Revista de Biologia e Ciências da Terra
ISSN: 1519-5228
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Universidade Estadual da Paraíba
Brasil
Correia Sales de Albuquerque, Isis; Neves de Albuquerque, Helder; Farias de Albuquerque, Eduardo;
da Silva Nogueira, Adalberto; Cavalcanti Farias, Mário Luiz
Escorpionismo em Campina Grande-PB
Revista de Biologia e Ciências da Terra, vol. 4, núm. 1, primer semestre, 2004, p. 0
Universidade Estadual da Paraíba
Paraíba, Brasil
Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=50040114
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REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA
ISSN 1519-5228
Volume 4 - Número 1 - 1º Semestre 2004
Escorpionismo em Campina Grande-PB
Isis Correia Sales de Albuquerque[1], Helder Neves de Albuquerque[2], Eduardo Farias de Albuquerque[3],
Adalberto da Silva Nogueira[4], Mário Luiz Farias Cavalcanti[5]
RESUMO
O escorpionismo é o quadro de envenenamento humano causado pela toxina escorpiônica,
diagnosticado e proveniente de situações como presença de escorpiões no campo e em focos
urbanos; lixo, desequilíbrio ambiental; ambientes novos de dispersão e procriação; falta de
infra-estrutura e consciência da população a respeito do problema. Com isso, esse estudo
objetivou traçar o perfil epidemiológico-ambiental do escorpionismo na cidade de Campina
Grande-PB. Utilizou um estudo exploratório-descritivo das características clínicoepidemiológicas-ambientais dos acidentes escorpiônicos ocorridos em Campina Grande-PB,
através da análise dos dados de 163 fichas de notificação de acidentes por escorpiões
arquivadas no 3º Núcleo Regional de Saúde e Centro de Assistências Toxicológica (CEATOX),
no período de 1998 a 2002. Os dados demonstram que a cidade ocupa o 2º lugar em
freqüência de acidentes no Estado, onde o sexo feminino foi o mais atingido (63%) entre a
faixa etária de 20-29 anos (16%). Os membros mais atingidos foram superiores (70%) com
predomínio de casos leves (76,7%), sem ocorrência de óbitos. O atendimento se deu nas
primeiras 06 horas após o acidente (77%), cujos sinais e sintomas observados foram dor
(87,3%), dormência (48,7%), edema (19,9%), eritema (21,3%), tendo como sazonalidade o
período entre fevereiro e maio de cada ano. Constatou-se que os problemas básicos de infraestrutura e o desequilíbrio ambiental contribuem para o aumento dos acidentes, onde a
população convive sem conhecer sua gravidade.
Palavras-chave: Escorpionismo, Epidemiologia, Saúde Pública.
ABSTRACT
The escorpionism is the situation of human poisoning caused by the escorpionic toxin,
diagnosed and originated from situations as presence of scorpions in the field and in urban
focuses; trash, unbalance environmental; new atmospheres of dispersion and procreation;
infrastructure lack and conscience of the population about the problem. For this reason, this
study aimed to trace the epidemic-environmental profile of the escorpionism in the city of
Campina Grande-PB. It was used an exploratory-descriptive study of the characteristics clinicalepidemic-environmental of the escorpionic accidents happened in Campina Grande-PB,
through the analysis of data of 163 files of notification of accidents for scorpions registered in
the 3rd Nucleus Regional of Health and Center of Attendances Toxicological (CEATOX), in the
period of 1998 to 2002. The data demonstrated that the city occupies the 2nd place in
frequency of accidents in the State, where the feminine sex was the most reached (63%)
among the 20-29 year-old age group (16%). the members more reached were superior (70%)
with prevalence of light cases (76,7%), without occurrence of deaths. The attendance occured
in the first 06 hours after the accident (77%), whose signs and symptoms observed were pain
(87,3%), numbness (48,7%), edema (19,9%), eritema (21,3%), having as emergence the period
between February and May of every year. It was verifiedthat the basic problems of infrastructure
and the environmental unbalance contributes to the increase of the accidents, where the
population cohabit without knowing its gravity.
1. INTRODUÇÃO
Escorpionismo é o quadro do envenenamento humano causado pela toxina escorpiônica,
diagnosticada e proveniente de situações como: presença de escorpiões no campo e em focos
urbanos; lixo público; desequilíbrio ambiental, ambientes novos de dispersão e procriação;
problemas básicos de infra-estrutura e falta de consciência da população a respeito do
problema (MATTHIESEN, 1988).
Os escorpiões são representantes da classe dos aracnídeos, ordem Scorpiones,
predominantes nas zonas tropicais e sub-tropicais do mundo. O escorpionismo é o quadro de
empeçonhamento humano causado pela toxina escorpiônica, com maior incidência nos meses
em que ocorre aumento de temperatura e pluviosidade.
São relatados no Brasil casos de escorpionismo em todos os Estados, tendo como
representantes desses acidentes três espécies de maior importância do gênero Tityus: T.
serrulatus (LUTZ & MELO, 1922), (encontrado em São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio
de Janeiro, Bahia, Goiás e Paraná); T. bahiensis (PERTY, 1834), (encontrado em São Paulo,
Minas Gerais Mato Grosso do Sul, Goiás e nos Estados do Sul) e T. stigmurus, (THORELL,
1876), muito comum no Nordeste do País (EICKSTEDT,1984; CUPO et al, 1994; LOURENÇO
& EICKSTEDT, 2003).
Na Paraíba, até o presente, as espécies de escorpiões mais comuns e causadoras de
acidentes são T. stigmurus (THORRELL, 1877; LOURENÇO, 1981), Bothriurus rochai (MELOLEITÃO, 1932), B. aspes (POCOCK, 1893) e Rhopalurus iglesiais (BURCHEL, 1959), sendo os
três últimos menos graves (SALES et al, 1999a).
Assim, objetivou-se relatar neste trabalho a ocorrência de acidentes escorpiônicos em Campina
Grande-PB no período de 1998 a 2002, relacionando-os aos dados clínico-epidemiológicos.
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1 – Desenho do Estudo
O presente estudo consistiu em um estudo do tipo exploratório-descritivo das
características clínico-epidemiológicas dos acidentes escorpiônicos, ocorridos nas
cidades de João Pessoa e Campina Grande, Estado da Paraíba, no período de
janeiro de 1998 a junho de 2002, atendidos e notificados nos Centros de
Assistência Toxicológica (CEATOX) de João Pessoa e Campina Grande e
notificados no 3º Núcleo Regional de Saúde (NRS) em Campina Grande – PB.
2.2 - Técnica e Instrumento
Tratou-se de uma pesquisa documental, realizada através da análise de 163
fichas individuais de investigação de acidentes escorpiônicos dos serviços de
arquivo das seguintes Instituições: 3º Núcleo Regional de Saúde (3ºNRS) na
cidade de Campina Grande – PB e nos Centros de Assistência Toxicológica
(CEATOX) de Campina Grande - PB e João Pessoa - PB, no período de janeiro
de 1998 a julho de 2002.
Para tanto se elaborou uma ficha individual de investigação específica, que
possibilitou a captação de todas as informações necessárias para a realização do
trabalho.
Foram obtidos dados referentes aos acidentes e aos escorpiões (mês, horário do
sua espécie), aos acidentados (sexo, idade, região anatômica da picada), às
manifestações clínicas (alterações locais e neurológicas) e ao tratamento (tempo
decorrido entre o acidente e o atendimento e evolução do quadro clínico).
2.3 – Análise dos Dados
A análise dos dados se fundamentou na utilização de técnicas quantitativas, a
partir da produção de freqüências simples, para a organização e apresentação em
gráficos e tabelas.
As informações dos gráficos e tabelas foram expressas com a utilização do
software EXCEL (2000).
2.4 – Considerações Éticas
O Conselho Nacional de Saúde, através da Resolução N.º 196, de 10 de outubro
de 1996, aprovou as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas
envolvendo seres humanos e, incorporou sob a ótica do indivíduo e das
coletividades, as quatro referências básicas da Bioética: autonomia, não
maleficência, beneficência e justiça, visando assegurar os direitos e deveres que
dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado.
Sendo assim, e obedecendo à Resolução acima especificada serão contatados,
com antecedência, os Hospitais e Núcleos Regionais de Saúde que atendam a
pacientes de acidentes ofídicos, que deverão expedir concordância documentada
de autorização da pesquisa através de documentos.
Ao término da investigação, os resultados serão comunicados aos
estabelecimentos envolvidos, bem como, será preservada a identidade dos
sujeitos. A pesquisa não trará ônus financeiro para as entidades participantes, e a
coleta de dados como propõe o projeto, possibilita a obtenção de conhecimento
científico relevante e novo, e não poderia ser conseguido de outra forma. Os
dados obtidos não serão utilizados para outros fins.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram totalizadas 163 notificações de acidentes por escorpiões em Campina Grande no
período do estudo, conforme expresso na Tabela 01.
Tabela 01. Distribuição dos acidentes escorpiônicos por ano e local.
Local de
1998
1999
2000
2001
Total
Coleta
Nº
%
Nº
%
Nº
%
Nº
%
Nº
%
CEATOX
11
6,75
41
25,15
51
31,29
17
10,43
120
73,62
3º NRS
03
1,84
16
9,81
15
9,1
09
5,52
43
26,38
Total
14
8,59
57
34,96
66
40,50
26
15,95
163
100,0
Os dados referentes ao ano de 2002, não puderam ser coletados, pois o CEATOX encontravase desativado e o 3º NRS não arquivava mais esses acidentes.
A presença de escorpiões em áreas urbana tem sido verificada em diversas regiões. Em
Campina Grande os acidentes domiciliares aumentaram gradativamente, isto porque, a
população oferece condições ideais ao abrigo e proliferação dos escorpiões como presença de
entulhos, lixo, alta densidade demográfica e falta de saneamento básico, dados estes também
verificados nos estudos de Biondi-de-Queiroz (1999), Santana & Rodrigues (1996) e Sales et al
(1999c).
Comprovou-se que representantes do sexo feminino são os mais atingidos (63%), de acordo
com a Figura 01.
Masc.
37%
Fem.
63%
FIGURA 01. Distribuição dos Acidentes por sexo dos pacientes acidentados
A maior ocorrência de acidentes observados em indivíduos do sexo feminino difere dos dados
analisados para a Bahia (BIONDI-DE-QUEIROZ, 1999) e na Mesorregião metropolitana de
Salvador (LIRA-DA-SILVA, 2000). A diferença observada, evidentemente pode decorrer da
maior exposição do sexo feminino a situações propícias para a ocorrência de acidentes o que,
provavelmente, está relacionada às diferenças ocupacionais e comportamentais no ambiente
domiciliar.
A idade dos acidentados variou de zero a 89 anos. Foram constatadas, diferenças, quando se
comparou o grupo abaixo de 30 anos com o grupo acima de 30 anos. Considerando a faixa de
(0 - 30 anos), o número registrado de 88 acidentes (53,99%), foi maior do que o observado em
relação às outras faixas (Figura 02).
> 50
Idade
40-49
30-39
20-29
10-19
0-09
FIGURA 2. Pacientes acidentados por escorpiões segundo idade.
0
10
20
30
40
Nº de acidentes
FIGURA 02. Distribuição dos Acidentes por faixa etária dos acidentados
Quando analisada a distribuição dos acidentes por faixa etária com intervalo de dez anos, o
maior número de acidentes (74) é representada pela população economicamente ativa (20 –
Rodrigues (1996) em Salvador; Cupo et al, (1994) em São Paulo e Omanã (1997) na
Venezuela.
Quanto ao local de picada, 19,63% (32) das fichas ignoraram o local atingido, existindo apenas
uma diferença de 11 acidentes entre os membros superiores e inferiores (Figura 03). Seguindo
a tendência do país, isto porque o local atingido está relacionado com a presença do animal e a
atividade dos acidentados.
Ign.
Mem. Sup.
Mem. Inf.
0
20
40
60
80
Figura 03. Acidentes escorpiônicos quanto ao local da picada.
O intervalo de tempo entre o acidente e o atendimento tenha sido em um período igual ou
inferior a seis horas, destaca-se que das 163 pessoas que buscaram atendimento, 31,9% (52)
o fizeram em um tempo maior que 6 horas, decorrido o acidente e em 19,1% (31) dos casos o
tempo de atendimento foi ignorado ou não notificado (Figura 4).
Esses dados estão de acordo com o estudo realizado por Biondi-de-Queiroz (1999) e
confirmam o que foi expresso anteriormente, onde a população acha saber lidar com o
acidente utilizando-se de tratamentos caseiros evitando procurar orientação especializada num
primeiro momento.
Ign
> 6 horas
< 6 horas
0
20
40
60
80
100
Figura 4. Tempo decorrido (intervalo) entre o acidente e o atendimento.
As manifestações clínicas locais mais comuns foram dor e eritema, que ocorreram em 82,82%
(135) e 57,06 % (93), respectivamente (Tabela 01).
Os sinais e sintomas registrados, tanto locais quanto sistêmicos, são os mesmos já citados na
literatura em diversos estudos (CAMPOS et al, 1980; CUPO et al, 1994; CALDERÓN-ARANDA
& CLODSLEY-THOMPSON, 1996).
TABELA 01. Manifestações locais e sistêmicas nos acidentados por escorpiões.
Manifestações
Sim
Não
Nº
%
Nº
%
Dor
135
62,82
28
17,18
Eritema
93
57,05
70
42,94
Edema
76
46,62
87
53,37
Dormência
51
31,28
112
68,71
Agitação
14
8,59
149
89,15
Febre
14
8,59
149
89,15
Sudorese
14
8,59
149
89,15
Arritmia
02
1,23
161
98,77
Cefaléia
02
1,23
161
98,77
Na análise da gravidade dos acidentes foram feitas comparações entre os casos leves com as
outras categorias, revelando diferenças significantes. Não foram registrados casos graves e os
casos leves foram os mais registrados com 91% (108) das notificações (Figura 05).
De maneira geral esses dados refletem a tendência dos acidentes escorpiônicos no Brasil que
são leves e de baixa letalidade, isto independente do agente etiológico em total acordo com os
dados apresentados por Sales et al, (1999b, c).
Ign.
3%
Moderado
6%
Leve
91%
FIGURA 5. Grau de gravidade dos acidentes por escorpiões.
No que diz respeito ao preenchimento as fichas de notificação e prontuários de atendimento, os
dados relativos ao tratamento utilizado, evolução clínica, ocupação, atividade no momento do
acidente e horário de ocorrência dos mesmos não foram preenchidos.
4. CONCLUSÕES
Os resultados obtidos permitem as seguintes conclusões:
•
O crescimento progressivo e desordenado dos Centros urbanos propicia o
fenômeno da domiciliação de escorpiões, forçando esses animais a se confrontarem
com novas situações, pondo em risco a saúde dos seres humanos;
•
Vários fatores contribuem para a ocorrência do escorpionismo nas zonas urbanas,
entre eles podemos citar: baixa qualidade de habitações, ausência de infra-estrutura
urbana, o que torna esses ambientes inadequados para os seres humanos e
favoráveis a proliferação dos escorpiões;
•
O coeficiente de letalidade foi inexistente para a região estudada;
•
Os profissionais de saúde responsáveis pelas notificações dos acidentes não
preenchem corretamente as fichas de notificação, sendo evidente a omissão das
informações clínico-epidemiológicas;
•
Não há um acompanhamento dos acidentados nos postos de atendimentos, no que
se refere ao tratamento e à evolução clínica;
•
Os acidentados não levam consigo os espécimes causadores dos acidentes para
identificação nos postos de atendimento;
•
Apesar de existirem centros capacitados para o atendimento e notificação dos
acidentes escorpiônicos em Campina Grande - PB, os dados clínicoepidemiológicos desses acidentes não são registrados nas fichas de notificações,
impossibilitando uma melhor ação preventiva e terapêutica.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Acidentes escorpiônicos notificados em Campina Grande – PB Revista Brasileira de
Toxicologia, v. 12, n. 02, p. 87, 1999c. Suplemento.
[1] Professora, Mestre e Farmacêutica do Centro de Conservação dos Répteis da Caatinga (CCRC) –
Campina Grande-PB; Inspetor Sanitário da Vigilância Sanitária do Município de Campina Grande. E-mail:
[email protected]
[2] Biólogo; Professor Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Professor do Departamento de
Farmácia e Biologia - Universidade Estadual da Paraíba –UEPB. E-mail: [email protected]
[3] Professor de Educação Física, Graduado pela Universidade Estadual da Paraíba
[4] Graduando em Ciências Biológicas, Universidade Estadual da Paraíba – UEPB.
[5] Biólogo; Doutorando em Engenharia Agrícola - Universidade Federal de Campina Grande Departamento de Engenharia Agrícola. E-mail: [email protected]
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