anais do colóquio de alunos de pós-graduação em letras BEZERRA, Carlos Eduardo; SANTINI, Gilmar T.; SILVA, Jacicarla S.; SILVA, Telma M. (Orgs.) I colóquio de alunos da pós-graduação em letras da f.c.l. de assis literatura e vida social: pesquisa e inserção no mercado de trabalho assis#sp 12, 13 e 14 jun. 2007 p.14-28 ISSN: 2176- 6347 MACHADO DE ASSIS, CONTISTA DO JORNAL DAS FAMÍLIAS Jaison Luís CRESTANI1 (Unesp – Univ Estadual Paulista/Assis) RESUMO: Este trabalho pretende estudar a relação do contista Machado de Assis com as condições de enunciação literária no contexto do Jornal das Famílias (1863-1878), periódico dedicado “aos interesses domésticos das famílias brasileiras”, que investia na exigência de narrativas sentimentais e moralizantes. Para tanto, examinaremos os procedimentos temático-formais desenvolvidos pela ficção machadiana no sentido de subverter os condicionamentos da imprensa e de executar inovações nos mecanismos usuais de produção e de recepção da literatura em jornal. Os contos analisados investem na problematização dos valores românticos, desconstruindo as mistificações e excessos idealistas e virando ao avesso as formulações moralizantes requeridas pelo periódico. ABSTRACT: This work intends to study the relation of Machado de Assis with the literary enunciation conditions in Jornal das Famílias (1863-1878), newspaper devoted to “domestic interests of the Brazilian families” that demanded sentimental and moral narratives. Thus, we will examine the thematic and formal procedures developed by Machado de Assis’ fiction in the intent to subvert the conditions established by newspaper press and to execute innovations in usual mechanisms of production and reception of literature in newspaper. The short stories invests in the problematization of romantic values, unmaking mystifications and idealist excesses and reversing moralistic formulations requested by newspaper press. I. Introdução A produção ficcional em prosa de Machado de Assis costuma ser dividida pelos parâmetros da crítica literária tradicional em duas fases distintas: a primeira fase, ou fase da aprendizagem, e a segunda fase, ou fase da maturidade. A obra Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) é apontada como o marco divisor dessas duas etapas. Quanto aos contos, a coletânea Papéis Avulsos (1882), é comumente indicada como o marco inicial da produção de contos de real mérito. Partindo dessa perspectiva, a fortuna crítica tem sido bastante severa com os primeiros contos de Machado de Assis, classificando-os como meras histórias românticas, de pura fantasia, sem nenhum fundamento na realidade e pouco sugestivas esteticamente. Esse desdobramento da prosa machadiana em duas fases inteiramente distintas acabou por 1 Doutorando. Orientador: Dr. Alvaro Santos Simões Junior. Bolsista CAPES. E-mail: [email protected] 14 anais do colóquio de alunos de pós-graduação em letras BEZERRA, Carlos Eduardo; SANTINI, Gilmar T.; SILVA, Jacicarla S.; SILVA, Telma M. (Orgs.) I colóquio de alunos da pós-graduação em letras da f.c.l. de assis literatura e vida social: pesquisa e inserção no mercado de trabalho assis#sp 12, 13 e 14 jun. 2007 p.14-28 ISSN: 2176- 6347 relegar as suas primeiras produções ao esquecimento, sem que, para tanto, tenha-se feito uma avaliação consistente dessas composições iniciais. Com base nesse contexto, este trabalho tem em vista a realização de uma revisão crítica dos primeiros contos de Machado de Assis sob a luz das condições que marcaram o contexto de sua publicação original. De acordo com o que ocorria com quase todo contista, os seus contos também foram, em sua grande maioria, publicados inicialmente em jornais literários e revistas de moda e literatura. Dentre estes, merece destaque o Jornal das Famílias (1863-1878), dirigido por B. L. Garnier. Nesse jornal de tendência conservadora foram publicados praticamente todos os contos da juventude de Machado de Assis. Com intuito de reavaliar a colaboração do contista Machado de Assis no periódico citado, tomamos como ponto de partida de nosso estudo as considerações de John Gledson, Alfredo Bosi e Raimundo Magalhães Júnior a respeito do assunto. Expondo suas dificuldades de antologista, Gledson afirma que, caso se tratasse meramente de uma questão de qualidade literária relativa, dentre os mais de 80 contos da dita primeira fase, nenhum ou quase nenhum deveria aparecer na sua coletânea. Na sua opinião, isso se deve em grande parte às exigências do Jornal das Famílias, o que resultou em contos mais longos que a média, publicados em fascículos (GLEDSON, 1998, p. 21). Ajustando-se a tais declarações, Bosi, no início do seu ensaio A máscara e a fenda, menciona que, em geral, quem faz uma antologia prefere excluir a maioria das histórias da primeira fase de Machado. Embora as considere menos sugestivas esteticamente, o autor comenta que o analista não pode omitir o fato de que “Machado foi também um escritor afeito às práticas de estilo das revistas familiares do tempo, principalmente nas décadas de 1860 e 70. O jovem contista exercia-se na convenção estilística das leitoras de folhetins...” (BOSI, 2000, p. 75). Nessa mesma linha de pensamento, Raimundo Magalhães Jr. comenta que, apesar de todas as cautelas de que usava como colaborador de um jornal para senhoras e moças, nem por isso Machado de Assis passou incólume ante os censores que, de férula em punho, se propunham a defender a moralidade pública e a pureza dos costumes. E acrescenta: “É evidente que, se assim não fosse, o folhetinista amável, cheio de cuidados com suas leitoras, perderia o emprego, ou o ‘Jornal das Famílias’ seria banido dos severos 15 anais do colóquio de alunos de pós-graduação em letras BEZERRA, Carlos Eduardo; SANTINI, Gilmar T.; SILVA, Jacicarla S.; SILVA, Telma M. (Orgs.) I colóquio de alunos da pós-graduação em letras da f.c.l. de assis literatura e vida social: pesquisa e inserção no mercado de trabalho assis#sp 12, 13 e 14 jun. 2007 p.14-28 ISSN: 2176- 6347 lares brasileiros, como publicação revolucionária e nociva” (MAGALHÃES JR., 1956a, p. 08). Desse modo, avaliando o contexto original em que Machado de Assis produziu os seus primeiros contos, podemos notar, com base nas considerações dos críticos citados, que as condições e critérios impostos pelo periódico em questão podem implicar transformações e variações que vão desde aspectos aparentemente triviais, como a extensão das histórias, feitas até certo ponto sob medida, até critérios ideológicos, temáticos e de qualidade literária, possibilitando-nos também o conhecimento de importantes informações a respeito do público ao qual Machado se dirigia. Além disso, convém ressaltar que o interesse desse exame está não só no levantamento das influências que essas condições de produção exerceram sobre a configuração dessas narrativas, mas também na averiguação a respeito da possível existência, nesses contos, de forças corrosivas que tenham transgredido os padrões estabelecidos pelo periódico, executando inovações tanto nesses modelos quanto nos próprios mecanismos usuais de leitura da ficção em jornal. Dessa maneira, cabe avaliar até que ponto é compatível a relação entre o escritor e os modos de produção determinados pela imprensa periódica ou se, por outro lado, o escritor e a sua obra subvertem essas determinações, adotando uma postura revolucionária e inovadora. Com base nesse contexto, apresentaremos, na primeira parte deste trabalho, um breve levantamento das condições de produção literária em conexão com a imprensa periódica do século XIX, direcionando a atenção mais especificamente para as características e tendências dominantes do Jornal das Famílias, editado por Baptiste Louis Garnier no período de 1863 a 1878. No tópico seguinte, passaremos a observar o modo como Machado de Assis, no processo elaboração ficcional de suas narrativas, lidou com os fatores de produção e as tendências dominantes da ficção em jornal. Para tanto, selecionamos os contos “Casada e viúva” (1864) e “Uma excursão milagrosa” (1866). 16 anais do colóquio de alunos de pós-graduação em letras BEZERRA, Carlos Eduardo; SANTINI, Gilmar T.; SILVA, Jacicarla S.; SILVA, Telma M. (Orgs.) I colóquio de alunos da pós-graduação em letras da f.c.l. de assis literatura e vida social: pesquisa e inserção no mercado de trabalho assis#sp 12, 13 e 14 jun. 2007 p.14-28 ISSN: 2176- 6347 II. Das condições de produção literária na imprensa periódica do século XIX: o perfil do Jornal das Famílias A discussão sobre as condições de produção literária nos remete, imediatamente, ao fato de que cada texto de imprensa passa por diferentes restrições estilístico-temáticas impostas pela direção do periódico ou pela própria seção em que se inscreve, decorrendo daí algumas decisões quanto a sua forma de estruturação. Esse tipo de atividade artística é geralmente permeado por fatores de mercado que, conforme a indicação de Alcides Ribeiro (1996), condicionam a formação de um padrão de criação ficcional com o qual o escritor defronta-se obrigatoriamente. A padronização imposta por esses fatores externos atua como delimitador da autonomia do escritor e prejudicando o seu trabalho de aperfeiçoamento do estilo e da linguagem artística. Para se conhecer a fundo os objetivos de uma folha jornalística, nada melhor do que analisar as cartas-programas e os editoriais dirigidos aos seus assinantes. Nesses editoriais, constitui procedimento habitual um projetar-se promissivo para atos futuros de escrita, através do qual podemos apreender e discutir a imagem que a imprensa procura dar de si mesma e do seu público-alvo. É o lugar, por excelência, da afirmação de propósitos, do delinear de projetos e da construção de um determinado horizonte de expectativa no leitor. Da carta-programa, destinada “Aos nossos leitores”, que abre a publicação do novo periódico, merece destaque o seguinte trecho: “Mais do que nunca dobraremos os nossos zelos na escolha dos artigos que havemos de publicar, preferindo sempre os que mais importarem ao país, à economia doméstica, à instrução moral e recreativa, à higiene, numa palavra, ao recreio e utilidade das famílias” (Jornal das Famílias, jan. 1863, p.2-3). Desde já, transparece uma preocupação com a “instrução moral” – elemento marcante de suas publicações. O teor das suas publicações literárias transparece mais nitidamente no editorial que a Redação dirige aos leitores no segundo ano de publicação do periódico. Dentre os comentários, destaca-se o excerto em que se faz um agradecimento aos literatos: Agradecemos também aos hábeis e amenos literatos que se não esqueceram de enfeitar as nossas páginas com aquelas lindas produções 17 anais do colóquio de alunos de pós-graduação em letras BEZERRA, Carlos Eduardo; SANTINI, Gilmar T.; SILVA, Jacicarla S.; SILVA, Telma M. (Orgs.) I colóquio de alunos da pós-graduação em letras da f.c.l. de assis literatura e vida social: pesquisa e inserção no mercado de trabalho assis#sp 12, 13 e 14 jun. 2007 p.14-28 ISSN: 2176- 6347 caídas de suas penas em horas de mágica inspiração, com aquelas flores que tão perfumadas e formosas ofereceram às nossas leitoras. Esperamos que nos continuem tão graciosas ofertas. Flores como são, antes sejam elas colhidas por mãos de neve de outras flores, a serem por aí desfolhadas pela ventania do esquecimento (Jornal das Famílias, jan. 1864, p. 1-2). Na composição dessa nota de agradecimento, transparece claramente a utilização de recursos retóricos próprios do discurso romântico-idealista. Além disso, o modo como são referidas as produções dos colaboradores remete diretamente às convenções da narrativa romântico-sentimental: uma literatura amena, produto de “mágica inspiração”, destinada a “enfeitar” e a emocionar as leitoras. Depreende-se daí que essas produções carecem de seriedade, reflexão e rigor literário, servindo mais propriamente como objetos de distração e passatempo das leitoras. Essa opinião também é defendida por Alexandra Santos Pinheiro (2002) que, em seu estudo sobre os dois periódicos de Garnier, conclui que, no aspecto literário, o Jornal das Famílias deixava entrever ainda a forte presença da escola romântica: o amor idealizado, a instrução moral, a fuga da realidade, a reabilitação das personagens geralmente por meio da morte. Uma definição similar da matéria literária do Jornal das Famílias é traçada por Frédéric Mauro (1991), que parafraseia as considerações de Lúcia Miguel Pereira (1955, p. 133-5): Era necessária ‘uma leitura tranqüila, de pura fantasia, sem nenhum fundamento na realidade; histórias que acontecessem em um mundo convencional em que os despeitos amorosos eram os únicos sofrimentos, onde tudo girava em torno de olhos bonitos, suspiros e confidências trocadas entre damas elegantes’. Era o triunfo constante do bem sobre o mal, e do amor, contanto que não fosse por interesse. A mulher inconstante e o caçador de dotes eram sempre punidos, e os apaixonados fiéis e sinceros sempre viam a realização de seu amor, sob a forma do casamento (MAURO, 1991, p. 227). De outra perspectiva, Sílvia Maria Azevedo (1990) distingue Machado de Assis dos outros colaboradores: “enquanto os demais colaboradores […] simplesmente perpetuavam a escola romântica e seus clichês, Machado tinha consciência da crise do Romantismo, o grande tema que perpassou toda a sua produção ficcional desse período” (AZEVEDO, 1990, p. 210). 18 anais do colóquio de alunos de pós-graduação em letras BEZERRA, Carlos Eduardo; SANTINI, Gilmar T.; SILVA, Jacicarla S.; SILVA, Telma M. (Orgs.) I colóquio de alunos da pós-graduação em letras da f.c.l. de assis literatura e vida social: pesquisa e inserção no mercado de trabalho assis#sp 12, 13 e 14 jun. 2007 p.14-28 ISSN: 2176- 6347 Em fevereiro de 1869, a Redação tornará, uma vez mais, a enfatizar o teor moral e recreativo de suas publicações: Graciosos romances têm sido publicados em nossas colunas nos seis anos de existência que já contamos, e parece-nos que nem uma só vez a delicada susceptibilidade de VV. EEx. tem sido ofendida. Anedotas espirituosas e morais têm por certo causado a VV. EEx. o prazer que as pessoas de finíssima educação experimentam nesse gênero de amena literatura, e mais de uma vez conseguiram dissipar as névoas da melancolia que se haviam acumulado nas belas frontes das nossas leitoras (Jornal das Famílias, fev. 1869, p. 2-3). Nesse trecho, é evidente a presença da ideologia burguesa que, tendo em vista a integridade do lar e da família, defendia a necessidade de se ministrar uma “finíssima educação” às mulheres. Conseqüentemente, essa concepção afetava de modo considerável a literatura, a qual deveria zelar pelos valores tão caros à burguesia no que diz respeito à conduta feminina. Daí a moralidade e o fundo didático das histórias, a preservação dos bons costumes e a visão maniqueísta em que o bem sai vitorioso e o mal é condenado e punido. A partir das considerações levantadas até então, já se torna possível delinear o perfil do periódico em questão: uma publicação preocupada com a instrução moral, destinada a atender às expectativas de um público majoritariamente feminino, oferecendo-lhe – entre ensinamentos religiosos, receitas culinárias, figurinos de moda, moldes, bordados, desenhos e assuntos de utilidade e recreio – uma literatura amena, essencialmente romântica, determinada a instruir e a emocionar as leitoras, ocupando-lhes o tempo e dissipando-lhes o tédio e “as névoas da melancolia”. Expostas as características e tendências dominantes do periódico, passaremos, na seqüência, a analisar o modo como o jovem contista Machado de Assis lidou com esses condicionamentos da imprensa periódica nos seus primeiros contos. III. A problematização dos valores românticos Um dos principais mitos do idealismo romântico é o do casamento – expediente marcante dos desfechos de grande parte da produção literária pertencente à escola romântica. Como um periódico dedicado “aos interesses domésticos das famílias brasileiras” 19 anais do colóquio de alunos de pós-graduação em letras BEZERRA, Carlos Eduardo; SANTINI, Gilmar T.; SILVA, Jacicarla S.; SILVA, Telma M. (Orgs.) I colóquio de alunos da pós-graduação em letras da f.c.l. de assis literatura e vida social: pesquisa e inserção no mercado de trabalho assis#sp 12, 13 e 14 jun. 2007 p.14-28 ISSN: 2176- 6347 e afinado com as tendências da literatura romântica, é natural que as publicações do Jornal das Famílias perpetuassem o casamento como um caminho ideal para a concretização plena da felicidade dos amantes. Na abordagem desse tema, Machado de Assis vai explicitar, em certas narrativas, o seu próprio posicionamento em relação à estética romântica. A ficção machadiana publicada no Jornal das Famílias não visa exatamente a negação das tendências vigentes e a proposição de novas temáticas. Em vez disso, investe-se na continuidade das formulações românticas, não no sentido de perpetuar suas convenções, mas na tentativa de ir além dele. Para Antonio Candido, essa opção por levar em conta a produção dos predecessores seria uma das razões fundamentais da sua grandeza: Machado de Assis […] se embebeu meticulosamente da obra dos predecessores. A sua linha evolutiva mostra o escritor altamente consciente, que compreendeu o que havia de certo, de definitivo, na orientação de Macedo para a descrição de costumes, no realismo sadio e colorido de Manuel Antônio, na vocação analítica de José de Alencar. Ele pressupõe a existência dos predecessores, e esta é uma das razões da sua grandeza: numa literatura em que, a cada geração, os melhores recomeçam da capo e só os medíocres continuam o passado, ele aplicou o seu gênio em assimilar, aprofundar, fecundar o legado positivo das experiências anteriores. Este é o segredo da sua independência em relação aos contemporâneos europeus, do seu alheamento às modas literárias de Portugal e França. Esta, a razão de não terem muitos críticos sabido onde classificá-lo (CANDIDO, 1975, v. 2, p. 117-118). Assim, a celebração do casamento, que comumente encerra as narrativas românticas, será transferida, em certas ocasiões, para o início das narrativas machadianas e, a partir daí, são desconstruídos as mistificações e os excessos de idealismo da estética romântica. Em outros casos, a abordagem do casamento é enriquecida pela sua inserção na problemática dos interesses pessoais e materiais. Vejamos, por exemplo, o conto “Casada e viúva” (Machado de Assis. Jornal das Famílias, nov. 1864), que se inicia com uma descrição enfática do idílio amoroso do casal José de Meneses e Eulália: Era impossível amar-se mais do que se amavam aqueles dois. Nem me atrevo a descrevê-lo. Imagine-se a fusão de quatro paixões amorosas das que a fábula e a história nos dão conta e ter-se-á a medida do amor de José 20 anais do colóquio de alunos de pós-graduação em letras BEZERRA, Carlos Eduardo; SANTINI, Gilmar T.; SILVA, Jacicarla S.; SILVA, Telma M. (Orgs.) I colóquio de alunos da pós-graduação em letras da f.c.l. de assis literatura e vida social: pesquisa e inserção no mercado de trabalho assis#sp 12, 13 e 14 jun. 2007 p.14-28 ISSN: 2176- 6347 de Meneses por Eulália e de Eulália por José de Meneses (Jornal das Famílias, nov. 1864, p. 313). A ambientação da narrativa também se harmoniza com a efusão afetiva dos recémcasados. Um mês após o casamento, mudaram-se para uma chácara na Tijuca a fim de desfrutar, na solidão, a felicidade que os deixava ébrios. “As mulheres tinham inveja à mulher feliz, e os homens riam dos sentimentos, um tanto piegas, do apaixonado marido” (Jornal das Famílias, nov. 1864, p. 313), mas, em protesto, o casal amava-se ainda mais. Algum tempo depois, uma filha apareceu para completar a “felicidade suprema” do casal. Assim como ocorre no desfecho das narrativas românticas, em que o casamento é celebrado como uma promessa de felicidade plena e perpétua, tudo parecia perfeito na vida dos protagonistas do conto machadiano: “nenhuma nuvem sombreava o céu azul da existência do casal Meneses”. No entanto, o narrador reconsidera a situação e reformula a sua afirmação: “Minto; de vez em quando, uma vez por semana apenas, e isto só depois de cinco meses de casados, Eulália derramava algumas lágrimas de impaciência por se demorar mais do que costumava o amante José de Meneses” (Jornal das Famílias, nov. 1864, p. 313). Deste ponto da narrativa em diante, o idílio amoroso do casal é posto sob suspeita e as mistificações em torno do casamento começam a ser desconstruídas. As “nuvens” tornaram-se mais freqüentes no “céu” do casal a partir do momento em que receberam a visita de um outro casal de amigos, Cristiana e Nogueira. Vindos de Minas, pretendiam instalar-se na corte e, para tanto, contavam permanecer em casa de Meneses até que pudessem arranjar uma casa conveniente. Eram velhos amigos, mas havia uma notável diferença entre os dois casais: o que Cristiana sentia por Nogueira não passava de uma “estima respeitosa”, conforme esclarece o narrador: “Se eu dissesse amor, mentia, e eu tenho por timbre contar as coisas como as coisas são” (Jornal das Famílias, nov. 1864, p. 315). A intimidade logo envolveu os dois casais. Contudo, não demorou para que o “exemplar José Meneses”, “o rei dos maridos”, tirasse a sua máscara e começasse a investir sobre Cristiana, que fora sua namorada no passado. Pressionando-a com a ameaça de expô-la a um escândalo por meio da revelação das cartas que guardava consigo, Meneses tentava forçá-la a entregar-se aos seus desejos. 21 anais do colóquio de alunos de pós-graduação em letras BEZERRA, Carlos Eduardo; SANTINI, Gilmar T.; SILVA, Jacicarla S.; SILVA, Telma M. (Orgs.) I colóquio de alunos da pós-graduação em letras da f.c.l. de assis literatura e vida social: pesquisa e inserção no mercado de trabalho assis#sp 12, 13 e 14 jun. 2007 p.14-28 ISSN: 2176- 6347 Neste ponto, o narrador considera exageradas as proporções que Cristiana dava ao caso, afinal de contas, o ato de Meneses era um “ato comum, praticado todos os dias, no meio da tolerância geral e até do aplauso de muitos. Certamente que isso não lhe dá virtude, mas tira-lhe o mérito da originalidade” (Jornal das Famílias, nov. 1864, p. 321). Mesmo depois da transferência do casal visitante para uma casa própria, Meneses continuou a assediar Cristiana e, desta vez, usou como estratégia a confissão da sua indiferença em relação a sua esposa: “dei a Eulália o meu nome e minha proteção; não lhe dei nem o meu coração nem o meu amor” (Jornal das Famílias, nov. 1864, p. 323). Todavia, essa confissão foi ouvida por Eulália, que se dirigira até a casa de Cristiana para buscar o consolo da amiga, porque acabara de descobrir, no gabinete do marido, duas cartas de outras duas amantes de Meneses. Foi um golpe tríplice: num só dia a mulher descobriu três casos de traição do marido. A situação mais dramática da história, porém, ainda estava por vir. Eulália mostrou, a princípio, grandes desejos de separar-se do marido; mas Cristiana alertou-a sobre as dificuldades e conseqüências de uma separação: “entre as razões de decoro que apresentou para que Eulália não tornasse pública a história das suas desgraças domésticas, alegou a existência de uma filha do casal, que cumpria educar e proteger” (Jornal das Famílias, nov. 1864, p. 325). Eulália não teve outra saída senão resignar-se ao suplício, permanecendo, conforme a indicação do título, “casada e viúva” a um só tempo: “A pobre mãe, viúva da pior viuvez desta vida, que é aquela que anula o casamento conservando o cônjuge, só vivia para sua filha” (Idem, p. 325). Diante do exposto, podemos perceber a intenção de Machado de Assis de dar continuidade às proposições temáticas do Romantismo, problematizando as suas formulações e conferindo uma dimensão mais realista à questão do casamento. Manifestando certa isenção aos propósitos edificantes e moralizantes do Jornal das Famílias, o narrador afirma que a sua intenção consiste simplesmente em esboçar quadros e caracteres, numa acepção bastante próxima daquela que seria proposta oito anos depois na “Advertência” do romance Ressurreição (1872): “Eu não pretendo senão esboçar quadros ou caracteres, conforme me ocorrem ou vou encontrando. É isto e nada mais” (Idem, p. 325). 22 anais do colóquio de alunos de pós-graduação em letras BEZERRA, Carlos Eduardo; SANTINI, Gilmar T.; SILVA, Jacicarla S.; SILVA, Telma M. (Orgs.) I colóquio de alunos da pós-graduação em letras da f.c.l. de assis literatura e vida social: pesquisa e inserção no mercado de trabalho assis#sp 12, 13 e 14 jun. 2007 p.14-28 ISSN: 2176- 6347 Em vez de histórias edificantes, tem-se em vista a crítica e o questionamento das regras sociais. Procurando criar um efeito de realidade, o narrador machadiano faz uma representação da situação real da mulher brasileira, vivendo numa sociedade patriarcal e conservadora. Está em debate as limitações da condição feminina nesse contexto, em que o destino da mulher, como que “inscrito na natureza”, estava previamente traçado: casar e ter filhos. Apresentando o casamento em situação de crise, a narrativa polemiza a continuidade de relações matrimoniais insatisfatórias que, em função das regras sociais e da manutenção das aparências, não eram desfeitas. Cumpria à mulher casada educar os filhos e não permitir, em hipótese alguma, que as aparências de um casamento feliz fossem abaladas. Essa crítica torna-se ainda mais contundente quando o narrador machadiano denuncia essas práticas adúlteras e calculistas como um “ato comum, praticado todos os dias, no meio da tolerância geral e até do aplauso de muitos”. Apresentando o adultério, o cálculo e o cinismo como práticas deliberadas, embora dissimuladas, da sociedade brasileira de meados do século XIX, o conto em questão denuncia a falência do casamento e, dentro dele, a insatisfação da mulher, dando mostras do desacordo entre essência e aparência, entre idealismo romântico e realidade prática. Desse modo, as cenas finais da narrativa impelem o leitor a uma releitura dos episódios iniciais da história, no sentido de considerar a ironia do narrador na descrição do idílio amoroso do casal. Esse procedimento e as constantes emendas executadas no decurso da narrativa, (“Minto”; “Se eu dissesse amor, mentia” etc.), atuam no sentido de conscientizar o leitor da necessidade de desconfiar da sinceridade e do sentido literal das afirmações do narrador. As suas considerações iniciais a respeito do idílio amoroso do casal alimentam as expectativas do leitor propenso ao envolvimento emocional com a trama romanesca; esta, no entanto, será desconstruída no decurso da narrativa, ocasionando a frustração das expectativas formuladas. Portanto, assumindo o cinismo que envolve a ação das personagens, a relação que o narrador estabelece com o leitor é marcada pela ironia e pela impostura. 23 anais do colóquio de alunos de pós-graduação em letras BEZERRA, Carlos Eduardo; SANTINI, Gilmar T.; SILVA, Jacicarla S.; SILVA, Telma M. (Orgs.) I colóquio de alunos da pós-graduação em letras da f.c.l. de assis literatura e vida social: pesquisa e inserção no mercado de trabalho assis#sp 12, 13 e 14 jun. 2007 p.14-28 ISSN: 2176- 6347 IV. A moralidade às avessas No prefácio de Contos sem data, Raimundo Magalhães Júnior observa as transformações pelas quais passou a peça “As forcas caudinas” até alcançar a forma final do conto “Linha reta e linha curva” publicado na coletânea Contos fluminenses. Na passagem do Jornal das Famílias para o livro, Machado de Assis “suprimiu […] a parte final, em que dava explicações sobre o que estava explicado e fazia a ‘moralidade’, indispensável às histórias daquela publicação” (MAGALHÃES JR., 1956c, p. 9, grifos nossos). Se a moralidade era “indispensável” para atender as exigências da publicação do texto no Jornal das Famílias, resta saber, no entanto, se as narrativas machadianas atendem efetivamente aos critérios morais e aos padrões ideológicos impostos pela direção do periódico, ou se Machado de Assis teria assumido, por outro lado, uma postura subversiva em relação a esse aspecto. No prefácio de Contos recolhidos, Raimundo Magalhães Júnior observa também as transformações sofridas pelo conto “Uma excursão milagrosa” (A. Jornal das Famílias, abr. e maio 1866) para atender as exigências do Jornal das Famílias. Uma versão inicial dessa narrativa teria sido publicada sob o título “O país das quimeras” (O futuro, 1º. nov. 1862), acompanhado da indicação: “conto fantástico”. Dentre as alterações executadas, Magalhães Jr. destaca a passagem da narração em terceira pessoa para primeira do singular, na voz da personagem Tito, o que seria mais verossímil para um relato fantástico. Além disso, o escritor “colocou-lhe também uma introdução ou ‘nariz de cera’ e um epílogo, ou moralidade” (MAGALHÃES JR., 1956b, p. 9). Na seqüência, Magalhães Jr. comenta: “Destinando o autor ‘Uma excursão milagrosa’ ao ‘Jornal das Famílias’ tais acréscimos se fizeram necessários, sem dúvida, à divisão do trabalho em dois folhetins” (Idem, p. 9). Dos comentários do autor depreende-se, uma vez mais, que a moralidade era “indispensável” à publicação do texto no Jornal das Famílias. Vejamos, portanto, como se configura a narrativa e o seu desfecho supostamente moralizante. Nesse conto, o motivo do duplo percorre toda a esfera narrativa. Na abertura do relato quem está com a palavra é aparentemente o próprio autor: “Tenho uma viagem milagrosa para contar aos leitores, ou antes uma narração para transmitir, porque o próprio 24 anais do colóquio de alunos de pós-graduação em letras BEZERRA, Carlos Eduardo; SANTINI, Gilmar T.; SILVA, Jacicarla S.; SILVA, Telma M. (Orgs.) I colóquio de alunos da pós-graduação em letras da f.c.l. de assis literatura e vida social: pesquisa e inserção no mercado de trabalho assis#sp 12, 13 e 14 jun. 2007 p.14-28 ISSN: 2176- 6347 viajante é quem narra as suas aventuras e as suas impressões” (Jornal das Famílias, abr. 1866, p. 108). As considerações iniciais desse suposto autor ocupam toda a parte da narrativa publicada naquele mês; só na parte final, é dada a palavra ao protagonista e narrador das aventuras fantásticas: “Aqui deixa de falar o autor para falar o protagonista. Não quero tirar o encanto natural que há de ter a narrativa do poeta reproduzindo as suas próprias impressões” (Jornal das Famílias, maio 1866, p. 139). No desfecho do conto, o suposto autor retoma a palavra para apresentar a referida “moralidade”: “Tal é a narrativa de Tito. Esta pasmosa viagem serviu-lhe de muito […]” (Jornal das Famílias, maio 1866, p. 148). Essa imbricação entre as instâncias narrativas tende a causar certo “estranhamento”, que dificulta a percepção imediata e a satisfação das expectativas habituais, solicitando uma renovação das formas de leitura. O duplo também marca presença na caracterização do protagonista: “Como as medalhas, e como todas as coisas deste mundo de compensações, Tito tem um reverso. [...] Podendo ser, do colo para cima, modelo à pintura, Tito é uma lastimosa pessoa no que toca ao resto. Pés prodigiosamente tortos, pernas zaimbras” (Jornal das Famílias, abr. 1866, p. 110). Essa caracterização dúplice não se restringe apenas ao aspecto físico: “No moral Tito apresenta o mesmo aspecto duplo do físico. Não tem vícios, mas tem fraquezas de caráter” (Idem, p. 110). A duplicidade da personagem revela-se também no seu ofício de poeta. Nesse caso, o narrador afirma que suas fraquezas de caráter eram “filhas mesmo das suas virtudes”. Em face de “necessidades urgentes” e da falta de recursos, Tito não teve outra saída senão comercializar as suas produções literárias, perdendo, assim, o direito de paternidade sobre elas. Passado algum tempo, Tito “começou a defraudar o freguês das odes, subtraindo-lhe algumas estrofes inflamadas”, em função de um “infortúnio amoroso”. Rejeitado pela amada, o primeiro projeto que lhe veio à mente foi simplesmente o de “deixar este mundo”. Por achá-lo “sanguinolento e definitivo”, abandonou esse propósito e limitou-se a fazer uma viagem, sem saber se “por mar ou por terra”. A viagem realizada pelo poeta também adquire uma feição dúplice, conforme transparece nas considerações iniciais do narrador-autor: “Se a chamo milagrosa é porque as circunstâncias em que foi feita são tão singulares, que a todos há de parecer que não 25 anais do colóquio de alunos de pós-graduação em letras BEZERRA, Carlos Eduardo; SANTINI, Gilmar T.; SILVA, Jacicarla S.; SILVA, Telma M. (Orgs.) I colóquio de alunos da pós-graduação em letras da f.c.l. de assis literatura e vida social: pesquisa e inserção no mercado de trabalho assis#sp 12, 13 e 14 jun. 2007 p.14-28 ISSN: 2176- 6347 podia ser senão um milagre”. A despeito desse aspecto extraordinário, o narrador-autor afirma que “não se pode deixar de reconhecer que o fundo é o mais natural e possível deste mundo” (Jornal das Famílias, abr. 1866, p. 108). Na seqüência, o narrador-autor também faz alusão a diversas memórias de viagens, misturando relatos reais (“viagens do capitão Cook”), com histórias ficcionais (“viagens de Gulliver”) e extraordinárias (“narrativas de Edgar Poe” e “contos de ‘Mil e uma noites’”). Disseminando o motivo do duplo por toda a esfera da narrativa, é presumível que a viagem “milagrosa” e “natural” realizada pelo poeta Tito tenha encontrado no seu percurso elementos e situações dúplices, constituindo um misto de fantasia e realidade. A viagem do poeta não é realizada “nem por mar, nem por terra” (o que seria mais próprio de uma viagem real), mas pelo ar, evidenciando ser amparada pela imaginação. Assim, “uma sílfide, uma criatura celestial, vaporosa, fantástica, trajando vestes alvas, nem bem de pano, nem bem névoas, uma coisa entre as duas espécies...”, invadiu o aposento do poeta. Depois de algumas palavras trocadas, os olhos do poeta “viram abrirem-se das espáduas da visão duas longas e brancas asas que ela começou a agitar e das quais caía uma poeira de ouro” (Idem, p. 141). O teto rasgou e os dois subiram; os planetas passavam como se fossem “corcéis desenfreados”, até que chegaram ao “país das Quimeras”. Adentrando nesse país fantástico, o poeta começou a perceber que “os objetos tomavam o aspecto da realidade” (Idem, p. 141). Desse modo, essa suposta “fuga da realidade” executada pelo poeta parece ter uma conotação irônica, já que essa viagem fantástica reproduz as estruturas próprias do mundo real, como se não houvesse meios de fugir da realidade. Conforme a síntese traçada por Sílvia Azevedo, esse país fantástico constitui uma versão às avessas do mundo real: Na verdade, esse país fantástico, sob vários aspectos, é uma cópia de um outro, tido como real. Em particular, as convenções, as mesquinharias (representadas pelo Gênio das Bagatelas, o soberano do lugar), as etiquetas, a moda, a vaidade (da qual faz apologia um filósofo de lá), as hierarquias. Enfim, um país, esse das Quimeras, em que a fantasia é tomada pela realidade, uma outra versão do mundo às avessas (AZEVEDO, 2006, p. 5). As entidades e convenções representadas nessa viagem fantástica também assumem uma feição dúplice: a “massa cerebral” (racional) é associada com “massa 26 anais do colóquio de alunos de pós-graduação em letras BEZERRA, Carlos Eduardo; SANTINI, Gilmar T.; SILVA, Jacicarla S.; SILVA, Telma M. (Orgs.) I colóquio de alunos da pós-graduação em letras da f.c.l. de assis literatura e vida social: pesquisa e inserção no mercado de trabalho assis#sp 12, 13 e 14 jun. 2007 p.14-28 ISSN: 2176- 6347 quimérica” (fantasia); “diplomatas” são confundidos com “espantalhos”; o filósofo, com seu falar “pausado”, “embebido na música das próprias palavras” e com seu “gesto estudado”, assemelha-se à figura de um retórico ou orador de sobremesa; a “vaidade” também é vista como a consciência da “elevação moral” (Cf. Jornal das Famílias, maio 1866, p. 144-146). Terminada a sua excursão ao “país das Quimeras”, o saldo obtido também tem um caráter dúplice. Se, por um lado, o poeta “adquiriu um olhar de lince, capaz de descobrir, à primeira vista, se um homem tem na cabeça miolos ou massa quimérica”, por outro lado, “mais infeliz e mais pobre ficou depois disto” (Idem, p. 148). Daí vem a moralidade às avessas com o conselho final dado pelo narrador: “Aprendam os outros no espelho deste. Vejam o que lhes aparecer à mão, mas procurem dizer o menos que possam as suas descobertas e as suas opiniões” (Idem, p. 148). Concluise, portanto, que o caminho mais viável é ser graciosamente hipócrita, já que expressar a verdade só traz desvantagens e frustrações. Passando por uma real desilusão amorosa, o poeta recorre ao expediente romântico da “fuga da realidade”, incorrendo em nova desilusão, já que os sonhos reproduzem avessamente as estruturas do mundo real. Enfim, conclui-se que não há meios de fugir a essa realidade marcada pela hipocrisia. V. Considerações finais Com este trabalho, foi-nos possível examinar a postura subversiva do jovem contista Machado de Assis em relação à exigência de narrativas sentimentais e moralizantes requerida solicitar pelo Jornal das Famílias. Contornando os condicionamentos da imprensa periódica as narrativas machadianas reaproveitam de modo crítico e problematizante os temas e motivos da estética romântica, desconstruindo as mistificações e os excessos das manifestações idealistas do Romantismo e virando ao avesso as formulações moralizantes reinvindicadas pelo periódico. 27 anais do colóquio de alunos de pós-graduação em letras BEZERRA, Carlos Eduardo; SANTINI, Gilmar T.; SILVA, Jacicarla S.; SILVA, Telma M. (Orgs.) I colóquio de alunos da pós-graduação em letras da f.c.l. de assis literatura e vida social: pesquisa e inserção no mercado de trabalho assis#sp 12, 13 e 14 jun. 2007 p.14-28 ISSN: 2176- 6347 VI. Referências bibliográficas AZEVEDO, Sílvia Maria. A trajetória de Machado de Assis: do Jornal das Famílias aos contos e histórias em livro. (Tese de Doutorado). São Paulo: USP, 1990. ______. O menino é o pai do homem. Disponível em: <http://www.geocities.com/ail_br/omeninoeopaidohomem.htm>. Acesso em: 18/08/2006. 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