ACESSO E UTILIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE EM CAMPINA GRANDE-PB AUTORES: Ardigleusa Alves Coêlho* - UEPB Severina Alice da Costa Uchoa** –UFRN Tânia Maria Ribeiro Monteiro de Figueiredo* - UEPB Rafaela Fernandes Porto*** - UEPB Samara Keylla Dantas Brasil*** - UEPB * Docente do Departamento de Enfermagem – UEPB ** Docente do Departamento de Saúde Coletiva – UFRN *** Aluna de Graduação de Enfermagem - UEPB ACESSO E UTILIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE EM CAMPINA GRANDE-PB Introdução �O acesso a serviços de saúde é fundamental para que a eqüidade seja concretizada. � Desenho de regionalização da assistência (NOAS/SUS 01/2002). Objetivos � Analisar a acesso à ações e serviços de saúde no município de Campina Grande-PB. etodologia �Tipo de estudo: �Estudo de caso do tipo coletivo (STAKE, 1994; BLASCO,1995); �Qualitativa (MINAYO, 1999). �Cenário do estudo: Campina Grande-PB. � População: 383.764 habitantes (IBGE, 2009) � O espaço território é dividido em 6 distritos sanitários (criados em 1998), visando facilitar a programação local dos serviços básicos de saúde. � A rede de serviços de saúde é composta por 476 estabelecimentos de saúde; 137 publico, 4 filantrópicos, 332 privados e 3 ligados a sindicatos (BRASIL, 2009, CAMPINA GRANDE, 2009). � Possui 92 equipes de saúde da família, que estão distribuídas em 77 unidades básicas de saúde. Metodologia População do estudo: � 61 usuários com idade mediana de 47,5 anos, sexo feminino (86,88%), a maioria com renda familiar de um salário mínimo e estado civil casado, ensino fundamental incompleto (44,26 %) , ensino médio completo (26,22%) e não alfabetizado (9,38%). Critério de inclusão e exclusão dos sujeitos no estudo: � Ser usuário do SUS, com idade mínima de 18 anos de idade; � Ser cadastrado e atendido na Unidade Saúde da Família; � Não possuir plano de saúde privado; � Ter necessidade de encaminhamento aos serviços de referência para dar seguimento ao tratamento de saúde. Metodologia Coleta do dados � Unidades de Saúde da Família localizadas nas áreas de abrangência dos Distritos Sanitários na cidade de Campina Grande-PB. � A coleta foi realizada no período setembro a novembro/2009 mediante os seguintes procedimentos: � Observação participante sobre a forma de atendimento diário e marcação de consultas e exames nas USF; � A acesso às solicitações de exames e consultas especializadas mais antigas, em espera para marcação; � Entrevista com o usuário. Metodologia Coleta dos dados � Na Entrevista foi utilizado um roteiro semiestruturado contendo as seguintes questões: a) Fale sobre os meios que utiliza para conseguir um atendimento de saúde rede municipal de sua cidade b) Fale sobre a marcação de consulta e exames c) Fale sobre os caminhos percorridos para a obtenção do acesso às ações e serviços de saúde Metodologia Tratamento e análise dos dados: � Os discursos individuais foram agrupados de modo a expressar o pensamento coletivo, formulando-se o Discurso do Sujeito Coletivo DSC (LEFÉVRE & LEFÉVRE, 2003) Aspectos éticos � O protocolo da pesquisa foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da UEPB sob nº CAAE – 2327.0.000.133-09 Resultados O achados da observação participante mostra que apesar da melhoria no acesso, à utilização dos serviços de saúde a população enfrenta alguns entraves: � uma fila de espera para consultas na USF, com limite de atendimentos nos turnos da manhã e da tarde, atendendo uma média de 8 a 10 pessoas por turno. � Demora na marcação de consultas e exames de média e alta complexidade � Os usuários cadastrados como hipertensos e diabéticos tem prioridade no atendimento. Quadro 1 - Idéias centrais e discurso do sujeito coletivo dos usuários em resposta a seguinte questão: Fale sobre os meios que utiliza para conseguir um atendimento de saúde rede municipal de sua cidade Idéias centrais Discurso do Sujeito Coletivo Atendimento por demanda espontânea Fui ao posto e peguei fila de 8 pessoas mais ou menos, fiz a consulta com a médica. Primeiro, vou no posto, chego de 5 horas a horas e pego a ficha para ser atendida. Quando preciso de consulta vou cedo para ser atendida. Vou diretamente ao posto... procuro diretamente a UBSF. Quando preciso vou direto ao posto com risco de não ter expediente, se quiser ser atendida, vou de 5 horas ou de 4 horas Agendamento do atendimento Marco com minha médica para ser atendida com 8 dias, mas como sou hipertensa, sou atendida mais rapidamente. Antes ia no hospital, o médico mandou ir no PSF. Fui agendada por minha tia que é agente de saúde, fiz consulta para o nefro. Atendimento através de Amizade Através de conhecido consigo a marcação de exames em outro caso consigo uma consulta com meu cunhado no HU de João Pessoa Através da minha filha, que é enfermeira, que mim ajudou no acesso pelo SUS a uma tomografia e uma cintilografia, assim como consulta no especialista no HU. Falei com a doutora do posto, que por amizade falou com a doutora particular e consegui. Quadro 2 - Idéias centrais e discurso do sujeito coletivo dos usuários em resposta a seguinte questão: Fale sobre a marcação de consulta e exames Idéia central Demora na marcação de exames e consultas Discurso do Sujeito Coletivo Ave Maria! È muito lento, por isso que muita gente, como eu desiste. Acho bom as consultas, só a marcação que demora. Acho péssimo, demora muito, só para quem não pode pagar. Deveria ter mais rapidez e interesse pela vida, pessoas podem morrer se o problema for grave. Os exames demoram muito e as consultas também demoram. Demora demais. Tem exames que passa 2 meses. Péssimo já foi bom, hoje é uma tristeza. O atendimento e a solicitação é muito boa, mas a demora para chegar é o problema. Muito demorado você marca para 15 dias, um mês a pessoa morre e não consegue, o exame é que é demorado. Não tem condições, é muito tempo. Acho que quem consegue logo deve ter conhecidos porque a central é a mesma Quadro 3 - Idéias centrais e discurso do sujeito coletivo dos usuários em resposta a seguinte questão: Fale sobre os caminhos percorridos para a obtenção do acesso às ações e serviços de saúde Ideia Central Discurso do Sujeito Coletivo O fluxo do usuário na rede de serviço de saúde não garante a resolutividade O percurso UBSF – Especialista – Exames – UBSF – Especialista é desnecessário. Primeiramente fui para o hospital Regional, lá não resolvia, fui encaminhada para o PSF. No PSF fui encomendada para o neurologista e até hoje espero. Você é encaminhada para vários lugares e demora vários meses. E uma dificuldade muito grande, gostaria que fosse tudo junto. Acho que deveria ser mais fácil, porque acho que o retorno deveria ser marcado no posto. Acho que sou prejudicada, porque minhas amigas que foi depois de mim conseguiu porque tinha conhecimento. É difícil conseguir atendimento especializado. Procuro o clinico no PSF, ainda em seguida sou encaminhada ao urologista e até hoje espero. O PSF tem pouca resolutividade, prefiro o atendimento direto no posto de saúde ou do hospital regional. CONCLUSÕES � No contexto estudado, as desigualdades no acesso e utilização dos serviços de saúde são consequências, principalmente, de barreiras organizacionais, que mostra a necessidade de que seja repensada a forma como estão estruturados os atendimentos, principalmente o fluxo do usuário na rede de serviço. Referências BRAGA, J. C. S.; DE PAULA, S. G. Saúde e previdência: Estudo de política social. Rio de Janeiro: Hucitec, 1986. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 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