Prêmio Internacional Plant Nutrition Institute.
Discurso do Professor Victor Hugo Alvarez – Homenageado.
Senhor Reinaldo Bertola Cantarutti, Secretário Geral, em
representação de Gonçalo Signorelli de Faria, Presidente da SBCS
e toda a sua Diretoria.
Senhor Hugo Alberto Ruiz, Diretor do Núcleo Regional Leste.
Senhoras Fátima Maria de Souza Moreira e Maria Catarina
Megumi Kasuya, Presidentes da Comissão Organizadora do
FertBIO 2014, e seus membros.
Senhor Luís Ignácio Prochnow, Diretor do IPNI Brasil.
Excelentíssimas senhoras e excelentíssimos senhores.
Neste recinto não sinto pudor ou vergonha de utilizar o
qualificativo
de
excelências.
Neste
recinto
não
enxergo
companheiros, enxergo colegas e amigos. Há muito tempo aprendi
a seguinte frase em francês “Des amis, pas de compagnons” que
em português se traduz por “Amigos e não companheiros”. Entre
amigos há a confiança, a seriedade. Entre companheiros a
cumplicidade e o acobertamento.
A distinção que recebo aqui entre colegas, amigos, alunos e
ex-alunos, alguns verdadeiros discípulos, me enche de alegria e
orgulho. Meus mais profundos agradecimentos aos que indicaram
meu
nome
e
aos
que
aprovaram
essa
indicação.
Meus
agradecimentos a SBCS, aos seus sócios e aos seus dirigentes.
Desde 1974, quando participei da IX Reunião Brasileira de
Fertilidade do Solo, em Belo Horizonte, venho participando de
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Congressos e Reuniões, onde tenho me sentido em casa,
especialmente nos últimos 20 anos, em que tenho participado
ativamente das suas diretorias e, como tal, tenho acolhido e
incentivado os reconhecimentos por mérito e por contribuição
efetiva à
nossa SBCS.
Meus agradecimentos
ao Instituto
Internacional de Nutrição de Plantas pelo prêmio IPNI Brasil em
Nutrição de Plantas, que há vários anos concede esta importante e
exemplar honraria.
Quero, com grande sinceridade, compartilhar esta distinção
com meus colegas professores, antigos e novos e também com
nossos estudantes de pós-graduação. Posso afirmar que, em
conjunto, temos criado um acervo de conhecimentos próprios do
Departamento de Solos da UFV. Sem falsa modéstia posso afirmar
que criamos uma escola de pesquisa e ensino em Fertilidade do
Solo, caracteristicamente do Departamento de Solos da UFV.
Nossos conhecimentos em fertilidade do solo têm forte alicerce em
química, física e físico-química de solos. Somente com marco
conceitual básico, seguido o exemplo marcante do Professor José
Mário Braga, os Professores Roberto Ferreira de Novais, eu,
Nairam Félix de Barros, Antônio Carlos Ribeiro, Júlio César Lima
Neves, Reinaldo Bertola Cantarutti, Renildes Ferreira Fontes e os
novos, Edson Mattielo, Leonardus Vergutz e Leónidas Carrijo,
tratamos de entender essa maravilhosa propriedade que é a
fertilidade do solo. Tão importante e mítica que se confunde, no
tempo e nas civilizações, com as deusas do amor, da fertilidade e
da terra, como Afrodite, Ceres, Gaia, Ísis, Pacha Mama.
O que falei até aqui, como indica Nassim Nicholas Taleb, em
seu livro “A lógica do cisne negro: o impacto do altamente
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improvável”, são as histórias contadas, as verdadeiras e não as das
entrevistas, dos debates, do marketing. Parece-me que estamos
vivendo a era do “muito altamente improvável da Silva”. Por isso
quero falar das histórias que Taleb considera essenciais: as
histórias não contadas. Quero falar do nosso analfabetismo, do
analfabetismo funcional e do analfabetismo voluntário, dos que,
para vergonha nacional, não sabem ler, ou se sabem não
conseguem interpretar um texto lido ou nunca leram um livro
sequer. Como indicou um colunista da Revista VEJA, daqueles que,
mesmo
tendo
título
universitário,
sendo
empresários
bem
sucedidos, tendo no celular 150 aplicativos e milhares de amigos
nas redes sociais, mesmo tendo sido presidente, não passam de
analfabetos voluntários, que no máximo escrevem bilhetes ou
torpedos.
Esse é o panorama atual de muitos de nossos estudantes de
graduação e até de pós-graduação, que não foram orientados,
treinados, pelo menos em princípios de hermenêutica, para
interpretar e entender o que encontram na vasta literatura cientifica.
Também, não foram apresentados à semiótica, para terem a
habilidade de interpretar os sinais que os solos, as plantas e a
natureza nos enviam pelos resultados de medidas e análises,
embrulhados em métodos.
Penso
que
cada
um
de
nós
deve
posicionar-se
cientificamente, artisticamente e culturalmente, em nossa vida.
Cientificamente tenho fé nas teorias atuais, até que não
consigam ser verificadas. Pois, como bem indica Niall Ferguson, no
livro “Civilização”: “O passado é, com efeito, nossa única fonte de
conhecimento confiável sobre o presente efêmero e os vários
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futuros à nossa frente, só um dos quais irá, de fato, acontecer”. O
mundo real, é continuo, complexo, curvilinear e multifatorial, e tem
evoluído em várias escalas de espaço e, especialmente, de tempo.
Entretanto, para entender o mundo real, para gerar e transmitir os
conhecimentos é necessário ser cartesiano. Eu sou cartesiano. Sou
cartesiano de carteirinha. Como ser professor de Métodos de
Análise de Solos e Plantas, sem o reducionismo das análises de
plantas: de raízes, caules, folhas, inflorescências, de N, de P, etc.,
de suas formas iônicas ou totais? Como conhecer, no solo, as
formas de nutrientes: em solução, as solúveis, as lábeis ou as
trocáveis, as não lábeis ou as não trocáveis, etc., etc., sem as
análises? Como fazer especiação iônica sem as análises de aníons
e de cátions da solução? Nosso conhecimento cientifico baseia-se
no empirismo experimental da Francis Bacon, na Inglaterra e René
Descartes, na França. É Descartes que nos ensina que, se você
tem um problemão, para entendê-lo e resolvê-lo, é preciso dividi-lo
em probleminhas. Ao resolver os probleminhas teremos resolvido o
problemão. Mas somente faremos isso se nosso intelecto for capaz
de integrar as partes. Como filosofo e matemático e como pioneiro
da lógica, Descartes nos ensinou como, a partir de premissas
atingirmos as conclusões. Devemos lembrar o ditado chinês “As
árvores tapam o bosque”. Isto acontece quando, olhando as partes,
não enxergamos o todo.
Artisticamente é muito mais difícil, especialmente se ficamos
envolvidos em ambiente como o do filme “Meia Noite em Paris” do
cineasta Woody Allen. Em pintura prefiro da renascença ao
impressionismo. Em música, vou até Ravel ou Villa-Lobos e as
músicas folclóricas. Em escultura até Rodin. Em arquitetura transito
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em todos os tempos. Culturalmente, lamento o desastre do pósmodernismo. Alan Sokal, em 1996, publicou em “Social Text “ um
artigo de título estranho “Transgredindo as fronteiras: em direção a
uma hermenêutica transformativa da gravitação quântica”. Artigo
que era uma paródia, uma sátira, para denunciar o relativismo pósmoderno, que sustenta que a verdade objetiva não passa de uma
convenção social. Posteriormente, ele e Jean Bricmont publicaram
o livro “Imposturas Intelectuais: o abuso da ciência pelos filósofos
pós-modernos”. Somente esta visão distorcida explica a seguinte
afirmação: “Embora seja uma propriedade do solo que se
manifesta, é a atitude do homem em relação a ela que desencadeia
o grau de expressão da fertilidade do solo”. Esta é uma visão
antropocentrista. Já recomendava Pierre Teilhard de Chardin que o
cientista deveria deixar de ser egocentrista e se possível
antropocentrista. Não é possível estudar a civilização Maya com
mentalidade de parisiense do século XX.
Voltando à Ciência do Solo.
Ao parabenizar o professor Flavio Camargo por sua escolha
como Vice- Presidente da IUSS, a que confirma seu compromisso
com a organização do Congresso Mundial de Ciência do Solo, em
2018, eu expressava a minha esperança de que toda nossa SBCS,
a Sociedade Latino-Americana de Ciência do Solo
e seus
membros, colaborem, decidida e eficientemente, para fazer do
próximo congresso mundial um evento que encontre soluções para
o progresso de nossos povos e para a preservação da natureza,
especialmente frente ao empobrecimento mundial, progressivo e
continuado da fertilidade dos solos. Que a segurança alimentar não
seja unicamente melhores sabores de alimentos funcionais para as
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nações ricas, mas, sobretudo suficientes calorias para povos
marginalizados e auto marginalizados pela própria pobreza.
Estou encampando a ideia de um pesquisador de Harvard, de
lutar por uma nova sociedade pós-tribal, em que as lutas religiosas,
raciais, territoriais e de torcedores sejam parte do passado. Que a
nova sociedade, não deixe de ser multicultural, evitando assim que,
com a globalização, a terra fique plana, que todos fiquem falando
inglês,
comendo no McDonald e bebendo coca cola.
Já
imaginaram!! Onde ficariam um churrasco, ou um asado ou uma
barbacoa acompanhados de um bom clarete neste mundo onde
tudo foi pasteurizado?
Certa vez um ex- reitor da UFV me perguntou: Professor
Victor, por que você é diferente dos outros? Fiquei sem jeito, mas
logo respondi: “Deve ser por que gosto de beber vinho”. A seu turno
quem ficou sem jeito foi o Reitor que logo perguntou o que uma
coisa teria a ver com a outra. Prontamente respondi: “Quem gosta
de vinho, gosta das coisas sérias, direitas, feitas com rigor”. Estas
têm sido minhas atitudes como pesquisador e como docente, e que
talvez, expliquem este momento tão importante para mim. Momento
que dedico à minha esposa Zélia, que sinto que está aqui entre nós
e ao meu filho Gustavo Adolfo.
Meus
parabéns
e
agradecimentos
aos
organizadores,
colaboradores e ajudantes do FertBIO 2014, que fizeram realidade,
não só este evento, mas que cristalizaram a expectativa e a
esperança que tínhamos de que Reuniões e Congressos fossem
realizados
pelos
Núcleos
Regionais
ou
Estaduais,
com
a
colaboração das Divisões da nossa SBCS. Assim, estaremos
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preparando o grande evento que será o CMCS 2018, no Rio de
Janeiro.
Meus agradecimentos e abraços a todos os presentes.
(Araxá – MG – Setembro 2014)
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