12 e 13 de agosto de 2011
ISSN 1984-9354
CAPITAL ESPIRITUAL: A EVOLUÇÃO
DO CAPITALISMO
Bruno Henrique da Costa Silva
(LATEC/UFF)
Resumo
Baseado nas teorias de Capital Espiritual, este artigo tem o objetivo de
mostrar a importância e necessidade de mudança na cultura
empresarial atual, uma vez que estamos ligados em uma rede mundial
de negócios e transações financeiras, trannsformando a mesma em um
sistema capitalista sustentável e consciente dos seus atos.
Palavras-chaves: Capital Espiritual, Mudança, Consciência e
Sustentabilidade.
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
12 e 13 de agosto de 2011
1. Introdução
Nos contos de Ovídio, extraídos da mitologia grega temos a história de Erisictão:
“Notório por desprezar os deuses e não lhes fazia sacrifícios, uma vez quis construir um teto
para seu salão de banquetes não duvidou em derrubar, ajudado por uns vinte Gigantes, uma
árvore sagrada que formava um santuário ancestral da deusa Deméter construido pelos
pelasgos, o povo que habitava a Tessália antes de serem expulsados pelo pai de Eresichtón.
As dríades que habitavam estas árvores correram a solicitar auxilio da deusa.
Deméter tomou a forma de sua sacerdotisa Nicipe e desta forma tentou de boas
maneiras fazer Erisictão desistir de continuar com o sacrilégio. Mas este, longe de deixar-se
disuadir, ameaçou matá-la com o mesmo machado que estava utilizando.
Foi então quando Deméter, vítima de uma ira sem precedentes, ordenou a Némesis (a
vingança) e a Limos (a fome) que vingassem este ultraje. O terrível monstro penetrou nas
entranhas de Eresichtón de tal forma que desde então nada saciaria seus desejos de comer, e
quanto mais engulia mais cresceria sua fome.
Quando Erisictão vendeu todas as suas posses para comprar comida, seu pai se
encarregou de alimentá-lo, mas foi tal sua voracidade que em pouco tempo acabou com as
riquezas de Triopas e Erisictão acabou convertendo-se em um mendigo que comia imundices.
Nem sequer vendendo a sua filha Metra pôde conseguir alimentos suficientes para acalmar
sua fome. Metra obteve de seu amante Posseidon o dom de poder mudar de forma, com o que
pôde fugir do homem ao que havia sido vendida. Quando Erisictão descobriu esta faculdade, a
vendeu repetidas vezes a homens distintos, mas os alimentos que obtinha não foram
suficientes para saciar seu apetite.
Erisictão terminou comendo-se a si mesmo, pondo fim assim a seu tormento.
Segundo Danah Zohar(2006), o capitalismo como conhecemos só se preocupa com o dinheiro
e a riqueza material, para eles nada é sagrado.
Essa afirmação demonstra que o sistema capitalista atual está degradando as diversas
sociedades humanas. Com o capital espiritual acontece o contrário, pois ele é a riqueza que
extraímos de nossos mais profundos valores e princípios, propósitos fundamentais e
motivações mais elevadas, na busca de um modo de encaixá-lo em nossa vida e em nosso
trabalho. O capital espiritual é decorrente da inteligência espiritual. A inteligência espiritual é
2
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
12 e 13 de agosto de 2011
nossa inteligência moral e através dela que acessamos nossos mais profundos princípios,
valores, propósitos e mais altas motivações.
De acordo com Zohar, Danah (2006), a inteligência espiritual, o capital espiritual e a
sustentabilidade estão indissoluvelmente ligados. Uma vez que o capital espiritual é gerado
pelos sensos de significado, princípios e propósitos da inteligência espiritual, e sua riqueza de
valores e motivações mais elevadas são necessárias para que haja o capitalismo e uma
sociedade sustentável. A própria sustentabilidade exige que um sistema seja capaz de se
manter e evoluir, e os sistemas sustentáveis da natureza são aqueles cujos elementos
cooperam na produção de um ambiente equilibrado.
As pessoas, organizações e culturas que possuem capital espiritual serão mais sustentáveis
porque terão desenvolvido qualidades que incluem uma visão mais ampla, baseada em
valores, preocupação e compaixão global, pensamento a longo prazo, espontaneidade e
conseqüentemente flexibilidade, capacidade de agir com base em suas convicções mais
profundas, habilidade de florescer na diversidade e de aprender com ela, fazendo uso positivo
da situação.
2. Os três tipos de Inteligência
Para entendermos o que é Capital Espiritual é necessário que entender sobre as
seguintes inteligências que serão abordadas a seguir, para que posteriormente possamos
compreender que há uma ligação entre elas para o alcance do Capital Espiritual dentro das
Organizações.
Inteligência Racional, quociente de inteligência ou simplesmente QI, é o mais
tradicional sistema de perguntas e respostas utilizado para avaliar a capacidade de raciocínio
de uma pessoa. O teste foi criado na França, em 1904, pelo psicólogo Alfred Binet. Esta
relacionada a capacidade intelectual de um indivíduo com base em critérios, comparações e
cultura, estabelecendo uma relação entre sua idade mental e cronológica. Essa inteligência é
um conjunto de habilidades mentais, verbais e lógico-matemática. Utilizada para resolução de
problemas e situações que necessitam de uma lógica simplificada e rapidez na resolução.
Pessoas com QI elevado são capazes de articular idéias, associar juízos e valores e resolver
problemas lógicos.
3
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
12 e 13 de agosto de 2011
A Inteligência Emocional (QE) é um termo utilizado em Psicologia, foi popularizada
a partir de 1995, pelo psicólogo, jornalista e escritor Daniel Goleman. Segundo o próprio
Goleman (1995), a inteligência emocional é responsável pelo controle que temos sobre nossos
sentimentos/emoções e também pela capacidade de entender sentimentos alheios. Pois
compreendendo suas próprias emoções e muito mais fácil compreender as atitudes do
próximo.
As emoções adequadamente controladas permitem aos indivíduos que tenham bem estar, bom
relacionamento interpessoal, clareza nas soluções de problemas e conflitos e principalmente
bons resultados na vida pessoal e profissional.
O uso inteligente das emoções, principalmente no ramo dos negócios, deve ser direcionada
para a maneira como o indivíduo se relaciona com suas emoções nas interações das funções
do trabalho, que o ser humano é envolvido em todos os aspectos. Dessa maneira as emoções
inevitavelmente interferem na maneira da execução das tarefas, contribuindo para satisfação
ou insatisfação.
Inteligência Espiritual é o meio pelo qual acessamos nossos mais profundos princípios,
valores, propósitos e mais altas motivações (Zohar, Danah, 2006 p. 16). Inteligência Espiritual
(QS) é uma terceira inteligência descoberta a pouco tempo por pesquisadores, sendo chamado
de “Ponto de Deus” . Essa inteligência torna as pessoas mais criativas, manifestando-se da
necessidade de achar um sentido da para a existência e tornar essa existência em uma vida
sinergética.
Ter um QS elevado coloca nossos atos e experiências num contexto mais amplo de sentido e
valor, tornando-os mais efetivos; implica ser capaz de usar o espiritual para ter uma vida mais
rica e mais cheia de sentido, adequado senso de finalidade e direção pessoal. É uma
inteligência que nos impulsiona. É com ela que abordamos e solucionamos problemas de
sentido e valor. O QS está ligado à necessidade humana de ter propósito na vida. É ela que
usamos para desenvolver valores éticos e crenças que vão nortear nossas ações.
O conceito de inteligência evolui bastante: passou da predominância de um raciocínio,
deu-se atenção ao emocional e agora fala-se muito em inteligência espiritual.
O mundo Empresarial precisa de pessoas capacitadas tecnicamente, com visão pro
ativa, que tragam soluções eficazes, um ótimo relacionamento interpessoal e além de tudo,
saber que seu trabalho impacta o ambiente interno e externo.
A inteligência espiritual fala exatamente que o ser humano é um conjunto de
inteligências e que o mesmo deve ter uma visão holística de tudo que faz. As pessoas fazem
4
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
12 e 13 de agosto de 2011
parte de uma totalidade sincronizada. Essa mesma inteligência ajuda no desenvolvimento das
outras inteligências e habilidades, sejam elas lógicas, interpessoal, intrapessoal e intelectual.
Nesse sentido as empresas devem investir mais na formação de lideres e equipes
espiritualmente inteligentes, pois em uma Organização precisamos de Talentos com bom
QI(Quociente de Inteligência); bom QE(Quociente Emocional) e bom QS(Quociente
Espiritual). Esse último sustenta e eleva os dois primeiros, tê-lo desenvolvido traz
autoconsciência, crença no que se faz e nas pessoas, capacidade em lidar com as adversidades,
espontaneidade, capacidade de ir além dos interesses pessoais e acima de tudo capacidade de
compreender o outro e a si mesmo. Compreender a interligação dos 03 e desenvolvê-los é o
mesmo que transformar conhecimento em sabedoria e projetar-se além do momento
compreendendo a grande teia de relações do Universo.
Adotando essa postura o mundo Empresarial também contribui com a quebra de
paradigmas organizacional, onde o lucro não é o mais importante que esse resultado precisa
andar junto com os valores sociais, éticos, espirituais e universais.
3. A controvérsia das Necessidades Humanas
Entender as atitudes humanas é entender suas necessidades. O que leva uma sociedade
ou um grupo de pessoas a um determinado objetivo são suas necessidades internas, as mais
latentes.Durante muito tempo tomamos como orientação a pirâmide da hierarquia das
necessidades de Maslow com a finalidade de conseguir manter motivadas as pessoas. Nesse
modelo de Maslow temos como base a necessidade de sobrevivência, no segundo patamar a
necessidade de Segurança, em um terceiro estágio a necessidade pertencer a um grupo social,
no nível quarto teremos a necessidade de auto-estima , que está ligada ao Ego, e por último,
no topo da pirâmide temos a necessidade de auto realização. Com o avanço dos estudos das
necessidades humanos é necessário que a pirâmide de Maslow seja invertida, pois
necessidades denominadas básicas como sobrevivência
as
e segurança, na maioria das
sociedades, é atendida desde o nosso nascimento. Segundo pesquisas pessoas que tiveram a
oportunidade de de alcançar patamares mais altos das necessidades humanas, informaram que
essas são as mais importantes pois trazem uma verdadeira felicidade.
Invertendo a hierarquia das necessidades de Maslow, ficaria como Fig.1.
5
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
12 e 13 de agosto de 2011
Fig.1 Pirâmide de Maslow invertida
Então de alguma forma podemos afirmar que foi uma busca primitiva por significado,
o impulso de conhecer e explorar o que havia além do horizonte, que fez nossos antepassados
descerem das árvores milhões de anos atrás. Foi a pressão causada pela necessidade de
transmitir símbolos e significados entre indivíduos e entre os primeiros grupos humanos que
deu origem à fala. Com esse desenvolvimentos neurais foram formados em nossos cérebros
lobos frontais para que pudéssemos pensar e evoluir cada vez mais, em relação as outras
espécies. Essa mudança genética, impulsionada pelo questionamento espiritual, proporcionou
ao home expressar desejos ainda maiores de significado, como a inquietação em se perguntar
o que estamos fazendo aqui, por que nascemos e temos que morrer, por que fazer isso ou
aquilo, por que seguir regras, ser construtivo é o melhor caminho. Esse lugar de
questionamento se chama o “ponto de Deus”, que foi citado na parte de Inteligência
Espiritual.
4. Capital Espiritual
Compreender o que é Capital espiritual e sua importância no mundo dos negócios,
também devemos entender dois pontos de vista que é o Capital Material e Capital Social.
Segundo Zohar (2006), ela define capital material e capital social conforme abaixo:
Capital Material é o mais conhecido em nossa sociedade capitalista, está relacionado
ao dinheiro, aquisição de riquezas e bens materiais e tudo o que podemos comprar com nossos
valores adquiridos. O Capital material serve para comprar, gastar, investir, adquirir vantagens
sobre os outros, terem poder, influência e até reconhecimento social. Esse tipo de capital está
relacionado à Inteligência Racional(QI).
Capital Social é a riqueza que cria oportunidades para as comunidades agirem com
eficiência na busca do bem estar coletivo. Também podemos entender como Capital Social
6
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
12 e 13 de agosto de 2011
como a capacidade das pessoas trabalharem juntas visando alcançar um objetivo e/ou bem
comum, essa relação envolve princípios como confiança, valores, ética e honestidade. Esse
tipo de capital esta associado a Inteligência Emocional(QE).
Uma definição abrangente é apresentada por Zohar (2006), em seu Livro”Capital
Espiritual”. A Autora destaca que capital espiritual é a quantidade de conhecimento e
habilidades espirituais disponíveis a um indivíduo ou cultura, sendo que o termo espiritual é
usado para descrever “princípios, valores e propósitos fundamentais.”
Após essas abordagens acima podemos então começar nossa abordagem sobre Capital
Espiritual, que na verdade irá entrar em sincronia com o Capital Material e Social com o
objetivo de tornar a sociedade e os meios econômicos sustentáveis.
Capital Espiritual é um novo paradigma com a exigência que mudemos radicalmente
de um capitalismo que só se preocupa com o dinheiro e a riqueza material, para um senso de
significados, princípios, propósitos e riqueza de valores para que coexistam o capitalismo e
uma sociedade sustentável. Sua origem e sua ligação está com a Inteligência Espiritual(QS)
onde acessamos nossos mais profundos princípios e as mais altas motivações. Inteligência,
Capital Espiritual e sustentabilidade estão indissoluvelmente ligadas.
No Capitalismo que conhecemos hoje os seres humanos são medidos por sua sede de
lucro e pela capacidade de consumo e os funcionários/colaboradores de uma empresa são
medidos pela sua capacidade de produzir o que os outros consomem. O meio empresarial de
hoje é uma cruel perseguição de vantagens competitivas, em um planeta cujos recursos estão
em constante diminuição devido as suas práticas. Sendo assim o mundo dos negócios é
insustentável pois há exaustão de recursos, ignora as gerações futuras, tem um ambiente
desanimador, dominância de lideranças egoístas, alto índice de estresse nas pessoas, interesse
próprio, alimenta o terrorismo e há muitos danos ambientais em busca de lucro excessivo.
Isso é resultado de quatro motivações que considero que impulsionam o capitalismo atual que
é a competitividade, raiva, ganância e medo. Uma cultura extremamente competitiva que
pessoalmente parece-me lembrar uma cultura canibalista. Já o Capital Espiritual tem a função
e a necessidade de administrar e renovar os recursos vitais, o que inclui as futuras gerações.
Com essa visão mais ampla e valores mais profundos há uma inspiração do envolvidos,
substituindo grande parte do estresse por uma sensação de realização, tornando a liderança
uma função mais elevada. O interesse próprio seria substituído pela dedicação e uma
compaixão mais ativa preocupada com as desigualdades, diminuindo assim os distúrbios
sociais. Uma cultura empresarial baseada nesses valores poderia elevar os padrões morais e a
7
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
12 e 13 de agosto de 2011
visão dos dirigentes de uma sociedade, proporcionando um grau maior de felicidade e
realização para todos aqueles interessados em evoluir ; pois o Capital Espiritual tem a
intenção em preservar e renovar os recursos, considera as gerações futuras como investidores,
tem ambiente inspirador, a liderança tem sua amplitude voltada para missão, há sentimentos
de realização e dedicação, interessa-se pela diminuição da desigualdade e da raiva e acima de
tudo é alicerçado na esperança.
Promover a expansão do capital espiritual é uma meta diferente de todas aquelas de que já
tomamos conhecimento. Para atingi-la será imprescindível passarmos a agir com base em
nossas motivações mais elevadas, o que resultará em nossa transformação como pessoas. O
capital espiritual é necessário em tempos de crise, quando nossas atitudes habituais fracassam
e há necessidade de algo novo e criativo. É ele que nos livra de uma situação de caos.
Segundo Zohar (2006), uma Organização, que deseja evoluir e ter um alto capital espiritual,
sendo sustentável no desenvolvimento de produtos e serviços deve ter ênfase nos seguintes
tópicos abaixo:
 Autopecepção – Precisa-se identificar o que realmente acredito e valorizo. Ter a
percepção dos mais profundos propósitos de vida e o que motiva minha existência.
 Espontaniedade – Viver e reagir de maneira sensata ao momento presente e a tudo o
que está inserido nesse contexto.
 Ser conduzido por visão e valores – Tomar iniciativas e decisões com base em crenças
e princípios profundo e viver de acordo com eles.
 Holístico – Ter visão geral das situações cotidianas. Capacidade de se ver dentro de
modelos, relacionamentos e conexões mais amplas. Deve-se ter uma forte sensação de
pertencer.
 Compaixão – Ter simpatia universal. É a qualidade de sentir-se ligado a alguém e
profunda empatia.
 Celebração da diversidade – Valorizar as diferenças entre as pessoas e situações
desconhecidas.
 Independência do campo – Ser capaz de se destacar da multidão e manter suas
próprias convicções.
 Saber os porquês – Necessidade de entender as coisas, criticar e de chegar ao fundo
das questões.
8
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
12 e 13 de agosto de 2011
 Capacidade de reestruturar – Afastar-se do problema ou situação para buscar maior
perspectiva, pelo contexto mais amplo.
 Uso Positivo da adversidade – Capacidade de assumir os erros e aprender com eles, de
encerrar problemas como oportunidades para aprender e nunca ficar tentando achar
um culpado ou desculpara para uma situação ocasionada por um erro. Ter
Flexibilidade.
 Humildade – É ter base para autocrítica e julgamento próprio.
 Sentido de vocação – Acreditar que foi chamado para servir a algo maior do que a si
próprio. Gratidão pelos que ajudaram e desejo de retribuir.
Podemos verificar, na abordagem acima, que esses itens favorecem a uma evolução no
mundo dos negócios, pois modificar a cultura empresarial, no que ela tem de negativo e
mudar a influência delas sobre nos mesmos, já que o ser humano é um sistema complexo
adaptável espiritualmente inteligente. A adoção desses pontos torna-se necessária uma vez
que os mesmo constroem sinergia, tranqüilidade e criatividade na solução de problemas e
perpetuação no negócio de uma organização no mundo por longos períodos.
O capital espiritual é um componente vital para o capitalismo sustentável e da
sustentabilidade dos indivíduos e organizações que atuam dentro de uma sociedade capitalista
aberta. Pois a intenção aqui não é acabar com o sistema capitalista e sim modificá-lo de
maneira que possa ser benéfico e sustentável para a vida da humanidade.
Para deixar isso bem claro contarei um pouco da história do Cirque Du Solei. Criado em
1984, por um grupo de artistas de rua, as produções do Cirque Du Solei, já foram vistas por
quase 40 milhões de pessoas em 90 cidades em todo o mundo. Em menos de 20 anos ele
alcançou um nível de receita muito grande e satisfatório, com sucesso elavadíssimo. O que
trona a proeza ainda mais notável é que esse crescimento fenomenal não ocorreu em um setor
atraente. Ao contrário, sucedeu num setor decadente, cujo baixo potencial de crescimento era
ponto de destaques nas análises estratégias tradicionais.
O poder dos fornecedores,
representados pelas grandes estrelas circenses, era enorme; o mesmo ocorria com o poder dos
compradores. Formas alternativas de entretenimento-como várias espécies de espetáculos
urbanos ao vivo, eventos esportivos e diversões domésticos – tornam-se cada vez mais
relevantes. As crianças choram para ganhar um PlayStations, mas não para assistir ao circo
ambulante. Como resultado dessa situação, o público que comparecia ao circo era cada vez
menor, o que por sua vez encolhia a receita e o lucro. Além disso, o sentido contra o uso de
9
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
12 e 13 de agosto de 2011
animais em espetáculos públicos, fomentado por grupos de defesa dos direitos animais, era
cada vez mais intenso.
Outro aspecto impressionante do sucesso desse circo é o fato de está avançando sem
conquistar fatias da demanda já existente na industria circense, que historicamente sempre se
concentrou nas crianças. Sendo assim criou um novo espaço de mercado inexplorado, com
características inconfundíveis, que tornou irrelevante a concorrência. Para tanto atraiu um
grupo totalmente novo de freqüentadores: Adultos e clientes empresariais, dispostos a pagar
preços várias vezes superiores aos praticados pelos circos tradicionais, por uma experiência de
entretenimento sem precedentes. Em resumo, uma das primeiras produções do Cique Du Solei
foi intitulada “Reinvenção do Circo”.
Posso dizer que o Cirque Du Solei conseguiu alcançar um nível de capital espiritual pois
incorporou novos fatores não-circenses, como enredo e riqueza intelectual, músicas e danças
artísticas e produções múltiplas. Conseguindo nessa nova visão proporcionar harmonia e
refinamento intelectual ao espetáculo e sem limitar o potencial artístico. Os espetáculos
apresentam danças abstratas e espirituais, sem contar que não há mais exploração de animais,
com isso respeita as condições da natureza e a apóia a opinião da sociedade.
As tentativas passadas de controlar, restringir ou substituir o capitalismo, todas motivadas
por um desejo de limitar seus excessos ou torná-los mais responsáveis em termos sociais, não
apresentaram resultados significativos e estimulantes. O marxismo, o socialismo, o
keynesianismo e a terceira via européia não conseguiram se equiparar ao dinamismo e a
capacidade de criar riqueza do capitalismo de mercado livre. Eles fracassaram em
compreender a dinâmica essencial constituída pela sociedade capitalista e pela economia, e
suas medidas corretivas tiveram o defeito de prejudicar ainda mais os que tentavam melhorar.
Então reforço que uma sociedade capitalista aberta, que seja sustentável e capaz de se manter
e evoluir para o futuro.
A afirmação de que o capital espiritual é vital para o capitalismo sustentável tem como
base o conhecimento de que a injeção de valores e consciência é um ingrediente necessário
para que haja uma auto organização de um sistema humano sustentável.
Valores e
consciência não devem ditados por outro indivíduo, mas dos valores profundamente
transpessoais e princípios morais das pessoas que vivem e trabalham no interior desses
sistemas.
Os seres humanos que têm plena consciência de suas atitudes, de seus valores e de suas
crenças poderão contribuir de forma eficaz para a melhoria do sistema capitalista atual para
10
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
12 e 13 de agosto de 2011
que o mesmo mude significativamente em suas relações com os colaboradores, a sociedade e
a natureza, com isso obtendo resultados sustentáveis.
O que se vê no quadro atual e a todo momento é uma cultura individualista onde ganha
quem é mais esperto, mais forte e mais rápido. Não há um ambiente fraterno de solidariedade.
De outro lado, os empresários, são a platéia que espera ansiosamente o fim das disputas com
lucratividade e soluções, que por muitas vezes são armas contra nos mesmos. Desde
pequenos, seja pelas mídias ou pela própria formação escolar e profissional, somos guiados, o
tempo todo, para uma cultura de competitividade e consumismo e nunca visando o bem da
coletividade. Então as pessoas não são consideras competentes pela sua capacidade de
competitividade e sim são medidas pela capacidade de entender o negócio fim de uma
organização e responderem aos desafios, dificuldades, adaptação as transformações.
Como o mundo dos negócios está interessado nos conhecimentos, habilidades e atitudes
de seus colaboradores, podemos dizer que as diversas crises ocorridas no mundo é fruto da
falta de valores éticos. Podemos comprar essa afirmação com os inúmeros escândalos que
com freqüência a mídia nos fornece informações. Ainda podemos perceber que a maioria das
demissões nas empresas ocorre devido à má conduta e desvios de personalidade. Então a cada
dia vemos a sociedade adoecer e os valores, que realmente são importantes, sumir
gradativamente a cada nova geração. Por isso os problemas organizacionais estão a volta de
relacionamento humano, liderança, formação de equipes, parcerias, negociações, prestação de
serviços de qualidade, preservação dos recursos naturais e responsabilidade social. Mas essa
tarefa fica difícil pois estamos inserido em uma cultura fragmentada e destituidora da
identidade e dos valores intrínsecos do ser. Dessa forma não nos responsabilizamos pelo todo
porque não nos sentimos parte dele e porque não nos julgamos responsáveis, temos em mente
que devemos nos preocupar somente por uma parte, assim não assumimos o patrimônio
público como nosso porque não integramos o todo. Não compartilhamos e não nos
solidarizamos com grandes problemas da humanidade por que vivemos só o particular como
se nada afetasse, e assim vivemos, cada vez mais atrofiados, irreflexivos e com visão míope e
restrita ao que somente nos interessa; assim caminhamos até que a insustentabilidade deste
modelo provoque a transformação necessária ou cheguemos ao fim.
As organizações são constituídas por pessoas, inclusive as lideranças empresariais é se as
mesmas
não
assumirem
a
responsabilidade
pelo
desenvolvimento
e
pela
total
interdependência de todas as coisas podem levar uma sociedade inteira e o mundo para o
caos. A deterioração do meio ambiente, a pobreza e a miséria, os desperdícios, a corrupção,
11
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
12 e 13 de agosto de 2011
estão minando a esperança de um futuro melhor e ameaçando a vida na Terra.“Há portanto,
um clamor por mudanças que brota do seio da terra e da população e estas mudanças
envolvem transformação pessoal e estrutural e requerem uma conversão, isto é, uma mudança
de consciência: sair do interesse próprio ao interesse coletivo.” A afirmação é de Santarém,
Robson Goudard feito em seu livro Precisa-se (de) Ser Humano, 2007.
Os fatores de permanência da vida no planeta exige que haja uma mudança radical, onde
primeiro deve-se acontecer dentro de cada um de nós, passando para as lideranças
empresariais, instituições e países onde deverão promover o atendimento às necessidades e
aspirações mais profundas do ser humano e da sociedade. Há uma necessidade para valorizar
o emocional e o espiritual nas organizações. As pessoas querem trabalhar em organizações
que as entendam e valorizem integralmente. Todas ser humano querem encontrar significado
em seu trabalho, e quando o trabalho não tem significado, a vida também perde o significado.
A vida perdendo o significado há uma morte das motivações.
Que existe uma crise em toda sociedade mundial é notório, por isso a grande influência
dela na formação da nova geração afetando assim as instituições e organizações. Somente
transformando os nossos modelos mentais, o paradigma que tem conduzido as nossas ações e
efetuando uma revisão dos valores culturais vigentes em nossa sociedade poderemos transpor
esta fase de transição e crise.
Para Gutierrez (Gutierrez apud Gadotti, 2000) o desenvolvimento sustentável requer
quatro condições básicas. Ele dever ser economicamente factível, ecologicamente apropriado,
socialmente justo e culturalmente equitativo. Segundo ele, as chaves pedagógicas para se
construir essa sociedade são necessariamente:
a)
Promoção da vida – É essencial desenvolver o sentido da existência nos educandos,
ampliando a percepção e sensibilizando para que a vida seja sempre considerada o bem
maior;
b)
Equilíbrio dinâmico – Frente aos desequilíbrios que afetam todas as dimensões da
vida, há de se desenvolver a sensibilidade social, de modo que o desenvolvimento
econômico preserve os ecossistemas;
c)
Congruência harmônica – que integra o ser humano à dimensão planetária,
conscientizando-o que é apenas mais um ser – embora privilegiado – e nele desenvolva a
ternura, a capacidade de deslumbrar-se e a fraternidade universal;
12
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
12 e 13 de agosto de 2011
d)
Ética integral – Como um conjunto de valores que inclui a consciência ecológica, e o
que dá sentido ao equilíbrio dinâmico e à congruência harmônica e que desenvolve a
capacidade de auto-realização;
e)
Racionalidade intuitiva – que desenvolve a capacidade de atuar como ser humano
integral, não privilegiado somente a dimensão racional mas substituindo-a por uma outra
racionalidade que inclua a intuição, a afetividade, a vida e a subjetividade;
f)
Consciência planetária – que desenvolve a solidariedade planetária, a partir da
consciência que o planeta é uma casa comum a ser compartilhada por todos os seus
habitantes.
Segundo Santarém, Robson Goudard em seu livro Precisa-se (de) SerHumano, 2004,
“Construir uma nova sociedade somente será nova quando todos(e não apenas alguns) os
seres humanos encontrarem significado para as suas vidas. E a primeira exigência é que o ser
humano seja humano, porque, do contrário, simplesmente deixará de ser, de existir.”
Estamos falando de capital espiritual, e quero deixar bem claro que a intenção não é gerar
nenhum vínculo ou induzir alguém para algum tipo de religião ou crença, o que quero abordar
é a capacidade de compreender o sentido da coletividade e sustentabilidade, que o resultado
da razão de existir, para vivermos um mundo melhor. É importante dizer que tradições
espirituais antigas e algumas mais atuais defendem o estado de plenitude humano que vai em
par com a ciência moderna que tanta mostrar a humanidade que é possível alcançar o bem
estar, a harmonia e pacificamente em um mundo em constante evolução.
Para alcançar lucratividade sustentável, sem agressão e esgotamento dos recursos
naturais as empresas devem investir no despertar da consciência existencial, dimensões
afetivo-emocional e espiritual de seus colaboradores, fazendo com isso uma prestação de
serviço ou vendas de produtos à sociedade de forma ética, solidária e cooperativa.
Para termos êxito com o capital espiritual não podemos de maneira nenhuma deixar de
esquecer da inteligência emocional e da inteligência espiritual, pois a inteligência emocional
me permite julgar em que situação eu me encontro e me comportar apropriadamente dentro
dos limites da situação. A inteligência espiritual me permite perguntar se quero estar nessa
situação particular. Implica trabalhar com os limites da situação. Daniel Goleman, o teórico
do Quociente Emocional, fala das emoções. Inteligência espiritual fala da alma. O quociente
espiritual tem a ver com o que algo significa para mim, e não apenas como as coisas afetam
minha emoção e como eu reajo a isso. A espiritualidade sempre esteve presente na história da
humanidade nas épocas boas e também nas fases de crises graves. inteligência espiritual
13
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
12 e 13 de agosto de 2011
coletiva é baixa na sociedade moderna. Vivemos numa cultura espiritualmente estúpida, mas
podemos agir para elevar nosso quociente espiritual.
O verdadeiro desafio do capital espiritual e ajudar as empresas a eliminar competição
sangrenta, evidente em nossa realidade atual, com a criação de uma maneira eficaz e
respeitosa de se obter lucratividade com continuidade, alcançando resultados satisfatórios.
Espiritual vem do latim spiritus, significando o princípio que dá vida há um organismo. O
capital espiritual é aquele que existe dentro da vontade pura de cada um de nós. É a base para
sustentabilidade humana, continuidade das espécies e nosso visto de permanência aqui nesse
planeta.
5. Conclusão
O mundo capitalista de hoje está destruindo valores muito importantes como ética,
solidariedade, compaixão e respeito. Estamos deixando que uma cultura materialista cabe com
nosso verdadeiro sentido de existência. Temos que ter consciência que existem gerações
futuras que precisarão sobreviver nesse mundo. Então precisamos transformar esse mundo de
desorganizado em um ecossistema perfeito, ou melhor um ecossistema capitalista sustentável.
Não sou contra o capitalista e sim sou contra suas práticas que causam dor, destruição,
aflições e estresse.
Diante desse quadro precisamos criar oportunidades para pessoas e organizações
agirem com eficiência em busca do bem-estar. Par isso é preciso criar políticas que integrem
os três tipos de capital: capital material, capital social e capital espiritual. Usando nossas três
inteligências, pois seja qual for o capital utilizado ele não funciona sem o capital espiritual
como base.
Mudar a realidade e os procedimentos que são utilizados há anos, não é uma tarefa
fácil, mas também não é uma utopia. A mudança só ocorrerá quando começarmos a resolver
esse problema na raiz.
A raiz do problema fica onde se formam novos profissionais, que é nas escolas e
universidades, não tirando a responsabilidade da família. Precisamos de formação de
profissionais capazes de entender que a humanidade está dentro de uma cadeia de
dependência muito maior que imaginamos hoje.
14
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
12 e 13 de agosto de 2011
É necessário que mudemos nossos costumes radicalmente para tornar nosso
capitalismo atual para um sistema de capitalismo sustentável onde as pessoas sintam-se
realizadas de forma a irradiar o bem-estar à todas as nações.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Kim, W. Chan. A estratégia do oceano azul: como criar novos mercados e tornar a
concorrência irrelevante. 20ª Edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
Zohar, Danah e Ian Marshall. Capital Espiritual: usando as inteligências racional,
emocional e espiritual para realizar transformações pessoais e profissionais. Rio de
Janeiro: Best Seller, 2006.
Santarém, Robson Goudard. Precisa-se (de) Ser Humano: Valores na Formação
Profissional. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2004.
Goleman, Daniel. Inteligência Emocional: A teoria revolucionária que define o que é ser
inteligente. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995.
Chiavenato, Idalberto. Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas
organizações. 3ª Edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
Leme, Rogerio. Aplicação prática de gestão de pessoas: mapeamento, treinamento,
seleção, avaliação e mensuração de resultados de treinamento. Rio de Janeiro:
Qualitymark, 2005.
Brandão, Junito de Souza. Mitologia Grega. 7ª edição. Petrópolis: Vozes, 199.
15
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
12 e 13 de agosto de 2011
Grimal, Pierre. A mitologia grega. 3ª edição. São Paulo: Difusão Européia do livro, s/d.
16
Download

capital espiritual - CNEG - Congresso Nacional de Excelência em