Tema 12: Catequese e família 1. A catequese pergunta: E a família como vai? “À medida que a família cristã acolhe o Evangelho e amadurece na fé, torna-se comunidade evangelizadora.” (João Paulo II) Chamada a ser o Santuário da Vida e o lugar privilegiado para experimentar o amor, a família hoje vive as ameaças da sociedade influenciada pelo consumismo, relativismo, ateísmo, individualismo, utilitarismo, subjetivismo e hedonismo (culto ao prazer). O mundo hoje é plural, mas também fragmentado. As ciências e as tecnologias se desenvolveram tanto que acabam passam por cima dos princípios da ética e da religião. E quem acaba sofrendo os impactos da sociedade pós-moderna é a família, por vezes mergulhada num horizonte cheio de dramas. As pressões do mundo globalizado são tantas que às vezes a família fica num beco sem saída. Quais as dificuldades que passam as nossas famílias? O que influencia as famílias hoje? Olhando para a realidade atual, verificamos diversas realidades. Entre elas, vale mencionar: • Falta de uma espiritualidade conjugal mais profunda de diálogo e de comunhão. • Ausência dos pais na educação de seus filhos. • Meios de comunicação assumindo a rédea da educação dos filhos. • Influência da “ditadura do relativismo” gerando uma ética da situação. • O culto ao corpo e a busca do prazer pelo prazer, banalizando a sacralidade do ato conjugal. • Valores familiares como o amor, fidelidade e respeito sendo relativizados. • Aumento de relacionamentos instáveis. Nas primeiras dificuldades, casais optam por trocar os parceiros. • Número crescente de divórcios. • Direito à liberdade colocado acima do direito inviolável à vida, incentivando assim a prática do aborto. • Instauração de uma mentalidade contraceptiva. Uma historinha nos ajuda a refletir: Uma catequista pediu aos catequizandos que elaborassem um texto sobre o que gostariam que Deus fizesse por eles. Quando terminou o encontro de catequese, ela chegou em casa e começou a ler as mensagens. Uma mensagem a deixou profundamente emocionada e intrigada. Seu esposo ao chegar, viu-a a chorar e perguntou: O que é que aconteceu? Ela respondeu: Leia você mesmo. O texto era uma oração e dizia assim: "Senhor, esta noite peço-te algo especial: transforma-me numa televisão. Quero ocupar o lugar dela. Viver como vive a TV da minha casa. Ter um lugar especial para mim, e reunir a minha família à volta... Ser levado a sério quando falo... Quero ser o centro das atenções e ser escutado sem interrupções nem perguntas. Quero receber o mesmo cuidado especial que a TV recebe quando não funciona. E ter a companhia do meu pai quando ele chega a casa, mesmo quando está cansado. E que a minha mãe me procure quando estiver sozinha e aborrecida, em vez de me ignorar... E ainda, que os meus irmãos fiquem discutindo para estar comigo... Quero sentir que a minha família deixa tudo de lado, de vez em quando, para passar alguns momentos comigo. E, por fim, faz com que eu possa diverti-los a todos. Senhor, não te peço muito... Só quero viver o que vive qualquer televisão". Naquele momento, o marido de Ana Maria disse: Meu Deus, pobrezinho deste menino! Que pais ele tem? E ela olhou-o e respondeu: Esta mensagem que o nosso filho escreveu. Vamos conversar: 1. O que essa historinha tem a dizer para a catequese e a família? Qual a lição que tiramos? 2. Luzes e esperanças para a família do século XXI Nem tudo são só espinhos e sombras. Temos presente em nossa realidade familiar luzes que nos dão muitas esperanças: 9 Cresceu a consciência da liberdade pessoal e maior atenção à qualidade das relações interpessoais no matrimônio. 9 A promoção da dignidade da mulher. 9 Maior atenção na educação dos filhos no exercício da paternidade e maternidade responsável. 9 Maior união da família nas relações de ajuda, nos momentos de necessidade. 9 Descoberta da importância da família e sua missão na Igreja e na sociedade. Tanto a família quanto a catequese tem uma missão em comum: educar para o Amor, transmitindo valores humanos e cristãos. Diante das ameaças do mundo capitalista, é preciso não perder a esperança e abrir-se ao diálogo, revendo nossos métodos para educar os filhos no lar. O Papa Paulo VI, em seu documento Evangelização no mundo contemporâneo (n. 71) oferece uma catequese ao tratar sobre a família como centro de irradiação do Evangelho. Vamos refletir alguns aspectos importantes para a família na educação da fé: No conjunto daquilo que é o apostolado evangelizador dos leigos, não se pode deixar de pôr em realce a ação evangelizadora da família. Nos diversos momentos da história da Igreja, ela mereceu bem a bela designação aprovada pelo II Concílio do Vaticano: ‘Igreja doméstica’. Isso quer dizer que, em cada família cristã, deveriam encontrar-se os diversos aspectos da Igreja inteira. Por outras palavras, a família, como a Igreja, tem por dever ser um espaço onde o Evangelho é transmitido e donde o Evangelho irradia. No seio de uma família que tem consciência desta missão, todos os membros da mesma família evangelizam e são evangelizados. Os pais, não somente comunicam aos filhos o Evangelho, mas podem receber deles o mesmo Evangelho profundamente vivido. E ‘uma família assim torna-se evangelizadora de muitas outras famílias e do meio ambiente em que ela se insere’. A futura evangelização depende em grande parte da Igreja doméstica. Esta missão apostólica da família tem as suas raízes no batismo e recebe da graça sacramental do matrimônio uma nova força para transmitir a fé, para santificar e transformar a sociedade atual segundo o desígnio de Deus. A família cristã, sobretudo hoje, tem uma especial vocação para ser testemunha da aliança pascal de Cristo, mediante a irradiação constante da alegria do amor e da certeza da esperança, da qual deve tornar-se reflexo: ‘A família cristã proclama em alta voz as virtudes presentes do Reino de Deus e a esperança na vida bem-aventurada.’ O mistério de evangelização dos pais cristãos é original e insubstituível: assume as conotações típicas da vida familiar, entrelaçada como deveria ser com o amor, com a simplicidade, com o sentido do concreto e com o testemunho do quotidiano. A família deve formar os filhos para a vida, de modo que cada um realize plenamente o seu dever segundo a vocação recebida de Deus. De fato, a família que está aberta aos valores do transcendente, que serve os irmãos na alegria, que realiza com generosa fidelidade os seus deveres e tem consciência da sua participação cotidiana no mistério da Cruz gloriosa de Cristo, torna-se o primeiro e o melhor seminário da vocação à vida consagrada ao Reino de Deus. O Documento da Conferência de Santo Domingo (cf. n. 214) apresenta a identidade e a missão da família através de quatro aspectos: a) A missão da família é viver, crescer e aperfeiçoar-se como comunidade de pessoas chamadas a testemunhar a unidade por toda a vida (valor unitivo). b) Ser santuário da vida, serva da vida, conservando o direito à vida como a base de todos os direitos humanos (valor procriativo). Nela deve-se transmitir e educar para os valores autenticamente humanos e cristãos. c) Ser ‘célula primeira e vital da sociedade’. Por natureza e vocação, a família deve ser promotora do desenvolvimento, protagonista de uma nova cultura que valorize a família. d) Ser ‘Igreja doméstica’ que acolhe, vive, celebra e anuncia a Palavra de Deus. Lugar privilegiado para a “fazer catequese”, aprofundando e dando razões para a fé, na vivência do discipulado de Jesus. A Conferência de Santo Domingo propôs como uma das linhas pastorais para a família: “Fortalecer a vida da Igreja e da sociedade a partir da família: enriquecê-la a partir da catequese familiar, a oração no lar, a Eucaristia, a participação no Sacramento da Reconciliação, o conhecimento da Palavra de Deus, para ser fermento na Igreja e na sociedade.” (Santo Domingo, n. 225). A Família é o melhor espaço para formar e orientar os filhos rumo a uma vida verdadeiramente humana, cristã e feliz. Quanto maior for a nossa formação humana e cristã, melhores condições temos para transmitir às nossas crianças e adolescentes o interesse pela descoberta das riquezas da fé. E o gosto de, juntos saborearmos as maravilhas do amor de Deus para connosco, e de Lhe correspondermos com o nosso amor filial. A família encontra hoje não poucos obstáculos, sobretudo neste “momento histórico em que ela é vítima de muitas forças que buscam destruí-la ou deformá-la” (Santo Domingo, n. 210). Deste modo, a catequese precisa conhecer algumas pistas de ação para ajudar a família a encontrar a sua missão: a) Conhecer as diversas situações e a realidade de cada catequizando. b) Conscientizar as famílias para participação mais ativa na Igreja, como incentivo e testemunho para os seus filhos que estão caminhando na catequese. c) Por meio de ações conjuntas com a Pastoral Familiar, oferecer esclarecimentos e possibilidades de regularização às famílias em situações irregulares (especialmente aos amasiados que não têm impedimentos para casar na Igreja). d) Não discriminar as famílias e crianças e não abandoná-las por motivo algum. Acolher a todos, sem distinção, independentemente de suas opções. e) Oferecer às famílias em dificuldades apoio e orientação, no diálogo. f) Aos casais separados, prestar apoio e acolhida, com especial atenção aos seus filhos. g) Distinguir entre o mal e a pessoa. No dizer do papa Paulo VI: “Jesus foi intransigente para com o mal, porém misericordioso para com as pessoas”. h) Distinguir com perspicácia as famílias que procuram a Igreja não muito bem intencionada, querendo dar um jeitinho para receber os sacramentos sem a devida preparação. i) As situações delicadas que aparecem na catequese, levar ao conhecimento do padre para descobrirem juntos as possíveis soluções. Depois de averiguar os casos, dar os encaminhamentos necessários, baseando sempre na verdade e na caridade. A família continua sendo muito importante para os planos de Deus. Ela é uma instituição divina, sonhada por Deus e fruto da sua benigna vontade. Ela não pode ficar desacreditada. Ela é dom de Deus, por isso merece todo o nosso empenho e todo o nosso amor. Se a catequese não zela pela família, como vai cuidar pastoralmente dos seus catequizandos? E se as famílias não se interessam pela catequese, que futuro poderão dar a seus filhos no caminho da justiça e da fé? O papa João Paulo II, na encíclica Familiaris Consortio, dirige algumas palavras significativas que servem de horizonte para a missão da catequese: “Amar a família significa saber estimar os seus valores e possibilidades, promovendo-os sempre. Amar a família significa descobrir os perigos e males que a ameaçam, para poder superá-los. Amar a família significa empenhar-se em criar um ambiente favorável ao seu desenvolvimento, e por fim, forma eminente de amor à família cristã, de hoje, muitas vezes tomada por desconfortos e angustiada por crescentes dificuldades, é dar-lhe novamente razões de confiança em si mesma, nas riquezas próprias que lhe advém da natureza e da graça na missão que Deus lhe confiou”. A parábola familiar do Bom Samaritano Conta-se que uma família ia descendo de Jerusalém a Jericó, caminhando pelas estradas da história. De repente, uma quadrilha de inimigos, chamada de “tempos modernos”, a atacou no caminho e foi roubando todos os seus bens, a saber: a fé, a unidade, a fecundidade, a indissolubilidade, o diálogo familiar e, por último, a santidade. Em seguida, fugiram travestidos com novas roupas de modernidade. Aconteceu que, pela estrada da história, passou um psicólogo, representante de uma das escolas psicológicas, viu a família caída no chão e sentenciou? ‘Não disse? A família não quer aceitar a teoria da liberdade sexual total e é uma grande desmancha-prazer dos filhos e castradora dos seus desejos de felicidade. Então só poderia acabar assim, rejeitada. E seguiu adiante. Em seguida, passou um sociólogo, que também representava certas teorias modernas, viu a família prostrada e também a acusou: ‘Faz tempo que, atrás de minhas pesquisas, eu achava que a família fosse uma instituição falida e que deveria acabar. Precisamos viver a era do amar livre’. Dito isto, passou adiante. Veio depois a Catequese, a Boa Samaritana, viu a família machucada, perdendo muito sangue e recordando as atitudes de Jesus, teve pena e compaixão, inclinou-se sobre ela, tomou-a em seus braços e levou-a para seu a hospedaria que se chama Comunidade Cristã, a fim de que fosse tratada e recuperada. (Extraída da Revista de Catequese, p. 48, n. 121, Janeiro/2008, com adaptações). Para refletir: ) O que essa parábola tem a nos ensinar? Quais os ensinamentos para a catequese? 3. A família é o berço da fé: Dois fatos que nos fazem pensar Há um provérbio chinês que dizia: “Quem embala um berço, está embalando o futuro do mundo”. Quem cultiva a educação cristã de uma criança, desde o seu berço, desde sua infância, está promovendo a formação dos homens e mulheres que irão renovar o mundo. Havia uma família de cristãos que vivia na Polônia e procurava educar seus dois filhos na fé. Numa situação, a mãe morreu prematuramente e o pai ficou com a responsabilidade de criar e educar na fé os filhos, sobretudo o mais novo, após a morte do filho mais velho. O berço da educação religiosa para o filho foi decisivo, pois mais tarde este menino se tornou papa da Igreja, João Paulo II. Graças às orientações que embalaram o berço da sua fé, ele pode mais tarde embalar o mundo inteiro com palavras de paz. Na Albânia, dominada por um consumismo cruel, um lar corajoso conservou a fé e embalou de modo cristão o berço da pequenina Agnes. Sua educação religiosa foi tão bela, que esta menina, agora já adulta, foi para um grande país, a Índia e revelou pelo exemplo e testemunho, a beleza da fé cristã e do seguimento de Jesus, como caminho verdade e vida. Seu trabalho foi respeitado no mundo inteiro e o seu nome ficou gravado como o grande nome da solidariedade cristã, Madre Tereza de Calcutá. Ela catequizou o mundo inteiro para a prática da caridade e para a promoção da paz no mundo. A família perde em qualidade quando não conta com a valiosa ajuda da catequese na educação da fé de crianças, jovens e adultos. E a catequese não pode realizar um trabalho fecundo se não contar com o apoio e a atenção da família. Hoje, verifica-se na realidade pastoral da Igreja que é praticamente impossível imaginar uma catequese com jovens, adolescentes e crianças sem um trabalho específico com os pais. Para ampliar a presença da catequese nas famílias, é preciso, então, envolver a família através de reuniões, celebrações e confraternizações, visitas às famílias, encontros nas casas dos catequizandos e outras iniciativas que possam colaborar no cultivo de valores e da responsabilidade da família na iniciação cristã de seus filhos. Como salienta o Catecismo da Igreja Católica ( cf. CIC 2221 ): “É urgentíssimo ajudar a família a a recuperar a beleza original da sua vocação matrimonial, querida por Deus. Pois, o papel dos pais na educação é tão importante que é quase impossível substituí-los. O direito e o dever da educação são primordiais e inalienáveis para os pais”. A fé não começa na catequese, mas na família: Certa vez uma senhora foi reclamar ao padre sobre o catequista de seu filho, alegando que não havia ensinado ao seu filho a rezar o pai-nosso na catequese. O padre retrucou-lhe dizendo que isto não era obrigação do catequista, mas da família. E acrescentou: “Minha filha, não é só educação que vem do berço. A fé também!”. Muitos acham que a catequese é só para os sacramentos. Esta visão é muito reducionista. Também não se pode divorciar a catequese dos sacramentos. A catequese está profundamente ligada à ação litúrgica e sacramental da Igreja. Contudo, a celebração dos sacramentos sem uma preparação séria (Catequese), não tem sentido algum. Sem a catequese os sacramentos se reduzem a um mero ritualismo, o qual não será capaz de nos transformar, dar vida e felicidade e fazer de nós autênticos cristãos. Vejamos o que sugere o quadro abaixo em relação às dimensões da vida cristã: DIMENSÕES DA VIDA CRISTA da opção por Jesus: DESCOBRIR EM PROFUNDIDADE A SUA MENSAGEM ADOTAR O SEU ESTILO DE VIDA CELEBRAR A SUA PRESENÇA NOS SACRAMENTOS REUNIR-SE EM SEU NOME E EM COMUNIDADE PARTICIPAR NA CONSTRUÇÃO DO REINO DE DEUS A FAMÍLIA: é o berço da fé, o qual deve favorecer o desabrochar das dimensões da vida cristã. A CATEQUESE: desenvolve a fé inicial do batismo até à maturidade, cuja medida é Cristo. 4. Mística para a relação Catequese-Família A catequese é uma das facetas da ação evangelizadora da Igreja e a família é um nível de Igreja (“Igreja Doméstica”). Paulo VI já direcionava a ação pastoral a ter um olhar para a família: “no conjunto daquilo que é o apostolado evangelizador dos leigos, não se pode deixar de por em realce a ação evangelizadora da família. Nos diversos momentos da história da Igreja, ela mereceu bem a expressão sancionada pelo Vaticano II: ‘Igreja Doméstica’. Isto quer dizer que, em cada família cristã, deveriam encontrar-se os diversos aspectos da Igreja inteira” (EN 71). A fecundidade da catequese depende em parte da família. Como salienta João Paulo II, na Familiaris Consortio: “a própria vida da família torna-se itinerário de fé e, em certo modo, iniciação cristã e escola para seguir Cristo” (FC 39). O Documento de Puebla menciona a família como um lugar privilegiado de catequese (cf. 640). O Diretório Geral de Catequese diz: “a família como lugar de catequese tem uma prerrogativa única: transmite o Evangelho, radicando-o no contexto de profundos valores humanos” (DGC 255). Para cultivar a mística da catequese a serviço da família é preciso: • • • • • • • • • • • • Que a família esteja no coração da catequese e que a catequese esteja no coração da família. Acreditar que a salvação do mundo passa pela família (João Paulo II). É a família que salvará a família. Parafraseando o antigo princípio: “Fora da família não há salvação”. Como bons samaritanos, curar as muitas chagas que o mundo moderno causou no seio da família, tais como: infidelidades, separações, aborto, perda da fé, etc. Devolver à família a missão de ser berço da vida e da fé. Recordar aos pais que a catequese começa em casa e que eles são os primeiros e permanentes catequistas de seus filhos. Que a família se sinta uma Igreja Doméstica, onde se cultivam a leitura da Bíblia e a meditação por meio dos Círculos Bíblicos, o terço e outras devoções. Que os catequistas continuem a missão apostólica, visitando os lares e levando a alegria da mensagem de fé. Que os pais estejam acompanhando o processo de educação e amadurecimento da fé de seus filhos. Cultivar a oração da família em família: “família que reza unida, permanece unida”. Participar da Eucaristia aos domingos, para celebrar com a família eclesial o mistério pascal do Senhor. Valorizar as datas festivas: Semana da Família, Natal, Páscoa, Dia das mães e dos pais. Incentivar as famílias cristãs para a formação de pequenos grupos e comunidades. Pois não existe catequese sem comunidade. Esta é a fonte, lugar e meta de toda a catequese. (cf. DGC 158). 5. Catequese e Encontro com os Pais O encontro com os pais é uma rica oportunidade para interagir família e catequese. Os encontros precisam ser melhor aproveitados. Muitos pais não gostam de participar das “reuniões” porque dizem que é só bronca. Outros lugares só fazem reunião para informar às famílias preços de camiseta, lembrancinha, vela, etc. Os encontros com os pais na Catequese precisam ser oportunidade para catequizar a família, incentivando para a missão de oferecer condições para o desenvolvimento da fé dos catequizandos. A catequese instrui os catequizandos na fé e prepara para a vida na comunidade, mas isso não tira o mérito e a responsabilidade dos pais de educarem seus filhos. Os pais são os primeiros catequistas na família e o seu testemunho que vai motivar os seus filhos a experimentarem o amor de Deus e a buscarem o caminho da fé. Para que os pais tenham consciência da sua missão, é importante que a catequese dê a devida atenção aos encontros com as famílias e oferecendo outros espaços para que pais e filhos estejam dentro do itinerário catequético. Assim como os encontros com catequizandos, os encontros com os pais precisam ser planejados, a fim de despertar a motivação dos pais e apontar caminhos novos para a educação da fé na família. Os pais têm necessidade de ouvir dos catequistas coisas tão simples, mas muito importantes, tais como: o que é catequese? Qual a sua finalidade? Qual a missão do catequista? Muitos pais passaram pela catequese, mas ficaram esclarecidos sobre as responsabilidades na educação da fé de seus filhos. Aqui propomos algumas idéias para o encontro com os pais na catequese: A catequese (Etimologicamente, significa “fazer ecoar”). • Catequese: um importante ministério da Igreja que nasce da Palavra. • “Processo de educação comunitária, permanente, progressiva, ordenada, orgânica e sistemática da fé” (CR 318). • “A missão catequética não se improvisa e nem fica ao sabor do imediatismo ou do gosto de uma pessoa” (DNC 319). • “A Catequese é uma urgência no vosso país. Fazei da catequese uma prioridade” (João Paulo II). • “A finalidade definitiva da catequese é fazer com que alguém se ponha, não apenas em contato, mas em comunhão, em intimidade com Jesus Cristo” (CT 5). • A catequese tem por fim “tornar a fé viva, consciente e operosa, por meio de uma instrução adequada” (CD 14). O catequista: um educador da fé. • Aquele que assume um ministério em nome da comunidade. • Um colaborador da Igreja mãe e mestra. • Torna visível o Cristo Mestre. • É porta-voz da comunidade. • É instrutor na fé. Igreja: • Catequese é ação da Igreja e projeto assumido pela comunidade. • A catequese é obra de toda a Igreja e sua missão consiste em oferecer os fundamentos da fé e promover o amadurecimento integral na vida de cada um. • A catequese é o coração da Igreja. É como o sangue nas veias. Ela é fundamental para a vida da comunidade cristã. • O lugar da catequese é a comunidade. • Há na sociedade uma mentalidade: “catequese é coisa de criança”. Família: • A catequese acompanha a nossa vida em todos os seus estágios. • Os pais são os primeiros catequistas. • Importância da família na catequese: a) Família – Santuário da Vida. b) Família – Berço da Fé. c) Família – Igreja Doméstica. d) Família – Célula da Sociedade. • É importante para a família: 1) O testemunho dos pais (participação na comunidade de fé). 2) A vida de oração na família. 3) Compreender as fases e o processo de desenvolvimento da fé. 4) O diálogo e transparência. 5) A liberdade e responsabilidade. 6) Exercitar a paciência. 7) Buscar parcerias (Igreja – comunidade – sociedade). Texto para reflexão: Pai, eu quero brócolis Fui convidado para falar para uma platéia formada por pais, mães e responsáveis por adolescentes que freqüentam a catequese de crisma. O catequista que me convidou teve o cuidado de enviar uma carta e ainda reforçou o convite a todos com um telefonema. Não sou pai mas sou catequista há 20 anos. Encarei o desafio. A platéia que encontrei era passiva, porém, atenta. Iniciei minha fala dizendo que se não houver um incentivo maior em casa para as questões da religião, estamos fadados ao fracasso na nossa relação com os filhos. Exagerei um pouco nas palavras e no tom de voz. Mesmo assim continuei e insisti em algo que parece chato e enfadonho repetir, mas que se mostra sempre atual: os pais são os melhores catequistas do mundo e devem ser parceiros dos catequistas no processo de evangelização. Desandei a falar e peguei fundo mesmo jogando com a emoção que o momento merecia, afinal de contas não é sempre que encontramos oportunidades como estas para um contato direto com os pais. Noto que está havendo um ruído constante na relação Pais/Catequese. Com isso, o que vemos são jovens desanimados com a religião e pais pouco (ou nada) participativos. O reflexo disso é uma catequese incompleta. Me olhavam atentamente e pareciam compreender minha mensagem. Continuei. Ser pai ou mãe nos dias de hoje é um ato de heroísmo e ser catequista não é muito diferente. Falar de Deus apenas uma hora por semana é um concorrência desleal com a internet, messenger, televisão, rádio, shoppings e tantas outras atrações que se apresentam. Entrei nas novas tecnologias e notei que aprovaram. Quando o catequista se estende um pouco mais no encontro de catequese, coisa de cinco, dez minutos, os pais reclamam. Mas não se importam quando seus filhos ficam nas festas até às quatro, cinco da manhã ou na frente do computador um tempão. Nossa, peguei pesado, mas eu precisava dizer isso. Ao contrário do que eu pensava, não reagiram. Então, dei a tacada final. Quantos de vocês, algum dia, já foram acordados por seus filhos, num domingo de manhã, com o pedido surpreendente de que eles estão com vontade de ir à missa? Todos, sem exceção, sinalizaram com a cabeça negativamente. Isso não aconteceu e nem vai acontecer num curto espaço de tempo. Na idade em que eles estão, esta é tarefa de vocês. Pais, escutem bem o que eu vou lhes dizer: vocês possuem uma responsabilidade muito grande no processo de evangelização. Façam um convite, despertem o interesse deles pela religião e por Deus e não se acomodem. Mas antes de tudo, mostrem interesse também. Se não for desta forma, a catequese será inútil e continuará sendo meramente um evento social. Ufa! Me estendi mas acho que valeu o discurso. Fui até meio teatral na entonação de voz , mas a intenção era tocar mesmo o coração daqueles pais. O encontro não durou mais do que uma hora e foi um contato precioso, uma iniciativa brilhante do catequista que me convidou. Momentos assim de avaliação, reflexão, conversa, testemunho e "dedo na moleira" são essenciais. Catequistas precisam ter a iniciativa e a coragem de proporcionar aos pais e crismandos este tipo de encontro e não ficar sempre lamentando a sorte. Temos, sim, pais acomodados, crismandos desanimados, mas é preciso que reconheçamos a existência de um bom número de catequistas sem iniciativa alguma para mudar este quadro. Evangelizar crianças e adolescentes requer a mesma paciência que se tem, por exemplo, de ensiná-los à alimentação correta. Você dificilmente irá ouvir de uma criança um pedido do tipo "pai, eu quero brócolis! Mas se der o exemplo e comer brócolis junto, logo esta criança estará comendo um prato inteiro de salada. Alberto Meneguzzi Para discutir em grupo: 1. Que ensinamento traz o texto? 2. Que atitudes concretas podemos assumir na catequese? “Família humana, comunidade de paz”. (No Dia Mundial da Paz - 1 de janeiro de 2008, o papa Bento XVI escolheu o tema da família para proferir uma mensagem ao mundo inteiro. Vejamos alguns trechos...). 1. “(...) a primeira forma de comunhão entre pessoas é a que o amor suscita entre um homem e uma mulher decididos a unir-se estavelmente para construírem juntos uma nova família” (n. 1). 2. “A família (...) constitui o lugar primário da ‘humanização’ da pessoa e da sociedade, o ‘berço da vida e do amor’” (n. 2). 3. “A família é fundamento da sociedade inclusivamente porque permite fazer decisivas experiências de paz. Devido a isso, a comunidade humana não pode prescindir do serviço que a família realiza. Onde poderá o ser humano em formação aprender melhor a apreciar o ‘sabor’ genuíno da paz do que no ‘ninho’ primordial que a natureza lhe prepara?” (n.3). 4. “Na inflação das linguagens, a sociedade não pode perder a referência àquela ‘gramática’que cada criança aprende dos gestos e olhares da mãe e do pai, antes mesmo das suas palavras” (n. 3). 5. “A própria comunidade social, para viver em paz, é chamada a inspirar-se nos valores por que se rege a comunidade familiar” (n. 6). 6. “Condição essencial para a paz nas famílias é que estas assentem sobre o alicerce firme de valores espirituais e éticos compartilhados” (n. 7). 7. “Uma família vive em paz, se todos os seus componentes se sujeitam a uma norma comum: é esta que impede o individualismo egoísta e que mantém unidos os indivíduos” (n. 11). Os Dez mandamentos da família para a Catequese: 1. Não fecheis o coração! Não vos bastais a vós próprios na educação da fé, mesmo que sejais os primeiros catequistas dos vossos filhos. Os catequistas são vossos colaboradores na educação da fé, mas não substitutos. 2. Amai a Catequese! A Catequese não é um "ensino" avulso e desorganizado. É processo de educação da fé, feita de modo ordenado e sistemático. É itinerário para amadurecer na vida cristã e caminho para o discipulado. Velai pela assiduidade dos vossos filhos e pelo seu acompanhamento, num estreito diálogo com os catequistas e com a comunidade de fé. 3. Não exijais dos vossos filhos o que não sois capazes de fazer. Não exijais dos vossos filhos, o que não sois capazes de dar. Exigir do outro o que não se tem pra oferecer é negar a si mesmo enquanto sujeito de fé. 4. Não queira transformar a catequese em curso para que vossos filhos "saibam muitas coisas"! Mas alegrai-vos sempre, ao verificardes que eles saboreiam a alegria de serem cristãos, e vão descobrindo, com outros cristãos, a pessoa de Jesus, o Amigo por excelência, que convida a seguir os seus passos no anúncio/testemunho da sua Palavra. 5. Demonstrem amor e cuidado pela família! A primeira forma de catequese acontece sem palavras e sermões, no respeito à dignidade de cada membro da família. O amor exige cuidado, como diz o poeta: “Quem ama cuida”. 6. Vivei a comunhão na família e na Igreja! Não sois uma ilha nem uma ostra. Sem diálogo não há espaço para a fé se desenvolver. Sem a sociedade não podereis progredir e sem a Igreja não podereis iluminar o mundo. 7. Sede discípulos e não expectadores! Não espereis que a Catequese faça de vós e vossos filhos bons alunos ou expectadores. Ao contrário, procurai que ela vos ajude a formar discípulos de Jesus, que O seguem, em comunidade. 8. Saiba testemunhar a fé na participação da comunidade e no sacramento da Eucaristia. Procurai pensar e viver de acordo com os valores do Evangelho. Sabeis bem que o testemunho é a primeira forma de evangelização. Deste modo, os filhos aceitarão melhor a proposta dos vossos ideais e valores. 9. Procurem aprofundar a fé e ter um gosto pelo conhecimentos das coisas de Deus! Como diz o célebre ditado bíblico: “Um cego não pode guiar outro cego”. Quem não é esclarecido na fé não pode orientar os outros a viver o compromisso cristão. Nem tem o direito de manipular a fé segundo a sua ignorância. Também não cedais à tentação de achar que se pode "mandar" os filhos à Catequese, para vos verdes livres deles ou para fugirdes das vossas responsabilidades. 10. Orai e celebrai a vida em família! Rezar e celebrar com toda a família, de modo a que a vossa fé seja vivida em comum na pequena Igreja que é a família, se exprima na grande família que é a Igreja e transforme a diversificada família humana que integra a sociedade.