NOTAS IBÉRICAS
Quem anda a trote
em cima de um bom alter
Leva no bote a mais difícil mulher...
(in Fado Marialva – José da Câmara)
Apesar de não ter o ferro Alter, o Pagão da coudelaria do Monte Velho (Gabaço AR x Libata AR por Batial AR),
carrega em si 100% da genética Alter. Esta fotografia foi gentilmente cedida por Diogo Lima Mayer Jr., e revela
uma beleza que não deixa ninguém indiferente
Eng.º Rodrigo Almeida
O bOm Alter
A fama do cavalo Alter está intimamente ligado à cultura portuguesa,
conforme tão bem ilustra o Fado Marialva de tempos idos. No entanto,
a modernidade exige competição, resultados não só desportivos mas também económicos, e os pontos necessários na afirmação dos rankings das raças de cavalos de sela ditas modernas… exactamente como em qualquer empresa, empreendimento, ou indivíduo.
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REVISTA EQUITAÇÃO
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NOVEMBRO/DEZEMBRO 2011
O BOM ALTER
Foto: Ana Escoval
Zaoto AR (Oheide x Miba AR por Batial AR)
Q
uer se concorde ou não,
este é o enquadramento
da imagem de sucesso
da actual sociedade! Paralelamente
ao imediatismo deste espírito, há
que não esquecer que existem
instituições cujo tempo e importância as tornaram por mérito, como
parte maior da identidade cultural
do país, e que por tal, devem perdurar muito além da esperança
média de vida de qualquer uma
das coudelarias particulares existentes - no passado e presente
do nosso país. As coudelarias particulares que se notabilizaram, em
regra, nascem e brilham com alguém de génio (tal e qual como a
fortuna), e envelhecem conduzidas
a uma morte natural, num processo
transgeracional.
A coudelaria de Alter perdurou
além da guerra peninsular (18071814), com cicatrizes que se es-
tendem até aos nossos dias. No
entanto, continua, e assim se deverá
manter, enquanto valor estruturante
do património genético equino tipicamente português. Evidentemente
que é legitimo questionar se faz
sentido um país pobre manter três
coudelarias distintas (Companhia
das Lezírias; Coudelaria Nacional;
Alter Real)? A meu ver há que repensar a manutenção das três em
paralelo, segundo um critério que
REVISTA EQUITAÇÃO
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deve obedecer ao potencial funcional, enquanto cavalo de sela.
Porque motivo apenas uma das
três coudelarias “irmãs ” tem desafogo financeiro? Serão efectivamente
as três, “filhas” do mesmo “pai” –
o Estado Português?
Em tempos que não há memória
viva - no decurso do séc. XIX -, a
prática aconselhava, a quem pretendesse aligeirar e dar finura ao
seu efectivo cavalar, o recurso à
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NOTAS IBÉRICAS
utilização de reprodutores da coudelaria de Alter. Um bom exemplo
disto aconteceu na éguada do
proeminente lavrador Rafael José
da Cunha, que foi evaporando o
linfatismo do seu efectivo, com a
utilização do bom Alter.
São do domínio público as dificuldades financeiras em que se
encontra a Fundação Alter Real.
Estas encontram-se em contra ciclo
com uma actualidade de mérito
funcional dos cavalos Alter, cujos
resultados são igualmente do domínio público.
É legítimo perguntar: Será que
num formato moderno… estaremos
a assistir ao renascimento do esplendor do cavalo Alter do séc.
XVIII? Os resultados falam por si,
principalmente aqueles que tem
conquistado o super Rubi AR (Batial
AR x He-Xila AR por Xaquiro CI),
com o excelente cavaleiro que é o
Gonçalo Carvalho, em provas de
dressage de nível Internacional. O
Rubi AR segue as pisadas ultra
funcionais do Guiso FEA (Zazebande AR x Catraia AR por Tivoli
AR), que apesar de não ostentar o
ferro Alter, era um Alter de sete
reais costados. Também os filhos
do Rubi AR, nomeadamente aqueles que ostentam o ferro Alter, estão
a despontar um mediático interesse
“
somos sempre mais exigentes e
críticos com o Estado Português
do que com os particulares, afinal,
o EP para além de não ter rosto,
não é um amigo que compre ou
julgue cavalos, ou mesmo que vá
à Golegã beber uns copos e dar
três dedos de amena cavaqueira
amiga. O EP é a cara de todos
sionalismo merece ser saudado e
enaltecido no presente artigo, não
esquecendo a restante equipa,
onde a excelência do Duarte Nogueira se encarrega de traduzir em
pontos o potencial dos AR’s.
Numa óptica de transparência e
divulgação, relativamente a um trabalho que ninguém vê, pois trata-
...Os cavalos durante o desbaste, são avaliados
entre outras coisas na capacidade de salto,
e os resultados são surpreendentes...
em provas de cavalos novos, nomeadamente, o muito comentado
Coronel AR. Tal e qual a fórmula 1
está para as marcas da indústria
automóvel, também estes AR’s representam a nata da nata daquilo
que se produz na coudelaria de
Alter, evidenciando um potencial
genético com muito interesse.
Não só de engrandecimento vive
a coudelaria de Alter, pois efectivamente existe uma heterogeneidade
que acarreta sérios problemas de
carácter, tamanho, montabilidade,
como é do conhecimento da generalidade daqueles que dedicam
a sua atenção ao panorama equestre português. Neste enquadramento, é frequente encontrar animais
Alter totalmente destituídos de interesse enquanto cavalos de sela, tal
e qual como noutras reputadas
coudelarias particulares. No entanto,
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Eng.º Francisco Beja
pela consequente história do País.
É neste momento evidente uma
maior homogeneidade física dos
animais fruto da selecção que vem
sendo seguida, mas ainda longe
de estar geneticamente controlada.
Há através dos emparelhamentos, frequentemente surpresas, que
nos levam todos os anos a reconsiderar escolhas e opções tomadas
por este ou aquele garanhão com
esta ou aquela égua procurando
corrigir ou colmatar esta ou aquela
característica.
Há necessariamente preocupação da comissão responsável pelos
emparelhamentos (Coordenação
do Departamento de Coudelarias
e Direcção da EPAE) em realizar
cavalos aproximados do modelo
racial, mas fundamentalmente em
realizar cavalos que sirvam os interesses da Coudelaria de Alter
enquanto Coudelaria com responsabilidades institucionais e em realizar cavalos que sirvam os interesses da EPAE.
RA - Quais considera as características de excelência encontradas no efectivo Alter Real, que
actualmente se procuram isolar e
multiplicar?
FB - Há algumas características
físicas fulcrais como comprimento
da espádua e ângulos da garupa
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nós, e a responsabilidade dos desaires ou boa ventura da coudelaria
de Alter é igualmente nossa.
O que motivou este artigo foi
uma deslocação ao Jockey no
passado dia 16/10, onde estavam
a decorrer provas de dressage, e
aí “descobrir” o Coordenador do
Departamento de Coudelarias da
Fundação Alter Real, o Eng.º Francisco Beja, numa postura muito
colada à imagem do “treinador de
futebol” da nova geração, isto é,
vivendo de forma interventiva, apaixonada, e com conhecimento de
causa, as prestações dos “seus”
AR’s. Efectivamente é digno de
nota, ver alguém que não é proprietário daquilo que está a seu
cargo, vestir a camisola da dedicação, relativamente a todos os
pormenores que se passam à volta
dos “seus cavalos”. Este profis-
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se dos bastidores da selecção do
cavalo Alter, entendi colocar algumas questões ao Eng.º Francisco
Beja, que espero que vão ao encontro da curiosidade do mundo
que gravita à volta da génese dos
modernos AR’s.
RA - Hoje em dia é fácil constatar
que o efectivo Alter revela exemplares verdadeiramente heterogéneos, em tipo (animais muito finos
e outros muito bastos), carácter,
dinâmica, e até tamanho. Como
explica esta variabilidade, e se existe
apetência estratégica do Serviço
que coordena, para a uniformização
de um tipo mais aligeirado?
FB - O efectivo Alter, é sobejamente conhecido pela heterogeneidade genética, é público as várias ascendências ancestrais, que
resultaram involuntariamente da
própria história da Coudelaria e
”
e posteriores, proeminência e comprimento do garrote, amplitude e
profundidade torácica e direcção
e comprimento do dorso. Na minha
opinião são estas as características
aliadas a outras, responsáveis pela
grande capacidade de impulsão
e propulsão, coligadas à enorme
capacidade de carga que os Alter
normalmente têm.
Atrevo-me a dizer, conhecendo
superficialmente o universo da raça
e dos seus animais, que não existem características físicas como
algumas das que anteriormente
referi em mais nenhum animal que
não tenha influência directa ou indirecta do “sangue Alter”.
Contudo, temos observado alguns animais com erros morfológicos graves, acabando inexplicavelmente “abafados” por uma aptidão natural que o leva a suplantar
O BOM ALTER
qualquer adversidade física. O bom
exemplo disso foi o Guizo (FEA).
RA - O carácter dos cavalos Alter
do passado tornou-se conhecido
enquanto animais de pânico e de
mau carácter, comparativamente
ao presente, em que medida se
conseguiu esbater o problema?
FB - O presente é bem diferente,
em aproximadamente duzentos
animais já desbastados pela Uni-
merecem uma aposta na apetência dos cavalos Alter?
FB - O leque de disciplinas funcionais dos cavalos Alter é bastante
abrangente, é obvio que exemplos
recentes, como o Guizo (FEA),
Rubi (AR) e o Viheste (AR), podem
levar a pensar que será a disciplina
que mais se adequa aos cavalos
Alter, concordo. Mas não nos podemos esquecer do Quijote (AR)
muitos, directos como a genética
de cada animal e alimentação,
mas quase sempre indirectos,
como sejam os cavaleiros que os
montam ou as infra-estruturas e
condições que têm para desempenhar a sua função. A subjectividade de selecção e melhoramento em comparação com outras
espécies pecuárias é grande e
muitas vezes perdemo-nos por
“
Lisonja (AR). O Trovão (AR) era
filho do legendário Vidago (SA) reconhecido garanhão do Eng.º Fernando Sommer d`Andrade que foi
utilizado pelo seu tamanho e óptimo
temperamento a par da sua confirmada montabilidade. A mãe do
Trovão (AR) era uma égua que se
chamava Iorquina (AR), esta égua,
era neta pelos dois lados ascendentes do Marialva II (APM) do Dr.
”
...A funcionalidade depende não só da vocação
intrínseca de cada animal, mas principalmente dos
objectivos que nós enquanto influenciadores directos
queremos que o animal atinja...
Campeão do Mundo de Atrelagem,
Silex (AR) Campeão de Espanha
de Atrelagem.
Os cavalos durante o desbaste,
são avaliados entre outras coisas
na capacidade de salto, e os resultados são surpreendentes. Temos
alguns cavalos distribuídos à nossa
parceira EPDRAC (Escola Profissional
de Desenvolvimento Rural de Alter
do Chão) e uma grande parte deles
demonstram ter capacidades saltadoras, sendo indispensáveis para
a conclusão dos cursos de monitor
ministrados.
Tenho inclusivamente conhecimento de um cavalo Alter a tourear em
Espanha e outro no México… uma
vez que cá diz-se ser impossível!
A funcionalidade depende não
só da vocação intrínseca de cada
animal, mas principalmente dos
objectivos que nós enquanto influenciadores directos queremos
que o animal atinja. Nos equinos
importa medir performances, seja
em que modalidade for. Os factores influentes à performance são
influência dos factores indirectos.
RA - Os cavalos Alter são cavalos reconhecidamente trotadores,
relativamente ao passo e galope,
que tipo de melhoramento se tem
vindo a verificar?
FB - Afirmo em plena consciência
que sempre existiram cavalos de
linhas com maior predisposição
genética para trotar que outros,
mas sempre houve bons galopadores. A evolução tem sido rápida
e fruto de cruzamentos de várias
linhas incluindo linhas exteriores.
Não sentimos grande preocupação,
há um aperfeiçoamento progressivo
próprio da Zootecnia.
RA - Hoje em dia o Batial AR
tornou-se uma referência da coudelaria Alter, quais os motivos que
elevaram o estatuto deste cavalo
ao reconhecimento generalizado,
enquanto progenitor de eleição?
Qual a história da vida funcional
do Batial AR?
FB - Vamos falar primeiro do
que está por detrás do Batial (AR).
Era filho do Trovão (AR) e da égua
Beirão AR (Rubi AR x Ujoia AR por Joca AR)
Foto: Aurélio Grilo
dade de Desbaste, Selecção e
Testagem, houve dois no máximo
três casos mais complicados, mas
mesmo esses são perfeitamente
explicáveis e prendem-se com o
nosso sistema de maneio durante
a recria. Após a desmama, não
temos qualquer contacto físico e
social com os animais (durante
três anos). Quando chegam para
o desbaste, é natural que haja alguns comportamentos sociais de
manada exacerbados, hoje em dia
perfeitamente controlados. Neste
momento o desbaste é realizado
por uma equipa competente de
técnicos altamente profissionais e
todos são monitores de equitação
reconhecidos pela FEP.
Numa primeira fase pessoas
como Dr. Ruy D`Andrade e D.
José D`Atayde e no seguimento,
Dr. Guilherme Borba, Dr. Filipe Figueiredo e a Escola Portuguesa
de Arte Equestre, e Dr. Luís Lupi
enquanto anterior coordenador do
desbaste, foram os principais responsáveis por esta notável diferença
de comportamento nos cavalos.
Em relação a este assunto sou
obrigado a tecer algumas considerações: a equitação, à semelhança
da criação e maneio evoluiu muito,
visualizei recentemente um vídeo
de Reiner Klimke nos Jogos Olímpicos em 1984, onde são evidentes
as diferenças em tão pouco tempo
tanto de cavalos fruto da selecção
e melhoramento, como de cavaleiros
fruto da cada vez mais profissional
equitação. As duas evoluem paralelamente mas dependentes e fruto
do bom senso comum.
RA - Será que apenas a dressage se adequa aos cavalos Alter,
ou existem outras disciplinas que
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António Fontes Pereira de Melo
que foi utilizado para a recuperação
da linha Alter e é hoje um dos chefes de linha representativos da linha
Alter. A Lisonja (AR), mãe do Batial
(AR) que apesar de ter ferro Alter
Real, era filha de uma égua chamada Zorra II (PCA) que foi recuperada do núcleo de cavalos do
Sr. António Picão Caldeira que eram
descendentes directos do outro
chefe de linha representativo da linhagem Alter o Regedor (AR) e
que serviu do mesmo modo para
recuperar a linha Alter Real. O Batial(AR), é assim, uma das primeiras
referências dos cruzamentos que
surgiram de cavalos exteriores ao
“sangue Alter“, neste caso o Vidago
(SA) com éguas denominadas da
“linha pura”.
O Batial (AR), foi distribuído ao
Eng.º António Borba Monteiro com
4 anos, utilizando palavras dele …
”Recebi-o com 4 anos e lembrome de o estar a passar à guia
num redondel exterior da SHP. Estava o João Trigueiros a ver! Era
impressionante o tamanho e a
energia nos três andamentos. Muito
generoso, óptimo carácter, o melhor
que conheci, infatigável…” continuando …”Muito comprido… Portanto, longe da silhueta clássica
mais quadrada. …Fácil de ensinar
mas precisava de ser montado
perto do equilíbrio natural…”
Tinha de facto uns andamentos
fantásticos, chegou a realizar o número Solo, piaffer, passage, ares
altos acabando por provar a sua
funcionalidade. Apesar de não ter
sido muito usado como reprodutor,
só foram concebidos 39 produtos,
estão hoje em dia alguns descendentes directos e indirectos a re-
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Foto: Aurélio Grilo
NOTAS IBÉRICAS
Coronel AR (Rubi AR x Negaça AR por Gabiru AR)
velar-se como grandes animais,
como sejam alguns exemplos: Malboro (AR), capriolas à mão e montado; Jumbo AR), capriolas à mão
e montado, passagens de mão
até 2 tempos piaffer, passage.;
Limbo (AR), exercícios de grande
prémio; Libério (AR) Carrossel; Mabeco (AR), levadas; Jobim (AR),
levadas à mão; Mubileu (AR) capriolas à mão e corvetas montadas;
Mui-bom (AR) Carrossel e picaria
real; Rubi (AR), Grande Prémio;
Rabelo (AR), Atrelagem singular e
parelha; Zaoto (AR) na dressage;
Aónito (AR) Atrelagem singular; Coronel (AR), cavalos novos dressage.
Há ainda exemplo de éguas como
a Imboa (AR) medalha de ouro
classe descendência de égua,
Teúba (AR) várias vezes vencedora
da classe funcional de obstáculos,
Libata (AR) e Miba (AR) entre outros
animais que me podem escapar.
RA - Constatámos que recentemente a coudelaria de Alter tem
vindo a utilizar garanhões como o
Viheste AR, Quixote MVL, Zimbro
CVF, Spartacus CSM, Rubi AR,
Jacaré II AR, Helxir AR, quais as
características que pretende reforçar, melhorar, ou esbater, com
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REVISTA EQUITAÇÃO
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a utilização dos reprodutores atrás
elencados?
FB - A éguada Alter Real está
dividida em dois grandes núcleos,
um que a partir do trabalho de recuperação do Dr. Ruy D`Andrade
se mantém intacto, ao qual chamamos internamente, linha pura e
outro, que foi sofrendo ao longo
dos tempos influências exteriores
com utilização de garanhões particulares, como foram o caso do
Vidago (SA) em 1976 e 1977, Vermute (TC) em 1983, Xer (RLH) em
1986, Xaquiro (CI) em 1988, 1990
e 1991, Capote (PC) em 1990,
Altivo (PC) em 1991, 1992, 1993 e
1994, Nabuco (MG) em 2002, e
mais recentemente, Spartacus
(CSM) em 2008, Quixote (MVL) em
2009, Zimbro (CVF) em 2010 e
Hostil (GUB) em 2011.
A razão da utilização destes cavalos tem vários objectivos e prende-se com a correcção ou apuramento de determinadas características. São exemplos o aperfeiçoamento da mecânica do galope,
o temperamento, a tipicidade e
um reconhecimento comum a todos eles, a sua funcionalidade.
Em relação à utilização dos “nos-
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sos”, Rubi (AR), Viheste (AR), Jacaré
(AR), Helxir (AR) entre outros que
não estão referenciados, as razões
de utilização são as mesmas, reconhecendo igualmente a sua funcionalidade. Evidente destaque
para o Rubi (AR), parece-me de
avaliação precoce, pois ainda não
são conhecidos poldros suficientes,
um dos melhores garanhões de
sempre da Coudelaria de Alter.
Realço não só a brilhante prestação
sob comando do cavaleiro Gonçalo
Carvalho em Grande Prémio, mas
exalto o Rubi (AR) como garanhão
que transmite e potencia determinadas características com a generalidade das éguas como a cadência, ritmo, regularidade e equilíbrio natural nos três andamentos,
e um temperamento verdadeiramente exemplar.
É obvio que a utilização dos garanhões exteriores atrás referidos
não põe em causa a referida linha
pura, pois os emparelhamentos
são feitos com salvaguarda dessa
imposição. Para a manutenção
dessa, temos utilizado garanhões
como o Hircino (AR), Oharte (AR),
Ico (AR), Jacaré II (AR) e Gabiru
(AR), cavalos que independente-
mente das características físicas
são preponderantes e indispensáveis para a preservação e manutenção da denominada linha pura.
RA - Hoje em dia assistimos à
ascensão funcional de cavalos
novos da coudelaria de Alter em
dressage, qual o tipo de trabalho
de fundo que está por detrás destas aparições públicas?
FB - A UDST, Unidade de Desbaste Selecção e Testagem, é uma
das unidades que compõem o
Departamento de Coudelarias da
FAR, é nela que assenta a responsabilidade de receber, ensinar e
orientar os poldros de ambas as
Coudelarias (Nacional e Alter Real).
Quando fiquei responsável pelo
Departamento de Coudelarias, senti
que havia espaço e necessidade
de projectar e melhorar a imagem
do cavalo Alter em complemento
do que brilhantemente a EPAE vem
vindo a fazer. Tem de haver preocupação constante de acrescentar
valor e valorizar, os produtos e o
património que existe.
Fui responsável pelo Posto-hípico
da Fonte Boa, acompanhei e trabalhei de perto com o cavaleiro
Duarte Nogueira. O Duarte, que
trabalhou sensivelmente 30 anos
no desbaste está neste momento
ligado directamente à testagem e
à formação de cavalos novos com
a coordenação do desbaste. Para
quem não conheça, talvez seja
um dos cavaleiros em Portugal
com maior curriculum desportivo
na área de cavalos novos em Dressage. Miano (CN), Mondim (CN),
Pajeu (AR), Sal (FBA), Salero (FBA)
Ziara, Ulisses, Viheste (AR),
Xihão(AR), Zaoto (AR) Zapatero
(IGE), Aljustrel (AR), Beirão (AR) e
Coronel (AR) são alguns dos exemplos de sucesso.
Pretendemos, há semelhança
da dressage que também a atrelagem seja uma mais valia em termos de valorização do património
através dos resultados. A ideia e
possibilidade de participar numa
primeira fase num Campeonato do
Mundo em Singular já em 2012 e
aos poucos construir um team (4
cavalos) para participação em provas internacionais, está nos nossos
objectivos imediatos. Para isso,
contamos com a preciosa ajuda
do condutor Rui Quintino, também
ele uma referência nacional e internacional enquanto meneur do
O BOM ALTER
Sr. José Manuel de Mello.
A ascensão funcional de cavalos
novos da coudelaria é o reflexo do
trabalho sustentado de uma equipa
altamente profissional. Há por parte
de todos, um grande empenho e
um enorme respeito pela escala
de treino, talvez por isso os resultados têm sido manifestamente satisfatórios. O sucesso dos novos
cavalos na dressage acaba por ser
a imagem final do profissionalismo
e trabalho de equipa que está patente diariamente na coudelaria.
A coudelaria tem anualmente
cerca de 20.000 visitantes e as
queixas de muitos deles, quase
sempre ligados ao “mundo do ca-
o trabalho culminou com a vitória
dos critérios de cavalos novos de
dressage, na categoria correspondente à sua idade, 4 anos.
Não tenhamos ilusões, apesar
de ter um enorme potencial e características que nos levem a pensar
que pode vir a ser muito bom, é
apenas um poldro com um longo
caminho a percorrer, desejável pelo
menos tão longo quanto o seu pai.
RA - Como se processa a actual
selecção dos poldros destinados
a garanhões da coudelaria de Alter? Quais os critérios que presidem a essa escolha? E relativamente às futuras éguas?
FB - Em primeiro acho de vital
exemplo o Rubi (AR).
No que diz respeito às éguas,
os critérios são os mesmos, todas
são montadas e avaliadas. Dentro
de pouco tempo e com a rápida
evolução da medicina reprodutiva,
nomeadamente com a transferência
de embriões, usaremos éguas com
a mesma frequência que usamos
cavalos. A decisão final das éguas
que integrarão a éguada, é uma
opinião conjunta entre a direcção
da EPAE e a Coordenação do Departamento de Coudelarias.
Os critérios gerais naturalmente
que se prendem com aspectos
morfo-funcionais, há semelhança
do que acontece noutras coudelarias
(AR) por Trenó (AR) com 25 filhos
inscritos, Oheide (AR) filho de Hircino
(AR) e da Jaxilina (AR) por Xaquiro
(CI) com 55 filhos inscritos e Viheste
(AR) filho de Hircino (AR) e da Quinjara (AR) por JacaréII (AR) com
cerca de 80 filhos inscritos. Estes
com hipóteses de utilizar éguas
com maior porte físico e com características mais bastas. Todos eles
de uma forma geral transmitem
equilíbrio, bons andamentos e temperamento equilibrado.
Há outros com maior potencial
físico como o Gabiru (AR) por Batoteiro (AR) e Xaparra (AR) por Plebeu
(AR) actualmente com cerca de 25
filhos inscritos, Beirão (AR) filho do
...É um exemplo da falta de informação que a actual
tabela de pontuação tem e que atrapalha a decisão
dos criadores em escolher este ou aquele garanhão
para melhorar esta ou aquela característica na sua égua.
Em concreto acho a acção de transformar as notas de
três andamentos apenas numa ou juntar regiões
anatómicas como cabeça e pescoço, inquietante...
”
“
valo” é que apesar de haver muitos
cavalos em Alter, não havia nenhum
Alter para se ver montado. Hoje
existem muitas pessoas (incluindo
estrangeiros), que através dos resultados desportivos ou apenas
pela curiosidade se deslocam a
Alter para ver os cavalos montados
e engatados.
RA - Fale-nos um pouco da
promessa que representa o Coronel AR na dressage, enquanto
um dos poldros de 4 anos mais
comentados da actualidade?
FB - O Coronel (AR) é filho do
Rubi (AR) e da Negaça (AR) por
Gabiru (AR). Tem um porte físico
notável e uma característica ainda
pouco comum nos cavalos Alter,
a proximidade com o padrão racial.
É dotado de uma cadência e regularidade de andamentos admiráveis e uma invulgar capacidade
de aprendizagem. Despertou interesse desde o seu nascimento
pois logo na desmama parecia ser
o “pai” dos restantes poldros da
piara, pelo seu tamanho e desenvolvimento físico. Quando entrou
no desbaste, rapidamente confirmou todas as suas aparentes disponibilidades físicas e quando começou a competir consumou-se
100% vitorioso em todos os testes
de dressage realizados. Este ano
importância que todos os futuros
candidatos, independentemente do
sexo, sejam montados e testados.
Defendo um método desbaste homogéneo, rigoroso relativamente
rápido onde se possa, respeitando
a evolução de cada animal, observar
as características gerais que levem
a uma primeira indicação do futuro
do animal avaliado. A partir daqui,
os factores indirectos que influenciam a performance, nomeadamente quem monta ou quem os trabalha,
para que fim e as condições que
possui para desempenhar a sua
função, será determinante para descobrir se a primeira avaliação realizada foi correcta.
Nos cavalos que integram a
dressage ou atrelagem de competição, os resultados falarão por
eles próprios e comprovarão com
o devido tempo se servem os nossos interesses e se têm condições
de poder vir a ser garanhões. Em
relação aos que vão para a EPAE,
serão avaliados no seu desempenho nos mais diferentes e exigentes
exercícios de alta escola, incluindo
nos espectáculos. Será a partir
dessa avaliação e de uma decisão
da direcção da EPAE que poderão
ser aprovados e recomendados
como garanhões e beneficiar éguas
da Coudelaria de Alter, como é
e damos cada vez mais importância
a aspectos do foro clínico.
RA - Para quem pretenda emparelhar as suas éguas lusitanas
com garanhões Alter Real pertencentes à Fundação, quais os tipos
de éguas mais adequados para
cada um deles? Fale-nos um pouco de cada um destes garanhões?
FB - Era desejável que as pessoas de uma forma natural e com
mais ou menos rigor cientifico pudessem através da informação proveniente da avaliação e pontuação
de reprodutores, obter dados concretos para conceber os seus emparelhamentos. É um exemplo da
falta de informação que a actual
tabela de pontuação tem e que
atrapalha a decisão dos criadores
em escolher este ou aquele garanhão para melhorar esta ou aquela
característica na sua égua. Em
concreto acho a acção de transformar as notas de três andamentos
apenas numa ou juntar regiões
anatómicas como cabeça e pescoço, inquietante.
Há garanhões que transmitem finura e uma certa aparência mais
estilizada, como sejam o Hircino
(AR) filho de Cateto (AR) e da Dexelna (AR) por Xaril (AR) actualmente
com 60 filhos inscritos, Helxir (AR)
filho de Xaquiro (CI) e da Batavia
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Rubi (AR) e da Ujoia (AR) por Joca
(AR) e Coronel (AR) filho do Rubi
(AR) e da Negaça (AR) por Gabiru
(AR), sem descendência relevante
conhecida, pela sua juventude. Em
relação a estes, hipóteses de reforçar
ou apenas fixar características mais
atléticas. Boa densidade óssea,
muito bons andamentos e óptimo
temperamento.
Há ainda cavalos que merecem
destaque, como sejam o Jacaré
II (AR) filho do Casto (AR) e da
Xoupa (AR) por Plebeu (AR) que
foi exemplar “aluno” na EAPE e
com cerca de 95 filhos inscritos
em que vários funcionam não só
na EPAE como por exemplo na
atrelagem onde tem já referenciado, o Quijote (AR) como campeão
do mundo. Há ainda o Rabelo
(AR) filho do Batial (AR) e da Giboia
por Baú (AR) actualmente a trabalhar na atrelagem e neste destaco o carácter zeloso, os extraordinários andamentos naturais e
uma condição física infatigável.
Nenhuma destas meras indicações dispensa o conhecimento
criterioso dos animais a emparelhar,
a genética encarrega-se todos os
dias de nos pregar partidas o que
faz com que esta espécie pecuária
seja tão peculiar e apaixonante.
n
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