do biólogo professor de Ciências e Biologia no mundo contemporâneo. Nesse sentido, o novo currículo a ser implementado terá quatro PIPEs ao invés de sete, três estágios curriculares reformulados e uma disciplina específica para abordar a pesquisa em ensino de Ciências. Pretende-se que com a configuração desse novo cenário, o museu possa ser formalmente palco da formação dos licenciandos, uma vez que estará presente na ementa de diversas disciplinas. Em PIPE 1 – Profissão Biólogo – o estudante será informado sobre o projeto pedagógico do curso, sobre a estrutura organizacional da Universidade e possibilidades formativas múltiplas para o graduando. Serão discutidas com os ingressantes as diferenças entre as modalidades do curso e o exercício profissional regulamentado pelo Conselho Federal de Biologia e Ministério da Educação. As principais técnicas e instrumentos cotidianos para o exercício da profissão biólogo em diversos campos serão apresentadas aos estudantes. Desde o primeiro período o futuro biólogo terá contato com o museu como espaço de formação e como espaço de atuação profissional. O PIPE 2 – Ciências e Mídias – deverá identificar e analisar como os conhecimentos sobre as Ciências Naturais (Química, Física, Biologia, Geologia e Astronomia) estão dispostos nas diferentes mídias, em objetos de aprendizagem e em espaços educativos diversos. Discutirá como a veiculação dos conhecimentos científicos sobre a área das Ciências Naturais perpassa pelas diferentes mídias (escrita, falada e digital), por objetos de aprendizagem (livros, atividades, jogos, revistas) e por espaços educativos diversos (escolas, parques, shoppings, jardins botânicos, zoológicos, planetários, museus) agregando valores e impondo apropriações pela sociedade. No PIPE 3 – Biologia e Cultura – serão identificados e analisados como os conhecimentos científicos sobre a Biologia estabelecem relações com a cultura. Pretende-se realizar pesquisas em campo sobre as apropriações desses conhecimentos Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.001918 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 34 biológicos pela sociedade e estudos sobre as concepções populares relacionadas à Biologia (etnobiologia). As relações entre o conhecimento científico e o conhecimento popular sobre Biologia, seus impactos na cultura e a presença desses elementos em diversos espaços culturais, como os museus, serão discutidas. PIPE 4 – Educação e Sociedade – terá como objetivos abordar como o conhecimento científico das Ciências Biológicas contribui para a sociedade, como as áreas de domínio da Biologia se constituíram historicamente, reforçando as tensões e disputas políticas no campo científico. Discutirá as relações entre a Educação em Biologia para a compreensão ampla de mundo e para o processo de letramento científico, que se configura em diversos espaços educativos além da escola. Elencará os fatores positivos e negativos da Ciência para a sociedade, rompendo com a visão de neutralidade do processo de produção do conhecimento científico e suas consequências. Relacionará a Educação em Ciências Biológicas com a tomada de decisão em esferas de políticas públicas e do exercício pleno da cidadania. Estruturará apresentações ou produção de textos de reflexão sobre as vivências anteriores dos estudantes nos PIPEs "Profissão Biólogo", "Ciências e Mídias" e "Biologia e Cultura". Em relação ao estágio curricular, houve uma reformulação na tentativa de incorporar as práticas em ambientes não-escolares, ainda que de forma a envolver os alunos das escolas campo de estágio, não apenas como uma opção ao professor supervisor em estimulá-las junto a sua turma de estudantes, mas como uma proposta curricular, prevista na ementa das disciplinas de estágio. Assim, os Estágios 1 e 2, Ciências e Biologia, respectivamente, proporão as ações de observação, regência e investigação sobre o exercício docente exclusivamente na escola. O Estágio 3 terá os seguintes objetivos: discutir o planejamento necessário para a realização de uma proposta de ensino em um espaço extra escolar. Investigar as relações dos espaços não formais com o público escolar e com a formação de professores. Organizar uma visita com os estudantes a um espaço não formal de Educação (parques ecológicos, jardins botânicos, zoológicos, planetários ou museus) para percepção dos elementos didáticos e de mediação com o público. Planejar e realizar uma proposta de ensino, com estudantes da Educação Básica em parceria com a escola campo de estágio, sobre conteúdos de Ciências Naturais ou Biologia, no formato de uma saída a campo para um espaço não-formal de educação. Discutir as ações desenvolvidas com base em referencial teórico específico do campo do Ensino de Ciências e Biologia. Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.001919 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 35 Com essa reestruturação curricular, os professores formadores da Prática de Ensino pretendem estabelecer o museu, e outros espaços não escolares, como um ambiente formativo integrado à escola e ao cotidiano dos licenciandos. No sentido não só de buscar o diálogo nas relações museu-escola, mas fundamentalmente para tornar esse espaço conhecido pelos estudantes de graduação. Para quebrar barreiras. Para mostrar que na equipe técnica do museu há biólogos, que encontraram dificuldades em trabalhar nesse espaço justamente porque não tiveram uma formação voltada para o museu durante a formação inicial. Para reforçar a importância das parcerias, da compreensão de que o professor no museu pode atuar como professor e se formar continuadamente em um espaço não escolar. As brechas se tornarão portas, que pretendemos deixar sempre abertas para ventos contínuos de museus como espaços de formação de futuros professores de Ciências e Biologia. REFERÊNCIAS ALLEN, S. Designs for Learning: Studying science museum exhibits that do more than entertain. Science Education, v.88 (Suppl. 1), p.17-33, 2004. BARCELOS, N. N. S. 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