XVIII ENCONTRO NACIONAL DOS GRUPOS PET – ENAPET – RECIFE – PE 1º A 6º DE OUTUBRO 2013 – UFPE/UFRPE PERFIL DA MÃO DE OBRA NO PÓLO CALÇADISTA DE CAMPINA GRANDE – PARAÍBA: UM ESTUDO DE CASO AGUIAR, Gelfa de Maria Costa 1, SILVA, Thaís Marculino da 2, NETO, Arcenor Gomes², ALVES, Camila Noronha², FERREIRA, Fernanda Barbosa², FARIAS, Gabriela Costa², NETO, João Marinho de Araújo², MATIAS, Adolfo de Luna², CHANG, Camila Lilian Andrade², SILVA, Edna Porto da², AGUIAR, Marckson Byan Medeiros², RÊGO, Ray Araujo Duarte do², COUTO, Márcia de Lima Pereira 3. Introdução O arranjo produtivo coureiro-calçadista, localizado no município de Campina Grande, no estado da Paraíba apresenta-se ao longo das ultimas décadas como um importante setor propulsor do desenvolvimento local. De acordo com (SILVA, 2006), sob a ótica econômica, este segmento pode ser entendido impulsionador do desenvolvimento do estado, não somente pela dimensão instalada, mas, sobretudo pela sua conexão com importantes segmentos da cadeia produtiva. Campina Grande destaca-se por concentrar o maior número de empresas calçadistas (+ de 50%), o que transforma o município no mais importante distrito do estado, absorvendo, aproximadamente, mais de dois mil trabalhadores, o que significa dois terços dos empregos gerados pelo segmento no estado, no ano de 1997. (SILVA, 2006). A composição do segmento destaca as empresas de pequeno porte nas últimas décadas como preponderantes no conjunto de micro, pequenas e médias empresas (MPME). Para (LEMOS, 2003) a partir das décadas de 1970 e 1980 ocorreu de forma intensa à formalização de empresas neste setor. Observa-se que aliada à vocação histórica para produção de calçados da região, no período supracitado estimulou-se a capacitação local, provocando no grande contingente de “sapateiros” uma certa acumulação de experiência na produção de calçados, prática repassada, ao longo dos anos, através de um processo de difusão familiar de conhecimento tácito. A abordagem de (CAVALCANTI, et al 2011) nos mostra que o fator determinante para a competitividade deste segmento é a força de trabalho, diante da caracterização dada pela baixa utilização de tecnologia. No entanto há evidencias de baixa qualificação da mão de obra utilizada, além do fato comum das pequenas e médias empresas contratarem mão de obra temporária a fim de atender as oscilações do mercado. Na visão de (CUNHA, 2003) apesar das inovações tecnológicas introduzidas em alguns estágios da produção, como por exemplo, o corte e costura, é possível identificar que a fabricação de calçados em Campina Grande – PB, ainda constitui-se através do processo manufatureiro tradicional. O presente estudo tem como objetivo traçar o perfil da mão de obra empregada no Pólo Calçadista de Campina Grande- Paraíba, tomando como base, um estudo de caso de uma determinada empresa do ramo, com o intuito de averiguar a dinâmica do processo de empregabilidade da mão de obra caracterizada, na bibliografia concernente, pelo grande número de admissões de trabalhadores possuindo nível de escolaridade extremamente baixo. Além dessa introdução o presente resumo está estruturado de forma sintética em três seções. Na seção a seguir, encontra-se uma descrição da metodologia utilizada para a construção do trabalho. Logo após, são apresentados os principais resultados acerca do perfil de admissões de uma determinada empresa do Pólo Calçadista de Campina Grande, demonstrando como este estudo de caso corrobora com a dinâmica do movimento geral de contratações deste setor. A última seção aborda um resumo das principais conclusões do trabalho. Material e Métodos Professora doutora da UAECON-UFCG; Tutora do Grupo PET – Economia. Graduando do curso de Bacharelado em Ciências Econômicas da Universidade Federal de Campina membro do grupo PET – Economia/UFCG. 3 Professora da UAECON-UFCG 1 2 XVIII ENCONTRO NACIONAL DOS GRUPOS PET – ENAPET – RECIFE – PE 1º A 6º DE OUTUBRO 2013 – UFPE/UFRPE O presente estudo teve sua gênese a partir de uma visita técnica realizada pelo Grupo PETEconomia da UFCG a uma determinada empresa do Pólo Calçadista de Campina Grande. Que instigou o interesse pelo aprofundamento acerca do perfil de admissões no Pólo. Associado ao estudo empírico o presente ensaio também contou com uma revisão bibliográfica na literatura pertinente (desde artigos e livros, até monografias e dissertações). Destarte, de um modo geral, a pesquisa pode ser caracterizada como qualitativa. Resultados e Discussões A partir de um estudo empírico realizado através de uma visita técnica no âmbito de uma determinada empresa do Pólo Calçadista de Campina Grande, buscou-se constatar a relação entre perfil de contratação da mão de obra desta, com a dinâmica de contratação de mão de obra do segmento. É descrito a seguir um resumo das principais averiguações do estudo realizado. A empresa “K” foi fundada em Maio de 1999 em Campina Grande. Inicialmente seus calçados eram comercializados por representantes autônomos, logo em seguida abriram a primeira loja de fábrica, instalada na garagem da residência do seu fundador. Após a abertura dessa primeira loja a demanda foi crescendo, provocando assim a necessidade de uma mudança na planta da fábrica. Já no ano de 2006, sete anos após sua fundação, a empresa “K” rompeu barreiras abrindo sua primeira loja no estado de Pernambuco, na cidade de Jaboatão dos Guararapes, onde três anos depois aconteceram novas instalações: Boa Viagem, Ipojuca, Cabo de Santo Agostinho, Olinda, Gravatá, Carpina e ainda no final de 2009 a unidade do Espinheiro. Com a demanda crescente de Pernambuco, foi implantada a primeira fábrica fora do estado da Paraíba. Depois de realizada a visita à empresa “K”, podemos observar que esta é composta por vinte e duas fábricas, sendo duas próprias e vinte terceirizadas (já que segundo sua própria análise de custo ficou economicamente mais viável, a terceirização). Foi constatado também que essa empresa tem uma preocupação ambiental, onde moradores da comunidade se disponibilizam a recolher os resíduos da produção. O representante da empresa afirma que dentre os objetivos da empresa, destaca-se o de cunho social de reintegrarem à sociedade, pessoas advindas da marginalidade, lhes oferecendo trabalho formal, e que tal iniciativa vem surtindo resultados positivos. Visitamos a fábrica central que fica localizada em um bairro de baixa renda na cidade de Campina Grande, na qual 90% de seu quadro de trabalhadores são da própria comunidade, constituída por 28 funcionários, divididos entre a produção de bolsas, com oito funcionários e nove máquinas, e na fabricação de calçados (seu “carro chefe”), com dezenove máquinas e vinte funcionários. A média de idade é de trinta e cinco anos, onde os homens são maioria, fato explicado pelo alto índice de natalidade presente na comunidade o que inviabiliza a contratação de operárias (do sexo feminino) em virtude da ampliação dos custos do tipo auxílio-maternidade. Afora o citado no parágrafo anterior, não existem restrições para a contratação na empresa, onde os funcionários são selecionados por sua experiência na área (conhecimento tácito), independente do grau de escolaridade. Todos trabalham com carteira assinada, com média salarial líquida de R$ 800,00 (oitocentos reais). A periodicidade de pagamento é quinzenal, via transação bancária, e a jornada de trabalho contratada é de quarenta e quatro horas semanais distribuída nos turnos manhã e tarde. Devido à exposição a agentes nocivos à saúde (cola cancerígena, utilizada até um ano atrás), os trabalhadores recebem um adicional de insalubridade que é um direito concedido àqueles que correm risco acima da média permitida pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Eles também recebem seguro de vida e possuem plano de saúde. A empresa exige que cada trabalhador cumpra sua meta para não comprometer a cadeia produtiva, pois como afirma o gerente administrativo: “tudo funciona como uma engrenagem, um atrasa todos, um depende do outro”. Com essa metodologia de trabalho, são produzidas na fábrica 120 (cento e vinte) bolsas por semana, e uma média de 2000 a 3000 (dois mil a três mil) pares de calçados diários. O custo médio de produção de um par de sapatos feito de couro varia de R$ 18,00 a R$ 20,00 (dezoito a vinte reais). No caso dos produzidos com material sintético há uma queda no custo por unidade (par) XVIII ENCONTRO NACIONAL DOS GRUPOS PET – ENAPET – RECIFE – PE 1º A 6º DE OUTUBRO 2013 – UFPE/UFRPE produzida que fica, em média, de R$13,00 a R$16,00 (treze a dezesseis reais), todos livres de impostos. De acordo com o estudo empírico realizado, pode-se concluir que o perfil do trabalhador da empresa “K” corrobora com as ideias teóricas expostas na bibliografia a respeito dessa temática, pois com base nos dados acima relatados, pode-se indicar que o perfil de contratações compreende em sua totalidade a utilização de mão de obra com baixa qualificação, demonstrando que há uma ligação não apenas teórica, mas, sobretudo empírica no perfil de admissões ocorridas nesse nicho, confirmando a dinâmica de contratações no Pólo. Conclusão Os estudos apresentados apontam que a mão de obra utilizada no segmento coureiro-calçadista da cidade de Campina Grande é formada basicamente por trabalhadores com baixa qualificação (ensino fundamental incompleto). Isto foi possível verificar através da informação de que, a base para as contratações era o conhecimento tácito, não importando grau de escolaridade dos indivíduos. A empresa “K” analisada no presente resumo não foge à regra, adotando o mesmo perfil de contratações das suas congêneres. Cabe destacar, a grande diferença desta empresa em relação às demais do segmento, qual seja o perfil social do seu programa de reinserção social, baseado na admissão de ex-detentos (leia-se delitos leves). Destarte, é possível traçar o perfil da mão de obra do setor Pólo Calçadista de Campina Grande que de modo geral é caracterizada pela precária qualificação desta. Referências CAVALCANTI, Emanuella Melo Tavares; NETO, Hélio Santa Cruz Almeida; Almeida, Sídia Fonseca. Inovação tecnológica, gestão do conhecimento e competitividade nas pequenas e médias empresas: um estudo exploratório naindústria calçadista em Campina Grande-PB. In: III SEGeT – Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia, 2011, Resende-RJ. 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Editora Eugênia Dé Carli de Almeida. Disponível em: <http://www.cgee.org.br/arquivos/pe_17.pdf> Acesso em: 30 de ago, 2013. MOUTINHO, Lúcia Maria Góes; ALVES, Janaína da Silva. A Política de Desenvolvimento industrial e o emprego no setor de calçados: um estudo dos municípios paraibanos afetados pela seca. In: Mesa 2: Políticas públicas e emprego. Disponível em: <http://bis.sebrae.com.br/GestorRepositorio/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.nsf/9613964130FECA 4103256FCB0051B074/$File/NT0003136A.pdf>Acesso em: 30 de ago, 2013. XVIII ENCONTRO NACIONAL DOS GRUPOS PET – ENAPET – RECIFE – PE 1º A 6º DE OUTUBRO 2013 – UFPE/UFRPE SILVA, José Antônio Rodrigues; A globalização e os distritos industriais: a indústria de calçados da Paraíba. In: CAMPOS, Fred Leite Siqueira de (ORG.). A economia paraibana: estratégias competitivas e políticas públicas. João Pessoa-PB: editora universitária, 2006. P. 173-208.