ESTUDO DE GASES EM ATERROS DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS Luiz Fernandes de Brito Filho DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÂO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA CIVIL. Aprovada por: Prof. Cláudio Fernando Mahler, D.Sc. Prof. Márcio de Souza Soares de Almeida, Ph.D. Prof. Maurício Ehrlich, D.SC. Prof. Marcelo Martins Werneck, Ph.D. Prof. João Vicente de Assunção, D.Sc. RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL OUTUBRO DE 2005 FILHO, LUIZ FERNANDES DE BRITO Estudo de Gases em Aterros de Resíduos Sólidos Urbanos [Rio de Janeiro]2005 XV, 222 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ, M.Sc., Engenharia Civil, 2005) Dissertação – Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE 1. Resíduos Sólidos 2. Gás de Aterro 3. Estudo de Casos I. COPPE/UFRJ II. Título (série) DEDICATÓRIA Esta tese é dedicada ao Deus Eterno pela sua ajuda, direção e provisão. Assim diz a Palavra de Deus: “..., porque sem mim nada podereis fazer” (João 15:5). AGRADECIMENTOS Agradeço á Deus por conceder esta grande benção em minha vida. Agradeço aos meus pais e meu irmão por me apoiarem neste trabalho. Agradeço ao meu orientador e Prof. Cláudio Fernando Mahler, pela sua orientação e ajuda nesta dissertação. As colegas mestrandas Juliana Rose e Silvia M. Pereira pelo apoio e ajuda na revisão deste trabalho. A Engenheira Adriana Felipeto e a toda equipe da S.A. Paulista que deram apoio e acompanhamento nos trabalhos de campo. Aos funcionários do aterro Terra Brava que puderam me acompanhar nos trabalhos de campo. Aos funcionários Max G. de Souza e Luiz C. de Oliveira do Laboratório de Geotecnia da COPPE-UFRJ que ajudaram nas coletas e ensaios de laboratório. Ao Laboratorista Ayr que ajudou na realização dos ensaios cromatográficos. Ao colega doutorando Silvio da EMBRAPA que ajudou nos ensaios de Laboratório. Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.) ESTUDO DE GASES EM ATERROS DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS Luiz Fernandes de Brito Filho Outubro/2005 Orientador: Cláudio Fernando Mahler Programa: Engenharia Civil Este trabalho desenvolve um estudo de gás em dois aterros, um sanitário e um controlado, por meio de análises cromatográficas e equipamentos de medidas in situ de gás e temperaturas, comparando os resultados obtidos em campo e laboratório. Os dois aterros estão localizados próximos ao município do Rio de Janeiro, com condições construtivas, operacionais e geotécnicas bastante diferentes. Além disso, são utilizados dois modelos estimativos de produção de biogás ou gás de aterro. Com o auxílio destes modelos desenvolveu-se ainda uma avaliação preliminar do potencial de geração do biogás produzido nestes dois aterros. A importância do assunto reside no fato que, há uma pressão crescente da sociedade na busca de soluções ambientalmente adequadas na disposição final dos resíduos e com as receitas previstas oriundas do biogás dos aterros espera-se o rápido desenvolvimento da atividade de construção de aterros sanitários adequados e recuperação de lixões e aterros controlados no país, alterando a situação atual, onde somente algumas grandes cidades possuem este equipamento urbano fundamental para a qualidade do meio ambiente e da saúde humana. Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.) LANDFILL GAS STUDY. CASE: NOVA IGUAÇU AND TERRA BRAVA Luiz Fernandes de Brito Filho October/2005 Advisor: Claudio Fernando Mahler Department: Civil Engineering This work is a study of the gas produced in two types of landfill: sanitary and non sanitary. Gas was collected for analysis from two landfills located near the city of Rio de Janeiro. Their construction and cover materials are very different. Measurements were taken in situ, using portable automated equipment, and in the laboratory, using chromatographic equipment. The investigation analysed the emissions of methane and CO2. The cover soils were also studied to see if the cover materials affected the degradation process of the waste in relation to oxygenation and rainfall. A slow increase in the production of methane was observed after the rainfall, particularly in the Terra Brava landfill where the soil cover is much more permeable than in the Nova Iguaçu landfill. Two mathematical models were used to estimate the landfill gas production. A preliminary evaluation of the potential landfill gas was carried out. The importance of the research area is related to increasing societal pressure to produce environmentally friendly solutions for the disposal of waste and the financial benefit of controlling landfill gas, especially the methane. SUMÁRIO I – INTRODUÇÃO......................................................................................................... 1 1.1 – OBJETIVO DESTE TRABALHO ................................................................................. 2 1.2 – AS HIPÓTESES DESTE TRABALHO .......................................................................... 2 II – HISTÓRICO DOS GASES..................................................................................... 4 2.1-HISTÓRICO DOS GASES RELACIONADO À DEGRADAÇÃO BIOLÓGICA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS ........................................................................................................................ 4 2.1.1 - PRINCÍPIO DE BARKER ..................................................................................... 5 2.1.2 - OS POSTULADOS DE ELIASSEN ........................................................................ 6 2.1.3 - A ROTA DE MCCARTY ..................................................................................... 7 2.1.4 - A ANALOGIA DE LIMA .................................................................................... 10 2.1.5 – EVOLUÇÃO DOS MODELOS DE PRODUÇÃO DE GÁS PROVENIENTES DA DECOMPOSIÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS: ................................................................... 12 III – METODOLOGIA E MATERIAIS .................................................................... 16 3.2 – METODOLOGIA E MATERIAIS .............................................................................. 16 3.2.1 - ESTUDO DE CAMPO........................................................................................... 16 3.2.2 – ESTUDO LABORATORIAL.................................................................................. 21 3.2.3 – 3ª ETAPA: COLETA E ENSAIOS DO SOLO DE COBERTURA ............................... 22 3.2.3.1 - MATERIAL PARA COLETA DE SOLO................................................................. 22 3.2.3.2 - QUANTO À COLETA DE SOLO DE COBERTURA ................................................. 22 3.2.3.3 - ENSAIOS DO SOLO ......................................................................................... 23 IV – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................................................ 26 4.1. A RELEVÂNCIA DA QUESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS ......................................... 26 4.2 - DEFINIÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS .................................................................... 27 4.3 – CLASSIFICAÇÃO DO LIXO .................................................................................... 28 4.4 – CONHECIMENTO DO LIXO MUNICIPAL ................................................................ 30 4.5 - COMPOSIÇÃO DO LIXO ......................................................................................... 32 4.6 – TRATAMENTO E DISPOSIÇÃO FINAL DO LIXO ...................................................... 36 4.6.1 - COMPACTAÇÃO ................................................................................................ 37 4.6.2 - TRITURAÇÃO .................................................................................................... 38 4.6.3 - INCINERAÇÃO ................................................................................................... 38 4.6.4 - COMPOSTAGEM ................................................................................................ 38 4.6.5 - RECICLAGEM .................................................................................................... 38 4.6.6 - LIXÃO ............................................................................................................... 39 4.6.7 - ATERRO CONTROLADO ..................................................................................... 40 4.6.8 - ATERRO SANITÁRIO .......................................................................................... 41 4.6.8.1 - TRATAMENTO POR DIGESTÃO ANAERÓBIA ......................................................... 43 4.6.8.2 - TRATAMENTO POR DIGESTÃO AERÓBIA ............................................................. 43 4.6.8.3 – TRATAMENTO BIOLÓGICO ............................................................................... 44 4.6.8.4 – TRATAMENTO POR DIGESTÃO SEMI-ANAERÓBIA ................................................ 44 4.7 – ATERRAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS ............................................ 45 4.8 – DENSIDADE DOS RESÍDUOS E PRODUÇÃO DE GÁS ............................................... 48 4.9 – DRENAGEM DE BIOGÁS E PERCOLADO DA MASSA DE LIXO ................................ 49 V - GÁS DE ATERRO (LANDFILL GÁS): .............................................................. 52 5.1 – COMPOSIÇÃO, CARACTERÍSTICA E EXPLOSIVIDADE DO GÁS DE ATERRO ........... 52 5.1.1 - CONSTITUINTES PRINCIPAIS DO GÁS DE ATERRO ............................................... 52 5.1.2 - CONSTITUINTES DO GÁS DE ATERRO EM QUANTIDADES TRAÇADAS .................. 54 5.1.3 - COMPARAÇÃO COM OUTROS GASES .................................................................. 55 5.1.4 - EXPLOSIVIDADE DOS GASES ............................................................................. 56 5.1.4.1 - LIMITES DE EXPLOSIVIDADE INFERIOR E SUPERIOR (LEL E UEL)................. 58 5.1.4.2 - EXPLOSÕES DE GÁS DE ATERRO ..................................................................... 59 5.1.4.3 - FAIXAS DE GASES QUE PODEM CAUSAR PERIGO DE EXPLOSÃO ....................... 60 5.1.4.4 - AVALIAÇÃO DE PERIGO DE EXPLOSÃO CAUSADO POR UM ATERRO ................. 61 5.2 - GERAÇÃO DE GÁS (LANDFILL GAS) E FATORES DE GERAÇÃO .............................. 62 5.2.1 - FATORES QUE AFETAM A GERAÇÃO DE GÁS ..................................................... 67 5.2.2 - A DECOMPOSIÇÃO BIOLÓGICA E FASES DE PRODUÇÃO DE GÁS ....................... 69 5.3 – IMPORTÂNCIA DA MODELAGEM E MODELOS DE PRODUÇÃO DE GÁS .................. 76 5.3.1-IMPORTÂNCIA DA MODELAGEM DA GERAÇÃO DE LFG E DA AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE RECURSO LFG COMBUSTÍVEL ............................................................. 76 5.3.2 - O MODELO SCHOOL CANYON E OUTROS MODELOS DE PRODUÇÃO DE GÁS ....... 78 5.3.2.1 - OUTROS MODELOS DE PRODUÇÃO DE GÁS .................................................... 83 5.4 - MOVIMENTO DOS GASES EM ATERROS .............................................................. 106 5.4.1 - MOVIMENTO DOS PRINCIPAIS GASES DE ATERRO ............................................ 109 5.4.3 - MIGRAÇÃO DESCENDENTE DO GÁS DE ATERRO ............................................... 110 5.4.4 - FATORES QUE AFETAM A MIGRAÇÃO DO GÁS .................................................. 111 5.4.5 - MOVIMENTO DE OLIGOGASES ......................................................................... 113 5.5 - CONTROLE PASSIVO DOS GASES DE ATERRO ..................................................... 116 5.5.1 - VENTILAÇÃO PARA REBAIXAR A PRESSÃO/QUEIMADORES NA COBERTURA DO ATERRO ..................................................................................................................... 117 5.5.2 - VALAS PERIMETRAIS DE INTERCEPTAÇÃO ....................................................... 118 5.5.2.1 - VALA PERIMÉTRICA TIPO BARREIRA ............................................................ 118 5.5.3 - BARREIRAS IMPERMEÁVEIS DENTRO DOS ATERROS ........................................ 121 5.5.4 - USO DE BARREIRAS ABSORVENTES PARA OLIGOGASES DENTRO DO ATERRO ... 121 5.5.5 - CONTROLE ATIVO DE GASES DE ATERRO COM INSTALAÇÕES PERIMÉTRICAS 121 5.6 - TÉCNICAS UTILIZADAS EM MONITORAMENTO DE GÁS METANO ....................... 126 5.6.1. ESTUDOS COMPARATIVOS DE TÉCNICAS UTILIZADAS EM MEDIÇÕES DE METANO .................................................................................................................................. 128 5.7 - OXIDAÇÃO DE METANO ..................................................................................... 129 5.7.1. BACTÉRIAS OXIDADORAS DE METANO ............................................................. 129 5.7.2. O SIGNIFICADO DA OXIDAÇÃO DE METANO EM ATERROS CONTROLADOS ......... 130 5.8 - GESTÃO DO GÁS DE ATERRO ............................................................................. 131 5.8.1 - INCINERAÇÃO DOS GASES DE ATERRO ............................................................. 131 5.8.2 - SISTEMAS PARA RECUPERAÇÃO DE ENERGIA A PARTIR DO GÁS DE ATERRO .... 132 5.8.3 - PURIFICAÇÃO E RECUPERAÇÃO DO GÁS .......................................................... 134 5.9 - LFG (LANDFILL GÁS) APLICAÇÕES, ECONOMIAS E UTILIZAÇÃO ...................... 134 5.9.1 - AS ECONOMIAS DE CONTROLE E UTILIZAÇÃO DO GÁS DE ATERRO ................... 135 5.9.1.1 - VANTAGENS DE RECUPERAÇÃO DE ENERGIA DO LFG................................. 135 5.9.1.2 - ECONOMIAS DE CONVERSÃO DO LFG EM ENERGIA ..................................... 135 5.9.1.3 - ECONOMIAS DE GERAÇÃO ELÉTRICA........................................................... 138 VI – ESTUDO DE CASO........................................................................................... 140 6.1 - CENTRAL DE TRATAMENTO DE RESÍDUOS DE ADRIANÓPOLIS ........................... 140 6.1.1 - QUANTIDADE DE RESÍDUO GERADA ............................................................... 142 6.1.2 - CARACTERIZAÇÃO DO ATERRO SANITÁRIO .................................................... 143 6.1.3 - CANALIZAÇÃO DAS NASCENTES D'ÁGUA EXISTENTES NA ÁREA DO ATERRO . 144 6.1.4 - TRATAMENTO E IMPERMEABILIZAÇÃO DE FUNDAÇÃO ................................... 145 6.1.5 - DISPOSIÇÃO DOS RESÍDUOS ............................................................................ 147 6.1.6 - SISTEMA DE DRENAGEM DE PERCOLADOS E GASES ........................................ 149 6.1.7 - SISTEMAS DE DRENAGEM DE ÁGUAS PLUVIAIS .............................................. 150 6.1.8 - INSTRUMENTAÇÃO DE CONTROLE E MONITORAMENTO ................................. 150 6.1.9 - APROVEITAMENTO DO BIOGÁS ....................................................................... 151 6.2. ATERRO CONTROLADO TERRA BRAVA ............................................................... 151 6.2.1 – SISTEMA DE COLETA DE GASES E PERCOLADOS............................................. 152 6.2.2 – RECUPERAÇÃO DO BIOGÁS ............................................................................ 153 6.3 - PRODUÇÃO DE GASES NOS ATERROS NOVA IGUAÇU E TERRA BRAVA RELACIONADOS AO PROCESSO DE DECOMPOSIÇÃO BIOLÓGICA OU DIGESTÃO ANAERÓBIA ............................................................................................................... 153 VII - APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E DISCUSSÕES......................... 157 7.1 - GRANULOMETRIA DO SOLO DE COBERTURA DO ATERRO TERRA BRAVA .......... 157 ESTE SOLO É DE GRANULAÇÃO GROSSEIRA, POIS SEUS PERCENTUAIS DE FINOS SÃO MENORES QUE 50%.................................................................................................... 159 7.2 – CARACTERIZAÇÃO DA CURVA DE RETENÇÃO DE UMIDADE DO ATERRO TERRA BRAVA....................................................................................................................... 160 7.3 – RESULTADOS DOS ENSAIOS DA CAMADA DE COBERTURA DO ATERRO NOVA IGUAÇU...................................................................................................................... 161 7.3.1 – GRANULOMETRIA DO SOLO DE COBERTURA ................................................... 161 7.3.2 – COMPACTAÇÃO DO SOLO DE COBERTURA ...................................................... 162 7.3.2.1 – ENSAIOS CBR/ ISC (ÍNDICE SUPORTE CALIFÓRNIA) .................................. 165 7.3.3 – PERMEABILIDADE DO SOLO DE COBERTURA ................................................... 165 7.5 - APLICAÇÃO DOS MODELOS SCHOOL CANYON E LIMA:......................................... 166 7.5.1 – RESULTADOS OBTIDOS COM OS MODELOS SCHOOL CANYON E LIMA .............. 168 7.6 – GRÁFICOS ......................................................................................................... 173 7.6.1 - EXPLOSIVIDADE DOS ATERROS NOVA IGUAÇU E TERRA BRAVA .................... 173 7.6.2 – GÁS METANO (CH4) DOS ATERROS NOVA IGUAÇU E TERRA BRAVA ............. 174 7.6.3 – GÁS DIÓXIDO DE CARBONO (CO2) DOS ATERROS NOVA IGUAÇU E TERRA BRAVA....................................................................................................................... 175 7.6.4 – OXIGÊNIO (O2) DOS ATERROS NOVA IGUAÇU E TERRA BRAVA ..................... 176 7.6.5 – GÁS SULFÍDRICO (H2S) DOS ATERROS NOVA IGUAÇU E TERRA BRAVA......... 177 7.6.6 – TEMPERATURAS DOS GASES DOS ATERROS NOVA IGUAÇU E TERRA BRAVA . 178 7.6.7 – CROMATOGRAFIA CH4 E CO2 DOS ATERROS NOVA IGUAÇU E TERRA BRAVA179 7.7 - ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS RESULTADOS DA CROMATOGRAFIA DOS GASES CO2 E CH4 DOS ATERROS NOVA IGUAÇU E TERRA BRAVA.................................................. 181 7.7.1 - DIÓXIDO DE CARBONO (CO2) DO ATERRO NOVA IGUAÇU.............................. 182 7.7.2 - METANO (CH4) DO ATERRO NOVA IGUAÇU ................................................... 183 7.7.3 – DIÓXIDO DE CARBONO (CO2) DO ATERRO TERRA BRAVA ............................. 184 7.7.4 – METANO (CH4) DO ATERRO TERRA BRAVA .................................................. 185 7.7.5 – ANÁLISE DOS RESULTADOS ........................................................................... 186 7.8 - DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ........................................................................... 186 7.8.1 – MODELOS SHOOL CANYON E LIMA ................................................................ 186 7.8.2 - EXPLOSIVIDADE.............................................................................................. 187 7.8.3 - METANO ......................................................................................................... 187 7.8.4 - DIÓXIDO DE CARBONO ................................................................................... 187 7.8.5 - OXIGÊNIO ....................................................................................................... 188 7.8.6 - SULFETO DE HIDROGÊNIO............................................................................... 188 7.8.7 - TEMPERATURA ............................................................................................... 189 7.9 - OBSERVAÇÕES FINAIS PARCIAIS ........................................................................ 190 VIII - CONCLUSÕES E PROPOSTAS PARA NOVAS PESQUISAS................. 191 8.1 – CONCLUSÃO ...................................................................................................... 191 8.2 – PROPOSTAS PARA NOVAS PESQUISAS ............................................................... 192 IX - COMENTÁRIOS FINAIS ................................................................................. 193 X – REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ................................................................... 195 ANEXO A.....................................................................................................................204 ANEXO B.....................................................................................................................213 ANEXO C.....................................................................................................................218 ANEXO D.....................................................................................................................221 LISTA DE FIGURAS Figura 2.1.a – Princípio de duas fases – Barker ...................................................... 6 Figura 2.1.b – Rotas de transformação da matéria orgânica ................................... 7 Figura 2.1.c - Analogia ao trato digestivo dos ruminantes (LIMA, 2002)............ 11 Figura 2.1.d - Modelo de produção de biogás em aterros sanitários..................... 13 Fonte: Rees, 1980 in Castilhos Jr. et al., 2003....................................................... 13 Figura 2.1.e - Modelo de evolução dos gases em aterros sanitários...................... 13 Fonte: Stanforth et al., 1979 in Castilhos Jr. et al. 2003........................................ 14 Figura 2.1.f - Modelo teórico de degradação dos resíduos em aterros sanitários . 14 Figura 3.1 – Diagrama de Monitoramento ............................................................ 16 Figura 3.2 – Medidor de Gases ............................................................................. 18 Figura 3.3 – Medidor de Temperatura................................................................... 19 Figura 3.4 – Seringa Coletora................................................................................ 20 Figura 3.5 – Sistema cromatográfico para cromatografia ..................................... 21 Figura 3.6 – Cravação do Cilindro no solo............................................................ 23 Figura 3.7 – Aparelho extrator de Richards .......................................................... 25 Figura 4.1 - Composição percentual média de lixo domiciliar em alguns países. 33 Figura 4.2 – Geração anual e formas de gerenciamento de resíduos em alguns países desenvolvidos (dados em milhões de t/ano) ................................................ 34 Figura 4.3 – Composição percentual média de lixo domiciliar............................. 35 Figura 4.4 – Destinação final do lixo no Brasil..................................................... 36 Figura 4.5 - Vazadouro ou Lixão .......................................................................... 40 Figura 4.6 – Detalhes de um aterro sanitário......................................................... 42 Figura 4.7 – Processos empregados no tratamento de resíduos sólidos ................ 42 Figura 4.8.a – Método de Trincheira..................................................................... 46 Figura 4.8.b – Método de Rampa.......................................................................... 47 Figura 4.8.c – Método de Área.............................................................................. 47 Figura 4.9 – Dreno de Gás do Aterro de Nova Iguaçu.......................................... 50 Figura 5.1.1 – Triângulo do Fogo.......................................................................... 56 Figura 5.1.2 – Exibição de Caminhos Potenciais do Gás de Aterro...................... 58 Figura 5.2.a - CARACTERIZAÇÃO PRELIMINAR DO LFG LOCAL............. 65 Figura 5.2.b – Fases de geração de gases variando com o tempo ......................... 71 Figura 5.2.c – Fases geradas na geração de gases de aterro (modificado por Kreith, 1994)....................................................................................................................... 73 Figura 5.3.a – Aterro de Adrianópolis em Nova Iguaçu (2003) ........................... 77 Figura 5.3. b - Exemplo de curvas de geração de LFG......................................... 81 Figura 5.3.c – Modelo triangular de produção de biogás para resíduos rapidamente biodegradáveis ........................................................................................................ 91 Figura 5.3.d – Modelo triangular de produção de biogás para resíduos lentamente biodegradáveis ........................................................................................................ 92 Figura 5.3.e – Produção de gás durante um período de cinco anos a partir de materiais orgânicos rapidamente e lentamente decompostos colocados num aterro. ................................................................................................................................ 92 Fonte: Lima, 2002................................................................................................ 105 Figura 5.3.g – Distribuição de áreas no cálculo de FD ....................................... 105 Fonte: Lima, 2002................................................................................................ 105 Figura 5.3.h – Distribuição de áreas para o cálculo de MD ................................ 105 Figura 5.4.1 – Volume de Controle para o movimento vertical do gás de aterro 107 Figura 5.4.2 – Esquema do movimento de oligogases de aterro através da cobertura do aterro................................................................................................ 114 Figura 5.5.1 – Chaminés de gás utilizadas na superfície de um aterro para o controle passivo do gás de aterro: (a) Chaminé de gás para um aterro que não contém um recobrimento com geomembrana, e (b) Chaminé de gás para um aterro que contém um recobrimento com geomembrana sintética. ................................ 117 Figura 5.5.2 - Queimador típico tipo candelabro para gás de resíduos, utilizado para queimar o gás de aterro procedente de um poço de ventilação ou de vários poços de ventilações interconectados: (a) sem chama piloto e (b) com chama piloto..................................................................................................................... 119 Figura 5.5.3 – Instalações passivas utilizadas para controlar o gás de aterro: (a) base interceptora recheada com brita y com tubulação perfurada; (b) base de barreira perimétrica, e (c) uso de recobrimento impermeável no aterro. Há que ressaltar, que as bases interceptoras perimétricas são usadas para controlar a migração de gás de aterro em aterros sem recobrimento...................................... 120 Figura 5.5.4 - Instalações ativas utilizadas para o controle subsuperficial da migração do gás de aterro: (a) chaminés perimétricas para a extração do gás do aterro e (b) vala perimétrica para a extração do gás de aterro. ............................. 124 Figura 5.5.5 - Detalhe representativo de uma chaminé para a extração do gás de aterro. (cortesia da Junta de Califórnia para a Gestão Integral de Resíduos)....... 125 Figura 5.8.1 - Diagrama de fluxo esquemático para a recuperação de energia a partir de combustível gasoso: (a) utilizando motor de combustão interna, e (b) utilizando turbina a gás......................................................................................... 133 Figura 6.1 - Vista parcial do aterro sanitário em operação ................................. 140 Figura 6.2 - Mapa de Localização do Aterro Nova Iguaçu (CTR)...................... 141 Figura 6.3 - Layout da área total do aterro sanitário ........................................... 142 Figura 6.4 - Dreno das nascentes......................................................................... 144 Figura 6.5 - Detalhe do dreno principal da nascente ........................................... 145 Figura 6.6.a – Manta PEAD sobre a base preparada........................................... 146 Figura 6.6.b – Cobertura de solo sobre a manta PEAD ...................................... 146 Figura 6.7.a – 1ª Disposição de resíduos no aterro ............................................. 148 Figura 6.7.b - Disposição de resíduos no aterro.................................................. 148 Figura 6.8 - Dreno vertical nº. 1 de biogás.......................................................... 149 Figura 6.9 - Representação esquemática da interação interespécies nos bioreatores anaeróbios (Adaptação de Barbosa,1988, Vazoller, 1993 e Saw et al., 1988) ..... 155 Figura 7.1 – Curva Granulométrica do Solo próximo ao Dreno 1 ...................... 157 Figura 7.2 – Curva Granulométrica do Solo próximo ao Dreno 2 ...................... 157 Figura 7.3 – Curva Granulométrica do Solo próximo ao Dreno 3 ...................... 158 Figura 7.4 – Sucção versus Umidade Retida....................................................... 160 Figura 7.5 – Compactação do solo da cota 47.00................................................ 162 Figura 7.6 – Compactação do solo da cota 48.00................................................ 163 Figura 7.7 – Compactação do solo da cota 49.40................................................ 163 Figura 7.8 – Compactação do solo da cota 55.00................................................ 164 Figura 7.9 – Produção Anual de Gás do Aterro Terra Brava .............................. 170 Figura 7.10 – Produção Anual de Gás do Aterro Nova Iguaçu........................... 170 Figura 7.11 – Produção Normal e Acumulada de Metano do Aterro Terra Brava .............................................................................................................................. 171 Figura 7.12 – Produção Normal e Acumulada de Metano do Aterro Nova Iguaçu .............................................................................................................................. 172 Figura 7.13 – Limite inferior de explosividade do Aterro Nova Iguaçu ............. 173 Figura 7.14 – Limite inferior de explosividade do Aterro Terra Brava .............. 173 Figura 7.15 – Gás metano do Aterro Nova Iguaçu.............................................. 174 Figura 7.16 – Gás metano do Aterro Terra Brava ............................................... 174 Figura 7.17 – Gás dióxido de carbono do Aterro Nova Iguaçu .......................... 175 Figura 7.18 – Gás dióxido de carbono do Aterro Terra Brava............................ 175 Figura 7.19 – Oxigênio do Aterro Nova Iguaçu.................................................. 176 Figura 7.20 – Oxigênio do Aterro Terra Brava ................................................... 176 Figura 7.21 – Gás sulfídrico do Aterro Nova Iguaçu .......................................... 177 Figura 7.22 – Gás sulfídrico do Aterro Terra Brava ........................................... 177 Figura 7.23 – Temperaturas dos gases do Aterro Nova Iguaçu .......................... 178 Figura 7.24 – Temperaturas dos gases do Aterro Terra Brava............................ 178 Figura 7.25 – Metano do Aterro Nova Iguaçu e Pluviometria ............................ 179 Figura 7.26 – Metano do Aterro Terra Brava e Pluviometria ............................. 179 Figura 7.27 – Dióxido de Carbono do Aterro Nova Iguaçu e Pluviometria ....... 180 Figura 7.28 – Dióxido de Carbono do Aterro Terra Brava e Pluviometria......... 180 Figura 7.29 – Efeitos causados a saúde humana pelo H2S .................................. 189 LISTA DE QUADROS E TABELAS Tabela 2.0 – Fases da degradação biológica dos resíduos sólidos em aterros................ 15 Tabela 3.1-Calibração dos Sensores............................................................................... 17 Tabela 3.2-Gases e alarmes ............................................................................................ 18 Quadro 4.1 – Classificação dos resíduos sólidos quanto à periculosidade..................... 28 Quadro 4.2 - Informações necessárias ao planejamento do gerenciamento do lixo....... 31 Quadro 4.3 - Estimativa da Quantidade de Lixo Gerada................................................ 32 Tabela 4.1 – Variação na composição dos resíduos sólidos em São Paulo....................... i Quadro 4.4 – Tempo de decomposição dos resíduos sólidos na natureza...................... 37 Quadro 4.5 – Vantagens do processo aeróbio sobre o anaeróbio................................... 43 Tabela 4.2 – Produção de gás em aterro versus compactação........................................ 48 Tabela 5.1.1 – Constituintes típicos encontrados no gás de aterro de RSU* ................. 52 Tabela 5.1.2 – Composição do biogás............................................................................ 53 Tabela 5.1.3 – Peso molecular, densidade e peso específico dos gases encontrados no aterro controlado em condições padrão (0 ºC, 1 atm) .................................................... 53 Tabela 5.1.4 .................................................................................................................... 54 Concentrações típicas de compostos em quantidades traço encontrados no gás de aterro em 66 aterros de RSU em Califórnia.............................................................................. 54 Tabela 5.1.5 – Comparação entre os principais gases .................................................... 55 Tabela 5.1.6 - Temperatura mínima de Auto-Ignição .................................................... 57 Tabela 5.1.7 – Potencial de perigo de explosão de componentes comuns do gás de aterro ........................................................................................................................................ 61 Tabela 5.3.1 - Precipitação anual e Valores de K........................................................... 81 Tabela 5.3.2 – Valores de L0 sugeridos para o Conteúdo Lixo Orgânico ...................... 83 Tabela 5.3.3 – Constituintes orgânicos rapidamente e lentamente biodegradáveis nos resíduos........................................................................................................................... 89 Tabela 5.3.4 - Biodegradabilidade dos constituintes orgânicos nos resíduos ................ 89 Tabelas 5.3.5 – Componentes dos resíduos orgânicos decompostos e seus elementos químicos ......................................................................................................................... 90 Tabela 5.3.6 – Relação molar dos componentes ............................................................ 90 Tabela 5.3.7 – Sistema de classificação de aterros adaptado no Estado da Califórnia (1984) ............................................................................................................................. 93 Tabela 5.3.8 – Locais de disposição de resíduo e Fator de Correção de Metano........... 94 Tabela 5.3.9 – Componente dos resíduos e seu COD .................................................... 95 Tabela 5.3.10 – Tipos de modelos e suas equações........................................................ 96 Tabela 5.3.11 – Parâmetros estimados para os modelos de geração de biogás em aterros propostos por Oonk & Boom (1995).............................................................................. 98 Tabela 5.3.12 – Categoria de resíduos de acordo com o modelo ADEME.................. 101 Tabela 5.3.13 - Grau de biodegradabilidade e componentes do lixo ........................... 103 Tabela 5.3.14 – Tipo de lixo e composição.................................................................. 103 Tabela 5.3.15 – Componentes e tempo de bioestabilização ......................................... 103 Tabela 5.4.1.a – Coeficiente de Difusão dos Oligocompostos..................................... 115 Tabela 5.4.1.b – Medidas e saturações das concentrações de 10 compostos traçadas em fase gás ......................................................................................................................... 115 Tabela 5.4.1.c – Concentração de Vapor dos Oligocompostos .................................... 116 Tabela 5.5.1 – Materiais seladores de aterro para o controle do movimento de gás.... 121 e lixiviado ..................................................................................................................... 121 Tabelas 5.6 – Estimativas de emissões totais de metano de resíduos sólidos domiciliares ...................................................................................................................................... 127 Tabela 5.7 – Estimativas de oxidação de metano em aterros sanitários feitos com análises de metano 13C.................................................................................................. 130 Tabela 5.8.1 .................................................................................................................. 132 Elementos de projeto importantes para os queimadores de gás de aterro selados a nível de solo........................................................................................................................... 132 Tabela 5.9.1 - Comparação de Custos por Tecnologias típicas de Recuperação de Energia de LFG (Dólares de 1992) .............................................................................. 136 Tabela 5.9.2 - Condições Necessárias Para Custos Competitivos Em Utilização de Projetos de LFG............................................................................................................ 137 Tabela 6.1 - Resíduos Depositados na CTR - Nova Iguaçu (toneladas) ...................... 143 Tabela 6.3 – Estágios de Decomposição Biológica e Gases Produzidos ..................... 153 Tabela 7.1 – Percentual de material do solo de cobertura ............................................ 158 Tabela 7.2 – Percentual de finos passando pela malha 200.......................................... 159 Tabela 7.3 – Constituição do solo por cota de aterro ................................................... 161 Tabela 7.4 – Material passando na peneira 200............................................................ 161 Tabela 7.5 – Índices de Consistência do Solo .............................................................. 162 Tabela 7.6 – Umidade ótima e Peso específico ............................................................ 164 Tabela 7.7 – Índice Suporte Califórnia......................................................................... 165 Tabela 7.8 – Permeabilidade do solo............................................................................ 165 Tabela 7.9 – Parâmetros de entrada dos modelos......................................................... 166 Tabela 7.10 – Composição Gravimétrica ..................................................................... 167 Tabela 7.11 – Composição Gravimétrica Média .......................................................... 167 Tabela 7.12 – Resultados do Modelo School Canyon para o Aterro Terra Brava ....... 168 Tabela 7.13 – Resultados do Modelo School Canyon para o Aterro ........................... 169 Nova Iguaçu.................................................................................................................. 169 Tabela 7.14 – Resultado do Modelo de Lima para o Aterro Terra Brava .................... 171 Tabela 7.15 – Resultado do Modelo de Lima para o Aterro Nova Iguaçu................... 172 Tabela 7.16 – Classificação do índice de correlação.................................................... 181 I – INTRODUÇÃO A cada dia o aumento das emissões de gases provenientes de fontes antropogênicas tem sido uma das causas do aumento do efeito estufa. Uma das fontes emissoras de gases são os aterros e lixões que contribuem para a poluição atmosférica e o agravo do efeito estufa. Após a disposição dos resíduos num aterro, inicia-se a decomposição biológica dos resíduos. A decomposição inicia-se de modo aeróbio, e após o consumo do oxigênio presente, esta decomposição continua a ocorrer num ambiente anaeróbio, que passará a liberar gases e líquidos poluentes para o meio. Os gases gerados pela decomposição biológica são o metano, dióxido de carbono, sulfeto de hidrogênio e outros compostos-traço. O metano é um gás de efeito estufa com um potencial de aquecimento global (Global Warming Potencial - GWP) 21 vezes maior que o dióxido de carbono, como também responsável por 25% do aquecimento terrestre. O metano, por ser um dos constituintes do biogás e aparecer em maior quantidade, sua contribuição para o aumento do efeito estufa traz conseqüências para mudanças climáticas, além disso, este gás também traz perigo de incêndios e explosões quando encontrado nos seus limites de explosividade. A qualidade e a quantidade do gás de aterro podem variar de acordo com a quantidade e a composição dos resíduos, tipos de resíduos, com a decomposição biológica, condições ambientais e operação de aterros. Pela cobertura dos aterros também ocorre a emissão de gases provenientes da degradação biológica dos resíduos. As quantidades emitidas de LFG (Landfill Gás) que passam pela cobertura precisam ser conhecidas para poder controlá-las. É possível estimar a quantidade de gás através de modelos matemáticos que dão, de certa forma, a quantidade de gás estimada que possa ser emitida para a atmosfera. No Brasil estudos sobre gases em aterros vem se tornando a cada dia mais freqüentes, devido ao gás ter seu valor energético como sendo uma alternativa em gerar energia elétrica, pois sua recuperação trará enorme benefício ao setor elétrico, como também ajudará a reduzir as emissões de metano para a atmosfera contribuindo com o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). A alternativa de aproveitamento energético do gás e a redução de emissões, associadas à venda de créditos carbono estariam atingindo as metas estabelecidas pelo Protocolo de Quioto. A presente pesquisa faz parte de um programa que busca contribuir no estudo da geração de gases em aterros de resíduos sólidos. A linha de pesquisa da qual faz parte a presente dissertação vem sendo desenvolvida pelo G3, Grupo de Estudo de Tecnologia de Resíduos, coordenado pelo Professor Cláudio Fernando Mahler. No segundo capítulo o histórico dos gases é apresentado. No terceiro capítulo a metodologia e materiais são apresentados. No quarto capítulo é feita uma revisão bibliográfica da questão dos resíduos sólidos. Uma extensa revisão sobre a questão de gases em aterros de resíduos sólidos é apresentada no capítulo quinto. No capítulo seis os casos estudados são descritos e no capítulo sete são apresentados os resultados dos ensaios com solos e das medidas de campo e laboratório com gases, como também as discussões dos resultados que são apresentadas. O capítulo oito trata das conclusões das pesquisas desenvolvidas no presente trabalho. 1.1 – Objetivo deste Trabalho O objetivo se divide em dois aspectos: Geral: Estudar a produção de gás em aterros de resíduos sólidos, em especial quanto aos aspectos de qualidade, explosividade e recuperação energética do gás. Específico: Analisar aspectos relativos aos gases produzidos em aterros sanitários e controlados, considerando ainda o papel geotécnico da cobertura no controle das emissões gasosas. 1.2 – As Hipóteses deste Trabalho As hipóteses estabelecidas são: 1.2.1. As emissões de metano e CO2 em aterros de resíduos sólidos urbanos apresentam durante a fase construtiva resultados acentuadamente diferenciados. 1.2.2. Coberturas mais permeáveis induzem a uma maior oxigenação do aterro e uma degradação mais acelerada, conduzindo, contudo quando das ocorrências de chuvas a uma maior presença de metano dos gases emitidos. II – HISTÓRICO DOS GASES 2.1-Histórico dos Gases Relacionado à Degradação Biológica dos Resíduos Sólidos A produção do hidrocarboneto saturado mais simples, o metano, cuja fórmula molecular é CH4, é também um fenômeno presente na natureza ao longo dos tempos. O denominado “gás dos pântanos” foi descoberto por Shirley em 1667 e o reconhecimento do metano como um de seus componentes foi definido pelo físico Alessandro Volta, em 1776 (PINHEIRO, 2002 modificado). O cientista PASTEUR, L. (1856), pode demonstrar a utilização dos microorganismos em benefício da humanidade, de forma que fosse aplicado no tratamento de doenças e na produção de alimentos e bens de consumo. O próprio Pasteur não pode prever que com esta descoberta poderia ser utilizada em outras áreas, podendo solucionar problemas quanto à questão do tratamento e destinação final dos resíduos sólidos urbanos e no emprego de remediação de lixões e vazadouros. Posteriormente, Ulysse Gayon (1883), aluno de Louis Pasteur, realizou a primeira fermentação anaeróbia conseguindo produzir 100 ℓ/m3 de gás a partir de uma mistura de esterco e água, a 35ºC. Em 1884, Louis Pasteur, ao apresentar à Academia das Ciências os trabalhos do seu aluno, considerou que esta fermentação podia constituir uma fonte de aquecimento e iluminação. Uma das primeiras unidades de produção semi–industriais data de 1895, no Reino Unido, onde foi construído um digestor de lodos obtidos por decantação de esgotos domésticos da cidade de Exeter. O gás produzido era usado para a iluminação das ruas da cidade. Não obstante, a despeito dos estudos realizados por Pasteur, um sumário relacionado à retrospectiva conceitual, revela que a história da degradação biológica coincide com a história da biotecnologia, onde esta teve início no Egito há 6.000 anos atrás, onde os alimentos e bebidas produzidas eram fermentados por meio de microorganismos. Apesar da grande contribuição dos antepassados e de Pasteur, no século XX tiveram grandes contribuições e avanços para o estado da arte, onde participaram vários pesquisadores, não tão conhecidos, ligados as várias universidades e centros de pesquisas em todo o mundo, citando como exemplo, MITSCHERLICH (1939), que formulou um postulado de grande importância tecnológica quando aplicado aos microorganismos: “Nenhum organismo e nenhuma população cresce indefinidamente. Existem limitações estabelecidas pela disponibilidade de alimentos, abrigo, falta de espaço, por condições físicas intoleráveis ou por algum mecanismo de controle”. Segundo Mitscherlich, o que se pode perceber é que os microorganismos atuam em grupo seguindo o mesmo comportamento de outros seres vivos e que podem ser plenamente controláveis por mecanismos artificiais, constituindo-se, este postulado, na base da biotecnologia aplicada. O pesquisador MONOD, J. (1942), deu sua contribuição para biotecnologia, formulando um importante postulado: “A taxa de crescimento microbiano depende de substrato”, sendo este postulado a relação existente do desenvolvimento da espécie microbiana, possibilitando com isso dosar a quantidade de material orgânico a ser transformado em função da concentração microbiana, ou vice versa, dosar a quantidade de microorganismos decompositores em função da concentração de substrato. 2.1.1 - Princípio de BARKER Em 1951, KAPLOVSKY formulou o princípio da divisibilidade da decomposição biológica anaeróbia dos resíduos sólidos, contribuindo para o favorecimento a aplicabilidade dos microorganismos em escala industrial. Nos estudos de IMHOFF, inventor da fossa séptica, que também observou o processo de decomposição ocorrida em dois tempos, Kaplovsky pode basear suas conclusões através destes estudos. Pela ordem cronológica, pode-se afirmar que essa observação foi precursora do princípio de duas fases. A compreensão deste princípio se deve na realidade a BARKER (1956) que o deduziu quando estudava a fermentação bacteriana. Segundo Barker, o processo de decomposição pode ser apresentado desta forma: Bactérias formadoras de ácidos RESÍDUOS ORGÂNICOS COMPLEXOS ÁCIDOS ORGÂNICOS CH4 (metano) + CO2 (Dióxido de Carbono) Bactérias formadoras de metano Figura 2.1.a – Princípio de duas fases – Barker Como pode se observar, o diagrama acima, mostra inicialmente a matéria orgânica do lixo consumida por microorganismos formadores de ácidos. Como resultado desta primeira fase, são gerados ácidos graxos, açucares e outros compostos orgânicos de baixo peso molecular. Em seguida surge uma outra fase, onde os ácidos são consumidos por microorganismos formadores de metano e dióxido de carbono como um dos produtos finais. 2.1.2 - Os Postulados de ELIASSEN Na década de 40 a 50, surgiram dois fatos que levaram a uma investigação e o desenvolvimento do processo de decomposição dos resíduos sólidos, que acabou trazendo certa preocupação com a migração de gases dos lixões e a verificação de recalques surgida nos maciços de resíduos quando se pretendia construir sobre estes. Um trabalho muito importante nesse sentido foi publicado por ELIASSEN, R., em 1942, conhecido como os postulados de Eliassen, que estudou diversos lixões de Nova York chegando aos seguintes postulados: Primeiro Postulado: “Os resíduos orgânicos dispostos em aterros e lixões são decompostos por processos biológicos que ocorrem de forma natural dada a presença de microorganismos no lixo”; Segundo Postulado: “A decomposição em aterros e lixões é um processo essencialmente anaeróbio”; Terceiro Postulado: “A metanogênese ocorre em condições sub-ótimas”; Quarto Postulado: “A temperatura, o teor de umidade e o pH, são fatores que influenciam no processo de decomposição biológica”; Quinto Postulado: “Os recalques resultam dos vazios deixados pela transformação da matéria orgânica em gases e líquidos”. Embora, nos dias atuais, os postulados de Eliassen pareçam bastante óbvios, levando-se em conta a época em que foram formulados, constituem-se verdadeiras provas provenientes da capacidade investigativa desse pesquisador que muito pode contribuir para o estado da arte. 2.1.3 - A Rota de McCARTY Na década de 60 surgiu o trabalho de McCARTY, P.L. (1964), onde tornou bem claro o princípio de duas fases quando apresentou um interressante esquema onde algumas rotas de transformação foram simuladas, como é ilustrado na figura abaixo: MATÉRIA ORGÂNICA 15% 65% ÁCIDO PROPIÔNICO 15% OUTROS ÁCIDOS Fase Ácida 20% ÁCIDO ACÉTICO 35% 17% 72% Fase Metânica CH4 (Metano) 13% 15% Figura 2.1.b – Rotas de transformação da matéria orgânica (McCarty, P.L.) Seguindo as observações feitas por McCarty, outros autores como, IMSHENETSKY (1968), KOTZE , et al. (1968), TEORIEN e HATTING (1969), puderam confirmar a tese sobre a divisibilidade do processo de decomposição anaeróbia. Segundo o princípio de duas fases, no processo de decomposição anaeróbia ocorre primeiramente a fase ácida, onde as reações de hidrólise dão início a redução da matéria orgânica complexa a compostos solúveis menores através de enzimas extra celulares. Os produtos da hidrólise são os ácidos graxos, açucares simples, aminoácidos e outros compostos orgânicos de peso molecular menor. Durante a hidrólise, os microorganismos que atuam nessa fase conseguem despender muito mais energia do que consegue ganhar. Apesar disto, existe um aumento disponível de energia no meio, que está relacionado às alterações sofridas pela matéria orgânica, sendo fonte de energia a ser utilizada nas reações que se seguem. Atividades adicionais, neste estágio, tendem complementar as modificações da matéria orgânica que estão envolvidas com a captura de energia, a formação de ácidos orgânicos, a produção de amônia (NH3), água e de gases como o hidrogênio. A fase ácida vem acompanhada da atividade microbiana específica com capacidade de transformar os ácidos em gases como metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2). Esta segunda fase é então denominada como metanogênica, onde participam bactérias, fungos e actinomicetes que são microrganismos encontrados no solo, no rúmen bovino e no trato digestivo humano, são também trazidos pelo lixo através do sistema de coleta, pelas atividades de aterramento e/ou por estratégias de biorremediação, ou seja, o uso de microorganismos para acelerar o processo de decomposição e de tratamento dos resíduos. Esses microorganismos obtêm energia a partir de duas reações principais: redução do dióxido de carbono (CO2) pela adição de hidrogênio (H2) para formar metano (CH4) e água (H2O), e a partir da quebra do ácido acético (CH3COOH) formando metano e dióxido de carbono. Segundo ALEXANDER (1971), outros gases são também formados neste estágio, como o nitrogênio (N2) e o sulfeto de hidrogênio ou gás sulfídrico (H2S). O nitrogênio é produzido a partir do processo microbiano de denitrificação, no qual o íon nitrato é reduzido ao mesmo tempo em que atua como aceptor de elétrons. Informações posteriores deste mesmo autor mostram que a denitrificação ocorre imediatamente após a depleção do oxigênio, ou seja, alguns dias depois de ter aterrado os resíduos no aterro. O sulfeto de hidrogênio é produzido por microrganismos redutores de sulfato com íon sulfeto agindo como aceptor de elétrons. Segundo o autor esta reação ocorre em pH neutro ou ligeiramente alcalino. Também durante este estágio outros gases são produzidos, CH3 CH3 CH3 CH2 CH3 e PH3, em quantidades bastante pequenas, porém com certa significância para o aproveitamento pelos microrganismos, como STADTMAN (1967) pode demonstrar. Em resumo, durante a decomposição anaeróbia, segundo o princípio de duas fases, gases como CO2, H2, CH4, N2, H2S, são produzidos por dois grupos distintos de microrganismos, o primeiro, formador de ácidos e o segundo, formador de metano. Estudos realizados por BEARD e McCARTY (1983) em escala de laboratório, na Universidade de Stanford, USA, onde os efeitos de adição de água, inoculo bacteriano e solução tampão foram testados no tratamento de resíduos. Os resultados destas pesquisas são bastante relevantes, quer pelos avanços obtidos na época, quer pelas técnicas empregadas, por exemplo, o ensaio de toxidade de anaerobiose (ETA) e o ensaio potencial bioquímico do metano (PBM). Assim sendo, os seguintes resultados podem então ser resumidos: Realização de um tratamento acelerado de chorume originário de aterro sanitário utilizando um reator biológico operado a uma temperatura de 35ºC; O chorume proveniente do Aterro Sanitário de Mountain View, não é tóxico ou inibitório ao tratamento anaeróbio; Pequeno ou nenhum período de aclimatação foi preciso ou necessário, nem adição de produtos químicos foi necessária para o tratamento do chorume no reator biológico; O teor de metano na composição do gás produzido foi de 70%; Neutralização ou tamponamento do chorume não foi necessário quando a técnica de reciclagem ou lixiviação foi utilizada; Uma carga orgânica de 15 kg de DQO por metro cúbico de volume do reator por dia foi considerada ótima; Tempo de residência hidráulico tão curto, como um dia, mostrou se hábil para promover um eficiente tratamento do chorume; A produção de metano e a eficiência de remoção da DQO dependem da carga orgânica presente no chorume. Uma análise mais aprofundada dos estudos de Beard e McCarty revelou que o chorume proveniente de aterro sanitário, quando tratado em reatores anaeróbios adquire propriedades que favorecem seu tratamento final. Além de tornar fácil o seu tratamento, o chorume resultante do processo anaeróbio pode servir como inóculo metanogênico fazendo acelerar o processo de decomposição da fração sólida, ou passivo ambiental mantido na célula. Essa característica do chorume de ser usado como um inoculante biológico, futuramente poderá ser aplicado no desenvolvimento de sistemas de tratamento de resíduos sólidos, como também em minimizar impactos ambientais causados por algum lixão. 2.1.4 - A Analogia de LIMA Experimentos realizados por LIMA, L.M.Q (1983) na área de biorremediação de aterros de resíduos sólidos de origem domiciliar e industrial, em escalas de laboratório e real, na Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, SP, cuja questão focada é a aceleração da fase metanogênica. Nos estudos de laboratório foram utilizados os seguintes materiais: seis lisímetros de plástico e lã de vidro. Os lisímetros eram preenchidos com resíduos (lixo), isolados com lã de vidro e providos de um sistema de alimentação e coleta de sólidos, líquidos e gases. Os seis lisímetros utilizados no experimento, somente um serviu de testemunho enquanto os outros cinco foram inoculados com diferentes substratos: lodo de esgoto digerido; chorume tratado em reator anaeróbio; chorume cru com alta DQO (80.000 mg/l); chorume cru com baixa DQO (1.000 mg/l); esterco de gado digerido em reator anaeróbio. Os resultados obtidos levaram o autor a concluir que a reciclagem de chorume tratado em reator anaeróbio apresentou bons resultados em termos de aceleração do processo de decomposição. Os resultados também apontaram que os estercos cru e digerido servem de inóculo biológico, possibilitando assim a aceleração da fase metanogênica. Quanto ao chorume cru em excesso, estudos revelaram que ocorreram inibições na fase ácida e na fase metanogênica. Os estudos em escala real foram realizados no Aterro Sanitário de Campinas, SP, em que utilizou duas células, cada uma contendo 100.000 t de resíduos. As células foram preenchidas aplicando-se a técnica de aterramento de resíduos. Uma das células foi conectada a um reator biológico e provida de um sistema de recirculação ou reciclagem de chorume, lixiviação microbiana. A outra célula, a testemunha, foi operada de modo tradicional, sem adição de inóculo, ou seja, sem lixiviação microbiana. Os resultados desse experimento puderam demonstrar que a reciclagem ou recirculação de chorume tratado em reatores biológicos anaeróbios, lixiviação microbiana, permite acelerar o processo de decomposição biológica dos resíduos na razão de 10 vezes, se for comparado com o processo sem lixiviação microbiana. Além do mais, o autor pode observar que realmente existia uma forte interação entre a célula de aterramento e o próprio reator biológico, sendo possível a tratabilidade da massa de sólidos, líquidos e gases in situ, ou seja, no próprio local fazendo uso dos potenciais do meio anaeróbio em decomposição, surgindo desta forma o que se denomina de Aterro Sanitário Celular, ou Sistema de biorremediação de passivo ambiental in situ. O processo desenvolvido e aperfeiçoado por Lima pode ser incluído no rol dos processos da visão inovativa, tal qual como definido pela EPA (Environmental Protection Agency), tratando-se de um processo natural, associada a processos físicoquímico, similar ao que ocorre no trato digestivo dos ruminantes. CÉLULA DE ATERRAMENTO LIXIVIADO LIXIVIAÇÃO BACTERIANA FQ1 RÚMEN CHORUME FQ2 BIO OMASSO ABOMASSO RETÍCULO Figura 2.1.c - Analogia ao trato digestivo dos ruminantes (LIMA, 2002) Segundo LIMA, L.M.Q (1988) a célula de aterro assume o comportamento de um biodigestor ou reator biológico, podendo ser definido, guardando as particularidades, como um reator heterogêneo não convencional, onde a matéria orgânica presente no lixo, quando aterrada, se dá início a um processo de digestão similar ao que ocorre no trato digestivo dos ruminantes. A Figura 4.1.c mostra com mais detalhe esta similaridade. No trato digestivo dos ruminantes, em particular de bovinos, a fração orgânica é processada diretamente no rúmen (célula de aterramento de lixo), onde recebe a cargas microbianas sucessivas (inoculação) oriundas do retículo (reator biológico). O processo é auxiliado pelo abomasso (Reator físico-químico 1) e o omasso (Reator físico-químico 2) os quais servem para equalizar as características do efluente líquido, principalmente o pH (potencial hidrogeniônico) e o Eh (potencial de oxiredução) possibilitando o desenvolvimento da atividade microbiana anaeróbia acetogênica e metanogênica. Ainda nesse processo, a ruminação é substituída pela lixiviação microbiana ou reciclagem de chorume enriquecido, suprindo o processo de digestão de células microbianas ativas, nutrientes, sais minerais e fontes carbono, nitrogênio e outros elementos essenciais. 2.1.5 – Evolução dos Modelos de Produção de Gás provenientes da decomposição dos Resíduos Sólidos: A degradação dos resíduos sólidos urbanos em aterro sanitário é um processo demorado, por está relacionado à velocidade de degradação dos diferentes tipos de resíduos (substratos) e, seqüencial, em razão dos metabolismos distintos que se sucedem ou se superpõem. Alguns modelos globais de degradação foram desenvolvidos na perspectiva de demonstrar as diferentes etapas que conduzem à estabilização dos resíduos. Um primeiro modelo foi proposto por Farquhar e Rovers (1973), identificando quatro fases para a produção de biogás. Fonte: Faquhar e Rovers, 1980 in Castilhos Jr. et al., 2003 Figura 2.1.d - Modelo de produção de biogás em aterros sanitários Uma quinta fase foi adicionada ao modelo proposto por Rees (1980) ao modelo de Farquhar e Rovers. Neste modelo, além dos gases, são ilustradas curvas teóricas de degradação da celulose e dos ácidos graxos voláteis, como mostra a Figura 4.1.e. Fonte: Rees, 1980 in Castilhos Jr. et al., 2003 Figura 2.1.e - Modelo de evolução dos gases em aterros sanitários Assim, do mesmo modo, em um modelo proposto por Stanforth et al. (1979), a degradação dos resíduos em aterro sanitário ocorreria segundo três fases: a primeira fase aeróbia e a segunda fase anaeróbia, sendo que a segunda se dividiria em duas etapas, conforme a Figura 4.1.f abaixo. Fonte: Stanforth et al., 1979 in Castilhos Jr. et al. 2003 Figura 2.1.f - Modelo teórico de degradação dos resíduos em aterros sanitários Finalmente, Pohland e Harper (1985) propuseram cinco fases para avaliar a estabilização dos resíduos em aterro, em função do tempo. Estas fases são manifestações da evolução dos resíduos, cuja variação da qualidade e quantidade dos lixiviados e gases produzidos são os parâmetros indicativos. As diferentes fases são descritas a seguir na tabela: Tabela 2.0 – Fases da degradação biológica dos resíduos sólidos em aterros 1ª FASE (FASE INICIAL) 2ª FASE (FASE DE TRANSIÇÃO) 3ª FASE (FORMAÇÃO ÁCIDA) 4ª FASE (FERMENTAÇÃO METANOGÊNICA) 5ª FASE (MATURAÇÃO FINAL) Aterramento dos resíduos nas células e início do acúmulo de umidade; Capacidade de retenção em água dos resíduos é ultrapassada e inicia-se a formação lixiviados; Os ácidos graxos voláteis (AVGs) se tornam preponderantes nos lixiviados; Produtos intermediários que apareceram na fase ácida são transformados em metano e dióxido de carbono em excesso; Estabilização dos componentes orgânicos disponíveis os resíduos e solubilizados nos lixiviados; Compactação inicial dos resíduos e fechamento das células do aterro; Passagem de condições aeróbias para anaeróbias. O aceptor de elétron passa do O2 para os nitratos e sulfatos; Diminuição do pH se produz com mobilização e possível complexação de espécies metálicas; Crescimento do pH a valores mais elevado, controlado pela capacidade tampão do sistema; Concentrações em nutrientes inicialmente elevadas se tornam limitantes; Concentrações de metabólitos intermediários (AGVs) surgem nos lixiviados; Consumo de N2 e fósforo (P) para o crescimento dos microrganismos; -Potencial de óxido – redução se encontra em valores baixos e consumo importante de nutrientes; Produção de gases entra em queda acentuada e, em seguida, cessa; Tendências perceptíveis de instalação de condições redutoras no meio. Detecção do H2 e influência na natureza dos produtos intermediários formados. Fenômenos de complexação e precipitação de metais continuam a ocorrer; O2 e espécies oxidadas reaparecem lentamente e um aumento do potencial redox é observado; Carga orgânica dos lixiviados decresce e a produção de gases aumenta proporcionalmente. Matérias orgânicas resistentes a biodegradação são convertidas em moléculas como ácidos húmicos. Detecção das primeiras mudanças dos diferentes parâmetros de degradação dos resíduos. Fonte: Pohland e Harper, 1985. III – METODOLOGIA E MATERIAIS 3.2 – Metodologia e Materiais A metodologia empregada para o monitoramento de gases se divide em duas etapas: - A 1ª Etapa - Estudo de Campo; - A 2ª Etapa - Estudo de Laboratório. Um diagrama em bloco foi elaborado para mostrar como foi procedido o monitoramento, como é mostrado na Figura 3.1. Monitoramento dos Gases Laboratório Campo Medições Amostragem Equipamentos Eletrônicos (Medidor de gás e Termômetro digital) Análise cromatográfica dos gases Coleta de Gases (c/ seringas coletoras) Figura 3.1 – Diagrama de Monitoramento 3.2.1 - Estudo de Campo O estudo de campo foi realizado com dois tipos de equipamentos e mais um coletor de gás, tendo cada um apresentado características diferentes. 1 - Equipamentos utilizados em campo Foram utilizados os seguintes equipamentos para a realização deste trabalho: - Medidor de gás Mini Warm; - Termômetro digital; - Seringa coletora de gás e acessório. 2 - Características dos equipamentos a) Medidor MiniWarm da Dräger: O equipamento utiliza sensores de detecção da presença de gás, e cada sensor deve ser calibrado segundo a Tabela 3.1. Os sensores utilizados pelo medidor de gás são: • CH4, (metano) conhecido como catalítico; • CO2 (gás carbônico); • H2S (gás sulfídrico); • O2 (oxigênio). Tabela 3.1-Calibração dos Sensores Manutenção Preventiva Sensores Periódica De 6 em 6 meses CH4 (Metano) De 3 em 3 meses CO2 (Dióxido de Carbono) Anual H2S (Sulfeto de Hidrogênio) Anual O2 (Oxigênio) Fonte: Informação técnica da Dräger O equipamento também mede a explosividade em porcentagem de LEL (Lower Explosive Limit). Cada sensor tem que ser calibrado de tempos em tempos, de forma a garantir a confiabilidade das medições (Tabela 3.1). A calibração destes sensores é feita conforme o procedimento a seguir descrito: - O botão maior é pressionado aparecendo na tela o “MENU”, então é selecionada a opção “MAINTENCE”, inserindo a senha “0001”, e selecionando depois “FORWARD”, confirmando com o botão maior. - No sub-menu que aparece na tela do equipamento seleciona a opção “Fresch Air Cal” confirmando-a. Aguarda-se a mensagem de “OK”, selecionando e confirmando a opção “FORWARD”. Depois é selecionada a opção “SPAN CALIBRATION” confirmando em seguida. É selecionado o gás/sensor a ser calibrado, como por exemplo, o CH4, iniciando assim o processo. - A 1ª opção “CAL HEAT” é selecionada, informando a concentração do gás a ser fornecida (95% Vol. para o CH4), passando o gás com fluxo constante de 0,5 LPM selecionando então, “FORWARD”, por três vezes e pronto (acompanhando as mensagens exibidas), com isto este sensor é considerado calibrado. - O mesmo processo de calibração é realizado para os demais sensores e ao final do processo retorna-se com a opção “BACK” até a tela de medição. A Figura 3.2 mostra as dimensões do equipamento MiniWarm da Dräger. 80 mm 143 mm 63 mm Figura 3.2 – Medidor de Gases Os alarmes do equipamento estão associados a cada sensor, onde estes soam de acordo com o nível de gás detectado pelo equipamento conforme (Tabela 3.2). Gases Tabela 3.2-Gases e alarmes Alarme 1 Alarme 2 Range 10% LEL 20% LEL 100% LEL 0.440% Vol. 0.800% Vol 4.400% Vol. H2S 10 ppm 20 ppm 100 ppm O2 19.00% Vol. 23.00% Vol. 25.00% Vol. CO2 0.500% Vol. 1.000% Vol. 5.000% Vol CH4 Fonte: Painel de inicialização do equipamento b) Medidor de Temperatura: Para medição da temperatura dos gases nos drenos dos aterros Nova Iguaçu e Terra Brava foi utilizado um equipamento da marca GUterm 200, tipo Pt-100, cujo fabricante é Gulton do Brasil Ltda. Os valores das temperaturas são dados na escala Celsius (ºC). Figura 3.3 – Medidor de Temperatura O equipamento possui as seguintes medidas: Comprimento = 132 mm; Largura = 73 mm e Altura = 28 mm. A faixa de medida do equipamento vai de -199,9 a +199,9 °C c) Seringa plástica e acessório: A seringa de coleta de gás é uma seringa graduada com volume de 60 ml e válvula de registro em Tê acoplada ao seu bico. A Figura 3.4 mostra a seringa utilizada para coleta. Válvula Êmbolo Haste succionadora Reservatório de coleta Figura 3.4 – Seringa Coletora O acessório que acompanhou a seringa foi uma mangueira de borracha de material silicone com diâmetro externo de 5 mm, interno de 3 mm e comprimento de 1400 mm. 3 - Quanto às medições e coletas em campo As medidas realizadas foram feitas mensalmente e pontualmente nos dois aterros, percorrendo cada ponto de drenagem no local. a) Aterro Sanitário de Nova Iguaçu As medidas com os equipamentos eletrônicos foram realizadas em 16 pontos de drenagem como pode ser observado no mapa em anexo e a coleta com seringa foi feita em 5 pontos de drenagem conforme assinalado no mapa de localização dos drenos de gás (ver Anexo C). As amostras coletadas eram mantidas sob refrigeração por certo tempo e depois eram submetidas à cromatografia. b) Aterro Controlado Terra Brava As medidas com os equipamentos eletrônicos e as coletas com seringas foram feitas em 5 pontos de drenagem conforme o mapa de localização dos drenos de gás (ver Anexo C). As amostras coletadas eram mantidas sob refrigeração por certo tempo e depois eram submetidas à cromatografia. 3.2.2 – Estudo Laboratorial A segunda etapa consistiu de um estudo laboratorial feito através de um cromatógrafo. O princípio de funcionamento do cromatógrafo consiste no uso de um gás de arraste que entra pelo cromatógrafo passando pelo injetor, que deve estar aquecido de modo a promover a rápida vaporização da amostra, e chegando à coluna fazendo o arraste do aerossol da amostra. Depois de separados na coluna, os componentes atravessam o detector e o sinal é logo enviado e registrado na forma de um cromatograma. Seringa com volume a ser injetado Regulador de pressão de dois estágios 2 1 3 Detector E.T. Gás de Arraste Injetor 1- Controle de entrada de gás de arraste 2- Controle da purga do septo 3- Controle da saída do divisor Forno de Colunas Coluna capilar E.T. – Estação de Trabalho, microprocessador, integrador/registrador. Fonte: Aquino Neto & Souza Nunes, 2003. Figura 3.5 – Sistema cromatográfico para cromatografia O cromatógrafo utilizado para análise dos gases CO2, CH4 e Ar foi o modelo CP 3800, nº de série 101280, marca VARIAN e ano 2002. Cromatógrafo: Varian modelo 3800 – Detector e coluna usados para a cromatografia: - Detector de condutividade térmica: - Coluna de Poraplot Q 50 metros x 0,53 mm Condições analíticas do equipamento: - Temperatura da coluna: 40 o C (Isotérmico) - Temperatura do detector: 200 o C - Vazão da coluna: 5 ml/min - Sensibilidade do detector: 10 E –11 - Temperatura do filamento: 250 o C - Relação do split: 1/10 Uma terceira etapa foi desenvolvida com relação à coleta e ensaio do solo de cobertura, já que existe a possibilidade do gás migrar pela camada de cobertura do aterro. Admitiu-se que o material coletado da camada de cobertura provisória será o mesmo material usado para a cobertura final. 3.2.3 – 3ª ETAPA: Coleta e Ensaios do Solo de Cobertura 3.2.3.1 - Material para coleta de solo - Cilindro de PVC com ∅interno= 9,5 cm, ∅externo= 11,0 cm e h = 20,0 cm; - Saco plástico; - Cilindro metálico (Anel de Kolpec) de 5,0 cm de diâmetro e 5,0 cm de altura; - Faca; - Colher de pedreiro; - Machadinha; - Colher de jardinagem. 3.2.3.2 - Quanto à coleta de solo de cobertura Foram coletadas dois tipos de amostra de solo de cobertura do aterro Terra Brava próximas aos drenos de gás 1, 2 e 3 (indeformada e deformada). As amostras indeformadas (submetidas aos ensaios de determinação dos índices físicos) foram coletadas através de cilindros de PVC biselados (18º de inclinação), cravados gradativamente no solo de cobertura e acondicionadas em sacos plásticos, enquanto que as deformadas foram coletadas a granel e acondicionadas em sacos plásticos. (a) (b) (c) Figura 3.6 – Cravação do Cilindro no solo A Figura acima mostra as fases de cravação do cilindro no solo de cobertura, onde: (a) parcialmente cravado; (b) quase totalmente cravado; e (c) totalmente cravado. Foram coletadas amostras indeformadas de solo em cilindros metálicos (Anel de Kolpec), onde estes eram cravados no solo e depois removidos cuidadosamente. As coletas foram efetuadas a uma distância próximas a 3,00 m dos drenos de gás 1, 2 e 5. Essas amostras foram acondicionadas em sacos plásticos. Para os drenos de gás 3 e 4, as amostras de solo de cobertura próximas aos mesmos, não puderam ser coletadas, devido a grande quantidade de lixo no local, já que para isso teria que remover o lixo por completo e ir até a profundidade de 1,50 m para coletar o solo de cobertura provisória anterior. No Anexo C há um mapa de localização dos drenos de gás com os pontos de coleta referente a cada tipo de ensaio do solo. As coletas de solo para o Aterro Nova Iguaçu foram feitas da mesma forma para o Aterro Terra Brava. As amostras foram extraídas em cotas 47.00, 48.00, 49.40 e 55.00 do aterro. 3.2.3.3 - Ensaios do Solo As amostras deformadas e indeformadas foram submetidas aos ensaios de granulometria, limites de Atterberg, compactação, CBR e permeabilidade, enquanto que as amostras coletadas em cilindros metálicos (indeformadas) foram submetidas a um único ensaio de obtenção da curva de retenção de umidade do extrator de Richards. a) Granulometria O ensaio granulométrico foi realizado no Laboratório de Geotecnia da COPPE/UFRJ, segundo a norma NBR 7181. b) Limites de ATTERBERG Os limites de ATTERBERG foram determinados de acordo com a norma NBR 6459 (Limite de Liquidez) e NBR 7180 (Limite de Plasticidade). c) Ensaio de Compactação O ensaio de compactação realizado no Laboratório de Geotecnia da COPPE/UFRJ foi executado de acordo com a NBR 7182 na energia do Proctor Normal sem reuso de material. d) Ensaio de CBR (Califórnia Bearing Ratio)/ Índice de Suporte Califórnia (I.S.C.) Foram realizados pelo Laboratório de Geotecnia da COPPE/UFRJ segundo a NBR 9895 os ensaios de CBR ou ISC em amostras compactadas na energia do Proctor Normal. Para cada amostra de solo foi ensaiado um corpo de prova na umidade ótima correspondente ao ensaio de compactação do Proctor Normal. As curvas de compactação são apresentadas no capítulo 7. f) Ensaio de Permeabilidade do solo O ensaio realizado pelo Laboratório de Geotecnia da COPPE/UFRJ foi o de carga variável, segundo a norma NBR 14545. Este ensaio é aplicado para solos siltosos e argilosos. As amostras foram compactadas em cilindros de 10,14 cm de diâmetro. Os ensaios foram realizados na umidade ótima obtida do ensaio de Compactação Proctor Normal. g) Ensaio de Obtenção de Curva Característica de Retenção de Umidade no Aparelho Extrator de Richards O ensaio de obtenção de curva característica de umidade no aparelho extrator de Richards foi realizado na EMBRAPA-RJ. Os resultados deste ensaio são apresentados no capítulo 7 no item 7.2. Este ensaio consiste em colocar as amostras de solo saturadas em placas de cerâmica previamente saturadas e submetidas a uma determinada pressão, até atingir a drenagem máxima da água contida nos seus poros, correspondente à tensão aplicada (Manual EMBRAPA, 1997). A seguir determina-se a umidade da amostra. As tensões usuais são: 0,01; 0,033; 0,1; 0,5; e 1,5 MPa. A Figura 3.7 apresenta o Aparelho extrator de Richards. TAMPA MEDIDOR DE PRESSÃO P CÂMARA DE PRESSÃO AMOSTRA DE SOLO Patm + P PLACA POROSA (15 bar) h SUPORTE DA PLACA TELA DE NYLON DIAFRAGMA DE BORRACHA Fonte: Dinâmica da água no solo, Libardi, 1995. Figura 3.7 – Aparelho extrator de Richards O procedimento adotado é descrito no anexo D. IV – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 4.1. A Relevância da Questão dos Resíduos Sólidos Desde a realização da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento - ECO - 92, uma das questões amplamente discutida e considerada fundamental quanto à preservação do meio ambiente foi a crescente produção de resíduos sólidos em todo o mundo. A Agenda 21 (NOSSA PRÓPRIA AGENDA, 1992), propõe como estratégia para a obtenção de um modelo de gerenciamento dos resíduos sólidos compatíveis com a preservação ambiental, quatro programas: -minimização de resíduos; -maximização da reutilização e da reciclagem de resíduos; -promoção de sistemas adequados de tratamento e disposição de resíduos; -ampliação da cobertura dos serviços de limpeza urbana. Segundo FERREIRA (1999), a demanda por sistemas adequados de tratamento e disposição de resíduos é reveladora da pouca consciência que se tem dos efeitos negativos, no meio ambiente e na saúde humana, que o lançamento indiscriminado dos resíduos pode provocar. A pouca propensão das autoridades públicas em utilizar recursos para implementação de tais sistemas está relacionada ao significado que damos, na nossa sociedade, ao servido, ao utilizado, ao descartável, cujo valor não justifica gastarmos dinheiro com lixo. Segundo o mesmo autor, 75 % dos resíduos são coletados pelos sistemas de limpeza urbana das cidades brasileiras (no Rio de Janeiro a COMLURB coleta mais de 90 %) e transportados para um destino final. A predominância, quase que geral, é dos lixões, com todos os seus aspectos negativos como: presença de fumaça, mau cheiro, poluição das águas superficiais e subterrâneas, urubus, presença de vetores de doenças e de animais e a presença constrangedora de seres humanos catando lixo. Segundo o órgão de controle ambiental do Estado de São Paulo, em 1997, 77,8% correspondia aos sistemas municipais do Estado enquadrados em condições inadequadas, cuja indicação se reflete no número de municípios. Em 2004, este valor caiu para 29,7%, os quais vêm sendo alvos das ações de controle da CETESB, a fim de alcançarem condições adequadas. Também se destaca a evolução da quantidade de resíduos sólidos dispostos que era de 10,9%, em 1997, passando para 79,3% em 2004 (CETESB, 2004). A nossa responsabilidade pelos impactos ambientais e na saúde pública provocados pelos lixões está diretamente relacionada à nossa pouca resistência à existência dos mesmos e a nossa participação na sociedade de consumo, contribuindo para geração das enormes quantidades de resíduos. Enquanto o município do Rio de Janeiro produz cerca de 7.200 toneladas/dia de resíduos, São Paulo produz o dobro, cerca de 14.000 t/dia. Como parâmetro de comparação, a cidade de Nova York, referência no modelo de consumo mundial, produz, com uma população semelhante à do Rio de Janeiro, cerca de 25.000 t/dia de resíduos (FERREIRA, op. cit.). Ainda, segundo SOARES (1999): "O lixo reproduz os valores de um grupamento social, sendo o reflexo de suas atividades cotidianas, demonstrando, em sua composição, o grau de desenvolvimento deste grupo". Tendo em vista o grau de evolução da sociedade e dos recursos disponíveis para a aplicação, existem diversas formas de tratamento e disposição final do lixo. Os problemas de destinação final poderiam em parte ser resolvidos se existissem bons aterros sanitários. Dentro das condições econômicas e de capacitação técnica disponíveis em países como o Brasil, a solução mais viável para o destino do lixo são os aterros sanitários. 4.2 - Definição dos Resíduos Sólidos Para definir lixo, ou resíduos sólidos, existem diversas formas e pontos de vista para fazê-lo e, em geral, são definidos de acordo com a conveniência e preferência de cada um. “Tudo o que não presta e que se joga fora”, assim o dicionário da língua portuguesa começa a explicação da palavra lixo. E continua: “Coisas inúteis, velhas, sem valor” (FERREIRA ABH, 1997). É comum definir lixo como “todo e qualquer resíduo resultante das atividades diárias do homem na sociedade. Estes resíduos são, basicamente, sobras de alimentos, papéis, papelões, plásticos, trapos, couros madeiras, latas, vidros, lamas, gases, vapores, poeiras, sabões, detergentes e outras substâncias descartadas de forma consciente”. Pode-se dizer, ainda, que resíduos sólidos “são os restos das atividades humanas, consideradas pelos geradores como inúteis, indesejáveis ou descartáveis” (IPT/ CEMPRE, 2000). A definição de resíduos sólidos no Brasil adotada pela norma brasileira NBR10004/ 87 e citado na Resolução CONAMA Nº. 5, de 05 de agosto de 1993, é definido como: “Resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de comunidade de origem: Industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamentos de água, aqueles gerados em equipamentos, instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica economicamente inviáveis, em face à melhor tecnologia disponível.” 4.3 – Classificação do Lixo O lixo pode ser classificado de diversas formas como, por exemplo: Por sua natureza física: seco e molhado; Por sua composição química: matéria orgânica e matéria inorgânica; Pelos riscos potenciais ao meio ambiente: perigosos, não-inertes e inertes (ABNT, 2004 - 4.2, a e b), conforme mostrado no Quadro 4.1. Quadro 4.1 – Classificação dos resíduos sólidos quanto à periculosidade. Classe de Risco Classe I (Perigosos) Classe IIA (Não-inertes) Classe IIB (Inertes) Fonte: ABNT - NBR 10004 (2004). Característica Apresentam risco à saúde pública e ao meio ambiente, caracterizando-se por possuir uma ou mais das seguintes propriedades: inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenecidade. Podem ter propriedades como: combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade em água, porém, não se enquadram como resíduo classe I ou IIB. Não tem nenhum constituinte solubilizado em concentração superior ao padrão de potabilidade de água. Outra forma de se classificar o lixo é quanto sua origem, desta forma sua classificação (sugerida pelo CEMPRE) é apresentada desta maneira: Lixo Domiciliar Aquele originado na vida diária das residências, constituído por restos de alimentos, produtos deteriorados, jornais e revistas, garrafas e embalagens, papel higiênico e fraldas descartáveis, ou ainda uma infinidade de itens domésticos. Lixo Comercial É aquele originado nos estabelecimentos comerciais e de serviços, como supermercados, bancos, lojas, bares, restaurantes, etc. O lixo destes estabelecimentos tem um forte componente de papel, plástico, embalagens diversas e material de asseio, como papel-toalha, papel higiênico, etc. Lixo Público São aqueles originados dos serviços de limpeza pública urbana, incluídos os resíduos de varrição das vias públicas, limpeza de praias, de galerias, córregos e terrenos baldios, podas de árvores, etc. Fazem parte ainda desta classificação a limpeza de locais de feiras livres ou eventos públicos. Lixo Hospitalar Constituídos de resíduos sépticos que contém ou potencialmente podem conter germes patogênicos. São produzidos em serviços de saúde, como hospitais, clínicas, laboratórios, farmácias, clínicas veterinárias, postos de saúde, etc. Este lixo é constituído de agulhas, seringas, gazes, bandagens, algodões, órgãos e tecidos removidos, meios de cultura, animais usados em teste, sangue coagulado, remédios, luvas descartáveis, filmes radiológicos, etc. Lixo Especial É o lixo encontrado em portos, aeroportos, terminais rodoviários ou ferroviários. Constituído de resíduos sépticos, pode conter agentes patogênicos oriundos de um quadro de epidemia de outro lugar, cidade, estado ou país. Estes resíduos são formados por material de higiene e asseio pessoal, restos de alimentação, etc. Lixo Industrial É aquele originado nas atividades industriais, dentro dos diversos ramos produtivos existentes. O lixo industrial é basicamente variado e pode estar relacionado ou não com o tipo de produto final da atividade industrial. É constituído por resíduos de cinzas, óleos, lodo, substâncias alcalinas ou ácidas, escórias, corrosivos, etc. Lixo Agrícola Resíduos sólidos das atividades agrícolas e da pecuária, como, por exemplo, embalagens de adubos e agrotóxicos, defensivos agrícolas, ração, restos de colheita, etc. Em várias regiões do mundo, este tipo de lixo vem causando preocupação crescente, destacando-se as enormes quantidades de esterco animal gerados nas fazendas de pecuária intensiva. Também as embalagens de agroquímicos diversos, em geral tóxicos, têm estado na mira das legislações específicas. 4.4 – Conhecimento do Lixo Municipal É necessário ter um conhecimento do lixo municipal de suas características, pois existem vários fatores que são influenciantes na caracterização do lixo, tais como: Número de habitantes; Poder aquisitivo; Condições climáticas; Hábitos e costumes; Nível educacional. A influência dos fatores citados pode ser expressa pela quantidade de lixo gerada, pela sua composição física e parâmetros físico-químicos, todos indispensáveis ao correto prognóstico de cenários futuros (Quadro 4.2). Quadro 4.2 - Informações necessárias ao planejamento do gerenciamento do lixo municipal. Parâmetros Descrição Importância Taxa de geração por habitantes (kg/habitante.dia) Quantidade de lixo gerada por habitante num período de tempo especificado; refere-se aos volumes efetivamente coletados e à população atendida. Fundamental para o planejamento de todo o sistema de gerenciamento do lixo, principalmente no dimensionamento de instalações e equipamentos. Referem-se às porcentagens das várias frações do lixo, tais como papel, papelão, madeira, trapo, couro, plástico duro e mole, matéria orgânica, metal ferroso, metal não ferroso, vidro, borracha e outros. Relação entre a massa e o volume do lixo; é calculada para diversas fases do gerenciamento do lixo. Ponto de partida para estudos de aproveitamento das diversas frações e para compostagem. Composição física Densidade aparente Umidade Quantidade de água contida na massa de lixo Teor de materiais combustíveis e incombustíveis Quantidade de materiais que se prestam à incineração e de materiais inertes. Poder calorífico É a quantidade de calor gerada pela combustão de 1 kg de lixo ou resíduo misto (e não somente dos materiais facilmente combustíveis). Composição química Normalmente são analisados nitrogênio, fósforo, potássio, enxofre, carbono, relação carbono e nitrogênio (C/N), pH e sólidos voláteis. Teor de matéria orgânica Quantidade de matéria orgânica contida no lixo ou resíduo sólido. Inclui matéria orgânica não-putrescível (papel, papelão, etc.) e putrescível (verduras, alimentos, etc.) Determina a capacidade volumétrica dos meios de coleta, transporte, tratamento e disposição final. Influencia a escolha de tecnologia de tratamento e equipamentos de coleta. Tem influência notável sobre o poder calorífico, densidade e velocidade de decomposição biológica dos resíduos sólidos. Juntamente com a umidade, informa, de maneira aproximada, sobre as propriedades de combustibilidade dos resíduos. Avaliação para instalação de incineração. Definição da forma mais adequada de tratamento (sobre tudo compostagem) e disposição final. Vários outros elementos que atuam como agentes inibidores/ catalisadores nos diversos tipos de tratamento, também podem ser analisados. Avaliação da utilização do processo de compostagem. Avaliação do estágio de estabilização do lixo aterrado. Fonte: IPT, 2000) Os fatores de geração consistem, basicamente, na taxa de geração por habitantes e o nível de atendimento dos serviços públicos do município. A composição física do lixo é obtida pela determinação do percentual de seus componentes mais comuns, tais como vidro, plástico, metais e outros. Parâmetros físicos são expressos por características como umidade, densidade e poder calorífico dos resíduos (lixo), enquanto os parâmetros químicos, pelos teores dos elementos químicos (C, S, N, K e P) presentes nos resíduos. Quadro 4.3 - Estimativa da Quantidade de Lixo Gerada Objetivo: Dá um prognóstico quanto à quantidade de lixo gerada no município. A – População atual (habitantes); B – Geração per capita de lixo (kg/habitante.dia), obtida de processos de amostragem; C0 – Nível de atendimento atual dos serviços de coleta de lixo (%); D – Taxa de crescimento populacional (%); E – Taxa de incremento da geração per capita de lixo (%); Ct – Nível de atendimento dos serviços de coleta de lixo após n anos (%); n – intervalo de tempo considerado (anos). Estimativas: Geração atual: A x B x C0 (kg/dia); Geração futura: {[A x ((1+Dn))] x [B x ((1+E)n)] x Ct } (kg/dia) Fonte: IPT, 2000 4.5 - Composição do Lixo Sua composição é bastante variada ao longo de seu percurso pelas unidades de gerenciamento do lixo, desde a geração até o destino final, bem como ao longo do tempo (Quadro 3). No início da caracterização, é comum observar as condições da zona urbana, tentando identificar qual o método mais adequado a ser usado. Depois disso, deverá ser definido o objetivo da caracterização, pois pra cada necessidade, varia as análises, como também a metodologia de amostragem. Tabela 4.1 – Variação na composição dos resíduos sólidos em São Paulo Ano Tipo de Material 1927 1947 1965 1969 1972 1989 1990 1993 1998 Papel e papelão 13,4 Trapo de couro 1,5 2,7 Plástico Vidro Metal e lata 0,9 1,7 1,4 2,2 Matéria orgânica 82,5 16,7 16,8 29,2 25,9 3,1 3,8 4,3 - 1,5 2,2 1,9 2,6 7,8 4,3 2,1 4,2 7,5 9,0 1,5 4,2 3,25 5,3 12,08 22,9 1,10 1,5 3,24 3,0 76,0 76,0 52,2 47,6 55,0 47,4 64,43 69,5 Fonte: PROEMA (1994), São Paulo (1992). 17,0 29,6 3,0 14,43 18,8 4,52 3,0 Ao se iniciar a amostragem pra determinação da composição física dos resíduos, dados devem ser levantados referentes ao sistema de limpeza pública, como o número de setores de coleta, freqüência de coleta, características dos veículos coletores (tipo, número, capacidade, etc.), distância aos locais de tratamento e disposição final e quantidade dos resíduos gerados. Certos fatores também devem ser considerados, pois interferem na composição física dos resíduos e na representatividade da amostragem, tais como: aspectos de sazonalidade e climáticos; influências regionais e temporais (com flutuações na economia). O objetivo da amostragem de caracterização dos resíduos é a obtenção de uma amostra representativa, ou seja, a coleta de uma parcela do resíduo a ser estudado que, quando analisada apresente as mesmas características e propriedades de sua massa total. As figuras a seguir mostram a composição física média e as formas de gerenciamento do lixo municipal em alguns países, como uma maneira de se comparar cada situação apresentada. 24,5% Brasil 1,6% 2,9% 2,3% Europa 28,1% 16,2% 9,7% 52,5% Papel /Papelão Vidro Outros (a) 9,2% Plástico Metal Matéria Orgânica 7,0% 0% 5% 10% 7,2% Japão 44% 7% 9,8% (b) Estados Unidos 34% 36,0% 1,0% 2,5% 40,0% 49,5% 0,0% LEGENDA (d) (c) Fonte: IPT, 2000 Figura 4.1 - Composição percentual média de lixo domiciliar em alguns países. Alemanha França 2,5% 0,8% 1,5% 3% 1,5% 10% 25,8% 9,5% 15,5% 12,5% (e) (f) Inglaterra Holanda 0,6% 3,5% 6% 0% 1,0% 1,4% 3,5% 11,5% 34,5% 30% (g) (h) LEGENDA Fonte: IPT, 2000 Figura 4.2 – Geração anual e formas de gerenciamento de resíduos em alguns países desenvolvidos (dados em milhões de t/ano) Nas figuras abaixo são mostrados dados de composição física média do lixo municipal em cidades brasileiras (sistema de coleta tradicional). São Paulo Rio de Janeiro 18,8% 53,8% 22,2% 54,6% 3,0% 16,8% 22,9% 3,7% 1,5% 2,8% (i) (j) Salvador Porto Alegre 16,2% 22,1% 17,1% 55,0% 9,0% 9,2% 60,2% 2,9% 3,7% 4,7% (k) (l) LEGENDA Fonte: IPT, 2000 Figura 4.3 – Composição percentual média de lixo domiciliar 4.6 – Tratamento e Disposição Final do Lixo Corroborando a Agenda 21, visando o desenvolvimento sustentável, o gerenciamento do lixo deve ser feito de modo integrado, através de um diagnóstico da administração municipal dos serviços de limpeza, do tratamento e da disposição final, com uma fase independente para os lixos de serviços de saúde e hospitalar (IPT, 1995). No Brasil de cada 100 habitantes, 75 moram em cidades e o restante na zona rural. Esta migração crescente da zona rural para as grandes cidades desequilibra o gerenciamento do lixo, forçando as prefeituras a correrem contra o tempo em disponibilizar lugares para disposição correta do lixo urbano. Estatisticamente a disposição final do lixo no Brasil está assim representada: Unidades de destinação final do lixo 1% Vazadouro a céu aberto (lixão) Vazadouro em áreas alagadas Aterro controlado 16% 53% Aterro sanitário 13% 3% 5% 2% 7% Aterro de resíduos especiais Usina de compostagem Usina de reciclagem Incineração Fonte: IBGE, 2000 Figura 4.4 – Destinação final do lixo no Brasil O resultado da desproporção entre a disposição correta do lixo faz com que grande parte dele não seja coletada, permanecendo nos logradouros ou sendo descartado em lugares públicos, terrenos baldios, encostas ou cursos de água. O lixo destinado de forma errada é prejudicial para o meio ambiente. Veja a seguir quanto tempo à natureza leva para biodegradar alguns materiais presentes na composição do lixo, quando há condições favoráveis para este processo de decomposição: Quadro 4.4 – Tempo de decomposição dos resíduos sólidos na natureza. RESÍDUOS TEMPO DE DECOMPOSIÇÃO Jornais 2 a 6 semanas Embalagens de papel 1 a 4 meses Guardanapos 3 meses Pontas de cigarro 2 anos Palito de fósforo 2 anos Chicletes 5 anos Casca de frutas 3 meses Náilon 30 a 40 anos Copinhos de plástico 200 a 450 anos Latas de alumínio 100 a 500 anos Tampinhas de garrafa 100 a 500 anos Pilhas e baterias 100 a 500 anos Garrafas de vidro ou plástico Mais de 500 anos Fonte: Grippi (2001) A disposição final do lixo é a última fase de um sistema de limpeza urbana, sendo que esta etapa é efetuada logo após a coleta. Em alguns casos, visando melhores resultados econômicos, sanitários e ou ambientais, o lixo é principalmente processado para depois ser disposto ao local apropriado (CPU / IBAM, 1998). Quando o processamento tem por objetivo fundamental a diminuição dos inconvenientes sanitários ao homem e ao meio ambiente, então se pode dizer que o lixo foi submetido a um tratamento. Há várias formas de processamento e disposição final aplicáveis ao lixo urbano, sendo descritas a seguir: 4.6.1 - Compactação Trata-se de um tipo de processamento que reduz o volume inicial de lixo de 1/3 a 1/5, favorecendo o seu posterior transporte e disposição final. Isto pode se dar nas estações de transferência. 4.6.2 - Trituração Consiste na redução da granulometria dos resíduos através de emprego de moinhos trituradores, objetivando diminuir o seu volume e favorecer o seu tratamento e/ou disposição final. 4.6.3 - Incineração Este processo visa a queima controlada do lixo em fornos projetados para transformar totalmente os resíduos em material inerte, propiciando também uma redução de volume e de peso. Em princípio parece excelente, porém há uma desvantagem, que é o custo elevado de instalação e operação, além dos riscos de poluição atmosférica, quando o equipamento não for adequadamente projetado e/ou operado. 4.6.4 - Compostagem É um método utilizado para decomposição de material orgânico existente no lixo, sob condições adequadas, de forma a se obter um composto orgânico para utilização na agricultura. Apesar de ser considerado um método de tratamento, a compostagem também pode ser considerada como um processo de destinação do material orgânico presente no lixo. Possibilita enorme redução da quantidade de material a ser disposto no aterro sanitário, para onde vai somente o que for rejeitado no processamento. 4.6.5 - Reciclagem Este processo constitui importante forma de recuperação energética, especialmente quando associado a um sistema de compostagem. Apenas alguns componentes do lixo urbano não podem ser aproveitados. É o caso de louças, pedras e restos de aparelhos sanitários, que até o momento, pelo menos, não tem nenhum aproveitamento econômico. Outros são considerados resíduos perigosos, como restos de tinta e pilhas, por exemplo, e devem ser separados para evitar a contaminação do composto. Dependendo das características regionais, a reciclagem pode representar um fator importante de redução de custos dentro do sistema de limpeza urbana. A reciclagem dos materiais recuperáveis no lixo urbano tem cada vez maior aceitação no mundo. As vantagens econômicas, sociais, sanitárias e ambientais sobre os outros métodos são evidentes. 4.6.6 - Lixão Segundo o IPT (op. cit.), lixão é uma forma inadequada de disposição final de resíduos sólidos, que se caracteriza pela simples descarga sobre o solo, sem medidas de proteção ao meio ambiente ou à saúde pública. Os resíduos assim lançados acarretam problemas à saúde pública, como proliferação de vetores de doenças (moscas, mosquitos, baratas, ratos, etc.), geração de maus odores e, principalmente, a poluição do solo e das águas superficiais e subterrâneas através do chorume (líquido de cor preto, mal cheiroso e de elevado potencial poluidor produzido pela decomposição da matéria orgânica contida no lixo), comprometendo os recursos hídricos. Acrescenta-se a esta situação o total descontrole quanto aos tipos de resíduos recebidos nestes locais, verificando-se até mesmo a disposição de dejetos originados dos serviços de saúde e das indústrias. Comumente ainda se associam aos lixões fatos altamente indesejáveis, como a criação de porcos e a existência de catadores os quais, muitas vezes, residem no próprio local. A Figura 4.5 mostra o exemplo de um lixão. Fonte: IPT, 1995 Figura 4.5 - Vazadouro ou Lixão 4.6.7 - Aterro Controlado Segundo o IPT (op. cit.), é uma técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar danos ou riscos à saúde pública e à segurança, minimizando os impactos ambientais. Este método utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos, cobrindo-os com uma camada de material inerte na conclusão de cada jornada de trabalho. Esta forma de disposição produz, em geral, poluição localizada, pois similarmente ao aterro sanitário, a extensão da área de disposição é minimizada. Porém, geralmente não dispõe de impermeabilização de base (comprometendo a qualidade das águas subterrâneas), nem processos de tratamento de chorume ou de dispersão dos gases gerados. Esse método é preferível ao lixão, mas, devido aos problemas ambientais que causa e aos seus custos de operação, é inferior ao aterro sanitário. 4.6.8 - Aterro Sanitário O aterro sanitário é a forma de dispor o lixo sobre o solo, compactando-o com trator, reduzindo-o ao menor volume permissível e recobrindo-o com camada de terra compactada, na freqüência necessária (ao menos, diariamente), de modo a ocupar a menor área possível. Segundo SOARES (op. cit.), a técnica basicamente consiste na compactação dos resíduos no solo, dispondo-o em camadas que são periodicamente cobertas com terra ou outro material inerte, formando células, de modo a ter-se uma alternância entre os resíduos e o material de cobertura. Segundo FONSECA (1999), o principal objetivo do aterro sanitário é dispor os resíduos sólidos no solo, de forma segura e controlada, garantindo a preservação do meio ambiente, a higiene e a saúde pública. Mas, sem dúvida, os aterros também servem para recuperar áreas deterioradas, tais como: pedreiras abandonadas, grotas, escavações oriundas de extração de argila e areia e regiões alagadiças. Quando se tratar de áreas para atender os dois objetivos citados, devem ser feitos estudos apropriados para garantir as condições sanitárias do aterro e o não comprometimento do lençol freático da área em questão. Quando da construção de aterros sanitários, devem ser tomadas as seguintes medidas: - proteger as águas superficiais e subterrâneas de possível contaminação oriunda do aterro, através de camada impermeabilizante e drenagem adequada; - dispor, acumular e compactar diariamente o lixo na forma de células, trabalhando com técnicas corretas para possibilitar o tráfego imediato de caminhões coletores, equipamentos e para reduzir recalques futuros do local; - recobrir diariamente o lixo com uma fina camada de terra de 20 cm (selo de cobertura) para impedir a procriação de roedores, insetos e outros vetores e a presença de catadores e animais a procura de materiais e alimentos; - controlar gases e líquidos que são formados no aterro, através de drenos específicos; - manter os acessos internos e externos em boas condições, mesmo em tempo de chuva; - isolar e tornar indevassável o aterro e evitar incômodos à vizinhança. A Figura a seguir mostra com mais detalhes um aterro sanitário. Fonte: IPT, 2000 Figura 4.6 – Detalhes de um aterro sanitário. A concepção do aterro sanitário como local de tratamento requer a avaliação das alternativas e sistemas disponíveis. Nesse aspecto, podem-se distinguir quatro linhas principais de tratamento nos aterros sanitários: 1) Digestão anaeróbia; 2) Digestão aeróbia; 3) Tratamento biológico e digestão semi-anaeróbia. ( Digestão anaeróbia Nível do chorume) O2 O2 O2 O2 AR Digestão aeróbia ( Tratamento Biológico inoculação biológica) Fonte: IPT, 2000 Figura 4.7 – Processos empregados no tratamento de resíduos sólidos 4.6.8.1 - Tratamento por digestão anaeróbia A digestão anaeróbia, pura e simples, é considerada apenas uma forma sanitária de tratamento, já que a inertização do lixo (término das reações orgânicas, alcançando-se o estágio de mineralização) poderá demorar dezenas de anos. Esta concepção tem sido aplicada no Brasil e nos Estados Unidos. 4.6.8.2 - Tratamento por digestão aeróbia A alternativa por digestão aeróbia tem sido indicada como a que traz as maiores vantagens para decomposição do lixo. Esta forma de tratamento só não é usada de uma maneira generalizada devido aos seus maiores custos diretos, comparada com anaeróbia. A desvantagem no processo aeróbio reside na necessidade de fazer uma injeção de ar na massa de lixo, onde são operados sistemas de controle e bombeamento, com elevados custos. As vantagens do processo aeróbio sobre o processo anaeróbio são mostradas no quadro abaixo. Quadro 4.5 – Vantagens do processo aeróbio sobre o anaeróbio Fatores Vantagens Menores níveis de DBO* e DQO**, facilitando Percolado tratamentos finais destes líquidos. Formação de gases Não-formação de biogás. Estabilização Decomposição mais rápida do lixo. Melhores condições de drenagem, beneficiando a Drenagem de líquidos e gases estabilidade mecânica dos aterros. *Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO): medida de quantidade de oxigênio consumida pelos microorganismos durante a oxidação da matéria orgânica que está presente na água ou água residuária (percolado, no caso). Quanto maior o grau de contaminação maior será a DBO. **Demanda Química de Oxigênio (DQO): medida de quantidade de oxigênio consumida durante a oxidação química da matéria orgânica presente na água ou água residuária (percolado, no caso). Em geral, a DQO é maior que a DBO e nem sempre é possível correlacioná-las. Fonte: IPT, 2000. 4.6.8.3 – Tratamento biológico O tratamento biológico do lixo, como forma de aceleração do processo de decomposição da matéria orgânica, tem sido objeto de estudos teóricos e acadêmicos. Esta alternativa demanda tecnologia de processo relativamente complexa e controle rigoroso em todas as suas faces, necessitando equipe especializada para operação. O tratamento acelerado do lixo, mediante decomposição biológica em célulasreatoras, transforma a fração orgânica sólida do material alterado em líquidos e gases que devem ser coletados e tratados. Ao final, se tem a possibilidade de reabertura das células de lixo, segregação dos compostos orgânicos e destinação final dos resíduos (inertes). Assim, o aterro sanitário transforma-se em um local para tratamento, podendo ter, inclusive, o seu volume de resíduos minimizados, mediante técnicas separadoras de recicláveis e disposição dos inertes em local específico. Essa técnica tem sido empregada no continente Norte Americano e em alguns países Europeus. No Brasil, os primeiros experimentos foram realizados na última década, em dimensões e condições reais de operação. Os resultados destes experimentos não tiveram bons progressos. 4.6.8.4 – Tratamento por digestão semi-anaeróbia A concepção de digestão semi-anaeróbia é apresentada por uma corrente tecnológica como alternativo ás dificuldades encontradas no processo aeróbio. Essa concepção tenta eliminar as desvantagens de implantar e operar sistemas forçados de insufladores de ar no lixo, adotando determinadas diretrizes de prevenção de projeto, privilegiando sistemas de drenagens de gases e percolados e a aeração natural por convecção. Com isso, se consegue eliminar a principal desvantagem do processo aeróbio, que é o custo, e absorvem-se todas as suas vantagens com pouco ou quase nenhum prejuízo para o tempo de decomposição da matéria orgânica. Esta alternativa tem sido empregada no lado oriental (Japão), podendo também ser aplicada por meio de técnicas de aberturas das células, segregação dos materiais em compostos orgânicos e inertes como no tratamento biológico. Contudo, deve-se estar alerta para a grande diferença de materiais aterrados nesse País (com predomínio de cinzas de incineração) em relação aos do Brasil. As condições de DBO dos nossos percolados podem criar colmatação (entupimento por deposição de materiais) dos sistemas de drenagem submetidos à entrada de ar, devendo ser previstas soluções de projeto. Definindo-se a concepção mais adequada ao caso em análise (desde que estejam de acordo com as orientações do Órgão Estadual de Controle da Poluição Ambiental OECPA), inicia-se à elaboração do projeto do aterro sanitário para o local selecionado, onde serão definidas as diversas instalações, sistemas e esquemas de operação necessários. 4.7 – Aterramento dos Resíduos Sólidos Urbanos O processo de aterramento dos resíduos pode ser executado de três formas tradicionalmente empregadas: - Método da trincheira ou vala; - Método da rampa; - Método da área. Método da Trincheira ou vala Consiste no abrimento de valas, onde o lixo a ser disposto, compactado e posteriormente coberto com solo. As valas podem ser de pequena (operação manual) ou de grandes dimensões (permiti-se a entrada de equipamentos de grande porte em seu interior); Método da rampa Conhecido também como o método da escavação progressiva, é fundamentado na escavação da rampa, onde o lixo é disposto e compactado pelo trator e posteriormente coberto com solo. É geralmente empregado em áreas de meia encosta, onde o solo natural ofereça boas condições para ser escavado e, de preferência, possa ser utilizado como material de cobertura. Este método é o mais utilizado, devido os resíduos serem adensados em taludes com certa inclinação e cobertos por uma camada de argila diariamente. A compactação inclinada em sentido ascendente tende a aumentar a densidade dos resíduos favorecendo o processo de decomposição biológica. De certa maneira, a cobertura diária dos resíduos favorece a atividade anaeróbia pelo fato de reduzir a penetração de ar no aterro. A compactação em rampa em sentido ascendente vem sendo adotada com grande sucesso desde a década de 60, por ser um método que vem favorecendo a decomposição e o adequamento da atividade microbiana anaeróbia no meio. O adensamento dos resíduos associado à cobertura diária permitem o surgimento de um ambiente inicial favorecendo a fase de aclimatação das bactérias, ou como conhecida “fase lag”. Em geral, a fase de aclimatação é considerada uma fase crítica, observando-se um retardamento no crescimento dos microorganismos, influenciando o processo de decomposição dos resíduos. Método de área Este método é utilizado na maioria das vezes em locais cuja topografia é plana e o lençol freático é raso (nível bem baixo). A opção por um desses métodos vai depender de certos fatores, como as características físicas e geográficas da área e do volume de lixo a ser disposto. As Figuras mostram os métodos utilizados para o aterramento dos resíduos. Fonte: IPT, 1996 Figura 4.8.a – Método de Trincheira Fonte: IPT, 1996 Figura 4.8.b – Método de Rampa Fonte: IPT, 1996 Figura 4.8.c – Método de Área 4.8 – Densidade dos Resíduos e Produção de Gás Estudos relacionados a este campo, são poucos os que comprovam a influência da compactação dos resíduos no processo de decomposição, porém não deixando de ser comentada já que é de grande importância. Segundo Buivid (1980), a verificação feita em estudos de laboratório mostrou que ocorria um ligeiro aumento na produção de gás relacionado ao aumento da densidade. A tabela 3.2 mostra os resultados obtidos dos testes de laboratório a seguir. Tabela 4.2 – Produção de gás em aterro versus compactação Sólidos Voláteis CH4 Produzido Destruídos (%) (m3/kg de S.V) 148 50 0,21 178 52 0,21 207 64 0,27 237 60 0,25 Densidade (kg/m3) Fonte: Lima, L.M.Q. (2002) Estes dados de Buivid foram obtidos em escala de laboratório, em que se manteve o processo a uma temperatura constante de 37º C por um período de 90 dias. JEWELL (1980), também em escala de laboratório, realizou estudos sobre o efeito da densidade no processo de decomposição, observando, após 150 dias, que os lisímetros com maior grau de compactação possibilitaram reduzir o teor de sólidos voláteis em 36,9%, enquanto os lisímetros menos densos reduziram 33,2% do teor de sólidos voláteis. LIMA (1986), realizando estudos em escala real, pode verificar a ocorrência do aumento da velocidade no processo de digestão e um acentuado aumento na fração molar do gás metano devido ao aumento da altura da célula de lixo. Células com altura de 5,00 metros, sobrepostas, conseguem produzir gás mais rapidamente do que células isoladas. A experiência realizada na cidade de São Paulo, litoral Paulista, atenta ao fato das células não ultrapassarem a altura de 2,00 metros, tornando-se insignificante a produção de gás metano, justificando a suposição de que, quanto maior for a altura da célula, ou seja, seu grau de adensamento ou compactação, maior será a produção de gás. 4.9 – Drenagem de Biogás e Percolado da Massa de Lixo São abertas valas na massa de lixo com uso de equipamento adequado (retroescavadeira), para a instalação de drenos de percolados e biogás. As drenagens de líquidos percolados são direcionadas a um tanque de acumulação para início das operações de tratamento. O volume e as características do tanque serão definidos em projeto, bem como o tipo de tratamento a ser adotado para o percolado. Para o dimensionamento do sistema de drenagem é fundamental conhecer a vazão a ser drenada e as condicionantes geométricas da massa de lixo (resíduos sólidos). A concepção de um sistema de drenagem para percolados dependerá da alternativa de tratamento adotada para o aterro, podendo esse sistema está associado ao sistema de drenagem dos gases. Basicamente, os drenos usados para a coleta e transporte de líquidos percolados são constituídos por linhas de canaletas escavadas diretamente no solo, ou sobre a camada de aterro impermeabilizante, e preenchidas com material filtrante. O sistema de drenagem de líquidos percolados para aterros em trincheiras ou valas de pequenas dimensões, via de regra, não tem sido feita uma previsão para esse tipo de estrutura. Se as valas forem abertas com dimensões adequadas (sobretudo nas estações chuvosas) e os solos utilizados (para base do aterro e cobertura) com suas respectivas especificações, o volume de líquidos percolados gerados seria pequeno, podendo o sistema ser até dispensado pela OECPA (op. cit.). O sistema de drenagem de gases (biogás) tem a função de drená-los por originar da decomposição biológica da matéria orgânica, evitando com isso sua migração através de meios porosos que constituem o subsolo, podendo se acumular em redes de esgoto, fossas, poços e sob edificações (internas e externas ao aterro sanitário). A migração do biogás deve ser controlada pela execução de rede de drenagem adequada, colocados em pontos determinados no aterro. Esses drenos atravessam todo o aterro no sentido vertical, partindo do sistema de impermeabilização da base até acima da cota de piso da camada de cobertura. A Figura 4.9 mostra o dreno de gás acima da cota de piso do aterro. Altura Variável Fonte: CTR Nova Iguaçu, 2003 Figura 4.9 – Dreno de Gás do Aterro de Nova Iguaçu Associados aos drenos verticais estão os drenos horizontais e subverticais projetados para facilitar a drenagem e tornando-a mais eficiente na massa de lixo. Esses drenos podem ser interligados ao sistema de drenagem de percolados, a qual irá depender da alternativa de solução de tratamento adotada para aterro sanitário. Os drenos de biogás nos aterros sanitários, geralmente são constituídos por linhas de tubos perfurados, sobrepostos e envoltos por uma camisa de brita (de espessura aproximadamente igual ao diâmetro do tubo utilizado), atravessando verticalmente a massa de resíduos aterrados, indo da base até a superfície superior constituindo uma chaminé. Um fator condicionante para o dimensionamento dos drenos é a vazão do gás a ser drenada; porém, como não existem modelos de cálculos comprovados, normalmente os drenos são construídos de maneira empírica, prevalecendo o bom senso de quem o projeta. É recomendado que se queime o gás que é emitido para atmosfera. Também pode ser avaliada a possibilidade de recuperação energética, uma vez que o biogás apresenta concentrações iniciais de metano na ordem de 40% (alguns meses após o aterramento), estabilizando-se em valores em torno de 60% a 65% (cerca de um a dois anos após aterramento). Esses valores podem variar dependendo da composição dos resíduos e seu tempo de degradação. O metano tem um poder calorífico de 5.800 kcal/Nm3. Em caso de se construir aterro em valas, só será possível se as dimensões das valas forem significativas, podendo ser executados drenos centrais e laterais, possibilitando a exaustão dos gases. Já se for ao contrário, as valas com dimensões pequenas, não será necessário à construção de sistemas especiais para drenagem dos gases, pois será dispensado pela OECPA (op. cit.). V - GÁS DE ATERRO (LANDFILL GÁS): 5.1 – Composição, Característica e Explosividade do Gás de Aterro O gás de aterro é composto de vários gases que estão presentes em grandes quantidades (gases principais) e de vários gases que estão presentes em pequenas quantidades (oligogases). Os gases principais são procedentes da decomposição da fração orgânica dos RSU. Alguns dos oligogases são encontrados em pequenas quantidades, podendo ser tóxicos e por apresentarem riscos à saúde pública. 5.1.1 - Constituintes principais do gás de aterro Os gases que são encontrados nos aterros incluem o amoníaco (NH3), o dióxido de carbono (CO2), monóxido de carbono (CO), hidrogênio (H2), sulfeto de hidrogênio (H2S), metano (CH4), nitrogênio (N2) e oxigênio (O2). Nas tabelas 5.1.1 e 5.1.2 são apresentadas às distribuições percentuais típicas dos gases que se encontra em um aterro de RSU. Na tabela 5.1.3 são apresentados os dados sobre o peso molecular e a densidade. O metano e o dióxido de carbono são os principais gases procedentes da decomposição anaeróbia dos componentes biodegradáveis dos resíduos orgânicos nos RSU. Tabela 5.1.1 – Constituintes típicos encontrados no gás de aterro de RSU* Percentagem (base volume seco) Componentes Metano 45–60 Dióxido de carbono 40–60 Nitrogênio 2–5 Oxigênio 0,1–1,0 Sulfetos, disulfetos, mercaptanos, etc. 0–1,0 Amoníaco 0,1–1,0 Hidrogênio 0–0,2 Monóxido de carbono 0–0,2 Constituintes em quantidades traçada Características 0,01–0,6 Valor Temperatura 37–67 ºC Densidade específica 1,02–1,06 Contido em umidade Saturado 3 Poder calorífico superior, Kcal/m 890–1.223 Fonte: Tchobanoglous et al. (1994) * A distribuição percentual exata variará segundo a idade do aterro. Tabela 5.1.2 – Composição do biogás Composição Química % V/V Metano (CH4) 61,9 Dióxido de carbono (CO2) 36,7 Outros componentes 1,4 Fonte: MENESES, LADY VIRGINIA TRALDI. Biogás: definição, fontes de geração, processamento, aplicação. Secretaria de Serviços e Obras. Departamento de Limpeza Urbana. Divisão Técnica de Aterros Sanitários, 1988. Tabela 5.1.3 – Peso molecular, densidade e peso específico dos gases encontrados no aterro controlado em condições padrão (0 ºC, 1 atm) Peso molecular Densidade Peso específico (g) (g/l) (kg/m3) 28,97 1,2928 1,293 NH3 17,03 0,7708 0,771 CO2 44,00 1,9768 1,977 CO 28,00 1,2501 1,250 H2 2,016 0,0898 0,089 H2S 34,08 1,5392 1,539 Metano CH4 16,03 0,7167 0,717 Nitrogênio N2 28,02 1,2507 1,251 Oxigênio O2 32,00 1,4289 1,428 Gás Fórmula Ar Amoníaco Dióxido de carbono Monóxido de carbono Hidrogênio Sulfeto de hidrogênio Fonte: Tchobanoglous et al. (1994) Nota: Para um comportamento de gás ideal, a densidade é igual à mp/RT, donde m é o peso molecular do gás, p é a pressão, R é a constante universal dos gases, e T é a temperatura utilizando uma série de unidades consistente. Quando o metano está presente no ar em concentrações entre 5 e 15%, é explosivo. Como no aterro só estão presentes quantidades limitadas de oxigênio, quando as concentrações de metano chegam a esse nível crítico, há pouco perigo de ocorrer uma explosão no local. Contudo, podem ser formadas misturas de metano que estão dentro do limite explosivo se o gás do aterro migrar e entrar em contato com o ar. A concentração dos gases que podem escapar no lixiviado dependerá da concentração dos mesmos no momento em que entra em contato com o lixiviado, esta se estima utilizando a Lei de Henry. No que diz respeito ao dióxido de carbono, o mesmo têm influência sobre o pH do lixiviado. 5.1.2 - Constituintes do gás de aterro em quantidades traçadas A Junta para a Gestão Integral de Resíduos da Califórnia tem realizado um programa extenso para realização de ensaios sobre gases de aterro, como parte de um estudo para sua caracterização. Na Tabela 5.1.4 são apresentados dados resumidos sobre as concentrações dos oligocompostos encontrados nas amostras de gases de aterro procedentes de 66 aterros. Tabela 5.1.4 Concentrações típicas de compostos em quantidades traço encontrados no gás de aterro em 66 aterros de RSU em Califórnia Composto Concentração (ppbV*) Mediana Média Máxima Acetona 0 6.838 240.000 Benzeno 932 2.057 39.000 Clorobenzeno 0 82 1.640 Clorofórmio 0 245 12.000 1,1-Dicloroetano 0 2.801 36.000 1.150 25.694 620.000 1,1-Dicloroeteno 0 130 4.000 clorodietileno 0 2.835 20.000 tras-1,2-Dicloroetano 0 36 850 2,3-Dicloropropano 0 0 0 1,2-Dicloropropano 0 0 0 Brometo de etileno 0 0 0 Dicloroetileno 0 59 2.100 Óxido de etileno 0 0 0 Etilbenzeno 0 7.334 87.500 Metil-etil-cetona 0 3.092 130.00 1,1,2-Tricloroetano 0 0 0 Diclorometano 1,1,1-Tricloroetano 0 615 14.500 Tricloroetileno 0 2.079 32.000 8.125 34.907 280.000 0 246 16.000 Tetracloroetileno 260 5.244 180.000 Cloreto de vinila 1.150 3.508 32.000 Estirenos 0 1.517 87.000 Acetato de vinila 0 5.663 240.000 Xileno 0 2.651 38.000 Tolueno 1,1,2,2-Tetracloroetano Fonte: Tchobanoglous et al. (1994) *ppbV – partes por bilhão por volume Em outro estudo realizado pela Inglaterra, foram recolhidas amostras de gás em três aterros diferentes e foram analisados 154 compostos. Encontraram-se um total de 116 compostos orgânicos no gás de aterro. Muitos dos compostos encontrados se classificam como compostos orgânicos voláteis (COV). Os dados que são apresentados na Tabela 5.1.4 são representativos de oligocompostos encontrados na maioria dos aterros. A presença destes gases no lixiviado que se separa do aterro dependerá de suas concentrações no gás de aterro quando se põe em contato com o lixiviado. Podem ser estimadas as concentrações destes constituintes no lixiviado utilizando a lei de Henry, como é mostrado no Anexo A. Há que ressaltar que a freqüência de concentrações significativas de COV no gás de aterro está associada a aterros antigos, que aceitam resíduos industriais e comerciais que contenham COV. Nos aterros mais modernos, onde está proibida a disposição de resíduos perigosos, as concentrações de COV no gás de aterro têm sido extremamente baixas. 5.1.3 - Comparação com outros gases São mostradas na Tabela 5.1.5 as principais diferenças entre o biogás e os demais tipos de gases combustíveis usuais. Tabela 5.1.5 – Comparação entre os principais gases Tipos de gás Características ORIGEM PESO MOLECULAR BIOGÁS Aterros sanitários 27 GÁS NATURAL Reservatórios de petróleo e de gás 17 a 21 GLP Destilação de petróleo e processamento de gás natural GÁS DE RUA GÁS DE REFINARIA Reforma termocatalítica de gás Processos de natural ou de refino de nafta petróleo petroquímica 44 a 56 16 24 24.000 a 32.000 4.300 10.000 1,5 a 2,0 0,55 0,82 Rico: 10.900 PODER CALORÍFICO 5.600 Processado: 9.300 DENSIDADE RELATIVA 0,923 0,58 a 0,72 Hidrogênio, Metano, PRINCIPAIS dióxido de Metano e Propano e COMPONENTES carbono e etano butano hidrogênio metano, Hidrogênio, nitrogênio, nitrogênio, monóxido de metano, etano carbono, dióxido de carbono Industrial, PRINCIPAIS UTILIZAÇÕES geração de energia elétrica e automotivo Residencial, comercial, Residencial e Residencial e automotivo, e comercial comercial 15 - Industrial industrial PRESSÃO DE ARMAZENAMENTO 60 a 70 200 (kgf/cm2) Fonte: CONPET – PROGRAMA NACIONAL DA RACIONALIZAÇÃO DO USO DOS DERIVADOS DE PETRÓLEO E DO GÁS NATURAL, Rio de Janeiro, 1997, Gás natural. 5.1.4 - Explosividade dos Gases O início de uma explosão começa com três principais elementos que constituem o triângulo do fogo: Fonte: Vianna, 1976 Figura 5.1.1 – Triângulo do Fogo A explosão é uma combinação de três elementos básicos que são: o combustível, o oxigênio presente no ar e o calor. A combinação desses três elementos, nas devidas proporções, desencadeia uma explosão. Portanto, para ocorrer uma explosão, é necessário existirem reunido combustível, ar e calor, ou seja, combustível, oxigênio e temperatura de Ignição. A temperatura mínima de auto-ignição é uma temperatura limite, a partir da qual uma mistura de um gás combustível e um comburente se inflama espontaneamente, quer dizer, sem a presença de uma chama piloto ou centelha. - Para que uma mistura dentro do campo de inflamabilidade (LEL e UEL) venha a se inflamar, é necessária que esteja presente uma condição de ignição, como uma faísca gerada por atrito ou eletricidade, chama ou temperatura acima do limite mínimo de auto-ignição. As temperaturas mínimas de auto-ignição para os gases combustíveis mais comuns, na pressão atmosférica, podem ser observadas na tabela a seguir: Tabela 5.1.6 - Temperatura mínima de Auto-Ignição Gás Ar Oxigênio puro Gás Natural** 580ºC 555ºC GLP 420º - 480ºC (*) 285º - 470ºC (*) Hidrogênio 570ºC 560ºC Acetileno 305ºC 296ºC Fonte: www.krona.srv.br (*) Varia segundo a composição. (**) As temperaturas do Gás Natural são as mesmas para o CH4 Isso significa que uma mistura de um gás combustível com um comburente poderá se inflamar, apenas por estar submetida a uma temperatura a partir dos valores indicados na tabela acima, sem a necessidade de uma centelha ou chama aberta. A explosão pode ser representada simbolicamente pelo triângulo do fogo, como mostrado anteriormente, cujos lados correspondem aos elementos que constituem o fogo ou a explosão. O gás de aterro pode formar uma mistura explosiva quando combinado com o oxigênio em certas proporções. A Figura 5.1.2 mostra a exibição de caminhos potenciais para o gás de aterro. Fonte: ATSDR, 2005. Figura 5.1.2 – Exibição de Caminhos Potenciais do Gás de Aterro As seguintes condições do gás no aterro devem ser satisfeitas (landfill gás) para que se haja risco de explosão: a) Produção de gás: O aterro deve estar produzindo gás, e este gás deve conter compostos químicos que devem estar presentes em quantidade suficiente para levar à explosão. b) Migração de gás: O gás deve estar apto a migrar pelo aterro. Tubos enterrados ou a geologia natural subsuperfícial podem prover caminhos preferenciais para o gás. Os sistemas de coleta e tratamento dos gases, se operado corretamente, reduz a quantidade de gás que é capaz de escapar para fora do aterro. c) Gás coletado em um espaço confinado: O gás deve estar concentrado em um espaço confinado no qual pudesse, potencialmente, explodir. Um espaço confinado pode ser: um buraco, um recinto residencial, ou um porão. A concentração pra qual o gás tem potencial para explodir é definido em termos de limites de explosividade inferior e superior (LEL – Lower Explosive Limit e UEL – Uper Explosive Limit), como definido abaixo: 5.1.4.1 - Limites de Explosividade Inferior e Superior (LEL e UEL) O nível de concentração pra qual o gás tem potencial para explodir é chamado de limite de explosividade. O potencial para um gás explodir é determinado pelo limite de explosividade inferior (LEL) e limite de explosividade superior (UEL). O LEL e UEL são medidas de porcentagem de um gás no ar em volume. Para concentrações abaixo do LEL e acima do UEL, o gás é considerado não explosivo. Contudo, um risco de explosão pode existir se o gás estiver presente no ar entre o LEL e UEL mediante a presença de uma fonte de ignição. 5.1.4.2 - Explosões de gás de aterro Embora as explosões de gás de aterro sejam de modo algum comuns, o número de incidentes conhecidos ou suspeitos de terem sido causados pelas explosões de gás de aterro é documentado. Acidentes documentados devido à explosão do gás de aterro Em 1999, uma menina de oito anos sofreu queimaduras em seus braços e pernas quando brincava em um playground de Atlanta. A área foi, segundo a notícia, usada como um depósito de lixo ilegal há muitos anos atrás. (Jornal-Constituição de Atlanta 1999); Em 1994, durante um jogo de futebol em um parque construído sobre um aterro em Charlotte, Carolina do Norte, uma mulher foi seriamente queimada pela explosão de gás metano. (Observado em Charlotte 1994); Em 1987, a migração do gás para fora da área do aterro é suspeito de ter causado a explosão de uma residência em Pittsburg, Pensylvania. (EPA, 1991); Em 1984, o gás de aterro migrou e destruiu uma casa perto do aterro em Akron, Ohio. Dez casas foram temporariamente evacuadas. (EPA, 1991); Em 1983, uma explosão destruiu uma residência do outro lado da rua afastada do aterro em Cincinnati, Ohio. Ferimentos menores foram relatados. (EPA, 1991); Em 1975, em Sheridan, Colorado, o gás de aterro ficou acumulado na tubulação de drenagem de águas pluviais que corria através do aterro. A ocorrência de uma explosão aconteceu quando várias crianças brincavam dentro da tubulação com uma vela acesa, resultando em sérios ferimentos em todas as crianças. Em 1969, O gás metano migrou de um aterro adjacente pra dentro de um porão fechado em Winston-Salem, Carolina do Norte. A causa da explosão do gás foi um cigarro aceso, ocasionando a morte de três homens e ferindo seriamente outros cinco. 5.1.4.3 - Faixas de gases que podem causar perigo de explosão Metano: O metano é um dos constituintes do gás de aterro que provavelmente causa o maior perigo de explosão. O gás metano é explosivo entre o LEL de 5% em volume e UEL de 15% em volume. As concentrações de metano dentro do aterro são tipicamente 50% (muito mais alta do que o UEL), tornando improvável a explosão do metano dentro dos limites do aterro. Enquanto o metano migra e é diluído, a mistura de gás metano (CH4) pode estar em níveis de explosão. Além disso, o oxigênio é uma componente chave para iniciar uma explosão, mas o processo biológico que produz metano necessita de um ambiente anaeróbio, ou seja, um ambiente ausente de oxigênio. À superfície do aterro, o oxigênio presente é suficiente para iniciar uma explosão, mas o gás metano usualmente difunde-se no ar ambiente em concentrações abaixo de 5% de LEL Dentro desta condição em causar perigo de explosão, o metano pode migrar para fora do aterro e está presente entre LEL E UEL. Outros gases de aterro: Outros constituintes do gás de aterro são inflamáveis (e.g., amônia, sulfeto de hidrogênio, e NMOCs – Compostos Orgânicos Não-Metano). Entretanto, por ser improvável que estes gases estejam em concentrações acima do LEL, raramente causam perigos de explosão como gases individuais. Por exemplo, o benzeno (um MNOC que pode ser encontrado no gás de aterro) é explosivo entre o LEL de 1,2% e UEL de 7,8%. Todavia, concentrações de benzeno no gás de aterro são muito improváveis de alcançar estes níveis. Se o benzeno for detectado no gás de aterro em uma concentração de 2 ppb (ou 0,0000002% por volume de ar), então o benzeno teria de ser coletado em um espaço fechado a uma concentração 6 milhões de vezes maior que a concentração encontrada no gás de aterro para causar um perigo de explosão. A Tabela 5.1.7 mostra o potencial de perigos de explosão causados pelos constituintes importantes do gás de aterro. Ressalta-se que o metano é o mais provável constituinte do gás de aterro que pode levar a um risco de explosão. Outros constituintes presentes no gás de aterro estão, improvavelmente, em concentrações bastante altas para causar um perigo de explosão. Tabela 5.1.7 – Potencial de perigo de explosão de componentes comuns do gás de aterro COMPONENTE POTENCIAL CAUSADOR DE RISCO DE EXPLOSÃO É altamente explosivo quando misturado com o ar em um volume entre 5% de LEL e 15% de UEL. Para concentrações abaixo de 5% e acima de 15%, o Metano (CH4) metano não é inflamável. Para alguns aterros, o metano pode ser produzido em quantidades suficientes para coleta no aterro ou estruturas próximas em níveis de explosão. Dióxido de Carbono (CO2) Não é inflamável ou explosivo. Nitrogênio (N2) Não é inflamável ou explosivo. Oxigênio (O2) Não é inflamável, porém para iniciar explosões é necessário o oxigênio. É inflamável. O LEL é 15% e o UEL é 28%. Contudo, Amônia (NH3) é improvável à coleta da amônia em uma concentração bastante alta, por trazer um perigo de explosão. Potencial de perigos de explosão varia pela química do componente. Por exemplo, o LEL do benzeno é 1,2% e NMOCs (Compostos Orgânicos o UEL é 7,8%. Contudo, o benzeno e outros NMOCs Não Metano) sozinhos são improváveis de serem coletados em concentrações altas o bastante para trazer perigos de explosão. Este tipo de gás é inflamável. O LEL é 4% e o UEL é Sulfeto de Hidrogênio ou Gás 44%. Contudo, em muitos aterros, é improvável de ser Sulfídrico (H2S) coletado em concentrações altas o bastante para trazer perigos de explosão. Fonte: ATSDR, 2005. 5.1.4.4 - Avaliação de perigo de explosão causado por um aterro Para se avaliar, utiliza-se o checklist, que pode ajudar a determinar se um aterro pode trazer um perigo de explosão. Se sua evolução identifica o potencial de uma explosão, ações severas devem ser tomadas para prevenir que algum dano atinja a comunidade. Medidas e controles para prevenir de perigos de explosão são tomados como ações de segurança e saúde pública. CHECKLIST – Perigo de explosividade do gás de aterro Sim Não O aterro está produzindo gás? Caso afirmativo, quanto? Porque o metano e o dióxido de carbono são os principais componentes do gás de aterro e são compostos químicos que não possuem odor e cor, sendo necessário dados de monitoramento para responder esta questão. Existe um sistema de coleta de gás de aterro no local? O sistema de coleta reduz os níveis de migração de gás pra fora do aterro nas áreas envolta. Está migrando gás pra fora do aterro? O monitoramento de dados fora da área pode ser necessário para responder esta questão. Se o gás está migrando para fora do aterro e estruturas são alcançadas, há locais para coletar gás? O escapamento incontrolado de gás para fora de um aterro pode migrar para estruturas sobre este mesmo aterro ou para área do entorno. Contudo, quanto mais afastada do aterro encontra-se esta estrutura, mas improvável torna-se a migração dos gases em concentração alta o suficiente para trazer perigo de explosão. Os lugares mais comuns para coletar gases são porões, espaços rastejantes, ou portos de serviços público enterrados na entrada. Residências com porões, especialmente aqueles com tubos ou rachadura no porão que permitiria a entrada do gás, são os lugares mais prováveis para coletar gás. É coletado o gás em concentrações que são bastante altas para trazer perigo de explosão? O monitoramento de dados é necessário para responder esta questão. Precauções seriam usadas em selecionar o equipamento de amostragem para garantir que uma fonte de ignição não tenha sido introduzida na área. Há alguma fonte de ignição? Os gases podem ser inflamados por muitas fontes diferentes, por tal fornalha no porão ou por uma chama piloto do fogão a gás. Outras fontes podem incluir velas, palitos de fósforos, cigarros, ou uma faísca. Por existirem diversas fontes de ignição, é mais seguro supor que o potencial para uma fonte de ignição está sempre presente. Fonte: ATSDR, 2005. 5.2 - Geração de Gás (Landfill Gas) e Fatores de Geração O LFG é gerado como resultado de processos físicos, químicos e microbiológicos que ocorrem dentro do resíduo. Os processos microbiológicos governam o processo de geração do gás devido à natureza orgânica da maioria dos resíduos (Christensen, 1989). Esses processos são sensíveis ao meio-ambiente e, portanto, há numerosas condições naturais e antrópicas que afetarão a população microbiológica e, dessa forma, a taxa de produção do LFG. Estudos de curto prazo feitos em aterros de tamanho grande, usando dados de testes de produção de LFG, indicam uma amplitude de produção de LFG entre 0,05 e 0,40 m3 de LFG por quilograma de resíduo instalado colocado num aterro (Ham, 1989). A massa de resíduo é responsável por tanto os materiais sólidos (75-80% da massa) quanto à umidade (20-25% da massa). Esta porcentagem é uma função do conteúdo orgânico do resíduo que é colocado no aterro. Esta quantidade de valores de produção de LFG pode à primeira vista não parecer grande. No entanto, usando a população base na LAC e o valor de combustível do LFG, a quantidade anual do combustível de LFG é equivalente a dezenas de milhões de metros cúbicos de gás natural cada ano. O típico gás natural apropriado a gasoduto tem aproximadamente o dobro do valor de aquecimento ou conteúdo de combustível de um LFG típico. A composição de resíduo é o fator mais importante na avaliação do potencial de geração de LFG de um local. O volume potencial máximo de LFG é dependente da quantidade e do tipo de conteúdo orgânico dentro da massa de lixo (Environment Canadá, 1996) uma vez que os resíduos orgânicos em decomposição é a fonte de todo o LFG produzido. Outros fatores que influenciam a taxa de produção de LFG incluem teor de umidade; conteúdo dos nutrientes; conteúdo de bactéria; nível de pH; temperatura; e os planos de operação e projeto específicos ao local. Os resíduos produzidos na LAC têm tipicamente teor de umidade e material orgânico mais alto do que a maioria dos resíduos norte-americano ou europeu e, portanto, se esperaria que gerassem LFG a taxas mais altas ou equivalentes. A umidade é o fator limitante primordial na taxa de decomposição de resíduo (McBean et al., 1995; Reinhart, 1996). As condições de umidade dentro do aterro estão associadas a muitos fatores. Os aterros são tipicamente construídos e enchidos em padrão de camada seqüencial. Este fator é importante na compreensão de como a umidade se move para dentro e através do resíduo. O efeito de camada tende a resultar em características de fluxo substancialmente diferentes para o movimento de chorume e infiltração de água no aterro. O controle do teor de umidade e de outros fatores que influenciam a população microbiológica que produz o LFG pode ter um grande impacto na porcentagem do LFG total potencial que é produzido, e a taxa em que é produzido. É possível controlar de alguma forma a taxa de produção de LFG por meio de sistemas de manejo de lixo. Aterros sanitários convencionais, como praticado na América do Norte nas décadas de 1970 e 1980, geralmente é referido como tumbas secas porque o enfoque assumido em seu projeto foi minimizar a água que contata o resíduo com o intuito de minimizar incursões do chorume resultante para dentro do lençol freático. No entanto, esta prática também limita a taxa de atividade anaeróbica dentro do lixo. A tendência atual é no sentido de sistemas de Tecnologia de Biodigestor de Aterro Sanitário (LBT-Landfill Bioreactor Technology), que aumentam o volume de água em contato com o lixo, para rapidamente estabilizar os resíduos. Esta técnica pode produzir grandes taxas iniciais de geração de LFG ao mesmo tempo em que diminui agudamente a sua taxa de geração depois de alguns anos. Para o objetivo de uma caracterização de local inicial, a produção de LFG pode ser simplificada como uma função do tamanho e idade do volume de resíduo, tipo de resíduo e conteúdo de umidade. O volume dos gases de estufa liberados é diretamente proporcional ao potencial de geração de LFG. É também relevante a outros impactos potenciais como queixas de mau cheiro e situações de perigo. Em geral, quanto mais gás for produzido, é mais alta a probabilidade de que questões de saúde, segurança e incômodo odorífero serão levantadas, e igualmente importantes, que exista utilização de LFG economicamente viável. A Figura 5.2.a proporciona um método de caracterização de um local com base em seu potencial de produção de LFG. O primeiro passo é determinar o fator de ajuste na tonelagem com base na composição de resíduo. Este fator de correção dá conta da proporção de resíduos inertes no aterro, que não produzirão LFG, e a proporção de resíduos industriais, comerciais e/ou institucionais (ICI) no aterro que produzirão menos LFG do que resíduos domésticos típicos. O fator de ajuste é determinado a partir de um diagrama triangular mostrado na Figura 5.2.a com base na proporção de tipos de resíduos que existam ou serão aceitos no aterro. A capacidade de aterro é multiplicada pelo fator de ajuste de tonelagem para determinar a capacidade de local ajustada. Fonte: MAUAL DE PREPARAÇÃO DE GÁS DE ATERRO PARA PROJETOS DE ENERGIA (BANCO MUNDIAL). Figura 5.2.a - CARACTERIZAÇÃO PRELIMINAR DO LFG LOCAL. O aterro é então classificado como seco ou molhado. Um aterro seco terá uma decomposição mais lenta do que um aterro molhado, o que acarreta em taxa de produção de LFG mais baixa, e o tempo de produção mais demorado. Alguns dos fatores que influenciam o teor de umidade de um aterro incluem a precipitação e a temperatura no local, tipo de cobertura de aterro, condição de cobertura (isto é, irregular, íntegra), tipo de sistema de coleta de chorume, e tipo de base de aterro ou alinhamento natural. A classificação do local como seco ou molhado é principalmente uma função da quantidade de precipitação que se infiltra na massa de lixo. Um enfoque conservador para classificar um local como molhado ou seco se baseia na média anual das precipitações. Um aterro em que uma porção significativa do resíduo esteja localizada dentro de um nível de lençol freático/chorume deveria ser considerado também como um local molhado. Para discussão geral, locais situados em áreas com menos de 500 mm/ano serão classificados como locais relativamente secos, mais de 500 e menos do que 1000 mm/ano como locais relativamente molhados, e locais situados em áreas com mais de 1000 mm/ano como locais molhados. Na América Latina e Caribe (LAC), a maioria dos aterros é considerada como local relativamente molhado ou totalmente molhado. Discussão mais aprofundada sobre a importância deste aspecto relacionado aos locais da LAC será proporcionada com o debate sobre modelagem e as designações de parâmetros aplicáveis. A capacidade de local ajustada está localizada no eixo esquerdo da tabela de aterro úmido ou seco. Isto enfoca o efeito que o tamanho do local (pequeno, médio, grande) tem na produção de gás. O status atual do enchimento do local está situado no eixo de baixo. Isto é definido como a porcentagem com que o local é preenchido ou o número de anos desde o fechamento do local. Isso enfoca a idade do local. A produção de LFG é determinada pela interseção da capacidade do local ajustada e a condição atual de preenchimento. A produção de LFG é categorizada como “alta”, “media” ou “baixa”. Cada categoria é delineada por números que indicam um nível crescente de severidade dentro da categoria. A produção máxima de LFG ocorre tipicamente dentro de dois anos de fechamento do local se o local tiver tido um cronograma de enchimento anual bastante uniforme. É importante considerar o potencial de produção futura de LFG na avaliação e planejamento da necessidade de controles de LFG. A Figura 5.3.a demonstra que a produção de LFG de um local aumenta à medida que ele é preenchido e, daí, lentamente declina depois do fechamento do local. Outros assuntos relacionados à produção de LFG, que são de preocupação, incluem o perigo de migração subsuperficial do LFG e o impacto do LFG sobre a qualidade do ar. Os fatores primários que influenciam a distância com que o gás migra desde os resíduos até os solos adjacentes são a permeabilidade do solo adjacente ao aterro e o tipo de cobertura de superfície de terra ao redor do aterro. Geralmente, quanto maior for à permeabilidade do solo adjacente ao aterro, maior será à distância de migração possível. O conteúdo de água do solo tem um efeito importante em sua permeabilidade com respeito ao fluxo de LFG. À medida que o conteúdo de água aumenta, há uma transmissibilidade efetiva de solo ou resíduo para o fluxo de gás que diminui. Além disso, o tipo de cobertura de superfície afeta a ventilação do LFG que pode escapar para a atmosfera. Superfícies congeladas ou pavimentadas limitam a ventilação de gás para a atmosfera e, portanto, aumentam a distancia de migração potencial. Um alinhamento do aterro pode reduzir grandemente o potencial para a migração de subsuperfície. A presença de solos heterogêneos ao redor do local ou esgotos e outro serviço de utilidade enterrado aumentarão a distância de migração potencial ao longo desses corredores. O LFG pode migrar a uma distancia significativa a partir do aterro em esgotos ou leito de esgoto. A avaliação do potencial para migração subsuperficial a partir de um local deve considerar esses fatores. Os determinantes primários de impactos de qualidade de ar são as quantidades de LFG emitida para a atmosfera, a concentração de compostos gasosos no LFG, a proximidade do receptor do aterro e as condições meteorológicas. 5.2.1 - Fatores que afetam a Geração de Gás A capacidade de um aterro gerar gás vai depender de muitos fatores, incluindo a composição dos resíduos, umidade de constituição, tamanho das partículas, a idade do resíduo, pH, temperatura, e outros. A decomposição e produção de gás pode ocorrer, teoricamente, por mais de 30 à 100 anos, mas na prática, ocorrem em num nível elevado por um período de tempo bastante curto (McBean et al., 1995; EMCON, 1998). Os fatores que afetam a geração de gás são descritos a seguir (modificado por EMCON, 1998; e McBean et al. 1995). Composição do resíduo A maioria dos resíduos residenciais e comerciais dispostos em um aterro de resíduo sólido municipal são decompostos. O resto que sobra consiste de vários materiais inertes tal como o concreto, cinza, solo, metais, plásticos e outros materiais não decompostáveis. Quanto mais facilmente é decomposta a fração orgânica do resíduo, mais acelerada será a taxa de produção de gás no aterro. Resíduos de alimentos estão incluídos nesta categoria. Deste modo, um alto percentual de resíduos de alimento no aterro provavelmente conduzirá em uma acelerada taxa de geração de gás. Alguns resíduos decompostáveis, tais como pedaços grandes de madeira, que não são inertes, mas se decompõem lentamente, na prática, não contribuem significantemente com a geração de gás. Umidade de constituição do resíduo Em muitos aterros, depois da composição gravimétrica dos resíduos, o teor de umidade é o fator mais significante para a taxa de produção de gás no aterro. Quanto maior o teor de umidade, maior será a taxa de produção de gás. O teor de umidade em um aterro convencional mudará ao longo do tempo. Alterações no teor de umidade do aterro podem resultar em mudanças na infiltração de águas superficiais e/ou influxo de águas subterrâneas, liberação de água como resultado da decomposição dos resíduos, e variações sazonais do teor de umidade dos resíduos. Teoricamente, a condição ideal para a geração de gás é a total saturação do resíduo. Por outro lado, se o resíduo estivesse saturado, a extração de gás de aterro seria extremamente difícil, se não impossível. Tamanho das partículas Quanto menor a unidade ou partícula do resíduo disposto, maior será a área da superfície específica. A partícula de resíduo com uma área superficial maior decomporá mais rapidamente do que uma partícula com uma área menor. Por exemplo, a decomposição de um tronco de madeira ocorrerá muito mais rápida se este for cortado em pedaços menores do que se for disposto inteiro. Por essa razão, um aterro que aceita pedaços de resíduo terá uma taxa de decomposição mais rápida e completa (i.e., rápida taxa de geração de gás) do que um aterro que recebe somente resíduos inteiros. Idade do resíduo A geração de gás (metano) num aterro possui duas variáveis dependentes do tempo: tempo de atraso e tempo de conversão. O tempo de atraso (retardo) é o período que vai da disposição dos resíduos até o início da geração do metano (início da Fase III). Tempo de conversão é o período que vai da disposição dos resíduos até o final da geração do metano (final da Fase V). Por exemplo, os resíduos de jardim têm os tempos de atraso e conversão menores, enquanto que o couro e o plástico possuem tempos de atraso e conversão maiores. pH A faixa de pH ótimo para a maioria das bactérias anaeróbias é 6,7 a 7,5 ou próximo do neutro [i.e., pH = 7,0] (McBean et al., 1995). Dentro da faixa ótima de pH, a metanogênises aumenta para uma taxa elevada de tal modo que à produção de metano é maximizada. Fora da faixa ótima – um pH abaixo de 6 ou acima de 8 – a produção de metano fica estritamente limitada. A maioria dos aterros tende ter ambientes levemente ácidos. Temperatura As condições de temperatura de um aterro influenciam os tipos de bactérias predominantes e o nível de produção de gás. A faixa ótima de temperatura para bactéria mesofílica é 30 a 35ºC (86 a 95ºF), enquanto que para as bactérias termofílicas é 45 a 65ºC (113 a 149ºF). As temófilas geralmente produzem altas taxas de geração de gás; contudo, a maior parte dos aterros ocorre na faixa das mesófilas. As máximas temperaturas do aterro frequentemente são alcançadas dentro de 45 dias após a disposição dos resíduos como um resultado da atividade aeróbia microbiológica. Então diminui a temperatura do aterro uma vez desenvolvida as condições anaeróbias. Grandes flutuações de temperaturas são típicas nas camadas superficiais de um aterro como um resultado de mudanças na temperatura de ar ambiente. Os resíduos dispostos a uma profundidade de 15 m (50 ft) ou mais não sofrem a influência da temperatura externa. Temperaturas tão altas quanto 70ºC (185ºF) têm sido observadas (McBean et al., 1985). Elevadas temperaturas de gás dentro de um aterro são o resultado da atividade biológica. As temperaturas típicas do gás produzido num aterro variam, tipicamente, entre 30 a 60ºC (86 a 140ºF) (EMCON, 1980 e 1981). A atividade metanogênica é severamente limitada para temperaturas abaixo de 15ºC (59ºF), ao passo que sua atividade ótima varia na faixa de 30 a 40ºC (86 a 104ºF) (McBean et al., 1995). Por outro dado, as temperaturas no liner encontram-se na faixa de 20 a 25ºC (68 a 77ºF), atentando para o fato de que o calor aumenta dentro da massa de resíduo (G. R. Koerner et al., 1996). Outros Fatores Outros fatores que podem influenciar a taxa de geração de gás são os nutrientes, bactérias, potencial oxidação-redução, densidade da produção gás, compactação dos resíduos, dimensões do aterro (área e profundidade), operação do aterro e processamento de resíduos variáveis. 5.2.2 - A Decomposição Biológica e Fases de Produção de Gás A reação química geral para a decomposição anaeróbia de resíduos pode ser descrita da seguinte maneira (Tchobanoglous et al, 1994): Bactéria Matéria orgânica + H 2O → Matéria orgânica + CH 4 + CO2 + Outros gases (resíduos sólidos ) bio deg radável Ressalta-se que a reação necessita da presença de água. Existem aterros que carecem de umidade, levando a uma condição de paralisação da decomposição. Nestas condições de baixa umidade, estudos mostraram que até mesmo um jornal pode ser encontrado em condições legíveis (Tchobanoglous et al, 1994). Observa-se também que a quantidade total de gás produzida a partir da decomposição dos resíduos sólidos é derivada de uma reação estequiométrica. Deste modo, pode-se verificar que as condições hidrogeológicas locais afetam significativamente a velocidade e o período de tempo de produção de gás. Segundo Tchobanoglous et al. (1994), o volume dos gases emitidos durante a decomposição anaeróbia pode ser estimado de várias formas. Por exemplo, se os constituintes orgânicos individuais encontrados nos resíduos sólidos urbanos (com exceção de plásticos) são representados, de uma forma geral, pela fórmula CaHbOcNd, então é possível estimar o volume total de gás produzido utilizando, para tal, a equação (Eq. A), supondo a conversão completa dos resíduos orgânicos biodegradáveis em CO2 e CH4. 4a − b − 2c + 3d 4a + b − 2c − 3d Ca H bOc N d + H 2O → CH 4 4 8 4a − b + 2c + 3d + CO2 + dNH 3 8 (5.2.1) A decomposição dos resíduos sólidos, que está relacionada com a produção de gás em aterros pode ser dividida em 4 ou 5 fases, dependendo do autor (ASTD, 2005 ou USEPA, 2004). Na Figura 5.2.b, pode ser visto um exemplo de divisão em 4 fases. Anaeróbia Aeróbia FASE II FASE III FASE IV Composição do Gás (% em volume) FASE I Duração das Fases variando com o tempo. Fonte: EPA 1997 Figura 5.2.b – Fases de geração de gases variando com o tempo Fase I – Durante a primeira fase de decomposição, bactérias aeróbias (bactérias que vivem na presença de oxigênio), consomem oxigênio enquanto metabolizam as cadeias de carboidratos complexos, proteínas, e lipídios que estão contidos nos resíduos orgânicos. O primeiro produto que vem deste processo é o dióxido de carbono. O conteúdo de nitrogênio é maior no início desta fase, mas começa a decair a medida em que o processo vai transcorrendo. A Fase I continua até que não haja mais o oxigênio disponível, ou este seja reduzido. A Fase I de decomposição pode levar dias ou meses, dependendo da quantidade de oxigênio que está presente quando o resíduo é depositado no aterro. A quantidade de oxigênio disponível dependerá da maneira como o resíduo foi depositado e se houve ou não compactação. Fase II - Inicia-se após o oxigênio tiver sido consumido. Usando o processo anaeróbio (um processo que não requer oxigênio), as bactérias convertem os compostos criados pelas bactérias aeróbias em ácido acético, lático, fórmico, e álcool tais como metano e etanol. O aterro se torna altamente ácido. Como os ácidos se misturam com a umidade presente no aterro, esses ácidos causam a dissolução de nutrientes, liberando nitrogênio e fósforo disponível para o crescimento de diversas espécies de bactérias no aterro. Os gases produzidos neste processo são hidrogênio e dióxido de carbono. Se o aterro é revirado ou se o oxigênio é introduzido de alguma maneira no aterro, os processos microbiológicos retornarão a Fase I. Fase III – Inicia-se quando certas espécies de bactérias consomem os ácidos produzidos na Fase II e forma o acetato, um ácido orgânico. Este processo vem causar ao aterro um ambiente mais neutro em que as bactérias produtoras de metano começam a se estabelecer. As bactérias metanogênicas e as bactérias acidogênicas são simbióticas, ou apresentam mutualismo positivo. As bactérias acidogênicas criam compostos para as bactérias metanogênicas consumirem. As bactérias metanogênicas consomem o carbono e o acetato que são tóxicos para a maioria das bactérias acidogênicas. Fase IV – Começa quando ambas as taxas de composição e produção de gás no aterro se mantêm relativamente constante. Usualmente a Fase IV de produção de gás contém, aproximadamente, em volume, 45% a 60% de metano, 40% a 60% de dióxido de carbono, e 2% a 9% de outros gases, tal como os gases sulfídricos. Um resíduo que é disposto num aterro é capaz de emitir gás por 50 anos ou mais, entretanto um aterro ao atingir a Fase IV, é capaz de produzir gás a uma taxa constante por mais de 20 anos (ASTD, 2005 apud Crawford e Smith, 1985). Quando a decomposição é dividida em 5 fases seqüenciais, como pode ser visto na Figura 5.2.c, verifica-se que estas fases podem ser classificadas em: COD, g/l TVA, g/l Composição do gás em % de volume Incremento de produção de gás, m3 Estabilização, tempo em dias. Figura 5.2.c – Fases geradas na geração de gases de aterro (modificado por Kreith, 1994) Fase I (Fase de ajuste inicial) – Inicia-se a deposição do resíduo e o acúmulo de umidade. Bactérias presentes nos resíduos começam a se aclimatar ao ambiente do aterro. Com a abundância de substrato e nutrientes aproveitáveis, microorganismos aeróbios começam a degradar os resíduos, produzindo água, dióxido de carbono, ácidos orgânicos, e minerais inorgânicos. A decomposição aeróbia é mantida pelo oxigênio contido na massa de resíduo. Devido a Fase I ser relativamente curta, e compreender a decomposição aeróbia, esta Fase é algumas vezes associada com a Fase II, sendo reportadas conjuntamente como Fase aeróbia. Fase II (Fase de transição) – Nesta fase o oxigênio contido no aterro começa a se esgotar e o ambiente do aterro começa a mudar de um ambiente aeróbio para um anaeróbio. Já que a quantidade de oxigênio aprisionada é limitada, esta é uma Fase relativamente curta (i.e., dura de alguns dias a alguns meses). Assim que o oxigênio é reduzido, é estabelecida uma condição redutora. Há a troca dos aceptores de elétrons do oxigênio para os nitratos e sulfatos. A redução destas últimas moléculas, sempre produzirá nitrogênio e sulfeto de hidrogênio/gás sulfídrico. Somando-se a isso, o nível de dióxido de carbono começa a aumentar causando a formação de ácido carbônico e a diminuição de pH do chorume para a faixa ácida. As temperaturas do resíduo são mais quentes durante esta Fase, alcançando 54 a 71ºC. Fase III (Fase ácida) – Nesta Fase o resíduo é degradado anaerobicamente. A primeira perda é por hidrólise, na qual moléculas orgânicas maiores são convertidas em menores, e moléculas solúveis e hidrogênio são produzidos. As bactérias acidogênicas convertem então os compostos hidrolisados em ácidos orgânicos voláteis (VOAs). Os ácidos, por sua vez, causam uma mudança no pH (e.g., de 5,5 para 6,5) aumentando as concentrações de metais pesados no chorume. A biomassa disponível que cresce associada às bactérias metanogênicas, e o rápido consumo de substratos e nutrientes são uma característica predominante desta Fase. O primeiro gás formado nesta Fase é o dióxido de carbono. Fase IV (Fase de fermentação do metano) – Nesta Fase os VOAs e o hidrogênio produzidos na Fase acidogênica são convertidos a metano pelas bactérias metanogênicas. Tanto a produção de ácidos quanto a fermentação do metano ocorrem durante esta fase, contudo a fermentação do metano é predominante. As mais altas taxas de geração de gás ocorrem durante esta fase. A medida em que os VOAs são utilizados, o pH do chorume aumenta a valores próximos ao neutro (e.g., de 6,8 para 8,0) e as concentrações de metais pesados diminuem. Sulfatos e nitratos são reduzidos para sulfetos e amônia. As temperaturas dos gases caem nesta fase para valores por volta de 38 a 54ºC. A produção de gás provavelmente começa a diminuir quando valores menores que o menor valor da faixa de temperatura é atingido. Foi descrito por USEPA (2004 apud Hutric e Soni, 1997), em um estudo experimental em digestor de RSU, que a taxa de geração de gás é máxima para duas temperaturas: de aproximadamente 40ºC, quando as bactérias mesofílicas estão presentes, e entre 55 e 60ºC, quando as bactérias termofílicas estão presentes. Para temperaturas abaixo de 40ºC as taxas de geração de gás diminuem rapidamente com o decréscimo de temperatura. Fase V (Fase de maturação) – Houve a maturação do aterro e o material de rápida biodegradabilidade encontra-se estabilizado (i.e., foram convertidos para metano ou dióxido de carbono). A biodegradação é limitada pela falta de substratos facilmente biodegradados e nutrientes, logo a atividade biológica reduz. A taxa de produção de gás, consequentemente, também decresce. Ambos os gases dióxido de carbono e metano são produzidos, porém em taxas menores do que na Fase IV. Na última parte desta fase, o aterro pode retornar a condição aeróbica, com condição oxidante, e pequenas quantidades dos gases oxigênio e nitrogênio que podem surgir. Visto que os aterros são heterogêneos e todo resíduo não é colocado ao mesmo tempo, as Fases descritas acima ocorrem simultaneamente em diferentes áreas e profundidades de um aterro ativo ou recentemente fechado. A separação entre Fases é freqüentemente mascarada quando um aterro está ativo e resíduos novos são adicionadas aos pré-existentes. Após o fechamento do aterro, e devido à presença de resíduos em diferentes fases de degradação, este tende a ser impulsionado para a Fase IV, mantendo-se nesta fase por um logo período de tempo. A taxa de degradação dos resíduos é controlada pela quantidade, pelos tipos de materiais degradáveis, pela temperatura, pela umidade presente, e por outros fatores. Resíduos de alimentos podem degradar cinco vezes mais rápido do que resíduo de jardim, quinze vezes mais rápido do que resíduo de papel, e cinqüenta vezes mais rápido do que madeira ou couro (USEPA, 2004). Com o aumento inicial da temperatura, devido à liberação de calor durante a degradação aeróbia, há o aumento da degradação (aumento da taxa de reação). Com há perda de calor pelos resíduos para o ambiente, há o decréscimo de temperatura ao longo tempo. Em aterros profundos, este calor é mais bem mantido, fazendo com que a degradação seja mais rápida nestes aterros do que em aterros rasos. A água que é produzida no processo de biodegradação aeróbia é utilizada pelo processo de biodegradação anaeróbia. Em adição, a água que se movimenta através de um aterro ajuda a misturar as enzimas, bactérias, e substratos. O nível de umidade requerido pelas bactérias metanogênicas é muito baixo. Isto ocorre porque a geração de gás acontece nas condições de menor umidade (USEPA, 2004 apud Mc Bean et al., 1995). Embora o teor de umidade seja considerado um importante fator para a emissão de gás, existe muita variação nos níveis de emissão de local para local. Tipicamente se diz que emissões de gás em regiões mais áridas ocorrem durante um período mais longo de tempo do que em áreas com temperaturas mais amenas. Para aquelas áreas operadas como um aterro úmido, no qual há adição de chorume ou existem outros líquidos sendo adicionados, as taxas de emissão de gás são muito mais altas e existe um alto nível de emissões fugitivas de gás, dependendo de como o líquido é adicionado à área (USEPA, 2004). 5.3 – Importância da Modelagem e Modelos de Produção de Gás 5.3.1-Importância da Modelagem da Geração de LFG e da Avaliação do Potencial de Recurso LFG Combustível As modelagens são necessárias para entender três processos que são as emissões de LFG (o gás é transportado verticalmente através da cobertura ou através do que se chama migração lateral), a recuperação de biogás mediante sua extração e a oxidação de metano. Estes três processos são à base dos modelos de extrapolação, que levam a estimação das emissões regional, nacional e global (Börjesson et al., 2000). Atualmente, a falta de dados confiáveis tem sido um obstáculo importante nestes esforços. Deste modo têm sido feitas investigações que possam levar a solução deste problema. Como exemplo, Bogner e Matthews (1999) que apresentaram um modelo, na qual a contribuição global de metano foi extrapolada com o consumo de energia per capita, que era proporcional ao volume de resíduos gerados. Estes cálculos foram limitados por falta de dados sobre a recuperação de gás, o que atualmente tem faltado nas estatísticas atuais. Os principais aspectos para a avaliação do LFG são: Primeiro, calcular a quantidade de LFG que está sendo produzida num aterro e o segundo, porém mais importante, será avaliar a proporção do LFG que pode ser razoável e confiável obtida durante a longa vida de um projeto (acima de 20 anos). Por exemplo, o estudo de caso brasileiro que abrange dois aterros, o velho lixão aberto de Marambaia e o novo Aterro Sanitário de Adrianópolis, conhecido como CTR (Central de Tratamento de Resíduos). O aterro de Marambaia deixou de receber lixo em janeiro de 2003 e tem um total de aproximadamente 2 milhões de toneladas de resíduos aterrados. O aterro de Adrianópolis, em Nova Iguaçu, entrou em operação em fevereiro de 2003 e com previsão de fechamento em 2022. A Figura 5.3.a mostra o aterro de Adrianópolis e áreas de despejo de aterro existentes e novas. Fonte: Manual de Preparação de Gás de Aterro para Projetos de Energia (BANCO MUNDIAL) Figura 5.3.a – Aterro de Adrianópolis em Nova Iguaçu (2003) A modelagem foi realizada em ambos os aterros para avaliar o volume de LFG que cada um deve gerar usando o Modelo School Canyon. Os volumes de despejo de resíduo foram baseados em dados históricos do aterro de Marambaia e os valores projetados para o aterro de Adrianópolis. Os resultados da modelagem indicam que é possível coletar LFG no aterro de Marambaia, mas como seria de esperar, a geração de LFG está atualmente em seu pico e começando um declínio progressivo. O Aterro de Adrianópolis acabou de abrir e, embora tenha potencial de recuperação de longo prazo, ainda não esta gerando quantidades significativas de LFG para serem coletadas e utilizadas. Estes e todos os outros estudos de caso reforçam consistentemente os benefícios da identificação antecipada e compromisso com o desenvolvimento dos sistemas de controle de LFG. Caso seja esperado o fechamento de um aterro para tomar decisão em desenvolver o recurso, pode ser tarde demais. Deveria ser observado também que pode ser possível coordenar o uso e a transferência de equipamento e sistemas entre dois aterros sob o controle do mesmo proprietário. À medida que o LFG em um dos aterros esteja progressivamente diminuindo e o outro aumentando, talvez seja possível coordenar o uso e transferência de alguns dos recursos e instalações, presumindo que os arranjos contratuais para o controle de LFG permitam este tipo de coordenação. 5.3.2 - O Modelo School Canyon e outros modelos de produção de gás Modelos matemáticos são ferramentas úteis e econômicas para avaliar o potencial de geração de LFG no local. Os resultados do modelo podem ser usados para avaliar o potencial para migração/emissões de LFG perigosas, e para avaliar a viabilidade do projeto de gestão do LFG. Existem vários modelos disponíveis para calcular a produção de LFG. Todos esses modelos podem ser usados para desenvolver uma curva de geração de LFG que prediz a geração de gás por algum tempo. A produção de gás total e a taxa em que os gases são gerados podem variar um pouco com os diferentes modelos, mas o parâmetro de insumo mais importante que é comum a todos os modelos é a quantidade do resíduo presumido passível de decomposição. Os outros parâmetros de insumo podem variar dependendo do modelo usado e são influenciados por numerosas variáveis, incluindo os fatores que influenciam a geração de LFG e as incertezas nas informações disponíveis sobre o local, bem como o manejo da extração de LFG que afeta a geração de LFG ao induzir qualquer infiltração de ar. Outro fator importante é a quantidade de tempo presumida entre a colocação do lixo e o começo da decomposição anaeróbia ou fase metanogênica dentro da massa do lixo. (Augenstein, 1991). A natureza heterogênea e a variável tempo em todos os aterros dão uma dificuldade inerente para a coleta de dados acurados de um local sem um grande gasto no custo corrente. Qualquer modelo de produção é bom somente na medida dos dados de insumo e freqüentemente há presunções muito amplas necessárias com respeito a estimar quantidades e tipos de lixo. Portanto, é apropriado usar um modelo simples que empregue parâmetros menos numerosos que podem ser designados mais razoavelmente segundo as condições especificas do local. O êxito previsível de qualquer modelo é dependente na maior parte no grau de certeza necessário, na confiabilidade dos dados de insumo, na experiência do individuo analisando os dados, e no grau de semelhança entre o local em questão e outros locais que possam ter sido modelados com sucesso. (Zison, 1990). Todos os modelos usados para determinar a taxa estimada de produção de LFG do local deveriam estar sujeitos a uma completa análise da sensibilidade para determinar uma gama de resultados potenciais e para analisar quais parâmetros têm influência maior nos valores de produção de LFG. A identificação de parâmetros sensíveis pode levar à coleta de dados dirigidos e ao melhoramento futuro de previsões de produção de LFG. Dada à natureza heterogênea das condições dentro do aterro e as limitações típicas nos dados de insumo que, com maior freqüência, estão disponíveis para um local candidato, recomenda-se que uma gama de valores e uma avaliação de sensibilidade possam ser estabelecidas para a avaliação de geração de LFG. Usando os limites superiores e inferiores de uma geração de LFG versus o perfil de tempo, baseado nas condições prováveis dentro do aterro, é possível designar valores e insumos de projeto que são adequados para uso na avaliação do potencial para um local e quaisquer fatores de risco que possam ser aplicáveis. Modelos cinéticos de primeira ordem são usados freqüentemente para avaliar a produção de metano durante a vida de um aterro. Esses modelos são adaptados para aterros específicos por numerosas presunções sobre condições no aterro. O modelo empírico que é amplamente aceito, de primeira ordem, da decomposição e usado pela indústria e por agências reguladoras, inclusive a EPA norte-americana, é o Modelo School Canyon por ser relativamente simples e objetivo. Este modelo está baseado na premissa de que há uma fração constante de material biodegradável no aterro por unidade de tempo. A equação de primeira ordem é dada abaixo: Q(CH 4 )i = k L0 mi e− k .ti (5.3.1) onde: Q(CH4)i = Metano produzido no ano i a partir da seção i do resíduo; k = Constante da geração de metano; L0 = Potencial da geração de metano; mi = Massa de resíduo despejada no ano i; e ti = Anos após o fechamento. É pratica normal presumir que o LFG gerado consiste de 50 % de metano e 50 % de dióxido de carbono para que o LFG total produzido seja igual a duas vezes a quantidade de metano calculado a partir da Equação 5.3.1. Esta equação é a base para o Modelo de Emissões de LFG (LandGEM) do U.S. EPA, que está disponível a partir do site da Internet da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (U.S.EPA) (http://www.epa.gov/ttn/atw/landfill/landflpg.html). O Modelo School Canyon prediz a produção de LFG durante algum tempo como uma função da constante de geração de LFG (k), do potencial de geração de metano (L0) e dos registros históricos de despejo de lixo e das projeções do resíduo futuro num aterro. A U.S. EPA designa valores préestabelecidos para cada um desses parâmetros para uma avaliação preliminar conservadora do aterro. No entanto, esses parâmetros de insumo precisam ser selecionados com conhecimento das condições de aterro especificas e da localização geográfica. Na LAC, as diferenças no conteúdo orgânico do lixo, a presença de umidade, ou o grau ao qual o resíduo é compactado variarão e, na maioria dos casos, aumentará o potencial para a geração de LFG em relação ao lixo tipicamente encontrado na América do Norte e na Europa. Este modelo foi selecionado para uso neste Manual não porque seja o único modelo disponível, ou mesmo o melhor modelo disponível. No entanto, o Modelo School Canyon: é adequado para o objetivo pretendido; é o modelo mais comumente empregado e aceito nas Américas do Norte e do Sul; e tem a melhor base de dados disponível na LAC. O Modelo School Canyon é também simples de se compreender e aplicar e é, geralmente, aceito por aquelas agências e instituições financeiras que estão interessadas em apoiar esses tipos de projetos na América do Norte e na América Latina e Caribe (LAC). A Figura 5.3.b ilustra a curva de geração de LFG produzida usando o Modelo School Canyon com os valores pré-estabelecidos da EPA norte-americana (k=0,05 e L0=170 m3 de metano por tonelada de resíduo) para um aterro com uma taxa de deposição constante de 500.000 toneladas por ano durante 25 anos (de 1990 a 2015). A Figura 4.4.b mostra duas curvas, a quantidade total teórica de LFG produzida e o LFG coletado presumindo uma eficiência de sistema de coleta típica de 75 por cento. Uma avaliação da geração de LFG cuja premissa é que 75% do combustível possam ser coletados não é irracional, mas seria considerada relativamente agressiva. Uma porcentagem de recuperação de 50% do combustível é considerada conservadora e prontamente atingível, presumindo-se que tanto a caracterização do lixo como o exercício de modelagem esteja baseado em dados e premissas razoáveis. A constante taxa de geração de metano (k) representa a taxa de decomposição biológica de primeira ordem à qual o metano é gerado depois da colocação do resíduo. Esta constante é influenciada pelo teor de umidade, pela disponibilidade de nutrientes, pelo pH e pela temperatura. Como mencionado anteriormente, o teor de umidade dentro de um aterro é um dos parâmetros mais importantes que afetam a taxa de geração de gás. A umidade serve como um meio para transportarem nutrientes e bactérias. O teor de umidade dentro de um aterro é influenciado primeiramente pela infiltração da precipitação através da cobertura do aterro. Outros fatores que afetam o teor de umidade no aterro e a taxa de geração de gás incluem o teor de umidade inicial do resíduo; a quantidade e o tipo da cobertura diária usada no aterro; a permeabilidade e o tempo de colocação da cobertura final; o tipo do alinhamento de base; o sistema de coleta do chorume; e a profundidade do lixo no aterro. Típicos valores k variam de 0.02 para aterros secos a 0,07 para aterros molhados. O valor pré-estabelecido usado pela EPA dos EUA para aterros com mais do que 25 polegadas (625 mm) de precipitação por ano são de 0,05 (EPA dos EUA, 1994). Este valor se considera que produza uma estimativa razoável de geração de metano em certas regiões geográficas e sob certas condições de aterro. Fonte: Manual de preparação de gás de aterro sanitário para projeto de energia (Banco Mundial) Figura 5.3. b - Exemplo de curvas de geração de LFG A tabela a seguir apresenta variações sugeridas e as designações de parâmetros recomendadas para a taxa constante. Tabela 5.3.1 - Precipitação anual e Valores de K Valores k Precipitação Anual Relativamente inerte Moderadamente degradável Altamente degradável <250 mm 0,01 0,02 0,03 >250 e <500 mm >500 e <1000 mm >1000 mm 0,01 0,02 0,02 0,03 0,05 0,06 0,05 0,08 0,09 Fonte: Manual para Preparação de Gás de Aterro sanitário para Projetos de Energia, 2004 O potencial de geração de metano (L0) representa a produção total de metano (m3 de metano por tonelada de lixo). O valor de L0 é dependente da composição do resíduo e, em particular, da fração de matéria orgânica presente. O valor de L0 é estimado com base no conteúdo de carbono do resíduo, na fração de carbono biodegradável e num fator de conversão estequiométrico. Valores típicos para este parâmetro variam de 125 m3 de metano/tonelada de resíduo a 310 m3 de metano/tonelada de resíduo. A maior compactação do resíduo não tem efeito direto no parâmetro de L0. No entanto, a compactação e a densidade do lixo têm um efeito direto na massa de lixo num dado volume e, portanto, no potencial de quantidade de LFG que pode ser produzido durante algum tempo bem como nas características de desempenho dos sistemas que serão necessários para coletar o LFG. Tem havido também a percepção de que à medida que aumentam e melhoram os programas de reciclagem e de compostagem, mais material orgânico, como resíduo de alimentos e papel, pode ser desviado do aterro, reduzindo a quantidade de LFG produzida. No entanto, as iniciativas de reciclagem tem tido mais êxito até o momento na remoção de materiais inorgânicos do fluxo do resíduo, tanto nos paises desenvolvidos como nos países em desenvolvimento. Como conseqüência, a pratica típica não tem visto que o valor de L0 aplicável diminua significativamente. A EPA norte-americana usa um valor pré-estabelecido L0 igual a 170 m3 de metano/ tonelada de resíduo. (EPA dos EUA, 1994). O usuário do modelo pode aumentar ou diminuir o L0 para refletir o conhecimento específico da caracterização do lixo com conteúdos maior ou menor de lixo orgânico. A quantidade (em toneladas) de lixo típico aterrado num ano particular é representada por “m” na equação do Modelo School Canyon. Em aterros em que haja bons dados indicando que há uma significativa porção do lixo que é inerte (não terá decomposição), como entulhos de construção ou de demolição, este parâmetro poderia ser reduzido para representar somente a quantidade do lixo que não é inerte. Contudo, em muitos casos há dados insuficientes para se determinar o percentual do lixo que é inerte. Só é recomendado que o parâmetro L0 seja reduzido ou a quantidade de lixo contribuinte seja reduzida se houver dados claros e concisos quantificando o fluxo de lixo inerte ou relativamente inerte. Como observado anteriormente, o parâmetro L0 já está bem reduzido desde o valor teórico que refletiria os resíduos orgânicos puro em reconhecimento do fato de que há umidade e materiais inorgânicos que compõe alguma parte de qualquer fluxo de lixo. Uma redução específica deveria ser feita somente se houver uma porção prontamente identificável do lixo que seja diferente do lixo típico recebido na maior parte dos aterros de resíduos sólidos mistos convencionais. A designação pré-estabelecida para o L0 já reconhece que há uma mistura de resíduos orgânicos que podem ser decompostos e de resíduos inorgânicos sendo depositados num aterro típico. Se houver bons dados em relação às quantidades e tipos de resíduos, pode ser possível refinar a avaliação de modelagem usando o seguinte como designações de parâmetros diretrizes para o fator de L0. Seria necessário tornar a avaliação de geração de LFG global uma soma das curvas geradas para os vários tipos de resíduo. Tabela 5.3.2 – Valores de L0 sugeridos para o Conteúdo Lixo Orgânico Categoria do Lixo Valor Mínimo para L0 (m3/t) Valor Máximo para L0 (m3/t) Lixo Relativamente Inerte 5 25 Lixo Moderadamente Degradável 140 200 Lixo Altamente Degradável 225 300 Fonte: Manual para Preparação de Gás de Aterro sanitário para Projetos de Energia, 2004 5.3.2.1 - Outros Modelos de Produção de Gás Além do modelo da escola School Canyon existem diversos modelos de produção de gás que podem ser encontrados na literatura, sendo que alguns desses modelos serão apresentados a seguir: a) Modelo de Laquidara et al. (1986): O modelo proposto pelo autor, é utilizado para calcular previamente a produção de biogás gerada por um típico resíduo sólido urbano, sendo utilizada uma taxa de geração de biogás dada em litros por grama de SVB (sólidos voláteis biodegradáveis) seco. Para o cálculo das taxas mínimas de produção de biogás nos aterros sanitários brasileiros, adota-se a estimativa do teor geral de umidade dos resíduos, não o teor inicial excessivamente alto de umidade exibido quando do despejo do lixo. A partir de cálculos estequiométricos, a taxa prevista de geração de biogás (total de metano mais o dióxido de carbono) é cerca de 5 pés cúbicos/lb de resíduos sólidos municipais in natura, dado um teor de umidade de cerca de 46%, o que significa que aproximadamente 0,52 litros de metano pode ser gerado por grama de SVB destruído. Baseado numa proporção de 65:35 em porcentagem de CH4 e porcentagem de CO2 no biogás, cerca de 0,28 litro é produzido por grama de SVB destruído. A soma das taxas CH4 e CO2 é de 0,8 litro por grama de SVB seco para um resíduo sólido urbano brasileiro. Para este modelo é estimada também uma vida útil de 9 anos e um despejo anual de lixo em 170 mil toneladas, a taxa média de geração é então aplicada e uma produção de biogás anual é calculada. A seguinte equação para determinar a produção de biogás após a disposição dos resíduos sólidos no aterro, é baseada na cinética de primeira ordem, que é descrita baixo: S1 = S 0 (e − k t ) (5.3.2) Onde: S1 ⇒ Peso (em gramas) dos SVB remanescente no aterro num período determinado t; t ⇒ Tempo em dias após a disposição dos resíduos; S0 ⇒ Peso inicial dos SVB em gramas no início da disposição dos resíduos no aterro; k ⇒ Coeficiente de deterioração orgânica. É definido pelas características dos resíduos, pelo seu teor de umidade, pelo clima geral onde o aterro está situado. A equação de deterioração do SVB também foi melhorada para incluir a taxa de geração de metano e a produção de biogás em resíduos sólidos municipais específicos, em que: DG = C (DDS ) e LFG = G / M c (5.3.3) Onde: DG ⇒ Volume de gás metano (CH4) produzido em litros por unidade de tempo; C ⇒ Volume de metano produzido por grama de SVB consumido (definido como 0,52 l/g); DDS ⇒ Peso do SVB consumido em gramas em um intervalo específico de tempo a partir da disposição dos resíduos no aterro. O volume do biogás (litros) produzido naquele período de tempo é, então, calculado a partir da taxa G de geração de gás metano e dividido pelo percentual de componente de metano (MC) no gás recuperado, que é cerca de 65%. b) Modelo US EPA (1991): Este modelo é conhecido como “Modelo de Estimação de Emissões de Ar em Aterro”, usado para estimar emissões incontroladas de vários compostos presentes no gás de aterro. Essas emissões incontroladas podem ser estimadas em aterros individuais usando o modelo de cinética de primeira ordem teórica de produção de metano desenvolvido pela EPA. A equação do modelo é apresentada a seguir: Q CH = L 0 R (e − k c − e − k t ) 4 (5.3.4) Onde: QCH4 ⇒ Taxa de geração de metano para tempo t, m3/ano; L0 ⇒ Potencial de geração de metano, m3 CH4/Mg de resíduo; R ⇒ Taxa de deposição média anual de resíduo durante a vida útil do aterro, Mg/ano; k ⇒ Taxa de geração de metano constante, ano-1; c ⇒ Tempo desde o fechamento do aterro, anos (c = 0 para aterros ativos); e t ⇒ Tempo desde o início de deposição do resíduo, anos. Nota-se que o modelo acima foi desenvolvido para estimar a geração de LFG (Landfill Gás – Gás de Aterro) e não emissões para atmosfera. Outros destinos que podem existir para o gás gerado em um aterro, incluindo a captura e subseqüente a degradação microbiológica no interior da camada superficial do aterro. Atualmente, não há dados que comprove este destino. É geralmente aceito que o volume de gás gerado será emitido através da fenda ou outras aberturas na superfície do aterro. Informação da área específica do aterro é geralmente disponibilizada para as variáveis R, c, e t. Quando a informação da taxa de deposição de resíduo é limitada ou desconhecida, R pode ser determinado dividindo o lixo em lugares pela idade do aterro. Se uma documentação tem constatado que certo segmento (célula) de um aterro recebeu somente resíduo não degradável, então o resíduo proveniente deste segmento do aterro pode ser excluído fora do cálculo de R. Resíduo não degradável inclui concreto, tijolo, rocha, vidro, gesso, quadro, tubo, plásticos, e objetos de metal. A taxa de deposição média anual somente será estimada através deste método quando existir informação inadequada sobre a atual taxa de deposição média. A variável tempo, “t”, inclui o número total de anos que o resíduo tem sido depositado (incluindo o número de anos que o aterro tem recebido resíduo e, se aplicável, tem sido fechamento). Valores para variáveis L0 e k devem ser estimados. Estimação do potencial de capacidade de geração de CH4 do resíduo (L0) é geralmente tratado como sendo função da umidade e fração orgânica do resíduo. A estimativa da constante de geração de CH4 (k) é função de uma variedade de fatores, incluindo umidade, pH, temperatura, e outros fatores ambientais, e condições de operação do aterro. Geralmente os teores de umidade vão até 60% e o pH na faixa de 6,6 a 7,4, ocasionando então um aumento da taxa de geração de metano. Os valores reportados na literatura são encontrados na faixa de 0,003 a 0,21/ano (USEPA, 1991). Segundo USEPA (1991) o fator L0 depende da composição do lixo e das condições do aterro para processo de metanização. Os valores reportados na literatura do L0 são encontrados entre 6,2 a 270 m3 de CH4/t de lixo para aterros americanos. A constante de decaimento k está relacionada com o tempo necessário para a fração de carbono orgânico degradável (COD) do lixo decaia para metade de sua massa inicial, podendo ser obtida por processo de interação quando se tem conhecimento da vazão de gás metano do aterro, do valor de L0 e da quantidade e do tempo de deposição do lixo no local. Segundo IPCC (1996) esta constante é estabelecida pela seguinte Equação: k= ln 2 t 1/2 (5.3.5) Onde: k ⇒ Constante de decaimento (ano-1) t1/2 ⇒ Tempo para a fração de COD decair pela metade em massa (anos) Uma outra equação similar a Equação 5.3.4 (op. cit.), pode ser usada quando se tem dados suficientes relacionados à disposição dos resíduos sólidos urbanos nos locais de destinação, desde que se leve enconta a quantidade de lixo depositada em cada ano (IPCC, 1996). Neste modelo a variável t é substituída por T-x na Equação 4.4.6, que representa o número de anos que o lixo esteve depositado. Q Tx = k R x L 0 e -k (T - x) (5.3.6) Onde: QTx ⇒ Quantidade de metano gerado no ano em vigência T pelos resíduos Rx (m3/ano) k ⇒ Constante de decaimento (ano-1) Rx ⇒ Quantidade de lixo depositado no ano x (t) L0 ⇒ Potencial de geração de metano do lixo (m3/t de lixo) T ⇒ Ano em vigência x ⇒ Ano de deposição do lixo no aterro c) Modelo Tchobanoglous, Thessen & Vigil (1994): Este modelo foi desenvolvido para determinar o volume de gás a partir dos componentes lentamente e rapidamente biodegradáveis do lixo e da constituição química de cada um de seus elementos. O volume de gás estimado a partir da Equação 5.3.7 supõe a conversão completa dos resíduos orgânicos biodegradáveis em CO2 e CH4. 4a − b − 2c + 3d 4a + b − 2c − 3d Ca H b Oc N d + H 2O → CH 4 4 8 4a − b + 2c + 3d + CO2 + dNH 3 8 (5.3.7) Em geral os materiais orgânicos presentes nos resíduos são divididos em duas classificações: a) materiais que se decompõem rapidamente (duração de três meses a cinco anos) e b) materiais que se decompõem lentamente (até 50 anos ou mais). Na Tabela 5.3.3 são identificados os componentes da fração orgânica dos RSU que são utilizados para estimar a quantidade de gás que pode ser gerado a partir da porção biodegradável dos resíduos orgânicos nos RSU. Supondo que a fórmula molecular fosse C75H122O55N, então esta fórmula seria utilizada para descrever a fração orgânica rapidamente biodegradável dos RSU, com isso a quantidade máxima de gás de sólidos orgânicos biodegradáveis destruídos que é esperada em condições ótimas é de 8,75 kg/m3. A fração biodegradável dos resíduos orgânicos depende em grande parte do conteúdo de lignina dos resíduos. Na tabela 5.3.4 são apresentados à biodegradabilidade de vários constituintes orgânicos baseados em seu conteúdo de lignina. Como se observa, o papel de jornal é 22% degradável. Tabela 5.3.3 – Constituintes orgânicos rapidamente e lentamente biodegradáveis nos resíduos Componentes de Resíduos Rapidamente Biodegradável Lentamente Biodegradável Orgânicos Resíduos de Comida Sim Papel de Jornal Sim Papel de Escritório Sim Papelão Sim a Plásticos Sim Têxteis Sim Borracha Sim Couro Sim b Resíduos de Jardim Sim Simc Madeira Sim Orgânicos variados Sim Fonte: Tchobanoglous et al., 1994 a Os plásticos geralmente são considerados como biodegradáveis. Folhas e recortes de grama. Normalmente é de 60% dos resíduos de jardim são considerados como rapidamente biodegradáveis. c Porções lenhosas de resíduos de jardim b Tabela 5.3.4 - Biodegradabilidade dos constituintes orgânicos nos resíduos Componentes de Conteúdo de Lignina Fração Biodegradável Resíduos Orgânicos (% SV) (% SV) Resíduos de Comida 0,4 0,82 Papel de Jornal 21,9 0,22 Papel de Escritório 0,4 0,82 Papelão 12,9 0,47 Resíduos de Jardim 4,1 0,72 Fonte: Tchobanoglous et al., 1994 Os parâmetros “a”, “b”, “c” e “d” da Equação 5.3.7 são obtidos através da relação molar dos elementos químicos de composição dos resíduos orgânicos rapidamente e lentamente degradáveis divididos pelo mol de nitrogênio. O peso de cada elemento químico relacionado aos componentes dos resíduos é apresentado na Tabela 5.3.5. Tabelas 5.3.5 – Componentes dos resíduos orgânicos decompostos e seus elementos químicos Componentes Peso Peso húmido seco (kg) (kg) Composição (kg) C H O N Cinzas Constituintes orgânicos rapidamente decompostos Resíduos de 9,0 2,7 1,30 0,17 1,02 0,07 0,14 Papel 34,0 32,0 13,92 1,92 14,08 0,10 1,92 Papelão 6,0 5,7 2,51 0,34 2,54 0,02 0,29 11,1 4,4 2,10 0,26 1,67 0,15 0,20 60,1 44,8 19,83 2,69 19,31 0,34 2,55 comida Resíduos de jardim Total Constituintes orgânicos lentamente decompostos Têxteis 2,0 1,8 0,99 0,12 0,56 0,08 0,05 Borracha 0,5 0,5 0,39 0,05 _ 0,01 0,05 Couro 0,5 0,4 0,24 0,03 0,05 0,04 0,04 7,4 3,0 1,43 0,18 1,14 0,10 0,13 Madeira 2,0 1,6 0,79 0,10 0,69 _ 0,02 Total 12,4 7,3 3,84 0,48 2,44 0,23 0,29 Resíduos de jardim Fonte: Tchobanoglous et al., 1994 Tabela 5.3.6 – Relação molar dos componentes Componentes Relação mol (Nitrogênio = 1) Rapidamente decompostos Lentamente decompostos Carbono 68,5 19,5 Hidrogênio 110,5 29,0 Oxigênio 50,1 9,2 Nitrogênio 1,0 1,0 Fonte: Tchobanoglous et al., 1994 Conhecendo a relação molar, a massa de gás metano e de dióxido de carbono é então determinada, através das equações de decomposição. Com a massa determinada e a densidade de cada gás, pode-se conhecer o volume de gás gerado, obtendo-se assim as quantidades volumétricas de cada gás para as massas de resíduos rapidamente e lentamente degradáveis determinadas inicialmente. Segundo Tchobanoglous et al. (1994) assumem que as taxas anuais de decomposição para materiais rapidamente e lentamente decompostos se baseiam em um modelo triangular (Figuras 5.3.c e 5.3.d) de produção de gás em que a taxa pontual de produção de gás é produzida em 1 e 5 anos, respectivamente, depois de começar a produção de gás. Supõe-se que a produção de gás é iniciada ao final do primeiro ano da área em funcionamento do aterro. A área debaixo do triângulo é igual a metade da base pela altura; por tanto, a quantidade de gás procedente dos resíduos colocados durante o primeiro ano é igual a: Total de gás produzido, kg/m3 = Produção de biogás (m3/ano) ½ (base, ano). (altura, taxa pontual de produção de gás, kg/m3. ano) h 3/4 h 2/4 h 1/4 h 1 2 3 4 5 Tempo (Anos) Fonte: Tchobanoglous et al., 1994 Figura 5.3.c – Modelo triangular de produção de biogás para resíduos rapidamente biodegradáveis Produção de biogás (m3/ano) h 7/10 h 4/5 h 5 10 15 Tempo (Anos) Fonte: Tchobanoglous et al., 1994 Figura 5.3.d – Modelo triangular de produção de biogás para resíduos lentamente biodegradáveis Utilizando um modelo triangular de produção de gás, a taxa total de produção de gás em um aterro em que se depositam resíduos durante um período de 5 anos é obtida graficamente somando o que é produzido pelas porções de RSU rapidamente e lentamente biodegradáveis depositadas a cada ano. A quantidade total de gás produzido corresponde diretamente com a área por debaixo da curva. 400 Total 350 300 250 Gás produzido por material de decomposição rápida depositado em 5 anos 200 150 Gás produzido por material de decomposição lenta depositado em 5 anos 50 5 10 15 20 25 Fonte: Tchobanoglous et al., 1994 Figura 5.3.e – Produção de gás durante um período de cinco anos a partir de materiais orgânicos rapidamente e lentamente decompostos colocados num aterro. d) Modelo IPCC (1996): O modelo proposto apresenta uma metodologia de fácil aplicação permitindo calcular ou determinar as emissões anuais de metano para países ou regiões específicas a partir da quantidade de resíduos sólidos depositados em aterros de resíduos sólidos de classificação diferente, como pode ser observado na Tabela 5.3.7. Esse método, que segue a Equação 5.3.8, considera a estimativa do percentual de carbono orgânico degradável e sua fração distinta presente na massa de lixo, determinando deste modo à quantidade de metano que pode ser gerada por determinada quantidade de resíduo depositado, onde se considera diferentes categorias de resíduos sólidos urbanos. Caso não se disponha de dados para o cálculo no país, poderão ser aplicados dados padronizados fornecidos pelo IPCC, porém a qualidade dos resultados será prejudicada. Tabela 5.3.7 – Sistema de classificação de aterros adaptado no Estado da Califórnia (1984) Classificação Tipo de resíduo I Resíduos perigosos II Resíduos especiais III Resíduos sólidos urbanos Fonte: Tchobanoglous et al. (1994) ECH4 = (Popurb x Taxa RSD x RSDf x FCM x COD x CODF x F 16/12 - R) x (1 - OX) (5.3.8) Onde: ECH4 ⇒ Emissão de Metano (GgCH4/ano) Popurb ⇒ População urbana do país (nº habitantes). Taxa RSD ⇒ Taxa de geração de resíduos sólidos domésticos por habitante por ano (kg RSD/habitante.ano). RSDf ⇒ Fração de resíduos sólidos domésticos que é depositada em locais de disposição de resíduos sólidos (fração adimensional). FCM ⇒ Fator de correção de metano (fração adimensional). COD ⇒ Carbono orgânico degradável no resíduo sólido doméstico (fração adimensional ou gC/gRSD) CODf ⇒ Fração de COD que realmente degrada [fração adimensional]. F ⇒ Fração de CH4 no gás de aterro (fração adimensional). 16/12 ⇒ Taxa de conversão de carbono em metano (fração adimensional ou gCH4/gC) R ⇒ Quantidade de metano recuperado (GgCH4/ano). OX ⇒ Fator de oxidação (fração adimensional). O fator de correção de metano (FCM) está relacionado com a qualidade do aterramento do lixo, considerando o fato do resíduo ser aterrado de forma inadequada produzindo uma menor quantidade de metano em relação aquele destinado a locais adequados, onde uma maior parte do lixo é decomposta em condições anaeróbias. Valores recomendados pelo IPCC para este fator são mostrados a seguir: Tabela 5.3.8 – Locais de disposição de resíduo e Fator de Correção de Metano Tipo de Local Fator de Correção de Metano (FCM) Adequadoa 1,0 Inadequado (profundo p/ ≥5,00 m de resíduo) Inadequado (não profundo p/ <5,00 m de resíduo) Sem classificaçãob 0,8 0,4 0,6 Fonte: IPCC (1996) a Locais adequados devem ter deposição controlada do resíduo abrangendo o material de cobertura, compactação mecânica e nivelamento do resíduo. b Para locais não classificados é assumido um valor Default para FCM A quantidade de carbono orgânico degradável (COD) é determinada pela Equação 5.3.9, onde esta se baseia na composição do lixo e na quantidade de carbono em cada componente da massa de resíduo como reportado em IPCC (1996). Na tabela 5.3.9 são apresentados os valores de COD para diferentes componentes do lixo. Tabela 5.3.9 – Componente dos resíduos e seu COD Componente COD (% em massa) A = Papel e papelão 40 B = Resíduos de parques e 17 jardins C = Restos de alimentos 15 D = Tecidos 40 E = Madeiraa 30 Fonte: Bingemer & Crutzen (1987) a Excluída a fração de lignina que se decompõe lentamente COD = 0,4 x (A) + 0,17 x (B) + 0,15 x (C) + 0,30 x (E) (5.3.9) No caso de não está discriminada a composição de matéria orgânica presente nos resíduos, e sim, como outros, esta categoria englobaria os resíduos de jardim, parques e outros orgânicos putrescíveis não alimentos (B), resíduos de alimentos (C) e resíduos de madeira e palha (D), a Equação 5.3.9 teria de ser tratada por uma faixa, dentro dos limites (15-30%), sugerida da seguinte forma: COD = 0,4 x (A) + (0,15 a 0,30) (B+C+D) (5.3.10) A Fração diferenciada COD (CODf) é a parcela de COD convertida em gás de aterro. Segundo Tabasaran (1981), estimar a quantidade de carbono diferenciada é confiar em um modelo teórico que varia com a temperatura na zona anaeróbia de um aterro: CODf = 0,014 T + 0,28 (5.3.11) Onde: T= temperatura (ºC) Assume-se que a temperatura na zona anaeróbia de um local de disposição de resíduos sólidos (LDRS) permanece constante por volta dos 35ºC não obstante da temperatura ambiente (Bingemer & Crutzen, 1987). É recomendado o valor de 0,77 para a fração de COD obtido através da Equação (5.3.11). Caso haja informação adicional, será de grande relevância para a determinação do CODf. e) Modelos Oonk & Boom (1995): São apresentados os modelos de estimação de produção de biogás aplicados em diversos aterros, os quais seguem abaixo: Tabela 5.3.10 – Tipos de modelos e suas equações Tipos de Modelos Equações α t = ζ 1,87 k 0 A Ordem Zero Primeira ordem Multi-fase Segunda ordem (5.3.12) α t = ζ 1,87 A C 0 k 1 e -k 1 3 t α t = ζ ∑1,87 A C 0,i k 1,i e (5.3.13) -k1, i t i =1 α t = ζ 1,87 A k 2 (C 0 /k 2 C 0 (t +1) ) 2 (5.3.14) (5.3.15) Fonte: Oonk & Boom ,1995. Onde: α1 ⇒ Formação do gás de aterro por um certo tempo (m3. ano-1) ζ ⇒ Fator de dissimulação A ⇒ Quantidade de resíduo depositada (t) k1 e k2 ⇒ Taxa de degradação constante (ano-1) C0 ⇒ Quantidade de carbono orgânico no resíduo (kg/t de resíduo) k1,i ⇒ Taxa de degradação constante de fração i (ano-1) t ⇒ Tempo desde a deposição do resíduo (anos) A constante de 1,87 adotada, indica o volume de biogás gerado por um kg de lixo em m3 . Oonk & Boom (1995) fizeram estimativa dos parâmetros ζ, k1 e k2 que constituem as Equações 5.3.12 a 5.3.15 sendo empregados em nove aterros da Alemanha, por meio de dados levantados a respeito da quantidade, idade e composição do lixo, disponibilizados pelos operadores dos aterros, como também a produção de biogás nos projetos implantados nos locais. Baseada na experiência de vários especialistas, que consideraram diversos fatores como o projeto do aterro e do sistema de drenagem, a profundidade da camada de lixo, inclinação dos taludes e o material de cobertura, a partir dessa experiência é que foram adotadas as eficiências de coleta dos sistemas de aproveitamento do biogás. Segundo Oonk & Boom (1995) de um modo geral, um aterro projetado com drenos de biogás verticais ou horizontais, possuindo espaçamento inferior a 70,00 m entre os drenos e camada de cobertura de solo argiloso ou manta sintética impermeável apresenta uma eficiência de coleta de aproximadamente 55%, sendo este valor adaptado para cada caso de acordo com os seguintes itens: A presença de camada sintética impermeável na cobertura vem proporcionar uma eficiência de coleta de 60% a 95% dependendo da possibilidade de migração do biogás através do solo; A presença de solo argiloso na cobertura proporciona uma eficiência de coleta na faixa de 60% a 75%, que dependerá da espessura da camada, da idade do aterro e da possibilidade de migração do biogás através do solo; As distâncias entre drenos >100,00 m fazem com que seja reduzida de 5% a 10% a eficiência do sistema de coleta; Os taludes com inclinações acima de 40º conseguem reduzir de 5% a 10% a eficiência do sistema de coleta; A camada de lixo com altura acima de 20,00 m, faz aumentar a eficiência de 5 a 10%; A camada de lixo com espessura menor que 10,00 m, faz reduzir a eficiência em 5%. Oonk & Boom (1995) ao aplicarem os modelos em diversos aterros na Holanda, puderam comparar os resultados teóricos com medições de emissão de biogás na superfície dos aterros, obtendo assim, maiores resultados com erros relativos menores que 30% e, atribuindo os desvios encontrados nas comparações às incertezas nas quantidades de lixo e nas eficiências de coletas adotadas. O modelo de ordem zero foi o que apresentou maior erro, em torno de 44%. Os modelos de primeira e segunda ordem apresentaram erros de 22%, enquanto o modelo multi-fase teve erro de 18%. Constataram-se também diferenças entre os modelos multi-fase, primeira ordem e segunda ordem, sendo que essas diferenças são relativamente pequenas e que o uso do modelo de primeira ordem, mais simplificado que os outros modelos, consegue fornecer resultados confiáveis em muitos casos. Os resultados obtidos por Oonk & Boom (1995) nas estimativas dos parâmetros presentes nas Equações 5.3.12 a 5.3.15 para os aterros de resíduos na Alemanha, são expressos na Tabela 5.3.11. Tabela 5.3.11 – Parâmetros estimados para os modelos de geração de biogás em aterros propostos por Oonk & Boom (1995) Tipos de Modelos Parâmetros Ordem Zero Primeira ordem ζ k0 = 2,4 kg/t ano ζ = 0,58; k1= 0,094/ano. ζ = 0,58; Multi-fase k1,1= 0,185/ano; k1,2= 0,100/ano; k1,3= 0,030/ano Segunda ordem ζ= 0,65; K2= 0,0012 t/kg ano Fonte: Oonk & Boom, 1995. Os parâmetros estimados por Oonk & Boom (1995) que são apresentados na Tabela 5.3.11 são específicos para o caso de aterros alemães ou que possuam composição do lixo e clima regional semelhante aos casos estudados. f) Modelo GasSim O modelo GasSim (Versão 1.00, Junho 2002) (Gregory et al., 2003) vem equipado com duas aproximações matemáticas para calcular prognosticamente a emissão de metano (manual GasSim Versão 1.00). A primeira aproximação usa a equação multifase do GasSim, que é similar ao modelo descrito na Tabela 5.3.10. A segunda aproximação para estimar a formação de LFG é a mesma usada pelo modelo LandGEM. Assim da mesma maneira que o modelo LandGEM determina a massa de metano gerada usando o potencial de geração de metano e a massa de carbono depositada, o modelo GasSim faz a mesma determinação. A qualidade do LFG gerada é determinada usando o potencial de geração de metano e a relação de metano com dióxido de carbono. Tanto o modelo GasSim quanto o outro modelo pode matematicamente ser descrito por: L1 = L[1/ ([CH 4 ] /100)] M Vm (5.3.16) Onde: L1⇒ Potencial de geração de LFG (g/t) Vm⇒ Volume molar (em CNTP) (2.241 x 10-2 m3 mol-1) M⇒ Massa molar relativa de carbono (m3 Mg-1) [CH4]⇒ Concentração de metano no LFG (%) Através da determinação de L1 a massa disponível de carbono degradável pode ser determinada por: C = Ci x L 1 (5.3.17) Onde: C ⇒ Massa de carbono degradável (Mg) Ci ⇒ Massa de carbono depositada (Mg) Para determinar a formação de metano L1 e C são aplicados em um modelo de primeira ordem como descrito anteriormente e a emissão de metano é determinada pela Equação 5.3.18. Emissão CH4 (m3. h-1) = Produção CH4 – Recuperação CH4 – Oxidação CH4 (5.3.18) g) Modelo EPER da França O modelo Francês EPER (Budka, 2003) faz combinação de duas aproximações para estimar a emissão de metano. O modelo pode ser dividido em dois cálculos: 1-Prognóstico de emissão de metano para células de aterro conectadas ao sistema de recuperação de LFG através de uso de dados de recuperação de LFG pelo operador do aterro. 2-Prognósticos de emissões de metano das células não conectadas ao sistema de recuperação de LFG por um modelo convencional multi-fase (ADEME versão 15/12/2002). A emissão de metano em células de aterro conectadas ao sistema de recuperação de LFG pode ser calculada com as seguintes equações: A = F x H x (CH4) (5.3.19) Onde: A⇒ Quantidade recuperada de LFG (m3. ano-1) F⇒ Taxa de extração de LFG (m3. h-1) H⇒ Horas de operação anual do compressor (h) (CH4)⇒ Concentração de metano no LFG (%) A é, então, corrigido para Nm3. ano-1 levando-se em consideração a pressão e temperatura ambiente (CNTP) no momento da amostragem de qualidade do gás. A área superficial das células conectadas ao sistema de recuperação de LFG e o tipo de cobertura presente sobre aquela célula determinam a eficiência de recuperação. O modelo pode calcular a produção de metano. Por exemplo, a zona em operação que não tem camada de cobertura e é conectada em um sistema de recuperação de LFG irá apresentar uma eficiência de coleta de LFG de 35%. 65% do LFG será eventualmente emitido para atmosfera. A produção de metano para células conectadas ao sistema de recuperação de LFG é calculada através da Equação 5.3.20. P= Onde: P⇒ Produção de metano (m3. ano-1) η ⇒ Eficiência de recuperação (%) A η (4.4.20) A formação de LFG das células de aterro que não são conectadas ao sistema de recuperação de LFG é calculada por uma equação multi-fase seguindo o modelo ADEME, que pode ser descrito como: FE CH = ∑ FE 0 * ( ∑ A i * p i * k i * e -kt ) 4 x (5.3.21) 1,2,3 Onde: FECH4 ⇒ Produção anual de metano (Nm3. ano-1) FE0 ⇒ Potencial de geração de LFG (m3CH4 . t-1 de resíduos) pi ⇒ Fração de resíduos com taxa de degradação ki (kg . kg-1 de resíduo) ki ⇒ Taxa de degradação da fração i (ano-1) t ⇒ Idade do resíduo (ano) Ai ⇒ Fator de normalização O modelo descreve três categorias de resíduo e cada categoria tem uma formação específica de LFG com capacidade por tonelada de resíduo. As três categorias são mostradas na Tabela 5.3.12. Tabela 5.3.12 – Categoria de resíduos de acordo com o modelo ADEME CATEGORIA I CATEGORIA II CATEGORIA III Resíduo sólido Municipal Resíduo industrial Inertes lamas Resíduo comercial Resíduos de jardim Resíduo biológico pré-tratado Resíduos não-degradáveis Fonte: Joeri J. e Heijo S. (2001) O modelo EPER assume um potencial de oxidação da camada de cobertura de 10%. O total de emissão de metano é então calculado pela Equação 5.3.22. Emissão CH4 = P (1-η) * 0,9 + FECH4 * 0,9 (5.3.22) h) Modelo EPER da Alemanha O modelo EPER (Wielenga, 2003) usado na Alemanha é um modelo de ordem zero e pode matematicamente ser descrito por: Me = M * BDC * BDCf * F * D * C (5.3.23) Onde: Me ⇒ Quantidade de emissão difusa de metano (Mg . ano-1) M ⇒ Quantidade anual de resíduo depositado (Mg) BDC ⇒ Relação de carbono biodegradável (Mg C . Mg-1 de resíduo) BDCf ⇒ Relação de carbono biodegradável convertido em LFG (%) F ⇒ Fator de cálculo de conversão de carbono em CH4 D ⇒ Eficiência de coleta (ativo com perda de LFG – 0,4; não reuperado – 0,9; LFG ativo, recuperado e coberto - 0,1) C = (CH4) (%) i) Modelo LandGEM da US EPA O modelo USEPA (USEPA, 2000) é baseado no modelo LandGEM e utiliza as Equações 5.3.18, 5.3.16 e 5.3.17. j) Modelo de Produção de biogás segundo LIMA O modelo é baseado segundo o grau de biodegradabilidade dos componentes encontrados nos resíduos. Esses componentes podem ser divididos em quatro categorias, como é mostrado na Tabela 5.3.13. Tabela 5.3.13 - Grau de biodegradabilidade e componentes do lixo Grau de biodegradabilidade Componentes do lixo Matéria orgânica, restos de alimentos, Facilmente degradável (FD) folhas, etc. Papel e papelão e outros produtos Moderadamente degradável (MD) celulósicos. Dificilmente degradável (DD) Trapo, couro, borracha, etc. Pedra, terra, vidro, metal, plástico fino e Não degradável (ND) grosso, diversos, etc. Fonte: Lima, 2002 Segundo Lima (2002) ao aplicar esta metodologia de classificação ao lixo amostrado, obteve-se os seguintes resultados: Tabela 5.3.14 – Tipo de lixo e composição % (em peso) Tipo de Lixo FD 72,0 MD 18,9 DD 2,0 ND 6,9 Fonte: Lima, 2002 Este método apresenta outro parâmetro básico que se refere ao tempo que cada parcela classificada irá se decompor pela ação dos microorganismos, como pode ser observado na Tabela 5.3.15. Tabela 5.3.15 – Componentes e tempo de bioestabilização Componentes Tempo (anos) T0,5a T1b FD 2,0 4,0 MD 5,0 10,0 DD 20,0 100,0 ND - ∞ Fonte: Lima, 2002. a Meia vida do componente em termos de bioestabilização. b Tempo total para ocorrer a bioestabilização do componente. O modelo também requer o fator de produção kn que representa a quantidade de produção de metano em Nm3/t de lixo disposta no sistema, e que cada componente classificado produzirá ao longo do tempo de processo. Para os componentes facilmente degradáveis que tem um tempo maior de 4 anos, como mostrado na Tabela 4.11, os valores de kn serão determinados ano-a-ano, como k1, k2, k3, e k4. Da mesma maneira será feito para os componentes moderadamente degradáveis que tem um tempo maior de 10 anos, em que os valores de kn serão determinados como: k1, k2, k3, k4, k5, k6, k7, k8, k9, k10. Entretanto para realizar tal determinação, certas condições são necessárias para início de cálculo: Condições iniciais para FD e MD: Estimar que cada tonelada de lixo bioestabilizada produzisse, em média, 50 Nm3 de metano no período de 10 anos; Considerar como válidos os tempos estipulados na Tabela 4.11. Considerar que os percentuais de FD e MD do lixo classificado são responsáveis por certa quantidade de metano dos 50 Nm3 que uma tonelada de lixo produzirá ao longo de 10 anos, ou seja, quando T = T1. As parcelas facilmente e moderadamente biodegradáveis presente em 1 tonelada de lixo bioestabilizada, são obtidas tomando como base uma tonelada de lixo e os valores percentuais referentes a FD e MD, como pode ser visto: QLFD = (1.000 kg/t x percentual de FD)/100 QLMD = (1.000 kg/t x percentual de MD)/100 O valor relativo de cada fator de produção kn é determinado tomando as parcelas facilmente e moderadamente degradáveis correspondentes aos tempos de bioestabilização, como mostrados na Tabela 4.11, onde T1 = 4 anos para FD e 10 anos para MD. Os equivalentes a cada parcela facilmente e moderadamente biodegradável são determinados através das áreas percentuais distribuídas cuja soma total é de 100%. St FD= S1 + S2 + S3 + S4 = 100% St MD = S1 + S2 + ....... + S10 = 100% As áreas são determinadas pelo modelo triangular de acordo com o tempo de bioestabilização. (%) 50 40 30 20 S2 10 S3 S1 0 S4 1 2 3 4 Fonte: Lima, 2002 Tempo (anos) Figura 5.3.g – Distribuição de áreas no cálculo de FD (%) 50 40 30 S4 20 S7 S3 10 0 S6 S5 S8 S2 S9 S1 1 S 10 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Tempo (anos) Fonte: Lima, 2002 Figura 5.3.h – Distribuição de áreas para o cálculo de MD Os resultados obtidos por este método são feitos determinando o peso efetivo correspondente a cada fator e combinado com o valor percentual das áreas distribuídas, mais a produção equivalente de metano/t de lixo e o ano de produção. Segundo Lima (2002), empregando os dados obtidos é possível determinar a produção de gás em aterros celulares e, com isso, dimensionar o sistema de exaustão para controle ou uso do gás como energia alternativa. 5.4 - Movimento dos Gases em Aterros Em condições normais, os gases produzidos no solo são emitidos para a atmosfera mediante a difusão molecular. No caso de um aterro em atividade, a pressão interna é normalmente maior que a pressão atmosférica, e os gases de aterro sairão mediante difusão e fluxo convectivo (conduzido por pressão). Outros fatores que influem no movimento dos gases do aterro incluem a absorção dos gases em componentes líquidas ou sólidas e a geração ou consumo de um componente gasoso através de reações químicas ou da atividade biótica. A equação geral seguinte relaciona estes valores com um volume de controle unidimensional (Vertical) (ver Figura 5.4.1). α (1 + β ) ∂C A ∂C A ∂ 2C A = - Vz + Dz +G 2 ∂t ∂z ∂z (5.4.1) donde: α = Porosidade total, cm3/cm3 (ft3/ft3). β = Fator de retardação tendo em quantidade a troca de absorção e fase. CA = Concentração do composto A, g/cm3 (lb.mol/ft3). Vz = Velocidade de convecção vertical, cm/s (ft/d). Dz = Coeficiente de difusão efetiva, cm2/s (ft2/d). G = Parâmetro agrupado utilizado para justificar todos os términos de geração, g/cm3.s (lb.mol/ft3.d). z = Profundidade, m (ft). A velocidade de convecção Vz na direção vertical pode ser estimada utilizando a lei de Darcy da seguinte forma: Vz − κ ∂P µ ∂z (5.4.2) donde: Vz = Velocidade de convecção, m/s (ft/d). K = Permeabilidade intrínseca, m2 (ft2). µ = Viscosidade da mistura de gás, N. s/m2 (lb . dt/ft3). P = Pessão, N/m2 (lb/ft2). z = Profundidade, m (ft). Permeabilidade média com prosidade (Vz C)z+∆z ∂C − Dz ∂ z ∆z Az O material acumula líquido no volume de poro e na superfície de grão médio. Z+∆z Z (Vz C)z ∂C − Dz ∂ z Z+∆z Z Volume de poros = α . Az . ∆z Fonte: Tchobanoglous et al., 1994 Figura 5.4.1 – Volume de Controle para o movimento vertical do gás de aterro Os valores típicos para a velocidade de convecção dos principais gases do aterro são da ordem de 1 a 15 cm/d. Geralmente se leva enconta a resolução da equação (5.4.1) utilizando os métodos numéricos de diferença finita ou elementos finitos juntamente com computadores de alta velocidade. As formas simplificadas da equação (5.4.1) podem ajudar a estimar as emissões sem ter que recorrer a técnicas mais complexas de solução numérica que necessitem da aplicação de programas computacionais. Por exemplo, se forem desprezados os efeitos de absorção e produtivos, então a Equação (5.4.1) se reduz sob condições estáveis a: dC A d 2C A 0 = − Vz + Dz dz dz 2 (5.4.3) Se não for produzido biogás em quantidades significativas deve-se então substituir a parte difusiva da Equação (5.4.3), que pode ser integrada para dar a seguinte expressão: N A = − Dz dC A dz (5.4.4) donde: NA = Fluxo de gás, g/cm2.s. O coeficiente de difusão efetiva é uma função da difusão molecular e da porosidade do solo. A seguinte relação é determinada empiricamente para o movimento de vapor limitante através do solo: Dz = D (α gás )10 / 3 α2 (5.4.5) donde: Dz = Coeficiente de difusão efetiva, cm2/s. D = Coeficiente de difusão, cm2/s. αgás = Porosidade cheia de gás, cm3/cm3. α = Porosidade total em cm3/cm3. Outro modo utilizado para determinar o coeficiente de difusão efetiva é o seguinte; Dz = D α τ donde: τ = Fator de tortuosidade (valor típico = 0,67) (5.4.6) 5.4.1 - Movimento dos principais gases de aterro Ainda que a maior parte do metano escape para a atmosfera, ambos, metano e dióxido de carbono, hão de ser encontrados em concentrações de até 40% em distâncias laterais que vão até 150 m dos bordos do aterro sem recobrimento. Em aterros sem nenhuma ventilação, a extensão deste movimento lateral varia segundo as características do material de cobertura e do solo circundante. Se tiver escapado o metano de uma forma incontrolada, pode acumular-se (porque sua densidade é menor que o do ar) debaixo de edifícios ou em outros lugares fechados, próximos ou dentro de um aterro controlado. Com uma extração correta, o metano (CH4) não deve ser considerado um problema (exceto pelo fato de que é um gás que influe no efeito estufa). Por outro lado, o dióxido de carbono (CO2) é problemático por sua densidade. Como mostra a tabela 5.1.3 (op. cit.), o dióxido de carbono tem aproximadamente 1,5 vezes a densidade do ar e 2,8 vezes a densidade do metano; por tanto, tende a mover-se para o fundo do aterro. Como resultado, as concentrações de dióxido de carbono nas partes mais baixas do aterro podem ser altas durante anos. 5.4.2 - Migração ascendente do gás de aterro O metano e o dióxido de carbono podem ser emitidos através da cobertura do aterro mediante a convecção e a difusão. O fluxo difusivo através da cobertura pode estimar-se utilizando as Equações (5.4.4) e (5.4.5) supondo que o aumento de concentração é linear e o solo é seco, por tanto αgás = α. Supondo que as condições secas do solo introduzem um fator de seguridade, já que qualquer infiltração de água na cobertura do aterro reduziria as porosidades cheias de gás, e por tanto reduziria o fluxo de gás fora do aterro. NA = − Dα 4/3 (C Aatm − C Aver ) L (5.4.7) donde: Na = Fluxo gasoso do composto A, g/cm2.s. CAatm = Concentração do composto A na superfície de cobertura do aterro, g/cm3. CAver = Concentração do composto A no fundo do aterro, g/cm3. L = Profundidade do aterro, cm. Os valores típicos para o coeficiente de difusão do metano e do dióxido de carbono são 0,20 cm2/s e 0,13 cm2/s. 5.4.3 - Migração descendente do gás de aterro Finalmente, o dióxido de carbono, por sua densidade, pode acumular-se no fundo do aterro. Se for utilizar um recobrimento de solo, o dióxido de carbono pode mover-se desde então para baixo, principalmente mediante a difusão através do recobrimento até que chega a água subterrânea (há que ressaltar que se pode limitar o movimento do CO2 utilizando um recobrimento geomembrana). O dióxido de carbono é facilmente solúvel em água e pode reagir com esta para formar ácido carbônico, ou como é mostrado a seguir: CO2 + H2O H2CO3 (5.4.8) Esta reação baixa o pH, que mais tarde pode aumentar a dureza e o conteúdo mineral da água subterrânea mediante dissolução. Por exemplo, se o carbonato de cálcio está presente na estrutura do solo, o ácido carbônico reagirá com este para formar bicarbonato de cálcio solúvel, seguindo a seguinte reação: CaCO3 + H2CO3 Ca2+ + 2HCO3- (5.4.9) Reações similares se produzem com carbonatos de magnésio. Para uma concentração dada de dióxido de carbono, a reação mostrada na equação (5.4.8) procederá até que chegue ao equilíbrio, como se mostra na Equação (5.4.10). H2O + CO2 CaCO3 + H2CO3 Ca2+ + 2HCO3- (5.4.10) Então qualquer processo que aumente o dióxido de carbono livre causará a dissolução de mais carbonato de cálcio. O aumento da dureza resultante é o efeito principal da presença de dióxido de carbono na água subterrânea. A solubilidade em água dos principais gases encontrados nos aterros pode ser calculada utilizando a Lei de Henry. O efeito do dióxido de carbono sobre o pH do lixiviado pode ser estimado utilizando a constante de dissociação para o ácido carbônico. 5.4.4 - Fatores que afetam a migração do gás A direção, velocidade e distância de migração do gás de aterro dependem de inúmeros fatores, descritos abaixo. • Tipo de cobertura: Se a cobertura do aterro é constituída de material relativamente permeável, tal como cascalho ou areia, então o gás migrará provavelmente através da camada de cobertura. Se a cobertura do aterro consistir de siltes e argilas, a permeabilidade é menor, o gás então tenderá a migrar horizontalmente pelo subsolo. Se uma área do aterro é mais permeável do que o resto, o gás migrará através daquela área. • Caminhos naturais e não naturais: A utilização de drenos, trincheiras, e passagens aterradas (túneis e dutos) podem atuar como condutores para a movimentação do gás. A geologia natural sempre provém caminhos em subsolo, tal como rocha fraturada, solo poroso, e canais aterrados, onde o gás pode migrar. • Velocidade e direção do vento: Naturalmente o gás de aterro (Landfill gás) escapa para o ar pela superfície do aterro e é carregado pelo vento. O vento dilui o gás com ar fresco movendo o gás para outras áreas do aterro. A velocidade e a direção do vento determinam a concentração do gás no ar, a qual pode variar grandemente de dia para dia, até de hora para hora. Pela manhã, por exemplo, os ventos tendem a estar mais suaves levando a uma menor diluição e dispersão do gás para outras áreas. • Umidade: Condições de umidade superficial do solo podem impedir a migração do gás, para o exterior, através da cobertura do aterro. Chuva e umidade também podem infiltrar pelos vazios do aterro e fazer sair os gases destes vazios. • Níveis d’água no solo: O movimento do gás é influenciado pelas variações apresentadas no nível d’água do solo. Se a água apresentada é ascendente na direção de uma área, então forçará o gás de aterro ascender. • Temperatura: Aumentos de temperaturas estimulam o movimento da partícula de gás, tendendo também a aumentar a difusão do gás, desta forma, o gás pode se dispersar mais rápido em condições de temperatura mais elevada. Embora o aterro mantenha por si mesmo a temperatura geralmente estável, ciclos de esfriamento e aquecimento podem causar ruptura na superfície do solo, causando a migração do gás de aterro para cima ou horizontalmente. O solo frio sobre o aterro pode prover uma barreira física para a migração ascendente do gás, causando a migração horizontalmente do gás de aterro através do solo. • Pressão do gás no solo e barométrica: A diferença entre a pressão do gás no solo e pressão barométrica é que ambas permitem o gás se mover verticalmente ou lateralmente, dependendo se a pressão barométrica está mais alta ou mais baixa do que a pressão do gás no solo. Quando a pressão barométrica cai, o gás de aterro tenderá a migrar para fora do aterro. Assim que a pressão barométrica sobe, o gás poderá permanecer retido no aterro temporariamente até que seja estabelecido um novo balanço de pressão. 5.4.5 - Movimento de oligogases Para as condições de borda mostradas na Figura 5.4.2, pode modificar-se a equação (5.4.7) para os oligogases encontrados nos aterros da forma seguinte: Ni = − Dα 4 / 3 (Ciatm − Cis Wi ) L (5.4.11) donde: Ni = Fluxo de vapor do composto i, g/cm2.s. D = Coeficiente de difusão, cm2/s. α = Porosidade do solo seco, cm3/cm3. Ciatm = Concentração do composto i na superfície de cobertura do aterro, g/cm3. Cis = Concentração saturada de vapor do composto i, g/cm3. Wi = Fator para justificar a fração atual do composto i nos resíduos. Ci, Wi = Concentração do composto i no fundo de cobertura do aterro, g/cm3. L = Profundidade de cobertura do aterro, cm. Pode ser simplificada a Equação (5.4.11) supondo que Ciatm é zero, esta suposição é razoável, porque a concentração de oligoconstituintes quando chegam à superfície do aterro diminuirá rapidamente pela dispersão causada por vento e por difusão causada por ele antes. Com esta suposição, a estimação para o fluxo de massa de gás será conservada; qualquer incremento de Ciatm produzirá um denso fluxo de massa. A forma simplificada da Equação (5.4.11) é: Ni = Dα 4 / 3 (C is Wi ) L (5.4.12) Sonda para controlar o gás do aterro. Ciatm Atmosfera Z=L Cobertura do Aterro Z=0 Cis Interior do Aterro CisWi Cis = Concentração em vapor de sturação do componente i Wi = Fração em peso do componente i Fonte: Tchobanoglous et al., 1994 Figura 5.4.2 – Esquema do movimento de oligogases de aterro através da cobertura do aterro. Segundo Tchobanoglous et al. (1994), os valores do coeficiente de difusão D para os oligocompostos podem variar de acordo com a temperatura como mostra a Tabela 5.4.1.a. Os valores de porosidade normalmente variam de 0,001 até 0,30 para diferentes tipos de argila. O termo CisWi corresponde a concentração do composto na parte superior do aterro, bem debaixo da cobertura. Se não há medidas disponíveis realizadas no campo de trabalho, se pode estimar o valor do término CisWi utilizando os dados da Tabela 5.4.1.b de Cis e Wi para os oligocompostos apresentados. Os valores para o termo Wi mostrados na Tabela 5.4.1.b foram obtidos de medições totais em 44 aterros para resíduos municipais da Califórnia. Se um composto interessante não está listado na Tabela 5.4.1.b, pode-se utilizar um valor de 0,001 como estimação de Wi. As concentrações de saturação Cis para outros oligocompostos orgânicos são apresentadas na Tabela 5.4.1.c. Quando for estimar no campo de trabalho o valor do termo CisWi, deverão ser feitas medidas implantando uma sonda de gás através da cobertura do aterro até um ponto exato ao atravessá-la, e registrar a concentração do composto e a temperatura nesse ponto do aterro. Obtendo medições reais no campo de trabalho se pode estimar a taxa média de emissão-muito mais rápida. Tabela 5.4.1.a – Coeficiente de Difusão dos Oligocompostos TEMPERATURAS Compostos 0ºC 10ºC 20ºC 30ºC 40ºC 50ºC COEFICIENTE DE DIFUSÃO (D) Etilbenzeno 0,052 0,055 0,059 0,062 0,066 0,069 Tolueno 0,056 0,060 0,064 0,068 0,073 0,077 Tetracloroeteno 0,053 0,057 0,061 0,065 0,069 0,073 Benzeno 0,066 0,070 0,075 0,081 0,086 0,091 1,2-Dicloroetano 0,063 0,068 0,072 0,077 0,082 0,088 Tricloroeteno 0,059 0,063 0,067 0,072 0,077 0,082 1,1,1Tricloroetano 0,058 0,062 0,067 0,071 0,076 0,081 Tetracloreto de caborno 0,058 0,062 0,066 0,071 0,075 0,080 Clorofórmio 0,065 0,070 0,075 0,080 0,085 0,090 1,2-Dicloroeteno 0,077 0,082 0,087 0,092 0,097 0,102 Diclorometano 0,074 0,080 0,085 0,091 0,097 0,103 Cloreto de vinila 0,080 0,085 0,091 0,098 0,104 0,110 Fonte: Tchobanoglous et al. (1994) Tabela 5.4.1.b – Medidas e saturações das concentrações de 10 compostos traçadas em fase gás Concentração em mg/m3 Máximo medido* Valor de saturação Benzeno 135,9 319.000 Clorobenzeno 6,8 54.000 Etilbenzeno 414,5 40.000 1,1,1 – Tricloroetano 86,3 715.900 Cloroeteno 89,2 8.521.000 Tetracloroeteno 1.331,7 126.000 Tricloroeteno 85,1 415.000 Diclorometano 871,5 1.702.000 Triclorometano 63,9 1.027.000 Tolueno 1.150,5 110.000 Fonte: Tchobanoglous et al. (1994) *Medições tomadas em 44 aterros da Califórnia (adaptado). Compostos Fator de escala, Wi 0,0004 0,0001 0,01 0,0001 0,00001 0,01 0,0002 0,0005 0,00001 0,01 Tabela 5.4.1.c – Concentração de Vapor dos Oligocompostos TEMPERATURAS Compostos 0ºC 10ºC 20ºC 30ºC 40ºC 50ºC CONCENTRAÇÂO DE VAPOR SATURADO (Cis) Etilbenzeno 12,48 23,47 42,44 73,08 119,7 189,9 Tolueno 36,26 62,65 110,9 180,4 278,5 420,9 Tetracloroeteno 39,95 74,27 127,1 210,7 340,0 581,9 Benzeno 123,9 208,1 325,0 504,6 740,7 1.063 1,2-Dicloroetano 139,6 230,0 363,0 560,7 831,9 1.194 Tricloroeteno 154,5 268,4 424,8 654,5 984,1 1.417 1,1,1Tricloroetano 282,2 461,3 715,59 1.081 1.580 2.240 Tetracloreto de caborno 289,3 470,9 741,2 1.124 1.648 2.353 Clorofórmio 427,9 676,7 1.026 1.517 2.166 3.012 1,2-Dicloroeteno 626,7 961,8 1.428 2.048 2.862 3.901 Diclorometano 773,6 1.165 1.702 2.410 3.322 4.472 Cloreto de vinila 4.701 6.413 8.521 11.090 14.130 17.660 Fonte: Tchobanoglous et al. (1994) 5.5 - Controle Passivo dos Gases de Aterro O controle do movimento dos gases de aterro é feito para reduzir as emissões atmosféricas, para minimizar a saída de emissões com mau cheiro, para minimizar a migração subsuperficial de gás, e para permitir a recuperação de energia a partir do metano. Os sistemas de controle são classificados como passivos e ativos. Nos sistemas passivos de controle de gás, se utiliza a energia em forma de vácuo induzido para controlar o fluxo de gás. É possível obter o controle passivo dos gases, principais e oligogases, enquanto se estão produzindo os gases principais a altas velocidades, proporcionando caminhos de mais alta permeabilidade para guiar o fluxo de gás na direção desejada. Por exemplo, uma vala de brita pode servir para conduzir o gás até um sistema de ventilação com queimador. Quando a produção dos principais gases é limitada, os controles passivos não são muito eficazes, porque a difusão molecular será o mecanismo de transporte predominante. Contudo, nesta etapa da vida do aterro talvez não seja tão importante controlar a emissão residual de metano presente no gás de aterro. O controle das emissões de COV (Compostos Orgânicos Voláteis) pode precisar do uso de ambas as instalações, passivas e ativas. 5.5.1 - Ventilação para rebaixar a pressão/queimadores na cobertura do aterro Um dos métodos passivos mais comuns para controlar os gases de aterro se baseia no fato de que se pode reduzir a migração lateral dos gases de aterro rebaixando a pressão do gás dentro do interior do aterro. Para esta finalidade, são instaladas chaminés através da cobertura final da massa de resíduos sólidos (ver Figura 5.5.1). Se o metano no gás que está escapando for de concentração suficiente, então podem ser conectadas várias chaminés equipadas com um queimador de gás. Quando se utilizam queimadores de gás residual, a chaminé deve penetrar nas células de lixo. A altura do queimador de resíduos pode variar superficialmente de 3,00 a 6,00 m. O queimador pode ser aceso manualmente ou com uma chama piloto contínua. Para conseguir o máximo proveito da instalação de um queimador de gás de resíduos sólidos deverá utilizar a chama piloto (ver Figura 5.5.2). Há que ressaltar, contudo, que as chaminés passivas com queimadores talvez não obtenham uma destruição eficaz dos odores e dos COV, não alcançando as exigências para o controle da qualidade do ar de muitos órgãos ambientais e, por tanto, não é considerada sua utilização como uma boa prática. Respirador de gás de PVC, 10 a 15 cm Solo compactado 90 cm Respirador de gás de PVC, 10 a 15 cm Geomembrana circular soldada com solvente a guia e soldado por extrusão ao recobrimento de geomembrana. 90 cm Guias de PVC com junta de borracha Selador (mistura de areia-betonita) Areia c/ geotêxtil em cima e embaixo Recobrimento geomembrana Variável Variável Furos de Ø11 cm a cada 15 cm Furos de Ø11 cm a cada 15 cm (a) (b) Fonte: Tchobanoglous et al. (1994) Figura 5.5.1 – Chaminés de gás utilizadas na superfície de um aterro para o controle passivo do gás de aterro: (a) Chaminé de gás para um aterro que não contém um recobrimento com geomembrana, e (b) Chaminé de gás para um aterro que contém um recobrimento com geomembrana sintética. 5.5.2 - Valas perimetrais de interceptação Segundo Tchobanoglous et al. (1994), a interceptação do movimento lateral dos gases de aterro pode ser feita utilizadando as valas perimetrais, que consiste em valas interceptoras cheias de brita que contém tubulações horizontais de plástico perfurado (normalmente cloreto de polivinila, PVC, ou polietileno, PE) (ver Figura 5.5.3). A tubulação perfurada está conectada a chaminé vertical, através da qual o gás de aterro que se acumula no recheio do fundo da vala pode se dirigir para a atmosfera. Para facilitar a coleta do gás na vala, frequentemente é instalado um recobrimento de membrana na parede da vala que está localizada no lado externo do aterro. 5.5.2.1 - Vala perimétrica tipo barreira As valas do tipo barreira (ver Figura 5.5.3b) normalmente são preenchidas com materiais relativamente impermeáveis, como betonita ou massa de argila. Neste caso, a base se converte em uma barreira física para o movimento lateral subsuperficial. O gás de aterro se distancia da face interna da barreira com chaminés para a extração de gás de aterro ou com bases cheias de brita. Contudo, as bases podem sofrer ruptura por dessecação, e por tanto são utilizadas mais freqüentemente em projetos para interceptar as águas subterrâneas. A eficácia das bases de barreira, em longo prazo, para controle da migração dos gases de aterro é incerta (Tchobanoglous et al., 1994). Queimador, respiradouro ou tela para o vento. Fornecimento de gás para a chama piloto Cinta de encanador 3.00 m Corrente Bombona de gás (opcional) 0.69 m Terra compactada União (opcional) Tubulação de aço (ou PVC) perfurada de 5-7,5 cm Brita #2 Variável (a) ~ 0.60 m (b) Fonte: Tchobanoglous et al. (1994) Figura 5.5.2 - Queimador típico tipo candelabro para gás de resíduos, utilizado para queimar o gás de aterro procedente de um poço de ventilação ou de vários poços de ventilações interconectados: (a) sem chama piloto e (b) com chama piloto. Saída de gases da tubulação perfurada. Gás queimado ou difundido à atmosfera Aterro Drenagem Vala de brita em volta do aterro Gás de aterro Aterro Parede de barro colocada em volta do aterro Tubulação perfurada para a eliminação de gás (a) (b) Gás de aterro Gás de aterro queimado ou convertido em energia Poços de coleta de gás Parede de barro projetada de modo de baixa permeabilidade Sistema de cobertura impermeável Poço cheio de brita Sistema de isolamento impermeável (c) Sistema de coleta de lixiviado Fonte: Tchobanoglous et al. (1994) Figura 5.5.3 – Instalações passivas utilizadas para controlar o gás de aterro: (a) base interceptora recheada com brita y com tubulação perfurada; (b) base de barreira perimétrica, e (c) uso de recobrimento impermeável no aterro. Há que ressaltar, que as bases interceptoras perimétricas são usadas para controlar a migração de gás de aterro em aterros sem recobrimento. 5.5.3 - Barreiras impermeáveis dentro dos aterros Nos aterros modernos, o movimento dos gases através das formações adjacentes do solo é controlado, antes de começar as operações de enchimento, como a construção de barreiras de materiais que são mais impermeáveis que o solo (ver Figura 5.5.3c). Alguns dos materiais usados para este fim são identificados na Tabela 5.5.1. Para controlar o lixiviado, o mais comum é o uso de argilas compactadas e geomembranas de várias classes, simples ou em configurações multilaminares. Como os principais gases e os oligogases se difundem através dos recobrimentos de argila, atualmente muitos órgãos ambientais exigem o uso de geomembranas para limitar o movimento dos gases de aterro. Tabela 5.5.1 – Materiais seladores de aterro para o controle do movimento de gás e lixiviado Selador Classificação Tipos Solo compactado _ Comentários Deverá conter algo de argila e lodo fino. O material de selagem mais frequentemente Argila compactada Betonitas, ilitas, caolinitas usado para os aterros; a espessura da camada varia de 0,15 a 1,2 m; a camada deve ser contínua, não permitindo que se seque ou trinque. Químicas inorgânicas Químicas sintéticas Recobrimento de membrana sintética Cabornato de sódio, silicato ou pirofosfato Polímeros, borracha de látex bem definida. Frequentemente utilizado para o controle do butílica, polietileno, recobrimentos lixiviado; utilização incrementada para controlar reforçados de nylon o gás de aterro. impregnado de borracha, tecido de polietileno recoberto de asfalto, concreto asfáltico Outros Experimental; sua utilização em campo não está Cloreto de polivinila, borracha Asfalto modificado, asfalto Asfalto Seu uso depende das características do solo local. Concreto jateado, cimento de solo, cimento plástico de solo. A capa deve ser suficientemente espessa para manter a continuidade inferior das diferentes condições de consolidação. Não são utilizados com freqüência no controle do movimento de gás e lixiviado por gretas de concentração após a construção. Fonte: Tchobanoglous et al. (1994) 5.5.4 - Uso de barreiras absorventes para oligogases dentro do aterro Com base nos resultados dos programas de amostragem feitos pela Junta de Califórnia para Gestão Integral de Resíduos, é claro que os oligogases estão presentes nos aterros em concentrações bastante variáveis. Gradientes de alta concentração causam um elemento de fluxo de oligogases de grande difusão, até mesmo quando há pouquíssimo transporte por convecção da mistura de gás principal em forma de fluxo. A utilização de material absorvente, tal como composto, pode retardar a saída de oligogases. Desta forma, os mecanismos de transformação bióticos e/ou abióticos podem contar com mais tempo para degradar os oligocompostos absorvidos. 5.5.5 - Controle Ativo de Gases de Aterro com Instalações Perimétricas É possível controlar o movimento de gás de aterro mediante o uso de chaminés e bases perimétricas para a extração de gás, criando um vazio parcial que origina um gradiente de pressão em direção a chaminé de extração. O gás extraído é queimado para controlar as emissões de metano e COV, ou se utiliza para produzir energia. O uso de chaminés com injeção de ar pode ser descrita na seguinte maneira: a) Chaminés perimétricas para a extração de gás e para o controle de odores Normalmente as chaminés (ver Figura 5.5.4.a) perimétricas são utilizadas em aterros com profundidades de resíduos sólidos de pelo menos 8,00 m, quando a distância entre o aterro e a urbanização adjacente é relativamente pequena. Trata-se de uma série de chaminés verticais instaladas pra dentro do aterro ao longo de sua borda ou pra dentro na área localizada entre a borda do aterro e a base do lugar. Cada chaminé é conectada a um tubo coletor simples que depois será conectado a um compressor elétrico centrífugo, que produz vácuo (pressão negativa) no coletor e nas chaminés individuais. Quando é aplicado o vácuo, é criada uma zona ou raio de influência que se propaga à massa dos resíduos sólidos ao redor de cada chaminé e dentro da qual o gás gerado é aspirado para a chaminé. Normalmente o gás extraído do aterro é ventilado ou queimado, de uma maneira controlada, na estação do compressor. Também é possível utilizar o gás extraído como fonte de energia se a quantidade que se pode recolher e a qualidade são suficientes. O desenho de uma chaminé de extração de gás consiste em uma tubulação de 10 a 16 cm de diâmetro (sempre de PVC ou PE) colocada em uma abertura de 0.45 a 0.90 m (ver Figura 5.5.5). De um terço à metade inferior, a tubulação é perfurada e colocada sobre um recheio de brita. A parte que não é perfurada se coloca num aterro de solo (preferencialmente) ou de resíduos sólidos. São espaçadas as chaminés para que suas zonas de influência sejam sobrepostas. A diferença dos poços para a água, a zona de influência para as chaminés verticais é essencialmente uma esfera estendida em todas as direções a partir da chaminé de extração (ver Figura 5.5.4.a). Por esta razão, se deve tomar muito cuidado para evitar uma sobre carga no sistema. Taxas de extração excessivas podem fazer com que o ar originário do solo se infiltre na massa de resíduos. Para prevenir a entrada de ar, a taxa de fluxo de gás para cada chaminé deve ser controlada cuidadosamente. Para esta finalidade são equipadas as chaminés com tomadas para amostragem do gás e válvulas para controlar o fluxo. De acordo com a profundidade do aterro e outras considerações locais, o espaço entre as chaminés perimétricas variará de 8.00 a 16.00 m, ainda que se haja utilizado distâncias maiores. Em grandes aterros, também são utilizadas chaminés perimétricas verticais para a extração do gás localizado no interior do aterro em conjunto com chaminés horizontais e verticais maiores. As chaminés perimétricas são utilizadas para controlar a migração fora do lugar dos gases de aterro nos bordos e superfícies do aterro. Quando são utilizadas chaminés perimétricas para controlar as emissões odoríferas através das superfícies de aterro, mantêm-se as superfícies de aterro com ligeiro vácuo. Condução de gás Poço de gás Poço de gás de extração de gás de aterro Resíduos Corte – AA’ Estação de extração Condução de gás Zona aproximada de influência A’ Borda do aterro A Sondas de controle de gás Coletor de condensado (a) Zona aproximada de influência Estação de extração 1 1-Vala recheada; Recobrimento de membrana sintética 2 2-Tubulação coletora de gás. Corte BB’ Coletor de condensado Borda do aterro B’ Vala de extração de gás B (b) Sondas de controle de gás Tubulação coletora de gás perfurada Fonte: Tchobanoglous et al. (1994) Figura 5.5.4 - Instalações ativas utilizadas para o controle subsuperficial da migração do gás de aterro: (a) chaminés perimétricas para a extração do gás do aterro e (b) vala perimétrica para a extração do gás de aterro. Conexão flexível Ponto de amostragem Registro de passe Câmara Condução de gás Recheio Válvula de 0,5 cm 0.90 m Entrada para medir o fluxo de gás 0.15 m Recheio de brita 0.80 m Profundidade do poço variável Betonita Tubulação de PVC Variável União telescópica 0.60 m Betonita Variável Tubulação ranhurada de PVC 0.30 m Brita Buraco de Ø 0.76 m Fonte: Tchobanoglous et al. (1994) Figura 5.5.5 - Detalhe representativo de uma chaminé para a extração do gás de aterro. (cortesia da Junta de Califórnia para a Gestão Integral de Resíduos). b) Valas perimétricas para a extração de gás As bases perimétricas de extração (ver Figura 5.5.4.b) normalmente são instaladas no solo original adjacente do perímetro do aterro. São utilizadas normalmente em aterros pouco profundos, com profundidades de 8.00 m ou menos. As bases estão cheias de brita e contém tubulações de plástico perfuradas que se conectam lateralmente a um coletor e compressor centrífugo de extração. As valas de extração podem estender-se verticalmente desde a superfície do aterro até a profundidade total dos resíduos ou até a água subterrânea, e podem ser seladas adicionalmente na superfície com um recobrimento de membrana. O compressor cria uma zona de pressão negativa em cada vala que se estende para os resíduos sólidos. O gás de aterro migrando nesta zona é aspirado pela tubulação perfurada e coletado, e subsequentemente emitido ou queimado na estação do compressor. Também podem ser feitos ajustes no fluxo mediante válvulas de controle em cada vala (Tchobanoglous et al., 1994). c) Chaminés perimétricas com injeção de ar (sistema de cortina de ar) As chaminés perimétricas com injeção de ar é uma série de chaminés verticais instaladas no solo original entre os limites do aterro e as instalações que devem ser protegidas contra a intrusão de gás do aterro. Normalmente são instaladas as chaminés com injeção de ar perto do aterro com profundidades de resíduos de 7.00 m ou mais, em áreas de solo inalterado entre o aterro e as propriedades potencialmente afetadas (Tchobanoglous et al., 1994). 5.6 - Técnicas Utilizadas em Monitoramento de Gás Metano Segundo Börjesson et al. (2000), o método tradicional de medição de campo das emissões de gás metano (CH4) em um aterro é o uso de câmaras estáticas, que são colocadas na superfície do aterro com uma parte aberta aderida a superfície, medindo então a concentração de gás metano acumulado na câmara. Este método é bastante simples, porém trabalhoso, pois requer a proporção total de emissões do aterro. Tabelas 5.6 – Estimativas de emissões totais de metano de resíduos sólidos domiciliares Quantidade de Emissões Resíduos (kg) (g CH4 m-2 h-1) 29 * 1.9a,b Rússia (Moscou) 60 (24 x 106 m3) 0.60a,b Japão (Tókio) 200 31 x 109 8.3 França (desconhecido) 3 * 0.44 EE.UU (Oak Ridge) 7 * 0.27 EE.UU (Nashua) 24 2 x 109 2.58 - 2.80b,c Holanda (18 sítios) 1.7 – 30 0.17 – 2.3 x 109 0.05 – 10.2b Suécia (Hagby) 0.4 10 x 106 0.90 Holanda (Nauerma) 60 5.4 x 109 0.375 França (Randy-Condé) 8 * 0.06 – 3.7d Suécia (Falköping) 3 (0.3 x 106 m3) 1.25 SITUAÇÃO ÁREA (ha) Alemanha (Lübars) Referência Jager e Peter, 1985 Nozhevnikova et al. 1993 Tohjimay e Wakita, 1993 Pokryszka et al. (1995) Hodve et al. (1995) Mosher et al. (1996) Oonk e Boom, 1995 Börjesson e Svensson, 1997 Scharffy e Hensen, 1999 Trégourès et al. (1999) Galle et al. 2001 Fonte: Börjesson et al., 2000 a Recalculado de valores anuais b Foram feitas conversões supondo que 1 m3 CH4 = 1 Nm3 CH4 = 0.656 kg CH4 c Foram usados dois métodos; câmaras/ geoestatística e gás traçador d Sete métodos diferentes; três com câmaras e quatro de tecnologias de teledetecção * Não se sabe ao certo Isto se deve principalmente a heterogeneidade espacial da cobertura do aterro. Contudo, o método é apropriado somente para comparações entre diferentes partes de um sítio, ou para seguir as mudanças dinâmicas devido a fatores climáticos e outros. A maior parte do metano escapa por algumas partes debilitadas da camada de cobertura do aterro, o que a maioria das vezes é difícil de identificar e medir. Investigações recentes indicam que estes lugares quentes se movem com o tempo (Börjeson et al., 2000). As razões podem ser que a intensidade da produção de metano se translada entre diferentes partes de um sítio, dependendo da composição dos resíduos e pelo tempo em que se produz a degradação, assim como mudar os materiais de cobertura devido a diferenças de umidade, afetando as características da difusão de gás, como também o transporte de gás e provavelmente a oxidação de metano mediante bactérias nas coberturas de solo próximas a superfície. Os dados existentes das emissões de metano de aterros se encontram na Tabela 5.6. O primeiro informe de Jager e Peters (1985) se baseava em medições com câmaras estáticas colocadas no que se consideravam áreas representativas durante diferentes épocas de uma estação. Börjesson e Svensson (1997) usaram câmaras colocadas em um eixo. As câmaras estáticas também foram usadas por Nozhevnikova et al. (1993) e Mosher et al. (1996) (in Börjesson et al., 2000), ordenadas em forma de grelhas para possibilitar um tratamento geoestatístico de dados (krigagem) para a integração de câmaras individuais. Este tipo de estatística também foi aplicado por Pokryszka et al. (1995) que utilizou uma câmara dinâmica (com fluxo de gás inerte para o arraste). Exemplos de teledetecção e tecnologia usada na superfície são, um detector de ionização de chama móvel (FID) (Tohjima e Wakita 1993), e diodos laser (Hovde et al., 1995; Scharffy e Hensen, 1999) (in Börjesson et al., 2000). O gás traçador foi usado em combinação com o FID (Mosher et al., 1996; Trégourès et al. 1999) e combinado com as análises FTIR (Transformação Infra-Vermelha Fourier) – (Galle et al., 2001). A meteorologia local em combinação com o FID foi usada em 18 sítios da Holanda por Oonk e Boom (1995). Sua informação é a primeira que conta com uma recontagem nacional de dados de campo calculados. Estimaram as emissões de gás metano dos aterros controlados dos Países Baixos em 1993 em 282 Gg de metano (364 gerados, 51 captados e 31 oxidados) com uma classe de incerteza de 170 – 405 Gg. Isto levou a redução da recontagem anterior em uns 25%. 5.6.1. Estudos comparativos de técnicas utilizadas em medições de metano Czepiel et al. (1996) têm feitos estudos comparativos, e também têm publicado um cálculo para o estado norte-americano de New Hampshire. Este grupo publicou mais tarde um estudo similar (Morsher et al., 1999). Em ambas as informações, se conclui que as câmaras estáticas (em combinação com a geoestatística) e uma técnica de teledetecção com gás traçador/FID deram resultados comparáveis. Tanto Oonk e Boom (1995) como Trégourès et al. (1999) informaram que os métodos micrometeorológicos deram valores mais baixos que as câmaras. Trégourès et al. (1999) compararam sete métodos diferentes para medir emissões de metano. Dois tipos de diodo laser deram valores mais baixos que outros métodos. Câmaras, FID e FTIR deram resultados similares. Galle et al. (2001) usaram gás traçador, combinado com medições óticas (FTIR), o que mostrou emissões 4 vezes maiores que uma estimação comparativa, baseada em câmaras/geoestatística (Börjesson et al., 2000). A diferença se deve provavelmente a uma grelha demasiadamente rígida das câmaras, para cobrir os lugares quentes, é dizer que são fluxos mais altos. É demonstrado também que os resultados das câmaras contêm uma variação enorme. Mais além de sua limitada confiabilidade, outro aspecto importante é o consumo do tempo. Em consideração, estas câmaras também são inferiores as técnicas de tecnologias de teledetecção e superficiais (Oonk e Boom, 1995, Czepiel et al., 1996, Börjesson et al., 2000). As tecnologias de teledetecção obviamente são superiores e hoje são as únicas confiáveis para determinar as emissões totais de metano em aterros (Sic Böjersson et al., 2000). 5.7 - Oxidação de Metano 5.7.1. Bactérias oxidadoras de metano Parte da difusão de metano nos materiais de cobertura dos aterros pode ser oxidada mediante bactérias metanotróficas, que utilizam as seguintes reações para ganhar energia e carbono para seu crescimento (Hanson e Hanson, 1996): CH4 CH3OHHCHOHCOOHCO2 (5.7) É gerada energia em todos os passos, exceto o primeiro. O HCHO (formaldeido) intermediário pode ser usado por bactérias para as síntesis de novo material celular. O HCHO também pode ser transformado e armazenado com polímeros. Os polímeros também podem ser eliminados, alguns em quantidades tão consideráveis que a ação da bactéria de oxidação de metano é bloqueada (Hilger et al., 1999). Tabela 5.7 – Estimativas de oxidação de metano em aterros sanitários feitos com análises de metano 13C Proj. de CH4 Local Nº de aterros Método oxidado (% das Referência emissões) Alemanha, 2 Câmaras 39/46 6 Pluma 10 1 Pluma 12 ± 8 Flórida, EE.UU 1 Câmaras 20 ± 3 Suécia 2 Câmaras >20 Holanda New Hampshire, EE.UU New Hampshire, EE.UU Bergamaschi et al., 1998 Liptay et al., 1998 Chanton et al. 1999 Chanton e Liptay, 2000 Börjesson et al., 2001 Fonte: Börjesson et al., 2000 Mediante o uso de análises PLFA (ácidos graxos de fosfolipídeos) é mostrado que a oxidação de metano em coberturas de aterros pode estar vinculada com dois tipos principais de bactérias metanotróficas, mas não tão simples de interpretar (Börjesson et al., 1998). Os métodos de biologia molecular foram desenvolvidos recentemente, o que permite uma determinação de organismos oxidantes de metano em amostras de solo (Wise et al.,1999), mas ainda não são feitas medições quantitativas com esta técnica. 5.7.2. O significado da oxidação de metano em aterros controlados Comparações na capacidade de oxidação de metano com medições em incubações de amostras de solo em excesso de metano (Whalen et al. 1990, Börjesson et al. 1998), e em experimentos de coluna (Kightley et al., 1995), têm dado resultados similares com uma capacidade de oxidação entre 0.14 e 16.8 gCH4 m-2 h-1. Estas capacidades seriam suficientes para captar a maior parte de metano produzido no interior destes aterros, mas obviamente não é este o caso. Recentemente, tecnologias de 13 C para a estimação da oxidação de metano foram desenvolvidas para ser utilizadas em estudos de aterros. Provavelmente esta é a maior metodologia na atualidade. O método (descrito por Liptay et al.,1998) mostra o hábito de que as metanotróficas preferem o metano que contém isótopos comuns, sem grandes importância os de 12 C, discriminando o metano que contém o 13 C mais pesado. A oxidação de metano então, pode ser estimada mediante comparações contendo 13 C em metano da superfície do aterro com 13 C em metano encontrado em seu interior (na parte anaeróbia). Requer saber quão grande é esta discriminação, por exemplo, se deve determinar o fator de fracionamento αox. Este fator varia segundo o tipo de solo e as temperaturas. De forma similar às medições de emissões totais com técnicas de gás traçador também deveriam ser feitas análises do 13C do metano na pluma, porque é importante incluir fluxos dos lugares quentes. De outra maneira há um risco de superestimar a oxidação. Uma comparação entre os valores obtidos de medições de câmara e pluma, indica uma tendência a valores mais baixos de pluma que de câmara (Böjersson et al., 2000). Entre os fatores climáticos, a temperatura provavelmente é o regulador mais importante. Experimentos com 13C têm demonstrado que não há oxidação de metano em temperaturas abaixo de 0ºC (Chanton et al., 1999, Börjesson et al., 2001). Destes resultados, também é claro, que a oxidação ocorreu somente na camada superficial. 5.8 - Gestão do Gás de Aterro Normalmente, os gases de aterro que hão de ser recuperados de um aterro ativo podem ser queimado ou utilizado para a recuperação de energia em forma de eletricidade. Recentemente, há de se sugerir a separação do dióxido de carbono do metano no gás de aterro, como uma alternativa a produção de calor e eletricidade. 5.8.1 - Incineração dos gases de aterro Um método comum para tratar os gases de aterro é a destruição térmica, onde é queimado o metano e qualquer outro oligogás (incluindo COV) na presença de oxigênio (contido no ar), produzindo-se dióxido de carbono (CO2), dióxido de enxofre (SO2), óxidos de nitrogênio e outros gases relacionados. A destruição térmica dos gases de aterro normalmente é feita em uma instalação de combustão especialmente projetada. Pelas inquietações existentes acerca da contaminação do ar, as instalações modernas são projetadas para cumprir rigorosas especificações de operação, que assegurem a destruição total de COV e de outros compostos similares que podem estar presentes no gás de aterro. Por exemplo, um requisito típico poderia ser uma temperatura de incineração mínima de 815 ºC e um tempo de residência de 0,3 a 0,5 s, assim como diversos controles e uma instrumentação adequada na estação de combustão. Na Tabela 5.8.1 estão resumidas as especificações para uma instalação moderna de combustão. Tabela 5.8.1 Elementos de projeto importantes para os queimadores de gás de aterro selados a nível de solo Dispositivos Observações Utilizado para medir e registrar a temperatura do gás na chaminé do queimador. Quando o Indicador e registrador de temperatura queimador está funcionando, deve ser mantida uma temperatura de 815 ºC ou mais na chaminé segundo o indicador de temperatura, 0,3 s depois de passar através do queimador. Sistema de rearranque do piloto automático Para assegurar um funcionamento contínuo. Utilizam-se o alarme e o sistema de Alarme de mau funcionamento com sistema automático de isolamento isolamento para isolar o queimador de fornecimento de gás, interromper o ventilador e notificar a alguém responsável sobre a interrupção. Grelha de ar de combustão automaticamente Utilizada para controlar a quantidade de ar de controlada combustão e a temperatura da chama. Escotilhas de amostragem na fonte, com único acesso seguro Utilizadas para supervisionar o processo de combustão e para a amostragem das emissões atmosféricas. Deve haver suficientes pontos de inspeção Pontos de inspeção para permitir um reconhecimento visual da localização do sensor de temperatura dentro da chama. Deveria dispor de uma tela de calor entorno Tela de calor da chama do ponto mais alto de reforço para sua utilização durante a amostragem. Fonte: Tchobanoglous et al. (1994) 5.8.2 - Sistemas para recuperação de energia a partir do gás de aterro Normalmente, o gás de aterro é convertido em eletricidade (ver Figuras 5.8.1a e b). Em instalações pequenas (até 5 MW), é comum utilizar motores de combustão interna que usam combustíveis (ver Figura 5.8.1a) ou turbinas de gás. Quando são utilizados motores tipo êmbolo, é necessário processar o gás de aterro para separar toda a umidade possível, de forma que sejam minimizados os danos para as cabeças dos cilindros. Se o gás contiver H2S, a temperatura de combustão deve ser controlada cuidadosamente a fim de evitar problemas de corrosão. Alternativamente, pode ser feito passando o gás de aterro através de uma depuradora que contenha limalha de ferro ou através de depuradoras patenteadas, para separar o sulfeto de hidrogênio antes de queimar o gás. As temperaturas de combustão também serão de grande importância quando o gás de aterro apresentar COV procedentes dos resíduos colocados em aterros, antes que seja proibida a evacuação de resíduos perigosos nos aterros municipais. O ciclo típico dos motores que utilizam como combustível o gás de aterro varia de 3.000 a 10.000 horas, para motores não-recondicionados. O gás de aterro com baixo poder calorífico se comprime a altas pressões, para aproveitá-lo melhor na turbina de gás. O ciclo de serviço normal para turbinas que queimam gases de aterro é aproximadamente de 10.000 horas. Gerador Combustível gasoso Motor para dois combustíveis de combustão interna Eletricidade Escape (a) Gás comprimido Câmara de combustão Combustível gasoso Compressor de gás T1 Ar ambiente T2 Escape T1-Turbina compressor. T2-Turbina de gás. (b) Fonte: Tchobanoglous et al., 1994 Figura 5.8.1 - Diagrama de fluxo esquemático para a recuperação de energia a partir de combustível gasoso: (a) utilizando motor de combustão interna, e (b) utilizando turbina a gás. Eletricidade Gerador 5.8.3 - Purificação e recuperação do gás Segundo Tchobanoglous et al. (1994), a possibilidade de aproveitar potencialmente o CO2, contido no gás de aterro, poderá ser feita mediante a separação do CH4 e o CO2. A separação de CO2 e de CH4 pode ser realizada mediante absorção física, absorção química, e mediante separação por membrana. Nas absorções física e química, um componente se absorve preferencialmente utilizando um solvente adequado. A separação mediante membrana implica o uso de uma membrana semipermeável para separar o CO2 do CH4. Futuramente serão desenvolvidas membranas semipermeáveis que deixam passar o CO2, H2S e H2O, enquanto é retido o CH4. Existem membranas em forma de lâminas planas ou em fibras ocas que já são utilizadas. Para incrementar a eficácia da separação, as lâminas são retorcidas em forma de espiral sobre um meio suporte, enquanto as fibras ocas são feitas em juntas agrupadas. 5.9 - LFG (Landfill Gás) Aplicações, Economias e Utilização Existem cinco maneiras de se recuperar a energia a partir do LFG, são estas: - aquecimento direto; - geração elétrica; - suprimento alimentar químico; - purificação do gás da qualidade do sistema de coleta; e - recuperação calorífica. Cada um destes métodos tem uma variedade de aplicação do LFG. Uma lista completa de aplicações e tecnologias é mostrada abaixo: a) Aplicações de aquecimento direto: - Uso industrial para caldeiras; - Aquecimento e refrigeração do espaço; - Aquecimento/ pós-queima industrial. b) Aplicações de geração elétrica: - Processamento e uso em máquinas de troca de combustão interna (RICReciprocating Internal Combustion) (i.e., combustão estequiométrica ou combustão fina); - Processamento e uso em gás e turbinas a vapor; - Processamento e uso em células combustíveis. c) Suprimento alimentar em Processos de Produção Química: - Conversão do metanol (e opcional industrial ou uso combustível veicular); - Conversão em combustível diesel (e subseqüente uso como combustível veicular); d) Purificação do gás da qualidade do sistema de coleta: - Utilização como combustível veicular; - Incorporação na rede local do gás natural. e) Recuperação calorífica através dos queimadores (Flares) do aterro (Landfill): - Usando o ciclo orgânico de Rankine; - Usando o ciclo motor de Stirling. 5.9.1 - As economias de controle e utilização do gás de aterro 5.9.1.1 - Vantagens de Recuperação de Energia do LFG As vantagens de recuperação de energia incluem a diminuição das emissões de metano, NMOCs (Compostos Orgânicos Não-Metano), e tóxicos (e.g., benzeno, tetracloreto de carbono, e clorofórmio). Embora as emissões de dióxido de carbono (CO2) aumentem com a opção de recuperação de energia, o balanço atmosférico é positivo, porque as emissões de CO2 são significantemente inferiores à radiação (i.e., o suposto efeito estufa é menor) do que as emissões de metano. 5.9.1.2 - Economias de conversão do LFG em Energia Em média uma recuperação energética a partir do LFG é aproximadamente de 3 MW (megawatts), com avaliação tipicamente acima de 95%. O número comercial de recuperação energética do LFG aumentou a partir de 4 em 1981 para quase 130 em 1996. Embora tenha havido um aumento do numero de projetos, a EPA estima que mais de 700 aterros existentes nos EUA poderiam instalar sistemas de coleta de gás economicamente viáveis, mas não o tem. Além disso, aproximadamente 30 projetos de conversão original e de uso direto iniciados nas décadas de 1970 e 1980, que tiveram que fechar devido às condições de mercado competitiva de 1990. Por essa razão, apesar de que são muitas as vantagens da recuperação de energia a partir do LFG, existem projetos comerciais de pouco sucesso relativo ao número de aterros de RSU, devido o prevalecimento das condições de mercado e o arranjo de outras barreiras formidáveis que confronta com o projeto desenvolvido. A barreira mais significativa é a de óleo baixo (low oil) e gás natural, que faz recuperação e conversão, apresentando com isto custo alto de capital inicial, falta de economias de escala, e alto custo de transporte, descompetitividade na maioria dos casos. A Tabela 5.9.1 mostra uma comparação decorrente de custos para as tecnologias mais populares de recuperação energética de LFG. A Tabela 5.9.2 mostra a comparação das condições consideradas necessárias pela indústria para conseguir uma relação custo-benefício de controle do LFG (gás de aterro) e utilização de projetos. Tabela 5.9.1 - Comparação de Custos por Tecnologias típicas de Recuperação de Energia de LFG (Dólares de 1992) Custo de operação e Custo capital manutenção Tecnologia/uso (US$/ KW) (US$/KWh) Máquina de combustão interna / Geração 900 a 1.200 0,013 a 0,020 elétrica Turbina a gás/Geração elétrica 1.000 a 1.500 0,01 a 0,015 a Turbina a vapor/Geração elétrica 900 0,001a Aquecedor/Calor direto 1.000 a 1.500 0,005 a 0,018 Classificação orgânica/Recuperação 1.000 a 1.500 0,005 calorífica Célula de combustível/Geração elétrica +3.000b NDc Fontes: T.D. Williams, “Making Landfill Gas an Asset,” Solid Waste and Power (July/August 1992), p. 22; and C.E. Anderson, “Selecting Electrical Generating Equipment for Use with Landfill Gas,” Proceedings of the SWANA 16th Annual Landfill Gas Symposium (Louisville, KY, March 1993). a dólares de 1993 . b dólares de 1995 - dólares, usando tecnologia de 1995. c Não disponível Tabela 5.9.2 - Condições Necessárias Para Custos Competitivos Em Utilização de Projetos de LFG. Projetos desenvolvidos/ Fontes Tecnologia Laidlaw Technology, Inc.a (1992) Turbina a gás International Fuel Cells Corporationb (Estudo conceitual) Célula Combustível: tecnologia madura e economi de escala International Fuel Cells Corporationb (Estudo conceitual) Célula Combustível: tecnologia madura e economi de escala NDb,c Sistema queimador Custos administrativos e desnvolvimento Pode variar grandemente, de US$30.000 a US$1 milhão/kW para um projeto de 1MWe US$1.500/kW (incluindo créditos e assumindo 50% de recuperação calorífica vendido a US$2,92/ milhão de Btu) $3.000/kW (incluindo créditos e assumindo 50% de recuperação calorífica vendido a US$2,92/ milhão de Btu) Aproximadamente US$375/ milhão de ft3 LFG processado por ano Excluído do Mínimo Condições Mínimas Necessárias Preço mínimo Royalties para Comprime pago por créditos do nto da eletricidade aterro e tubulação (se emissões aplicável) Taxas de incentivos Ao menos de US$0.06 a US$0,07 por kWh Menor que 12,5% Menor que 2 milhas Taxa de créditos necessária quando os preços da energia são baixos US$0,04 por kWh Emissões compensativas: US$1.000/t de NOX e SOX ND Sim 4 x 200 kW US$0,072/kWh Emissões compensativas: US$1.000/t de NOX e SOX ND Sim ND US$0,07/kWh Nenhum ND Não >1 MW 4 x 200 kW Fontes: aG.R. Jansen, “The Economics of LFG Projects in the United States,” presented at the Symposium on LFG/Applications and Opportunities (Melbourne, Austrália, February 27, 1992). b G.J. Sandelli, Demonstration of Fuel Cells To Recover Energy from Landfill Gas. Phase I Final Report: Conceptual Study, EPA-600-R-92007, prepared by International Fuel Cells Corporation for the U.S. Environmental Protection Agency (Washington, DC, January 1992). c G.J. Sandelli (1992) and Science Applications International Corporation, Renewable Energy Annual 1996. Stubask II: Issues, prepared for the Enegy Information Administration under Contract Nº DE-AC01-92-EI21944 (McLean, VA, September 11, 1996). Btu = British thermal units. kwh = kilowatthours. MWe = megawatt-eletric. ND = Não Disponível. 137 5.9.1.3 - Economias de Geração Elétrica Geralmente, existem três aplicações para a geração elétrica a partir do LFG: Motores de combustão interna, turbinas a gás, e células combustíveis. Como de 1992, eram aproximadamente 61 projetos que gerariam eletricidade usando motores de combustão interna (IC) e 24 turbinas, calcula-se num total de produção de 344 MWh. Hoje, a maioria dos aterros opera com projetos de recuperação de energia sob um contrato de uso. Motores IC são mais econômicos quando o suprimento de LFG é suficiente para produzir 1 a 3 MWh. Turbinas são mais econômicas para locais com produção acima de 3 MWh. As vantagens dos motores de combustão incluem comparativamente capital de custos baixos (entre US$950 e US$1.250/kW), eficiência, um alto grau de padronização, e facilidade de se transportar de um lado para o outro do aterro. Uma das desvantagens com motores IC (internal combustion) são as emissões. Existem dois tipos de motores IC, cada um apresentando características distintas de emissões. Motores de combustão estequiométrica geram altas emissões de óxidos de nitrogênio (NOx). Motores fina-queima geram emissões de NOx e CO baixas, deste modo são melhor utlizados para aplicações onde estas emissões são preocupantes. Existem várias desvantagens econômicas no uso de turbinas a gás subalimentadas. De acordo com o Gerenciamento de Resíduos da América do Norte, turbinas a gás subalimentadas tipicamente têm perda de energia parasíticas de 17% da saída bruta. Para motores IC, esta comparação é de 7%. A diminuição de seu desempenho faz com que a torne inferior comparado com motores IC, e dificuldades podem ocorrer quando são operadas com carga menores do que com a carga completa. Outros problemas que podem apresentar as turbinas: câmaras de combustão fundida, corrosão, e acumulação de depósitos de lâminas na turbina. Deste modo, motores IC é atualmente a maior opção favorável para projetos de conversão de energia de LFG e tem aplicação em grandes números do que alguma outra opção. No futuro, células de combustível podem vir a ser atrativas por causa de sua alta eficiência energética, impactos de emissões dispensáveis, e convenientes para todos os tamanhos de aterro, apesar de alguns estudos sugerirem que células de combustível seriam mais competitivas em projetos pequenos (menor que 1 MW) e médios (menor que 3 MW). Somando-se a isto o baixo custo de operação e manutenção. Atualmente, 138 entretanto, desvantagens econômicas e técnicas tornam as células combustíveis não competitivas com as técnicas mais convencionais. Estas incluem um custo alto de capital, para se projetar um processo de limpeza do LFG que possa remover os constituintes traços do LFG (células de combustível necessitam de uma maior grade de purificação de LFG do que as outras), e custo alto da própria célula de combustível (cerca de US$3.000/kW usando tecnologia do estado-da-arte). Por causa dos avanços continuados da tecnologia de células combustível e a possibilidade futura de um maior rigor no controle de emissões gasosas, que tornam outras tecnologias mais custosas, alguns estudos estimam que as células de combustível se tornarão mais competitivas por volta do fim deste século. (É estimada uma produção de custo de capital tão baixo quanto US$1.500/ kW em 1998). De acordo com um estudo feito pelo Instituto de Pesquisa de Energia Elétrica (EPRI-Eletric Power Research Institute), se usinas geradoras individuais fossem usadas em aterros, 6.000 MWh de eletricidade poderia ser gerado do LFG. Um outro estudo preparado pela EPA sugere que, aproximadamente, o total de energia liberada, gerada em cerca de 7.500 aterros, usando células combustível de recuperação de energia, pudesse ser de 4.370 MWh. 139 VI – ESTUDO DE CASO 6.1 - Central de Tratamento de Resíduos de Adrianópolis A SA PAULISTA de Construções e Comércio ganhou a concessão para a implantação e operação por 20 anos da Central de Tratamento de Resíduos de Nova Iguaçu incluindo também a recuperação ambiental do antigo Lixão de Marambaia e a execução da coleta e tratamento dos Resíduos de Serviços de Saúde. A CTR de Nova Iguaçu entrou em operação em 13 de fevereiro de 2003, numa área de 1,2 milhões de metros quadrados. É composta por um aterro sanitário (para resíduos classes IIa e IIb de acordo com a NBR 10004), uma unidade de tratamento de percolados (chorume), uma unidade de tratamento de resíduos de serviços de saúde (ambulatoriais e hospitalares) e uma unidade de britagem de entulho. Fonte: CTR – Nova Iguaçu Figura 6.1 - Vista parcial do aterro sanitário em operação Está localizada no distrito de Vila de Cava, a cerca de 10 km do centro urbano da cidade, com acesso pela Rodovia Presidente Dutra, no sentido Rio-São Paulo, através da Estrada de Adrianópolis (RJ 113) na altura do viaduto da Posse, perfazendo uma área total de 1.200.000 m2, caracterizado por um terreno com topografia acidentada, constituída por morrotes recortados e áreas planas à jusante. A área faz divisa com a subestação de Adrianópolis, de Furnas Centrais Elétricas S.A. 140 Fonte: http://www.pageatlas.hpg.ig.com.br CTR – Nova Iguaçu (Aterro Sanitário Adrianópolis) Fonte: http://www.dner.gov.br/rodovias/mapas Figura 6.2 - Mapa de Localização do Aterro Nova Iguaçu (CTR) 141 A área situa-se próximo aos centros geradores de lixo, oferecendo economia nos custos de transportes, não dispõe de concentração urbana em suas imediações e apresenta características topográficas e paisagísticas favoráveis à operação do aterro. Os morros que circundam a área constituem uma proteção natural no que diz respeito à dispersão de odores, ao arraste de lixo pelo vento e a agressão à estética. Apresenta também de grande disponibilidade de solos argilosos que são empregados como área de empréstimo para a cobertura diária dos resíduos. Fonte: CTR – Nova Iguaçu Figura 6.3 - Layout da área total do aterro sanitário 6.1.1 - Quantidade de Resíduo Gerada Segundo a S.A. Paulista (2004), o total de lixo recebido por dia no aterro, em média, é de 1000 t. Os resíduos recebidos pelo aterro são das classes IIA (não inerte) e IIB (inerte) de acordo com a classificação da nova NBR 10004 (2004) da ABNT. Existem 54 Estabelecimentos de Saúde cadastrados, que geram três toneladas de resíduo por dia os quais eram depositados no aterro Metropolitano de Gramacho e passaram a ser processados na CTR Nova Iguaçu. A Tabela 6.1 apresentada a seguir, mostra os dados fornecidos pela prefeitura de Nova Iguaçu, que detalham as quantidades de resíduo depositadas, em toneladas, na nova CTR da cidade. 142 Tabela 6.1 - Resíduos Depositados na CTR - Nova Iguaçu (toneladas) Fev/03 Mar/03 Abr/03 Mai/03 Jun/03 Jul/03 Ago/03 Set/03 Out/03 Lixo Domiciliar 7.414,61 13.564,72 13.884,10 14.574,45 11.845,28 11.942,93 10.837,14 10.502,73 11.298,00 Público a Granel 7.321,51 17.527,13 8.039,12 13.290,35 11.845,28 15.337,91 13.282,47 10.613,53 12.692,24 Nov/03 11.949,44 Dez/03 14.784,76 Mês/Ano 276,70 476,48 102,51 174,03 381,57 336,53 497,45 727,42 604,58 Grandes Geradores 30,95 463,79 63,02 137,03 5.113,13 15.012,82 31.568,33 22.025,73 28.038,83 24.103,08 28.081,16 24.680,08 21.980,71 29.707,95 10.919,07 601,30 10.821,75 34.291,56 11.353,78 466,61 5.423,14 32.028,29 4.645,19 22.052,81 291.518,55 Total (=) 132.598,16 132.222,39 Fonte: Prefeitura Nova Iguaçu. Varrição Total 6.1.2 - Caracterização do Aterro Sanitário Dentro das principais características básicas, que foi projetado o Aterro Sanitário, para minimizar impactos ambientais locais e regionais, podem ser destacadas: Sistema eficiente de drenagem e canalização das nascentes naturais, existentes na sua área de implantação; Sistema de impermeabilização de fundação, para evitar a contaminação do lençol freático local; Sistema de lançamento, espalhamento e compactação, que assegurará a maximização de disposição, por metro quadrado da área do aterro; Sistema de recobrimento diário dos resíduos recebidos, a fim de se evitar a proliferação de vetores danosos à saúde pública (insetos, aves, roedores, etc.), e também para minimizar a geração de percolados (chorume); Sistema eficiente para drenagem e coleta de percolados da fundação e do maciço, para coleta do chorume gerado pela operação do aterro, bem com a agregação de um sistema moderno de tratamento de chorume, que vem sendo largamente empregado na Europa e principalmente nos Estados Unidos; Sistema de Tratamento de percolados através de implantação de Evaporadores com controle eficiente para evitar lançamento de particulados na atmosfera; 143 Recobrimento final eficiente, para minimizar impactos ambientais desfavoráveis após o seu encerramento; Sistema de tratamento e inertização de resíduos sólidos dos serviços de saúde para posterior destino final no Aterro Sanitário; 6.1.3 - Canalização das Nascentes d'água Existentes na Área do Aterro O projeto foi desenvolvido de forma que as duas nascentes existentes na área de implantação do aterro sanitário serão convenientemente canalizadas previamente à implantação da camada de impermeabilização. O projeto previu a implantação de um eixo principal de drenagem (espinha de peixe), constituído por uma tubulação de diâmetro interno de 0,40m para captar a água das nascentes e conduzi-la até a drenagem natural na borda da rodovia de acesso ao aterro. Essa tubulação foi projetada para apresentar ramificações de modo a captar as águas de nascentes distintas e que venham a convergir para o talvegue existente na região. Fonte: CTR-Nova Iguaçu (Aterro Sanitário de Adrianópolis) Figura 6.4 - Dreno das nascentes 144 As águas das nascentes canalizados por este sistema serão aproveitadas para o suprimento das unidades de apoio do Viveiro de mudas e como bebedouro para avifauna presente, servindo de indicador da qualidade da água. 2.00 MIN. 2.00 MIN. TAPE DRENANTE AREIA MÉDIA A GROSSA (AREIA) LAVADA (CR>60%) >0.70 AREIA MÉDIA GROSSA LAVADA FOFA (CR=40%) RACHÃO 0.35 0.25 1.30 >2.50 MANTA GEOTÊXTIL TIPO OP-60 OU SIMILAR TUBO CA 3 PERFURADO 400 mm 0.50 BRITA Nº 4 1.00 CAMADA DE SOLO COMPACTADA A 90% DO ENSAIO PROCTOR NORMAL Fonte: CTR-Nova Iguaçu (Aterro Sanitário de Adrianópolis) Figura 6.5 - Detalhe do dreno principal da nascente Segundo Almeida (2005), este dreno é uma variante do dreno francês, o qual tem sido muito criticado, sendo mais indicado o de camada drenante em toda a base. Segundo Mahler (2005), o custo de implantação desses drenos é menor em relação ao de camada drenante, o que justifica o uso destes drenos. 6.1.4 - Tratamento e Impermeabilização de Fundação Sobre a camada de solo compactada, é aplicada uma Geomembrana de Polietileno de Alta Densidade - PEAD de 1,5mm de espessura, texturizadas em ambas as faces. Esta geomembrana é largamente utilizada, em caráter mundial, para impermeabilização do solo em obras de Aterro Sanitário. 145 Fonte: CTR-Nova Iguaçu (Aterro Sanitário de Adrianópolis) Figura 6.6.a – Manta PEAD sobre a base preparada Fonte: CTR-Nova Iguaçu (Aterro Sanitário de Adrianópolis) Figura 6.6.b – Cobertura de solo sobre a manta PEAD 146 A principal função da geomembrana é o de evitar a contaminação do lençol freático com a criação de uma barreira artificial à percolação do chorume, proveniente da decomposição de resíduos e também da ação de águas pluviais, bem como garantir as condições mecânicas necessárias para a manutenção do sistema. As geomembranas foram aplicadas através de faixas, de cerca de 7 a 8m de largura. Foram ancoradas nos taludes, através dos próprios dispositivos de drenagem de percolados, ou de trincheiras escavadas e reaterradas. A proteção de geotêxtil tem sido utilizada protegida por uma camada mínima de solo de 0,30m. Essas camadas visam evitar o puncionamento das geomembranas por elementos pontiagudos e/ou perfurantes, que ocorrem na massa de resíduos recebidos pelos aterros. 6.1.5 - Disposição dos Resíduos Os resíduos recebidos no aterro são lançados em camadas de até 5,0m de altura, espalhados em camadas inclinadas de espessura máxima de 0,30m, e compactadas pela passagem de seis passadas de trator de esteiras do tipo D6. Ao final de cada ciclo de 24h, os resíduos são recobertos com uma camada de solo de espessura mínima de 0,30m, a fim de evitar percolações oriundas de precipitações pluviométricas e, principalmente evitar proliferação de insetos, aves e roedores. A camada de cobertura é obtida dos retaludamentos dos taludes das encostas do aterro e, de projetos específicos pela escavação de solo em áreas de empréstimo, as quais ao final dos trabalhos serão retaludadas adequadamente recebendo tratamento paisagístico. É mostrada a seguir a disposição dos resíduos no aterro despejados pelos caminhões na área. 147 Fonte: CTR-Nova Iguaçu (Aterro Sanitário de Adrianópolis) Figura 6.7.a – 1ª Disposição de resíduos no aterro Fonte: CTR-Nova Iguaçu (Aterro Sanitário de Adrianópolis) Figura 6.7.b - Disposição de resíduos no aterro 148 6.1.6 - Sistema de Drenagem de Percolados e Gases Este sistema será concebido com três dispositivos básicos: poços verticais, drenos horizontais e drenos de talude, descritos a seguir: Os Drenos de Gás foram projetados de forma a permitir a drenagem dos gases para a atmosfera, bem como a drenagem do percolado (chorume) gerado durante a operação e após o encerramento do aterro, ao sistema de drenagem de percolados da fundação. Em anexo há um mapa de localização dos drenos interligados entre si. Constitui-se por tubos perfurados de concreto, com diâmetro de 0,40m, envoltos por um anel de rachão com espessura de 0,50m, o qual é contido por uma tela metálica TELCON tipo Q335. Fonte: CTR-Nova Iguaçu (Aterro Sanitário de Adrianópolis) Figura 6.8 - Dreno vertical nº. 1 de biogás A função do rachão é coletar o percolado (chorume) das camadas de resíduos e conduzi-los aos drenos principais de fundação, enquanto que o tubo de concreto visa assegurar uma superfície livre, para drenagem dos gases, onde uma parte é aproveitada para o tratamento do chorume e outra para a atmosfera, através de CO2. 149 Estes drenos são alteados simultaneamente à disposição dos resíduos sólidos recebidos. Drenos Horizontais - projetados para captar o chorume e os gases gerados nas células e conduzi-los aos drenos verticais de gás. Foram implantados na base do aterro onde seguem o alinhamento dos drenos de brita da fundação. 6.1.7 - Sistemas de Drenagem de Águas Pluviais Para coletar e afastar as águas oriundas de precipitações pluviométricas foi projetado o sistema de drenagem que considerou que todas as superfícies expostas apresentam declividades direcionadas para os pontos mais baixos (região central). Caixas de dissipação foram implantadas no pé do Aterro Sanitário, de onde partem tubos de drenagem reaterrados, interligando essas caixas de dissipação ao riacho existente ao local da rodovia que interliga Nova Iguaçu a Adrianópolis. 6.1.8 - Instrumentação de Controle e Monitoramento a) Marcos Superficiais Instalados junto aos taludes externos do aterro, a fim de registrar as deformações verticais e deslocamentos horizontais, do maciço de resíduos. Os dados coletados por esses dispositivos permitem avaliar o comportamento do aterro, visando antever potenciais tendências anômalas, que possam comprometer a segurança global, bem como indicar eventuais instalações localizadas. b) Piezômetros Determinam e registram os níveis piezométricos dos percolados no maciço dos aterros, oriundos de bolsões isolados de chorume e/ou devido a potenciais deficiências de drenagem provocadas por deformações excessivas do aterro. Avaliar a existência de potenciais pressões de gás do maciço. c) Poços de Monitoramento Possibilitam a avaliação e o monitoramento da posição do lençol freático antes da implantação, durante a operação e após o encerramento dos aterros. 150 6.1.9 - Aproveitamento do Biogás Quanto às emissões atmosféricas, todo o biogás gerado pela decomposição da matéria orgânica do lixo é drenado, canalizado e será encaminhado para a geração de energia elétrica (10 MW) e térmica. O metano produzido (aprox. 55% do Biogás é gás metano) no aterro, em vez de queimado, será canalizado e encaminhado para um gerador, que produzirá energia elétrica. Este é o primeiro projeto brasileiro de minimização de gases efeito estufa e geração de energia limpa a partir de resíduos sólidos (biogás) apoiado pelo Banco Mundial atraindo interesse do Governo da Holanda que, através do Banco Mundial (Bird), fechou contrato com a Central para a compra de créditos de carbono, baseado no Protocolo de Quioto. 6.2. Aterro Controlado Terra Brava Desde 1983, o destino final do lixo coletado é o aterro controlado Terra Brava, situado na região metropolitana do Rio de Janeiro, apresenta em suas proximidades várias residências. Além disso, o local é uma zona de mananciais e florestas. O aterro está a 7 km do centro urbano da cidade, com 12 km dos distritos de limpeza, ficando ao menos de 20 km da área mais remota da cidade. A região onde está o aterro encontra-se uma nascente, uma sub-bacia e uma bacia hidrográfica. Estes três corpos d’água são partes do rio principal que lança suas águas na Baia da região metropolitana. A vegetação da região foi praticamente devastada, predominando em bom estado de conservação uma cobertura do tipo capoeirão, caracterizada por ser uma floresta secundária bastante desenvolvida. Segundo os moradores da região, esta floresta abriga vários animais de pequeno porte. Nas áreas desmatadas nota-se um aumento erosivo e a presença do capim colonião, vegetação invasora e empobrecedora do solo favorecendo a erosão. O relevo local é bastante acidentado, estando à área do aterro localizada no fundo de um vale. O solo da região é argilo-arenoso, com pH por volta de 5,0. A área ocupada pelo aterro é maior que 95.000 m2, já incluída a expansão no sítio vizinho. 151 Os resíduos depositados são provenientes de coleta pública e domiciliar, em média de 500 toneladas por dia de resíduos, sendo que no local há presença de catadores separando materiais recicláveis dos não-recicláveis do lixo. Só em 1995, foram despejados no aterro Terra Brava 209.887 t, sendo: 99.183 t de lixo domiciliar; 45.435 t de lixo de varrição de praia e 65.269 de outros resíduos. Os resíduos recebidos pelo aterro são das classes IIA (não inerte) e IIB (inerte) segundo a norma NBR 10004 (2004) da ABNT. A operação de despejo dos caminhões é feito da seguinte forma: Após a pesagem dos veículos coletores de resíduos sólidos na balança situada na entrada e saída desses veículos (caminhões), estes se dirigem a área de despejo, despejando o lixo coletado. Os catadores começam a atuar, enquanto os tratores de esteiras empurram o lixo espalhando-o e compactando-o. Parte deste lixo não é coberto de forma adequada, ou seja, coberto irregularmente. O material usado para cobertura é extraído da própria área do entorno, por meio de desmontes e cortes na encostas. No local há instalados drenos verticais para drenagem dos gases provenientes do processo de decomposição biológica dos resíduos, sendo estes gases lançados à atmosfera. Entretanto, não há ainda uma forma de captar o gás produzido para seu aproveitamento energético, porém vem sendo estudada esta possibilidade de utilização do biogás. Além da grande quantidade de vetores transmissores de doença, principalmente moscas, há também outros insetos que podem ser observados. Observa-se a presença de urubus em grande quantidade, em que utilizam as matas vizinhas para fazerem seus ninhos, procriando-se com muita facilidade. O aterro também está situado próximo a um núcleo populacional. Em um dos loteamentos, os moradores que compõem este núcleo são os mais prejudicados, pois a rua que dá acesso as suas moradias, o início dessa rua está situado a uma distância aproximada de 65,00 metros do muro de contenção que limita a área do aterro. 6.2.1 – Sistema de Coleta de Gases e Percolados O sistema de coleta é constituído por três dispositivos básicos: drenos verticais, drenos horizontais e drenos de talude, descritos a seguir: 152 A drenagem dos gases é feita por meio de drenos verticais que foram construídos de forma a permitir a saída dos gases para a atmosfera, como também direcionar o percolado (chorume) gerado durante a operação e após o fechamento do aterro, ao sistema de drenagem de percolados da fundação. Em anexo há um mapa de localização dos drenos de gás. 6.2.2 – Recuperação do Biogás Com relação aos gases emitidos dos drenos de gás, no momento não são recuperados para uso energético, com isso tendem a aumentar a carga de poluente na atmosfera. Existe uma previsão feita pela empresa administradora do aterro, em se colocar uma unidade de tratamento para o percolado e a utilização do gás para geração de energia, a qual trará grandes lucros para a administradora do aterro. 6.3 - Produção de Gases nos aterros Nova Iguaçu e Terra Brava relacionados ao Processo de Decomposição Biológica ou Digestão Anaeróbia Os gases produzidos nos aterros Nova Iguaçu e Terra Brava estão relacionados aos estágios de decomposição biológica. Rizo e Leite (2004) observam que esta degradação é resultado de interações complexas os quais são descritas abaixo: 1° Estágio: Hidrólise e Fermentação 2° Estágio: Acetogênese e Deidrogenação 3° Estágio: Metanogênese A Tabela abaixo mostra a relação dos gases produzidos pela decomposição biológica relacionados aos três estágios de decomposição. Tabela 6.3 – Estágios de Decomposição Biológica e Gases Produzidos Gases Produzidos no Processo CO2 Estágios 1º Hidrólise e Fermentação 2º Acetogênese XXXX XXXX CH4 H2 S 3º Metanogênese XXXX XXXX 153 O 1º Estágio compreende a produção de gases dióxido de carbono (CO2) e Hidrogênio (H2) gerados pelas bactérias hidrolíticas-fermentativas, em que estas realizam a hidrólise dos compostos carboidratos, proteínas e lipídeos originando outros compostos (açucares, aminoácidos, ácidos graxos de cadeias longas e álcoois) que quando fermentados geram ácidos, outros álcoois e gases. O 2º Estágio há a produção de gases CO2, H2S (gás sulfídrico) e H2, sendo estes gases são provenientes do processo de decomposição anaeróbia causada por três grupos distintos de bactérias: Acetogênicas, Homoacetogênicas e Redutoras de Sulfato. Estas bactérias utilizam os intermediários solúveis, o acetato, o hidrogênio e o dióxido de carbono, provenientes do 1º estágio, produzindo mais acetato, H2, CO2 e H2S. O 3º Estágio, conhecido como metanogênese, as bactérias metanogênicas (anaeróbias estritas) produzem o metano (CH4), a forma mais gasosa reduzida do carbono na natureza. As espécies bacterianas (Archae metanogênicas) são responsáveis pela fase limitante do processo, que através da descarboxilação do acetato ou da redução do dióxido de carbono pelo hidrogênio, ocorre à produção de metano. As metanogênicas utilizam substratos para seu crescimento e produção de metano, dentre estes podem ser citados o ácido acético, o hidrogênio, o dióxido de carbono, o formiato, metilaminas e o metanol, em que quase todos estes substratos são utilizados por um gênero de bactérias a Methanosarcina. As espécies que utilizam o acetato (metanogênicas acetotróficas ou acetoclásticas) são do gênero Methanothrix e Methanococus mazei. As demais espécies, em sua maioria, são hidrogenotróficas, isto é, convertem dióxido de carbono e hidrogênio em metano. 154 Fonte: Rizzo e Leite, 2004 Figura 6.9 - Representação esquemática da interação interespécies nos bioreatores anaeróbios (Adaptação de Barbosa,1988, Vazoller, 1993 e Saw et al., 1988) As bactérias redutoras de sulfato (BRS), consideradas como acetogênicas, são normalmente encontradas em associação com as metanogênicas em ambientes anaeróbios. A redução dos íons sulfato a sulfeto é energeticamente favorecida em relação à produção de metano. Em sistemas anaeróbios com concentrações baixas de íons sulfato as bactérias exercem o papel de formadoras de substratos metanogênicos, principalmente acetato e hidrogênio a partir de outros substratos orgânicos solúveis (Vazoller,1993) (in Rizzo e Leite, 2004). No entanto, em presença de elevadas concentrações de íons sulfato, estas passam a competir com as metanogênicas pelo mesmo substrato, isto é, acetato e H2 (Speece,1983) (in Rizzo e Leite, 2004). 155 6.4 - Descrição dos Drenos em relação aos resíduos aterrados Os drenos de gás do aterro sanitário Nova Iguaçu estão situados em áreas de resíduos sólidos urbanos de disposição recente. Ou seja, pode ser considerado como lixo novo o que na classificação de degradação proposta por Rees (1980), significa que o estágio de degradação pode ser I e II Para o aterro Terra Brava, os drenos de gás estão localizados em áreas com resíduos sólidos urbanos dispostos aparentemente há bastante tempo, caracterizando lixo antigo, com exceção do disposto no dreno de gás 5, que está situado em uma área de resíduos sólidos de serviços de saúde. Assim, os gases produzidos nos drenos 1, 2, 3 e 4 indicam que o lixo está no estágio de degradação III. No local do dreno 5 a produção de gases indica que está no Estágio V ou então o dreno encontra-se obstruído. 156 VII - APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E DISCUSSÕES 7.1 - Granulometria do Solo de Cobertura do Aterro Terra Brava Os ensaios granulométricos realizados no Laboratório de Geotecnia da COPPEUFRJ, os resultados destes ensaios são mostrados sob a forma de gráfico (Figuras 7.1, 7.2 e 7.3). ARGILA PENEIRAS: PORCENTAGEM PASSANDO 100 AREIA SILTE MÉDIA FINA 270 200 100 60 40 PEDREGULHO FINO GROSSA 30 20 10 MÉDIO 4 3/8 1/2 GROSSO 3/4 1 11/2 2 3 0 90 10 80 20 70 30 60 40 50 50 PROXIMO ÃO PDR 1 PRÓXIMO AO DRENO 40 60 30 70 20 80 10 90 0 100 0.001 0.01 0.1 1 10 PORCENTAGEM RETIDA ABNT 100 DIÂMETRO DAS PARTÍCULAS (mm) Figura 7.1 – Curva Granulométrica do Solo próximo ao Dreno 1 ARGILA PENEIRAS: PORCENTAGEM PASSANDO 100 AREIA SILTE MÉDIA FINA 270 200 100 60 40 PEDREGULHO FINO GROSSA 30 20 10 MÉDIO 4 3/8 1/2 GROSSO 3/4 1 11/2 2 3 0 90 10 80 20 70 30 60 40 50 50 PROXIMO ÃO PDR 22 PRÓXIMO AO DRENO 40 60 30 70 20 80 10 90 0 PORCENTAGEM RETIDA ABNT 100 0.001 0.01 0.1 1 10 100 DIÂMETRO DAS PARTÍCULAS (mm) Figura 7.2 – Curva Granulométrica do Solo próximo ao Dreno 2 157 MÉDIA FINA PENEIRAS: 100 PORCENTAGEM PASSANDO AREIA SILTE ARGILA 270 200 100 60 40 PEDREGULHO FINO GROSSA 30 20 10 MÉDIO 4 3/8 1/2 GROSSO 3/4 1 11/2 2 3 0 90 10 80 20 70 30 60 40 50 50 PROXIMO ÃO PDR 33 PRÓXIMO AO DRENO 40 60 30 70 20 80 10 90 0 PORCENTAGEM RETIDA ABNT 100 0.001 0.01 0.1 1 10 100 DIÂMETRO DAS PARTÍCULAS (mm) Figura 7.3 – Curva Granulométrica do Solo próximo ao Dreno 3 Tabela 7.1 – Percentual de material do solo de cobertura ATERRO TERRA BRAVA PROXIMIDADE MATERIAL MÉDIA DRENO 1 DRENO 2 DRENO 3 Pedregulho 21% 25% 25% 24% Areia 42% 34% 53% 43% Silte 19% 20% 14% 18% Argila 18% 21% 8% 16% Segundo a Tabela acima montada a partir das Figuras 6.a a 6.c, a camada de cobertura deste aterro é constituída em média de 24% de pedregulho, 43% de areia, 18% de silte e 16% de argila. Sendo este solo classificado como S (areia), pois é a fração granulométrica que predomina mais. 158 Tomando a curva característica do solo próximo ao Dreno 3, obtém-se o diâmetro de D60 é igual a 0,70 mm e D10 é igual a 0,004 mm. Então, o coeficiente de não uniformidade (CNU) é determinado pela relação: CNU = D60/D10 = 0,70/0,004 = 175 O solo é considerado como bem graduado por apresentar um CNU>6, classificando o solo como areia bem graduada ou SW. O material que passa pela peneira nº 200 (0,075 mm) é mostrado na Tabela 7.3, sendo que as porcentagens de material são comparadas para saber se o solo de cobertura terá uma granulação grosseira ou fina. Tabela 7.2 – Percentual de finos passando pela malha 200 Proximidade Material de finos passando pela peneira nº 200 DRENO 1 38% DRENO 2 43% DRENO 3 27% Média 36% Este solo é de granulação grosseira, pois seus percentuais de finos são menores que 50%. 159 7.2 – Caracterização da Curva de Retenção de Umidade do Aterro Terra Brava Umidade Retida (%) Sucção x Umidade retida 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Próximo ao Dreno PDR1 1 Próximo ao Dreno PDR2 2 Próximo ao Dreno PDR5 5 %Satur 0,01 0,1 1,5 Sucção (MPa) Figura 7.4 – Sucção versus Umidade Retida A curva característica do solo indicou uma maior umidade para o solo de cobertura próximo ao Dreno de gás 1, seguida dos resultados observados no solo próximo ao Dreno de gás 2 e a seguir próximo ao Dreno 5. Os resultados indicam que o solo próximo ao dreno 5 tem uma capacidade de retenção de água menor que os outros. Vale observar que de forma geral a cobertura deste aterro é feita com solo de uma saibreira relativamente próxima ao aterro. De qualquer forma os resultados do gráfico acima e da análise granulométrica do solo indicam que a camada de solo de cobertura próximo ao Dreno 5 é mais permeável que as outras duas camadas As três curvas no trecho analisado são semelhantes, com exceção de um ponto do dreno de gás cinco, o que pode ter sido um problema no ensaio. No que se refere à permeabilidade quanto à passagem dos gases é difícil tirar grandes conclusões a partir do gráfico acima e da análise granulométrica deste solo. Vale ainda por fim observar, que a cobertura deste aterro tem sido executada de forma irregular, de forma que a espessura da camada de cobertura varia de trecho para trecho bem como a forma de compactação e umidade. 160 7.3 – Resultados dos ensaios da camada de cobertura do Aterro Nova Iguaçu 7.3.1 – Granulometria do solo de cobertura A constituição do solo da camada de cobertura apresenta um percentual de material relacionado a cada cota do aterro. Tabela 7.3 – Constituição do solo por cota de aterro COTAS (m) Solo (%) Areia Silte Argila 47.00 31 9 60 48.00 22 8 70 49.40 28 8 64 55.00 50 16 34 Média 32,8 10,3 57 Observou-se que na cota 55.00 a fração predominante é areia ao invés de argila (Tabela 7.3), ao contrário das outras cotas que tem a argila predominando. Com relação à granulação, em ser fina ou grosseira, basta saber se o material que passa na peneira 200 é maior que 50% (granulação fina) ou menor que 50% (granulação grosseira). O material que passa #200 é maior que 50%, a granulação, então, é considerada como fina, como é mostrada na tabela a seguir: Tabela 7.4 – Material passando na peneira 200 Cotas (m) % Passando na #200 47.00 73,1 48.00 75,7 49.40 73,0 55.00 51,6 Média 68,4 Assim mais de 50% do material passa na peneira #200. Como característica complementar da camada de solo de granulação fina, em indicar o tipo de compressibilidade (Baixa ou Alta), precisará saber os Limites de consistência do solo (Limite de Liquidez e Limite de Plasticidade), para determinação 161 do Índice de Plasticidade (IP), onde entrarão com esses valores na carta de plasticidade, determinando a característica secundária do solo. Os resultados obtidos são mostrados na Tabela 7.5. Tabela 7.5 – Índices de Consistência do Solo LL (%) LP (%) IP (%) (Limite de Liquidez) (Limite de Plasticidade) (Índice de Plasticidade) 47.00 71,8 34,4 37,4 48.00 101,8 40,9 60,9 49.40 75,8 35,0 40,8 55.00 51,9 25,3 26,6 MÉDIA 75,3 33,9 41,4 COTAS (m) A camada de solo é classificada como sendo CH (argila de alta compressibilidade), pelo seu LL ser superior a 50% e o Índice de Plasticidade está acima de 20%. 7.3.2 – Compactação do solo de cobertura Os gráficos das curavas de compactação são mostrados a seguir. 13.0 peso específico aparente seco ( kN/m3 ) hot - 33.5 % γ - 12.78 kN/m3 s 12.0 11.0 28.0 30.0 32.0 34.0 36.0 38.0 40.0 umidade ( % ) Figura 7.5 – Compactação do solo da cota 47.00 162 15.0 peso específico aparente seco ( kN/m3 ) hot - 28.7 % γ - 14.10 kN/m3 s 14.0 13.0 12.0 22.0 24.0 26.0 28.0 30.0 32.0 34.0 umidade ( % ) Figura 7.6 – Compactação do solo da cota 48.00 15.0 peso específico aparente seco ( kN/m3 ) hot - 29.5 % γ - 14.10kN/m3 s 14.0 13.0 12.0 24.0 26.0 28.0 30.0 32.0 34.0 36.0 umidade ( % ) Figura 7.7 – Compactação do solo da cota 49.40 163 16.0 peso específico aparente seco ( kN/m3 ) hot - 21.0 % γ - 15.85 kN/m3 s 15.0 14.0 16.0 18.0 20.0 22.0 24.0 26.0 umidade ( % ) Figura 7.8 – Compactação do solo da cota 55.00 Tabela 7.6 – Umidade ótima e Peso específico Cotas (m) Umidade Ótima (%) Peso Específico Seco (KN/m3) 47.00 48.00 49.40 55.00 Média 28,7 33,5 29,5 21,0 28,18 14,10 12,78 14,10 15,85 14,21 O solo apresenta uma umidade média de 28,18% e peso específico seco médio de 14,21 KN/m3. A média está dentro da faixa de 28 a 30% para umidade ótima e 14 a 15% para o peso específico seco. Para as cotas 48.00, 47.00 e 49.40, suas umidades ótimas estão acima da média, mas para seus pesos específicos secos seus valores estão abaixo da média (14,21 KN/m3). Nota-se também que para as cotas 47.00 e 49.40 seus pesos específicos são iguais. 164 7.3.2.1 – Ensaios CBR/ ISC (Índice Suporte Califórnia) Os resultados obtidos nestes ensaios são mostrados na Tabela 7.7. Para o ISC obtiveram-se dois valores iguais de 9,9% relacionados às cotas 47.00 e 55.00 m. A média do ISC da em torno de 8,0%, sendo este valor menor que o da cota 49.40 (8.9%). A expansão do solo da cota 48.00 é maior que nos outros das cotas 47.00, 49.40 e 55.00 m. A média de expansão do solo fica em 0,7%, que é menor que 1,7% (cota 48.00 m) e maior que os da cota 47.00, 49.40 e 55.00 m. Tabela 7.7 – Índice Suporte Califórnia Cotas (m) ISC (%) Expansão (%) 47.00 9.9 0.3 48.00 3.4 1.7 49.40 8.9 0.4 55.00 9.9 0.5 7.3.3 – Permeabilidade do solo de cobertura Tabela 7.8 – Permeabilidade do solo Cotas (m) 47.00 48.00 49.40 55.00 Média Permeabilidade média (cm/s) 5,14 x 10-7 7,60 x 10-7 4,67 x 10-7 3,65 x 10-7 5,27 x 10-7 A permeabilidade média dos solos é na ordem de 10-7 cm/s (10-9 m/s), que caracteriza uma permeabilidade muito baixa. 165 7.5 - Aplicação dos modelos School Canyon e Lima: Para aplicação dos dois modelos foram usados parâmetros de entrada conforme a Tabela 7.9. Tabela 7.9 – Parâmetros de entrada dos modelos Modelos Parâmetros de entrada Aterro Nova Iguaçu (CTR) Aterro Terra Brava 365000 182500 0.04 0.04 Potencial de geração (m /t) 170 100 Ano de abertura 2003 1983 Ano de encerramento 2028 2008 50 50 70 70 61,80 51,59 9,93 16,92 170 100 4 4 10 10 Quantidade de resíduos SCHOOL CANYON (t/ano) Taxa de produçãoa (ano-1) b 3 Anos de produção após o encerramento Fator de recuperação assumido (%) Fração do resíduo facilmente degradável (%)* Fração do resíduo moderadamente degradável LIMA (%)* Potencial de geraçãob (m3/t) Tempo de bioestabilização para FD (anos) Tempo de bioestabilização para MD (anos) a Valor k de 0.04/ano são para áreas que recebem mais do que 25” de chuvas por ano e 0.02/ano são para áreas que recebem menos que 25” de chuvas por ano (EPA, 1997). b O potencial de geração de metano (L0) está relacionado a fração orgânica dos resíduos (Principalmente celulose). Quanto maior a celulose contida nos resíduos maior será o potencial de geração. O valor 170 m3/t são para resíduos que apresentam maiores quantidades de celulose e 100 para resíduos que apresentam menores quantidades de celulose (LandGEM – V3.02 User’s Guide, 2005). 166 *Os aterros não possuem composição gravimétrica dos seus resíduos correspondente à fração facilmente degradável e moderadamente degradável. Então, para aplicar o modelo de Lima, foi adotada para cada município a composição média correspondente aos bairros do município do Rio de Janeiro que se assemelham aos municípios de Nova Iguaçu e TB. O município TB apresenta uma composição gravimétrica do lixo municipal semelhante a dos bairros Tijuca e Botafogo do município do Rio. Da mesma forma, acredita-se, que a composição gravimétrica do município de Nova Iguaçu é semelhante a dos bairros Campo Grande e Bangu do município do Rio. Esta comparação está relacionada aos padrões sócio-econômicos como, população, padrões de vida, nível educacional, hábitos e costumes e outros, que vem refletir sobre a composição do lixo. Tabela 7.10 – Composição Gravimétrica Bairros Composição Tijuca Botafogo Bangu Campo Grande 54,37% 48,80% 60,29% 63,3% Papel 15,98% 17,86% 10,05% 9,81% Metal 2,16% 2,17% 1,52% 1,55% Vidro 4,50% 5,70% 2,43% 2,30% Plástico 18,33% 19,01% 13,60% 14,09% Outros 4,66% 6,46% 12,11% 8,94% Matéria orgânica putrescível Fonte: COMLURB, 2004 Tabela 7.11 – Composição Gravimétrica Média Composição Bairros Tijuca - Botafogo Bangu - Campo Grande 51,59% 61,80% Papel 16,92% 9,93% Metal 2,17% 1,54% Vidro 5,10% 2,37% Plástico 18,67% 13,85% Outros 5,56% 10,53% Matéria orgânica putrescível Fonte: COMLURB, 2004 167 7.5.1 – Resultados Obtidos com os Modelos School Canyon e Lima As Tabelas 7.12 e 7.13 mostram a produção anual de metano (CH4) e sua recuperação obtida pela seguinte equação matemática: QCH4= k L0 mi e-kt, como descrita no Capítulo V. Tabela 7.12 – Resultados do Modelo School Canyon para o Aterro Terra Brava ANO 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 . . . . . . . 2058 QCH4 (m3/ano) 0 730000 1431376,291 2105251,223 2752703,142 3374768,108 3972441,558 4546679,897 5098402,028 5628490,825 6137794,543 6627128,176 7097274,764 7548986,64 7982986,64 8399969,257 8800601,751 9185525,22 9555355,625 9910684,772 10252081,26 10580091,41 10895240,09 11198031,61 11488950,51 11768462,32 11307014,31 10863659,94 10437689,74 . . . . . . . 1592688,182 Recuperação Anual de Gás (m3/ano) 0 511000 1001963,403 1473675,856 1926892,2 2362337,676 2780709,091 3182675,928 3568881,419 3939943,577 4296456,18 4638989,724 4968092,335 5284290,648 5588090,648 5879978,48 6160421,226 6429867,654 6688748,937 6937479,34 7176456,884 7406063,985 7626668,063 7838622,13 8042265,36 8237923,625 7914910,02 7604561,959 7306382,819 . . . . . . . 1114881,727 168 Tabela 7.13 – Resultados do Modelo School Canyon para o Aterro Nova Iguaçu ANO 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 . . . . . . . QCH4 (m3/ano) 0 2482000 4866679,388 7157854,16 9359190,684 11474211,57 13506301,3 15458711,65 17334566,89 19136868,8 20868501,45 22532235,8 24130734,2 25666554,58 27142154,58 28559895,47 29922045,95 31230785,75 32488209,12 33696328,22 34857076,3 35972310,78 37043816,3 38073307,49 39062431,75 40012771,89 38443848,67 36936443,8 35488145,12 . . . . . . . Recuperação Anual de Gás (m3/ano) 0 1737400 3406675,572 5010497,912 6551433,479 8031948,097 9454410,908 10821098,15 12134196,83 13395808,16 14607951,01 15772565,06 16891513,94 17966588,2 18999508,2 19991926,83 20945432,17 21861550,02 22741746,39 23587429,76 24399953,41 25180617,55 25930671,41 26651315,24 27343702,23 28008940,33 26910694,07 25855510,66 24841701,59 . . . . . . . 2078 5415139,817 3790597,872 Os gráficos a seguir foram plotados através dos resultados das tabelas (op. cit.), em que estes mostram a produção e a recuperação anual do gás antes do fechamento e após o fechamento. 169 Produção de Gás Anual 1,40E+07 1,00E+07 3 Produção de Gás (m/ano) 1,20E+07 Geração de LFG 8,00E+06 Recuperação de LFG 6,00E+06 Até 2008 - São 25 anos aberto; Após 2008 - São 50 anos fechado. 4,00E+06 2058 2053 2048 2043 2038 2033 2028 2023 2018 2013 2008 2003 1998 1993 1988 0,00E+00 1983 2,00E+06 Anos Fonte: Tabela 7.12 Figura 7.9 – Produção Anual de Gás do Aterro Terra Brava Produção de Gás Anual 4,50E+07 3,50E+07 3,00E+07 Geração de LFG 2,50E+07 Recuperação de LFG 2,00E+07 1,50E+07 Até 2028 - São 25 anos aberto; Após 2028 - São 50 anos fechado. 1,00E+07 2078 2073 2068 2063 2058 2053 2048 2043 2038 2033 2028 2023 2018 2013 0,00E+00 2008 5,00E+06 2003 3 Produção de Gás (m/ano) 4,00E+07 Anos Fonte: Tabela 7.13 Figura 7.10 – Produção Anual de Gás do Aterro Nova Iguaçu 170 Conforme o método descrito no Capítulo V aplicou-se este método para os aterros Nova Iguaçu e Terra Brava, obtendo-se os seguintes resultados nas tabelas 7.14 e 7.15. A partir desses resultados foram plotados os gráficos que são apresentados após as tabelas. Tabela 7.14 – Resultado do Modelo de Lima para o Aterro Terra Brava Peso do Lixo (kg) Produção de CH4 (m3/ano) Produção acumulada de CH4 (m3/ano) Ano k1 67,87 125562,28 125562,28 1 k2 203,61 376686,83 502249,10 2 k3 210,38 389207,63 891456,73 3 k4 88,18 163124,68 1054581,40 4 k5 30,46 56343,60 1110925,00 5 k6 30,46 56343,60 1167268,60 6 k7 23,69 43822,80 1211091,40 7 k8 16,92 31302,00 1242393,40 8 k9 10,15 18781,20 1261174,60 9 k10 3,38 6260,40 1267435,00 10 Fator kn Produção de Metano ao longo do tempo 1,40E+06 3 Produção (m/ano) 1,20E+06 1,00E+06 Produção 8,00E+05 Produção acumulada 6,00E+05 4,00E+05 2,00E+05 0,00E+00 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Anos Fonte: Tabela 7.15 Figura 7.11 – Produção Normal e Acumulada de Metano do Aterro Terra Brava 171 Tabela 7.15 – Resultado do Modelo de Lima para o Aterro Nova Iguaçu Fator kn k1 k2 k3 k4 k5 k6 k7 k8 k9 k10 Produção de CH4 (m3/ano) 4916593,80 14749781,40 14996244,00 5655981,60 1109081,70 1109081,70 862619,10 616156,50 369693,90 123231,30 Peso do Lixo (kg) 79,24 237,71 241,68 91,15 17,87 17,87 13,90 9,93 5,96 1,99 Produção acumulada de CH4 (m3/ano) 4916593,80 19666375,20 34662619,20 40318600,80 41427682,50 42536764,20 43399383,30 44015539,80 44385233,70 44508465,00 Ano 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 3 Produção (m/ano) Produção de Metano ao longo dos anos 5,00E+07 4,50E+07 4,00E+07 3,50E+07 3,00E+07 Produção 2,50E+07 2,00E+07 1,50E+07 1,00E+07 5,00E+06 0,00E+00 Produção acumulada 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Anos Fonte: Tabela 7.16 Figura 7.12 – Produção Normal e Acumulada de Metano do Aterro Nova Iguaçu 172 7.6 – Gráficos Os gráficos a seguir foram plotados através dos resultados obtidos pelas medições de campo e análises cromatográficas dos gases (Anexo A) dos aterros Nova Iguaçu e Terra Brava. 7.6.1 - Explosividade dos Aterros Nova Iguaçu e Terra Brava Dreno 1 Limite Inferior de Explosividade Dreno 2 120 Dreno 3 Dreno 4 100 Dreno 5 Dreno 6 %LEL 80 Dreno 7 Dreno 8 60 Dreno 9 40 Dreno 11 Dreno 10 Dreno 12 Dreno 13 20 Dreno 14 Dreno 15 0 Dreno 16 jul/03 nov/03 mai/04 jul/04 dez/04 Meses Externa Lim. M áx. Fonte: Tabela A.1 (Anexo A) Figura 7.13 – Limite inferior de explosividade do Aterro Nova Iguaçu LIMITE INFERIOR DE EXPLOSIVIDADE 120 %LEL 100 Dreno 1 Dreno 2 80 Dreno 3 60 Dreno 4 40 Externa Dreno 5 Lim. Máx. 20 0 mar/04 mai/04 jul/04 set/04 nov/04 jan/05 mar/05 Meses Fonte: Tabela A.9 (Anexo A) Figura 7.14 – Limite inferior de explosividade do Aterro Terra Brava 173 7.6.2 – Gás metano (CH4) dos Aterros Nova Iguaçu e Terra Brava Variação de CH4 ao longo do tempo 16 Dreno 1 Dreno 2 Dreno 3 14 Dreno 4 Dreno 5 12 Dreno 6 Dreno 7 CH4 (%Vol) 10 Dreno 8 Dreno 9 8 Dreno 10 Dreno 11 6 Dreno 12 Dreno 13 4 Dreno 14 Dreno 15 2 Dreno 16 Lim. M áx. 0 LEL (%Vol) jul/03 nov/03 mai/04 jul/04 dez/04 UEL (%Vol) Meses Fonte: Tabela A.2 (Anexo A) Figura 7.15 – Gás metano do Aterro Nova Iguaçu Variação do CH4 ao longo do tempo 16 14 Dreno 1 CH4 (%Vol) 12 Dreno 2 10 Dreno 3 Dreno 4 8 Dreno 5 6 Externa Lim M áx 4 LEL (%Vol) 2 UEL (%VOL) 0 mar/04 jun/04 set/04 dez/04 mar/05 Meses Fonte: Tabela A.10 (Anexo A) Figura 7.16 – Gás metano do Aterro Terra Brava 174 7.6.3 – Gás dióxido de carbono (CO2) dos Aterros Nova Iguaçu e Terra Brava Dreno 1 Variação de CO2 ao longo do tempo Dreno 2 6 Dreno 3 Dreno 4 5 Dreno 5 4 Dreno 7 Dreno 8 Dreno 9 3 Dreno 10 Dreno 11 2 Dreno 12 Dreno 13 1 Dreno 14 Dreno 15 Dreno 16 0 jul/03 nov/03 mai/04 jul/04 dez/04 Externa Lim. Máx. Meses Fonte: Tabela A.3 (Anexo A) Figura 7.17 – Gás dióxido de carbono do Aterro Nova Iguaçu Variação do CO2 ao longo do tempo 6 5 CO2 (%Vol) CO2 (%Vol) Dreno 6 Dreno 1 Dreno 2 4 Dreno 3 Dreno 4 3 Dreno 5 2 Externa Lim. Máx. 1 0 mar/04 jun/04 set/04 dez/04 mar/05 Meses Fonte: Tabela A.11 (Anexo A) Figura 7.18 – Gás dióxido de carbono do Aterro Terra Brava 175 7.6.4 – Oxigênio (O2) dos Aterros Nova Iguaçu e Terra Brava Dreno 1 Variação de O2 ao longo do tempo 30 Dreno 2 Dreno 3 Dreno 4 O2 (%Vol) 25 Dreno 5 Dreno 6 20 Dreno 7 Dreno 8 15 Dreno 9 Dreno 10 Dreno 11 10 Dreno 12 Dreno 13 5 Dreno 14 Dreno 15 0 nov/03 mar/04 mai/04 jun/04 jul/04 out/04 dez/04 Meses Dreno 16 Externa Lim. M áx. Fonte: Tabela A.4 (Anexo A) Figura 7.19 – Oxigênio do Aterro Nova Iguaçu Variação de O2 ao longo do tempo 30 25 O2 (%Vol) Dreno 1 20 Dreno 2 Dreno 3 15 Dreno 4 Dreno 5 10 Externa Lim. M áx. 5 0 mar/04 jun/04 set/04 dez/04 mar/05 Meses Fonte: Tabela A.13 (Anexo A) Figura 7.20 – Oxigênio do Aterro Terra Brava 176 7.6.5 – Gás sulfídrico (H2S) dos Aterros Nova Iguaçu e Terra Brava Dreno 1 Dreno 2 Dreno 3 Variação de H2S ao longo do tempo Dreno 4 Dreno 5 100 Dreno 6 80 Dreno 7 Dreno 8 60 Dreno 9 Dreno 10 H2S (ppm) 120 Dreno 11 40 Dreno 12 Dreno 13 20 Dreno 14 0 nov/03 mar/04 mai/04 jun/04 jul/04 out/04 dez/04 Meses Dreno 15 Dreno 16 Externa Lim. Máx. Fonte: Tabela A.5 (Anexo A) Figura 7.21 – Gás sulfídrico do Aterro Nova Iguaçu Variação de H2S ao longo do tempo 120 100 H2 S (ppm) Dreno 1 80 Dreno 2 Dreno 3 60 Dreno 4 Dreno 5 40 Externa 20 Lim. M áx. 0 mar/04 jun/04 set/04 dez/04 mar/05 Meses Fonte: Tabela A.12 (Anexo A) Figura 7.22 – Gás sulfídrico do Aterro Terra Brava 177 7.6.6 – Temperaturas dos Gases dos Aterros Nova Iguaçu e Terra Brava Dreno 1 TEMPERATURAS MENSAIS Dreno 2 80 Dreno 3 Dreno 4 Temperatura (ºC) 70 Dreno 5 60 Dreno 6 50 Dreno 8 Dreno 7 Dreno 9 40 Dreno 10 Dreno 11 30 Dreno 12 20 Dreno 13 10 Dreno 14 0 Dreno 16 Dreno 15 jul/03 set/03 nov/03 mar/04 mai/04 jun/04 Externa jul/04 ago/04 out/04 dez/04 M édia mensal Meses Fonte: Tabela A.6 (Anexo A) Figura 7.23 – Temperaturas dos gases do Aterro Nova Iguaçu TEMPERATURAS MENSAIS 60 Temperaturas (ºC) Dreno 1 50 Dreno 2 40 Dreno 3 30 Dreno 4 Dreno 5 20 Externa 10 Média mensal 0 mar/04 mai/04 jul/04 set/04 nov/04 jan/05 mar/05 Meses Fonte: Tabela A.14 (Anexo A) Figura 7.24 – Temperaturas dos gases do Aterro Terra Brava 178 7.6.7 – Cromatografia CH4 e CO2 dos Aterros Nova Iguaçu e Terra Brava Variação do CH4 e pluviometria em relação ao tempo 90 120 80 100 60 80 50 60 40 30 40 20 Dreno 2 Pluviometria (mm) CH4 (%Vol) 70 Dreno 7 Dreno 9 Dreno 10 Dreno 14 Média mensal Pluviometria 20 10 0 0 jul/04 ago/04 out/04 dez/04 Média Meses Fonte: Tabela A.7 (Anexo A) Figura 7.25 – Metano do Aterro Nova Iguaçu e Pluviometria Variação do CH4 e pluviometria em relação ao tempo 80 200 70 180 CH4 (%Vol) Pluviometria (mm) 160 60 140 Dreno 1 Dreno 2 50 120 Dreno 3 40 100 Dreno 4 30 80 Dreno 5 60 20 40 10 20 0 0 Média mensal Pluviometria jul/04 set/04 nov/04 jan/05 mar/05 mai/05 Meses Fonte: Tabela A.15 (Anexo A) Figura 7.26 – Metano do Aterro Terra Brava e Pluviometria 179 Variação do CO2 e Pluviometria em relação ao tempo 120 30 100 CO2 (%Vol) 25 80 20 60 15 40 10 5 20 0 0 jul/04 Dreno 2 Pluviometria (mm) 35 Dreno 7 Dreno 9 Dreno 10 Dreno 14 Média mensal Pluviometria ago/04 out/04 dez/04 Média Meses Fonte: Tabela A.8 (Anexo A) Figura 7.27 – Dióxido de Carbono do Aterro Nova Iguaçu e Pluviometria 18 200 16 180 14 160 140 12 120 10 100 8 80 6 60 4 40 2 20 0 0 Dreno 1 Pluviometria (mm) CO2 (%Vol) Variação do CO2 e pluviometria em relação ao tempo Dreno 2 Dreno 3 Dreno 4 Dreno 5 Média mensal Pluviometria jul/04 set/04 nov/04 jan/05 mar/05 mai/05 Meses Fonte: Tabela A.16 (Anexo A) Figura 7.28 – Dióxido de Carbono do Aterro Terra Brava e Pluviometria 180 7.7 - Análise Estatística dos Resultados da Cromatografia dos Gases CO2 e CH4 dos Aterros Nova Iguaçu e Terra Brava A maioria das análises estatísticas é feita com um número mínimo de medições ou observações, ou seja, o tamanho das amostras deve ser de n≥30, de tal modo que as conclusões tiradas sejam válidas para a população em estudo. As tabelas de gases com resultados das análises cromatográficas (Anexo A) foram submetidas às análises estatísticas, aplicando-se o coeficiente de correlação e testando a significância que indicará se esta correlação existe ou não. Este teste se baseia em dois tipos de ocorrência de erros: - Erro Tipo I: Despreza-se a H0 (Hipótese nula) e se adota Ha (Hipótese alternativa); - Erro Tipo II: Adota-se H0 e despreza-se Ha. A hipótese nula (H0) afirma que não há correlação entre as variáveis, enquanto que a hipótese alternativa (Ha) afirma o contrário, ou seja, há correlação. A ocorrência do Erro Tipo I ou Tipo II vai depender da comparação entre as significâncias, observadas da seguinte forma: - Se a significância calculada for menor que a crítica (t0<tc), ocorre o Erro Tipo II, adotando-se então a hipótese nula, o que indica que não há correlação; - Se a significância calculada for maior que a crítica (t0>tc), ocorre o Erro Tipo I, adotando-se então a hipótese alternativa, que afirma que há correlação entre as variáveis. Quando há correlação entre as variáveis, a sua classificação é feito pelo índice de correlação como mostra a tabela abaixo: Tabela 7.16 – Classificação do índice de correlação Fonte: http://www.est.ufpr.br/~silvia/CE003/node74.html Devido à inexistência de alguns dados referentes às medições de CO2 e CH4 dos aterros Nova Iguaçu e Terra Brava, foram imputados valores de medições através da média dos demais valores medidos. 181 7.7.1 - Dióxido de Carbono (CO2) do Aterro Nova Iguaçu Apresentam-se a seguir valores de CO2 medidos no aterro de Nova Iguaçu: CV= Coeficiente de Variação 182 7.7.2 - Metano (CH4) do Aterro Nova Iguaçu São apresentados valores de CH4 medidos no aterro Nova Iguaçu: CV= Coeficiente de Variação 183 7.7.3 – Dióxido de Carbono (CO2) do Aterro Terra Brava Os valores medidos de CO2 no aterro Terra Brava são apresentados a seguir: CV= Coeficiente de Variação 184 7.7.4 – Metano (CH4) do Aterro Terra Brava São apresentados valores de CH4 medidos no aterro Terra Brava: CV= Coeficiente de Variação 185 7.7.5 – Análise dos Resultados Observou-se que as significâncias testadas para as correlações entre drenos e pluviometria apontaram não haver correlação entre as variáveis, o que era esperado em parte tendo em vista que as medidas pluviométricas não puderam ser realizadas diretamente no aterro por razões de segurança. As significâncias testadas para todas as matrizes de correlação entre drenos, apontaram na maioria não haver correlação, o que se deve à heterogeneidade dos resíduos, formas de operação e diferentes momentos de disposição, exceto para alguns drenos. As leituras de metano dos drenos 7 e 10 do aterro Nova Iguaçu, demonstraram pelo teste da significância existir correlação entre estes. Esta correlação é muito forte (rxy= 0,97), segundo a Tabela 7.16. As medidas do dióxido de carbono dos drenos 1 e 2 do aterro Terra Brava, indicaram a existência de correlação feita pelo teste da significância. A correlação apontada é moderada (rxy= 0,60). A correlação entre os drenos 3 e 4 do aterro Terra Brava para o CH4, apresentou uma correlação moderada (rxy= 0,59), que pelo teste da significância atribuiu a existência desta correlação. Como se observou, a correlação positiva indica uma associação entre os drenos, ou seja, ou seja, os aspectos qualitativos de ambos os drenos crescem conjuntamente. Os resultados de CH4 referentes aos drenos 7 e 10 do aterro Nova Iguaçu, indicam que os resíduos são homogêneos e dispostos de forma adequada, enquanto que os resultados de CO2 dos drenos 1 e 2, CH4 dos drenos 3 e 4 do aterro Terra Brava demonstram que os resíduos são menos homogêneos com momentos de disposição poucos diferentes. 7.8 - Discussão dos Resultados 7.8.1 – Modelos Shool Canyon e Lima Os modelos Shoool Canyon e Lima utilizados para cada aterro são bastante diferentes entre si, sendo relevante obsevar que Lima (2002) adota uma série de parâmetros apoiado em observações empíricas, que torna difícil comparar os dois modelos. 186 Ao aplicar o modelo School Canyon para os aterros Nova Iguaçu (Figura 7.10) e Terra Brava (Figura 7.9), foi observado que o aterro Nova Iguaçu produzirá uma quantidade de gás maior do que o aterro Terra Brava fruto das diferenças entre os diversos aspectos componentes do aterro, em especial o fato que um é um aterro sanitário e o outro não. Outro fator observado foi a recuperação do gás que mostrou melhor aproveitamento para o aterro Nova Iguaçu (Figura 7.10) o que era claramente esperado. Ao aplicar o modelo de Lima para os dois aterros, observou que a produção de gás também foi maior para o aterro Nova Iguaçu. 7.8.2 - Explosividade A explosividade está associada à composição de metano, quando este atinge o 5% em volume, o que corresponde a 100% do Limite Inferior de Explosividade. Os gases emitidos pelos drenos do aterro Nova Iguaçu demonstraram que o percentual de LEL variou de forma intensa no período de jul/03 a mai/04 (Figura 7.13), enquanto que os drenos do aterro Terra Brava apresentaram pequenas variações no LEL (Figura 7.14). Isto vem demonstrar uma decomposição inicialmente mais acelerada no aterro Nova Iguaçu, o que naturalmente está relacionado à composição dos resíduos depositados, a forma de disposição e às condições ambientais. 7.8.3 - Metano O metano do aterro Nova Iguaçu apresentou composições bastante variadas nos meses de jul/03 a mai/04 (Figura 7.15), atingindo valores máximos de 4.40% vol. de metano. Para o aterro Terra Brava observaram-se poucas variações na composição do gás (Figura 7.16). 7.8.4 - Dióxido de Carbono Observou-se que o gás CO2 produzido no aterro Nova Iguaçu pelas bactérias hidrolíticas, fermentativas e redutoras de sulfato, apresentou composições bastante variadas (Figura 7.17) nos meses de jul/03 a mai/04, enquanto que no aterro Terra Brava esta composição variou pouco (Figura 7.18). A situação observada mostrou que o processo de decomposição é mais acelerado para o aterro Nova Iguaçu. Naturalmente o 187 tipo de resíduo, composição, operação e fatores micro ambientais (e.g. temperatura) contribuem para este fato. 7.8.5 - Oxigênio O consumo de O2 pelas bactérias aeróbias observado no aterro Nova Iguaçu no período de mar/04 a jun/04 (Figura 7.19) foi maior do que o do aterro Terra Brava (Figura 7.20). Observou-se também que de jun/04 a out/04 (Figura 7.19), há aumento da presença de oxigênio, causado talvez pela forma de disposição dos resíduos. O oxigênio consumido pelas aeróbias no aterro Terra Brava demonstrou que a decomposição dos resíduos foi lenta, devido ao consumo de O2 ser baixo. Por outro lado, a decomposição dos resíduos no aterro Nova Iguaçu é acelerada, já que as aeróbias consomem praticamente todo o oxigênio. 7.8.6 - Sulfeto de Hidrogênio O gás proveniente do 2º Estágio do processo de decomposição biológica (acetogênese) apresentou concentração bastante mais variada para o aterro Nova Iguaçu (Figuras 7.21 e 7.22). Essas variações indicam que o processo de decomposição no aterro Nova Iguaçu é acelerado, enquanto que no aterro Terra Brava este processo é lento. As concentrações de gás H2S podem trazer problemas que oferecem risco à saúde humana, como mostra a Figura 7.29. 188 Fonte: ATSDR, 2005 Figura 7.29 – Efeitos causados a saúde humana pelo H2S 7.8.7 - Temperatura Segundo Markovich e Petrova (1966), as bactérias metanogênicas podem atuar em duas faixas distintas de temperatura, a mesofílica, que varia de 29° a 45°C e a termofílica, que vai de 45° a 70°C. Como se observou, a temperatura média do aterro Nova Iguaçu vai de 29,1°C a 47,2°C (Figura 7.23), enquanto que a temperatura do aterro Terra Brava vai de 30° a 34,2°C (Figura 7.24). Isto vem demonstrar que no aterro Nova Iguaçu as bactérias metanogênicas atuantes no processo são as mesofílicas e termofílicas, enquanto aparentemente no aterro Terra Brava somente se observa a presença de bactérias mesofílica. 189 7.9 - Observações Finais Parciais A enorme quantidade de resultados apresentada indica algumas tendências, como os efeitos climáticos na produção de gases e a emanação de gases na atmosfera, indicando a importância de uma cobertura adequada no aterro, seja para um melhor controle dos gases, seja para evitar um possível efeito prejudicial à saúde dos seres vivos no ambiente. Além disso, observou-se que contradizendo algumas indicações, mesmo fazendo observações de gases em drenos de gases de grandes dimensões a pequenas profundidades, foi observada a presença de gases como CH4, CO2 e H2S, conforme já tinha sido constatado por Real (2005) em estudos com drenos de pequenas dimensões. Vale observar por fim, que oxigênio presente na mistura gasosa, quando consumido pelas bactérias, tem seu percentual na mistura gasosa (CH4, CO2, O2 e H2S) reduzido; assim, entende-se por consumido nos meses subseqüentes àqueles em que as medições tiveram valor nulo, ou seja, não indicaram a presença de oxigênio. 190 VIII - CONCLUSÕES E PROPOSTAS PARA NOVAS PESQUISAS 8.1 – Conclusão Os trabalhos de pesquisa aqui desenvolvidos permitiram concluir que: 1. O equipamento MiniWarm da Dräger utilizado com sensores CH4, CO2 e H2S é um bom indicador da presença dos gases em aterros de resíduos, fornecendo ainda informações relativas ao limite de explosividade. Contudo de uma forma geral, não atende os valores encontrados em aterros no que tange em especial aos limites de CH4 e CO2. A modificação para medição de presença total de metano seria talvez possível com este equipamento, mas por questões operacionais não foi feita. 2. Para avaliação qualitativa dos gases, metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2), a coleta de gases in situ em seringas com posterior análise em laboratório com cromatógrafo mostrou ser um procedimento bastante adequado. 3. Os valores de CH4 e CO2 medidos permitem a observação no momento que a suposição que 50% produzidos seja metano e 50% CO2 encontrada em diversas publicações não foi confirmada, pelo menos nos aterros analisados próximos ao município do Rio de Janeiro, onde de forma geral no período das leituras em que os aterros se encontram em operação, os valores médios de metano acusados indicam por volta de 60 % de metano e 17 % de CO2.. 4. A utilização de solos adequados e procedimentos corretos são de enorme importância na qualidade de operação do aterro e seus efeitos ambientais e à possível saúde da população do entorno. O solo usado na cobertura do Aterro de Nova Iguaçu com características argilosas atende a finalidade de proteger a massa de lixo da entrada de água de chuva e diminui a oxigenação do aterro, em especial nas camadas próximas à superfície. 5. No aterro Terra Brava a cobertura vem sendo feita com solo bem mais permeável do que o caso de Nova Iguaçu. Os resultados obtidos no que se refere a produção de gases não permitiram uma associação conclusiva em termos de degradação dos resíduos e da oxigenação do aterro, mas conforme observado no item anterior no aterro de Nova Iguaçu há efetivamente um envelopamento dos resíduos ao passo que no aterro Terra Brava pelo material empregado e pela 191 forma de compactação há provavelmente uma maior oxigenação nas camadas superiores e degradação aeróbia. 6. A relação entre pluviometria e produção de metano indicou leve efeito de aumento na produção de metano em períodos após chuvas. 7. Segundo o modelo School Canyon a produção prevista de gás em aterros foi maior no aterro de Nova Iguaçu sendo que para o modelo de Lima os valores acumulados previstos ficaram próximos entre si. A causa desta semelhança foram os valores pré-estabelecidos para o modelo de Lima, já que os mesmos deveriam ser diferenciados para cada aterro, segundo a quantidade de resíduo e gás. De qualquer forma, os modelos são empíricos e a escolha dos parâmetros recomenda investigações mais profundas de modelos de representação da produção de gases. 8.2 – Propostas para Novas Pesquisas 1. Recomenda-se simular com modelos numéricos o processo de construção do aterro e biodegradação da matéria orgânica (elementos finitos, volumes finitos ou diferenças finitas). 2. Efetuar medidas in situ com equipamentos que meçam percentuais sobre o total (cromatógrafos de campo, etc). 3. Medir o fluxo de gases diretamente e melhorar os modelos de previsão de quantidade de gás produzida no aterro. 192 IX - COMENTÁRIOS FINAIS 1. O solo usado na cobertura do Aterro Terra Brava apresentou um pequeno percentual de argila, sendo sua compactação deficiente, não tendo se observado controle de qualidade da mesma. A espessura final de compactação era e é variável. 2. Para o caso do aterro da CTR-NI (Central de Tratamento de Resíduos de Nova Iguaçu) utilizou-se um solo com um percentual médio de argila correspondente a 57%. A compactação era feita corretamente, em camadas de 0,30 m de espessuras, mas sem controle de qualidade da mesma. As camadas finais de tinham 1,00 m de espessura. 3. Foram feitas 9 medidas em 16 pontos denominados PDR’s no Aterro Nova Iguaçu. As medidas foram feitas de julho de 2003 a Dezembro de 2004, tendo-se observado que a partir de maio de 2004 até 12/04 quase todos os drenos apresentaram 100% de Limite Inferior de Explosividade em quase todos os pontos. Também com relação ao CH4, a partir de maio de 2004 houve uma estabilização aos % de CH4 em volume para o valor máximo mensurável para o equipamento. O mesmo foi observado para o CO2. 4. As leituras de H2S apresentaram valores variados, tendo alguns pontos atingidos o limite superior máximo dos sensores usados no equipamento. 5. No Aterro Nova Iguaçu as temperaturas nos drenos mostraram-se mais elevadas do que a temperatura externa. 6. Os resultados das análises cromatográficas dos gases coletados em Nova Iguaçu indicaram em média valores superiores a 50%. Por outro lado, a média percentual de CO2 medido ficou entre 11 a 12% do total produzido. 7. De forma geral, na maioria dos 5 PDR’s estudados com exceção do 4 e 5 o limite de explosividade foi observado pelo equipamento. Da mesma forma, o CH4 chegou no limite superior de calibração do equipamento nos três primeiros PDR’s investigados. 8. Dos 5 PDR’s investigados os três primeiros apresentaram valores no limite inferior de CO2. No caso do H2S (sulfeto de hidrogênio ou gás sulfídrico), nem todos os PDR’s apresentaram leituras que se aproximaram do limite máximo, sendo que o PDR 5 praticamente não indicou presença deste gás. 9. Nos PDR’s 4 e 5 observou-se presença normal de oxigênio, com valores próximos a 20,9% em volume. 193 10. As temperaturas nos pontos de medição eram sempre superiores à temperatura ambiente, com exceção do PDR 6. 11. Com exceção do observado nos PDR’s 4 e 5, os PDR’s 1, 2 e 3 indicaram produção significativa de CH4. Já a produção de CO2, mesmo nestes PDR’s ficam entorno de 10%, sendo nos restantes praticamente nulas. 12. Observou-se que o mau cheiro oriundo dos resíduos e gases produzidos no Aterro Terra Brava era pior do que no Aterro Nova Iguaçu. As causas prováveis são: a) Qualidade do solo usado em Nova Iguaçu; b) Controle na disposição da camada; c) Processos controlados de captação dos gases. 194 X – REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ABNT – ASSOCIAÇÂO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 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