UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: DESENVOLVIMENTO REGIONAL PROGRAMA REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE GESTÃO INTEGRADA REGIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: UMA ALTERNATIVA PARA OS MUNICÍPIOS DE TELHA E CEDRO DE SÃO JOÃO, BAIXO SÃO FRANCISCO SERGIPANO Autora: Ligia Maria Santos de Oliveira Orientador: Prof. Dr. José Daltro Filho ABRIL - 2004 São Cristóvão – Sergipe Brasil 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: DESENVOLVIMENTO REGIONAL PROGRAMA REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE GESTÃO INTEGRADA REGIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: UMA ALTERNATIVA PARA OS MUNICÍPIOS DE TELHA E CEDRO DE SÃO JOÃO, BAIXO SÃO FRANCISCO SERGIPANO Dissertação de Mestrado apresentada ao Núcleo de PósGraduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de Sergipe, como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Autora: Ligia Maria Santos de Oliveira Orientador: Prof. Dr. José Daltro Filho ABRIL - 2004 São Cristóvão – Sergipe Brasil 3 LIGIA MARIA SANTOS DE OLIVEIRA GESTÃO INTEGRADA REGIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: UMA ALTERNATIVA PARA OS MUNICÍPIOS DE TELHA E CEDRO DE SÃO JOÃO, BAIXO SÃO FRANCISCO SERGIPANO. Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Sergipe do Núcleo de Pós-Graduação e Estudos do Semi-árido, Curso de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, vinculado ao Programa Regional de PósGraduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA, pela comissão examinadora formada pelos professores: BANCA EXAMINADORA Professor Dr. José Daltro Filho (Presidente) Universidade Federal de Sergipe Professora Dra. Cláudia Coutinho Nóbrega Universidade Federal da Paraíba. Professora Dra. Maria Augusta Mundim Vargas Universidade Federal de Sergipe. ABRIL - 2004 São Cristóvão – Sergipe Brasil 4 Um dia, uma criança desenhava e pintava silenciosa ao meu lado, enquanto eu estudava. Mais tarde ela perguntou: Sabe o que eu estou pintando? Não. O que significa sua pintura? Eu perguntei. E ela me respondeu: O verde, amarelo, azul e o branco representam o Brasil; o preto representa a poluição, e o vermelho, é pare com a poluição no Brasil!. Foi aí que percebi, que nem tudo estava perdido, e que aquela criança representava o nosso futuro! E o melhor, sabe quem era aquela criança? Aquela criança era o meu filho: Victor Mateus, “luz da minha vida”. A quem dedico todo este trabalho com muito amor e carinho! 5 AGRADECIMENTOS A Deus, razão da minha existência e fonte que renova minhas forças a cada dia. A minha família. Aos meus Pais, José Santos e Dulcinéa Batista Santos, instrumentos de Deus em minha vida. E aos meus irmãos, especialmente Angélica, Rosa, Italva e Marcos, amigos e companheiros de toda jornada, pela força e apoio concedidos, sem o qual não conseguiria este feito. Ao pai do meu filho, Antônio Carlos e aos meus sogros, José Maria e Iara Maria pelo carinho e disponibilidade em contribuir nesta caminhada. A Maria José (Tata Girl) pelo cuidado e dedicação com o meu filho. Ao Professor Dr. José Daltro Filho pela simplicidade, paciência e compreensão das minhas limitações. Foi para mim uma honra tê-lo como Orientador e expresso minha gratidão pelos valiosos ensinamentos e pela seriedade, competência e extremo zelo com que me orientou. Aos professores do Núcleo de Pós-Graduação e Estudos do Semi-Árido (NESA) da UFS, pelas contribuições dadas no Mestrado: Prof. Antônio Carlos, Profª. Maria Augusta Vargas, Prof. Edmilson Menezes, Prof. Haroldo Dórea, Prof. Vânia Fonseca, Prof. Antenor de Oliveira, Prof. Roberto Rodrigues, Prof. Justino e Profª Rivanda Teixeira. Ao amigo Prof. Hélio Mário de Araújo pelas valiosas contribuições para este trabalho. Aos Professores Dr. José do Patrocínio Hora Alves, Prof. Dr. Carlos Alexandre Borges Garcia e a bolsista Débora pela realização das análises físico-químicas da água no Laboratório de Química Analítica Ambiental/UFS. Ao Instituto Parreiras Horta pela realização das análises bacteriológicas. E a Viviane da Turma 2003, pelo seu apoio fundamental. Ao Sr. João Carlos da Rocha, a Cibele Oliveira e Sérgio Luís da Rocha da SRH, pelas importantes e vitais contribuições cartográficas fornecidas para o estudo. 6 A Petrobrás nas pessoas de Ismael Quirino, Petrônio Bonfim e Arionaldo Rodrigues pelas valiosas informações geológicas concedidas. A companheira do Mestrado Denize dos Santos, pela paciência em tentar introduzir os conceitos básicos do Geoprocessamento e pela contribuição dada na elaboração dos mapas. A companheira bolsista do PIBIC, Flávia Dantas Moreira pela especial colaboração na confecção dos mapas no Laboratório de Geoprocessamento (NESA/UFS) e no trabalho de campo. E a Profª Drª Rosemeri Melo e Souza pelas dúvidas tiradas e valiosas contribuições. Aos demais colegas da Turma 2002, Anselmo, Sílvia, Tereza, Francineide, Mônica, Jean, Jeane, Alessandra, Luís Carlos, Idalton, Carlos Alberto, Hermínio e Sérgio que caminharam juntos nesta jornada, árdua, porém, gratificante. Aos bolsistas Max, Thaís, Fernanda e Anízia pela ajuda nos trabalhos de campo e força constante. A Katiene, Aline, Najó, Almir e D. Rosa, companheiros do NESA, pela atenção dispensada e presteza no atendimento às nossas solicitações. A Eudes de Oliveira Bomfim pela importante contribuição não só na digitação e formatação, como pela força transmitida. E a Maria José dos Santos pela indicação e as palavras de incentivo. Aos Prefeitos, Secretários e demais funcionários das Prefeituras de Telha e Cedro de São João pela atenção e informações concedidas. Aos representantes das Associações pela importante participação. E aos funcionários da limpeza das duas cidades, pela enorme colaboração com este trabalho. A todos os habitantes de Telha e Cedro de São João pela abertura dos seus lares, pelas sugestões dadas e pela efetiva participação na análise da situação atual dos resíduos sólidos em ambas cidades. Aos meus alunos e colegas do Colégio Dom Luciano, verdadeiros responsáveis por esse grande desafio e a todos que contribuíram com a realização deste estudo. 7 Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão Não era um gato Não era um rato. O bicho, o meu Deus, era um homem. Manuel Bandeira, O Bicho 8 RESUMO O crescimento da população mundial, aliado à crescente urbanização, leva a admitir que nossos espaços de reservas estão diminuindo, pois a sociedade humana se aglomerou, criando as cidades e resultando na elevação da produção de resíduos sólidos. No Brasil, a maioria das cidades não trata seus resíduos e os dispõem em vazadouros a céu aberto, os chamados lixões. Em Sergipe, mesmo em municípios de pequeno porte, a situação não é diferente, criando condições insalubres , poluindo os solos, os cursos d’água e o ar, alterando a qualidade dos elementos que integram a biosfera. O presente estudo teve como objetivo identificar alternativas de gestão integrada regional de resíduos sólidos, nos municípios de Telha e Cedro de São João. A metodologia utilizada fundamentou-se no enfoque sistêmico, de natureza quanti-qualitativa, aliada a um estudo de caso da gestão dos resíduos sólidos nos referidos municípios. Os dados foram coletados através de fontes bibliográficas e documentais; questionários aplicados junto aos domicílios urbanos, instituição municipal, sociedade civil organizada, setor de saúde; entrevistas com os Prefeitos; caracterização dos resíduos; e diagnóstico participativo. A partir do universo dos domicílios urbanos, dos municípios estudados, foi selecionada uma amostra de setenta e quatro domicílios em Telha e noventa e quatro em Cedro de São João, através de critério de amostragem não probabilística e para os demais questionários usou-se o critério de acessibilidade. Como principais resultados do estudo, pode-se destacar que o modelo de gestão de resíduos praticado pelos municípios obteve boa aceitação, no tocante à coleta e aos serviços de limpeza urbana, tendo como desafio a destinação final em Telha e a falta de colaboração da população com a limpeza dos logradouros, em Cedro de São João. O gerenciamento dos resíduos em Cedro de São João é executado pela Prefeitura e em Telha através de uma empresa contratada. A coleta é diária e transportada em caminhões-carroceria nos dois municípios, e a disposição final sob forma de lixão, na mesma área destinada ao aterro sanitário em Telha. Na composição física dos resíduos, prevalece a matéria orgânica, tanto em Telha (17,6%), quanto em Cedro de São João (27,79%), possuindo um teor elevado de materiais diversos, devido ao lixo ser muito misturado. A água analisada pode ser usada para a balneabilidade. Há possibilidade de formação de um Consórcio Intermunicipal entre Telha e Cedro de São João. O estudo preliminar considerou a área adequada para a implantação do aterro sanitário. Constatou-se, também, a importância da sociedade civil na gestão de resíduos sólidos. As conclusões do estudo ressaltam a necessidade de uma política de resíduos sólidos municipal que defina e envolva a sociedade, desde a não geração, até a disposição final adequada. Finalmente, apresenta-se no estudo, uma proposta de gestão de resíduos, que visa respeitar as culturas, atitudes, necessidades, diversidades, potencialidades e limitações locais de forma integrada e que ao mesmo tempo busca uma nova ética ambiental. Palavras-chave: resíduos sólidos; gestão de resíduos sólidos; ética ambiental; Baixo São Francisco; Sergipe. 9 ABSTRACT The increase of the world’s population associated to a increasing urbanization it takes to admit that reservations areas are decreasing, as the the human society disperse itself creating the cities. The result is the elevation of the solid wastes production. In Brazil, most of the cities doesn't care about their residues and dispose them in vazadouros in a freeway. In Sergipe, even in municipal district of small load, the situation is not different, creating unhealthy conditions: polluting the soils, the water’s courses and the air, changing the quality of the biosphere elements. The present study had as objective to identify alternatives by an integrated regional management of solid waste in Telha and Cedro de São João. The methodology used was arranged in systematic focus of quanti-qualitative nature in accordance with a study of case from solid wastes in the districts reffered. The data were collected through bibliographical and documental sources; questionnaires were applied to the urban homes close to, municipal institutions, organized civil society, section of health; interviews with the Mayors; characterization of the waste; and diagnostic report. Through all urban homes from the municipal districts studied, was selected a composed sample by seventy-four urban homes in Telha and ninety four ones in Cedro de São João, through criterion of sampling non probabilistic and for the others questionnaires were used the accessibility criterion. As principal results of the study, it can stand out that the model of management of residues practiced by the municipal districts has obtained good acceptance, concerning collection and to the services of urban cleaning, it tends as challenge the final destination in Telha and the lack of collaboration of some of the community members with the cleaning of the public areas, in Cedro de São João. The management of the residues in Cedro de São João is executed by the City hall and in Telha through a contracted company. The collection is daily and transported in truck-truck in the two municipal districts, and the final disposition in vazadouros form, in the same area destined to the sanitary embankment in Telha. In the physical composition of the residues, the organic matter prevails so much in Telha (17,6%) as in Cedro de São João (27,79%), possessing a high tenor of several material due to the garbage to be very mixed. The analyzed water can be used goes for bathe. Possibility of formation of a partnership between Telha and Cedro de São João. The preliminary study considered the appropriate area for the implantation of the sanitary embankment. The importance of the civil society was verified in the management of solid wastes. The conclusions of the study point out the need of a municipal politics of solid wastes that defines and involves the society since the non generation to the adapted final disposition. Finally, it comes in the present study, a proposal of management of residues, that seeks to respect the cultures, attitudes, needs, diversities, potentialities and local limitations in an ethical way and integrated and that at the same time looks for a new environmental ethics. Key words: solid wastes; management of solid wastes; environmental ethics. 10 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Atividades do Geoprocessamento..................................................................... 52 Figura 2 - Sistema de Gestão de Resíduos Sólidos............................................................ 57 Figura 3 - Modelo de Gestão/Gerenciamento Convencional............................................. 65 Figura 4 - Modelo de Gestão/Gerenciamento Privatização ............................................... 65 Figura 5 - Modelo de Gestão/Gerenciamento Individual com compartilhamento............. 66 Figura 6 - Modelo de Gestão/Gerenciamento Compartilhado........................................... 67 Figura 7 - Modelo de Gestão/Gerenciamento com compartilhamento na Destinação Final .................................................................................................................. 67 Figura 8 - Técnica de Quarteamento para Caracterização do Resíduo.............................. 92 Figura 9 - Modelo de Gestão atual de resíduos sólidos em Cedro de São João – Modelo Convencional..................................................................................................... 118 Figura 10 - Modelo de Gestão Atual de Resíduos em Telha – Modelo Convencional com Privatização............................................................................................. 118 Figura 11 - Fluxograma de Manejo atual dos resíduos sólidos urbanos, Cedro de São João................................................................................................................. 119 Figura 12 - Fluxograma de manejo atual dos resíduos sólidos urbanos de Telha............. 120 Figura 13 - Modelo de Gestão dos Resíduos de Telha e Cedro de São João/Gerenciamento Compartilhado.............................................................. 149 Figura 14 - Modelo de Gestão dos Resíduos de Telha e Cedro de São João/Gerenciamento com Compartilhamento na Destinação Final................ 150 Figura 15 - Organização Administrativa do Consórcio Intermunicipal de Telha e Cedro de São João..................................................................................................... 151 Figura 16 - Fluxograma de Manejo Integrado e Diferenciado dos Resíduos Sólidos Urbanos de Telha e Cedro de São João ......................................................... 153 Figura 17 - Aterro Sanitário: Método Trincheira.............................................................. 164 Figura 18 - Aterro Sustentável – Espalhamento do resíduo.............................................. 164 Figura 19 - Aterro Sustentável – Compactação do resíduo............................................... 164 Figura 20 - Avaliação do Sistema de Gestão de Resíduos Sólidos Proposto.................... 168 11 LISTA DE FOTOGRAFIAS Fotografia 1 - Lixão de Propriá................................................................................. 46 Fotografia 2 - Município de Telha............................................................................. 79 Fotografia 3 - Município de Cedro de São João........................................................ 82 Fotografia 4 - Lagoa Salomé, Cedro de São João..................................................... 104 Fotografia 5 - Local de Coleta da amostra no 01, Telha............................................ 106 Fotografia 6 - Local de Coleta da amostra no 02, Telha............................................ 106 Fotografia 7 - Coleta da amostra no 03, Lagoa Salomé, Cedro de São João............. 107 Fotografia 8 - Coleta da amostra nº 04, contribuinte da lagoa Salomé – Cedro de São João.............................................................................................. 107 Fotografia 9 - Focos de lixo, próximo a lagoa Salomé.............................................. 109 Fotografia 10 - Focos de lixo, Poço dos Bois - Cedro de São João............................. 109 Fotografia 11 - Lixão, fundo do cemitério, Telha....................................................... 110 Fotografia 12 - Animais se alimentando no lixão de Própria...................................... 110 Fotografia 13 - Apresentação dos Grupos - Diagnóstico Participativo/Telha............. 114 Fotografia 14 - Diagnóstico Participativo, Telha........................................................ 114 Fotografia 15 - Apresentação Diagnóstico Participativo/Cedro de São João.............. 115 Fotografia 16 - Diagnóstico Participativo, Cedro de São João.................................... 115 Fotografia 17 - Caracterização do Lixo, Telha............................................................ 124 Fotografia 18 - Caracterização do Lixo, Cedro de São João....................................... 125 Fotografia 19 - Coleta e transporte do lixo em Telha.................................................. 130 Fotografia 20 - Coleta e transporte do lixo em Cedro de São João............................. 130 Fotografia 21 - Lixão nos fundos do cemitério em Telha........................................... 131 Fotografia 22 - Nova área de disposição, Telha.......................................................... 131 Fotografia 23 - Área destinada à disposição final de Telha e Cedro de São João....... 132 Fotografia 24 - Disposição conjunta de resíduos sólidos em Telha e Cedro de São João .................................................................................................... 133 12 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Disposição final do lixo no Brasil, 1998................................................... 38 Gráfico 2 - Disposição final do lixo no Nordeste, 1998.............................................. 38 Gráfico 3 - Escolaridade dos moradores pesquisados em Telha e Cedro de São João 95 Gráfico 4 - Ocupação do chefe da família em Telha................................................... 96 Gráfico 5 - Ocupação do chefe da família em Cedro de São João.............................. 97 Gráfico 6 - Renda mensal da família em Telha e Cedro de São João........................ Gráfico 7 - Número de pessoas da família em Telha e Cedro de São João................. 99 Gráfico 8 - Número de pessoas que trabalham em Telha e Cedro de São João......... 100 Gráfico 9 - Qualidade da coleta de lixo em Telha e Cedro de São João..................... 101 98 Gráfico 10 - Tipo de material aproveitado em Telha e Cedro de São João................... 103 Gráfico 11 - Incidência de doenças em Telha............................................................... 111 Gráfico 12 - Incidência de doenças em Cedro de São João.......................................... 112 Gráfico 13 - Composição gravimétrica dos resíduos sólidos de Cedro de São João..... 125 Gráfico 14 - Composição gravimétrica dos resíduos sólidos de Telha......................... 126 Gráfico 15 - Acondicionamento domiciliar em Telha e Cedro de São João................. 129 13 LISTA DE MAPAS Mapa 1 - Localização dos municípios de Telha e Cedro de São João........................ 78 Mapa 2 - Disposição dos Resíduos Sólidos nas duas comunidades........................... 108 Mapa 3 - Localização da área com as rodovias.......................................................... 134 Mapa 4 - Hidrografia nos municípios de Telha e Cedro de São João......................... 136 Mapa 5 - Hipsometria nos municípios de Telha e Cedro de São João........................ 138 Mapa 6 - Declividade nos municípios de Telha e Cedro de São João........................ 140 Mapa 7 - Geologia nos municípios de Telha e Cedro de São João............................. 142 14 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Doenças causadas pelos vetores transmissores........................................ 36 Quadro 2 - Critério para a avaliação das áreas para a instalação de aterro sanitário.. 48 Quadro 3 - Situação mundial do lixo.......................................................................... 59 Quadro 4 - Experiência de consórcios intermunicipais em resíduos sólidos.............. 75 Quadro 5 - Diagnóstico participativo.......................................................................... 88 Quadro 6 - Exemplos básicos de cada categoria de resíduos sólidos urbanos............ 124 Quadro 7 - Critérios de avaliação diária da área estudada.......................................... 146 Quadro 8 - Incidência de doenças em Telha............................................................... 196 Quadro 9 - Incidência de doenças em Cedro de São João.......................................... 196 15 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Municípios com serviços de limpeza e coleta de lixo.............................. 38 Tabela 2 - Regiões com algum serviço de saneamento............................................. 39 Tabela 3 - Hierarquização dos critérios..................................................................... 88 Tabela 4 - Ponderação do atendimento aos critérios................................................. 89 Tabela 5 - Classificação da área................................................................................ 89 Tabela 6 - Resumo da análise bacteriológica da água............................................... 104 Tabela 7 - Resumo da análise físico-química da água............................................... 105 Tabela 8 - Composição física média dos resíduos sólidos domésticos de Aracaju, no período de um ano de observação (% em base úmida)........................ 126 Tabela 9 - Composição física média dos resíduos sólidos domésticos de Telha e Cedro de São João, segundo classificação de Bowerman........................ 127 Tabela 10 - Composição dos resíduos sólidos com vistas ao seu aproveitamento...... 127 Tabela 11 - Avaliação da área...................................................................................... 147 Tabela 12 - Estimativa da geração de resíduos sólidos domiciliares (RSD) no Município de Telha................................................................................... 156 Tabela 13 - Estimativa da geração de resíduos sólidos domiciliares (RSD) no Município de Cedro de São João.............................................................. 157 Tabela 14 - Estimativa do número de veículos e o tipo a ser utilizado....................... 160 Tabela 15 - Escolaridade dos moradores pesquisados em Cedro de São João e Telha......................................................................................................... 189 Tabela 16 - Ocupação do chefe da família de Cedro de São João e Telha ................ 189 Tabela 17 - Renda mensal da família em Cedro de São João e Telha......................... 190 Tabela 18 - Número de pessoas da família em Cedro de São João e Telha................ 190 Tabela 19 - Número de pessoas da família que trabalham em Cedro de São João e Telha......................................................................................................... 190 Tabela 20 - Satisfação com a limpeza urbana em Cedro de São João e Telha............ 191 Tabela 21 - Melhoria da coleta em Cedro de São João e Telha................................... 191 Tabela 22 - Qualidade da coleta em Cedro de São João e Telha................................. 191 Tabela 23 - Destino do lixo em Cedro de São João e Telha........................................ 192 Tabela 24 - Freqüência da coleta em Cedro de São João e Telha............................... 192 Tabela 25 - Horário da coleta em Cedro de São João e Telha..................................... 192 16 Tabela 26 - Quantidade de lixo produzido em Cedro de São João e Telha................. 193 Tabela 27 - Os males que o lixo provoca em Cedro de São João e Telha................... 193 Tabela 28 - Acondicionamento do lixo nos domicílios de Cedro de São João e Telha......................................................................................................... 193 Tabela 29 - Aproveitamento de material em Cedro de São João e Telha ................... 194 Tabela 30 - Tipo de material aproveitado em Cedro de São João e Telha ................. 194 Tabela 31 - Formas de aproveitamento do material em Cedro de São João e Telha... 194 Tabela 32 - Motivação de aproveitamento do material em Cedro de São João e Telha......................................................................................................... 195 Tabela 33 - Sugestões dos moradores de Cedro de São João e Telha......................... 195 Tabela 34 - Composição gravimétrica dos resíduos sólidos de Telha e Cedro de São João........................................................................................................... 197 17 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................................... 20 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................................. 25 2.1 Ética Ambiental: Uma Nova Ética Mundial............................................................ 25 2.2 Gestão Ambiental e o Discurso de um Desenvolvimento Sustentável .................... 29 2.3 Saneamento Ambiental e Políticas Públicas ............................................................ 33 2.4 Resíduos Sólidos Urbanos ........................................................................................ 40 2.4.1 Conceitos............................................................................................................. 40 2.4.2 Composição e Características .............................................................................. 40 2.4.3 Tipologia do Lixo ................................................................................................ 41 2.4.4 Geração de Resíduos ........................................................................................... 41 2.4.4.1 Determinação da composição gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos ...... 42 2.4.5 Sistema de acondicionamento dos resíduos sólidos .............................................. 42 2.4.6 Tratamento dos Resíduos Sólidos Urbanos .......................................................... 43 2.4.6.1 Incineração ................................................................................................... 43 2.4.6.2 Pirólise ......................................................................................................... 44 2.4.6.3 Compostagem ............................................................................................... 44 2.4.6.4 Reciclagem ................................................................................................... 44 2.4.7 Disposição Final dos Resíduos Sólidos Urbanos .................................................. 45 2.4.7.1 Lixão ............................................................................................................ 45 2.4.7.2 Aterro controlado.......................................................................................... 46 2.4.7.3 Aterro sanitário............................................................................................. 47 2.4.8 Seleção de Áreas para Aterro Sanitário ................................................................ 47 2.4.8.1 Vida útil de um aterro sanitário ..................................................................... 50 2.4.8.2 Cuidados especiais no aterro sanitário........................................................... 50 2.4.8.3 Vantagens dos aterros sanitários, segundo Schalch (1999): ........................... 51 2.4.8.4 Desvantagens dos aterros sanitários, segundo Schalch (1999): ...................... 51 2.4.8.5 Geoprocessamento como ferramenta de seleção de áreas .............................. 51 2.5 Gestão de Resíduos Sólidos ...................................................................................... 54 2.5.1 Sistemas de Gestão de Resíduos Sólidos.............................................................. 55 2.5.2 Experiências Internacionais em Gestão de Resíduos Sólidos................................ 57 2.5.3 Experiências Brasileiras em Gestão de Resíduos Sólidos ..................................... 60 2.5.4 Experiências em Sergipe...................................................................................... 62 2.5.5 Modelos de Gestão de Resíduos Sólidos na Atualidade........................................ 64 2.5.5.1 Modelo de gestão convencional .................................................................... 64 2.5.5.2 Modelos de gestão participativa .................................................................... 65 2.6 Consórcios Intermunicipais de Resíduos Sólidos .................................................... 68 2.6.1 Os Modelos Institucionais.................................................................................... 69 2.6.1.1 Consórcio de desenvolvimento intermunicipal .............................................. 69 2.6.1.2 Convênio administrativo ............................................................................... 70 2.6.1.3 Autarquia...................................................................................................... 70 2.6.1.4 Empresas públicas intermunicipais................................................................ 70 2.6.1.5 Sociedades Intermunicipais de Economia Mista (SIEM) ............................... 71 2.6.1.6 Terceirização ................................................................................................ 71 2.6.1.7 Terceirização de Fundo Especial (TFE)......................................................... 72 2.6.1.8 Concessão..................................................................................................... 72 2.6.2 Aspectos Legais................................................................................................... 73 18 2.6.3 Experiências dos Consórcios de Desenvolvimento Intermunicipal ....................... 74 2.7 A Importância da Educação Ambiental para o Sistema de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos ............................................................................................................. 76 3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO ......................................................... 78 3.1 Caracterização do Município de Telha.................................................................... 78 3.1.1 Aspectos Históricos ............................................................................................. 78 3.1.2 Aspectos Geográficos .......................................................................................... 79 3.1.3 Aspectos Demográficos e Sócio-econômicos ....................................................... 80 3.2 Caracterização do Município de Cedro de São João .............................................. 81 3.2.1 Aspectos Históricos ............................................................................................. 81 3.2.2 Aspectos Geográficos .......................................................................................... 82 3.2.3 Aspectos Demográficos e Sócio-econômicos ....................................................... 83 4 METODOLOGIA DA PESQUISA ................................................................................ 84 4.1 Base Conceitual ........................................................................................................ 84 4.2 Metodologia de Execução......................................................................................... 85 4.2.1 Amostragem da Pesquisa ..................................................................................... 90 4.2.1.1 Setor institucional e sociedade civil .............................................................. 90 4.2.1.2 Setor de saúde............................................................................................... 90 4.2.1.3 Domicílios urbanos ....................................................................................... 90 4.2.1.4 Caracterização dos resíduos sólidos urbanos ................................................. 91 4.2.1.5 Análises físico-químicas e bacteriológicas da água........................................ 92 4.2.1.6 Diagnóstico participativo .............................................................................. 93 5 RESULTADOS: APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO................................................... 94 5.1 Diagnóstico da Situação Atual dos Resíduos Sólidos nos Municípios de Telha e Cedro de São João.......................................................................................................... 94 5.1.1 Perfil do Morador ................................................................................................ 94 5.1.1.1 Escolaridade ................................................................................................. 94 5.1.1.2 Ocupação do chefe da família ....................................................................... 95 5.1.1.3 Renda mensal da família ............................................................................... 97 5.1.1.4 Número de pessoas da família e familiares que trabalham ............................. 98 5.1.1.5 Satisfação com a limpeza urbana e coleta de lixo ........................................ 100 5.1.1.6 Aproveitamento de material ........................................................................ 102 5.1.2 Saneamento Ambiental em Telha e Cedro de São João ...................................... 103 5.1.2.1 Os efeitos dos resíduos sólidos na saúde dos moradores de Telha e Cedro de São João................................................................................................................. 110 5.1.3 A Participação da Sociedade na Gestão de Resíduos Sólidos ............................. 112 5.1.4 Gestão Atual de Resíduos Sólidos em Telha e Cedro de São João...................... 117 5.1.4.1 Legislação................................................................................................... 117 5.1.4.2 Estrutura administrativa .............................................................................. 118 5.1.4.3 Manejo atual de resíduos sólidos em Telha e em Cedro de São João ........... 119 5.1.4.5 Varrição, capina e outros serviços ............................................................... 121 5.1.4.6 Destino e quantidade do lixo coletado ......................................................... 121 5.1.4.7 Entulho ....................................................................................................... 122 5.1.4.8 Coleta e destino final dos serviços de saúde ................................................ 122 19 5.1.4.9 Informações sobre catadores de lixo............................................................ 122 5.1.4.10 Coleta seletiva do município ..................................................................... 123 5.1.5 Geração de resíduos em Telha e Cedro de São João ........................................... 123 5.1.5.1 Determinação da composição gravimétrica dos resíduos sólidos em Telha e Cedro de João......................................................................................................... 123 5.1.6 Sistema de acondicionamento do resíduo em Telha e Cedro de São João ........... 128 5.1.7 Sistema de Coleta e Transporte.......................................................................... 129 5.1.8 Tratamento e Disposição Final........................................................................... 130 5.1.9 Estudo da área para aterro sanitário.................................................................... 133 4.1.9.1 Escolha do terreno ...................................................................................... 133 5.1.9.2 Recursos hídricos........................................................................................ 135 5.1.9.3 Hipsometria ................................................................................................ 137 5.1.9.4 Declividade................................................................................................. 139 5.1.9.5 Geologia ..................................................................................................... 141 5.1.9.6 Pedologia.................................................................................................... 143 5.1.9.7 Fauna e flora............................................................................................... 143 5.1.9.8 Legislação................................................................................................... 143 5.1.9.9 Aspectos socioeconômicos.......................................................................... 144 5.1.9.10 Vida útil do aterro ..................................................................................... 145 5.1.9.11 Critérios de avaliação da área.................................................................... 145 6 PROPOSTA DE GESTÃO INTEGRADA REGIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS EM TELHA E CEDRO DE SÃO JOÃO..................................................... 148 6.1 Sistema de Gestão Integrada e Regional dos Resíduos Sólidos – Modelo Institucional.................................................................................................................. 148 6.2 Sistema de Gestão Integrada e Regional dos Resíduos Sólidos – Modelo Tecnológico................................................................................................................... 151 6.2.1 Da Educação a não Geração............................................................................... 154 6.2.2 Geração ............................................................................................................. 155 6.2.3 Coleta e Transporte............................................................................................ 157 6.2.3.1 Veículos a utilizar ....................................................................................... 158 6.2.4 Segregação e Manejo......................................................................................... 160 6.2.5 Tratamento e Reintegração Ambiental ............................................................... 161 6.2.6 Destinação Final: Aterro Sanitário Sustentável .................................................. 162 6.3 Dos Recursos Financeiros e Humanos ................................................................... 165 6.4 Participação da Sociedade Civil na Gestão de Resíduos Sólidos .......................... 165 6.5 A Sustentabilidade do Sistema de Gestão Integrada Regional dos Resíduos Sólidos Urbanos ........................................................................................................................ 166 6.6 Da Avaliação e Controle......................................................................................... 167 7 CONCLUSÕES............................................................................................................. 169 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 171 ANEXOS .......................................................................................................................... 177 ANEXO A - Modelo de Questionários e Roteiro de Entrevista...................................... 178 ANEXO B - Mensagem Final do Diagnóstico Participativo........................................... 188 ANEXO C - Tabelas dos resultados dos questionários domicílios urbanos................... 189 ANEXO D - Incidência de doenças em telha e cedro de são joão................................... 196 ANEXO E - Composição gravimétrica do lixo ............................................................... 197 20 1 INTRODUÇÃO “Tudo quanto fere a terra, fere os filhos da terra. Se os homens cospem no chão, cospem sobre eles mesmos. Não foi o homem quem teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma. Tudo que ele fizer à trama, a si próprio fará” - Trechos da carta que o cacique Seattle, da tribo Duwamish, escreveu ao Presidente dos Estados Unidos, Franklin Pierce, em 1855. (FERRI, 1976). O fato de o homem acreditar que tinha a “conquista da natureza” teve efeitos devastadores no nosso planeta. Encarar como aquilo que de fato é, ou seja, uma parte da estrutura complexa e equilibrada do mundo natural, não obstante constituindo um só sistema vivo. Não é possível fugir à interdependência com a natureza. O homem foi tecido em trama apertada com o mar, o ar, as estações, os animais, a terra e todos os seus frutos. Aquilo que afetar um fio desse entrançado, afetará os outros também; ele é parte de um todo enorme – o corpo do planeta. Se quiser sobreviver, deve respeitar, conservar e amar as suas múltiplas expressões (CAMPBELL, 1983). Os níveis de consciência do homem, a respeito da biosfera, vêm passando por fases: a de neutralidade, marcada pela indiferença para com os recursos da natureza; a fase do meio ambiente, onde se verifica a superexploração dos recursos; e por fim, a fase da biosfera em que o homem toma consciência de que o desenvolvimento arrisca mecanismos reguladores que condicionam a sobrevivência do nosso planeta, ou seja, a busca do indivíduo eticamente integrado. No entanto, o que prevalece é o desenvolvimento econômico, com seus ritmos de exploração centrados nos rendimentos imediatos, em que as próprias forças de produção ameaçam a perenidade da biosfera que a sustenta. O homem, como ator da história, diz Passet (1994), tem por responsabilidade assegurar uma gestão do desenvolvimento que esteja em harmonia com os mecanismos reguladores da natureza. A população mundial cresceu muito rapidamente nas últimas décadas, tendo ocorrido uma grande concentração populacional nas áreas urbanas. O aumento da população e a ampliação das cidades deveriam ser acompanhados do crescimento de toda a infra-estrutura urbana, de modo a proporcionar aos habitantes melhor qualidade de vida. Infelizmente, o processo de ocupação é feito sem a devida implantação da infra-estrutura necessária, 21 ocorrendo um crescimento desordenado, sem considerar as características naturais do meio (MOTA, 1999). Segundo Mota (1999), o ambiente urbano é formado por dois sistemas intimamente interrelacionados: o “sistema natural”, composto do meio físico e biológico (solo, vegetação, animais, água, etc) e o “sistema antrópico”, consistindo do homem e de suas atividades. Assim, como em outros ambientes, o homem tem na cidade a capacidade de dirigir suas ações, utilizando como fonte de matéria e energia necessárias à sua vida, ou como receptor de seus produtos e resíduos. As sociedades de consumo avançam de forma a destruir os recursos naturais, e os bens em geral, têm vida útil limitada, transformando-se cedo ou tarde em lixo (resíduos sólidos), em quantidades crescentes, com as quais não se sabe o que fazer. Os resíduos sólidos constituem, hoje, uma das grandes preocupações ambientais do mundo moderno. A poluição do solo urbano é proveniente dos resíduos gerados pelas atividades econômicas que são típicas das cidades, como indústria, o comércio e os serviços, além dos provenientes do grande número de residências presentes em áreas relativamente restritas (BRAGA et al., 2002). Segundo Grippi (2001), a produção de resíduos sólidos, nas cidades brasileiras, é um fenômeno inevitável que ocorre diariamente e em composições que dependem do tamanho da população e do seu desenvolvimento econômico. Os sistemas de limpeza, de competência municipal, devem afastar os resíduos sólidos da população e dar-lhe um destino ambiental e sanitário adequado; mesmo sendo uma difícil tarefa, o assunto deve ser cada vez mais priorizado nas gestões públicas municipais (GRIPPI, 2001). Segundo Braga et al. (2002), os resíduos sólidos de uma área urbana são constituídos por resíduos produzidos nas residências, comércio e serviços e nas atividades públicas, na preparação de alimentos, no desempenho de funções profissionais e na varrição de logradouros até resíduos especiais, e quase sempre mais problemáticos e perigosos, provenientes de processos industriais e de atividades oriundas dos serviços de saúde. A agenda 21, em seu capítulo 21, recomenda a minimização e a melhoria da qualidade dos resíduos a serem dispostos, e inclui nessa ordem de prioridade, o seguinte: redução do volume e da toxicidade do material a ser descartado; o encaminhamento do material à recuperação ou reutilização; a condução do material para reciclagem ou compostagem (BARCIOTTE, 1997). 22 De acordo com a agenda 21 brasileira: “[...] Serão essenciais as políticas destinadas a reduzir os volumes de lixo urbano e as despesas que a coleta e a destinação final impõem às municipalidades” (CPDS, 2000). O grande desafio para o município que deseja buscar oportunidades sócio-ambientais e econômicas deverá passar por mudanças de postura na busca de novos modelos de gestão dos resíduos sólidos (BARCIOTTE; BADUE apud CEPAM, 1999). O paradigma do desenvolvimento sustentável, segundo Sachs (1986), requer consciência ecológica, ou ambiental, e, por sua vez, prudência no uso dos recursos renováveis. Isso significa um compromisso com a terra, no sentido de não exaurir os recursos, não poluir, não desperdiçar. A sustentabilidade relaciona-se à capacidade de suporte de um ecossistema, à medida que os níveis de produção e consumo sejam compatíveis em um determinado tempo, sem que haja degradação. Deste modo, o princípio da sustentabilidade deve ser o marco conceitual básico para a solução dos problemas criados pela crescente geração de resíduos. Sob este enfoque, a gestão integrada regional dos resíduos sólidos urbanos deve estar assentada sobre condições ambientais adequadas, em que sejam considerados todos os aspectos envolvidos, desde a fonte geradora até a disposição segura, bem como aspectos de reciclagem máxima de materiais, buscando-se, inclusive, incorporar as mudanças dos padrões de produção e consumo. No Brasil, de cada 100 habitantes, 80 moram em cidades e o restante na zona rural. A migração crescente da zona rural para as grandes cidades desequilibra o gerenciamento do lixo, forçando as prefeituras a correrem contra o tempo disponibilizando lugares para a disposição correta do lixo urbano (GRIPPI, 2001). E, como mostra, a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB), realizada pelo IBGE (em 2000 e divulgada em 2002), 68,5% dos resíduos das grandes cidades são jogados em lixões e alagados. Em Sergipe, a situação do saneamento dos resíduos sólidos, do meio urbano, não difere da maioria das pequenas cidades brasileiras e nordestinas (BARRETO, 2000). Lamentavelmente, é comum em muitas cidades, lançar e amontoar o lixo em algum terreno baldio, dando origem aos ‘lixões’ ou ‘monturos’. Além dos problemas estéticos e de saúde pública, essa prática estimula a catação, com todos os enormes problemas sociais correlatos, e propicia episódios de poluição hídrica , atmosférica e de solo. 23 Infelizmente, a realidade de Telha e Cedro de São João, municípios do baixo São Francisco sergipano, também é a da existência de “lixões” e diversos focos de lixo concentrado, onde se misturam resíduos domésticos, comerciais, públicos e de serviços de saúde. Geralmente, os resíduos sólidos são encontrados em locais totalmente inadequados, tais como margens de rios, áreas de várzeas, áreas de proteção de mananciais entre outros, implicando num enorme potencial de degradação e contaminação ambiental. Tal fato evidencia a importância de estudos e ações voltados à correta disposição de resíduos, o que inclui a seleção de uma área mais adequada para esta finalidade, em que sejam consideradas as fragilidades do terreno. Os municípios em estudo são vizinhos, possuem problemas sanitários semelhantes e encontram-se localizados na sub-bacia do Riacho Jacaré, o que justifica buscar uma gestão integrada de resíduos sólidos naquela região. Nesse contexto, a pesquisa teve como objetivo geral identificar alternativas de gestão integrada regional dos resíduos sólidos, contemplando a minimização, a coleta, o tratamento e a disposição final dos resíduos sólidos nos municípios de Telha e Cedro de São João, a fim de contribuir com a melhoria das condições sanitárias e ambientais dos munícipes de forma ética. Visando atingir a proposta geral, foram objetivos específicos: Verificar a situação atual dos resíduos sólidos nos municípios a serem estudados e a sua caracterização, mediante a elaboração de um diagnóstico envolvendo aspectos ambientais, sociais e econômicos. Determinar os níveis de contaminação da água, gerados pela disposição inadequada dos resíduos sólidos urbanos. Verificar a possibilidade de parcerias entre os municípios, como a criação de um consórcio intermunicipal para o manejo e destinação final dos resíduos sólidos. Realizar um estudo preliminar de uma área disponível para a disposição final dos resíduos sólidos, usando o geoprocessamento como ferramenta de gestão. O presente estudo está configurado em sete capítulos e cinco anexos, conforme descrição a seguir: No primeiro capítulo, o tema é introduzido através da contextualização e delimitação do assunto tratado, e da apresentação dos objetivos da pesquisa. 24 No segundo capítulo, é tratada a fundamentação teórica em que se baseou o estudo, sendo este capítulo composto por seis itens principais. O primeiro trata dos conceitos fundamentais de ética ambiental. O segundo item pretende relacionar gestão ambiental com o discurso do desenvolvimento sustentável. O terceiro item trata da inserção do saneamento nas políticas públicas. O quarto traz diversos conceitos relativos aos resíduos sólidos urbanos. O quinto apresenta todo o processo que envolve a gestão de resíduos sólidos, desde os conceitos às experiências de gestão. E o sexto item, traz uma reflexão sobre a importância da educação ambiental voltada para os resíduos sólidos. O terceiro capítulo apresenta a caracterização da área estudada. O quarto capítulo apresenta a metodologia adotada neste estudo de caso, para o diagnóstico da gestão atual dos resíduos sólidos de Telha e Cedro de São João e para o estudo preliminar da área do aterro sanitário. O quinto capítulo apresenta as análises e discussões dos resultados obtidos após compilação dos dados da pesquisa de campo. O sexto capítulo apresenta a proposta de gestão integrada e regional de resíduos sólidos, nos municípios de Telha e Cedro de São João, fruto deste estudo. O sétimo capítulo apresenta as conclusões do estudo realizado. 25 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 ÉTICA AMBIENTAL: UMA NOVA ÉTICA MUNDIAL A busca pela formação de uma única sociedade mundial inaugura uma nova etapa da história da Terra, entendida como Gaia, e funda um novo patamar da história evolutiva dos seres humanos. Apesar de suas diversidades, os filhos e filhas da Terra, dispersos em seus continentes, regiões e estados-nações, começaram a se mover e a se encontrar no seio da casa comum, o planeta Terra, carregando consigo suas singularidades culturais, suas tradições, seus modos de produção, suas formas políticas, suas religiões e seus códigos éticos. Hoje, mais do que nunca, devem-se buscar novos fundamentos para uma ética nas relações entre o homem e a natureza. Apesar da história ter revelado um quadro de destruição em relação ao ambiente, acredita-se que o homem tem que descobrir esta ética. Isso faz lembrar as palavras de um homem que soube pensar eticamente essa relação quando afirmou: “...tudo que acontecer à terra acontecerá aos filhos da terra” – chefe indígena Seattle. Ética vem do grego ethos. Ethos com e (minúsculo) significa a morada, o abrigo permanente, seja dos animais (estábulo), seja dos seres humanos (casa). No âmbito da totalidade da Mãe-Natureza (chamada filosoficamente de physis e miticamente de Gaia), o ser humano delimita uma porção dela e aí constrói para si uma morada. Ethos com E (maiúsculo) significa os costumes, o conjunto de valores e de hábitos consagrados pela tradição cultural de um povo. A ética traduz princípios e valores fundamentais (BOFF, 2003, grifo nosso). O termo latino ethica refere-se a uma filosofia dos costumes, ou à parte da filosofia que trata dos fundamentos da moral. Finalmente, a ética compreende um conjunto de princípios morais que estão na base da conduta das pessoas (BRANCO, 1989). A ética, diz Branco (1989), como filosofia dos costumes, não pode ser irracional, ou simplesmente baseada na tradição. Num mundo em que o homem se contrapôs, substituiu, contornou ou conciliou todos os conflitos entre a natureza e a sua própria espécie, de modo a conseguir sobreviver não obedecendo às leis naturais, mas, sim, às suas próprias, fruto de uma observação inteligente e experimental dos fenômenos naturais. Dessa situação, a ética surge como um conjunto de regras eminentemente racionais, estabelecendo os limites de sua ação individual sobre os congêneres e de toda a sociedade sobre a natureza. 26 Boff (2003) questiona, como garantir um consenso mínimo entre todos para que possam conviver em paz e em solidariedade? Como encontrar um denominador mínimo que permita a convergência na diversidade? Uma nova ética planetária poderia ser a solução capaz de minimizar tais conflitos. Uma ética planetária que enfrentasse a injustiça social mundial e a alarmante injustiça ecológica. Bem dizia Heráclito, pensador pré-socrático: “O Ethos é o gênio protetor do ser humano”. O Ethos, ressalta Boff (2003), traduzido em cuidado, cooperação, coresponsabilidade, compaixão e reverência, salvará, ainda uma vez, a humanidade, a vida e a Terra. A vida emerge ao mesmo tempo como emanação e criação da Terra. A Terra é o berço da vida. Iniciada há 450 milhões de anos, a grande diversificação possibilita uma dialógica multiforme entre animais e vegetais, em que os seres vivos vão constituir através de suas interações, ao mesmo tempo antagônicas, concorrentes e complementares, os ecossistemas. Assim, na Terra, formou-se e desenvolveu-se uma “árvore da vida”, que é ao mesmo tempo esfera da vida. Esta interagindo às condições geoclimáticas, produziu múltiplos nichos, cujo conjunto constitui a biosfera. O homem, ramo último e desviante da árvore da vida, aparece no interior da biosfera, a qual ligando ecossistemas a ecossistemas, envolve já todo o planeta (MORIN; KERN, 2002). Segundo Morin; Kern (2002), a Terra não é a adição de um planeta físico, mais a biosfera, mais a humanidade. A Terra é uma totalidade complexa física-biológicaantropológica, em que a vida é uma emergência da história da Terra, e o homem uma emergência da história da vida terrestre. A vida é uma força organizadora biofísica em ação na atmosfera que ela criou, sobre a terra, debaixo da terra, nos mares, onde ela se desenvolveu. A humanidade é uma entidade planetária e biosférica. Estamos a milhões de anos-luz de uma centralidade humana no cosmos e, ao mesmo tempo, não podemos mais nos considerar como entidades claramente separadas, impermeáveis umas às outras, homem, natureza, vida, cosmos. A urgência de um Ethos mundial traz consigo três problemas: a crise social, a crise do sistema de trabalho e a crise ecológica, todas de dimensões planetárias (BOFF, 2003). A crise social, provocada, uma parte, pela mudança da natureza da operação tecnológica, mediante a robotização e a informação, propiciou riqueza de forma altamente desigual, por grandes corporações transnacionais e mundiais. A outra, provocada pelo 27 controle dos processos técnico-científicos, econômicos e políticos por países centrais, resultou na má distribuição da riqueza e na desigualdade social. Na crise do sistema do trabalho, as novas formas de produção, cada vez mais automatizadas, dispensam o trabalho humano e o substitui pela máquina inteligente. Com isso, destroem-se postos de trabalho e tornam-se os trabalhos descartáveis, criando um imenso exército de excluídos em todas as sociedades mundiais. A crise ecológica provocada pela atividade humana irresponsável, em face da máquina de morte que criou, pode produzir danos irreparáveis à biosfera e destruir as condições de vida dos seres humanos, além da ameaça de desequilíbrio ecológico que poderá afetar a Terra como sistema integrador de sistemas. Isto devido à relação de domínio do homem para com a Terra e seus recursos, da falta de cuidado e de respeito necessários. De acordo com Leff (2001), todo sistema econômico e social é constituído sobre pressupostos éticos, quer esteja incorporado ao aparelho instintivo da raça ou da espécie, quer provenham do desenvolvimento de cultura e do processo de assimilação-adaptaçãotransformação do meio através das práticas produtivas, ou se concebam como princípios morais intrínsecos do ser humano. Este processo, fundado na racionalidade econômica e no direito privado, gerou uma corrida desenfreada das forças produtivas, ignorando as condições ecológicas da sustentabilidade da vida no planeta. Suas conseqüências, ressaltam ainda Leff (2001), foram não só a devastação da natureza – sistema ecológico que é o suporte físico e vital de todo sistema produtivo -, mas também a transformação e destruição de valores humanos, culturais e sociais. A busca do status, de lucro, de prestígio, de poder, substituiu os valores tradicionais, como, o sentido de enraizamento, equilíbrio, pertença, coesão social, cooperação, convivência e solidariedade. Esta crise do crescimento econômico leva a buscar um desenvolvimento alternativo sobre outros valores éticos, outras formas de produção e outros sentidos societários, sem os quais a vida não será sustentável. Além de buscar um equilíbrio entre crescimento econômico e conservação da natureza, possibilitando a mobilização do potencial ecotecnológico, da criatividade cultural e da participação social para construir formas diversas de um desenvolvimento sustentável, igualitário, descentralizado e autogestionário, capaz de satisfazer as necessidades básicas das populações, respeitando suas diversidades culturais. Isto implica na transformação dos processos de produção, dos valores sociais e das relações de 28 poder para construir uma nova racionalidade produtiva com a gestão participativa da cidadania.(LEFF, 2001). Através da Carta da Terra, coloca-se de forma explícita a questão de um ethos mundial, representando a cristalização da nova consciência ecológica e planetária, na perspectiva consciente de um novo paradigma civilizatório. Conforme Boff (2003), parte de uma visão ética integradora e holística, considerando as interdependências entre pobreza, degradação ambiental, injustiça social, conflitos étnicos, paz, democracia, ética e crise espiritual. Boff (2003) relata que, segundo seus formuladores: “A Carta da Terra está concebida como uma declaração de princípios éticos fundamentais e como um roteiro prático de significado duradouro amplamente compartihado por todos os povos. E será utilizada com um código universal de conduta para guiar os povos e as nações na direção de um futuro sustentável”. O texto da Carta da Terra maturou durante muitos anos, desde 1997, a partir de uma ampla discussão em âmbito mundial. Somente em março de 2002, na UNESCO, em Paris, foram feitas as últimas contribuições e ratificou-se a Carta da Terra tornando-se texto oficial. O texto coloca como eixo articulador a categoria da inter-retro-relação de tudo com tudo, reafirmando a convicção de que formamos uma grande comunidade terrenal e cósmica. De acordo com Boff (2003), os princípios fundantes da nova ética mundial são: respeitar e cuidar da comunidade de vida; integridade ecológica; justiça social e econômica; democracia, não-violência e paz. Conclui a Carta da Terra: “Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência em face da vida, por um compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, pela rápida luta pela justiça e pela paz e pela alegre celebração da vida”. Agora, só resta o propósito de conquistar mais e mais pessoas, instituições e governos, a essa nova visão ética e ecológica, capaz de fundar um princípio civilizatório benfazejo para o futuro da Terra e da humanidade. 29 2.2 GESTÃO AMBIENTAL E O DISCURSO DE UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL A sociedade humana, como um todo, tem, também, um ideal de felicidade. Como disse Aristóteles, o bem, na forma de felicidade, constitui o objetivo ideal de todo um complexo processo de evolução social a que se dá o nome de desenvolvimento. Nesse sentido, o desenvolvimento deve ser regido por preceitos essencialmente éticos, isto é, por regras morais de formas de compromisso mútuo, relativos a preservação da vida das espécies, preservação das várias formas de cultura humana e preservação do meio ambiente físico. Entretanto, ao ter o domínio da energia, devido ao seu engenho, a humanidade provocou a crise ambiental. Para enfrentá-la, foi sendo desenvolvida uma série de ações coordenadas e a mais recente denominou-se gestão ambiental, entendida como a forma sistemática de a sociedade encaminhar a solução de conflitos de interesse no acesso e uso do ambiente pela humanidade. E como primeiro e fundamental passo para essa gestão, faz-se necessária a identificação da natureza e porte dos valores em disputa, causadores do conflito (BRAGA et al., 2002). O modelo atual de desenvolvimento, escolhido pela sociedade humana, representa um sistema aberto, que depende de um suprimento contínuo e inesgotável de matéria e energia que depois de utilizada, é devolvida ao meio ambiente, sendo uma situação insustentável. Para que tal modelo possa ter sucesso de desenvolvimento, deveríamos ter suprimento inesgotável de energia, de matéria e capacidade infinita do meio de reciclar matéria e absorver resíduos. No entanto, podemos admitir que o uso de recursos energéticos é inesgotável, já que o sol poderá fornecer energia a Terra por 5 bilhões de anos. Em relação à matéria, a premissa não se verifica, já que sua quantidade é finita e conhecida. Quanto à capacidade de absorver e reciclar matéria ou resíduos, a humanidade tem observado a existência de limites no meio ambiente, e tem de conviver com níveis indesejáveis e preocupantes de poluição do ar, da água e do solo e com a conseqüente deterioração da qualidade de vida (BRAGA et al., 2002). Conforme Caiden; Caravantes (1988), para o Terceiro Mundo, o desenvolvimento já não significava mais seguir os modelos ocidentais. O desenvolvimento era um processo de mudança sustentado no contexto de um país, para o benefício de um povo. Cada país tinha seu próprio potencial de desenvolvimento e era capaz de moldar e planejar o seu destino. Segundo Braga et al. (2002), devemos rever o modelo anterior para que, com lucidez e conhecimento científico, seja possível aumentar a probabilidade de sucesso de perpetuação da 30 espécie humana, para que o mesmo possa ser chamado de modelo de desenvolvimento sustentável. Ele deve funcionar como um sistema fechado, que tem como base as seguintes premissas: dependência do suprimento externo contínuo de energia (Sol); uso racional da energia e da matéria com ênfase à conservação, em contraposição ao desperdício; promoção da reciclagem e do reúso dos materiais; controle da poluição, gerando menos resíduos para serem absorvidos pelo ambiente; e controle do crescimento populacional em níveis aceitáveis, com perspectivas de estabilização da população. O desafio consiste em que os atores do desenvolvimento sejam capazes de manejar o enfoque das necessidades humanas, para orientar suas ações e aspirações. Os programas de desenvolvimento, orientados para a satisfação das necessidades humanas, tendo em vista as potencialidades do suporte biofísico, ultrapassam a racionalidade econômica convencional, comprometendo-se com um novo humanismo bem como um novo “contrato natural”, necessários e urgentes diante de índices alarmantes de pobreza enfrentados pelo Terceiro Mundo e dos limites homeostáticos da biosfera (FERREIRA, 1992). Segundo Ferreira (1992), quando se pensa nas possibilidades de um novo estilo de desenvolvimento, isso implica reconhecer que o Estado desempenha papel indispensável como indutor e gerenciador de uma parte dessas transformações. No entanto, a gestão pontual e corretiva não é satisfatória porque a questão ambiental é indissociável da pauta de prioridades dos programas de desenvolvimento. Dessa forma, esse tipo de gestão teria que ser compartilhado entre o Estado, a sociedade civil, o setor privado e as comunidades locais. Assim, a busca de estilos de desenvolvimento não-tradicional só poderia ser alcançada sob regimes de democracia participativa, que garantissem a criatividade e a gestão autônoma da sociedade. A conferência sobre Biosfera, realizada em Paris, em 1968, entre especialistas em ciências, marcou o despertar de uma consciência ecológica mundial, assim como a primeira conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, em Estocolmo em Junho de 1972, veio colocar a questão ambiental nas agendas oficiais internacionais. As recomendações dessa reunião serviram de base para a Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro, em junho de 1992 (Rio 92). Os documentos resultantes da Rio-92 foram a Carta da Terra (Declaração do Rio) e a Agenda 21 (ANDRADE et al, 2002). A Carta da Terra visa “estabelecer acordos internacionais que respeitem os interesses de todos e protejam a integridade do sistema global de ecologia e desenvolvimento”. 31 A agenda 21 constitui um plano de ação que tem por objetivo colocar em prática, programas para frear o processo de degradação ambiental e transformar em realidade os princípios da Carta da Terra. A Comissão Mundial do Ambiente e Desenvolvimento (Comissão Brundtland), em 1987, no relatório intitulado Nosso Futuro Comum, realça a importância da proteção do ambiente na realização do desenvolvimento sustentável. Para Morin; Kern (2002), trata-se de conciliar as necessidades de proteção ecológica e as necessidades de desenvolvimento econômico do terceiro mundo; a idéia de desenvolvimento, que comporta aumento das poluições e a idéia de meio-ambiente, que requer limitação das poluições. Todavia, a idéia de desenvolvimento continua, ainda, tragicamente subdesenvolvida; ela não foi realmente repensada, mesmo na idéia de “desenvolvimento sustentável”. A Conferência do Rio (1992) adotou uma declaração sobre as florestas, uma convenção sobre o clima e sobre a proteção da biodiversidade; elaborou o plano de ação 21 (século XXI), procurando fazer com que as Nações Unidas trabalhem para proteger a biosfera. Trata-se apenas de um começo (MORIN; KERN, 2002). Também, a preservação do meio ambiente, nos dias de hoje, é considerada uma das prioridades de qualquer organização, segundo a Carta Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável. Esse documento, conforme Andrade et al. (2002), preparado por uma comissão de representantes de empresas, foi desenvolvido no âmbito da Câmara de Comércio Internacional (1991), entidade esta instituída com o objetivo de ajudar organizações em todo o mundo a melhorar os resultados das suas ações sobre o ambiente. A Carta Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável foi criada com 16 princípios relativos à gestão do ambiente, que é, para as organizações, aspecto de importância vital do desenvolvimento sustentável: prioridade organizacional, gestão integrada, processo de melhoria, educação do pessoal, prioridade de enfoque, produtos e serviços, orientação ao consumidor, equipamentos e operacionalização, pesquisa, enfoque preventivo, fornecedores e subcontratados, planos de emergência, transferência de tecnologia, contribuição ao esforço comum, transparência de atitude, atendimento e divulgação (DONAIRE, 1995). A referida carta considera que as organizações versáteis, dinâmicas, ágeis e lucrativas devem ser a força impulsora do desenvolvimento econômico sustentável, assim como a fonte da capacidade de gestão e dos recursos técnicos e financeiros indispensáveis à resolução dos 32 desafios ambientais. As economias de mercado, caracterizadas pelas iniciativas empresariais, são essenciais à obtenção desses resultados. A Carta Empresarial considera que as organizações precisam ter consciência de que deve existir um objetivo comum e não um conflito, entre desenvolvimento econômico e proteção ambiental, tanto para o momento presente, como para as gerações futuras. Conforme Andrade et al. (2002), um dos maiores desafios que o mundo enfrentará na próxima década é fazer com que as forças de mercado protejam e melhorem a qualidade do ambiente. Essa melhoria da qualidade depende da atuação de cada organização face às pressões destas forças de mercado, representadas pelas variações ambientais: legais (normas da série ISO 14000), econômicas, tecnológicas, sociais, demográficas e físicas. Segundo a ABNT (1996), as normas da série ISO 14000 especificam os requisitos relativos a um sistema de gestão ambiental, permitindo a uma organização formular políticas e objetivos que levem em conta os requisitos legais e as informações referentes aos impactos ambientais significativos. O grau de aplicação dessas normas dependerá de fatores como a política ambiental da organização, a natureza de suas atividades e as condições em que ele opera. Entende-se, então, por gestão ambiental, um processo contínuo e adaptativo, por meio do qual uma organização define (se redefine) seus objetivos e metas relativas à proteção do ambiente e à saúde e segurança de seus empregados, clientes e comunidade, selecionando as estratégias e meios para atingir tais objetivos em determinado período de tempo, por meio da constante interação com o meio ambiente externo (ANDRADE et al., 2002). Para Leff (2001), a gestão ambiental do desenvolvimento sustentável exige novos conhecimentos interdisciplinares e o planejamento intersetorial do desenvolvimento; mas é, sobretudo, um convite aos cidadãos para participar na produção de suas condições de existência e em seus projetos de vida. Os princípios de gestão ambiental e de democracia participativa propõem a necessária transformação dos Estados nacionais e da ordem internacional para uma convergência dos interesses em conflito e dos objetivos comuns dos diferentes grupos e classes sociais em torno do desenvolvimento sustentável e da apropriação da natureza. Daí surgem um propósito e uma oportunidade de reverter os custos ecológicos e sociais da crise econômica, juntamente com a possibilidade de integrar a população por muitas vezes marginalizada num processo de produção para satisfazer suas necessidades 33 fundamentais, aproveitando o potencial ecológico de seus recursos ambientais e respeitando as identidades coletivas. Assim, estão surgindo “iniciativas descentralizadas” para construir uma nova racionalidade produtiva, fundada em práticas de manejo múltiplo, integrado e sustentado, dos recursos naturais, adaptadas às condições ecológicas de cada região e aos valores culturais das comunidades (LEFF, 2001). Entretanto, declara Leff (2001), a transição para um desenvolvimento sustentável não se fará por força da necessidade de sobrevivência da sociedade. Tais mudanças não serão alcançadas sem uma complexa estratégia política, orientada pelos princípios de uma gestão democrática do desenvolvimento sustentável, mobilizada pelas reformas do Estado e pelo fortalecimento das organizações da sociedade civil. Isto implica numa nova ética e numa nova cultura política que legitimariam os direitos culturais e ambientais dos povos, constituindo novos atores e gerando movimentos sociais pela reapropriação da natureza. Conforme Leff (2001), o discurso da sustentabilidade busca reconciliar os contrários da dialética do desenvolvimento: o meio ambiente e o crescimento econômico. Seu intuito não é internalizar as condições da produção, mas proclamar o crescimento econômico como um processo sustentável, firmado nos mecanismos do livre mercado como meio eficaz de assegurar o equilíbrio ecológico e a igualdade social. O discurso do desenvolvimento sustentável pressupõe que a economia entrou numa fase de pós-escassez, isto é, que a produção, como base da vida social, foi superada pela modernidade. Diante das estratégias de apropriação econômica e simbólica da natureza e da cultura, emerge hoje uma ética ambiental que propõe a revalorização da vida do ser humano (LEFF, 2001). 2.3 SANEAMENTO AMBIENTAL E POLÍTICAS PÚBLICAS O ambiente tem sido degradado, através de diversas formas. A água tem sido utilizada como meio de transporte para dejetos e rejeitos, o solo é prejudicado pelo lançamento do lixo a céu aberto e a qualidade do ar é alterada pela emissão de gases nocivos pelas indústrias e veículos. As ações de saneamento devem ter, dentre outros objetivos, o de assegurar um meio ambiente favorável à vida humana e de outros seres vivos, através do controle da poluição da água, do solo e do ar (SPERLING; MÖLLER apud BARROS et al., 1995). 34 Para Braga et al. (2003), poluição é uma alteração indesejável nas características físicas, químicas ou biológicas da atmosfera, litosfera ou hidrosfera que cause ou possa causar prejuízo à saúde, à sobrevivência ou às atividades dos seres humanos e outras espécies ou ainda deteriorar materiais. E poluentes são resíduos gerados pelas atividades humanas, causando um impacto ambiental negativo, ou seja, uma alteração indesejável. Deste modo, a poluição está ligada à concentração ou quantidade de resíduos presentes no ar, na água ou no solo. A utilização do saneamento como instrumento de promoção da saúde, pressupõe a superação dos entraves tecnológicos, políticos e gerenciais que têm dificultado a extensão dos benefícios tanto aos residentes em áreas rurais como em áreas urbanas. Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, Saneamento é o controle de todos os fatores do meio físico do homem, que exercem ou podem exercer efeitos nocivos sobre seu bem estar físico, mental e social. A própria OMS define saúde como o estado de completo bem estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença (BARROS et al., 1995). Saneamento, segundo Barros et al. (1995), constitui um conjunto de ações sobre o meio ambiente físico, portanto de controle ambiental, cujo objetivo é proteger a saúde do homem. A oferta do saneamento associa sistemas constituídos por uma infra-estrutura física (obras e equipamentos) , educacional, legal e institucional que, de acordo com Barros et al. (1995), abrange os seguintes serviços: Abastecimento de água às populações, com qualidade compatível com a proteção de sua saúde e em quantidade suficiente para a garantia de condições básicas de conforto; Coleta, tratamento e disposição, ambientalmente adequada e sanitariamente segura, dos esgotos sanitários, nestes incluídos os rejeitos provenientes das atividades doméstica, comercial e de serviços, industrial e pública; Coleta, tratamento e disposição, ambientalmente adequada e sanitariamente segura, dos resíduos sólidos rejeitados pelas mesmas atividades; Coleta de águas pluviais e controle de empoçamentos e inundações; Controle de vetores de doenças transmissíveis (insetos, roedores, moluscos, etc). 35 A maioria dos problemas sanitários que afeta a população mundial, de acordo com BRASIL (1999), está relacionada com o meio ambiente. Um exemplo disso é a diarréia, que, com 4,0 bilhões de casos por ano, aflige a humanidade, devido às condições inadequadas de saneamento. Para Jaramillo (1991), o efeito ambiental mais óbvio do manejo inadequado do resíduo sólido é a deterioração estética das cidades e a degradação da paisagem natural. A degradação da paisagem natural pode ser ocasionada pela poluição da água, do solo e do ar. No Brasil, as doenças resultantes da falta ou inadequação de saneamento, especialmente em áreas pobres, têm agravado o quadro epidemiológico. Males como a cólera, dengue, esquistossomose e leptospirose são exemplos disso. Investir em saneamento é a única forma de se reverter o quadro existente (BRASIL, 1999). Os resíduos sólidos podem afetar a saúde humana de forma direta ou indireta. Os riscos diretos são ocasionados pelo contato direto com os resíduos, que às vezes contêm excrementos humanos e/ou de animais. As pessoas mais expostas a esses riscos são os coletores (garis), devido à manipulação de recipientes inadequados para o armazenamento dos dejetos ou por falta de equipamentos de segurança como, roupas limpas, botas, luvas e máscaras. Na mesma situação, encontram os catadores de lixo, cuja atividade de separação de materiais é realizada nas piores condições e sem a mínima proteção. Além disso, apresentam maior incidência de parasitas intestinais que a população em geral e taxas mais altas de lesões corporais que os trabalhadores da indústria, como problemas na coluna, hérnias, feridas, enfermidades respiratórias, entre outras (JARAMILLO, 1991). Ainda, segundo Jaramillo (1991), os riscos indiretos que afetam a saúde humana são: a proliferação de vetores transmissores (Quadro 1), que afetam a população em geral, tais como, moscas, mosquitos e baratas, que encontram nos resíduos sólidos, seu alimento e as condições adequadas para se reproduzirem; alimentação de animais (gado, suínos e aves, etc.) com resíduos, pois seu consumo pode causar doenças; acidentes aéreos e terrestres, pela diminuição da visibilidade devido a presença de garças e urubus, próximos a aeroportos. 36 VETOR DOENÇAS VETOR Febre tifóide MOSCAS Salmonelose DOENÇAS Malária MOSQUITOS Febre amarela Disenteria Dengue Outras infecções Encefalite vírica Febre tifóide BARATAS (Cucarachos) Gastrointerite Peste bubônica Infecções intestinais Tifo murino Disenteria RATOS Leptospirose Diarréia Febre de harverhill Lepra Enfermidade diarréica Intoxicação alimentícia Disenteria QUADRO 1 – Doenças Causadas pelos Vetores Transmissores Fonte: Jaramillo, 1991. Diante disso, necessário se faz construir um novo modelo de desenvolvimento em que haja harmonia entre a melhoria da qualidade de vida das suas populações e a preservação do ambiente, buscando atender aos anseios de seus cidadãos pela universalização dos serviços. Saneamento Ambiental, segundo BRASIL (1999), é o conjunto de ações sócioeconômicas que têm por objetivo alcançar níveis de salubridade ambiental, por meio de abastecimento de água potável, coleta e disposição sanitária de resíduos sólidos, líquidos e gasosos, promoção da disciplina sanitária de uso do solo, drenagem urbana, controle de doenças transmissíveis e demais serviços e obras especializadas, com a finalidade de proteger e melhorar as condições de vida urbana e rural. No Brasil, conforme Rezende; Heller (2002), o saneamento atravessa uma crise, que é comum a vários setores relacionados ao atendimento de demandas sociais, como a saúde, a educação e o emprego, o que vem contribuindo para a perpetuação do histórico quadro de desigualdade do país. A sociedade brasileira é fruto da miscigenação das etnias indígena, branca e negra, das quais foram incorporados diversos hábitos e costumes, referentes ao saneamento e à conservação da saúde. Foi durante o período colonial que a integração entre essas etnias ocorreu de maneira mais expressiva, sendo seus hábitos e costumes os formadores da cultura sanitária, já que o Estado se mantinha praticamente ausente na maioria das questões públicas (op. cit.). 37 De acordo com Rezende; Heller (2002), é no final do século XIX, início do século XX que o Estado começa a assumir os serviços de saneamento como atribuição do poder público e os transfere à iniciativa privada, principalmente às empresas de capital inglês que, na época, tinha hegemonia no mercado brasileiro. Entretanto, as companhias privadas de saneamento tiveram vida curta, devido à insatisfação da população com a qualidade e a abrangência reduzida dos serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário. Diante disto, o Estado passou a assumir a gestão dos serviços, criando na administração direta municipal, estadual ou federal, diretorias, repartições ou inspectorias (op. cit.). A partir da década de 1950, surgiram novas diretrizes para os setores saúde e saneamento, que colocaram em xeque a capacidade do Estado de realizar plenamente as ações necessárias. Segundo Rezende; Heller (2002), a situação do saneamento reflete a crise maior do país, gerada por um modelo de desenvolvimento marcado pela concentração de renda. A realidade do quadro de saúde, representado pela presença de doenças endêmicas relacionadas à ausência do saneamento, como a esquistossomose, e pelo recrudescimento de doenças que já haviam sido erradicadas, como a febre amarela, a dengue e a cólera, mostra a inexistência de políticas de saneamento no Brasil atual. As ações de saneamento, como integrante de um amplo conjunto de demandas públicas, na visão de Rezende; Heller (2002), atravessa por momento de crise, cujo saldo é representado por um persistente déficit social refletido nas camadas mais pobres da população. Menos de 40% da população brasileira é atendida por rede pública de coleta de esgotos, porém sem tratamento. O sistema de coleta de lixo vem sendo implementado nos centros urbanos, atingindo mais de 70% em 1998. Em 2000, o IBGE realizou uma pesquisa (tabela 1). Entretanto, a disposição final e o tratamento dos resíduos, ainda são uma realidade distante para a maioria dos municípios (gráficos 1 e 2). 38 TABELA 1 – Municípios com serviços de limpeza e coleta de lixo Total de municípios com serviços de limpeza urbana e coleta de lixo Regiões 1989 2000 Brasil 97,2% 99,4% Norte 82,2% 99,1% Nordeste 99,2% 99,0% Sudeste 99,4% 100,0% Sul 95,4% 99,1% Centro-oeste 97,1% 100,0% Fonte: IBGE, 2000. 3% 0% 37% Aterro controlado Céu aberto Aterro sanitário Usina de compostagem 38% Usina de incineração 22% GRÁFICO 1 – Disposição final do lixo no Brasil, 1998. Fonte: IBGE, 2000 0% 36% 0% A céu aberto Aterro controlado Aterro sanitário Usina de compostagem 15% 49% Usina de incineração GRÁFICO 2 – Disposição final do lixo no Nordeste, 1998. Fonte: IBGE, 2000. 39 Apesar dos dados apresentados acima, existe uma controvérsia sobre estes resultados. Onde, tanto no Brasil como no Nordeste, a maioria dos resíduos produzidos é disposto a céu aberto sob forma de lixões, percebendo-se, então, que estes dados não representam totalmente a realidade. As ações de saneamento (tabela 2), no Brasil, ainda estão longe de atingir a universalidade, a equidade e a integralidade necessárias, permanecendo à mercê dos interesses econômicos dominantes, sendo relegadas a um segundo plano. TABELA 2 – Regiões com algum serviço de saneamento Distritos com algum serviço de saneamento Tipo de Serviço Regiões Total de Total Distritos Rede geral de Rede Limpeza Drenagem distribuição de coletora de urbana e urbana água esgoto coleta de lixo Brasil 9.848 9.262 8.656 4.097 8.381 5.758 Norte 607 549 512 35 512 245 Nordeste 3.084 2.871 2.550 933 2.714 1.417 Sudeste 3.115 3.080 3.008 2.544 2.846 2.256 Sul 2.342 2.127 1.967 501 1.746 1.503 700 635 619 84 563 337 Centro-Oeste Fonte: IBGE, 2000. O racionalismo econômico, entretanto, vem apresentando sinais de exaustão e necessidade de mudanças estruturais no atual modelo, com o intuito de alcançar, de fato, o desenvolvimento globalizado. E contribuindo assim, para o desenvolvimento do saneamento, reduzindo as desigualdades existentes no país (REZENDE; HELLER, 2002). 40 2.4 RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS 2.4.1 Conceitos Segundo a norma ABNT NBR 10004/1987, os resíduos sólidos são definidos como “resíduos, nos estados sólidos e semi-sólidos, que resultam de atividades da comunidade, de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis, face à melhor tecnologia disponível”. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu que lixo é: “aquilo que seu proprietário não deseja mais, em um certo lugar e num certo momento” (CALDERONI apud BARRETO, 2000). Pereira Neto (1999), propõe a seguinte definição para lixo, tendo em vista um novo paradigma: “lixo é uma massa heterogênea de resíduos sólidos, resultante das atividades humanas, os quais podem ser reciclados e parcialmente utilizados, gerando, entre outros benefícios, proteção à saúde pública e economia de energia e de recursos naturais”. 2.4.2 Composição e Características O lixo tem uma composição muito variada. Essa variação é resultado, principalmente, das características ambientais e socioeconômicas da população que o gera. Assim, fatores como clima, variações sazonais, grau de educação, poder aquisitivo, hábitos e costumes, etc. influenciam na composição do lixo (PEREIRA NETO, 1999). Segundo Lima (1995), a composição física dos resíduos sólidos urbanos, está associada aos seguintes fatores: à condição socioeconômica, e aos hábitos da população local; ao desenvolvimento industrial; à população flutuante (turismo) e sua sazonalidade. A característica do lixo é fator básico fundamental para se determinar a forma de manuseio, acondicionamento, coleta, transporte, tratamento e destinação final. Um parâmetro 41 que bem expressa a característica do lixo é sua composição gravimétrica (papel, plástico, papelão, latas, trapos, matéria orgânica, outros). 2.4.3 Tipologia do Lixo A tipologia do lixo é definida de acordo com o seu local de geração. Conforme Pereira Neto (1999), os principais tipos de lixo são: Lixo Domiciliar: é todo o resíduo sólido, oriundo das atividades diárias em casas, apartamentos, etc; Lixo Comercial: é todo o resíduo sólido gerado em estabelecimentos comerciais (lojas, padarias, restaurantes, bares, etc.); Lixo Público: é todo o resíduo sólido, resultante das atividades de limpeza de vias, praças, parques, “playgrounds”, etc. e pelos resíduos de capina, poda, limpeza de terrenos baldios, etc. Inclui também o lixo abandonado nos locais públicos, como móveis usados, entulhos, etc; Lixo de Fontes Especiais: é todo o resíduo sólido que, em função de determinadas características peculiares que apresenta, passa a merecer cuidados especiais em seu acondicionamento e manipulação até a sua disposição final, como alguns tipos de lixo industrial, lixo hospitalar, lixo radioativo e lixo proveniente de portos e aeroportos, terminais ferroviários e rodoviários. Parece ser consenso considerar o lixo doméstico e comercial como lixo domiciliar. E considerar o lixo domiciliar e o público como lixo urbano, representando a maior parcela dos resíduos sólidos gerados nas cidades. 2.4.4 Geração de Resíduos A geração de resíduos sólidos na atualidade, tem sido, indiscutivelmente, um dos grandes desafios da humanidade. A solução para a crise provocada pela geração de resíduos sólidos passa pela nova ordem mundial, onde se prioriza a questão ambiental como 42 necessidade primordial. O conhecimento do lixo a partir do ponto de geração, ou seja, da residência ou outra fonte de geração e da sua forma de separação ou acondicionamento na origem, é de fundamental importância na organização geral dos Serviços Municipais. (DALTRO FILHO, 1997). A geração per capta é a quantidade de resíduos, conforme Castilhos Júnior. (2003), produzida por cada indivíduo, em determinado período (dia, mês, ano). É determinada, normalmente, pela quantidade coletada (soma dos pesos dos caminhões de cada coleta menos a tara dos mesmos) dividida pela população que gerou aquela quantidade de resíduos. A composição gravimétrica indica a correspondência entre diferentes componentes do lixo e a quantidade total de resíduos. 2.4.4.1 Determinação da composição gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos Conforme Daltro Filho (1997), em razão dos resíduos sólidos se constituírem de uma massa heterogênea e de variar em função de diversos parâmetros, é que se faz necessário caracterizá-lo. Essa caracterização se constitui de uma fase primordial para que possa subsidiar as tomadas de decisões sobre a coleta, o tratamento e disposição final dos resíduos. As características dos resíduos sólidos podem variar em função de aspectos, como os sociais, econômicos, culturais, geográficos e climáticos, que também diferenciam as comunidades entre si (ZANTA; FERREIRA In: CASTILHOS JUNIOR, 2003). Tanto as características químicas dos resíduos, como as características físicas, são essenciais para a seleção de processos de tratamento e técnicas de disposição final. As características físicas foram determinadas utilizando o método de quarteamento, sendo expressas pela composição gravimétrica. 2.4.5 Sistema de acondicionamento dos resíduos sólidos Acondicionar é a prática de colocar o lixo em recipientes, mantendo-os fechados, para evitar o contato com vetores (barata, rato, mosca, etc.). Conforme Daltro Filho (1997), essa prática deve iniciar no ponto de geração do lixo (habitação, estabelecimento comercial ou 43 público, logradouros públicos etc.), onde um bom acondicionamento do lixo permitirá ampliar o prazo de permanência do mesmo, no local. Os recipientes de acondicionamento mais usados vão dos sacos plásticos ou papel a recipientes estanques de poliéster, fibra de vidro, aço, plástico duro, etc. Em determinadas localidades do Nordeste, encontra-se a utilização de recipientes de pneus velhos. Em função do volume de material gerado, a forma de acondicionar pode variar, sendo que, para pequenos volumes são aconselháveis os seguintes tipos: cestos coletores de calçada, recipientes basculantes, carrinhos, tambores e sacos plásticos ou de papel. Para os grandes volumes, normalmente, são recomendáveis os containers, seja basculável (1m3) ou intercambiável de até 7m3 (DALTRO FILHO, 1997). 2.4.6 Tratamento dos Resíduos Sólidos Urbanos Podem-se citar alguns métodos de tratamento de resíduos sólidos, tais como: a incineração, a pirólise, a compostagem e a reciclagem. 2.4.6.1 Incineração É definida, segundo Lima (1995), como o processo de redução de peso e volume do lixo através da combustão controlada. A queima do lixo é feita em unidades especialmente projetadas para este fim, denominadas incineradores. Os remanescentes da incineração do lixo são, geralmente gases, como dióxido de carbono (CO2); dióxido de enxofre (SO2); nitrogênio (N2); gás inerte proveniente do ar utilizado como fonte de oxigênio e do próprio lixo; oxigênio (O2) proveniente do ar em excesso que não consegue ser completamente queimado; água (H2O); cinza e escórias que se constituem de metais ferrosos e inertes com vidros e pedras etc. Porém, muitos materiais existentes no lixo urbano se queimados, podem liberar substâncias tóxicas (furanos e dioxinas), de alta periculosidade para a saúde dos seres vivos. Por isso, incineradores modernos são dotados de equipamentos altamente sofisticados de controle de poluição do ar e dos líquidos, o que resulta em custos elevados de implantação e manutenção (PEREIRA NETO,1999). 44 2.4.6.2 Pirólise É um processo de decomposição física e química da matéria orgânica do lixo, ocorrido em alta temperatura (700 a 1100ºC), em condições de ausência de oxigênio, prevendo a queima de resíduos, objetivando a redução do volume do lixo orgânico e transformando-o em uma forma utilizável de energia. Assim, de acordo com as características operacionais de cada sistema, podem ser gerados: óleo e carvão ou gás e carvão (PEREIRA NETO, 1999). É, porém, uma tecnologia altamente sofisticada, possui custo de implantação e manutenção bastante elevado, inviabilizando o seu uso nos países em desenvolvimento. 2.4.6.3 Compostagem O processo de compostagem de lixo é uma adaptação do processo que o agricultor utiliza, desde a remota antiguidade, para produzir composto de restos agrícolas e utilizá-lo no campo como condicionador de solo. Dá-se o nome de composto ao produto de decomposição de matéria orgânica, em condições aeróbias e de maneira controlada, de modo a obter-se um material estabilizado, não mais sujeito às reações de putrefação que ocorrem com restos orgânicos deixados no ambiente (op. cit.). Como se trata de um processo que transforma a matéria orgânica em húmus (adubo orgânico), para posterior uso agrícola, a compostagem é também um processo de reciclagem, sendo um dos processos mais antigos que o homem tem utilizado. E, paradoxalmente, é um dos processos cuja filosofia e cujos princípios estão entre os mais atualizados e de acordo com as exigências modernas. Trata-se de um processo nobre, visto que é comprometido com a proteção ambiental, com a saúde pública e com o resgate da cidadania. 2.4.6.4 Reciclagem A nova definição para o lixo, proposta por Pereira Neto (1999), induz ao pensamento da reutilização e da reciclagem, pressupostos básicos para a obtenção efetiva de economia de energia e de recursos naturais. 45 Reutilização é o termo dado quando, por exemplo, usamos uma embalagem para armazenar o mesmo produto ou damos a ela uma nova função, sendo um processo que não passa novamente pela indústria. Por reciclagem subentende-se uma transformação (artesanal ou industrial) do material para formar o mesmo ou outro(s) produto(s), antes do uso. A reciclagem do lixo urbano pode ser efetuada a partir dos programas de coleta seletiva ou por meio das usinas de reciclagem e compostagem. Os materiais recolhidos pela coleta seletiva são geralmente direcionados para uma central de reciclagem, dotadas de equipamentos para promover seleção, classificação, acondicionamento e enfardamento dos materiais. A reciclagem de materiais gera vários benefícios, dentre os quais podem ser citados: valorização de materiais; minimização de resíduos a serem dispostos nos aterros; economia de energia e de recursos naturais; proteção ambiental; controle da poluição; melhoria na saúde pública; eliminação de lixões; geração de emprego; mobilização e participação comunitária; atividades em educação ambiental; e melhoria da qualidade de vida da população. 2.4.7 Disposição Final dos Resíduos Sólidos Urbanos 2.4.7.1 Lixão O lixão é o local que as prefeituras municipais utilizam para lançar o lixo urbano sobre o solo, sem qualquer cuidado operacional, gerando uma série de impactos ambientais. Além de problemas sanitários, provenientes da presença de moscas, ratos, baratas, urubus e outros vetores transmissores de doenças, os lixões atraem “catadores”, pessoas que por falta de opção, fazem da catação do lixo um meio de sobrevivência, vivendo nas suas imediações, em condições sub-humanas. De acordo com Monteiro (2001), dentre os impactos socioambientais mais relevantes, provocados pelos lixões, tem-se: poluição do lençol freático pela percolação do chorume no solo; contaminação dos cursos d’água, próximos, pelo carreamento de materiais leves e de chorume; incêndios provocados pela combustão espontânea ou provocados pela intervenção humana no lixo; riscos de explosões provocadas pelo acúmulo de biogás; emissão de material 46 particulado (poeira e fumaça negra), provocada pelo tráfego de veículos pesados e pela queima de lixo, respectivamente; riscos de acidentes aéreos provocados por garças e urubus; disseminação de doenças através da ingestão de carne de animais que se alimentam nos lixões; disseminação de doenças transmitidas por insetos, ratos e aves que se abrigam e se alimentam nos lixões; diminuição do valor venal dos terrenos nas imediações do lixão; riscos de asfixia e morte de animais como bovinos, suínos e eqüinos, provocadas pela ingestão de sacos plásticos; poluição estética para quem mora ou transita nas imediações; disseminação de odores desagradáveis. Porém, um dos mais graves problemas encontrados é a presença de catadores (fotografia 1). FOTOGRAFIA 1 – Lixão de Propriá Fonte:Ligia, trabalho de campo, 2002. 2.4.7.2 Aterro controlado De acordo com D’Almeida; Vilhena (2000), aterro controlado é uma técnica de disposição de resíduos sólidos municipais, no solo, sem causar danos à saúde pública e à sua segurança, minimizando os impactos ambientais. O mesmo utiliza alguns princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos, cobrindo-os com uma camada de material inerte na conclusão de cada jornada de trabalho. Produz poluição, porém localizada, pois geralmente não dispõe de impermeabilização da base (comprometendo a qualidade das águas subterrâneas), nem de sistemas de tratamento do percolado ou de biogás gerado. O aterro controlado é preferível ao lixão, no entanto, devido aos problemas ambientais que causa e aos custos de operação, ele é considerado de qualidade bastante inferior ao aterro sanitário, sendo na verdade apenas um lixão “melhorado”. 47 2.4.7.3 Aterro sanitário Aterro sanitário de resíduos sólidos urbanos consiste na técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar danos ou riscos à saúde pública e à segurança, minimizando os impactos ambientais, método este que utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos à menor área possível e reduzi-los ao menor volume permissível, cobrindo-os com uma camada de terra na conclusão de cada jornada de trabalho ou a intervalos menores se for necessário (ABNT, 1984). No aterro sanitário, o lixo é lançado sobre o terreno e recoberto em solo do local, de forma a isolá-lo do ambiente, formando ‘câmaras’ onde o lixo é compactado e seu volume substancialmente reduzido. Nessas ‘câmaras’, cessada a biodegradação aeróbia, processa-se a biodegradação anaeróbia, com liberação de gás e de uma substância líquida escura (constituída pelos resíduos orgânicos, parcialmente biodegradados) denominada chorume. O aterro sanitário-energético é uma evolução do aterro sanitário, no qual o chorume drenado é reaplicado (por meio de bombeamento) nas câmeras do aterro, visando aumentar o grau de biodegradação da matéria orgânica e de produção de gás (que pode ser usado como combustível, após tratamento). 2.4.8 Seleção de Áreas para Aterro Sanitário No processo de seleção de áreas para a implantação de aterros sanitários, conforme Jardim (1995) apud Schalch (1999), deve-se ter em mente a importância das características do meio físico. Uma área adequada significa menores gastos com preparo, operação e encerramento do aterro, mas fundamentalmente significa menores riscos ao meio ambiente e à saúde pública. Os dados que devem ser levantados para a orientação da escolha da área do empreendimento constituem em: dados gerais (população, caracterização e manejo dos resíduos), dados geológicos e geotécnicos, dados sobre águas superficiais, dados sobre clima, dados sobre legislação e dados sócio-econômicos. Os critérios para avaliação das áreas para se efetuar a instalação de um aterro sanitário estão descritos no Quadro 2. 48 CLASSIFICAÇÃO DAS ÁREAS DADOS NECESSÁRIOS RECOMENDA RECOMENDA NÃO RECOMENDA COM RESTRIÇÕES Vida útil Maior que 10 anos Distância do centro atendido Maior que 10 km (10 anos, a critério do órgão ambiental) 10-20 km Maior que 20 km Unidade de Zoneamento ambiental Áreas sem restrições no zoneamento ambiental conservação ambiental e correlatas Zoneamento urbano Densidade populacional Uso e ocupação das terras Aceitação da população e de ambientais Vetor de crescimento Vetor de crescimento mínimo intermediário máximo Baixa Média Alta Áreas devolutas ou pouco utilizadas Valorização da terra entidades Vetor de crescimento Ocupação intensa Baixa Média Alta Boa Razoável Inaceitável não- governamentais Distância dos cursos (córregos, nascentes, etc.) d’água Maior que 200 m Menor que 200 m, com aprovação do órgão ambiental responsável. QUADRO 2 - Critério para a avaliação das áreas para a instalação de aterro sanitário Fonte: Jardim (1995) apud Schalch (1999) Segundo Lima (1995), o aterro sanitário é uma das práticas mais utilizadas no presente, em virtude de sua relativa simplicidade de execução e de seu relativo baixo custo, tendo como fator limitante a disponibilidade de áreas próximas aos centros urbanos. As vantagens do aterro sanitário, além do baixo custo, são: disposição do lixo de forma adequada; capacidade de absorção diária de grande quantidade de resíduos e condições para a decomposição biológica da matéria orgânica presente no lixo. Os problemas associados a este método incluem a possibilidade de poluição das águas superficiais e lençóis subterrâneos pela ação do chorume, além da formação de gases e de odor desagradável (LIMA, 1995). Porém, os fatores que limitam este método são: a disponibilidade de grandes áreas próximas aos centros urbanos que não comprometam a segurança e o conforto da população; a disponibilidade de material de cobertura diária; condições climáticas de operação durante todo o ano e a escassez de recursos humanos habilitados em gerenciamento de aterros (LIMA, 1995). 49 De acordo com a Resolução CONAMA n° 308/2002, que dispõe sobre o licenciamento ambiental de sistemas de disposição final dos resíduos sólidos urbanos, gerados em municípios de pequeno porte, os aspectos a serem contemplados quanto à seleção de área são: as vias de acesso deverão apresentar boas condições de tráfego ao longo de todo o ano, mesmo em período de chuvas intensas; adoção de áreas sem restrições ambientais; inexistência de aglomerados populacionais (sede municipal e povoados); áreas com potencial mínimo de incorporação à zona da sede ou povoados; preferência por áreas devolutas ou destinadas na legislação municipal de uso e ocupação do solo; preferência por áreas com solo que possibilite a impermeabilização da base e o recobrimento periódico dos resíduos sólidos; preferência por áreas de baixa valorização imobiliária; respeitar as distâncias mínimas estabelecidas em normas técnicas ou em legislação ambiental específica, de ecossistemas frágeis e recursos hídricos superficiais, como áreas de nascente, córregos, rios, açudes, lagos, manguezais, e outros corpos d’água; caracterização hidrogeológica e geotécnica da área e confirmação de adequação ao uso pretendido; e preferência por área de propriedade do município, passível de cessão não onerosa de uso (comodato) a longo prazo; ou desapropriável com os recursos de que disponha o Município. No caso de proximidade de aeroporto, deverão ser considerados os cuidados especiais estabelecidos pela legislação vigente. 50 2.4.8.1 Vida útil de um aterro sanitário A avaliação técnica para a localização da área mais adequada é razoavelmente complexa. Por isso, não é recomendável a escolha de áreas com capacidade inferior a 5 anos de vida útil. É recomendado, no entanto, que a vida útil para os aterros sanitários seja de no mínimo 15 anos (MONTEIRO, 2001). 2.4.8.2 Cuidados especiais no aterro sanitário Captação de gases O lixo, quando confinado em aterros sanitários, sofre um processo de decomposição, predominantemente, anaeróbio, formando o gás metano, que é inflamável e pode provocar a morte por asfixia se invadir residências próximas ao aterro. O controle da geração e migração desses gases é feito, segundo Orth (1981 apud Schalch, 1999), através de um sistema de drenagem, constituído pela superposição vertical de tubos perfurados de concreto ou PVC, revestidos por uma camisa de brita. Drenagem de águas pluviais e percolados As águas provenientes da precipitação direta sobre o aterro, bem como as do escoamento superficial das áreas adjacentes, tendem a percolar através da massa de lixo, carreando poluentes que, juntamente com o chorume oriundo da decomposição do lixo, constituem material, segundo Schalch (1999), de alta carga poluidora (percolado). Para os aterros sanitários são propostos dois sistemas de drenagem: superficial e subsuperficial. O sistema de drenagem superficial tem como finalidade básica desviar as águas da bacia de contribuição para fora da área do aterro, diminuindo dessa forma o volume de líquido percolado, durante e após a fase de execução do aterro, além de possibilitar a sua operação, inclusive em dias de chuva. O sistema de drenagem sub-superficial visa coletar e conduzir os líquidos percolados para uma unidade de tratamento, evitando o comprometimento do lençol 51 freático, onde o sistema é constituído de estruturas drenantes com escoamento em meio poroso e por drenos horizontais preenchidos com britas. 2.4.8.3 Vantagens dos aterros sanitários, segundo Schalch (1999): solicitam em sua execução e operação, equipamentos normalmente utilizados em serviços de terraplanagem; possibilitam a recuperação de áreas topograficamente inutilizadas; controlam a proliferação de vetores, tais como ratos e artrópodes; dispensam mão-de-obra especializada na operação; os custos normalmente são inferiores aos das usinas de compostagem e das instalações de incineração. 2.4.8.4 Desvantagens dos aterros sanitários, segundo Schalch (1999): poderá ser necessário o transporte de resíduos à longa distância; desvalorização imobiliária das áreas destinadas ao aterro, caso elas necessitem de recuperação topográfica; produção de águas residuárias; possibilidade de poluição do lençol freático quando planejado ou operado de forma inadequada; período longo para a estabilização do solo do aterro; produção de ruídos e poeiras durante a fase de execução e operação. 2.4.8.5 Geoprocessamento como ferramenta de seleção de áreas Segundo Rosa; Brito (1996), o uso de computadores para o manuseio de uma grande quantidade e variedade de dados, tem levado ao desenvolvimento dos chamados “Sistemas de Informação”, dedicados a armazenamento e análise integrada de dados. Surgindo na década 52 de 50, nos anos 60 esses sistemas foram melhorados, servindo de apoio à tomada de decisão como um poderoso instrumento para os planejadores. Um sistema de informação, de acordo com Rosa; Brito (1996), pode ser definido como sendo uma combinação de recursos humanos (Peopleware) e técnicas (Hardware/Software), em concordância com uma série de procedimentos organizacionais que proporcionam informações com finalidade de apoiar as gestões diretivas. O geoprocessamento pode ser definido como sendo o conjunto de tecnologias destinadas a coleta e tratamento de informações espaciais, bem como o desenvolvimento de novos sistemas e aplicações, com diferentes níveis de satisfação. Em linhas gerais, o geoprocessamento trabalha com processamento digital de imagens, cartografia digital e sistemas de informação geográfica. Embora estas atividades sejam diferentes elas estão intimamente interrelacionadas, usando na maioria das vezes as mesmas características de hardware, porém software distinto. (ROSA; BRITO, 1996) (Figura 1). Processamento Digital de Imagens Cartografia digital Geoprocessamento Sistema de Informação Geográfica Banco de Dados FIGURA 1 – Atividade do Geoprocessamento Fonte: Rosa; Brito, 1996. Ainda, segundo Rosa; Brito (1996), o processamento digital de imagens pode ser entendido como o conjunto de procedimentos e técnicas destinadas à manipulação numérica de imagens digitais que têm como finalidade corrigir distorções das normas e melhorar o poder de discriminação dos alvos (ERDAS, PCI, etc.). A cartografia digital pode ser entendida como sendo a tecnologia destinada a captação, organização e desenho de mapas (Microstation, Autocad, etc.). Já os sistemas de informação geográfica são destinados à aquisição, armazenamento, manipulação, análise e apresentação de dados referenciados espacialmente (Arc–info, SGI, etc.). 53 A cartografia digital transmite a idéia de automação de projetos com o auxílio do computador e outros equipamentos conexos, enquanto que os sistemas de informação geográfica transmitem a idéia de análise, modelagem e simulação desses projetos automatizados. O Sistema de Informação Geográfica (SIG) é um caso específico do sistema de informação. E tem, como objetivo geral, de acordo com Rosa; Brito (1996), servir de instrumento eficiente para todas as áreas do conhecimento que fazem uso de mapas, possibilitando integrar em uma única base de dados, informações que representa vários aspectos de estudo de uma região; permitir a entrada e combinar dados de diversas formas; combinar dados de diferentes fontes, gerando novos tipos de informações; gerar relatórios e documentos gráficos de diversos tipos, etc. Administrações municipais, regionais e nacionais, têm cada vez mais utilizado o geoprocessamento como uma ferramenta de auxílio à tomada de decisões, tanto para a definição de novas políticas de gestão, quanto para a avaliação de decisões tomadas. No âmbito dos resíduos sólidos tem sido muito utilizado para definir local de tratamento e disposição final adequados. O sensoriamento remoto é definido como o conjunto de processos e técnicas usados para medir propriedades eletromagnéticas de uma superfície, ou de um objeto, sem que haja contato entre o objeto e o equipamento sensor. Existem diversos tipos de sistemas de imageamento. Sistemas de imageamento são sistemas físicos destinados a produzir ou captar imagens, tais como câmaras fotográficas, câmaras filmadoras, sensores a bordo de satélite e outros. A imagem de uma cena é formada através de lentes sobre um plano, onde são colocados sensores que medem a intensidade da luz incidente (CÂMARA et al., 1996). Um sistema de imageamento muito utilizado é o GPS (Global Positioning System), que segundo Câmara et al. (1996), é um sistema baseado em satélites que provê a medição de latitude, longitude e altura em qualquer posto da Terra. Os satélites enviam mensagens específicas que são interpretadas por um receptor GPS. A distância entre o satélite e o receptor GPS pode ser calculada a partir dos sinais enviados e da velocidade do satélite. funcionalidade. Os receptores GPS variam em precisão e 54 2.5 GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS O conceito de gestão de resíduos sólidos abrange atividades referentes à tomada de decisões estratégicas e à organização do setor para esse fim, envolvendo instituições, políticas, instrumentos e meios (SCHALCH,1999). Já o termo gerenciamento de resíduos sólidos refere-se aos aspectos tecnológicos e operacionais da questão, envolvendo fatores administrativos, gerenciais, econômicos, ambientais e de desempenho: produtividade e qualidade, por exemplo, e relaciona-se à prevenção, redução, segregação, reutilização, acondicionamento, coleta, transporte, tratamento, recuperação de energia e destinação final de resíduos sólidos (Projeto BRA/92/017, 1996 apud SCHALCH,1999). Conforme Projeto BRA/92/017,1996 apud Schalch (1999), são elementos indispensáveis na composição de um modelo de gestão: reconhecimento dos diversos agentes sociais envolvidos, identificando os papéis por eles desempenhados e promovendo a sua articulação; consolidação da base legal necessária e dos mecanismos que viabilizem a implantação das leis; mecanismos de financiamento para a auto-sustentabilidade das estruturas de gestão e do gerenciamento; informação à sociedade, empreendida tanto pelo poder público, quanto pelos setores produtivos envolvidos, para que haja um controle social; sistema de planejamento integrado, orientando a implementação das políticas públicas para o setor. A Gestão Integrada visa integrar as políticas, programas e práticas ambientais, intensamente, em todos os negócios, como elementos indispensáveis de administração, em todas as suas funções. Uma vez definido um modelo básico de gestão de resíduos sólidos, contemplando diretrizes, arranjos institucionais, instrumentos legais, mecanismos de financiamento, entre outras questões, deve-se criar uma estrutura para o gerenciamento dos resíduos, de acordo com o modelo de gestão. 55 Gerenciar os resíduos de forma integrada é articular ações normativas, operacionais, financeiras e de planejamento que uma administração municipal desenvolve, apoiada em critérios sanitários, ambientais e econômicos, para coletar, tratar e dispor o lixo de uma cidade, ou seja: é acompanhar de forma criteriosa todo o ciclo dos resíduos, da geração à disposição final, empregando as técnicas e tecnologias mais compatíveis com a realidade local (SCHALCH, 1999). 2.5.1 Sistemas de Gestão de Resíduos Sólidos Para Nóbrega (2003), o sistema de gestão dos resíduos sólidos urbanos é o conjunto de elementos relacionados entre si, unidos para chegar ao objetivo que é a gestão ótima dos resíduos sólidos urbanos. Em um projeto de um sistema de gestão de resíduos sólidos urbanos, de uma determinada comunidade, é imprescindível conhecer e relacionar uma série de fatores tais como: quantidade e tipos de resíduos, situação das unidades de tratamento e/ou disposição final, transporte, coleta (convencional e seletiva) entre outros. Os elementos ou subsistemas de uma gestão são todas as atividades a ela associadas. Tchobanoglous et al. (1994) apud Nóbrega (2003, grifo do autor) explicam que os subsistemas podem ser divididos em seis elementos: Geração de resíduos: atividade inicial, na qual se estuda e analisa o valor dos materiais ou resíduos, a quantidade produzida, a composição, as variações semanais, etc. Importante etapa e que dá suporte ao desenvolvimento dos projetos nas etapas posteriores. Pré-coleta: atividade de manipulação, separação e armazenamento na origem, dos resíduos sólidos, até o local onde são dispostos, para serem posteriormente coletados. Este subsistema tem efeito importante sobre os sistemas funcionais seguintes: a saúde e a atitude pública perante os resíduos, como o manuseio dos resíduos em condições higiênicas, colocando-os nos horários determinados e locais seguros. Coleta: compreende o conjunto de operações de carga-transporte-descarga, desde os pontos de coleta até o descarregamento numa estação de transferência, unidades de tratamento ou aterro sanitário. 56 Transferência e transporte: compreende todas as atividades, meios e instalações necessárias para transferir os resíduos para lugares afastados dos pontos de geração. Estas atividades podem ser divididas em duas: a primeira, consiste na transferência de resíduos desde um veículo de coleta pequeno até um transporte maior e realiza-se em instalações mais ou menos equipadas, chamadas de estação de transferência; a segunda, constitui-se no transporte dos resíduos para a unidade de tratamento ou aterro sanitário. Tratamento: compreende todos os processos de separação e transformação dos resíduos. Estes processos realizam-se em instalações de recuperação de materiais, em massa ou separados na origem. Passam por uma série de etapas: separação dos resíduos volumosos, separação manual dos componentes, separação magnética e prensagem dos materiais para formação dos fardos, obtendo-se uma corrente de produtos destinados ao mercado de subprodutos e, outra, de rejeitos encaminhados ao aterro ou tratamento térmico. Os processos de transformação se empregam para reduzir o volume e o peso dos resíduos e para obter produtos e energia. Os mais conhecidos são a compostagem e a incineração. Disposição final: destinos últimos dos resíduos de instalações de transformação e processamento, normalmente, aterros sanitários. A separação do sistema de gestão nestes seis elementos funcionais é devido à evolução tecnológica dos últimos anos, em que estes subsistemas conservam-se independentes (TCHOBANOGLOUS et al., 1994 apud NÓBREGA, 2003). A figura 2 apresenta o modelo geral do sistema de gestão dos resíduos sólidos urbanos. 57 Geração Pré-coleta Transferência E Transporte Coleta Tratamento Disposição Final FIGURA 2 – Sistema de Gestão de Resíduos Sólidos Fonte: Gallardo (2000) apud Nóbrega (2003) 2.5.2 Experiências Internacionais em Gestão de Resíduos Sólidos Os modelos de gestão de resíduos adotados na Dinamarca, Holanda, França, Alemanha, Estados Unidos e Japão são de alta relevância no cenário internacional, analisando-se pelo binômio eficiência/eficácia. Trata-se de países que apresentam soluções satisfatórias no que diz respeito à gestão de resíduos, tendo uma normatização definida e testada, com a delimitação clara de incumbências e responsabilidades das diferentes instâncias envolvidas. Conforme Schalch (1999), pode-se dizer que a base conceitual para a gestão de resíduos nos países analisados contemplam diretrizes que objetivam: a prevenção, através da redução do volume de resíduos na fonte, com ênfase no desenvolvimento de tecnologias limpas nas linhas de produção e análise do ciclo de vida de novos produtos a serem colocados no mercado; a reciclagem/reutilização e o tratamento adequado, dos resíduos gerados, com tendência à instalação de incineradores modernos, com vistas à recuperação de energia; o aumento do período de vida útil dos aterros sanitários; a destinação final em aterros sanitários dos resíduos não mais passíveis de recuperação (“resíduos últimos”). 58 Cada nação, a seu modo, define as instituições responsáveis por colocar em prática seus objetivos e os meios para atingi-los. Com exceção do Japão, essa política é implementada de forma descentralizada, cabendo aos municípios e províncias as tarefas relacionadas à elaboração de planos operacionais de gerenciamento de resíduos: acondicionamento, coleta, transporte, valorização, tratamento e destinação final. Às instâncias superiores (regiões administrativas e Estados), cabem o papel de analisar, regulamentar e fiscalizar o gerenciamento. A operação e manutenção dos sistemas de gerenciamento de resíduos devem se dar de forma a garantir a auto-sustentabilidade, ou seja, é o próprio usuário dos serviços quem financia o sistema através de pagamento de taxas, tarifas e preços públicos. Já o financiamento de novas instalações e equipamentos, pode ser realizado com os recursos próprios das empresas para esse fim ou através de empréstimos junto a instituições financeiras públicas ou privadas (SCHALCH, 1999). Para Lima (2002), o sucesso obtido à gestão e ao gerenciamento dos resíduos, deve-se, nos países analisados, ao planejamento eficiente das atividades e à clareza na definição dos papéis dos agentes envolvidos. O acesso à informação nas etapas de planejamento é chave para o efetivo controle social; o alto grau de conscientização e a capacidade de interferir na tomada de decisão em relação às questões ambientais, nos países do norte, por exemplo, é estreitamente vinculada à quantidade e à qualidade da informação a que têm acesso. O controle social se dá pela participação de segmentos da sociedade, nos processos de planejamento e de tomada de decisão de diferentes formas: convivência integrada nos centros comunitários, formação de ONG’s, representatividade em fóruns consultivos e deliberativos nos diversos níveis de ação do governo. Embora exista uma tendência à terceirização das atividades, a presença do Estado é grande, assumindo o papel de normatizador e fiscalizador. Na maioria dos países citados, os municípios trabalham de forma consorciada na elaboração de planos. As implementações das propostas e a fiscalização do processo são realizadas pelo Estado. Porém, a maioria desses países possui um aparato legal, estrutura de fiscalização e controle adequados ao cumprimento das metas. Sendo assim, a solução dos problemas urbanos deverá contar com a participação da sociedade, de forma que a administração das cidades não se realize com um único interlocutor, o poder público, cumprindo seu papel de regulador e fiscalizador (LIMA, 2002). 59 A população mundial, hoje, é de mais de 6 bilhões de habitantes, gerando aproximadamente 30 bilhões de toneladas de lixo por ano (SÃO PAULO, 1998 apud D’ALMEIDA; VILHENA, 2000). O Brasil, em função das suas disparidades regionais, tem um pouco de cada uma das situações ilustradas no quadro 3. O que ilustra de forma simplificada, a situação do lixo, considerando dois parâmetros: a densidade demográfica (relação entre população e território) e o nível de renda. PAÍSES DENSIDADE NÍVEL DE CARACTERÍSTICA DEMOGRÁFICA RENDA Japão, Alemanha, Bélgica, Costa Leste dos EUA Alta Alto Canadá, Países Nórdicos, interior dos EUA. Baixa Alto Cidades na Índia, China, Egito Alta Baixo Áreas rurais da África e de algumas regiões da América Latina. Baixa Baixo QUADRO 3 – Situação mundial do Lixo Fonte: Modificado de D’Almeida; Vilhena, 2000. GESTÃO DO LIXO DO LIXO Alta geração capta; Alto teor embalagens per de Alta geração per capta; Alto teor de embalagens e com grande parcela de resíduos de jardinagem. Média geração per capta; Teor médio de embalagens e alto de restos de alimentos Baixa geração per capta; Alto teor de restos de alimentos Coleta total do lixo, com foco em programas de coleta seletiva; Incineração usada para gerar energia; Aterro sanitário, com controles ambientais, como forma de destinação Coleta total do lixo; Aterro sanitário, como principal forma de destinação; Algumas iniciativas de reciclagem, dependendo da região; Compostagem de resíduos orgânicos. Coleta inadequada do lixo; Crescente preocupação em fechar lixões e criar aterros sanitários com controles ambientais; Indústrias de reciclagem abastecidas por catadores trabalhando nas ruas e nos lixões. Coleta inadequada do lixo; Lixão como principal forma de destinação. 60 2.5.3 Experiências Brasileiras em Gestão de Resíduos Sólidos O desenvolvimento sustentável foi tema central da conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente (Rio-92), evento em que foi elaborada a Agenda 21, onde a questão dos resíduos recebe atenção especial. A agenda 21 é um importante compromisso para a melhoria ambiental e o desenvolvimento sustentável (assinado e assumido pelos governos) com a população. É uma espécie de contrato entre as partes, para o gerenciamento das questões ambientais e sociais dentro de um espaço de tempo, e pode ajudar no gerenciamento do lixo urbano em nossas cidades. A agenda 21 Brasileira, no tocante aos resíduos sólidos, propõe: promover a redução da poluição nos corpos d’água provocada pela disposição inadequada de resíduos sólidos urbanos a partir do planejamento integrado de intervenções; adotar instrumentos econômicos para incentivo às boas práticas de gestão; da reutilização, reciclagem e redução dos resíduos sólidos; punir as práticas inadequadas de gestão dos resíduos sólidos; desenvolver critérios para a seleção de áreas de disposição de resíduos; e criar procedimentos específicos para resíduos especiais e perigosos (CPDS, 2000). Segundo Schalch (1999), no Brasil, a responsabilidade pela gestão dos resíduos sólidos domiciliares compete aos municípios, que enfrentam enormes dificuldades no setor, devido, principalmente: à falta de conscientização e vontade política de seus dirigentes; ao despreparo técnico e gerencial do pessoal designado para acompanhar todas as etapas que a questão dos resíduos sólidos exige; a dificuldade para a celebração de acordos intergovernamentais; à receita deficitária, ao confronto permanente com os órgãos de controle ambiental; à falta de informação ao público; e à ausência de uma política de diretrizes para a gestão de resíduos sólidos no país, envolvendo os três níveis de governo. A gestão adequada dos resíduos sólidos no Brasil deve ser efetivada urgentemente. Encontra-se em tramitação no Congresso Nacional a versão preliminar da Política Nacional de Resíduos Sólidos, onde a Lei nº 9605, de 12 de fevereiro de 1998, com fundamento nos incisos VI e XII do art. 24 e no art. 225 da Constituição, institui a Política Nacional de Gerenciamento de Resíduos Sólidos, seus princípios, objetivos e instrumentos e estabelece diretrizes e normas para o gerenciamento dos diferentes tipos de resíduos sólidos. 61 Em 25 de abril de 2003, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) pela resolução nº 330/2003, resolve instituir uma Câmara Técnica de Saúde, Saneamento Ambiental e Gestão de Resíduos, com a finalidade de propor normas de tratamento de esgotos sanitários, de coleta e disposição de lixo; normas e padrões para o controle das atividades de saneamento básico e resíduo pós-consumo; bem como, normas e critérios para licenciamento ambiental de atividades potencial ou efetivamente poluidoras. Apesar dos poucos recursos financeiros existentes, algumas iniciativas e experiências em andamento, em todos os níveis de governo, aliadas a uma maior conscientização que começa a surgir da sociedade civil, apontam para um cenário próspero, visando a universalização dos serviços de limpeza urbana e a qualidade destes serviços prestados à população brasileira. No entanto, diz Lima (2002), estes recursos podem ser maximizados, buscando-se a priorização e o esforço integrado do setor público, da sociedade civil e da iniciativa privada na proposição de soluções conjuntas, além de se estimular a melhoria da qualidade da prestação dos serviços. A inexistência de uma política definida para o setor tem desencadeado ações públicas desarticuladas que, além de impedirem o equacionamento dos problemas, geram desperdícios significativos na aplicação de recursos públicos, dificultando a cada dia este equacionamento. No Brasil, principalmente os municípios de pequeno e médio porte, não são autosustentáveis, dependendo da intervenção de órgãos públicos ou de auxílios do exterior para serviços básicos na área de saneamento. Normalmente, no país, a cobrança referente aos serviços de limpeza pública é cobrada em conjunto com o Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana e Taxas de Serviços (IPTU), que compõe o caixa geral das prefeituras, dificultando o acesso aos serviços ligados à coleta, transporte, tratamento e destinação final dos resíduos sólidos urbanos. A elevada quantidade de resíduos sólidos, gerados no Brasil, não é compatível com as políticas e os investimentos públicos para o setor. Observa-se que há um longo caminho para se trilhar, onde a capacitação técnica e a conscientização da sociedade são fatores determinantes. Neste sentido a gestão integrada dos resíduos sólidos tem sido uma ferramenta inovadora e eficaz no contexto brasileiro (LIMA, 2003). 62 2.5.4 Experiências em Sergipe As questões relativas ao meio ambiente no Estado de Sergipe foram formalmente ordenadas, relata Araújo (2001), com o advento da Lei nº 2181, de 12 de outubro de 1978, que criou a Administração Estadual do Meio Ambiente – ADEMA, sob forma de autarquia estadual, com o objetivo de “promover a preservação do meio ambiente, da fauna, da flora, do uso racional dos recursos hídricos, assim como a proteção dos ecossistemas naturais”. Destacando-se entre suas competências, “expedir alvarás de funcionamento de indústrias, estabelecimentos e unidades que se revelem como fonte de poluição ambiental” (Art. 6º, inciso XI). O crescimento urbano, na década de 80, foi, particularmente, direcionado à Aracaju, pelas maiores oportunidades sócio-econômicas, enquanto os pequenos centros secundários mantiveram-se pouco competitivos. A tendência de evasão populacional aumentou na década de 90, marcada pelo processo de metropolização de Aracaju, associada ao acesso de bens e serviços de consumo pela população do interior (FRANÇA, 1998 apud BARRETO, 2000). O maior acesso a bens de consumo, resultou numa maior produção de resíduos sólidos, mesmo nos municípios em que a população não é muito grande. Daí, surge a pergunta, o que fazer com tais resíduos? Como a maioria dos municípios brasileiros, muitos municípios sergipanos buscam a solução para tal problema. A maioria das Prefeituras Municipais, em Sergipe, não têm órgão ou setor responsável pela limpeza urbana, e não têm orçamento próprio. Há apenas um funcionário responsável por esta atividade cujo serviço está voltado basicamente para varrição, coleta e disposição dos resíduos de forma inadequada. E em algumas cidades, ocorre a presença de empresas contratadas (terceirização), para desempenhar as atividades de limpeza urbana citadas acima. Em Sergipe, de acordo com a PNSB (2000), os serviços de limpeza pública são executados principalmente pela administração pública direta (94,9%), num percentual maior que no âmbito nacional (86,9%). Com relação à forma de cobrança dos serviços de limpeza pública efetuada pelos municípios sergipanos, segundo PNSB (2000), somente 9,3% dos municípios sergipanos cobram pelos serviços de limpeza e todos os municípios que executam cobrança dos serviços (9,3% do total) o fazem através do IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano). E, no tocante 63 ao atendimento da coleta, 68% dos municípios sergipanos possuem sistema de coleta que atende entre 80 e 100% dos seus domicílios. Quanto à coleta seletiva, existe apenas em Aracaju e, atuando na seleção de materiais como papel, papelão e latas de alumínio que são enviados para a CARE, onde são prensados e vendidos, reduzindo, assim, a quantidade de resíduos enviados ao aterro. No que se refere à situação da destinação final dos resíduos sólidos, todos os municípios do Estado de Sergipe dispõem seus resíduos em locais inadequados (lixões), ao longo das rodovias, em áreas de manguezal e nas proximidades de rios e córregos ou em aterros controlados, como é o caso de Aracaju. Nos lixões, na sua maioria, possuem catadores. De acordo com Rogéria Araújo, técnica da ADEMA, responsável pela fiscalização nesta área até dezembro de 2003, ainda não existia em municípios sergipanos um sistema de disposição final de resíduos sólidos adequado, e sim lixões. Os casos mais críticos se encontram nos municípios de Itabaiana, Laranjeiras, São Cristóvão, Barra dos Coqueiros, Maruim e Santo Amaro, sendo que os três últimos dispõem em conjunto numa mesma área localizada no município de Santo Amaro, objetivando implantação de um Consórcio Intermunicipal (Informação verbal). O município de Campo do Brito possui um projeto de aterro controlado de resíduos sólidos urbanos, com licença de instalação desde junho de 2003. O mesmo contempla uma unidade de triagem de resíduos. Os municípios de Estância e Itabaiana, agora, estão com projetos em andamento, para adequação da forma de disposição de seus resíduos sólidos urbanos. O município de Lagarto foi contemplado com recursos do FNMA (Fundo Nacional do Meio Ambiente) para adequação e eliminação dos lixões existentes naquele município. Em Estância existe um projeto de implantação de um aterro sanitário em tramitação no Órgão Ambiental. Já, Itabaiana, também, foi contemplada com recursos da Caixa Econômica para a implementação de um programa das condições de disposições de resíduos na área utilizada, atualmente, para tal fim. Telha e Cedro de São João acabaram de adquirir uma área com o objetivo de instalar um aterro sanitário e estabelecer um Consórcio Intermunicipal. Com relação à Política Estadual, encontra-se em tramitação na Assembléia Legislativa o Anteprojeto de Lei, que institui a Política Estadual de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos 64 para o Estado de Sergipe e estabelece o Sistema Estadual de Gerenciamento Compartilhado dos diferentes tipos de resíduos sólidos e dá providências. Desta forma, o que se pode observar é que o Estado de Sergipe está preocupado com a gestão de resíduos sólidos e tem buscado resolver seus problemas relativos ao lixo. Os municípios de Telha e Cedro de São João, também, têm se empenhado em buscar alternativas para resolver tais problemas. 2.5.5 Modelos de Gestão de Resíduos Sólidos na Atualidade Conforme Lima (2002), os modelos de resíduos sólidos existentes na atualidade são: o convencional e o de gestão participativa. 2.5.5.1 Modelo de gestão convencional No Brasil, o modelo de Gestão de Resíduos Sólidos Convencionais, acontece na maioria das cidades. E qualquer município que tenha incorporado aos seus serviços, a prestação dos serviços de limpeza urbana, desenvolve um modelo de gestão próprio, ainda que de forma rudimentar, simplificada e experimental , visando à organização do setor. A organização da área de resíduos sólidos, através da prestação de serviços de limpeza urbana à população, efetuada pelo município, é uma ação fundamental para que o serviço seja prestado com eficiência e qualidade, evitando assim danos ambientais e de saúde pública à comunidade. Portanto, necessário se faz a implementação de um “Modelo de Gestão de Resíduos Sólidos” definido para cada município envolvendo os seus arranjos institucionais, os seus instrumentos legais e seus mecanismos de controle, de forma a dar todo o suporte legal, institucional e de sustentabilidade ao sistema. Este “Modelo de Gestão” é mostrado a seguir nos organogramas (figuras 3 e 4): 65 Prefeitura Municipal Secretaria Municipal De Obras / Serviços Urbanos Departamento de Limpeza Urbana Coleta Serviços Congêneres Varrição Destinação Final Fiscalização FIGURA 3 – Modelo de Gestão/Gerenciamento Convencional Fonte: Lima (2002) Prefeitura Municipal Secretaria Municipal De Obras / Serviços Urbanos Gerência de Limpeza Urbana Fiscalização Empreiteira Coleta Varrição Serviços Congêneres Destinação Final FIGURA 4 – Modelo de Gestão/Gerenciamento Privatização Fonte: Lima (2002) 2.5.5.2 Modelos de gestão participativa De acordo com Lima (2002), o Modelo de Gestão de Resíduos Sólidos Participativo e o Modelo de Gestão de Resíduos Sólidos Compartilhado, atualmente, no Brasil, acontecem em poucas cidades, tendo como exemplo, o modelo da cidade de Porto Alegre (RS), Jundiaí (SP), Candeias (BA), Madre de Deus (BA) e São Francisco do Conde (BA). No Modelo de Gestão Participativa, o município, juntamente com a participação dos habitantes residentes, elabora o orçamento plurianual ou o orçamento anual, indicando onde o município deve investir e em que áreas devem atuar. O poder público analisa as ações relativas aos serviços de Limpeza Urbana, e inclui em seu orçamento anual ou plurianual dentro de uma prioridade político-administrativa e financeira, de modo a se ter uma 66 participação efetiva da comunidade, nas ações a serem implementadas e na solução dos problemas existentes. Existe ainda um modelo de Gestão de Resíduos Sólidos Compartilhado, diz Lima (2002), onde a Gestão e o Gerenciamento são individuais para cada município e o compartilhamento se dá apenas na Destinação Final. Assim, os municípios que tenham interesses e afinidades em características urbano-geográficas, administrativas-financeiras e político-sociais, unam-se para gerenciar os seus resíduos através de modelos de gestão individual e compartilhando de um mesmo aterro sanitário como tratamento e destinação comuns aos municípios envolvidos. Estes “Modelos de Gestão” são mostrados a seguir, conforme Lima (2002), nos organogramas (figuras 5, 6 e 7): Prefeitura Municipal Secretaria Municipal De Obras / Serviços Urbanos Departamento de Limpeza Urbana Coleta Varrição Serviços Congêneres Fiscalização Destinação Final Integrada FIGURA 5 – Modelo de Gestão/Gerenciamento Individual com Compartilhamento Fonte: Lima (2002) 67 Prefeitura B Secretaria de Obras Prefeitura A Departamento de Limpeza Urbana Secretaria de Obras Departamento de Limpeza Urbana Coleta A+B Varrição A Varrição B Serviços Congêneres A Fiscalização A Serviços Congêneres B Destinação Final B Destinação Final A+B FIGURA 6 – Modelo de Gestão/Gerenciamento Compartilhado Fonte: Lima (2002). Prefeitura A Prefeitura B Prefeitura C Secretaria de Obras Secretaria de Obras Secretaria de Obras Departamento de Limpeza Urbana Departamento de Limpeza Urbana Departamento de Limpeza Urbana Gerência de Limpeza Urbana Gerência de Limpeza Urbana Gerência de Limpeza Urbana Aterro Sanitário Integrado - Conjunto F IGURA 7 – Modelo de Gestão/Gerenciamento com Compartilhamento na Destinação Final Fonte: Lima (2002) Neste modelo de Gestão, existem vários municípios Brasileiros que através do Consórcio de Desenvolvimento Intermunicipal, compartilham de um mesmo aterro sanitário para dispor os seus resíduos, gerados de forma adequada e ambientalmente segura (LIMA, 2003). 68 2.6 CONSÓRCIOS INTERMUNICIPAIS DE RESÍDUOS SÓLIDOS Os consórcios na forma de associações ou de pactos, segundo Lima (2003), instrumentalizam a união entre municípios e têm o intuito de resolver problemas e implementar ações de interesse comum, por meio de articulação e racionalização dos recursos de cada esfera de poder. São instrumentos que têm viabilizado o planejamento local e regional, auxiliando na organização de planos, avaliações e controles; na superação de problemas locais, possibilitando ganhos de escala de produção, na racionalização, no uso de recursos financeiros, humanos e tecnológicos; na modernização administrativa, por meio da padronização de suprimentos e procedimentos administrativos; no aumento da capacidade de cooperação técnica; e na implementação e regulação de políticas públicas regionalizadas. Os consórcios têm sido utilizados por muitas administrações como meio de capitalizar recursos, pois os governos estaduais e ministérios, ao longo dos anos, vêm estimulando a formação de consórcios, bem como priorizando o atendimento às demandas regionais. Para Cruz apud Lima (2003), os consórcios são formados a partir dos municípios, de suas características locais e suas dificuldades, discutindo ações regionais, sem perder sua autonomia. Esta parceria é baseada numa relação de igualdade jurídica, na qual todos os municípios participantes têm a mesma importância. Esse instrumento caracteriza-se como um arranjo institucional que pode possibilitar a descentralização das políticas estaduais e nacionais, e busca a parceria entre os setores público e privado. Meirelles apud Lima (2003), define os consórcios como acordos firmados entre entidades estatais, autárquicas, fundacionais ou paraestatais, sempre da mesma espécie, para realização de objetos de interesse comum dos partícipes, mediante a utilização de recursos materiais e humanos que cada um dispõe. Desta forma, Lima (2003) diz que, os consórcios entre pessoas públicas só podem ser implementados entre uma mesma natureza jurídica ou mesma esfera de governo, como município com município, Estado com Estado, autarquia com autarquia, União com União, etc., sendo que os consórcios mais comuns são firmados entre municípios, também chamados consórcios intermunicipais ou consórcios administrativos. Os consórcios são um compromisso de mútua cooperação entre consorciados, para a realização de obras, serviços e atividades temporárias ou permanentes, de interesse de outros 69 ou de toda uma região. Assim, procuram reunir recursos financeiros, humanos e técnicos não disponíveis em um só município ou Estado. 2.6.1 Os Modelos Institucionais Os serviços de disposição final compartilhada de resíduos sólidos urbanos podem ser executados de forma centralizada, pelo Poder Público municipal, por meio de seus próprios órgãos e departamentos, ou de forma descentralizada, por autarquias, empresas públicas intermunicipais, sociedades intermunicipais de economia mista ou por empresas privadas, mediante contratos de terceirização ou concessão. De acordo com Lima (2003), os modelos institucionais são os seguintes: consórcio de desenvolvimento intermunicipal, convênio administrativo, autarquia e outros. 2.6.1.1 Consórcio de desenvolvimento intermunicipal Chamado de consórcio intermunicipal, apresenta como objetivo principal dispor compartilhadamente os resíduos sólidos urbanos de duas ou mais cidades, representando um acordo celebrado entre municípios, pelo qual, reunidos aos recursos administrativos, técnicos, econômico-financeiros dos entes consorciados, são potencializados esforços para implementação de unidades centralizadas para disposição final de resíduos de utilidade e de interesse intermunicipal para toda uma região. Ele pode prestar os serviços de disposição final compartilhada dos resíduos sólidos de forma direta, cabendo a cada município, por meios próprios, pessoalmente ou por seus órgãos ou prepostos, executar uma parcela específica do todo dos serviços, previamente acordado entre as partes, respondendo cada um por suas obrigações. Pode, ainda, dispor compartilhadamente os resíduos sólidos de forma indireta, desde que previsto no ajuste e autorizado por lei, por meio de outorga a autarquias e empresas estatais, ou por meio de delegação por contrato de concessão ou por contrato de terceirização. 70 2.6.1.2 Convênio administrativo Pode-se considerar a instituição de convênio para a disposição final compartilhada de resíduos sólidos urbanos, enquanto um acordo celebrado entre municípios, visando à implantação e à operação de unidades regionalizadas para o destino dos resíduos dos entes convenentes, restringindo-se a um pacto de cooperação associativa. Entretanto, é o consórcio administrativo intermunicipal, o instituto que melhor representa a forma associativa mais apropriada para tal finalidade. Nestes casos, cabe mais o instituto do convênio enquanto um acordo celebrado entre entes federados de qualquer espécie, visando à gestão associativa e à mútua colaboração para a prestação de tais serviços, bem como a transferência de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à sua continuidade. 2.6.1.3 Autarquia São entidades administrativas autônomas, dotadas de personalidade jurídica de Direito Público, criadas a partir de lei específica, com patrimônio próprio e funções públicas próprias outorgadas pelo Estado. A autarquia administra a si própria, mediante as leis editadas pela entidade que a criou, sujeitando-se ao controle da entidade estatal matriz a qual pertence. Desta forma, o Poder Público municipal pode, reunido com os demais Municípios interessados na prestação conjunta de serviços de disposição final de resíduos sólidos urbanos, associar-se por meio do consórcio administrativo intermunicipal, que outorgaria a titularidade e a execução de tais serviços para uma autarquia de capacidade específica, neste caso uma autarquia de serviço. 2.6.1.4 Empresas públicas intermunicipais Com o objetivo de dispor compartilhadamente os resíduos sólidos urbanos, a Empresa Pública Intermunicipal é uma pessoa jurídica de Direito Privado, cuja instituição deve ser autorizada pelo Poder Público municipal, resultado da união de dois ou mais municípios interessados na prestação conjunta destes serviços públicos, mediante lei específica de cada um deles. Possui capital exclusivamente público, oriundo das entidades de cada município integrante. À empresa pública intermunicipal deve ser atribuída, por lei, a execução dos 71 serviços de disposição final compartilhada dos resíduos sólidos urbanos de uma região, permanecendo a titularidade municipal. Suas atividades são remuneradas mediante pagamento pelos Municípios sócios, de preços unitários para utilização de suas unidades. A arrecadação de receitas para fazer frente a tais despesas é de responsabilidade das municipalidades sócias de tais entidades, por meio de taxas específicas ou de outras. 2.6.1.5 Sociedades Intermunicipais de Economia Mista (SIEM) Objetivando a disposição final compartilhada de resíduos sólidos urbanos, a Sociedade Intermunicipal de Economia Mista é uma pessoa jurídica de Direito Privado, resultado da união entre a Administração Pública de Municípios interessados na prestação conjunta deste tipo de serviços, e particulares, sendo sua execução outorgada por tais municípios. Além disso, permite a captação de capitais privados e a colaboração deste setor na direção da empresa, utilizando-se do modelo empresarial para assegurar maior eficiência à prestação destes serviços. O capital destas sociedades é constituído pela conjugação de recursos particulares com os de pessoas de Direito Público ou de entidades de suas Administrações indiretas, com prevalência acionária votante da esfera governamental. Assim instituídas, devem assumir a forma de sociedade anônima, sujeitando-se aos preceitos da Lei das Sociedades Anônimas. 2.6.1.6 Terceirização Os municípios consorciados podem terceirizar a execução dos serviços de disposição final de seus resíduos sólidos urbanos por meio de contratos de colaboração, firmados com o ente particular. Desta maneira, empresa terceirizada presta serviços técnicos especializados de operação, manutenção e conservação das unidades de disposição final de resíduos, de propriedade das respectivas administrações municipais, localizadas em determinados municípios-sede. Cabe ao Poder Público de cada município contratante, a arrecadação das respectivas receitas para fazer frente às despesas com tais serviços, por meio de taxa, mediante limites constitucionais e a jurisprudência acerca do assunto, efetuando o pagamento dos prestadores de serviços de acordo com as medições realizadas e com base nos valores contratados (em função da quantidade de resíduos recebidos para disposição final). Pode, 72 ainda, haver casos em que a iniciativa parta do particular que, deve licenciar junto aos órgãos ambientais estaduais e municipais competentes, empreendimentos deste tipo, implementá-los e operá-los e, passar a contratar com cada Município, individualmente, a prestação de tais serviços. 2.6.1.7 Terceirização de Fundo Especial (TFE) Compreende a utilização de uma determinada parcela dos orçamentos de cada um dos Municípios contratantes dos serviços de disposição final dos resíduos sólidos urbanos, destacada e vinculada à sua realização.Individualmente, cada município deve instituir um fundo especial, mediante Lei específica e autorização legislativa própria, como preconizado pela Constituição Federal. Neste caso, os municípios contratantes captam recursos por meio da cobrança de taxa para composição de seus orçamentos. A partir de dotações genéricas ou créditos adicionais, estes municípios transferem uma parcela vinculada de seus orçamentos para o seu fundo especial, cuja aplicação se dá na remuneração dos serviços terceirizados. 2.6.1.8 Concessão Consiste na delegação de serviço público ou obra pública, mediante contrato administrativo precedido de licitação, prevista na Constituição Federal brasileira, que objetiva a transferência da Administração para o particular, por tempo determinado, do exercício de um serviço público, com eventual obra pública prévia, que o realizará em seu nome e por sua conta e risco, sendo remunerado basicamente pelo pagamento da tarifa cobrada dos usuários na forma regulamentar. Assim, desde que, adotados critérios adequados para a real medição da geração dos resíduos de cada usuário dos serviços, os municípios brasileiros podem utilizar-se da modalidade concessão, para a disposição final compartilhada de seus resíduos sólidos urbanos. Desta forma, o consórcio intermunicipal atua como poder concedente, delegando a prestação de tais serviços, precedida de obra pública. 73 2.6.2 Aspectos Legais Segundo Lima (2003), com o início do processo de descentralização administrativa, disseminado no Brasil, nos anos 90, surgiram algumas inovações no campo da organização dos serviços públicos. Daí surge à idéia de se formar Consórcios Intermunicipais, com o objetivo de diminuir os custos e potencializar os recursos disponíveis. Os consórcios de desenvolvimento intermunicipais devem ser previstos na Lei Orgânica, onde cada Município poderá consorciar com base no artigo 30, inciso X, da Constituição Federal de 1998, que diz: Art. 30 – Compete aos municípios: X – Legislar sobre assuntos de interesse local. Esse inciso, diz Lima (2003), permite a criação de consórcios intermunicipais que tenham objetivos ou interesses comuns entre as municipalidades. Também, a emenda Constitucional 19/98 trata desse assunto, em seu artigo 241: Art. 241 – A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disciplinarão por meio de lei os consórcios públicos e os convênios de cooperação entre os entes federados, autorizando a gestão associada de serviços públicos, bem como a transferência total ou parcial de encargos, serviços pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos. Os consórcios intermunicipais, que possuem atividade comercial, estão sujeitos ao Código Comercial Brasileiro e aqueles que são uma associação civil estão sujeitos ao Código Civil e à Lei Federal 6.015, de 31.12.1973, que dispõe sobre os registros públicos (LIMA, 2003). Dispõe sobre a fiscalização financeira e orçamentária da União, pelo Congresso Nacional, a Lei Federal 6.223/75, com redação alterada pela Lei 6.525/78, que atinge os consórcios, em seu artigo 7o: Art. 7o – As entidades com personalidade jurídica de direito privado, de cujo capital a União, o Estado, o Distrito Federal, o Município ou qualquer entidade da respectiva Administração Indireta seja detentor da totalidade ou da maioria das ações ordinárias, ficam submetidas à fiscalização financeira do Tribunal de contas compete, sem prejuízo do controle exercido pelo Poder Executivo. Os consórcios intermunicipais, também estão sujeitos à Lei Federal 8.666/93, que institui normas para licitações e contratos da Administração Pública: Art. 1o – Esta lei estabelece normas gerais sobre licitações e contratos administrativos pertinentes a obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienação e locação no âmbito dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. 74 A Lei de Responsabilidade Fiscal também tem reflexos sobre os consórcios, principalmente os que se configuram como pacto. E, também, o Estatuto da cidade sancionado em 10 de julho de 2001, pelo Presidente da República, através da Lei no 10.257, estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bemestar dos cidadãos, bem como de equilíbrio ambiental. Para tornar nossas cidades mais humanas, o Estatuto da Cidade vai ao encontro do princípio da função social da propriedade do inciso XXIII, artigo 5o da Constituição Federal. O inciso II do artigo 2o do Estatuto, institui a gestão democrática e de associação representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano. 2.6.3 Experiências dos Consórcios de Desenvolvimento Intermunicipal As experiências sobre Consórcios Intermunicipais quase sempre aconteceram ou acontecem em países em desenvolvimento, nos países ditos de terceiro mundo ou mais precisamente nos países da América Latina. Porém, se observou que em países da Europa, como a França, Suíça, Itália e Portugal, também existem experiências relatadas sobre Consórcios de Desenvolvimento Intermunicipais. As experiências brasileiras nos Consórcios de Desenvolvimento Intermunicipais (Quadro 4) têm ocorrido na maioria das vezes na destinação final dos seus resíduos sólidos, através da gestão compartilhada, mais especificamente através de aterro sanitário compartilhado 75 CONSÓRCIO/PROJETO ÁREA UF LOCAL/SEDE No DE MUNICÍPIOS MUNICÍPIOS FORMA JURÍDICA FONTE Consórcio Intermunicipal de Tratamento de Resíduos Sólidos Urbanos – CITRESU Recuperação e Proteção Ambiental/Resíduos Sólidos RS Três Passos 07 Bom Progresso, Humaitá, Sede Nova Associação Civil sem fins Lucrativos Convênio Intermunicipal para Resíduos Sólidos Resíduos Sólidos RS Gravataí 03 Gravataí, Porto Alegre, Cachoeirinha - Consórcio Intermunicipal da Bacia Hidrográfica do Alto Rio Negro Catarinense/Consórcio Quiriri/Programa Participativo de Resíduos Sólidos e Programa de Unidades Recuperação e Proteção Ambiental/Resíduos Sólidos/Educação Ambiental/Recursos Hídricos SC São Bento do Sul 03 Campo Alegre, Rio Negrinho e São Bento do Sul Entidade sem Fins Lucrativos Programa Gestão Pública e Cidadania 1998, 1999 e 2000 (Finalista do Ciclo de Premiação de 1999) Consórcio Intermunicipal para Gestão de RSU Resíduos Sólidos PR Curitiba 06 Contenda, Curitiba, Fazenda Rio Grande Mondirituba, Pinhais, São José dos Pinhais Entidade sem Fins Lucrativos Prefeitura de Curitiba Consórcio de Desenvolvimento Área Intermunicipal da Metropolitana de João Pessoa Global: Resíduos Sólidos, Saúde, educação, etc. PB João Pessoa 08 João Pessoa, Bayeux, Cabedelo, Santa Rita, Lucena, Conde, Cruz do Espírito Santo e Rio Tinto. Entidade sem fins lucrativos Prefeitura Pessoa. QUADRO 4 – Experiências de consórcios intermunicipais em resíduos sólidos Fonte: Adaptado de Lima (2003). Programa Gestão Pública e Cidadania de 1996, 1999 e 2000 Prefeitura de Gravataí de João 76 2.7 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O SISTEMA DE GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS A problemática dos resíduos sólidos foi deixada de lado, por muito tempo, pela humanidade. Porém, atualmente, os programas de Educação Ambiental (EA) que envolvem a campanha dos 3Rs (Reduzir, Reutilizar e Reciclar) são um dos temas mais populares, tanto nacional como internacionalmente. No entanto, as críticas recentes à Educação Ambiental, por parte de alguns setores obrigaram os diversos profissionais a refletirem sobre sua evolução (SATO, 1999 apud BIDONE, 1999). Desde seu surgimento, a Educação ambiental relacionava-se com a conservação dos recursos naturais e seus sistemas de vida (JUCÁ apud SATO, 1999). Para Smith apud Sato (1999), os objetivos gerais da educação ambiental são: Sensibilização: processo de alerta, considerado como primeiro objetivo para alcançar o pensamento sistêmico da educação ambiental; Compreensão: conhecimento dos componentes e dos mecanismos que regem o sistema natural; Responsabilidade: reconhecimento do ser humano como protagonista para determinar e garantir a manutenção do planeta; Competência: capacidade de avaliar e agir efetivamente no sistema; e Cidadania: capacidade de participar ativamente, resgatando os direitos e promovendo uma nova ética de conciliar a natureza e a cultura. A educação ambiental tem sido constantemente vinculada, tanto em documentos como nas práticas, à formação da cidadania e à reformulação de valores éticos e morais, individuais e coletivos, necessários para a continuidade da vida no planeta (LEONARDI, 1999). Para Leonardi (1999), a educação ambiental como formação de cidadania ou como exercício de cidadania tem a ver, portanto com uma nova maneira de encarar a relação homem/natureza. Como construir essa nova relação? Somente segundo uma nova ética que pressupõe outros valores morais e uma diferente maneira de ver o mundo e os homens. Daí, também a crítica aos modelos de crescimento, seja ele capitalista/industrialista ou socialista que geraram sociedades individualistas, exploradoras e depredadoras (tanto da natureza biofísica quanto da 77 natureza humana).Diante dessas constatações, diz Leonardi (1999), é preciso construir um novo modelo de desenvolvimento da economia. Na Conferência de Tbilisi, em 1977, a educação ambiental foi definida como uma dimensão dada ao conteúdo e à prática da educação, orientada para a resolução dos problemas concretos do meio ambiente, através de um enfoque interdisciplinar e de uma participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade (DIAS, 2001). De acordo com a Lei nº 9795 de 27 de abril de 1999 que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, no Capítulo I, artigo1º: Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Para Minini (2000 apud Dias, 2001), a educação ambiental é um processo que consiste em propiciar às pessoas uma compreensão crítica e global do ambiente, para elucidar valores e desenvolver atitudes que lhes permitam adotar uma posição consciente e participativa, a respeito das questões relacionadas com a adequada utilização dos recursos naturais, para a melhoria da qualidade de vida e eliminação da pobreza extrema e do consumismo desenfreado. Para alcançar os objetivos de um Sistema de Gestão de Resíduos é necessário que a sociedade passe por uma transformação, que sejam alterados os valores culturais que levaram o município à situação atual, onde parte da população produz lixo e consome cada vez mais. A educação ambiental é um dos instrumentos mais eficazes para promover esta mudança necessária nos cidadãos, passando de expectadores para produtores das soluções, de desinteressados para responsáveis pelas ações; de indiferentes para apaixonados pelo tema. O processo educativo deverá, dessa maneira, estimular a participação social e o estabelecimento de parcerias para a implementação do sistema, atingindo toda a sociedade, e chamar a atenção para a necessidade da redução da geração de resíduos e de evitar o desperdício de materiais (ABREU, 2001). A educação ambiental tem como característica principal o seu caráter contínuo, num processo pedagógico que garanta a revisão de valores éticos e comportamentos para a transformação social. É preciso construir ou ampliar as relações de afetividade das pessoas com o meio em que vivem, para permitir um aprendizado que recoloque a solidariedade entre as pessoas e entre elas e o ambiente. 78 3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO Os municípios escolhidos para a realização do estudo de caso da gestão dos resíduos sólidos urbanos são Telha e Cedro de São João, situados no Estado de Sergipe, região Nordeste do Brasil, estando localizados no baixo São Francisco sergipano (Mapa 1). ESTADO DE SERGIPE LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO 2004 Itaporanga D’Ajuda Riachão do Dantas Boquim Tobias Barreto Pedrinhas Estância Itabaianinha Arauá S. Luzia do Itanhy Tomar do Geru Umbaúba Localização da área de estudo Baixo São Francisco Sergipano Capital do Estado Cristinápolis Indiaroba MAPA 1 - Localização dos municípios de Telha e Cedro de São João. Fonte: Atlas de Sergipe, 1979. 3.1 CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE TELHA 3.1.1 Aspectos Históricos O município de Telha foi fundado em terras pertencentes a Propriá, doadas por Cristóvão de Barros, por volta de 1590, ao seu filho Antônio Cardoso de Barros (Fotografia 2). Duas famílias de holandeses se estabeleceram no local com uma fábrica de telhas de barro cozido, dando origem ao nome do Povoado Telha de Cima. Na década de 60, os moradores sentiram a necessidade de se emanciparem de Propriá. Para viabilizar a emancipação, uma comissão, liderada por José Manoel Freire Filho (fundador do município), procurou o deputado Wolney Leal de Melo, que apresentou um 79 projeto de lei, que foi sancionado pelo governador João de Seixas Dória, em 20 de janeiro de 1964. A partir desta data, foi criado oficialmente o município de Telha, através da Lei Estadual nº 1248, juntamente com três povoados: São Thiago, São Pedro e Bela Vista. O município de Telha tem aproveitado muito bem as suas águas. O centenário cultivo de arroz ganhou a parceria da piscicultura, que em muitos lotes do Projeto Irrigado Propriá é produzido em consórcio com a rizicultura. Produtores telhenses já estão abastecendo de peixe, produzido em viveiros, o mercado de várias cidades de Sergipe e de Alagoas.(CINFORM MUNICÍPIOS, 2002). FOTOGRAFIA 2 – Município de Telha Fonte: Cinform Municípios, 2002. 3.1.2 Aspectos Geográficos O município de Telha está localizado no extremo nordeste do Estado de Sergipe, limitando-se ao norte com o Estado de Alagoas, a oeste com Amparo de São Francisco, ao sul com Cedro de São João e Aquidabã e a leste com Propriá. A área municipal ocupa 56,5 Km2, tendo sua sede municipal uma altitude de 22 metros e coordenadas geográficas de 10º12’39” de latitude sul e 36º53’17” de longitude oeste. E o acesso, a partir de Aracaju, num percurso total de 107Km, é efetuado pelas rodovias pavimentadas BR-235, BR-101 e SE-200 (BONFIM, 2002a) (veja Mapa 1). O município tem um clima do tipo Megatérmico Semi-árido, temperatura média no ano de 26ºC, precipitação pluviométrica média anual de 800mm e um período chuvoso que compreende de março a agosto. O relevo é dissecado com formas colineares, e 80 aprofundamento de drenagem muito fraco a fraco. Os solos são Litólicos Eutróficos e Podzólicos Vermelho Amarelo, com uma vegetação Higrófila, de Campos Limpos e Campos Sujos (SERGIPE. SEPLANTEC/SUPES. 1997/2000 apud BONFIM, 2002a). Considerando os recursos hídricos, no tocante as suas águas superficiais, segundo Bonfim (2002a), o município está inserido na bacia hidrográfica do rio São Francisco. Sua drenagem principal, além do rio São Francisco, também é constituída pelo riacho Mondé da Onça. E com relação às águas subterrâneas, no município de Telha pode-se distinguir dois domínios hidrogeológicos: Metassedimentos/Metavulcanitos (ocupando aproximadamente 70% do território municipal) e Formações Superficiais Cenozóicas. 3.1.3 Aspectos Demográficos e Sócio-econômicos Telha possui uma população total de 3701 habitantes, sendo que 2638 habitantes na zona urbana e 1063 habitantes na zona rural, com uma densidade demográfica de 46,69 hab/Km2, uma taxa de urbanização de 71,270% e uma taxa de crescimento anual de 1,91% (IBGE, 2000). O sistema educacional do município (em 2000), dispõe de 11(onze) estabelecimentos de ensino: 5(cinco) de educação infantil e 6(seis) de educação fundamental. A taxa de alfabetização da população em 1991 era de 52,22%. Na saúde a população do município dispõe de 4(quatro) postos/centros de saúde (BONFIM, 2002a). A economia do município é baseada na agricultura do arroz, da mandioca, do feijão e do milho, na pecuária com os bovinos, suínos, ovinos e eqüinos e na avicultura sobressaem os galináceos. 81 3.2 CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CEDRO DE SÃO JOÃO 3.2.1 Aspectos Históricos O município foi criado pela Lei Estadual nº 1015 de 04 de outubro de 1918 e Lei Estadual nº 554 de 05 de fevereiro de 1954. Iniciou-se como Fazenda Cedro, de Antônio Nunes, no século XVIII, onde atualmente está localizada a Igreja Matriz. O nome do município originou-se do Cedro, árvore encontrada em grande quantidade na localidade, usada para cercar a fazenda. Em 1834, além da casa do fazendeiro, havia nos arredores cerca de 20 casas construídas para os vaqueiros. No ano seguinte, o proprietário conseguiu implantar a primeira escola pública na localidade. Antônio Nunes construiu em sua casa um altar, colocando a imagem do seu santo protetor, São João Batista, que mais tarde se tornou o padroeiro da cidade, onde foi realizada a primeira missa celebrada pelo padre Antônio Machado. O início da ocupação do município foi de acordo com o poder aquisitivo. As partes mais altas de Cedro sempre foram povoadas pelas pessoas mais abastadas, economicamente, fugindo das inundações das águas do rio São Francisco. Conseqüentemente, as partes baixas passaram a ser habitada pela comunidade mais pobre. Até então, Cedro era povoado de Propriá. Mas, em 04 de outubro de 1918, foi sancionada a Lei 1015 que propiciou a emancipação de Cedro, definitivamente, de Propriá, passando a pertencer judicialmente à comarca de Aquidabã e tornando-se sede dos povoados: Bananeiras, Batinga, Piçarreira, Cruzes e Poço dos Bois (o maior deles). Na década de 40, o então prefeito Miguel Seixas, por Decreto-lei nº 533, de 7 de dezembro de 1944, mudou o nome da cidade para Darcilena (em homenagem a Darcy, mulher de Getúlio Vargas e a Helena, mulher de Augusto Maynard), que permaneceu assim por 10 anos, causando muito descontentamento. Então, no dia 05 de fevereiro de 1954, pela Lei Estadual nº 554 passou a chamar Cedro de São João, em homenagem ao padroeiro da cidade (Fotografia 3). Sua atividade econômica era voltada para a criação de gado e produção de açúcar da cana. Porém, a cana deu lugar às pastagens, a produção pecuária cresceu e o município tornou-se o maior produtor de carne do sol do Estado. Mas, o fechamento do matadouro pela Justiça, devido à falta de estrutura de funcionamento, prejudicou a produção de carne do sol e 82 fortaleceu o artesanato do ponto de cruz, envolvendo praticamente todas as famílias cedreirenses. (CINFORM MUNICÍPIOS, 2002). FOTOGRAFIA 3 – Município de Cedro de São João Fonte: Trabalho de Campo, 2002. 3.2.2 Aspectos Geográficos O município de Cedro de São João está localizado na região nordeste do Estado de Sergipe, limitando-se ao norte com o município de Telha, a oeste com Malhada dos Bois e Aquidabã, ao sul com São Francisco e a leste com Propriá (veja Mapa 1). A área do município ocupa 73 Km2, sua sede tem uma altitude de 20,0 metros e as coordenadas geográficas são de 10º15’00” latitude sul e de longitude oeste 36º53’00” (BONFIM, 2002b). O acesso à cidade, a partir de Aracaju, é feito através das rodovias pavimentadas BR235, BR 101 num percurso total de 94 Km e também pela rodovia SE 200. Apresenta clima megatérmico semi-árido, temperatura média anual de 26,0ºC, com precipitação pluviométrica média anual de 800 mm e o período chuvoso é de março a agosto (SERGIPE, 1997). O relevo é característico, com feições dissecadas na forma de colinas e cristas. Os solos são Litólico Eutrófico, Podzólico vermelho amarelo equivalente Eutrófico, Regosol Eutrófico e Aluviais, com uma vegetação de Campos Sujos e Limpos (SERGIPE, 2000 apud BONFIM, 2002b). O município está inserido na bacia hidrográfica do rio São Francisco, onde o riacho jacaré constitui a drenagem principal. Seus domínios hidrogeológicos são: Metasedimentos/Metavulcanitos, Bacias Sedimentares e Formações Superficiais Cenozóicas. 83 Sendo que, o primeiro ocupa aproximadamente 60% do território municipal (BONFIM, 2002b). De acordo com a Bonfim (2002b), o levantamento realizado no município de Cedro de São João registrou a presença de 15 pontos d’água, sendo 1 do tipo fonte natural e 14 poços tubulares. Sendo que, 2 poços encontravam-se em operação, 2 paralisados, 1 não instalado e 9 abandonados. 3.2.3 Aspectos Demográficos e Sócio-econômicos Cedro de São João possui uma população total de 5.378 habitantes, sendo que 4650 habitantes se encontram na zona urbana e 728 habitantes, na zona rural; com uma densidade demográfica de 73,67 hab/Km2, uma taxa de urbanização de 86,46% e uma taxa de crescimento anual de 1,01% (IBGE, 2000). O sistema educacional do município dispõe de 12 estabelecimentos de ensino, sendo: 6 (seis) de educação infantil, 5 (cinco) de educação fundamental e 1(um) de ensino médio; com uma taxa de alfabetização de 63,49%. Na saúde a população dispõe de 2(dois) postos/centros de saúde (BONFIM, 2002b). A economia do município é baseada na agricultura do arroz, da mandioca e do milho, na pecuária com os bovinos, suínos, ovinos e eqüinos e na avicultura com os galináceos. Já na área mineral, a argila é explorada para a fabricação da cerâmica. 84 4 METODOLOGIA DA PESQUISA 4.1 BASE CONCEITUAL Os pilares metodológicos deste estudo são os princípios da sustentabilidade, conjugados pela ética ambiental, através de uma abordagem sistêmica e interdisciplinar, religando os saberes em busca de novas alternativas para a gestão dos resíduos. Diante dos limites da racionalidade econômica e dos desafios da degradação ambiental, o projeto civilizatório da modernidade é questionado. A escassez, alicerce da teoria da prática econômica, converteu-se numa escassez global que já não resolve mediante o progresso técnico, pela substituição de recursos escassos por outros mais abundantes ou pelo aproveitamento de espaços não saturados para o depósito dos rejeitos gerados pelo crescimento desenfreado da produção (LEFF, 2001). Na percepção desta crise ecológica, conforme Leff (2001), foi sendo configurado um conceito de ambiente como uma nova visão do desenvolvimento humano, que reintegra os valores e potenciais da natureza, as externalidades sociais, os saberes conjugados e a complexidade do mundo, negado pela racionalidade mecanicista, simplificadora, unidimensional e fragmentadora, que conduziu o processo de modernização. O ambiente emerge como um saber reintegrador da diversidade, de novos valores éticos e estéticos e dos potenciais sinergéticos gerados pela articulação de processos ecológicos, tecnológicos e culturais. Neste processo de reconstrução são elaboradas as estratégias do ecodesenvolvimento, de acordo com Sachs (1982 apud Leff, 2001), que postula a necessidade de fundar novos modos de produção e estilos de vida, nas condições e potencialidades ecológicas de cada região, assim como, na diversidade étnica e na autoconfiança das populações para a gestão participativa dos recursos. O modelo de gestão integrada de resíduos a ser proposto teve como referência as legislações federais, estaduais e municipais existentes, bem como resoluções, portarias, decretos e normas (série ISO 14000). No sentido de buscar uma solução alternativa para a região em estudo, compreendida pelos municípios de Telha e Cedro de São João. 85 4.2 METODOLOGIA DE EXECUÇÃO O presente trabalho é de natureza quali-quantitativa, que comporá um estudo de caso da situação da Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos nos municípios de Telha e Cedro de São João, sendo desenvolvido nas seguintes etapas: I) Levantamento bibliográfico e documental através de consulta a livros, periódicos, textos, meios eletrônicos, legislação vigente e documentos institucionais capazes de refletir a situação atual da gestão de resíduos sólidos urbanos, nos municípios citados acima; II) Elaboração dos questionários a serem aplicados junto aos domicílios urbanos, ao setor institucional, à sociedade civil organizada e dos roteiros de entrevistas aos prefeitos e ao setor de saúde. Seguida pela determinação do tamanho da amostra, a ser utilizada no trabalho de campo; III) Estudo comparativo e exploratório da situação atual no tocante à coleta, transporte, tratamento e disposição final dos resíduos sólidos nos municípios em estudo, através das entrevistas e questionários aplicados aos representantes institucionais dos três níveis de governo, sociedade civil organizada e a população em geral, ensaios de campo e observação direta: Foram aplicados questionários nos domicílios urbanos (Anexo A), verificando a situação familiar (escolaridade do entrevistado, ocupação do chefe da família, renda mensal, nº de pessoas da família, quantas trabalham), satisfação com limpeza urbana e coleta, freqüência e horário da coleta, destino do lixo, quantidade de lixo produzido, males do lixo, acondicionamento, aproveitamento do material e sugestões para a questão do lixo na cidade; O questionário nº 2 (institucional, Anexo A), foi aplicado junto ao departamento de limpeza urbana da prefeitura ou empresa responsável visando conhecer o gerenciamento dos resíduos sólidos; Junto à sociedade civil organizada (Anexo A), o questionário nº 3 buscou saber a atuação das associações no tocante a resíduos; 86 Com o questionário nº 4- setor de saúde (Anexo A), visou-se relacionar as doenças com a questão do saneamento, mais precisamente, a influência do lixo na saúde; Entrevista aos Prefeitos (Anexo A) das cidades de Telha e Cedro de São João, objetivando fechar as conclusões sobre a situação da gestão dos resíduos sólidos urbanos. IV) Caracterização dos Resíduos Sólidos Urbanos A caracterização dos resíduos sólidos urbanos foi realizada em dois momentos climáticos diferentes. A primeira caracterização foi no período chuvoso (maio/03) e a segunda foi no período seco (outubro/03), através da análise gravimétrica, chegando-se à quantidade da amostra, usando a técnica do quarteamento, segundo Daltro (1994). A separação dos resíduos foi efetuada da seguinte forma: papel, papelão, plástico mole, plástico duro, vidro, metal ferroso, metal não-ferroso, matéria orgânica, borracha e outros. V) Análises físico-químicas e bacteriológicas da água As análises físico-químicas da água foram realizadas no laboratório de Química Analítica Ambiental, de acordo com as metodologias analíticas descritas no Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater. E analisando as seguintes variáveis: cor aparente, alcalinidade, DBO5, DQO, Oxigênio Dissolvido, pH, sólidos totais, turbidez, sódio, potássio, cálcio, magnésio, cloreto, sulfato, amônia, nitrato, nitrito e fosfato. A análise bacteriológica realizada foi a colimetria, determinando a quantidade de coliforme total e de coliforme termotolerante, pelo Instituto Parreiras Horta, utilizando a metodologia das membranas filtrantes (Placas Petri). As análises físico-químicas e bacteriológicas das águas coletadas próximas à áreas de disposição antiga e atual de resíduos sólidos, foram realizadas a fim de avaliar o nível de contaminação nessas áreas de influências. 87 VI) Diagnóstico Participativo Os diagnósticos participativos nas cidades de Telha e Cedro de São João foram realizados em dias e locais distintos, utilizando a metodologia participativa, através da técnica dos cartões, de acordo com Cordeiro (2001). Com o objetivo de informar e sensibilizar as pessoas sobre os problemas e possíveis soluções, existentes na comunidade, além de conscientizá-la sobre a importância da mudança de comportamento, visando a preservação do ambiente e a qualidade de vida, exercendo o direito à cidadania. A técnica utilizada foi a dos cartões, em que: Dividiram-se os participantes em grupos, para debaterem os assuntos por etapas e distribuíram-se cartões (20x10 cm) para cada grupo; Os cartões foram de cores diferentes para cada tipo de assunto, utilizando pincel atômico para a escrita; Cada grupo escreveu, no cartão de cor branca, sua opinião sobre os problemas que o município vinha sofrendo relativos à limpeza urbana do município; No cartão de cor azul, cada grupo escreveu os aspectos positivos que observou no seu município, quanto à questão do lixo; No cartão de cor rosa, cada grupo escreveu o nome de, pelo menos, duas instituições, parceiros relevantes para contribuírem no equacionamento da problemática do lixo no seu município (como órgão municipal, ONG, entidade do comércio, etc.); No cartão de cor verde, cada grupo escreveu as soluções possíveis, que contribuiriam para resolver a problemática do lixo em seu município. Os grupos montaram um painel (quadro 5), buscando identificar: os principais problemas; as potencialidades que se destacaram (aspectos positivos quanto à questão do lixo); os parceiros relevantes (instituições que podem contribuir na solução dos problemas); as soluções para resolver a problemática do lixo na cidade. 88 Problemas Aspectos Parceiros Soluções (cor branca) Positivos (cor rosa) (cor verde) (cor azul) QUADRO 5 – Diagnóstico participativo Fonte: Cordeiro, 2001. Depois de discutirem as soluções, para finalizar a reunião, foi distribuída e lida uma mensagem (Anexo B), visando sensibilizar os participantes do diagnóstico participativo. VII) Critérios de avaliação da área de disposição final dos resíduos sólidos urbanos nos municípios de Telha e Cedro de São João Para realizar a avaliação do terreno para a instalação de um aterro sanitário, utilizaram-se cartas temáticas, com uma escala regional (1:100.000), relativas aos fatores ambientais, tais como, hidrografia, hipsométrico, declividade e geológico. As informações resultantes da análise das cartas produzidas no microstation, elaboradas no laboratório de geoprocessamento/NESA/UFS, utilizando as bases digitalizadas cedidas pela SRH e Petrobrás, aliadas às informações locais obtidas no trabalho de campo, com o uso do GPS, contribuíram com a avaliação da área. Para efetuar a escolha da área, foram fixados critérios (tabela 3) e pesos para o atendimento aos critérios selecionados, (tabela 4), como mostra a seguir. TABELA 3 – Hierarquização dos critérios Hierarquização dos critérios Critérios Prioridade Atendimento ao sistema de licenciamento estadual de atividades 1 poluidoras (SLAP) e à legislação ambiental em vigor Atendimento aos condicionantes político-sociais 2 Atendimento aos principais condicionantes econômicos 3 Atendimento aos principais condicionantes técnicos 4 Atendimento aos demais condicionantes econômicos 5 Atendimento aos demais condicionantes técnicos 6 Fonte: Monteiro, 2001. 89 TABELA 4 - Ponderação do atendimento aos critérios. Pesos dos critérios e do tipo de atendimento Prioridade dos critérios Peso 1 10 2 6 3 4 4 3 5 2 6 1 Tipo de atendimento Peso Total 100% Parcial ou com obras 50% Não atendido 0% Fonte: Monteiro, 2001. Adotou-se a classificação da área conforme pontuação apresentada na tabela 5: TABELA 5 - Classificação da área Classificação da área Pontuação final Recomendada 94 - 70 Recomendada com restrições 69 - 45 Não recomendada 44 – 0 Fonte: Adaptado de D’Almeida; Vilhena (2000); Monteiro (2001). VIII) Tabulação e Sistematização dos Dados Nesta etapa, deu-se o processamento dos dados obtidos junto ao trabalho de campo, para a obtenção dos elementos necessários à sua interpretação, análises e conclusões do estudo da gestão integrada de resíduos sólidos nos municípios de Telha e Cedro de São João. IX) Redação da Dissertação 90 4.2.1 Amostragem da Pesquisa 4.2.1.1 Setor institucional e sociedade civil O questionário do setor institucional foi aplicado diretamente ao setor responsável pela limpeza pública, vinculado diretamente à Prefeitura, no Caso de Cedro de São João. E no caso de Telha, foi aplicado junto à empresa contratada pela Prefeitura para a realização da limpeza pública. À sociedade civil organizada foi utilizada uma amostragem por acessibilidade, sendo aplicado um questionário junto às entidades: Conselho de Desenvolvimento Municipal (CONDEM), Associação Comunitária Gouveia Lima, Associação Beneficente de Expansão Rural e a Associação dos Moradores de São Sebastião, em Cedro de São João; e em Telha, o Conselho do Desenvolvimento Comunitário de Telha, a Associação Beneficente das Bordadeiras do Município de Telha e a Associação Beneficente dos Agricultores. 4.2.1.2 Setor de saúde No setor de saúde foram aplicados dois questionários, um em Telha, no Centro de Saúde-SESP/Laboratório, à visitadora sanitária da FUNASA, e outro em Cedro de São João, ao Secretário Municipal da Saúde. 4.2.1.3 Domicílios urbanos A amostragem para a aplicação dos questionários nos domicílios urbanos foi de forma aleatória simples, definidos previamente e dividindo a localidade em etapas apenas para efeito de organização da aplicação dos questionários, pressupondo a homogeneidade dos domicílios urbanos, uma vez que, para o IBGE as cidades de Telha e Cedro de São João não estão divididas em setores estratificados de renda e, sim, em setores/rua para efeito de organização das atividades ali desenvolvidas pelo próprio IBGE. Considerando desta forma, que existe uma similaridade econômica em ambas as cidades em estudo. O tamanho da amostra (n) foi determinado admitindo-se que a amplitude do universo é finita e para um nível de significância de 95,5% expresso em dois desvios ( ó2), erro máximo 91 (e2) de 10%, estimando que a percentagem (p) com o qual o fenômeno se verifica seja de 50% (0,50). A amplitude total (N) teve como base os dados do Censo Demográfico do IBGE (2000), considerando a existência de 283 domicílios urbanos em Telha e 1219 domicílios urbanos em Cedro de São João. O cálculo do tamanho da amostra utilizada foi obtido a partir da seguinte fórmula, conforme Gil (1995), aplicável à população finita: n = ó2. p.q.N / e2 (N-1) + ó2. p.q A partir dos parâmetros acima citados e dos resultados de n, foi adotada uma amostra de 74 domicílios urbanos para Telha e 94 domicílios urbanos para Cedro de São João. 4.2.1.4 Caracterização dos resíduos sólidos urbanos A caracterização dos resíduos foi realizada utilizando-se os materiais coletados em dois períodos climáticos, através da análise gravimétrica, em dias diferentes e determinados, considerando todo os resíduos produzidos nas cidades. A amostra foi retirada do caminhão coletor e levada para o local da análise. Para tanto, foram retirados 4 (quatro) tonéis de 200 litros, a fim de iniciar a caracterização utilizando a técnica de quarteamento (figura 8). 92 T C iocleut ol o r T rraat ot ro Cr oCle ot olreot uo rV eoicuu loV e C o le to r 4 M Mo 4 o nn tteess ddee LLi xi xo o M ii ss ttuurraar r oo c co on n t et úe dú od od ed e c acdaad m M a omn ot en t e s ee pp aa rraa ddoo s 1 1 2 2 3 3 4 4 100Kg M is isi sM M o no tne tse s M i s ttuurraar r DDooisi sa aDDo o 1 + 21 + 2 3+4 3 + 4 200Kg 1 º Q u a rte a m e n to 1 F o ra Bom M ii ss ttuurraar r NNoov va amme en n t et e M II II I I1 0 0 K g 2 º Q u a rte a m e n to 2 F o ra Bom Q u a nAt im d ao ds et r ad ad eA m s tp r ao sp iaçrãao sFe írs ci caar a c t e r i z a d a C oo m 100Kg F IGURA 8 – Técnica de Quarteamento para Caracterização do Resíduo Fonte: Jardim et al (1995) 4.2.1.5 Análises físico-químicas e bacteriológicas da água As amostras utilizadas para as análises físico-químicas e bacteriológicas da água, foram coletadas num mesmo momento (setembro/03), provenientes de quatro pontos distintos. Amostra nº 1 – tanque de água consumida pelo gado, localizada ao lado da nova área de disposição final em Telha, na qual serão dispostos os resíduos de Telha/Cedro de São João, conjuntamente, com as coordenadas em UTM (24L 0730192,8871434) e uma altitude aproximada de 66metros; 93 Amostra nº 2 – lagoa que recebe esgoto doméstico, localizada em Telha, lado direito do cemitério, depósito anterior do lixo da cidade (lixão), com as coordenadas em UTM (24 L 0731813, 8871190) e uma altitude aproximadade 16 metros; Amostra nº 3 – lagoa Salomé, próximo ao foco de lixo localizado em Cedro de São João, com as coodenadas em UTM (24 L 0731781, 8865848) e uma altitude aproximada de18 metros; Amostra nº 4 – córrego contribuinte da lagoa Salomé, próximo ao foco de lixo e possível influência do antigo lixão de Cedro de São João, com as coordenadas em UTM (24 L 0732097, 8865140) e uma altitude aproximada de 14 metros. 4.2.1.6 Diagnóstico participativo O diagnóstico participativo foi realizado nas duas cidades com o auxílio da metodologia participativa, dividindo os participantes em cinco grupos e utilizando a técnica dos cartões. Participaram do diagnóstico, em Telha, no dia 17 de outubro de 2003: a Associação Beneficente das Bordadeiras do Município de Telha, a Associação Centro de Desenvolvimento Comunitário de Telha, Secretaria Municipal da Saúde, representante da Igreja Católica, representante da Igreja Evangélica e a Comunidade Escolar (professores, serventes, estudantes e coordenadora) da Escola Prefeito José Francisco Dias. O diagnóstico em Cedro de São João, ocorrido no dia 22 de outubro de 2003, contou com a participação do Conselho Comunitário de Cedro, Sindicato Rural, Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento e a Comunidade Escolar (professores, alunos, direção e funcionários) da Escola de 1º Grau Padre Manuel Guimarães. 94 5 RESULTADOS: APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO 5.1 DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO ATUAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NOS MUNICÍPIOS DE TELHA E CEDRO DE SÃO JOÃO Os resultados aqui apresentados foram levantados de acordo com os questionários 01, 02, 03 e 04 mostrados no anexo C, as entrevistas feitas aos Prefeitos das duas cidades, caracterização do lixo, análises da água e no diagnóstico participativo. 5.1.1 Perfil do Morador O perfil do morador foi analisado tendo como base o questionário aplicado nos domicílios urbanos, onde foi verificado: a escolaridade, a ocupação do chefe da família, renda mensal, nº de pessoas da família, nº de pessoas que trabalham, satisfação com a limpeza urbana e aproveitamento de material. 5.1.1.1 Escolaridade Quanto à escolaridade dos moradores que responderam o questionário, em Telha, 47% não haviam completado o ensino fundamental, 18% tinham o fundamental completo, 15% possuíam ensino médio completo, 12% não tinham nenhuma escolaridade, 7% ensino médio incompleto e somente 1% possuíam formação superior incompleta (gráfico 03). Em Cedro de São João, dos moradores que responderam o questionário, 30% possuía ensino fundamental incompleto, 20% ensino médio completo, 16% nenhuma escolaridade, 13% ensino médio incompleto, 10% ensino fundamental completo, 2% tem ensino superior e 1% ensino superior incompleto (gráfico 3). 95 50 45 40 35 Telha 30 % Cedro de São João 25 20 15 10 5 0 Nenhuma Fundamental Fundamental incompleto completo Médio incompleto Médio completo Superior incompleto Superior GRÁFICO 3 – Escolaridade dos moradores pesquisados em Telha e Cedro de São João. Fonte: Trabalho de campo, 2003. Analisando os dados levantados, relativos à escolaridade, junto aos moradores pesquisados, verifica-se que a maioria não completou o ensino fundamental, onde em Telha o percentual é ainda maior (47%) do que em Cedro de São João (38%). 5.1.1.2 Ocupação do chefe da família Nos domicílios pesquisados em Telha, 28% eram agricultores em lotes do projeto Própria, 15% aposentados, 7% funcionários públicos, 5% pescadores, 5% operários, 4% trabalham com artesanato, 4% eram vigilantes, 4% comerciantes, 4% motoristas, 4% desempregos, 3% pecuaristas, 3% vereadores e 13% outros como, marchante, frentista, militar, taxista, tratorista, ferreiro, piscicultor, costureira, gari, pedreiro e servente (gráfico 4). 96 Agricultor Aposentado Funcionário público Pescador Operário Vigilante Motorista Desempregado Comerciante Pecuarista Vereador 0 5 10 15 20 25 GRÁFICO 4 – Ocupação do Chefe da família em Telha. Fonte: Trabalho de campo, 2003. Em Cedro de São João, nos domicílios pesquisados 20% dos chefes de família eram aposentados, 13% eram agricultores, 12% eram comerciantes, 6% trabalhavam na atividade do artesanato, 6% também eram marchantes, 5% pedreiros, 3% professores, 3% pensionista, 2% eram pescadores, 2% desempregados, 2% vigilantes, 2% costureiras e 24% outros como, pecuarista, marceneiro, funcionário público, serviços gerais, engomador, guarda sanitário, peão boiadeiro, secretário, carroceiro, autônomo, feirante, parceleiro, bancário, enfermeiro, mecânico, taxista, comerciário, armador, contador, confeiteiro e técnico agrícola (gráfico 5). 30 97 A pos entado A grícola Comerc iante A rtesanato Machante Pedreiro Prof es sor Pens ionista Pescador Desempregado V igilante Costureira 5 10 15 20 25 % 0 GRÁFICO 5 – Ocupação do Chefe da família em Cedro de São João. Fonte: Trabalho de campo, 2003. Com relação à ocupação dos chefes de família pesquisados nas duas cidades, em Telha a maioria (28%) é agricultor, seguido de aposentados (15%) e funcionários públicos (7%). No entanto, em Cedro de São João, a maioria era aposentada (20%), seguidos de agricultores (13%) e comerciantes (12%). 5.1.1.3 Renda mensal da família Em Telha, a maioria das famílias pesquisadas sobrevive com um salário mínimo (R$ 240,00), correspondendo a 43% aproximadamente, 25,7% possuía uma renda menor que o salário mínimo; 21,6% entre dois a quatro salários-mínimos; 4% não possuía renda; 2,7% possuía uma renda maior que quatro salários-mínimos; e 2,7% não sabia ao certo a sua renda mensal (gráfico 6). Também em Cedro de São João, a maioria das famílias pesquisadas possuía uma renda de 1 (um) salário mínimo, correspondendo a um total de 40% dos domicílios; 31% tinham uma renda entre dois a quatro salários-mínimos; 21% uma renda menor que um saláriomínimo; 6% não sabiam quanto ganhavam mensalmente, devido a sua variação; 1% percebia mais que 4 (quatro) salários mínimos; e 1% não possuía nenhuma renda por estarem desempregados (gráfico 6). 98 45 40 35 30 Telha 20 Cedro de São João % 25 15 10 5 0 < 1 salário mínimo 1 salário mínimo 2–4 salários mínimos > 4 salários mínimos Não tem renda Não sabe GRÁFICO 6 – Renda mensal da família em Telha e Cedro de São João. Fonte:Trabalho de campo, 2003 A maioria das famílias pesquisadas, tanto em Telha como em Cedro de São João, sobrevivem com 1 (um) salário mínimo, sendo que Telha apresenta um percentual maior (43%) que Cedro de São João (40%). Porém, a renda mensal que vem em segundo lugar diferencia, pois 25,7% das famílias em Telha sobrevivem com uma renda menor que um salário mínimo e 21,6¨% sobrevivem com uma renda entre 2-4 salários mínimos. Já em Cedro de São João, 31% das famílias pesquisadas possuem uma renda entre 2-4 salários mínimos (maior que Telha) e 21% uma renda menor que um salário (menor que Telha). Apesar disto, pode-se dizer que as famílias dos dois municípios possuem rendas mensais muito próximas. 5.1.1.4 Número de pessoas da família e familiares que trabalham A maioria das famílias pesquisadas em Telha era formada por 4-6 pessoas com 44% do total, 28% possuíam três pessoas, 12% duas pessoas, 8% era formada por uma pessoa e 7% das famílias eram formadas por mais de seis pessoas (Gráfico 7). Em Cedro de São João, das famílias pesquisadas, 48% eram formadas por 4-6 pessoas, 22% eram de três pessoas, 16% de duas pessoas, 9% possuíam mais de seis pessoas e somente 1% das famílias eram constituídas por apenas uma pessoa (Gráfico 7). 99 60 50 % 40 Telha 30 Cedro de São João 20 10 0 1 pes soa 2 pessoas 3 pessoas 4-6 pes soas > 6 pessoas GRÁFICO 7 – Número de pessoas da família em Telha e Cedro de São João. Fonte: Trabalho de campo, 2003. Em Telha, das famílias pesquisadas, em 47% delas somente uma pessoa trabalhava, em 34% duas pessoas trabalhavam, em 9% três pessoas trabalhavam, em 4% ninguém trabalhava, 3% das famílias possuíam 4-6 pessoas trabalhando e em 3% das famílias mais de seis pessoas trabalhavam (gráficos 8). E no tocante às pessoas dessas famílias, que trabalhavam, verificou-se que em 58% das famílias somente uma pessoa trabalhava, em 24% das famílias, duas pessoas trabalhavam, em 10%, três pessoas trabalhavam, em 4% das famílias, 4-6 pessoas trabalhavam, em 3% dessas famílias, nenhuma pessoa trabalhava e em 1% das famílias, mais de seis pessoas trabalhavam (gráfico 8). 100 70 60 50 40 % Telha Cedro de São João 30 20 10 0 Nenhum 1 pessoa 2 pessoas 3 pessoas 4-6 pessoas > 6 pessoas GRÁFICO 8 – Nº de pessoas que trabalham em Telha e Cedro de São João. Fonte: Trabalho de campo, 2003. Analisando os dados levantados acima, verifica-se que a maioria das famílias pesquisadas, tanto em Telha como em Cedro de São João, eram constituídas por 4-6 pessoas, em que somente uma pessoa trabalhava, geralmente o chefe da família. Também, Cedro de São João possuía um percentual maior (48%) de famílias constituídas por 4-6 de pessoas que Telha (44%). Além disso, Cedro de São João possuía um percentual maior (58%) que Telha (47%) de famílias em que somente uma pessoa trabalhava. 5.1.1.5 Satisfação com a limpeza urbana e coleta de lixo No tocante à limpeza urbana, o nível de satisfação em Telha é de 85% e o de insatisfação é de somente 15%. Dos que não estão satisfeitos, 14% achavam que a melhora viria com maior freqüência na coleta; 14% com coletores em locais mais adequados; 21% com campanhas educativas, 7% com reciclagem; 7% com coleta seletiva; 7% não sabiam opinar; 29% com outras medidas (como mais varrição). Em Cedro de São João, 57% estão satisfeitos com a limpeza urbana e 43% se encontram insatisfeitos. Das pessoas que não estão satisfeitas, 29% achavam que a melhora 101 viria através de campanhas educativas; 22%, dispondo coletores em locais mais adequados; 18% achavam que deveria haver maior freqüência na coleta; 12% sugeriram que deveria haver reciclagem; 4% coleta seletiva; e 15% outras medidas como, melhorar a varrição e a limpeza da cidade. Quanto à coleta de lixo, nos domicílios pesquisados em Telha, 50% dos moradores acharam que estava melhor que antes, quando era feita pelo próprio município; 36% declararam que a qualidade era boa; 7% acharam que estava ótima; 3% achavam que era ruim; e 4% outros (gráfico 9). Com relação à coleta de lixo nos domicílios de Cedro de São João, 52% dos moradores declararam que era de boa qualidade; 28% acharam que estava melhor que antes, pois estava mais organizada; 10% acharam que estava ruim; 3% acharam que estava ótima; e 7% outros como, médio, regular, razoável e do mesmo jeito (gráfico 9). 60 50 % 40 Telha 30 Cedro de São João 20 10 0 Boa Ótima Está melhor Ruim Outros Gráfico 9 - Qualidade da Coleta de lixo em Telha e Cedro de São João Fonte: Trabalho de campo, 2003. Analisando os gráficos apresentados, pode-se dizer que a maioria dos habitantes de Telha e Cedro de São João estava satisfeita com a limpeza urbana. Porém, em Telha, onde o serviço era terceirizado, a satisfação foi bem maior (85%), que em Cedro de São João (57%), realizado pela prefeitura. E, no tocante à qualidade, em Telha 50% dos moradores pesquisados afirmaram que estava melhor que antes, quando realizada diretamente pela 102 prefeitura; 36% disseram que estava boa. Em Cedro de São João, 56% disseram que estava boa e 26% disseram que estava melhor e mais organizada, na administração atual. 5.1.1.6 Aproveitamento de material Reutilizar ou reaproveitar é dar novas utilidades a materiais que já foram usados para seu fim original, reinserindo-os no ciclo produtivo, sem sofrer transformação. Esta forma de lidar com os objetos ainda sofre alguns preconceitos, pois está associada à pobreza, a dificuldades financeiras ou à avareza. Atitudes como: reaproveitar potes, vidros e lata; reutilizar embalagens, sacolas e papéis de embrulho para outros fins; usar embalagens retornáveis; doar materiais que possam servir a outras pessoas, etc; devem ser consideradas como um esforço para diminuir os custos de produção e economizar os recursos naturais. Na cidade de Telha, 55% dos domiciliados pesquisados não aproveitam nenhum material e 45% aproveitam algum material. Já em Cedro de São João, 60% dos domiciliados pesquisados não aproveitam materiais e 40% aproveitam algum material. Dos moradores que aproveitam algum material, em Telha, 63% reutilizam o plástico, 12% o vidro, 12% o metal, 3% o papel e 10% aproveitam outros materiais, como restos de alimentos (gráfico 10). Eles aproveitam o material para uso pessoal, vendem ou doam para alimentar galinhas ou porcos. A maioria por iniciativa própria, sem influência de outros ou por motivo econômico, para melhorar o orçamento familiar. Em Cedro de São João, 71% do material aproveitado, era plástico, 15% reutilizavam o vidro, 8% o metal, 4% o papel e 2% outros materiais, como restos de alimentos (gráfico 10). Aproveitavam o material, principalmente para uso doméstico, alimentação de porcos e galinhas e para outros como, doação. Influenciados por pessoas que já fazem este tipo de atividade ou por outro motivo, como iniciativa própria. 103 80 70 60 % 50 Telha 40 Cedro de São João 30 20 10 0 Plástico Vidro Metal Outros Papel GRÁFICO 10 – Tipo de material aproveitado em Telha e Cedro de São João. Fonte: Trabalho de campo, 2003. Analisando estes dados, verifica-se que Cedro de São João aproveita mais (60%) o material que Telha (55%), com uma diferença mínima de aproveitamento. E o tipo de material mais aproveitado, em ambas as cidades, era o plástico, para uso pessoal e doméstico. Cedro de São João apresenta um percentual maior (71%) que Telha (63%), mas também com suave diferença. 5.1.2 Saneamento Ambiental em Telha e Cedro de São João O efeito ambiental, reconhecidamente, mais sério é a poluição das águas superficiais e subterrâneas, devido à presença de lixo nas margens dos rios, lagoas ou riachos e pelo líquido percolado resultante nos vazadouros a céu aberto. A descarga de lixo nas correntes de água (rios) aumenta os nutrientes e algas que dão lugar a eutrofização, causando a morte dos peixes, gerando odores e deteriorando seu aspecto estético. E muitas vezes o recurso é perdido, impossibilitando o abastecimento de água para a cidade ou a recreação da população (Fotografia 4). 104 FOTOGRAFIA 4 – Lagoa Salomé, Cedro de São João. Fonte: Ligia, trabalho de campo/ 2003. A água encontra-se na natureza sob várias formas, cobrindo cerca de 70% da superfície do planeta. Todos os organismos necessitam de água para sobreviver, sendo a sua disponibilidade um dos fatores mais importantes a moldar os ecossistemas, sendo importante que apresentem condições físicas e químicas adequadas para a sua utilização pelos organismos. Assim, disponibilidade de água significa quantidade adequada em uma região, mas que sua qualidade seja satisfatória para suprir as necessidades de um determinado conjunto de seres vivos. No Trabalho de Campo foram coletadas quatro amostras de água e realizadas análises bacteriológicas (Tabela 6) e físico-químicas (Tabela 7). Estas amostras foram coletadas, somente, uma única vez, em diversos pontos julgados sob risco de contaminação pela influência da proximidade de lixo, seja ele em disposição antiga ou atual. TABELA 6 – Resumo da análise bacteriológica da água ANÁLISE BACTERIOLÓGICA DA ÁGUA VARIÁVEIS COLIFORME TOTAL AMOSTRAS 1 2 3 4 1100 UFC/100 ml 460 UFC/160 ml 240 UFC/100 ml 2400 UFC/100 ml COLIFORME 110 UFC/100 ml TERMOTOLERANTE Fonte: Parreiras Horta, 2003. 240 UFC/100 ml 240 UFC/100 ml 15 UFC/100 ml 105 Com base nos dados obtidos, avaliou-se de forma preliminar o nível de contaminação por coliformes fecais (termotolerantes), bactérias pertencentes ao grupo dos coliformes totais presentes em fezes humanas e de animais, e também em solos, plantas ou quaisquer efluentes contendo matéria orgânica. E de acordo com a Resolução CONAMA nº 274/2000, todas as amostras foram consideradas próprias para recreação de contato primário (natação, esqui aquático e mergulho), sendo incluídas na categoria excelente por não ultrapassarem de 250 coliformes fecais (termotolerantes) por 100 mililitros. No entanto, como não foram realizadas coletas nas quatro semanas seguintes, onde assim seriam efetuadas novas análises, o resultado da anterior fica apenas como um indicativo de possibilidade. TABELA 7 – Resumo da análise físico-química da água ANÁLISE FÍSICO-QUÍMICA DA ÁGUA VARIÁVEIS AMOSTRAS 1 2 3 4 Cor Aparente (mg Pt – Cd/L 4,08 12,97 6,67 9,45 Alcalinidade (mg/L CaCo3) 106,7 147,8 308,6 376,6 DBO5 (mg/L) 27,26 13,63 20,95 26,38 DBO (mg/L) 50,04 60,05 37,30 80,06 Oxigênio Dissolvido (mg/L) 3,84 0,34 9,56 3,88 PH 7,4 6,6 8,8 7,8 Sólidos Totais (mg/L) 1.240 1.238 1.548 1.440 Turbidez (NTU) 64,8 5,2 11,6 37,0 Sódio (mg/L) 44,00 43,00 324,0 316,0 Potássio (mg/L) 23,00 20,00 50,00 44,00 Cálcio (mg/L) 9,18 11,37 38,92 48,54 Magnésio (mg/L) 17,75 14,68 53,38 44,86 Cloreto (mg/L) 59,96 42,76 580,9 378,9 Sulfato (mg/L) 5,00 5,20 6,50 7,40 Amônia (mg/L como N) 0,174 0,062 0,028 0,168 Nitrato (mg/L como N) 0,609 0,236 0,132 0,736 Nitrito (mg/L como N) 0,045 0,008 0,002 0,084 Fosfato (mg/L como P) 0,011 0,029 0,280 0,160 Fonte: Laboratório de Química Ambiental, UFS, 2003. 106 Com base nos resultados obtidos nas análises físico-químicas, e de acordo com a Resolução CONAMA nº 20/1986, e considerando cada amostra em separado, pode-se dizer preliminarmente, por ter sido apenas uma amostra, que: a amostra nº 01, correspondente à amostra coletada na área próxima a nova área de disposição final em Telha (fotografia 5), de acordo com a maioria dos resultados pode-se enquadrá-la como sendo de classe 3; FOTOGRAFIA 5 – Local de Coleta da amostra nº 01, Telha. Fonte: Ligia, trabalho de campo, 2003. a amostra nº 02, ainda em Telha, corresponde à amostra coletada nas proximidades da antiga área do lixão (nos fundos do cemitério, lado direito), como mostra a fotografia 6 e considerando a maioria dos resultados obtidos pode-se enquadrá-la como sendo de classe 4; FOTOGRAFIA 6 – Local de Coleta da amostra nº 02, Telha. Fonte: Ligia, trabalho de campo, 2003. a amostra nº 03, corresponde à amostra coletada na lagoa Salomé, onde existem diversos focos de lixo dispersos e concentrados (fotografia 7), e de 107 acordo com a maioria dos resultados pode-se enquadrá-la como sendo de classe 1; FOTOGRAFIA 7 – Coleta da amostra nº 03, lagoa Salomé, Cedro de São João. Fonte: Ligia, trabalho de campo, 2003. e por fim a amostra nº 04, que corresponde à amostra coletada num possível contribuinte para a lagoa Salomé, próximo a focos de lixo concentrado (fotografia 8), e de acordo com os resultados obtidos podem enquadrá-la como sendo de classe 4. FOTOGRAFIA 8 - Coleta da amostra nº 04, contribuinte da lagoa Salomé, Cedro de São João. Fonte: Ligia, trabalho de campo, 2003. A poluição do solo, pelo lixo, pode provocar dano estético e desvalorização tanto do terreno como das áreas vizinhas, pelo abandono dos resíduos a céu aberto, sob forma de lixões ou pequenos focos de lixo, devido às diversas substâncias ali depositadas sem nenhum controle (Mapa 2). 108 Elaboração: Flávia Dantas Moreira Mapa 2 – Disposição dos resíduos sólidos nas duas comunidades Fonte: Trabalho de campo, Laboratório de Geoprocessamento - NESA/UFS, 2003 109 Focos de lixo nas vias públicas, também, podem entupir a rede de drenagem, e em tempo chuvoso, provocar inundações. Em Cedro de São João, apesar de existir coleta de lixo diariamente e, de não mais existir vazadouro na cidade, verificou-se a existência de diversos focos de lixo, tanto no perímetro urbano, próximo a lagoa Salomé, como também na área rural. (Fotografias 9 e 10). FOTOGRAFIA 9 – Focos de lixo, lagoa Salomé, Cedro de São João Fonte: Ligia, trabalho de campo, 2003. FOTOGRAFIA 10 – Focos de lixo, Poço dos Bois, Cedro de São João Fonte: Ligia, trabalho de campo, 2003. Nos vazadouros, a céu aberto, é evidente o impacto negativo, poluição do ar, causados pelos dejetos, incêndios e fumaças que reduzem a visibilidade e são causas de irritações nasais, problemas visuais, aumento de infecções pulmonares, além das moléstias originadas pelos maus odores. Em Telha, o lixo depositado a céu aberto, nos fundos do cemitério 110 próximo a residências, trouxe uma série de problemas de ordem sanitária e ambiental (fotografia 11). FOTOGRAFIA 11 – Lixão, fundo do cemitério, Telha. Fonte: Ligia, trabalho de campo, 2003. 5.1.2.1 Os efeitos dos resíduos sólidos na saúde dos moradores de Telha e Cedro de São João Os resíduos sólidos podem afetar a saúde da população em geral, tanto pela proliferação de vetores transmissores, como também, dentre outras formas, pela ingestão de animais (gado, suínos e aves, etc.) que se alimentaram de resíduos sólidos no lixão (fotografia 12). FOTOGRAFIA 12 – Animais se alimentando no lixão de Propriá. Fonte: Ligia, trabalho de campo, 2002. Em Telha, segundo dados levantados junto à Secretaria Municipal de Saúde e ao Centro de Saúde, as doenças que apresentaram maior número de incidências, no período compreendido entre abril/2001 e abril/2002, mostradas no anexo D e apresentadas aqui, no gráfico 11, foram a esquistossomose, a dengue, a tricomoníase, a tuberculose, a sífilis em adultos, hepatite viral, etc., que pode vir a ter relação com o lixo, disposto nos fundos do 111 cemitério, além de doenças de pele e micoses. Segundo o relatório da SMS-Telha, a dengue é uma das maiores incidências, correspondendo a aproximadamente 18% da incidência de doenças. E os vetores mais comuns na cidade são as moscas e as baratas. Esquistossomose Dengue Tricomoníase Síf ilis em Adultos Tuberculose Doenças Exantemáticas Hepatite viral Outras afecções inflamatórias Atendimento Anti-rábico Doenças sexualmente transmissíveis 5 10 15 20 25 30 % 0 GRÁFICO 11– Incidências de doenças em Telha Fonte: Trabalho de campo, 2003. Em Cedro de São João, segundo os dados levantados junto à Secretaria de Saúde, no período compreendido entre abril/2001 e abril/2002, as doenças que apresentaram maior número de incidências apresentadas no anexo D e no gráfico 12 foram outras afecções inflamatórias, dengue, tuberculose meningite, etc., além de gastroenterites, dermatites e infestações parasitárias, que podem estar relacionadas com os diversos focos de lixo encontrados na cidade. O relatório da SMS–Cedro de São João apresenta também a dengue, como uma das maiores incidências, correspondendo a aproximadamente 27% das ocorrências. Os vetores mais comuns existentes na cidade são os ratos, as moscas, os mosquitos e as baratas. 112 O u tr a s a f e c ç õ e s in f la m a tó r ia s Den gu e T u b e r c u lo s e M e n in g it e D o e n ç a s Ex a n t o m á tic a s O u tr a s d o e n ç a s in f la m a tó r ia s p é v ic a s T r o c o m a n ía s e L e is h im a n io s e D o e n ç a s S e x u a lm e n te T r a n s m is s ív e is H a n s e n ía s e A t e n d im e n to a n ti- r á b ic o H e p a tit e v ir a l S íf ilis e m a d u lto s S ín d r o m e d o C o r r im e n t o 5 10 15 20 25 30 % 0 GRÁFICO 12– Incidências de doenças em Cedro de São João Fonte: Trabalho de campo, 2003. Dentre os casos de incidências de doenças apresentadas percebe-se que o maior nº de casos existentes nas duas cidades foi de Dengue. Tanto em Telha, que tinha seus resíduos depositados no fundo do cemitério, próximo a moradias no perímetro urbano e em Cedro de São João, que possuía muitos focos de lixo espalhados por toda a área urbana. Através do questionário nº 1, aplicado nos domicílios, foi possível indagar a opinião dos moradores com relação aos males que o lixo pode provocar. Em Telha, da variedade de respostas dadas, de 130 respostas, 69 moradores responderam que o lixo provoca doenças. Também, em Cedro de São João, dentre 150 respostas, 88 moradores tiveram a mesma opinião. Isto revela que os moradores têm noção dos problemas ocasionados pela disposição inadequada do lixo, porém, muitas vezes, não sabem o que fazer para mudar uma determinada situação que os incomodam. 5.1.3 A Participação da Sociedade na Gestão de Resíduos Sólidos A instauração de um processo decisório e participativo deve ser apoiada na informação e na capacidade de co-responsabilização de todos os agentes sociais, na percepção do problema e na definição das ações. O envolvimento da sociedade na discussão dos problemas e na identificação das prioridades de ação é um dos fatores que facilita a permanência das soluções implantadas, mesmo em caso de mudanças administrativas. É importante o 35 113 planejamento, na articulação das ações com agentes sociais, como: Câmara de vereadores, Setor de Saúde, Associação Comercial, ONGs, grupos religiosos, Ministério Público, lideranças comunitárias, comunidade escolar, entre outros (CORDEIRO, 2001). A participação dos habitantes, residentes no município, apontando os problemas e indicando as soluções relativas aos serviços de limpeza urbana, objetiva uma participação efetiva da comunidade nas ações a serem implementadas e na solução dos problemas existentes. De acordo com as associações pesquisadas em Telha, elas têm conhecimento dos problemas causados pela disposição incorreta do lixo, tais como: problema de saúde, oriundo da proliferação de insetos e roedores, tendo como resultado, gripes, verminoses, dengue, etc. A ação destas entidades, geralmente se dá junto aos órgãos públicos e privados ou tentando motivar a população através de campanhas educativas. Porém, muitas vezes, segundo as entidades, a população não se sente motivada a resolver o problema do lixo na cidade, a não ser eventualmente, através da contribuição na coleta de lixo. Em Cedro de São João, as associações têm pleno conhecimento de que uma disposição inadequada pode provocar problemas de saúde tais como: leptospirose, cólera, meningite, dengue, etc, resultantes da proliferação de insetos, roedores e da poluição do ar e da água. Para colaborar com o sistema de limpeza, as associações agem junto aos órgãos públicos e privados e através de denúncias nos meios de comunicação. Para motivar a sociedade em busca de soluções, algumas associações propuseram uma ação conjunta com a autoridade administrativa municipal e a sociedade, visando buscar uma alternativa adequada para depositar o lixo e criando uma usina de reciclagem. Outras tentaram motivar a população a participar em ações coletivas, tentando solucionar através da educação. Através do diagnóstico participativo, realizado em Telha (Fotografias 13 e 14), em 17 de outubro de 2003, foi possível ouvir os anseios da sociedade nas diversas representações. Inicialmente, destacam-se os aspectos positivos, como, a retirada do lixão do fundo do cemitério, desde abril de 2003; contratação de firma terceirizada de serviços de limpeza, abrangendo a zona rural; a boa varrição e coleta de lixo, resultando na limpeza das ruas; a eficiência da equipe de limpeza, bem como o uso de equipamentos de proteção e vestuário adequado; e o indicativo de construção de um aterro sanitário. Porém, Telha possui problemas como a disposição do lixo que ainda se dá de forma inadequada; falta de colaboração da população quanto ao horário da coleta, por vezes jogando o lixo na rua; poluição das águas 114 (praia da adutora ou no riacho jacaré) causada pelo lixo jogado pelos banhistas ou pela população em geral; falta de separação do lixo e reciclagem. Para resolver estes problemas, foram sugeridas soluções tais como: através de palestras freqüentes com a comunidade; integração entre os garis coletores, funcionários da limpeza e população; aterro sanitário; reaproveitamento e reciclagem do lixo e um programa educativo, tendo como parceiros a Secretaria Municipal da Educação, Secretaria Municipal da Saúde, associações e conselhos municipais; prefeitura, igrejas, escolas e população em geral. FOTOGRAFIA 13 – Apresentação dos Grupos – Diagnóstico Participativo/Telha. Fonte: Flávia Moreira, trabalho de campo, 2003. FOTOGRAFIA 14 - Diagnóstico Participativo, Telha. Fonte: Flávia Moreira, trabalho de campo, 2003. Em Cedro de São João, o diagnóstico participativo, realizado no dia 22 de outubro de 2003, (Fotografias 15 e 16), também teve a contribuição dos mais variados segmentos da cidade. No diagnóstico ressaltaram-se como aspectos positivos, no tocante a resíduos sólidos, a boa varrição da cidade; o depósito do lixo ser fora da cidade, embora sob forma de lixão; a 115 coleta diária e a colaboração de alguns moradores com a limpeza da cidade. No entanto, os problemas não perderam o seu lugar de destaque, evidenciado através do transporte e local de disposição inadequados do lixo (lixão de Propriá até junho/03 e em Telha, a partir de julho/03), falta de contribuição da comunidade devido à ausência de conhecimento, lixo jogado nas ruas, falta de organização na coleta, poluição visual e das águas. Juntos propuseram soluções como, o uso de um transporte adequado (caminhão compactador), a construção de aterro sanitário; mais lixeiras distribuídas em toda a cidade; a coleta seletiva e reciclagem; e um projeto educacional trabalhando com a comunidade a importância de cuidar do lixo, tendo como parceiros as escolas, associações, prefeitura, governo estadual e federal, PRONESE, Secretaria Municipal da Saúde, supermercados, feirantes e população em geral. FOTOGRAFIA 15 – Apresentação Diagnóstico Participativo/Cedro de São João. Fonte: Trabalho de campo, 2003. FOTOGRAFIA 16 - Diagnóstico Participativo, Cedro de São João. Fonte: Trabalho de campo, 2003. 116 O morador também deu sua parcela de contribuição, quando questionado em seu domicílio, no tocante a sugestões para resolver à problemática do lixo em sua cidade. A questão do lixo provoca o desafio de repensar a relação entre a sociedade e o meio ambiente. Nas cidades, a qualidade ambiental vai depender de como os governos e as comunidades lidam com essa questão. Em Telha, o maior problema verificado e expresso pelos moradores era o relativo à disposição final dos resíduos sólidos, dispostos, naquele momento, num lixão localizado nos fundos do cemitério, sendo que 42% sugeriram a retirada da lixeira. Muitos, correspondendo a 33%, não quiseram opinar. Alguns moradores, num total de 9%, sugeriram manter a limpeza e 6% a adoção de campanhas educativas, além de outras sugestões tais como: “Manter a lixeira (coletores) das ruas e retirar a lixeira (lixão), pois de madrugada não há quem agüente o mau cheiro”; “Manter a limpeza das ruas, a coleta e retirar a lixeira”; “Manter o serviço de limpeza e retirar a lixeira”; “Retirar o lixão do cemitério e fazer um aterro sanitário”. Entretanto, em Cedro de São João, a maioria dos moradores (47%) preferiu não opinar dizendo que não tinha nenhuma sugestão. Porém, verificaram-se problemas educacionais, voltados para a questão da manutenção da limpeza dos logradouros. Desta forma, alguns (13%) sugeriram campanhas educativas, melhorar a varrição (13%), melhorar a coleta (9%), colocar mais coletores nas ruas (9%), reciclagem (8%), além de outras sugestões, como as que seguem: “Maior organização na coleta de lixo”; “Carro de lixo passasse mais vezes”; “Melhorar a vigilância sanitária”; “Mais campanhas educativas que levem a reciclagem”; “Mais carros para pegar lixo, mais coletores fixos e mais campanhas educativas”; “Estou satisfeito, mas precisa de mais campanhas educativas”; “Construção de um aterro sanitário...” 117 “...que aumentasse o número de funcionários”; “Deve melhorar sob todos os aspectos”. Um dos pontos de conflito detectado no diagnóstico, em Telha, foi o uso conjunto com a cidade de Cedro de São João do terreno para a disposição final do lixo, ressaltando a preocupação no tamanho da área para o depósito de lixo das duas cidades e a forma como este lixo vem sendo disposto nesta área. Em Cedro de São João, o diagnóstico ressaltou a grande preocupação de como a população lida com a questão do lixo, e a necessidade premente de programas educativos, devido à falta de colaboração da população e aos diversos focos de lixo encontrados na cidade. 5.1.4 Gestão Atual de Resíduos Sólidos em Telha e Cedro de São João Através do questionário no 2 aplicado, da entrevista e dos dados levantados junto às instituições governamentais, em Telha e Cedro de São João, com o intuito de verificar a situação atual da gestão dos resíduos sólidos, buscou-se conhecer a estrutura administrativa; a legislação; os serviços de limpeza urbana e/ou coleta de lixo; a coleta, varrição e capina; o destino e quantidade do lixo coletado; entulho; as informações sobre catadores de lixo e a coleta seletiva do município. 5.1.4.1 Legislação Telha e Cedro de São João não possuem Plano Diretor Municipal e nem um Plano Diretor de Resíduos Sólidos. As prefeituras em questão, têm conhecimento da responsabilidade quanto ao lixo, no âmbito federal, estadual e municipal. Atualmente, o lixo, nestes municípios, pode estar poluindo os recursos hídricos da região/bacia hidrográfica. Os rios da localidade fazem parte da bacia do São Francisco. 118 5.1.4.2 Estrutura administrativa O modelo de gestão de resíduos sólidos existentes, tanto em Cedro de São João, como em Telha, é o convencional, como acontece na maioria das cidades brasileiras. No entanto, Telha incorporou aos Serviços de Limpeza Urbana, um modelo de gestão, próprio, visando a orientação e a organização do setor de forma simplificada, tendo como base as informações cedidas pelas instituições municipais das cidades em estudo (figuras 9 e 10). Prefeitura Municipal de Cedro de São João Secretaria Municipal de Obras e Serviços Urbanos Departamento de Limpeza Urbana (Diretor) Coleta Varrição Capina e Poda Entulho Destinação Final FIGURA 9 – Modelo de Gestão atual de resíduos sólidos em Cedro de São João – Modelo Convencional Fonte: Adaptado de Lima, 2003. Prefeitura Municipal de Telha Secretaria Municipal de Obras e Serviços Urbanos Departamento de Limpeza Urbana (Diretor) Serviços Urbanos Terceirizados Coleta Varrição Capina e Poda Entulho Destinação final FIGURA 10 - Modelo de Gestão Atual de Resíduos em Telha – Modelo Convencional com Privatização Fonte: Adaptado de Lima, 2003. 119 5.1.4.3 Manejo atual de resíduos sólidos em Telha e em Cedro de São João Através dos levantamentos em campo, por meio de questionários e entrevistas informais, produziu-se um fluxograma que mais representasse o manejo atual dos resíduos sólidos urbanos das cidades de Telha (Figura 11) e de Cedro de São João (Figura 12), constituindo o modelo operacional vigente. VARRIÇÃO CAPINA PODA RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS FEIRAS LIVRES COLETA DOMICILIAR E COMERCIAL COLETA DE RESÍDUOS DE SAÚDE LIXÃO (VAZADOURO) QUEIMADOR DEPÓSITO LOCAL (enterra) ENTULHO GERAÇÃO COLETA E TRANSPORTE TRATAMENTO DESTINAÇÃO FINAL FIGURA 11 - Fluxograma de manejo atual dos resíduos sólidos urbanos de Cedro de São João Fonte: Trabalho de campo, 2003. 120 VARRIÇÃO CAPINA PODA RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS FEIRAS LIVRES COLETA DOMICILIAR E COMERCIAL COLETA DE RESÍDUOS DE SAÚDE VAZADOURO CÉU ABERTO (LIXÃO) QUEIMADOR DEPÓSITO LOCAL (enterra) ENTULHO GERAÇÃO COLETA E TRANSPORTE TRATAMENTO DESTINAÇÃO FINAL FIGURA 12 - Fluxograma de manejo atual dos resíduos sólidos urbanos de Telha Fonte: Trabalho de campo, 2003. 5.1.4.4 Serviços de limpeza urbana e coleta do lixo Os tipos de lixo produzidos na cidade de Telha, segundo informações da Prefeitura, são: domiciliar, público, comercial, entulho e de serviços de saúde. Todos coletados por uma empresa contratada pela Prefeitura. O município não cobra, diretamente, de nenhuma forma, os serviços de limpeza urbana, nem a coleta do lixo. Aproximadamente 100% dos domicílios têm o lixo coletado. Além disso, não existia até então nenhum estudo da composição do lixo domiciliar coletado, segundo levantamento obtido no questionário no 2 (institucional). De forma semelhante, a cidade de Cedro de São João produz lixo do tipo domiciliar, público, comercial, serviços de saúde e entulho. Mas, a própria Prefeitura coleta o lixo domiciliar, o comercial e o público. No entanto, nem os serviços de limpeza nem os de coleta são cobrados pelo Município, que destina entre 5% e 10% do orçamento municipal, correspondendo a aproximadamente R$ 10.000,00/mês. A cidade possui um atendimento de coleta de 95% dos domicílios. E, até então, não existe nenhum estudo de composição do lixo domiciliar. 121 5.1.4.5 Varrição, capina e outros serviços A varrição das vias públicas da cidade de Telha é realizada diariamente, envolvendo 8 (oito) pessoas no serviço. Já a capina das vias públicas é feita quinzenalmente, envolvendo 6 (seis) pessoas. A limpeza de bueiros é realizada bimestralmente, envolvendo duas pessoas. Além destes serviços, existe a limpeza das praias, que é feita três vezes por semana. Na cidade de Cedro de São João, a varrição é feita diariamente, envolvendo 22 pessoas neste serviço, com um custo de R$ 8.000,00/mês. A capina das vias públicas é realizada também, quinzenalmente, envolvendo 10 pessoas, com um custo de R$ 2000,00/mês. Já a limpeza dos bueiros é feita sempre que for necessário, envolvendo duas pessoas no serviço, com um custo de R$ 600,00/mês. O custo total destes serviços é de R$ 10.600,00/mês. 5.1.4.6 Destino e quantidade do lixo coletado No período em que foi aplicado o questionário sobre gestão de, em Telha, em abril de 2003, o lixo da cidade era depositado em um vazadouro a céu aberto, localizado próximo à residências, dentro do perímetro urbano, nos fundos do cemitério da cidade, onde a Prefeitura é a proprietária da área, como já salientado em situação anterior. Não foi informado o quanto a Prefeitura gasta em serviços de destinação final. No tocante a novas áreas, já havia uma aquisição de um terreno para licenciar pela ADEMA, visando a implantação de um aterro sanitário a ser utilizado por Telha e Cedro de São João. O lixo de Cedro de São João, no período de aplicação deste questionário, em março de 2003, era depositado num vazadouro a céu aberto, lixão localizado no Distrito Industrial de Propriá (DIP), próximo à área com atividade agrícola e pecuária, fora do perímetro urbano. O custo mensal da destinação final é de R$ 2.200,00, sendo R$ 400,00 referente ao pagamento à Propriá, para a utilização da área do lixão e R$ 1.800,00 para o deslocamento dos resíduos sólidos. Além deste vazadouro, a cidade possui diversos focos de lixo, tanto em áreas alagadas, como no perímetro urbano. Porém, o município busca uma nova área de disposição final e de forma adequada, em Telha, com possibilidade de realização de consórcio. Existem projetos de novos locais e recuperação de áreas contaminadas por lixões, bem como um programa de educação ambiental, em andamento, conforme informação levantada no questionário. 122 5.1.4.7 Entulho Em Telha há coleta de entulhos e bens móveis inservíveis, que são depositados no mesmo local usado para o lixo municipal, ou seja, o lixão. A empresa privada que realiza a coleta é fiscalizada pela Prefeitura. Quanto aos entulhos e os bens inservíveis, coletados em Cedro de São João, parte deles é depositado no mesmo local do lixo municipal e o restante é utilizado na pavimentação de estradas. 5.1.4.8 Coleta e destino final dos serviços de saúde Os resíduos originados pelos serviços de saúde em Telha, não são coletados, são apenas queimados, num incinerador rústico, na unidade de saúde. Em Cedro de São João, a Prefeitura coleta o lixo proveniente dos serviços de saúde, transportando-o num veiculo A10 para ser queimado numa das unidades de saúde. 5.1.4.9 Informações sobre catadores de lixo Não existe informação sobre a presença de catadores na unidade de destino final do lixo em Telha. As pessoas catam o lixo nas ruas ou separam nas suas residências, como uma atividade paralela para complementar o orçamento familiar, revendendo diretamente para o atravessador. Muitos funcionários da limpeza urbana realizam esta atividade para aumentar o orçamento familiar. Já em Cedro de São João, quando depositava em Propriá, havia presença de catadores, não existindo nenhum trabalho social desenvolvido com os mesmos, pelo município de Cedro de São João. 123 5.1.4.10 Coleta seletiva do município Em nenhum dos municípios em estudo existe coleta seletiva, nem mesmo projeto de implantação. 5.1.5 Geração de resíduos em Telha e Cedro de São João Tanto em Telha como em Cedro de São João não foi determinada a quantidade de resíduos, por não possuir uma balança rodoviária para a pesagem do caminhão vazio e após a realização da coleta (cheio). Também, contribuiu para a não concretização dessa informação, a falta de dados coerentes sobre o volume de lixo e o número de viagens realizadas pelos veículos durante a coleta. 5.1.5.1 Determinação da composição gravimétrica dos resíduos sólidos em Telha e Cedro de João Na amostra analisada, tanto em Telha como em Cedro de São João, realizou-se a separação e a pesagem dos materiais por componentes presentes na mesma, em base úmida. Os componentes foram diferenciados nas seguintes categorias: matéria orgânica putrescível; plástico; papel/papelão; vidro; metal ferroso; metal não ferroso; panos, trapos, couro e borracha; madeira; contaminante biológico, contaminante químico; côco e casco de côco; e diversos (pedra, terra, cerâmica e outros). O quadro 6 mostra exemplos de materiais que compõem cada categoria, observando-se a diversidade de materiais em Telha e Cedro de São João. CATEGORIA Matéria orgânica putrescível EXEMPLOS Restos alimentares, flores, podas de árvores. 124 Plástico Sacos, sacolas, embalagens de refrigerantes, água e leite, recipientes de produtos de limpeza, esponjas, isopor, utensílios de cozinha, látex, sacos de ráfia. Papel e papelão Caixas, revistas, jornais, cartões, papel, pratos, cadernos, livros, pastas. Vidro Copos, garrafas de bebidas, pratos, espelho, embalagens de produtos de limpeza, embalagens de produtos de beleza, embalagens de produtos alimentícios. Metal ferroso Palha de aço, alfinetes, agulhas, embalagens de produtos alimentícios. Metal não ferroso Latas de bebidas,, restos de cobre, restos de chumbo, fiação elétrica Madeira Caixas, tábuas, palitos de fósforos, palitos de picolé, tampas, móveis, lenhas. Panos, trapos, couro e borracha Roupas, panos de limpeza, pedaços de tecido, bolsas, mochilas, sapatos, tapetes, luvas, cintos, balões. Contaminante químico Pilhas, medicamentos, lâmpadas, inseticidas, colas em geral, cosmético, vidro de esmaltes, embalagens de produtos químicos, latas de óleo de motor, latas com tintas, embalagens pressurizadas, canetas, com cargas, papel carbono, filme fotográfico. Contaminante biológico Papel higiênico, algodão, curativos, gazes e panos com sangue, fraldas descartáveis, absorventes higiênicos, seringas, lâminas de barbear, cabelos, pêlos, luvas. Côco Côco e casco de côco. Diversos (pedra, terra, cerâmica, cisco Vasos de flores, pratos, restos de construção, terra, tijolos, cascalho, e outros) pedras decorativas, embalagens metalizadas, carvão e outros materiais de difícil identificação. QUADRO 6 – Exemplos básicos de cada categoria de resíduos sólidos urbanos Fonte: Adaptado de Zanta; Ferreira (2003) In: Castilhos Junior (2003). As técnicas de caracterização evoluíram muito nos últimos anos. Em Telha (Fotografia 17) e Cedro de São João (Fotografia 18) foi utilizado um método de caracterização baseado na análise de amostras representativas de toda a cidade, através da escolha de amostras do veículo de coleta, antes que fossem conduzidos ao ponto de vazamento ou destino final, realizada em dois momentos climáticos, uma no período chuvoso e outra no período seco. FOTOGRAFIA 17 – Caracterização do Lixo, Telha. Fonte: Ligia, trabalho de campo, 2003. 125 FOTOGRAFIA 18 – Caracterização do Lixo, Cedro de São João. Fonte: Ligia, trabalho de campo, 2003. Em quaisquer das técnicas utilizadas, as amostras de resíduos devem ser quarteadas, até alcançar a quantidade desejada, utilizando o processo de garimpagem e de análise dos resíduos amostrados. A composição gravimétrica foi determinada, segundo a metodologia do quarteamento, conforme as normas NBR 10004 (ABNT, 1987) e NBR 10007 (ABNT, 1986). Desta forma, para se obter a composição gravimétrica dos resíduos das duas cidades (Anexo E), determinou-se a média aritmética entre os valores obtidos nos dois momentos climáticos. Os gráficos 13 e 14 apresentam então, a composição gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos de Telha e Cedro de São João, respectivamente. Em um mesmo país, diz Lima (1995), as diferenças nas composições são significativas, provando que os resultados não devem ser nunca generalizados sob pena de se cometer grandes equívocos. Ma té ria o rg â n ic a p u tre s c íve l P lá s tic o P a p e l/P a p e lã o Vid ro 7 ,7 7 2 7 ,7 9 3 3 ,4 2 Me ta l fe rro s o Me ta l n ã o fe rro s o Ma d e ira P a n o s , tra p o s , c o u ro e b o rra ch a 1 2 ,1 6 3 ,1 9 ,1 3 0 ,2 9 3 ,3 8 0 ,4 9 1 ,1 7 C o n ta m in a n te b io ló g ic o 1 ,1 7 C o n ta m in a n te q u ím ico P e d ra , te rra , cis c o , c e râ m ic a e o u tro s (d ive rs o s ) C o co + cas co d e co co GRÁFICO 13– Composição Gravimétrica dos resíduos sólidos de Cedro de São João Fonte: Trabalho de Campo, 2003. 126 Matéria orgânica putrescível Plástico Papel/Papelão Vidro 12,4 17,6 Metal ferroso 11,5 Metal não ferroso Madeira 26,72 Panos, trapos, couro e borracha 0,09 7,67 9,09 10,01 2,15 1,55 0,47 0,8 Contaminante biológico Contaminante químico Pedra, terra, cisco, cerâmica e outros (diversos) Coco + casco de coco GRÁFICO 14 – Composição Gravimétrica dos resíduos sólidos de Telha Fonte: Trabalho de campo, 2003. No caso de Telha e Cedro, observa-se que o teor de matéria orgânica putrescível é relativamente baixo se compararmos com a composição física de Aracaju (Tabela 8). Este fato pode se dar em razão de muitos moradores criarem galinhas, porcos, etc. aproveitando os restos alimentares para estes animais. Além da maioria dos moradores em ambas as cidades possuir uma renda muito baixa (menor ou igual ao salário mínimo), segundo IBGE (2000), utilizam alimentos apenas para o consumo próprio. Havendo, então, um percentual maior de terra, pedra, cisco e outros materiais de difícil identificação por estarem muito misturados e por não existir coleta diferenciada. TABELA 8 – Composição física média dos resíduos sólidos domésticos de Aracaju, no período de um ano de observação. (% em base úmida). SETOR COMPONENTES Matéria Orgânica Plástico Vidro Metal Trapos Couro, Borracha Madeira Papel Inertes Res. Hospitalar Pilhas Total (%) 13 de Julho e MÉDIA os Luzia St . Dumont Centro GERAL 69.58 8.15 1.35 2.25 3.32 0.78 66.78 9.62 2.25 5.80 4.00 0.05 75.10 6.85 1.00 1.95 3.42 1.38 55.35 10.83 1.22 2.02 3.73 1.02 66.70 8.86 1.46 3.00 3.62 0.81 14.37 11.08 0.42 9.78 0.52 25.28 0.30 0.20 0.05 100.00 15.13 0.31 0.10 0.01 100 --0.20 --- ----- 100.00 Fonte: Daltro et alii (1994) apud Daltro Filho, 1997. ----100.00 100.00 127 Os resíduos sólidos, para Daltro Filho (1997), também podem ser classificados de acordo com a degradabilidade, segundo a classificação de Bowerman, em facilmente degradáveis, moderadamente degradáveis, dificilmente degradável, não degradável ,em Telha e Cedro São João (Tabela 9). TABELA 9 - Composição física média dos resíduos sólidos domésticos de Telha e Cedro de São João, segundo classificação de Bowerman. COMPONENTES Facilmente Degradáveis Moderadamente Degradáveis Dificilmente Degradáveis Não Degradáveis Total Fonte: Adaptado de Daltro Filho, 1997. TELHA CEDRO DE SÂO JOÂO % em peso, base úmida % em peso, base úmida 17,60 10,01 9,56 42,72 100,00 27,79 9,13 6,68 48,41 100,00 A composição gravimétrica serve para mostrar as potencialidades econômicas do lixo, subsidiando informações para escolha do melhor e mais adequado sistema de tratamento e disposição final, que no caso de Telha e Cedro, podemos verificar conforme tabela 10 abaixo. Tabela 10 - Composição dos resíduos sólidos com vistas ao seu aproveitamento. COMPONENTES Material Potencialmente Reciclável Material Orgânico Compostável Rejeitos dos Resíduos Sólidos Total Fonte: Adaptado de Daltro Filho, 1997. TELHA CEDRO DE SÂO JOÂO % em peso, base úmida % em peso, base úmida 26.01 17,60 56,39 100.00 24,12 27,79 48,09 100.00 Diante dos resultados surge uma indagação: Seria viável implantar nos municípios a coleta seletiva e a reciclagem? Muitos discursos são a favor da reciclagem e sua adoção por razões, dentre outras, de natureza ambientais, pedagógicas e culturais. Outros são contrários à prática da reciclagem, ressaltando os altos custos com que as prefeituras devem arcar para viabilizar a coleta seletiva de lixo. 128 Para Calderoni (1998), não se trata, pois, de assumir o ponto de vista dos atores sociais e institucionais envolvidos (indústria, prefeituras, sucateiros, catadores, governos estadual e federal, população em geral), trata-se, sim, de procurar uma compreensão da reciclagem do lixo em termos abrangentes, mensurando-se o ganho que para a sociedade dela decorre. Devem-se considerar os custos evitados pela Prefeitura em decorrência da coleta seletiva/reciclagem do lixo, representados pela redução do volume de lixo encaminhado aos aterros sanitários, ao mesmo tempo em que é “descontado”, o custo inevitável da coleta não seletiva de lixo (CALDERONI, 1998). Para tanto, é importante conhecer o lixo através de suas características, auxiliando, assim, no gerenciamento integrado dos resíduos sólidos urbanos. Conhecendo-se a composição gravimétrica ou física dos resíduos sólidos urbanos de uma cidade, é possível a sua utilização como base comparativa para outras cidades, com características semelhantes, e que ainda não dispõem desse tipo de informação. Isso, entretanto não deve ser encarado como uma solução definitiva, mas pelo menos como subsídio preliminar (DALTRO FILHO, 1997). 5.1.6 Sistema de acondicionamento do resíduo em Telha e Cedro de São João O acondicionamento do resíduo domiciliar urbano, tanto em Telha como em Cedro de São João, é feito em tambores e/ou latões de 100 e/ou 200 litros, distribuídos por vários pontos nos logradouros dos municípios. Nos domicílios urbanos de Telha (Anexo C), 74,3% acondicionam em sacos plásticos, 9,5% em balde plástico, 5,4% em saco plástico + balde e 9,5% em outros, como caixa de papelão e somente em balde plástico (Gráfico 15). Nos domicílios urbanos de Cedro de São João (Anexo C), 44% acondicionavam em sacos plásticos, 22% em saco plástico e balde, 21% acondicionavam em balde plástico, 11% em vasilhames de pneu e 2% em outros (gráfico 15). 129 80 70 60 % 50 Telha 40 Cedro de São João 30 20 10 0 Plás tico Vidro Metal Outros Papel GRÁFICO 15 - Acondicionamento domiciliar em Telha e Cedro de São João Fonte: Trabalho de campo, 2003. Analisando os dados acima, conclui-se que, tanto os moradores de Telha (74,3%) quanto os de Cedro de São João (44%), em sua maioria, acondicionam seus resíduos em sacos plásticos. 5.1.7 Sistema de Coleta e Transporte A coleta dos resíduos sólidos urbanos no município de Telha é executada por uma empresa contratada pela Prefeitura Municipal, utilizando um caminhão-carroceria (Fotografia 19), realizada diurna e diariamente de segunda-feira a sábado, com um atendimento estimado de 100%, segundo informações da empresa contratada (Anexo C).Os resíduos de serviço de saúde não são coletados; são queimados na própria unidade de saúde. 130 FOTOGRAFIA 19 - Coleta e transporte do lixo em Telha. Fonte: Ligia, trabalho de campo, 2003. Em Cedro de São João, a coleta dos resíduos sólidos urbanos é administrada e executada pela Prefeitura Municipal, por meio de um caminhão-carroceria (fotografia 20). Ela é realizada diurna e diariamente, exceto na sexta-feira, com um atendimento de 95%. Os resíduos de serviços de saúde são coletados das unidades de saúdes em um veículo A10. FOTOGRAFIA 20 – Coleta e transporte do lixo em Cedro de São João. Fonte: Ligia, trabalho de campo, 2003. 5.1.8 Tratamento e Disposição Final Os municípios de Telha e Cedro de São João apresentaram dois momentos, um antes e o outro depois da mudança do local de destinação final dos seus resíduos sólidos, durante a realização da pesquisa. 131 Os resíduos sólidos urbanos da cidade de Telha, até abril de 2003, eram depositados em vazadouro a céu aberto (lixão), localizado nos fundos do cemitério da cidade (fotografia 21), próximo à residências no perímetro urbano. FOTOGRAFIA 21 - Lixão nos fundos do cemitério em Telha. Fonte: Ligia, trabalho de campo, 2003. Após uma série de reivindicações dos moradores locais, juntamente com o Ministério Público, o depósito de lixo foi transferido para uma outra área (fotografia 22). FOTOGRAFIA 22 – Preparo da nova área de disposição, Telha. Fonte: Ligia, trabalho de campo, 2003. Esta nova área foi adquirida com a possibilidade de implantação de um aterro sanitário, para disposição final em conjunto dos resíduos sólidos produzidos em Telha e Cedro de São João. A área encontra-se distante aproximadamente 2,5 Km da zona urbana de Telha e 6 Km de Cedro de São João, medindo 3,1185 hectares sergipanos, de acordo com dado da Codevasf. 132 A Prefeitura de Cedro de São João depois de ter assinado um Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta para Eliminação dos lixões, em abril de 2001, passou a depositar o lixo produzido, em Propriá, no lixão (Fotografia 1) localizado no DIP (Distrito Industrial de Propriá), mediante pagamento, como já salientado no item anterior. A disposição em Propriá seria somente por um período, até a aquisição de uma área para a implantação, em conjunto com Telha, de um aterro sanitário. Então, a partir de julho de 2003, Cedro de São João começou a depositar os seus resíduos na mesma área utilizada por Telha. Atualmente enquanto esperam a implantação do aterro sanitário ambas depositam os resíduos produzidos nas suas cidades, na área recém adquirida, a céu aberto sob forma de lixão (Fotografia 23), o que demandará as atividades de remediação com posterior transformação do mesmo em aterro sanitário. FIGURA 23 - Área destinada a disposição final de Telha e Cedro de São João. Fonte: Ligia, trabalho de campo, 2003. Não existe tratamento dos resíduos sólidos urbanos produzidos em Telha e Cedro de São João. Os resíduos de serviços de saúde de Cedro de São João são queimados num incinerador rústico (modelo Fundação SESP) na unidade de saúde Maria Messias de Andrade depois de serem coletados em todas as unidades de saúde. Já em Telha, os resíduos dos serviços de saúde são queimados e as cinzas são depositadas, na fossa de detritos no fundo do Centro de Saúde/SESP. 133 5.1.9 Estudo da área para aterro sanitário O aterro sanitário é uma das práticas mais utilizadas no presente, em virtude de sua relativa simplicidade de execução e de seu relativo baixo custo, tendo como fator limitante a disponibilidade de áreas próximas aos centros urbanos, que não comprometam a segurança da população e não poluam as águas tanto superficiais como subterrâneas. 4.1.9.1 Escolha do terreno Como já foi dito, anteriormente, um dos fatores que limitam a utilização do método aterro sanitário é a escolha da área adequada. Neste estudo, busca-se analisar, de forma preliminar, a área que está sendo utilizada pelos municípios de Telha e Cedro de São João, para a implantação de aterro sanitário de forma consorciada (Fotografia 24). FOTOGRAFIA 24 – Disposição conjunta de resíduos sólidos em Telha e Cedro de São João. Fonte: Ligia, trabalho de campo, 2003. A área foi adquirida com o objetivo de realizar o consórcio entre as duas cidades, na disposição final. Está situada no município de Telha, em um local denominado chapéu, (Mapa 3) que fica à aproximadamente 2,5 Km de Telha, à margem direita da estrada da fazenda Itapoã, e a 6,0 Km de Cedro de São João, perfazendo uma área total de 3,1185 ha., conforme levantamentos realizados pela Codevasf. Nesta fase, um conjunto de dados dos meios físico, biótico e socioeconômico foi analisado em escala regional (com uso de mapas no microstation), comparando com outros 134 dados em escala local, limitando-se a vistorias de reconhecimento da área e lançando mão, o máximo possível, do acervo de informações, já existente, para efetuar o estudo. MAPA 3 – Localização da área com as rodovias Fonte: Trabalho de Campo, 2003. 135 5.1.9.2 Recursos hídricos Os recursos hídricos devem ser preservados. Para tanto, os locais com córregos ou nascentes de rios devem ser evitados (Mapa 4). Os principais recursos hídricos existentes em Telha são: os açudes e tanques públicos e privados; os riachos Jacaré, da Piscina e da Pressa; e o rio São Francisco. E em Cedro de São João são: as várzeas do cedro, do saco e do coxo; as lagoas Salomé e do Algodão; o açude público; os poços tubulares, os riachos Jacaré, Baixo do Cipó, do Buri e Candinha; e as fontes Minadouro I e II, e Bananeiras (SERGIPE, 1997). Desta forma, a drenagem dos corpos hídricos segue a direção oeste-leste, sendo o mais próximo o riacho Pedro Souza (temporário), situado ao norte da área, a uma distância aproximada de 301 metros, que irá contribuir diretamente com o riacho Jacaré. E ao sul da área, o riacho Jenipapo de regime temporário, situado a uma distância aproximada de 1100 metros, que também contribui com o riacho jacaré. No tocante às águas subterrâneas, em Telha, existe dois domínios hidrogeológicos: metassedimentos/metavulcanitos (ocupando 70% municipio, onde se encontra a área em estudo) e formações superficiais cenozóicas. Os metassedimentos/metavulcanitos têm comportamento de “aqüífero fissural”, e como não existe, basicamente, uma porosidade primária neste tipo de rocha, a ocorrência de água subterrânea é condicionada por uma porosidade secundária representada por fraturas e fendas, traduzindo-se por reservatórios aleatórios, descontínuos e de pequena extensão. Neste sentido, as vazões produzidas pelos poços são pequenas e a água, devido a falta de circulação, ao clima semi-árido e ao tipo de rocha, na maior parte das vezes, é salinizada. Em Cedro de São João registrou-se a presença de 15 pontos d’água, sendo 1 do tipo fonte natural e 14 poços tubulares (1 público e 13 particulares), com uma profundidade mínima de 50 metros. Desses poços, apenas dois encontram-se em operação. 136 MAPA 4 – Hidrografia dos municípios de Telha e Cedro de São João Fonte: Trabalho de Campo, 2003. 137 5.1.9.3 Hipsometria O mapa hipsométrico (Mapa 5) apresenta três níveis de variações de altitudes bastante nítidos para os municípios em estudo. O primeiro nível, de maior expressão espacial, coincide com as áreas morfológicas mais baixas, e cotas altimétricas a menos de 40 metros, cujas condições ambientais permitem a ocorrência de inundações, mostrando-se, portanto, desfavoráveis ao aterro sanitário. No segundo nível, onde se localiza a área de disposição dos resíduos, a topografia apresenta-se um pouco mais elevada, com cotas que variam entre 40 e 80 metros. E o terceiro nível, onde se registra as maiores elevações, com cotas acima de 80 metros de altitude. 138 Fonte: Carta da SUDENE/ EXÉRCITO – 1970 Digitalização: SRH, 2000 Elaboração: Flávia Dantas Moreira MAPA 05 – Hipsometria nos municípios de Telha e Cedro de São João Fonte: Trabalho de Campo, 2003. 139 5.1.9.4 Declividade A declividade é um dos fatores de maior influência nos processos ligados às condições de risco, a partir da associação com outros elementos do meio físico. Desta forma, tais cartas são utilizadas em estudos de caráter ambiental, quando se objetiva avaliar a dinamização de processos ligados à fragilidade do processo de ordem erosiva. Com o mapa de declividade (Mapa 6) verifica-se onde ocorrem as maiores inclinações e as áreas propensas à erosão e o possível escoamento das águas pluviais, que juntamente com o material percolado do aterro poderá contaminar os corpos hídricos (riacho Jacaré), se os resíduos sólidos não estiverem dispostos de forma adequada. As áreas de menor declividade encontram-se acima de 24%, podendo no que tange aos processos erosivos, ser caracterizadas como de natureza moderada a forte, em função do tipo de solo existente e das características morfológicas. A importância desse critério, também pode ser verificada em termos de preservação do solo, pois além de ser um fator restritivo do uso para a disposição de resíduos sólidos urbanos, limita o transporte do material até o local. Desta forma, considerou-se que a área atende integralmente aos critérios de classificação. 140 Flavia Dantas Moreira MAPA 06 –Declividade nos municípios de Telha e Cedro de São João Fonte: Trabalho de Campo, 2003. 141 5.1.9.5 Geologia A geologia do município de Telha (mapa 7) está representada por rochas de idade précambriano, cornubianito traipu composta de biotita, granada, cornubianito cinza-prateado com porfiroblastos de biotita e/ou granada, onde está situada a área em estudo. E por sedimentos de praia e aluvião(spa) compostos de areias finas a grosseiras, não consolidadas, nas planícies costeiras; areias finas a médias, bem selecionadas, nas dunas litorâneas; e clásticos arenoargilosos, não-litificados, nas planícies fluviais a ambientes paludiais. Em Cedro de São João (mapa 7), também afloram os Sedimentos de praia e aluvião (spa) e cornubianito, exceto na porção extremo sul do município. Na região sudoeste, afloram as Formações Barreiras, Riachuelo-Membro Maruim, Serraria, Bananeiras, Aracaré, BatingaMembro Boacica e Batinga - Membro Mulungu. Dadas as características litológicas, apresentadas, verifica-se que a área em estudo apresenta-se viável à implantação de um possível aterro sanitário. 142 MAPA 07 – Geologia nos municípios de Telha e Cedro de São João Fonte: Trabalho de Campo, 2003. 143 5.1.9.6 Pedologia Dados pedológicos são informações sobre as características e distribuição dos solos na região estudada. Os principais aspectos de interesse são os tipos de solo que ocorrem na região e suas características, como material de empréstimo, argilas para impermeabilização basal e cobertura final; solos siltoargilosos para cobertura diária e intermediária; areia; etc. (D’ALMEIDA; VILHENA, 2000). Telha, apresenta uma associação de Solos Litólicos Eutróficos, textura média fase pedregosa + Bruno Não Cálcico, textura média argilosa, ambos fase caatinga hipoxerófila, relevo ondulado e forte ondulado (SANTOS; ANDRADE, 1992). Cedro de São João possui uma associação de Podzólico Vermelho Amarelo, textura arenosa média, fase relevo suave ondulado e ondulado + Planossolo Solódico, textura média argilosa, fase relevo suave ondulado + Podzólico Vermelho Amarelo Eutrófico textura arenosa média fase relevo suave ondulado e ondulado, todos fase floresta caducifólia (SANTOS; ANDRADE, 1992). 5.1.9.7 Fauna e flora Não existem espécies indicadoras de qualidade ambiental, de valor científico e econômico, raras e ameaçadas de extinção e nem áreas de preservação permanente. 5.1.9.8 Legislação A legislação existente é apenas no âmbito federal, sob forma de Constituição Federal, Normas e Resoluções, tais como: Constituição Federal de 05 de outubro de 1988, Artigos 20, 23, 24, 30, 129 e 200; Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981 – Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismo de formulação e aplicação, e dá outras providências; Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999 – Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências; 144 ABNT NBR 8.419/1992 - Apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos; Resolução CONAMA nº 001, de 23 de janeiro de 1986 – Estabelece as definições, as responsabilidades, os critérios básicos e as diretrizes gerais para uso e implementação da Avaliação de Impacto Ambiental como instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente; Resolução CONAMA nº 237, de 19 de dezembro de 1997 – Estabelece norma geral sobre Licenciamento Ambiental, competências, lista de atividades sujeitas a licenciamento, etc.; Resolução CONAMA nº 308, de 21 de março de 2002 - Licenciamento Ambiental de sistemas de disposição final dos resíduos sólidos urbanos gerados em municípios de pequeno porte; Resolução CONAMA nº 330, de 25 de abril de 2003 - Institui a Câmara Técnica de Saúde, Saneamento Ambiental e Gestão de Resíduos. Não existe Lei Orgânica Municipal, nem Plano Diretor Municipal nos dois municípios. E não há unidades de Conservação e Preservação Ambiental em Telha e Cedro de São João. 5.1.9.9 Aspectos socioeconômicos A área escolhida em Telha se encontra na zona rural. O setor agrícola é marcado pelo cultivo do arroz, milho, mandioca, feijão e manga; e na pecuária pela criação de bovinos, ovinos, galináceos, eqüinos e suínos. Desta forma, 82,8% das terras são utilizadas em pastagens, 9,3% em lavoura, 1,3% são matas e florestas, 0,3% são terras produtivas não utilizadas e 6,3% são terras inaproveitáveis. A distância da área do aterro sanitário em relação aos centros atendidos é boa. A estrada de acesso não é pavimentada, porém é de fácil integração com a malha viária. E, no tocante a aceitabilidade, existe uma grande aceitação por parte da população e de suas entidades organizadas, tanto em Telha, quanto em Cedro de São João. 145 5.1.9.10 Vida útil do aterro A área do terreno estudado tem capacidade máxima para a implantação de um aterro sanitário por no máximo 14 anos, considerando a população das duas cidades, sendo uma vida útil inferior ao recomendado por Monteiro (2001), de no mínimo 15 anos. 5.1.9.11 Critérios de avaliação da área Uma área adequada significa menores riscos ao meio ambiente e à saúde pública, mas, fundamentalmente, significa menores gastos com preparo, operação e encerramento do aterro (D’ALMEIDA; VILHENA, 2000). O quadro 7 e a tabela 11, a seguir, tratam dos critérios, da classificação das áreas quanto ao seu atendimento e a sua avaliação. Os critérios técnicos foram estabelecidos de acordo com as normas da ABNT NBR nº 10.157 e a Resolução CONAMA nº 308/02. CARACTERÍSTICAS CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO Proximidade a cursos d’água CLASSIFICAÇÃO DA ÁREA Atende Integralmente > 200 m Atende Parcialmente 50-200m Não atende < 50m 146 Permeabilidade do solo natural Ambientais PolíticoSociais EconômicoFinanceiras Distância do lençol freático Extensão da bacia de drenagem Fauna e flora local Distância de núcleos de baixa renda Vias de acesso com baixa ocupação Aceitação da população e ONG’s Distância do centro geométrico da coleta Custo de aquisição do terreno Custo de investimento em infraestrutura Custo com a manutenção do sistema de drenagem Uso do solo Impermeável (argiloso) >2,5m pequena ausência distante baixa boa 5 – 15 Km semipermeável 2-2,5m média presença pouco distante média razoável 1 –5 Km Permeável (arenoso) < 2m Grande Presença Próximo Alta Oposição severa < 1Km baixo baixo médio médio Alto Alto baixo médio Alto Área devoluta área rural área urbana declividade < 3% Declividade do terreno (%) Técnicas Proximidade a aeroportos Vida útil mínima Acesso a veículos pesados Proximidade de núcleos urbanos 20 Km 15 anos bom 3 Km declividade entre 3 - 24% 15 – 19 Km 5 - 14 anos razoável 2 – 3 Km Material de cobertura alta média QUADRO 7 – Critérios de avaliação da área estudada Fonte: Adaptado de D’Almeida; Vilhena (2000); Monteiro (2001); Castillos Júnior (2003). Tabela 11 – Avaliação da área CARACTERÍSTICA DA ÁREA PONTUAÇÃO DA ÁREA declividade > 24% < 15 Km < 5anos Péssimo < 2 Km Baixa 147 Critérios Prioridade Atendimento Pontos de prioridade Pontos (%) de atendimento Pontuação da Área Proximidade a cursos d’água Proximidade a núcleos urbanos Proximidade a aeroportos Distância do lençol freático Fauna e flora local Distância de núcleos de baixa renda Vias de acesso com baixa ocupação Aceitação da população e ONG’s Custo de aquisição do terreno Custo de investimento em infraestrutura 1 1 1 1 1 2 2 2 3 3 T P T T T T T T P P 10 10 10 10 10 6 6 6 4 4 100 50 100 100 100 100 100 100 50 50 10,0 5,0 10,0 10,0 10,0 6,0 6,0 6,0 2,0 2,0 Uso do solo Declividade do terreno natural Vida útil mínima Acesso a veículos pesados Disponibilidade de material de cobertura Custo com manutenção do sistema de drenagem Distância do centro geométrico da coleta 4 4 4 4 4 5 P T P P P P 3 3 3 3 3 2 50 100 50 50 50 50 1,5 3,0 1,5 1,5 1,5 1,0 6 T 1 100 1,0 - - - - 78,0 PONTUAÇÃO FINAL Nota: T = atende integralmente; P = atende parcialmente; N = não atende. Fonte: Adaptado de D’Almeida; Vilhena (2000); Monteiro (2001); Castilho Júnior (2003). De acordo com a classificação adotada, a área obteve uma pontuação de 78,0 pontos, podendo ser considerada recomendada, atendendo às normas vigentes, com baixo investimento. No entanto, após a avaliação dos resultados preliminares, é importante realizar investigações mais detalhadas, tanto com observações de superfície, como investigações de subsuperfície (sondagens, granulometria, compactação dos solos, perfis, etc.), realizando análises mais aprofundadas na área. 148 6 PROPOSTA DE GESTÃO INTEGRADA REGIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS EM TELHA E CEDRO DE SÃO JOÃO Através da Gestão Integrada dos Resíduos Sólidos pode ocorrer uma mudança de concepção da Gestão Pública, deixando de ser um conjunto de práticas centralizadoras, burocráticas e segmentadas. Incorpora-se novas formas de elaborar e implantar políticas, visando a integração e à articulação dos diversos setores e instituições da Sociedade. 6.1 SISTEMA DE GESTÃO INTEGRADA E REGIONAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS – MODELO INSTITUCIONAL Os municípios de Telha e Cedro de São João diferem na forma de administração, pois Telha adotou a terceirização, enquanto Cedro de São João a administração se dá de forma direta, pela Prefeitura. Portanto, foi proposto dois modelos distintos, considerando a liberdade de escolha de cada município. Os modelos propostos são Modelos de Gestão de Resíduos Sólidos Participativa e Compartilhada, visando o desenvolvimento do setor, de modo a se obter uma melhor qualidade e eficiência da prestação dos serviços de limpeza urbana. Ambos são marcados pela gestão participativa, ou seja, onde tem a colaboração dos habitantes residentes, indicando onde o município deve atuar e onde o poder público analisa as ações relativas aos serviços de Limpeza Urbana, de acordo com o orçamento, dentro de uma prioridade, de modo a ter uma participação efetiva da comunidade. O que difere os dois modelos é a forma de gerenciamento. No primeiro modelo (Figura 13), a Gerência é compartilhada desde a coleta até a destinação final, compreendendo as coletas regular e seletiva, sendo executada por uma empresa contratada para este fim. 149 PREFEITURA DE TELHA PREFEITURA DE CEDRO SECRETARIA DE OBRAS SECRETARIA DE OBRAS DEPARTAMENTO DE LIMPEZA URBANA DEPARTAMENTO DE LIMPEZA URBANA CONSÓRCIO INTERMUNICIPAL TELHA/CEDRO Varrição de Telha Serviços Congeneres de Telha Fiscalização de Telha Varrição de Cedro Serviços Congeneres de Cedro Fiscalização de Cedro EMPRESA CONTRATADA COLETA DE TELHA E CEDRO DE SÃO JOÃO ATERRO SANITÁRIO MANUAL DE TELHA E CEDRO DE SÃO JOÃO F IGURA 13 – Modelo de Gestão dos Resíduos de Telha e Cedro de São João/Gerenciamento Compartilhado Fonte: Modificado de Lima (2002). Já no segundo modelo (Figura 14), onde a Gerência em Telha é executada por uma empresa contratada e a de Cedro de São João é realizada pela própria Prefeitura, o compartilhamento só se dá na destinação final, respeitando assim, a individualidade e as particularidades de cada Município. 150 PREFEITURA DE TELHA PREFEITURA DE CEDRO SECRETARIA DE OBRAS SECRETARIA DE OBRAS DEPARTAMENTO DE LIMPEZA URBANA DEPARTAMENTO DE LIMPEZA URBANA GERÊNCIA DE LIMPEZA URBANA (Prefeitura) GERÊNCIA DE LIMPEZA URBANA (Empresa Contratada) CONSÓRCIO INTERMUNICIPAL TELHA/CEDRO DE SÃO JOÃO ATERRO SANITÁRIO MANUAL DE TELHA/CEDRO DE SÃO JOÃO FIGURA 14 – Modelo de Gestão dos Resíduos de Telha e Cedro de São João/Gerenciamento com Compartilhamento na Destinação Final Fonte: Adaptado de Lima (2002). A Organização Administrativa do Consórcio (Figura 15), conforme Lima (2003), terá a seguinte estrutura básica: Conselho Consultivo: é o órgão deliberativo, formado pelos Prefeitos dos Municípios Consorciados, que no caso de Telha e Cedro de São João, serão responsáveis pela apreciação das contas. Será presidido pelo Prefeito de um dos Municípios, com mandato de um ano; Conselho Fiscal: é o órgão de fiscalização, constituído por Presidente, Vice Presidente e Secretário, com mandatos de 1 (um) ano, podendo ser prorrogado por mais de um período; Secretaria Executiva: órgão executivo encarregado do apoio técnico e administrativo, constituído por Diretor Executivo, Gerente Administrativo, e Supervisor Administrativo; Além da Secretaria Executiva, o Consórcio conta com um Setor Administrativo (Setores Contábil, Faturamento e Pessoal) e um Setor Operacional (dois Encarregados Operacionais Técnico/Administrativo, Balanceiros, Ajudantes Gerais e Seguranças). 151 CONSÓRCIO INTERMUNICIPAL TELHA/CEDRO DE SÃO JOÃO CONSELHO CONSULTIVO CONSELHO FISCAL SECRETARIA EXECUTIVA SETOR ADMINISTRATIVO SETOR OPERACIONAL FIGURA 15 – Organização Administrativa do Consórcio Intermunicipal de Telha e Cedro Fonte: Modificado de Lima (2003). 6.2 SISTEMA DE GESTÃO INTEGRADA E REGIONAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS – MODELO TECNOLÓGICO O Sistema Integrado e Regional dos Resíduos proposto para os Municípios de Telha e Cedro de São João, prevê a geração, segregação e manejo, coleta, transporte, tratamento e destinação final, com capacidade de tratar desde 4,419 t/dia de lixo urbano estimada no primeiro ano, até absorver a produção gerada em 15 anos. Assim, levando-se em consideração as características dos resíduos dos municípios acima citados, o modelo apresentado no fluxograma (Figura 16) pode ser estruturado da seguinte forma: Unidade de Compostagem: onde os resíduos oriundos de feiras e mercados, além dos provenientes de podas de praças e ruas serão destinados a uma unidade de compostagem, necessitando de apoio tecnológico e recursos humanos capacitados; Unidade de Triagem e Classificação: os resíduos domésticos e comerciais passarão por uma triagem para separação e classificação do componentes como, biodegradáveis, recicláveis e descartáveis, oriundos da coleta regular. E a segregação dos componentes como, vidro, plástico, papel/papelão e metais provenientes da coleta seletiva que será implantada paulatinamente. A definição das condições adequadas para a implementação dessa atividade, dependerá da capacitação dos funcionários da Cooperativa a ser formada, que trabalharão nesta unidade e poderá ser instalada noutro local, fora do Aterro Sanitário; Unidade de Tratamento dos Resíduos de Serviços de Saúde: o resíduo oriundo dos Serviços de Saúde, como Postos de Saúde, Centros de Saúde, Laboratório, Hospitais e Farmácias, serão coletados separadamente e dispostos em valas sépticas, providas de canalizações para a drenagem do chorume e dos gases produzidos. 152 Unidade de beneficiamento de Entulho: onde ocorrerá aproveitamento do entulho de obra, sendo reciclado na pavimentação de ruas e calçadas, na fabricação de meios-fios e de tijolos ou blocos para a alvenaria; Unidade de Destinação Final: abrange a disposição adequada no aterro sanitário manual, sendo dispostos ali, todos os rejeitos inservíveis e resíduos inaproveitáveis gerados e coletados nos Municípios de Telha e Cedro de São João e descartados nas unidades de compostagem, de triagem e de tratamento que compõem o sistema proposto. 153 Varrição Raspagem de terra Capina Feiras, mercados Unidade de compostagem Podas composto agricultura madeira energia rejeitos biodegradáveis Coleta regular Resíduos Sólidos Urbanos recicláveis descartáveis Coleta Domiciliar e Comercial Unidade de triagem e classificação distribuição rejeitos vidro Coleta seletiva ATERRO SANITÁRIO plástico papel e papelão metais Bagulhos volumosos Coleta de resíduos Serviço de Saúde Entulho de Construção GERAÇÃO COLETA E TRANSPORTE reaproveitáveis inservivéis comuns sépticos descartáveis recicláveis SEGREGAÇÃO E MANEJO Unidade de tratamento Unidade de beneficiamento de entulho rejeitos Componentes construtivos Construção civil TRATAMENTO / REINTEGRAÇÃO AMBIENTAL PARA PROCESSO PRODUTIVO FIGURA 16 – Fluxograma de Manejo Integrado e Diferenciado dos Resíduos Sólidos Urbanos de Telha e Cedro de São João Fonte: Adaptado de Chenna (2001). DESTINAÇÃO FINAL 154 6.2.1 Da Educação a não Geração Nos países capitalistas, o consumo é incentivado maciçamente através de propagandas, onde os padrões de desenvolvimento são impostos para uma sociedade consumista. Neste contexto, os programas de coleta seletiva devem ser considerados como estratégia para uma meta educativa, considerando que a redução e a reutilização do lixo antecedem o acúmulo destes resíduos sólidos. A redução, na fonte dos resíduos sólidos é uma das formas de minimização desses resíduos, diminuindo a quantidade gerada dos mesmos, além da reutilização e da reciclagem. Em termos de resíduos sólidos domiciliares, pode ser obtida sua não geração, através de alterações de hábitos ou através de opções ao adquirir produtos. Reduzir ou evitar a geração do lixo nas fontes geradoras causa menos impacto do que reciclar os materiais após o seu descarte. Aliado a isto, deve-se ter um gerenciamento adequado que valorize a segregação dos resíduos na fonte produtora. Desta forma, a educação ambiental voltada para os resíduos sólidos deve ser incorporada de acordo com as realidades de cada região, com o envolvimento da comunidade que assegurem a construção de uma sociedade mais participativa e efetivamente cidadã. No caso de Telha e Cedro de São João, através das sugestões dadas no questionário aplicado ao morador e no diagnóstico participativo, manifestou-se a necessidade de ações voltadas para a educação no sentido de buscar a sensibilização, compreensão, responsabilidade, competência e o exercício pleno da cidadania. Para tanto, necessário se faz a criação de um projeto de Educação Ambiental, voltado especificamente para os resíduos sólidos urbanos, realizando palestras e trabalhos de conscientização das comunidades e escolares, com a participação da vigilância sanitária, fazendo parte das ações educativas do consórcio. Além da criação de Comissões Municipais de Educação Ambiental, com o envolvimento das Secretarias Municipais de Educação e da Saúde, com o treinamento de professores, funcionários da limpeza e população em geral, em assuntos de preservação ambiental, como ações específicas de conservação dos mananciais, evitando a poluição destes recursos pelo lixo. Bem como, campanhas e gincanas voltadas para a proteção do meio ambiente e para a não geração ou redução de resíduos sólidos, colaborando com a limpeza urbana das cidades envolvidas. 155 Porém, a educação, sozinha, não vai resolver todos os problemas da humanidade. É necessário que todos os setores estejam elaborando estratégias e participando ativamente na construção do desenvolvimento. A educação, sozinha, não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda (FREIRE apud SATO, 1999). 6.2.2 Geração A geração de lixo per capta no Brasil, conforme Chenna (2001), varia em função da renda familiar, do porte da população da cidade, dos hábitos da população e, ainda do método de cálculo utilizado. Considerando todo o resíduo urbano comercial e domiciliar, a média brasileira está em torno de 600 g/hab./dia, valor que foi a efeito para Telha e Cedro de São João. E a partir desta estimativa de geração de resíduos sólidos, calculou-se a estimativa de geração de resíduos domiciliares (RSD) para os próximos 15 anos (Tabela 12 e 13). Considerando uma população total de 3701 habitantes em Telha, um crescimento anual (1996-2000) de 1,91% e uma estimativa de geração de RSD per capita de 0,600 Kg/hab./dia, com taxa de crescimento de 1% ao ano na geração. E de acordo com Chenna (2001), foram construídas as tabelas abaixo: Valores da coluna 1: população do ano anterior, somada ao valor correspondente à taxa de 1,91% e 1,01%; Valores da coluna 2: incremento de 1% ao ano ao valor da taxa de geração per capita; Valores da coluna 3: valores da coluna 1, multiplicados pelos valores da coluna 2; Valores da coluna 4: metas a alcançar; Valores da coluna 5: valores da coluna 3, multiplicados pelos valores da coluna 4. 156 TABELA 12 – Estimativa da geração de resíduos sólidos domiciliares (RSD) no Município de Telha TELHA 1 2 3 4 5 Ano Projeção Populacional (habitantes) 3701 Estimativa de Geração de RSD (Kg/dia) 2221 Atendimento com coleta (% população) 1 Estimativa de geração de RSD per capita (Kg/hab./dia) 0,600 90 Estimativa de RSD a serem coletados (Kg/dia) 1999 2 3772 0,606 2286 95 2172 3 3844 0,612 2356 100 2356 4 3917 0,618 2421 100 2421 5 3992 0,624 2491 100 2491 6 4068 0,630 2563 100 2563 7 4146 0,636 2637 100 2637 8 4225 0,642 2712 100 2712 9 4306 0,648 2790 100 2790 10 4388 0,654 2870 100 2870 0,660 0,666 0,673 0,680 0,687 0,694 2952 3035 3125 3218 3313 3411 100 100 100 100 100 100 2952 3035 3125 3218 3313 3411 11 4472 12 4557 13 4644 14 4733 15 4823 16 4915 Fonte: Adaptado de Chenna, 2001. No 15o ano, a geração de Telha será de 3,41 tonelada/dia, sendo a geração anual de 1245 toneladas. Nos 15 anos de geração, em Telha serão produzidos 44,065 t/dia e uma geração total anual de 16.083, 725 toneladas. No caso de Cedro de São João, que tem uma população total de 5378 habitantes, um crescimento anual (1996-2000) de 1,01% e uma estimativa de geração de RSD per capita de 0,600 Kg/hab./dia. 157 TABELA 13 – Estimativa da geração de resíduos sólidos domiciliares (RSD) no Município de Cedro de São João CEDRO 1 2 3 4 5 Ano Projeção Populacional (habitantes) 5378 Estimativa de Geração de RSD (Kg/dia) 3227 Atendimento com coleta (% população) 1 Estimativa de geração de RSD per capita (Kg/hab./dia) 0,600 75 Estimativa de RSD a serem coletados (Kg/dia) 2420 2 5432 0,606 3292 80 2634 3 5487 0,612 3358 85 2854 4 5542 0,618 3425 95 3254 5 5598 0,624 3493 100 3493 6 5655 0,630 3563 100 3563 7 5712 0,636 3633 100 3633 8 5770 0,642 3704 100 3704 9 5828 0,648 3777 100 3777 10 5887 0,654 3850 100 3850 0,660 0,666 0,673 0,680 0,687 0,694 3922 3998 4081 4165 4250 4337 100 100 100 100 100 100 3922 3998 4081 4165 4250 4337 11 5943 12 6003 13 6064 14 6125 15 6187 16 6249 Fonte: Adaptado de Chenna, 2001. No 15o ano, a geração de Cedro de São João será de 4,34 tonelada/dia e a geração anual de 1585 toneladas. Nos 15 anos de geração, em Cedro de São João serão produzidos 57,935 t/dia e uma geração total anual de 21.146,275 toneladas. 6.2.3 Coleta e Transporte Considerando o fluxograma anteriormente apresentado (Figura 17), nesta fase compreende a coleta em separado e o transporte diferenciado dos diversos tipos de resíduos produzidos nos municípios de Telha e Cedro, podendo ocorrer de forma individualizada ou consorciada. Os principais grupos de resíduos que serão tratados, no sistema de gerenciamento integrado proposto, são os resíduos provenientes: Das atividades de varrição, raspagem de terra e capina de vias e logradouros públicos; 158 De feiras, mercados e os resultantes de atividades de poda; Da atividade de coleta regular domiciliar/comercial (recicláveis, biodegradáveis, ou não-aproveitáveis); Dos “bagulhos” volumosos, tais como pneus, móveis e grandes eletrodomésticos (reaproveitáveis ou inservíveis); Das unidades de serviços de saúde (sépticos e potencialmente sépticos ou recicláveis); Da construção civil, caracterizados como entulho ou restos de obras (reaproveitáveis ou descartáveis). Se o gerenciamento for de forma consorciada, contratar-se-á uma empresa para realizar tais atividades. Se não o for, ficará ao encargo de cada Município decidir a maneira mais adequada. No tocante a abrangência da coleta, inicialmente haverá uma continuidade da coleta regular, buscando um atendimento de 100% e, aos poucos, a coleta diferenciada vai sendo implantada em conjunto com um programa de educação que auxilie todo o processo de implantação. A freqüência da coleta regular será de 4 dias (segunda, terça, quinta e sábado) e a coleta diferenciada será às quartas-feiras, ficando sexta ou domingo, para a coleta dos resíduos da feira, a depender do município. 6.2.3.1 Veículos a utilizar Conhecendo a população total e a taxa de geração per capitã, é possível determinar o veículo que deverá ser utilizado na coleta, nos municípios em estudo. Telha possui uma população total de 3701 habitantes e Cedro possui uma população total de 5378 habitantes, considerando a taxa de geração per capita média do Brasil que é de 0,6 Kg/hab./dia e o peso específico do lixo solto de 218 Kg/m3. A partir daí, segundo Chenna (2001), é possível calcular a geração total com a seguinte fórmula: Geração total (em Kg/dia) = p x P 159 Onde: p = geração per capita de lixo; P = população do município. Em Telha, considerando que cada veículo deverá fazer duas viagens por dia de coleta, a geração total é de 2,22 t/dia e 15,54 t/semana de resíduos. Se forem realizadas as coletas em 4 dias da semana, a quantidade de resíduo coletado por dia de coleta será de 3,88 t/dia de coleta e por viagem, o volume da carga será de 1,94 t/viagem. Como o peso específico do lixo solto utilizado foi o de 0,218 t/m3, então o volume da carga a transportar será de, aproximadamente, 9m3, podendo utilizar dois veículos de capacidade de 5 m3, o que corresponde ao mesmo veículo utilizado atualmente na coleta, o caminhão-carroceria, desde que se coloque uma lona para cobrir o lixo durante todo o percurso da coleta até a destinação final. Já em Cedro de São João, a geração total foi de 3,23 t/dia e 22,61 t/semana de resíduos. A quantidade de resíduo coletado em 4 dias de coleta é de 5,65 t/dia de coleta e o volume da carga por viagem será de 2,83 t/viagem. Considerando o peso específico do lixo solto de 0,218 t/ m3, o volume da carga a transportar será de, aproximadamente, 13 m3 de lixo solto, podendo utilizar dois veículos caminhões compactadores de 7 m3 ou três veículos caminhão-carroceria de capacidade de 5 m3, desde que seja coberto com uma lona durante o transporte do mesmo. No caso dos municípios estabelecerem um consórcio, desde a coleta até a destinação final, realizando essa coleta de forma conjunta e em dias alternados, um dos municípios fará a coleta nos dias de 2ª, 4ª e 6ª feira e o outro nos dias de 3ª feira, 5ª feira e sábado, utilizando a mesma frota. Considerando a utilização da mesma frota nos primeiros cinco anos, com um atendimento de 100%, ter-se-á na tabela 14 o nº de veículos e o tipo a ser utilizado. 160 TABELA 14 - Estimativa do número de veículos e o tipo a ser utilizado Estimativa de Resíduos Sólidos, t/dia (geração total) Geração por Semana (t/semana) Ano TELHA CEDRO TELHA CEDRO 1 2 3 4 5 2,221 2,286 2,356 2,421 2,491 3,227 3,292 3,358 3,425 3,493 15,547 16,002 16,492 16,947 14,437 22,589 23,044 23,506 23,975 24,451 Qtade./dia de coleta (3 dias) t/dia de coleta Volume em m3 da carga/ viagem (2 viagens) TELHA CEDRO TELHA CEDRO 5,18 5,33 5,50 5,65 2,81 7,53 7,68 7,83 7,99 8,15 11,88 12,22 12,61 12,96 13,33 17,27 17,61 17,96 18,330 18,69 Número de veículo a utilizar TELHA CEDRO 5m3 7m3 5m3 7m3 3 2 4 3 3 2 4 3 3 2 4 3 3 2 4 3 3 2 4 3 Fonte: Adaptado de Chenna, 2001. Para a realização da coleta consorciada, os municípios poderão utilizar, nos primeiros cincos anos, uma frota de 3 (três) veículos compactadores de capacidade de 7m3 e mais um veículo de reserva, num total de 4 (quatro) veículos. No caso dos municípios preferirem continuar a utilizar os caminhões-carroceria de capacidade de 5m3, serão necessários 4 (quatro) veículos e mais um de reserva, perfazendo um total de 5 (cinco) veículos. Desta forma haverá maior economia nos custos de coleta e transporte para os municípios consorciados. 6.2.4 Segregação e Manejo Nesta fase, ocorrerá a triagem dos resíduos potencialmente reaproveitáveis, bem como a viabilização da comercialização dos recicláveis, encaminhando os transformáveis para as unidades de tratamento. A crescente geração de resíduos sólidos urbanos vem exigindo soluções diferenciadas, visando reduzir a necessidade de áreas para aterramento. O manejo diferenciado contribuirá também para a melhoria das condições ambientais das cidades, propiciando geração de renda e de empregos e fazendo com que cada cidadão se torne participante ativo da construção de soluções para o problema do lixo. Para tanto, é imprescindível nesta fase, a integração com um programa de educação voltado para os resíduos sólidos, como já enfatizado anteriormente. 161 6.2.5 Tratamento e Reintegração Ambiental Os resíduos processados no aterro são os de origem doméstica, comercial, publico e de saúde, não importando a forma de gestão escolhida, desde que seja de forma consorciada, na destinação final. Corresponderá ao processamento diferenciado dos resíduos e compreendem, portanto: Projeto de Resíduos Domiciliares, com a implantação de coleta seletiva de resíduos sólidos domiciliares, tendo como principais objetivos e características: tratamento qualitativo dos resíduos; separação do resíduo na origem; coleta diferenciada domiciliar e voluntária; processo de educação ambiental conjugado entre comunidade e escola; desenvolvimento de atividades econômicas locais, coleta e comercialização; O processamento adequado dos resíduos orgânicos biodegradáveis, gerados nos domicílios, nos estabelecimentos comerciais, nas feiras, pelo processo de compostagem, formando composto orgânico para melhorar a composição do solo, em canteiros de praças, jardins, horta comunitária ou outras áreas verdes; O encaminhamento da madeira (galhos e troncos), resultante da poda, como lenha para geração de energia e para a confecção de bancos e mesas externas; e reaproveitamento dos “bagulhos” volumosos, distribuindo para a parcela mais carente da população; O aproveitamento do entulho resultante de obras e reformas, depois de triturados como sub-base de pavimentação asfáltica, de agregado na construção de habitação e tijolos para alvenaria; Recuperação das áreas de disposição de lixo a céu aberto, elaborando uma agenda de ações para a recuperação das áreas de disposição de resíduos sólidos, nos municípios de Telha e Cedro de São João; Projeto de resíduos tóxicos, através de parceria entre as Secretarias de Agricultura e Meio Ambiente dos Municípios de Telha e Cedro de São João, objetivando o disciplinamento na disposição final das embalagens de agrotóxicos nos municípios acima citados; 162 Projeto de Resíduos Infectantes – projeto articulado com as equipes de vigilância sanitária dos municípios com o objetivo de disciplinar o acondicionamento, transporte, tratamento (incineração ou vala séptica) e disposição final dos resíduos infectantes produzidos pelos hospitais, postos de saúde, farmácias, consultórios médicos e odontológicos. Muitos são a favor da reciclagem, outros são contrários, devido aos altos custos com que as Prefeituras têm de arcar para viabilizar a coleta seletiva do lixo. Como no caso de Telha e Cedro de São João, pela ausência de mercado e pela pequena quantidade dos produtos recicláveis, cujo preço de venda pode vir a não cobrir os custos de coleta, transporte e processamento envolvidos. Para Calderoni (1998), não se trata de assumir o ponto de vista dos atores sociais e institucionais envolvidos (indústria, prefeituras, sucateiros, catadores, governos estadual e federal, população em geral). Trata-se, sim, de procurar uma compreensão da reciclagem do lixo em termos abrangentes, mensurando-se o ganho que para a sociedade dela decorre. Devem-se considerar os custos evitados pela prefeitura em decorrência da coleta seletiva e reciclagem do lixo, representados pela redução do volume do lixo a ser encaminhado ao aterro sanitário, aumentando o tempo de vida útil do mesmo, ao mesmo tempo em que é “descontado”, o custo inevitável da coleta regular do lixo. 6.2.6 Destinação Final: Aterro Sanitário Sustentável Compreende a disposição adequada num aterro sanitário sustentável, de todos os resíduos inaproveitáveis, gerados e coletados nos Municípios de Telha e Cedro de São João, de forma consorciada, bem como os rejeitos inservíveis, descartados nas unidades de triagem e de tratamento que compõem o sistema proposto. O aterro sustentável constitui-se em tecnologia apropriada que associa a simplicidade operacional, baseada em procedimentos científicos, à flexibilidade necessária para compatibilizar o projeto, a operação, os requisitos ambientais e as potencialidades locais. Outro aspecto considerado na tecnologia do aterro sustentável é a capacitação das equipes de 163 profissionais envolvidos, bem como a incorporação da atividade pelo órgão gestor e a comunidade, mantendo o adequado padrão de operação (ZANTA; FERREIRA, 2003). A área sugerida para implantação do aterro sanitário sustentável corresponderá à parte delimitada do terreno, em Telha, onde atualmente estão sendo depositados os resíduos sólidos, provenientes dos municípios em estudo, citados acima, visando uma disposição consorciada. A operação do aterro sustentável será alternada com o uso de equipamentos e operação manual. O aterro sanitário manual se apresenta como uma alternativa técnica e econômica, tanto para populações urbanas e rurais menores que 40.000 habitantes, como também para cidades que geram menos de 20 toneladas diárias de lixo (JARAMILLO, 1991). Mediante técnica de operação manual, somente requer equipamento pesado para a adequação da área de construção de vias internas e escavação de valas, e do material de cobertura, de acordo com o método do aterro, enquanto os demais trabalhos podem ser realizados manualmente, utilizando pá, gadanho, enxada, pilão, carrinho de mão e rolo compressor. Além de equipamentos de segurança a ser usados pelos trabalhadores do aterro como macacão, luvas, botas e máscaras (JARAMILLO, 2002). O aterro sanitário sustentável permite aos municípios de poucos recursos, como Telha e Cedro de São João, sem as condições necessárias para adquirir e manter equipamentos pesados permanentes, dispor adequadamente seus resíduos, utilizando a mão-de-obra que se encontrar disponível. Desta forma, é imprescindível o uso de equipamentos de segurança durante as atividades, dentro e fora do aterro sanitário, bem como um controle rigoroso com a saúde do trabalhador que lida diretamente com os resíduos sólidos. O método de aterro sanitário proposto é o método de trincheira. O tempo de vida útil será de aproximadamente 14 anos, considerando a área adquirida pelas Prefeituras para tal (Figura 17). 164 FIGURA 17 – Aterro Sanitário: Método Trincheira Fonte: D’Almeida; Vilhena, 2000. FIGURA 18 - Aterro sustentável - Espalhamento do resíduo Fonte: Castilhos Júnior, 2003 FIGURA 19 - Aterro sustentável – Compactação do resíduo Fonte: Castilhos Júnior, 2003 165 6.3 DOS RECURSOS FINANCEIROS E HUMANOS Os recursos financeiros serão oriundos da prestação de serviço para as Prefeituras dos municípios através de cobrança proporcional do lixo domiciliar, destinado ao aterro sanitário, calculado sobre os custos mensais. Porém, os custos iniciais da implantação do sistema integrado e regional dos resíduos sólidos de Telha e Cedro de São João deverão ser pleiteados mediante Projeto de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, via Governo Federal oriundos do Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA) agente financiador. A qualificação dos recursos humanos será obtida sob forma de treinamento e capacitação de todos que trabalharem de forma direta ou indireta no Sistema de Gestão Integrada, bem como todos que trabalharem no Departamento de Limpeza Urbana. 6.4 PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL NA GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS Instrumentos de gestão participativa e de controle social devem fazer parte do processo de gestão dos resíduos sólidos, e um desses instrumentos podem ser os conselhos existentes no município. Além disso, as ações de mobilização social devem ser de caráter educativo e organizativo (ABREU, 2001). Um dos instrumentos já utilizados foi o Diagnóstico Participativo. Se por um lado, os serviços de limpeza urbana, como coleta e varrição, quase sempre são executados por trabalhadores que não possuem qualificação para exercer outra atividade, aliado a enorme rejeição por parte da sociedade, tornando-os quase sempre indivíduos rejeitados e com auto-estima baixa. Por outro lado, os serviços de limpeza urbana necessitam de mão-de-obra treinada para executar as tarefas de coleta, varrição e capina; mão-de-obra especializada para executar as tarefas de tratamento e destinação final e mais especializada ainda para desenvolver o planejamento destas atividades. Entretanto, necessário se faz implementar um projeto de valorização do servidor da limpeza urbana, a capacitação e a qualificação deste servidor, proporcionar condições favoráveis de trabalho, além de resgatar a cidadania e a dignidade do agente de limpeza, conscientizando a população sobre sua importância e utilidade. Para a execução dos trabalhos, será mobilizada a sociedade como um todo, partindo do princípio de que, todos são responsáveis pelo meio ambiente, tanto a sociedade civil como as 166 instituições públicas e privadas. Para tanto, podem ser firmados convênios de parcerias e cooperação mútua com diversas entidades, como a UFS - Universidade Federal de Sergipe, Vigilância Sanitária, PRONESE, Associações, Igrejas, Secretarias Municipais, etc. Além disso, devem ser articuladas parcerias com os catadores de rua que existirem nas cidades de Telha e Cedro de São João. Essas parcerias podem se dar na participação do poder público, no planejamento do trabalho, na capacitação desses profissionais e na valorização dos mesmos na sociedade. Essas famílias estruturadas terão condições de se organizarem em associações ou cooperativas. Para tanto, devem ser articuladas ações com as diversas secretarias dos dois municípios em estudo, como a de Educação, Saúde, Ação Social, Meio Ambiente, envolvendo as lideranças comunitárias, escolares, empresários do ramo da reciclagem e a população em geral. 6.5 A SUSTENTABILIDADE DO SISTEMA DE GESTÃO INTEGRADA REGIONAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS O desenvolvimento econômico deve ser conciliado com a sustentabilidade ambiental e social. Portanto, devem-se buscar alternativas de desenvolvimento que minimizem os impactos ambientais e que promovam a equidade social. Num sistema de gestão de resíduos, estas questões são muito evidenciadas devido ao alto potencial poluidor do lixo, a situação de degradação social das famílias que sobrevivem da catação de materiais e ao potencial econômico a ser explorado pelo setor de reciclagem de resíduos (ABREU, 2001). Desta maneira, a presente proposta de gestão leva em consideração, de acordo com SACHS (1993), as seguintes dimensões de sustentabilidade: Sustentabilidade Ambiental: uma das prioridades da proposta é minimizar os impactos ambientais provocados pela destinação inadequada dos resíduos, erradicando os lixões que representam uma situação sanitária indesejável. Depois, será implantado o manejo diferenciado dos resíduos, incorporando o princípio da minimização de rejeitos pelos 3Rs, evitando o desperdício de materiais. Também, devem ser estimuladas a reutilização e a reciclagem dos materiais. Para se atingir a sustentabilidade ambiental da proposta, os processos de educação ambiental e de mobilização social são instrumentos fundamentais; 167 Sustentabilidade Social: A proposta buscará a integração de diversos setores municipais e parcerias com entidades da sociedade civil, favorecendo a continuação dos trabalhos. As equipes técnicas e operacionais das prefeituras serão capacitadas para que possam continuar suas funções, mesmo em caso de mudanças na direção dos órgãos municipais. Além disso, buscará a valorização dos catadores e de suas famílias; Sustentabilidade econômica: para a sustentabilidade econômica desta proposta, devem ser buscadas fontes de financiamento para os investimentos, além de outras formas que viabilizem o aporte e a economia de recursos. A organização autônoma dos catadores é um elemento de garantia de sustentabilidade, com maior atratividade nos investimentos privados, relativo a reciclagem, com geração de renda. Além disso, através do consórcio intermunicipal ocorrerá à redução das despesas para a implantação do sistema de gestão, no que se refere (tocante) ao custo do terreno e das despesas de coleta, transporte, e destinação final. 6.6 DA AVALIAÇÃO E CONTROLE Para Grippi (2001), as atividades envolvidas com o gerenciamento de resíduos em todas as suas formas de apresentação devem buscar a excelência ambiental, através do estabelecimento de sistema de gestão e, por conseguinte, certificação pela norma de conformidade ambiental, ditada pela versão de 1996 da ISO 14001, proporcionando uma melhoria global no gerenciamento dos resíduos. Dessa forma é o conceito de melhoria contínua que toda organização possuidora de gestão ambiental deve buscar. A proposta deverá estipular os procedimentos de melhoria contínua (Figura 18) dos serviços prestados para cada uma das ações definidas e, que segundo D’Almeida; Vilhena (2000), sua implementação deve ser compatível com as necessidades e as possibilidades de cada município (disponibilidade de recursos financeiros e humanos), devendo ser periodicamente reavaliado, redefinido e implementado em níveis sucessivamente mais evoluídos de compromisso e adequação ambiental. 168 Levantamento/atualização de legislação ambiental Planejamento do sistema de gestão de resíduos sólidos Formular/Atualizar Diagnóstico da situação Do lixo municipal MELHORIA CONTÍNUA Implementação do sistema de gestão de resíduos sólidos Análise crítica do sistema Verificação e ações corretivas Plano de controle para impactos ambientais FIGURA 20 – Avaliação do Sistema de Gestão de Resíduos Sólidos Proposto Fonte: Modificado de D’Almeida; Vilhena (2000); Grippi (2001). 169 7 CONCLUSÕES A produção de resíduos sólidos nas cidades brasileiras é um fenômeno inevitável que ocorre diariamente. Os sistemas de limpeza urbana devem afastar esses resíduos da população, oferecendo um destino ambiental e sanitário adequados, como prioridade nas gestões públicas municipais. O grande desafio para o município que deseja buscar oportunidades sócio-ambientais e econômicas passa por mudanças de postura de novos modelos de gestões de resíduos sólidos. Para tanto, faz-se necessário definir as políticas de resíduos que possibilitarão este feito. Tentando superar esses desafios, em busca da sustentabilidade da gestão dos resíduos sólidos, o presente estudo através da análise dos resultados, conclui que o modelo de gestão de resíduos praticado pelos municípios estudados encontra uma boa aceitação no tocante à coleta e aos serviços de limpeza urbana. No entanto, o grande desafio é a destinação final. Além disso, ressaltou-se os problemas enfrentados pelas prefeituras, no tocante à colaboração da população com relação à limpeza dos logradouros. O gerenciamento dos serviços de limpeza urbana em Cedro de São João se dá de forma direta, executado pela prefeitura. Em Telha, os serviços são terceirizados. A coleta é diária e a destinação dos resíduos produzidos em ambas as cidades, é num vazadouro a céu aberto, na cidade de Telha. Os resíduos sólidos de Telha apresentam uma composição gravimétrica média de: papel/papelão (10,01%), matéria orgânica putrescível (17,60%), vidro (2,15%), plástico (11,50%) e metal (2,35 %). Apesar da diferença entre os demais recicláveis não ser muito grande, o teor de matéria orgânica prevalece. O percentual de diversos é também muito representativo, devido ao lixo apresentar-se muito misturado. Já em Cedro de São João, os resíduos sólidos apresentam uma composição gravimétrica média de: 27,79% de matéria orgânica putrescível, 9,13% de papel/papelão, 12,26 % de plástico,1,17% de vidro, 1,66% de metal . Também o percentual de matéria orgânica difere da maioria das cidades brasileiras, inclusive de Aracaju, capital do Estado. Como não existe coleta diferenciada, os resíduos ficam muito misturados, não conseguindo separar os componentes visíveis, prejudicando o aproveitamento destes materiais. 170 Segundo as análises físico-químicas e bacteriológicas de amostras coletadas em quatro pontos distintos, de forma preliminar, visando determinar os níveis de contaminação da água gerados pela disposição inadequada dos resíduos dispostos nos referidos municípios, não foi detectado grandes contaminações, podendo a água ser usada para balneabilidade, de acordo com as Resoluções CONAMA nº 20/1986 e CONAMA n° 274/2000. Existem grandes avanços nas negociações em busca da formação do Consórcio Intermunicipal entre os municípios de Telha e Cedro de São João. De acordo com o estudo preliminar realizado, a área adquirida pelas Prefeituras, foi considerada adequada podendo assim ser utilizada para a implantação do aterro sanitário. Desta forma, percebe-se a busca pela resolução dos problemas relativos à gestão de resíduos sólidos, como os impactos ambientais causados pelos diversos focos de lixo e/ou lixão; bem como, dos sociais, oriundos da desvalorização dos que lidam diretamente com os resíduos. Existe uma necessidade de resgate do sentimento de pertencimento do homem à natureza, o saber cuidar, transportando para as cidades o ato de colaborar com a limpeza dos logradouros, não jogando lixo nas ruas, nem nas margens dos rios e colocando o lixo na porta, respeitando o horário da coleta. Além de evitar os desperdícios de alimentos e o uso de embalagens descartáveis, preferindo embalagens retornáveis e reutilizáveis ao máximo possível, através de atividades educativas. A participação da sociedade civil é de fundamental importância, podendo a mesma cobrar do poder público atitudes que beneficiem a população em geral, como uma política de resíduos sólidos em nível municipal, que defina e envolva a sociedade desde a não-geração, até a disposição final de forma adequada. E desta maneira, promover geração de trabalho e renda, melhorando as condições ambientais e sanitárias e atingindo a sustentabilidade do sistema de gestão. Finalmente, apresenta-se no presente estudo, uma proposta de gestão de resíduos, que visa respeitar as culturas, atitudes, necessidades, diversidades, potencialidades e limitações locais de forma integrada e que ao mesmo tempo busca uma nova ética ambiental. 171 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, Maria de Fátima. Do lixo à cidadania: estratégias para a Ação. Brasília: Caixa, 2001. ACOT, P. História da ecologia.Tradução de Carlota Gomes. Rio de Janeiro: Campus, 1990. ANDRADE, R. O. B. et al. 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Rio de Janeiro: ABES, Rima, 2003. 177 ANEXOS 178 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE / NESA GESTÃO INTEGRADA REGIONAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: UMA ALTERNATIVA PARA OS MUNICÍPIOS DE TELHA E CEDRO DE SÃO JOÃO, BAIXO SÃO FRANCISCO SERGIPANO. ANEXO A - Modelo de Questionários e Roteiro de Entrevista Modelo do Questionário 1 – Domicílios Urbanos A ser preenchido com informações sobre a situação atual dos resíduos urbanos, por morador adulto de um domicílio urbano ou pelo pesquisador. 1. Cidade:____________________________________________ Data: / / 2. Situação do domicílio: a - Endereço: _________________________________________ b – Grau de escolaridade do morador: ( ) ensino fundamental completo ( ) ensino fundamental incompleto ( ) nenhum ( ) ensino médio completo ( ) ensino médio incompleto ( ) ensino superior completo ( ) ensino superior incompleto c – Ocupação principal do chefe da família: _______________________ d – Renda mensal da família: __________________________________ e – Número de pessoas da família: _______________. Quantas trabalham? ______ 3. Você está satisfeito com o serviço de limpeza pública da cidade? a) ( ) sim ( ) não b) Se não, o que pode ser feito para melhorar? ( ) reciclagem ( ) maior freqüência na coleta ( ) disposição de recipientes em locais mais adequados ( ) coleta seletiva ( ) campanhas educativas ( ) não sabe ( ) outra: __________________________________________________________ 4. Na sua avaliação a coleta do lixo na sua rua é: ( ) boa ( ) está melhor que antes ( ) ruim (péssimo) ( ) ótima (excelente) ( ) outros: ______________________________ ( ) não sabe 5. Qual o destino do lixo doméstico? ( ) caixa coletora ( ) no rio ( ) terreno baldio ( ) queima ( ) enterra 6. Qual a freqüência da coleta do lixo? ( ) 2 vezes por semana ( ) 3 vezes por semana ( ) diária ( ) não tem coleta ( ) outros: ______________________________ 179 7. Em que horário acontece a coleta do lixo? _______________________________ 8. Qual a quantidade (volume ou peso) de lixo que você produz?_______________ 9.Que males, você acha que o lixo colocado (disposto) de forma incorreta pode provocar? ( ) doenças ( ) poluição do ar, do solo e da água ( ) não sabe ( ) não provoca males ( ) prejuízos na agricultura ( ) outros: ____________ 10.De que maneira o lixo doméstico é acondicionado (guardado em sua casa)? ( ) saco plástico ( ) balde plástico ( ) saco plástico e balde plástico ( ) vasilhame de pneu ( ) outros: _____________________ 11.Você aproveita algum material que normalmente iria para o lixo? ( ) sim ( ) não 12. Se sim : a) Qual o tipo de material? ( ) papel ( ) plástico ( ) vidro ( ) metal b) O que você faz com estes materiais? ( ) usa ( ( ) vende ( ( ) outros: _______________ ) transforma ) outros: _________________________________ 13. Qual o motivo que levou a essa situação (aproveitamento dos materiais)? ( ) jornal ( ) tv ( ) instituições ( ) campanhas de esclarecimento ( ) não sabe ( ) não se aplica ( ) pessoas ( ) econômico ( ) outros 14. Sugestões relativas à Questão do Lixo em sua cidade: _____________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Ligia Maria Santos de Oliveira Orientador: Prof. Dr. José Daltro Filho 180 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE / NESA GESTÃO INTEGRADA REGIONAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: UMA ALTERNATIVA PARA OS MUNICÍPIOS DE TELHA E CEDRO DE SÃO JOÃO, BAIXO SÃO FRANCISCO SERGIPANO. Modelo do Questionário 2 - Institucional A ser preenchido com informações sobre a situação atual da gestão dos resíduos na cidade, por institucional governamental (Prefeitura Municipal) Cidade: Data: / / Instituição: LEGISLAÇÃO 1. A Prefeitura sabe das responsabilidades quanto ao lixo, no âmbito municipal, estadual e federal, em sua cidade? 2. Existe um Plano Estadual de Resíduos em seu Estado?sim ___ Não ___. Em caso afirmativo, como se enquadra o seu município? 3. Existe um Inventário Estadual de Resíduos em seu Estado? Sim ___ não ___. Em caso afirmativo, como o seu município está classificado? 4. Seu município tem um Plano Diretor?sim ___ não ___. Em caso afirmativo, como o lixo municipal está contemplado neste plano? 5. Seu município tem um Plano Diretor Municipal de Resíduos Sólidos? ( ) sim ( ) não. Em caso afirmativo, ele está sendo cumprido? Caso não esteja sendo cumprido, por quê? 6. Seu município já sofreu alguma sanção, por parte do Poder Público Estadual, sobre sua disposição de lixo? Em caso afirmativo, quais as medidas tomadas? 7. Quais os documentos necessários para aprovação, por parte da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, de um local onde será feito o novo aterro sanitário ou usina de tratamento? Quanto isto vai custar para a Prefeitura? Quanto tempo, em média, será necessário para ser aprovado pelo órgão estadual? 8. O lixo, em seu município, está poluindo os recursos hídricos da região/bacia hidrográfica (rios, lagoas, poços, nascentes e água subterrânea)? Sim ___ Não ____. Em caso afirmativo, como? 9. Já existem Comitês de Bacias formados em seu Estado? Sim ___ Não ___. Em caso positivo, seu município já está representado em seu respectivo Comitê? sim ___ não___. SERVIÇOS DE LIMPEZA URBANA E/OU COLETA DE LIXO 1. Quais os tipos de lixo produzidos no município? ( ) domiciliar ( ) público ( ) comercial ( ) industrial ( )agrícola ( )terminais rodoviários ( ) de serviços de saúde ( ) entulho 181 2. Quanto de cada tipo de lixo é gerado em seu município? Domiciliar _________________t/dia agrícola ________________t/dia Público ____________________t/dia industrial _______________t/dia Comercial _________________t/dia entulho ________________t/dia Serviços de saúde ___________Kg/dia Term. Rodoviáros ____________t/dia 3.Quais os tipos de lixo que a Prefeitura ou empresa contratada coleta? 4.O município cobra pelo serviço de limpeza urbana e/ou coleta de lixo? Sim ___ Não ___. Em caso positivo, qual a forma de cobrança? Taxa específica ___ Tarifa por serviços especiais ___ Taxa junto com o IPTU ___. Outra ________________ 5. Qual o percentual do Orçamento Municipal destinado aos serviços de limpeza urbana e/ou coleta de lixo? Até 5% ____. Entre 5% e 10% ___. Entre 10% e 15% ___ Entre 15% e 20% ___. Mais de 20% ___. 6. Quanto a Prefeitura gasta/mês com serviços de limpeza pública e/ou de coleta e transporte do lixo domiciliar? ________/mês. Quanto a Prefeitura gasta com outros serviços de coleta e transporte _______/mês? Total ________/mês. 7.Qual o percentual de domicílios do seu município tem o lixo coletado? 8.Existe estudo da composição do lixo domiciliar coletado? Sim ___. Não ___. Sendo sim, qual a composição? _______% matéria orgânica _____% papel _____% vidro _______% plástico _____% metal _____% Outros. Quais? ____________ COLETA, VARRIÇÃO E CAPINA 1.Existe varrição das vias públicas? ____. Com que frequência? _______ Qual é o nº de pessoas envolvidas no serviço? ______. Qual é o custo/mês deste serviço? _______________ 2. Existe capina das vias públicas? ____. Com que frequência? _______ Qual é o nº de pessoas envolvidas no serviço? ______. Qual é o custo/mês deste serviço? _______________ 3. Existe limpeza de bueiros? _____. Com que frequência? _______ Qual é o nº de pessoas envolvidas no serviço? ______. Qual é o custo/mês deste serviço? _______________ 4. Existe limpeza de praias? _____. Com que frequência? _______ Qual é o nº de pessoas envolvidas no serviço? ______. Qual é o custo/mês deste serviço? _______________ 5.Qual o custo total/mês destes serviços (varrição, capina, bueiros, praias)? DESTINO E QUANTIDADE DO LIXO COLETADO 1. Onde se dá a destinação final do lixo municipal? (usar mapa do município para localizar esta(s) área(s)). __________________________________ 2. Como é feito o controle da quantidade de lixo a ser destinado? Pesado em balança? ______________ outro? __________ Qual ? ______________ 3.Assinale abaixo onde é feita a destinação? Vazadouro a céu aberto _____ Quantos? ____________________ Vazadouro em áreas alagadas ___. Quantos? ________________ Aterro controlado ______. Quantos? ______________________ Queima? ________.Quantos?____________________________ 182 Despejo em local não convencional_____. Quantos? __________ Outros ______. Quantos?____________. Total ____________________________ 4. Quem é (são) o(s) proprietários da(s) área(s) utilizada(s) para a disposição final dos resíduos? Prefeitura ___ Entidade prestadora do serviço ____ Particular ____ Outro ______ Qual o custo destas áreas para a Prefeitura? _______/mês. 5. Onde fica(m) o(s) local(ais) da destinação do lixo? Dentro do perímetro urbano: próximo a residências ____ próximo a áreas de proteção ambiental ___ Outras áreas______ Fora do perímetro urbano: próximo a residências ____ próximo a áreas com atividade agrícola/ pecuária _____ Próximo a áreas de proteção ambiental ___ outras áreas ____ 6. Quanto a Prefeitura gasta com serviços de destinação final do lixo (excluindo os serviços de limpeza pública e/ou coleta e transporte)? _________________/mês (incluir todos os custos, como mão-de-obra, manutenção, operação, energia, combustíveis, etc.). 7. Qual a situação do município em relação a: a) Novos locais para a destinação do lixo? b) Recuperação de áreas contaminadas por lixões? c) Programas de Educação e Conscientização Ambiental? d) Ações regionais (programas com municípios vizinhos)? ENTULHO 1. Existe coleta de entulhos e de bens móveis inservíveis? Sim ___ Não ____ 2. Qual a quantidade coletada? _____________t/mês. 3. Deste total, quanto é coletado pela Prefeitura? _____________ t/mês. Quanto é coletado por Empresas Privadas? _____________ t/mês. 4. Qual o destino do entulho? Mesmo local usado pela Prefeitura para o lixo municipal ____ Estação de reciclagem ____ Outro ______________ 5. Existe fiscalização por parte da Prefeitura sobre o entulho coletado por Empresas Privadas? Sim___ Não ____ COLETA E DESTINO FINAL DOS SERVIÇOS DE SAÚDE 1. A Prefeitura coleta o lixo proveniente dos serviços de saúde? Sim ___ Não ___ 2. Em caso positivo, em que tipo de veículo? Em veículo destinado a coletar exclusivamente lixo das unidades de saúde e hospitalares____. Em veículo destinado a coletar lixo comum ____ Outro ___. Qual? _________________________ 3. Como é feito o tratamento do lixo nas unidades de saúde? Microondas _____ forno ____ Autoclave ____ Incinerador ___ Queima a céu aberto ___ Outra ____. Qual ? ____________________ Não existe tratamento ____ 4. Como é feita a destinação deste tipo de lixo? Para o mesmo local dos demais tipos de lixo? Vazadouro ____. Aterro ____. Ou para aterro de resíduos especiais: próprio _____. De terceiros ____. Outra destinação ______. Qual é o custo de todo este serviço para a Prefeitura? ______________/mês. (conhecer o custo de cada etapa: coleta/transporte/tratamento/destino final). 183 INFORMAÇÕES SOBRE CATADORES DE LIXO 1. A Prefeitura tem conhecimento sobre a presença de catadores na(s) unidade(s) de destino final do lixo? Sim ___. Total: ____ Até 14 anos ____. Maior de 14 anos ____. Não ___. 2. Existe algum trabalho social desenvolvido com os catadores? Não ___ Sim ___. Qual? Cadastro em unidades de destino final e encaminhamento a postos de trabalho _____ Encaminhamento a programas de coleta seletiva em postos de trabalho e renda ____. Organização social de catadores (cooperativas, associações, etc. ) _____ Outros ____ Qual? ___________________________________________ 3. Os catadores são ligados a cooperativas ou associações? Sim ____. Não ____ 4. Existem residências sobre os lixões? Sim____. Não _____. 5. Qual o número estimado de pessoas que residem sobre os lixões? Até 14 anos _____. Maior de 14 anos ____. Total ___ COLETA SELETIVA NO MUNICÍPIO 1. Existe coleta seletiva no município? Sim ___ Não ____ 2. Existe projeto para Implantação de coleta seletiva? Em planejamento ___. Suspenso ___. Não existe projeto ____ 3. De quem é a iniciativa do projeto e/ou Implantação da coleta seletiva ? Prefeitura ____. ONG ____. Associações (bairros, condomínios, etc.) ____. Iniciativa privada ____ 4. Se for da Prefeitura, quantas pessoas trabalham neste serviço? 5. Número estimado de residências cobertas pela coleta seletiva ______. 6.Número estimado de pessoas residentes cobertas pela coleta seletiva _____. 7. Quantidade estimada de material reciclável coletado ___________ t/dia. 8. Quais os materiais recuperados na coleta seletiva? Papel ___ plásticos ____ vidros ____ metais (não-ferrosos e ferrosos) ____ outros ____. 9. Existe campanha de esclarecimento/conscientização na coleta seletiva? Ligia Maria Santos de Oliveira Orientador: Prof. Dr. José Daltro Filho 184 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE / NESA GESTÃO INTEGRADA REGIONAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: UMA ALTERNATIVA PARA OS MUNICÍPIOS DE TELHA E CEDRO DE SÃO JOÃO, BAIXO SÃO FRANCISCO SERGIPANO. Modelo do Questionário 03 – Sociedade Civil A ser preenchido com informações sobre a situação atual dos resíduos na cidade, pela sociedade civil organizada 1. Identificação: Entidade/organização:______________________________________ Endereço: ________________________________________________ Cidade: _________ Objetivo: _________________________________________________ 2. A organização desenvolve alguma ação com respeito a limpeza pública? ( ) sim ( ) não - Se sim, qual o tipo de ação desenvolvida? ( ) reivindicação junto às autoridades ( ) denúncia nos meios de comunicação ( ) campanha de esclarecimento público ( ) ação concreta,qual? _____________________________________________________ ( ) outro 3. Como a entidade avalia o sistema de coleta de lixo municipal? ( ) boa ( ) ótima ( ) ruim ( ) outros ( ) não sabe 4. A entidade tem conhecimento dos problemas que a disposição incorreta do lixo provoca? ( ) sim ( ) não Se sim, quais os problemas mais freqüentes? ( ) poluição do ar ( ) saúde ( ) proliferação de insetos e roedores ( ) poluição da água ( ) outros, qual? ___________________________________________________________ 5. Quais as doenças mais comuns apresentadas pela população? _________________________________________________________________________ 6. Estas doenças tem alguma relação com o lixo mal disposto? ( ) sim ( ) não ( ) não sabe 185 7. ( ( ( ( ( De que forma esta entidade pode colaborar para melhorar o sistema de limpeza pública? ) ação junto aos órgãos públicos e privados ) campanhas educativas ) ação concreta ) denúncia nos meios de comunicação ) outros, qual? _________________________________________________________ 8. A entidade tem percebido na população motivação para resolver o problema do lixo? ( ) sim ( ) não ( ) eventualmente Se sim, como ela tem manifestado essa motivação? ( ) participação em ações coletivas visando a solução do problema do lixo ( ) na melhor disposição do lixo ( ) denúncias de má disposição do lixo na cidade ( ) outros, qual? _______________________________________________ Ligia Maria Santos de Oliveira Orientador: Prof. Dr. José Daltro Filho 186 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE / NESA GESTÃO INTEGRADA REGIONAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: UMA ALTERNATIVA PARA OS MUNICÍPIOS DE TELHA E CEDRO DE SÃO JOÃO, BAIXO SÃO FRANCISCO SERGIPANO. Modelo do Questionário 04 – Setor de Saúde Instituição: Data: / / Endereço: Cidade: Entrevistado (cargo/função): 1. Quais as doenças relacionadas com o lixo, que mais afetam a população? 2. Qual a quantidade e a área de infestação das principais doenças? 3. Que doenças apresentam maiores casos de internações? 4. Quais os insetos e animais nocivos mais comuns na cidade? 5. Qual é o destino final do lixo gerado na(s) unidade(s) de saúde sob a responsabilidade desta instituição? Ligia Maria Santos de Oliveira Orientador: Prof. Dr. José Daltro Filho 187 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE / NESA GESTÃO INTEGRADA REGIONAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: UMA ALTERNATIVA PARA OS MUNICÍPIOS DE TELHA E CEDRO DE SÃO JOÃO, BAIXO SÃO FRANCISCO SERGIPANO. Roteiro da Entrevista aos Prefeitos sobre Gestão de Resíduos Sólidos PERGUNTAS 1. A Prefeitura tem conhecimento das responsabilidades quanto ao lixo, no âmbito municipal, estadual e federal, em sua cidade. 2. Quais os documentos necessários para a aprovação por parte da Secretaria estadual do Meio Ambiente, de um local onde será feito o aterro sanitário ou tempo em média será necessário para ser aprovado pelo órgão estadual? 3. Qual a situação do município em relação a novos locais para a destinação do lixo de forma adequada? 4. Em relação à recuperação de áreas contaminadas por lixões, como elas serão feitas? 5. O município pretende realizar Programas de Educação e Conscientização Ambiental? 6. Existem ações regiões, no sentido de realizar Programas com municípios vizinhos? 7. Existe a possibilidade de realizar consórcios e/ou parcerias no tocante à disposição final do lixo, como um aterro sanitário? 8. Já existe algum estudo de áreas para a instalação de um aterro sanitário de forma isolada ou em parceria? Ligia Maria Santos de Oliveira Orientador: Prof. Dr. José Daltro Filho 188 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE / NESA GESTÃO INTEGRADA REGIONAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: UMA ALTERNATIVA PARA OS MUNICÍPIOS DE TELHA E CEDRO DE SÃO JOÃO, BAIXO SÃO FRANCISCO SERGIPANO. ANEXO B - Mensagem Final do Diagnóstico Participativo “CIDADE LIMPA, CIDADE SAUDÁVEL” Ligia Maria Santos de Oliveira Orientador: Prof. Dr. José Daltro Filho A cidade é a extensão da nossa casa, e para se ter uma vida saudável é necessário mantê-la limpa. Para tanto, é preciso gerar menos lixo e evitar o desperdício. Para gerar menos lixo é necessário mudar nosso estilo de vida adotando novos padrões de produção e consumo e, sobretudo tratar os resíduos de maneira inteligente e adequada, de acordo com três princípios básicos: reduzir, reutilizar e reciclar. Reduzir é diminuir a geração de lixo, o que implica em atitudes simples, tais como evitar o desperdício, reduzir o próprio consumo e o excesso de descartáveis. Reutilizar é outra medida importante que pode ser feita através de embalagens, roupas, móveis que podem ser reaproveitados, como também, pneus que viram brinquedos ou baldes e restos de panos que se transformam em tapetes, etc. Reciclar significa separar, coletar e reintroduzir o lixo no processo industrial ou artesanal, utilizando-o como matéria-prima. Pois, grande parte do lixo doméstico é reciclável a partir de tecnologias já disponíveis. Você também é responsável pela sua cidade, mantenha suas ruas limpas. Não jogue lixo na rua, na beira do rio nem em terrenos baldios. Reduza a produção de lixo, reutilize se possível, ou recicle, separando papéis, plásticos, restos de comida, alumínio, vidros, etc. Exerça seu poder de cidadania! Não jogue este papel no chão, nem no lixo, passe-o adiante! 189 ANEXO C - TABELAS DOS RESULTADOS DOS QUESTIONÁRIOS DOMICÍLIOS URBANOS Tabela 15 – Escolaridade dos moradores pesquisados em Cedro de São e Telha. CEDRO DE SÃO JOÃO – No de Domicílios Aplicados = 94 TELHA - No de Domicílios Aplicados = 74 Escolaridade RESPOSTAS Fundamental completo Fundamental incompleto Médio completo Médio incompleto Superior Superior incompleto Nenhuma TOTAL Escolaridade No de Respostas Porcentagem (%) No de Respostas Porcentagem (%) 9 36 19 12 2 1 15 94 10 38 20 13 2 1 16 100% 13 35 11 5 0 1 9 74 18 47 15 7 0 1 12 100% Tabela 16 – Ocupação do chefe da família em Cedro de São e Telha. CEDRO DE SÃO JOÃO - No de Domicílios Aplicados = 94 RESPOSTAS Agrícola Artesanato Machante Comerciante Aposentado Pescador Desempregado Pedreiro Vigilante Professor Pensionista Costureira Outros TOTAL Ocupação do chefe da família No de Respostas Porcentagem (%) 12 6 6 11 18 2 2 5 2 3 3 2 22 94 13 6 6 12 20 2 2 5 2 3 3 2 24 100% TELHA - No de Domicílios Aplicados = 74 RESPOSTAS Agricultor Pecuarista Artesanato Vigilante Funcionário público Comerciante Aposentado Pescador Motorista Operário Vereador Desempregado Outros TOTAL Ocupação do chefe da família No de Respostas 21 2 3 3 5 3 11 4 3 4 2 3 10 74 Porcentagem (%) 28 3 4 4 7 4 15 5 4 5 3 4 14 100% 190 Tabela 17 – Renda mensal da família em Cedro de São e Telha. CEDRO DE SÃO JOÃO – No de Domicílios Aplicados = 94 TELHA - No de Domicílios Aplicados = 74 Renda mensal da família RESPOSTAS < 1 salário mínimo 1 salário mínimo 2 – 4 salários mínimos > 4 salários mínimos Não tem renda Não sabe TOTAL o Renda mensal da família o N de Respostas Porcentagem (%) N de Respostas Porcentagem (%) 20 37 29 1 1 6 94 21 40 31 1 1 6 100% 19 32 16 2 3 2 74 26 42 22 3 4 3 100% Tabela 18 – Número de pessoas da família em Cedro de São e Telha. CEDRO DE SÃO JOÃO – No de Domicílios Aplicados = 94 RESPOSTAS 1 pessoa 2 pessoas 3 pessoas 4-6 pessoas > 6 pessoas TOTAL Número de pessoas da família No de Respostas Porcentagem (%) 5 15 21 45 8 94 5 16 22 48 9 100% TELHA - No de Domicílios Aplicados = 74 Número de pessoas da família No de Respostas Porcentagem (%) 6 9 21 33 5 74 8 12 28 45 7 100% Tabela 19 – Número de pessoas da família que trabalham em Cedro de São e Telha. CEDRO DE SÃO JOÃO – No de Domicílios Aplicados = 94 RESPOSTAS Nenhum 1 pessoa 2 pessoas 3 pessoas 4-6 pessoas > 6 pessoas TOTAL Quantos trabalham? No de Respostas Porcentagem (%) 3 54 23 9 4 1 94 3 58 24 10 4 1 100% TELHA - No de Domicílios Aplicados = 74 Quantos trabalham? No de Respostas Porcentagem (%) 3 35 25 7 2 2 74 4 47 34 9 3 3 100% 191 Tabela 20 – Satisfação com a limpeza urbana em Cedro de São e Telha. CEDRO DE SÃO JOÃO – No de Domicílios Aplicados = 94 Satisfeito com a limpeza urbana? No de Respostas Porcentagem (%) RESPOSTAS Sim Não 54 40 94 TOTAL 57 43 100% TELHA - No de Domicílios Aplicados = 74 Satisfeito com a limpeza urbana? No de Respostas Porcentagem (%) 63 11 74 85 15 3% Tabela 21 – Melhoria da coleta em Cedro de São e Telha. CEDRO DE SÃO JOÃO – No de Domicílios Aplicados = 94 Se não, o que pode melhorar? No de Respostas Porcentagem (%) RESPOSTAS > freqüência na coleta Coletas em locais mais adequados Campanhas educativas Reciclagem Coleta seletiva Outros (melhorar varrição e a limpeza da cidade) Não sabe TOTAL TELHA - No de Domicílios Aplicados = 74 Se não, o que pode melhorar? No de Respostas Porcentagem (%) 14 17 22 9 3 11 18 22 29 12 4 15 2 2 3 1 1 4 14 14 21 7 7 29 0 94 100% 1 14 7 100% Tabela 22 – Qualidade da coleta em Cedro de São João e Telha CEDRO DE SÃO JOÃO – No de Domicílios Aplicados = 94 RESPOSTAS Boa Ótima Está melhor Ruim Outros TOTAL A coleta da sua rua é: No de Respostas Porcentagem (%) 49 3 26 9 7 94 52 3 28 10 7 100% TELHA - No de Domicílios Aplicados = 74 A coleta da sua rua é: No de Respostas Porcentagem (%) 27 5 37 2 3 74 36 7 50 3 4 100% 192 Tabela 23 – Destino do lixo em Cedro de São e Telha. RESPOSTAS Caixa coletora Terreno baldio No rio Queima Enterra Lixão de Própria Não sabe TOTAL CEDRO DE SÃO JOÃO – No de Domicílios Aplicados = 94 Destino do lixo No de Respostas Porcentagem (%) 53 56 10 11 0 0 2 2 1 1 11 12 17 18 94 100% RESPOSTAS Diária (exceto sexta) 2 vezes/semana 3 vezes/semana Não tem coleta Outros TOTAL CEDRO DE SÃO JOÃO – No de Domicílios Aplicados = 94 Freqüência da coleta No de Respostas Porcentagem (%) 59 63 4 4 10 11 1 1 20 21 94 100% RESPOSTAS 7 – 9 horas 9 – 11 horas 11 – 13 horas Manhã À tarde Não sabe TOTAL CEDRO DE SÃO JOÃO – No de Domicílios Aplicados = 94 Horário da coleta No de Respostas Porcentagem (%) 24 26 26 28 3 3 40 42 0 0 1 1 94 100% TELHA - No de Domicílios Aplicados = 74 Destino do lixo No de Respostas Porcentagem (%) 47 64 25 34 0 0 1 1 0 0 0 0 1 1 74 100% Tabela 24 – Freqüência da coleta em Cedro de São e Telha. TELHA - No de Domicílios Aplicados = 74 Freqüência da coleta No de Respostas Porcentagem (%) 23 31 8 11 38 51 0 0 5 7 74 100% Tabela 25 – Horário da coleta em Cedro de São e Telha. TELHA - No de Domicílios Aplicados = 74 Horário da coleta No de Respostas Porcentagem (%) 1 1 8 11 0 0 45 61 11 15 9 12 74 100% 193 Tabela 26 – Quantidade de lixo produzido em Cedro de São e Telha. RESPOSTAS < 20 litros 1 saco de 25 litros/dia 1 saco de 50 litros/dia 1 saco de 100 litros/dia Não sabe TOTAL CEDRO DE SÃO JOÃO – No de Domicílios Aplicados = 94 Quantidade de lixo produzido No de Respostas Porcentagem (%) 30 32 28 30 26 28 6 6 4 4 94 100% TELHA - No de Domicílios Aplicados = 74 Quantidade de lixo produzido No de Respostas Porcentagem (%) 12 16 18 24 30 41 14 19 74 100% Tabela 27 – Os males que o lixo provoca em Cedro de São e Telha. RESPOSTAS Doenças Não provoca males Poluição do ar, solo e água Prejuízos na agricultura Outros Não sabe TOTAL CEDRO DE SÃO JOÃO – No de Domicílios Aplicados = 94 Que males o lixo provoca? No de Respostas Porcentagem (%) 88 59 3 2 30 20 18 12 11 7 0 0 150 100% TELHA - No de Domicílios Aplicados = 74 Que males o lixo provoca? No de Respostas Porcentagem (%) 69 53 0 0 35 27 14 11 9 7 3 2 130 100% Tabela 28 – Acondicionamento do lixo nos domicílios de Cedro de São João e Telha RESPOSTAS Saco plástico Vasilhame de pneu Balde plástico Saco plástico + balde Outros TOTAL CEDRO DE SÃO JOÃO – No de Domicílios Aplicados = 94 TELHA - No de Domicílios Aplicados = 74 Acondicionamento do lixo nos domicílios em Telha No de Respostas Porcentagem (%) Acondicionamento do lixo nos domicílios em Telha No de Respostas Porcentagem (%) 41 10 20 21 2 94 44 11 21 22 2 100% 55 1 7 4 7 74 75 1 9 5 9 100% 194 Tabela 29 – Aproveitamento de material em Cedro de São João e Telha CEDRO DE SÃO JOÃO – No de Domicílios Aplicados = 94 RESPOSTAS Sim Não TOTAL Aproveita algum material? No de Respostas Porcentagem (%) 38 56 94 40 60 100% TELHA - No de Domicílios Aplicados = 74 Aproveita algum material? No de Respostas Porcentagem (%) 33 41 74 45 55 100% Tabela 30 – Tipo de material aproveitado em Cedro de São João e Telha CEDRO DE SÃO JOÃO – No de Domicílios Aplicados = 94 RESPOSTAS Papel Plástico Vidro Metal Outros TOTAL Aproveita algum material? No de Respostas Porcentagem (%) 2 37 8 4 1 94 4 71 15 8 2 100% TELHA - No de Domicílios Aplicados = 74 Aproveita algum material? No de Respostas Porcentagem (%) 1 21 4 4 3 33 3 63 12 12 10 100% Tabela 31 – Formas de aproveitamento do material em Cedro de São João e Telha CEDRO DE SÃO JOÃO – No de Domicílios Aplicados = 94 RESPOSTAS Usa Transforma Vende Outros TOTAL Forma de aproveitamento do material No de Respostas Porcentagem (%) 30 2 2 10 94 5 5 67 23 100% TELHA - No de Domicílios Aplicados = 74 Forma de aproveitamento do material No de Respostas Porcentagem (%) 17 1 10 5 33 52 3 30 15 100% 195 Tabela 32 – Motivação de aproveitamento do material em Cedro de São João e Telha CEDRO DE SÃO JOÃO - No de Domicílios Aplicados = 94 TELHA - No de Domicílios Aplicados = 74 Motivação de aproveitamento do material Motivação de aproveitamento do material RESPOSTAS Jornal Campanhas de esclarecimento Pessoas TV Outros Não sabe TOTAL No de Respostas 0 0 Porcentagem (%) 0 0 13 2 11 0 - 50 8 42 0 - 26 100 RESPOSTAS Jornal Campanhas de esclarecimento Pessoas TV Motivo econômico Instituições Outros (como iniciativa própria) Não sabe TOTAL No de Respostas 0 0 Porcentagem (%) 3 3 6 0 19 9 9 18 2 33 6 100 58 Tabela 33 – Sugestões dos Moradores em Cedro de São João e Telha RESPOSTAS CEDRO DE SÃO JOÃO - No de Domicílios Aplicados = 94 Sugestões No de Respostas Porcentagem (%) Coleta seletiva Campanhas educativas Mais coletores (caixas) nas ruas Mais varrição (melhorar) Melhorar a coleta 1 13 9 13 9 - Aterro sanitário Nenhuma Reciclagem Aumentar o no de funcionários Mais carros para transportar lixo Mais dias de coleta TOTAL 3 47 8 1 1 2 107 - TELHA - No de Domicílios Aplicados = 74 Sugestões RESPOSTAS Retirar lixeira (lixão do cemitério) Campanhas educativas Mais coletores nas ruas Mais varrição Melhorar o destino final (fazer aterro sanitário) Manter coleta e varrição Utilizar transporte adequado para coleta Nenhuma Manter a limpeza TOTAL No de Respostas Porcentagem (%) 36 5 1 2 2 - 3 1 28 8 86 - 196 ANEXO D - INCIDÊNCIA DE DOENÇAS EM TELHA E CEDRO DE SÃO JOÃO DOENÇAS No DE CASOS Tuberculose 04 Doenças sexualmente transmissíveis 01 Tricomoníase 06 Atendimento Anti-rábico 01 Dengue 07 Esquistossomose 11 Outras afecções inflamatórias 01 Sífilis em Adultos 04 Doenças Exantemáticas 02 Hepatite viral 02 TOTAL 39 Quadro 8 – Incidência de doenças em Telha (ABR/2001 – ABR/2002) Fonte: Secretaria Municipal de Saúde – Telha, 2003. % 10,26 2,56 15,38 2,56 17,95 28,20 2,56 10,26 5,13 5,13 100 DOENÇAS No DE CASOS Tuberculose 04 Síndrome do Corrimento 1 Doenças Exantomáticas 2 Dengue 15 Sífilis em adultos 01 Hepatite viral 01 Meningite 03 Atendimento anti-rábico 01 Hanseníase 01 Outras afecções inflamatórias 18 Tuberculose 04 Doenças Sexualmente Transmissíveis 01 Leishimaniose 01 Trocomaníase 01 Outras doenças inflamatórias pévicas 01 TOTAL 55 Quadro 9 – Incidência de doenças em Cedro de São João (ABR/2001 a ABR/2002) Fonte: Secretaria Municipal de Saúde – Cedro de São João, 2003. % 7,27 1,82 2,64 27,27 1,82 1,82 5,45 1,82 1,82 32,72 7,27 1,82 1,82 1,82 1,82 100 197 ANEXO E – COMPOSIÇÃO GRAVIMÉTRICA DO LIXO Tabela 34 - Composição gravimétrica dos resíduos sólidos de Telha e Cedro de São João CEDRO DE SÃO JOÃO TELHA Estação chuvosa Estação seca Composição Média do Quantidade (kg) Quantidade (kg) Quantidade % (kg) Estação Chuvosa Estação Seca Quantidade (kg) Quantidade (kg) % % Composição Média do Lixo COMPONENTES Lixo % Quantidade (kg) % Matéria orgânica putrescível 36,5 30,47 33,48 27,79 14,57 7,96 11,27 17,60 Plástico 20,61 8,70 14,65 12,16 9,88 4,82 7,35 11,50 Papel/Papelão 14,63 7,38 11,00 9,13 9,97 2,85 6,41 10,01 Vidro 2,40 0,42 1,41 1,17 2,44 0,32 1,38 2,15 Metal ferroso - 1,01 0,60 0,49 1,98 - 0,99 1,55 Metal não ferroso 3,07 - 1,53 1,17 - 1,02 0,51 0,80 Madeira - 0,71 0,35 0,29 0,40 0,20 0,30 0,47 Panos, trapos, couro e 7,22 0,95 4,08 3,38 8,45 3,18 5,82 9,09 Contaminante biológico 3,52 3,97 3,74 3,10 3,80 6,02 4,91 7,67 Contaminante químico - - - - 012 - 0,06 0,09 Pedra, terra, cisco, cerâmica e 55,07 25,48 40,27 33,42 19,2 15,03 17,11 26,72 8,43 10,31 9,37 7,77 6,12 9,73 7,93 12,40 borracha outros (diversos) Coco + casco de coco TOTAL Fonte: Trabalho de campo, 2003. 120,48 64,04