7
Narrativa do Caso Eliza Samúdio
7.1
Conceito de Narrativa
Narrar, conforme o léxico195, tem a sua origem no latim, significando
conhecer, transmitir informações. Entramos em contato com ela desde o momento
em que começamos a compreender a fala. É um instrumento de recepção e
transmissão de ensinamentos entre indivíduos. A todo momento, utilizamos da
narrativa para contar experiências vividas ou algo que chegou a nosso
conhecimento.
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O seu estudo surgiu no século XX, a partir da teoria semiótica da
narrativa. Um dos maiores nomes nesse estudo é o Roland Barthes, que diz que:
(...) a narrativa está presente em todos os tempos, em todos os lugares, em todas
as sociedades; a narrativa começa com a própria história da humanidade. (...) é
fruto do gênio do narrador ou possui em comum com outras narrativas uma
estrutura acessível à análise.196
A narrativa é um instrumento multidisciplinar de estudo e utilização, sendo
aberta a diversas metodologias. Possui infinidade com outras áreas como, história,
sociologia, psicologia, religião, comunicação, direito, estudos de mídia entre
muitos outros. Ela é tida por Benjamim197 como histórias contadas por um
narrador, e que podem consistir em ensinamentos morais ou instruções práticas.
Tendo em vista que o verdadeiro narrador não tem o fim prático de contar as
histórias, mas de aconselhar seus ouvintes. Dessa feita, as experiências de um
homem e também a troca dessas com outros sujeitos são necessárias para a
elaboração de uma narrativa.
Porém, com o passar dos anos, os sujeitos passaram a deixar de trocar
essas experiências. Com o início da utilização de romances, livros impressos, não
mais houve a coleta de informações de um sujeito para o outro, mas de um único
195
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. 1999, p.1392.
(2008, p.19-20)
197
(Benjamin, 1993, p.28)
196
109
indivíduo solitário para uma massa, sem direito à interlocução198. Esse foi o
primeiro sintoma de decadência da narrativa.
Entretanto, a principal culpada pelo declínio da narrativa foi a informação.
Após a ascensão do capitalismo, a burguesia passou a se valer da informação
como instrumento de manutenção do seu domínio.
Existe grande diferença entre a narrativa e a informação. Esta tem cunho
explicativo, pois deve ser compreensível per si, aquela não carece de explicações,
são somente histórias, cujo receptor tem a discricionariedade de interpretá-la ao
seu bel-prazer. Também, a informação apenas é válida quando atual, e nesse
momento é que deve ser esclarecida. Já a narrativa é flexível ao tempo, pode ser
explorada muito tempo depois da sua edição. Sendo assim, a narrativa se encontra
em todos os lugares onde houver homens, todas as sociedades, todos os povos,
todas as classes, todas as culturas, mesmo que de maneira oposta199.
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Na análise do que seria o discurso, Roland Barthes200 utilizou a linguística
para traçar os elementos que o compõe, demonstrando que não é somente uma
sucessão de frases como o discurso, mas um “sistema conotativo trifásico”,
semelhante à mitologia.
Outro autor conceituado, postulador da narrativa, é o Todorov, que destaca
nela dois aspectos fundamentais, alegando ser ao mesmo tempo uma história e um
discurso201. Aquela porque traduz uma realidade, fatos que seriam reais e
personagens que se assemelham com os da vida real; esta porque existe um
narrador que conta histórias e um receptor, ao passo que o que é levado em conta
é o modo como a história é contada.
Ao analisar uma obra literária202, Todorov percebe a existência de
sucessivas ações que seguem uma lógica, “A aparição de um projeto provoca a
aparição de um obstáculo, o perigo provoca uma resistência ou uma fuga etc”.
Resume essas ações em três predicados base: desejo, comunicação e participação.
O desejo ligar-se-ia ao amor, a comunicação quando da troca de confidências e a
participação no auxílio. Outras relações seriam desencadeamento desses três
predicados base, mas ainda seguem duas regras de derivação: a regra de oposição
198
Idem (p.32).
(Benjamin, 1993, p. 34-35).
200
(2008, p. 23)
201
(2008, p. 220-221).
202
Les Liaisons Dangereuses. (2008, p. 219)
199
110
e a regra do passivo. No que concerne à regra de oposição, diz que todos os
predicados possuem um oposto. Já a regra do polo passivo diz respeito a alteração
da voz ativa para a passiva.
O mesmo autor ainda distinguiu três grupos com relação à narrativa como
discurso: o tempo da narrativa (a relação entre tempo, história e discurso),
aspectos da narrativa (a forma como a história foi percebida pelo narrador) e os
modos de narrativa (o tipo de discurso usado pelo narrador)203.
O tempo da narrativa se faz para torná-la inteligível, seguindo uma ordem
cronológica.
Nos aspectos da narrativa, o autor estabelece três elementos principais: o
narrador é maior que o personagem, quando ele sabe mais que o personagem, não
se preocupa em explicar como conseguiu esses conhecimentos, e sabe todos os
seus segredos; o narrador é igual ao personagem, quando ele sabe tanto quanto o
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personagem, não explica os acontecimentos antes de o personagem encontrar; e o
narrador é menor que o personagem, quando ele sabe menos que o personagem,
descreve o que pode ser absorvido por seus sentidos, mas nada pode dizer sobre
os sentimentos internos dele204.
Os modos da narrativa, a maneira como o narrador utiliza para apresentála, são elencadas em dois modos: o aspecto subjetivo da narrativa (o próprio
narrador mostra os acontecimentos) e o aspecto objetivo (o narrador deixa os
acontecimentos falarem por si)205.
Assim, a narrativa é um pressuposto da existência da história, por ser uma
forma de tornar acontecimentos mais compreensíveis, pois conta o que aconteceu
e por que aconteceu. Ademais, a história de um homem rege a sua vida presente,
sendo assim, a narrativa desencadeia uma série de eventos, relacionando-se com o
sentido moral.
203
(2008, p. 218-264).
Idem.
205
Idem.
204
111
7.2
Narrativa Midiática
Para vislumbrar as notícias midiáticas como narrativas, é necessário que se
tenha em mente a estória contínua da atividade humana, ou mesmo as estórias
individuais que desembocam nessa estória contínua. Isso não quer dizer que o fato
noticiado não corresponde com a realidade, mas que não somente cumpre o seu
papel de informar e explicar, podendo atuar como mito ou folclore206.
Jules Gritti207, de forma mais explícita diz:
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(...) o “repórter”, expedindo no dia a dia seus artigos em sua mesa de redação,
acaso se reconhecerá em uma análise de impulsos dramáticos, de sequências, de
funções ativas e expressivas etc.? O mesmo é pedir a um homem da rua que fala
o “neofrancês” que se enquadre na gramática que se venha a formar desse
idioma!
Nessas notícias como mitos, o que se leva em consideração não mais é a
realidade dos fatos, mas as conclusões tiradas de um conjunto de tradições e
crenças, provocando inclusive emoções e acarretando significados. A narrativa
torna-se aí mitológica, com seus códigos e símbolos que são de pronto
reconhecidos pelo seu público208.
“No instante em que o acontecimento é apresentado, o vivido transmuta-se
em representado, o dado circunstancial é apreendido segundo as ‘categorias’ da
narrativa”209. O jornalismo pode ser visto como informativo ou de narração. No
informativo a notícia corresponde completamente à realidade e utiliza-se dos
recursos da narrativa, para que sejam passadas ao público. Na narrativa
propriamente dita, a notícia chega como uma estória, para que seja mais
inteligível, muitas vezes rompendo vínculo com a objetividade.
Assim, fica difícil ao público discernir uma da outra. A diferença é muito
tênue, eis que uma é de pior compreensão, somente registros da realidade, porém
mais fidedigna; já a outra é de melhor compreensão, mais fantasiosa e mítica,
provocando maior emoção entre os receptores.
206
(Bird e Dardenne, 1993, p. 267)
(2008, p. 171).
208
(Bird e Dardenne, 1993, p.267)
209
(Gritti, 2008, p.171)
207
112
O discurso midiático é aceito não porque dista da objetividade, mas por o
público alvo se identificar, e para tanto utilizam-se da narrativa. Os jornalistas
interpretam o mundo dos fatos de modo a não parecerem longe do objetivo e real.
Assim, utilizam-se de regras gráficas, formas de escolha de palavras, uso
de opiniões, debates, armas para que torne a notícia legível, não havendo muita
paridade com a verdade do mundo real.
Adentrando-se ainda mais, sobre a regra do lead210, composto por seis
perguntas básicas, sejam, quem, que, quando, onde, como, e por que, que é
utilizada como regra padrão hoje em dia de resumir e reunir os elementos mais
atrativos de uma notícia. As quatro primeiras perguntas são respondidas de forma
rápida e fácil pelas informações prontamente colhidas, mas as duas últimas
possuem elementos subjetivos, abstratos e derivam de um estudo minucioso de
mais informações sobre o fato, e aí causa a problemática, as interpretações. Nela,
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os jornalistas não se importam somente com a verdade, mas com uma estória
coerente e na necessidade de satisfazer o leitor/telespectador sedentos de
explicação. Ou ainda trazem estórias sem nenhuma explicação, partindo do
pressuposto de que o incomum e inesperado é o que sacia os receptores, trazendo
apenas as informações básicas da notícia, alegando inclusive não haver
explicações e por isso ser incomum.
Assim, as notícias, antes de ter uma lealdade com o real, traduzem em
regras e truques profissionais, tornando-se uma ficção.
7.3
Narrativa Midiática e Moralidade
Ponto importante, quando em narrativas jornalísticas, é como os jornalistas
se empossam como contadores da história, dando a si a autoridade para interpretar
o real, dando contornos morais.
Étienne Souriau e Greimas, apud Jules Gritti, estruturam a narrativa
segundo um eixo de desejo: “‘a força vetorial’(sujeito) é orientada em direção do
‘Bem’ ou do ‘valor’ (objeto) diz Souriau; Greimas retoma: o Sujeito deseja
Objeto, Sujeito→(desejo) Objeto.” O autor, Jules Gritti, ainda analisando a
210
(James Carey, 1987, p.21)
113
cobertura da mídia, quando da morte do Papa João XXIII, conclui: “(...) mas logo
o narrador tende a professar o desejo (e a esperança) de uma improvável cura, a
conduzir sua narrativa segundo esse eixo de desejo. A morte é esperada, a cura
‘desejada’.”211
Os jornalistas, ao produzirem os noticiários, acabam por interferir na
esfera pública, atuando como juízes do que é ou não importante para a sociedade.
Com essas produções, os jornalistas passam ao receptor uma visão da realidade,
modificando, ou formando, convicções até mesmo sobre assuntos bem próximos
dos cidadão. Assim, não são somente transmissores de notícias, mas intérpretes de
uma realidade.
Quando se fala em delitos, os noticiários não se contentam em passar
simplesmente uma realidade, mas emitem uma valoração do certo e do errado,
interpretando juntamente com valores sociais de morais, tornando-se assim a
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própria autoridade moral.
Não se pretende, neste trabalho, arguir sobre uma suposta manipulação
pela mídia, mas a demonstração de que, mesmo de forma involuntária, ela inclui
valores na exposição de certa matéria.
Alegando estar agindo de forma objetiva, os jornalistas se escondem atrás
do apelo à lei, à normalidade, à decência comum, aos costumes, às diretrizes
sociais. Assim a ordem moral torna-se um fato objetivo. Ademais, esses apelos
retiram os jornalistas de uma responsabilidade pela sua subjetivação212. E mesmo
com todos estes artifícios, eles não fogem da moralização, invocando,
principalmente, e de maneira rotineira, a decência e o senso comum (tendo em
vista serem conceitos muito abstratos). Tudo isso feito dentro de uma descrição
narrativa.
Assim, a narrativa para os jornalistas, agindo da forma exposta, torna-se
uma arma, eis que um fato real, mito ou valor que estiverem dentro dos
parâmetros da decência não necessitam de comprovação de veracidade.
Diante de tais considerações, passa-se à análise da narrativa midiática no
caso Eliza Samúdio.
211
212
(Gritti, 2008, p. 172-173).
(Ettema e Glasser, 1998, p.205).
114
7.4
Da Glória ao Cárcere
Para um melhor estudo da narrativa no caso Eliza Samúdio, analisa-se
passo a passo o envolvimento de Bruno na mídia. Primeiramente requer a análise
de como o “globo.com”, mais ainda o G1 trouxe a notícia do famoso e possível
assassinato, o início da narrativa desse delito. Já tratando as notícias como
informação, nessa fase os jornalistas utilizam da narrativa para expor a
complexidade dos fatos e registrar a realidade. Após, passemos à análise da
construção da personalidade de Bruno antes dos fatos e da narrativa do
julgamento judicial.
Necessária se faz a investigação da construção da narrativa desse fato
delituoso por qual se formou a trama. A possível morte de Eliza Samúdio foi
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surpreendente e ainda trazida à tona com requintes de crueldades inumanas. Dessa
forma analisa-se como o “globo.com” tratou esse fato, uma vez que foi visto
como monstruoso, inesperado, cruel e chocante. Talvez até inexplicável.
Demonstra-se também como toda a mídia, mas, em especial, o
“globo.com” passou a construir a personalidade de Bruno Fernandes das Dores de
Souza, sendo que o seu passado, ascensão profissional, vida afetiva e fama
passaram a ser a explicação para o dito “mandado” do possível crime. Também a
utilização da autoridade moral da mídia ao passar o evento. Utilizando-se da vida
pessoal do acusado, produziu-se a verdade e, por conseguinte, narrou-se o caso
Eliza Samúdio.
7.4.1
O Delito
A morte de Eliza Samúdio, pelas características peculiares, é um conto de
terror. Assim, os jornalistas “entraram em campo” para completar e tornar
inteligível uma notícia real: o desaparecimento e possível homicídio de uma
mulher e mãe a mando do pai do próprio filho, que era aclamado como capitão de
um dos maiores times de futebol brasileiro.
115
Assim, passemos à construção do caso, com seus personagens. Sendo que
se prima pelo papel que a mídia exerceu nessa ocasião. Retomam-se aqui alguns
elementos tratados no Capítulo 5, porém, sob outra perspectiva.
Eliza Samúdio teria desaparecido desde o dia 04 de junho de 2010, quando
em contato teria dito a amigos que estava preparando-se para mudar do Rio de
Janeiro para Belo Horizonte com o seu filho Bruno Samúdio de quatro meses de
idade, alegando ser a pedido de Bruno Fernandes. Até então, não se tinha
conhecimento acerca de seu paradeiro.
O fato não foi prontamente exposto pela mídia, apenas foi noticiado no dia
26 de junho do mesmo ano, após 22 dias do desaparecimento, pois a polícia de
Minas Gerais (até então competente para assumir tais investigações) somente
instaurou o procedimento investigatório em 24 de junho. O site da mesma Rede
Globo, qual seja o globoesporte.com exibiu uma chamada213 que possuía um
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cunho esportista: “'Caso Bruno' deixa dirigentes do Flamengo apreensivos”.
O programa da Rede Globo de Televisão, de grande visibilidade, seja ele
o Fantástico214, exibiu, no dia 27 de junho, reportagem cuja manchete era: “Exnamorada do goleiro Bruno desaparece em Minas”.
O Portal de Notícias G1, começou a noticiar o fato no mesmo dia 27,
dizendo que “Amigas relatam último contato com Eliza antes do seu desaparecimento: G1
conversou
com
uma
amiga
em
São
Paulo
e
outra
no
Rio.
A amiga de SP diz que falou pela última vez com Eliza no dia 7.”
Informações eram postadas a todo momento. Especulações sobre buscas
no sítio que Bruno possuía em Minas gerais, vestígios de sangue encontrado no
carro dele, possíveis visões de Eliza nesse sítio dias anteriores ao fato,
entrevistas do goleiro sobre paradeiro de Eliza, denúncias recebidas pelo disquedenúncia sobre o que teria acontecido, buscas infrutíferas do corpo de Eliza,
oitivas de pessoas ligadas a Bruno.
Até que em 06 de julho de 2010, uma espantosa e revoltosa manchete
veio à tona: “Primo de Bruno diz à polícia que Eliza está morta”, ainda às 19:16
horas, alegando-se que Eliza teria sido obrigada por ele (primo de Bruno, menor)
a sair do Rio de Janeiro para Belo Horizonte, sendo que no caminho teria ocorrido
uma discussão entre ela e eles, resultando em uma coronhada na cabeça dela, que
213
214
No sentido de título de uma matéria.
Programa dominical da Rede Globo de televisão.
116
teria desacordado e sido levada ao sítio de Bruno. Ainda às 20:10, publica-se a
notícia complementar: “Corpo de Eliza teria sido entregue a traficantes em MG”,
que alegava ainda que Eliza teria falecido após os ferimentos e seu corpo teria
sido entregue a um traficante para que ele “desovasse”215.
Posteriormente, a versão já havia mudado. No dia 07 de julho, a versão
trazida pela mídia era que Eliza teria sido estrangulada, desossada e os restos
mortais concretados, tudo a mando de Bruno Fernandes, pelo que foi decretada e
efetuada a sua prisão. Mais buscas teriam sido feitas no intuito de encontrar o
corpo de Eliza, porém mais uma vez infrutíferas.
No mesmo dia, mais uma vez a versão teria sido alterada para a mais
escabrosa das versões, nessa, Jorge (o primo menor de Bruno) aduziu estar
escondido no porta-malas do carro, quando levava Eliza do Rio de Janeiro para
Belo Horizonte. Tendo rendido Eliza com uma arma, após brigas físicas com ela,
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desferiu as coronhadas em sua cabeça, no que ela desfaleceu, foi levada ao sítio de
Bruno. No dia posterior, Bruno teria chegado ao sítio e perguntado o que estava
havendo, tendo inclusive pedido que Sérgio e Macarrão resolvessem o problema.
No dia seguinte, Eliza foi levada a uma casa, onde teve os braços amarrados com
uma corda e foi estrangulada por Bola, um ex-policial civil. Após, Bola teria
pedido para que todos deixassem o local. Após retornarem, Bola teria seguido em
direção a um canil, carregando um saco que alegou conter o cadáver esquartejado
de Eliza. Detalhou ainda, de forma sinistra, ter visto a mão de Eliza ser jogada
para cachorros.
Nesse dia, a mídia entoou o pedido de prisão de Bruno, de decretação, e
mais ainda quando da sua prisão. E a manchete era: “Bruno chega à delegacia em
meio a gritos de 'assassino'”. A partir desse momento, o País já tinha certeza do
envolvimento de Bruno, o capitão e goleiro do Flamengo, no suposto homicídio
de Eliza Samúdio.
Todos os passos dos responsáveis pelas investigações eram transmitidos à
mídia instantaneamente. Não havia fato mais transmitido, ou discutido por
qualquer que seja o meio de comunicação em massa. Houve uma mobilização
geral diante das notícias do suposto acontecido. A impressão que se tinha era que
o Brasil havia parado para acompanhar as investigações sobre a morte de uma
215
Expressão popular para ocultar o cadáver.
117
“amante” do goleiro do flamengo, fenômeno chamado de “suspensão de
tempo”216.
Após toda essa comoção social, o G1 não mais assumiu o seu
compromisso com a objetividade e imparcialidade e acabou por adotar um tom
trágico, repudiador e emocionante, completamente narrativo.
Explorou-se a ascensão do jogador de futebol, a família da vítima, traumas
que a vítima e Bruno teriam sofrido na infância, festas que o Bruno teria
frequentado, mulheres que ele tinha se relacionado, o que a fama teria ocasionado
a seu psicológico. Muito mais atraente e acessível à população do que o carrear
processual.
A brutalidade do suposto crime e a fama de Bruno Fernandes constituirão
o alicerce da narrativa, justamente por serem assuntos mais interessantes ao
público em geral. Dessa feita, o site, mais que informar, criou uma narrativa com
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os elementos mais atrativos ao público em geral, a narrativa de uma estória de
orgias sexuais, crueldade, futebol, morte e um mistério intrigante: onde estaria o
corpo de Eliza Samúdio?
As buscas continuaram, tendo em 31 de julho do ano de 2010, em uma
demonstração do rumo que tomara a narrativa, o G1 trouxe “Revelações do caso
Eliza parecem coisa de novela, diz ‘New York Times’”. Trazia a seguinte noticia:
“segundo o jornal, ‘os brasileiros vêm sendo expostos a uma grande quantidade de
revelações que parecem novela e a detalhes macabros’”.
O público ainda estava assustado com os relatos, nada se sabia sobre onde
poderiam estar os restos mortais da moça que deixara um filho de um pai famoso
e rico, de quatro meses. A cada dia novas pessoas eram interrogadas, e nenhuma
certeza se tinha. Exatamente aí residia o caráter extraordinário e melodramático da
trama, a mistura entre realidade e ficção.
Como não tinha como dar explicações ao caso, o portal de notícias se
preocupou em buscar elementos para justificá-la. Logo em 09 de julho do ano do
acontecido217, já havia três manchetes: “Irmão diz que Bruno sempre teve
comportamento problemático”; “Bruno foi abandonado pelos pais”; “Para
psicólogos, caso Bruno ilustra falta de limites comum em celebridades do
esporte”.
216
217
(Rondelli e Herscman, 2002).
Dois dias após a prisão preventiva de Bruno.
118
As explicações eram contundentes. A segunda manchete ainda trazia que:
A história do goleiro Bruno passa pelo abandono dos pais, infância pobre e
sucesso e fama no futebol. Atrás da bola, o menino foi longe. Ele atingiu o
estrelato, mas agora fez tudo desmoronar.
Bruno Fernandes das Dores de Souza nasceu na periferia de Belo Horizonte, mas
cresceu em Ribeirão das Neves (MG). Foi criado pelos avós. Os pais o
abandonaram dois dias depois do nascimento.
(...)
Só aos 18 anos, quando já jogava futebol, Bruno conheceu o pai, Maurílio, que
morreu logo depois. A mãe também o procurou 20 anos após deixá-lo. (...)
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Já a terceira:
A prisão do goleiro Bruno Fernandes, do Flamengo, suspeito de participação no
desaparecimento da ex-amante Eliza Samudio, chamou a atenção para abusos
cometidos por diversas celebridades esportivas, segundo especialistas em
psicologia do esporte.
"É uma pena o final de uma carreira tão brilhante", diz o presidente da
Associação Paulista da Psicologia do Esporte, João Ricardo Cozac.
"A linha que une todos os casos de escândalos envolvendo celebridades do
esporte, no mundo inteiro, é uma pseudoidealização que esses atletas têm de si
mesmos", afirma o psicólogo.
"A ideia de que podem tudo, como se estivessem acima de qualquer suspeita, de
qualquer crítica, de qualquer julgamento, que está ligada a uma inadequação
social", diz Cozac.
"Como se não tivessem noção de limites, de até onde podem ir."
Origem e infância
Segundo Cozac, no Brasil é comum que atletas e celebridades em geral tenham
origem humilde e acabem enfrentando dificuldades para se adaptar a uma
mudança brusca de status social e econômico.
"Eles vão se isolando cada vez mais de um mundo social e de uma realidade
saudável", diz Cozac. "Usam o dinheiro para conseguir tudo o que querem, não
precisam fazer nada."
O isolamento é apontado por especialistas como uma característica comum em
atletas e outras celebridades, e não apenas nos casos que envolvem esportistas e
artistas com origem em classes sociais mais baixas.
"Eles têm vidas solitárias", diz a psicóloga americana Yolanda Bruce Brooks,
fundadora do instituto The Sports Life Transitions, especializado no trabalho com
atletas e equipes.
"Desde a infância, as pessoas começam a tratá-los de maneira diferente, a fazer
exceções", afirma Brooks, que há mais de 20 anos trabalha com atletas dos mais
variados esportes e suas famílias.
Com o tempo, diz Brooks, muitos acabam com a impressão de que não precisam
seguir as mesmas regras aplicadas ao resto da sociedade.
(...)
Antes mesmo do fim das investigações, já se tinha como certa a autoria do
crime por parte de Bruno, e já se justificava a prática do delito, seja pela
personalidade, sofrimento em infância ou mesmo em fama. Em nenhum momento
se legitimaram as provas do Inquérito benéficas a Bruno, a versão dada pelo
119
acusado, ou qualquer ponto que o beneficiasse, pois não era essa a versão que os
jornalistas buscavam. Preocupada em manter a figura vil, inconsequente e
monstruosa de Bruno.
Em 12 de julho a manchete era “Festas secretas de jogadores têm sexo sem
limite e drogas”, trazia que:
Uma declaração do goleiro Bruno, antes de ser preso, reacende a discussão sobre
os excessos dos jogadores de futebol: ele disse que conheceu a ex-amante Eliza
Samúdio numa orgia, e que isso é muito comum no meio.
A todo momento, a confirmação era no sentido de que Bruno foi o
mandante do suposto sequestro seguido do homicídio de Eliza Samúdio. No
mesmo dia de sua prisão, nem mesmo teria sido ouvido, somente se tinha um
depoimento do seu primo menor, com múltiplas versões, e a notícia era “Bruno é
indiciado como mandante do sequestro de Eliza”. No dia 27 do mesmo mês, a
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notícia era “Delegado diz que Bruno será indiciado como mandante da morte de
Eliza”.
A intenção mostrava-se constante em afirmar que a única questão que
preocupava Bruno, quando das investigações, era a sua carreira, fazendo
submergir uma ideia de “homem frio”. Em 08 de julho de 2010, um dia após a
prisão de Bruno, depois da divulgação de um vídeo em redes televisionadas, a
notícia era, “Após prisão, Bruno diz que esperança de disputar Copa 'acabou'”,
ainda tratando:
O goleiro Bruno, do Flamengo, demonstrou preocupação com o futuro
profissional após se entregar à polícia do Rio nesta quarta-feira (7). O atleta e o
amigo Luiz Henrique Romão, conhecido como Macarrão, foram denunciados pelos
crimes de sequestro e lesão corporal contra Eliza Samúdio, ex-amante do goleiro
desaparecida desde o início de junho.
Em contrapartida a impressão que se passava da vítima era a de mulher
sofrida e boa mãe. Sofrida por ter uma família desestruturada, por ter tentado
vencer na vida sozinha e logo cedo, mesmo utilizando de meios pouco aceitos
socialmente, por ter um filho com um homem que não a apoia de nenhuma forma
e ao contrário somente a agredia.
Assim que foi noticiado o desaparecimento da jovem, o G1 se encarregou
de expor quem era ela. Em 27 de junho de 2010, na reportagem intitulada
“Amigas relatam último contato com Eliza antes do seu desaparecimento”, trazia:
120
No Rio, a jovem, que morou com Eliza por quatro meses, conta que a modelo foi
embora para São Paulo após a briga que teve com o goleiro durante o quinto mês
de gravidez. Depois da confusão que terminou na delegacia, Eliza foi morar na
capital paulista com outra amiga.
Assim que a criança nasceu, Eliza voltou ao Rio de Janeiro para tentar negociar
com Bruno um exame de paternidade e um dinheiro mensal para custeio do filho,
chamado Bruninho. Segundo a amiga, a princípio, o goleiro do Flamengo negou
fazer o teste.
Já em 02 de julho do mesmo ano, ainda ao trazer conversas com amigas de
Eliza, o G1 trouxe a matéria “Segundo amiga, Eliza mostrou o bebê para Bruno
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em Minas”, tendo aduzido:
(...) o último contato com Eliza Samúdio, desaparecida há quase um mês, uma
amiga de São Paulo conta que a jovem estava bem e feliz. “Ela disse pra mim que
estava em Minas Gerais e que o Bruno tinha acabado de pegar o bebê com ela
para levar para a família dele conhecer”, diz ao G1.
(...)
Eliza teve um relacionamento com o goleiro Bruno, do Flamengo, no ano
passado, e tentava provar na Justiça a paternidade do filho, que seria do jogador.
O atleta é suspeito de envolvimento no desaparecimento de Eliza.
A amiga conta que conheceu Eliza por meio de uma colega em comum. “Ela
estava passando um sufoco e essa amiga em comum pediu que eu a ajudasse a
encontrar um lugar para ficar. Pedi autorização para minha mãe, que a recebeu
muito bem”, afirma.
Eliza morou com a mãe da amiga por cerca de 10 meses. Ela já estava grávida e
passou os primeiros meses de vida do filho com a senhora, antes de desaparecer.
“Fui eu que levei Eliza para o aeroporto no dia 13 de maio. Ela foi para o Rio de
Janeiro e, segundo o que nos contou, estava em contato com um amigo do Bruno.
Ela mesma comprou a passagem. Eu falei pra ela não ir, mas ela decidiu.”
(...)
Depois disso, a amiga conta que não conseguiu mais falar com Eliza e que
recebeu, “em choque”, a notícia do desaparecimento pela imprensa.
"Só Deus vai dar uma luz para sabermos onde ela está. Só sei dizer que ela jamais
iria deixar o filho sozinho. Ela era uma mãezona, não deixava ele para nada, era
uma boa mãe", afirma. A amiga diz que falou à polícia de São Paulo, por
telefone, sobre seu último contato com Eliza.
No mesmo dia, ao noticiar a demanda judicial quanto à guarda de Bruno
Samúdio, filho de Eliza com Bruno Fernandes, trouxe informações sobre a
trajetória da vida de Eliza, com “Mãe de Eliza Samúdio diz que quer guarda do neto”:
Sônia mora em Mato Grosso do Sul e conta que há seis anos não vê a filha. Ela
diz que ficou sabendo do desaparecimento de Eliza na segunda-feira, 28 de
junho. “Costumava falar com ela esporadicamente, mas há cerca de um ano não
conseguia encontrá-la”, afirma. A mãe conta ainda que não mantém contato com
o pai de Eliza, Luiz Carlos Samúdio.
A mãe de Eliza diz que deixou Foz do Iguaçu (PR) em 1994, anos depois de se
separar de Luiz Carlos. “Depois disso, Eliza chegou a morar comigo por três
anos, mas estava em São Paulo já há seis anos”, diz.
121
Ela ainda não conhece o neto, de 4 meses, mas quer a guarda da criança na
Justiça. “Apesar de levar uma vida simples, posso dar todo o amor a essa criança,
amor que não pude dar a minha filha por problemas pessoais”, diz. Sônia tem
esperança de encontrar Eliza viva. “Eu tenho fé em Deus e peço que ela retorne.
Não perdi a esperança que ela esteja viva.”
Procurado pela reportagem do G1, o pai de Eliza, Luiz Carlos Samúdio afirma
que Sônia deixou Eliza aos 5 meses, assim que parou de amamentar a criança.
"Ela não foi mãe para a filha e agora quer ser mãe do neto. Ela abandonou Eliza
aos 5 meses e criei minha filha sozinho durante 20 anos. Eliza teve essa lacuna
afetiva e por isso nunca deixaria que isso acontecesse com o filho. Ela [Sônia]
pode falar o que quiser", diz Luiz Carlos.
Assim, a narrativa do caso Eliza Samúdio, também chamado de “caso
Bruno”, lastreou-se sobre uma construção da personalidade e notícias da vida do
acusado de ter sido mandante, e da vítima, ignorando-se toda a complexidade que
o caso possuía.
Ante a falta de elementos para que se formasse uma notícia certa do que
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ocorrera de fato, principalmente após ser declarado segredo de justiça o processo,
a ficção tomou os holofotes do “globo.com”, mais que o fato comportava. Assim,
a mídia construiu a memória pública do caso Eliza Samúdio, da mesma forma que
se constroem os mitos.
Na tentativa de justificar o fato, satisfazer os anseios do público, foi
construída a narrativa moralizadora, em que a monstruosidade do crime aparece
como espelho da personalidade dos acusados, ainda mais de Bruno Fernandes das
Dores de Souza. Dessa forma, a mídia se afirma como autoridade moral.
7.4.2
O Bom Desempenho e a Fama do Goleiro Bruno
Importante aqui ressaltar como Bruno era visto antes dos fatos virem à
tona. Um dos sites que integram o “globo.com”, especializado em tratar de
esportes, seja ele o globoesporte.com demonstra que vivia até então como “herói”.
Bruno teve uma infância pobre e foi criado pela avó. Desde pequeno a
paixão pelo futebol era latente, até que em 2005 sua ascensão profissional teve
início no Clube Atlético Mineiro. O apogeu do jogador de futebol se deu em 2008
quando assumiu seu lugar como goleiro titular no Clube de Regatas Flamengo.
122
No ano de 2009, foi o herói do campeonato brasileiro e capitão do clube de
futebol mais popular do Brasil, e um dos mais conhecidos do mundo218.
Em 03 de abril de 2009, na notícia “Bruno vira capa de jornal português”,
destaca-se que “A publicação destaca que o jogador é visto como uma "joia" dos
rubro-negros, mas que o clube estaria disposto a vender o atleta para equilibrar as
finanças.”.
Em 03 de maio do mesmo ano, estampava a página a seguinte chamada:
“Bruno brilha novamente nos pênaltis, e o Flamengo é tricampeão carioca”,
alegando que “Assim como em 2007, goleiro garante o título rubro-negro nas
penalidades”.
Foi visto ainda como exemplo, “Também herói de um tri, goleiro do
Fortaleza vê Bruno como um espelho”, 06/05/2009. É chamado de herói “Bruno:
um herói que tenta recuperar os aplausos”, 28/06/2009. Crianças o viam como
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ídolo, “CURTINHAS: crianças dão injeção de autoestima em Bruno na Gávea”,
21/08/2009. Era ovacionado pela torcida, “Campeão, Bruno é dono do único 10
do Brasileiro; Zé Carlos leva zero e Borges 1”, 07/12/2009.
Na conjuntura em testilha, o seu passado era exemplo de superação, e não
de explicação de uma personalidade cruel: “Em entrevista exclusiva, Bruno fala
sobre infância, polêmicas e momentos difíceis”, 21/03/2010.
7.4.3
O Julgamento
Durante o julgamento, a imagem de Bruno passada pelo G1 era a de
pessoa dissimulada, fria e calculista mais uma vez pautando a narrativa na
personalidade traçada pelos próprios media sobre Bruno.
No primeiro dia de julgamento, 04/03/2013 fazia questão em enfatizar que
Bruno teria chorado em plenário com o fito de sensibilizar os jurados: “Goleiro
Bruno chora no primeiro dia de julgamento no Fórum de Contagem”, “Assistente
de acusação acredita que choro de Bruno no júri seja ‘cena’”, “Bruno chora
durante júri popular que decide se ele planejou morte de Eliza”.
218
Clube de Regatas Flamengo.
123
No segundo dia de julgamento, continuam reafirmando que o réu exibia
lágrimas durante a sessão: “Mãe de Eliza passa mal, e Bruno chora durante
exibição de vídeos”, “No 2º dia, Bruno chora e ex diz que o goleiro pediu para
mentir sobre bebê”. Outro site de notícias do mesmo grupo, inclusive o jornal
que noticiara o primeiro escândalo entre Bruno Fernandes e Eliza Samúdio, seja
o Jornal Extra, exibia a seguinte reportagem: “Defesa de Bruno muda a
estratégia, e goleiro chora e carrega Bíblia nas mãos”, 05/03/2013 00:49 horas.
Terceiro dia de julgamento, o assunto tratado era a versão dada em juízo
por Bruno: “Bruno nega ser o mandante, mas diz se sentir culpado pela morte de
Eliza”.
No quarto dia, o que chama a atenção da mídia é “Bruno sorri com leitura
de carta que enviou para ex-namorada da cadeia”, “Delegada que investigou
morte de Eliza assegura que Bruno é mandante”, “Defesa de Bruno explica
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estratégia para tentar absolver goleiro em júri”, “‘Não tira dele a responsabilidade
sobre o homicídio’, diz especialista”, “Promotor diz que Bruno 'mentiu' e foi
'articulador' de morte de Eliza”, “Promotor pede a pena máxima para Bruno:
'foram festejar morte de Eliza'”.
Na madrugada em que foi proferido o veredicto, seja no dia 08 de março
de 2013, cerca de 5:00, a notícia da confirmação de um resultado dado pela mídia
muito tempo atrás aconteceu, “Bruno é condenado a 22 anos e três meses de
cadeia”, “Júri considera Bruno como o mandante do assassinato de Eliza
Samúdio”, porém, ainda não satisfeita, discute-se o quanto de pena aplicada,
“Mãe de Eliza Samúdio quer pena maior para ex-goleiro Bruno”, “Promotor diz
que vai recorrer para tentar pena maior para Bruno”, “Para mãe de Eliza Samúdio,
justiça foi ‘parcialmente’ feita”,
O apelo público fora tão forte que pessoas que não possuíam grau de
parentesco com Eliza Samúdio e nem mesmo eram partes no processo em
epígrafe, foram à porta do Fórum onde acontecia o julgamento para protestar, e
claramente se fizeram “um prato cheio” para a mídia. As notícias giravam em
torno de: “Homem preso à cruz protesta em fórum onde será júri do caso Eliza”,
“Pintada de vermelho, artista aproveita caso Eliza para protesto silencioso”,
“Público exibe cartazes e rosas na porta do Fórum de Contagem”.
Assim, aproximando a figura dos acusados pela morte de Eliza Samúdio,
mais ainda no que concerne a Bruno a uma “corja monstruosa”, o “globo.com” e
124
muitas outras redes de notícias explicaram o desaparecimento de Eliza Samúdio,
sem valorar a legitimidade e imparcialidade de fontes, as reais provas processuais,
as versões trazidas pelos envolvidos, e nem mesmo preocuparam com a
informação que transmitiam ao público, pois, uma narrativa moralizante é
autoafirmadora, é o fim em si mesma.
Não se pretende, neste trabalho, incutir que a intenção de redes de notícias,
principalmente do G1, era manipular os fatos, sedenta de condenação. Ao
implantar valores morais e sociais nas notícias, não o fizeram propositadamente,
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mas apenas para tornar a notícia inteligível e mais aceita socialmente.
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7 Narrativa do Caso Eliza Samúdio