O ESTUDO DAS MUDANÇAS DA ESTRUTURA PRODUTIVA PELA ÓTICA DO EMPREGO FORMAL: OS CASOS DAS REGIÕES DE PRESIDENTE PRUDENTE, ARAÇATUBA E SÃO JOSÉ DO RIO PRETO. Aluno-autor: Eliane Carvalho dos Santos ALUNA BOLSISTA DO PROGRAMA PIBIC/CNPQ E-mail: [email protected] Orientador: Profº Dr. ELISEU SAVÉRIO SPOSITO E-mail: [email protected] UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – CAMPUS DE PRESIDENTE PRUDENTE DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA – LICENCIATURA E BACHARELADO EM GEOGRAFIA 1 INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO O processo de reestruturação econômica, que a partir do final dos anos 1960 atinge vários setores da economia mundial, inclusive o produtivo, inaugura uma nova fase de acumulação do capital caracterizada pela supressão do clássico modelo fordista de produção; modelo esse que passa a demonstrar sinais de seu esgotamento a partir de reflexos negativos sobre as taxas de lucros, de crescimento e de produtividade das grandes empresas. Aliada ao emergente processo de globalização, essa nova fase do capitalismo mundial atinge em grande proporção o padrão de produção vigente, acarretando na necessidade das empresas em adotar medidas de adaptação dentro de um novo contexto de mudanças tecnológicas, organizacionais e produtivas. Esse conjunto de medidas, caracterizado como reestruturação produtiva, se demonstra, primeiramente, mais intenso nos países capitalistas centrais; porém diante da integração da economia mundial, esse processo não demora em demonstrar seus impactos nos países periféricos industrializados. No Brasil, esse momento de crise e reestruturação da economia mundial começa a se refletir mais profundamente a partir da década de 1980. É nesse contexto que se inicia a adoção das premissas da política neoliberal, juntamente com forte recessão econômica e moeda fraca do Estado brasileiro. Aliado a essas mudanças de ordem política e social, o capital produtivo, financeiro e outros setores como o de serviços, seja de capital interno ou externo instalados no Brasil, iniciam seu processo de reestruturação com o intuito de manter-se competitivo diante da concorrência de um mercado cada vez mais globalizado. Essa reestruturação dentro das empresas ou no “chão da fábrica” correspondeu, na prática, na adoção de novas formas de gestão e organização da produção, principalmente daquelas poupadoras de mão-de-obra, através de intensa automação e uso de tecnologia; programas rígidos de controle de qualidade, diversificação dos produtos, horizontalização da produção com aumento maciço das terceirizações e parcerias, transformações na estrutura ocupacional das empresas, dentre outras. Esses aspectos da reestruturação levantados são interpretados conjuntamente como um confronto direto ao padrão de rigidez do modelo fordista de produção, onde a flexibilidade tanto no nível econômico como no social, passa a ser a característica fundamental desse processo. Trata-se de uma nova configuração do capitalismo, chamada de acumulação flexível, onde se iniciam novas formas de organização da produção industrial, que conseqüentemente impactaram sobre as configurações da relação entre capital e trabalho. Para Antunes (1999), a acumulação flexível fundamenta-se num padrão produtivo organizacional e tecnologicamente avançado, resultado da introdução de técnicas de gestão da força de trabalho próprias da fase informacional, bem como da introdução ampliada de computadores no processo produtivo e de serviços. Desenvolve-se uma estrutura produtiva mais flexível, recorrendo freqüentemente à desconcentração produtiva, às empresas terceirizadas, etc. Utiliza-se de novas técnicas de gestão da força de trabalho, do trabalho em equipe, das “células de produção” dos “times de trabalho”, dos trabalhos em grupo “semi-autônomos”, além de requerer, ao menos no plano discursivo, o “envolvimento participativo” dos trabalhadores, na verdade uma participação manipuladora e que preserva, na essência, as condições do trabalho alienado e estranhado. (p. 52). Nesse período, observamos a emergência da primazia do capital financeiro sobre o produtivo, além do aumento do monopólio das grandes corporações sobre parcelas de mercado, algo que acirra a competição entre as empresas, justificando a rápida incorporação desses elementos aos processos produtivos e de gestão. 1.1 A reestruturação produtiva no contexto político brasileiro Como já salientamos a reestruturação do processo produtivo e a incorporação da flexibilidade como palavra-chave dessa nova era da acumulação capitalista impactou drasticamente na relação entre capital e trabalho, o que trouxe uma nova configuração ao mercado de trabalho dentro dos setores e países, além de modificações na divisão internacional do trabalho, alavancada pelo processo de globalização. A inserção do Brasil diante dessa nova conjuntura de mundialização do capital (Chesnais, 1996), resultou em um amplo processo de mudanças no contexto político, econômico e social orientadas pelas transformações acarretadas pela globalização e incorporação da política neoliberal do Estado. Tais mudanças compreenderam diversos aspectos na forma de agir do Estado, que a partir de então sai de cena na atuação em vários setores transferindo para a iniciativa privada, iniciante em seu processo de reestruturação, a ocupação de seu espaço. Aliado a crescente difusão da informação e da tecnologia de ponta, fatores incorporados à acumulação flexível, o neoliberalismo juntamente com a reestruturação econômica, resultaram em um processo nacional de desemprego estrutural e crise social aumentando conseqüentemente a precarização das relações de trabalho, os baixos salários, o subemprego, o trabalho informal e a pobreza da população, o que já se configurava como um problema crônico brasileiro. Com isso, ainda acrescentamos outros pontos que configuravam o contexto dos anos 1980 e início dos anos 1990 no Brasil, a saber: _ período de forte recessão econômica com resultado imediato no aumento do desemprego, que permeou nas baixas do PIB, ou seja, declínios sucessivos de geração de riqueza; _ uma explosão da inflação real, com taxas anuais acima dos 300% de aumento dos preços, algo que precarizava ainda mais a vida do trabalhador assalariado mais pobre, pois o aumento dos preços, principalmente dos alimentos, acarretava em uma desvalorização drástica do salário; _ desaceleração da produção industrial e fechamento de diversas empresas e indústrias frente ao aumento da concorrência dos produtos importados devido à extensa abertura comercial e valorização cambial, ampliada e sentida mais profundamente no início da década de 1990 a partir do Plano Real (1994). Além desses fatores podemos enumerar outros que foram levantados por Hilgemberg (2003) em sua tese de doutorado sobre os efeitos da abertura comercial e das mudanças estruturais no mercado de trabalho brasileiro durante a década de 1990. Em seu trabalho a autora incorpora mais informações que fazem valer uma visão geral das principais medidas incorporadas pelos governos da década de 1990 e suas principais conseqüências no cenário macroeconômico brasileiro. Com base em suas principais idéias, elaboramos um esquema que delimita cronologicamente esse cenário. Figura 1: Resumo das principais transformações transcorridas durante a década de 1990 no Brasil. 1990 – 1992 Redução do nível de atividade Aumento da taxa de desemprego Adoção de medidas de liberalização 1993 Reversão da recessão Ajuste fiscal 1994 1995 1996 – 1997 1998 1999 Estabilizaçã o econômica (Plano Real) Aumento na taxa de juros Ápice de cresciment o do PIB no Plano Real Política fiscal restritiva Acordo com o FMI Aumento Aumento na tarifa Aumento da taxa de de das taxas juros importaçã o de setores VALORIZAÇÃO CAMBIAL Maior taxa de INTENSIFICAÇÃO DO PROCESSO DE PRIVATIZAÇÃO Org. Eliane Carvalho dos Santos, baseado em Hilgemberg (2003). Manutenç ão da mesma taxa de desempreg Assim, delimitamos parcialmente o contexto socioeconômico vivenciado pela população brasileira durante a década de 1980 e grande parte da década de 1990, contexto esse que acaba por modificar a estrutura do mercado de trabalho brasileiro. Nesse sentido, tais transformações trazidas no bojo desse novo padrão de acumulação em processo, aliado a conjuntura econômica e política do Estado brasileiro que vem passando por oscilações entre crescimento e estagnação durante as últimas décadas1, impactaram nas estruturas regionais e, conseqüentemente na configuração dos mercados de trabalho regionais, estejam eles mais ou menos integrados à esfera nacional. O Estado de São Paulo esteve mais especificamente no bojo desse processo. Por ser o centro mais dinâmico da economia brasileira, concentrando muitas plantas industriais e escritórios de gestão industrial e financeira, nesse Estado os impactos da reestruturação produtiva se demonstraram perversos, pois grande número de empregos industriais e de setores que expandiram o uso de tecnologia (como bancos) foram extintos, deixando um grande contingente de trabalhadores desempregados que passaram a buscar no subemprego e na ocupação informal sua alternativa de sobrevivência. Nesse sentido, buscamos nessa pesquisa analisar como se apresenta as facetas desses processos (reestruturação produtiva, acumulação flexível) supracitados em regiões localizadas na porção oeste do Estado de São Paulo, onde esses se apresentam mais timidamente, porém estão presentes dando indícios de possíveis mudanças na configuração de seus mercados de trabalho regionais. Diante desse quadro, a pesquisa pauta-se em colher dados e informações sobre o mercado de trabalho das Regiões Administrativas de Presidente Prudente, Araçatuba e São José do Rio Preto, todas localizadas na porção oeste do Estado. Para uma melhor compreensão da dinâmica produtiva do setor industrial dessas regiões, focamos nosso trabalho em um estudo específico, relevando apenas os dados sobre o mercado de trabalho formal dos municípios que até o ano de 2007 contavam com uma população acima de 20 mil habitantes. 2 OESTE PAULISTA: DA ORIGEM INDUSTRIAL À REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA Estabelecer um recorte territorial para análise dentro de uma complexa realidade como a do Estado de São Paulo torna-se uma tarefa difícil, pois entendemos que a análise do espaço regional inserido na dinâmica do território paulista expressa fatores decorrentes de decisões externas à região e até ao Estado. Diante disso, a análise mais generalizada do momento histórico mundial e mais pormenorizada do Estado de São Paulo, leva a considerações que se refletem no entendimento dos processos em escala local. 1 Além dos altos e baixos da inflação, a economia brasileira já atravessou diferentes períodos de recessão e recuperação. Para citar alguns mais recentes: recessão entre 1981/1983, recuperação do crescimento entre 1984/1986, estagnação entre 1987/1989, entre outros altos e baixos, para enfim sinalizarmos para um crescimento sustentável a partir da retomada do crescimento no Governo Lula. Nesse sentido, primeiramente partimos para o entendimento do papel das cidades médias paulistas, com ênfase nas cidades de Presidente Prudente, Araçatuba e São José do Rio Preto, diante de todo o processo de industrialização brasileira e, principalmente a paulista. A análise da origem do capital industrial dessas cidades e como desde o início se comportou o mercado de trabalho regional são os primeiros enfoques dados à questão industrial. Em seguida, partimos para a compreensão do processo de desconcentração industrial no Estado de São Paulo e como o Oeste Paulista se comportou nesse período, a saber: a industrialização mais recente dessa região teve relação com a desconcentração industrial paulista? Para encerrar, analisamos alguns dados extraídos de fontes secundárias sobre as cidades pesquisadas juntamente com algumas considerações a cerca da economia e mercado de trabalho na escala regional e os reflexos da reestruturação produtiva na região oeste do estado. 2.1 Origem e desenvolvimento da indústria do oeste paulista A Região Oeste do Estado de São Paulo teve sua ocupação associada aos ciclos econômicos da agricultura do Estado. Primeiramente, toda a região conhecida no início do século XX como “boca do sertão”, tornou-se alvo de empresas de colonização impulsionadas pela chegada da ferrovia, que cortavam o Estado e que a partir do final do século XIX chegam à região. A partir daí, a incorporação dessas terras dá-se então a partir da possibilidade de expansão da cultura do café, que já vinha declinando suas atividades em outras regiões pioneiras da cultura, como era o caso do Vale do Paraíba. Sendo assim, a partir de fins do século XIX e início do século XX, a cultura do café é introduzida em quase toda a porção oeste do Estado. De forma mais geral, à medida que essas vastas terras eram incorporadas, processava-se o nascimento e a emergência de núcleos urbanos com a capacidade de realização e oferta de atividades comerciais, estabelecendo, portanto, uma hierarquia das cidades do Oeste Paulista. Nesse cenário cabe destacar que as cidades-sede das três Regiões Administrativas estudadas (Presidente Prudente, Araçatuba e São José do Rio Preto), já se destacavam desde essa época como núcleos urbanos prósperos, que exerciam o papel de núcleo comercial e agregador das primeiras funções urbanas2. Mais tarde, essas cidades se tornariam referência para a instalação de plantas industriais durante a expansão da indústria paulista. Desde a gênese da indústria regional até meados da década de 1970, as atividades industriais do Oeste Paulista guardavam estreita relação com a agricultura. Assim, o que se plantava na região determinava o tipo de atividade industrial que se estabelecia, fortalecendo esses laços entre agricultura e indústria que seriam reforçados, mais tarde, com a incorporação da cultura do algodão nos anos 1930. O cultivo do algodão trouxe para a região as primeiras indústrias de beneficiamento (para a produção de óleo). Outras lavouras também trouxeram agroindústrias para a região, entre elas, o amendoim, o tomate e mais recentemente a cana-de-açúcar e a laranja. Além dessas indústrias de 2 Data da fundação dos municípios: Presidente Prudente, 1917; Araçatuba, 1908 e São José do Rio Preto, 1852. beneficiamento, outras unidades pequenas de produção industrial foram instaladas na região, essas unidades produziam bens de consumo não-duráveis, principalmente do ramo de alimentos que abasteciam uma demanda imediata do local. Desde a formação dos primeiros núcleos urbanos, a região Oeste do Estado passa a comportar unidades industriais. Porém, essa indústria passa por diferentes processos de formação. Assim, partindo da análise de Gomes (2007), elaboramos um quadro síntese com a divisão da indústria do Oeste Paulista em quatro momentos diferentes de sua implantação, comum a região e às suas cidades médias. QUADRO 1: Momentos da formação industrial do Oeste Paulista. Período Características 1920-1930 Pequenas fábricas com baixo emprego de tecnologia, produzindo bens de consumo não-duráveis para atender a uma demanda local. Fábricas de origem familiar com capital local e aproveitamento das matérias-primas locais. Meados das décadas de 1930, 1940 e 1950 Implantação de grandes empresas industriais nacionais e estrangeiras (SANBRA, Anderson Clayton, Swift, Matarazzo, entre outras) todas de beneficiamento de produtos agrícolas em todas as cidades médias. Essas empresas passam a conviver com as mais tradicionais de capital local e familiar. 1960, 1970 até meados de 1980 Intensa modificação na estrutura produtiva do campo, com a diminuição de áreas de lavoura e expansão da atividade pecuária. Nesse período as agroindústrias se diversificam nas três regiões com a instalação de frigoríficos e laticínios, além da instalação de várias usinas de álcool devido à presença da cana-de-açúcar, incentivadas pelo Proálcool do Governo Federal. 1980-1990 Observa-se o processo de reestruturação produtiva nas plantas industriais da região, impulsionada principalmente, pela abertura econômica e política cambial do período, esses reflexos são sentidos nas cidades médias só que com um grau de intensidade menor. Org. Eliane Carvalho dos Santos, baseado em Gomes (2007, p. 24-25). Nesse quadro, a síntese dos diferentes momentos da indústria instalada na região Oeste do Estado, principalmente nas cidades médias, demonstra que a região passou por intensa modificação em sua estrutura produtiva, tanto no campo quanto na cidade, através de uma extensa relação direta entre a produção industrial e a produção do agrícola. Porém, durante esse processo, a diversificação da produção e dos ramos industriais nas principais cidades regionais, aliada ao crescente aumento populacional e intensificação das funções urbanas das cidades médias, definiu o padrão produtivo regional, onde hoje, a atividade industrial é ampla, abrangendo diversos municípios que comportam diferentes ramos de produção industrial, desde os mais tradicionais até os mais modernos. 2.2 Desconcentração industrial no Estado de São Paulo: a inserção do Oeste Paulista nesse contexto Desde a década de 1960 os diferentes Governos do Estado de São Paulo passaram a lançar mão de políticas com o intuito de desconcentrar as atividades industriais do Estado. Essas políticas compreendiam, dentre outros fatores: melhora da infra-estrutura do sistema rodoviário, lançamento de programas para a instalação de plantas industriais nas cidades médias, desenvolvimento das telecomunicações, integração da malha viária, criação de centros de excelência de formação de mão-de-obra qualificada, etc. Essa desconcentração da indústria paulista esteve relacionada com a cisão entre a produção e a gestão, pois apenas as unidades de produção se deslocaram rumo ao interior, enquanto a gestão continua sendo executada no centro financeiro do país, a cidade de São Paulo. Contudo, essas políticas estatais e a desconcentração da atividade industrial privilegiaram alguns eixos rodoviários próximos à Região Metropolitana, diferenciando regiões dentro do Estado e acirrando a disputa entre municípios dentro dessa lógica. Para a região oeste do Estado, essa política de desconcentração industrial demonstrou-se de maneira tímida, pois os investimentos estatais dessa política foram mais evidentes nas regiões mais próximas à capital. As RAs de Presidente Prudente, Araçatuba e São José do Rio Preto, ficaram mais à margem do que no bojo desse processo. A instalação nesse período de novas indústrias não estabelece relação com a desconcentração industrial do Estado, pois como já dissemos, esse processo beneficiou apenas algumas regiões interioranas mais próximas à capital. Nas palavras de Negri (1988, p. 29 apud Gomes 2007, p. 40) Por sua vez acentuou-se a diminuição de participação da Região Metropolitana de São Paulo no valor adicionado da indústria de transformação estadual de 60,0% para 52,8%, enquanto as cinco principais regiões administrativas do Interior (Litoral, Vale do Paraíba, Sorocaba, Campinas e Ribeirão Preto) ampliaram sua participação de 32,8% para 38,0% e as demais regiões do “Oeste” Paulista (Presidente Prudente, Araçatuba, São José do Rio Preto, Marília e Bauru) passaram de 7,2% para 9, 3%. Para o conjunto das cidades médias que compreendem o Oeste Paulista, apenas São José do Rio Preto teve melhora do seu sistema viário decorrente da ação do governo estadual, quando a rodovia Washington Luiz foi duplicada. Contudo isso ficou restrito para algumas rodovias, pois até hoje a rodovia Raposo Tavares, em Presidente Prudente, não foi duplicada algo que afeta a circulação de mercadorias. Outra política relacionada a esse contexto que chega à região oeste foi o Proalcool, que atinge principalmente as regiões de São José do Rio Preto e Araçatuba. Nesse momento são instaladas usinas de álcool na região, juntamente com a explosão da cana no campo. Porém, a instalação de Distritos Industriais incentivado pela política estadual de desenvolvimento das cidades médias do interior foi a política mais significativa no contexto da desconcentração industrial que chegou até as cidades da região oeste. Onde através da Política Municipal de Atração da Indústria foram criados esses distritos, com um esforço maior dos governos municipais, para a atração de novas plantas industriais e expansão das já existentes. Portanto, nas cidades médias e pequenas do Oeste Paulista os esforços para impulsionar novos setores da indústria desligados das atividades do campo, são em grande parte, desencadeados por iniciativas municipais, ou seja, são fatores locais que propiciaram esse desenvolvimento industrial mesmo depois das políticas estatais de desconcentração da indústria. 2.3 Caracterização dos municípios pesquisados: indústria e mercado de trabalho Nas Regiões Administrativas de Presidente Prudente, Araçatuba e São José do Rio Preto, observa-se um número muito grande de municípios (total das três regiões: 189) que mantém sua lógica urbana atrelada às cidades médias. Porém nesse universo a maioria desses municípios são muito pequenos, com uma população inferior a 2.000 habitantes. Mapa 1: Regiões Administrativas do Estado de São Paulo Fonte: www.divbibliotecas.sp.gov.br, 2008. Sendo assim, definimos que poderíamos investigar melhor como se dá o processo de reestruturação produtiva nessas três regiões administrativas a partir dos municípios que contassem com população acima de 20 mil habitantes. Desse modo, o universo de municípios analisados ficou assim definido: 13 municípios da R.A. de Presidente Prudente; 08 municípios da R.A. de Araçatuba; e 10 municípios da R.A. de São José do Rio Preto (tabela 1). Ao investigarmos os municípios que selecionamos para nossa análise, entendemos que a articulação desses ao papel desempenhado pela cidade média regional deve ser ressaltado. A cidade média, sede da região administrativa, compreende um nó na articulação dos outros municípios que compõem a região. Torna-se um espaço polarizador de atividades, principalmente de serviços, exercendo uma centralidade que articula relações entre os municípios menores e outras escalas. Tabela 1: População dos municípios pesquisados das Regiões Administrativas de Araçatuba, São José do Rio Preto e Presidente Prudente em 2007. Municípios e RAs População 2007 Região Administrativa de Presidente Prudente Presidente Prudente Presidente Epitácio Dracena Presidente Venceslau Adamantina Osvaldo Cruz Rancharia Rosana Álvares Machado Martinópolis Pirapozinho Santo Anastácio Teodoro Sampaio 834.620 206.545 42.847 41.216 38.628 34.655 30.234 30.131 26.968 25.186 24.318 23.399 21.445 21.202 Região Administrativa de Araçatuba Araçatuba Birigui Penápolis Andradina Guararapes Mirandópolis Ilha Solteira 716.283 180.637 106.364 58.529 57.580 30.228 27.505 25.825 Pereira Barreto 25.171 Região Administrativa de São José do Rio Preto 1.427.799 São José do Rio Preto 411.175 Catanduva 115.572 Votuporanga 83.180 Fernandópolis 66.675 Mirassol 54.885 Jales 49.377 Novo Horizonte 34.333 José Bonifácio 32.300 Santa Fé do Sul 28.732 Tanabi 23.565 TOTAL DE MUNICÍPIOS: 31 Fonte: Fundação Seade – 2008. De maneira geral, nas três R.A.s estudadas a dinâmica econômica está mais atrelada ao campo do que a indústria. A diversificação da produção no campo é grande, porém algumas culturas se fazem mais presentes, devido a condicionantes históricas e sociais. No Oeste paulista, a produção da cana-de-açúcar, do gado de corte e da laranja são as culturas mais expressivas, que abrangem uma ocupação densa no território de diversos municípios. Juntamente com a produção do campo, as agroindústrias como as usinas de álcool, os frigoríficos e as processadoras de alimentos, estão inseridas nesses municípios, com uma concentração maior nas cidades médias. Porém observamos que algumas cidades pesquisadas apresentam dinâmicas industriais bem diversas, indo muito além da dependência da produção das agroindústrias. Nesse sentido, o caso de Birigui é emblemático, pois esse município tem forte tradição industrial no ramo de calçados, onde a grande concentração de pequenas e médias empresas locais aliadas a existência de grandes empresas do ramo de capital nacional, configuram um pólo de produção calçadista impulsionado pela formação de um eixo de desenvolvimento a partir da rodovia Marechal Cândido Rondon (SP-300) (CÍCERO, 2007). A participação no PIB estadual das três R.A.s é pouco expressiva. Segundo a Fundação Seade, em 2005 essa participação da R.A. de Presidente Prudente ficou em torno de 1,25%; já na R.A. de Araçatuba esse número cai para 1,3% de participação; na R.A. de São José do Rio Preto essa participação sobe, ficando em torno de 2,33%. Ao observarmos esses dados percebemos que a Região do Oeste Paulista participa pouco do total de geração de riqueza do Estado, e se refinarmos ainda mais esses dados, veremos que essa produção de PIB se encontra altamente concentrada nos municípios maiores das R.A.s, principalmente nas cidades médias. A produção industrial do Oeste Paulista ainda é incipiente se comparada a outras regiões mais próximas à capital, porém parte para a competitividade e reestruturação a fim de galgar alcançar outros mercados. Desse modo, em muitos estudos realizados (CÍCERO, 2007; GOMES, 2007; entre outros) percebeu-se que há ainda certa resistência das pequenas empresas em aderir, mesmo que parcialmente, aos aspectos da acumulação flexível, pois muitas ainda têm forte tradição familiar de gestão, o que dificulta a reestruturação. Sendo assim, as médias e grandes empresas são as têm aderido a esses processos, alterando as configurações de produção no “chão da fábrica” e impactando no mercado de trabalho regional. Como a indústria é um setor que, de maneira geral, emprega pouco se comparado ao setor de serviços que desponta na oferta e manutenção de empregos formais em quase todos os municípios pesquisados, o número de oferta de empregos industriais está em declínio, porém sem afetar necessariamente na produção. A reestruturação produtiva nas indústrias desses municípios tem corroborado para a ascensão do setor de serviços como o grande empregador regional. Essa indústria, com exceção de alguns municípios, tem dispensado mão-de-obra à medida que se reestrutura, porém esse espaço de trabalhadores dispensados é preenchido por trabalhadores de prestadoras de serviços. Assim, entendemos que essa nova fase de acumulação traz uma nova configuração do mercado de trabalho regional nas regiões pesquisadas, fortalecendo outros setores e o trabalho informal, algo comum ao processo em escala nacional. 3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Bases Estatísticas. RAIS: Relação Anual de Informações Sociais. Brasília, 2006. CD ROM. CARVALHO, J. G Integração e dinâmica regional: O desenvolvimento recente da Região Administrativa de São José do Rio Preto (1980 – 2000). 2004. 127f. Dissertação (Mestrado em Economia) – Instituto de Economia, Universidade Estadual de Campinas. Campinas-SP. FURTADO, C Não à recessão e ao desemprego. São Paulo: Ed. Paz e Terra S/A, 1983. GOMES, M. T. S A dinâmica do mercado de trabalho formal: uma análise do setor industrial em Presidente Prudente-SP. 2001. 221f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente-SP. GOMES, M. T. 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