24 Segunda-feira 15 de julho de 2013 Jornal do Comércio - Porto Alegre Política Edgar Lisboa Entrevista Especial Repórter Brasília Vaias e satisfação [email protected] Apesar das vaias e aplausos à presidente Dilma Rousseff (PT), os prefeitos, após reunião de aproximação no Palácio do Planalto, ficaram satisfeitos com a oferta de R$ 3 bilhões aos municípios para custeio de serviços públicos. O recurso corresponde a 1% do Fundo de Participação dos Municípios e, apesar de a Confederação Nacional dos Municípios ter pedido o dobro, o gesto foi bem visto. “Não foi o que esperávamos, mas foi o possível”, disse o prefeito de Ijuí, Fioravanti Ballin (PDT). O presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, também elogiou a proposta. “Sempre digo que temos conseguido avanços, e isso ameniza a crise, que é muito séria e profunda. A presidenta, quando nos convida para esse encontro, acredito que é no bom sentido, recebemos com muita humildade e até agradecendo ao governo por estar tendo esse entendimento de que, embora com tudo que tenha havido lá (na marcha), a presidenta está nos convidando para continuar esse diálogo.” Sobre as vaias a Dilma e aplausos ao presidenciável tucano, o senador mineiro Aécio Neves, o prefeito de ��������������������������������������������������������� Jóia, José Roberto Zucolotto (PSC), foi lacônico. “Já começou a campanha para a presidência.” CPI do Bndes A oposição na Câmara dos Deputados está preparando uma CPI para investigar os empréstimos feitos pelo Bndes. Deputados preparam um requerimento para instalar a CPI e já começam a se articular para investigar se os empréstimos foram legais ou não. “Queremos investigar essa vultosa liberação de recursos públicos, esse capitalismo de Estado que enriquece os amigos do governo. Aí entram as empresas de Eike Batista, os investimentos na Copa”, explicou o deputado federal gaúcho Onyx Lorenzoni (DEM). A vida do novo coordenador da bancada gaúcha no Congresso não será fácil. Alceu Moreira (foto, PMDB), que ficará sete meses após a negativa de Ronaldo Zulke (PT), entra pouco depois de o governo cortar as emendas de bancada. Em reunião com os coordenadores, a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti (PT), afirmou que não será empenhada nenhuma emenda de bancada de 2012 e “não é para esperar” nada das apresentadas em 2013. Pouco tempo depois, o governo decidiu liberar R$ 6 milhões para emendas individuais de deputados do PT e do PMDB e R$ 3 milhões para deputados de outros partidos da base e da oposição, alimentando ainda mais uma revolta na base que aliados já afirmam estar acontecendo. “Revolta já tem, e não vai ser com liberação da emenda que o governo vai se safar”, comentou o ex-coordenador da bancada gaúcha Ronaldo Nogueira (PTB). O novo coordenador, Alceu Moreira, já quer mudar a estratégia. Ao invés de tentar emplacar no orçamento 20 emendas, vai se contentar com cinco. “Aí é fazer pressão no governo”, concluiu. GUSTAVO LIMA/AGÊNCIA CÂMARA/JC Sem emendas de bancada Expectivas para 2014 As expectativas de grande movimentação nas ruas do País, e especialmente em Brasília, para o próximo ano, são bastante fortes. As agências reguladoras, que a presidenta Dilma já chamou de “sangue azul”, estão se mobilizando para exigir um aumento de 15% no salário. O governo acena com um valor parcelado, mas a “aristocracia do serviço público” acha pouco. Mas se o governo acredita que as últimas semanas estão sendo de tempo quente, aguarde o segundo semestre. Em setembro, chegam as datas-base dos metalúrgicos, bancários e petroleiros, categorias mais organizadas. Por isso, se o governo e os parlamentares pensam que o turbilhão já passou, esperem para quando setembro vier, já no alambrado das eleições de 2014. ‘O candidato não pode Fernanda Bastos e Adão Oliveira [email protected] [email protected] Fora do cenário eleitoral desde 2010, o ex-prefeito de Porto Alegre José Fogaça (PMDB) analisa que o o partido deve investir nos debates internos para que não repita os erros que o levaram à derrota. Na avalição de Fogaça, a falta de sintonia entre as direções nacional e estadual do PMDB foi decisiva para sua derrota. Na ocasião, a executiva nacional liderada pelo hoje vice-presidente da República Michel Temer (PMDB) orientava para o apoio a Dilma Rousseff (PT), mas a então candidata não iria subir no palanque do PMDB ao governo estadual, porque declarou voto ao petista Tarso Genro. Também não havia consenso entre a base peemedebista no Estado para dar apoio à chapa nacional com o PT, que ganharia a Presidência da República em outubro daquele ano. Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Fogaça também reafirma que os peemedebistas do Estado não podem abdicar de ter o senador Pedro Simon como candidato à reeleição. Ele ainda defende as políticas para o transporte público da sua gestão e do prefeito José Fortunati (PDT), seu sucessor. Jornal do Comércio – Em meio a protestos e críticas aos maiores partidos no Brasil, como o PMDB estadual encontrará a melhor estratégia para 2014? José Fogaça – Estamos em um processo de ebulição, de grandes mudanças, e quem quiser avançar sobre a eleição de 2014 a partir de agora comete um erro gravíssimo. Não tem de pensar agora na eleição. Tem que pensar em dar viabilidade e consistência, tem que deslabirintizar o sistema político brasileiro. É isso: permitir que a população veja clareza nos projetos. O que o cidadão mais gostaria é de poder votar sem dubiedade, votar sem risco de logo ali uma aliança vir a sabotar o voto dele. Ele vota num projeto, e daqui a pouco esse governo faz uma série de alianças que sabota o voto do eleitor. Essa clareza só virá com uma reforma política. A população não quer mais ser vítima de um jogo, um conjunto de situações que ela não entende. O cidadão não pode entender, se para o político ativista isso já é complicado, imagina para o eleitor. A eleição de 2014 só pode começar a ser pensa- da, inclusive em termos de nomes, em termos de alianças - até porque alianças poderá não haver, conforme a reforma política -, depois que isso for resolvido. Há um quadro de grandes incertezas. Essas manifestações - não as do dia 11 (da greve geral), que não têm nada a ver com isso - a partir do dia 17 de junho (que começaram contra o aumento da tarifa de ônibus) estão na verdade clamando por um país em que a política tenha visibilidade diante dos olhos das pessoas. JC – A decisão do senador Pedro Simon de não disputar a reeleição muda o cenário para o PMDB? Fogaça – Só não acredito que ele possa voltar atrás, como acredito que ele ainda tem muita coisa para fazer dentro da liderança que exerce no Rio Grande do Sul, do papel nacional que tem. Não vejo Simon como alguém que esteja saindo. Não admito. E ele se torna muito mais imprescindível justamente nesse quadro. É um quadro em que o Simon cresce em importância. JC – Mas nomes como Ibsen Pinheiro e Germano Rigotto já se apresentam. Fogaça – Não há dúvida de que renovação sempre há e haverá. Só digo que não é a hora para tratar dessa questão. Estamos em meio a um processo extremamente complexo, extremamente confuso, há aí uma multiplicidade imensa de opções, caminhos. Esse emaranhado da política é tão grave para o PMDB estadual, que não quero que de novo o nosso candidato a governador se veja diante do dilema terrível que foi imposto pela realidade naquele momento. O PMDB escolheu seu candidato sem ter tomado nenhuma decisão a respeito de nada, e deixou seu candi- dato flutuando, tendo que, sozinho, enfrentar esse mar de contradições. JC – Quais? Fogaça - A primeira delas é que a candidata a presidente da República tinha no Estado seu candidato, e tínhamos que apoiar essa candidata. Tínhamos que jogar água no moinho dela para que ela jogasse água no moinho do outro candidato. Mas isso é de uma irracionalidade e de uma incongruência que não têm sentido. Como é que um partido vai se mobilizar para uma eleição diante de um quadro tão destrutivo do ponto de vista de fazer política? Essas coisas devem ser resolvidas, têm de ser tratadas coletivamente. E depois, sim, escolher um candidato. Ou então escolher um nome, mas coletivamente ir resolvendo essas questões. Pode escolher antes ou depois, não importa, agora, não pode escolher um nome e deixar que ele diga “Bom, agora, eu escolho apoiar a Dilma”, “Escolho apoiar não sei quem”. E o que as bases do PMDB no Rio Grande do Sul querem a respeito disso, vejo manifestações muito distintas. JC – O que pode ser feito para que isso não se repita em 2014? Fogaça – Trabalho partidário. Debate interno. Reforma política de um lado e enfrentamento dessa questão com seriedade pelo partido. Quero que nosso próximo candidato a governador não passe pelo que passei. JC – A direção estadual condiciona o apoio a Dilma à presença da presidente no palanque peemedebista. Fogaça – Claro. Isso é sempre uma correlação. Nunca é uma adesão. O adesismo é a pior coisa que tem, só apequena e nos torna também reboque. O que eu não sei é se aquilo que a cúpula partidária está “O PMDB escolheu seu candidato e o deixou sozinho num mar de contradições”