MINISTÉRIO DA DEFESA ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia CAEPE - 2012 AS QUESTÕES AMBIENTAIS E INDÍGENAS NA AMAZÔNIA E AS AMEAÇAS A SOBERANIA NACIONAL Cel EB – CARLOS ALBERTO GARCIA ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA CARLOS ALBERTO GARCIA AS QUESTÕES AMBIENTAIS E INDÍGENAS NA AMAZÔNIA E AS AMEAÇAS A SOBERANIA NACIONAL Rio de Janeiro 2012 CARLOS ALBERTO GARCIA AS QUESTÕES AMBIENTAIS E INDÍGENAS NA AMAZÔNIA E AS AMEAÇAS A SOBERANIA NACIONAL Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: Cel R/1 Heitor de Montmorency B. Pestana. Rio de Janeiro 2012 C2012 ESG Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG _________________________________ CARLOS ALBERTO GARCIA - CEL Biblioteca General Cordeiro de Farias Garcia, Carlos Alberto As questões ambientais e indígenas e as ameaças a soberania da Amaônia/ Coronel EB Carlos Alberto Garcia. Rio de Janeiro: ESG, 2012. 57 f. Orientador: Cel Ex R/1 Heitor de Montmorency B. Pestana. Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2012. 1. Questões Ambientais. 2. Questões Indígenas. 3. Soberania Nacional. I.Título. À minha esposa, agradecimentos e os meus sinceros reconhecimento apoio à realização deste trabalho. pelo AGRADECIMENTOS Ao Cel R/1 Heitor de Montmorency B. Pestana, pelas orientações seguras, pela confiança e pelo incentivo emprestados a mim, ao longo deste trabalho, bem como pela sua amizade e fidalguia com que sempre me distinguiu. Aos integrantes do Corpo Permanente da Escola Superior de Guerra pela amizade e pelos ensinamentos transmitidos ao longo do Curso. Aos amigos e amigas da turma PROANTAR, pela honra e satisfação do convívio salutar, fraterno e engrandecedor ao longo deste ano. "Eles não querem o nosso bem, querem os nossos bens." Padre Antônio Vieira RESUMO A Amazônia brasileira, pelas potencialidades que apresenta, naturalmente desperta a cobiça internacional. Atualmente os conceitos de soberania relativa, de dever e de direito de ingerência e de intervenção, de proteção de minorias étnicas (povos indígenas) e de preservação do meio-ambiente moldam as relações internacionais. Contribuindo para a conjuntura descrita, inúmeras Organizações Não Governamentais (ONG’s) atuam sem o controle estatal, praticando, por vezes, atitudes contrárias aos interesse nacionais. Algumas delas buscam substituir o Estado e ocupar seu espaço, interpondo-se às suas ações e questionando suas decisões, em atendimento aos interesses de seus financiadores, notadamente estrangeiros. Para isso, manipulam o ambientalismo-indigenismo a fim de imporem dificuldades ao povoamento e à efetiva integração da Amazônia, criando condições favoráveis ao seu futuro desmembramento. Nesse sentido, as causas ambientais e indígenas são eficazmente manipuladas para dificultarem a construção de hidrovias, gasodutos, instalações militares, portos, aeroportos, hidrelétricas e demais empreendimentos necessários ao desenvolvimento sócio-econômico do País e da Amazônia. Dessa forma, reservas indígenas e áreas de preservação são estrategicamente sugeridas em áreas lindeiras ou que abriguem gigantescas jazidas de importantes minerais. Intensas pressões são exercidas para suas homologações, baseadas, por vezes, em laudos emitidos por “antropólogos de ação” devidamente comprometidos com ONG’s financiadas pelo capital internacional. A artificial e extremada necessidade de preservação de minoritárias culturas indígenas sobrepõem-se às carências de desenvolvimento sócio-econômico da maioria da população. Quanto aos indígenas, busca-se sua radical tribalização e segregação em relação à miscigenada sociedade brasileira, criando futuras possibilidades de enclaves e de quistos sociais que poderão trazer problemas para o futuro do País. O Estado brasileiro, ao ser acusado de devastar a Amazônia e de contribuir com a extinção de povos indígenas e de suas respectivas culturas, não contesta a orquestração em curso e cede às pressões e às ingerências externas. Palavras-chaves: Ambientalismo-indigenismo. Orquestração. Soberania nacional ABSTRACT Due to the potentialities it presents, the Brazilian Amazon arises international covets. Nowadays concepts of relative sovereignty, of duty, mediation and intervention rights, of ethnic minorities protection (aboriginal peoples) and environment preservation shape the international relations. Contributing for the described scenario, several non governmental organizations (NGO) act without controlling of the State, and sometimes practicing actions against the national interests. Some of them search to substitute the State and to occupy its space, interposing themselves in its actions and questioning its decisions, in attendance to the interests of its financiers, especially the foreign ones. For this, they manipulate environment and aboriginal affairs in order to impose obstacles to the human occupation and the effective integration of the Amazon, creating favorable conditions to its future dismemberment. In this direction, environmental and aboriginal causes are efficiently manipulated to make it difficult the construction of water-ways, gas-lines, military facilities, ports, airports, hydroelectric power plants and others necessary enterprises to the social-economic development of the Country and the Amazon. According to this view, aboriginal reserves and preservation areas are strategically suggested in bordering areas or those where there are vast natural deposits of important minerals. Intense pressures are made for its ratification, based sometimes, in reports emitted by "anthropologists of action" duly compromised with NGO financed by international capital. Artificial and extreme needs to preserve minority aboriginal cultures overlap lacks of social-economic development of the majority of the population. About the aboriginal groups, there is a search for a radical tribal movement and segregation in relation to the mix of races of the Brazilian society, creating future possibilities of enclaves and social separated cells that may bring problems for the future of the Country. The Brazilian State, being accused of the destruction of the Amazon and of the contribution to extinguish the aboriginal peoples and its respective cultures, does not contest the manipulation in course and yields to the pressures and external mediations. Keywords: Environmental and aboriginal causes. Manipulation. National sovereignty. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..........................................................................................11 2 HISTÓRICO..............................................................................................14 3 O CENÁRIO POLÍTICO MUNDIAL E SEUS REFLEXOS PARA O BRASIL.....................................................................................................17 4 INTRODUÇÃO DE NOVOS CONCEITOS ARTIFICIAIS.........................19 5 CHOQUE DE INTERESSES ENTRE PAÍSES.........................................21 5.1 FORÇAS DE GLOBALIZAÇÃO E INTEGRAÇÃO....................................21 5.2 FORÇAS DERIVADAS DOS AVANÇOS DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA........................................................................................22 5.3 FORÇAS AMBIENTAIS......................................................................22 5.4 FORÇAS DE FRAGMENTAÇÃO.........................................................24 5.5 FORÇAS DE RUPTURA DA ORDEM VIGENTE....................................27 6 A MÍDIA.....................................................................................28 7 AS FORÇAS ARMADAS - A CONQUISTA, A POSSE E A MANUTENÇÃO DA AMAZÔNIA..............................................................30 8 INTERESSES DIFUSOS DAS ONG’s.................................................34 8.1 ORGANIZAÇÕES DO MOVIMENTO AMBIENTALISTA INTERNACIONAL E SUAS ATUAÇÕES.................................................................41 9 CONCLUSÃO...........................................................................................52 10 REFERÊNCIA..........................................................................................55 11 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho versa sobre a Amazônia Legal, com ênfase nas questões ambientais, indígenas e sobre as ameaças à soberania nacional brasileira. A Amazônia legal, parte delimitada pelo estudo em questão, foi criada pelo Congresso Nacional, em decorrência do Art. 199 da Carta de 1946, regulamentada pela Lei 1.806, de 1953. O “Território da Amazônia Legal”, fundado em critério misto (político, fisiográfico e geográfico), envolve os atuais Estados do Pará, do Amapá, do Amazonas, do Acre, do Mato Grosso do Norte, de Rondônia, de Roraima, além de partes dos Estados do Maranhão, a oeste do meridiano de 44º, e do Tocantins, ao norte do paralelo 13º, perfazendo uma superfície de, aproximadamente, 5.217.423 km², o que corresponde à área de 61% do território brasileiro. (MATTOS, 1980, p. 70). Essa extensa área engloba, também, 2/3 das fronteiras geográficas do país, limitando-se a sudoeste com a Bolívia, a oeste com o Peru e ao norte com a Colômbia, a Venezuela, a Guiana, o Suriname e a Guiana Francesa, perfazendo, aproximadamente, 11.248 Km de linha de fronteira e uma porção a nordeste, banhada pelo Oceano Atlântico, totalizando cerca de 1.555 Km de litoral. A principal bacia hidrográfica da região é a bacia Amazônica, que é a maior do mundo. São 23.000 km de rios navegáveis, que transformam os barcos no exclusivo meio de transporte da região. O rio principal, o Amazonas, tem mais de 500 afluentes, maior rio do planeta em extensão e em vazão de água, podendo ser navegado de Iquitos, no Peru, até sua foz, no oceano Atlântico, com um percurso permanente de 3.580 Km. A região é coberta pela Floresta Amazônica, maior floresta tropical úmida do planeta, que apresenta exuberante biodiversidade. Cortada pela linha do Equador, em situação geográfica privilegiada, a Amazônia corresponde a 2/5 da América do Sul e a 1/20 da superfície da Terra, oferecendo 1/5 da disponibilidade mundial de água doce, 1/3 das reservas de florestas latifoliadas e 1/10 da biota universal, abrigando o maior banco genético do planeta e fabulosas reservas minerais em seu subsolo. 12 Toda essa pujança da Amazônia despertou o interesse de diversas potências mundiais, ao longo dos séculos. A cobiça à região remonta ao alvorecer do século XVI, quando holandeses, ingleses e franceses iniciaram suas incursões pelo Amazonas. Nos últimos tempos, essa cobiça emerge sob um novo contexto de cunho neoliberal, cujas transformações estruturais trazem novos contornos, que explicam o maior peso inferido às questões ambientais e à pessoa humana. É nesse ambiente, abrigo de um dos biomas mais ricos em diversidade biológica do mundo, de inúmeras jazidas minerais – em quantidade e qualidade, e ainda com milhares de indígenas, que se insere a problematização deste trabalho, a qual se consolida na seguinte indagação: as questões ambientais e indígenas na Amazônia ameaçam à soberania nacional? Não obstante, o tema proposto justifica-se pela necessidade de um conhecimento mais profundo sobre o assunto, identificando e sugerindo ações que, espero, venham a despertar nas autoridades brasileiras a vontade política, bem como as levem a assumir as responsabilidades de integração e desenvolvimento sustentável da região, nos âmbitos nacional e internacional, além da adoção de procedimentos que venham a abster, de forma dissuasória, novas ameaças à nossa Amazônia. A seguir, para melhor entendimento e compreensão, serão apresentadas as conceituações das variáveis que fundamentarão a presente pesquisa. Entende-se por questões ambientais o conjunto de ações que englobam as causas relacionadas à conservação dos recursos naturais ou da natureza propriamente dita; a conservação da natureza consiste no manejo apropriado dos recursos naturais e na preservação do mundo vivo, do ambiente natural do homem e dos recursos naturais removíveis. Às questões indígenas entende-se como o conjunto de ações que englobam os assuntos referentes aos índios e às medidas adotadas para protegê-los, bem como aquelas que se relacionam com as terras, com as reservas ou com o ambiente onde vivem e com seus conhecimentos, costumes e culturas. A definição de soberania pode ser entendida conforme a citação abaixo: 13 Manutenção da intangibilidade da Nação, assegurada a capacidade de autodeterminar-se e de conviver com as demais Nações em termos de igualdade e de direitos, não aceitando qualquer forma de intervenção em seus assuntos internos, nem participação em atos dessa natureza em relação a outras Nações. A soberania significa, também, a supremacia da ordem jurídica do Estado em todo o território nacional (ESG, 1998, p. 43). É oportuno, também, mencionar que não há intenção em enquadrar, genericamente, a atuação de todas as ONG’s e de todos os estrangeiros, na Amazônia, como ameaças à soberania nacional. Entende-se e se aceita o trabalho de entidades e agentes estritamente dentro da finalidade humanitária para a qual foram criadas. Neste trabalho, ao se referir às Organizações Não Governamentais (ONG’s) e a estrangeiros, estará se atendo especificamente àqueles que atuem manipulando as questões ambientais e indígenas, em detrimento dos interesses nacionais. Não há pretensão em se esgotar o assunto, pois há limitações de tempo e espaço. Espera-se que o presente trabalho suscite novos questionamentos elucidativos às questões apresentadas para aprofundamento e debate junto à sociedade brasileira. Este trabalho abordará aspectos históricos referentes à Região Amazônica, posteriormente, será realizada uma abordagem sobre o cenário político mundial e os seus reflexos para o Brasil. Na sequência, serão apresentados alguns novos conceitos artificiais, divulgados no mundo globalizado. A seguir, será apresentada uma visão do choque de interesses entre países e as diversas “forças de transformação” que poderão modificar as relações entre os Estados, seguindo-se de considerações sobre a mídia e o seu importante papel na formulação da opinião pública. Na sequência será comentada a participação das Forças Armadas na Amazônia, bem como será realizada uma abordagem sobre a conquista, a posse e a manutenção da extensa Região Amazônica. Logo após, serão apresentadas as possibilidades e limitações dos interesses difusos sobre a Região e, em seguida, serão mencionadas algumas organizações do movimento ambientalista internacional e as suas atuações e, posteriormente, a conclusão do trabalho. 14 2 HISTÓRICO Os assuntos referentes à Amazônia brasileira estão em crescente evidência, particularmente, nos círculos políticos, econômicos e científicos do mundo atual. No cenário internacional, observa-se o enfraquecimento do chamado Estado-Nação, uma vez que os princípios básicos de autodeterminação e de soberania dos povos vêm sendo desconsiderados paulatinamente. Com a globalização, a área internacional vem se sobrepondo à área nacional, independentemente das fronteiras geográficas. A preocupação da política mundial está se focando nos chamados interesses coletivos da humanidade, tais como o controle sobre a proliferação de armas de destruição em massa, o combate ao crime organizado, a proteção dos direitos humanos e a preservação do meio-ambiente. Nessa “Nova Ordem Mundial” vários autores, entidades e autoridades de diferentes nações fazem, com frequência, alusões à Região Amazônica, demonstrando “interesses” pela mesma e buscando colocar “em dúvida” a posse daquela estratégica área, pelo Brasil. Lydia Garner, da Universidade do Sudoeste do Texas, assim se pronunciou em um fórum mundial: O problema do desflorestamento, da temperatura do planeta e da sobrevivência da humanidade alterou a relação da Amazônia com o Brasil e com o resto do mundo. É esta a razão por que a Amazônia já está apropriada intelectualmente e pela qual se referem à Amazônia como se o Brasil fosse de pouca consequência. O destino da Amazônia está sendo decidido no âmbito internacional e, no momento, parece que não há muito que o Brasil possa fazer (LESSA, 1999). Essas personalidades desejam passar ao mundo que a preservação da Amazônia é imprescindível para o futuro do planeta e que o País não tem protegido adequadamente a Região Amazônica. Além disso, demonstram excessiva preocupação com os povos indígenas e suas respectivas culturas, pressionando o governo brasileiro a demarcar extensas reservas, notadamente em territórios lindeiros, que abrigam fartas jazidas de minerais estratégicos. Impõem, assim, indiretamente, óbices ao desenvolvimento socioeconômico da Amazônia, que acabam por impedir a exploração de seus recursos naturais e a sua efetiva integração às demais regiões do Brasil. 15 Ademais, a riqueza da Amazônia, no que diz respeito à biodiversidade, às incalculáveis jazidas de importantes minerais e aos recursos hídricos e florestais, o imenso vazio demográfico que possibilita abrigar excedentes de contingentes populacionais de outras partes do planeta e à posição geoestratégica privilegiada, naturalmente despertam a cobiça internacional. Observa-se que a Amazônia brasileira está sendo palco de intensa e descontrolada atuação de agentes e de Organizações Não Governamentais (ONG’s) patrocinadas por governos de países desenvolvidos e por poderosos grupos econômicos do atual mundo globalizado. Em face dos motivos expostos acima, diversos autores nacionais já manifestaram preocupações quanto ao destino da Amazônia em relação à sua posse e à exploração de seus recursos pelos brasileiros, bem como quanto aos riscos que se apresentam à manutenção da soberania do Brasil sobre a Região. Por isso, em 1992, o ano em que se celebravam os 500 anos da primeira viagem de Colombo à América, foi realizada no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a chamada Rio – 92, evento grandioso destinado a anunciar uma “Nova Ordem Mundial” utópica. Nela, trombeteava-se o princípio do fim dos Estados nacionais soberanos, surgidos cinco séculos atrás sob o impulso das navegações ibéricas e do Renascimento Europeu, para abrir caminho a uma “nova era” malthusiana regida por um “governo mundial”, que, sob a suas roupagens ambientalista e indigenista, apenas oculta uma política anti-humana regida por um Olimpo oligárquico cruel e arbitrário (CARRASCO, 2003, p. 13). Corroborando com esses autores, deseja-se com este trabalho os seguintes objetivos específicos: - Estudar a atuação de ONG’s na Amazônia, especificamente daquelas contrárias aos interesse nacionais; - Identificar: - ações que possam caracterizar-se como interferências de ONG’s e de países desenvolvidos na política brasileira, no que diz respeito às questões ambientais e indígenas; - os verdadeiros interesses de ONG’s que atuam na Amazônia, sob pretexto de defesa das questões ambientais e indígenas; 16 - a possível existência de um movimento internacional que busca impedir a exploração dos recursos naturais e o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia, bem como dificultar sua efetiva integração às demais regiões brasileiras; - a intensa presença e atuação de estrangeiros na Amazônia, particularmente daqueles que apresentam tendências contrárias aos interesses nacionais; - a existência de áreas críticas na Amazônia, onde, praticamente, o Estado não pode exercer sua ação; e, - orquestrações sincronizadas na mídia internacional, no sentido de se fazer crer que o Brasil, além de não ter ingerência sobre a área, ainda contribui para a destruição da floresta amazônica e para a extinção de povos indígenas e de suas respectivas culturas. Para atingir os objetivos propostos acima, torna-se necessário lançar os olhares para os dias atuais e verificar a “Nova Ordem Mundial” vigente e as suas consequências para o Brasil e para a Região Amazônica. Essa “Nova Ordem” que traz em seu bojo o conceito de globalização, particularmente no campo econômico e que se firmou no planeta, sendo uma tendência mundial crescente e acelerada pelo vertiginoso desenvolvimento da informática. Dessa forma, os acontecimentos isolados, em questões de segundos, tomam caráter global e influenciam imediatamente a opinião pública internacional. Em todas as áreas do conhecimento humano, como a científica e a tecnológica, verificam-se as interferências de tal fenômeno. As disparidades entre as nações consideradas desenvolvidas e as menos privilegiadas se acentuam, primordialmente, devido à livre competição, que é uma das bases da globalização, e ao hiato tecnológico que as separam. 17 3 CENÁRIO POLÍTICO MUNDIAL E SEUS REFLEXOS PARA O BRASIL A partir do final da década de 80 do século XX, o mundo passou a experimentar aceleradas e profundas modificações. A Queda do Muro de Berlim e o esfacelamento da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) foram o prenúncio de uma época de acentuadas transformações que alteraram todo o panorama mundial. A antiga bipolaridade, representada pelos blocos antagônicos liderados pelos Estados Unidos da América (EUA) e pela ex-URSS, propiciava um necessário equilíbrio de poder. Tal fato regulava as relações entre nações mais poderosas com outras menos desenvolvidas e controlava o grau de intensidade com que os interesses das primeiras eram dirigidos contra os da segunda. Com a derrocada do bloco socialista, potências norte-americanas e europeias passaram a desfrutar de maior liberdade de ação no cenário mundial, impondo-se de maneira mais incisiva à consecução de seus interesses, notadamente os de natureza comercial e geopolítica. A tecnologia tornou-se importante fator agregador de valor econômico, sendo, por isso, cada vez mais protegida e restrita. Dessa forma, surgiu, segundo DRUCKER (1999, p. 121), a “sociedade do conhecimento”. O elemento mais característico dessa mudança tecnológica parece ser o acesso à informação. Ao mesmo tempo, observa-se a aplicação de um chamado “apartheid tecnológico” por parte das nações mais desenvolvidas em relação àquelas menos privilegiadas em conhecimento. Com essa atitude é possível garantir a continuidade da dependência de um país perante outro, fato que proporciona vantagens geopolíticas e econômicas aos mais adiantados, assegurando-lhes a desejada manutenção de suas atuais parcelas de poder no cenário mundial. Por exemplo, potências que dominam a técnica de fabricação de artefatos nucleares, mediante manobras externas, influenciam (ou impõem) que outros países assinem tratados de não proliferação de tais recursos bélicos, até mesmo em nome do desarmamento e da proteção do meio ambiente. Com isso, na esfera da diploma- 18 cia conseguem impedir o desenvolvimento tecnológico de eventuais e potenciais concorrentes ou adversários. No cenário atual, outros aspectos podem ser enfocados, tais como a existência de um sistema internacional difuso, caracterizado por blocos econômicos e pela existência, entre os países desenvolvidos, de uma potência mundial e várias outras potências regionais. Além disso, nota-se, cada vez mais, a participação de atores que, oficialmente, não representam Estados, tais como entidades internacionais, Organizações Não Governamentais (ONG’s), empresas multinacionais e grupos de interesse, cujas influências nos mais variados setores, ultrapassam as fronteiras nacionais. A preocupação da política internacional está se voltando mais para os chamados interesses coletivos da humanidade, tais como proteção de direitos humanos e preservação do meio-ambiente, entre outros. O princípio da não intervenção começa a ser posto de lado. Estão consagradas intervenções em países com a finalidade de preservar a democracia e os direitos humanos. Nesse sentido, é justo inferir que a destruição de florestas tropicais, a preservação do meio-ambiente e a proteção de comunidades indígenas são argumentos que justificariam possíveis intervenções de grandes potências na Região Amazônica. O Brasil, portanto, inserido no irreversível e inevitável contexto acima descrito, está sujeito a toda sorte de ingerências exercidas por nações mais influentes e por poderosos grupos econômicos do mundo, particularmente sobre os aspectos que despertam mais cobiças aos referidos agentes. Nesse caso, situam-se os interesses relacionados às questões ambientais e indígenas na Amazônia e suas consequentes ameaças à soberania nacional, principalmente após a introdução ou intenção de introdução de novos conceitos nas relações internacionais. 18 4 INTRODUÇÃO À HUMANIDADE DE NOVOS CONCEITOS ARTIFICIAIS Observa-se nos dias atuais, a introdução ou o fortalecimento de novos conceitos artificiais nas relações internacionais. Teve início a discussão sobre a soberania limitada, a autodeterminação dos povos e a defesa de minorias étnicas, a identidade nacional, o dever de ingerência, o direito de intervir, a interferência humanitária, a preservação ambiental, a atuação de ONG’s, a redefinição do papel das Forças Armadas nacionais e a democracia plena. Os argumentos apresentados com respeito a esses temas justificam atitudes de potências regionais e mundiais em relação a países menos poderosos. Por meio de declarações emitidas, pode-se avaliar as tendências de novos e artificiais conceitos que se tenta introduzir à humanidade, em relação à soberania e ao Estado Nacional. Um integrante do Movimento “Viva Rio”, ao preconizar um “governo mundial”, dirigido por entidades supranacionais, a serviço da “cidadania global” colocou que “Os conceitos de Nação e Povo estão superados. O que conta agora é a relação privada dos cidadãos com as causas abstratas da Humanidade” (BRASIL, 2002, p. 19). Nessa mesma direção, um integrante da ONG’s norte-americana “Cultural Survival Inc.”, sediada em Cambridge, Massachussets, EUA, propôs que “O Estado Nacional deve fenecer e suas funções serão assumidas por instituições de governança local e global” (BRASIL, 2002, p. 19). Outros novos conceitos foram introduzidos à humanidade, baseando-se em diretrizes fundamentais: 1) Institucionalização do conceito de “soberania limitada”nas relações internacionais. 2) A imposição da “globalização” às economias de todo o mundo, com a disseminação de políticas neoliberais a praticamente todo o setor em desenvolvimento. 3)A instituição do chamado regime de “apartheid tecnológico” aos países em desenvolvimento, restringindo-lhes o acesso às tecnologias avançadas, sob pretexto de obstaculizar possíveis usos militares destas. (CARRASCO, 2003, p. 70). Trazendo o explicitado acima ao contexto do estudo em questão, pode-se verificar a introdução, a revalidação ou a valorização dos conceitos de malthusianismo e de ambientalismo radical. 19 Nesse contexto, as Forças Armadas de diversos países, inclusive do Brasil, passaram a não serem mais vistas como imprescindíveis para a defesa externa de uma nação, sendo motivadas a tornarem-se apenas uma espécie de “polícia nacional” para manter a ordem interna, além de terem seus recursos orçamentários reduzidos ou contingenciados. Dessa forma, o dever de ingerência internacional é um poderoso recurso ou subterfúgio que dá o pressuposto direito, perante aos fóruns internacionais, às nações mais desenvolvidas, a contrariar os princípios da soberania e da autodeterminação dos povos e interferir, com ou sem força militar, em áreas por elas julgadas “focos de tensões”. Os referidos conceitos firmados à sociedade servem como argumentos para justificar ações praticadas ou desejadas por parte de potências, de instituições e de poderosos grupos econômicos, em relação a si próprios ou a outras nações. 20 5 CHOQUE DE INTERESSES ENTRE PAÍSES Para o cientista político MOURA (1994), o novo milênio será marcado por condicionantes que alterarão, consideravelmente, as relações entre os Estados, servindo como argumento para que esses definam suas estratégias de atuação no contexto global. Considerando os efeitos causados por essas situações, passo a nomeá-las como “forças de transformações” que poderão modificar as relações entre os Estados: 5.1 FORÇAS DE GLOBALIZAÇÃO E INTEGRAÇÃO As forças de globalização e integração são vetores de caráter multidimensional que imprimem um novo ritmo e um inédito padrão ao cotidiano mundial, influenciando nos processos econômicos, políticos, sociais e culturais e interagindo em escala global, pois transcendem os limites de nações, reduzem drasticamente as barreiras espaciais e multiplicam os contatos entre os diferentes setores da sociedade internacional. A atuação em âmbito global de tais vetores resultará em uma cultura universal com reflexos negativos à identidade nacional. A interconexão das decisões políticas e econômicas, aliadas à atuação dos novos protagonistas internacionais, incidirá sobre a estrutura dos Estados, ocasionando inevitável prejuízo ao conceito de soberania nacional. A atuação das ONG’s e da mídia nacional e internacional propiciam vários níveis de interferência que se sobrepõem ou contestam as decisões de Estados soberanos, gerando, consequentemente, uma série de conflitos. Nessa conjuntura se incluem os aspectos ligados ao meio ambiente e aos direitos humanos. No Brasil, ambos os casos estão representados, respectivamente, pela floresta amazônica e pelos povos indígenas, assuntos que despertam interesses junto à opinião pública mundial. 21 5.2 FORÇAS DERIVADAS DOS AVANÇOS DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA As forças derivadas dos avanços da ciência e tecnologia são mais conhecidas quanto aos seus efeitos e, certamente, as que mais impressionam os observadores dos fenômenos globais. O mundo atual presencia um vertiginoso avanço da ciência e tecnologia. Segundo previsões de estudiosos, o conhecimento científico duplicar-se-á, renovando-se a cada três anos. Assim, todos os acontecimentos relacionados às questões ambientais e indígenas poderão ser amplamente difundidos e explorados, quer no contexto nacional ou internacional, por meio da mídia, que se encontra muito bem servida pela tecnologia avançada na área de telecomunicações. Tribos isoladas do interior da Amazônia poderão ter suas peculiaridades sensacionalizadas, angariando a simpatia de todo o mundo, a despeito de seus integrantes serem considerados indígenas brasileiros. Da mesma forma, os problemas ambientais relativos à floresta tropical tendem a sensibilizar toda a humanidade, um dos objetivos das forças derivadas dos avanços da ciência e tecnologia. 5.3 FORÇAS AMBIENTAIS Nos últimos anos, incutiu-se na humanidade, a preocupação com a exploração dos recursos naturais e com a preservação do meio ambiente. A questão ecológica assumiu uma colocação de destaque na agenda mundial. O domínio da biodiversidade - presente nas florestas tropicais - e das fontes de água doce são temas sensíveis e polêmicos para serem abordados, pois despertam grandes interesses na comunidade internacional. Esses fatos obrigam os Estados a se comprometerem com o tema e a buscarem a adoção de regras de preservação e de exploração sustentável. A não observância dessas premissas abre precedentes para ingerências externas no controle de recursos naturais, o que agride o princípio da soberania e da autodeterminação dos povos. 22 A autora geopolítica Therezinha de Castro, com a afirmação abaixo, propicia perfeito entendimento da realidade: Sabe-se que foi, em grande parte, com base na desagregação ambiental, que os atuais países ricos se desenvolveram, sendo hoje os grandes responsáveis pelo alto grau de poluição global através da emissão de CO2 e CFC de suas indústrias. Nessas condições eles são vistos, pelos países do “Sul”, como suspeitos, no momento em que se mostram partidários do modelo de desenvolvimento restritivo, mesmo que venha rotulado como sustentável (CASTRO, 1992, p. 57). Apesar disso, com afirmações inconsistentes, os países mais ricos e desenvolvidos imputam a culpa pelos prejuízos causados ao meio ambiente aos mais pobres, alheios ao fato de que seus processos de industrialização, empregados desde meados do século XIX, foram altamente lesivos à natureza, além de destruírem e desagregarem povos nativos e grupos étnicos menos adiantados culturalmente. A atual situação de miséria em que se encontram alguns países da África é um clássico e nítido exemplo do que foi a exploração predatória e a profunda desagregação social, promovidas por nações europeias (particularmente pela Inglaterra) que buscavam o acúmulo de riquezas, em detrimento de populações aborígenes e ao custo de generalizada e extrema desgraça humana. Essas potências apresentam-se como grandes defensoras do meio ambiente, de povos indígenas e de minorias étnicas, inclusive patrocinando e financiando influentes ONG’s para atuarem, pretensamente, nessa direção. Se antes as nações ditas desenvolvidas promoveram a deliberada destribalização da África, hoje pregam, por razões próprias, a radical e nociva tribalização do indígena brasileiro. Estritamente dentro dessa lógica, é lícito, por exemplo, afirmar que o processo de crescimento desordenado de países em desenvolvimento causa grandes danos ao meio ambiente. Esse fato possibilita que Estados e ONG’s promovam intencionais orquestrações e denúncias, até mesmo infundadas, na mídia internacional, acusando as nações que buscam seu progresso de causarem poluição, de destruírem a camada de ozônio, de queimarem suas florestas e de prejudicarem a vida do planeta. O Brasil, pelo fato de exercer a posse de grande 23 parte da maior floresta tropical do mundo, enquadra-se de maneira bastante particular nesse contexto. No entanto, para a respeitada geopolítica brasileira, a valorização do meio ambiente tem, em verdade, outra conotação: Com a crise generalizada da economia na “década perdida” dos anos 80, o meio ambiente passara a ser visto pelo “Norte” como sua saída na venda de tecnologia, enquanto que os do “Sul” se apoiavam no acesso aos cofres dos primeiros. Daí a transformação do meio ambiente no tema indispensável da “Nova Ordem Mundial” [...] (CASTRO, 1992, p. 58). Portanto, decorre-se de tal conjuntura, a intensa atuação de influentes ONG’s e a constante atenção em relação ao meio ambiente, por parte de grandes potências, na Amazônia, região onde a sobrevivência e o desenvolvimento dependem, exclusivamente, da exploração de recursos naturais. 5.4 FORÇAS DE FRAGMENTAÇÃO Ao contrário das forças anteriores, que apresentam determinadas facetas concorrentes ou aglutinadoras, existem outras que se caracterizam por vetores divergentes ou fragmentadores. Tais vetores são chamados de forças de fragmentação, atuando com tal finalidade, representando óbices e dificultando ações governamentais ou decisões de fóruns internacionais, ainda que dentro da legalidade. As forças de fragmentação estão representadas juntas às classes menos favorecidas da sociedade, presentes em todos os Estados. A pobreza global, aliada às crescentes desigualdades entre as diversas camadas sociais favorecem o surgimento, o fortalecimento e a atuação dos referidos vetores. Diferente do que ocorre em outros Estados, no Brasil não se registram casos de minorias formadas por imigrantes estrangeiros. O País absorveu, de forma bastante humana e natural, famílias e cidadãos de outras partes do mundo. No entanto, alguns grupos, manipulados ou não, esforçam-se para serem considerados “excluídos”, alegando discriminação e falta de atenção por parte do Estado e da sociedade. Nesse caso, podendo ser enquadradas, propositadamente, como “minorias étnicas”, apresentam-se as tribos indígenas que, conforme já citado, constituem-se num dos interesses coletivos da humanidade. 24 As manifestações promovidas por indígenas e suas incisivas pretensões de demarcação de reservas são indícios e prenúncios de atuação dos vetores em tela. A demarcação de áreas poderá contribuir para a consecução da primeira etapa para a caracterização de um povo, seguido pelo futuro reconhecimento da referida “nação indígena”. Por último, Organizações Não governamentais ou potências mundiais, por razões próprias, fomentando, patrocinando, aquiescendo ou corroborando com a atuação dos vetores desagregadores, poderão exigir a fragmentação do Território brasileiro, em prol de futuras “novas nações”. Para PIRES (1992, p. 30), as orquestrações internacionais referentes às “nações indígenas” e aos chamados “povos da floresta” (aludindo-se aos brasileiros que vivem do extrativismo, na Amazônia, e em particular, aos seringueiros de Xapuri, no Acre), fazem parte de uma campanha de longo prazo para entorpecer a Nação brasileira em relação aos citados grupos, visando uma futura autonomia ou autogoverno para aqueles segmentos nacionais, com o beneplácito e conforme os interesses de países estrangeiros, enquadrando-se no contexto da atuação das forças em estudo. Uma revelação que merece ser destacada foi proferida na Universidade de Harvard, por um credenciado porta-voz, e publicado na influente revista “Foreign Police”: Estados tamanho Golias - como o Brasil, China, Indonésia e Rússia – enfrentam enormes desafios internos que poderiam resultar em divisões (territoriais) dentro de suas fronteiras no início do próximo século...As nações do ‘novo mundo’ do Hemisfério Ocidental têm-se sentido acomodadas por muito tempo devido à ausência de divisões históricas ou conflitos catastróficos que, sim, golpearam seus antepassados. Mas na época da globalização, o impulso secessionista não reconhece fronteiras geográficas... Existem mais de 550 nações soberanas, de povos indígenas, que exigem seus direitos (CARRASCO, 2003, p. 207). Diante disso, fica evidente a razão pelo interesse de grande número de ONG’s e a desenfreada corrida para demarcações aleatórias e compulsivas de reservas indígenas, particularmente em áreas fronteiriças, e que, comprovadamente, abrigam incalculáveis jazidas de minerais estratégicos. 25 Podem-se citar como exemplos desses interesses: a gigantesca Terra Indígena Raposa Serra do Sol, com 9,4 milhões de hectares demarcados em uma área rica em ouro, localizada no noroeste do estado de Roraima, tendo uma pequena parte no Amazonas, junto à fronteira com a Venezuela; a vasta reserva waimiri-atroari, rica em cassiterita, com 2,5 milhões de hectares, a sudoeste do Estado de Roraima e a terra indígena São Marcos, com 654.110 hectares, ao norte (RICARDO, 2000, p. 295, 296, 335). O General-de-Exército Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, durante os trabalhos da na CPI da FUNAI, esclareceu a situação das terras indígenas no Brasil, quanto às suas extensões: As TI compreendem as seguintes percentagens do território dos Estados amazônicos: no Acre, 12% são terras indígenas; no Amazonas, em torno de 22%; no Amapá, 7,85; no Pará, 20%; em Rondônia, 17,25%; em Roraima, 57,27% e em Tocantins, 7,25%. No mapa fornecido pela FUNAI [...] as nossas terras indígenas eqüivalem ao somatório das áreas da Alemanha, Bélgica, Espanha e Portugal. Sem dúvida nehuma, trata-se de uma expressiva parcela do território nacional entregue aos indígenas, sendo a maior parte (83%), na Amazônia (NEEMA, 1999, p. 13). Essas demarcações no estado de Roraima, bem como em outros Estados dificultam o desenvolvimento de atividades socioeconômicas e atendem, assim, aos princípios malthusianistas dos financiadores das ONG’s, que apregoam a suposta necessidade de manutenção da radical tribalização e da segregação de indígenas, do contínuo e crescente fortalecimento de suas línguas, da alegada preservação incondicional de suas culturas e da promoção de suas pretendidas autodeterminações e do reconhecimento de suas condições de “nações indígenas independentes”. Também se compreende o acentuado interesse de estrangeiros em relação ao “bem estar dos ianomamis”, bem como as incisivas interferências impetradas junto ao governo brasileiro para a demarcação de novas reservas indígenas, para usufruto da vida selvagem, ou de inconfessáveis interesses nocivos ao Brasil e à sua soberania. 26 Também se compreende o acentuado interesse de estrangeiros em relação ao “bem estar dos ianomamis”, bem como as incisivas interferências impetradas junto ao governo brasileiro para a demarcação de novas reservas indígenas. 5.5 FORÇAS DE RUPTURA DA ORDEM VIGENTE As forças anteriormente mostradas sustentam-se em amplas motivações políticas, sociais ou econômicas. As forças de ruptura da ordem vigente são de características diversas e dependem de condições relativas a valores aos quais estão sujeitos todos os seres humanos que vivem em sociedade. Atualmente, há manifestações explícitas em todas as partes do mundo globalizado, de que a humanidade vive uma era conturbada, onde os valores se desvanecem e se desorientam, levando alguns Estados a crises de ingovernabilidade. Com a mudança frequente e radical de valores como família, propriedade, liberdade e soberania, dentre outros, muitos indivíduos ou grupos recusam-se a viver sob convenções consagradas que anteriormente balizavam as sociedades de forma harmônica, embora algumas vezes sob modo mais coercitivo. Observa-se, assim, que tais forças colidem contra a ordem vigente de um Estado constituído, pois, quando atuantes, manifestam-se com ampla divulgação e em desafio ao poder legal, ainda que ocasionalmente, devidamente respaldadas pelo respectivo arcabouço jurídico. São exemplos de atuação dessas forças, motivadas por problemas de natureza histórica ou emergente e com intensidade até então não vista, o narcotráfico, o terrorismo, o fundamentalismo, a proliferação de armas de destruição em massa, a transferência de armamento excedente e tecnologias intangíveis, os nacionalismos remanescentes, os movimentos pela posse da terra, o crime organizado e o contrabando de armas, dentre outras. Trazendo a conjuntura descrita para a realidade brasileira e contextualizando-a no objeto do estudo em questão, tribos indígenas da Amazônia, ao não aceitarem se submeterem à ordem vigente do País e agirem conforme seus interesses próprios, manipulados ou não por ONG’s e apoiados por países poderosos, podem se tornar representantes de forças de ruptura da ordem vigente. 27 6 A MÍDIA A mídia é um poderoso vetor que pode estar a serviço dos mais distintos interesses. Entende-se por mídia como sendo os meios, ou o conjunto de meios de comunicação (jornal, revista, livro, rádio, televisão, etc) empregados para transmitir informações, conhecimentos, notícias, mensagens etc. O jornal, o rádio e a televisão constituem os três principais veículos de comunicação utilizados pela mídia, com penetração em todos os segmentos sociais, em tempo real, no mundo. A mídia exerce papel fundamental na formulação da opinião pública nacional e internacional, capaz de propagar uma determinada “versão” acerca de um fato, formatando-a de acordo com os interesses em jogo. Assim, por vezes, são oferecidas denúncias a respeito de devastações de florestas tropicais e de chacinas de minorias étnicas, temas que despertam o interesse da população mundial. Nessas oportunidades há a possibilidade de um posicionamento que identifique a orquestração internacional que tenha a Amazônia como alvo. Entrementes, a “estratégia do silêncio” é lançada para omitir fatos relevantes de uma instituição que contraria os objetivos da mídia a serviço do “Deus Mercado”. Quando não se denuncia a própria campanha da mídia internacional, contra a Amazônia e contra o Brasil, está se adotando tal procedimento. Essa mesma mídia que tem sido responsável por consideráveis avanços nos campos sociais e no relacionamento humano, também denigre imagem de governos, de instituições e de países, distorce fatos, amplia acontecimentos, inocenta réus, culpam vítimas, colocam populações em pânico e promovem uma total inversão de valores. Por sua vez, a “estratégia da deformação” transmite e potencializa algumas inverdades ou meias verdades, como no exemplo: O Brasil está desmatando e queimando a floresta amazônica e massacrando a população indígena. Por via de consequência, não possui condições de integrar e desenvolver a Amazônia com preservação ambiental e desenvolvimento sustentável (GUARARAPES, 2000). No Brasil, o vice-presidente de um importante conglomerado de comunicações, além de ser membro do “Council of the Américas”, do milionário norte-americano David Rockefeller, é também Presidente do Conselho Diretor do 28 ramo brasileiro da poderosa e influente ONG’s Fundo Mundial para a Natureza (WWF), controlada pela família real inglesa, conforme se atestou em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) destinada a apurar denúncias veiculadas a respeito da atuação irregular de ONG’s (EXECUTIVE INTELLIGENCE REVIEW, 2001, p. 3). O jornalismo nacional não costuma contestar os exageros e as meias verdades publicadas no noticiário mundial, em relação à Amazônia. Além disso, é notório o fato de a mídia brasileira não divulgar os desmandos promovidos pelas ONG’S, no campo das questões ambientais e indígenas, que se conjuram contra o desenvolvimento socioeconômico do País, bem como contra a soberania brasileira. Tais procedimentos buscam esterilizar por completo aquela Região, minimizando ou neutralizando suas atividades econômicas, em nome do “fanatismo ambiental” e da suposta “proteção radical aos indígenas”. Estes procedimentos têm contribuído para a demarcação de gigantescas reservas, normalmente ricas em minerais raros e/ou estratégicos, com a complacência de órgãos federais e de autoridades governamentais. Comprovando a conjuntura, parcialmente descrita, uma revista de circulação nacional elogiou e defendeu a presença de estrangeiros na Amazônia, afirmando que eles podem “governar a área, provavelmente, com melhor senso do que fazem muitos dos políticos locais” e que “essa gente contribui mais para o desenvolvimento do país e da região do que boa parte dos proprietários de terras e instrutores de manobras lotados na área” (COUTINHO, 2004). À luz do verificado, observa-se que a mídia apresenta suas distorções, uma vez que pode estar transmitindo e potencializando notícias tendenciosas, bem como omitindo da população fatos graves e relevantes, com vistas a atender determinados interesses e influenciar a opinião pública de acordo com obscuros e inconfessáveis desideratos, que não passam despercebidos pelos representantes das Forças Armadas, naquela área. 29 7 AS FORÇAS ARMADAS - A CONQUISTA, A POSSE E A MANUTENÇÃO DA AMAZÔNIA Verifica-se, na história, que, graças ao férreo propósito dos luso-brasileiros e aos feitos de grandes personagens de outrora, a Amazônia é, hoje, orgulhosamente, brasileira. Francisco Caldeira Castelo Branco fundou o Forte Presépio em 1616, atual Belém do Pará. Pedro Teixeira destruiu inúmeras fortificações estrangeiras no baixo Amazonas, na primeira metade do século XVII, permitindo a posse e a conquista da área com a expulsão definitiva de invasores ingleses, holandeses e franceses daquela região. Bento Maciel Parente fundou o Cabo Norte, em 1637, atual Amapá. Incluem-se, nesse rol de desbravadores da Região, dentre outros, Manuel da Gama Lobo d' Almada, Francisco Xavier de Mendonça Furtado (irmão do Marquês de Pombal) e Pedro da Costa Favela, que prestaram relevantes serviços à Amazônia. Para MATTOS (1980, p. 64), o primeiro político a conceber uma estratégia para a ocupação da Amazônia foi o poderoso ministro português Marquês de Pombal, que atuou intensamente em meados do século XVIII e que demonstrou grande preocupação em relação à região. Pombal formulou uma estrutura territorial que garantiu presença da soberania lusa, ação política e defesa militar da área, com a construção de fortificações no interior remoto e inóspito da Amazônia, que possibilitaram a vivificação e o povoamento de partes longínquas do território. Nesse contexto, não se pode omitir o importante papel do Marechal Rondon, que contribuiu para a ligação do setentrião norte ao restante do País, integrando comunidades indígenas isoladas do povo brasileiro. Ao longo dos anos, as Forças Armadas, mais particularmente o Exército e os governos militares, foram quem mais atenção dispensou à Amazônia. A criação da Zona Franca de Manaus pelo governo do Marechal Castelo Branco, a abertura de estradas, a ligação aérea entre localidades longínquas, a vivificação de partes estratégicas da faixa de fronteira, a manutenção da integridade e da soberania nacional e a garantia da presença do Estado nos mais recônditos rincões amazônicos são alguns marcos atingidos plenamente, durante o período acima citado. 30 Quando se referem à Transamazônica, esquecem que, ao longo dela, estão as cidades paraenses de Marabá, Itaituba, Altamira e Humaitá, que possuem, hoje, uma população superior a 80.000 habitantes, e que mais de 2 milhões de pessoas gravitam em torno dessa rodovia (NEEMA, 1999, p. 25), o que marca uma efetiva e providencial ocupação da Amazônia por parte dos brasileiros, conforme pretendeu o governo da época em que o empreendimento foi implantado. A Transamazônica (BR 230), as rodovias BR 364 (Cuiabá-Porto Velho), BR 174 (Manaus-Boa Vista) e BR 163 (Cuiabá-Santarém) destacam-se como poderosos agentes indutores da interiorização do desenvolvimento e da integração da Amazônia com o restante do Brasil. O parcial abandono da BR 319 (Manaus-Porto Velho), está prejudicando seu importante papel de ligação e de alavancador de progresso socioeconômico na região. As Forças Armadas constituem-se como a principal guardiã daquela estratégica área do Território Brasileiro, caracterizando-se como num grande obstáculo a qualquer pretensão alienígena que paire sobre a região. Consta que o ex-ministro da defesa dos EUA, Robert McNamara, declarou que os Batalhões de Infantaria de Selva, por maior que sejam suas deficiências, representam a “maior ameaça” contra desejos intervencionistas na Amazônia (FREGAPANI, 2000, p. 118). FREGAPANI (2000, p. 49) lembra, ainda, que um famoso repórter de guerra (Roger Holeindre) escreveu em editorial de dezessete páginas da “Paris Match” que “O Exército Brasileiro era o melhor na selva”. O fracasso das forças dos EUA no Vietnã haveria abalado a autoconfiança dos norte-americanos, o que os teria levado a verificar que seria difícil uma ação militar na floresta amazônica, contrariando o pensamento anterior de que uma intervenção naquela área, por parte dos países mais poderosos, parecia fácil. Desde 1996 até os dias atuais, a Política Nacional de Defesa vem privilegiando a Amazônia, tendo como fulcro o fortalecimento da presença militar na região e a vivificação da faixa lindeira, visando a incrementar a presença do Estado, a resguardar o território nacional e a garantir a inviolabilidade das fronteiras, em tempos de paz e em situações de conflito. 31 A proposição abaixo, de iminente e acatado geopolítico brasileiro, bem define a postura do Exército em relação à defesa da Amazônia: Devemos possuir uma força armada capaz de oferecer uma ameaça a qualquer aventura militar. Capaz de dissuadir, se não pela possibilidade de vitória, pela capacidade de tornar caro, pesado, o ônus da aventura militar. Como conceituou o Gen. Beaufre, nos anos 60, capaz de convencer àqueles que nos ameacem, que pagarão caro, em vidas humanas e em recursos logísticos, à decisão de intervir. Assim, estaremos pela dissuasão estratégica, garantindo a nossa soberania, e evitando (é bem possível) o confronto armado (MATTOS, 1999, p. 3). Assim, o Exército Brasileiro busca estar em condições de enfrentar um inimigo incontestavelmente superior em poder de combate, como já o fez nas históricas Batalhas dos Guararapes, encerrando as pretensões ocupacionistas por parte da Holanda - grande potência mundial no século XVII, que se apresentava com poder militar incomparavelmente maior que o da força de resistência. Nesse sentido, na entrada de todos os aquartelamentos das Grandes Unidades, Unidades, Sub-unidades e Pelotões Especiais de Fronteira destacados do Comando Militar da Amazônia (CMA), por mais longínquas que estejam, existe a inscrição “GUARARAPES, FIZEMOS ONTEM, FAREMOS SEMPRE” e a frase do eminente chefe General-de-Exército Rodrigo Otávio Jordão Ramos, que relevantes serviços prestou à Amazônia: “ÁRDUA É A MISSÃO DE DESENVOLVER E DEFENDER A AMAZÔNIA. MUITO MAIS DIFÍCIL, PORÉM, FOI A DE NOSSOS ANTEPASSADOS EM CONQUISTÁ-LA E MANTÊ-LA”. A soberania nacional na Amazônia é fortalecida, também, pela atuação da Força Aérea Brasileira (FAB), mantendo ligações entre pontos distantes, permitindo a ocupação da região e contribuindo com as ações das demais Forças, bem como pela presença da Marinha do Brasil, percorrendo, incansavelmente, os rios amazônicos com os navios patrulhas fluviais e levando, por intermédio dos navioshospitais, assistência e cidadania às populações ribeirinhas, isoladas e carentes. Faz-se mister ressaltar os relevantes resultados obtidos pelo estratégico Programa Calha Norte (PCN), ainda que não seja um empreendimento exclusivamente militar. O programa, arrojado e multidisciplinar, criado em 1985, fortalece a manutenção da soberania brasileira e a integridade territorial da 32 Amazônia Setentrional, bem como promove o desenvolvimento regional naquela parte do País. Com isso, aumenta a presença do Poder Público na região ao norte do rio Amazonas/Solimões, contribuindo para a defesa nacional, proporcionando assistência às suas populações e fixando o homem à terra (PCN, 2002, p. 1-2). As Forças Armadas são fiéis participantes e executantes do PCN, cumprindo, rigorosamente, as partes que lhes cabem. Portanto, as Forças Armadas possuem inegável tradição, arraigada mentalidade e inabalável ideal amazônico, perpetualizados ao longo do tempo pela constante vigilância e atenção dispensadas à região, sendo guardiãs incansáveis da Amazônia, de suas gentes e de suas riquezas, trabalhando de modo profícuo no presente, com os olhos voltados ao futuro grandioso que cabe ao Brasil. No entanto, as Forças Armadas carecem de maiores recursos orçamentários para o incremento de suas atuações na rica e cobiçada Região Amazônica. Em muitos locais da Região, os militares constituem-se como única presença do Estado brasileiro, impedindo ou minimizando interesses difusos sobre a Região, principalmente de Organizações Não Governamentais. 33 8 OS INTERESSES DIFUSOS DAS ONG’s Para que se entendam os fatos ocorridos no Brasil, em particular na Amazônia, no contexto das questões em estudo, há que se considerar a conjuntura política e econômica na qual o País está inserido, fruto da Nova Ordem Mundial. Assim, seguindo o já evidenciado por alguns autores, identifica-se o chamado Movimento Ambientalista Internacional, poderoso patrocinador das pretensas causas ambientais e indígenas no cenário mundial, que se apresenta com uma nova roupagem para a consecução dos seus objetivos e/ou de seus patrocinadores, as conhecidas Organizações Não Governamentais. Os planos do Movimento Ambientalista Internacional, em relação à Amazônia, enquadram-se em pressupostos geopolíticos previstos para serem alcançados em longo prazo, no sentido de mantê-la o mais isolada, atrasada e despovoada possível. Para isso, impõem-se buscar o seu “congelamento” e a sua esterilização econômica e social, com a finalidade de dificultar, quiçá impedir, o crescimento populacional da região. Agrega-se a esse raciocínio, o desejado controle dos recursos naturais e dos eixos de desenvolvimento e de ligação. A Escola Superior de Guerra (ESG) identificou, como fatores adversos e antagônicos, relacionados às questões ambientais e indígenas na Amazônia, que se interpõem à conquista e manutenção dos Objetivos Nacionais Permanentes, os óbices representados pelo governo próprio em áreas indígenas e pelo ativismo preservacionista. Como pressões dominantes, foram assinaladas a desnacionalização do brasileiro e a preservação radical da cultura indígena, conforme a inserção a seguir: a) Fatores adversos [...] 3) Muitas áreas indígenas – o excesso de áreas e seu espalhamento na região dificulta o isolamento físico e geográfico das questões. O fato de elas serem muito grandes e, em grande parte, localizadas em regiões de fronteira, pode trazer ao problema implicações internacionais, passando este fator adverso a evoluir para nível de pressão antagônica aos interesses brasileiros. [...] a) Antagonismos Como pressões são identificados os seguintes óbices: [...] 34 6) Governo próprio em áreas indígenas - esta é uma permanente tentativa externa de internacionalizar parte da Amazônia, a começar pelos enclaves indígenas, utilizados pelas Organizações Não Governamentais (ONG’s) [...] certamente com, no mínimo, a complacência dos governos onde estão as sedes dessas organizações. [...] Há um certo apoio da mídia nacional e uma parte da área artística e intelectual, nacional, assim como de setores da Igreja e empresas multinacionais, aos pleitos gerenciais dessas ONG’s o que, no mínimo, é muito útil para fortificar o óbice nocivo ao interesse brasileiro. 7) Ativismo preservacionista - sob essa idéia geral, congregam-se variados setores e indivíduos da sociedade nacional e internacional, a partir de movimentos ecológicos e preservacionistas, geralmente nascidos em ONG’s, que ecoam na intelectualidade e no modismo comportamental de pessoas formadoras de opinião no Brasil. Há uma natural mistura de interesses, onde a inocência e pureza de certos idealistas é aproveitada para manter adormecido o potencial amazônico brasileiro. A corrosão psicossocial causada por essa pressão contribui de modo direto para reduzir a liberdade de ação do País no trato dos problemas da Amazônia, já que existe uma ideia preservacionista de quase intocabilidade dos recursos, porque isso danificaria, irreversivelmente, a flora e fauna da Amazônia. Percebe-se, claramente, que a exacerbação dessa pressão, se deixado isto acontecer, irá transformá-la, rapidamente, em pressão dominante capaz de ameaçar Objetivos Nacionais Permanentes que cumpre preservar. Como pressões dominantes, são identificadas as seguintes: Desnacionalização do brasileiro – atenta contra os Objetivos Nacionais Permanentes (ONP), integração nacional, soberania e, por consequência indireta, contra a integridade do patrimônio nacional. Há um movimento internacional difuso, que não se pode, aprioristicamente, atribuir à orquestração ou conspiração de países já desenvolvidos, mas que produz efeitos como se fosse daquele modo, sobre a idéia de internacionalização da Amazônia, a começar pela criação de áreas onde os seus habitantes atuais deixassem de ser submetidos ao controle e ação do Estado Brasileiro, sendo desnacionalizados como cidadãos da Pátria, um primeiro passo para a aceitação geral de “áreas liberadas” politicamente do Brasil com apoio internacional, inclusive o decorrente das ações deliberadas iniciais das ONG’s. O estabelecimento dessas cabeças de ponte políticas, se permitido ocorrer, demandará grande esforço brasileiro para sua eliminação, com provável recurso à guerra, como consequência de um conflito que não se consiga administrar e, última ratio, para redução dessa pressão dominante a um nível aceitável e administrável, que permita a preservação dos ONP ameaçados. 8) Preservação radical da cultura indígena, com aceitação de seu enquistamento no espaço nacional – esta pressão é muito semelhante à pressão número 7, anteriormente citada, e pode produzir efeitos perversos semelhantes, agora pela via de antropologia aplicada, onde se pretende que o interesse internacional prevaleça sobre os Objetivos Nacionais Permanentes de integração nacional, soberania e progresso. A partir dos enquistamentos antropológicos que pressões internacionais tentam impor ao país, será depois possível impor sanções globais ao Brasil, com respaldo num direito internacional que coloque o país na condição de réu nãopreservador de “grupos indígenas em extinção”. Essas ações irão perturbar os ONP, a paz social. Irão negar nossa soberania e, para sua eliminação, poderá ser preciso aceitar sua evolução da questão conflituosa para o estado de guerra (ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA, 1991). 35 O Senado Federal, segundo o relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) destinada a apurar as denúncias veiculadas a respeito da atuação irregular de ONG’S, assim se pronunciou sobre o Movimento Ambientalista Internacional: Foi recentemente, na década de setenta, que se avolumaram os grupos e movimentos ambientalistas organizados naquelas democracias prósperas. Sua pregação de restrição à “produção a qualquer custo ambiental” propagou-se ao resto do mundo. A relevância irretorquível de muitas das questões da “agenda” ambientalista encontrou o caminho da oficialização em políticas governamentais [...]. Entidades oficiais internacionais também adotaram políticas ambientalistas e perspectivas de visão ecológica. [...]. Resulta daí um conflito de valores, que se tenta conciliar por meio do conceito de desenvolvimento sustentável, de ilimitada necessidade de interpretação (BRASIL, 2002, p. 49). CARRASCO (2003) refere-se ao real papel que o movimento ambientalista exerce no mundo e como está sendo usado contra as perspectivas de desenvolvimento de vários países, inclusive com intensa ingerência na soberania destes. Acresce-se que o movimento ambientalista internacional não se enquadra como um fenômeno sociológico natural, resultante de uma aceitação sobre as genuínas necessidades de alinhamento entre as ações humanas e o meio-ambiente. Longe disso, foi criado e vem sendo empregado eficientemente como um óbice contra as perspectivas de expansão econômica e social de todas os povos e países do planeta, particularmente dos menos desenvolvidos. Ressalta, ainda, a atuação agressiva do movimento contra a instituição do estado nacional soberano. Particularmente no Brasil e em seus vizinhos, tal ofensiva tem dificultado sobremaneira a implementação de projetos de infraestrutura imprescindíveis à integração física da América do Sul. A pretendida manutenção da intocabilidade da Amazônia enquadra-se perfeitamente nesse contexto. A Amazônia é o próprio “hinterland” da Ibero-América, sendo essa uma das razões para inviabilizar sua exploração e sua integração com as demais regiões do País e com as nações vizinhas. CARRASCO (2003) destaca, com ênfase, a existência, por trás do movimento ambientalista e sob sua direção, de uma rede internacional de organizações não governamentais, formadas pelas grandes forças oligárquicas mundiais. O autor esclarece que: 36 A década de 80 presenciou a “profissionalização” e a internacionalização do movimento ambientalista brasileiro, registrando as primeiras interferências diretas sobre projetos de desenvolvimento. Começava-se, então, a definir um padrão de atuação que se tornou uma constante, envolvendo uma estreita coordenação de atividades entre ONG’s estrangeiras e brasileiras, governos e mídia estrangeiros e órgãos de financiamento multilaterais (CARRASCO, 2003, p. 145-146). Para SMALL (2000, p. 11), dominam as redes oligárquicas uma elite governante formada por famílias poderosas que existem em forma especial de quase que imortais corporações e companhias. Tais organizações, por meio de grandes fundações pretensamente filantrópicas, modelam o pensamento das universidades e a cultura e controlam instituições e políticas internas e externas de países como a Inglaterra e os EUA. Além da Casa Real inglesa, que lidera as oligarquias, destacam-se, dentre outras, as famílias Ford, Rockefeller e Rotschield, com suas respectivas fundações ditas filantrópicas, mas que, certamente, defende seus mais nobres e estratégicos interesses financeiros e políticos. Na mesma direção, MAGLUF (2000 p. 16, 17) esclarece que a intensa campanha ambientalista contra o Brasil trata-se de uma bem articulada ofensiva dirigida desde os altos escalões do “establishment” oligárquico anglo-americano, cujo objetivo primordial é obstaculizar o pleno desenvolvimento do “hinterland” sulamericano, mantendo toda a região esterilizada econômica e socialmente, com poucas perspectivas de superar o seu atual índice reduzido e insuficiente de desenvolvimento. Coloca, ainda, que: A atual ofensiva ambientalista, coordenada pelo aparato de Organizações Não Governamentais que gravita ao redor do Fundo Mundial Para a Natureza (Wold Wide Fund For Nature-WWF) e outras entidades diretamente vinculadas à Casa de Windsor, é parte da estratégia global daqueles círculos de poder para impor a todo o mundo um esquema de “governo mundial” de caráter malthusiano, para o qual o virtual congelamento do desenvolvimento econômico nos níveis atuais representa um requisito fundamental (MAGLUF, 2000, p. 17). CARRASCO (2003, p. 37) alega que o ambientalismo e o indigenismo foram, propositadamente, disseminados na sociedade pelos chamados “engenheiros” e “arquitetos” sociais das instituições de pesquisas a serviço das oligarquias anglo- 37 americanas, da mesma forma que os chamados movimentos de contracultura. Nesse sentido, a promoção das drogas, do sexo e do “rock” foi introduzida sob o rótulo do pacifismo entre os jovens revoltados contra a Guerra do Vietnã, funcionando como um catalisador de oportunidade para a promoção da “mudança de paradigma cultural”. O Instituto Tavistock, de Londres, é apontado como uma das instituições que proporcionam suporte à realização das referidas pesquisas. A finalidade da “engenharia social” é moldar crenças e padrões de comportamentos de grupos para facilitar o seu controle pelas classes detentoras do poder econômico e político. Algumas destas instituições consideram, em seus propósitos, a eugenia, que é entendida como o estudo das condições mais propícias à reprodução e melhora da raça humana. O autor alerta sobre os planos estratégicos e hegemônicos de alguns segmentos do chamado “establishment” oligárquico internacional, especialmente o seu componente anglo-americano, para instrumentalizar o movimento ambientalistaindígena, com o intuito de impor um sistema de soberania limitada sobre certos países ricos em recursos naturais, em particular o Brasil, considerado como alvo preferencial das ações, por ter a posse legal da Amazônia. Para o autor, o ambientalismo e o indigenismo, na verdade, tratam-se da velha geopolítica britânica, redesenhada com estas novas roupagens pelos “engenheiros sociais” do “establishment” oligárquico anglo-americano. Complementando a idéia, cabe a seguinte afirmação: O projeto oligárquico anglo-americano é debilitar todos os vínculos de integração nacional, ao mesmo tempo em que dificulta a existência humana na Amazônia, criando as condições simultâneas de despovoamento na região e desintegração nacional (CARRASCO, 2003, p. 28). Para CARRASCO (2003, p. 40-42), a riqueza humana, segundo concepção oligárquica, provém da terra e de seus recursos (propositadamente considerados como sempre escassos) e da capacidade de “comprar barato e vender caro”. Assim, a instrumentalização do ambientalismo é utilizada como uma eficiente arma política do arsenal oligárquico, com três finalidades, que serão apresentadas de maneira resumida. 38 A primeira é fazer com que pessoas educadas aceitem, sem questionamentos, a subordinação das políticas de desenvolvimento à proteção da natureza. A ciência e a tecnologia passam a ser consideradas como “inimigas do meio ambiente”. O ex-vice-presidente dos EUA, Gore, afirma que a intenção é colocar o meio-ambiente no centro da organização da sociedade humana (CARRASCO, 2003, p. 40). A segunda finalidade é manipular os argumentos de proteção ambiental para justificar o estabelecimento de estruturas legislativas de “governo mundial” e de quebra do conceito de soberania, baseada em pressupostos de que os problemas ambientais não reconhecem fronteiras. Nesse sentido, verifica-se a aprovação do Protocolo de Montreal e suas atualizações, como o Protocolo de Kyoto - o qual o atual governo dos EUA recusa-se a cumprir - sem a menor justificativa científica e com proposições falaciosas, mas prega a proteção da camada de ozônio. Por fim, a terceira finalidade é a manipulação direta dos argumentos ambientais ou étnicos, para obstaculizar projetos de desenvolvimento, particularmente no setor de infraestrutura, como é o caso da campanha contra as hidrovias brasileiras e contra os grandes empreendimentos governamentais previstos na Amazônia. Não obstante, o Congresso Nacional relaciona a atuação de ONG’s com a soberania e com o desenvolvimento do Brasil, segundo a colocação abaixo: Tomemos, por exemplo, as ONG’s indigenistas. [...] passamos hoje a um excesso passional de proteção mal balanceado, sob o qual são preteridos direitos de outras populações, bem como aspectos graves da segurança e soberania nacional e o direito da sociedade brasileira ao desenvolvimento econômico. Esses conflitos, que não têm encontrado o caminho para um debate democrático adequado, se dão na questão da demarcação de terras indígenas e no frequentemente exagerado e suposto prejuízo de populações indígenas em face de grandes obras públicas [...] O objetivo nacional do desenvolvimento econômico choca-se frequentemente com a atuação das ONG’s ambientalistas. Eram raros os casos em que chegavam à imprensa de âmbito nacional notícias de atrasos e bloqueios de importantes empreendimentos, especialmente obras públicas, provocados por ONG’s influentes, em ação que segue um modelo internacional de intransigência e uma monovisão infensa aos interesses mais diversificados da sociedade. Ação inflexível que, por falhas em nossa legislação, acabam por encontrar apoio no Judiciário, no contexto da “indústria de liminares”, acarretando para o País prejuízo econômico e social de imensas proporções [...] Ora, o prejuízo para a sociedade brasileira, com o bloqueio imposto a esses empreendimentos, é de centenas de milhões de reais por 39 ano, além da multidão de empregos que deixam de serem criados, diretos e indiretos, temporários e permanentes. São afetados não só Mato Grosso, a região Centro-Oeste e a região Norte, mas o Brasil (BRASIL, 2002, p. 5455). Outra assertiva ilustra o raciocínio em análise, trazendo revelações importantes: A região amazônica é especialmente sensível a todas essas contradições, conflitos e dificuldades. Lá, a frágil presença do Estado torna ainda mais grave a questão da falta de controle sobre as ONG’s. Na região Norte, como é natural, é muito forte a ideologia desenvolvimentista, pelo descompasso que há entre sua situação e a de regiões mais prósperas do País, e diante da consciência dos enormes potenciais e riquezas que encerra a Amazônia. É viva, também, na região, a percepção de sua importância estratégica e das questões que envolvem segurança e soberania nacionais. Ora, as ONG’s irrompem nesse caldo de cultura munidas de um arsenal ideológico totalmente conflitante com as aspirações das populações locais. As ONG’s querem maximizar, não o desenvolvimento econômico social sustentável, mas as áreas de proteção indígenas e ambientais. Como filhas ideológicas do pós-moderno dos países ricos, que implica o enfraquecimento do Estado e das soberanias nacionais, são insensíveis ao sentimento patriótico e trazem, mesmo, consigo, o germe das teses de internacionalização da Amazônia brasileira. [...] O caso da hidrovia Araguaia-Tocantins deve ser destacado. Lá, conforme exige a lei, foi produzido, por um conjunto de especialistas, um relatório ambiental que favorecia a execução do empreendimento, já que os impactos negativos do projeto são reconhecidamente levíssimos. A ONG’s brasileira que batalhava pelo seu bloqueio conseguiu anular esse relatório e produzir recomendação oposta, subscrita praticamente pelos mesmos signatários do documento inicial. Para isso, índios foram subornados para dizerem que são o que não são e que habitam onde não habitam. Quanto aos especialistas, foram pressionados profissionalmente, sob ameaça implícita de não mais ganharem contratos de prestação de serviço para aquela e outras ONG’s, numa escandalosa ação de suborno de consciências. É lícito supor que a própria ONG’s teve de recorrer a essa malévola truculência sob a ameaça de, caso não conseguisse bloquear o projeto, perder o financiamento que recebe do exterior (BRASIL, 2002, p. 61-63). À luz das ideias acima apresentadas, verifica-se que o Movimento Ambientalista Internacional, sob a égide da “preservação ambiental” e da “proteção aos indígenas”, vem atingido seus objetivos de esterilizar o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia, contribuindo para mantê-la praticamente desocupada, despovoada, sem a presença do Estado e não integrada às demais regiões brasileiras. Dessa forma, fica caracterizada uma ameaça à soberania nacional, uma vez que o Brasil tem dificuldades para implantar seus projetos governamentais naquela 40 estratégica região. Além disso, tais aspectos críticos tornam-se potenciais riscos para a integridade territorial, especificamente no que diz respeito à Amazônia. 8.1 ORGANIZAÇÕES DO MOVIMENTO AMBIENTALISTA INTERNACIONAL E SUAS ATUAÇÕES CARRASCO (2003, p. 26) afirma que as ONG’s foram elevadas ao seu atual “status” por obra da restruturação das Nações Unidas, iniciada e consolidada, respectivamente, na gestão de dois secretários-gerais considerados como “notórios agentes de influência da oligarquia britânica”. A denominação de Organização Não Governamental foi cunhada pela Fundação da Comunidade Britânica (Commonwealth Foundation), nos anos 60. O autor identifica uma poderosa estrutura, nucleada ao redor de uma “cabala oligárquica” de famílias estadunidenses, britânicas e canadenses que coordena todo o aparato ambientalista-indigenista mundial. A transcrição abaixo torna-se importante para o entendimento do estudo em questão: O poderio desta cabala pode ser aquilatado pelo seu controle efetivo sobre o Banco da Inglaterra, o Sistema de Reserva Federal, o Banco de Compensações Internacionais (BIS), as grandes casas bancárias, financeiras e seguradoras da Europa e da América do Norte, os grandes cartéis de alimentos, matérias-primas e recursos energéticos, os grandes conglomerados de mídia e as principais organizações do sistema das Nações Unidas (Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial, Organização Mundial de Comércio, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, etc.). Em sua cúpula, esse conglomerado oligárquico se autodenomina “Clube das Ilhas”, em homenagem a Eduardo VII, cognominado “Príncipe das Ilhas”. O “Clube das Ilhas” criou, financia e dirige a gigantesca máquina de propaganda e intervenção política representada pelas ONG’s ambientalistas, das quais as primeiras foram a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), fundada em 1948, e o WWF, criado em 1961 pelos príncipes Philip da Inglaterra e Bernardo da Holanda. O financiamento do aparato ambientalista provém de uma vasta infraestrutura constituída de mais de 1000 fundações familiares oligárquicas da América do Norte e da Europa, além de doações de empresas privadas e agências governamentais dos EUA, Canadá, Inglaterra e outros países (CARRASCO, 2003, p. 27). Para coordenar o aparato das ONG’s, foi criado, em 1961, o “World Wildlife Fund” (WWF-Fundo Mundial para a Vida Selvagem), atualmente “World Wide Fund 41 for Nature” (Fundo Mundial para a Natureza). O autor considera o WWF como o “manto verde do colonialismo”. Entre os fundadores da organização destacam-se o príncipe Philip, consorte da rainha Elizabeth II, um lorde consultor científico do governo britânico, um exchefe do Estado-Maior do Reino Unido e um ex-comandante-geral do Exército britânico. Observa-se, pois, a presença de importantes personalidades militares ligados ao órgão máximo do ambientalismo-indigenismo mundial. Para financiar as atividades da organização, foi criado o “1001 Nature Trust” (Fundo 1001 para a Natureza), mais conhecido como “Clube 1001”, integrado por 1001 componentes especialmente convidados, selecionados entre membros das casas reais europeias, executivos de grandes corporações e bancos do “establishment” oligárquico. Cada um dos convidados paga uma taxa de admissão de 10.000 dólares. Os recursos arrecadados servem para financiar os mais variados propósitos, entre os quais a preservação do índio, suas tradições e culturas. Todavia, observase o paradoxo inerente à luta de ONG’s estrangeiras para a manutenção de indígenas em seu estado natural, semelhante a um “zoológico humano”, negandolhes o direito à evolução, à cidadania, à integração e à miscigenação na permeável sociedade brasileira: Podemos afirmar que o cerne do problema não é a preservação do índio e de suas tradições. Nenhuma das ONG’s parece se preocupar com as culturas hutu ou tutsi em Ruanda ou balubas e basutos em Catanga. Lá a tônica é a destribalização. Também não há interesse pela preservação da cultura dos miskitos da Nicarágua, ou aimarás da Bolívia ou mesmo pelos índios das pequenas reservas de São Paulo ou do Rio Grande do Sul. A imprensa do mundo inteiro deplorou o isolamento dos negros nos bantustans da África do Sul, idêntico ao das reservas indígenas por cuja efetivação propugna. Acontece que os índios da Amazônia vivem sobre um subsolo riquíssimo. Quando os defensores incondicionais das culturas nativas falam no prejuízo que uma estrada de 40 Km causa à reserva dos atroaris, leia-se que a exploração da cassiterita no Pitinga está pondo em cheque o cartel mundial do estanho. Quando falam na necessidade de uma grande reserva para preservar a cultura ianomami, não é bem isso que querem preservar, mas provavelmente é o preço internacional do ouro, que cairá violentamente quando forem exploradas as imensas jazidas daquelas serras. Cabe lembrar que os ianomamis parecem não ser autóctones mas migrantes do Caribe e os macuxis (leia-se diamantes), migrantes da Guiana, onde na época que os britânicos nos arrancaram um pedaço do território, preferiram apoiar o estrangeiro. Disto não falam os antropólogos ao defender os direitos sobre “terras imemoriais”. O fato é que a 42 demarcação das reservas pela FUNAI costuma ser precedida pelas pressões das ONG’s e das falsas missões religiosas, sempre após a descoberta de jazidas minerais. Assim, as reservas indígenas têm crescido extraordinariamente na Amazônia. Por portarias e decretos têm sido sucessivamente ampliadas. A reserva dos atroaris, rica em cassiterita, dobrou de tamanho nos últimos anos. A dos macuxis, recheadas de diamantes, aumentou duas vezes. A reserva dos ianomamis, riquíssima em ouro, cassiterita e fosfato, aumentou cinco vezes. Em 1979 eram dois milhões de hectares. Em 85, passou para sete milhões e na demarcação definitiva, em 1990, atingiu a mais de 9 milhões de hectares, mais ou menos o tamanho de Portugal ou do Estado de Santa Catarina, tudo para uma população menor que a de duas superquadras de Brasília. (FREGAPANI, 2000, p. 86-87). Não obstante, CARRASCO (2003, p. 75-78) identificou o que chamou de “ordem de batalha” do Movimento Ambientalista Internacional. O WWF, a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e o “Clube 1001” integram o “Estado-Maior”, diretamente vinculado aos círculos mais elevados do “establishment” oligárquico reunido no chamado “Clube das Ilhas”. Inicialmente, o “comando operacional e logístico”, no qual as diretrizes são transformadas em planos de ação, envolvem tanto governos nacionais como ONG’s, onde se encontram: - entidades das Nações Unidas envolvidas com a questão ambiental, como o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), a Organização Meteorológica Mundial (OMM), etc; - o “Clube de Roma”, que coordena as atividades de uma série de organizações internacionais encarregadas da difusão da ideologia malthusiana dos “limites ao crescimento”. O “Clube de Roma” foi criado em 1968, resultando diretamente das deliberações das conferências da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). - o Instituto Tavistock, responsável pela elaboração dos programas de “engenharia social” (ou “arquitetura social”) para tornar o ambientalismo socialmente aceitável; 43 - organizações de inteligência como o “World Resources Institute” e o “Worldwatch Institute”; - o aparato de financiamento dos programas, das ONG’s e da formação dos quadros especializados necessários, integrados por agências de ajuda internacional de governos, de fundações familiares e de uma rede de empresas. Dentre as agências governamentais, destacam-se a dos EUA (“Agency for International Development”- Agência para o Desenvolvimento Internacional dos EUA - USAID), a da Grã-Bretanha (“Department for International Development” – Departamento para o Desenvolvimento Internacional – DFID, o antigo poderoso Gabinete Colonial Britânico) e a do Canadá (“Canadian International Development Agency” – Agência Canadense para o Desenvolvimento Internacional - CIDA). Apesar de embutirem a palavra desenvolvimento em seus nomes, todas as agências financiam, com recursos de seus governos, ONG’s, projetos e campanhas que acabam por obstruir o desenvolvimento do Brasil. As fundações familiares que mais se destacam são a “Ford Foundation”, “Rockefeller Foundation”, “MacArthur Foundation”, “W. Alton Jones Foundation” e “Pew Charitable Trust”. Quanto à rede de empresas, sobressaem-se as de minerais e metais “Rio Tinto Zinc”, “Anglo-American Corp”, “Brascan/Noranda”, “Barrick Gold”, “RTZ” e “N.M. Rothschild”; as de petróleo, gás e carvão “Royal Dutch Shell”, “British Petroleum”, “Hansan Trust” e “Enron” e as de alimentos “Cargill”, “Unilever”, “Cadbury”, “Archer Danieis Midland” e “Grand Metropolitan (Pillsbury)”. Segundo o autor, a Casa de Windsor, o “Clube das Ilhas” e a “Hollinger Corporation” têm ascendência sobre as nomeadas empresas. A “Hollinger Corporation” é um conglomerado de imprensa que controla mais de 150 jornais e revistas da Grã-Bretanha, do Canadá, dos EUA, de Israel e da Austrália. Por essa e demais razões já apresentadas, o autor definiu a Inglaterra como sendo a “cabeça da hidra verde”. As mineradoras britânicas particularizam-se e ressaltam as campanhas e as intensas pressões internacionais contra a soberania brasileira relacionada à criação da Reserva Ianomami e Terra Indígena Raposa-Serra do Sol, ricas, respectivamente, em ouro e em diamantes. Com isso, a causa ambiental e indígena 44 corresponde, intrinsecamente, ao controle sobre os minerais, pois impede sua exploração pelos brasileiros e assegura a lei da oferta e da procura no competitivo comércio mundial. Relacionando a ocorrência de jazidas minerais com terras indígenas, na Amazônia, LESSA (1999), afirmou que: Veja-se que o total de áreas reservadas, incluindo corredores ecológicos, áreas de proteção ambiental e terras indígenas, ocupa expressiva parte da Amazônia. Se sobrepusermos na projeção [...] as riquezas do subsolo, simbolicamente representadas por círculos coloridos, vejamos que, “como não poderia deixar de ser” a grande maioria dessas riquezas, dos nossos recursos minerais, encontra-se nessas áreas reservadas. Como, pois, com tais problemas, explorar as riquezas nessas áreas? (NEEMA, 1999, p. 14). Passado o “Estado-Maior” e o “Comando Operacional e Logístico”, será apresentado o “terceiro escalão” do Movimento Ambientalista Internacional, integrado pelas “tropas de choque”, representadas pelas ONG’s de “ação direta”. Estas, por sua vez, podem ser subdivididas em dois grupos. As ONG’s “The Nature Conservancy”, “Environmental Defense Fund”, “Conservation International” e “Natural Resources Defense Council”, dentre outras, compõem as chamadas “organizações respeitáveis”. As organizações radicais, que geralmente protagonizam as ações de grande impacto propagandístico, estão representadas, dentre outras, pelo “Greenpeace”, pelo “Friends of the Earth” (Amigos da Terra), e pela “Survival International”. Entre estas, os níveis de radicalismo vão crescendo até chegar às organizações prototerroristas e às abertamente terroristas. No primeiro subgrupo estão, entre as demais, a “Earth First!” (Terra Primeiro!) e o “Lynx” (Lince), acusado de desfechar uma série de ataques à bombas contra lojas de departamentos londrinas que comercializavam peles de animais. Já as ONG’s “Unabomber”, “Earth Night Action Group” e “Earth Liberation Front”, juntamente com suas similares, enquadram-se entre as abertamente terroristas. SMALL (2000, p. 224) cita a “Anti-Slavery International” (ASI – Internacional Antiescravagista) como a mais antiga organização de direitos humanos do mundo. A ASI foi fundada em 1787 e auxiliava os ingleses a combaterem o tráfico de escravos, após tal atividade ser contrária a seus interesses econômicos. 45 CARRASCO (2003) apresenta com mais detalhes, algumas das mais importantes ONG’s que atuam no cenário mundial, com claras repercussões para o Brasil e para a Amazônia. A “Friends of the Earth” (FoE – Amigos da Terra) está ligado ao início do movimento ambientalista dos EUA e foi criado na celebração do primeiro “Dia da Terra”, em 22 de abril de 1970. Foi a primeira de uma série de novas ONG’s que foram instituídas com o apoio das elites malthusianas e que desempenharam importante papel na difusão da ideologia ambientalista. O fundador da FoE francesa foi nomeado Ministro de Meio Ambiente de François Mitterrand, cujo pensamento ambientalista pode ser resumido por sua declaração perante a Conferência de Haia, em abril de 1989, de que “o Brasil deveria renunciar a parcela de sua soberania sobre a Região Amazônica”. Voltando ao FoE, verifica-se que sua diretoria tem contado com personalidades ligadas à membros da Família Real britânica, ao “Clube de Roma”, ao alto escalão do “establisment” oligárquico internacional e à organização “Earth First”. Desde sua fundação, a organização tem se mantido, fundamentalmente, com contribuições das grandes fundações “filantrópicas” dos EUA. No Brasil, os “Amigos da Terra” atuam em coordenação com o Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), de Brasília e com a “International Rivers Network” (IRN), integrante da Coalizão Rios Vivos, organização constituída por cerca de 300 ONG’s lideradas pelo WWF, que promovem, em sinergia, esforços para as campanhas contra as hidrovias, atitude contrária aos interesses nacionais, pois contribui para a não integração completa da Amazônia com o restante do País. A Coalizão Rios Vivos, por intermédio de seus integrantes, recebe recursos do Governo da Holanda, oriundos do Ministério da Cooperação Internacional e da ONG’s “Both Ends”, mantida pelo Governo e pela seção holandesa do WWF. Dos EUA, as doações provêm das Fundações “C.S. Mott” e “W. Alton Jones”. Registrase que a Holanda alterou profundamente a natureza para aumentar seu espaço físico, o que valeu a seus habitantes cunharem a frase “Deus criou o mundo e os holandeses a Holanda”. No entanto, agora, alegando questões 46 ambientais, financiam ações que buscam impedir o desenvolvimento de outros países, particularmente o do Brasil. A IRN foi fundada em 1985, criada por um dos mais radicais ambientalistas dos EUA. A organização foi destacada para coordenar múltiplas ações contra grandes projetos hidráulicos mundiais. Para a campanha contra as hidrovias, a IRN, a partir de 1994, passou a contar com vultosas doações da Fundação “W. Alton Jones”, dos EUA, que somaram mais de 360 mil dólares nos cinco anos seguintes. Apesar de suas atuações contrárias aos interesses desenvolvimentistas do País e à soberania nacional, em maio de 1994, o presidente Fernando Henrique assinou um decreto autorizando-a a abrir um escritório de representação no Brasil, com o alegado propósito de “promover a conscientização do público quanto ao manejo e proteção de fontes de água doce”. A Associação Amazônia foi fundada em 1992 para criar a Reserva Ecológica Xixuaú-Xiparinã (cuja compra foi financiada por um duque italiano), situada na margem direita do rio Jauaperi, divisor dos estados do Amazonas e de Roraima. Possui vínculos com a Cruz Verde Internacional, fundada, para impulsionar a criação dos “Capacetes Verdes”, uma pretendida força paramilitar de intervenção rápida, no âmbito da ONU, para enfrentar crises e emergências ambientais. A Associação Amazônia, em 1999, foi objeto de CPI conduzida pela Assembleia Legislativa de Roraima. Também esteve sob investigação da CPI das ONG’s, concluída em 2002, onde apurou-se que um de seus sócio-fundadores foi condenado na Suécia em 1982, por envolvimento com drogas e agravantes, o que ocasionou sua expulsão daquele país (BRASIL, 2002, p. 66). A “Canadian International Development Agency” (CIDA – Agência Canadense para o Desenvolvimento) é uma instituição mantida pelo Governo do Canadá, ligada diretamente ao Parlamento por intermédio do Ministro das Relações Exteriores. Desde a década de 80, a CIDA tem financiado diversas ONG’s ambientalistas e indigenistas brasileiras. Um resultado direto da Conferência de Estocolmo foi a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). A Conferência das Nações Unidas para o Ambiente Humano introduziu a temática ambiental no cenário das 47 relações internacionais e abriu precedentes para a elaboração de tratados em escala mundial, que se tornaria uma das características do impulso ambientalista. O WRI foi fundado em 1982, pelo então presidente da WWF dos EUA, com financiamento da “Fundação MacArthur” e da “Rockefeller Brothers Fund” (Fundo dos Irmãos Rockefeller). O Instituto pode ser considerado como uma das principais “centrais de inteligência” dos grupos ambientalistas estadunidenses, tendo profundos vínculos com as agências de inteligências anglo-americanas. Seu primeiro presidente, após permanecer onze anos no cargo, passou a presidir o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Entre os demais membros do conselho diretor do Instituto destaca-se Robert McNamara, expresidente da Fundação Ford e do Banco Mundial, e ex-secretário de Defesa dos EUA; além de um brasileiro ex-presidente da Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA), membro da Comissão Brundtland e professor do Departamento de Ecologia da Universidade de São Paulo. No início dos anos 90, o WRI foi a primeira entidade a apontar, falaciosamente, o Brasil como um dos principais responsáveis pela emissão de carbono que está contribuindo para o chamado aquecimento global, devido ao pretenso “desmatamento da Amazônia”, a despeito do lançamento, na atmosfera, de grandes quantidades de poluentes por parte dos países ditos desenvolvidos. O Centro Brasileiro de Referência e Apoio Cultural (CEBRAC) foi fundado em 1986, em Brasília, por um dos mais antigos articuladores da campanha contra a hidrovia Paraguai-Paraná. O Centro possui vínculos com a ONG’S holandesa “Both Ends”, mantida pelo governo e pela filial flamenga da WWF. Em março de 2000, a referida organização – patrocinada pelo WWF, secundado pelo Instituto Socioambiental (ISA), pela “International Rivers Network” (IRN), pela Coalizão Rios Vivos e por outras ONG’s que aparecem para atenuar o cunho eminentemente geopolítico da empreitada – foi comissionada para elaborar um trabalho contra a hidrovia Araguaia-Tocantins, estratégico eixo de integração da Amazônia com as demais regiões do País. A Fundação Nacional para a Democracia (NED) é uma organização mantida pelo Governo dos EUA e dirigida pelo congresso deste país, cujo objetivo é fomentar 48 a agenda neoliberal em todo o mundo. Sua existência foi revelada por ocasião do chamado “escândalo Irã-Contras”, operações que envolveram trocas de armamentos por drogas com os rebeldes antisandinistas “Contras” da Nicarágua. Verifica-se assim, mais uma vez, ligações entre o ambientalismo-indigenismo com outros propósitos. Outra organização mantida pelo Governo dos EUA é a “Agency for International Development” (Agência para o Desenvolvimento Internacional dos EUA - USAID). A entidade liberou entre 4 a 8 milhões de dólares, destinados ao desenvolvimento de atividades florestais “ambientalmente sustentáveis” e afins, onde se incluem especificamente a Amazônia e o cerrado. Usualmente, as ONG’s beneficiárias destas quantias têm sido o WWF-EUA, a “The Nature Conservancy” (TNC), a “Conservation International” (CI) e o “Woods Hole Research Center” (WHRC), cuja filial brasileira é o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM). A USAID cita, textualmente, que entre seus objetivos está a orientação e o apoio técnico às ONG’s locais que, segundo a agência, estão crescendo e assumindo papel de liderança em nível estadual e federal e, como consequência, contribuindo para o surgimento lento de uma mudança de atitudes nos mais conservadores escalões do governo brasileiro, reconhecendo, com isso, a eficácia das abordagens de parcerias participativas da agência em questões ambientais. Uma das metas estabelecidas para o Brasil foi o aumento da quantidade de “profissionais treinados em meio ambiente”, passando de zero em 1991 para 1.500 em 1999 (CARRASCO, 2003, p. 123). O “Department for International Development” (Departamento para o Desenvolvimento Internacional – DFID) é o sucessor da “Overseas Development Administration” que, por sua vez sucedeu ao antigo “Colonial Office”, órgão responsável pela administração das colônias ultramarinas do Império Britânico. O governo britânico confere grande importância ao DFID, uma vez que importantes personalidades são destacadas para a condução do referido Departamento. O Conselho Mundial de Igreja (CMI) está sediado na Suíça e foi fundado em 1937. É integrado pela Igreja Anglicana (cujo chefe é o monarca da Grã-Bretanha) e 49 por outras igrejas protestantes. A Igreja Católica, apesar de não integrá-lo, envia representantes para as suas reuniões. Observando as diretrizes do Conselho Mundial de Igrejas Cristãs, verifica-se que suas posições atingem e afrontam, gravemente, o conceito de soberania nacional, quando afirmam que: A Amazônia total, cuja maior área fica no Brasil, mas compreende também parte dos territórios da Venezuela, Colômbia e Peru, é considerada por nós como um patrimônio da humanidade. A posse dessa imensa área pelos países mencionados é meramente circunstancial [...] É nosso dever: defender, prevenir, impedir, lutar, insistir, convencer, enfim esgotar todos os recursos que, devida ou indevidamente, possam redundar na defesa, na segurança, na preservação desse imenso território e dos seres humanos que o habitam que são patrimônio da humanidade e não patrimônio dos países cujos territórios, pretensamente, dizem lhes pertencer (BARRETO, 1995, p.188). Identificam-se incisivas ameaças à soberania nacional, por parte das ações exemplificadas no texto acima, particularmente quando se tem a percepção da condução de ingerências de agentes externos na definição das políticas públicas da Nação, por vezes favorecidos e auxiliados por brasileiros mal informados ou mal intencionados, que ocupam funções governamentais de relevância. O CMI e sua rede de ONG’s associadas têm financiado ativamente o aparato internacional de “direitos humanos”, apoiando, inclusive, de modo bastante ativo, o já mencionado Exército Zapatista de Libertação Nacional. Uma das funções do CMI é coordenar, mundialmente, as ações dos seguidores da Teologia da Libertação, que propõe igrejas autóctones indígenas pagãs. A “The Nature Conservancy” (TNC) é a maior e a mais rica organização ambientalista dos EUA. Foi fundada em 1951 e sua especialidade é realizar grandes lucros em operações suspeitas de compras de imóveis particulares para, em seguida, revendê-los a órgãos oficiais para fins de conservação ambiental. A entidade possui um considerável conjunto de ativos e conta com quadros profissionais de alto nível, que se dedicam, em tempo integral, à promoção e organização de uma miríade de ONG’s ambientalistas em todo o mundo, com o 50 propósito declarado de impedir o desenvolvimento de projetos industriais e de infraestrutura. Entre as demais empresas que têm contribuído regularmente com a TNC destacam-se a “Dow Chemical”, a “Exxon”, a “British Petroleum”, a “Enron”, a “CocaCola”, a “Du Pont”, o “J. P. Morgan Bank”, a “Philip Morris”, a “Boeing” e a “Eastman Kodak”. Existem vários outros movimentos ambientalistas, muitos destes são dominados por uma elite governante representada pelas forças oligárquicas mundiais e por famílias poderosas que existem em forma especial de quase que imortais corporações e companhias, que exercem o controle direto, tanto político quanto financeiro, sobre a vasta rede internacional de ONG’s que tão intensamente atuam sobre a Amazônia. Os referidos grupos, por meio de grandes fundações pretensamente filantrópicas, modelam o pensamento das universidades e a cultura, bem como controlam instituições políticas internas e externas de poderosas nações. A demarcação da gigantesca reserva ianomami, área extremamente rica em ouro, localizada na fronteira com a Venezuela, foi um clássico exemplo de pressão externa (por parte da Inglaterra e dos EUA) e de clara ameaça à soberania nacional, incrementada pelas circunstâncias que envolveram a questão, como a falta de informações precisas quanto à localização e ao efetivo de indígenas -que foi superdimensionado - a inclusão de malocas de diferentes etnias, generalizadas, providencialmente, como ianomamis e o envolvimento de importantes jazidas minerais no interior da reserva. Os dirigentes políticos e o povo brasileiro não pode se esquecer de que, quando o País não possui liberdade de ação para a resolução de seus problemas internos nem para a condução, de forma autônoma, de seu destino, é prenúncio de que sua soberania encontra-se ameaçada. 51 9 CONCLUSÃO Ao longo do presente trabalho, particularmente à luz exposição dos cenários, artificialmente apresentados pelas Instituições, ONG’s e outros organismos ficaram peremptoriamente demonstrado ameaças à soberania nacional representadas pelas questões ambientais e indígenas na Amazônia. A Amazônia, pelas potencialidades que oferece pela sua posição geoestratégia privilegiada, pelo grande anecúmeno que apresenta e a abundância de recursos minerais (inclusive hídricos) e em biodiversidade, naturalmente desperta a cobiça internacional, assim se constatando desde o início do século XVI. Atualmente, os conceitos de globalização, de soberania relativa, de dever e de direito de ingerência e de intervenção, de proteção de minorias étnicas, particularmente de povos indígenas e de preservação do meio-ambiente moldam as relações internacionais. Contribuindo com a conjuntura descrita, bem como instrumentalizando-a, inúmeras ONG’s atuam descontroladamente, praticando atitudes contrárias aos interesses nacionais, buscando substituir o Estado e ocupar seu espaço, interpondose às suas ações, mediante recursos judiciais ou por outros meios, e questionando suas decisões, notadamente atendendo aos interesses de seus financiadores, ao que tudo indica, estrangeiros. Constatou-se, ainda, a ocorrência de condução de ações típicas de guerra irregular, promovidas por algumas das mencionadas entidades. Para isso, valem-se do ambientalismo-indigenismo a fim de imporem dificuldades ao povoamento e à efetiva integração da Amazônia, criando condições favoráveis a um futuro desmembramento desse território. Nesse sentido, as causas ambientais e indígenas são eficazmente manipuladas para dificultarem a construção de hidrovias, gasodutos, instalações militares, portos, aeroportos, hidrelétricas e demais empreendimentos necessários ao desenvolvimento socioeconômico do País e da Amazônia. Até mesmo alguns órgãos governamentais contribuem para o impedimento de implantação de projetos previstos pelo próprio governo. 52 Dessa forma, reservas indígenas e áreas de preservação são estrategicamente propostas em áreas lindeiras, que abriguem gigantescas jazidas de importantes minerais ou que controlarão ou impedirão a implantação de hidrovias, de estradas ou de hidrelétricas. Em seguida, intensas pressões são exercidas para suas homologações, baseadas em laudos emitidos por “antropólogos de ação” devidamente comprometidos com ONG’s financiadas pelo capital internacional. A artificial e extremada necessidade de preservação de minoritárias culturas indígenas sobrepõem-se às reais carências de desenvolvimento socioeconômico da maioria da população. Quanto aos indígenas, busca-se sua radical tribalização e segregação em relação à miscigenada sociedade brasileira, fortalecendo suas línguas e suas culturas e criando possibilidades de enclaves e de quistos sociais que trarão problemas para o futuro do País, a exemplo do que já ocorre em outros países, como os curdos do Iraque. O Estado brasileiro, ao ser acusado de devastar a Amazônia e contribuir com a extinção de povos indígenas e de suas respectivas culturas, não contesta a orquestração em curso e cede às pressões e às ingerências externas, imputando consequências às gerações vindouras. Como proposta para que seja mantida a integridade da Amazônia e preservada a sua invejável extensão territorial legada pelos portugueses ao Brasil, e ainda, no futuro, a Nação brasileira possa desfrutar de suas potencialidades, em toda a sua plenitude, serão apresentadas algumas sugestões, a seguir. Inicialmente, faz-se mister que os dirigentes políticos tenham conhecimento de que gravitam cobiças e ameaças das principais potências mundiais sobre a Amazônia, conforme foi apresentado ao longo deste trabalho. Não se visualiza, nos dias atuais, uma ação hostil iminente, por algum país ou coligação de países contra o Brasil pela posse ou gestão da Região Amazônica. Caso isso venha a ocorrer, existem diversos instrumentos diplomáticos, políticos, jurídicos e, em último caso, a Expressão Militar do Poder Nacional, que possui o planejamento para a Hipótese de Emprego (HE) das Forças Armadas, com as suas variantes para a defesa da Região. Não obstante, a principal ameaça vem ocorrendo 53 de maneira silenciosa e velada pela atuação de ONG’s sob a égide de movimentos ambientalistas e indígenas, defendendo os interesses estrangeiros no Brasil e ocupando, paulatinamente, um espaço, cada vez maior, deixado pelo estado brasileiro Para fazer face a essa situação, há necessidade de dificultar a ação das ONG’s na Região, o que não significa impedir a atuação das mesmas, pois tal fato poderia gerar sérios problemas diplomáticos e econômicos ao Brasil. Deve-se, sim, aumentar a presença do estado, priorizando-se a ação de diversos ministérios: educação, saúde, transportes, infraestrutura, justiça e outros. Simultaneamente, as lideranças governamentais devem estar investidas de vontade política e conscientes da necessidade de formulação e aplicação de políticas públicas e ações eficazes para uma efetiva integração do setentrião norte às demais partes do território, para um cerrado controle e para uma eficiente atuação do Poder Nacional sobre a Região Amazônica. Essas políticas públicas devem, prioritariamente, atender às áreas de educação, saúde, Transporte, infraestrutura e segurança. Há necessidade que as Forças Armadas sejam contempladas com recursos financeiros para que possam realizar o reaparelhamento, reestruturação de pessoal, bem como os treinamentos necessários para aumentar a interoperabilidade entre as forças singulares e entre as agências dos diversos ministérios, aumentando o poder dissuasório e ficando em melhores condições de respaldar as decisões soberanas da Nação. Paralelamente, as diversas esferas do governo (federal, estadual e municipal) devem realizar programas de esclarecimento à sociedade brasileira sobre a necessidade de oposição a qualquer ameaça àquela Região, conquistando o apoio da população às ações que vierem a ser implementadas pelo governo brasileiro, para o desenvolvimento da Amazônia, redução das desigualdades regionais e ampla integração nacional. ___________________________ CARLOS ALBERTO GARCIA – Cel Cav 54 REFERÊNCIAS A AMEAÇA da Agenda Indigenista no Brasil. Movimento de Solidariedade Ibero-americana (MSIa). Rio de Janeiro: Capax Dei, fev. 2004. ACADEMIA de história militar terrestre do brasil. A academia de história militar terrestre do Brasil IN seminário Amazônia da Escola Superior de Guerra. O Guararapes, n. 25, 2. tri. 2000. Disponível em: <http://www.resenet.com.br/users/ahimtb>. Acesso em: 12 jun. 2012. BARRETO, Carlos Alberto Lima Menna. A farsa Ianomami. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1995 Greenpeace assina acordo com seringueiros da Amazônia. Amazônia. Disponível em: <http://www.amazonia.org.br/noticias/noticia.cfm?id=91486>. Acesso em: 20 ago. 2012. ASSEMBLÉIA GERAL DO CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO, 15., 2003, Luziânia. Documento final. Luziânia: CIMI, 2003. nº15. Disponível em: < http://www.cimi.org.br>. Acesso em: 07 ago. 2012. ASSEMBLÉIA GERAL DO CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO. Mensagem. Luziânia: CIMI, 2003. nº15. Disponível em: <http://www.cimi.org.br>. Acesso em: 07 ago. 2012. BENCHIMOL, Samuel. Amazônia: formação social e cultural. 1. ed. Manaus: Valer, 1999. BENTO, Cláudio Moreira. Amazônia e os seus desafios. Guararapes. Disponível em: <http://www.resenet.com.br/ahimtb/amazonia3.htm>. Acesso em: 20 abr. 2012. BRASIL. Congresso. Senado Federal. Comissão Parlamentar de Inquérito Destinada a Apurar as Denúncias Veiculadas a Respeito da Atuação Irregular de Organizações Não-Governamentais – ONG (Criada pelo requerimento n° 22, de 2001). Atuação Irregular de Organizações Não-Governamentais: Relatório final n° 2, de 2002 da Comissão Parlamentar de Inquérito. Brasília, DF: Secretaria Especial de Editoração e Publicação e Publicações, 2002. ______. Congresso. Câmara dos Deputados. Comissão Parlamentar de Inquérito Destinada a Investigar a atuação da Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Atuação da Fundação Nacional do Índio (FUNAI): relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito. Brasília, DF: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 1999. ______. Congresso. Câmara dos Deputados. Comissão Parlamentar de Inquérito Destinada a Investigar a Ocupação de Terras Públicas na Região Amazônica. Ocupação de terras públicas na Região Amazônica: relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito. Brasília, DF: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2002. 55 BRASIL. Congresso. Câmara dos Deputados. Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas. Disponível em <http://www.câmara.gov.br/cdh/tratados_e_convencoes/indios/declaracao_universal _direitos_povos_indigenas.htm>. Acesso em 5 ago. 2012. ______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988: atualizada até a Emenda Constitucional n° 38, de 12 - 06 - 2002. 30. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. ______. Ministério da Defesa. Programa Calha Norte. Programa Calha Norte. Brasília, DF, 2010. _____ . Poder Judiciário. Seção Judiciária de Roraima. 2ª Vara Federal. Processo n. 2000.42.00. 002293-8/RR. Decisão que deferiu a liminar de interdito proibitório formulado pelas Comunidades Indígenas da Região do Uiramutã e outro contra a construção de uma unidade militar nas cercanias de suas aldeias. Boa Vista, p. 2, 3 jan. 2001. CARRASCO, Lorenzo (Coord.). A máfia verde. 6. ed. Rio de Janeiro: Capax Dei, 2003. CASTRO, Therezinha de. Eco-92: Aspecto global. A Defesa Nacional, Rio de Janeiro, n. 758, p. 56-66, 3. tri. 1992. COLLYER, Fernando. A Amazônia poderia ter sido um país. Amazonas em tempo, Manaus, 2002. CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO. Criança Makuxi exibe bandeira da AIRASOL. Disponível em: <http://www.cimi.org.br/airasol.htm>. Acesso em: 05 ago. 2012. ________ . Tribunal internacional para julgar os crimes contra os povos indígenas., Disponível em: <http://www.cimi.org.br>. Acesso em: 05 ago. 2004. CORREA, Paulo Henrique da Rocha. Amazônia: Pressões externas, ingenuidade interna. Revista do Clube Militar, Rio de Janeiro, 6. bim. 1991. DENYS, Rubens Bayma. Engessamento da Amazônia. A Defesa Nacional, Rio de Janeiro, n. 779, p. 41-50, 1. tri. 1998. DEPOIMENTO do jornalista Lorenzo Carrasco na CPI das ONGs do Senado Federal. Executive Intelligence Review, Rio de Janeiro, Capax Dei, nov. 2001. DRUCKER, P. Liderança para o futuro. São Paulo: Futura, 2001. ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (BRASIL). Estratégias para a Amazônia 1990/2000 a década vital (excerto). Revista do Clube Militar, Rio de Janeiro, 6. bim. 1991. _____ . Fundamentos doutrinários da Escola Superior de Guerra. Rio de Janeiro: A Escola, 1988. 56 FREGAPANI, Gélio. Amazônia: A grande cobiça internacional. Brasília, DF: Thesaurus, 2000. ______. Amazônia 1996: soberania ameaçada. 1. ed. Brasília, DF: Thesaurus, 1995. FRIEDE, R. Reis. Limites da soberania nacional no cenário internacional. A Defesa Nacional, Rio de Janeiro, n. 760, p. 65-82, 2. trim. 1993. LESSA, Luíz Gonzaga Schroeder. IN: Palestra proferida na Câmara dos Deputados, na CPI da FUNAI. Brasília, 1999. LOUREIRO, Antônio. Amazônia: 10.000 Anos. 1. ed. Manaus: Metro Cúbico, 1982. MATTOS, Carlos de Meira. A Amazônia e a dissuasão estratégica. Revista do Clube Militar, Rio de Janeiro, n. 363, set. 1999. Disponível em: <http:/www.geocities.com/toamazon/toadissausao.htm>. Acesso em 16 ago. 2003. ______. Uma geopolítica pan-amazônica. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército,1980. MOURA, Paulo C. Construindo o futuro. Rio de Janeiro: Mauad, 1994. PIRES, Manoel Teixeira. A Amazônia e a preservação do meio ambiente: uma questão de soberania.1992. Trabalho de Conclusão de Curso (Altos Estudos Militares)–Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro,1992. RICARDO, Carlos Alberto. Povos indígenas no Brasil, 1996-2000. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2000. RODRIGUES, Maria das Graças Villela. Elaboração de projetos, trabalhos acadêmicos, dissertações e teses. Rio de Janeiro: ECEME, 2003. SMALL, Gretchen; SMALL, Dennis (Coord.) O Complô para aniquilar as Forças Armadas e as nações da Ibero-América. 2. ed. Washington D.C.: Executive Intelligence Review, 2000.