Introdução
Ao entrar numa sala de aula em qualquer lugar do mundo, seja no
centro de uma grande metrópole ou nos confins da Terra, para exercer a
sua função docente, mediante a sempre promissora interação educadoreducando, o professor estará carregando consigo a história humana. E
quanto mais desenvolvida a sua consciência histórica, maior será a probabilidade de ser bem-sucedido em sua difícil, mas importante, empreitada.
Um dos objetivos deste livro é justamente contribuir para o aprimoramento dessa consciência, em especial no que diz respeito à educação.
Outro objetivo é o de estimular a reflexão sobre o presente, em sua relação
com o passado, como uma das alavancas fundamentais a impulsionar a
melhoria da qualidade do processo de ensino e aprendizagem.
E como pretendemos concretizar tais propósitos? A originalidade da
nossa proposta está na busca da interação entre as ideias de pensadores
representativos de uma época, de uma crença, de uma teoria educacional,
e as situações educacionais concretas correspondentes. Optamos por uma
abordagem cronológica e panorâmica, como caminho para a construção de
uma visão de conjunto da história da educação, mas, também, temática –
cada capítulo centra-se num tema específico – oferecendo pistas para
estudos mais aprofundados segundo os interesses de cada um.
Ao longo de cada capítulo são propostas atividades cuja principal característica é o estímulo à reflexão, tanto sobre as ideias específicas de cada
educador quanto sobre a relação dessas ideias com as situações educacio-
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História
da educação
nais concretas da época considerada e com ideias e realidades do presente,
visando à construção de um futuro mais condizente com as finalidades da
educação expressas em nossa Constituição: pleno desenvolvimento da pessoa, preparação para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho.
Na verdade, o que propomos é uma grande viagem pela história,
começando pelo Oriente, cujas civilizações milenares – desenvolvidas
de modo especial na China, na Índia e no Japão – sempre fascinaram os
ocidentais (capítulo: “Confúcio e a educação oriental”).
Grécia e Roma são consideradas o berço da cultura ocidental – a
primeira, notadamente, por ter dado origem à filosofia e à democracia
e a segunda por suas importantes contribuições às ciências jurídicas – e
formularam importantes ideias e propostas educacionais que até hoje
desafiam os educadores (capítulos: “Sócrates e a educação grega” e
“Cícero e a educação romana”).
Vários sistemas educacionais tiveram e continuam tendo, uns mais e
outros menos, íntimas relações com crenças religiosas, destacando-se as
três religiões monoteístas – judaísmo, cristianismo e islamismo – e a eles
dedicamos uma atenção especial em nossa viagem (capítulos: “Moisés e
a educação hebraica”; “Santo Agostinho e a educação cristã”; “Averróes
e a educação árabe”; “Lutero e a educação protestante”).
Historicamente, muitas vezes, o mundo moderno tem sido contraposto ao mundo medieval – o primeiro caracterizado como culturalmente
florescente em oposição aos mil anos de apagão cultural do segundo –,
mas, na verdade, há uma evidente continuidade entre ambos: tanto o
medievo tem sido rico culturalmente quanto o Renascimento teve nele
sua própria origem (capítulos: “Tomás de Aquino e a educação medieval”;
“Comênio e a educação moderna”).
Com as revoluções burguesas – Revolução Industrial, Revolução
Americana, Revolução Francesa – que engendraram o mundo moderno e
o sistema econômico-social nele dominante – o capitalismo – também surgiram novas propostas no campo educacional, de modo especial visando
à preparação de mão de obra qualificada para a indústria e de cidadãos
partícipes na construção dos novos regimes políticos que sucederam às
monarquias absolutistas (capítulos: “Rousseau e a educação romântica”;
“Comte e a educação positivista”; “Maria Montessori e a educação científica”; “John Dewey e a educação nova”).
A partir da Revolução Russa de 1917, e até o fim da União Soviética,
na última década do século passado, o capitalismo teve no socialismo o
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seu grande desafio, polarização que dividiu o mundo em dois grandes
blocos, com o chamado Terceiro Mundo, notadamente a África, oscilando entre ambos. Nossa próxima parada contempla esse contexto, com
capítulos que constituem novidade em livros de História da Educação:
“Makarenko e a educação socialista”; “Nyerere e a educação africana”.
Com o término da Segunda Guerra Mundial, visando evitar novas
guerras e resolver os conflitos mediante o diálogo para a construção de
um mundo de paz – objetivo que estamos longe de alcançar –, foi criada
a Organização das Nações Unidas (onu) e, como um dos seus órgãos, a
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(Unesco), esta com o propósito de promover o desenvolvimento e a universalização da educação como caminho para a paz mundial (capítulo:
“A Unesco e a educação universal”).
Claro que não poderíamos deixar de dedicar uma atenção toda especial ao desenvolvimento da educação brasileira, à qual estamos intimamente ligados por nossa formação e à qual devemos o fato de estar juntos,
trocando ideias sobre nossa história educacional e discutindo propostas
para a melhoria da sua qualidade. A ela dedicamos nada menos que oito
capítulos: “José de Anchieta e a educação colonial”; “Nísia Floresta e a
educação imperial”; “José Verissimo e a educação republicana”; “Fernando
de Azevedo e a educação pública”; “Gustavo Capanema e a educação
elitista”; “Paulo Freire e a educação popular”; “Valnir Chagas e a educação autoritária”; “Darcy Ribeiro e a educação democrática”. Chamamos
especial atenção para os contrapontos estabelecidos nos últimos quatro
capítulos – educação elitista X educação popular; educação autoritária
X educação democrática – que continuam na ordem do dia, influindo
sobremaneira no desenvolvimento dos nossos sistemas educacionais.
Finalmente, um capítulo especial analisa algumas situações reais que
interferem muitas vezes de forma determinante no cotidiano escolar –
avaliação e fracasso escolar, indisciplina e violência, bullying – e as
mudanças exigidas da escola e da formação e atuação do professor para
poder dar conta da nova realidade e sobre ela influir positivamente: “O
professor e a educação integral”.
Conscientes das múltiplas e variadas possibilidades oferecidas pela
matéria, estamos absolutamente convictos de ter optado por um caminho
cujo fim, sempre almejado, é a melhoria da qualidade da nossa educação,
para o qual todos estão convocados a dar a sua colaboração.
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