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História do Departamento de Otorrinolaringologia
da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
Colaboração de Lídio Granato
História dos primeiros 50 anos da Otorrinolaringologia Paulista e a importância da Santa
Casa neste contexto.
É inegável o papel representado pelo Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de
Misericórdia São Paulo no cenário paulista e brasileiro da Especialidade. Pensando nisto, para não
perder de vista e da memória, aqueles pioneiros que com muito esforço construíram este
Departamento e nos entregaram para mantê-lo com a responsabilidade de ter sido o berço da
Otorrinolaringologia Paulista, resolvemos prestar uma homenagem fazendo um levantamento
histórico incluindo também colegas de outros Serviços que prestaram relevantes trabalhos neste
meio século de atividades da Otorrinolaringologia de São Paulo.
Pelas informações que se tem o Hospital do Arouche ( Santa Casa) foi inaugurado em 31 de agosto
de 1884. A confirmação veio a dois de setembro deste ano quando o Jornal “Estado de São Paulo”
denominação recebida após a Proclamação da República em substituição ao antigo nome “A
Província de São Paulo” noticiara que a festa de visitação de Nossa Senhora da Misericórdia , já se
fizera na Capela provisória do novo Hospital. Esta noticia fundamenta a entrada de funcionamento
do Hospital. Sete anos mais tarde, a quatro de outubro de 1891, era criado o cargo de Diretor
Clínico da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, sendo empossado o Dr.Carlos José de Arruda
Botelho.
Arnaldo Augusto Vieira de Carvalho foi o segundo Diretor assumindo o cargo em 13 de maio de
1894 e permanecendo no cargo até seu prematuro desaparecimento em 1920, aos 53 anos, vítima de
infecção de garganta.
Os primeiros passos do Departamento iniciaram-se há 94 anos quando a Santa Casa cedeu suas
instalações em 1914 para serem utilizadas pela Faculdade de Medicina e Cirurgia , criada em 07 de
janeiro de 1913. A Faculdade nasceu 21 anos após ter sido sancionada a lei número 19 de 1891,
assinada pelo então presidente do Estado de São Paulo, Américo Brasiliense de Mello.
Era a quarta Faculdade de Medicina criada no Brasil. A primeira foi na Bahia em 1809; depois no
Rio de Janeiro em 1882 e a seguir no Rio Grande do Sul em 1896.
Arnaldo Vieira de Carvalho foi buscar para professor e assistente de Otorrinolaringologia, os recém
formados doutores: Henrique Lindenberg e Schmidt Sarmento, ambos com especialização nas
famosas escolas alemães de Berlim e Viena.
Durante 30 anos todas as atividades da Faculdade de Medicina desenvolveram nas instalações da
Santa Casa, sendo que em 1934 com a criação da Universidade de São Paulo a Faculdade de
Medicina e Cirurgia virou Faculdade de Medicina da USP.A idéia da construção do Hospital das
Clínicas nasceu em 1916 e em 1919 era lançada a pedra fundamental, na rua Teodoro Sampaio. As
obras, contudo, só foram iniciadas em 1938. A inauguração ocorreu no dia 19 de abril de 1944. A
primeira turma de médicos paulistas formou-se em 1918 com 28 alunos.
Também a Escola Paulista de Medicina- hoje Unifesf- ocupou as instalações da Santa Casa desde
sua fundação em 1933 até 1950.
Antes deste evento quem exercia a Otorrinolaringologia na Santa Casa ou na cidade de São Paulo?
Em 1949 o presidente, na época da Secção de Otorrinolaringologia da Associação Paulista de
Medicina, o doutor Hugo Ribeiro de Almeida convidou o Professor Antonio de Paula Santos da
Faculdade de Medicina a proferir uma “Conferência” sobre a história da Otorrinolaringologia
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Paulista e seu contexto dentro da especialidade. Neste momento o orador contava com trinta anos de
atividade profissional onde desenvolvia suas atividades de otorrinolaringologia na sua clínica
privada, embora fosse titular da Cátedra de Patologia Geral na Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo. Portanto o Professor Paula Santos deve ter acompanhado todo o inicio
da Especialidade em São Paulo, tornando-se uma testemunha ocular da história. Dados desta
palestra proferida em 17 de janeiro de 1949 serviram de subsidio na elaboração deste trabalho.
Ele menciona que nesta ocasião Nicolau Vergueiro desenvolvia no século passado (XIX )
medicina geral e alguma atividade dentro da área da incipiente Otorrinolaringologia que ele havia
aprendido na Escola Alemã.Ele fazia parte da Equipe do professor Arnaldo V. de Carvalho,
juntamente com Luis Pereira Barretto e outros cirurgiões.
Por volta de 1900 chegava da Europa o Dr. J. J. da Nova trazendo novos conhecimentos e com a
idéia que predominava nos países mais adiantados, que seria possível a formação de um
departamento que tratasse exclusivamente de nariz, garganta e ouvidos. A Escola Alemã contava
nesta época com verdadeiros luminares da Otorrinolaringologia mundial, onde pontificavam Adam
Politzer, Urbantschitsch e outros, em Berlim e Viena.
O “velho” da Nova como ficou conhecido era homem de grande formação humanística e transmitiu
com entusiasmo aos jovens conhecimentos básicos de morfologia que havia aprendido na Europa.
Em 1920 era professor do jovem Antonio de Paula Santos e ele menciona que o professor já com a
idade avançada na Policlínica de São Paulo, continuava a ensinar dando aulas com competência e
ética profissional. Praticou, entre nós, talvez no Brasil, a primeira adenoidectomia, alem de
publicar vários trabalhos sobre “surdo-mudez”, assunto virgem até então no nosso meio. A
Policlínica ficava situada à rua do Carmo e que posteriormente foi dirigido por Hugo Ribeiro de
Almeida por 10 anos.Ele que era formado em 1934 e trabalhara 4 anos com o professor Antonio de
Paula Santos na Faculdade de Medicina da USP. Em 1974 estagiou por 6 meses em New York na
Clínica de Julius Lempert, e de volta difundiu a técnica da fenestração.Também foi pioneiro em
desenvolver um assunto a “ surdez profissional”totalmente inexplorado nosso meio até então.
Quase que ao mesmo tempo surgia a figura de um médico, bem educado, simples e bastante
devotado ao bem público. Tratava-se de Bueno de Miranda em Serviço autônomo. Como era
comum naquela época, aliava a Otorrinolaringologia a Oftalmologia. Segundo A.Paula Santos foi
diretor do serviço de especialidade da Santa Casa e também da Policlínica, antes da chegada
definitiva dos especialistas. Freqüentava com regularidade as Reuniões da Sociedade de Medicina e
Cirurgia, sendo computado a ele a primeira hemi-laringectomia entre nós. Foi também pioneiro na
descrição de caso de leishmaniose de língua.
.Há mais ou menos uns 14 anos, ocorreu um episódio que foi bastante marcante para mim. Por
coincidência, atendemos no nosso consultório um paciente de 88 anos, advogado e pessoa muito
culta que apresentava uma disfonia crônica. Havia a suspeita que apresentava aquela qualidade de
voz como uma seqüela de uma cirurgia que teria sido feita pelo Dr. Bueno de Miranda, quando ele
tinha apenas 4 ou 5 anos de idade. A cirurgia tinha sido de emergência, pois a criança encontrava-se
em insuficiência aguda que o paciente mencionava como causada pela crupe (difteria).
A cirurgia foi realizada sobre a mesa da sala do paciente e ele foi salvo, porém permaneceu com
uma pequena cicatriz cervical e discreta estenose traqueal. Este episódio era contado com detalhes
pelo paciente, e ele não se lembrava do ocorrido, porém, repetia esta estória graças à informação
dada pela sua mãe, que frequentemente elogiava o ato heróico do Dr. Miranda. Este fato deve ter
acontecido por volta de 1909.
Em Campinas, por volta de 1925, o Dr. Raul Guedes de Mello trepanava algumas mastóides, para
tratamento das otites. Ele trabalhara no Rio de Janeiro onde foi provavelmente um dos pioneiros da
cirurgia da mastóide. João Marinho que viria tornar-se um grande professor no Rio de Janeiro,
ainda como doutorando auxiliava o Dr Guedes de Mello. Este aprimorara seus estudos com Georges
Portmann entre 1926 a 1927.
Nesta época as cirurgias da mastóide se resumia simplesmente numa incisão retroauricular (de
Wilde ) ou antrotomia com debridamento da fístula com curetas.
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Gabriel Porto companheiro de Guedes de Mello no Instituto Penido Burnier em Campinas, em
sessão especial em homenagem póstuma a Guedes de Mello em 22 de novembro de 1934,
confirmava como especialista a prioridade da cirurgia da mastóide ao falecido. Na Clínica
trabalharam juntos, embora Gabriel Porto se dedicava mais a endoscopia e cirurgia da laringe,
ambos se auxiliavam mutuamente durante vários anos, e constituíram a verdadeira base deste
Instituto e inclusive preparando seus auxiliares : Alfredo Porto e Raul Renato Guedes de Mello.
Ainda desta época dois outros colegas, dos quais temos poucas informações. São eles: Souza
Castro e Francisco Eiras.
Henrique Lindenberg
Nascido no Rio de Janeiro, formado pela Escola de Farmácia de Ouro Preto ( M G ) veio para São
Paulo onde montou seu estabelecimento onde hoje é a Praça da Sé. Em seguida foi para os Estados
Unidos, mais especificamente para a Universidade da Pensilvânia, juntamente com Benedito
Montenegro, que depois tornar-se-ia um grande professor de Cirurgia.
Esta escola foi uma daquelas grandes universidades Americanas que juntamente com a Harvard,
Siracuse, Michigan e depois John Hopkins, ajudaram a elevar o conceito dos médicos junto à
população americana na metade do século XIX.
Até 1850 a Associação Médica Americana fazia esforço para melhorar a educação médica,
promover um código de ética e medidas relacionadas à saúde pública, melhorar o “status” e a
condição profissional do médico. Nesta época os medicamentos receitados pelos médicos estavam
na categoria dos venenos.
Na segunda metade do século XIX graças a algumas inovações nas Universidades Americanas, tais
como a introdução do microscópio na bacteriologia e da necessidade de treinar os estudantes, trouxe
um progresso muito grande no ensino médico. Foi neste momento que Lindenberg ingressou na
Pennsylvania University.
Outro aspecto interessante do fim do século XIX era a rivalidade entre “farmacistas” e os médicos.
Na verdade a Farmácia tinha sido uma parte da medicina prática através dos séculos. Esta polêmica
durou até o apagar das luzes do século XIX. A graduação em Farmácia valeu a Lindenberg o
conhecimento farmacodinâmico das drogas e seus efeitos terapêuticos.
Em 1900 nos Estados Unidos os Otorrinolaringologistas passavam a ter responsabilidade de tratar
os ouvidos, nariz e garganta em lugar dos cirurgiões e práticos. No Brasil no final do século XIX a
Otologia e a Laringologia reuniram-se sob a denominação de Otolaringologia. A Laringologia
incluia o estudo da garganta e mais tarde estendeu seu âmbito abrangendo a Rinologia com as
cavidades paranasais e a rinofaringe. Finalmente resultou a Otorrinolaringologia e a
Broncoesofagologia.
De volta ao Brasil Lindenberg foi o primeiro chefe da Otorrinolaringologia da Santa Casa e o
primeiro titular da Faculdade de Medicina e Cirurgia e manteve a Clínica precariamente instalada
num dos porões do Hospital Central da Instituição. Isto ocorreu em 1914, mas em entrevista
gravada com o Dr Plínio Mattos Barretto ele garante que oficialmente foi nomeado em 16 de
fevereiro de 1916, segundo o livro de ata da Faculdade. Mesmo nestas condições precárias
desenvolveu um trabalho profícuo, tendo no primeiro ano de exercício operado mais de 50
mastoidectomias. Este era o momento das mastoidectomias radicais, das correções do septo nasal
pelo elegante método de Killian, que ao contrário das técnicas anteriores preservava a mucosa
nasal.Nesta ocasião o mundo experimentava um grande surto de progresso, com conquistas
importantes como a introdução da assepsia, a esterilização do material, a substituição da roupas
escuras pela branca, da máscara bucal e da luva de borracha.
Quando Lindenberg assumiu, as cirurgias eram realizadas em salas cirúrgicas e contavam com
anestésicos, como o etil-cloro-etileno ( Kelene) introduzido por Lêmaitre em 1906. Também já
dispunham de vários tipos de anestésicos locais e a cocaína muito usada como anestésico tópico.
As decisivas transformações que ocorreram no final do século passado e no inicio de século XX que
Cottle chamou de “golden period” ou como os franceses o denominaram de “belle epoque,”
trouxeram progresso importante no campo da Rinologia, como por exemplo, com os trabalhos de
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Joseph em 1898, 1904 e 1905 introduzindo a moderna rinoplastia.Também a cirurgia das cavidades
paranasais contaram com a contribuição de Killian, Caldwell, Luc, Riedel, Schönborn e etc.No
auxilio a propedêutica Hirschmann introduziu a endoscopia da fossa nasal e dos seios da face e
Scheier e Küttner o estudo radiológico das cavidades paranasais em 1909.
Entre os assistentes efetivos de Lindenberg estavam: Schmidt Sarmento, Francisco Hartung e
Mário Ottoni de Rezende, como voluntário.Além das atividades profissionais o professor
Lindenberg interessava-se pela música, pintura e pela radiodifusão, tendo sido um dos pioneiros do
radioamadorismo no Brasil.
Sua carreira profissional foi curta, deixando-a em 1926, quando foi para a Europa em busca de
tratamento médico. Faleceu em 13 de julho de 1928.
Quando Lindenberg faleceu Schmidt Sarmento e Francisco Hartung já tinham o título de livresdocentes.
Adolpho Schmidt Sarmento
Com o desaparecimento do professor Lindenberg o Sarmento, também aluno das tradicionais
Escolas de Berlim e Viena deveria automaticamente assumir a Cátedra de Otorrinolaringologia da
Faculdade de Medicina.Todavia o regulamento da Faculdade em um dos seus artigos previa a
possibilidade de transferência entre as chamadas Cátedras afins e nesta situação encontrava-se o
titular da cadeira de Patologia Geral, que praticava a Otorrinolaringologia em sua clínica privada.
Utilizando-se deste expediente foi empossado na Cátedra do O.R.L. em 14 de março de 1929 o
professor Antonio de Paula Santos que em 1920 havia prestado concurso para a Cadeira
anteriormente mencionada.
Em função disto a direção da Santa Casa manteve o mesmo grupo de assistente sob o comando de
Schmidt Sarmento, e para conciliar a situação, cedeu outro espaço no Instituto do Radium, que fora
inaugurado em 1921 e que passou a denominar-se de Arnaldo Vieira de Carvalho, para a Faculdade
de Medicina. Este prédio situava anexo ao Hospital Central, onde existe até hoje. O Professor Paula
Santos continuou ministrando cursos e seus primeiros assistentes foram: Raphael da Nova, José
Freire de Mattos e Jayme Ribeiro de Campos, sendo que este último faleceu precocemente sendo
substituído por Plínio Mattos Barretto. Na ocasião foi feito um acordo, em que os pacientes que
procurassem o setor de otorrinolaringologia do Hospital seriam divididos alternativamente: dois
dias da semana para a Clínica do Professor Paula Santos e dois outros para o Dr Schmidt Sarmento
no Hospital Central da Santa Casa.
Sarmento inaugurou no Brasil a amigdalectomia pelo instrumento Ballanger- Sluder, retirando-lhe o
corte da lâmina e fazendo dele uma pinça fórceps de apreensão em que o dedo indicador fazia a
dissecção extra-capsular das amigdalas.
Apresentando problemas de saúde Sarmento pouco administrou a Clínica, tendo-se licenciado e
deixando como chefe interino o Professor Mário Ottonide Rezende e que veio assumi-la
definitivamente após a morte do amigo,que era também seu colega de turma.Sarmento faleceu em
26 de novembro de 1939, após longa enfermidade.
Francisco de Paula Pinto Hartung.
Também de formação vienense, possuía sólida cultura geral, artística e filosófica. Todavia por força
de sua enorme clínica particular frequentava de modo esporádico o Departamento, sendo no
entretanto muito assíduo às reuniões Clínicas,onde obteve enorme material para a divulgação de
muitos trabalhos científicos. Publicou entre 1933 e 1950 na Revista Brasileira de O.R.L. (uma das
maiores publicações na Revista Brasileira) 31 trabalhos. Juntamente com o Dr. Whitaker parece ter
a primazia de comunicarem a primeira labirintectomia no nosso meio.
Dedicou-se com afinco ao estudo da leishmaniose nasal originando-se o tema de sua tese.
Mário Ottoni de Rezende
Formado em 1906 no Rio de Janeiro, dirigiu-se para uma pequena cidade no interior do Estado de
São Paulo- Salles de Oliveira- próximo a Ribeirão Preto, onde fazia Clínica Geral, Cirurgia e
Obstetrícia.
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Depois foi para Paris fazer um curso de Pós-graduação em Urologia com o renomado Professor
Guion. No seu retorno iniciou seu trabalho na Santa Casa ao lado de grandes cirurgiões onde se
destacava a figura de Benedito Montenegro do qual se tornou grande amigo.
Montenegro estudara com Lindenberg na Pennsylvania University e desta amizade nasceu a
aproximação do Dr. Mário com o Lindenberg, que o convidou para trabalhar na sua Clínica do
Otorrino. Após alguns anos em 1921 dirigiu-se para Berlim onde estagiou por um ano (1922) no
Serviço de Von Eicken , na Charité ao lado de Seiffert, o grande amigo dos brasileiros e depois
em Viena onde acompanhou os mestres Neuman, Ruttin, Beck, Rajek, Hirsh, Schüller e Alexander.
Voltando a São Paulo substituiu Schmidt Sarmento, embora já atuasse interinamente,
pois, Sarmento não gozava de boa saúde.Mário Ottoni iniciou uma das mais profícuas Escolas de
O.R.L., sempre procurado por inúmeros colegas e estagiários de todo o Brasil.Com a mudança da
Clínica para o segundo andar do Edifício de Ambulatório do Prédio Conde de Lara, este Serviço
modernizou –se e passou a colaborar intensamente com outros departamentos principalmente com a
Neurologia, Neurocirurgia, Oftalmologia e Clínica Médica.
O Pavilhão Conde de Lara abrigava no segundo andar o setor de Otorrinolaringologia que ocupava
2/3 do mesmo enquanto no outro terço funcionava a Neurologia da Faculdade de Medicina e que
Mário Ottoni as denominava de “irmãs Germanas”dada a união e o bom entrosamento entre as duas
disciplinas. Nascia e começava a engatinhar a Otoneurologia Brasileira.
Em 1926 sob a presidência de Mário Ottoni na Sociedade de Medicina e Cirurgia, instalava-se a 1a
semana Paulista de nossa Especialidade. Foi coroada de sucesso com o professor João Marinho se
destacando entre os convidados. Dez anos depois de 06 a 11 de junho houve a repetição desta
jornada chefiada por Mário Ottoni e desta vez contou com a presença do Dr. Raul David de
Sanson, professor da Cátedra da Faculdade Nacional de Medicina.
Para ter idéia da importância do Simpósio as atas deste encontro perfizeram cerca de mil páginas,
três volumes da Revista Otolaringologica de São Paulo. No final da sessão de encerramento o Dr
Paulo Mangabeira enalteceu a figura do Dr Mário como figura fundamental e somente com o
prestigio dele poderia reunir tantos especialistas importantes neste conclave.
Estas duas semanas representaram um ensaio para o Primeiro Congresso de Otorrinolaringologia
Brasileira realizado de 02 a 09 de outubro de 1938 no Rio de Janeiro sob os auspícios do Professor
Marinho. Estiveram presentes neste encontro os mais destacados mestres da Otorrinolaringologia
Sul Americana representados pelos professores Segura, Alonso do Uruguai e Tato da Argentina.
Em 1933 Mário Ottoni e seu concunhado Homero Cordeiro, renomado especialista e chefe do
Serviço de O.R. L.,do Hospital Humberto Primo, fundaram a primeira Revista da especialidade no
Brasil, com o nome de Revista Oto-Laryngológica de São Paulo em que os dois eram diretores e
redatores .
Em 1939 a revista passou a chamar Revista Brasileira de Otorrinolaringologia sem prejuízo dos
volumes anteriores, continuando a numeração da revista anterior. Os dois diretores ficaram
responsáveis pela revista por 30 anos ou seja de 1933 a 1963.
Ainda pela sua capacidade de reunir os principais mestres da época, teve papel importante na
fundação da Sociedade Brasileira de ORL, que se deu na Bahia em 1948.
A qualidade dos trabalhos em geral eram de alto nível no meio O.R.L. e geralmente serviam para a
divulgação do desenvolvimento científico do Serviço da Santa Casa e alguns deles foram premiados
com láureas instituídas pela Associação Paulista de Medicina.
Durante a sua gestão criou e estimulou várias áreas dentro da Otorrinolaringologia, as quais
podemos mencionar e seus principais professores:
Mário Graziani- fazia parte do grupo do Dr. Mário Ottoni e foi estimulado por ele a criar o Serviço
de Odontologia Hospitalar em 1940, sendo o primeiro no Brasil. O Professor Graziani graduou-se
em 1936 pela Faculdade de Odontologia de Campinas, onde trabalhou nesta cidade até
1939.Estagiou na University of Michigan em 1946 onde fez pós-graduação em Odontologia.Fez
estágio de aperfeiçoamento e curso de Cirurgia bucal na New York University, College of
Dentistry. Ao voltar ao Brasil tornou-se professor de Buco-Maxilo-Facial.
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Graziani em 1942 publicou a primeira edição de sua obra: Cirurgia –Buco- Maxilar e re-editada
várias vezes. Publicou inúmeros trabalhos na área da Odontologia e em 1956 tornou-se livre
docente pela Faculdade do Odontogia da USP.
Também convidou o Dr. Plínio Mattos Barretto para desenvolver a Endoscopia Peroral na Santa
Casa, pois este havia estagiado no Temple University Hospital, Philadelphia, durante 3 anos, onde
fora aluno de Chevalier Jackson. Dr Mário havia garantido o lugar dele na Clínica e no seu retorno
arranjou um pequeno espaço na Clínica , onde Plínio iniciou praticamente a moderna Endoscopia,
que logo se firmaria como uma especialidade autônoma.Dr.Mário tinha grandes pendores pela
endoscopia, pois embora pouco a praticou ele tinha sido discípulo de Seiffert, grande incentivador
da Endoscopia Peroral na Alemanha.
Professor Mário Ottoni notabilizou–se pelo amor ao ensino e pelo rigor da disciplina que impunha
aos trabalhos e aos colegas. Possuía uma biblioteca enorme que sempre a conservou aberta àqueles
que quisessem consultá-la. Posteriormente foi doada pelo seu sobrinho, Dr. Rezende Barbosa ao
Departamento de ORL da Santa Casa Ainda colaborou com vários colegas traduzindo textos e
capítulos em alemão.
Mário Ottoni introduziu o primeiro Serviço de Cirurgia Plástica em São Paulo convidando o Dr.
José Rebelo Neto para assumi-lo.
O professor Mário interessou-se por praticamente todos os assuntos da especialidade, sendo um dos
pioneiros a desenvolver método de tratamento para a leishmaniose nasal. Utilizava o ácido lático a
80% na lesão após curetagem da mesma.
A clínica do Dr. Mário Ottoni tinha como auxiliares os seguintes assistentes:
Roberto Oliva-com a posição de subchefe, tinha uma formação austríaca com os professores:
Neuman e Alexander.Dotado de uma enorme cultura publicou 7 trabalhos na Revista Brasileira de
Otorrinolaringologia.Quando Mário Ottoni completou 60 anos pensou em renunciar em favor dos
mais jovens, porém foi realizado um almoço, organizado pelo Dr. Oliva e feito apelo para que ele
permanecesse no cargo, o que aconteceu e somente se retirando aos 70 anos em 1953.
Ernesto Moreira-tinha um gênio um ríspido e fechado. Isto no fundo era um manto com o qual
procurava cobrir um temperamento modesto e até mesmo tímido. O seu assunto preferido era a
Rinite Atrófica Fétida ( Ozenosa). Estudou –a sob todos os aspectos: clínico, etiológico e
cirúrgico.Chegou a desenvolver uma técnica própria para tratamento cirúrgico de ozena que era
cinhecida como: Moreira- Lautenschlager.. Publicou 8 trabalhos de 1940 a 1948 na Revista
Brasileira de Otorrinolaringologia.
Silvestre Passy- era homem de grande honestidade pessoal e dotado de alto padrão ético e
profissional.Foi condecorado pelo governo do Estado de São Paulo na gestão Carvalho Pinto, como
Servidor Emérito, por 50 anos de serviços prestados ao Estado..
Sílvio Ognibene- homem de forte formação técnica e científica. Publicou 6 trabalhos de 1933 a
1942.
O professor Mário Ottoni se retirou em 1953 quando voltou a gerir suas fazendas no interior do
Estado de São Paulo.Faleceu aos 86 anos vitimado de um ataque coronariano em 14 de outubro de
1969.
Raphael da Nova-. Substituiu o professor Antonio Paula Santos. Livre docente em 1928,
catedrático por concurso de títulos e provas em 1956. Defendeu sua tese que versou sobre: Da
influência da cortisona sobre a bioquímica e a atividade coloidopéxica da amigdala palatina.
No 1º Congresso Sul Americano, realizado em Buenos Aires Raphael da Nova apresentou trbalho
sobre Blastomicose que abria uma nova trilha para o tratamento desta enfermidade.
Foram seus assistentes: Antonio Prudente Corrêa, que faleceu em 1964, Lamartine Paiva, Elias
Salomão Mansur, Lázaro Formigoni, Décio Mion, José Freire Mattos Barretto, José Guilherme
Whitaker, Sílvio Marone, Moysés Cutin, , Aroldo Miniti, Ossamu Butugan e Edigar Rezende de
Almeida.
Lamartine Paiva- substituiu o professor da Nova com muito brilho. Nasceu em 1919 em Pouso
Alegre, Minas Gerais e formou-se pela Faculdade de Medicina da USP em 1947.Fez toda sua
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carreira dentro da Faculdade de Medicina da USP chegando a professor titular e chefe da
Cadeira.Publicou inúmeros trabalhos e foi substituido pelo Dr. Aroldo Miniti que conduziu o
Departamento de Otorrinolaringologia num centro de excelência dos mais importantes do Brasil e
da América Latina.
Em 1933 foi fundada a Escola Paulista de Medicina e o primeiro ocupante da Cadeira foi o Dr.
Paulo Mangabeira Albernaz. Nascido em Bagé- Rio Grande do Sul (25-01-1896) onde seu pai
serviu como médico militar, era baiano pelos ascendentes e pela formação.Diplomou-se em
Medicina em 1919 na Bahia e foi interno no Serviço do Professor Eduardo Rodrigues de
Morais.defendeu tese intitulada: “Estudos sobre o parasito da raiva.” Exerceu a profissão
inicialmente em Jaú a partir de 1921 e em 1926 transferiu-se para Campinas, onde fundou uma
Clínica Oftalmo-Otorrinolaringológica, em sociedade com um colega oftalmologista.
Como professor na Escola Paulista praticou e lecionou. Publicou o primeiro manual da
especialidade no Brasil em 1930, baseado nas observações obtidas na sua clínica diária e a segunda
edição em 1935, com o acréscimo de novos capítulos, relativos à anatomia e fisiologia das regiões
de interesse à Otorrinolaringologia, tornando a obra mais didática.
Recebeu vários prêmios incluindo a medalha de ouro do mais expressivo prêmio latino-americano
da Otorrinolaringologia, o denominado “ Eliseu Segura” em 1969. Quando se aposentou pela
compulsória em 1966 o governo federal distinguiu-o com a comenda da Ordem do Mérito Médico,
no grau de Grande Oficial.
O professor Mangabeira foi sempre muito interessado e rigoroso na utilização da nomenclatura
médica. Publicou vários artigos em revistas e jornais, culminando com a divulgação da
“Nomenclatura Anatômica Brasileira” ( in “ Arquivos de Cirurgia Clínica Experimental”, São
Paulo- 1961), uma Nomina Anatômica”que contou com três colaboradores.
Durante a sua gestão criou a disciplina de Endoscopia Peroral, uma das primeiras no nosso meio,
que foi muito bem dirigida por Arruda Botelho.
Foi na Escola Paulista que seus três filhos se formaram: Luis Gastão, Paulo e Pedro Luís, este
ocupou em 1967 o lugar que o pai ocupara.
Pedro Luís Mangabeira Albernaz-. Formado em 1955, logo em seguida fez sua residência em St.
Louis, Mo. nos Estados Unidos, de 1958 a 1961, com o grande mestre Theodoro Walsh. Em 1965
de volta ao Brasil iniciou entre nós a prática da cirurgia do meato acústico interno
.Em 1967 tornou-se livre docente na Escola Paulista. Organizou o Curso de pós-graduação em
mestrado e doutorado em 1978, dando a muitos colegas de todo o Brasil a
oportunidade de completar a sua carreira universitária.
Pedro Luís tem o grande mérito de ter realizado com sucesso o primeiro implante coclear no Brasil.
Ainda desenvolveu a área da Labirintologia, com novos métodos semiológicos e criando um setor
altamente diferenciado dentro do departamento de ORL ,para estudo das afecções otoneurológicas.
Constituiu uma equipe de assistente altamente preparada onde despontaram: Paulo Augusto de
Lima Pontes, Mauricio Malavassi Ganança, Yotaka Fukuda, Luc Louis Maurice Wecky e outros.
José Augusto Arruda Botelho- Foi um dos primeiros aluno brasileiro de Chevalier Jackson
(Temple University- Estados Unidos)
Antes desse estágio trabalhou na Santa Casa de São Paulo no Ambulatório de Endoscopia de 1940 a
1942. Após o primeiro ano de treinamento intensivo montou um Serviço de Endoscopia no antigo
da Hospital Beneficência Portuguesa,na rua Brigadeiro Tobias.
Em 1941 foi trabalhar com Paulo Mangabeira Albernaz onde foi fundado o primeiro Serviço de
Endoscopia Peroral do Brasil, entregando-lhe a chefia em caráter oficial.
O cargo para professor adjunto veio com a federalização da Escola Paulista em 1964, tendo na
mesma época o seu colega Walter Marchi nomeado professor assistente e a seguir professor
adjunto.
Ângelo Mazza –Formado em 1933 pela Faculdade de Medicina da USP, tendo obtido o título de
doutor em1934 após defesa de tese. Trabalhou por vários anos na Santa Casa com professor
voluntário e em 1939 recebeu o título de “médico adjunto do Hospital Central”. Nesta época aceitou
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convite para trabalhar como assistente na Cátedra de ORL da Escola Paulista de Medicina, com o
professor Paulo Mangabeira Albernaz, onde desenvolveu um trabalho muito importante na função
de docente até a sua morte. Tivemos oportunidade de desfrutar da sua amizade, no final da sua
carreira e mesmo nos valer dos seus conhecimentos quando nos encontramos no Hospital Santa
Catarina, onde atendia seus pacientes particulares.Publicou 8 trabalhos na Revista Brasileira de
Otorrinolaringologia.
Nelson Alvarez Cruz- nascido em 1921 e formado pela Escola Paulista de Medicina
em1948.Iniciou seu aprendizado em ORL com o José Eugenio Paula Assis no Hospital N. S.
Aparecida. Em 1949 freqüentou o Serviço de Mário Ottoni na Santa Casa. Em 1952 viajou para a
França onde freqüentou vários Serviços, destacando-se o de George Portmann.Desde 1978 passou a
professor de ensino pós-universitário da Fundação Portmann.
Foi o primeiro cirurgião titular do serviço de cabeça e pescoço do Hospital A.C. Camargo da
Associação de Combate ao Câncer de São Paulo de 1953 a 1962.
Livre- Docente pela Escola Paulista em 1966.
Professor titular de ORL em várias Faculdades do interior de São Paulo: Santos, Ribeirão Preto e no
ABC.
Silvio Marone – formado pela escola do A. Paula Santos foi professor Catedrático da Escola de
Medicina de Sorocaba. Também freqüentou como médico voluntário o Departamento de ORL da
Santa Casa.
Moysés Cutin ,nascido em Porto Alegre em 1913 e formado pela Faculdade de Medicina do seu
estado em 1934.Fez especialização no Rio de Janeiro com o mestre David Sanson em 1941.Em
1948 estagiou nos Estados Unidos e em seguida na França.
Foi assistente extranumerário da Clinica de ORL do Professor A. Paula Santos de 1948 a 1952.
Livre–Docente em 1951 e por concurso tornou-se professor catedrático em 1958 em ORL na
Faculdade de Medicina de Porto Alegre, permanecendo lá até a sua aposentadoria. Em São Paulo
em 1964 conquistou o cargo de Diretor do Serviço de ORL do Hospital do Servidor Público
Estadual.Foi substituído pelo professor Samir Cahali.
Dr. Cincinato Leme Ferreira. Formado em Genebra em 1917 ( Bacharel em Ciências Médicas);
depois especializou-se em ORL pela Universidade de Genebra, tendo defendido tese em
1919.Chegando ao Brasil passou a chefiar o hospital Humberto Primo ( Hospital Matarazzo). Foi
posteriormente substituído por Homero Cordeiro.
Homero Cordeiro-Chefiava o grupo de otorrinolaringologistas do Hospital Matarazzo e que se
transferiu para o Serviço da Santa Casa em 1943, levando consigo o Dr. Mauro Cândido de Souza
Dias. Homero Cordeiro também tinha estagiado na Alemanha e era um admirador de Alfred Seiffert
e distinguiu-se no tratamento de portadores de esofagite corrosivas e o primeiro entre nós a
defender as vantagens do tratamento precoce das mesmas. Também praticou pela primeira vez no
Departamento de ORL a cirurgia de Lautenshlager para tratamento da ozena. Também ensaiava a
dissecção das amigdalas em adultos, método muito mais elegante e com melhores resultados que os
anteriores.
Publicou 15 trabalhos científicos na Revista Brasileira de Otorrinolaringologia entre 1933 a 1946.
Em 1959 divulgou o último (160).
Outros assistentes que faziam parte da Clínica nesta época: Paulo Saes -fez notáveis pesquisas
sobre otites latentes; Antonio Vicente de Azevedo; José Eugenio de Paula Assis e Arnaldo
Barrella. José Rebelo Neto- que ingressou como especialista na Cirurgia Plástica.
Entre os chamados da Jovem Guarda que vieram soma-se aos primeiros, lembramos: Haroldo da
Silva Bastos- formado pela primeira turma da Escola Paulista de Medicina, profissional competente
e que traçou uma carreira retilínea. Foi um grande amigo. Eduardo Cotrim, hábil operador da
faringe e Moracy Lobo
Jorge Fairbanks Barbosa- sem dúvida um dos mais ilustres assistentes que iniciando no
Departamento na década de 40, imprimiu um rítimo galopante, marcando sua presença.Trabalhou
por cinco anos no Serviço quando prestou concurso no IAPC (Instituto de Aposentadoria e Pensão
dos Comerciários) e foi aprovado com distinção.Em seguida foi convidado pelo Professor Antônio
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Prudente para trabalhar no Hospital do Câncer onde desenvolveu-se tornando conhecido
internacionalmente como grande cancerologista. Publicou um volume em língua inglesa e que foi
acolhido com entusiasmo pela comunidade científica mundial.
Foi por iniciativa do Dr. Jorge a fundação da Sociedade Brasileira de Cabeça e Pescoço que contou
com o apoio dos especialistas do país, sendo os estatutos aprovados em 8 de dezembro de 1967, por
ocasião do primeiro Congresso da especialidade.
José Eugênio Rezende Barbosa- assumiu a chefia do Serviço em substituição a Mário Ottoni , em
1953 e permaneceu ininteruptamente até 1969. Graduou-se na Faculdade de Medicina da USP m
1935 e desde o inicio da carreira interessou-se pela otologia e as suas relações com a Neurologia,
onde pontificavam os drs: Aderbal Tolosa, Oswaldo Lange, Freitas Julião e Virgilio Savoy.Deste
encontro foi possível desenvolver a otoneurologia com bases bem sólidas alicerçadas em
conhecimentos de anátomo- fisiologia do ouvido interno e neurológicos.
Dr. Rezende estimulou a cirurgia otológica dando ênfase à fenestração do canal semi-circular lateral
quando ainda não existiam os eficientes microscópios. Foi um dos pioneiros desta cirurgia no
nosso meio. Iniciador das técnicas audiométricas que vieram a possibilitar a avaliação auditiva com
maior precisão. Nesta época construiu um túnel de 10 metros de comprimento onde cada metro era
marcado nas paredes para laterais para que se realizasse a audiometria vocal, iniciando assim os
testes de discriminação auditiva.
Na década de 40 Rezende elaborou um trabalho sobre Audiometria que foi premiado pela
Associação Paulista de Medicina. Neste trabalho reunia seus primeiros resultados desta nova
técnica semiológica que viria a tornar-se de fundamental importância no diagnóstico otológico.
Foi editor da Revista Brasileira de ORL em 1964 que foi em seguida sucedido pelos Drs: Rudolf
Lang e Nicanor Letti de 1970 a 1975, quando Dr Lang manteve-se como editor até 1985. Com a
criação da Federação Brasileira das Sociedades de Otorrinolaringologia e Broncoesofagologia
em 1948, foi a revista incorporada à Federação e editada inicialmente por Paulo Mangabeira
Albernaz e depois por Rudolf Lang no Rio Grande do Sul.
Como assistentes voluntários na época lembramos o Dr. José Tarcisio Loureiro, que mudou para
Santos chegando a dirigir o Serviço de Otorrinolaringologia da Santa Casa daquela cidade. Anis
Milan e Sérgio Paula Santos, descendente da família de otorrinos e que estagiou com Wulstein na
Alemanha.Também Otacílio Lopes Filho.
Dr Rezende permaneceu a frente do Departamento até 1969. Participou da fundação da Faculdade
de Ciências Médicas da Santa Casa e seu primeiro Professor Titular. A criação da Faculdade nas
instalações da Santa Casa era um velho sonho do seu tio, o professor Mário Ottoni de Rezende.
Em 1969 deixou a chefia do Departamento para dedicar-se as suas inúmeras atividades particulares.
Além de desenvolver a criação de cavalo puro-sangue inglês, foi um dos primeiros importadores de
cavalo da raça “Quarter Horse”, importados do Texas, e a desenvolveu, constituindo-se num grande
avanço da eqüinocultura nacional.
Alexandre Médicis da Silveira- formado em 1946 em Pernambuco, tendo iniciado sua
especialização com o seu tio o Professor J. Andrade Médicis, na Universidade de Pernambuco, no
Hospital Santo Amaro e no Hospital Infantil Manuel Almeida.
Em 1947 estagiou em Bordeaux no Serviço do Professor Georges Portmann e permaneceu ligado a
este Serviço através da Fundação Portmann passando por várias funções sendo Delegado Geral para
o Brasil em 1967. Estagiou em outros Serviços na França e Itália.
Estagiou na Faculdade de Medicina da USP em 1948 e foi assistente efetivo do Professor Rezende
Barbosa, de 1955 a 1960. Foi através do Dr. Médicis que o seu tio J.Andrade Médicis doou a sua
biblioteca de Otorrinolaringologia para a Santa Casa de São Paulo, o que representou um enorme
acervo à disposição dos colegas de todo o Brasil.
Mauro Cândido de Souza Dias- Foi indicado para substituir o Dr. Rezende Barbosa e o fez com
muita competência em 1969.
Formou-se em 1937 pela Escola Paulista de Medicina. Trabalhou por alguns anos no Hospital
Humberto Primo (posteriormente chamado de Hospital Matarazzo). Ingressou no Serviço da Santa
Casa a convite do Dr. Mário Ottoni em 1943.
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Dr. Mauro foi interno em 1935 na primeira Clínica Cirúrgica do Professor Alípio Corrêa Neto,
onde iniciou nos segredos da técnica Cirúrgica, o que valeu muito na sua carreira, pois tornou-se um
grande cirurgião.
Em 1939 passou a trabalhar no Hospital São Luis Gonzaga da Santa Casa de São Paulo, Instituição
que dava atendimento a tuberculosos. Graças ao seu grande interesse teve oportunidade de publicar
um importante trabalho na Revista Brasileira de ORL sobre o assunto. Recebeu dois prêmios
máximos da Otorrinolaringologia Paulista em 1952 e1954. Por coincidência estes prêmios levam o
nome do seu antigo mestre “ Mário Ottoni de Rezende”
Dedicou-se ao ensino e pesquisa. Além de hábil cirurgião tinha grande interesse pela Audiologia,
tendo fundado a fonoaudiologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e ministrado aula
por vários anos.
Na política da área médica foi presidente do Departamento de O.R.L. da APM. Fellow do American
College of Surgeon e em 1975 recebeu o título de Professor Emérito da Faculdade de Ciências
Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Como auxiliares nesta época contava entre outros com os doutores: Orozimbo Alves Costa Filho,
que posteriormente tornou-se professor e responsável pela Otorrinolaringologia da Faculdade de
Medicina de Sorocaba e também pelo Centrinho de Bauru onde desenvolve importante trabalho na
recuperação de deficientes auditivo, inclusive com grande experiência na cirurgia do implante
coclear. Décio Renato Campana, ex-chefe do Serviço de ORL do Hospital do Servidor Municipal,
Hélio Andrade Lessa, chefe do Serviço da Faculdade Federal de Salvador- Bahia,José Antonio
Pinto, diretor do Núcleo de ORL e de Cirurgia de Cabeça e Pescoço de São Paulo e Otacílio Lopes
Filho que viria substituir o Dr. Mauro Sousa Dias.
Em 1975 deixou o cargo para cuidar dos seus afazeres, principalmente suas fazendas na cidade de
Assis ( Estado de São Paulo ) e no Mato Grosso.
Jorge Barretto Prado-nasceu em 15 de agosto de 1919, na cidade de Aracaju, para onde seu pai
conhecido sanitarista do Instituto Manguinhos e que trabalhava com Oswaldo Cruz, fora por ele
designado para chefiar a delegação enviada para combater o surto de febre amarela que grassava
em Sergipe. O pai viajou com a família e lá nasceu seu último filho, neto e bisneto de médicos.
Jorge tinha sete tios e vários primos médicos, o que talvez o teria influenciado para a escolha da
profissão.
Graduou-se em 1944 pela Escola Paulista de Medicina. Mesmo como acadêmico começou a
freqüentar o ambulatório de Endoscopia Peroral organizado e chefiado pelo seu tio Plínio Mattos
Barretto.
O Serviço de Endoscopia na Santa Casa iniciou em 1938, pois no Pavilhão Conde Lara estavam
sendo instaladas as Clínicas Especializadas. Esta inauguração se deveu ao Dr. Mário Ottoni de
Rezende. Neste ano Plínio tinha sido nomeado Assistente Efetivo da Faculdade e no ano seguinte
inaugurou o Primeiro Ambulatório de Endoscopia. Jorge Barretto foi o primeiro assistente e
trabalhou de 1942 a 1945 no Conde Lara. Deste Ambulatório afastou-se temporariamente porque
fora nomeado Assistente Extranumerário da Faculdade de Medicina da USP para acompanhar o que
viria a ser o Serviço de Endoscopia daquele Hospital.
Após dois anos o Dr. Jorge foi convidado para chefiar o Serviço de Endoscopia da Santa Casa que
estava fechado neste período. Continuou como médico contratado no Hospital das Clínicas até
1958.
Na Santa Casa em 1954 foi nomeado como Chefe de Clínica Efetivo após concurso de Títulos.
Nesta qualidade colaborou para organizar a Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa em 1963,
quando foi nomeado Professor Pleno da disciplina de Endoscopia do Departamento de Cirurgia
daquela Faculdade.
Na década de 80 foi organizado o Departamento de ORL, Oftalmologia e Endoscopia Peroral, tendo
sido o Dr. Jorge indicado para Diretor deste Departamento.
Em 1981 foi Diretor do Hospital Santa Isabel. Como especialista foi o primeiro a usar a anfotericina
no tratamento de casos rebeldes de leishmaniose. Também foi pioneiro em tentar melhorar a
resistência dos pacientes portadores de papilomatose de laringe, com a utilização de vacinas
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antivariólica. Trabalhou muito na sistematização do tratamento das laringotraqueobronquites agudas
na infância.
Faleceu em 20 de maio de 1965???? em pleno vigor de sua carreira profissional.
Otacílio Carvalho Lopes Filho- Ao assumir a chefia deste tradicional Serviço em 1975 já havia
sido aprovado em outros concursos como Doutor em Medicina, tendo defendido tese em 1972 pela
Faculdade de Medicina da USP.Em 1974 obteve o título de livre – docente em ORL, após
Concurso na Escola Paulista de Medicina.
O professor Otacílio Lopes logo no inicio reformou fisicamente a Clínica, adequando-a e
reformulando setores da mesma. Modernizou e deu ênfase aos exames eletrofisiológicos, equipou a
otoneurologia e a Audiologia. Pessoa muito organizada e exigente no que se referia ao
funcionamento da Clínica e aos compromissos assumidos.
Dono de um currículo excelente, tendo presidido Congresso Brasileiro e Panamericano.
Alem de muitos trabalhos publicados no Brasil e no exterior,escreveu livro da Especialidade em
quatro volumes, publicado em 1972 e com nova edição em volume único em 1993.Permaneceu na
chefia deste serviço até 1996.
Em 1986 faziam parte do Departamento, os seguintes assistentes: Lídio Granato, Ney Penteado de
Castro Junior, Pedro Paulo Sodré ( Chefes de Clínicas) e Carlos Herrerias de Campos, Fernando de
Andrade Quintanilha Ribeiro, Marina Stella Figueiredo (Primeiros Assistentes ), Ivo Bussoloti ,
Estelita T. Betti, Edson Taciro ( Segundos – Assistentes) e José Eduardo Dolci ( Voluntário).
Este apanhado histórico resumido até a década de 1970 e os otorrinolaringologistas que tiveram
atuação mais ativa neste período. Como num revezamento de 4 por 400 alguém deverá continuar
tentando registrar a evolução da especialidade nas últimas décadas, agora com melhores condições,
pois as informações estão melhor registradas pelo avanço técnico, para que as novas gerações
possam entender que o futuro se constroe baseado no passado.Talvez algumas pessoas possam não
ter sido mencionadas e se sintam injustiçadas, mas isto pode ter ocorrido por nossa falta de acesso à
informação.
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História do Departamento de Otorrinalaringologia da - aborl-ccf