Nº 190 DEZ 10 AZIMUTE z Revista MILITAR DA INFANTARIA EPI 5 N.º 190 – Dezembro 2010 Tomada de Posse do Exmo. Cmdt da EPI. Director: Comandante da EPI COR INF Jorge Manuel Barreiro Saramago Coordenação e Redacção: COR INF REF Nelson de Sousa Figueiredo TCOR INF Francisco José Fonseca Rijo TCOR INF Rui Manuel Mendes Dias TCOR INF Álvaro Manuel Tavares de Carvalho Campeão Relações Públicas: TCOR INF Álvaro Manuel Tavares de Carvalho Campeão Capa: SCH INF Jorge Manuel Manecas Miranda Fotografia: 1ºSAR INF Carlos Miguel Costa Cunha Composição/Paginação: SOLD RC Lino Filipe Marques da Rocha Impressão: Rolo & Filhos II, S.A. (Mafra) Tel. 261 816 500 Propriedade: O aprontamento de uma FND numa Unidade de Formação Certificada. 30 EPI - Alameda da Escola Prática de Infantaria 2640 - 777 MAFRA Tel. Civil - 261 81 21 05 Fax Civil - 261 81 16 01 Tel. Mil. (Central) - 420 400 Fax Mil. - 420 505 Tel. 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Nuno Álvares Pereira 2010 24 Candidatura do Edifício Real de Mafra e Tapada a Património Mundial da UNESCO Tema - Acreditação de um Sistema de Formação de Qualidade 26A Acreditação/Certificação da Qualidade da Formação 30 O aprontamento de uma FND numa Unidade de Formação Certificada O aprontamento da UnEng 9/FND/UNIFIL na Escola Prática de Infantaria 34 Tecnicamente Falando 38 Cultural Awareness da tomada de consciência à técnica. 41Expectativas de um Comandante de Batalhão sobre um Comandante de Companhia 47VBR PANDUR II Mortar Carrier 49 Reunião do “Nato Urban Operations Working Group” 51 Curso de Promoção a Capitão das Armas e Serviços, Serviços Técnicos e Serviço de Saúde 2010 53 Projecto MEP 55 Carta Aeronáutica ICAO de Portugal 59 Reabilitação das Infra-Estruturas de Apoio à Formação da EPI 62 Mini UAV nos Baixos Escalões Tácticos 64Taxonomia dos Objectivos Educacionais: a abordagem de Marzano Actividades 68 69 70 72 73 Cooperação Técnico – Militar - Timor-Leste Cooperação Técnico – Militar - Angola Cooperação Técnico – Militar - República Democrática de São Tomé e Príncipe Protocolo de cedência mútua de espaços entre o Exército e o Instituto de Museus e Conservação Clube Militar de Oficiais de Mafra - 5º aniversário Cultural 76Visitas e Notícias 80 Os Nossos Filhos Andam a Tomar Droga? 82Simbologia e Vivência do Natal 87 Poema - Das Invasões Francesas à Europa Unida Os artigos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores, e não vinculam as opiniões do Corpo Editorial. 2 Nº 190 DEZ10 z AZIMUTE Editorial É com orgulho, mas consciente das minhas responsabilidades, que como Comandante da Casa-Mãe da Infantaria sinto o privilégio de neste editorial poder saudar os Infantes, rendendo homenagem a todos quantos nos legaram os valores e as boas tradições da nossa Escola Prática, cuja riqueza e engrandecimento somos chamados a aprofundar e transmitir. Manifesto determinação e total disponibilidade, para apoiar sem reservas todas as acções relacionadas com a nossa Arma, seguro de que poderemos continuar a contar com o contributo e saber de todos os Infantes, para manter a nossa Escola Prática na senda da excelência que a caracteriza. Neste segundo semestre iniciou-se um novo ano lectivo e com ele retomamos o desenvolvimento das nossas actividades orientando a nossa acção em termos institucionais, organizativos e doutrinários, simultaneamente, em quatro grandes áreas de esforço: • Na reforma dos processos de trabalho, conscientes de que estes são a base de renovação e eficiência interna no domínio do que temos chamado a Escola Regimental. O aprofundamento da digitalização e automação de procedimentos rotineiros permitir-nos-á aumentar a produtividade e racionalizar todo o tipo de recursos. • Na Formação e no apoio ao Treino Operacional, mantendo e incrementando padrões de exigência cada vez mais elevados, que têm permitido o reconhecimento internacional do excelente desempenho dos nossos militares e o reconhecimento da nossa Escola enquanto entidade formadora, através da consolidação dos processos de trabalho que têm permitido continuar a gerar as evidências da qualidade da Formação ministrada na Casa Mãe da Infantaria. • No domínio das tarefas onde é Entidade Técnica Responsável, através da introdução de novas tecnologias, técnicas e métodos na Infantaria, de onde se salienta a curto prazo o reforço dos instrumentos de formação do Curso de Promoção a Capitão 2011 Parte Comum (para todas as Armas e Serviços do Exército) na modalidade de e-learning, mas também a realização pela primeira vez do Curso de Apoio de Combate, destinado a complementar a formação dos jovens Alferes de Infantaria. • No âmbito dos valores e ligação à Sociedade, aprofundando as relações humanas e militares de forma coerente e ajustada à missão da Casa Mãe da Infantaria, potenciando a nossa inserção na comunidade nacional da qual fazemos parte. Com o acompanhamento sempre presente do nosso Comando hierárquico e a exemplar dedicação e orgulho de bem servir dos Militares e Funcionários Civis da nossa Escola Prática, sinto total confiança para poder afirmar que vamos continuar a dignificar o honroso legado que nos foi transmitido por todos aqueles que nos antecederam e deixaram a sua marca, que nos serve de inspiração e de incentivo. Nesta quadra festiva desejo à família da Escola Prática de Infantaria e a todos os Infantes um Feliz Natal e um Ano de 2011 pleno de realização e sucessos, servindo o Exército e Portugal. “AD UNUM” Nº 190 DEZ10 3 AZIMUTE z Mensagem de Natal do Director-Honorário da Arma de Infantaria Eis-nos chegados ao final de mais um ano que a todos nós, militares do Exército Português, exigiu esforço, dedicação, alma forte para poder vencer os desafios. Infelizmente, já está anunciado que o próximo será, desde logo, ainda mais exigente, o que há-de significar dificuldades acrescidas não só em termos da Instituição mas para cada um de nós próprios, enquanto cidadãos. Felizmente, estamos convencidos que o nosso ânimo de Infantes há-de ser capaz de se sobrepor ao desalento. Esta convicção não quer dizer que estejamos indiferentes às causas das dificuldades e aos processos para as resolver. A nossa colaboração como cidadãos responsáveis a isso nos obriga. Mas a nossa condição de militares, prontos para servir em todas as circunstâncias, obriga-nos também a uma força interior que galvanize e que constitua, em permanência, garantia de serenidade, responsabilidade, de patriotismo. Um Santo Natal para todos os Infantes e suas famílias. Votos de que o Ano Novo possa constituir-se como o início de um novo futuro mais próspero e com maior bem-estar. O Director-Honorário da Arma de Infantaria Mário de Oliveira Cardoso Tenente-General 4 Nº 190 DEZ10 Tomada de Posse do novo Comandante da EPI O Coronel de Infantaria Jorge Manuel Barreiro Saramago assumiu, em 30 de Agosto de 2010, o comando da Escola Prática de Infantaria. Por despacho de 23JUN2010, de SExa o GEN CEME, foi nomeado,”por escolha”, para as funções de Comandante da EPI, o Cor Inf Jorge Manuel Barreiro Saramago, tendo decorrido em 30AGO10 a cerimónia de tomada de posse do comando da EPI na parada Coronel Magalhães Osório. Pelas 10h30 desse dia o Exmo. Comandante entrou á porta de armas e dirigiu-se para o gabinete do co- mandante onde, tradicionalmente, lhe foi colocado o crachá da unidade, tendo-se dirigido de seguida para a parada onde a formatura geral o aguardava. Depois das honras regulamentares o Exmo Comandante passou revista ás tropas e proferiu o seu discurso de tomada de posse que seguidamente se transcreve: “Oficiais, Sargentos, Praças e Funcionários Civis da Escola Prática de Infantaria, Saúdo cada um de vós, rendendo homenagem a todos os militares e civis que ao longo dos 123 anos de existência da Escola Prática de Infantaria, contribuíram com o seu empenho, dedicação e saber, para a consolidação da actividade de instrução e formação militar, de qualidade reconhecida e assim, para o prestígio que esta Escola desfruta, quer no Exército, quer na Sociedade Portuguesa. Assumo o Comando da Escola Prática de Infantaria, com a consciência do elevado nível de responsabilidades que me cabem, assim como o alcance dos desafios que tenho de enfrentar. Assumo essas responsabilidades, com a AZIMUTE z confiança de uma vida dedicada a esta Escola na qual servi ao longo da minha carreira em todos os postos, com excepção do de Major, mas também com a certeza da nossa coesão, do nosso sentido de missão e total disponibilidade para construirmos o futuro. É uma missão a que dedicarei todo o meu empenho, a minha determinação e o meu saber. É com orgulho, com grande honra e sentido privilégio que sei poder contar convosco e assumir, neste contexto, o comando da nossa Escola. Oficiais, Sargentos, Praças e Funcionários Civis da Escola Prática de Infantaria, A era da informação e do conhecimento em que vivemos obrigam a uma evolução de paradigma, do “saber fazer como prescrito” para um “saber agir consciente”, em especial na casa Mãe da Infantaria que tem a nobre missão de formar todos os Quadros da Arma, mas também os Oficiais, Sargentos e Praças do Exército em áreas específicas do saber militar. É necessário continuar a implementar na Escola Prática de Infantaria uma cultura de missão, estimulando e fomentando a iniciativa e a autonomia dos formandos através do ajustamento dos perfis de formação dos cursos, mas também através da renovação da cultura de serviço nos processos internos que devem ser norteados pela inequívoca avaliação de resultados em função de metas ambiciosas do ponto de vista organizacional. Nesse sentido, é necessário continuar a desenvolver a nossa acção, em termos institucionais, Nº 190 DEZ10 5 AZIMUTE z organizativos e doutrinários, simultaneamente, em quatro grandes áreas de esforço: • Na reforma dos processos de trabalho, colocando nela um verdadeiro espírito de serviço que se constitua como a base de renovação e eficiência interna no domínio do que temos chamado a Escola Regimental. É imperioso simplificar, autonomizar e partilhar tudo o que pode contribuir para aumentar a produtividade e poupar tempo e recursos para outras tarefas que nos permitam atingir a excelência em todas as áreas de actividade. • Na Formação e no apoio ao Treino Operacional, mantendo e incrementando padrões de exigência cada vez mais elevados, que têm permitido o reconhecimento internacional do excelente desempenho dos nossos militares e o reconhecimento da Qualidade da EPI enquanto entidade formadora, por parte da Agência Nacional para a Qualificação. Temos necessidade de aprofundar os processos de gestão da formação para nos continuarmos a situar, neste domínio, ao nível do que de mais moderno se faz no país e nas alianças de que fazemos parte. • No domínio das tarefas onde é Entidade Técnica Responsável, designadamente na Cooperação Técnico-Militar, na Formação Geral Comum das Praças, no Tiro das Armas da Infantaria, nas Operações de Apoio à Paz, no Combate em Áreas Edificadas, mas também as actividades de fortalecimento das tradições e do espírito de corpo da Arma de Infantaria. Temos necessidade de liderar os processos de transformação e inovação, e consequentemente de propor a introdução de novas tecnologias, técnicas e métodos na Infantaria. • No âmbito dos valores e ligação à Sociedade, aprofundando as relações humanas e militares de forma coerente e ajustada à missão da Casa Mãe da Infantaria e potenciando a nossa inserção na comunidade nacional da qual fazemos parte. 6 Nº 190 DEZ10 Militares e Funcionários Civis da EPI O futuro apresenta-nos vários desafios e também algumas dificuldades que, em alguns casos, ultrapassam a esfera de acção interna da EPI requerendo por isso o entendimento e a convergência de esforços com o Comando do Exército, na procura das soluções. A Escola Prática de Infantaria está bem preparada para aproveitar todas as oportunidades de desenvolvimento e afirmação, partindo para elas, com inequívoca vontade de as concretizar, pois temos a consciência que não podemos ser excelentes apenas através das palavras, mas antes, pela capacidade de afirmação através da realização de obras. Conheço as vossas qualidades, a vossa vontade de bem servir, o excelente desempenho técnico e a vossa postura ética. Conto com o empenho, a motivação, a grande dedicação, a excelente preparação técnica e táctica dos quadros e a inabalável vontade de todos quantos servem na EPI para, com realismo e confiança, enfrentar e ultrapassar estes e outros desafios, cumprindo de forma impar todas as tarefas da missão que nos foi atribuída. Olharemos para o futuro com serenidade, com o brilho nos olhos que nos caracteriza, com a necessária ousadia e ambição, saber e maturidade, para continuar a afirmar a nossa Escola e a Infantaria. O futuro da Escola Prática de Infantaria é uma tarefa de todos nós, requerendo de todos a participação sem lamentações, justificações ou indiferença; afirmo-vos a minha determinação, o meu empenho e total dedicação, na exacta medida em que estou convicto e confiante no vosso, para a plena afirmação da nossa Escola a nível interno e externo. O valor da coesão e a visão institucional partilhada por todos, são indispensáveis para responder com eficácia, aos desafios que se nos colocarem, assim como para o reforço do reconhecimento e do seu prestígio. Conto convosco desde o início e estarei convosco de corpo e alma até ao fim! AD UNUM.” Azimute O Coronel Infª Jorge Manuel Barreiro Saramago nasceu em Martinchel – Abrantes, em 14 de Janeiro de 1963, tendo sido promovido ao actual posto em 01 de Fevereiro de 2009. Entrou para a Academia Militar em 1981 e terminou o Curso de Infantaria em 1986, tendo ficado colocado na Escola Prática de Infantaria durante cerca de 10 anos. Tendo desempenhado funções como Comandante do Pelotão de Atiradores e Reconhecimento, Instrutor dos Cursos Geral de Milicianos, Curso de Oficiais Milicianos e ainda Instrutor de Táctica e Adjunto dos Directores dos Tirocínios para Oficial do Quadro Permanente durante quatro anos. Como Capitão foi Comandante de uma Companhia de Instrução, Director do Tirocínio para Oficial do Quadro Permanente, Instrutor de Táctica e Técnica de Estado-Maior ao Curso de Promoção a Capitão durante cinco anos e Director dos Cursos de Informações e Operações de Infantaria e de Promoção a Sargento-Ajudante. Durante três anos foi Chefe da Secção de Estudos Técnicos onde, entre outras actividades, foi o Chefe das Equipas de Trabalho para a elaboração dos manuais técnicos dos novos equipamentos adquiridos para a Infantaria no âmbito da 2ª Lei de Programação Militar e simultaneamente o responsável pelas testagens dos mesmos. Em 1988 e 1992 frequentou 2 cursos nos Estados Unidos, respectivamente, o “Infantry Officer Basic Course” e o “Infantry Officer Advanced Course”. Como Major, após a frequência do Curso de Estado-Maior 1996/98 exerceu as funções de Adjunto da Repartição de Planeamento Administração e Mobilização de Pessoal no EstadoMaior do Exército durante um ano. Em 1999 foi colocado no Instituto de Altos Estudos Militares, inicialmente como professor de Estratégia durante dois anos, tendo em 2000 desempenhado funções de Assessor do Ministro da Defesa Nacional em acumulação de funções docentes no Instituto de Altos Estudos Militares, aos diversos Cursos de Promoção a Oficial Superior, Curso de EstadoMaior e Curso Superior de Comando e Direcção. Regressado ao Instituto de Altos Estudos Militares foi professor de Geopolítica e GeoEstratégia durante dois anos. Já como Tenente-Coronel foi nomeado, em 2003, para o Quartel-General do NATO Rapid Deployble Corps – Italy (NRDC-IT) tendo assumido as funções de Chefe da Repartição de Planos e Projectos naquele Corpo de Exército. Ainda neste Quartel-General no âmbito da missão da NATO no Teatro de Operações do Afeganistão, foi durante cerca de seis meses o 2º Comandante da Repartição dos Planos do QuartelGeneral da ISAF VIII. Em meados de 2006 regressou à Escola Prática de Infantaria onde foi inicialmente Comandante do Batalhão de Comando e Serviços e posteriormente Director de Formação. A partir de Agosto de 2007 desempenhou as funções de 2º Comandante da Escola Prática de Infantaria, durante um ano, ocasião em que foi escolhido como Adjunto do General Chefe do EstadoMaior do Exército, funções que desempenhou até ser nomeado “por escolha” para comandar a Escola Prática de Infantaria. Da sua folha de serviços constam dez louvores, sendo um concedido pelo Ministro da Defesa Nacional, dois pelo General Chefe do Estado-Maior do Exército, cinco por Oficiais Generais e dois por outras Entidades Militares. É condecorado com a Medalha da Ordem Militar de Avis com o grau de Comendador, duas Medalhas de Serviços Distintos grau Prata, as Medalhas de Mérito Militar de 2ª e 3ª classes, a Medalha de Prata de Comportamento Exemplar, a Medalha do Pacificador do Brasil, duas Medalhas de Comissões Especiais em Itália e no Afeganistão e uma medalha da NATO na missão ISAF no Afeganistão. AZIMUTE z Novo Comandante da EPI Jorge Manuel Barreiro Saramago Coronel de Infantaria Azimute Nº 190 DEZ10 7 AZIMUTE Regimento de Infantaria 14 Unidade com passado, voltada para o futuro Síntese histórica O Regimento de Infantaria 14 foi formalmente criado com esta designação, com a reestruturação de 1806, na sequência daquela humilhação histórica que foi a Guerra das Laranjas. Foi então criado, apenas “no papel”, vindo a ser levantado em 1809 com base no Terço do Algarve, cujos registos conhecidos mais antigos remontam a 1657. Integrando o Exército Anglo-Luso que combateu as invasões Napoleónicas, adopta a Batalha do Buçaco ocorrida em 27 de Setembro de 1810 como a acção militar onde obteve o seu baptismo de fogo. No entanto, o 14 da Infantaria acompanhou a perseguição aos franceses, participando activamente em vários combates da Guerra Peninsular, até Toulouse, onde foi decidido o regresso dos portugueses ao solo pátrio. Declarada a paz, viu-se o 14 envolvido nas lutas liberais que dividiram o país e o povo, tendo uma passagem fugaz por Viseu em 1841, onde, após a vitória da facção liberal e a consequente extinção de muitas ordens religiosas, o Regimento se fixa definitivamente em Viseu, no antigo convento da Ordem Terceira, sendo o Regimento da actualidade que está fixo há mais tempo na mesma localidade. Participou na I Guerra Mundial, ainda antes de Portugal fazer parte dela, com a infeliz tragédia de Naulila (Sul de Angola, 18 de Dezembro de 1914), e posteriormente, integrando o CEP com o BI 14. Teve destacamentos nas antigas possessões indianas e foi unidade mobilizadora e aprontadora de contingentes para as antigas províncias africanas. Mais recentemente, este Regimento tem sido unidade aprontadora de diversos contingentes que, nos mais variados Teatros de Operações, têm cumprido Portugal no quadro dos compromissos internacionais e no âmbito de diversas missões humanitárias e de paz, designadamente, Bósnia Herzegovina, Kosovo, Timor Lorosae e Afeganistão. Acrescente-se que o 14 tem também enviado elementos isolados para outras missões, nomeadamente, no Iraque e diversos países africanos. Missão e organização A missão do Regimento de Infantaria 14 é aprontar um Batalhão de Infantaria para integrar a Brigada de Intervenção, a nova força blindada de rodas do Exército Português Apesar de ser esta a missão explícita e principal, na verdade, há todo um conjunto de tarefas de âmbito territorial de tempo de paz atribuídas às Unidades, as quais o 14 igualmente tem que cumprir: participação em cerimónias, ligação à sociedade civil, missões humanitárias e de interesse público, apoio social à família militar e responsabilidades territoriais em termos de apoio a processos de averiguações relacionados com antigos combatentes ou com o apoio a funerais. Nestas tarefas, merece destaque pela visibilidade acrescida para o Exército e pelo sentimento de gratidão e reconhecimento que tem despertado na sociedade civil, a participação no âmbito dos planos LIRA e VULCANO, ambos no quadro da defesa da floresta contra incêndios e relativamente à qual, o RI 14 tem recebido os maiores encómios das entidades apoiadas. Organigrama do Regimento de Infantaria 14 8 Nº 190 DEZ10 Localização e Infra-estruturas O actual quartel do Regimento de Infantaria 14, inaugurado em 10 de Julho de 1951, encontra-se localizado na zona poente de Viseu e é um dos Vista aérea do Regimento de Infantaria 14 chamados “quartéis CANIFA” (Comissão para as Novas Infra-estruturas das Forças Armadas, criada em finais da década de 40, sucedendo à CANIE, a Comissão para as Novas Infra-estruturas do Exército, que teria iniciado os estudos para estes quartéis). Estas instalações, devido aos quase 60 anos de idade que já contam, têm sido submetidas a diversas intervenções com vista a mantê-las em condições de utilização (na maior parte dos casos trata-se de pequenos trabalhos de reparação da rede eléctrica, da rede de águas ou de reparação de coberturas), mas também para o aumento da eficiência térmica dos edifícios. AZIMUTE Para o cumprimento desta missão, e para o desempenho destas tarefas, o RI 14 está organizado em Comando e Estado Maior, Companhia de Comando e Serviços (CCS) Regimental e Batalhão Operacional, o qual, constitui o 2ª Batalhão de Infantaria da Brigada de Intervenção (2BI). Nesta organização, cabe ao Comando e Estadomaior planear, conduzir e supervisar as tarefas que derivam das responsabilidades territoriais de tempo de paz, sem prejuízo da capacidade de apoiar o levantamento do Batalhão e a sustentação do seu treino operacional. O apoio de serviços e a manutenção da vida da unidade constituem a missão principal da CCS Regimental, cujos recursos humanos são sempre escassos face à diversidade e volume de solicitações a que diariamente responde. Finalmente, o 2BI, como encargo operacional do Regimento de Infantaria 14, planeia e conduz o seu treino operacional de acordo com as directivas recebidas do Comando da Brigada e, dentro dos seus meios e possibilidades (e sempre sem prejuízo do seu aprontamento), colabora igualmente nas demais tarefas cometidas ao Regimento (como por exemplo, na participação em cerimónias, exposições, demonstrações e exercícios de outras unidades). Ainda o Regimento, e quando determinado, apoia o levantamento, concentração e aprontamento de forças e elementos destinados às forças nacionais destacadas. Foi disso o exemplo mais recente, a preparação do contingente destacado para o Teatro de Operações do Afeganistão que decorreu neste quartel entre Agosto e Setembro, e que concluiu com a projecção de quase 180 militares iniciada em 27 de Setembro de 2010. Aspecto do primeiro parque para as viaturas Pandur, em 1º plano, uma mostra de material ao Curso de Estado Maior; em 2ª plano, algumas viaturas sob a protecção dos novos telheiros Devido ao facto de este ter sido um dos Regimentos escolhidos para beneficiar do programa de reequipamento do Exército (as primeiras viaturas blindadas Pandur foram recebidas em 31 de Março de 2009), foi elaborado um plano director – cuja execução já foi iniciada e se encontra em curso – que contempla um conjunto de obras de modernização, adaptação e melhoramento dos edifícios existentes e construção de algumas novas estruturas, com a dupla finalidade de as reabilitar para os actuais padrões de habitabilidade e de criar as condições adequadas à boa funcionalidade e preservação do encargo operacional e do seu equipamento e viaturas. Neste âmbito, foram já requalificadas as oficinas de manutenção, construídas duas das quatro rampas de lubrificação previstas, colocado um separador de hidrocarbonetos e foram construídos os primeiros telheiros para parqueamento de viaturas. O quartel dispõe ainda de um bom pavilhão polidesportivo com sala de musculação, equipamento que regista uma intensa utilização, quer pelos militares “da casa”, quer por Nº 190 DEZ10 9 AZIMUTE numerosas instituições e colectividades do meio civil em que o Regimento está inserido, contribuindo de modo significativo para o bom relacionamento com a sociedade local e, no âmbito do apoio ao moral e bem estar, dispõe de uma piscina descoberta que faz as delícias dos militares e familiares no período estival. Actividades recentes, em curso e projectadas Além das actividades já referidas, o RI 14 tem apoiado inúmeras instituições civis, nos mais diversos eventos e celebrações, e participado em cerimónias evocativas, não apenas de âmbito militar. Merecem destaque a participação nas evocações dos 200 anos sobre as invasões francesas, quer através da execução de guardas de honra, quer através da participação do pelotão fardado à época, envergando réplicas do uniforme do Regimento durante a Guerra Peninsular. Exercício Sagitário 09 (Norte de Espanha) Aspecto da formatura geral das forças empenhadas Infantaria atribuído ao Battle Group para a União Europeia, contribuindo com uma Companhia de Atiradores, com todo o pessoal e material orgânico principal. Esta força, ainda que aquartelada no RI 14 e continuando a integrar o 2BI, efectua todo o seu treino operacional de acordo com as directivas do Comandante do 1BI / BRIGINT e, sempre que necessário, desloca-se à sua ordem para a realização dos exercícios de conjunto, que culminarão com a certificação deste Batalhão quer a nível nacional quer internacional. No futuro imediato, aguarda-se a definição sobre o aprontamento de mais uma força com destino ao Teatro de Operações do Kosovo que será projectada (previsivelmente) em Setembro de 2011. O 2º Batalhão de Infantaria da Brigada de Intervenção Pelotão com os Uniformes do RI 14 em 1810 desfila nas cerimónias de evocação dos 200 anos da Batalha do Buçaco O 14 tem igualmente contribuído para a divulgação da história, quer acolhendo grupos de estudantes em visitas de estudo – a quem é explicada a história do Regimento que se encontra espelhada na sua Colecção Visitável (vulgarmente designada por Núcleo Museológico) – quer organizando palestras e conferências; no domínio da divulgação da história deve ser igualmente referida a publicação do “O 14 de Infantaria”, livro que, partindo de uma publicação do Capitão Balula Cid sobre a história do Regimento até 1950, para além de ter acrescentado o período até aos dias de hoje, complementou o já existente. No domínio operacional, o Regimento, através do 2BI, tem participado em diversos exercícios e demonstrações, merecendo destaque a participação num exercício conjunto com forças do Exército Espanhol, realizado no Norte de Espanha em Novembro de 2009. Actualmente, o encargo operacional do 14 participa activamente no aprontamento do Batalhão de 10 Nº 190 DEZ10 Como encargo operacional do Regimento, e nos termos da missão que lhe está atribuída, este Batalhão é a razão de ser da própria Unidade. O 2BI foi criado em 01 de Junho de 1992, atribuído inicialmente ao Regimento de Infantaria 3 (Beja). Mais tarde, através da directiva 057/CEME/00, de 05 de Abril de 2000, o Encargo Operacional do 2BI da BLI foi transferido para o Regimento de Infantaria Nº 14, em Viseu. Coluna em deslocação para Penalva do Castelo, naquele que foi o primeiro emprego operacional das Pandur ao serviço do 2BI A Viatura Blindada de Rodas 8x8 Pandur Como parte do programa de reequipamento do Exército inserido na Lei de Programação Militar, o Viatura Blindada de Rodas 8x8 Pandur Regimento de Infantaria 14 foi das unidades escolhidas para receber esta nova viatura, a qual se destina a equipar o 2BI. Esta é uma viatura blindada de rodas de silhueta reduzida, moderna e capaz de ombrear com quaisquer outras congéneres conhecidas tendo sido concebida para o transporte de pessoal, com capacidade para todo o terreno e ser aerotransportável. Tem suspensão independente às 8 rodas e através de um sistema de gestão interno, permite ligar/desligar automaticamente a transferência e o bloquear/desbloquear dos diferenciais, como também permite o ajuste da pressão dos pneus em movimento. Um dos grandes saltos qualitativos representados por esta viatura é a sua capacidade de protecção à guarnição em ambiente NBQ. Em ordem de marcha, esta viatura tem uma autonomia em estrada que pode atingir os 600 km, para um peso de 18,5 ton (a uma velocidade média de 60km/h), podendo atingir os 105 km/h de velocidade máxima, em estrada pavimentada. As primeiras unidades chegaram ao Regimento em 31 de Março de 2009 e, à data da redacção deste texto, o RI 14 detém já 36 das 69 previstas. AZIMUTE No âmbito da participação portuguesa além fronteiras, o 2BI conta já com uma larga experiência, tendo aprontado e projectado diversos contingentes. Assim, e desde o ano 2000, o 2BI cumpriu quatro missões integrando forças multinacionais das NU (no TO de Timor-Leste), e da OTAN (na Bósnia-Herzegovina (BiH) e Kosovo). Entre Fevereiro e Outubro de 2001, o 2BI cumpriu a sua missão no TO de Timor-Leste, integrando a missão da Nações Unidas para aquele território. Em Julho de 2002, o Batalhão foi projectado para o TO da BiH, inicialmente como Reserva Operacional da Força de Estabilização da OTAN, tendo ficado aquartelado em Visoko. Este Batalhão integrou um efectivo de 323 militares. Em Dezembro, já perto do final da missão, foi transferido para Doboj, passando a assumir a responsabilidade por este Sector. Foi rendido por uma força nacional do mesmo escalão em Janeiro de 2003. Face à decisão de Portugal voltar a integrar a missão da OTAN no Kosovo, a partir de Fevereiro de 2005, o 2BI regressou de novo àquele território, integrando a KOSOVO FORCE (KFOR). Nessa data, o Batalhão assumiu a missão de Reserva Táctica da KFOR, com a possibilidade de ser empregue em qualquer das áreas de responsabilidade das restantes forças multinacionais, missão que repetiu entre Setembro de 2007 e Março de 2008. Não estando (ainda) completo em pessoal, e estando o seu reequipamento em curso, o 2BI não deixa de ser um valor seguro para a Brigada de Intervenção e para o Exército, quer pelo capital de experiência operacional internacional, quer, e acima de tudo, pela qualidade do treino que tem praticado e pela atitude e profissionalismo dos seus quadros e tropas. Conclusão O Regimento de Infantaria 14 é uma unidade da Infantaria portuguesa de cuja herança e tradições os seus militares estão conscientes e orgulhosos – ainda que isso aumente, sem dúvida, a responsabilidade de cada um para com o todo para níveis muito elevados. Às inúmeras solicitações de mais variada ordem, os militares e civis deste Regimento têm correspondido de forma muito positiva, o que tem feito merecer os mais rasgados elogios de quantos lhe podem apreciar o desempenho. Cientes das dificuldades do futuro que se avizinha, nem por isso estes militares e civis esmorecem e é com entusiasmo e determinação que, honrando a terra a que pertencem e a unidade em que servem, abraçam tais dificuldades na disposição de as vencer. São gentes das Beiras, temperadas no frio, desprezando o medo, ignorando a fome… fazendo jus à sua divisa, elas e eles são aqueles “Cuja fama, ninguém virá que dome” Nº 190 DEZ10 11 AZIMUTE “Ainda o 14 de Agosto” TCor Inf Francisco Rijo Em Janeiro do ano corrente, foi submetido á consideração do Exmo. TGen DHAI o programa de comemorações do dia da Arma de Infantaria e da sua Escola Prática para 2010, ano em que continuam as celebrações do Bicentenário das Guerras Peninsulares, do qual constavam as seguintes actividades: • Jornadas de Infantaria 2010 – “ As pequenas Unidades de Infantaria em Ambiente de Contra-Subversão” • Patrulhas Nuno Álvares Pereira • Missa de acção de graças • Cerimónia Militar do 14AGO2010 • Recriação Histórica grupo Magote de Sto Antão sobre as Guerras Peninsulares • Exposição no museu da Infantaria “Guerra Peninsular - O Engenho Militar e a força de um povo” Sobre as duas primeiras actividades demos conta no último número da Azimute e no numero actual, damos conhecimento em artigo próprio, dos desenvolvimentos da exposição que teve lugar no Museu da Infantaria dividida em três temas, em igual numero de espaços, OS Antecedentes; Os Soldados; Os Fortes. No que ás cerimónias do 14 de Agosto concerne, o dia começou com a missa de acção de graças na basílica , tendo sido celebrada pelo Capelão Chefe do Exército Padre Teixeira emoldurado pelos guiões das unidades de infantaria presentes nas comemorações do dia da Infantaria. Estiveram presentes na cerimónia o Exmo DHAI, TGen Oliveira Cardoso e esposa, TGen Vaz Antunes, MGen Tavares Nunes, Gen Jasmim de Freitas en tre outras individualidades. Quando já as centenas de convidados se acomodavam nas cadeiras colocadas no alto da escadaria da Basílica, as forças em parada, sob o comando do Exmo. 2º Comandante da EPI, Tenente-Coronel Francisco José Fonseca Rijo, aguardavam formadas no terreiro D. João V integrando as seguintes forças: • Banda e Fanfarra do Exército • Escolta de Honra ao estandarte Nacional pelos Oficiais do Tirocínio para Oficial de Infantaria 2010: • Bloco de Guiões representativos das unidades de Infantaria, • O Batalhão de Formação Militar Geral da EPI a duas Companhias; • Um batalhão formado por: •Uma companhia da Brigada Mecanizada •Uma companhia da Brigada de Intervenção • Uma companhia da Brigada de Reacção Rápida, com um grupo de Comandos, um Pelotão de Operações Especiais e um Pelotão de Pára-quedistas. • Cerca das 11h00, S.Exª o Chefe do EstadoMaior do Exército, General Pinto Ramalho, dava entrada na parada onde as forças prestaram as honras militares regulamentares. • Depois da integração do Estandarte Nacional seguiu-se a cerimónia de homenagem aos mortos que é um dos momentos mais significativos de qualquer cerimónia militar. Neste contexto, foi acendida a lamparina prostada em frente a D. Nuno Alvares Pereira. Seguiu-se a alocução do Exmo. Comandante da EPI a qual se transcreve: 12 Nº 190 DEZ10 Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal de Mafra Na sua pessoa saúdo todos os autarcas particular o Exmo. Presidente da Câmara Municipal de Sobral de Monte Agraço materializando a profícua ligação da Instituição Militar a sociedade as forças-vivas e aos cidadãos com resultados mútuos de inegável eficácia corolário de uma leal e sã cooperação. Exmo. Senhor Tenente-General Director‑Honorário da Arma de Infantaria. Meu General Muito nos apraz contar com o nosso Director‑Honorário neste dia tão especial para a Infantaria consubstanciando o apoio inequívoco que sempre disponibilizou nos momentos de maior significado e importância para a Arma. Na sua pessoa saúdo os antigos Directores da Arma os antigos Comandantes da Escola e Comandantes das AZIMUTE Exmo. Senhor General Chefe do Estado-Maior do Exercito, Excelência, A presença do Comandante do Exercito presidindo a este cerimonial de grande importância e significado para os infantes em particular para todos quantos servem na Casa-mãe e motivo de subida honra e orgulho que interpretamos como um sinal de confiança e um forte estimulo para continuarmos a cumpri com excelência a exigente e relevante missão de formação a responsabilidade da Escola Pratica de Infantaria Unidades de Infantaria e todos os Infantes que, aquém e além-fronteiras têm dado um inestimável contributo para o cumprimento dos superiores desígnios do País Exmo. Senhor Tenente-General Comandante do Pessoa Exmo. Senhor Tenente-General 2° Comandante da Guarda Nacional Republicana Exmo. Senhor Tenente-General Inspector-Geral do Exército Exmo. Senhor Tenente-General Comandante das Forças Terrestres Registamos com apreço a distinção com que os meus Generais nos quiseram honrar ao associarem-se a esta cerimonia que interpretamos não só pela importância e transversalidade da formação mas também pelo espírito aglutinador da Arma. Uma saudação especial para todos os infantes que prestam serviço na GNR congratulando-nos pela forma muito activa e empenhada como participaram nas actividades comemorativas do Dia da Arma. Exmo. Senhor Tenente‑General Comandante da Instrução e Doutrina do Exército, Meu Comandante, Assinalamos com satisfação a presença do nosso Comandante hierárquico, determinante na definição superior de orientações e critérios de rigor e de sucesso, mas também o garante dos recursos adequados ao cumprimento das missões atribuídas, conferindo-nos a indispensável serenidade e confiança no futuro. Nº 190 DEZ10 13 AZIMUTE Exmo. Senhor Major-General Director de Formação, Meu General, Expressamos o nosso muito apreço pela sua presença, que simboliza o reconhecimento da importância que confere à formação, bem como o apoio prestado pelo escalão superior em prol do cumprimento da nossa missão permitindo a adopção de um caminho formativo com elevados níveis de qualidade. Exmos. Srs. Oficiais-Generais, Ilustres Autoridades e Entidades convidadas, Minhas Senhoras e Meus Senhores, Infantes, Celebramos hoje o Dia da Arma de Infantaria e da sua Escola Prática, marcado por uma das mais brilhantes vitórias das forças militares portuguesas sobre as castelhanas, há precisamente 625 anos em Aljubarrota, garantindo a preservação da independência e a soberania do Reino, permitindo a afirmação do Portugal que hoje somos. Comemoramos igualmente os 650 anos do nascimento do Condestável, insigne e valoroso Chefe Militar que, de forma inexcedível, conduziu os nossos soldados ao sucesso. Com todo o mérito, é D. Nuno Álvares Pereira o Patrono da nossa Arma, motivo de grande orgulho e inspiração. Criada no reinado de D. Luís 1, por Carta de Lei de 22 de Agosto de 1887, a Escola Prática de Infantaria, escola secular, de conhecimento e de saber, de saber fazer, foi objecto de várias reorganizações e designações ao longo do seu historial, 14 Nº 190 DEZ10 mantendo a actual configuração desde 1926,tendo como missão principal a formação de quadros e tropas. Neste contexto, presto justa homenagem a todos os meus antecessores, que trilharam o caminho para a afirmação de uma Escola vanguardista do seu tempo, a d a p t a d a e a d a p t á v e l a o s s u cessivos processos de t r a n s f o r m a ç ã o , e , simultaneamente, uma Escola guardiã das suas idiossincrasias, das suas tradições e valores, conferindo às muitas gerações de infantes as competências técnicas e morais indispensáveis ao mais eficaz desempenho das suas funções. Este ano, sob o lema “Consolidação e Renovação”, cumpriu-se mais um ciclo de intensa actividade, de importantes desafios, aos quais a Escola tão bem soube dar resposta, numa demonstração inequívoca de “Saber Fazer” em proveito da formação, da investigação e doutrina, do apoio à política externa do Estado, da divulgação e abertura ao exterior, das missões de interesse público, e das tradições da Arma de Infantaria. No âmbito da formação, a Escola foi este ano responsável por 46 acções de formação, de 15 tipos diferenciados, num total de cerca de 1400 formandos Como elemento inovador, refira-se o novo modelo do Curso de Promoção a Capitão, em que os próximos capitães das Armas e Serviços, Serviços Técnicos e Serviço de Saúde do Exército, frequentaram a parte comum do curso na EPI pela primeira vez, em conjunto, com uma geometria temporal variável, indo ao encontro das especificidades de cada um. Por outro lado, como corolário da implementação do processo de Bolonha e da identificação de lições aprendidas nos tirocínios mais recentes, foi proposto superiormente um novo curso de apoio de combate conferindo aos subalternos de Infantaria as competências necessárias ao desempenho proficiente das funções de Comandante dos Pelotões de Reconhecimento, Anti-carro e Morteiros Pesados. Como consequência, já se encontra em processo de revisão o referencial do TPOI, por forma a reforçar a formação daqueles subalternos, nomeadamente em áreas como a contra-subversão, o ção do primeiro manual de táctica para Unidades equipadas com a Viatura Blindada de Rodas PANDUR, de escalão Pelotão e Secção, projecto que contou com a preciosa colaboração da Brigada de Intervenção, em particular do RI 13,RI 14 e RC 6,estando em curso os trabalhos relativos ao manual de Companhia sob a orientação da Direcção de Doutrina do CID. No que concerne ao combate em áreas edificadas, registe-se a elaboração de uma nova publicação táctica e de um projecto para a criação de um Centro de Excelência de Combate em Áreas Edificadas, potencializando as capacidades instaladas na Escola, tal como consignado na “Directiva para o Biénio 2010/2011”. No quadro do contributo do Exército para a execução da política externa do Estado, destaque-se a sua participação na operação “EUTM SOMÁLIA”, sob os auspícios da União Europeia, tirando partido do nicho de conhecimento específico prevalecente na EPI, permitindo a afirmação internacional de Portugal como Lead Nation do módulo de formação de combate em áreas edificadas, a ministrar no Uganda a cerca de 2000 Oficiais, Sargentos e Praças somalis, ao longo de um ano. À Escola foi atribuída a responsabilidade pelo aprontamento do módulo de 13 formadores militares, o qual se encontra presentemente no pleno cumprimento da sua missão no teatro de operações, num significativo contributo nacional para a paz, a estabilidade e a segurança internacionais. Salientem-se igualmente as acções executadas no âmbito da cooperação militar com países de expressão portuguesa, contribuindo para o reforço mútuo dos laços históricos, culturais e afectivos, acções essas materializadas na frequência de cursos ministrados na EPI, como o de Promoção a Capitão, do Tirocínio para Oficial, e do Curso Elementar de Combate em Áreas Edificadas por 10 oficiais oriundos de Cabo-Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Ainda neste âmbito, mencione-se a participação activa de 31 militares da EPI em missões internacionais, designadamente no Quartel-General da ISAF, no Afeganistão no Quartel-General da Operação da EUTM, em Bruxelas, num Grupo de Trabalho da União Europeia e em dois da NATO, num dos quais, o “Urban Operations Working Group”, a Escola se constituiu como anfitriã de uma reunião realizada em Abril deste ano, para além dos projectos de cooperação técnico-militar em que foram formados cerca de 1200 militares em Angola, Moçambique, S. Tomé e Príncipe e Timor-Leste. No que respeita às actividades de divulgação e de abertura ao exterior, merecem realce as cerca de 11 000 pessoas que visitaram o património histórico residente na Escola, das mais diversas instituições e organizações, nacionais e estrangeiras, provenientes de 24 países. Igualmente ilustrativo são os 3300 militares que utilizaram as infra-estruturas de Tiro e de Combate em Áreas Edificadas, dos estabelecimentos de ensino e de unidades da força operacional do Exército, da GNR, e do Corpo de Fuzileiros, entre muitas outras entidades, de que são exemplo as delegações da Alemanha, Estados-Unidos, Holanda e Reino Unido presentemente no quartel-general da NATO, em Oeiras. Reforçando a visibilidade e a imagem pública do Exército e da Infantaria, das muitas acções conduzidas saliente-se a cerimónia do Juramento de Bandeira mais uma vez realizado na Vila da Ericeira, permitindo uma maior proximidade com a população e uma presença mais efectiva da instituição militar junto da sociedade, constituindo-se, inclusive, num factor potenciador da atracção de recursos humanos para as fileiras. Por outro lado, num período em que se Nº 190 DEZ10 AZIMUTE C-IED, e o Direito Internacional Humanitário e dos Conflitos Armados. Sendo uma entidade certificada pela Agência Nacional para a Qualificação, desde o ano de 2004,foi submetido à apreciação superior o dossier de renovação da Acreditação da Escola, factor indutor de credibilidade e prestígio acrescidos pelo reconhecimento da qualidade e da excelência das metodologias e dos processos formativos adoptados. No que respeita à investigação, doutrina e estudos técnicos, para além de uma publicação doutrinária sobre Morteiros, sublinhe-se a elabora- 15 AZIMUTE registam os 200 anos da Guerra Peninsular, sublinhe-se a meritória acção do “Pelotão 1810”, conferindo brilho e lustre a inúmeros eventos comemorativos promovidos pelo Exército e pela Plataforma Intermunicipal para as Linhas de Torres, a nível nacional e loca, designadamente na inauguração do Forte do Juncai o então reduto militar n°77, localizado na Tapada Militar. Parte integrante da 2a Linha de fortificações, este foi um projecto que se inseriu numa perspectiva alargada de recuperação e de requalificação, de valorização e de divulgação do importante legado histórico militar cultural subjacente às Linhas de Torres Vedras e que contou com o inestimável apoio dos parceiros que integram a Plataforma Municipal para estas Linhas. Estas foram realizações de considerável projecção, que congregaram o esforço e as vontades de diferentes entidades, e que espelham bem a importância das relações entre a instituição militar e a sociedade, sendo de realçar a estreita relação de cooperação entre esta Unidade e a Câmara Municipal de Mafra pugnando pela complementaridade colaborativa, por acções sinergéticas, pragmáticas e empreendedoras em benefício da população, Esta é uma colaboração que se estende a muitos outros domínios, como as missões de interesse público, que constituem um importante veículo de afirmação e de reconhecimento do Exército, tendo a Escola vindo a desempenhar um papel activo e responsável, realizando patrulhamentos motorizados diários, tendo em vista a mais eficaz prevenção dos incêndios florestais, contribuindo para a preservação do bem comum e da riqueza nacional. Por fim, as actividades em prol da Arma promovidas pela “Casa- Mãe, de que se destacam o presente cerimonial militar alusivo ao seu Dia comemorativo, as Patrulhas Nun’Álvares Pereira que este ano contaram com a participação de mais de cem militares, oriundos de 14 Unidades de Infantaria do Exército, da GNR e do Corpo de Fuzileiros, e, por último, mais uma edição das Jornadas de Infantaria, promovendo a reflexão e o debate sobre a actuação das Pequenas Unidades de Infantaria em ambiente de subversão e de contra- subversão, elemento incontornável da modernidade operacional. Deste modo procurámos honrar a história, as especificidades e as tradições da Arma, bem como estimular o aprofundamento dos laços afectivos e a sã camaradagem entre todas as gerações de infantes. Oficiais, Sargentos, Praças e Funcionários Civis da Escola Prática de Infantaria, 16 Nº 190 DEZ10 Este foi um ano de intensa actividade mas de inegáveis e visíveis resultados, em prol do Exército e da Infantaria, muito se ficando a dever ao valor, ao mérito, e à excelência dos Oficiais, Sargentos, Praças e Funcionários Civis que servem na Escola Prática de Infantaria, seus pilares perenes e estruturantes. A todos reconhecidamente expresso o meu agradecimento, pelo apoio incondicional dado à Casa-Mãe durante o período em que tive o enorme privilégio de a comandar, elevando e prestigiando o seu lema “Saber Fazer” Uma palavra de agradecimento muito especial a todos os vossos familiares, pelo imprescindível apoio de retaguarda, sem o qual não teria sido possível tão elevados níveis de realização. Exmo. Sr. General Chefe do Estado-Maior do Exército, Excelência, A Escola Prática de Infantaria tem vindo a responder aos desafios da modernidade com a excelência e o prestígio que, há longa data, lhe são reconhecidos. Pode o Comandante do Exército continuar a contar com o extraordinário espírito de missão, a atitude determinada e pró-activa de todos quantos nela servem, garantes da continuidade na acção, na busca permanente de novos paradigmas e de elevados níveis de exigência e de qualidade, em prol do Exército, cumprindo Portugal. AD UNUM! Seguiu-se a alocução do Exmo. Director‑Honorário da Arma de Infantaria e ViceChefe do Estado-Maior do Exército, TGen Mário de Oliveira Cardoso, tendo proferido a seguinte alocução: Exmo. Senhor General Chefe do Estado Maior do Exército Meu General Chefe Exmo Senhor Deputado à Assembleia da República Cor Inf Marques Júnior A sua habitual presença na nossa Escola e neste particular dia festivo do 14 de Agosto é para nós, sempre, um motivo de alegria por significar que, passados que são já alguns anos, sobre a vida activa de militar, o continua a mover o gosto de estar entre nós e creio poder afirmar sem receio de me enganar, é a forma que encontra discreta mas afirmativa, para homenagear a grandeza desta Unidade demonstrada em tantas e tão variadas situações. Faz V. Ex.ª questão em presidir às celebrações Exmas. Autoridades Civis e Militares aqui presentes A todos saudamos neste Dia da Infantaria Portuguesa, o sempre renovado 14 de Agosto, em que procuramos reafirmar o espírito dos que em Aljubarrota, em 1385 lutaram para consolidar a existência de Portugal. A razão de ser dos Soldados é a defesa das suas gentes e da sua terra, dos interesses do seu País. A Autarquia é a expressão de autoridade democrática mais perto do povo. A natureza do relacionamento entre os eleitos locais e a Instituição Militar é sem dúvida um forte indicador da efectiva ligação do povo com as suas Forças Armadas, tantas vezes posta à prova na nossa história, passada e recente; tantas vezes reconhecida como indispensável para prosseguir o nosso destino colectivo. Nós regozijamo-nos da excelência do nosso relacionamento com a edilidade de Mafra, por isso damos conta de como gostamos de aqui estar e de partilharmos os vossos anseios de progresso, manifestando a nossa vontade em colaborar. Por isso cumprimentamos o Exmo. Presidente da Câmara Municipal de Mafra e demais entidades autárquicas presentes. Aos camaradas militares que nos honram com a sua presença e a todos quantos representam, expressamos a nossa satisfação por se terem juntado à Infantaria neste dia de grande significado para a Arma. Na simplicidade da sua génese a Infantaria tem consciência de estar presente em todas as outras componentes do Exército. Não nos sentimos menos próprios de identidade por isso nem muito menos vaidosos. Sabemos que constituímos nos dias de hoje, a base dos Exércitos, mas estamos perfeitamente conscientes de que só uma actuação concertada de todos os sistemas de armas permite alcançar os objectivos que nos são marcados. Daí que seja necessário que todos disponhamos deste espírito colectivo de servir, AZIMUTE dos dias das Escolas Práticas das Armas e dos Serviços do nosso Exército, o que demonstra o seu reconhecimento pelo muito labor que nelas se faz e da sua importância na formação dos Quadros e Praças do Exército. A sua vinda hoje aqui a Mafra à Casa Mãe da Infantaria, é então de facto uma repetição, mas em substância ela é mais um estímulo aos Infantes para que tenham alento na sua já longa e sempre inacabada marcha. Todos os Infantes se sentem orgulhosos de o ter entre nós neste dia e é através de V. Ex.ª como Comandante do Exército que queremos saudar as outras Armas e Serviços e dar-lhes conta de que sabemos que só com um forte espírito de unidade e de coesão seremos capazes de ajudar o Exército a cumprir as suas importantes missões. Tem V. Ex.ª a garantia de que a Infantaria continuará a ser o que sempre foi, forte, disciplinada, disponível e leal. complementando-nos. A Infantaria tudo fará para que os seus Quadros e Soldados compreendam em todas as circunstâncias que são uma parte do Exército e que é daí que resulta o seu orgulho em serem o que são ¾ Infantes. Uma saudação muito especial é devida neste dia a todos os Camaradas, Infantes ou não, que servem fora de Portugal no cumprimento de missões tão importantes para a paz e estabilidade. Fazemo-lo com um abraço de amizade e confiança de que, cumprindo como até aqui, estão a honrar a nossa farda, o nosso Exército e o nosso País. Soldados Sempre que entramos na nossa Escola Prática passamos, na Alameda, ao lado de uma expressão escultural do Soldado de Infantaria Português, da autoria do Mestre João Cutileiro. Retrata-se nessa magnífica obra de arte o Infante de três épocas fundamentais para a existência do Portugal que somos. - O Infante de Atoleiros, Trancoso, Aljubarrota, que não só garantiu a independência de Portugal como a afirmou em toda a sua plenitude na Península Ibérica. - O Infante da Guerra Peninsular de Almeida, Buçaco, das Linhas de Torres, de Vitória, dos Pirenéus, que numa Europa dilacerada pela guerra e pela tentativa de domínio pela força de um Nº 190 DEZ10 17 AZIMUTE Império soube sofrer, resistir, lutar de tal forma que nunca o seu Rei se viu sujeito ao domínio do Imperador invasor. - O Infante das picadas de Angola, das chanas de Moçambique, das bolanhas da Guiné que com estoicismo, sacrifício, coragem deu tudo o que tinha e o que não tinha, como foi a liberdade democrática do 25 de Abril. Em qualquer destes grandiosos momentos históricos encontramos razão para a nossa alma se engrandecer com o orgulho de sermos Portugueses, Soldados e Infantes. Todos os anos evocamos a figura do nosso Patrono, D. Nuno Álvares Pereira, os seus feitos mas também o seu legado de virtudes e coragem. Fá-lo-emos outra vez noutra altura. Assim como certamente o faremos acerca da nossa história recente das guerras do Ultramar. Assim como estou certo, teremos oportunidades e sentiremos a necessidade de acrescentar a este monumento a referência do Soldado da Bósnia, do Kosovo, de Timor, do Afeganistão. Mas demos ênfase hoje e porque se comemora o bi-centenário da 3ª Invasão Francesa aos soldados da altura. Particularmente aqui, em Mafra, perto do Forte do Juncal, no meio da 2ª linha de fortificação de defesa de Lisboa, nas famosas e conhecidas Linhas de Torres Vedras, onde Napoleão foi derrotado sem ser necessário lutar ¾ o que representa a expressão mais eloquente da arte da guerra As Invasões Francesas, ou Guerra Peninsular como também são designadas e que conduziram a sucessivas batalhas entre os anos de 1807 e 1814 são hoje vistas, para além de factos de natu- reza histórica e objectivos, como um emaranhado de intenções que nem sempre pareceram claras e perceptíveis tendo originado comportamentos dispares e por vezes até contraditórios. As Invasões Francesas puseram em causa: 18 Nº 190 DEZ10 - A integridade física de Portugal quando o seu território de aqui e de além-mar foi proposto para partilha entre a França e a Espanha. As Invasões Francesas puseram em causa: - A compreensão da estratégia real ao deixar o seu País e a sua gente sós face ao invasor quando afinal o Rei deste pequeno País mais a Oeste da Europa foi o único soberano a não ser submetido à autoridade do Imperador. As Invasões Francesas puseram em causa: - Os ideais de fraternidade, igualdade, liberdade, anunciados como bandeiras do invasor e também ambicionadas pelos portugueses, mas que cedo se viu que nada tinham a ver com o comportamento daqueles que as apregoavam. As Invasões Francesas provocaram: - A ruptura na confiança entre governantes e governados. - O desmembrar do único defensor institucional do Reino, o seu Exército para que não pudesse enquadrar qualquer resistência ou que se viu enviado para longe das suas fronteiras, o que fez a designada Legião Portuguesa que às ordens de Napoleão, e com valor, chegou até às longínquas portas de Moscovo. As Invasões Francesas provocaram o valor dos compromissos assumidos: - Aceitamos não cumprir alianças estabelecidas. - Submetemo-nos a elas. - Vimo-nos traídos por elas. Lutamos contra invasores, aliados e nós próprios. Fomos bisonhos como nos chamavam mas fomos nós e só assim fomos capazes de sobreviver como nação soberana. Em todas elas, Invasões Francesas, é possível encontrar contudo um denominador comum: - A existência de uma vontade colectiva própria, diferenciada, que soube afirmar a sua individualidade. - O carácter de um povo, a sua personalidade própria que veio ao de cima quando se viu confrontado com situações tão desafiadoras que provocaram forte reacção quando, a disparidade dos meios em confronto poderiam ter aconselhado a passividade por incapacidade ou resignação, como aconteceu com muitos outros povos da Europa. - Não o fizemos sozinhos, é certo. Na altura, como em muitas outras situações da nossa história a defesa do nosso país foi resultado de uma acção multinacional onde a Velha Aliança ango lusa desempenhou papel fundamental. É a Beresford e a Wellington que se deve a reorganização do Exército que havia sido desmembrado Daí que neste dia ao evocarmo-lo de outra forma estamos ainda a celebrar o testamento que Aljubarrota e D. Nuno Álvares Pereira nos legou. Daí que como todos os Portugueses os Infantes se sintam orgulhosos daquilo que são. E os Infantes são hoje parte activa de um Exército moderno, ambicioso, sabedor da sua importância na segurança e defesa do País. A história que hoje evocamos é mais um episódio do nosso já longo percurso como Nação. É também a evidência de que só com a existência de um Exército coeso, disciplinado, treinado, equipado, eficiente e interprete de um saudável sentido patriótico é possível vencer crises ou ambições veladas de estranhos. E é isso o que o nosso Exército é nos dias de hoje! A Infantaria é inequivocamente parte fundamental desse Exército. Esta Escola é fiel intérprete da criação desse espírito de servir, de honestidade, de honra, de luta pelo bem comum e reafirma publicamente que é esse o farol que orienta a sua acção. Ao vitoriarmos hoje a Arma de Infantaria vitoriamos o nosso Exército e gritamos como sempre o nosso lema de “Até ao Último” para que viva Portugal. O Exmo. MGen Rovisco Duarte Chefe de Gabinete do GEN CEME leu, seguidamente, a mensagem de Sua Ex.ª O Chefe do Estado-Maior do Exército General José Luís Pinto Ramalho. AZIMUTE e desmobilizado; e é justo reconhecê-lo. Mas é também à acção das guerrilhas, essas bem genuínas, bem portuguesas, produto da raça e da terra que cortando as comunicações, dificultavam o abastecimento do inimigo, isolavam-no quando se concentrava, batendo-o em separado mal se dispersava. É à visão estratégica de Wellington que se deve o desenho da defesa de Lisboa nesta famosa obra de fortificação que constitui as Linhas de Torres. Mas foi o esforço anónimo do povo português, homens e mulheres, que permitiu, com sacrifícios enormes e pouco conhecidos levantar em poucos meses e em absoluto segredo o famoso sistema defensivo que constitui as Linhas de Torres onde o Império Francês foi detido, e a partir do qual começou a desenhar-se a manobra ofensiva que, de vez, varreu do solo da Península os exércitos franceses de ocupação. Foi este também o espírito de Aljubarrota; Oficiais, Sargentos e Praças da Arma de Infantaria Militares e Funcionários Civis da Escola Prática de Infantaria É com satisfação que o Comandante do Exército se associa às comemorações do Dia da Arma de Infantaria e da sua Escola Prática, prestando justa e devida homenagem a todos os militares e civis que, com relevante sentido do dever, brio e elevado profissionalismo, servem, na Arma de Infantaria, Portugal e o Exército. A História de Portugal regista, de forma indelével, a nobre e constante afirmação dos feitos gloriosos do nosso Exército, onde a sublime e valorosa actuação da Infantaria tantas vezes se confunde com os próprios feitos. De entre eles, evocamos hoje a tarde de 14 de Agosto de 1385, e homenageamos, com sentido orgulho, toda uma gesta de valorosos soldados que naquele dia reafirmaram Portugal, sob a liderança de um dos maiores vultos da nossa História Militar, D. Nuno Álvares Pereira, Patrono da Arma de Infantaria. Aos Infantes de hoje, reafirmo a minha total confiança, certo de que, honrando o passado, reconhecemos a vossa dedicação, competência e elevado espírito de bem servir, garante do cabal cumprimento das missões cometidas à Infantaria e ao Exército. Face aos desafios da conflitualidade actual e às complexas e exigentes missões que, cada vez mais, nos confrontamos, as Unidades de Infantaria continuarão a afirmar-se como sólido pilar na edificação de um Exército mais moderno e flexível, com padrões de exigência sempre mais elevados, transmitindo uma imagem de força credível e que responda eficazmente às solicitações que o país lhe exige, e que a história o habituou a ver cumpridas. Militares e Funcionários Civis da Escola Prática de Infantaria O valor do Infante repousa, em boa parte, na Nº 190 DEZ10 19 AZIMUTE 20 sua Escola Prática. O elevado profissionalismo e a competência com que têm sabido desenvolver a vossa profícua acção em prol da formação e valorização dos quadros e tropas da Arma de Infantaria, patentes não só no elevado desempenho individual dos militares de infantaria, como, colectivamente, no reconhecimento unânime e devido às Unidades de Infantaria em geral, nomeadamente quando empregues em missões de apoio à política externa do Estado, são o merecido tributo ao esforço e exemplar devoção de todos quantos servem nesta Casamãe da Infantaria. Nesse sentido, o Comandante do Exército não pode deixar de relevar todo o trabalho implementado no âmbito da qualificação e certificação da formação, constituindo a Escola Prática de Infantaria, por mérito próprio, uma referência a nível nacional e um exemplo das melhores práticas internacionais nesta matéria, demonstrando inovação e inquestionável capacidade de adaptação à mudança. No quadro da doutrina e estudos técnicos, dirijo uma palavra de reconhecimento e incentivo pelos trabalhos desenvolvidos no âmbito da doutrina de emprego das pequenas unidades de Infantaria equipadas com as novas viaturas PANDUR, e pela execução do projecto para o Centro de Excelência de Combate em Áreas Edificadas, marcos importantes de uma modernização que se afirma. No âmbito das missões no exterior, o Comandante do Exército regista a participação da Escola Prática de Infantaria em diversos projectos de Cooperação Técnico-Militar em Angola, S. Tomé e Principe e Timor-Leste, contribuindo para o desenvolvimento, progresso e bem-estar destes países lusófonos, e sublinha a forma pronta e eficiente como, muito recentemente, assumiram a responsabilidade pelo aprontamento do módulo de formação de combate em áreas edificadas, já projectado para o Uganda, o qual, durante o período de um ano, irá ministrar formação a cerca de dois mil militares da Somália, integrado na missão da União Europeia “EUTM Somalia – European Union Training Mission Somalia”. Nesta oportunidade, dirijo uma palavra de particular apreço, estima e incentivo a todos os militares da Arma de Infantaria que, fora do território nacional e nos mais diversos Teatros de Operações, cumprem com abnegada dedicação e assinalável desempenho as exigentes missões que lhes estão confiadas, contribuindo, de forma decisiva, para o reconhecimento e prestigio internacionais do Nº 190 DEZ10 Exército e de Portugal. Oficiais, Sargentos e Praças da Arma de Infantaria Militares e Funcionários Civis da Escola Prática de Infantaria A inabalável firmeza, o forte sentido de missão e espírito de bem servir que a todos anima, constituem fundamento bastante de uma sólida confiança na nossa capacidade de afirmação, sabendo que, comungando dos mesmo princípios, saberemos em cada momento encontrar as soluções mais adequadas aos desafios da actual conjuntura. O Comandante do Exército reconhece o esforço e a dedicação de quantos servem na Arma de Infantaria e na sua Escola Prática, consciente da sua capacidade, espírito de sacrifício, dinamismo e criatividade, na procura permanente da excelência, contributos essenciais para a construção de uma força moderna e credível, pronta a actuar em todo o espectro da conflitualidade actual, onde e quando determinado, na defesa dos superiores interesses nacionais, honrando o Exército ao serviço de Portugal. A culminar o cerimonial militar, uma equipa dos Falcões Negros da ETAT fez uma demonstração de saltos de pára-quedas sobre o terreiro D. João V transportando as bandeiras de S. Jorge; da Arma de Infantaria; do Exército e a Bandeira Nacional perante os inúmeros populares que assistiam ás cerimónias e que foram brindados ainda com a passagem em voo rasante da nova aeronave C- que tinha acabado de largar os pára-quedistas. Terminada esta demonstração os convidados deram entrada no claustro sul do convento em direcção ao Museu da Infantaria onde assistiram a uma recriação histórica a cargo do grupo de Sto António do Tojal envolvendo alguns militares da EPI e que retrataram a actuação do povo português durante as invasões francesas em especial as emboscadas que faziam aos soldados de Napoleão. As comemorações do Dia da Arma e da Sua Escola Prática pela forma como decorreram, pelas palavras de felicitações dos Infantes e ilustres convidados e participantes constituíram um sucesso, para regozijo de todos os militares que preparam e levaram a cabo as actividades referentes ás comemorações, constituindo para a dignificação da Infantaria e do Exército. “ È dever da EPI saber fazer” Azimute “Guerras Peninsulares: o Engenho Militar e o Valor do Povo Português” TCor Inf Francisco Rijo Comemorando o Exército neste ano de 2010 o Bicentenário das Guerras Peninsulares e tendo em conta a contextualização da Vila de Mafra e do seu Convento não só no panorama geográfico mas também no rol dos acontecimentos de então, não podia a Escola Prática de Infantaria deixar de ficar tentada a desenvolver a exposição do dia da Arma de Infantaria e da sua Escola em torno desta temática, corolário também da intensa participação da EPI durante o ano em vários eventos com o já conhecido “Pelotão 1810”. No âmbito da Plataforma Intermunicipal para as Linhas de Torres (PILT), cujos principais objectivos são a gestão integrada do conjunto patrimonial das denominadas Linhas de Torres e da qual a EPI é membro, têm sido várias as iniciativas de recuperação do património defensivo das Linhas de Torres durante o corrente ano, enaltecendo-se assim o valor destas linhas como factor determinante no sucesso aliado contra o invasor. É assim lançado o mote para a temática da exposição. Se por um lado o valor intrínseco das linhas merece todo destaque e relevo pelos aspectos que se detêm com a sua construção e pela sua relação custo-eficácia, por outro lado há que enaltecer o valor, tenacidade e determinação do povo, que em condições precárias, fruto dos tempos austeros que então se impunham, levou a cabo tamanha empresa. Surge então um tema: “As Guerras Peninsulares – O Engenho Militar e o Valor do Povo Português”. A exposição apoiou-se no acervo documental/museológico de várias entidades tais como o Instituto Geográfico do Exército, a Direcção de Infraestruturas do Exército, Associação N a p o l e ó n i c a Portuguesa, a Câmara Municipal de Mafra, tendo ainda contado com a colecção miniaturizada de militares e equipamentos da época do Professor Rui Sousa, da Escola Secundária José Saramago. AZIMUTE Exposição 14 Agosto A exposição foi articulada em três espaços, cada espaço subordinado a um sub-tema, como a seguir se indica: “As Vésperas das Invasões”, sita na Sala de Honra da Infantaria. Esta sala continha um vasto conjunto de roll-ups representativos da cartografia da época e que se revelou crucial para a construção das linhas defensivas, sendo a sua posse cobiçada pelos demais contendores. Esta sala continha ainda um conjunto de informação, escrita e videográfica, explicativa das razões e contornos das Guerras Peninsulares, em particular Nº 190 DEZ10 21 AZIMUTE da 3ª Invasão sobre Portugal, em 1810, comandada pelo General Massena. Ainda nesta sala uma maqueta de Portugal Continental, ocupando o centro, esboçava iconograficamente o percurso da dita invasão e os principais incidentes que a marcaram. Esta sala foi organizada pelo Sargento-Chefe Manecas Miranda, da EPI. “Os Soldados”, sita no Corredor da Nacionalidade. Três painéis, cada um deles dedicado a cada uma das nações interve- nientes na Campanha – Portugal, Inglaterra e França. Manequins envergando a rigor os uniformes característicos de cada um dos Exércitos beligerantes, armamento, equipamento, notas explicativas sobre detalhes diversos respeitantes ao municiamento das armas e vida em campanha, entre muitos outros, encheram os painéis num manancial de informação, acessível e simples mas elucidativa. Esta sala foi organizada pelo Major Ribeiro de Faria, da EPI. “As Fortificações”, sita na Sala do Capítulo (vulgo Sala Elíptica). Cinco maquetas das fortificações de Forte do Cego - Arruda dos Vinhos, Forte do juncal - Tapada de Mafra, Forte do Zambujal – Mafra, Forte do Alqueidão - Sobral de Monte 22 Nº 190 DEZ10 Agraço e Forte da Sª do Socorro com implantação do sistema de comunicações, ladeavam a sala tendo ao fundo, aos pés da estátua do Santo Condestável, a maqueta com a representação das três linhas. No rol de maquetas insere-se ainda um modelo miniaturizado do telégrafo, artigo gentilmente cedido para a exposição pela Câmara Municipal de Mafra. Ao centro, uma mesa de grandes proporções contendo as miniaturas do Professor Rui Sousa, numa profusão multicolor e preciosamente detalhadas. Esta sala foi organizada pelo Te n e n t e - C o r o n e l Álvaro Campeão, da EPI e Professor Rui Sousa. Contudo a inauguração da exposição não se cingiu ao conteúdo descrito para cada uma das salas. Contou ainda a EPI com a prestimosa e artística colaboração de duas outras entidades: o Grupo Recreativo “O Magote”, de Sto. António do Tojal, e o Grupo Coral de Mafra. O grupo “O Magote”, especializado em representações cénicas do período das Guerras Peninsulares, abriu a exposição com uma brilhante teatralização nos Claustros Sul do Convento, alusiva ao papel desempenhado pelo Povo Português e às Milícias durante as Invasões Francesas, no que concerne à luta de desgaste e guerrilha. À entrada de Sua Exª o Gen CEME na Sala do Capítulo, O Grupo Coral de Mafra, que ali se encontrava, entoou o Hino da EPI seguido de mais duas obras do seu repertório vocal, emprestando assim ao evento um ar mais galhardo e festivo. É ainda de realçar que durante a inauguração da exposição estiveram presentes alguns figurantes, todos eles militares da EPI, juntamente com os membros d’ “O Magote” que fizeram questão de se misturar com os convidados, trazendo ainda mais animação e colorido ao evento. Nas várias salas foram tecidas considerações e fornecidas explicações sobre o acervo exposto, sendo aqui de justiça realçar a prestimosa colaboração do Tenente-Coronel Berger da DIE, Major Ribeiro de Faria da EPI e do Professor Rui Sousa da Escola Secundária José Saramago. Esta exposição, inaugurada no dia 14 de Agosto, foi patenteada ao público geral até 22 de Agosto, tendo contado com um total de 1186 visitantes, não contabilizando as visitas do dia da inauguração. Azimute Decorreram durante os dias 26, 27 e 28 de Julho, na Tapada Militar de Mafra e seus arredores, as provas relativas à tradicional Patrulha Nuno Álvares Pereira. Organizada pela Escola Prática de Infantaria, esta prova que teve como objectivo primordial o estabelecimento de relações de camaradagem entre as unidades de Infantaria que, naturalmente comungam dos valores e virtudes testemunhados pelo Patrono da Arma, procurou, através das várias provas que a compuseram, reforçar a capacidade de liderança, decisão e iniciativa ao nível de pequenas unidades de combate (das Forças Armadas ou Forças de Segurança) e o desenvolvimento de aptidões psicofísicas em situações de grande desgaste e adversidade física. Competiram na prova deste ano patrulhas em representação das seguintes unidades do Exercito, da Marinha e das Forças de segurança: • Escola Prática de Infantaria • Escola De Tropas Pára-Quedistas • Regimento De Infantaria 10 • Regimento De Infantaria 13 • Regimento De Infantaria 14 • Regimento De Infantaria 15 • Regimento De Infantaria 19 • Regimento De Guarnição 1 • Centro De Tropas Comando • Centro De Tropas De Operações Especiais • 1º Batalhão De Infantaria Mecanizado • 2º Batalhão De Infantaria Mecanizado • Corpo De Fuzileiros/Marinha • Unidade De Intervenção/Guarda Nacional Republicana As actividades tiveram início na tarde de 26JUL10 com a cerimónia de Abertura, presidida pelo Exmo. Comandante da EPI COR Inf João Ormonde Mendes, precedida por uma brilhante palestra, proferida pelo Exmo. COR Inf Américo Henriques, alusiva à Batalha de Aljubarrota. Na manhã de 27JUL10, teve lugar, dentro da Tapada Militar a 1ª Prova que, realizada por estafeta a partir de um Ponto Central (Parada Leste), testou os Patrulheiros na execução das seguintes tarefas: Marcor, Pista Individual de Combate em Áreas Edificadas no Centro de Formação e Treino de Combate em Áreas Edificadas (CFTCAE) “Aldeia de Camões”, Tiro com Espingarda Automática G3 com calibre reduzido, aos 25 m (Carreira de Tiro N.º2), e Pista de Cordas (500m). No dia seguinte, 18JUL10, as Patrulhas foram testadas na execução de uma Prova Topográfica, num percurso composto por treze pontos, com uma distancia de cerca de 22000m, em que, para além da orientação, as Patrulhas executaram provas de identificação de material diverso, no âmbito de sapadores, nós e armamento, de avaliação de distâncias e de transporte de armamento (Metralhadora Ligeira MG3). No final da Prova, todas as Patrulhas tiveram sucesso no cumprimento dos desafios que lhes foram propostos demonstrando a elevada qualidade técnico-Profissional dos Oficiais, Sargentos e Praças da Arma de Infantaria. No âmbito da classificação final, obtida através do somatório dos tempos obtidos nas duas fases da Prova, evidenciaram-se as Patrulhas que representaram a Escola Prática de Infantaria, Unidade de Intervenção/ Guarda Nacional Republicana e Centro de Tropas de Operações Especiais, 1º, 2º e 3º classificados, respectivamente. Ao final da tarde de 28JUL10, teve lugar no Salão Nuno Álvares da EPI, a cerimónia de encerramento, presidida pelo Exmo. Comandante da EPI Cor Inf João Ormonde Mendes, que fez a entrega dos diplomas de Prova a todas as Patrulhas (os prémios referentes aos primeiros 3 classificados, será feita no âmbito das comemorações do dia da Arma de Infantaria a 14AGO10) No final do evento o Exmo. Comandante da EPI COR Inf João Ormonde Mendes convidou todas as Patrulhas a participar num jantar convívio na messe de Oficiais da EPI. Neste repasto ficou, uma vez mais comprovado o sucesso da iniciativa, tendo as Patrulhas aproveitado o momento para alicerçar ainda mais os valores mais caros à infantaria, demonstrando ter desenvolvido entre si fortes laços de camaradagem e espírito de corpo. AZIMUTE Patrulha D. Nuno Álvares Pereira 2010 Azimute Nº 190 DEZ10 23 AZIMUTE Candidatura do Edifício Real de Mafra e Tapada a Património Mundial da UNESCO Maj Inf Rocha e Silva Generalidades A 15 de Maio de 2010, as várias entidades responsáveis pela conservação do Convento e Palácio de Mafra e Tapada assinaram um protocolo que criou a unidade de missão com o objectivo de preparar a candidatura daquele conjunto a património mundial da UNESCO1. O objectivo primordial desta unidade de missão é valorizar o conjunto Palácio, Basílica e Tapada de modo a que seja possível convertê-lo em Património mundial da Unesco contribuindo deste modo para um incremento da visibilidade externa da região através do prestígio que aquela classificação lhe confere. Património Mundial da UNESCO 1 Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (United Nations Educational, Scientific, and Cultural Organization). Foi criada em 1945, com a adopção do Acto Constitutivo a 16 de Novembro. Tem como principal objectivo contribuir para a paz, desenvolvimento humano e segurança no mundo, promovendo o pluralismo, reconhecendo e conservando a diversidade, promovendo a autonomia e a participação na sociedade do conhecimento. 24 Nº 190 DEZ10 A UNESCO considera na sua Convenção para a Protecção do Património Mundial, 2 Cultural e Natural como património cultural: Os monumentos. – Obras arquitectónicas, de escultura ou de pintura monumentais, elementos de estruturas de carácter arqueológico, inscrições, grutas e grupos de elementos com valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência; Os conjuntos. – Grupos de construções isoladas ou reunidos que, em virtude da sua arquitectura, unidade ou integração na paisagem têm valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência; Os locais de interesse. – Obras do homem, ou obras conjugadas do homem e da natureza, e as zonas, incluindo os locais de interesse arqueológico, com um valor universal excepcional do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou antropológico. Na mesma convenção são atribuídas aos estados 2 www.unesco.org signatários um conjunto de responsabilidades no sentido assegurar a identificação, protecção, conservação, valorização e transmissão às gerações futuras do património cultural e natural comprometendo-se a: Adoptar uma política geral que vise determinar uma função ao património cultural e natural na vida colectiva e integrar a protecção do referido património nos programas de planificação geral; Instituir no seu território, caso não existam, um ou mais serviços de protecção, conservação e valorização do património cultural e natural, com pessoal apropriado, e dispondo dos meios que lhe permitam cumprir as tarefas que lhe sejam atribuídas; Desenvolver os estudos e as pesquisas científicas e técnica e aperfeiçoar os métodos de intervenção que permitem a um Estado enfrentar os perigos que ameaçam o seu património cultural e natural; Tomar as medidas jurídicas, científicas, técnicas, administrativas e financeiras adequadas para a identificação, protecção, conservação, valorização e A candidatura O conjunto Palácio, Convento e Tapada de Mafra são encarados como passíveis de ser considerados como Património mundial da UNESCO pelos seguintes motivos: Representam uma Obraprima do génio criador humano; Testemunham uma troca de influências considerável durante um dado período ou numa área cultural determinada, sobre o desenvolvimento da arquitectura, ou da tecnologia das artes monumentais, da planificação das cidades ou da criação de paisagens. Exemplo excepcional de um tipo de construção ou de conjunto arquitectónico ou tecnológico ou de paisagem ilustrando um ou vários períodos significativos da história humana. Impacto para a Escola O eventual reconhecimento pela UNESCO do conjunto Palácio, Convento e Tapada de Mafra como Património Mundial terá, por certo, um impacto significativo na Escola Prática de Infantaria, uma vez que a mesma utiliza parte do conjunto que Portugal apresenta como candidato. No que respeita ao Convento, sendo a Escola o principal utilizador da infra-estrutura será de considerar que o mesmo, ao ser considerado como património da humanidade deverá manter, tanto quanto possível a sua matriz original transformando-se assim como um obstáculo a possíveis melhorias das condições de trabalho e de habitabilidade. No que respeita à Tapada, a utilização da mesma para as actividades de cariz táctico que hoje são levadas a cabo na mesma não parecem colidir com o reconhecimento da mesma como património Mundial na medida em que nessas actividades estão previstas medidas que contribuem para a preservação da mesma. No entanto, no que diz respeito à execução de actividades relativas à execução AZIMUTE restauro do referido património; Favorecer a criação ou o desenvolvimento de centros nacionais ou regionais de formação nos domínios da protecção, conservação e valorização do património cultural e natural e encorajar a pesquisa científica neste domínio. Escadas “La Lys” de tiro e lançamento de granadas de mão será de prever a adopção de medidas que vão restringir a utilização daquelas infra-estruturas. Conclusões Ao longo da já centenária histria da nossa Escola muitas foram as alterações das condições em que a mesma funcionou tendo esta sempre conseguido adaptar-se. O eventual sucesso da candidatura trará, por certo, novos desafios e novas regras que a Escola saberá enfrentar de modo a continuar a cumprir a sua missão fazendo jus à sua divisa “Saber Fazer”. Azimute Palácio de Mafra Nº 190 DEZ10 25 AZIMUTE A Acreditação/Certificação da Qualidade da Formação factor multiplicador da componente operacional TCor Inf Mendes Dias A Acreditação/Certificação consiste na validação e no reconhecimento formais da capacidade de uma entidade para desenvolver actividades de natureza formativa nos domínios e âmbitos de intervenção relativamente aos quais demonstre deter competências, meios e recursos adequados - humanos, técnicos, instrumentais e ou materiais. A Escola Prática de Infantaria (EPI), enquanto entidade formadora Acreditada/Certificada, garante que os seus domínios de intervenção, ou seja o conjunto das suas actividades, são articuladas em torno de objectivos específicos ou parcelares, associadas a cada uma das fases que constituem, na sua globalidade, o processo formativo ou o ciclo de formação. Nestes objectivos estão envolvidos os diferentes e complementares subsistemas, onde se agregam para fazer acontecer, a “escola da formação” e a “escola regimental”. Os domínios de intervenção/actividades Fig.2 - Processo de Diagnóstico de necessidades de formação Fig.1 – Processo Matricial do Referencial da Qualidade da Formação 26 Nº 190 DEZ10 AZIMUTE desenvolvidos pelos diferentes subsistemas, incluem: • O diagnóstico de necessidades de formação (Fig.2); • O planeamento de intervenções ou actividades formativas (Fig.3); Fig.5 – Processo da execução/difusão das actividades formativas da actividade formativa ou facilitadoras do processo de socialização profissional; • Planos de Intervenção, balanço de actividades e planos de melhoria contínua obtidos através da auto-avaliação (Fig.7); Fig.3 – Processo de planeamento através da utilização de bases de dados de pessoal, material e infra-estruturas • A concepção de intervenções, programas, instrumentos e suportes formativos (Fig.4); • A organização e a promoção das intervenções ou actividades formativas; Fig.4 – Processo da concepção de acções de formação • O desenvolvimento (execução/difusão) de intervenções ou actividades formativas (Fig.5); • O acompanhamento e a avaliação das intervenções ou actividades formativas (Fig.6); • Outras formas de intervenção sócio-cultural ou pedagógica, preparatórias ou complementares A EPI, partir das capacidades instaladas, quer no campo da Acreditação/Certificação da formação, onde combina processos e metodologias para a obtenção das evidências qualitativas, quer com o facto de possuir actualmente um Centro de Formação e Treino de Combate em Áreas Edificadas (CFTCAE), onde pretende consolidar uma estrutura integrada de conhecimento, competências e infra-estruturas, que permitam desenvolver a doutrina, as técnicas, as tácticas e os procedimentos (TTP), aprontou a Força do Módulo de CAE, no âmbito da participação do Exército na European Union Training Mission (EUTM) - Somália, no Uganda (Fig.8). No “desenho” do Aprontamento foi aplicado o modelo de formação designado de Abordagem Sistémica da Formação (ASF), que possibilitou responder às exigências impostas pelos requisitos/descritivos dos cargos, com vista a garantir a qualidade da formação proporcionada através da combinação integrada de recursos (formandos, formadores, materiais, equipamento e instalações), técnicas e procedimentos tendo em vista o desempenho eficiente das funções requeridas (Fig.9). Da análise do Mission Plan da EUTM Somália, surgiu o diagnóstico das necessidades de formação, visando identificar necessidades de formação, fase essencial para que todo o ciclo formativo acrescente valor. Com o diagnóstico consolidado, Nº 190 DEZ10 27 AZIMUTE da arte” da Força em todas as fases. Toda a concepção das intervenções, programas e suportes formativos tiveram presente quer, a especificidade técnica e o enquadramento operacional da Força no Teatro de Operações (TO), quer a natureza do público-alvo (Somalis) da formação a ser ministrada (Fig.10). Fig.6 – Processo da Avaliação da formação. com dados coerentes e bem fundamentados foi possível desenvolver o plano de formação quer para a Força do Módulo de CAE e quer para os formandos Somalis, indo de encontro às necessidades reais. Após o conhecimento das necessidades foi possível mobilizar os recursos necessários, de modo a dotar a Força com as ferramentas de treino e formação necessárias. A organização e o desenvolvimento do treino orientado para a missão, tiveram presentes o ambiente multinacional da missão, a tipologia das lideranças internas a aplicar e o estado comportamental desejado da Força, face aos tempos de permanência em TO (Fig.11). A avaliação/validação, acompanhamento e auto-avaliação contínua das capacidades da Força no decorrer do treino, foram determinantes para atingir o resultado final (FOC) antes da sua projecção, tendo em vista o cumprimento da missão em TO. Após a retracção da Força do TO, e identificadas as lições decorrentes dos ajustamentos e aprendizagens, estas foram incorporadas no novo Aprontamento em curso. A abordagem tida pela EPI para a execução do Aprontamento de uma Força para projectar no exterior do País, foi assim de potenciar as suas capacidades como entidade formaFig.7 – Processo de Auto - Avaliação dos subsistemas dora Acreditada/Certificada, aplicando metodologias e processos que acrescentassem valor à Força e esta concorrenPara o planeamento das intervenções e actemente, após o seu regresso incorpore valor nos tividades de formação e treino, o levantamento domínios de intervenção/actividades de formação das Inicial Operational Capabilities (IOC) e Final e treino da Escola, com reflexos na Infantaria e no Operational Capabilities (FOC), foram determinanExército. tes para objectivar capacidades e medir o “estado Azimute 28 Nº 190 DEZ10 AZIMUTE Fig.9 – Abordagem Sistémica da Formação Fig.8 – Centro de Formação e Treino de Combate em Áreas Edificadas Fig.10 – Programas e suportes formativos /EUTM Somália Fig.11 – Croqui do Centro de Formação em TO /EUTM Somália Nº 190 DEZ10 29 AZIMUTE O aprontamento de uma FND numa Unidade de Formação Certificada Cap Inf Rafael Lopes Introdução Conforme artigos apresentados em anteriores edições da nossa revista, à Escola Prática de Infantaria (EPI) foi confiada a missão de conduzir a fase de aprontamento da Força Nacional Destacada (FND), projectada no passado mês de Julho para o Teatro de Operações (TO) do Uganda. Esta missão, que no que respeita à sua actividade operacional base, centrou-se e centrar-se-á1, na formação de uma área da qual a EPI é a Entidade Tecnicamente Responsável (ETR) – Combate em Áreas Edificadas – constituindo-se este facto como um estímulo acrescido, não só por ser a primeira vez que a nossa Escola se constituía como unidade aprontadora, mas também porque sendo uma área com especial importância na actual conflitualidade, esta força quando projectada iria contribuir para a estabilização de uma região (Península Somali) tradicionalmente devastada por quezílias internas e que mais recentemente tomou repercussões internacionais, não só através das tão mediatizadas acções de pirataria, mas também pelas características sociais e políticas que criam “terreno fértil” à proliferação de células terroristas. 1 Ocorrerá no próximo mês de Fevereiro a 2ª fase da missão. 30 Nº 190 DEZ10 “O teu saber pouco vale se ninguém souber que tu sabes.” Pérsio O aprontamento desta força, sendo uma fase de formação orientada, e sendo concomitantemente a EPI uma unidade certificada pela Agência Nacional para a Qualificação (ANQ), importava seguir de uma forma rigorosa as actividades formativas tidas por convenientes, de acordo com as competências, recursos e meios disponíveis, sem nunca descurar de uma forma objectiva a preparação ajustada De que forma uma unidade certificada poderá contribuir para o sucesso da fase de aprontamento de uma FND? É esse desidrato que tentarei explanar neste artigo, sublinhando o contributo decisivo que as metodologias, procedimentos e processos – que embora já enraizados nos militares que servem na Escola – permitem ao agente de planeamento ser perspicaz, quer na execução cabal das acções correntes, prevendo com objectividade as acções futuras e garantindo a consolidação de um rasto histórico. A Certificação Fig 1 – Logo da FND (que se veio a revelar fundamental durante a execução da missão) dos militares que integravam a força, tendo em conta o enquadramento operacional. A pergunta que imediatamente se coloca, é a seguinte: A nossa Escola, acompanhando as tendências da sociedade civil, garantiu a certificação da sua área de responsabilidade principal – A FORMAÇÃO. Todavia, aquilo que hoje para muitos significa o seu trabalho natural, foi outrora um labirinto difícil que não importava ultrapassar. Foi um caminho exigente, rigoroso que uma vez mais a nossa Escola soube trilhar, e que é hoje uma realidade. Uma entidade formadora certificada, significa “uma entidade dotada de recursos e capacidade técnica e organizativa para desenvolver processos associados à formação, objecto de avaliação e reconhecimento oficiais de acordo Nº 187 AGO09 30 AZIMUTE Fig 2 – Actividade Operacional da FND com o estabelecido na presente portaria”2. Destas linhas de palavras, advém um conjunto de requisitos necessários, que em última análise pretendem beneficiar (não só em termos técnicos, mas também de reconhecimento da sua formação) o objecto do nosso trabalho – O FORMANDO. Assim, a certificação “assegura que a entidade formadora satisfaz os requisitos do referencial de qualidade no que respeita a: a) estrutura e organização interna, b) processos no desenvolvimento da formação e c) resultados e melhoria contínua. “ Estes requisitos do referencial de qualidade, brotam naturalmente fontes de verificação que permitem a auditores externos confirmar a conformidade da oferta formativa com os requisitos prévios de acesso à certificação. O Aprontamento/ Certificação O aprontamento da força, revelou-se uma fase de extrema importância para a consolidação da força não só em termos psíquicos, anímicos mas também 2 Portaria nº851/2010 de 06 de Setembro. técnicos, pois esta era constituída por militares com diferentes valências técnicas que, quando sincronizadas permitiam diminuir eventuais vulnerabilidades. Importa agora analisar, de que forma foi conduzida a fase de aprontamento e correlacionar com o cumprimento dos requisitos do referencial de qualidade. a. Estrutura e organização interna A EPI, seguindo as linhas de orientação definidas superiormente, tendentes à reestruturação do Exército, e sendo já à data da reestruturação, uma unidade certificada na área da formação foi impelida a reorganizar-se, mantendo no entanto “nichos” com responsabilidades consentâneas com a manutenção da certificação. Esta estrutura, assente especialmente na Direcção de Formação (DF), conjuntura a existência de “recursos humanos em número e com as competências adequadas às actividades formativas”, bem como a existência de espaços (salas de formação e locais de treino) e equipamentos. Do ponto de vista organizacional, este requisito, abarca responsabilidades para além da DF e que, naturalmente envolvem a Escola num esforço colectivo comum. Todavia, a estrutura organizacional da Escola não podendo estar centrada apenas na certificação (por motivos óbvios), as Subunidades e Secções de Estado-Maior estão alertadas para quais os procedimentos e processos para a manutenção da certificação. Após a recepção da missão de aprontar a força EUTM – Somália (European Union Training Mission – Somália), a EPI não se reorganizou, criou sim condições de uma forma flexível e dinâmica para que, à força em aprontamento fossem disponibilizadas todas as condições para conduzir as suas actividades, actividades essas, devidamente coordenadas com as restantes acções formativas em curso. Para alcançar este desidrato, e face à escassez de recursos humanos, existem na Escola ferramentas que permitem economizar um bem precioso e decisivo em qualquer actividade – O TEMPO DISPONÍVEL. Ferramentas como o portal colaborativo na intranet, os calendários no Outlook das diversas Nº 190 DEZ10 31 AZIMUTE Secções de Estado-Maior e Sub-unidades e a aplicação para a gestão de actividades constituíram-se como instrumentos preponderantes e são hoje uma realidade indissociável da estrutura organizacional da Escola e em tudo o que esta executa. O Módulo de Formação de Combate em Áreas Edificadas 1 (MFCAE1)3, apesar de na dependência directa do Comandante da EPI, teve na DF o grande pilar de apoio à sua preparação. A sua actividade era acompanhada e supervisada pelas diversas estruturas da DF, como sejam o Gabinete de Programação (Solicitações a unidades exteriores e reservas de infra-estruturas), Gabinete de Avaliação (acompanhamento da actividade formativa do MFCAE1, levantamento e análise de lições para próximas actividades do género), Secção de Formação (contributos na execução do Plano de Treino Nacional do MFCAE1 e condução de acções de formação). Concomitantemente, e como referido anteriormente, outras Unidades e Secções de Estado-Maior contribuíram naturalmente, e dentro da sua esfera de acção para que o aprontamento decorresse sem prejuízos para a força. b. Processos no desenvolvimento da formação O surgimento da missão (assunto abordado em artigos da anterior edição da nossa revista), e face a todos os condicionantes decorrentes da missão e do TO em causa, perspectivaram a constituição do MFCAE como uma FND. Nesse sentido, e pela inexistência de um histórico de preparação de forças com 3 Designação da força projectada para o TO do Uganda. Esta força era constituída por 3 Oficiais, 8 Sargentos e 2 Praças. 32 Nº 190 DEZ10 um enquadramento operacional Estrutura Operacional de Material idêntico, foi requisito decisivo a (EOM), Dotação Individual de preparação de um Programa de Fardamento e Equipamento Treino Nacional. Para a produ(DIFE), Dotação Orgânica de ção deste programa, era imporMunições (DOM) e efectuadas tante a execução prévia de um coordenações com entidades estudo pormenorizado não só de com responsabilidades de fordiversos documentos do escalão mação na esfera de intervensuperior (União Europeia e ção do Comando da Instrução e Exército), mas também do amDoutrina e que contribuíram para biente operacional específico alicerçar valências que previacentrado obviamente na Área mente tinham sido identificadas Táctica de Interesse. Desta como prioritárias. análise e estudo decorreram um conjunto de evidências que permitiram lançar aquilo que se viria a constituir como os requisitos de capacidade da força, onde para além da formação necessária evidenciava prioridades de formação. Esta análise, não é mais do que um Fig 3 – Logo de Entidade Formadora Certificada dos processos de uma entidaPor fim, e no que respeita de formadora certificada, que a processos é importante (tal através de evidências (resultante como foi executado na fase da análise de relatórios, opiniões de aprontamento) a criação de de formandos e formadores), pastas documentais (hard copy conjuntura o levantamento de e soft copy) – Dossier Técnicouma necessidade. Dessa necespedagógico4 – que permitam sidade surge a oferta formativa, manter para memória futura da qual decorre um conjuntos de aquilo que foi a fase de apronrequisitos tendentes ao desentamento, podendo-se constituir volvimento da formação, como desta forma como um referensejam: Programa de actividades, cial de intervenção pedagógica, objectivos a alcançar, recursos importante não apenas para as humanos e materiais a afectar possíveis auditorias executadas aos projectos e parcerias e proà entidade formadora certificada, tocolos. Concomitantemente, e após a aprovação do Programa 4 Termo técnico referido na Portaria Nº851/2010 de 06 de Setembro. de Treino Nacional (que incorpoEste documento, sendo um fonte de ra programa de actividades de verificação do processo de certificação aprontamento e objectivos a alde uma entidade formadora, incorpora um conjunto diversificado de informação cançar), foram executadas as tadevidamente organizada, e que deverá refas de levantamento de custos estar disponível aquando da execução associados à missão, proposta a de auditorias externas. AZIMUTE e motivador para quem serve no exterior, uma vez que sente apoio e acompanhamento da sua unidade. Neste facto, e uma vez mais a Escola, através da DF e o CFT acompanharam permanentemente a condução da missão, através não só dos Relatórios de Situação elaborados pelo Comandante da Força, mas também através de contactos telefónicos e via email, regularmente efectuados. Conclusões Fig 4 – Equipa de inspectores da Inspecção-Geral do Exército mas também para ser consultada como referência para outras forças. c. Resultados e melhoria contínua Este facto, não carecendo em minha opinião de qualquer processo de certificação é um dos paradigmas da actual conjuntura social e que de uma forma objectiva e assertiva deverá ser implementada em tudo quanto fazemos. O conceito “Learn and adapt”, é um foco permanente que deve orientar o caminho, no sentido último de tornar mais eficiente o nosso trabalho e a gestão de recursos humanos e materiais. Assim, o conceito de lições identificadas permite que próximas forças a serem projectadas disponham de experiências e vivências que permitam corrigir processos. As inspecções conduzidas pela Inspecção-Geral do Exército através da CREVAL (Combat Readniess Evaluation), realizada à força permitiram validar a fase de aprontamento e garantir que a força tinha atingido as Full Operational Capabilities. Por seu turno, a elaboração de Brefingues de Final de Missão nos diversos escalões de comando (Estado Maior General das Forças Armadas e Comando das Forças Terrestres) permitem também contribuir para esse desidrato, alertando as entidades com capacidade de decisão para situações que sejam passíveis de correcção e melhoramento. Em consonância com esta actividade, e tendente à avaliação de diagnóstico da intervenção formativa, importa confirmar o grau de satisfação dos formandos/FND e formadores com empenhamento na condução do aprontamento. Neste parâmetro, não tendo sido possível efectuar esta avaliação (apesar de a Escola ter disponíveis plataformas tecnológicas que permitem efectuar este procedimento), esta é feita após a execução da missão, onde naturalmente os militares que integram a FND validam a objectividade de todo o Programa de Treino Nacional. O acompanhamento pós formação, ou pós aprontamento da unidade formadora/aprontadora é também ele fundamental O aprontamento de uma FND não sendo uma acção de formação com o enquadramento de um curso técnico, conjuntura contudo, aspectos que poderão e deverão ser monitorizados por toda a estrutura de acompanhamento da certificação na Escola. Este aspecto, sendo executado, permite à FND responder de uma forma assertiva não só aos requisitos operacionais que deverá possuir, mas também respeitar a conjuntura organizacional na qual se insere. Por outro lado, é na certeza mais uma forma (para além dos Exercícios Finais de Aprontamento e as Inspecções realizadas) de garantir que todo o Programa de Treino Nacional se coaduna com as reais necessidades operacionais da força, e em última análise que a força se encontra devidamente preparada para execução da missão. Importa referir contudo, que a certificação tendo como “objectivos promover a credibilização das entidades formadoras”, é na prática um garante que a nossa formação é uma formação de qualidade, orientada para o formando, actualizada e com claros benefícios para todos os militares que passam por esta Escola. Azimute Nº 190 DEZ10 33 AZIMUTE O aprontamento da UnEng 9/FND/UNIFIL na Escola Prática de Infantaria ou a razão pela qual 2 + 2 podem mesmo ser 5 TCor Eng Fausto Couto Cmdt UnEng 9 1. Introdução A origem da United Nations Interim Force in Lebanon (UNIFIL) remonta a Março de 1978, tendo sido criada para confirmar a retirada de forças israelitas de território libanês. O seu mandato viria entretanto a ser ajustado em 19821 e 20002, adaptando-se à evolução da situação no teatro. Em 12 de Julho de 2006 o Hezbollah3 atacou o Norte de 1 Em Junho de 1982, Israel voltou a penetrar território libanês, tendo alcançado e cercado Beirute. 2 Em Maio/Junho de 2000, as forças israelitas retiraram de território libanês, tendo o Secretário - Geral da ONU confirmado o facto ao Conselho de Segurança da organização. 3 O Hezbollah (ou Partido de Deus, em árabe) é uma força importante no panorama político-militar libanês. De inspiração muçulmana xiita surgiu inicialmente como resposta ao ataque israelita de 1982. Apesar de ser considerada uma organização terrorista por alguns países (EUA, Reino Unido, Israel, Canadá e Países Israel, lançando vários rockets e um raid subsequente sobre o território do país, de que resultaram três soldados israelitas mortos, dois feridos e dois prisioneiros. Israel retaliou, lançando uma operação militar de grande envergadura sobre território libanês, iniciando novo conflito com o Hezbollah. A nova situação alterou profundamente o contexto em que a UNIFIL operava. Em 11 de Agosto de 2006, o Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou a Resolução 1701 (2006), visando o fim das hostilidades e o estabelecimento de um cessar-fogo permanente, assim como o aumento do efectivo da força de 2,000 para 15,000 Baixos), desenvolve uma acção significativa na área do apoio social, operando hospitais, escolas e outros serviços, em apoio de milhares de xiitas libaneses, sendo considerado um movimento de resistência anti israelita legítimo pelo mundo árabe e islâmico. Treino Reacção Emboscadas 34 Nº 190 DEZ10 homens. De acordo com esta resolução, a UNIFIL está autorizada a tomar todas as medidas necessárias, podendo recorrer ao uso da força, para implementar o seu mandato, estabelecendo no Sul do Líbano uma zona tampão de onde o Hezbollah e o Exército Israelita serão excluídos. As forças das Nações Unidas têm ainda como missão apoiar o Exército Libanês na resolução da crise e no seu deslocamento para o Sul do país (cerca de 15000 efectivos). O mandato da UNIFIL não prevê o desarmamento do Hezbollah. A primeira imposição da Resolução 1701, através de um cessar - fogo, efectivou-se em 14 de Agosto de 2006 às 08h00 (hora local). O mandato da UNIFIL tem vindo a ser sucessivamente renovado por períodos de um ano, tendo a última decisão a este respeito sido veiculada através da Resolução 1937 AZIMUTE Sessão de tiro do CS, que prolongou o mandato da UNIFIL até 31 de Agosto de 2011. Nos termos das Directivas 128/CEME/09 e 21/CFT/2010, a Unidade de Engenharia (UnEng) 9/FND/UNIFIL iniciou o seu aprontamento em 07 de Junho de 2010, para, a partir de Dezembro de 2010, render a UnEng 8 actualmente em teatro. 2. O primeiro desafio: planear o aprontamento A responsabilidade pelo aprontamento da UnEng 9, com um efectivo de 141 militares, foi cometida ao Regimento de Engenharia 1 (RE1), unidade pertencente às Forças de Apoio Geral do Exército, na dependência directa do seu Comando das Forças Terrestres (CFT). As Directivas CEME e CFT anteriormente referidas, definem de forma clara dois aspectos fundamentais a considerar para planeamento do treino a realizar durante o período de aprontamento: a. Orientar o treino em função das características da operação, da missão a cumprir, da natureza da Area of Responsibility (AOR) da UNIFIL, das forças em presença, do tipo de ameaças mais prováveis, bem como do tempo disponível; b. Dividir o treino em duas fases distintas: 1.1ª Fase, para conferir e treinar competências técnicas exclusivas da Engenharia, de acordo com os requisitos que a força deve cumprir nesta área; 2.2ª Fase, para conferir e treinar outras competências relacionadas com a protecção da força, de acordo com os requisitos para os quais as forças deste tipo deve ser preparadas; 3.Culminar o programa de treino, com um exercício do tipo LIVEX. A divisão do treino em duas fases distintas completamente individualizadas, é útil do ponto de vista do planeamento, mas difícil de implementar, uma vez que à sua 1ª fase corresponde teoricamente um conjunto de trabalhos de engenharia a realizar, que na prática acabam por ter um tempo de execução que se estende ao longo da totalidade do aprontamento. Esta situação não se verificou pela primeira vez com a UnEng 9, pelo que, não constituiu surpresa para nós. Assim sendo, procurámos logo desde o início, uma solução que permitisse compatibilizar de forma satisfatória as exigências do treino das competências relacionadas com a protecção da força, com a execução de trabalhos de engenharia em apoio de várias entidades militares e civis, durante os seis meses de aprontamento. 3. A resposta ao desafio: escola prática de infantaria Foi na Escola Prática de Infantaria (EPI), entidade formadora certificada, que a UnEng 9 encontrou a solução de equilíbrio que procurava. Desde o início, foi estabelecida coordenação entre o Estado-Maior da força e a Direcção de Formação da EPI, tendo esta última definido um programa de instrução tailor made, adaptado às exigências e características do Teatro de Operações (TO) do Líbano. A título de exemplo, citaremos o treino da reacção a emboscadas a colunas motorizadas, que para a UnEng 9 assume particular importância, uma vez que terá Nº 190 DEZ10 35 AZIMUTE que efectuar frequentes deslocamentos entre o seu aquartelamento e diversas frentes de trabalho espalhadas pelo TO. A instrução visando o comportamento a adoptar num ambiente cultural e religioso diferente, é outro exemplo a merecer referência, tal o interesse prático de que se reveste para a vivência diária da força, uma vez projectada. O programa de instrução previu instrução específica prévia para os graduados da força, que depois a ministraram nas respectivas Subunidades aos militares sob o seu comando, o que se veio a revelar extremamente importante, do ponto de vista da coesão da força. O espaço e a liberdade de movimentos oferecidos pela Tapada Militar, onde foi possível realizar uma semana de campo com a “componente militar” Como foi já referido, o principal desafio a que tivemos que fazer face, do ponto de vista do planeamento do aprontamento, foi a compatibilização do treino da “componente técnica” com a “componente militar”. Relativamente ao primeiro, foram atribuídos à UnEng 9 um conjunto de trabalhos na área das construções verticais e horizontais, cuja dimensão implicou um prazo de execução correspondente à quase totalidade dos seis meses de aprontamento. Foram apoiadas várias entidades militares e civis, tendo sido possível ajustar com relativa facilidade, a execução destes trabalhos ao programa de treino da “componente militar” definido com a EPI. Para tal, contámos com a colaboração permanente da sua Direcção de Formação e do conjunto de instrutores que nos apoiaram, para proceder a pequenos ajustamentos horários que se foram revelando necessários, de forma a cumprir na sua totalidade o programa de treino das duas componentes (“técnica” e “militar”). Uma das entidades militares onde foram realizados trabalhos correspondentes ao treino da “componente técnica”, foi a própria EPI, cujas infra-estruturas de apoio à instrução, sujeitas a uso intensivo, necessitam de manutenção quase permanente. De acordo com uma definição de prioridades apresentada pela EPI, a UnEng 9 executou os seguintes trabalhos: -- Reparação da Carreira de Tiro nº1 e infra-estruturas de apoio; -- Reparação do Campo de Lançamento de Granadas; da -- Ampliação Aldeia Camões (treino de combate em áreas edificadas); -- Construção de Pista de Obstáculos (200 metros); -- Demolição de antigos telheiros para instrução. Estes trabalhos tiveram a dupla vantagem de apoiar a Escavadora giratória - CT Nº1 preparatória do exercício final de aprontamento da força, a par da possibilidade de utilização das infra-estruturas existentes para a execução de um programa de tiro relativamente extenso, foram também importantes vantagens oferecidas pela EPI, que muito contribuíram para a obtenção dos objectivos a atingir. 4. A execução: compatibilização do treino da “componente técnica”, 36 Nº 190 DEZ10 Escavadora giratória - CT Nº1 - II AZIMUTE Reparação dos edifícios de apoio CT Nº1 unidade, melhorando a sua oferta em termos de infra-estruturas de apoio à instrução, permitindo simultaneamente à UnEng 9 o treino da “componente técnica”, de forma a alcançar os padrões necessários para responder de forma satisfatória às solicitações a que será sujeita no TO. A UnEng 9 executou ainda outros trabalhos em proveito de várias entidades militares e civis, conseguindo sempre, graças à colaboração permanente da EPI, compatibilizar a sua execução, com o treino da “componente militar”. 5. Conclusão O aprontamento de uma força “tipo UnEng” apresenta um desafio peculiar, que resulta da necessidade de compatibilizar a execução de trabalhos de engenharia (treino da “componente técnica”) que se prolongam praticamente ao longo de todo o período de aprontamento, com o treino dos aspectos relativos à protecção da força (treino da “componente militar”); No caso particular do aprontamento da UnEng 9, a EPI ofereceu uma solução que permitiu o treino simultâneo das duas componentes, através da execução de trabalhos de engenharia em benefício das suas infra-estruturas de apoio à instrução, complementado por um programa de treino da “componente militar” concebido em função da realidade do TO para onde a força será projectada. A adequação deste programa às necessidades do “cliente” a que se destinou, demonstrou claramente a qualidade do know how de que a EPI dispõe, quer em termos doutrinários, quer em termos de formação certificada. Este facto foi aliás confirmado, pela satisfação manifestada pelos instruendos, em questionário pós - instrução; Do ponto de vista da UnEng 9, a solução oferecida pela EPI permitiu retirar um excelente rendimento dos recursos humanos, materiais, financeiros e de tempo investidos na preparação da força, permitindo alcançar com grande eficiência e ao menor custo, os objectivos estabelecidos para o aprontamento. Em simultâneo, foi possível beneficiar de forma oportuna um conjunto de infra-estruturas de apoio à instrução pertencentes à unidade, sujeitas a utilização intensiva, que teriam certamente aguardado mais algum tempo pela reparação de que necessitavam, caso esta oportunidade não se tivesse concretizado. Queremos terminar este texto, agradecendo à Escola Prática de Infantaria a forma muito profissional, mas também muito calorosa como nos recebeu, fazendo-nos sentir sempre em casa durante a nossa permanência em Mafra. Pensamos que este aprontamento constituiu uma excelente oportunidade para demonstrar que, mesmo em ambiente de escassez de recursos, é possível alcançar bons resultados, desde que haja vontade para tal e que sejam estabelecidas as coordenações necessárias. Afinal, 2 + 2 podem mesmo ser 5 ! Azimute Nº 190 DEZ10 37 AZIMUTE CULTURAL AWARENESS1 da tomada de consciência à técnica. Cap Pires Ferreira Parte I. 1Salaam.2 Provavelmente, aplicado a tudo o que fazemos, nunca como nos dias de hoje o famoso provérbio “em Roma sê romano” teve tanto significado e lógica razão de existir. Arrisco mesmo afirmar que este exemplo empírico de sabedoria popular, simples e trivial, mas, ao mesmo tempo, permanente e actual, é a tomada de consciência que faltava à mentalização de todos quantos, no cumprimento do dever, são chamados a cumprir missões no exterior, em países regulados por culturas e costumes díspares, a maior parte das vezes susceptíveis de criarem barreiras à comunicação, quando não mesmo problemas de repercussão mais gravosa e de impacto mediático negativo imediato. Se ao nível das pequenas unidades de infantaria as tácticas, técnicas e procedimentos têm evoluído a um ritmo célere, num acompanhamento óbvio dos ensinamentos provenientes dos conflitos mais recentes, devem essas mudanças ser geradoras de reflexão à forma como se 1 “The ability to recognize and understand the effects of culture on people’s values and behaviors. In the military context, cultural awareness can be defined as the cognizance of cultural terrain for military operations and the connections between culture and warfighting”. WUNDERLE, William D. (Through the lens of Cultural Awareness: A Primer for US Armed Forces deploying to Arab and Middle Eastern Countries). 2 Olá, em Dari. 38 Nº 190 DEZ10 planeia e executa o treino nas suas fases mais embrionárias, sob pena de motivarem disfuncionalidades que mais tarde, pela sua “complexidade”, pode- rão ser difíceis de colmatar. Sem surpresa, do ponto de vista conceptual, a afirmação generalizada do conceito de “Cabo Estratégico” surge precisamente nesta óptica e linha de pensamento, derivando da capacidade para tirar conclusões objectivas e oportunas, tendo em conta aquilo que nos é dado a observar através da prática, fruto da evolução dos conflitos modernos. Actualmente, em teatro, pode considerar-se que a responsabilidade de contribuir para o sucesso é de todos e que, do todo, não há quem possa alhear-se do esforço comum, com o argumento vago de que não é peça fulcral na matriz organizacional. Assim, por vezes, o sucesso pode fazer-se à conta dos pequenos detalhes, e na forma mais ou menos rigorosa e interessada com que olhamos para eles. Por exemplo, no treino de uma força, nada pode ser considerado secundário ou de menor importância, e cair nesse erro fatal, tantas vezes cometido, pode levar a que, no final, se assinalem infelicidades e não se comemorem sucessos. A questão cultural pode até não ser um aspecto em que os planeadores concentrem a sua maior atenção. Porém, sendo a sua importância inegável, será inteligente aproveitar a sua transversalidade abrangente, para criar um alargado leque de possibilidades capazes de enriquecer a qualidade do treino. Mal, está a forma comodista com que encaramos determinados assuntos, e que o aspecto da consciência cultural é bom exemplo. Ou seja, dizer que se faz uma palestra de uma hora, ou até de duas horas, em que se aborda a questão cultural do país/região para onde a força vai ser projectada é, por assim dizer, estar a tapar o sol com a peneira e é estar a ficar refém, da pior forma, do conforto que é ir cumprindo requisitos de uma qualquer check-list de avaliação. Mas é preferível a não ter nada? É! Mas podemos fazer melhor. Parte II. De uma maneira geral, gostamos de ter algo para ensinar aos outros, pois isso faz-nos sentir confortáveis, quanto mais não seja porque falamos daquilo que dominamos. A abordagem mais ou menos social com que encaramos as pessoas que nos rodeiam, no nosso dia-a-dia, pode querer dizer muito do que somos e de como nos comportamos. Invariavelmente, ao longo da vida, interagimos com pessoas, mas a pensarmos em termos de proporção à escala mundial, não tantas quanto isso. As rotinas e os hábitos são o nosso pior adversário porque, de certa forma, todos somos diferentes. O segredo está em perceber quem está do outro lado e a forma correcta como o devemos fazer pois, em sentido contrário, temos tendência a exigir o mesmo comportamento (Fig1-Estados Consciência Cultural). Curioso é que, do ponto de vista das operações militares, a interacção com os outros, sejam eles de que tipo de actores forem, não é necessariamente uma acção fácil e que possa ser deixada ao livre arbítrio de cada um fazer como melhor lhe convier. Aliás, em operações, como de forma simples se possa pensar, ser culturalmente consciente não tem nada a ver com simpatia e não se mede em quantidade de sorrisos. Assumir que o aspecto cultural é um pormenor técnico, e que como tal deve ser tratado, é já um bom ponto de partida para encarar pode aumentar ou diminuir drasticamente. Sistematizar e interiorizar técnicas no âmbito da consciencialização cultural é cada vez mais essencial. numa abordagem que não deixa as coisas acontecerem por mero acaso. Do outro lado, acredito, não nos exigirão a perfeição, mas apenas o respeito mínimo da consideração e do direito à diferença. Em pequenos sinais, a credibilidade de uma força relevante, e cujo devido equilíbrio deve ser encontrado (Fig2Abordagem Cultural). Fora de questão está, parece-me, a atitude de negação face a este tema. Então, fazendo fé no que foi escrito atrás, a fase de treino de Parte III. Numa tentativa de abordagem formal e técnica de resposta ao que deve ser o treino no domínio da consciência cultural, parece-me necessário, desde já, a destruição de uma certa visão minimalista do problema. Nomeadamente, agora, com a emersão e afirmação de novos conceitos doutrinários, dos quais se destaca o conceito de COIN3, o conhecimento da vertente cultural será, em muitas situações, de importância considerável. É decorrente da necessidade de aplicar técnicas de ambivalência extrema, em que por um lado pretende conquistar-se os corações e as mentes e, por outro, não perder capacidades ao nível de protecção da força, que um sustentado conhecimento da componente cultural vai ser AZIMUTE tudo o que deve ser equacionado como planeamento e não como improviso. Por comparação directa, parece-me uma verdade inegável que, como povo, nós portugueses, temos uma grande vantagem relativamente a outros. Todavia isso, por si só, de pouco nos valerá se, na prática, não nos prepararmos de forma conveniente para o desafio que é estar em contacto com outras culturas, com diferenças, muitas das vezes, de cariz civilizacional. Perguntar o que não se deve, tocar no que não se deve, apontar para onde não se deve, e, em oposição, perder a oportunidade para esticar a mão no momento certo, ou dar a palavra à pessoa certa, ou saber dizer uma coisa tão simples como olá, tudo isso pode ser a qualidade que faltará 3 FM 3-24, COUNTERINSURGENCY, US Army, EUA. Nº 190 DEZ10 39 AZIMUTE 40 uma força deve contemplar fases de sensibilização e tomada de consciência cultural a todos os níveis hierárquicos e, de maior importância ainda, deve ser materializado em termos práticos, em exercício. Aprender um conjunto de palavras-chave e frases tipo (olá, bom dia, adeus, o meu nome é, como está?, …) que fomentem a ligação é importante, mas mais importante é não se ficar pela ilusão que o conhecimento foi adquirido. Neste período, estas situações devem ser forçadas e não deixadas à maior ou menor curiosidade ou interesse de cada um. Se o que se está a treinar é a condução de uma reunião, os visados devem experimentar/treinar/aperfeiçoar o uso de palavras no idioma local. Existe uma forma correcta para me sentar? Quem devo cumprimentar primeiro? Há alguém que não deva cumprimentar? Há perguntas que não deva fazer? Há temas que não deva abordar?, ou seja, as perguntas são infindáveis e as repostas, à falta de conhecimento, são complexas de responder. Os líderes devem potenciar o seu conhecimento com literatura obrigatória e adequada, não necessariamente apenas livros técnicos mas, também, material mais generalista, capaz de fomentar pontos de empatia e amarras culturais (Fig3Literatura) e, especialmente, várias visões do mesmo problema. Conhecer a organização Nº 190 DEZ10 política do teatro pode ser importante e coisas simples como reconhecer os símbolos gráficos associados aos diferentes postos militares é uma preocupação a que poucos se darão. Demonstrar que se sabe, são muitos pontos positivos a nosso favor. E haverá maneira de saber se estamos a cometer alguma falha cultural? Não sermos convidados a beber chá, será um bom sinal? Estaremos a ofender se pedirmos talheres? Enfim, é certo que não saberemos responder a tudo, mas podemos fazer a diferença em tudo aquilo que pode ser considerado crítico. Parte IV. De forma não totalmente certa, a preocupação geral quanto à tomada de consciência cultural está sempre relacionada com a questão religiosa e julga-se que, entendendo isso, se resolvem todos os problemas. Por experiência própria, refiro que o tema da religião foi coisa a que nunca tive grande necessidade de recorrer. Aliás, de uma forma ou de outra, para salvaguarda própria, sempre o tentei evitar e sempre senti que, do outro lado, fizeram o mesmo comigo. É que confinar a consciência cultural ao âmbito da religião é, no mínimo, redutor e traz armadilhas associadas. Ter consciência que do outro lado, em termos médios, estão pessoas como nós, com necessidades, gostos, passatempos, família, experiências de vida, interesses, etc, é já um bom ponto de partida para moldar as percepções e recolher daí atitudes positivas. Devemos pois estar preparados para essas bases de entendimento humano e explorá-las a nosso favor. Deveras importante, também, é a flexibilidade e a capacidade de adaptação que se devem ter em situações deste género. Como em tudo, igualmente neste aspecto haverá domínios a que o treino não chegará nunca, algo que exigirá maior aptidão para ligar todas as peças apreendidas, e daí obter uma solução que se encaixe na necessidade. Inclusivamente, estar preparado para ver a “outra parte” quebrar as “regras” é importante, e saber encarar isso de forma natural, ajuda. Então, o caminho só pode passar por olhar para esta componente de tomada de consciência cultural como uma ferramenta fulcral na melhoria do treino. Se assim for feito, o choque civilizacional começa por ser atenuado ainda em território nacional, onde as falhas são permitidas. É na aprendizagem e no treino que devemos ficar alertas para a importância que é perceber o que vamos encontrar do outro lado. Reformular a abordagem ao tema é imperioso. Sim, vamos manter as palestras, mas vamos também aumentar a componente prática. Vai dar trabalho e, muitas vezes, vai ser desconfortável, mas é a única maneira de fazer bem. Tashakor4. Azimute 4 Obrigado, em Dari. TCor Inf Mário Álvares Em 2009, durante a frequência da parte comum do Curso para Promoção a Capitão (CPC) realizado na Escola, período em que era Comandante do Batalhão de Formação, fui convidado pelo seu Director, camarada e amigo Rui Dias, para falar sobre as expectativas de um Comandante de Batalhão relativamente aos Capitães das suas companhias. Nessa lição, optei por seleccionar alguns atributos da liderança contemporânea que em parte orientaram a minha vida militar e que sempre procurei partilhar com aqueles que mais directamente trabalharam comigo. Assim, neste pequeno ensaio, focalizado nos desafios à liderança militar em tempo de paz, procurarei definir aqueles que são para mim os principais atributos da direcção e da chefia contemporânea, deixando pistas para uma liderança diferente sustentada, essencialmente, no desenvolvimento pessoal do chefe e das relações deste com os seus seguidores. O tempo de mudança e a suas implicações na direcção e chefia contemporânea Adaptando o pensamento original do professor e filósofo Sam Keen1 facilmente verificamos, numa auto-análise, que terminamos a Academia Militar ou um CPC com muito mais saber mas não sabedoria. Verificamos que adquirimos ideias mas perdemos sentimentos. Verificamos que apesar de muito ricos em técnicas não estamos habilitados a apreciar aptidões que pouco tempo tivemos para cultivar. Acima de tudo, verificamos que não estamos preparados a explorar sentimentos que, adormecidos, nos permitiriam ser protagonistas efectivos da transformação e fazer parte do aperfeiçoamento nos diversos domínios das relações interpessoais no seio das organizações modernas. É que as mudanças organizacionais, nas mais diversas áreas, são aceleradas, profundas, abrangentes e, mais importante, irreversíveis. Na verdade, a realidade do mundo organizacional, na qual a organização militar com o seu quadro de 1 Filósofo Americano conhecido por explorar os problemas do homem na sociedade contemporânea. referências deontológicas faz parte, transporta-nos para um paradigma de acção e decisão que colide com a visão ordenada e cadenciada da direcção e chefia em que o “Capitão” é, ou deverá ser, um decisor racional, um programador sistemático e um coordenador e supervisionador eficiente. Para esse “Capitão”, objectivos, planos, programas, metas, resultados e prazos são os instrumentos de trabalho. Esse “Capitão” faz reuniões para planear e resolver problemas, comporta-se de forma formal e contemplativa, e trabalha com profundidade num número reduzido de tarefas. Em suma, orienta-se para soluções. Todavia, o lugar-comum é bem distinto. O “Capitão” da nova realidade organizacional encontra sempre uma carga inesperada de tarefas imprevistas com reuniões não calendarizadas, interrupções na acção, e trabalhos de carácter administrativo intensos, descontínuos e de natureza variável. Toma decisões que podem representar sucessos ou fracassos através de interacções diversas ou simplesmente através de acções isoladas e opiniões esparsas e nem sempre coerentes. A sua atenção é constantemente desviada por chamadas diversas, fragmentando a acção e tornando intermitente o seu envolvimento no processo decisório. Aproxima-se dos problemas à medida que estes vão surgindo e procura soluções com base em informações imperfeitas. Preocupa-se com os problemas fora do horário normal de trabalho “levando para casa” aquilo que não conseguiu resolver, estudar e decidir ao longo de um período congestionado por reuniões e problemas avulsos. Lida, diariamente, com a insatisfação e desmotivação dos seus quadros face à dispersão e volume de tarefas que é obrigado a impor e reorientar. E exerce a função com muita tensão e pressão na avidez de encontrar soluções num curto prazo sabendo que os resultados do seu trabalho serão sempre avaliados num espaço temporal muito mais alargado. Em suma, é um “Capitão” que não supervisiona rotinas nem produz bens ou serviços. É um “Capitão” que age para coordenar tarefas imprevistas, que decide sobre uma pressão superior intangível aos olhos dos seus subordinados, e que Nº 190 DEZ10 AZIMUTE Expectativas de um Comandante de Batalhão sobre um Comandante de Companhia 41 AZIMUTE resolve num mar de incertezas e dúvidas sabendo que outros pensarão e dirão: no seu lugar faria. Assim sendo, o crescimento e a dinâmica organizacional já não comportam o dirigismo em cuja acção se baseia exclusivamente no bom senso e em experiências passadas. Hoje exige-se um “Capitão” que se concentre nos problemas urgentes e numa função “torpedeada” por reuniões e contactos dispersos. Um “Capitão” que trabalhe em objectivos e estratégias pressionadas por diversas urgências. Um “Capitão” que trabalhe em propostas de solução de questões variadas, pressionado por superiores e subordinados. Um “Capitão” que saiba lidar com a frustração da pouca disponibilidade para reflectir sobre o futuro, com a desatenção dos seus superiores, e com a inabilidade dos seus subordinados em resolver questões rotineiras. Quer isso então dizer que referências formativas como a “A arte de ser Chefe” de Gaston Courtois2 ou “Napoleão e a Arte de Comandar” deverão ser esquecidas? Não continuam a ser referências e modelos para a liderança contemporânea? Claro que sim. Os comportamentos de liderança mais comuns nos dirigentes de sucesso provêm de habilidades de direcção e chefia padronizadas, e por isso de fácil assimilação. É a sistematização dessa atitude comportamental típica que leva à eficácia na direcção de pessoas. Existem, portanto, “habilidades” que podem ser ensinadas e aprendidas por aqueles que têm na chefia, direcção ou comando a sua profissão. Mas o líder do futuro tem que balancear o treino, a educação e a experiência. O treino desenvolve competências e técnicas. Porém, ser Comandante, ser “Capitão”, é também arte. A arte de pensar e de decidir. A arte de fazer acontecer e de obter resultados que podem ser definidos, previstos, analisados e avaliados, mas que têm de ser alcançados através das pessoas e numa interacção humana constante. Logo, aprender a comandar, não é aprender para formar ou dar um produto. Aprender a comandar é abrir um caminho a novos valores e alternativas. Aprender a comandar é aprender sobre si próprio. É aprender sobre novas formas de interacção humana e sobre novas formas de comunicação e de exercício do poder e da autoridade. Assim, sendo este o paradigma do novo desafio do Comandante, Director ou Chefe, o que recomendar para a eficiência no exercício do mando contemporâneo? As qualidades e atributos para o sucesso O dinamismo e a complexidade da organização 2 Escritor francês (1897-1970) 42 Nº 190 DEZ10 militar moderna carrega uma alta dose de contradições, paradoxos, desordens e irracionalidades. Mas esse “caos aparente” não pode ser impedimento ao progresso. Nele devemos encontrar as propriedades positivas para o sucesso. Segundo Motta, Paulo Roberto, por ser inerente à vida organizacional, o irracional torna a eficácia do comando, direcção ou chefia um produto do saber agir na desordem e no caos. Mesmo as organizações estruturadas segundo modelos lógicos e racionais, recorrendo a dinâmicas e suportes informáticos dos mais avançados do mundo, aparecem como uma manifestação da desordem. Mas, nesse estádio, não anulamos a dimensão racional. As dimensões racionais do processo administrativo inerente à direcção, chefia ou comando são, como no passado, indispensáveis por possibilitarem o conhecimento dos riscos e das incertezas na acção. Dados, ordens de operações, directivas, gráficos, comunicações de serviço e planos proporcionam o conhecimento da realidade e facilitam as grandes opções e decisões. No entanto, saber reinterpretar esses dados e conferir-lhes um novo significado, constituem as principais habilidades humanas no acto de decidir (Motta, 2005). Assim, para agir na complexidade e com a consciência das contradições inerentes à decisão organizacional, é necessário ao Comandante, Director ou Chefe: • encontrar-se como pessoa; • ter uma visão dinâmica dos processos da organização; • promover a criatividade; • conhecer e acreditar nos colaboradores; • e não ter medo de errar; Detalhemos, então, cada um desses vectores orientadores. Encontrar-se como pessoa Não existem dúvidas de que as respostas das diferentes organizações aos constantes desafios são largamente reflectidas no exercício da liderança dos seus Comandantes, Directores ou Chefes, transformando-a (a lideranFonte: http://lancerpublishers.com ça) num processo de influência social em que uma pessoa é hábil em ajudar e suportar outras Douglas Adams (1952-2001). Escritor britânico na realização de uma tarefa comum. Assim, liderança é persuasão e não dominação. Liderança é, acima de tudo, o estabelecimento de equipas ou grupos coesos para um objectivo comum e não pode ser separada da sua vertente psicossocial. Nessa óptica, há quatro suposições básicas para o entendimento da liderança enquanto fenómeno do campo da psicossociologia. Primeiro, a liderança deve ser observada como um conjunto de papéis comportamentais por parte de um indivíduo (o líder) para influenciar e coordenar actividades dos membros do grupo no sentido de alcançar um objectivo comum. Segundo, a liderança é um fenómeno que envolve relações e, mais importante, percepções dos seguidores relativamente ao líder. Terceiro, a liderança implica exercer influência sobre os outros utilizando múltiplos factores. Quarto, os indicadores de eficiência do líder devem ser mensurados em função das atitudes e comportamentos que promove para realização dos objectivos, satisfação dos seguidores com a tarefa e com o contexto da acção, e aceitação da sua influência através do vínculo emocional dos seguidores à sua pessoa (Silva, 2003). Mas, para que tal aconteça, temos que em primeiro lugar nos encontrar enquanto pessoa. Temos que ter o conhecimento do “eu”. Temos que ter coragem para desenvolver um dos processos analíticos mais importantes e desafiantes da vida de cada um de nós. É certo que é fascinante conhecer os outros. Mas o autoconhecimento é tomar a consciência das próprias capacidades e limitações. Conhecendo-nos, torna-se mais fácil superar ou minimizar os pontos fracos e desenvolver os pontos fortes dando assim um paço decisivo na auto-estima e na autoconfiança, atitudes comportamentais fundamentais para a comunicação interpessoal. Um bom funcionamento social é um factor fundamental para o ajustamento pessoal entre indivíduos. Compreender aquilo que somos emocionalmente e a sua regulação tem um papel importante na nossa vida. O reconhecimento de um determinado estado emocional pode auxiliar-nos no auto-conhecimento. E, mais importante, orienta-nos para o que é relevante, permite mobilizar a acção e dá energia ao comportamento (Sá, 2002, pp.7 - 15). Mas é essencial que a auto-análise não sirva para, depois de interiorizada, assumir comportamentos de outros. “Gostaria de ser como A”, “porque não sou como B”, são tendências que levam à comparação das nossas limitações com as mais-valias de outros ou, pelo contrário, a complexos de superioridade perniciosos. O objectivo da auto-análise é para que possa lidar melhor com o “eu” sem superioridade, severidade ou benevolência. Assim, é muito útil tomar a iniciativa e solicitar a opinião dos outros a nosso respeito. Basta só pedir-lhes que falem. Mas cuidado! Haverá quem, porque gosta de nós ou porque apenas nos deseja agradar, somente referirá as capacidades omitindo as limitações. E haverá, por outro lado, os que criticarão os nossos limites e ignorarão as nossas competências. A verdade está, em geral, no meio-termo desta bipolarização. Quanto mais um Comandante, Director ou Chefe está seguro de si e acredita no que faz, maior será o apreço e a adesão dos seus colaboradores. Muito pelo contrário, quando a auto-estima é débil e o entusiasmo pouco visível, depressa os colaboradores se interrogam e põem em dúvida a validade do que fazem. Em suma, um “Capitão” de hoje tem que compreender que o seu comportamento pode afectar os outros e, assim, as estratégias interpessoais. Por isso é importante que tenha: • consciência do seu estado emocional, incluindo a possibilidade de gerir várias emoções simultaneamente; • capacidade de discernir as emoções dos outros; • capacidade para compreender que o estado emocional interno não corresponde necessariamente à expressão externa, no próprio e nos outros; • capacidade para enfrentar de forma adaptativa emoções negativas ou perturbadoras utilizando estratégias auto-reguladoras que aliviem a intensidade ou duração desses estados emocionais; • consciência de que a natureza das relações interpessoais é em parte definida pelo grau em que a expressão das emoções é genuína e verdadeira. Aprender a gostar de si, acreditar nas suas potencialidades, congratular-se com os êxitos de hoje e com as hipóteses de amanhã, assumir os erros, ter coragem para enfrentar a crítica, exteriorizar o entusiasmo pelo que faz, estar muito atento às opiniões dos outros, ser igual a si mesmo, nunca invocar as competências pessoais e não ter medo de sonhar ideias que possam parecer desadequadas, são muitas de muitas outras orientações de saber-fazer e saber-estar melhor na e para a vida. Nº 190 DEZ10 AZIMUTE “Tudo o que se vê, ouve ou experimenta é específico. Cada pessoa cria o universo ao percebêlo, portanto tudo o que se percebe no universo é específico de cada pessoa” 43 AZIMUTE Ter uma visão dinâmica dos processos da organização ser “dispensável” em determinados períodos de tempo. Deve criar um ambiente típico de uma verdadeira equipa em que todos têm oportunidades de obter a excelência no desempenho e conquistar e influenciar um futuro no seio organizacional. Por outro lado, tem que ser capaz de dispensar análises e cálculos racionais. Tem que ser capaz de agir fora das práticas comuns. Tem que acima de tudo entender que os objectivos e os planos, bem como os métodos e as estruturas para atingir propósitos, não são absolutos. O “Capitão” de hoje tem que ser capaz de intuir e agir segundo opções que, para a maioria, são pouco claras e irracionais. Promover a criatividade Fonte: Leadership & Organization Development Journal Nas organizações existem factos que não se enquadram em regras, esquemas ou normas, levando a uma maior relatividade na análise dos problemas. O nosso pensamento deve ser expandido ultrapassando, se for esse o caso, a óptica da realidade organizacional. Ou seja, não podemos entender a estrutura organizacional com algo estático pois tal analogia leva a decidir em função da previsibilidade, em função daquilo que é o lugar-comum. Nesse paradigma, para não sermos surpreendidos com desvios e discrepâncias, introduzimos malhas apertadíssimas de controlo com limitações na criatividade e, muitas vezes, da verdade dos factos. Levamos, sem nos apercebermos, à burocratização excessiva e à frustração das pessoas gerando perdas de oportunidade, de crescimento e de desenvolvimento. Não quer isto dizer que a estrutura formal da organização deve ser obliterada. Ela é e continuará a ser muito importante, principalmente nas grandes decisões. Mas saber flexibilizar a estrutura é ter a consciência da sua temporalidade, agindo segundo fronteiras menos rígidas de autoridade, valorizando contactos informais e a delegação de competências. Ou seja, o “Capitão” contemporâneo deve incentivar e responsabilizar as suas equipas mais pelos objectivos do que pelos meios. Deve incentivar seus subordinados a desenvolver métodos próprios de trabalho e apoiá-los nas decisões vendo no inusitado e na variedade uma fonte de aprendizagem. Deve livrar-se do não essencial. Deve 44 Nº 190 DEZ10 Os actos criativos são, na sua essência, actos de coragem. Em primeiro lugar, o criador de uma inovação, técnica ou social, navega num espaço desconhecido e muito provavelmente receberá comentários que lhe transmitirão confiança mas também inquietude. Mais tarde, no longo percurso para o desconhecido, encontrará oposição. Quando a ideia for apresentada encontrará hostilidade. Finalmente, porque a ideia pode falhar, a sua carreira poderá estar ameaçada. Mas a criatividade ocorre no contexto social e depende de processos de pensamento que têm as suas raizes alicerçadas em padrões culturais profundos. Ou seja, as normas, as tradições, os sistemas de incentivo, ou até mesmo as punições afectam-na. “O carácter não se revela no muito consumir, mas no muito criar” Will Durant (1885-1981). Filósofo, historiador e escritor americano Assim, estimular a criatividade envolve o estímulo do indivíduo, mas também afectar o seu ambiente social e as pessoas que nele vivem. Se aqueles que circundam o indivíduo não valorizam a criativiadde, não oferecem o ambiente de apoio necessário e não aceitam o trabalho criativo, é natural que o criativo se anule. Se o criativo considera que pode ser criticado, ridicularizado ou até mesmo punido, dificilmente continuará a expressar ideias novas e a fazer uso das suas potencialidades em prol das ambições da organização. E, mais grave, afectará o seu ambiente de trabalho e o clima psicológico prevalente. Mas importa que não confundamos criatividade Conhecer e acreditar nos colaboradores Quantas vezes, enquanto líderes, nos colocamos no papel dos nossos colaboradores e nos demos ao esforço de “ler” nos seus rostos as angústias decorrentes do stress do momento, as frustrações da descontinuidade dos projectos, ou a simples timidez em dar uma sugestão que aos seus olhos poderá parecer ofensiva ou descontextualizada? Para quem trabalha em organizações altamente estruturadas e já com alguns anos de existência este percepção poderá parecer absurda. Para alguns será mesmo um crime de “lesa-pátria”. Pensar no que pensa o colaborador? Quantas vezes, como Cadete, jovem Oficial, ou até mesmo como Oficial Superior me disseram: Camarada! Você não é pago para pensar! Simplesmente faça “Há muitas razões para duvidar e uma só para crer” Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Poeta brasileiro o que lhe mandam. Para esses, o que direi a seguir será um erro de liderança inconcebível, imperdoável, até mesmo atentatório às mais basilares regras da disciplina castrense. Mas o que se pede não é anarquia da decisão. O que se pede não é hilaridade de um “porreirismo” que consubstancia a liderança medíocre comum a muitas organizações em que o produto operacional não é revertido em termos de ganhos ou perdas financeiras. O que se pede é a tomada da perspectiva social. O que se pede é que sejamos capazes de fazer o exercício: e se fosse eu naquela situação? O que se pede é que promovamos a empatia. Empatia. A palavra grega PATHOS significa paixão, sofrimento ou excesso e foi utilizada na antiga Grécia para designar tudo o que se faz ou acontece de novo. Outra palavra partilha a mesma raiz: simpatia. Se falamos em EM+PATHOS (empatia) significa que estamos a pensar o que o outro está a sentir mas sem nunca perder o nosso ponto de vista. Estamos simplesmente EM o lugar do PATHOS (outro). Todavia, se falarmos em SIM+PATHOS (simpatia), estamos com ele, estamos com o seu sofrimento. E o que é pedido ao “Capitão” contemporâneo é que seja um líder empático e não um chefe simpático. O simpático, mesmo não confiando nos seus colaboradores, dirá: Sim, sim, vou tratar disso. O empático coloca-se na perspectiva dos colaboradores. Acredita neles. Acredita que a capacidade de se relacionar é uma competência fundamental para fazer a diferença. É um líder que bane expressões como: os problemas pessoais ficaram onde devem ficar, em casa. É um líder que sabe que o ser humano é único e integrado e que o que ele sente no trabalho reflectirá em casa e vice-versa. Em suma, o “Capitão” empático, desligando o seu ruído interior, terá que ter a capacidade de perceber o sentimento alheio. Simplesmente, entender e ouvir o que até ao momento não tinha ouvido. AZIMUTE com irresponsabilidade. Esse é o grande medo de muitos “líderes” contemporâneos. Em certa medida receiam o caos. Chamam tudo a si. Odeiam a mudança. Deseperam-se quando a sua mediocridade os impede de ver mais além. Em suma, são o fiel de uma balança e uma moeda em que a outra face é a comunicação do modelo autoritário. É que esses comportamentos simplesmente mantêm a irresponsabilidade ao assumir a responsabilidade pelos outros. E, naturalmente, esses “líderes” são obedecidos mas nunca serão seguidos. Esses “líderes” confundem liderança com chefia. Nunca criarão contextos de trabalho que garantam a inovação sustentada da organização. Terão obediência mas nunca motivação. Afastados esses medos, vistos em alguns casos como um sério desafio à liderança, importa referir que o criativo é um sujeito independente por natureza. Não se prende a regras pré-estabelecidas. É libertário no pensamento e na acção. Mas não é irresponsável pois ao criar busca a melhoria. Face ao papel decisivo da criatividade para o exito das organizações no seu processo de lidar com a mudança, incerteza, instabilidade, concorrência, e promover, de forma sistémica a inovação, é necessário que os líderes se preocupem com as condições no contexto de trabalho, no sentido de eliminar barreiras à criatividade, maximizando as oportunidades para a sua expressão. Assim, num “Capitão” que procura promover a criatividade, assumem-se e deixam-se assumir riscos, tolerando erros provenientes de um esforço honestamente criativo. E formula-se uma visão que enfatiza a importância da criatividade estabelecendo metas para alcançar produtos, encorajando-se a discussão e a comunicação de ideias entre equipas e indivíduos. Não ter medo de errar Em vez de pensar no que ainda não foi imaginado, de dizer o que ainda não foi pronunciado, de experimentar o que ainda não foi ensaiado e de admirar o que ainda não foi sentido, preferimos, pelo seguro, manter rotinas e os hábitos de trabalho defendendo-nos assim de tudo do que possa fazer perigar o nosso modo de pensar, agir e modo de Nº 190 DEZ10 45 AZIMUTE 46 “Quem não tem permissão para errar, não tem permissão para criar nem para fazer” Robert Crema. Psicólogo brasileiro estar-na-vida. A história esta repleta de grandes homens e mulheres que, durante as suas vidas, cometeram erros. Mas a exaltação desmedida do sucesso e a tentação para evidenciar, unicamente, os casos bem sucedidos, leva, com frequência, a extrapolar a divisões sociais: num lado os afortunados e, no outro, os falhados. Efectivamente, não se aprende sem tentar e, se necessário, errando. É a chamada “aprendizagem pela tentativa e erro” presente de forma intrínseca e inequívoca no desenvolvimento humano. Quem diz que nunca falhou ou que não tem dúvidas, ou não é verdadeiro ou cristalizou e parou no tempo. Não se pretende, contudo, defender o erro pelo erro. Mas importa realçar a sua importância como fonte esssencial da aprendizagem. Os fracassos, quando aproveitados e analisados, permitem-nos corrigir e mudar, se necessário, a nossa maneira de pensar e agir. Importa, por isso, contrariar a insegurança e a dependência. Importa, por isso, agir. Segundo Ferreira (1994): certas avaliações, impensadas e avulsas, muitas delas feitas pelos nossos pais e educadores e, mais tarde, pelos nossos superiores, levam a sentimentos de insegurança e de desilusão acentuando a desvalorização cujas consequências negativas se farão sentir ao longo da vida. Depois, menos confiantes nas capacidades, menos vontade sentimos para experimentar novos métodos e de nos lançarmos em novos desafios. Em casos extremos o exagero dos medos pode dar lugar à ansiedade e torna-nos incapazes de actuar. Mas tentar libertar-nos dos medos unicamente através de intenções e desejos é deixar-se vencer por eles. Depois, de um modo geral, procuramos sempre “alguém” que nos aponte o caminho a seguir, tornamo-nos indecisos. Não se trata de desperdiçar ou depreciar a ajuda de alguém. Muito pelo contrário. É a partir da relação com os outros, como já referido, que aprofundamos o autoconhecimento e encontramos respostas para muitos dos nossos problemas e dificuldades. O perigo está quando “consumimos” tudo que nos é proposto deixando que alguém pense por nós e tome decisões que só a nós dizem respeito, abafando a nossa autonomia e singularidade. É que o verdadeiro sucesso está no ser-mais e não no ter-mais. E há tesouros que só podem ser encontrados no interior de nós próprios. Um “capitão” sem medo de errar tem que ter disponibilidade para perceber e interpretar Nº 190 DEZ10 criticamente os seus sentimentos, aspirações e modos de actuar. Tem que pôr em questão e sem receios as suas certezas, posições e valores. Tem que querer que o hoje seja diferente do ontem e o amanhã desigual do hoje. Conclusões Para mim, enquanto líder, foram estes os padrões de liderança que escolhi. E, ao longo da minha carreira, enquanto chefe ou comandante, errei muito. Muitas vezes fui intolerante. Muitas vezes não envolvi os meus mais directos colaboradores nos objectivos que NOS eram colocados. Nem sempre escutei as suas opiniões. E nem sempre estive preocupado com aquilo que eram enquanto seres humanos únicos e integrados. Hoje, com outra maturidade, procuro corrigir-me. Defendo esses valores com uma determinação expontânea sabendo que quanto mais os aprofundar mais capaz serei de ouvir e sentir o outro e ser, ao meu nível, “um vendedor de esperança”. Não esqueçamos: a liderança será sempre um processo de aperfeiçoamento contínuo. Incluirá a auto-análise crítica e a disposição para assumir riscos. E exigirá a interacção com outras pessoas como a família, amigos e camaradas, único veículo para a auto-reflexão e consequente auto e hetero avaliação. Para mim, enquanto líder, sei que só conseguirei sonhar se tiver um sonho. E é por esse sonho que me debato, é por ele que avanço, é por ele que construo, derrubando barreiras. Ele faz-me voar. Apenas procuro, defendo e combino a paixão de uma visão com a paixão por aquilo que sou enquanto homem e militar. Apenas me sigo porque acredito naquilo que vejo. Sê também tu, ó “Capitão” , um sonhador. Azimute Bibliografia Ferreira, P. T. (1994). Reinventar a criatividade. Dirigentes em tempo de mudança. Lisboa: Editorial Presença. Motta, P. R. (2005). Construíndo o ilógico e o intuitivo na decisão estratégica. Direcção e Liderança Estratégica, (p. 60). Brasil. Sá, I. e. (2002). Educação Emocional. Lisboa: Colibri Sociedade de Artes Gráficas. Silva, J. A. (2003). Psicologia e comportamentos. Ribeirão Preto, Brasil: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto. Alencar, Eunice M. L. Soriano de (1998). Promovendo um ambiente favorável à criatividade nas organizações. Brasil. RAV – Revista de Administração de Empresas. Larsson, Gerry. Indirect leadership in a military context: a qualitative study on how to do it . Emerald Group Publishing Limited BernardoPorto. (2010). Obtido em 02 de NOVEMBRO de 2010, de http://www.bernardoporto.com/2010/05/10-mandamentos-para-promover -a-inovacao/ Wikipedia. (2005). Obtido em 23 de ABRIL de 2009, de http://en.wikipedia.org/wiki/Main_Page: http:// en.wikipedia.org/wiki/Beni_Hasan Cap Inf Araújo e Silva Na continuação do plano de aquisições das Viaturas Blindadas de Rodas (VBR) PANDUR que se destinam a equipar o nosso Exército, decorreu entre 27 de Junho e das VBR PANDUR MC (Mortar Carrier). Estas viaturas destinam-se a equipar os Pelotões de Morteiros dos Batalhões da Brigada de Intervenção. viatura protótipo e tem como objectivo dar uma primeira aprovação para que esta viatura, com a correcção dos erros detectados, sirva de base para a construção de todas as outras deste tipo. AZIMUTE VBR PANDUR II Mortar Carrier Foram feitos testes estruturais, testes mecânicos, testes à integração do sistema da arma na estrutura da viatura, e foi ainda executada uma sessão de fogo real com o morteiro, para verificar a eficácia do tiro e a rapidez da sua execução, assim como o comportamento da viatura durante a execução do tiro, tudo isto para garantir que a viatura cumpra as especificações definidas. Após alteração dos problemas levantados, a empresa propõe novamente a viatura a testes, estes testes já foram executados cá em Portugal na empresa que as está a montar, a Fabrequipa. 03 Julho de 2010, na fábrica austríaca Steyr-Daimler Puch Spezialfahrzeug Gmbh do grupo General Dynamics, na cidade de Viena na Áustria, a FAT (First Article Test) para a aquisição A equipa que executou esta FAT foi composta por 10 elementos que tinham como objectivo executar um conjunto de testes à viatura protótipo. A FAT é feita assim a uma Esta viatura para além de todas características e possibilidades das viaturas PANDUR, tem como particularidade ser equipada com um morteiro pesado de 120mm CARDOM da SOLTAM Systems, fabrico Israelita. Este morteiro é usado em todo o mundo com muitas provas dadas, é prova disso a sua utilização nas unidades Stryker do Exército Americano, bem como no Exército Israelita. Este morteiro tem a capacidade de disparar qualquer granada 120mm NATO, bastando para isso introduzir as tabelas de tiro das diferentes granadas na sua calculadora de tiro. Nº 190 DEZ10 47 AZIMUTE A viatura é equipada com uma calculadora de tiro que possui a capacidade de lhe ser introduzida a cartografia do terreno e, para além de outras possibilidades associadas a esse facto, determina automaticamente a localização da arma e de todas as outras armas do pelotão, determina os elementos de tiro a dar a cada uma das armas (caso seja definida como “PCT”), coloca a arma para a posição para a qual vai executar o tiro e envia os elementos de tiro das outras armas. Às guarnições dos morteiros, como já foram determinados os elementos de tiro, basta apenas autorizar a sua execução, colocar as cargas nas granadas, referidas na calculadora e introduzi-las no cano. Em resumo, o sistema de armas consegue determinar instantaneamente a localização das diferentes armas no Campo de Batalha, a sua localização em relação ao alvo, determinar os elementos de tiro e colocar os morteiros prontos para tiro, em segundos, automaticamente e de seguida a permite à guarnição, uma rápida saída de posição sem grandes tarefas, evitando assim a exposição aos fogos de contra-bateria. Estas novas características das unidades de morteiros introduziram alterações ao nível da Organização, pois para além do 48 Nº 190 DEZ10 número de armas ser diferente (lembre-se que um Pelotão de Morteiros Pesados tem 4 armas e passam a ser a 8 armas), a guarnição é de 4 elementos na viatura (condutor, chefe de viatura/ Cmdt Secção, Municiador e Remuniciador), as novas orgânicas para a Brigada de Intervenção não prevêem secções de morteiros médios nas companhias, o que faz que a forma de emprego deste pelotão seja diferente. Ao nível da Doutrina, poderão surgir novas alterações. As calculadoras de tiro e os sistemas de Geolocalização que equipam as viaturas dispensam a existência quer de bases de fogos, quer mesmo de PCT para o controlo do tiro, possibilitando que as viaturas estejam dispersas no Campo de Batalha e mesmo assim respondam instantaneamente a pedidos de tiro e comuniquem entre si os elementos de tiro a usar. Os procedimentos de entrada e saída de posição também poderão deixar de se aplicar devido a estas características. Estes Meios referidos acima no artigo, por serem modernos e tecnologicamente complexos, associados ainda às viaturas por si só complexas, requerem, quer novos conteúdos de Treino para se conseguir tirar o maior partido do sistema, quer mesmo novas competências para o Pessoal que vai operar os mesmos sistemas. Por último estes novos equipamentos requerem obrigatoriamente um elevado conjunto de Infra-estruturas, sejam elas apenas para armazenamento dos equipamentos que necessitam de estar salvaguardados das condições climatéricas no seu dia-a-dia, sejam elas para manutenção dos sistemas que equipam a viatura sejam ainda vocacionadas para o treino das guarnições. Bibliografia http://www.soltam.com http://defense-update.com http://www.el-op.com Intermediate design review MC-120mm Final design review MC-120mm Azimute Cap Inf Albuquerque Introdução O NATO Urban Operations Working Group (UOWG), após a última reunião, realizada em Abril de 2010 na nossa Escola Prática de Infantaria, voltou a encontrar-se para dar continuidade aos seus projectos. A reunião decorreu entre 20SET10 e 24SET10, em Helsínquia, na Finlândia, tendo contado com a participação de 40 delegados em representação de 20 países. A unidade responsável pela organização e conduta da reunião foi o Guard Jaeger Regiment, entidade responsável pela Formação e Treino no âmbito do Combate em Áreas Edificadas. O tema abordado, resultante da reunião realizada em Mafra, recaiu sobre Intelligence, Surveillance, Target Acquisition and Reconnaissance (ISTAR) em ambiente urbano. O desenvolvimento da reunião seguiu a estrutura habitual, começando com um conjunto de apresentações relativas ao tema, a que se seguiram as sessões de trabalho por grupos. Apresentações O Chairman do NATO UOWG, Tenente-Coronel Henk Oerlemans, do Exército Holandês, deu início aos trabalhos, apresentando um ponto de situação relativamente ao Army Sub-Group (ASG) da NATO, ao qual o Grupo pertence. Nesta comunicação, foram expostos alguns desafios que o Grupo de Trabalho irá enfrentar com o processo de reorganização que está em desenvolvimento na NATO. Foi ainda abordado pelo Chairman a possibilidade de criação de um Centro de Excelência de Operações em Ambiente Urbano ao nível da NATO. Este centro apoiar-se-ia numa infra-estrutura já existente (Reino Unido ou França, eventualmente), e teria um núcleo permanente de formadores e investigadores. As apresentações relativas ao tema em discussão foram feitas por especialistas de vários países, incluindo civis a trabalharem em organismos de investigação nos Estados Unidos. Na sua maioria foram bastante pertinentes e contribuíram para a discussão do tema nas sessões AZIMUTE Reunião do “Nato Urban Operations Working Group” de trabalho de grupo. De salientar, que tal como proposto pelo Chairman na reunião realizada em Abril, o Major de Infantaria Paulo Rodrigues Dias, do Joint Analysis Lessons Learned Centre (JALLC) fez duas apresentações. Uma sobre a estrutura e missão do JALLC e outra sobre Hybrid Threat. Esta última tinha em vista a possibilidade da criação de um novo capítulo no manual táctico de operações em ambiente urbano, que se encontra em desenvolvimento. Nº 190 DEZ10 49 AZIMUTE Sessões de Trabalho Após as apresentações, os participantes foram divididos por vários grupos de trabalho, com o objectivo de debater o tema e apresentar como produto uma proposta de conteúdos para o anexo, do NATO Urban Operations Tactical Handbook, sobre ISTAR. As sessões de trabalho decorreram de forma bastante produtiva, servindo também, para partilhar experiências profissionais sejam elas no âmbito operacional ou da formação. No final cada grupo de trabalho apresentou os seus produtos, sendo posteriormente integrados para formarem o corpo do Anexo ISTAR. mas também noutras, que a colaboração e compreensão dos cidadãos em relação às Forças Armadas é total. Existem, inclusivamente, exercícios nos quais a própria população toma parte e que decorrem em edifícios empresariais ou centros comerciais. Visitámos mais tarde o Guard Jaeger Regiment onde assistimos a um treino da Companhia médicos, executados com bastante realismo. de Polícia do Exército (pertencente ao Regimento), unidade com responsabilidades e valências na área do CAE. Esta actividade decorreu na área de treino de CAE do Regimento, onde existem alguns edifícios, maioritariamente em madeira e zonas específicas para destruições e utilização de explosivos. De salientar que em todos os exercícios são treinados procedimentos tado na forma de um questionário onde se levantam determinadas perguntas relevantes para o assunto em causa. Os membros do grupo terão um prazo para responder a este questionário e enviar os seus contributos, tentando partilhar a perspectiva do Exército do seu país relativamente aos pontos principais do tema. A participação de um representante do Exército Português no NATO UOWG, revelou-se, uma vez mais, de particular relevância. Quer pela actualização de conhecimentos, relativamente a uma área que cada vez mais assume uma importância fundamental no ambiente operacional contemporâneo, mas também pela forma como contribui para o aperfeiçoamento do estudo, treino e formação no âmbito do CAE na EPI e, consequentemente, no Exército Português. Conclusões No último dia, foi apresentado o tema - Combat Service Support - a ser debatido na próxima reunião, que terá lugar em Istambul, na Turquia de 3 a 8 de Abril de 2011. De acordo com a metodologia em vigor, o tema é apresen- Visitas e demonstrações Durante o período em que decorreu a reunião, tivemos ainda a oportunidade de visitar unidades militares e assistir a demonstrações/treinos de Combate em Áreas Edificadas (CAE). Presenciámos, numa primeira oportunidade, um treino de CAE nocturno, do Curso de Formação de Oficiais e Sargentos. Este treino teve lugar numa escola abandonada, localizada num bairro residencial de Helsínquia. Esta é uma infra-estrutura com imensas potencialidades e ficou presente, não só nesta ocasião, Azimute 50 Nº 190 DEZ10 Maj Inf Ribeiro de Faria Lições identificadas num modelo em evolução Decorreu de 11JAN10 a 15JUL10 a primeira edição do Curso de Promoção a Capitão das Armas e Serviços, Serviços Técnicos e Serviço de Saúde na Escola Prática de Infantaria. O curso desenrolou-se durante 15 semanas para o CPC A/S e teve a duração de quatro e dez semanas para o serviço de saúde e serviços técnicos, respecti- à análise cuidada dos resultados da validação interna efectuada pelos formandos, dos contributos da equipa de coordenação e formativa que ministrou o mesmo e dos resultados da avaliação a que os alunos foram submetidos. Com base nesta análise, foi possível identificar um número de lições que deram origem a uma proposta de alteração do referencial, a mudanças no planeamento do curso e a ambiente operacional onde os futuros capitães actuarão no desempenho das missões operacionais que lhe serão cometidas. A linha de força “Formar para o que vai fazer” estabelece um conceito em que é necessário assentar a formação no que realmente tem impacto directo no futuro dos novos capitães, em detrimento de abordagens teóricas e conceptuais de discutível aplicabilidade. AZIMUTE Curso de Promoção a Capitão das Armas e Serviços, Serviços Técnicos e Serviço de Saúde 2010 Fig.1 – Calendarização geral do CPC A/S, ST e SS vamente. Os cursos voltaram a juntar-se, após as respectivas partes específicas, para a execução do Exercício de Postos de Comando (CPX/CAX) no Centro de Simulação do Exército, sob a responsabilidade da EPI. Esta primeira edição teve por base o já aprovado referencial do CPC Armas e Serviços, ajustado aos Serviços Técnicos e Serviço de Saúde tendo em conta o tempo disponível e os objectivos específicos de cada curso. Após a realização do curso procedeu-se ajustamentos de procedimentos no desenvolvimento do mesmo. Os pontos de maior relevo resultantes da análise dos instrumentos acima descritos enquadram-se em três áreas: Perfil de Formação, Perfil de Avaliação e Formadores. No que respeita ao Perfil de Formação, o conceito adoptado para ministrar o CPC 2010 passou por uma abordagem integrada a temas e áreas de actuação que caracterizam a conflitualidade actual e que compõem o Assim, foram introduzidos novos temas que contribuíram para esta abordagem, tendo sido bem recebidos pelos alunos, pois espelham uma realidade que hoje se encontra nos teatros onde o Exército desempenha a sua missão. Desses temas destacam-se: • Tema Didáctico de Operações de Apoio à Paz; • Formação sobre o Direito Internacional Humanitário; • Palestra sobre Organizações Não-governamentais; • Formação sobre C-IED Nº 190 DEZ10 51 AZIMUTE servirem numa unidade que recebe o encargo de nomeação de formadores para o curso. Tais O futuro passará por manrequisitos deveriam passar por ter estes temas no Plano de possuírem formação específica Formação, introduzindo outros e/ou experiência de desempenho igualmente actuais e que contride funções na área a ministrar, buam para o real desempenho de forma a trazer mais-valias na de funções dos futuros capitães nos teatros de operações em formação dos futuros capitães. que o Exército Não se pretenopera. A abordade um corpo gem destes tede formadores mas deve, igualque ministrem mente e quando as sessões possível, ser única e exclude âmbito prásivamente de tico e facilitar acordo com o paralelismo o manual da entre a teoria e cadeira, mas a vida real do antes que connosso Exército, tribuam, de de modo a que forma pragmáse constitua tica e esclauma verdadeirecida, com a ra mais-valia sua experiênpara os futuros cia na área, Fig.1 – Calendarização geral do CPC A/S, ST e SS capitães. resultante do Já sobre o desempenho onde estes poderiam aplicar os Perfil de Avaliação, é de saliende funções e/ou formação esconhecimentos obtidos nas ditar a intensidade dos momentos pecífica na mesma. Apenas asversas matérias na resolução de avaliação, com especial resim se conseguirá implementar de problemas reais de natureza levo para o Serviço de Saúde, o Conceito acima descrito, que diversa. que pouco contribui para a conprevê uma abordagem integrada solidação da matéria ministrada. Por fim, no que aos das áreas de interesse para os O recurso a testes rápidos, de Formadores diz respeito, é de futuros capitães, numa perspecescolha múltipla ou de verdasalientar o facto de alguns dos tiva de “Formar para o que vai deiro/falso, onde têm sucesso formadores nomeados pelas difazer”, que lhes trará verdadeios alunos mais organizados e ferentes Escolas Práticas e resras mais-valias para o seu futunão necessariamente os mais tantes unidades, estabelecimenro próximo, principalmente nas esclarecidos, enferma de um tos ou órgãos do Exército para unidades da Força Operacional mal que é o não apelo à capacio CPC não terem competências Permanente do Exército. dade de aplicação de conceitos específicas e/ou experiência na (Counter Improvised Explosive Devices). momentos de avaliação, com especial relevância para o Serviço de Saúde, porventura concentrando os testes rápidos em menor número de provas de avaliação, o que permitiria combinar tais matérias em testes de maior duração, com uma situação táctica apresentada aos alunos, aprendidos a novas situações, limitando-se a solicitar ao aluno um exercício de memorização da matéria ministrada. Tal não favorece o espírito criativo e adaptabilidade que se querem nos futuros capitães. área para a qual foram nomeados, cumprindo a sua função de ministrar a matéria respectiva, mas trazendo poucas mais-valias ao curso. Assim sendo, sobressai a possibilidade de reduzir os 52 Nº 190 DEZ10 Assim, deverão ser definidos requisitos para nomeação de formadores do CPC que vão para além do simples facto de Estas lições contribuirão para o planeamento e conduta do CPC 2011, na esperança e perspectiva de uma melhoria contínua, com vista à elevação dos padrões de qualidade do Curso de Promoção a Capitão de todas as armas e serviços do Exército Português. Azimute TCor Inf Mendes Dias Os recentes desenvolvimentos tecnológicos no domínio dos sistemas para o soldado do futuro têm revelado um problema interessante que requer soluções a curto prazo. A crescente variedade de papéis desempenhados pelas forças armadas (operações militares, controlo populacional e de insurreições, suporte a resposta a catástrofes/crises e situações de emergência) e os desafios colocados pelas operações militares do século 21 (conflitos assimétricos e uso de tácticas e equipamento não convencional) geraram a necessidade de se desenvolverem soluções tecnológicas capazes de sustentar capacidades melhoradas (tais como percepção situacional e comando e controlo, protecção contra ameaças biológicas, químicas e radiológicas mobilidade, sustentabilidade, aquisição e identificação de alvos, entre outros). O uso crescente de equipamento electrónico por parte do soldado (por exemplo: rádios, GPS, câmaras térmicas e IR, computadores e variados sensores) e o protagonismo destes sistemas nos programas Europeus de modernização do soldado demonstraram a necessidade de crescentes quantidades de energia eléctrica de modo a extrair todo o potencial dos equipamentos propostos, o que resulta no uso de mais baterias e consequentemente maior peso para o soldado ou autonomia inferior para os equipamentos e por conseguinte capacidades inferiores. AZIMUTE Projecto MEP Módulos para “Energy harvesting” e geração de energia Portáteis Existem actualmente três estratégias para abordar as necessidades energéticas do soldado: melhorar a densidade energética das baterias, investigar novos métodos de gestão e distribuição de energia e desenvolver soluções de geração de energia portáteis ou capazes de extrair/ re-aproveitar energia a partir do ambiente ou das próprias pessoas (“Energy Harvesting”). O Projecto MEP tem por objectivo desenvolver dois módulos portáteis de geração de energia baseados precisamente nesta última estratégia. O primeiro será baseado na Nº 190 DEZ10 53 AZIMUTE extracção de energia a partir de vibrações e movimentos do soldado e o segundo em geração de energia através de micro-motores. As actividades do projecto vão permitir a criação de dois produtos inovadores baseados em tecnologia de duplo-uso no mercado da Defesa (com potencial aplicação no mercado civil), proporcionar às Forças Armadas mecânica, foi reunido um conjunto de entidades Nacionais detentoras de considerável experiência nos domínios tecnológicos e científicos considerados, que submeteram uma candidatura ao Sistema de Incentivos à Investigação e Desenvolvimento Tecnológico nas Empresas (SI I&DT) do programa Quadro de Referência Estratégico Nacional requisitos, bem como na validação funcional e operacional dos protótipos; • O Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industria (INEGI), na definição dos materiais para encapsulamento e empacotamento das soluções baseadas em micro-motores e em “harvesting” de vibrações e movimento. • A Almadesign, no design industrial para o desenho e estudo er- gonómico, em conjunto com os restantes co-promotores, dos módulos de energy harvesting e de geração de energia através de micro-motores. Portuguesas acesso em primeira mão a soluções inovadores a nível Europeu, potenciando ao mesmo tempo a entrada no mercado Europeu da Defesa. Para fazer face a este conjunto de desafios levantados em Áreas Tecnológicas que vão da energia, à electrónica e instrumentação e à engenharia 54 Nº 190 DEZ10 (QREN) 2007-2013, e que se descriminam: • A TEKEVER, na qualidade de entidade coordenadora e responsável pela apresentação das soluções e deliverables; • O Exército, através da Escola Prática de Infantaria, na definição e análise de O Projecto com a duração de 2/3 anos irá de forma metodológica apresentar produtos/ deliverables no âmbito dos objectivos parciais traçados. Para operacionalizar este projecto será assinado um protocolo colaborativo entre o Exército, e a TEKEVER, em que o Comandante da EPI foi nomeado como representante de Sua Exa o GEN CEME, para a assinatura do referido contrato. Azimute TCor Inf Travanca Lopes 1. Introdução A informação georreferenciada assume, hoje em dia, uma importância vital para o desenvolvimento das sociedades, nas quais apresenta um papel fundamental nos sistemas de informação geográfica, sendo estas ferramentas cada vez mais divulgadas e ao dispor dos decisores. A informação aeronáutica não é excepção, facto este que levou o INAC (Instituto Nacional da Aviação Civil) a procurar um parceiro estratégico com conhecimento, arte e experiência em cartografia, para a elaboração da carta aeronáutica de Portugal. O IGeoE (Instituto Geográfico do Exército), instituição reconhecida no panorama cartográfico nacional e internacional, aceitou este desafio, contribuindo uma vez mais para o cumprimento da missão do estado português, vindo assim colmatar uma lacuna na cartografia portuguesa e fornecendo aos utilizadores do espaço aéreo uma ferramenta imprescindível, para planeamento e navegação aérea. 2. Características técnicas Para cobrir todo o território nacional foram efectuadas 3 cartas, uma de Portugal continental à escala 1/500.000, uma do arquipélago da Madeira também á escala 1/500.000 com janelas das respectivas ilhas á escala 1/250.000 e uma do arquipélago dos Açores à escala 1/1000.000 com janelas das ilhas à escala 1/500.000. Para que os rumos medidos nas cartas sejam os correspondentes geodésicos, não sofrendo qualquer deformação, utilizou-se na projecção das entidades para o plano, uma projecção cónica conforme, com as seguintes características: • Projecção – Cónica Conforme Secante de Lambert; • Datum – WGS84; • Elipsóide – WGS84; • Datum Vertical – Nível médio das águas do mar. As cartas elaboradas contemplam, para melhor interpretação, uma legenda em Português e respectiva tradução em Inglês, facilitando dessa forma a leitura da mesma por utilizadores internacionais. A legenda é constituída por duas componentes, uma frontal e outra no verso da carta. Nesta última, encontra-se ainda uma representação de todo o espaço aéreo, com a localização dos parques naturais e uma carta da zona de Lisboa, a uma escala 1/50.000, com as áreas proibidas de sobrevoo definidas legalmente (por decreto-lei), no caso da carta dos Açores tem representado na sua retaguarda a FIR de Santa Maria e na carta da Madeira a FIR da Madeira. AZIMUTE Carta Aeronáutica ICAO de Portugal 3. Altimetria e Hipsometria A informação altimétrica está representada nestas cartas em pés e metros, para facilidade de leitura pelos utilizadores do espaço aéreo, uma vez que os altímetros das aeronaves estão normalmente graduados em pés. Esta informação inclui curvas de nível com uma equidistância natural de 300 metros, pontos de cota, um modelo de sombras e hipsometria, para uma mais rápida avaliação da altimetria e do relevo. É utilizada a imagem hipsométrica em conjunto com o modelo de sombras, para nos dar uma rápida percepção do relevo, permitindo dar ênfase a algumas formas do terreno. Ambas as imagens foram obtidas a partir do modelo digital do terreno. A hipsometria foi gerada com base numa escala de cores (escala hipsométrica), enquanto que o modelo de sombras foi conseguido assumindo a existência de uma fonte de luz numa posição azimutal de 315º e altura de 45º. 4. Informação aeronáutica Para a aquisição da informação aeronáutica, por ter em consideração as altitudes dos objectos representados e ser de primordial importância para a segurança de voo, houve que recorrer às entidades nacionais com autoridade para gerir o espaço aéreo em Portugal. A informação aeronáutica representada nesta carta foi fornecida em formato numérico a partir do AIP (Aeronautical Information Publication) pelo INAC e NAV Portugal (Navegação Aérea) e envolveram os seguintes temas: Nº 190 DEZ10 55 AZIMUTE • Obstáculos; • Aeródromos; • Ajudas rádio. • Espaço aéreo controlado. Com base nesta informação foi constituída uma base de dados, a partir da qual foi possível projectar na carta estas entidades cartográficas e servir de base para o SIG aeronáutico. A actualização entre edições desta carta é feita por: NOTAM’s (Notice to Airmen) da responsabilidade do INAC. perigo potencial para as operações de aeronaves e todas as áreas sobre as quais poderá, por diversos motivos, ser restrito temporária ou permanentemente o voo de aeronaves, são identificadas pelos seus limites e por um envelope que contem a identificação da área, o seu limite inferior/superior e eventualmente a sua classificação de espa- Aeródromos e Heliportos Os aeródromos, heliportos e heliportos em hospital, quer sejam militares ou civis, estão representados, nestas cartas independentemente do piso, desde que certificados pelo INAC. Estão representados nesta carta aeródromos civis e militares, cuja representação da pista principal se encontra na Fig 2 – Área Restrita e respectiva classificação de espaço aéreo Fig 1a – Vista de aproximação ao aeroporto de Lisboa, em ambiente SIG orientação correcta. Ajudas à navegação ço aéreo. Estas áreas são classificadas pela ICAO (Organização de Aviação Civil Internacional) da seguinte forma: -- Áreas Perigosas; -- Áreas Restritas, (ver fig.2); -- Áreas Proibidas; -- Reserva do Espaço Aéreo Temporária, (ver fig.3). Fig 3 – Área de Reserva Temporária de Espaço Aéreo Espaço Aéreo Controlado As ajudas rádio que Estão representadas, nestas cartas, as seapoiam a navegação aéguintes áreas: rea e representadas nes-Áreas de Controlo Terminal (TMA’s), ver fig 4. tas Cartas são: -Zonas de Controlo (CTR’s). -VOR [ VHF 5. Obstáculos Omnidirectional Range]; à navegação -TACAN [Tactical Air aérea Navigation Aid]; Qualquer es-DME [ Distance trutura (instalação) Measuring Equipment]; Fig 1b – Representação cartográfica de aeródromos, heliportos e cultural com uma -VORTAC [Vor e respectivas ajudas rádio altura igual ou suTacan]; perior a 200 pés acima -NDB [Non – Directional Beacon]. do terreno envolvente são consideradas peEstas ajudas à navegação dão em cada instante rigosas à navegação a distância e/ou informação azimutal, conforme os aérea, devendo como casos, podendo ainda combinar-se entre si. tal ser representadas Espaço aéreo bem como etiquetadas, Fig 4 – TMAs do Porto, Lisboa e Faro, em ambiente SIG. Todo o espaço aéreo em que possa existir um com a indicação da sua 56 Nº 190 DEZ10 AZIMUTE natureza (Antena, Chaminé, ... etc.) Na representação dos obstáculos é colocado junto ao símbolo as seguintes anotações (ver figs. 5 e 6): - Linha superior: cota no topo do obstáculo (em metros e pés). - Linha inferior: altura do obstáculo acima do terreno (em metros e pés). Fig 5 – Obstáculos à navegação aérea, Ponte 25 de Abril e Cristo Rei, modelos 3D em ambiente SIG, sobrepostos ao MDT e imagem de satélite 6. Controlo da qualidade O controlo da qualidade deste produto foi feito em duas fases. Uma especificamente aeronáutica, efectuada pelo INAC e NAV Portugal contando ainda com a colaboração de diversos pilotos e da FAP, utilizadores deste produto. Outra, interna e de âmbito mais geral abrangendo todos os temas representados, tendo especial atenção à legibilidade da carta e à informação topográfica. Fig 7b – SIG aeronáutico Fig 6 – Obstáculos á navegação aérea, Parque eólico Fig 7a – Carta aeronáutica dos Açores Fig 7c – Carta aeronáutica da Madeira Nº 190 DEZ10 57 AZIMUTE 7. Conclusão Portugal já carecia de um produto deste tipo, sendo justamente reclamado pelos utilizadores do espaço aéreo, pois a ultima edição da Portugal refere-se carta de Continental a 1972 e sendo mais antigas as edições dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, além de que, este tipo de carta sofre uma grande desactualização em virtude dos temas que representa. A navegação por instrumentos e a navegação à vista requerem que o navegador tenha sempre à mão um meio que o auxilie nessa tarefa. Este tipo de informação cartográfica é extremamente útil para diversas actividades onde podemos incluir busca e salvamento, operações de combate a incêndios e todas as actividades que incluam meios aéreos. O IGeoE abre assim as portas aos navegadores aéreos para que os dados possam entrar no cockpit da aero- Fig 7d – Carta aeronáutica de Portugal Continental nave em formato elec- trónico de um SIG, assim como em formato papel (ver fig.7), auxiliando o piloto e fornecendo-lhe a informação necessária para um melhor cumprimento da sua tarefa. Este SIG permite ainda uma maior abrangência, nomeadamente na gestão do espaço aéreo, fornecendo a informação necessária aos decisores em tempo oportuno. 58 Nº 190 DEZ10 Azimute Bibliografia Lopes, J. e Valério M. 2004. 1501 A uma carta aeronáutica. In: Actas da III Conferência Nacional de Cartografia e Geodesia, Lidel, pp. 276-286. Lopes, J. 2009. Carta aeronáutica ICAO de Portugal á escala 1/500.000. Revista do Comando da Logística Nº1, II série pp. 28-32, Comando da Logística, Deposito legal nº 4510/84. Aeronautical Chart Manual, ICAO Anexo 4, to the Convention on International Civil Aviation, Aeronautical Charts, Tenth Edition, July 2001. Maj Inf Lourenço Borges 1. Introdução das suas infra-estruturas diversas Unidades, Estabelecimentos e Órgãos do Exército, das Forças Armadas, das Forças de Segurança locais e nacionais, delegações estrangeiras per- do Combate em Áreas Edificada (CAE), das Operações de Apoio à Paz (OAP), visa apoiar o objectivo de dar cumprimento aos planeamentos anuais das actividades inerentes aos Planos de Formação Anuais do Exército, onde se destacam na formação inicial, os Tirocínios para Oficial de Infantaria (TPOI), os Cursos de Formação de Sargentos de Infantaria (CFSI), os Cursos de Formação para Oficiais e Sargentos RV/RC (CFO/CFS), os Cursos de Formação Geral Comum de Praças do Exército, assim como os de formação contínua de Tiro, de CAE, de OAP. Também ao nível externo, a EPI tem vindo a apoiar ao nível tencentes ao Allied Joint Force Command Lisbon e entidades civis, na sua formação (inicial, A capacidade instalada na Escola Prática de Infantaria (EPI) em infra-estruturas de apoio à formação, treino e avaliação nas áreas de competências do Tiro, avançada), treino (de manutenção e operacional) no âmbito da preparação/aprontamento para missões de apoio à paz e estabilização e de interesse público. Devido ao número de formandos e de cursos que necessitam das supracitadas infra-estruturas, por forma fazer face ao elevado desgaste das mesmas, tornou-se necessário realizar um conjunto de trabalhos de manutenção, com vista à consequente melhoria da qualidade da formação e treino realizados. Num esforço coordenado com o Exército, esteve presente na Escola, de Julho a Novembro, uma unidade de Engenharia em preparação/aprontamento para a missão de paz no Líbano, a Unidade de Engenharia 9 (UnEng9), que executou um conjunto de obras de construção e reabilitação de infra-estruturas que serviram não só de preparação técnica para os militares que fazem parte da Força, como Nº 190 DEZ10 AZIMUTE Reabilitação das Infra-Estruturas de Apoio à Formação da EPI 59 AZIMUTE 6.Limpeza geral de vegetação da CT; 7.Remoção e reconstrução dos taludes de protecção às calhas de bastidores e aplicação de uma camada de terra vegetal com cerca de 0,20m de espessura; 8.Construção da calha para suporte das silhuetas tiro de combate e tiro instintivo. b. Carreira de Tiro Nº4 1.Alongamento do espaldão lateral direito; 2.Limpeza das calhas de suporte dos bastidores. também serviram para a melhoria das infra-estruturas de formação e treino da EPI. Aproveitouse desta forma a valência técnica dos militares de Engenharia, no seu treino/preparação para a missão, para a execução de trabalhos que servirão de apoio a todas as UEO do Exército e entidades externas que utilizam estas infra-estruturas. Destacam-se, dos trabalhos efectuados, os realizados nas Infra-Estruturas de Tiro, no Campo de Lançamento de Granadas, na Pista de 200metros e no Centro de Formação e Treino de Combate em Áreas Edificadas. 2. Infra-Estruturas de Tiro a. Carreira de Tiro Nº1 1.Expurgagem do espaldão frontal e remoção dos afloramentos rochosos, recarga do mesmo com terra peneirada isenta de inertes e acabamento superior em terra vegetal com cerca de 0,20m; 2.Melhoria dos sistemas de escoamento de águas pluviais desde dos 300m até ao espaldão final; 3.Colocação de terra vegetal no leito da CT com 0,20m 60 Nº 190 DEZ10 de espessura; 4.Demolição das casas dos 100, 200 e 300m, reconstrução, pré instalação de electricidade e pintura das mesmas; 5.Reabilitação da casa dos 500m; c. Campo de Lançamento de Granadas (CLG) 1.Limpeza por parte da equipa EOD do CLG; 2.Alongamento do espaldão de protecção da Zona Perigosa de Superfície; Casa 500mt - CT1 3.Colocação de vidros de protecção balística. 3. Pista de 200 Metros a.Fundações para a construção da Pista de Obstáculos de 200m, estando nesta fase concluídos os primeiros 6 obstáculos, nomeadamente paliçada, muro, barra, vala, rede de rastejar e dupla barra; b.De salientar que este projecto estava inicialmente pensado para a “Aldeia dos Macacos”, tendo sido proposto pela Secção de Educação Física a sua alteração, tendo em conta as potencialidades do antigo Campo de Futebol do Alto da Vela sob o ponto de vista do máximo aproveitamento do espaço. 4. Centro de Formação e Treino de Combate em Áreas Edificadas a.Construção de duas (2) fachadas para treino em Áreas Edificadas; b.Escoamento de água nas novas fachadas. Fachadas do Centro de Formação e Treino de Combate em Áreas Edificadas Conclusão Como já referido, todos estes AZIMUTE trabalhos têm em vista a melhoria da qualidade da formação e treino ministrados na EPI, e a consequente modernização dos espaços destinados à utilização pelos nossos militares. No entanto, é importante referir que a Escola tem de estar preparada para aproveitar todas as oportunidades de desenvolvimento e afirmação. Iniciada que está a obra, cabe-nos agora continuar e melhorar, contribuindo sempre para a qualidade da formação que é ministrada na Escola, e que para muitos é o exemplo de Excelência e Certificação da Formação nas diversas áreas de que a EPI é responsável. Utilizando as palavras do Exmo. Cmdt da Escola Prática de Infantaria, “não podemos ser excelentes apenas através de palavras, mas antes, pela capacidade de afirmação através de realização de obras”1. Assim, “temos necessidade de liderar os processos de transformação e inovação, e consequentemente de propor a introdução de novas tecnologias, técnicas e métodos na Infantaria”2. Para finalizar recordo: “O nosso destino é FAZER ACONTECER e talvez num mundo palavroso, pudéssemos acrescentar ao nosso SABER FAZER um SABER FAZER ACONTECER”3. Azimute Com a colaboração de: Tenente de Infantaria Rui Alves Alferes RC Ricardo Cardoso 1 Discurso de Tomada de Posse do Exmo. Comandante da EPI, Coronel Infantaria Jorge Manuel Barreiro Saramago, de 30 de Agosto de 2010. 2 Idem. 3 Ibidem. Nº 190 DEZ10 61 AZIMUTE Mini UAV nos Baixos Escalões Tácticos Maj Inf Lourenço Borges “National Army transformational trends have shown a common direction on acquiring full knowledge of the threat facing units down to squad level.” NATO Force Proposals, 2008 1. Introdução Decorrente da “BI-SC FORCE PROPOSAL PACKAGES -2008 FORCE GOAL CYCLE”, no que concerne à arquitectura e capacidades de Intelligence, Surveillance, Target Aquisition and Reconnaisance (ISTAR), os países membros da NATO ficaram de até 2018, desenvolver capacidades independentes nesta área no escalão Brigada e Batalhão. Iniciou-se assim um período de planeamento, que se materializou no “Plano de Desenvolvimento e Implementação da Capacidade ISTAR no Exército (2009 – 2018)” e do qual resultou a criação uma Unidade ISTAR e a adequação da composição e organização das Brigadas, nomeadamente das Unidades Escalão Batalhão (UEB) e Esquadrões de Reconhecimento (ERec), aprovando novos Quadros Orgânicos em 2009. 2. Aparecimento dos UAV no Exército Português Fig 2. Estrutura Orgânica da Companhia de Apoio de Combate Fig 1. Estrutura Orgânica do Batalhão ISTAR de racionalização dos meios, gestão de qualificações e treino, os Mini UAV (12 sistemas) a atribuir para emprego das 3 UEB (3 sistemas cada) e do ERec (3 sistemas). Nos Batalhões de Infantaria os Mini UAV são orgânicos da Companhia de Apoio de Combate (CAC). Quanto à tipologia de operações, o Exército pretende que as Forças UAV possam ser empenhadas em todo o espectro de operações: Âmbito Artigo 5.º - Defesa Colectiva (Guerra Convencional); Âmbito não Artigo 5.º (CRO) – Operações de Resposta a Crises, tal como em Tempo de Paz. Quanto à prioridade das Missões a atribuir, as Forças UAV terão emprego prioritário em missões de Reconhecimento, Vigilância e de Apoio ao Targeting – principalmente através da Referenciação e Designação de Alvos e, no final das acções de tiro, serão empregues no Controlo de Danos (Battle Damage Assessement) sobre A solução encontrada pelo nosso Exército para as 3 Brigadas, foi a criação de um Batalhão ISTAR, para atribuição a uma das Brigadas, que incorporará Veículos Aéreos Não Tripulados – Unmanned Aerial Vehicles (UAV) através de um Pelotão de UAV LAME (Low Altitude Medium Endurance). Este Pelotão terá como equipamento principal 4 sistemas UAV LAME e concentrará, por uma lógica 62 Nº 190 DEZ10 entretanto 3. Mini UAV – características e exemplos ALADIN da EMT e o Britânico CASPER 250 da Sonic Communications. 4. Conclusão As Secções de Mini Os Mini UAV são usaUAV como subunidade dos nos baixos escalões orgânica das CAC são, tácticos, nomeadamente sem dúvida, um potenpor Unidades de Infantaria ciador dos Batalhões de e Reconhecimento, porInfantaria, permitindo aos que podem ser facilmente comandantes ter uma vitransportados e operados Fig 3. SKYLARK I da Elbit Systems são do Espaço de Batalha em combate por esta tipoque antes não conseguiriam ter. logia de unidades, devido às suas características: Existem, hoje, empresas portuguesas que se pequenas dimensões; querem associar ao Exército no desenvolvimento robustez; re- de um Mini UAV que possa ir de encontro aos reduzido peso; quisitos técnico-tácticos que pretendemos. Exemplo disso é a demonstração de Mini UAV, pequeno alcance; trans- da empresa TEKEVER, promovida pela Divisão p o r t á v e i s de Planeamento de Forças do Estado Maior do por milita- Exército, com o apoio da EPI, que teve lugar, em 29 res apeados de Julho de 2010, nas instalações da nossa Escola em combate e à qual assistiram militares de diversas unidades (dentro de uma mochila, por exemplo); facilFig 4. Consola do operador do SKYLITE B mente lançada Rafael dos à mão; capazes de transportar equipamentos sofisticados de transmissão de dados; capacidades de vídeo e pouco ruidosos. Há bastantes modelos de Mini UAV que estão em uso por forças armadas de outros países, tendo as empresas Israelitas a liderança neste domínio, como são exemplo: SKYLARK I da Elbit Systems; SKYLITE B da Rafael; BIRDEYE 400 – IAI/Malat e LIGHTENER da ITL Optronics. Contudo, há outros modelos bastante utilizados nos recentes teatros de operações, Iraque e Afeganistão, como os Americanos RQ-11 RAVEN da AeroVironment e DESERT HAWK III da Lockheed Martin; o Alemão AZIMUTE os objectivos batidos. Fig 6. AR4 LIGHT RAY da Tekever do encargo operacional do Exército, bem como de Escolas Práticas e do Estado-Maior do Exército. A demonstração iniciou-se com uma apresentação da TEKEVER Autonomous Systems, onde foi feita a introdução à temática dos UAV e da sua utilização no contexto militar e civil, incluindo as principais linhas de produto. Seguidamente assistiu-se à demonstração de Sistemas de mini UAV AR4 LIGHT RAY da Tekever. Azimute Fig 5. RQ-11 RAVEN da AeroVironment Referências: EME (2009). Plano de Desenvolvimento e Implementação da Capacidade (PDIC) ISTAR. Aprovado por despacho de Sua Exa. o GEN CEME de 18AGO09. BI-SC FORCE PROPOSAL PACKAGES -2008 FORCE GOAL CYCLE Apresentação “Visão Estratégica e o Conceito de Operação de Unmanned Aerial Systems na perspectiva do Exército”, MAJ Oliveira, IESM, 17Jun10 Sites da Internet Nº 190 DEZ10 63 AZIMUTE Taxonomia dos Objectivos Educacionais: a abordagem de Marzano TCor Inf Francisco Rijo Em 1956, Benjamin Bloom e a sua equipa (Bloom, Engelhart, Furst, Hill, Krathwohl) lançam a publicação “Taxonomy of Educational Objectives, The classification of Educational Goals, Handbook I: Cognitive Domain”, onde é divulgada a sobejamente conhecida Taxonomia de Bloom para o Domínio Cognitivo. A finalidade desse trabalho era conceber um modelo que permitisse aos educadores desenhar Objectivos Educacionais, de acordo com uma organização hierarquizada. Bloom preconizava então um conjunto hierarquizado de seis níveis de processos de raciocínio, de grau de complexidade relativa crescente, sendo do mais elementar para o mais complexo: 1- Conhecimento 2- Compreensão 3- Aplicação 4- Análise 5- Síntese 6- Avaliação Mais tarde, em 1964, é lançada nova publicação, desta vez consignada ao Domínio Afectivo, não tendo sido elaborado qualquer trabalho no Domínio Psicomotor por parte de Bloom, por se entender desnecessário no contexto educacional de então. É Harrow quem em 1972 apresenta uma taxonomia neste domínio. Portanto, Bloom considerava três domínios do conhecimento: Cognitivo, Afectivo e Psicomotor, tendo apresentado modelos para os dois primeiros, com particular ênfase no Domínio Cognitivo. Se de facto este modelo teve uma diminuta influência no desenho curricular, já o mesmo não poderá ser dito no que se refere ao impacte que teve no domínio da avaliação, atingindo o seu apogeu em 1965 na avaliação de eficácia do ensino elementar e secundário nos Estados Unidos, inserida no programa de luta contra a pobreza levado a cabo pelo Presidente Lyndon Johnson. Todavia o modelo de Bloom apresentava 64 Nº 190 DEZ10 problemas, que eram aliás reconhecidos pelo próprio autor. Como principais críticas ao modelo desenvolvido no âmbito do Domínio Cognitivo, salienta-se que: • A hierarquia dos níveis é discutível. É duvidoso que a análise preceda a síntese ou vice-versa. De igual modo a Avaliação no topo da complexidade é contestada por vários autores. Num processo de resolução de problemas, a Avaliação poderá constituir-se como o prelúdio de outra fase mais complexa. Portanto, se os três primeiros níveis estão bem desenvolvidos e dissecados, já os três últimos se confundem e misturam. • O sistema proposto é heterogéneo no sentido em que confunde e mistura na sua categorização a tipologia de conhecimentos com os processos mentais que o operam. • Os vários níveis não se excluem mutuamente, não sendo possível estabelecer uma fronteira clara entre a análise e a compreensão, ou entre a análise e a Avaliação. Não obstante o notável contributo dos trabalhos de Bloom para as teorias e práticas educativas, surge, sobretudo a partir de 1980, a necessidade de revisitar o seu modelo, devido à ênfase posta no ensino de mais elevados níveis de raciocínio e as pesquisas a ele associadas. Desde então, várias associações foram formadas com esse propósito e em 1999 Lori Anderson publicou um significativo trabalho de retrospectiva da utilização da taxonomia. Nesse mesmo ano, reúne-se um grupo de especialistas, supervisionado por David Krathwohl, que participou do desenvolvimento da Taxonomia original no ano de 1956, e em 2001, o relatório da revisão é publicado num livro intitulado “A taxonomy for learning, teaching and assessing: a revision of Bloom’s taxonomy for educational objectives” (Anderson et al., 2001). São sobretudo os progressos no conhecimento sobre o funcionamento do cérebro, a natureza do conhecimento e i.e. o primeiro nível é o Conhecimento (tipologia do Saber) propriamente dito, enquanto os outros níveis tratam de operações mentais. Ora o novo modelo evita esta confusão, na medida em que a Taxonomia compreende na sua disposição hierarquizada apenas os Sistemas de raciocínio, considerando o Conhecimento como o objecto dessas operações. O sucesso de uma aprendizagem depende em grande medida da quantidade de informação (Saber) disponível. Sem informação suficiente um formando até poderá estar altamente motivado para aprender (Sistema Interno), poderá até ter estabelecido metas no processo de aprendizagem (Sistema Metacognitivo) e até recorrer a um conjunto de perícias analíticas (Sistema Cognitivo). Todavia a menos que esse formando possua a informação necessária de suporte à aprendizagem em causa, o efeito desses processos de raciocínio será mínimo. Marzano identifica três domínios do Saber: Informação, Procedimentos Mentais e Procedimentos Psicomotores. Resume-se no quadro seguinte a articulação destes domínios, sendo de referir que para cada domínio, as diferentes categorias articulam-se com um nível de complexidade crescente: AZIMUTE a interacção entre ambos, que permite lançar uma nova reflexão e um novo olhar sobre estes modelos. Em 2001 um modelo alternativo é proposto por Robert Marzano. Esta nova Taxonomia identifica três Sistemas do Raciocínio e os domínios do Saber. Se os sistemas representam o modo como o raciocínio se coloca perante a possibilidade de uma nova aprendizagem, já o conhecimento representa o conjunto de conteúdos, objecto desse raciocínio. Assim, este modelo descreve como o ser Humano decide ou não empenhar-se numa nova aprendizagem e uma vez nela empenhado, como a informação é processada. Este modelo permite prever um fenómeno, isto é, o modo como o raciocínio se posiciona e actua perante a possibilidade de uma nova aprendizagem, o que o torna um modelo propriamente dito, ao contrário da estrutura de Bloom, que descreve seis diferentes categorias, hierarquizadas, de processamento de informação. Analisando o modelo mais em detalhe, Marzano articula os três sistemas em seis níveis de processamento de raciocínio, e o Saber em três domínios, como a seguir se indica: Note-se que os três domínios do Saber são transversais aos seis níveis de processamento do raciocínio, interagindo entre si. A hierarquia dos níveis de processamento do raciocínio é baseada no fluxo de processamento do conhecimento e no grau de tomada de consciência para realização de cada nível, não correspondendo de forma alguma a um crescente grau de complexidade, como era pressuposto na Taxonomia de Bloom. Os Domínios do Conhecimento Como acima referimos, uma das maiores críticas apontadas à Taxonomia de Bloom consiste na mistura dos vários tipos de operações mentais que actuam sobre o saber com o próprio saber, Nº 190 DEZ10 65 AZIMUTE Ainda no que se refere aos Procedimentos Mentais, as categorias poderão articular-se em dois grandes grupos: aquelas que com prática podem ser operacionalizadas de forma automática ou que com baixo nível de consciência e aquelas que requerem uma execução controlada. Regras Simples, Algoritmos e Tácticas enquadram-se no primeiro destes grupos, a que chamaremos de Perícias, enquanto que os Macroprocedimentos se encontram no segundo grupo a que chamaremos de Processos. No tocante aos Procedimentos Psicomotores, há a assinalar que, ao contrário da Taxonomia de Bloom, esta nova taxonomia opta pela sua inclusão já que considera que estes procedimentos são guardados em memória à semelhança dos Procedimentos Mentais, sendo que os processos de aquisição são os mesmos. Vistas que foram as diferenças entre os diferentes domínios do Saber, é agora importante reter que sobre eles agem os diferentes Sistemas, que como foi já dito, constituem, o coração da Nova Taxonomia, apresentando-se de forma hierarquizada em seis níveis. Os Sistemas do Raciocínio Antes de iniciarmos a descrição dos níveis de processamento do raciocínio da Taxonomia de Marzano, será importante fazer uma breve e ligeira incursão pelo mecanismo segundo o qual se processa a memória, para um melhor entendimento daqueles níveis. A Memória Segundo John Anderson (1995), podemos considerar três diferentes tipos de memória: Memória Sensorial, Memória de Trabalho e Memória Permanente. A Memória Sensorial produz o armazenamento temporário de dados captados pelos sentidos, que poderá resultar ou não em gravação permanente. A Memória Permanente contém todos os dados, perícias e processos que compõem os domínios do Saber. A Memória de Trabalho utiliza e processa dados armazenados nos outros dois tipos de memória (sensorial e permanente), não havendo teoricamente um limite à sua capacidade e caracterizando-se por funcionar em estado de consciência. A interacção entre os vários tipos de memória pode representar-se pelo esquema seguinte: Mundo Exterior 66 Nº 190 DEZ10 Memória Sensorial Memória Trabalho Nível 1 – Recuperação da Informação Consiste na activação e transferência de saberes (detalhes e ideias organizadas) da memória permanente para a memória de trabalho, onde possam ser conscientemente processados. Nível 2 – Compreensão É o processo responsável pela tradução adequada do conhecimento armazenado na memória permanente, ou seja, os dados depositados na memória de trabalho, adquiridos por via da memória sensorial, não são guardados na memória permanente tal como foram percepcionados. São antes interpretados e onde há lacunas na informação, a mente tratará de produzir as inferências necessárias tendo em vista definir um quadro lógico e completo da informação adquirida. Envolve dois processos: Síntese e Representação. Através da Síntese, o indivíduo identifica as características essenciais da informação, enquanto que pela Representação são criados símbolos, semânticos, imagens mentais ou sensações físicas, que representam a informação. Nível 3 – Análise Compreende cinco processos cognitivos que processando uma nova informação levam o indivíduo a revisitar ciclicamente as suas aprendizagens, refinando-as ou alterando-as, e a criar novas formas de utilizar as suas aprendizagens face a novas situações. Esses processos cognitivos são a Comparação, Classificação, Análise de Erros, Generalização e Especificação. Através da Comparação são identificadas semelhanças e diferenças entre a nova informação e o saber previamente adquirido. Pela Classificação os novos conhecimentos são organizados em categorias significativas, sendo hierarquizados. Com a Análise de Erros é posto em prática o filtro da razoabilidade como base para aceitação da informação. Seguese o processo de construção de novas generalizações (Generalização) a partir da informação previamente adquirida. Finalmente, pela Especificação são geradas novas aplicações duma conhecida generalização ou princípio. É de notar que este nível da Taxonomia de Marzano engloba pelo menos três níveis da Taxonomia de Bloom: Análise, Síntese e Avaliação. Nível 4 – Uso do Conhecimento Compreende o conjunto de processos utilizados para o cumprimento de uma dada tareMemória fa. Compreende quatro categorias: Tomada de Permanente Decisão, Resolução de Problemas, Pesquisa Experimental e Investigação. Se pela Tomada Nível 5 – Metacognição Consiste na monitorização, avaliação e regulação do funcionamento de todos os processos de raciocínio. Compreende quatro funções: Especificação de Objectivos, Monitorização dos Processos, Monitorização da Clareza e Monitorização da Precisão. Através da Especificação de Objectivos o indivíduo estabelece objectivos claros para uma dada actividade sobre a qual ele decide envolve-se. Pela Monitorização dos Processos, o indivíduo monitoriza a eficácia de uma dada táctica, algoritmo ou processo usado na prossecução dum objectivo. Finalmente a Monitorização da Clareza e da Precisão consiste no modo como o indivíduo monitoriza a sua predisposição para abordar o conhecimento. virtude deste modelo passará, entre outros aspectos além dos já referidos ao longo do texto, pela integração de mecanismos tais como a motivação e metacognição, que não se referindo directamente ao processamento do conhecimento têm todavia uma influência extraordinária no processo da aprendizagem. O desafio ao formador e gestor de formação passará por estabelecer objectivos também nesses domínios, visando eles sobretudo a motivação, auto-crítica, actividade reflexiva e autonomização do formando face ao saber e à aprendizagem que afinal é um processo seu, unicamente seu e constituindo-se como chave de sucesso no desenvolvimento de competências. AZIMUTE de Decisão são ponderadas as opções alternativas, pela Resolução de Problemas são ultrapassados os obstáculos que se interpõem no cumprimento da tarefa, pela Pesquisa Experimental são geradas e testadas as hipóteses explicativas de um dado fenómeno e pela Investigação são formulados argumentos lógicos que sustentam as hipóteses. Azimute Referências LANDSHEERE, Viviane de; LANDSHEERE, Gilbert de. Definir Objectivos da Educação. 2ª ed. Lisboa: Moraes editores, 1977. MARZANO, Robert J. – Designing a New Taxonomy of Educational Objectives. Thousand Oaks, CA, USA: Corwin Press Inc, 2001. ISBN 0-8039-6836-1 Ferraz, Ana; Belhot, Renato (2010). Taxonomia de Bloom: revisão teórica e apresentação das adequações do instrumento para definição de objetivos instrucionais. www.scielo.br/pdf/gp/ v17n2/a15v17n2.pdf Oliveira, P. (2007). Criando projetos: estrutura de raciocínio Taxonomia de Bloom: um novo olhar sobre uma velha corrente. ftp://download.intel.com/education/ Common/br/resources/DEP/skills/ Bloom.pdf Nível 6 – Sistema Interno Consiste num sistema interdependente de atitudes, crenças e sentimentos que determinam a motivação de um indivíduo para concluir ESCOLA PRÁTICA DE INFANTARIA uma tarefa. Há três factores relevanRevista «Azimute» tes que contribuem para a motivação. 2640-492 MAFRA 261 81 21 05/261 81 12 24 Telef. São eles o exame da Importância, da [email protected] Eficácia e da Resposta Emocional. Pelo [email protected] exame da Importância o indivíduo reconhece a importância do novo saber Espaço publicitário Tabela de Preços: CONDIÇÕES GERAIS: para si próprio. Pelo exame da Eficácia 1. A reserva do espaço para inserção de Verso Capa/Contra Capa: 300 € publicidade deverá ser feita até um mês o indivíduo determina a sua capacidade (Aos valores indicados acresce antes da data da saída da revista e os o IVA à taxa legal em vigor) fotolitos terão de ser entregues se pospara concluir a tarefa com êxito, isto é, sível em suporte informático, em data a avalia a sua crença de que é capaz, de combinar posteriormente. 2. Os textos para os anúncios de comque possui recursos, capacidades e poposição devem ser fornecidos em suporte informático, com a indicação bem der para adquirir uma nova competênlegível da dimensão. 3. As campanhas de publicidade beneficiacia. Finalmente o exame da Resposta rão de um desconto de 10% quando contemplarem um mínimo de 3 publiEmocional implica analisar as emocações. ções individuais face a um dado saber 4. Qualquer erro, lapso ou omissão não responsabiliza a “AZIMUTE”, para além e o papel que estas emoções têm na da repetição do anúncio. 5. À revista assiste o direito de adiar, não motivação. publicar ou suspender qualquer anún125 € 1 Página: 250 € 1/2 Página: cio por razões técnicas ou que seja considerada de alguma forma contrária ao seu ideário. 6. As Notas de Débito têm que ser liquidadas até 30 dias após a saída da revista. 7. As selecções de cor, fotolitos e preparação dos anúncios serão debitados ao cliente quando não forem por este fornecidos. 8. Todos os assuntos poderão ser tratados via e-mail, através dos endereços acima referidos. Conclusão Esta Nova Taxonomia não deve de modo algum ser considerada um produto acabado. Antes pelo contrário, as investigações neste domínio, assim como em qualquer outro no âmbito das tecnologias educativas, vão evoluindo e como tal, os modelos vão-se adaptando. A 2 meias colunas: 75 € Meia coluna: 50 € Nº 190 DEZ10 67 AZIMUTE Cooperação Técnico – Militar Timor-Leste Maj Inf Luís Barreira “De todas as sociedades, nenhuma é mais nobre, nenhuma é mais perdurável que a dos homens de bem unidos pela conformidade de costumes e pela amizade.” Cícero Iniciado o caminho da auto-determinação e da liberdade, não ausente de tropeços, passaram já 9 anos desde a chegada da primeira equipa de Cooperação Técnico Militar ao território de Timor-Leste. Mais uma vez, aquando da visita de Sua Excelência o Secretário de Estado da Defesa e Assuntos do Mar e Sua Excelência o General CEME ao território, foi reconhecido o trabalho que tem sido desenvolvido por todos aqueles que rumaram, aproximadamente 16 000 Km para sudeste, a fim de apoiarem a formação e consolidação das F-FDTL (garante da independência e integridade territorial de Timor-Leste). No presente ano, foram ministrados uma acção de formação com vista a preparar os candidatos timorenses ao concurso à Academia Militar que contou com a participação de dois professores (um de português e outro de matemática), um Curso de Promoção a Capitão antecedido de um estágio de preparação, num total de 740 horas de formação. Por último, sem esquecer a necessidade e o interesse do desenvolvimento da compreensão da língua portuguesa como vector de desenvolvimento das F-FDTL, foi ministrado um Curso de Aperfeiçoamento da Língua Portuguesa com o apoio de um professor da língua portuguesa. Olhando para o futuro (Caderno Estratégico da Força 2020), as F-FDTL no próximo ano vão incorporar 600 novos militares distribuídos pelos: Curso de Formação de Oficiais, Curso de Formação de Sargentos e Curso de Formação de Praças. Azimute “As únicas nações que têm futuro, as únicas que se podem chamar de históricas, são aquelas que sentem a importância e o valor das suas instituições e que, por conseguinte, lhes dão apreço” Ao longo destes anos e até ao momento, foram ministrados em Timor-Leste, os cursos: Quadro de Pessoal em CTM de 2001 até ao momento. 68 Nº 190 DEZ10 Tolstoi Cor Inf Iglesias O projecto Nº5 tem por missão a assessoria ao Centro de Instrução de Operações de Paz (CIOP) das Forças Armadas de Angola (FAA). Para o ano de 2010, o CIOP tinha previsto, desde o inicio do ano, a formação e assessoria do treino, das unidades operacionais das FAA que em Junho participaram no exercício KWANZA 2010. Este exercício no âmbito da Comunidade Económica de Estados da África Central (CEEAC), revestiu-se de grande importância para as FAA e para o próprio país, dado o seu carácter multinacional, e contou com a participação de aproximadamente 4000 militares, polícias e civis. Este período de formação, foi sucessivamente adiado e teve inicio em Março, tendo decorrido em CABO LEDO, de forma muito intensa, quer para formadores, quer para formandos. Durante os meses de Março, Abril e Maio, foram ministrados pelo CIOP um Curso Avançado de Operações de Apoio à Paz, um Curso de Ligação e Observador Militar e um Curso Elementar de Operações de Apoio á Paz, com 154 oficiais sargentos formandos, tendo a assessoria portuguesa, supervisado a sua execução e ministrado formação. Decorreu também sob orientação técnica desta assessoria, a instrução destinada às 700 praças que integraram o Batalhão com que Angola participou no Exercício. Este centro, levou a efeito, no inicio do mês de Junho, um Estágio de Operações de Apoio á Paz, destinado aos profissionais da Comunicação Social que fizeram a cobertura noticiosa do exercício. Esteve previsto o mesmo empenhamento, por parte do CIOP, para o exercício FELINO 2011 que decorreria em Setembro e Outubro, mas este exercício foi adiado à última hora por dificuldades dos países participantes. AZIMUTE Cooperação Técnico – Militar Angola Azimute Nº 190 DEZ10 69 AZIMUTE 70 Cooperação Técnico – Militar República Democrática de São Tomé e Príncipe Maj Inf Oliveira O Projecto 2 da Cooperação Técnico Militar com a Republica Democrática de São Tomé e Príncipe, do qual a Escola Prática de Infantaria é a Entidade Técnica Responsável, teve o seu empenhamento de 09 de Julho a 01 de Outubro de 2010. Desta vez a equipa contou apenas com a presença de um de Promoção a Cabo 2010. Durante o período da assessoria, decorreram várias actividades de destaque, das quais importa referir as seguintes: De 7 a 16 de Julho 2010, a Escola Preparatória de Quadros (EPQ) para os Comandantes de Pelotão de Instrução e Auxiliares de Instrução do Curso de Capitão, Capitão de Infantaria Bruno Oliveira, assessor directo do Comandante do Centro de Instrução Militar para os Cursos que neste Centro decorreram durante este período, nomeadamente o Curso de Formação de Praças 1º Turno/2010 e o Curso Formação de Praças 1º Turno 2010 (CFP), com o início do Curso a acontecer no dia 03 de Agosto de 2010, com a incorporação de 349 jovens Recrutas. Das matérias programadas para o CFP salientam-se o Armamento e Tiro, a Educação Nº 190 DEZ10 Física Militar, a Informação e Contra-Informação, a Moral Cívica e Militar, a Ordem Unida, Sapadores, Higiene e Primeiros Socorros, a técnica Individual de Combate, Transmissões, Topografia, Defesa Nuclear Biológica e Química e as Avaliações de Desempenho. De salientar que, especialmente, deste último ponto, a Avaliação de Desempenho, foi possível distinguir os melhores classificados do Curso, assim como pré-seleccionar os militares que integraram o Curso de Promoção a Cabo 2010, que decorreu de 13 de Setembro a 01 de Outubro de 2010. De 26 a 28 de Agosto decorreu o Exercício Final de Campo do CFP 1ºT/10. O Exercício teve por finalidade confirmar os conhecimentos adquiridos pelos Soldados Recrutas. No dia 01 de Setembro, realizou-se a Cerimónia de Apresentação da Bandeira Nacional aos Soldados Recrutas do CFP 1ºT/10, presidida pelo Comandante das FASTP, TCor Idalécio Pachire. Esta cerimónia destinou-se a dar a conhecer aos Soldados Recrutas, o significado do mais alto símbolo nacional, a Bandeira Nacional. No dia 06 de Setembro realizou-se a Cerimónia do Dia Comemorativo das FASTP e do Juramento de Bandeira dos Soldados Recrutas do CFP 1ºT/10. Esta cerimónia foi presidida por S. Exa. o Presidente da República Democrática de São Tomé e Príncipe e Comandante Supremo das Forças Armadas, Sr. Fradique Bandeira Melo de Menezes. Esta cerimónia materializou o Encerramento do Curso de Formação de Praças 1º Turno / 2010. Neste dia 06 de Setembro, juraram Bandeira 347 militares. Com esta cerimónia, foi possível proporcionar aos Familiares Soldados provenientes das diversas Unidades das FASTP. Estes militares tiveram a oportunidade de aprofundar os conhecimentos adquiridos durante a instrução básica e ainda adquirir novos conhecimentos da responsabilidade de um comandante de esquadra. No final era visível a satisfação patente nos rostos de quem teve o privilégio de ao longo de todo o período do Curso contribuir, das mais variadas formas, com todo o apoio necessário ao sucesso desejado; de quem teve a responsabilidade de contribuir para a formação dos jovens Militares agora formados; e igualmente nos rostos de quem pas- AZIMUTE e Amigos dos Militares que juraram Bandeira e à população civil em geral, o contacto com a Instituição Militar. Durante o decorrer da cerimónia, foi possível assistir a uma demonstração de actividades executada pelos novos Soldados Prontos do CFP, com a finalidade de dar a conhecer o que de mais saliente se realiza durante um Curso de Formação de Praças, o esforço, espírito de sacrifício e abnegação que é exigido, não só aos Soldados Recrutas que o frequentam mas também ao corpo de instrutores que o ministra. Inserida nesta fase da cerimónia foi também possível assistir a uma Demonstração de Capacidades perante uma S i t u a ç ã o Táctica, executada em conjunto por militares do Exército e Guarda Costeira das FASTP e por militares da Polícia Segurança Pública. De 13 de Setembro a 01 de Outubro decorreu o Curso de Promoção a Cabo 2010 (CPCb), no CIM, constituído por 102 sou por um período exigente de formação e agora pertence, orgulhosamente, às Forças Armadas de São Tomé e Príncipe. A todos, os mais sinceros Parabéns! Azimute Nº 190 DEZ10 71 AZIMUTE Protocolo de cedência mútua de espaços entre o Exército e o Instituto de Museus e Conservação TCor Inf Francisco Rijo Em 09 de Setembro, pelas 11h30, teve lugar na Sala Elíptica da Escola Prática de Infantaria (EPI), a cerimónia da assinatura do protocolo de cedência mútua de espaços entre o Exército e o Instituto de Museus e Conservação (IMC). Este protocolo, que tem por objecto regular a autorização de uso de espaços entre o Exército e o IMC, a título temporário e precário e que são actualmente parte integrante da EPI e Palácio Nacional de Mafra (PNM), foi assinado pelo Exmo Comandante da Instrução e Doutrina, Tenente-General Luís Morais de Medeiros em representação SExa o GEN CEME e pelo Prof. Dr. João Carlos Brigola, Director do IMC, acompanhados pelo Comandante da EPI, COR Jorge Saramago e pelo Director do Palácio Nacional de Mafra Dr. Mário Pereira. Este protocolo beneficiará a EPI através da integração de novos espaços ampliando o espaço actualmente ocupado pela colecção visitável, permitindo ainda o acesso à mesma a partir do exterior. A instalação pelo IMC de um centro de conferências no espaço do antigo tribunal de Mafra, bem como de todos os espaços que lhe são afectos, a ser utilizado conjuntamente pelo Exército/EPI e pelo IMC/PNM, constitui um outro benefício para a EPI, comprometendo-se ainda aquele Instituto a reformar, entretanto, o actual auditório da EPI numa perspectiva de complemento, temporário e ad hoc, da capacidade desse centro de conferências. Prevê ainda o presente protocolo a restauração/reparação das instalações sanitárias do actual “Museu da Infantaria” e dos 3 (três) compartimentos contíguos à Sala Elíptica, para além da instalação de um sistema de video-vigilância no interior e no exterior dos espaços referidos, bem como em todo o perímetro exterior das instalações militares conventuais e das infra-estruturas militares do Alto da Vela. Por seu turno, o Palácio Nacional de Mafra beneficiará pelo presente protocolo da possibilidade de finalmente estabelecer um percurso sequencial na visita às suas instalações, fruto das instalações a adquirir (caserna dos príncipes), para além de proceder à instalação de serviços de acolhimento ao público nas instalações a receber e que actualmente fazem parte da enfermaria da EPI. Assistiram á cerimónia alguns antigos comandantes da EPI, Militares da EPI, funcionários do Palácio Nacional de Mafra, estando também presentes elementos da Comunicação Social Local. Azimute 72 Nº 190 DEZ10 MGen (Ref) José Inácio Sousa A concretização de um desígnio No Outono de 2005, diversos oficiais, residentes em Mafra e nas imediações, desenvolveram inúmeros contactos entre si para avaliar a possibilidade de constituir uma associação que tivesse como fins, proporcionar a todos os oficiais e às suas famílias, um local de convívio onde pudessem cultivar e manter os laços da amizade forjados ao longo de décadas de serviço pelos quatro cantos do mundo. A ideia ganhou força e rapidamente o grupo dinamizador confirmou que seria possível concretizar este desígnio. O projecto não era novo. Há muito tempo que existia a ideia de construir um clube de oficiais em Mafra para apoiar as famílias, num contexto muito difícil, face às constantes mobilizações para o ultramar que muitas vezes as separavam por longos períodos. Na época, os clubes de oficiais existentes nas unidades, promoviam alguns convívios e constituíam local de encontro entre os militares e as suas famílias. O contexto social foi-se alterando progressivamente e estes locais deixaram de constituir um referencial permanente no convívio da família militar. Rapidamente foi constituída uma comissão instaladora que elaborou o projecto essencial à constituição da associação: os estatutos. Longamente discutidos e comparados com os estatutos de associações semelhantes: Clube de Oficiais de Setúbal, Clube de Oficiais de Coimbra e Clube Militar Naval, são discutido numa primeira assembleia-geral realizada no auditório da Escola Prática de Infantaria. Constituiu momento de grande debate que se concluiu em 9 de Dezembro de 2005, no mesmo local, com a aprovação, por aclamação, do projecto dos estatutos. A Escola ficaria assim indelevelmente associada à criação do Clube Militar de Oficiais de Mafra. A constituição da associação exigiu diversos actos administrativos importando apenas salientar a realização da escritura de constituição no dia 3 de Fevereiro de 2006, no cartório Notarial de Mafra publicada no Diário da Republica III Série – nº 81 em 26 de Abril de 2006. Em 9 de Março efectua-se a primeira Assembleia Geral e são eleitos os corpos sociais. O Comando do Centro Militar de Educação Física e Desportos, proporcionou, desde o início, AZIMUTE Clube Militar de Oficiais de Mafra 5º aniversário Visita ao campo de batalha da Roliça Nº 190 DEZ10 73 AZIMUTE uma pequena, mas confortável e útil sala, como local de trabalho, circunstância que facilitou a realização das inúmeras tarefas administrativas inerentes ao levantamento da associação. A primeira grande tarefa colocada à direcção eleita foi encontrar um local para a sede, objectivo que não se revelou fácil de atingir. Após muito debate e procura foi solicitado ao Comando do Exército a cedência do edifício Dª Maria, na Tapada de Mafra que, em tempos, fora residência associação se propunha concretizar.Com a compreensão e ajuda do Comando do Exército e o apoio do Ministério da Defesa foi possível realizar as obras na ala Oeste e no jardim anexo. Viriam a ser concluídas em Outubro de 2007. A direcção desenvolveu e concretizou as iniciativas complementares para dotar o espaço com os equipamentos e mobiliário que permitissem a sua utilização com conforto e dignidade. As Chefias do Exército, da Marinha e da Força Aérea, apoiaram, sede onde se recebe com dignidade e se pode desenvolver a vida associativa. Desde a realização das obras e equipamento do espaço, começou verdadeiramente a vida do clube. Nos termos estatutários a Assembleia-geral reúne-se anualmente para a apreciação do Relatório e Contas da Direcção e Parecer do Conselho Fiscal, a Direcção reúne com grande regularidade lavrando-se a respectiva acta e delibera Jardim da sede do clube de oficiais e que, entretanto, por razões que desconhecemos, deixou de ser utilizada para tais fins. O Exército manteve o critério de apoio aos clubes militares, a exemplo da cedência anteriormente feita aos clubes militares de oficiais de Setúbal e Coimbra a quem foram proporcionados excelentes espaços no centro histórico daquelas duas cidades. Após a cedência da Ala Oeste do edifício, pelo Estado-Maior do Exército, em Setembro de 2006, a título precário, temporário e gratuito, foi tempo de diligenciar para recuperar o imóvel e adequá-lo aos fins sociais que a 74 Nº 190 DEZ10 dentro das suas disponibilidades e o Clube assumiu a responsabilidade de adquirir os artigos considerados essenciais ao funcionamento da sede. Uma nota relevante para os contributos dos associados que cederam ao clube, mobílias, aparelhagens de alta-fidelidade, televisores, conjuntos de maples, obras de arte, quadros e inúmeros artigos que tornaram as salas mais confortáveis e acolhedoras. Os associados e as suas famílias participaram, e participam, activamente na vida do clube. Sem o seu contributo, desinteressado e valioso, não teríamos hoje uma sobre todos os assuntos para os quais é competente. É elaborado um plano anual de actividades que globalmente tem sido sempre cumprido. O clube vive exclusivamente com os seus recursos, que provêm da jóia, quotas e donativos, pagos pelos seus associados. Os Comandos da Escola Prática de Infantaria e do Centro Militar de Educação Física e Desportos têm apoiado a direcção do clube, sempre que são solicitados, tornando mais fácil a realização de inúmeras actividades. Desde a criação do clube que são concretizadas as actividades que pouco a pouco foram dando corpo à vida associativa. Em Dezembro de 2005 realiza-se a primeira ceia de Natal em Mafra. Desde então, esta iniciativa realiza-se anualmente, com cada vez maior adesão. Outras foram instituídas com sucesso. O convívio da família, em Maio, as festas populares em Junho, o convívio de verão em Julho, este com propósitos lúdicos e de benemerência. Comemora-se o S: Martinho e celebra-se a passagem de ano. Adicionalmente realizam-se convívios por iniciativa dos associados e as famílias têm utilizado as instalações para uso privado. No campo cultural foi articulado um programa muito completo para comemoração dos 200 anos da guerra peninsular. A partir do Outono de 2008 realizaram-se colóquios, conferências e visitas aos locais das batalhas. São organizados concertos em Mafra e Torres Vedras, em escolas secundárias As sessões são dinamizadas com a actuação das Fanfarras do Exército (RAA1) e da Brigada de Reacção Rápida e ainda da banda Sinfónica da Guarda Nacional Republicana. Foi uma actividade intensa que culminou com o levantamento de monumento de homenagem ao resistente Jacinto Correia no jardim da Alameda em frente à porta de armas da EPI. Esta iniciativa teve o apoio do Comando da Escola Prática de Infantaria e da Câmara Municipal de Mafra. Visitámos fortes e redutos das linhas de Torres, incluindo o centro interpretativo da Serra do Socorro onde pudemos observar a inauguração de uma réplica do poste de sinais existente na época das invasões. Na sede realizaram-se exposições de pintura, tertúlias e outros encontros de natureza cultural. A componente lúdica desenvolve-se com regularidade, realizando-se passeios que incluem visita a locais de interesse nas diferentes temáticas. Faróis, na costa da península de Lisboa, museus, exposições, forte de Elvas, ponte da Sr.ª da Ajuda sobre o rio Guadiana e Olivença, fábrica do gelo e centro de Interpretação Ambiental de Montejunto, passeios em embarcações típicas do rio Tejo acompanhando regatas, património histórico do oeste. Foram cinco anos cheios de actividade, com grande adesão dos associados, que permitiu confirmar a utilidade da associação na vertente cultural. As causas sociais também têm lugar relevante na vida do clube. Anualmente realiza-se um convívio cujos lucros revestem integralmente para uma instituição de solidariedade social. Os associados contribuem com trabalhos para leiloar ou disponibilizam as suas capacidades artísticas para animar as extraordinárias noites de fados que, em Julho de cada ano se realizam na sede do clube. Ao longo destes cinco anos a sede tem sido valorizada e mantida em condições de grande dignidade. Numa atitude de verdadeira cidadania os associados empenharam-se pessoalmente em melhorar as instalações proporcionando, com a sua dedicação e trabalho, melhores condições e mais conforto para o seu usufruto. O resultado de todo este esforço é a existência de um espaço social digno e acolhedor que seguramente pode ser ainda mais enriquecido. E agora? O clube tem planos para continuar. Está em movimento o processo de recuperação da ala Este do Edifício Dª Maria. Esta iniciativa, quando concluída, vai alargar a área disponível, abrindo possibilidades para instalação de apoios sociais até aqui inexistentes. A direcção do clube e a iniciativa dos associados saberão aprofundar a actividade associativa e continuar a dar corpo aos nobres desígnios que orientaram sua criação. O número de associados tem vindo a aumentar, com regularidade, num processo de saudável renovação. Há também perdas pelos mais diversos motivos. O clube está aberto à comunidade civil permitindo a sua adesão como associados e partilhando as actividades desenvolvidas. Julgamos que os motivos que conduziram à criação do clube se mantêm. Queremos um clube sempre a crescer, em harmonia geracional, que entenda os tempos e saiba adequar-se às novas realidades. Atingimos cinco anos de vida! Os tempos que vivemos não são fáceis. As dificuldades são de todas conhecidas. O quotidiano encarrega-se de nos proporcionar cenários e circunstâncias que aconselham reflexão e prudência mas que também nos exigem coragem e visão! O futuro não pode ser para o nosso clube um mar de interrogações! Sabemos o que queremos e temos uma perfeita noção do que podemos. A nossa continuidade depende exclusivamente do empenho e vontade de existir. Não há outro caminho que não seja convocar as novas gerações, partilhar com elas o nosso passado e encorajar a sua determinação em vencer as incertezas que hoje pairam no horizonte. Esta é a nossa ambição! AZIMUTE A vida associativa Azimute Nº 190 DEZ10 75 AZIMUTE Visitas e Notícias Início do 38.º CFSI Teve início em 01 de Setembro de 2010, na Escola Prática de Infantaria (EPI), o 38.º Curso de Formação de Sargentos de Infantaria (38.º CFSI) - 2010/2011, “General Eduardo Augusto Rodrigues Galhardo”. O curso é constituído por 40 Sargentos-Alunos oriundos da Escola de Sargentos do Exército (ESE). A Cerimónia de Abertura presidida pelo Exmo. Comandante da EPI decorreu após a tradicional Cerimónia de Homenagem aos Mortos, como vem sendo habitual para as acções de formação na Escola Prática de Infantaria no Salão D. Nuno Alvares Pereira., à qual se seguiu a tradicional foto de conjunto na porta de armas. A Formação ministrada na EPI constitui o segundo ano do Curso de Formação de Sargentos, ministrado na ESE, e decorrerá de 01SET10 a 30SET11, de acordo com o Plano de Formação Anual e de Progressão na Carreira dos Sargentos do QP. O CFSI tem por finalidade proporcionar aos alunos, através de uma formação caracterizada pela prática, a consolidação dos conhecimentos teóricos adquiridos e também complementar a formação militar, técnica, humanista, organizacional e de liderança indispensável a todos os futuros Sargentos da Arma de Infantaria. Curso de Apoio de Combate 2010 De 12 de Outubro a 11 de Novembro de 2010, teve lugar na Escola Prática de Infantaria o Curso de Apoio de Combate. Este Curso realizou-se pela primeira vez este ano e contou com a participação de 14 formandos (13 Alferes e 1 Tenente) todos eles acabados de ingressar na Arma de Infantaria. Este Curso teve a duração de cinco semanas e o seu ponto alto foi aquando da realização do Tiro Real de Morteiro 107mm e 120mm no Campo Militar de Santa Margarida. Este Curso tem como público-alvo os Oficiais que tenham terminado o TPOI após a implementação do “Processo de Bolonha” e habilita os mesmos para o Cargo de Formador/Comandante de Pelotão de Reconhecimento, Anti-Carro e Morteiros Pesados. Início do TPOI Teve início a 01 de Outubro de 2010 na Escola Prática de Infantaria, o Tirocínio para Oficial de Infantaria com um efectivo de 22 Aspirantes Alunos. O curso destina-se a habilitar os formandos com as aptidões técnico-tácticas, perícias e atitudes exigidas no desempenho das funções próprias da respectiva categoria e posto. O Curso está a cargo da Direcção de Formação. Terá uma duração total de 75 dias de Instrução (15 semanas) e terminará a 28 de Janeiro de 2011. 76 Nº 190 DEZ10 Teve inicio a 27 de Setembro de 2010 na Escola Prática de Infantaria o Curso de Formação de Oficiais e o Curso de Formação de Sargentos em Regime de Voluntariado e Regime de Contrato 2.º Turno 2010 com um efectivo de 75 elementos (40 Aspirantes Graduados e 35 2ºFurriéis Graduados). Este curso está incluído no Plano de Formação Anual 2010/2011, sendo cometido à Companhia de Formação do Batalhão de Formação – EPI a responsabilidade da sua execução. Este decorrerá em duas fases, uma primeira de módulos gerais e uma segunda de especialidade sendo elas, Atiradores, Morteiros e Anti-Carro. O presente curso destina-se a habilitar os formandos com as aptidões técnico-tácticas, perícias e atitudes exigidas aos níveis de desempenho das funções próprios da categoria e posto. AZIMUTE CFO/CFS 2º Turno 2010 Juramento de Bandeira do 9º CFGCPE 2010 Em 151100NOV10, e de acordo com o Plano de Formação Anual 2010, realizou-se na EPI a cerimónia de Juramento de Bandeira do 9º CFGCPE 2010, com o efectivo total de cerca de 173 militares. A Cerimónia foi presidida pelo Exmo MGen Director de Doutrina do Comando de Instrução e Doutrina do Exército, MGen Noé Pereira Agostinho. “É dever da EPI, Saber Fazer” Nº 190 DEZ10 77 AZIMUTE 17º CFPIF de 2010 no RC3 Realizou-se no Regimento de Cavalaria nº 3 Estremoz, entre 11 e 29 de Outubro, o 17º CFPIF de 2010, teve na sua constituição 15 alunos, Oficiais e Sargentos de variadas unidades do Exército. Este curso está incluído no Plano de Formação Anual / 2010, pertenceu à Direcção de Formação - EPI a responsabilidade da sua execução. O presente curso destina-se a habilitar os formandos com as aptidões Técnicas para a formação de formadores, e foi totalmente ministrado por formadores do RC3, sob coordenação de um Oficial nomeado pela da EPI. 17º CFPIF de 2010 no RC3 Realizou-se na Escola Prática de Infantaria, Mafra, entre 08 e 19 de Novembro o 2ºCurso de Tiro de 2010. Teve na sua constituição 16 alunos, 11oficiais e 5 sargentos das variadas U/E/O do Exército, onde todos terminaram com sucesso. Este curso está incluído no Plano de Formação Anual de 2010, pertenceu à Direcção de Formação - EPI a responsabilidade da sua execução. O curso destina-se a habilitar os formandos com as aptidões Técnicas para o desempenho das funções de Oficial ou Sargento de tiro das U/E/O onde prestam serviço. 78 Nº 190 DEZ10 Curso de Formação Pedagógica Inicial de Formadores De acordo com o Plano de Formação Anual 2010, iniciou-se a 30 de Agosto de 2010 o 7º, 8º, 9º, 10º, 11º, 12º, 13º e 14º Curso de Formação Pedagógica Inicial de Formadores que teve lugar Academia Militar, constituídos por 115 militares distribuídos da seguinte forma: 5 Oficiais da AM, 1 Oficial PALOP/RGB, 1 Sargento da AM e 108 Cadetes – Alunos provenientes das diferentes Armas e Serviços. Durante 3 semanas, os formandos receberam as ferramentas necessárias ao incremento da qualidade de formação, através da aquisição de competências – chave no domínio pedagógico – didáctico. Em 21OUT10 decorreu na parada Cor Magalhães Osório a Cerimónia de Recepção da EPI aos militares que integraram o 1 MCAEF da EUTM-SOMÁLIA. Enquadrados pela formatura geral da EPI, os 13 Militares que integraram o 1 MCAEF terminaram a missão de seis meses de duração na qual ministraram instrução a militares somalis no Uganda. Durante a cerimónia o comandante da missão entregou simbolicamente a imagem de D. Nun`Álvares Pereira que acompanhou permanentemente a missão naquele país da união Africana. O Exmo Comandante saudou os militares enaltecendo o esforço, a atitude e o profissionalismo com que cumpriram a missão, reconhecida nacional e internacionalmente. AZIMUTE Cerimónia de Recepção do 1 MCAEF EUTM-SOMALIA Visita do Exmo. DF/CID á Escola Prática de Infantaria Em 18OUT10 visitou a EPI o novo Director da Formação do Comando de Instrução e Doutrina, o Exmo MGen Santos de Carvalho. O programa da visita englobou a apresentação aos Oficiais, Sargentos, delegação de Praças e Funcionários Civis no salão Nun`Álvares onde o Exmo. Director da Formação manifestou a satisfação em regressar “À sua Escola” onde serviu durante vários anos em diferentes postos. Seguidamente o Comandante da EPI fez o briefing acerca da situação da escola, na sala de Honra de Infantaria a que se seguiu o almoço com todos os militares no refereitório dos frades. A visita englobou ainda com uma passagem por actividades de instrução da Direcção de Formação do Batalhão de Formação Militar Geral sendo concluída com a assinatura do livro de Honra da EPI. Nº 190 DEZ10 79 AZIMUTE Os Nossos Filhos Andam a Tomar Droga? 80 Saj SS/Med Luis Manuel Esta é uma realidade! Por muito que nos custe a acreditar, sem que nos apercebamos este mal pode estar a bater-nos à porta. A facilidade do acesso a uma primeira toma de qualquer tipo de droga, sintética ou natural, é efectiva, quer seja na rua, na escola ou em ambientes de “amigos”. O risco da primeira vez, o alcance do proibido mesmo aqui ao lado e à mão, o desafio lançado pelos “amigos”, a promessa de novas visões do mundo, levam a que qualquer um menos preparado se insira num mundo de poucos retrocessos. Uma vez lá dentro, tudo se passará a desenrolar em função das drogas, quer para a sua obtenção, quer devido ao seu consumo. Segundo CHARRO et all (1995), nesta “revolução da droga”, os adultos foram os últimos a ser informados. Os adolescentes, esses já experimentaram ou consomem as drogas e pelo menos conhecem os efeitos que produzem. Pouco a pouco, o clássico conflito das gerações transforma-se num fosso entre as jovens gerações que criam os seus próprios sistemas de valores, baseados essencialmente na experiência própria e os nossos valores baseados na experiência do passado e considerados já não transmissíveis. As drogas são sobretudo um sintoma e uma demonstração ao mundo da existência desse fosso e da sua causa. Durante gerações, a sociedade ocidental edificou uma civilização apoiada na razão e no triunfo da razão. Daqui decorre toda uma visão do mundo, havia um passado, há um presente e haverá um futuro, e constrói-se a pensar no futuro. Nº 190 DEZ10 O que parece importante compreender é que não se pode de modo algum ter uma visão corriqueira dos efeitos dos produtos utilizados pelas jovens gerações. Existem efeitos nocivos e são dramaticamente maioritários; existem efeitos benéficos e são extraordinários quer no domínio do prazer, quer no domínio do belo. Seria vão negar que toda uma corrente da fármaco-química vai tender para desenvolver os efeitos benéficos e anular os efeitos nocivos. Por exemplo, se os principais produtos utilizados fossem tornados lícitos, o problema da transgressão seria apenas deslocado, pois o que está em causa são as exigências muito contraditórias e muito assustadas dos nossos filhos perante uma sociedade que se movimenta a uma velocidade insana. Exigências que não são ouvidas, porque o divórcio se situa ao nível de todas as linguagens, falada, cantada, de indumentária ou alimentar. O pai também se sentia infeliz, mas esse bebia. O seu filho descobre Deus por meio de uma “pílula” (CHARRO et all 1995). Existem, segundo uma abordagem psicossocial, 3 tipos de consumidores: a) Os que, por intermédio de um grupo de situação, têm contacto com a substância, experimentam-na e ficam por aí; b) Os que são consumidores ocasionais, ou seja, em festas, concertos musicais, etc, consumindo um tipo específico de substância; c) Os consumidores habituais que, no caso de drogas pesadas já deixaram de consumir por prazer como nos grupos anteriores. Estes consumem por dependência física e psíquica, para evitar a ressaca e todos os efeitos da mesma. As exigências dos nossos filhos não podem ser escutadas porque as nossas vidas correm atrás de algo que nos vai alienando dos mesmos. Os amigos impõem exigências e lançam ofertas, e aqui, temos a tradicional história da maçã podre no seio da cesta com fruta sã, nos tempos modernos, leva-me a crer, que quem se afasta destas “novas ordens” sociais é que está a mais, não pertence ao grupo. A tomada de consciência entre o vazio do nosso dia-a-dia, com falta de estímulos benéficos, e a entrada no mundo do consumo de substâncias que nos trazem uma falsa felicidade é um grande passo e é revelador da verdadeira consciência moral e familiar. Será preciso recordar que muitos jovens consumidores de drogas provêm de famílias não seja somente destruidor. A nós pais cabe-nos a árdua tarefa de acompanhar e verdadeiramente educar os nossos filhos. Não é por mais uma prenda e por dizermos “ele(a) teve sempre tudo o que quis, porque é que se meteu naquilo?” que iremos evitar o pior. Os adultos encaram, na maioria das vezes, este assunto como tabu. A droga é um assunto que é abordado no dia-a-dia mas que, apesar de tudo, não é um assunto dominado por todos. Assim, nos dias de hoje ainda existem muitos pais que são incapazes de falar com os filhos sobre esta temática, quer seja por falta de à vontade quer por total desconhecimento. Na nossa sociedade uma das drogas mais baratas e acessíveis, o álcool, é aceite e a sua utilização é bem visto, independentemente dos seus efeitos nocivos resultantes de um abusivo e continuado consumo. Os seus malefícios neurológicos são irreversíveis. É importante que os pais se preocupem em procurar informação adequada para poderem estabelecer um diálogo com os filhos, para que estes percebam e se identifiquem com as ideias dos pais e as entendam de forma AZIMUTE desunidas, ou divididas, ou demasiadamente preocupadas consigo mesmas? Que o factor económico já não é mais um factor dissuasor da entrada no mundo das drogas? Será preciso recordar que outros jovens reagem contra aquilo a que chamamos “conformismo” dos pais? E será ainda preciso dizer que se considera lícito usar ou abusar de tranquilizantes (desde que não se conduza), mas escandaloso fumar marijuana? Embora tenha existido sempre transgressão ao nível da adolescência, nunca tomou o carácter de massa e ao mesmo tempo de afastamento de todo o mundo que apresenta actualmente. Quando um tal carácter de massa se instala é porque existe um facto novo na civilização, mesmo quando esse facto é primeiramente anunciado por um desvio doloroso e perigoso. Tacteando, de uma fórmula desajeitada, as jovens gerações procuram um sistema de referência que as ajude a viver, a sobreviver, ainda que à custa da destruição das nossas civilizações. Nós que sabemos que elas não são perfeitas, mas que conhecemos também o preço que dezenas de gerações tiveram de pagar para chegarem simplesmente a “consumir”, devemos a todo o custo instaurar o diálogo para que este facto de civilização a acharem que é o procedimento correcto. O diálogo aberto e franco nos momentos certos e, quando a ocasião e a idade o permitirem, mostremos aos nossos filhos até onde o consumo de drogas os pode levar. Não adianta esconder a realidade, os media o farão por nós e a “net” dará as explicações científicas mas, caber-nos-á a nós pais mostrar o que está por detrás e explicar o porquê, porque o que é aquilo já os nossos filhos sabem e, por vezes, até mais que nós. Temos de aprender e assimilar novas culturas “subterrâneas” (CHARRO et all 1995) criadas pelos nossos jovens, mas não devemos nem poderemos aceitar que essas mesmas novas culturas colidam com os princípios éticos, conduta social e, acima de tudo com os valores familiares, sem os quais não há sociedade. Azimute CHARRO, J.; NUNES, E.; SANTOS, A.; SOUSA, A. – Droga e Prisão – Estudo efectuado no Estabelecimento Prisional do Linhó; Escola do Serviço de Saúde Militar; Lisboa, 1995, págs. 3-4. http://www.a1b2c3.com/drugs/ gen001.htm, pesquisa efectuada em 121100NOV07. http://www.interpol.int/Public/ Drugs/synthetic/default.asp, pesquisa efectuada em 12 1120NOV07. 1SAR SS/MED Luis Miguel Ferreira Manuel Com a colaboração de ALF Psicóloga Regina Alexandra Correia Gomes Fino Nº 190 DEZ10 81 AZIMUTE Simbologia e Vivência do Natal Maj Capelão Pe. Rui Peralta “Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o Seu Filho Unigénito nascido de uma Mulher” Gal. 4.4 Introdução O Natal celebra a vinda de Jesus, o Filho de Deus, e a sua manifestação aos Homens. Mais um Natal se aproxima. Todos somos convidados a contemplar e a viver toda a simbologia deste Tempo Santo. Um Menino nasceu para nós. Ele é a Luz e a Paz. Que cada Homem, cada português, e cada militar abra o seu coração para que o Menino Deus possa nascer em cada coração. 1. O porquê do Natal a 25 de Dezembro Não conhecemos a data do nascimento de Jesus. Não é certo que Jesus tenha nascido a 25 de Dezembro. A Igreja primitiva não se preocupou muito com isso. O importante é saber que Jesus nasceu para salvar todos os Homens. A data de 25 de Dezembro para celebrar o nascimento de Cristo deve ter sido estabelecida entre os anos 243 e 336. Um calendário compilado em 354, o calendário filocalino ( de Furius Philocalinus) coloca-o em 336. Para a escolha do dia 25 de Dezembro apresentam-se dois motivos: segundo a opinião mais comum a escolha desta data obedeceu ao desejo de dar sentido cristão a uma festa pagã instituída pelo Imperador. No ano de 274, o imperador Aureliano oficializou o culto ao “Sol Invictus”, mandou construir um templo e fixou a sua festa a 25 de Dezembro que, segundo 82 Nº 190 DEZ10 a astronomia do tempo era considerada a data do solstício de Inverno. Ora, os cristãos passaram a festejar nessa mesma data o nascimento de Jesus Sol de Justiça e Luz do Mundo. Monsenhor Duchesne dá uma explicação simbólico-astronómica: o dia de nascimento de Jesus ter-se-ia determinado a partir do dia da Sua Concepção, e este ter-se-ia fixado de acordo com o dia presumido da Sua morte. Foi o Papa Júlio I que estabeleceu o Natal a 25 de Dezembro para cristianizar as grandes festas pagãs realizadas pelos Romanos neste dia. A Festa cristã do Natal veio, pois, substituir a festa do deus Sol Invictus, sendo que Jesus é o verdadeiro Sol. Compreende-se, então, que a maioria dos símbolos do Natal esteja ligada a estes dois aspectos: a vida que resiste no Inverno, simbolizada pelo Verde e pela Luz. No fundo, trata-se da Festa da Vida. 2. O Natal do Menino Deus A palavra NATAL quer dizer nascimento e é de origem latina. O Natal aparece para designar o aniversário do nascimento do Menino Jesus. A Festa de Natal, mais que o facto histórico do nascimento de Jesus Cristo, celebra o mistério da vinda ao mundo do Verbo de Deus feito Homem. Esta festa é, também, designada por Festa da Família e da partilha. Que o Dia de Natal seja vivido todos os dias. 3. Símbolos de Natal 3.1. O Presépio Estamos, certamente, diante de um dos mais significativos símbolos do Natal. O Presépio foi popularizado, no séc. XIII, por São Francisco de Assis. Sabemos que São Francisco cultivava uma terna devoção às manifestações do amor de Deus para com a Humanidade. Descobriu este Amor, sobretudo, no Mistério da Encarnação e “inventou” o Presépio. O Povo cristão começou a venerar esse Mistério pela devoção do”Angelus” (oração que lembra a Anunciação e a Encarnação do Salvador). Três anos antes da Sua morte, São Francisco quis celebrar solenemente o nascimento de Jesus Cristo. Para isso, como nos conta São Boaventura, pediu licença ao Santo Padre. Tomás de Celano, o primeiro biógrafo de São Francisco, descreve o facto da seguinte maneira: “Havia em Gréccio um homem chamado João, a quem São Francisco tinha especial amizade porque, sendo muito nobre e honrado na sua terra, desprezava a nobreza humana para viver a nobreza de Espírito. Uns quinze dias antes do Natal, São Francisco mandou chamar o Homem Bom e disse-lhe: se quiser que celebremos o Natal em Gréccio tem de fixar o que lhe vou dizer. Quero lembrar o nascimento de Jesus em Belém e recriar o ambiente e o local em Belém, se não nascer no nosso coração?” O costume de se representar o nascimento de Jesus Cristo em Belém foi-se tornando comum entre os católicos. Hoje, praticamente, não há família católica que não arme o Presépio durante o tempo de Natal. Podemos afirmar que o Presépio é o símbolo mais sublime de toda a época de Natal. As figuras principais do presépio são: a Sagrada Família, o boi e o burro, o Anjo, os pastores, os rebanhos, os magos e a estrela. 3.2. A Estrela de Belém Segundo a tradição, a Estrela de Belém guiou os Reis Magos, durante vários dias, desde o Oriente até ao local onde Jesus nasceu, para que estes pudessem presenteá-lo com ouro, incenso e mirra. No que se refere à veracidade ou não do aparecimento da Estrela de Belém aquando do nascimento de Cristo, só se pode especular. Nenhuma teoria consegue fundamentar-se em provas 100% fiáveis. Johannes Kepler, na noite de 17 de Dezembro de 1603, observou, em Praga, a conjunção do planeta Júpiter Com Saturno na constelação de Peixes, formando uma só estrela. Pelo estudo de textos antigos, Kepler concluiu que essa mesma conjunção teria ocorrido no ano de 747 da era romana. Com isto Kepler divulgou uma nova data para o nascimento de Cristo, 7 anos antes da calculada, no séc. VI pelo Frade Dionísio, e que serve de cronologia da era cristã. A Estrela de Belém, para além de ser a guia dos Reis Magos, simboliza Cristo, Luz do Mundo: Eu sou a Luz do mundo” (Jo.8, 12). Hoje em dia, a Estrela é colocada no topo da árvore de Natal e no Presépio. 3.3. Os Reis Magos Os Reis Magos são personagens que vieram do Oriente, guiados por uma estrela, para adorarem o Deus Menino, em Belém (Mt.2,1-12). Ignora-se a proveniência dos Reis Magos. Este episódio foi apenas relatado no Evangelho de São Mateus e, mesmo assim, de forma muito resumida e vaga. Só com o passar do tempo, se foram acrescentando detalhes, para se sanarem algumas lacunas deixadas no Evangelho em relação a esta história. A designação de “Magos” era dada, entre os orientais, à classe dos sábios ou eruditos; contudo esta palavra também era usada para designar os astrólogos. Isto fez com que, inicialmente, se pensasse que estes magos eram sábios astrólogos, membros da classe Sacerdotal de alguns povos orientais, como os caldeus, os persas e os medos. Posteriormente, a igreja atribuiu-lhes o apelido de “Reis”, em virtude da aplicação literal que lhes fez o Salmo 71,10. Quanto ao número e nomes dos Reis Magos são tudo suposições sem base histórica, aliás algumas pinturas dos primeiros séculos da Igreja mostram três, quatro Nº 190 DEZ10 AZIMUTE onde Jesus nasceu. Ouvindo isto, o Homem Bom e Fiel correu apressadamente e preparou, com amor, o que o Santo lhe tinha pedido. Aproximou-se o dia da alegria e tanto esperado pelo Santo. De muitos lugares foram chamados os irmãos. Homens e mulheres do Lugar, de acordo com as suas posses, prepararam cheios de alegria tochas e archotes para iluminar a noite. Por fim, chegou o Santo e, vendo tudo preparado, ficou muito feliz. Montaram o primeiro Presépio… Trouxeram palha, um boi e um burro, vieram os pastores com os seus rebanhos… e o Presépio foi sendo constituído por todos os presentes. Era um Presépio vivo. Géccio tornou-se na nova Belém, honrando a simplicidade, louvando a pobreza e recomendando a Humanidade. A noite de Gréccio ficou iluminada como o dia. O Povo foi chegando e exultou de alegria… Os Frades cantavam os devidos louvores ao Menino Deus. O Santo parou diante do Presépio e suspirou, cheio de piedade e de alegria. A Missa do Galo foi celebrada ali mesmo no Presépio, e o sacerdote que a celebrou sentiu uma piedade que jamais experimentara até então. São Francisco vestiu Dalmática, porque era Diácono, e cantou com voz sonora o Santo Evangelho. Depois pregou ao povo presente o Mistério do nascimento do Salvador” (Vida I, cap.30) São Francisco de Assis, ao longo da sua vida marcada profundamente pelo Amor a Deus e ao Próximo, pela vivência do Evangelho e pelo seguimento de Jesus Cristo, fazia renascer o Salvador no coração dos fiéis da Igreja do seu tempo. É este o verdadeiro sentido do Natal. Como diz um Padre da Igreja: “de que adianta que Cristo tenha nascido 83 AZIMUTE e até doze Reis Magos que adoram o Menino. Foi uma tradição posterior aos Evangelhos que lhes deu o nome de Baltazar, Gaspar e Belchior, tendo-se também atribuído a cada um características próprias. A Igreja celebra o dia de Reis no dia da Epifania, festa da manifestação de Jesus Cristo a todos os Povos da Terra. 3.4. As Velas de Natal A Vela acesa, em formas artísticas mais diversas, está muito presente nas celebrações de Natal. Está presente na árvore de Natal, está presente sobre a mesa da ceia de Natal e está presente, de um modo particular, na celebração da Missa do Galo. Embora o uso da luz da vela fale mais alto no ambiente das longas noites de Inverno do hemisfério Norte, também entre nós tem o seu valor simbólico. Apesar disso, a linguagem da Luz tem a sua força em todas as celebrações de Natal. Na noite de Natal fugimos um pouco da luz artificial e criamos uma atmosfera de intimidade e confraternização… Cristo, Luz do Mundo, convida todos os homens a tornarem-se luz, alegria e felicidade para os irmãos. Isso exige, a exemplo de Cristo, à doação de si mesmo, como Vela que se consome ao iluminar. 3.5. O Pai Natal O personagem Pai Natal foi inspirado em São Nicolau, taumaturgo e Bispo de Mira na actual Finlândia, e que viveu no séc. IV. São Nicolau costumava ajudar, anonimamente, quem estivesse em dificuldades financeiras. Colocava um saco com moedas de ouro na chaminé da pessoa necessitada. Nicolau foi proclamado Santo depois de muitos milagres lhe serem atribuídos. A sua transformação em símbolo de Natal 84 Nº 190 DEZ10 aconteceu na Alemanha e daí espalhou-se por todo o mundo. Uma das muitas pessoas que ajudaram a dar força à Lenda do Pai Natal foi Clemente Clark Moore, um professor de literatura grega em Nova Iorque, que lançou o poema “Uma visita de São Nicolau” em 1822, escrito para os seus filhos. Nesse poema, Moore divulgava a versão de que o Pai Natal viajava num trenó puxado por renas. Resumindo: o Pai Natal é um velhinho muito rico que, durante a noite de Natal, distribui prendas a todas as crianças que se portam bem. 3.6. A Árvore de Natal A Árvore de Natal é um pinheiro ou abeto, enfeitado com fios de prata e ouro, com bolas de diversas cores e iluminado na noite de Natal. A tradição da Árvore de Natal tem raízes muito mais longínquas do que o próprio Natal. Os romanos enfeitavam árvores em honra de Saturno, deus da agricultura, mais ou menos na mesma época em que hoje preparamos a Árvore de Natal. Os egípcios traziam folhas verdes de palmeiras para dentro das suas casas no dia mais curto do ano, como símbolo do triunfo da vida sobre a morte. Nas culturas célticas, os druidas tinham o costume de decorar carvalhos com maçãs douradas para as festividades do final do ano. Segundo a tradição, São Bonifácio, no séc. VII, pregava na Turíngia (uma região da actual Alemanha) e decorava os abetos (de forma triangular) com símbolos da Santíssima Trindade. Assim, o carvalho (que era devastado) e até então considerado como símbolo divino, foi substituído pelo abeto. A primeira referência a uma Árvore de Natal surgiu no séc. XVI e foi nesta altura que ela se vulgarizou na Europa Central. Há notícias de Árvores de Natal na Lituânia em 1510. Diz-se que foi Martin Lutero (1483-1546), autor da Reforma Protestante, que após um passeio pela floresta numa noite de luar de Inverno e com milhares de estrelas brilhantes no firmamento, que trouxe essa imagem sob a forma de Árvore de Natal, com uma estrela brilhante no topo e decorada com velas, isto porque para ele o Céu devia ter estado assim na noite do nascimento do Salvador. O costume da Árvore de Natal de Lutero começou a enraizar-se. Na Alemanha, todas as famílias, ricas e pobres, decoravam as suas árvores dos jardins com frutos, doces e flores. No início do séc. XVII, a GrãBretanha começou a importar da Alemanha a tradição da Árvore de Natal pelas mãos dos monarcas de Hannover. A tradição da Árvore de Natal espalhou-se por toda a Europa e chegou aos Estados Unidos em meados do séc. XIX. Em 1856, a Casa Branca foi enfeitada com uma enorme Árvore de Natal e a tradição ainda hoje se mantém. A Árvore de Natal tem origem pagã, e vem dos países nórdicos e do mundo Anglo-Saxónico, onde a religião predominante é o Luteranismo… Nos países católicos, como Portugal, a tradição da Árvore de Natal foi surgindo pouco a pouco ao lado dos já tradicionais presépios. Em Portugal a aceitação da Árvore é muito recente. Assim, entre nós, o Presépio foi durante muito tempo a única decoração de Natal. É pena que se esteja a perder a antiquíssima tradição de montar o Presépio. 3.7. Os Presentes de Natal Presentear é tão antigo quanto a própria Humanidade. Os pagãos ofereciam presentes 3.8. O Bolo Rei Não é possível falar-se da doçaria típica da época de Natal, sem se falar do famoso Bolo Rei, com a sua forma de coroa, as suas frutas cristalizadas e frutos secos, a fava e o brinde. O Bolo Rei está carregado de simbologia. Muito sinteticamente pode dizer-se que este Bolo representa os presentes oferecidos pelos Reis Magos ao Menino Jesus. A côdea simboliza o ouro, os frutas secas e cristalizadas representam a mirra, e o incenso está representado no aroma do Bolo. O Bolo Rei tem origem francesa. A festa dos Reis começou muito cedo a ser celebrada na corte dos reis de França. Este saboroso Bolo teria surgido no reinado de Luís XIV para as festas de Ano Novo e dos Reis. Tanto quanto se sabe, o primeira casa onde o Bolo Rei se vendeu na cidade de Lisboa, foi a Confeitaria Nacional, certamente depois de 1869. A pouco e pouco, O bolo Rei generalizou-se por todo o mundo. 3.9. Os Cartões de Boas Festas Parece ter sido em Londres, no Natal de 1843, que tiveram a sua origem os Cartões de Boas Festas. Henry Cole, o fundador do Museu Vitória, aflito com tantos negócios, não conseguia tempo para escrever as tradicionais cartas de Boas Festas. Mas teve uma ideia luminosa: os amigos receberiam apenas um Cartão Impresso, mesmo porque isso seria uma grande novidade. Cole, chamou um pintor, Horsley, encarregando-o de preparar originais e lindas vinhetas, depois impressos na Old Bond Street. A principio, porque os cartões eram em papel muito grosso e sem referência às solenidades natalícias, e também porque obrigavam a maior franquia postal que as cartas comuns, não agradavam a toda a gente. Mas surgiram vinhetas coloridas e apropriadas, com palavras de felicitações que conquistaram a simpatia geral. Em 1900 Sir Adolph Tuck promoveu um concurso de ideias originais e fabricou variados Cartões pois foram cinco mil os concorrentes. Sir Tuck movimentou artistas e poetas, escolheu figuras e textos, e deu origem ao que hoje é a variada gama de Postais de Boas Festas. meia noite de 24 de Dezembro, cada lavrador da província espanhola de Toledo matava um Galo, em memória daquele que cantou três vezes quando São Pedro negou Jesus, por ocasião da Sua Paixão. Depois a ave era levada para a Igreja a fim de ser oferecida aos pobres que, assim, podiam ver melhorado o almoço do dia de Natal. Em certas aldeias de Portugal e de Espanha era costume levar-se um Galo vivo para a Igreja para que a ave cantasse durante a Missa da meia noite de 24 de Dezembro. Quando cantava todos ficavam felizes, pois entendiam-no como um anúncio de um ano próspero e rico de culturas. Se ficava mudo entendiam o contrário. No princípio do cristianismo, no dia de Natal celebrava-se apenas uma Missa. No séc. V começou a celebrar-se em Roma, na Igreja de Santa Maria Maior, uma outra Missa ao romper da aurora, e daí chamar-se-lhe Missa do Galo. Esta Missa foi-se depois antecipando até recuar para a meia noite. È nesta Missa que a Igreja começa a celebrar as festividades do nascimento do Salvador. AZIMUTE às divindades. Hoje todos nós gostamos de dar e de receber prendas, de um modo particular, nos dias de aniversário, nos casamentos, na Natal e em muitas outras ocasiões. O Presente de Natal é uma tradição que tem raízes cristãs, inspiradas na visita dos Reis Magos, que levaram Presentes ao Menino Deus. Para muitas pessoas, esta época de Natal, é marcada pelo consumismo desenfreado. O costume de colocar presentes sob as árvores de Natal começou, no séc. XVI, durante o reinado da rainha Isabel I de Inglaterra. A Monarca promovia festas de Natal onde lhe ofereciam muitos presentes. Como era praticamente impossível receber directamente todos os presentes, criou-se o costume de os deixar sob uma grande árvore de Natal, montada nos jardins do palácio real. Deus deu-nos o maior e o mais Belo de todos os Presentes: Jesus Cristo, Seu amado Filho e nosso Irmão. Sejamos, também, nós um verdadeiro presente para os nossos irmãos. 5. A Famosa Canção “ Noite Feliz” A mais famosa canção de Natal, Noite Feliz, foi composta nas vésperas do Natal de 1818, numa aldeia dos Alpes, por um 4. A Missa do Galo Pouco antes de baterem as doze badaladas da Nº 190 DEZ10 85 AZIMUTE Sacerdote Católico de nome Joseph Mohr, que fez os versos, e por um mestre–escola chamado Frans Xavier-Gruber, que escreveu a música. Noite Feliz, a canção do Céu, como lhe chamou, é hoje cantada em todo o mundo. Para a língua portuguesa foi feita uma feliz tradução por Frei Pedro Sinzig. Esta canção foi criada na aldeia austríaca de Oberndorf, nas montanhas do Tirol. Noite Feliz nasceu para preencher uma lacuna: nas Missas da meia-noite, ou do Galo, as pessoas estavam acostumadas a ouvir a melhor e a mais bela música de Natal. Veio a descobrir-se, muito próximo da noite de Natal, que o Órgão de tubos da Igreja tinha sido danificado pelos ratos e não havia possibilidades de o reparar a tempo. Surgiu então a ideia de uma solução de emergência: compor uma canção para que o organista, exímio tocador de violão, a apresentasse na Missa do Galo. A Canção foi cantada por um coro de crianças acompanhado por uma viola de doze cordas, instrumento típico do Tirol. Foi assim que nasceu uma das mais belas canções de Natal. 86 Nº 190 DEZ10 6. A Consoada A Consoada é celebrada, em Portugal, na noite de 24 de Dezembro. Esta tradição leva as famílias a reunirem-se à volta da mesa na noite de Natal para festejarem o nascimento do Salvador. Por ser uma festa de família, muitas pessoas percorrem longas distâncias para se juntarem aos seus familiares. Na tradição católica os crentes participam, no final da noite, na missa do Galo. Em certas regiões de Portugal, Beiras, Trás-os-Montes, Alentejo, homens e mulheres antes e depois da Missa do Galo celebram, na Adro da Igreja, o nascimento do Salvador à volta de grandes “madeiros” a arder cantando ao Menino Deus. Os hábitos religiosos evoluíram desde os primeiros séculos até aos nossos dias. Nos primeiros séculos as vigílias que celebram o nascimento de Jesus eram dias de jejum. Os fiéis reuniam-se nas igrejas, rezando e cantando toda a noite. O jejum significa desprendimento, contemplação e sacrifício. Com o passar dos séculos o jejum foi sendo abolido e substituído pela refeição a que o povo chama de Consoada. O termo “Consoada” só surgiu no séc. XVII. Nessa altura a Consoada consistia numa refeição de peixe. A Consoada só se generalizou quando as pessoas mais abastadas passaram a comer uma refeição após terem participado na Missa do Galo. Para os mais pobres, sobretudo para as pessoas que viviam nos campos, a noite de Natal era uma noite na qual meditavam no nascimento do Salvador. A Consoada actual é assinala, na grande maioria das famílias portuguesas, pelo tradicional bacalhau cozido com a couve tronchuda, filhós e muitos e variados doces. Para algumas regiões de Portugal, também, o polvo é rei, e para outras regiões o peru assado ocupa o lugar do bacalhau. Segundo a tradição, para muitas famílias, a mesa da Consoada não deve ser levantada e a louça usada não deve ser retirada… Manda a tradição que os restos da comida devem ficar na mesa durante toda a noite. Isto porque, segundo a tradição, é por respeito para com os mortos da família, e para que o Menino Jesus possa jantar. Em Portugal, depois da Consoada faz-se a distribuição das prendas de Natal. Conclusão A comemoração do nascimento do Salvador, a 25 de Dezembro, parece reconduzir-nos à Gruta de Belém, para ali aprendermos que é absolutamente necessário nascer e reformar-nos radicalmente, o que só é possível quando nos unirmos intima e vitalmente ao Verbo de Deus, feito Homem, e, assim, somos participantes da Sua natureza Divina, à qual fomos elevados. Para todos um Santo e Feliz Natal! Azimute In memorium Falecimento do General Hugo Manuel Rodrigues dos Santos No dia 5 de Outubro de 2010, faleceu aos setenta e sete anos de idade, o General Hugo Manuel Rodrigues dos Santos. Nascido em Oliveira do Hospital, frequentou o Curso da Escola do Exército, Arma de Infantaria no período de 1952 a 1955. Com Comissões Militares em Cabo Verde, Angola e Guiné, o General Hugo dos Santos comandou a Guarda Fiscal de Outubro de 1986 a Outubro de 1992, tendo ainda desempenhado o cargo de Director da Arma de Infantaria, Presidente do Conselho Superior de Disciplina e Inspector Geral do Exército. Foram-lhe atribuídas as seguintes Condecorações: Grande Oficial da Ordem Militar de Cristo, Grã-Cruz da Ordem Militar de Mérito Militar, Grã-Cruz da Ordem Militar da Liberdade e quatro Medalhas de Serviços Distintos (1 de ouro e 3 de prata) Participante activo no Movimento das Forças Armadas, foi responsável pela guarda da documentação mais sensível do Movimento, assessorando, após a Revolução, o General Costa Gomes. Representou o Movimento nas conversações com o PAIGC, acompanhando o Dr. Mário Soares e o Dr. Almeida Santos nas reuniões que conduziram à assinatura do Acordo em Argel, que também subscreveu. Comandou a Escola Prática de Infantaria de 1978 a 1979. A Casa-Mãe da Infantaria e todos os Oficiais, Sargentos, Praças e funcionários civis que nela servem, expressam o sentimento de profundo pesar e sentidas condolências aos familiares e amigos do “Comandante da EPI”. 88 Nº 190 DEZ10 AZIMUTE Das Invasões Francesas à Europa Unida Foram três as Invasões Enviados por Napoleão Mais de mil as privações Deste Povo e da Nação Dois séculos já passaram A Corte foi para o Brasil E os Portugueses criaram A Terra de encantos mil Hoje é Terra de desafios Como era antigamente Junot ficou a ver navios E Portugal Independente Vieram mais duas vezes E Soult foi o segundo Ajudaram-nos Ingleses A defender o nosso Mundo Na guerra ou vences ou morres Na guerra a vida é pequena E foi nas Linhas de Torres Que se rendeu o Massena E depois de tantos anos Como passa depressa a vida Paz e direitos humanos Fizeram a Europa Unida! José Custódio Madaleno Geraldo Coronel de Infantaria Nº 190 DEZ10 87